UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
PROFISSIONALIZAÇÃO DE COLÉGIO CONFESSIONAL: UM
DESAFIO URGENTE
Por: Jan Zbigniew Czujak
Orientadora
Prof.ª Mônica Ferreira de Melo
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
PROFISSIONALIZAÇÃO DE COLÉGIO CONFESSIONAL: UM
DESAFIO URGENTE
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Administração
e Supervisão Escolar
Por: Jan Zbigniew Czujak
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AGRADECIMENTOS
A orientadora Prof.ª Mônica Ferreira de
Melo, aos professores e aos colegas da
turma de Administração e Supervisão
Escolar.
4
DEDICATÓRIA
Aos educadores do mundo inteiro.
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RESUMO
A diminuição cada vez maior dos colégios confessionais católicos no
Brasil nos questiona quais são os motivos deste acontecimento. A gestão
inadequada aparece como a causa mais importante deste processo. Como
solução propõe-se a profissionalização da escola católica. Partindo do histórico
da profissionalização chegamos a conceituar o que é a profissionalização
segundo a Sociologia das Profissões e a Administração. A fim de
profissionalizar um estabelecimento de ensino confessional católico precisamos
que os docentes que nele trabalham se sentem bem, realizados como
profissionais, porque eles fazem acontecer o processo de aprendizagem. Em
seguida precisa aplicar as ferramentas modernas de gestão de empresas, um
colégio confessional católico é uma delas. Chegamos à conclusão que a escola
católica tem dois caminhos a escolher: ajudar na profissionalização dos
docentes e profissionalizar sua gestão ou desaparecer do mercado educacional
brasileiro.
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METODOLOGIA
O presente trabalho contou com a pesquisa bibliográfica em livros,
revistas, artigos, acesso à Internet, etc.
Outro procedimento era a observação e análise de várias instituições de
ensino confessional católico, para comparação da teoria com a prática.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - DA PROFISSIONALIZAÇÃO 10
CAPÍTULO II - IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE 19
CAPÍTULO III – ESCOLA CATÓLICA E NECESSIDADE DE
PROFISSIONALIZAÇÃO 29
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA 41
ÍNDICE 43
8
INTRODUÇÃO
Houaiss definiu colégio como ”associação ou reunião de colegas de
uma mesma profissão ou atividade; corporação, grêmio; corporação de
indivíduos notáveis da mesma categoria ou de igual dignidade;
estabelecimento público ou particular dedicado ao ensino fundamental ou
médio” etc. Essa última definição domina no sentido popular. Observando mais
de perto vários colégios confessionais católicos nos questionamos porque
alguns vão bem e outros estão caindo na qualidade de ensino e quantidade de
alunos até chegarem a ser fechados. Isso se refere não somente aos colégios,
mas também as escolas católicas. A comparação com os outros
estabelecimentos de ensino particular leva a suposição que o problema está na
administração escolar, ou na falta de profissionalização do segmento católico
de ensino particular no Brasil. Se torna desafiante descobrir o que seria
profissionalização de um colégio, de tentar responder por que, é que, a escola
católica que durante muitos séculos desempenhou sua função de educação da
sociedade brasileira está perdendo seu espaço de ser mais uma opção no
mercado educacional brasileiro.
A pesquisa bibliográfica em livros, revistas, artigos e no Internet, leva a
aprofundar o que seria a profissão e a profissionalização. Ajuda olhar do ponto
de vista crítico a escola católica e a sua gestão. Sugere quais são os caminhos
possíveis de mudança, para permanecer no vasto mundo de educação.
A história da Sociologia das Profissões nos mostra que os conceitos da
profissão e da profissionalização evoluíram muito até os dias de hoje. A
profissionalização seria um processo durante qual uma atividade se torna
profissão. Descobrimos quais são as etapas desse processo, o que é a
profissão, quais são as características necessárias a fim de que uma ocupação
se torne a profissão, e consegue um status social. O trabalho docente é uma
profissão?
9
Se assumimos que a atividade docente é reconhecida como semi-
profissão, então precisamos descobrir o que precisa ser feito para que ela seja
profissão em plenitude deste conceito. A formação inicial e continuada são
elementos muito importantes no processo de profissionalização do educador.
Qual é a responsabilidade do Estado e do estabelecimento de ensino para que
o docente possa se tornar, se sentir, ser reconhecido como profissional? Não
se pode pensar na profissionalização de uma escola sem se preocupar com a
profissionalização dos seus principais funcionários, porque do trabalho deles
depende a qualidade de ensino, o reconhecimento do estabelecimento de
ensino e a educação das gerações que vão construir o futuro.
Nos anos 60 e 70 a escola católica perdeu muitos alunos e fechou
vários estabelecimentos como fruto de questionamento da sua missão nesse
campo de atuação. Hoje o processo de perda acontece por má gestão. Para
que estabelecimentos confessionais católicos possam sobreviver neste mundo
globalizado interconectado e inter-relacionado precisam rever sua gestão.
Criação de redes de escolas da mesma mantenedora, redes entre as
mantenedoras seria uma das sugestões, com as vantagens e as desvantagens
desse processo. Profissionalização da escola católica, quer dizer, aplicação
das modernas ferramentas de gestão de empresas levaria a competitividade, e
a sobrevivência no mercado educacional. Seria preservada a missão, o
carisma, o diferencial fundamental católico, mas projetos de algumas ordens
religiosas precisariam ser atualizados e modificados.
A profissionalização da escola católica no Brasil seria sua “ser ou não
ser, eis a questão” (William Shakespeare, Hamlet)?
10
CAPÍTULO I
DA PROFISSIONALIZAÇÃO
Os termos profissão, profissionalidade, profissionalismo e
profissionalização trazem muito significado. Podemos encontrar também várias
definições para a própria profissionalização. Uma delas, Veiga (2006), define
profissionalização como: “o processo socializador de aquisição das
características e capacidades específicas da profissão” (p.3). Outra definição
de profissionalização, conforme Mark Ginsburg, indica que, na profissão
docente, principalmente, influem dois mecanismos opostos.
“A profissionalização é um processo através do qual os
trabalhadores melhoram o seu estatuto, elevam os seus
rendimentos e aumentam o seu poder/autonomia “Ao
invés, a proletarização provoca uma degradação do
estatuto, dos rendimentos e do poder/autonomia; é útil
sublinhar quatro elementos deste último processo: a
separação entre a concepção e a execução, a
estandardização das tarefas, a redução dos custos
necessários à aquisição da força de trabalho e a
intensificação das exigências em relação à actividade
laboral“ (NÓVOA, 1992, p. 23).
1.1 – Histórico da profissionalização
11
A Revolução Industrial e o crescimento do capitalismo trouxeram novas
formas de organização e divisão de trabalho que conhecemos atualmente
como profissões e especializações. No Brasil, o processo de industrialização
intensificou-se na década de 30 e trouxe também a mesma diversificação do
mercado do trabalho e aparecimento das diferentes profissões (CALDAS, 2006,
p.16).
Depois da Segunda Guerra Mundial, os sociólogos, principalmente
americanos, mas também europeus, começaram a definir o que é a profissão e
a descobrir quais são os processos que fazem certas ocupações chegarem ao
status de profissões e os grupos profissionais conseguirem poder político
influenciando na tomada de decisões em vários setores da vida social. Desta
maneira, nasce, dentro das Ciências Sociais, a “Sociologia das Profissões”
(CALDAS, 2006, p.16).
O conceito de profissionalização torna-se algo muito importante na
sociologia das profissões, principalmente no ambiente anglo-saxônico. Apesar
do mesmo idioma, o que é considerado profissão no Reino Unido não é
necessariamente nos Estados Unidos. Segundo Dubar Claude e Triper Pierre,
a tradução da palavra profession para o francês ou o português traz ainda mais
mal-entendidos (REGO, 2007, p. 89).
