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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ- UNIVALI

LUZ MARINA BAUERMANN SILVA

Moluscos marinhos presentes em coletores artificiais dispostos na

coluna de água na Enseada do Itapocoroy (26°56’S – 48°38’ W),

Penha, Santa Catarina

ITAJAÍ

2011

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II

LUZ MARINA BAUERMANN SILVA

Moluscos marinhos presentes em coletores artificiais dispostos na coluna de

água na Enseada do Itapocoroy (26°56’S – 48°38’ W), Penha, Santa Catarina

Monografia apresentada como

requisito parcial para a obtenção do

título de Oceanógrafo, na

Universidade do Vale do Itajaí, Centro

de Ciências tecnológicas da Terra e do

Mar.

Orientador: Gilberto Caetano Manzoni

ITAJAÍ

2011

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III

De tudo restam três coisas: A certeza de

que estamos começando, a certeza de

que é preciso continuar, e a certeza de

que podemos ser interrompidos antes de

terminar. Fazer da interrupção um

caminho novo. Fazer da queda um passo

de dança, do medo uma escola, do sonho

uma ponte, da procura um encontro.

E assim terá valido existir!

(Fernando Sabino)

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IV

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ubaldo e Shirlei, que estiveram comigo, acreditando e apoiando, em

todas as etapas percorridas, participando ativamente na realização deste sonho.

A Pedro, por todo seu amor e compreensão em todos os momentos.

A Beatriz, minha princesinha, razão do meu viver, que alegra todos os meus dias.

Ao professor Dr. Gilberto Manzoni, que com dedicação e sabedoria me conduziu, e,

orientou-me nesta caminhada.

Ao professor Dr. Tito Almeida pelo incentivo e apoio nas análises estatísticas.

Aos que participaram e auxiliaram na etapa de amostragem do estudo, no Campus

da Penha. Aos queridos, Renato, Jéferson, Pedro, Sara e Zi.

A todos que estiveram comigo, família e amigos, nesta etapa da minha formação,

meus profundos agradecimentos.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... IV

SUMÁRIO .............................................................................................................................. V

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ VI

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... VIII

RESUMO .............................................................................................................................. IX

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10

OBJETIVOS ........................................................................................................................ 12

Objetivo geral ................................................................................................................... 12

Objetivos específicos ....................................................................................................... 12

MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................... 13

Área de estudo ................................................................................................................. 13

Sistema de Captação ....................................................................................................... 15

Metodologia de Análise .................................................................................................... 16

Análise dos resultados ..................................................................................................... 20

RESULTADOS .................................................................................................................... 21

DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 48

CONCLUSÃO...................................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 56

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VI

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Enseada da Armação de Itapocoroy (Penha-SC), em evidência a área de cultivo de

mexilhões e o local em que ficaram submersos os sistemas de captação. .......................... 13

Figura 2. Modelo esquemático do sistema de coletores, que foram imersos periodicamente

na Enseada do Itapocoroy – Penha – SC. ........................................................................... 14

Figura 3. Bolsas coletoras que formam o sistema de captação. a) substrato de polietileno

(netlon). b) netlon arranjado em forma de novelo. c) bolsa de nylon preenchida com o netlon.

............................................................................................................................................ 15

Figura 4. Coletores após 60 dias de imersão. ...................................................................... 17

Figura 5. Aspecto das bolsas coletoras após período de imersão. ....................................... 17

Figura 6. Aspecto do substrato de polietileno (netlon), localizado na parte interna das bolsas,

após o período de imersão. ................................................................................................. 18

Figura 7. Primeira etapa da triagem para retirada dos organismos. ..................................... 18

Figura 8. Material da amostragem após lavagem primária no fim da primeira etapa de

triagem................................................................................................................................. 18

Figura 9. Material a de coleta, após a segunda lavagem, pronto para a segunda etapa da

triagem................................................................................................................................. 19

Figura 10. Material da amostragem acondicionado após a segunda etapa de triagem. ....... 19

Figura 11. Material da coleta após a terceira etapa da triagem concluída. ........................... 19

Figura 12. Abundância percentual das Classes Bivalvia e Gastropoda presentes nos

coletores durante o período de amostragem. ....................................................................... 21

Figura 13. Percentual das espécies de bivalves assentadas em Penha/SC, durante o

período de março/2010 a abril/2011. ................................................................................... 24

Figura 14. Percentual das espécies de gastrópodes assentadas em Penha/SC durante o

período de março/2010 a abril/2011. ................................................................................... 24

Figura 15. Valores médios de temperatura (°C) durante o período amostral (mar/2010 -

abr/2011). ............................................................................................................................ 25

Figura 16. Valores médios de salinidade (psu) entre os meses de out/2010 - abr/2011. ...... 25

Figura 17. MDS da abundância das espécies moluscos assentados de acordo com as

profundidades de assentamento e as estações do ano que foram realizadas as amostragens

em Penha , SC. ................................................................................................................... 28

Figura 18. Contribuição das espécies nas estações do ano. ................................................ 28

Figura 19. Percentagem de assentamento dos moluscos de acordo com as profundidades

de coleta. ............................................................................................................................. 31

Figura 20. Ocorrência da sp B. candida que assentou nos coletores dispostos durante o

período de amostragem. ...................................................................................................... 36

Figura 21. Barbatia candida. ................................................................................................ 36

Figura 22.Assentamento do gastrópode A. sertulariarum conforme as estações do ano em

que foram realizadas as amostragens. ................................................................................ 36

Figura 23.Anachis sertulariarum. ......................................................................................... 36

Figura 24. Assentamento do gastrópode A. isabellei conforme as estações do ano em que

foram realizadas as amostragens. ....................................................................................... 37

Figura 25. Anachis isabellei. ................................................................................................ 37

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VII

Figura 26.Ocorrência do bivalve C. bavay conforme a estação do ano em que foram

realizadas as amostragens .................................................................................................. 37

Figura 27.Chlamys bavay. ................................................................................................... 37

Figura 28.Assentamento do bivalve S. antillensis conforme as estações do ano em que

foram realizadas as amostragensamostragens .................................................................... 38

Figura 29.Sphenia antillensis. .............................................................................................. 38

Figura 30.Perna perna. ........................................................................................................ 38

Figura 31.Ocorrência do bivalve P. perna conforme as estações do ano em que foram

realizadas as amostragens. ................................................................................................. 38

Figura 32.Ostrea sp. ............................................................................................................ 39

Figura 33.Ocorrência do bivalve Ostrea sp. conforme as estações do ano em que foram

realizadas as amostragens. ................................................................................................. 39

Figura 34.Anachis veleda. ................................................................................................... 39

Figura 35. Percentual de ocorrência da sp A. veleda conforme as estações do ano . .......... 39

Figura 36. Thais sp. ............................................................................................................. 40

Figura 37. Percentagem de ocorrência do gastrópode Thais sp. Conforme as estações do

ano em que foram realizadas as amostragens..................................................................... 40

Figura 38. Pteria hirundo. Variações morfológicas para esta espécie. ................................. 41

Figura 39. Ocorrência do bivalve Pteria hirundo conforme as estações do ano em que foram

realizadas as amostragens. ................................................................................................. 41

Figura 40. Ocorrência do bivalve M. lateralis conforme as estações do ano em que foram

realizadas as amostragens. ................................................................................................. 41

Figura 41.Musculus lateralis. ............................................................................................... 41

Figura 42. Rissoina cancellata. ............................................................................................ 42

Figura 43.Percentagem de ocorrência do gastrópode M. barbadensis conforme as estações

do ano em que foram realizadas as amostragens ................................................................ 42

Figura 44.Mitra barbadensis. ............................................................................................... 42

Figura 45.Pecten ziczac ....................................................................................................... 43

Figura 46. Ocorrência bivalve P. ziczac conforme estações do ano em que foram realizadas

as amostragens. .................................................................................................................. 43

Figura 47. Percentagem de ocorrência de P.imbricata conforme as estações. .................... 43

Figura 48. Pinctada imbricata e suas variações. .................................................................. 43

Figura 49. Atrina seminuda. ................................................................................................. 44

Figura 50. Percentagem de ocorrência do bivalve A.seminuda conforme as estações do ano

em que foram realizadas as amostragens. .......................................................................... 44

Figura 51. Nodipecten nodosus. .......................................................................................... 44

Figura 52. Ocorrência do bivalve N. nodosus conforme as estações do ano. ...................... 44

Figura 53. Percentagem de ocorrência do gastrópode T. didyma conforme as estações do

ano em que foram realizadas as amostragens..................................................................... 45

Figura 54.Trachypollia didyma. ............................................................................................ 45

Figura 56. Sinum perspectivum. .......................................................................................... 45

Figura 57. Collisella subrugosa. ........................................................................................... 46

Figura 58. Cerithium atratum. .............................................................................................. 46

Figura 59. Olivancillaria cancellesi. ...................................................................................... 47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Tempo de imersão dos coletores, com início e fim do período em que ficaram

submersos na Armação do Itapocoroy, Penha, SC.. ............................................................ 16

Tabela 2. Análise das similaridades da fauna malacológica entre as estações do ano. ....... 26

Tabela 3.Análise de similaridade da fauna malacológica entre as profundidades. ............... 27

Tabela 4.Contribuição das espécies nos valores da abundância para cada uma das

estações do ano. ................................................................................................................. 29

Tabela 5.Contribuição cumulativa das espécies mais abundantes durante as Estações. .... 30

Tabela 6.Contribuição das espécies nos valores de abundância em cada uma das

profundidades amostradas................................................................................................... 32

Tabela 7.Percentual cumulativo de contribuição das espécies mais abundantes em cada

uma da profundidades de amostragem. ............................................................................... 33

Tabela 8.Descrição geral da fauna de moluscos assentada nos coletores dispostos na

coluna de água na Armação do Itapocoroy em Penha, SC entre os anos de 2010 e 2011. . 35

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IX

RESUMO

Os moluscos marinhos possuem importância ecológica e econômica, pois a produção

cultivada destes organismos no Brasil vem crescendo a cada ano, sendo o Estado de Santa

Catarina o maior produtor brasileiro. As principais espécies cultivadas são: a ostra japonesa

(Crassostrea gigas) que é uma espécie exótica, o mexilhão (Perna perna) e a vieira

(Nodipecten nodosus), que são espécies nativas. Entretanto, possivelmente existem outras

espécies no ambiente natural que apresentam potencialidade de serem cultivadas ou

exploradas comercialmente. Com a finalidade de obter informações sobre a disponibilidade

de espécies de moluscos marinhos com potencial de serem explorados, foram imersos

mensalmente pares de bolsas coletoras ao longo da coluna da água na Enseada da

Armação do Itapocoroy, no município de Penha, SC. Os coletores ficaram imersos pelo

período de 60 dias, quando então foram retirados da água, triados, e, posteriormente, as

espécies de moluscos foram identificadas e quantificadas, com a finalidade de conhecer a

diversidade da fauna malacológica existente na região, de acordo com o período e

profundidade de imersão. Durante o período amostral - março/2010 a abril/2011 - foi

identificado um total de 11.220 organismos do filo Mollusca, distribuídos em 2 Classes

(Bivalvia e Gastropoda), 15 Famílias e 23 espécies. Os indivíduos da Classe Bivalvia foram

os mais abundantes (60%). Ficou evidenciada uma mudança na composição das espécies

ao longo do período amostral, e, também, uma diferença nos valores de abundância destas

espécies, nas estações do ano, e, nas diferentes profundidades. Sendo que os maiores

índices de assentamento ocorreram no verão, e, em profundidades maiores que 6m. As

espécies com potencial de exploração econômica identificadas foram: o mexilhão Perna

perna, as vieiras Nodipecten nodosus e a Pecten ziczac, as pterias Pteria hirundo e

Pinctada imbricata, o bivalve Atrina seminuda, e, o gastrópode do gênero Thais.

