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Uma Breve Narrati va Sobre Como o Brasil Enfrentou as Turbulências
Causadas pela Crise de Des abastecimento de Terras raras : Articulações
e Ações Realizadas no Âmbito Governamental
Ronaldo Luiz C. dos Santos Francisco Lapido Loureiro
(in memorian)
INTRODUÇÃO
A China após vários anos de fornecimento estável de uma variedade de commodities de terras
raras adotou, no primeiro decênio do século, medidas de restrição de fornecimento, as quais
repercutiram pesadamente sobre os países e empresas importadoras desses produtos.
É bem conhecido que a China, ao reduzir as exportações de terras raras e incitando as suas
duas maiores companhias de mineração, a Baotou Steel Rare Earth High-Tech Co. e Jiangxi
Copper Corp., a aumentar o preço dos minérios, alarmouo grupo dos principais países
consumidores de seus produtos, a saber: EUA, UE e Japão (YACINE, J.P., 2010).
Esse impacto foi realmente significativo, em razão da posição hegemônica da China na
explotação desses bens minerais. Mas essa situação nem sempre foi assim.
O Brasil chegou a ser um dos líderes mundiais na produção de commodities de terras raras até
a década de 1950. Nos anos 1980 produzia compostos de terras raras, para atender à
praticamente toda sua demanda interna. A partir de 1990, entretanto, tinha a sua produção
quase que totalmente paralisada, tal como acontecia em vários outros países produtores.
A primeira aplicação das terras raras surgiu em 1883, com o desenvolvimento da iluminação a
gás. Os seus óxidos associados ao de zircônio e tório eram utilizados nas camisas dos
lampiões.Durante muitos anos o único mineral de minério de terras raras utilizado,
industrialmente, foi a monazita (Ce,La,Nd,Th)PO4. A bastnaesita (Ce,La)(CO3)F é o principal
mineral de terras raras leves (ETRL), enquanto o xenotímio (YPO4), é o das terras raras
pesadas (ETRP).
Segundo Lapido-Loureiro (2012), seis períodos podem caracterizar a indústria extrativa
mundial de terras raras, conforme transcrito a seguir.
• 1885 – Início da produção em larga escala, tendo como matéria-prima as areias
monazíticas do litoral brasileiro. Em 1887, a monazita também começou a ser extraída de
placers fluviais, na Carolina do Norte, EUA. O Brasil figurou como o maior produtor mundial
até 1915, quando passou a alternar essa posição com a Índia, durante 37 anos.
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• 1950 – Década em que a China iniciou a sua produção de terras raras.
• 1952 – A África do Sul torna-se o maior produtor mundial de terras raras, que também são
produzidas pelo Brasil e Índia.
• 1960 – Os EUA assumem a liderança da produção mundial, com a explotação de um outro
mineral: a bastnaesita proveniente de Mountain Pass – Califórnia.
• 1970 – Nesta década a Austrália passa a produzir mais de 50% do total mundial
(excluindo a China), a partir da monazita.
• 1980 – Nos anos 80, a China surge como um gigante, em razão das reservas,até então,
conhecidas e, pela produção a partir da jazida de Bayan Obo, ampliando, significativamente,
a sua participação no mercado mundial a partir de 1990.
• 2000 – No início do século XXI, a China atinge 97% do comércio mundial de terras raras,
antes do final da década 2000-2010. Nessa mesma década, começa a restringir fortemente
as suas exportações, fazendo com que a demanda mundial de 134.000 toneladas
ultrapassasse a oferta de 124.000 toneladas.
Como consequência houve uma verdadeira corrida para a retomada e entrada em produção
de jazidas e depósitos conhecidos em vários países, de tal forma que:
Exploration efforts to develop rare earths projects surged in 2010, and investment and interest increased dramatically. Economic assessments continued in North America at Bear Lodge in Wyoming; Diamond Creek in Idaho; Elk Creek in Nebraska; Hoidas Lake in Saskatchewan, Canada; Lemhi Pass in Idaho-Montana; and Nechalacho (Thor Lake) in Northwest Territories, Canada. Other economic assessments took place in other locations around the world, including Dubbo Zirconia in New South Wales, Australia; Kangankunde in Malawi; Mount Weld in Western Australia, Australia; and Nolans Project in Northern Territory, Australia (U.S. Department of the Interior, Rare Earths Statistics and Information, USGS, 2010).