A abordagem funcionalista fundada pelo Émil Durkheim, desenvolvida,
na década de 1930, não só por Carr-Saunders e Wilson como também por
Talcott Parsons, defende que as organizações profissionais formam centro do
desenvolvimento das sociedades modernas e asseguram coesão e moral do
sistema social. O moderno sistema social liberal é melhor caracterizado pela
atividade profissional na sua racionalidade, eficácia, cientificidade e
objetividade. Infelizmente, segundo eles, nem todas as ocupações podem
profissionalizar-se. A profissionalização emerge como um conceito que se
baseia em teorias funcionalistas (REGO, 2007, p.89-90).
Os sociólogos interacionistas da Escola de Chicago dos anos 50 a 60
procuram descobrir os processos que efetivamente levam determinadas
12
pessoas a exercerem a sua profissão, a descreverem as atividades quotidianas
e a explicarem os problemas que enfrentam (REGO, 2007, p.90).
Segundo Dubar e Triper, a teoria interacionista defende que:
• os grupos profissionais são resultados de processos de interação que levam
os seus membros a se auto-organizarem e a se protegerem da
concorrência;
• a vida profissional não é nada mais que um processo biográfico que
constrói a identidade no decorrer dos ciclo da vida;
• os processos biográficos e os mecanismos de interação interdependem;
• todos os grupos profissionais procuram reconhecimento das suas pares e
proteção legal.
O conceito de profissionalização pode ser aplicado, dentro dessa teoria, além
das profissões liberais (REGO, 2007, p. 90-91).
A partir da década de 60, começam a surgir, nos Estados Unidos, as
críticas de monopólio, legitimidade política e privilégio das profissões, que,
sendo atores coletivos do mundo econômico, tentam fechar o seu mercado de
trabalho. Este fechamento, segundo Larson Sarfatti Magali, não é somente
econômico, mas também social e cultural. O profissionalismo começa ser visto
como um sistema de justificação e uma estratégia política (REGO, 2007, p. 91-
92).
No final dos anos 70, aparece outra vertente conhecida como de
conflito que percebe profissionalismo não como um ideal de melhoramento à
sociedade, mas como a ideologia para controlar a ocupação. No centro desse
pensamento, é o poder que possuem os profissionais “de prescrever e a
autoridade para decidir o que o cliente deve fazer”, gerando o poder dentro de
um conflito social (SHIROMA, 2003, p. 4-5).
Criticando tanto a abordagem funcionalista como a de conflito que
visam à profissão como um conceito genérico, Freidson propõe nova
abordagem socioeconômica. Nela, a “profissionalidade” é interpretada “como
uma construção social que ocorre no interior de uma guerra política em que
altos graus de recompensa econômica e social são conferidos aos vencedores”
13
(SHIROMA, 2003, p. 5). Segundo Freidson, não foram os trabalhadores que
pretendiam ser reconhecidos como os profissionais, mas foram os governos
que os classificaram assim. A partir desse momento, a profissão começa a ser
vista “como um conceito concebido historicamente e com especificidades
nacionais” (idem).
Nos anos 90, Abbott apresenta uma abordagem sistêmica e
comparativa das profissões e analisa os mecanismos de concorrência pelo
monopólio jurisdicional de uma especifica competência. Segundo ele, a falta de
consenso entre os sociólogos na definição de uma profissão é provocada pela
permanente concorrência dos grupos profissionais pelas competências. As
razões de vitória de um determinado grupo nesta competição interprofissional
pelo uso de uma competência, o autor as descobre numa análise sistêmica de
três dimensões básicas: a natureza do trabalho, as fontes de mudança no
interior e no exterior do grupo profissional. Nas três dimensões de análise, o
autor acrescenta três mecanismos de reivindicação jurisdicional: sistema legal,
opinião pública e local de trabalho (Almeida, 2010, p. 124-125).
A profissionalização, em múltiplas correntes da sociologia das
profissões, indica um processo de passagem de uma atividade ao estatuto de
uma profissão. Os trabalhos mais recentes mostram que o profissionalismo
está além da profissionalização, sendo uma estratégia de elevação do estatuto
social (REGO, 2007, p. 91-92).
1.2 – O conceito da profissionalização
Seguindo a sociologia das profissões, podemos entender a
profissionalização como um conjunto de várias ações através do qual uma
atividade, uma ocupação quer elevar seus ganhos, seu poder e seus prestígios
e constitui em um processo que se torna cada vez mais comum e vivenciado
por diversos trabalhadores em nossa sociedade. Este processo transforma-se
permanentemente através do relacionamento com diversos contextos históricos
14
que perpassam nas relações de uma categoria profissional (CALDAS, 2006, p.
16).
A profissionalização percebida como processo de transformação de
atividade em profissão nos questiona o que, é que, é a profissão e quais são os
critérios que definem uma profissão. Quais são as diferenças entre a ocupação
e profissão (Op. cit., p. 16).
A palavra profissão tem uma pluralidade de significados e não existe
uma definição fixa ou universal. O rótulo profissão geralmente indica um grupo
digno de confiança pública, competente, especializado e altamente formado
que, através dos seus serviços, procura obter prestígio, poder e estatuto
econômico (TORREZ e outros, 2002, p. 2).
A fim de que uma atividade ou ocupação se torne profissão, precisaria
haver um conjunto de características:
A. um conhecimento especializado, que se expressa através de um
vocabulário técnico fruto de uma longa formação escolar, de preferência
superior;
B. controle de admissão a exercício da profissão;
C. existência de um código de ética profissional;
D. associações profissionais distintas dos sindicatos;
E. adequadas condições de trabalho;
F. orientação para o cliente e ideal de serviço;
G. autonomia profissional (op. cit., p. 3).
O conhecimento deve ser sistematizado, complexo, aplicável,
institucionalizado e de reconhecida utilidade, criado e adquirido em instituições
academicamente organizadas e cientificamente aceitas. Ele se baseia num
currículo mínimo que une o conteúdo teórico transmitido para aos candidatos à
profissão (CALDAS, 2006, p. 18).
A orientação para o cliente e serviço pressupõe que o profissional não
deve, em primeiro lugar, servir aos seus interesses, mas aos da comunidade e
15
aos do cliente. As características dos procedimentos técnicos da profissão
visando a um ideal de serviço seriam:
a. quem decide o que realmente o cliente precisa é o próprio profissional;
b. o ideal exercício da profissão deve exigir o sacrifício dos praticantes;
c. a sociedade deve acreditar que a profissão aceita e orienta-se pelos ideais;
d. a comunidade profissional deve seguir um sistema de recompensas e
punições.
Dessa forma, seguindo rigorosamente um código de ética na relação com os
clientes e com seus pares, o profissional sempre se mantendo atualizado na
sua área seja ciente da sua competência limitada e da sua especialidade. Os
casos dos serviços profissionais não solucionados devem ser encaminhados
aos colegas. As associações profissionais seriam fórum de desenvolvimento,
crescimento e aprimoramento técnico e ético da profissão. Preocupar-se-iam
com as condições de trabalho, sustentação do alto padrão do trabalho,
admissão ao treinamento e ao licenciamento dos novos profissionais, normas
de exclusão dos incompetentes e proteção do monopólio da categoria (op. cit.,
p. 18 e 22).
Uma profissão seria então uma ocupação, qualificada pelo controle
sobre o cerne do seu próprio trabalho, pela autonomia técnica e
socioeconômica, e a independência do desenvolvimento da sua prática.
Regulamentada através das associações profissionais junto ao Estado (op. cit.,
p. 20-21).
As etapas típicas do processo de profissionalização:
• o trabalho torna-se uma ocupação de tempo integral;
• as escolas de treinamento são criadas;
• a associação profissional é criada;
• a profissão é regulamentada;
• um código de ética é criado e adotado.
Quando essas etapas são realizadas, a profissionalização torna-se efetiva
dentro de um dinâmico processo histórico de luta dos profissionais pela
conquista e a garantia dos privilégios para a categoria (op. cit., p. 19).