PALAVRAS-CHAVE MOLUSCOS MARINHOS. COLETORES. ASSENTAMENTO.

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INTRODUÇÃO

Os moluscos constituem um dos maiores filos de invertebrados em número de

espécies, dentre os quais as classes Gastropoda e Bivalvia são muito bem representadas

no bentos marinho (ABSALÃO et al. 2003). Destacam-se por apresentarem grande

importância ecológica, seja por serem responsáveis pela reciclagem de nutrientes e de

matéria orgânica que são depositadas no fundo do mar ou por sua utilização como itens

alimentares, por peixes demersais ou pelo próprio homem. (CADDY, 1989 apud KLEIN et al.

2001).

Há registros de consumo de moluscos desde tempos pré-históricos pelos povos

nômades e pescadores (coletores), que ocuparam regiões litorâneas há cerca de 6.500

anos. O cultivo de moluscos, apesar de ter sido iniciado na França há cerca de 700 anos,

pode-se afirmar que é relativamente recente, pois o aperfeiçoamento da atividade de

criação e sua representatividade econômica somente ocorreram a partir de 1946, quando o

cultivo de mexilhões começou a ser praticado na Espanha (GASPAR, 2000).

Os moluscos bivalves alcançaram índices significativos na produção pesqueira

mundial, em 2005 representaram 10% da quantidade e 7% do valor total. E nos últimos

cinquenta anos a produção desses organismos aumentou consideravelmente, passou de

quase um milhão de toneladas em 1950 para 13,5 milhões de toneladas em 2005. Os

principais grupos produzidos a nível mundial são: Almejas (35,9%), Ostras (39,5%), Vieiras

(14,5%) e Mexilhões (14,2%) (FAO, 2007).

A aquicultura nos países da América Latina tem se expandido de maneira contínua

faz duas décadas. Os moluscos, em particular os bivalves, são atualmente o terceiro grupo

mais importante de organismos marinhos em índices de produção de aquicultura (FAO,

2007).

No Brasil, pesquisas sobre o cultivo de moluscos começaram por volta das décadas

de 1970 e 1980 em Estados como Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Entretanto, a

atividade comercial somente se consolidou a partir da década de 1990 no Estado de Santa

Catarina, que no ano de 2010, atingiu uma produção total de moluscos comercializados

(mexilhões, ostras e vieiras) de 15.635 toneladas, o que significou um aumento de 25,5%

em relação ao anterior, e foi a maior produção já registrada, representando 95% da

produção nacional (EPAGRI, 2010). O rápido crescimento da malacocultura no litoral

catarinense deve-se também às características geográficas de suas baías e enseadas,

onde o aporte de nutrientes assegura uma alta produtividade e qualidade de cultivo (RUPP

et al. 2008).

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As principais espécies cultivadas comercialmente no Estado são: a ostra japonesa

(Crassostrea gigas) - espécie exótica-; o mexilhão (Perna perna) e a vieira (Nodipecten

nodosus), - espécies nativas. Além do cultivo destes moluscos existe a exploração comercial

do berbigão (Anomalocardia brasiliana) (PEZZUTO et al. 1999). Não obstante, existem

outras espécies de moluscos que também apresentam potencial de cultivo ou de serem

exploradas comercialmente (RUPP et al. 2008).

De acordo com RIOS (1994) apud WIGGERS (2002), 245 espécies de gastrópodes e

167 de bivalves são citadas para todo o litoral catarinense. Existem estudos que relatam o

filo Mollusca entre os mais abundantes na composição da fauna associada aos cultivos,

tanto de mexilhões, na Armação do Itapocoroy em Penha SC (VAQUERO, 2006), quanto

nos cultivos de vieiras (N. nodosus) na região de Angra dos Reis, no Estado do Rio de

Janeiro (CARVALHO, 2007). Muitas das espécies de moluscos são descritas como

organismos competidores e até mesmo predadores.

Como forma de identificar novas espécies potenciais para a maricultura, algumas

alternativas e iniciativas na atividade de cultivo de moluscos vêm acorrendo em todo o

litoral, no entanto, é mais importante iniciar a diversificação por espécies já conhecidas que

apresentam um bom rendimento em coletores e um potencial de comercialização

(FERREIRA et al. 1995).

Neste contexto, o presente estudo buscou obter dados importantes sobre a ecologia

dos moluscos, com a utilização de substratos artificiais, que também podem representar

uma alternativa de coleta e origem de indivíduos para serem explorados comercialmente.

Assim, a pesquisa contém informações sobre a abundância dos moluscos, a composição

das espécies, a distribuição batimétrica e sazonal de cada uma delas, além da identificação

da ocorrência de espécies com potencialidade de cultivo e também de espécies de

predadores e competidores.

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OBJETIVOS

Objetivo geral

Verificar o assentamento de moluscos em coletores artificiais dispostos na coluna de

água, ao longo do ano, na Enseada da Armação de Itapocoroy, no município de Penha, SC.

Objetivos específicos

Inventariar a diversidade de espécies de moluscos presentes nos coletores.

Monitorar o assentamento de moluscos em coletores suspensos na coluna d’água,

em diferentes profundidades.

Verificar a disponibilidade das espécies de moluscos nos coletores artificiais ao longo

do tempo.

Identificar espécies com potencialidade de exploração econômica.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido na Enseada da Armação do Itapocoroy, localizada no

litoral centro-norte do Estado de Santa Catarina, no município de Penha (26°56’S –

48°38’W) (Figura 1). A área da enseada é de 6,7Km², sendo que seu limite com o mar

aberto à linha que une a Ponta do Vigia até o Lage do Largo, distantes 4,2Km entre si,

apresenta profundidade máxima de 15m e média de 8m. A constituição do fundo da área de

estudo é areno-lodoso, porém as praias mais próximas são constituídas de areia grosseira,

indicando a ação de energia provinda de ondas. Devido a sua posição, o local é abrigado

das ondulações enérgicas vindas do sul, contudo, recebe, eventualmente, ondulações

provenientes de leste, as lestadas. Este é o sistema mais enérgico que atua no sistema

sedimentar da enseada (SCHETTINI & TRUCCOLO, 1999).

Figura 1. Enseada da Armação de Itapocoroy (Penha-SC), em evidência a área de cultivo de

mexilhões e o local em que ficaram submersos os sistemas de captação.

Lage do Largo

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A Enseada da Armação do Itapocoroy se destaca como um dos principais locais de

produção de moluscos em todo o Brasil, onde existe um parque de cultivo de mexilhões, que

recebe assessoria técnica do Centro Experimental de Maricultura da Universidade do Vale

do Itajaí (Campus V).

Com a finalidade de realizar um levantamento quanti-qualitativo das espécies de

moluscos presentes na Enseada de Itapocoroy, foram imersos coletores (sistemas de

captação), mensalmente, em um ponto localizado na área externa ao parque de cultivo, a

aproximadamente 2 km da linha de praia, em uma profundidade de 12 m, na coluna d’água

ao longo do ano (Figura 2).

Figura 2. Modelo esquemático do sistema de coletores, que foram imersos periodicamente

na Enseada do Itapocoroy – Penha – SC.

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Sistema de Captação

O sistema de captação (coletores) foi composto de bolsas (30 x 25 cm), com

abertura de malha de 500µm, preenchidas internamente por um substrato de polietileno

(Figura 3.c) denominado comercialmente de netlon, com cerca de 1m² de superfície (Figura

3.a), arranjado em forma de novelo (Figura 3.b).

Figura 3. Bolsas coletoras que formam o sistema de captação. a) substrato de polietileno

(netlon). b) netlon arranjado em forma de novelo. c) bolsa de nylon preenchida com o netlon.

Os coletores ficaram dispostos verticalmente na coluna de água em um local com

profundidade de 12 metros com o auxílio de um cabo de 10 mm, mantido na superfície por

uma boia e no fundo amarrado a uma estaca, que foi fixada com o auxilio de um

mergulhador. As bolsas coletoras foram amarradas em pares (de dois a dois), e os pares

separados a cada dois metros. O primeiro par ficou na superfície e o último a uma distância

de 2 metros do fundo, totalizando, assim, doze bolsas por corda, no sistema de captação

(Figura 2).

Com a finalidade de monitorar o assentamento dos moluscos ao longo do ano de

2010 a 2011, foram imersos mensalmente sistemas de captação, conforme pode ser

observado na tabela 1.

Os coletores ficavam imersos por um período de 60 dias aproximadamente, tempo

este suficiente para que as larvas de moluscos se assentassem nos substratos e

desenvolvessem até atingirem o tamanho mínimo de 5 mm facilitando assim a identificação.

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Tabela 1. Tempo de imersão dos coletores, com início e fim do período em que ficaram

submersos na Armação do Itapocoroy, Penha, SC..

***Lotes que tiveram a bóia removida e os coletores não foram recuperados (não há

dados sobre estes períodos de imersão).