Na conferência realizada em Hong Kong, em novembro de 2009 (“Experts Gather in Hong
Kong”) foi destacado que:
- a comercialização das terras raras, em escala mundial, parece ser algo insignificante,
representando cerca de dois bilhões de dólares (embora hoje já se cite que pode atingir 6 a 8
bilhões), entretanto, sem elas as indústrias de alta tecnologia perderiam trilhões em
decorrência da agregação de valores de suas aplicações;
- a produção de terras raras foi, em 2008, de 124 mil toneladas, sendo a China responsável por
mais de 95% dessa produção, havendo uma previsão de déficit de 44.000 toneladas, na
demanda mundial projetada para 2015.
Durante a mesma conferência citada acima, Nicholas Curtis, Executive Chairman da Lynas
Corporation (Austrália) chamou a atenção para o seguinte fato: governments have now taken a
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very strong policy positions on industries they want to stimulate and many of those industries
are Green Industries. And those green industries require rare earths.
Ainda nessa conferência de Hong Kong ficou evidenciado que, nos últimos 3 anos (2005-
2008), a demanda interna chinesa por terras raras havia crescido 25% anualmente, essa era
uma das principais razões para a redução das suas exportações. Em consequência, passou a
haver um desequilíbrio entre a oferta e a demanda mundial.
Atento a essa questão, James Kennedy (2010) referiu que o mundo estava dependente da
China. A China produzia, à época, mais de 90% dos óxidos de terras raras de baixo valor e,
praticamente, 99% daqueles de alto valor. O mesmo autor cita, ainda, que apenas a Ásia
poderia consumir, até 2015, toda a produção mundial de vários elementos e ligas de terras
raras, se não surgissem novos países produtores. Sendo assim, poder-se-ia entender que
muitos empregos atuais e futuros no Ocidente se mostrariam dependentes de um
fornecimento estável e constante de terras raras.
Ainda, segundo o mesmo autor: The China’s industries begin to consume most of its own rare
earth production, you couple all those things together and you have the potential for a very
serious supply and demand problem (KENNEDY, 2010 ).
Essa situação levou vários países e diferentes empresas do segmento da cadeira produtiva de
terras raras, a uma autêntica corrida pela busca e reavaliação de outros depósitos. Da mesma
forma, estimulou a reativação de jazidas que foram fechadas em consequência dos baixos
preços da matéria-prima e dos produtos industrializados chineses, a partir dos anos 1990.
Assim, se pode entender que as limitações recentemente impostas pela China a às exportações
criaram novas oportunidades para outros países, dentre os quais se inclui o Brasil, já que
passariam a dedicar mais atenção à retomada da explotação de terras raras (LAPIDO-
LOUREIRO, 2012).
De fato esse cenário se estendeu praticamente para todos os países da UE, Canadá, EUA, assim
como Austrália, Japão, Coréia, dentre os maiores consumidores. Da mesma forma alcançou
outros países como o Brasil, que não se incluía no rol dos grandes produtores ou
consumidores/importadores.
À guisa de exemplo, deve ser citado que para fazer face a essa situação foi reativada, em 2011,
a mina de Mountain Pass (EUA), a qual estava paralisada desde 2002. Seguindo essa mesma
tendência foi colocada em produção a jazida de Mount Weld (Austrália). Existem registros de
que, a partir de 2010, foram reavaliados todos os depósitos previamente conhecidos nos EUA.
Nesse mesmo contexto havia informações de que estavam sendo pesquisadas,
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concomitantemente, novas ocorrências de terras raras em vários países (U.S. Department of
the Interior, Rare Earths Statistics and Information, USGS, 2010;HUMPHRIES, M, 2011; LONG
et al., 2010).
A despeito de representar um volume que é considerado reduzido, por alguns especialistas,
em termos econômicos, o mercado de terras raras passou a ocupar uma posição estratégica
para os países e indústrias, que foram atingidos pela surpreendente atitude do governo
chinês.
Assim foi que motivados pelo aumento da demanda, mas também pelo contexto estratégico
desses elementos, um considerável número de novos investimentos na exploração e
identificação de outras minas/depósitos foram feitos, a partir de 2010 (HATCH, G. TMR,
2011).
Feita essa breve contextualização sobre os fatos motivadores da crise de desabastecimento de
terras raras a partir de 2009, passaremos a abordar adiante as repercussões e ações
estratégicas encetadas no cenário nacional, no sentido de eliminar a dependência de
importação dessas commodities.
Adiante será feita uma abordagem relacionada às principais ações governamentais, assim
como a aproximação entre instituições do governo e atores do setor privado para formatar,
estabelecer e consolidar uma cadeia produtiva e sustentável de terras raras no Brasil. Dentre
as ações governamentais, a instalação de um grupo de trabalho interministerial, foi a
precursora de muitas outras que a sucederam.