16
A aplicação ao trabalho docente das sete características, acima
indicadas, que levam uma ocupação a status de profissão nos conduz a dizer
que a atividade docente não cumprindo todos os atributos pode ser
considerada somente como semiprofissão. Comparando com os profissionais
liberais como, por exemplo, médicos ou advogados, podemos ver que a
autonomia profissional é muito limitada, o status social não é tão elevado, as
condições de trabalho são menos favoráveis e as remunerações financeiras
são menores. Alguns acham que essa classificação das profissões define mais
a hierarquia social do que profissional e não se pode estudar um grupo
profissional tendo modelo ideal de profissão. Precisaria incluir seus
fundamentos e atributos sociais (TORREZ e outros, 2002, p.3).
É inquestionável a presença do Estado, cada vez mais forte, no controle
e burocratização dos docentes, das escolas e da educação. A tensão e a
rivalidade no controle do ato educativo entre Estado, que através dos seus
especialistas científicos elabora os currículos e os docentes que os realizam,
levam à proletarização dos educadores. Os professores realizam recebidas
orientações pedagógicas o que, na realidade, significa tecnicização do seu
trabalho, cada vez maior perda de autonomia no processo de ensino e
degradação do seu estatuto (op. cit., p.3). Isso Mark Ginsbur define que:
“A profissionalização é um processo através do qual os
trabalhadores melhoram o seu estatuto, elevam os seus
rendimentos e aumentam o seu poder/autonomia. Ao
invés, a proletarização provoca uma degradação do
estatuto, dos rendimentos e do poder/autonomia; é útil
sublinhar quatro elementos deste último processo: a
separação entre a concepção e a execução, a
estandardização das tarefas, a redução dos custos
necessários à aquisição da força de trabalho e a
intensificação das exigências em relação à actividade
laboral“ (NÓVOA, 1992, p.23).
17
A profissionalização vem a ser, desse modo, uma ação, um instrumento contra
a normativismo do Estado. É uma resistência contra o poder do Estado através
de criação de competências e de uma autoestima profissional no ambiente dos
docentes (TORRES e outros, 2002, p.4).
Segundo Nóvoa (1992), a atividade docente é uma profissão do tipo
burocrático ou funcionário, edificada nas duas dimensões:
A. Corpo de saberes – conjunto de conhecimentos e técnicas próprias e
específicas da docência, permanentemente reelaboradas.
B. Normas e valores – organizadas em um conjunto que regulam a
atividade profissional docente.
Podemos também especificar quatro etapas constitutivas da profissão do
docente:
• Tempo integral da atividade docente;
• Suporte legal sendo, ao mesmo tempo, instrumento de controle e de
defesa profissional no exercício da atividade docente;
• Instituições especificas de formação dos docentes;
• Criação e existência das Associações Profissionais.
Enfim, pode-se dizer que os educadores formam um grupo ocupacional que
está em pleno processo de profissionalização. Para concretizar esse processo,
o maior desafio que há é a preservação da autonomia do corpo docente
perante as políticas públicas (Idem, p.4-5). Como um exemplo concreto,
podemos ver que as políticas públicas brasileiras na área da educação também
seguem o caminho de gerencialismo e proletarização dos educadores
diminuindo a sua autonomia e reconhecimento de seu status na sociedade
(SHIROMA, 2003).
A entrada do gerencialismo na educação coloca como a prioridade os
resultados financeiros, até na escola. Os diretores, ou melhor, gestores tornam-
se responsáveis pela implementação de mudanças e são responsabilizados
pela prestação de contas da instituição. Segundo Hanlon, neste
“profissionalismo comercializado”, destacam-se três habilidades:
• Técnica
18
• De gestão – gerenciar outros empregados, satisfazer os clientes,
balancear orçamento.
• De agir como empreendedor.
Assim, o sucesso profissional não é a qualidade do serviço que o cliente
precisa, no entanto a lucratividade do empreendimento, que, no caso, é a
escola. Para conseguir esse objetivo, promove-se a competição entre os
trabalhadores da educação através de remuneração diferenciada baseada nos
resultados, procurando um profissional competente, responsável, competitivo e
obediente. O gerancialismo baseia-se na avaliação burocrática de desempenho
e atomização de controle. Valoriza-se a cultura ocupacional, a qualidade e a
eficiência. A profissionalização com a ideologia gerencialista torna-se uma
estratégia para conseguir eficiência política e financeira visando à educação
como um grande negócio (SHIROMA, p. 1-7).
Podemos dizer que essa visão de educação domina o momento atual,
tanto no ensino público como no particular. Com a entrada do capital
estrangeiro e com o lançamento das ações de alguns grupos educacionais na
Bolsa de Valores, a concentração de mercado educacional torna-se cada vez
maior, nas mãos de poucos. A presente crise econômica mundial aprofunda
ainda mais esse processo. As ações das empresas educacionais não
proporcionam os lucros extraordinários, mas seguros, o que é o mais
importante no momento de incerteza. As instituições educacionais que não
fazem parte destes grupos para sobreviverem, elas precisam profissionalizar-
se, unir-se em redes ou encontrar o seu nicho mercadológico (alta qualidade
e/ou localização). A educação torna-se relativamente barata, mas sem
qualidade.
A ciência de Administração está refletindo muito sobre a
profissionalização das empresas, e a escola também é uma delas.
... Segundo Olivieri:
“Profissionalização é definir e implantar Processos
Estruturados para eliminar tarefas improdutivas;
desenvolver competências comportamentais e de
19
liderança de alta performance, potencializar os resultados
financeiros e qualitativos da empresa, promover a
conscientização e a institucionalização da importância da
qualidade e dos processos, capacitar gestores e equipes
para responder, de forma eficaz, à demanda e às
adversidades” (p. 2).
A profissionalização vem a ser uma ferramenta estratégica de administração
escolar com seus benefícios, mas também com suas limitações. A importância
do corpo docente na instituição de ensino leva-nos à escolha da definição de
profissionalização apresentada pelo Mark Ginsbur, mas a da Olivieri torna-se
excelente complementação.
CAPÍTULO II
IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCÊNTE
A profissionalização do docente aparece como um projeto que começa
na profissão, passa pelo profissionalismo para chegar à meta que seria a
profissionalização do educador. Ela depende das suas bases históricas e
sociais que foram a Igreja e, depois, o Estado quando os professores passaram
a ser funcionários públicos. É um processo, uma construção sócio-política
realizada pelos atores sociais numa realidade histórica. Não se resume à
formação profissional, porém envolve melhores condições de trabalho, salários,
status social da profissão, reconhecimento e valorização de seus membros,
independência de entidades profissionais e um código de ética.
20
2.1 – Bases históricas da profissão docente
De 1500 a 1759, dominou no Brasil o modelo de educação
desenvolvido pelos jesuítas. Seu principal objetivo era a catequese. Destinava-
se aos donos das terras, excluindo os filhos primogênitos, as mulheres e as
pessoas humildes. De modelo humanista transmitia a cultura básica geral e
não profissionalizante sem análise, pesquisa e experiência laboratorial prática.
No Brasil, a formação de nível superior era somente para os sacerdotes. Os
leigos partiam para a Universidade de Coimbra a fim de se formar em terceiro
grau (OLIVEIRA, p. 4).
Depois de expulsão dos jesuítas no período 1759 a 1772, havia muita
dificuldade de substituir os educadores religiosos por leigos. Devagar, o Estado
começa a estruturar e a assumir os encargos da educação. Muda a imagem do
professor que não é mais visto como alguém que exerce um apostolado,
sacerdócio, mas como humilde e obediente funcionário público, nem pobre
nem rico, nem bem formado, nem ignorante, nem pertencente à burguesia,
nem à pobreza, nem pleno funcionário público, nem profissional liberal, quer
dizer alguém do meio, mas sem uma colocação socialmente e
profissionalmente definida (Idem, p. 5).