Metodologia de Análise

Após o período de imersão, os coletores foram retirados da água (Figura 4) e

levados diretamente para o laboratório de maricultura localizado no Campus V da Univali,

dando início ao processo de triagem, que consistiu em quatro etapas distintas.

Na primeira etapa de triagem, as bolsas (Figura 5) foram abertas (Figura 6) sobre

uma tela com cerca de 500µm, posicionada sobre um tanque com água, conforme pode ser

observado na Figura 7, onde foi realizada uma lavagem inicial dos organismos assentados,

que posteriormente foram acondicionados em potes de plástico com formol 4% (Figura 8).

Na segunda etapa da triagem, o material coletado passou por outra lavagem (Figura 9), a

fim de facilitar a triagem e a seleção dos moluscos, que foram acondicionados em frascos,

agora com álcool 70% (Figura 10).

LOTE

AMOSTRAL INÍCIO FIM

1 19 /03/2010 28/05/2010

2 16/04/2010 18/06/2010

3 28/05/2010 23/07/2010

4*** 18/06/2010 -------

5 23/07/2010 02/09/2010

6 19/08/2010 23/09/2010

7 02/09/2010 27/10/2010

8 23/09/2010 01/12/2010

9 *** 27/10/2010 -------

10 01/12/2010 03/02/2011

11 22/12/2010 02/03/2011

12 03/02/2011 05/04/2011

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Figura 4. Coletores após 60 dias de imersão.

Figura 5. Aspecto das bolsas coletoras após período de imersão.

Na terceira etapa da triagem, foi realizada a separação dos moluscos

morfologicamente semelhantes, que foram etiquetados e novamente acondicionados em

álcool 70% (Figura 11). A partir daí, deu-se início a quarta e última etapa de triagem, que

consistiu no processo de identificação e quantificação desses organismos, em Famílias e

espécies. É importante salientar que este procedimento de triagem teve de ser adotado

devido a grande quantidade de material que foi selecionado e o tempo despendido para

concluir cada etapa.

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Figura 6. Aspecto do substrato de polietileno (netlon), localizado na parte interna das bolsas, após o período de imersão.

Figura 7. Primeira etapa da triagem para retirada dos organismos.

Figura 8. Material da amostragem após lavagem primária no fim da primeira etapa de triagem.

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19

Figura 9. Material a de coleta, após a segunda lavagem, pronto para a segunda etapa da

triagem.

Figura 10. Material da amostragem acondicionado após a segunda etapa de triagem.

Figura 11. Material da coleta após a terceira etapa da triagem concluída.

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20

Para a identificação das espécies de moluscos assentados nos coletores, foram

utilizadas as seguintes bibliografias:

Compendium of Brazilian Sea Shells, de Eliezer Rios, 2009

Compendium of Seashells, de R. Tucker Abbott & Peter Dance,1986.

Concomitantemente, foi realizado um levantamento bibliográfico com o intuito de

buscar artigos científicos com dados sobre a ecologia das espécies e sobre assentamento

de moluscos marinhos em substratos suspensos na coluna de água, em diferentes

profundidades e meses do ano, em áreas de maricultura.

Após a identificação e quantificação dos moluscos, de acordo com o período e

profundidade de imersão dos coletores, os dados foram tabelados para, posteriormente,

serem submetidos a procedimentos estatísticos, com a finalidade de identificar a existência

de possíveis diferenças entre a época e a profundidade de assentamento dos moluscos nos

coletores artificiais.

Foram coletados dados de temperatura e salinidade da água do mar, com um

termômetro de imersão e um salinômetro, semanalmente na área de estudo durante o

período da pesquisa, com a finalidade de correlacionar a abundância das espécies de

moluscos com as condições ambientais da região.

Análise dos resultados

As similaridades da fauna malacológica entre as estações do ano e as profundidades

amostradas, foram calculadas através do coeficiente de Bray-Curtis, aplicado sobre a

composição das espécies, com os valores de abundância transformados pela raiz quadrada.

As similaridades entre as amostras foram representadas pelo método escalar

multidimensional não métrico (MDS). A análise das similaridades (ANOSIM) foi utilizada

para verificar a significância entre os fatores relativos a sazonalidade e profundidade

(CLARKE & WARWICK, 1994).

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21

RESULTADOS

Durante o período amostral, março de 2010 a abril de 2011, foi identificado um total

de 11.220 organismos do filo Mollusca, distribuídos em 2 Classes, 15 Famílias e 23

espécies. Destes, 7.041 indivíduos são da Classe Bivalvia, distribuídos em 7 Famílias e 12

espécies. Enquanto, 4.179 indivíduos são da Classe Gastropoda, distribuídos entre 8

Famílias e 11 espécies.

Figura 12. Abundância percentual das Classes Bivalvia e Gastropoda presentes nos

coletores durante o período de amostragem.

A listagem de todas as espécies de moluscos que foram identificadas no presente

estudo, de acordo com RIOS (2009), é apresentada a seguir:

Reino ANIMALIA Linnaeus, 1758

Filo MOLLUSCA

CLASSE BIVALVIA Linnaeus, 1758

Família TINDARIIDAE Bellardi, 1875

Gênero Barbatia Gray, 1842

Espécie Barbatia candida (Helbling, 1779)

Família PECTINIDAE Rafinesque, 1815

Gênero Chlamys Roding, 1798

* Segundo RIOS (2009), este gênero possuí sinonímia com o

Leptopecten (Verril, 1897)

63%

37%

Abundância

Bivalves

Gastrópodas

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22

Espécie Chlamys bavay (Dautzenberg, 1900)

Gênero Nodipecten Dall, 1898

* Segundo ABOTT et al. (1986) este gênero possuí

sinonímia com o Lyropecten (Linnaeus, 1758)

Espécie Nodipecten nodosus (Linnaeus, 1798)

Gênero Pecten Müller, 1776

Espécie Pecten ziczac (Linnaeus, 1798)

Família MYIDAE Lemarck, 1809

Gênero Sphenia Turton, 1822

Espécie Sphenia antillensis Dall& Simpson, 1901

Família MYTILINAE Rafinesque, 1815

Gênero Perna Retzius, 1788

Espécie Perna perna (Linnaeus, 1758)

Gênero Musculus Roding, 1798

Espécie Musculus lateralis (Say, 1822)

Família OSTREIDAE Rafinesque, 1815

Gênero Ostrea Linnaeus, 1798

Espécie Ostrea sp.

Família PTERIIDAE Gray,1846

Gênero Pteria Scopolli, 1777

Espécie Pteria hirundo (Linnaeus, 1758)

Gênero Pinctada Roding, 1798

Pinctada imbricata Roding, 1798

Família PINNIDAE Leach, 1819

Gênero Atrina Gray, 1842

Espécie Atrina seminuda (d’ Orbigny, 1846)

CLASSE GASTROPODA Curvier, 1797

Família COLUMBELLINAE Swainson, 1840

Gênero Anachis H. & A.Adams, 1853

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23

Espécie Anachis sertulariarum Orbigny, 1841

Anachis isabellei (Orbigny, 1841)

Anachis veleda (Duclos, 1846)

Família THAIDIDAE Jousseaume, 188

Gênero Thais Röding, 1798

Espécie Thais sp.

Família RISSOIDAE Gray, 1847

Gênero Rissoina (d’ Orbigny, 1840)

Espécie Rissoina cancellata (Philippi, 1847)

Família MITRIIDAE Swainson, 1831

Gênero Mitra Lamarck, 1798

Espécie Mitra barbadensis (Gmelin, 1791)

Família MURICIDAE Rafinesque, 1815

Gênero Trachypollia Woodring, 1928

Espécie Trachypollia didyma Schwengel, 1943

Família SININAE Woodring, 1928

Gênero Sinum Röding, 1798

Espécie Sinum perspectivum (Say, 1831)

Família ACMAEIDAE Carpenter, 1857

Gênero Collisella Dall, 1871

Espécie Collisella subrugosa (d´Orbigny, 1846)

Família OLIVIDAE Latreille, 1825

Gênero Olivancillaria Orbigny, 1839

Espécie Olivancillaria carcellesi Klappenbach, 1965

Família CERITHIIDAE Fleming, 1822

Gênero Cerithium Brugui’ere, 1789

Espécie Cerithium atratum (Born, 1778)

***Os gêneros Ostrea e Thais não tiveram as espécies identificadas devido à grande

similaridade morfológica existente entre os indivíduos amostrados.

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24

Houve uma predominância marcante de espécies da Classe Bivalvia, que

representou 63% do total de moluscos identificados, como pode ser observado na figura 12.

Dos bivalves, as espécies que apresentaram maiores percentuais de abundância foram:

Barbatia candida, Chlamys bavay, Sphenia antillensis, e Perna perna que contribuíram

juntas com 89% dos bivalves amostrados (Figura 13).

Figura 13. Percentual das espécies de bivalves assentadas em Penha/SC, durante o

período de março/2010 a abril/2011.

Quanto a Classe Gastropoda, que representou 37% dos moluscos identificados

(Figura 12), as espécies que mais contribuíram nos valores de abundância, em ordem

decrescente de contribuição, foram: Anachis sertulariarum, Anachis isabellei, Anachis veleda

e Thais sp, sendo que as duas primeiras juntas correspondem a 85% dos gastrópodes

identificados, conforme pode ser observado na Figura 14.

Figura 14. Percentual das espécies de gastrópodes assentadas em Penha/SC durante o

período de março/2010 a abril/2011.

41%

22%

14%

12%

6%

Bivalves

Barbatia candida

Chlamys bavay

Sphenia antilensis

Perna perna

Ostrea sp.

Pteria hirundo

Musculus lateralis

44%

41%

6%

4% 3%

Gastrópodes

Anachis isabellei

Anachis sparsa

Thais sp.

Rissoina cancellata

Mitra barbadensis

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25

Os parâmetros ambientais, temperatura e salinidade, da superfície da coluna de

água, verificados ao longo do período amostral, no local da pesquisa, apresentaram os

seguintes valores: a temperatura, com um mínimo de 16,5°C em julho de 2010 e máxima de

28°C em fevereiro de 2010 (Figura 15); e quanto à salinidade, obtida entre os meses de

outubro de 2010 a abril de 2011, os valores oscilaram entre aproximadamente 29 psu em

fevereiro de 2011 e 32,6 psu em abril do mesmo ano (Figura 16).