SOBRE A INSTALAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL MME-MCTI DE
MINERAIS ESTRATÉGICOS (GTI-ME)
A instalação do Grupo de Trabalho Interministerial de Minerais Estratégicos (GTI-ME)
resultou, conforme anteriormente citado, da sensibilização do Exmo. Sr. Ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação à carta aberta entregue pelos cientistas brasileiros, que participaram
do 4º Encontro Nacional sobre Terras raras (4º ENTR), realizado em maio de 2010, em
Aracaju/SE, cujo teor incluímos na íntegra.
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Fonte: Arquivo pessoal do Prof. Osvaldo A. Serra –USP – Ribeirão Preto
Portanto, o primeiro grito de alerta foi dado por esse grupo de cientistas brasileiros, que não
abandonaram as suas atividades de pesquisa em terras raras, a despeito do efeito China na
década de 1990. Ao contrário, concentraram suas linhas de pesquisa em áreas de elevado
conteúdo tecnológico. Como ponto forte de sua atuação deve ser destacada a formação de
redes e a organização de congressos e/ou seminários, abordando temas como:
desenvolvimento de lasers e de novos materiais de estado sólido, materiais
nanomanufaturados funcionais; síntese e purificação de compostos de interesse nuclear;
materiais luminescentes; materiais compósitos e cerâmicos funcionais; materiais
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nanoestruturados para aplicações óticas;materiais aplicados em catálise; materiais
supercondutores; materiais eletromagnéticos; materiais magnéticos e super-imãs, dentre
outros.
A partir do recebimento dessa carta, o Exmo. Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Prof. Dr. Sérgio Rezende, solicitou ao Centro de Tecnologia Mineral-CETEM, que é um dos
institutos de pesquisa do MCTI, que apresentasse uma breve contextualização sobre a
importância estratégica e industrial das terras raras para o Brasil, face à conjuntura mundial
que ora se apresentava. Ato contínuo o CETEM preparou um documento técnico, abordando
os temas de interesse e o encaminhou ao Exmo. Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação.
A partir de então, com base na argumentação apresentada pela carta dos cientistas que
participaram do 4º ENTR, mas também no documento elaborado pelo CETEM, se estabeleceu
uma estreita colaboração e intensa interação entre os Ministérios da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) e o das Minas e Energia (MME). Num momento subsequente, também contou
com a participação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
Dessa aproximação, entre os três Ministérios, resultou uma nova formatação de ações e a
formulação de políticas públicas para valorizar os minerais e/ou elementos considerados
estratégicos para o País.
Há que se destacar que foram considerados minerais e/ou elementos estratégicos pelo Grupo
de Trabalho Interministerial sobre Minerais Estratégicos (GTI-ME), aqueles que também
foram identificados pelo Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM-2030), o qual fora
recentemente finalizado pelo MME (Ref. WWW.mme.gov.br/...mineração.../
plano_nacional_de_mineração_2030/pnm.pdf).
Foram considerados, portanto, minerais ou elementos de interesse estratégicos aqueles que
atendiam as seguintes condições, conforme transcrição do documento acima:
a) minerais/elementos dos quais o Brasil depende e/ou importa, em larga escala;
b) minerais/elementos que tem uma demanda crescente e que são usados em produtos
acabados, que exigem o aporte de tecnologias finas e que apresentam elevado conteúdo
tecnológico e
c) minerais/elementos nos quais o Brasil apresenta vantagens competitivas e liderança
internacional em termos de reservas e produção.
A aproximação entre o MME e o MCTI se consubstanciou de imediato a partir da Portaria
Interministerial Nº 614, publicada na pág. 30, Seção 2, Diário Oficial da União (DOU) de 05 de
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Julho de 2010, que nomeou o Grupo de Trabalho Interministerial sobre Minerais Estratégicos
- GTI-ME, cujo texto incluímos na íntegra, a seguir.
As atividades do GTI-ME iniciaram a partir de 05 de julho de 2010, por meio da realização de
uma reunião preparatória para o planejamento das ações.
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A reunião contou com todos os membros nomeados do GTI-ME, composto por representantes
do MME e do MCTI, estando lotados nos seus respectivos órgãos subordinados, a saber: na
Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM/MME); no Departamento
de Tecnologia e Transformação Mineral (DTTM/MME); na Secretaria de Desenvolvimento
Tecnológico e Inovação (SETEC/MCTI); na Coordenação Geral de Tecnologias Setoriais
(CGTS/SETEC/MCTI) e no Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI).