No começo do século XIX, surge a classe média que procura a
educação como modo de acesso à classe alta. A fim de suprir essa demanda,
começam a surgir os cursos superiores no Brasil. Na segunda metade do
século XIX, acontece o grande crescimento de educação no país provocado
pelo Capitalismo Industrial que precisava mão de obra qualificada para
trabalhar, não só nas fábricas como também na camada da sociedade capaz
de consumir o produto industrializado garantindo, ao mesmo tempo,
sobrevivência do sistema de produção e desenvolvimento (Idem, p. 6).
A história de educação do Brasil mostra a dificuldade de
profissionalização do docente. Mudam os interesses aos quais ele presta
serviço, partindo das coisas espirituais no modelo educacional dos jesuítas
21
chegando à economia global regulada pelo mercado. Nos tempos de maior
expansão escolar, foram contratados muitos profissionais sem adequadas
habilitações acadêmicas e pedagógicas. Essa situação provocou diminuição de
status, de rendimentos, de prestígio e de autonomia da profissão docente. As
políticas públicas agravaram mais ainda essa posição. Nos últimos anos,
estamos vivendo a proletarização dos docentes divididos entre aqueles que
preparam e aqueles que executam os currículos e os programas educacionais.
A qualidade de trabalho docente muda-se em quantidade por causa da baixa
remuneração e do aumento de tarefas administrativas (idem, p. 6-7). O
professor torna-se um trabalhador assalariado que perde controle sobre seu
processo de trabalho, perde prestígio social e passa pelo processo de
desqualificação (FREITAS e OLIVEIRA, p. 4).
2.2 – Formação docente – caminho ao profissionalismo
No mundo em constante transformação, a formação de docente torna-
se um dos elementos de autoafirmação do educador, reconhecimento do seu
profissionalismo. Um dos elementos no caminho de profissionalização.
Uma das propostas de formação dos professores baseada nas
competências é apresentada por Perrenoud. Segundo ele, a competência é
capacidade de ação. Para ser competente, o profissional da educação, perante
uma situação complexa, deve saber: identificar as dificuldades, escolher a
melhor entre as diversas estratégias, planejar e coordenar a estratégia
adotada, reavaliar a situação e, se preciso, mudar a estratégia, colaborar com
outros profissionais, extrair ensinamentos, documentando todo o processo e as
decisões tomadas, e respeitando leis e princípios éticos. As competências
profissionais do docente devem manifestar-se diante das situações complexas.
Dentro da complexidade de situação, o professor mostra que não é repassador
do conteúdo, a atividade que poderia ser desenvolvida por qualquer pessoa ou
tecnologia, no entanto é um profissional indispensável. Ele, sendo mediador do
processo de aprendizagem, faz a diferença. A sociedade, vendo as suas
22
competências de maneira clara e explícita, conferi ao professor o maior grau de
profissionalização, do mesmo modo que outras categorias profissionais
(OLIVEIRA, p. 8. 11).
As competências podem ser aprendidas e desenvolvidas. Elas, junto
com os saberes e suas inter-relações, são parte central do processo de
profissionalização. A formação inicial não prepara os professores de hoje de
enfrentar o fracasso escolar, individualizar as estratégias, intervenções e
dinâmicas dentro de um processo particular de aprendizagem de cada
educando. A profissão de docente não tem uma elaboração substancial o que
os profissionais da educação sabem sobre saberes escolares, natureza de
seus alunos, o tratamento dado aos diferentes, o relacionamento intersubjetivo
na gestão de classe, o contrato e a negociação. Os saberes dos docentes são
pouco compartilhados e comparados com os outros, nem se faz sua
teorização. Diante desse quadro, Perrenoud propõe três grandes linhas de
formação dos professores:
A. Tematizar os saberes eruditos vendo seus limites e as
exigências trazidas pela prática docente;
B. Identificar as efetivas competências dos professores,
analisando o conjunto das características profissionais em todos
os componentes e comparando a profissão docente com outras
profissões humanistas;
C. Valorizar e teorizar os saberes adquiridos da experiência,
divulgando e comparando entre si e com os saberes eruditos
promovendo uma reflexão na ação (Idem, p. 8-9).
Perrenoud propõe renovação da formação inicial voltando-se para as
políticas educacionais a fim de que os professores iniciantes sejam atualizados
e avancem em relação aos seus colegas em serviço, quer dizer, não criar
novas, mas tornar possíveis, realizaveis as reformas mais ambiciosas dirigidas
ao corpo docente que há. A formação continuada deve seguir uma lógica de
competências profissionais e não mais conhecimentos descontextualizados,
quer dizer profissionalizando o docente e não somente tornando-o portador de
23
novos conhecimentos, métodos ou tecnologias. Para acabar com o fracasso
escolar o nível de formação do corpo docente deveria ser igual ao dos
engenheiros ou médicos, isto é não de teóricos ou de pesquisadores
fundamentais, mas de praticantes reflexivos. Sendo assim, os professores
poderiam basear suas ações e a análises delas numa cultura científica, nos
conhecimentos das pesquisas e nos saberes profissionais captados
coletivamente. Perrenoud reconhece que precisaria tempo para que tudo isso
possa ser realizado, porque, além de conteúdos e procedimentos de formação,
é preciso lidar com a cultura e com o funcionamento das instituições de
formação e estabelecimentos de ensino (PERRENOUD, 1999, p. 12. 16-18.
21).
Outra interessante proposta de formação dos professores no processo
de profissionalização apresenta Tardif. Segundo ele, vários saberes vindos de
diversas fontes, entre elas disciplinares, curriculares, profissionais,
experienciais, formam o saber docente. Tardif destaca os saberes experienciais
como fundamentais na prática e na competência profissional. Eles surgem da
prática de docência, são por ela validados, fazem parte da experiência pessoal
e coletiva como “habitus e habilidades, de saber-fazer e de saber-ser”. Os
professores, a partir de estes saberes, julgam sua formação inicial e continuada
criando modelos de excelência profissional. (OLIVEIRA, p. 9).
A prática pode ser vista como processo de aprendizagem durante a qual
os professores criticamente avaliam, retraduzem e adaptam sua formação à
profissão, eliminando o que não tem relação com a realidade vivida e
preservando o que pode servir-lhes. Por isso, Tardif acha que os saberes
experienciais que nasceram na prática cotidiana dos professores confrontados
com várias interações, normas e obrigações, a instituição, contexto
sociocultural são saberes melhores porque, formados por todos os outros
saberes, porém relidos, afinados e confirmados na prática e na experiência.
Eles podem ser objetivados através de um processo de sistematização das
certezas subjetivas dos saberes produzidos pela experiência coletiva dos
professores. Em seguida, eles podem ser reconhecidos por outros produtores
24
de saberes e conseguir um legítimo controle social sobre os mesmos. Segundo
Tardif, as reuniões pedagógicas e os congressos seriam espaços de
excelência para este processo criando uma nova profissionalidade entre os
professores. Para realizar essa estratégia de profissionalização do corpo
docente, seria necessário estreita colaboração entre os professores, os
estabelecimentos de ensino, as universidades, os centros de formação dos
professores e os responsáveis pelo sistema educacional (Idem, p. 9-10).
Tardif indica oito passos que o processo de profissionalização quer
implantar na formação dos professores e no ensino:
A. Apoiar os conhecimentos científicos;
B. Adquirir os saberes por meio de uma formação universitária
certificada por um diploma;
C. Deter os conhecimentos profissionais práticos;
D. Adquirir os conhecimentos, que proporcionem somente aos
profissionais de educação o direito e a competência de os
usarem;
E. Adquirir a capacidade de avaliar o trabalho de seus colegas;
F. Ter autonomia no trabalho, na organização e no esclarecimento
dos objetivos desejados e nos meios a serem usados a fim de
atingi-los porque, além dos saberes científicos, na prática
docente, há um pouco de improvisação e quem tem o melhor
discernimento são aqueles que se encontram na linha de frente;
G. Dar continuidade à formação inicial através da formação
continuada;
H. Conscientizar os docentes que, sendo profissionais, são
responsabilizados por seus erros (FREITAS e OLIVEIRA, p. 5).