Figura 15. Valores médios de temperatura (°C) durante o período amostral (mar/2010 -

abr/2011).

Figura 16. Valores médios de salinidade (psu) entre os meses de out/2010 - abr/2011.

Na análise de similaridade realizada entre as estações do ano, o índice de

significância das associações de 0,1%, indica que não existem similaridades entre as

15

17

19

21

23

25

27

29

Temp (°C)

28

29

30

31

32

33

out/10 nov/10 dez/10 fev/11 mar/11 abr/11

Salinidade (psu)

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26

épocas do ano quanto à composição das espécies de maneira geral (), porém, quando a

análise é detalhada, a cada uma das associações possíveis, os valores do índice de

significância revelam duas associações com níveis significativos de similaridade:

-A primeira associação, constituída pelos meses de outono e verão, apresentou alto

índice de similaridade entre as espécies presentes nos coletores (p>5% e R 0,15) e,

-A segunda associação, representada pelos meses de inverno e outono, também

apresentou similaridade entre as espécies, porém de forma menos acentuada (p> 5% e R

0,13);

-Os dados obtidos durante a primavera não apresentam similaridade marcante com

nenhuma das demais estações.

Tabela 2. Análise das similaridades da fauna malacológica entre as estações do ano.

Quanto a interpretação dos dados da Análise de similaridade para as profundidades

de assentamento (Tabela 3), o índice de significância de 7,3% indica que não há diferença

significativa na abundância das espécies em diferentes profundidades. No entanto, quando

a análise foi detalha a cada uma das associações possíveis, ficou evidenciada a existência

de semelhança entre as associações. É possível observar através dos dados que ocorreu

uma alteração gradual das espécies com o aumento da profundidade.

As inter-relações existentes entre os dados de abundância e distribuição das

espécies dos moluscos, assentados em coletores artificiais na Armação de Itapocoroy,

durante o período amostral (MDS), permitiram, através da distância entre cada um dos

Teste de Diferença entre as Estações

Prova estatística (R): 0,475

Nível de significância: 0,1%

Nível de

Grupos R Significância %

Inverno, Outono 0,13 7,1

Inverno, Primavera 0,764 0,1

Inverno, Verão 0,75 0,1

Outono, Primavera 0,403 0,8

Outono, Verão 0,153 16,8

Primavera, Verão 0,875 0,1

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27

pontos, a visualização das relações de similaridade entre as estações do ano, e, entre as

profundidades de assentamento. A verificação deste fato é apresentado na figura 17, que

imprime graficamente os valores expressados pelas tabelas 2 e 3, e a visualização do

gradual existente entre cada um dos pontos. O valor de stress da análise indica que ela é

potencialmente útil, ou seja, descreve bem o ambiente e as inter-relações da fauna de

moluscos com os caracteres ambientais de coleta (profundidade e estação do ano).

Tabela 3.Análise de similaridade da fauna malacológica entre as profundidades.

Teste de diferença entre as profundidades

Prova estatística (R): 0,126

Nível de significância: 7,3%

Nível de

Grupos (m) R Significância %

0, 2 -0,157 79,7

0, 4 0,171 18,8

0, 6 0,571 0,3

0, 8 0,686 0,1

0, 10 0,686 0,1

2, 4 -0,2 84,6

2, 6 0,071 36

2, 8 0,314 6,3

2, 10 0,486 0,9

4, 6 -0,257 90,3

4, 8 -0,057 58,8

4, 10 0,1 33,3

6, 8 -0,229 86

6, 10 -0,057 59,8

8, 10 -0,386 99,6

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28

Figura 17. MDS da abundância das espécies moluscos assentados de acordo com as

profundidades de assentamento e as estações do ano que foram realizadas as amostragens

em Penha , SC.

Os resultados obtidos quanto ao total de indivíduos assentados nos coletores, em

cada uma das estações do ano, observados na figura 18, revelaram que o maior

assentamento de moluscos, ocorreu durante os meses do verão, com um percentual de

46%, e, que a estação do ano com menores índices de assentamento foi a primavera,

representando 7% dos indivíduos coletados durante todo o período amostral.

Figura 18. Contribuição das espécies nas estações do ano.

Transform: Square root

Resemblance: S17 Bray Curtis similarity

EstaçõesInverno

Outono

Primavera

Verão

0

2

4

6

8 10

0

2

4

6

8

10

0

2

46

8

10

0

2 4

6

8

10

0

24

6

8

10

0

2

4

6

8

10

0

2 4

68

10

0

2

4

6

8

10

0 2

4

6

810

0

2

4

6

8

10

2D Stress: 0,2

46%

25%

22%

7%

verão

inverno

outono

primavera

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De acordo com a contribuição das espécies, em número de indivíduos assentados

nos sistemas de captação em cada uma das estações do ano (Outono, Inverno, Primavera

e Verão), foi possível observar a existência de um grupo de 11 espécies, entre as 26

identificadas durante o período amostral, que apresentaram os maiores índices de

abundância (Tabela 4). Destas, houve três que obtiveram um índice de contribuição

significativo em todas as quatro estações, em ordem decrescente de contribuição, são elas:

os bivalves Chlamys bavay e Sphenia antillensis e, o gastrópode Anachis sertulariarum.

Tabela 4.Contribuição das espécies nos valores da abundância para cada uma das

estações do ano.

Espécies Outono Inverno Primavera Verão

Contribuição % Contribuição % Contribuição % Contribuição %

Chlamys bavay 19 32,63 17,12 7,95

Anachis sertulariarum 11,47 17,98 10,75 17,57

Anachis isabellei 13,44 5,22 0 24,76

Perna perna 11,78 6 14,49 0

Ostrea sp. 10,33 0 0 7,13

Thais sp 7,23 0 0 5,23

Sphenia antillensis 6,82 20,11 22,64 9,43

Barbatia candida 8,08 0 31,18 8,71

Anachis veleda 4,59 0 0 6,27

Musculus lateralis 0 8,26 0 0

Pteria hirundo 0 0 0 3,99

Ao analisar a tabela 4, se verifica que para cada uma das estações do ano, existe um

grupo de espécies que apresentou maiores índices de assentamento.

No outono, época em que os coletores ficaram submersos a partir de 20 de março

até 21 de junho, as espécies com maiores percentuais de assentamento foram: Chlamys

bavay, Anachis isabellei, Perna perna, Anachis sertulariarum, Ostrea sp., Barbatia candida,

Sphenia antillensis, Thais sp. e Anachis veleda (Tabela 4). Sendo que as cinco primeiras

foram as mais abundantes, contribuindo com 66% dos organismos amostrados neste

período, como pode ser observado na tabela 5.

Já nos meses de inverno, nos quais os coletores foram submersos entre 22 de junho

a 22 de setembro, foram seis as espécies com maiores índices de abundância: Chlamys

bavay, Sphenia antillensis, Anachis sertulariarum, Musculus lateralis, Perna perna e Anachis

isabellei, como pode ser visto na tabela 4. Destas espécies só as três primeiras, C. bavay,

Sphenia antillensis e Anachis sertulariarum, juntas, contribuíram com um percentual de

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30

70,7 % do total de indivíduos amostrados. Durante este período, a C. bavay sozinha

representou cerca de 30% dos moluscos coletados durante todo o inverno (Tabela 5).

A estação de primavera, que teve os coletores submersos a partir do dia 23 de

setembro até 21 de dezembro, demonstrou a predominância de cinco espécies: Barbatia

candida, Sphenia antillensis, Chlamys bavay, Perna perna e Anachis sertulariarum, como

pode ser observado na tabela 4. De acordo com os valores que são representados pela

tabela 5, é possível observar que as três primeiras espécies, Barbatia candida, Sphenia

antillensis e Chlamys bavay, contribuíram, juntas, com 71% da abundância total do

período. Destas, só a primeira foi responsável por 31% dos moluscos que assentaram nos

coletores.

E, por fim, durante a estação do verão, que corresponde aos coletores que foram

submersos a partir de 22 de dezembro até 20 de março, nove foram as espécies que

apresentaram contribuição significativa nos valores de abundância (Tabela 4), são elas:

Anachis isabellei, Anachis sertulariarum, Sphenia antillensis, Barbatia candida, Chlamys

bavay, Ostrea sp., Anachis veleda, Thais sp. e Pteria sp. As quatro primeiras espécies

contribuíram juntas com aproximadamente 60,5% dos moluscos assentados nos coletores,

sendo a primeira a mais abundante com uma contribuição de aproximadamente 25%, como

pode ser observado na tabela 5.

Tabela 5.Contribuição cumulativa das espécies mais abundantes durante as Estações.

Estação Espécies

Contribuição

cumulativa

Outono

Chlamys bavay

Anachis isabellei

Perna perna

Anachis sertulariarum

Ostrea sp. 66,02%

Inverno

Chlamys bavay

Sphenia antillensis

Anachis sertulariarum 70,72%

Primavera

Barbatia candida

Sphenia antillensis

Chlamys bavay 70,95%

Verão

Anachis isabellei

Anachis sertulariarum

Sphenia antillensis

Barbatia candida 60,46%

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Os resultados referentes ao número de moluscos que assentaram nos coletores em

diferentes profundidades de amostragem (Figura 19) indicaram que a profundidade de 8

metros foi a que apresentou o maior índice (24%) de indivíduos assentados no sistema de

captação, seguido pela profundidade de 10 metros e 6 metros, que apresentaram índices de

21% e 18%, respectivamente.

Quanto ao percentual de assentamento foi possível dividir a coluna d’água em dois

estratos, o primeiro de 0 a 4 metros, com as menores contribuições, de 11 a 14% e, o

segundo, de 6 a 10 metros, com os maiores índices de contribuição a abundância total dos

moluscos identificados durante o estudo, com percentuais que variam de 18 a 24%, como

comentado no parágrafo anterior.

Figura 19. Percentagem de assentamento dos moluscos de acordo com as profundidades

de coleta.

Dados referentes a composição das espécies, nas diferentes profundidades de

coleta, indicaram um grupo de 11 espécies, 7 bivalves e 5 gastrópodes, que apresentaram

os maiores índices de abundância durante o período amostral. Destas espécies, houve

algumas que apresentaram valores significativos de assentamento em todas as

profundidades, são elas, em ordem decrescente de contribuição: os bivalves Chlamys

bavay, Sphenia antillensis, e os gastrópodes Anachis sertulariarum e Anachis isabellei,

dados estes evidenciados na tabela 6.