A partir dessa primeira reunião, foram realizadas outras duas reuniões de trabalho em 29 de
julho e 13 de agosto de 2010. Esses eventos reuniram apresentações e contribuições de cerca
de 30 especialistas brasileiros que estavam ou estiveram atuando em áreas de P&D
relacionadas às terras raras, representando as seguintes instituições: Secretaria de
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (SETEC/MCTI); Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN/MCTI); Indústrias Nucleares Brasileiras (INB/CNEN/MCTI); Secretaria de
Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM/MME); Departamento Nacional da
Produção Mineral (DNPM/MME); Ministério do Meio Ambiente (MMA); Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE);Universidade Federal de Goiás (UFG); Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC); Universidade de Brasília (UnB); Universidade de São Paulo (USP); Centro de
Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI) e Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(CPRM/MME).
Após as participações nas referidas reuniões, os membros do GTI-ME enviaram suas
contribuições para a Coordenação do GTI-ME, que teve a atribuição de compilar, consolidar e
propor as ações estratégicas, de modo a viabilizar e retomar uma explotação sustentável das
terras raras no Brasil.
O Grupo de Trabalho GTI-ME terminou suas atividades em novembro/2010. Em dezembro
desse mesmo ano foi publicado o relatório (Ref.: Relatório do Grupo de Trabalho
Interministerial MME – MCT de Minerais Estratégicos [GTI-ME] - Portaria Interministerial Nº
614 de 2010 de 30 de junho de 2010, Dez. 2010).
Como recomendações específicas para as terras raras o GTI-ME propôs o encaminhamento de
várias ações, as quais transcrevemos a seguir:
1. Formação de GT para a articulação e coordenação das atividades de desenvolvimento do
segmento de terras raras. [MME/SGM, MCTI e MDIC]
2. Realização de diagnóstico e estudo prospectivo contando com a participação da universidade,
setor empresarial, consumidores e potenciais produtores. [MCTI]
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3. Implementação e/ou fortalecimento de programa de levantamento geológico detalhado,
conjugado com o apoio à exploração mineral pelo setor privado. [MME/SGM e MME/CPRM]
4. Formatação de programas de P,D&I de longo prazo nas áreas de tecnologia mineral e
desenvolvimento de produtos com valor agregado, assegurando e promovendo a interação
entre ICT e empresas.[MCTI/SETEC e MCTI/CETEM]
5. Identificação de demanda e integração em projetos inovadores em curso, com previsão de
grande consumo de terras raras, como, por exemplo: a) “Implementação de uma Cadeia
Produtiva, de Inovação e Integração Industrial, de Imãs de Terras raras” apoiada pela
ABDI,sob a responsabilidade da Fundação CERTI, de Santa Catarina, no contexto da
cooperação bilateral Brasil-Alemanha; b) “MagLev Cobra” da COPPE – UFRJ; e c) fabricação de
motores elétricos de alto rendimento, das turbinas eólicas, grandes consumidores de terras
raras. [MCTI/SETEC, MDIC e MME/SGM]
6. Articulações público-privadas visando à identificação de nichos de oportunidades para a
produção no País de produtos de alta tecnologia com uso intensivo de compostos de terras
raras. [MCTI/SETEC, MME/SGM e MDIC].
Portanto, devemos considerar que as recomendações acima nortearam as ações imediatas ao
nível do Poder Executivo, haja vista as responsabilidades destacadas para os ministérios das
Minas e Energia, da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, mas que também transcenderam o nível dos ministérios para alcançar o Poder
Legislativo, conforme veremos mais adiante, por meio de várias ações e proposições do
Congresso Nacional.
DESDOBRAMENTOS IMEDIATOS DECORRENTES DAS PROPOSIÇÕES DO GTI-
ME PARA AS TERRAS RARAS
A seguir serão relatados os principais desdobramentos articulados pelos atores
governamentais, no sentido de fortalecer e elaborar uma política para o aproveitamento dos
recursos nacionais de terras raras.
A premissa fundamental para o GTI-ME é que as proposições do relatório e os
desdobramentos deles decorrentes levem o Brasil a eliminar a sua dependência de
importação de minérios, insumos e/ou produtos, no médio prazo. Adicionalmente, se espera
também no longo prazo, que sejam criadas condições para abrigar uma cadeia de produção de
bens de alto valor agregado, assim como de elevado conteúdo tecnológico no Brasil.
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É possível entender, portanto, que a partir das proposições do GTI-ME foi possível incluir nas
prioridades nacionais as questões associadas à exploração e explotação dos minerais
estratégicos.