As duas propostas mostram-nos que precisa ser revista a formação
inicial porque, a partir dela, começa o processo de profissionalização dos
docentes. Adquirir as competências profissionais sugeridas por Perrenoud deve
ser prioridade nos programas de formação dos professores. A comunidade
acadêmica precisaria também elaborar o procedimento de troca e teorização
25
dos saberes experienciais, a fim de partilhá-los com aqueles que estão na
formação inicial. Tudo isso não é possível sem que haja maior ajuda,
organização e presença do Estado.
Debates sobre a formação dos professores, no Brasil, de um lado,
mostram que a profissão tem as marcas próprias da sociedade do seu tempo
na qual se desenvolve o processo de definição, organização de uma atividade,
esfera de trabalho em profissão. Do outro lado, estas linhas gerais de disputa
indicam o lugar central que tem a formação no enquadramento da profissão,
sendo base de uma visão crítica de experiência do mundo de trabalho, e ao
mesmo tempo, força que ajuda a definir pistas para o futuro. O ambiente de
atuação da profissão docente não é somente luta pelo profissionalismo, mas
também ou principalmente relação com a sociedade civil e política em que os
profissionais de educação estão inseridos e onde o papel de mediar e atender
às necessidades sociais, entre elas a educação escolar, pertence ao Estado.
Torna-se importante analisar com maior profundidade a dimensão política do
processo de profissionalização docente porque ele ultrapassa o debate sobre a
educação tendo em vista a construção da democracia (WEBER, 2003, p. 1145-
1147).
O Estado democrático de direito no qual vivemos baseia-se numa
ideologia neoliberal globalizante. Podemos dizer que ela domina também boa
parte das nações do mundo e influencia a formação inicial e continuada, vendo
o professor como expert, técnico meramente instrumental e não como o
educador sócio-histórico.
Em vista de profissionalização e de uma educação que corresponderia
ao momento presente, necessitar-se-ia criar uma política de formação dos
profissionais da educação de caráter sócio-histórico que englobaria:
A. uma ação de rever a formação básica, e formação continuada, da
qual, participariam universidades, instâncias formadoras e os
sistemas de ensino, assegurar condições dignas e cada vez
melhores de trabalho docente;
26
B. a revisão das formas de organização e das estruturas das
instituições formadoras do profissional da educação, de todos os
níveis de ensino, da formação inicial a continuada;
C. uma integração permanente entre vários organismos que atuam
na educação: instituições de formação dos profissionais da
educação, entidades organizadas dos trabalhadores da
educação, como também outras entidades da educação, fóruns
coletivos de debate sobre políticas de formação docente e sua
valorização profissional (FREITAS, 2007, p. 1220-1221).
No processo de profissionalização da docência, torna-se indispensável
de que os próprios docentes busquem e criem uma nova docência como
atividade profissional. Que a profissionalização seja elemento importante dos
seus projetos pessoais, coletivos e de desenvolvimento profissional da classe
(NÚÑEZ e RAMALHO, 2008, p. 1).
Segundo uma pesquisa realizada no Brasil, para os professores
participantes dela, a profissionalização é um processo de capacitação,
qualificação e crescimento profissional. Deste modo, elas seguem os discursos
das reformas, baseadas na formação docente. Este pensamento pode
transformar-se num elemento desprofissionalizante quando se descobre que o
aumento de saberes, novas competências e novas funções docentes não é
acompanhado pelos melhores condições de trabalho e crescimento de seu
status social e profissional (Idem, p. 12).
As exigências de formação diferentes quanto à duração e ao nível das
instituições formadoras provocam diferenças e hierarquias entre docentes que
não formam um grupo coeso, unido como é o caso dos médicos, engenheiros
ou advogados (LÜDKE e BOING, 2004, p.1165). A formação que é uma força
no caminhão de profissionalização dos professores neste exato sentido dificulta
a um dos elementos da mesma que é unidade do grupo profissional, dos
educadores.
Chegar ao profissionalismo, visto como complexa variedade de
atividades e capacidades que precisa apresentar, neste caso, docente no
27
desempenho da sua profissão, não é algo fácil para este grupo profissional.
Podemos dizer que a categoria está ciente das necessidades de formação,
está procurando capacitar-se cada vez mais, há as teorias de sustentação de
um processo de formação inicial e continuada, o que falta seriam as boas
políticas públicas não de curtíssimo prazo, mas de longo prazo, porque, pela
especificidade da educação, poucas coisas podem resolver-se a curto prazo,
“mas quem se preocupa com longo prazo nas democracias?” (PERRENOUD,
1999, p. 23).
2.3 – Em direção à profissionalização
Formação docente é mais importante, mas não é único elemento no
caminho de profissionalização. É fundamental considerar também, pelo menos,
a necessidade de reconhecimento social (status social), as condições de
trabalho e remuneração, a ética e as associações de classe.
O reconhecimento social é fruto de formalização da atividade, percebida
como valioso serviço prestado. Os docentes sentem a necessidade de
reconhecimento social dos seus saberes, do seu trabalho tanto pela direção da
escola como pelos órgãos governamentais. Infelizmente, as políticas
educacionais e administrativas mais negam do que valorizam as práticas
profissionais do docente. (FREITAS e OLIVEIRA, p. 6-7).
A infraestrutura das escolas, disponibilidade dos materiais didáticos,
serviço de apoio à escola e aos educadores, possibilitam um trabalho educativo
melhor. Em muitas escolas, esses recursos não são adequados. Apesar das
resistências, os professores reconhecem a importância das novas tecnologias
e tentam adequar-se, mas muitos reconhecem estar despreparados para
trabalhar com tecnologia de informação. Se, em outras profissões, aconteceu
aprendizagem de informática por todos os funcionários, nas escolas, criaram-
se os departamentos separados que cuidam desse assunto, tornando-se
auxílio ao docente. As más condições de trabalho mostram falta de um projeto
institucional. A sobrecarga de trabalho semanal e a grande número de alunos
28
por sala de aula provocam cansaço e desestimulam os profissionais a
participarem de cursos de formação continuada e de obterem trabalho de
qualidade (Idem, p. 7-10).
Os baixos salários interferem na qualidade de trabalho por causa de
acúmulo de locais e jornadas de emprego, a fim de garantir melhores
condições de vida do docente e da sua família. Geram também nos
profissionais de educação, a percepção de incompatibilidade entre o trabalho
realizado e o salário recebido (Idem, p. 10-11).
Ética docente envolve as seguintes dimensões:
A. Interativa – professores, pais e alunos;
B. Socioinstitucional – relação com as instituições escolares e a
sociedade;
C. Ética do trabalho docente.
A ausência de um Código de Ética voltado especificamente para a
docência e de uma entidade profissional independente que seria a guardiã,
interpretadora do mesmo (como CREA para os engenheiros, OAB para os
advogados e Conselho de Medicina para os médicos) são os outros dois
desafios que precisam ser cumpridos no processo de profissionalização de
docente.
A escola confessional católica a nosso ver pode ajudar nesse processo
de profissionalização do docente. Perrenoud e Tardif colocam que um dos
fatores de qual depende a formação dos educadores é a cultura dos
estabelecimentos de ensino. As escolas católicas têm esta cultura de promover
os encontros dos educadores a fim de compartilharem coletivamente os
saberes profissionais, também aqueles que vêm de experiências (Tardif),
precisariam somente dar um apoio suficiente para que, em seguida, eles sejam
reconhecidos por outros produtores de saberes através de um artigo ou de
trabalho elaborado como finalização de um curso de mestrado. As reuniões de
professores podem tornar-se cada vez mais geradoras de competências
profissionais (Perrenoud) em vez de atualizações de novos conteúdos.
Incentivar os professores que eles mesmos procurem nova docência como
29
atividade profissional, incluam profissionalização como seu projeto de vida é
também algo realizável dentro dos estabelecimentos de ensino confessionais.