11%

12%

14%

18%

24%

21% 0 m

2 m

4 m

6 m

8 m

10 m

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Tabela 6.Contribuição das espécies nos valores de abundância em cada uma das

profundidades amostradas.

Em cada uma das profundidades foi verificado um grupo de 3 a 5 espécies de

moluscos, com altos índices de contribuição que, juntos, apresentaram uma contribuição

cumulativa maior que 60% do total de indivíduos coletados naquela profundidade (Tabela

7).

Para a profundidade de 0 metro, nove espécies foram as que apresentaram índices

significativos de abundância: Perna perna, Sphenia antillensis, Anachis sertulariarum,

Ostrea sp., Chlamys bavay, Pteria sp., Anachis isabellei, Musculus lateralis e Rissoina

cancellata (Tabela 6). Sendo que as quatro primeiras juntas contribuíram com

aproximadamente 65% da abundância total das espécies amostradas nesta profundidade,

conforme visto na tabela 7.

Na profundidade de 2 metros, foram oito as espécies mais abundantes durante o

período amostral, são elas, em ordem decrescente de contribuição: Sphenia antillensis,

Perna perna, Chlamys bavay, Anachis sertulariarum, Barbatia candida, Ostrea sp., Anachis

isabellei, e Musculus lateralis, conforme comentado na tabela 6. Destas, quatro espécies,

juntas, contribuíram com 62% da abundância total amostrada nesta profundidade, foram: os

Espécies

Profundidades

0m 2m 4m 6m 8m 10m

Contrib.

%

Contrib.

%

Contrib.

%

Contrib.

%

Contrib.

%

Contrib.

%

Anachis isabellei 5,36 7,83 9,85 9,6 12,06 14,03

Anachis veleda 0 0 0 0 0 3,49

Barbatia candida 0 8,02 10,31 11,05 11,59 7,51

Chlamys bavay 6,89 14,01 18,6 27,54 30,21 34,5

Anachis sertulariarum 12,35 13,65 12,24 14,44 14,92 20,05

Musculus lateralis 3,92 5,28 5,27 4,25 4,59 0

Ostrea sp. 7,36 7,36 5,53 4,73 5,81 4,4

Perna perna 24,52 15,69 9,88 0 0 0

Pteria hirundo 5,94 0 0 0 0 0

Rissoina cancellata 3,77 0 0 0 0 0

Sphenia antillensis 20,73 19,15 14,56 14,38 12,06 7,51

Thais sp 0 0 5,81 5,67 0 0

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33

bivalves Sphenia antillensis, Perna perna e Chlamys bavay, e o gastrópode Anachis

sertulariarum (Tabela 7).

Nos 4 metros de profundidade foram nove as espécies que contribuíram com índices

significativos de abundância: Chlamys bavay, Sphenia antillensis, Anachis sertulariarum,

Barbatia candida, Perna perna, Anachis isabellei, Thais sp, Ostrea sp. e Musculus lateralis,

como pode ser notado na tabela 6. Destas espécies, as cinco primeiras contribuíram com

aproximadamente 66% da abundância total das espécies amostradas nesta profundidade,

conforme visto na tabela 7.

Tabela 7.Percentual cumulativo de contribuição das espécies mais abundantes em cada

uma da profundidades de amostragem.

Profundidade Espécie

Contribuição

cumulativa %

0m

Perna perna

Sphenia antillensis

A. sertulariarum

Ostrea sp. 64,96%

2m

Sphenia antillensis

Perna perna

Chlamys bavay

A. sertulariarum 62,50%

4m

Chlamys bavay

Sphenia antillensis

A. sertulariarum

Barbatia candida

Perna perna 65,59%

6m

Chlamys bavay

A. sertulariarum

Sphenia antillensis

Barbatia candida 67,40%

8m

Chlamys bavay

A. sertulariarum

Sphenia antillensis

Anachis isabellei 69,26%

10m

Chlamys bavay

A. sertulariarum

Anachis isabellei 68,58%

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34

Para a profundidade de 6 metros o grupo que apresentou contribuição significativa

nos valores de abundância foi composto pelas seguintes espécies: Chlamys bavay, Anachis

sertulariarum, Sphenia antillensis, Barbatia candida, Anachis isabellei, Thais sp, Ostrea sp.

e Musculus lateralis (Tabela 6). Quatro destas contribuíram com 67%, aproximadamente, do

total de organismos amostrados nesta profundidade, são elas: Chlamys bavay, Anachis

sertulariarum, Sphenia antillensis, Barbatia candida, conforme informações contidas na

tabela 7.

Nas amostragens realizadas aos 8 metros foram sete espécies mais abundantes,

são elas, em ordem decrescente de contribuição: Chamys bavay, Anachis sertulariarum,

Sphenia antillensis, Anachis isabellei, Barbatia candida, Ostrea sp. e Musculus laterais,

como pode ser visto na tabela 6; destas espécies citadas as quatro primeiras contribuíram

com 69% do volume total de indivíduos amostrado nesta profundidade. A espécie C. bavay

apresentou um pico, contribuindo sozinha com 30% da abundância deste estrato (Tabela 7).

Enfim, para a profundidade de 10 metros, houve sete espécies com índices

relevantes de assentamento: Chlamys bavay, Anachis sertulariarum, Anachis isabellei,

Sphenia antillensis, Barbatia candida, Ostrea sp. e Anachis veleda (Tabela 6). Sendo que,

nesta profundidade, apenas três delas (Chlamys bavay, Anachis sertulariarum, Anachis

isabellei) contribuíram com aproximadamente 68% do valor de abundância e as duas

primeiras juntas foram responsáveis por mais de 50% dos indivíduos amostrados.

Com a reunião desses resultados foi possível estabelecer uma descrição geral da

fauna de moluscos encontrados nos sistemas de captação. Na descrição ficou

caracterizado, para cada uma das espécies de bivalves e gastrópodes que foram

amostrados, o número de indivíduos coletados durante o período amostral, a época do ano

e as profundidades com maiores índices de assentamento, conforme pode ser observado na

tabela 8.

Com uma análise dos dados apresentados pela tabela 8 foi possível estabelecer

para cada uma das espécies identificadas, representadas a seguir em ordem de

abundância, as características mais marcantes quanto ao seu assentamento nos sistemas

de captação.

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35

Tabela 8.Descrição geral da fauna de moluscos assentada nos coletores dispostos na

coluna de água na Armação do Itapocoroy em Penha, SC entre os anos de 2010 e 2011.

Descrição geral da fauna

B I V A L V E S

Espécies Total de

organismos Época/percentagem de maior

assentamento

Prof. com maior

assentamento

Barbatia candida 2877 Verão (68%) 8m

Chlamys bavay 1547 Inverno (58%) > 6m

Sphenia antillensis 977 Inverno (46%) 0 a 6m

Perna perna 850 Inverno (53%) e Outono (33%) 0 a 4m

Ostrea sp. 425 Verão (52%) 0 a 10m

Pteria hirundo 148 Verão (45%) 0 a 10m

Musculus lateralis 126 Inverno (63%) 0 a 8m

Pecten ziczac 38 Inverno (58%) 0 a 6m

Pinctada imbricata 29 Verão (90%) 0 a 4m

Atrina seminuda 14 Outono (50%) >4m

Nodipecten nodosus 10 Primavera (50%) e Verão (40%) 4m a 10m

GA S T R ÓPOD E S

Anachis sertulariarum 1844 Verão (40%) 6 a 10m

Anachis isabellei 1729 Verão (80%) 6 a 10m

Anachis veleda 227 Verão (70%) 6 a 10m

Thais sp. 175 Outono (48%) e Verão (45%) 4 e 6m

Rissoina cancellata 122 Outono (100%) 0 e 2m

Mitra barbadensis 69 Inverno (44%) e Verão (39%) 8 e 10 m

Trachypollia didyma 5 Verão (80%) 2 a 6m

Sinum perspectivum 5 Verão (40%) 0 a 8m

Collisella subrugosa 1 Inverno (100%) 0m

Olivancillaria cancellesi 1 Verão (100%) 4m

Cerithium atratum 1 Inverno (100%) 8m

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36

O bivalve Barbatia candida (Figura 21) foi a espécie que apresentou o maior índice

de contribuição na abundância geral, com 2.877 indivíduos amostrados (Tabela 8). A

estação do ano e a profundidade de maior assentamento foram: o verão com 68%, dado

este representado pela figura 20, e a profundidade de 8 metros (Tabela 6).

O gastrópode Anachis sertulariarum (Figura 23) contribuiu com 1.844 indivíduos

amostrados. Os maiores índices de assentamento para esta espécie ocorreram durante os

meses de verão (Figura 22) e nas profundidades maiores que 6 metros, conforme

observado na tabela 6.

18% 2%

12%

68%

Barbatia candida

Outono

Inverno

Primavera

Verão

25%

32%

3%

40%

A. sertulariarum

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 20. Barbatia candida. Figura 21. Ocorrência da sp B.

candida que assentou nos coletores

dispostos durante o período de

amostragem.

Figura 22.Anachis sertulariarum.

Figura 23.Assentamento do

gastrópode A. sertulariarum conforme

as estações do ano em que foram

realizadas as amostragens.

1 cm

1 cm

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37

O gastrópode Anachis isabellei (Figura 25) obteve uma contribuição de 1.729

indivíduos ao longo do período de amostragem, com um alto índice de assentamento, de

80%, durante os meses de verão (Figura 24), e, se caracterizou por estar distribuído ao

longo de toda a coluna de água com maiores ocorrências em profundidades de 8 e 10

metros, como apresentado na tabela 6.

A vieira Chlamys bavay (Figura 27), contribuiu com 1.547 indivíduos (Tabela 8). Os

meses do verão foram os que apresentaram os maiores índices de assentamento desta

espécie (Figura 26), com assentamento em todas as profundidades (Tabela 6), porém

ocorreu um aumento no número de indivíduos com o aumento da profundidade.

12%

7% 1%

80%

Anachis isabellei

Outono

Inverno

Primavera

Verão

23%

58%

7%

12%

Chlamys bavay

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 24. Anachis isabellei.

Figura 25. Assentamento do

gastrópode A. isabellei conforme as

estações do ano em que foram

realizadas as amostragens.

Figura 26.Chlamys bavay.