Da mesma forma se pode perceber que a partir de 2010, a formulação de políticas públicas
para os minerais estratégicos foram asseguradas por meio da Estratégia Nacional da Ciência,
Tecnologia e Inovação - ENCTI (2012-2015), do Plano Brasil Maior (PBM), do Plano de
Aceleração do Crescimento (PAC-CPRM 2010-2014) e do Plano Nacional da Mineração (PNM)
2012-2030.
Desde as reuniões de trabalho organizadas pela SGM/MME e pela SETEC/MCTI, que
subsidiaram a elaboração do relatório do GTI-ME, ficou evidente que a sustentabilidade do
aproveitamento dos recursos à base de terras raras exigiria uma inter-relação próxima entre
os setores acadêmicos, governamentais e privados que tratam dos temas associados à
mineração. Da mesma forma, deveria acontecer no tocante à pesquisa mineral, assim como em
processamento metalúrgico e de transformação das terras raras, os quais estavam, à época do
exercício do GTI-ME (2010), quase que totalmente desarticulados e desestruturados, segundo
os diagnósticos constantes do relatório.
O cenário que se apresentava exigia, portanto, um esforço de reagrupamento de competências
e de articulações entre os atores acima citados. Desse espaço deveriam participar o setor de
mineração, o de aplicação dos produtos ao final da cadeia, mas também os setores acadêmicos
e os institutos de pesquisa.
No sentido de alcançar esse objetivo, um dos principais encaminhamentos resultantes das
proposições do GTI-ME consistiu na formação de um Grupo de Assessoramento em Minerais
Estratégicos (GASSME). Esse Grupo foi constituído, a princípio, por representantes do MME,
MCTI e MDIC.
A partir de então, as proposições do relatório do GTI-ME passaram a nortear a formulação das
políticas relacionadas à atividade mineral, tendo sido consideradas, tanto na formulação da
Estratégia Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação-ENCTI, assim como no Plano Nacional
da Mineração 2030 (PNM-2030) e, por conseguinte, no Plano Brasil Maior (PBM).
Há que se destacar que esse mesmo Grupo de Assessoramento também passou a participar,
mais adiante, de um grupo maior que passou a participar do Conselho de Competitividade do
Setor Mineral, o qual se inseria num contexto, ainda, mais abrangente, qual seja, o do PBM.
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INICIATIVAS PRELIMINARES EMPRESARIAIS APOIADAS PELO GOVERNO (ABDI/MDIC)
PARA FORMATAR UMA CADEIA PRODUTIVA DE TERRAS RARAS NO BRASIL
Em 2010, quando a crise do desabastecimento estava no seu auge, um grupo de empresas
brasileiras manifestou preocupação quanto a esse tema, por afetar sensivelmente seus planos
de negócio.
O assunto foi, inicialmente, debatido em 2009, durante o Encontro de Empresas Brasil-
Alemanha, realizado em Vitória. Em razão do interesse de empresas alemãs radicadas no
Brasil, por meio de uma parceria com a Sociedade Frannhöfer, foram iniciadas ações
preparatórias, para que um pleito bem fundamentado, visando estimular a implantação da
cadeia de terras raras no Brasil fosse encaminhado à Confederação Nacional das Indústrias
(CNI).
Ainda em 2010, em decorrência dos fatos acima citados, a Agência Brasileira para o
Desenvolvimento Industrial (ABDI), decidiu atender a uma demanda que foi apresentada pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), no sentido de estudar alternativas para transpor as
dificuldades, ao nível das empresas nacionais, porém, com um evidente interesse do lado
alemão.
A ABDI que é ligada ao MDIC e tem como missão desenvolver ações estratégicas para a
política industrial brasileira, contratou a Fundação CERTI (FCERTI), para auxiliar na
articulação de uma proposta de projeto, visando implantar uma cadeia produtiva de imãs de
terras raras no Brasil.
O projeto que foi coordenado pela FCERTI, na verdade se constituiu em um estudo, contando
com a participação da UFSC, CETEM e IPT, bem como de outros órgãos do Governo Federal
(CGEE, DNPM, CPRM) e do setor empresarial brasileiro. A FCERTI realizou esse projeto,
contando, ainda, com a participação da Sociedade Fraunhöfer. Os parceiros alemães se
ocuparam das questões relacionadas à fabricação dos imãs. Por outro lado, os brasileiros
estudaram a formatação da cadeia em sua totalidade.
Assim, foram caracterizadas quatro grandes etapas do processo produtivo, a saber: mineração
e concentração; solubilização e separação; redução e preparação de ligas até a fabricação dos
imãs, propriamente dita. O estudo modelou a cadeia produtiva de imãs de terras raras desde a
extração do minério até os imãs, prevendo a implantação de unidades de demonstração, assim
como das respectivas plantas industriais, em acordo com a demanda projetada de imãs para o
Brasil, visando a sua aplicação em geradores eólicos e em carros elétricos e/ou híbridos.