As condições de trabalho, com exceção de estabilidade, e a remuneração do
docente são geralmente melhores na rede de escolas católicas do que nas
estaduais ou municipais. Pode-se considerar também que os estabelecimentos
de ensino confessional formam um lugar de busca de um novo paradigma de
referência da Ética Profissional Docente. O processo de profissionalização dos
docentes é complexo, os professores e os estabelecimentos de ensino têm que
fazer as partes que lhes cabem para poder reivindicar a parte que cabe ao
Estado. A profissionalização dos docentes torna-se essencial já que a
profissionalização do colégio na sua totalidade depende da profissionalização
dos seus principais agentes de atuação, que eles sintam-se realizados e
envolvam-se plenamente na educação de novas gerações que criarão uma
sociedade do futuro.
CAPÍTULO III
ESCOLA CATÓLICA E NECESSIDADE DE
PROFISSIONALIZAÇÃO
Dentro de um mercado educacional cada vez mais competitivo e regido
pelas regras de Mercado, a escola confessional católica é colocada diante de
duas situações. Vista como empresa, precisa profissionalizar-se, no sentido do
termo entendido pela administração moderna e não pela sociologia das
profissões. Caso não aja dessa maneira, diminuirá cada vez mais a sua
30
presença no mercado educacional privado brasileiro chegando até a
desaparecer. Podemos então ver que a necessidade de profissionalização da
escola católica, quer dizer, a aplicação de novas formas de sua organização e
um novo modelo de sua gestão são as condições para a sua sobrevivência.
3.1 – Bases históricas da escola confessional católica no Brasil
A história de atuação da Escola Católica no Brasil, nas suas relações
com o Estado e vários segmentos de sociedade organizada, é complexa e
cheia de tensões de diversas origens. Não faltaram também as contradições
internas. A Escola Católica ajudou as elites a manter a ordem estabelecida,
resistiu às classes hegemônicas, educou uma parcela das camadas populares,
contribuiu na formação da nação brasileira (ALVES, 2005, p. 2010).
A expansão das escolas católicas começou a partir de 1854 com a
aprovação da Lei de Liberdade de Ensino. Cresceram, principalmente, as
escolas secundárias respondendo às limitações do poder público. O aumento
extraordinário aconteceu no final do século XIX e começo do século XX, com a
vinda e a instalação de várias congregações religiosas, masculinas e
femininas, que se dedicaram à educação escolar. Os anos 1945 a 1962 foram
o tempo de polêmica entre os católicos e liberais, escola pública contra escola
privada. A Igreja Católica defendia que a família tinha direito de optar pela
forma de educação dos seus filhos, propondo uma escola no modelo
tradicional, academicista e de matriz humanista, preparada para formar elites
cristãs com capacidades de exercer a influência na sociedade. De 1962 a
1979, tendo como o pano de fundo a dinâmica do Concilio Vaticano II, a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil iniciou seu Plano de Emergência.
Um dos assuntos deste plano, em vista do grande crescimento da escola
privada no Brasil, era a renovação das escolas católicas no país, através da
formação de educadores leigos e religiosos, por meio de cursos e congressos,
a criação e o fortalecimento das associações de pais e o apoio ao movimento
estudantil. A escola católica no continente começa a reorganizar-se
31
questionada pela Conferência do Episcopado latino-americano em Medellín.
Foi apresentado o modelo da educação libertadora como alternativa ao
tradicional e técnico-desenvolvimentista. Por motivos de ditadura militar, esse
modelo não podia ser desenvolvido e, a partir da década de 60 e mais
aceleradamente, a Igreja Católica retira-se do campo de educação. Esse vazio
deixado pela Igreja Católica foi preenchido rapidamente pela iniciativa privada.
A partir de 1979, após a Conferência do Episcopado latino-americano em
Puebla, aprofundaram-se as discussões e as divisões dentro das
Congregações Religiosas e outros grupos da Igreja Católica sobre a Escola
Católica particular acessível às classes mais ricas que têm as condições de
pagar pelo serviço educacional e uma Igreja que fez opção preferencial pelos
pobres. Essas divisões provocaram saída ainda maior dos religiosos do campo
de educação e o fechamento de vários estabelecimentos de ensino. O foco de
pensamento nos setores da Igreja Católica muda a partir de 1988 até os
nossos dias. Não se abandonam mais as escolas por motivos de opções de
missão religiosa, mas por falta de recursos financeiros e pessoais (educadores
religiosos), erros de gestão e falta de equilíbrio no mercado educacional. Os
religiosos começam a partilhar a responsabilidade com os leigos. Os dirigentes
das escolas católicas vivem perplexos com a agressividade da lógica do
mercado educacional, a política das mensalidades escolares, a diminuição e
envelhecimento dos educadores religiosos, a diminuição do número de alunos,
a relação entre a educação e assistência social, as isenções provenientes da
“filantropia”, o modelo de educação baseado no baixo custo e não na qualidade
de ensino, a falta ou insuficiência de posicionamento dos bispos e superiores
religiosos. Tudo isso são os desafios que enfrenta a Escola Católica no
momento presente e no seu caminho ao futuro (Idem, p. 210-214).
3.2 – A necessidade de criação da rede das escolas católicas
no Brasil
32
A mundialização, entendida como processo de aproximação dos homens
que vivem nos espaços geograficamente diferentes, está crescendo cada vez
mais graças às viagens turísticas e de negócios, à comunicação escrita, à troca
de mercadorias, à transferência de informações etc. Ela começou com o início
da humanidade e está em processo de contínuo crescimento, com suas altas e
baixas e de forma desigual dependente da região do mundo. A globalização
seria uma fase de mundialização caracterizada pelo reforço da ideologia
neoliberal, pelo aumento de capital virtual (fictício), mundialização dos
mercados financeiros, adoção das políticas econômicas que favorecem as
empresas multinacionais, empresariando a economia mundial e dificultando a
resistência dos povos (COSTA, p. 1).
Essa mundialização expressa-se de várias formas, atingindo diferentes
espaços de vida da humanidade: ciência, meios de comunicação social,
tecnologia, tecnologia de informação etc., com um grande destaque para a
economia e a cultura. O que mais de perto toca os educadores seria a
generalização da cultura ocidental com forte marca norte-americana. Com a
dimensão econômica e cultural, interage o terceiro elemento que são as redes
planetárias, que deixam para trás o papel do Estado Soberano. As redes
planetárias são praticamente de todos os tipos, começando pelos de defesa
dos direitos humanos e defesa de ecologia, passando pelas religiosas,
comerciais, comunicação global, terminando nas de crime organizado, tráfico
de drogas, tráfico de seres humanos, máfia (ALVES, 2005, p. 213-214). As
mais poderosas e numerosas redes de relacionamento Facebook e Twitter
mostraram sua força e seu poder na recente ”primavera árabe”.
Atuação das redes questiona a Igreja Católica e as Congregações
Religiosas que fazem parte dela, que apesar de trabalharem já há muito tempo
em redes das igrejas, das paróquias, das dioceses mostram-se rígidas na sua
estrutura, cristalizadas pelo tempo, inadequadas à realidade global. A
mundialização influi também fortemente na realidade presente e futura da
escola católica. Cultura globalizante, perda das referências éticas e surgimento
dos novos valores, competitividade dos mercados, desigualdade de
33
investimentos na pesquisa da ciência e tecnologia, aumento de desemprego
colocam perante a escola a necessidade de formação de novo tipo de aluno
que tenha uma educação para fins econômicos, seja preparado de estar em
formação permanente, utilizar as novas tecnologias, saber diminuir as
desproporções entre a extrema riqueza e pobreza, no ambiente micro (país,
região) e macro (mundo globalizado) (Idem, p. 217-219).