Figura 27.Ocorrência do bivalve C. bavay

conforme a estação do ano em que foram

realizadas as amostragens.

1 cm

1 cm

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38

O bivalve Sphenia antellensis (Figura 29) apresentou um percentual elevado de

assentamento, 977 indivíduos, e esteve presente durante todo o período amostral, porém,

os maiores índices ocorreram nos meses de Inverno (Figura 28) em profundidades

superficiais, como pode ser verificado na tabela 6.

Durante todo o período de estudo o mexilhão Perna perna (Figura 30) teve 850

indivíduos amostrados pelo sistema de captação (Tabela 8), o maior número de organismos

desta espécie assentou nos meses de inverno com um percentual de 53% (Figura 31),

porém, a espécie ofereceu maior contribuição nos valores de abundância para meses da

primavera, como foi apresentado pela tabela 4. Quanto a sua distribuição espacial,

apresentou maiores índices de assentamento até 4 metros de profundidade (Tabela 6).

23%

46%

15%

16%

Sphenia antillensis

Outono

Inverno

Primavera

Verão

33%

53%

10%

4% Perna perna

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 28.Sphenia antillensis.

Figura 29.Assentamento do bivalve S.

antillensis conforme as estações do ano.

Figura 30.Perna perna.

Figura 31.Ocorrência do bivalve P. perna

conforme as estações do ano em que

foram realizadas as amostragens.

1 cm

1 cm

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39

Para o bivalve Ostrea sp. (Figura 32) foi identificado um total de 425 indivíduos,

conforme pode ser observado na tabela 8. A distribuição sazonal desta espécie, teve nos

meses do verão os seus maiores índices de assentamento, cerca de 52% (Figura 33). A

ocorrência desta espécie ocorreu em toda a coluna d’água, porém na profundidade

superficial - de 0 a 2 metros - apresentou um número maior de indivíduos (Tab. 6).

A espécie de gastrópode Anachis veleda (Figura 34) contribuiu com 227 indivíduos

durante o período amostral (Tabela 8) e teve o verão como a época com os maiores índices

de assentamento, como pode ser observado na figura 35. Este gastrópode esteve presente

nas profundidades entre 6 e 10 metros, porém apresentou um índice relevante de

assentamento apenas na profundidade de 10 metros (Tabela 6).

24%

22%

2%

52%

Ostrea sp.

Outono

Inverno

Primavera

Verão

22%

8%

0% 70%

Anachis veleda

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 32.Ostrea sp.

Figura 33.Ocorrência do bivalve

Ostrea sp. conforme as estações do

ano em que foram realizadas as

amostragens.

Figura 34.Anachis veleda. Figura 35. Percentual de ocorrência da sp

A. veleda conforme as estações do ano.

1 cm

1 cm

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40

O gastrópode Thais sp. (Figura 36) contribuiu com 175 indivíduos (Tabela 8) e

esteve presente em maiores proporções nos meses do verão e do outono nos sistemas de

captação, sendo que estas estações foram responsáveis, respectivamente, por 48 e 45%

dos indivíduos desta espécie registrados durante todo o período amostral (Figura 37).

Quanto a profundidade, a que apresentou maiores índices de assentamento, foi a de 4 a 6

metros, ou seja, um estrato intermediário da coluna de água, conforme evidenciado na

tabela 6.

Figura 36. Thais sp.

Figura 37. Percentagem de ocorrência do gastrópode Thais sp. Conforme as estações do

ano em que foram realizadas as amostragens.

A espécie Pteria hirundo (Figura 38) contou com145 indivíduos amostrados (Tabela

8) e, esteve presente nos meses de verão com 45%, época com maior índice de

48%

2%

5%

45%

Thais sp

Outono

Inverno

Primavera

Verão

1 cm

1 cm

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41

assentamento se comparada com as demais estações (Figura 39). A distribuição batimétrica

desta espécie ocorreu de maneira uniforme em toda a coluna d’água (Tabela 8).

O bivalve Musculus lateralis (Figura 40) contribuiu com 126 indivíduos durante o

período amostral, conforme pode ser verificado na tabela 8. A estação do ano que

apresentou os maiores índices de abundância foi o Inverno, representando 63% dos

moluscos desta espécie (Figura 41) e, a sua distribuição ocorreu entre 0 e 8 metros de

profundidade de maneira praticamente uniforme, como foi comentado na tabela 6.

30%

17%

8%

45%

Pteria hirundo

inverno

outono

primavera

verão

22%

63%

4% 11%

Musculus lateralis

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 38. Pteria hirundo. Variações

morfológicas para esta espécie.

Figura 39. Ocorrência do bivalve

Pteria hirundo conforme as estações

do ano em que foram realizadas as

amostragens.

Figura 40.Musculus lateralis. Figura 41. Ocorrência do bivalve M.

lateralis conforme as estações do ano

em que foram realizadas as

amostragens.

1 cm

1 cm

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42

Foram 122 indivíduos amostrados (Tabela 8) do gastrópode Rissoina cancellata

(Figura 42). Sua ocorrência se deu de forma restrita à estação de Outono, somente nas

camadas superficiais da coluna d’água- de 0 a 2 metros - porém, obteve maior contribuição

nos valores de abundância apenas em 0 metro de profundidade (Tabela 6).

Figura 42. Rissoina cancellata.

A espécie de gastrópode Mitra barbadensis, observada na Figura 43, foi

representada por 69 indivíduos (Tabela 8) que obtiveram maiores taxas de assentamento

durante os períodos de Inverno com 44%, e de verão com 39% (Figura 44). Quanto a

distribuição batimétrica, esta espécie apresentou os maiores índices de assentamento nas

profundidades de 8 e 10 metros (Tabela 8), ou seja, no estrato mais profundo da coluna

d’água.

16%

44%

1%

39%

Mitra barbadensis

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 43.Mitra barbadensis.

Figura 44.Percentagem de ocorrência

do gastrópode M. barbadensis

conforme as estações do ano em que

foram realizadas as amostragens.

1 cm

1 cm

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43

A vieira Pecten ziczac (Figura 45) teve 38 indivíduos amostrados durante o projeto

(Tabela 8), que apresentaram assentamento ao longo de todas as estações, porém no

inverno ocorreu com maior representatividade, com 58%, conforme observado na Figura

46. Os maiores índices de assentamento foram registrados em profundidades de 0 a 6

metros (Tabela 8).

Foram amostrados 29 indivíduos da espécie do bivalve Pinctada imbricata (Figura

48), como observado na tabela 8. Destes, 90% apresentou o assentamento evidenciado

durante o período do verão e 10 % durante a primavera (Figura 48), em profundidades

superficiais de 0 a 4 metros (Tabela 8).

11%

58%

13%

18%

P. ziczac

Outono

Inverno

Primavera

Verão

10%

90%

Pinctada imbricata

inverno

outono

primavera

verão

Figura 45.Pecten ziczac

Figura 46. Ocorrência bivalve P.

ziczac conforme estações do ano

em que foram realizadas as

amostragens.

Figura 47. Pinctada imbricata e suas variações. Figura 48. Percentagem de

ocorrência de P.imbricata conforme

as estações.

1 cm

1 cm

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44

Da espécie de bivalve Atrina seminuda (Figura 50) foram amostrados 14 indivíduos

(Tabela 8) com uma taxa de 50% de assentamento durante os meses de outono, como pode

ser verificado na Figura 49, nas profundidades maiores do que 4 metros (Tabela 8).

Foram contabilizados 10 indivíduos da espécie de vieira Nodipecten nodosus (Figura

51) durante o período amostral (Tabela 8), que tiveram assentamento nos períodos de

primavera e verão com índices de 50 e 40% respectivamente, como foi representado pela

figura 52, e nas profundidades que vão de 4 a 10 metros (Tabela 8).

50%

14%

14%

22%

Atrina seminuda

Outono

Inverno

Primavera

Verão

10% 0%

50%

40%

Nodipecten nodosus

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 50. Atrina seminuda.

Figura 49. Percentagem de ocorrência do

bivalve A.seminuda conforme as estações do

ano em que foram realizadas as amostragens.

Figura 51. Nodipecten nodosus.

Figura 52. Ocorrência do bivalve N.

nodosus conforme as estações do

ano.

1 cm

1 cm

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45

Da espécie de gastrópode Trachypollia didyma (Figura 54) apenas cinco

representantes foram amostrados (Tabela 8), destes, 80% assentou nos sistemas de

captação durante os meses de verão e 20% durante a primavera (Figura 54), em

profundidades intermediárias de 2 a 6 metros, conforme visto na tabela 8.

Foram identificados 5 indivíduos da espécie de gastrópode Sinum perspectivum

(Figura 55), 2 destes indivíduos assentaram durante os meses do verão (Erro! Fonte de

referência não encontrada.) em profundidades entre 0 e 8 metros (Tabela 8).

20%

80%

Trachypollia didyma

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Figura 53.Trachypollia didyma. Figura 54. Percentagem de ocorrência

do gastrópode T. didyma conforme as

estações do ano em que foram

realizadas as amostragens.

Figura 55. Sinum perspectivum.

1 cm

1 cm

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46

A espécie de gastrópode Collisella subrugosa (Figura 57) apresentou somente um

indivíduo amostrado, que ocorreu na profundidade de 0 metros (Tabela 8) durante o

período de inverno.

Figura 56. Collisella subrugosa.

O gastrópode Cerithium atratum (Figura 58) teve apenas um representante que

assentou nos sistemas de captação durante o período amostral. No inverno e a uma

profundidade de 8m (Tabela 8).

Figura 57. Cerithium atratum.

E, por fim, o gastrópode Olivancillaria cancellesi (Figura 59) que também apresentou

uma ocorrência isolada, de um indivíduo a 4 metros de profundidade, conforme

representado na tabela 8, durante os meses de verão.

1 cm

1 cm

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47

Figura 58. Olivancillaria cancellesi.

1 cm

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48

DISCUSSÃO

Em função da grande diversidade de moluscos existentes no litoral brasileiro, além

das espécies atualmente cultivadas, outros bivalves nativos de interesse comercial podem

apresentar potencial para tanto. Analisando as espécies citadas por RIOS (2009) e tomando

por critério os bivalves comestíveis, que podem alcançar tamanho superior a 40 mm, e

algumas espécies com valor ornamental, existem potencialmente 40 espécies nativas do

litoral brasileiro interessantes para a aquicultura. No entanto, sobre estas, poucos estudos

foram realizados no Brasil, logo, não se tem informações sobre o cultivo (RUPP et al. 2008).