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Ao final, o projeto apresentou um “estudo de viabilidade técnica-econômica, formulado em
dois cenários, além de propostas de macro ações necessárias à implementação de uma cadeia
produtiva completa para a fabricação de imãs de terras raras” (Ref.: Estudo para a
implantação de uma cadeia produtiva de ímãs de terras raras no Brasil - Relatório da
cooperação e suas proposições – Maio/2011-FCERTI).
A relevância do assunto para o País fez com que a proposta de implantação da cadeia
produtiva de terras raras no Brasil, fosse incluída na agenda do Programa de Cooperação
Bilateral Brasil-Alemanha, que foi posteriormente aprovado pelos membros da Comissão
Mista Brasil-Alemanha de Economia e de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O documento está estruturado em três partes, cuja transcrição reproduzimos a seguir.
Na primeira está o levantamento de informações sobre as principais jazidas/depósitos de terras
raras no Brasil; informações sobre a situação atual da explotação de terras raras no Brasil e no
mundo, assim como as questões relacionadas ao monopólio chinês.
Na segunda parte é feita uma abordagem sobre as aplicações tecnológicas atuais e futuras dos
imãs de terras raras, identificando as de interesse estratégico para a cadeia a ser desenvolvida
no Brasil.
Na terceira está o estudo detalhado do processo de fabricação de imãs, no qual constam: os
equipamentos necessários; os tipos de produtos e serviços a serem oferecidos; o detalhamento
da infraestrutura para a instalação, dentre outras informações complementares (Ref.: Estudo
para a implantação de uma cadeia produtiva de ímãs de terras raras no Brasil - Relatório da
cooperação e suas proposições – Maio/2011-FCERTI).
AÇÕES DO MCTI, DA SETEC E DO CETEM
Conforme já mencionado, as terras raras têm recebido especial atenção do MCTI, desde 2010,
especialmente a partir da formação do GTI-ME. Em cumprimento às proposições do GTI-ME,
mas também em acordo com as suas competências regimentais, assim como considerando a
relevância de apoiar ações relacionadas aos elementos estratégicos, o MCTI ofereceu por meio
do Edital MCTI/CT-Mineral/CNPq 44/2010 uma primeira ação destinada ao apoio em P,D&I
para a cadeia produtiva das terras raras e lítio.
Por meio desse Edital, em sua Chamada 1, foram apoiadas atividades de pesquisa científica,
tecnológica, de inovação e de capacitação de recursos humanos com foco em: a) exploração,
extração, processamento de minérios e minerais contendo terras raras, lítio e silício; b)
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separação e purificação de elementos de terras raras e suas aplicações no desenvolvimento de
processos e produtos de alta tecnologia.
Em sequência às ações de fomento iniciadas em 2010, a partir de 2013 até 2016, o MCTI
planejou e investiu mais pesadamente em ações de fomento, com foco nas terras raras. Foram
aprovados investimentos superiores a R$ 10 milhões em P,D&I, por meio de recursos
aprovados pelo comitê gestor do Fundo Setorial de Recursos Minerais (CT-Mineral)
(www.senado.gov.br/sdleg-getes/public).
Desse total cerca de R$ 2 milhões foram destinados ao CETEM, enquanto cerca de R$ 9
milhões foram destinados para um Edital especificamente orientado para apoiar o
desenvolvimento de projetos e para a qualificação de especialistas.
(www.cnpq.br/web/guest/chamadas_publicas).
O investimento de R$ 9 milhões apoiou a chamada pública MCTI/CT-Mineral/CNPq 76/2013,
objetivando “fomentar o desenvolvimento tecnológico de processos para produção e uso de
terras raras, mas também contribuir ao final de dois anos para: a) formação de recursos
humanos; b) melhoria da capacitação de infraestrutura laboratorial e piloto para executar
atividades destinadas à caracterização tecnológica, processamento, produção e uso de terras
raras”.
Segundo o Senhor Secretário de Desenvolvimento Tecnológico em Inovação – SETEC/MCTI,
durante declaração pública no Senado “o desdobramento dos investimentos nesses editais
e/ou encomendas, o MCTI projeta, no curto-médio prazo, encontrar soluções que permitam
agregar valor, adensar conhecimento e contribuir para a sustentabilidade e competitividade
da cadeia desses elementos” (www.cnpq.br/web/guest/chamadas_publicas).