Esse egresso da escola católica para sobreviver como profissional,
segundo American Association of School Administrators, precisa ter:
“capacidade de comunicação; capacidade de articulação
e contextualização de informações; habilidade para
compreender questões lógicas; habilidade para pensar e
solucionar conflitos; familiaridade com informática e novas
tecnologias; gosto pela pesquisa; responsabilidade; ética
e integridade; flexibilidade e adaptabilidade; disciplina; e,
finalmente, capacidade de negociação” (Idem, p. 220).
Diante dessa complexidade da realidade, a escola católica deve ser
provocada para buscar os novos métodos, procedimentos e modos de atuação,
para enfrentar mais este desafio. No seu modelo organizacional, deve ter mais
competência e habilidade, adaptabilidade, acesso rápido à informação,
capacidade de tomar decisões rápidas, flexibilidade, agilidade, qualidade total
na automação e gerenciamento dos processos de gestão e de controle. Ele
deve operar em rede e adaptar-se rapidamente aos novos desafios que vão vir
de dentro e de fora da instituição do ensino, não se esquecendo da qualidade
de ensino, rentabilidade e resultado operacional (Idem, p. 219. 221).
A formação de redes das escolas católicas deve gerar diminuição dos
custos operacionais dos estabelecimentos de ensino participantes, maior
agilidade no acesso à informação, possibilidade de fazer mais fácil e com
menor custo a formação continuada dos professores e auxiliares de educação,
compartilhar as melhores praticas educacionais, melhorar qualidade de ensino,
padronizar processos administrativos etc. Há muita troca de experiências,
34
novas ideias, novos desafios, uma energia que se cria e tira os educadores e
auxiliares de educação da zona de conforto e da rotina.
Uma das opções de rede seria aquela que une todos os
estabelecimentos de ensino da mesma mantenedora. Esse modelo de gestão
centralizada favorece centralização e administração única dos recursos.
Centralizam-se e unificam-se as receitas, o controle patrimonial, a
contabilidade, a folha de pagamentos, maior parte das despesas, plano de
reformas e construções, análise de resultados, planos orçamentários, controle
de fluxo de caixa, políticas de investimentos. Resultados melhores deste
processo são racionalização dos recursos pessoais, materiais e financeiros,
qualificação e formação continuada dos educadores e funcionários,
recrutamento e seleção das pessoas, suporte na área de TI, consolidação de
relatórios, intercomunicação (intranet)(Idem, p. 223-224). Na parte pedagógica,
muitas vezes adota-se o mesmo material (apostilas e livros), mesmas provas,
mesmos testes e pesquisas de aprendizagem, qualidade, funcionários e
institucional. O desafio que se enfrenta é a preservação da identidade própria
de cada instituição de ensino.
Outra opção de rede seria aquela que uniria as mantenedoras. Esse
processo de formação da rede parece mais difícil o que não significa que seria
impossível. A fim de que ele aconteça, precisaria ser dada maior autonomia
entre as instituições de ensino e suas respectivas mantenedoras. O processo
poderia começar pelas pequenas iniciativas e projetos locais ou regionais,
contando com afinidades entre os dirigentes e educadores locais. Também
nesse modelo de trabalho em rede maioria dos processos de gestão
centralizada, mencionadas no modelo de rede da mesma mantenedora
poderiam ser assumidas em conjunto por várias mantenedoras distintas.
Podemos dizer que esse processo de formação de rede tanto no nível de
mantenedora como entre as mantenedoras começa a acontecer no Brasil,
precisa-se somente intensificá-lo através de encontros e intercâmbios para a
sobrevivência e a eficácia da escola católica neste país (Idem, p. 225-226).
35
3.3 – Profissionalização como ferramenta de gestão estratégica
A maioria das escolas católicas reflete muito sobre a sua missão, o
projeto pedagógico, a qualidade de ensino, a pastoral, a ampliação e a
modernização da estrutura física, a reciclagem de professores e funcionários
etc. Outros temas não menos importantes são a inadimplência e a diminuição
dos alunos, a diminuição de renda, as dificuldades de pagamentos de contas.
Parece que trabalhamos bem e muito, mas os resultados são poucos ou nem
os temos, sempre fizemos isso assim e dava certo, porque hoje não está
dando, o mundo de hoje está complicado etc.
A questão que deveria ser colocada não é porque o mundo está
complicado, porém onde nós estamos errando na nossa gestão, por que não
mudamos no tempo adequado, como devemos adaptar-nos melhor à realidade
porque ela, com certeza, não se adaptará aos nossos pensamentos e aos
nossos procedimentos empresariais. Esta situação não atinge somente as
escolas católicas, faz parte da vida de cada empresa.
A escola católica é uma delas, que, chegando ao certo nível de
produtividade, qualidade e lucratividade, tem dificuldade de observar novas
tendências, fazer um planejamento estratégico a fim de beneficiar-se do novo
que está aparecendo e crescer ainda mais. É muito cômodo ficar na zona de
conforto desfrutando o sucesso. As consequências são a diminuição de lucros
e de resultados ou, em outras palavras, a diminuição de alunos matriculados e
as dificuldades no pagamento das contas. A resposta à necessidade de
mudanças acontece tarde demais (OLIVIERI, p.1).
A escola católica é uma empresa de prestação de serviço educacional. A
fim de ser competitiva e não desaparecer no mercado educacional, ela
necessita profissionalizar-se ou, como diz Olivieri, entrar num
“processo pelo qual as organizações, as familiares em
grande parte dos casos, assumem práticas
administrativas mais adequadas e modernas,
personalizadas à sua cultura e estrutura” (p. 2).
36
Em outras palavras, podemos dizer que é uma mudança de modo de
gerenciamento informal em um modo baseado no planejamento estruturado e
coerente. Sair de respostas diárias e urgentes voltadas ao presente a fim de se
voltar através das técnicas estratégicas de administração e liderança para o
crescimento e a perpetuidade dos negócios. O processo precisa envolver e ser
aceito pela alta gestão, direção e coordenação no caso específico do
estabelecimento de ensino. Eles têm que desenvolver e adquirir novas
competências comportamentais e de liderança a fim de conduzir todo o período
de transição com suavidade, e ao mesmo tempo, com segurança, porque os
processos de gerenciamento serão profundamente alterados. Profissionalizar a
escola católica significa também definir e implantar os processos para eliminar
tarefas improdutivas, criar e fazer realizar organograma e fluxograma,
conscientizar sobre a importância da qualidade e dos processos, capacitar
equipes para que elas possam responder às demandas e às adversidades de
modo rápido e eficaz (Idem, p. 2).
As dificuldades que se enfrentam no processo de profissionalização:
medo de democratização das informações, de perder o controle da situação e
de descentralizar o poder; despreparo dos colaboradores para assumir futuras
funções; demissão de colaboradores não qualificados ligados à alta gerência,
ou dono de empresa, muitas vezes familiares; incompatibilidade dos dirigentes
com novos funcionários contratados para que a profissionalização da empresa
aconteça. A profissionalização possibilitaria vários benefícios: o controle e a
uniformização dos processos, a produtividade, a rastreabilidade, a organização
e a definição do ambiente do trabalho, a cooperação, o foco no cliente, a
melhoria da competividade, a tomada de decisões estratégicas efetivas, o
saber lidar com o estresse de maneira produtiva, a administração das
mudanças e a resolução dos conflitos, a liderança efetiva e o alto desempenho
das equipes (Idem, p. 2).
O processo de profissionalização do estabelecimento educacional
confessional, católico não acontece facilmente. Surgem fortes questionamentos
se, por acaso, não perdemos a nossa identidade, nosso diferencial católico,
37
saímos da nossa missão, do nosso carisma fundacional e nos submetemo-nos
ao mercado.
Como exemplo disso, cita-se o processo de reconfiguração
organizacional da universidade Unisinos na adoção do modelo estratégico de
gestão. Não porque é algo único ou especifico, mas pelo grande serviço que
esta ordem religiosa prestou à educação no Brasil e no mundo. Nas outras
ordens religiosas, acontece algo semelhante. Almiro Petry mostra os desvios
do modelo jesuíta de universidade e a aproximação de Unisinos do modelo de
universidade orientada pelo mercado com todas as suas consequências
(PETRY, 2004, p. 258-265).