Com relação ao potencial de exploração das espécies que obtiveram os maiores

índices de abundância no presente estudo, tanto para a utilização como itens alimentares ou

como matéria prima para artesanatos, verificou-se que o bivalve Barbatia candida

apresentou grande abundância durante o período amostral, entretanto não existe relato

destes organismos serem consumidos tradicionalmente. A espécie de pectinídeo Chlamys

bavay também esteve presente nos sistemas e captação em alta densidade, porém não

apresenta potencialidade de ser explorada comercialmente para a alimentação, já que

atinge tamanho máximo de aproximadamente 2 cm (RIOS, 2009), porém devido ao aspecto

morfológico, e por ser um pectinídeo, pode ser explorado a nível ornamental. O bivalve

Sphenia antillensis foi o terceiro mais abundante, e assim como as espécies citadas

anteriormente, não existe relatos de consumo destes organismos no país, sendo que esta

pode apresentar tamanho superior a 6 cm (RIOS, 2009). Por fim, dentre os bivalves, o

mexilhão Perna perna obteve a quarta maior taxa de assentamento, e é a principal espécie

de molusco cultivada no Brasil, pois, segundo RIOS (2009) atinge até 17 cm de

comprimento. Quanto aos gastrópodes, as espécies Anachis sertulariarum e Anachis

isabellei foram as mais abundantes durante o período amostral, estes indivíduos não

ultrapassam 3 cm de altura (RIOS, 2009), contudo apresentam potencialidade de uso

ornamental. É importante salientar que caso ocorra uma exploração de moluscos para

utilização a nível ornamental, devem ser adotadas medidas para que esta atividade não

prejudique os estoques naturais, tais como o uso de coletores, que tiveram eficácia

comprovada como sistemas de captação no presente estudo.

Os moluscos das Classes Bivalvia e Gastropoda, realizam o desenvolvimento

embrionário externamente. Durante os primeiros estágios larvais estes organismos

apresentam um hábito de vida planctônico, estando ao sabor das correntes marinhas. Após

este período inicial ocorre uma mudança comportamental dos organismos que passam a

procurar um substrato para se fixar, e, a partir daí, sofrem um importante processo de

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49

metamorfose, que resulta em alterações morfológicas e fisiológicas, proporcionando uma

mudança de hábito de vida, passando a ser bentônico. Assim, deve ser considerado que se

o assentamento acontece durante a primavera, a reprodução da espécie ocorreu durante o

outono, pois, de maneira geral, o período larval é de 30 dias, logo, o assentamento ocorre

após esta faixa temporal (FERREIRA et al. 2007).

Dentre as espécies de moluscos identificadas no presente estudo, que apresentam

potencialidade de cultivo, temos: o mexilhão Perna perna, as vieiras Nodipecten nodosus e

a Pecten ziczac, as pterias Pteria hirundo e Pinctada imbricata, que fazem parte de um

grupo de ostras perlíferas (SALVADOR, 2009; ALBUQUERQUE, 2010), espécies do gênero

Atrina, pois produções a nível comercial já vêm sendo realizados no México (FAO, 2007), e,

segundo MANZONI et al. (1998) organismos do gênero Thais também apresentam potencial

a serem explorados, sendo inclusive comercializados no município de Penha, SC.

Das espécies de vieiras citadas anteriormente, a última espécie, Euvola (Pecten)

ziczac, foi explorada em Santa Catarina durante a década de 1970 e 1980, atingindo

valores de 8 800 toneladas anuais desembarcadas (PEZZUTO et al. 1999.). Este molusco

pectinídeo era capturado pela frota pesqueira camaroneira, mas a partir de 1981 houve uma

queda crescente e significativa nas capturas tendendo ao colapso ao longo do tempo e a

uma diminuição dos estoques naturais no litoral de Santa Catarina, provavelmente, devido à

sobre explotação do recurso (MANZONI, 2005). Segundo WALLER (1991) apud PEZZUTO

et al.(2001) o gênero Euvola (Linnaeus, 1758) possuí sinonímia com o gênero Pecten

(Müller, 1776).

De acordo com RIOS (2009), o Nodipecten nodosus é o maior dos pectinídeos

registrados em todo o litoral brasileiro, com ocorrência descrita para o litoral de Santa

Catarina. Apresenta grande potencial econômico, porém seus estoques encontram-se

ameaçados devido às intensas capturas, consequência do elevado valor de mercado

(OSTINI & POLI, 1990 apud MANZONI, 1994). Apesar do Estado de Santa Catarina ser hoje

responsável por mais de 95% da produção brasileira de moluscos, o cultivo desta espécie

ainda é incipiente. Fatores como o custo elevado das sementes, que são provenientes das

reproduções em laboratórios, e a necessidade de manejos específicos, limitam a expansão

da produção deste molusco (MANZONI, 2010).

Em um estudo realizado por OSTINI et al. (1989) apud MANZONI (1994) sobre a

viabilidade do cultivo experimental de pectinídeos no litoral de São Paulo, os resultados

obtidos apresentaram um assentamento larval nos coletores contínuo e diretamente

proporcional ao aumento da profundidade, sendo 3 espécies de pectinídeos identificadas:

Pecten (Euvola) ziczac, Lyropecten (Nodipecten) nodosus e Leptopecten (Chlamys) bavayi.

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50

A maioria das sementes pertencia à última espécie, que por atingir um tamanho máximo de

17 mm não apresenta interesse comercial (RIOS, 2009).

MANZONI (1994), na região da Ilha do Arvoredo, em Santa Catarina, verificou o

assentamento de pectinídeos através de um sistema de captação do tipo “long-line”, que

ficou submerso a profundidade de 8 metros. Os resultados demonstraram um assentamento

mais pronunciado durante os períodos de abril/maio, agosto/outubro e dezembro/abril. A

espécie N. nodosus apresentou assentamento constante ao longo do período de estudo,

com maior intensidade nos período de primavera, outono e verão. Também foram

identificadas as espécies Pecten ziczac, Chlamys tehuelchus e Leptopecten bavayi. A

última espécie foi a mais frequente e os períodos que apresentaram maior assentamento

foram os outono e inverno; a P. ziczac foi a segunda mais abundante e apresentou maiores

índices de assentamento nos períodos de inverno e primavera.

Nos coletores imersos no município de Penha, o presente estudo identificou os

seguintes pectinídeos: Chlamys bavay, Nodipecten nodosus e a Pecten ziczac. Os dois

últimos não apresentaram índices significativos de abundância nos sistemas de captação,

porém tiveram ocorrência evidenciada conforme distribuição batimétrica e sazonal de cada

um. A espécie Chlamys bavay foi a que apresentou o maior número de indivíduos entre

elas, sendo que as maiores taxas de assentamento ocorreram durante os meses de inverno

e outono em todos os estratos, mas com um aumento no número de indivíduos em maiores

profundidades. A segunda mais abundante foi a P.ziczac, que obteve maior assentamento

durante os meses de inverno, porém também esteve presente nas demais estações, em

profundidades de 0 a 6 metros. Por fim, a N. nodosus, esteve presente nos sistemas de

captação nos meses de primavera e verão em profundidades superiores a 4 metros. Estes

resultados corroboram os encontrados por MANZONI (1994). Os dados de assentamento da

vieira N. nodosus têm como hipótese o recrutamento dos cultivos já existentes na região.

Quanto às referências sobre o assentamento de larvas de mexilhões em coletores,

pode-se citar MANZONI et al.(1994) e (2004), GONÇALVES (2005), RUPP et al.(2008) e

EPAGRI (2010), que apresentam informações sobre distintos substratos disponibilizados em

diferentes profundidades ao longo do ano.

Estudos como esses são de extrema importância para a sustentabilidade da

mitilicultura, uma vez que a fixação de larvas e a determinação de coletores eficientes

possibilitam a continuidade de cultivos racionais, sem comprometer as necessidades das

gerações futuras (GARCIA, 2001), além de diminuir o custo da produção para as

comunidades litorâneas de maricultores.

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Os resultados verificados neste estudo, em relação ao assentamento do mexilhão

Perna perna, indicaram que a presença destes organismos foi restrita às camadas

superficiais da coluna d’água, de 0 até 4 metros de profundidade (Tabela 8), nos meses de

inverno e de outono (Figura 30). Estes dados condizem aos encontrados por MANZONI et

al.(1994), ARAÚJO (1994) apud GONÇALVES (2005), GONÇALVES (2005) e EPAGRI

(2010) em que o padrão observado é o de um maior assentamento quanto maior for a

proximidade com a superfície.

As ostras da família Pteriidae, vêm sendo utilizadas na produção de pérolas e semi

pérolas em várias regiões do mundo, sendo os principais gêneros Pinctata e Pteria. Para

estas ostras utilizam-se os métodos de larvicultura geralmente desenvolvidos para outros

bivalves, tornando, então, o cultivo, economicamente viável e de simples implantação

(ALBUQUERQUE et al 2007; apud ALAGASWAMI et al., 1987; KAKAZU, 1988). Estudos

quanto à larvicultura, assentamento remoto, taxas de recuperação de sementes no ambiente

natural, crescimento e de sobrevivência desta espécie vêm sendo realizados em Santa

Catarina pelo Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC (Universidade Federal do Estado

de Santa Catarina) localizado em Florianópolis (SALVADOR, 2009; ALBUQUERQUE, 2010).

Estas espécies (P. hirundo e P. imbricata) tiveram assentamento evidenciado no presente

estudo, sendo o verão a estação de maior ocorrência. A distribuição batimétrica ficou

caracterizada com uma maior disponibilidade de indivíduos nos estratos de maiores

profundidades.

Dentre os principais predadores de vieira já registrados, estão os gastrópodes,

lagostas, polvos, braquiúros e asteróideos (LEVINTON 1982 apud KLEIN et al 2001;

ORENSANZ et al. 1991; CARVALHO 2007). Há estudos que relatam a predação como um

forte agente no controle de populações de moluscos na fase adulta e de recrutamento.