À época em que esse texto estava sendo elaborado (agosto 2015), os resultados do Edital
apontavam que tinham sido aprovadas 13 propostas de projeto dentre um total de 95 que
foram submetidas à Chamada Pública 76/2013.
Prosseguindo no esforço de viabilizar a implantação da cadeia, nos anos de 2011 e 2013, a
SETEC/MCTI, a SGM/MME e o CETEM/MCTI, organizaram dois Seminários, para tratar do
tema terras raras.
Em ambos os eventos estiveram reunidos representantes de todos os setores envolvidos, a
saber: instituições da esfera do Governo Federal, mas também de universidades, instituições
de pesquisa, empresas de mineração, assim como daqueles que utilizam terras raras em seus
produtos finais.
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No primeiro evento foram abordados os seguintes temas: bases para o desenvolvimento das
terras raras no Brasil; matérias-primas como desafio estratégico maior: o caso das terras
raras; perspectivas de novos projetos de produção de terras raras no Brasil; experiências
institucionais no desenvolvimento tecnológico e mercado de produtos de terras raras.
A Figura abaixo mostra, em detalhes, a programação do evento.
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No segundo evento, novamente se reuniram alguns dos principais atores que participam, à
época, do esforço de implantação da cadeia. Os representantes da esfera do Governo Federal
atualizaram as ações, por conta das articulações encetadas e das soluções encontradas até
então, nos âmbitos regulatório, tributário, bem como no tocante ao apoio à pesquisa e ao
empresariado.
A Figura a seguir mostra, detalhadamente, a programação do evento e os palestrantes.
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Ficou evidente nesse segundo evento, que os representantes do Governo Federal fizeram uma
série de ações, visando a definição de políticas para viabilizar a implantação da cadeia,
enquanto as empresas de mineração mostraram seus planos de ação, no tocante ao
aproveitamento sustentável desses elementos.
Sobre o PROTERRARAS
Conforme citado anteriormente, no final de 2012 o MCTI aportou R$ 2 milhões para a
execução do Projeto PROTERRARAS. O projeto em foco se insere em mais de uma das ações de
fomento do MCTI, que foram priorizadas a partir da inclusão do tema terras raras no
Programa Setorial Minerais Estratégicos, da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação (ENCTI) 2012-2015.
O projeto atende, pois, a uma encomenda do MCTI ao CETEM denominada “Apoio a retomada
da pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação na área de terras raras no Centro de
Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI)”. Com essa encomenda o MCTI objetivou “apoiar as
atividades de P,D&I em todas as etapas da cadeia, mas também, capacitar e/ou complementar
a especialização de recursos humanos, bem como a implantação ou modernização de
infraestrutura laboratorial, prevendo, ainda, a possibilidade de colaboração internacional”.
As atividades principais de P&D, no tocante ao processamento mineral e metalúrgico, foram
destinadas ao CETEM-RJ. Foi previsto, ainda, uma parceria com a Universidade Federal de
Goias-UFG, visando o reconhecimento metalogenético e tipológico dos depósitos de terras
raras do estado. Os depósitos locais são reconhecidos como sendo dos mais promissores para
atender às demandas de uma cadeia produtiva que venha a ser implantada no Brasil.
O projeto foi iniciado em 2013, tendo a previsão de encerramento em 2016. O objetivo geral
consiste em implementar ações de P,D&I nas linhas temáticas de caracterização mineralógica,
análises químicas, processamento mineral, metalurgia extrativa, separação, assim como na
reciclagem de terras raras, a partir de fontes alternativas de minerais ou fontes secundárias,
para a obtenção de óxidos e/ou outros compostos precursores da cadeia de terras raras.
Sobre os Estudos Prospectivos Encomendados ao CGEE
Ainda, em 2011 foi contratado um estudo ao Centro de Gestão de Estudos Estratégicos
(CGEE), com objetivo de fornecer ao MCTI e demais setores governamentais, os principais
18
direcionadores estratégicos, de maneira a estruturar uma agenda de ações de curto, médio e
longo prazo para viabilizar a implantação da cadeia de terras raras.
Os resultados do estudo estão na publicação “Usos e aplicações de terras raras no Brasil:
2012-2030”. A equipe técnica que participou do estudo foi formada por representantes do
CGEE, do CETEM/MCTI, da SETEC/MCTI, contando, ainda, com a colaboração de técnicos
daSGM/MME, do IPEN/IPT/CNEN/MCTI, do CENPES/PETROBRAS, do IPT, da EQ/UFRJ e da
UFSC. Foram convidados, ainda, vários outros atores dos setores governamentais e da
iniciativa privada com interesse no assunto, que participaram de algumas das reuniões de
trabalho.