É bom que haja questionamentos e reflexões, mas não se pode deixar
de profissionalizar as escolas católicas. Precisamos guardar o que é essencial
na educação católica, no entanto os modelos específicos de ordens religiosas
diferentes podem ser modificados, rescritos dentro do contexto histórico em
que estamos vivendo. Precisamos lembrar que os carismas fundacionais,
modos de atuação eram revolucionários nos tempos que foram criados, por
isso conseguiram a adesão e o seguimento de muitos até hoje. Nós não
podemos de nos fechar a letra deles, mas seguindo o espirito deles fazer nosso
avanço ao futuro.
Compartilhamos o pensamento do André Fossion, o que é essencial nos
estabelecimentos católicos de ensino, quais são os quatro campos de
responsabilidade da escola católica para que ela cumpra bem sua missão
dentro da Igreja Católica e no meio da sociedade. A escola católica deve
assumir:
A. Ensino das diversas disciplinas acadêmicas.
A escola católica deve ser antes de tudo um bom estabelecimento de
ensino onde os alunos são incentivados a chegar à excelência. Estudando
matérias diversas chegam a uma reflexão crítica sobre o caminho da sociedade
e os desafios do mundo moderno, lutam pela paz e pela justiça, pelo trabalho e
pela distribuição da renda, pela qualidade de vida e pelo respeito aos direitos
38
humanos, e contra fome etc. Com a ajuda da ciência e da tecnologia, devem
chegar à construção de um mundo mais justo e fraterno.
B. O clima relacional da escola.
O testemunho da escola católica deve ser de poder estabelecer as
regras de funcionamento e os modos de relacionamento que promovem o bem
comum sem nunca descartar as pessoas através das ordens organizacionais,
favorecendo reconhecimento mútuo que encoraje os talentos de cada um,
permitindo um trabalho mais eficaz de todos.
C. O ensino religioso.
O ensino religioso deve ser um trabalho de apresentações religiosas,
confrontadas rigorosamente com documentos da fé, com a história do
cristianismo, com o testemunho atual das comunidades cristãs. Para uns, isso
pode ser visto como uma catequese, para os outros, um despertar da fé cristã,
para todos, uma informação, uma comunicação humana e um enriquecimento
cultural.
D. Animação pastoral.
O objetivo de animação pastoral é fornecer, dentro do ambiente escolar, uma
possibilidade de participar livremente das práticas de fé e permitir vivê-la e
aprofundá-la (FOSSION, 1987, p. 287-399).
A última ferramenta sugerida no processo de profissionalização da
escola católica é Conselho de Administração, principalmente quando se fala de
formação de redes. Ele poderia sanar as divergências entre as mantedoras ou
dentro de uma mantenedora. Nele, participariam não somente as pessoas de
dentro das instituições, mas também as pessoas da sociedade. A função dele
não seria operacional, contudo deveria focar-se em questões de caráter
estratégico e as suas decisões seriam implantadas pela equipe executiva. Os
membros do mesmo deveriam ser remunerados.
39
CONCLUSÃO
A revolução industrial trouxe um desenvolvimento em todas as
instituições. Na década de 60 houve uma expansão do mercado educacional
privado para atender a demanda da insuficiência da educação pública e da
lacuna deixada pela escola católica que por motivos ideológicos afastou se
deste campo de atuação. A sociedade brasileira precisava as pessoas
preparadas para trabalhar na indústria em ascensão e consumir o produto
industrializado garantindo ao mesmo tempo o crescimento das fábricas e dos
negócios. As escolas começaram a ser vistas como empresas, unidades de
negócios com gestão empresarial trazida do mundo da indústria. O crescimento
deste setor continua até hoje. A escola católica não consegue acompanhar o
ritmo do mercado. Isso indicaria que ela também precisa profissionalizar-se.
Pesquisando a bibliografia pode se afirmar que a profissionalização
vista somente pela administração empresarial como gestão profissional pode
ser solução para sobrevivência dos estabelecimentos de ensino, no meio de
concorrência do mercado, mas não garante a educação de qualidade.
Profissionalização vista pela sociologia das profissões mostra que o caminho
de atividade docente se tornar profissão é ainda a percorrer.
Transformar uma empresa é um desafio muito grande, mais ainda se
ela tem história de alguns séculos como a escola católica, e a sua
mantenedora é uma instituição por natureza tradicional. A história mostra que a
mudança só se torna possível se a situação não é mais aceitável. A perda de
alunos e estabelecimentos de ensino coloca perante a escola católica a
necessidade de profissionalização da sua gestão. Alguns passos já foram
dados por algumas ordens religiosas, mas eles parecem bastante tímidos e
lentos operacionalmente em comparação com o mercado.
Pode se dizer que neste cenário histórico em que vivemos a escola
católica tem o seu papel como uma das opções no meio das outras. Visando a
profissionalização podemos dizer que os educandários católicos podem ser
lugares de valorização da atividade do educador a fim de que ela seja
40
reconhecida com profissão com todo o seu merecido status. Nesses colégios,
onde a lucratividade não é o valor máximo, pode se levar adiante a luta de
educadores por seu reconhecimento profissional, pela educação de qualidade
e formação integral dos educandos. Somente a profissionalização dos
professores e aplicação dos métodos de gestão empresarial na parte de
administração escolar garante profissionalização de uma escola, seja ela
católica ou de outra proposta educacional.
A profissionalização da educação gerenciada pelo estado através das
últimas reformas, feitas nos moldes de administração empresarial, com grande
influência das instituições internacionais gera grande descontentamento do
setor. Os educadores são cada vez mais proletarizados. Educação ficou mais
barata, mas sem qualidade. O nível de qualidade da formação inicial e
continuada caiu. Essa situação gera tristeza e preocupação sobre o futuro de
uma grande nação em desenvolvimento. Exemplos dos outros países mostram
claramente que não existe progresso sem crescimento educacional da
população?
A meu ver, o maior desafio que se coloca perante a escola católica é
encontrar o ponto de equilíbrio entre a gestão de resultados (administração
empresarial), que sugere diminuição de custos e profissionalização dos
educadores, que exige recursos. Como que não existe verdadeira
profissionalização sem aplicação esses dois processos, a prática teria que
mostrar o caminho.
Parece curioso, mas profissionalização das escolas através da
aplicação na educação somente métodos de gestão empresarial não realizou o
que o empresariado esperava quando começou abrir as escolas na década de
60, tiver mão de obra qualificada.
Neste trabalho pesquisei um pouco sobre aspecto sociológico e
administrativo da profissionalização, acharia interessante analisar o lado
psicológico do educador no processo de profissionalização. Qual é a influência
da comunicação não verbal no fracasso escolar.
41
BIBLIOGRAFIA
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dos processos da profissionalização. In: Medi@ções. Revista OnLine.
Setúbal, Vol. 1, nº 2. 2010. http://mediacoes.ese.ips.pt.
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12 – OLIVIERI, Veruska. Profissionalização – Uma ferramenta estratégica.
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43
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
DA PROFISSIONALIZAÇÃO 10
1.1 – Histórico da Profissionalização 10
1.2 – O conceito da Profissionalização 13
CAPÍTULO II
IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE 19
2.1 – Bases históricas da profissão docente 20
2.2 – Formação docente – Caminho ao profissionalismo 21
2.3 – No caminho à profissionalização 27
CAPÍTULO III
ESCOLA CATÓLICA E NECESSIDADE DE
PROFISSIONALIZAÇÃO 29
3.1 – Bases históricas da escola profissional católica no
Brasil 30
3.2 – A necessidade de criação da rede das escolas
católicas no Brasil 31
3.3 – Profissionalização como ferramenta de gestão
estratégica 35
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA 41
ÍNDICE 43