MANZONI et al.(1998) identificaram os gastrópodes Thais haemastoma e Cymatium

parthenopeum parthenopeum como os principais predadores presentes entre a fauna

associada ao cultivo de moluscos marinhos na enseada da Armação de Itapocoroy, em

Penha, SC. Segundo RIOS (2009), ambas as espécies são predadoras, C. p. parthenopeum

alimenta-se do mexilhão P. perna, do berbigão Anomalocardia brasiliana e de gastrópodes

como o Cerithium atratum; e, a espécie T. haemastoma, alimenta-se de ostras, mariscos,

cracas e berbigões. Indivíduos da espécie Thais sp. estiveram presentes nos coletores

disponibilizados durante o período de realização deste estudo, principalmente nos meses de

verão e outono e em profundidades intermediárias da coluna d’água, de 4 a 6 metros.

Segundo KLEIN et al. (2001), o controle das populações de vieira Euvola ziczac no

ambiente natural, descrito com os resultados apresentados por uma análise de grupamento

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e ordenação de um único grupo, apresentou altas similaridades ao do objeto de estudo.

Neste grupo também foi encontrado o gastrópode muricídeo Chicoreus tenuivaricosus que é

potencial predador. Numerosas conchas mortas de vieira que foram coletadas ao longo do

estudo apresentavam perfurações circulares geradas por gastrópodes das superfamílias

Naticoidea e Muricoidea. Segundo estes autores, como o único representante destas

superfamílias coletado foi C. tenuivaricosus, o seu papel como predador de vieiras pôde ser

evidenciado, podendo inclusive ser considerado como a principal causa de mortalidade

natural das populações de Euvola ziczac (KLEIN et al. 2001).

Na mesma região do presente estudo, a Enseada da Armação de Itapocoroy, um

monitoramento do assentamento de larvas de moluscos marinhos em sistemas de captação

submersos foi realizado por MANZONI & ARAUJO (1994). Os coletores foram imersos a

partir de junho de 1994. As principais espécies identificadas, em ordem decrescente de

abundância, foram: Sphenia antillensis, Perna perna, Anachis sertulariarum, Musculus

lateralis, Modilus carvalhoi, Crassostrea sp., Anadara ovalis, Leptopecten (Chlamys) bavayi,

Pteria hirundo, Pecten ziczac, Cymatium p. partehenopeum, Atrina seminuda e

Trachycardium muricatum. Quanto ao assentamento em diferentes profundidades, verificou-

se maior presença dos moluscos nos coletores dispostos nos primeiros 3m, devido a uma

maior disponibilidade de alimento nas camadas superficiais da coluna da água. Os

resultados quanto à diversidade de espécies, concordam com os apresentados na atual

pesquisa, na qual, as espécies: Anachis serulariarum, Chlamys (Leptopecten) bavay,

Sphenia antillensis, Perna perna, Pteria hirundo, Musculus lateralis, Pecten ziczac, e, Atrina

seminuda, também apresentaram índices de assentamento evidenciado no local de estudo.

Porém, quanto à profundidade, os maiores índices de assentamento foram observados em

maiores profundidades, de 6 a 10m. Esta diferença ocorreu devido ao fato das espécies que

apresentaram os maiores índices de abundância durante o período amostral (março/2010 a

abril/2012), os gastrópodes Anachis serulariarum, Anachis isabellei, Anachis veleda, e, os

bivalves Barbatia candida, e, Chlamys (Leptopecten) bavay, terem ocorrido em maiores

densidades nos coletores que estavam dispostos no estrato mais profundo, ou seja, em

profundidades de 6 a 10m.

Apesar das variações verificadas, a vieira Chlamys bavay (L. bavayi) continua sendo

uma das espécies de molusco mais abundantes no local da pesquisa.

Os resultados do presente trabalho demonstram que as espécies de moluscos

apresentaram índices de assentamento diferenciados para cada uma das profundidades de

coleta, porém, pela proximidade dos valores encontrados em 0, 2 e 4 metros e em 6, 8 e 10

metros, foi verificado maior número de indivíduos a partir dos 6 metros de profundidade.

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Quanto às similaridades existentes entre as estações do ano, as associações

indicam níveis de significância entre as estações de outono/inverno e outono/verão, porém o

nível de significância de 0,1% da análise geral (Tabela 2) demonstra que estes resultados

não são significativos. Esta discordância pode ter ocorrido devido ao fato dos períodos

amostrais serem estações do ano, com mudanças climáticas que afetam de maneira gradual

o ambiente e, consequentemente, o comportamento e a diversidade da fauna de moluscos

da região.

É importante destacar que mesmo que o estudo de MANZONI & ARAUJO (1994)

tenha sido realizado na mesma região (Enseada da Armação do Itapocoroy), o ponto

amostral foi diferente, ou seja, o local em que foram instalados os coletores foi distinto, além

disso, o parque de cultivo de moluscos era menor naquela época, assim, as diferenças

verificadas no presente trabalho, relatam uma nova dinâmica populacional das espécies de

moluscos, que possivelmente está relacionada a expansão da atividade de maricultura na

região. Outro fator que também pode ter influenciado nas diferenças entre as espécies

assentadas, são as variações ambientais, que apresentam alterações de ano para ano.

O cruzamento dos dados de assentamento de moluscos com parâmetros

oceanográficos é de fundamental importância, pois estes parâmetros têm influência nos

organismos estudados. Podem ser relacionados a processos fisiológicos, já que há vários

mecanismos de resposta dos indivíduos a flutuações espaço-temporais do habitat, e

também, em nível de população e comunidade, pois os fatores físico-químicos agem como

limitadores ou reguladores benéficos, influenciando na reprodução, na dispersão e na

abundância das espécies (MANZONI, 1994).

KUROSHIMA et al. (2010) realizaram um monitoramento dos parâmetros físico-

químicos, por 12 anos, de 1996 a 2008, na enseada da Armação do Itapocoroy, onde

verificaram que a salinidade neste período apresentou um valor médio de 32,06 psu, com

um valor máximo de 37,0 psu (julho/ 2000) e mínimo de 21,8 psu (setembro/2000). Ao longo

de um ano, os mais baixos valores foram observados em janeiro (30,9±3,6 psu) e outubro

(30,41±2,1psu), os meses com maiores índices de pluviosidade na região. O valor médio da

temperatura da água foi de 22°C, com um máximo de 30,5 °C (fevereiro/1999), e, um

mínimo de 12°C (julho/2000). Os valores de temperatura e salinidade, verificados durante o

presente estudo, apresentaram uma faixa de variação distinta. A temperatura apresentou

valores mínimos de 16 °C (julho/2010), e máxima de 28,2° (fevereiro/2011), ou seja, médias

mensais com amplitude menor que a apresentada pelos autores; porém a variação espacial

destes valores entre as estações do ano ocorreu de forma semelhante; já os valores de

salinidade corroboram as médias verificadas durante o monitoramento realizado.

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Mesmo com médias relativamente menores, a distribuição temporal da temperatura,

observada neste trabalho apresentou uma periodicidade evidenciando as estações do ano.

E, com relação a variação da salinidade na área de estudo, pode-se dizer que a mesma

está diretamente relacionada com as condições hidrológicas do estuário do rio Itajaí-açu e

das massas de águas predominantes sobre a plataforma continental adjacente (SCHETTINI,

et al. 1999).

Em locais com cultivos, com o enriquecimento orgânico, ocorrem mudanças

significativas na comunidade bentônica, e espécies tolerantes, com ciclo de vida rápido,

prevalecem nesses ambientes. A atividade do cultivo frequentemente resulta na introdução

artificial de espécies para novas áreas onde elas frequentemente deslocam variedades

nativas que tem evoluído em relativo isolamento (TISDELL, 1991 apud VAQUERO, 2006).

Segundo PAULET et al. (1988) apud MANZONI (1994), os bivalves marinhos

apresentam variações intra-específicas nos seus ciclos reprodutivos durante o ano. O

número de desovas e a intensidade podem variar consideravelmente de uma população

para outra, isto ocorre, particularmente, nas espécies que apresentam uma ampla faixa

latitudinal de distribuição. Tais variações podem ser explicadas como uma adaptação aos

parâmetros ambientais, bióticos e abióticos, principalmente, temperatura e abundância de

alimentos ou pela “expressão” das características genéticas comum de cada população.

No presente estudo, dentre as 26 espécies identificadas durante o esforço de

levantamento da malacofauna, realizado através da utilização de sistemas de captação

disponibilizados na Armação do Itapocoroy, foram listadas três, Mitra barbadensis, Rissoina

cancellata e Trachypolia didyma, todas de gastrópodes, com nova ocorrência para o litoral

catarinense, tendo RIOS (2009) como referência.

Exemplares de cada uma das espécies encontradas durante este estudo foram

remetidos ao Museu Oceanográfico de Rio Grande a fim de obter uma confirmação quanto à

taxonomia.

Finalmente, é importante destacar que a realização deste trabalho serve como

referência da disponibilidade de moluscos marinhos em diferentes profundidades, e, indica

que o cultivo de moluscos na região da Enseada da Armação de Itapocoroy, pode estar

proporcionando uma alteração na malacológica ao longo do tempo.

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CONCLUSÃO

Os bivalves e gastrópodes foram os moluscos identificados.

Os bivalves foram os mais abundantes (63%).

As espécies de bivalves e gastrópodes identificadas nas bolsas coletoras dispostas

na coluna d’água durante o período de março de 2010 a abril de 2011, em ordem de

abundância foram: Barbatia candida, Anachis sertulariarum, Anachis isabellei,

Chlamys bavay, Sphenia antillensis, Perna perna, Ostrea sp., Anachis veleda, Thais

sp., Pteria hirundo, Musculus lateralis, Rissoina cancelata, Mitra barbadensis, Pecten

ziczac, Pinctada imbricata, Atrina seminuda, Nodipecten nodosus, Trachypollia

didyma, Sinum perspectivum, Cerritium atratum, Olivancilla riacancellesi e Collisela

subrugosa.

A estação do ano com o maior índice de assentamento foi o verão (46%).

Ocorre uma mudança na composição e nos índices de abundância das espécies nas

diferentes épocas do ano.

Existe diferença entre os valores de abundância das espécies de moluscos, sendo

que o maior índicede assentamento ocorreu a partir dos 6 metros de profundidade.

As espécies com potencialidade de exploração econômica, identificadas durante o

esforço amostral, foram: Nodipecten nodosus, Pecten ziczac, Perna perna, Piteria

hirundo, Pinctada imbricata, o bivalve Atrina seminuda, e, o gastrópode Thais sp.

Estas tiveram assentamento evidenciado, conforme época e profundidade.

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