Dentre os vários resultados obtidos o estudo entregou: “a) perspectivas do mercado global de
terras raras e a definição de um cenário de referência para o Brasil; b) a definição de
direcionadores – visão de futuro e objetivos de longo prazo, no que concerne às cadeias
produtivas de imãs permanentes, catalisadores, ligas metálicas, fósforos e pós para polimento
e fabricação de lentes especiais; c) o levantamento de grupos de pesquisadores brasileiros
que estavam, cadastrados à época, no CNPq, em temas relacionados às terras raras; d) uma
pesquisa em base de dados oficiais sobre a produção científica e propriedade intelectual em
terras raras, em nível mundial, no período 1981-2011” (Ref.: CGEE - Usos e Aplicações de
Terras Raras no Brasil: 2012-2030).
No contexto sobre a existência de recursos humanos envolvidos com temas de P,D&I
associados às diferentes fases da cadeia produtiva, foi encontrado um registro de 495
especialistas, os quais estavam distribuídos por 49 instituições, compondo cerca de 113
grupos de pesquisa.
Esse mesmo estudo identificou, ainda, a ocorrência de cerca de 260 atividades de pesquisa. A
distribuição desses grupos de pesquisa concentrava-se no Sudeste (60%), enquanto que o
Nordeste abrigava 25% e as regiões Sul, Centro-Oeste e Norte contavam, respectivamente
com 9, 5 e 1%.
Da mesma forma, esse estudo contribuiu decisivamente para nortear a elaboração dos road
maps estratégicos para cinco das mais representativas cadeias de produtos, as quais foram
selecionadas dentre os 23 usos industriais que foram incluídos no estudo.
No contexto dos cenários de futuro o estudo contemplou dois horizontes, sendo um deles de
curto-médio prazo (até 2020), enquanto o outro é para o longo prazo (2030). É possível,
portanto, afirmar que há intrinsecamente uma visão de futuro que orienta as bases para a
19
implantação da cadeia no Brasil (Usos e Aplicações de Terras Raras no Brasil: 2012-2030, em
www.cgee.org.br/atividades/redirect/8629).
Mais recentemente, em julho de 2015, o MCTI, por meio da Subsecretaria de Coordenação das
Unidades de Pesquisa (SCUP/MCTI), dando sequência aos debates que aconteceram no
Simpósio Brasileiro para o Progresso da Ciência (SBPC) 2015, programou uma série de
reuniões com seus institutos de pesquisa, para o planejamento e prospecção de ações em
C,T&I, privilegiando os chamados Grandes Temas Integrados, em total alinhamento com as
políticas do Ministério
O tema terras raras, especialmente, no tocante a ações de P,D&I com foco na obtenção
insumos precursores da cadeia, mas também na modernização de instalações padrão de
processamento metalúrgico foi incluído no conjunto dos objetivos finais desse novo fomento.
O projeto “Ações de P,D&I para produção de insumos da cadeia produtiva de terras raras no
País”, que tem uma duração prevista de 3 anos (2016-2019), foi apresentado pelo CETEM,
dando prosseguimento a essas ações anteriores patrocinadas pelo mesmo MCTI. Espera-se
que com essa continuidade de ações o Brasil detenha o domínio tecnológico de todas as fases
da cadeia. Em especial, no caso do CETEM o domínio abrange desde a caracterização de
minerais portadores de terras raras até o seu processamento metalúrgico, que deve ser
eminentemente sustentável, portanto, mais limpo.
Sobre a proposta do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terras raras para a
Indústria de Alta Tecnologia(INCT-PATRIA)
Em 2014, uma nova ação específica de estímulo à formação e aperfeiçoamento de recursos
humanos, assim como de suporte às ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco
em terras raras foi formatada pelo MCTI. Essa ação vem complementar outras ações
anteriores orientadas para os INCT, as quais foram também patrocinadas pelo mesmo MCTI,
desde 2008.
No caso específico das terras raras esse novo Edital objetiva, efetivamente, a entrega de
produtos de interesse da indústria que utilizam imãs permanentes à base de terras raras, em
seus produtos finais, especialmente em geradores eólicos e/ou motores miniaturizados e de
elevado desempenho, em termos de consumo de energia.
Assim, em 2014, foi lançado o 2º Edital do Programa Institutos Nacionais de Ciência e
Tecnologia. O Programa é custeado pela Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP/MCTI,
20
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior – CAPES/MEC, Fundo Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e pelas várias FAPs do País
(www.cnpq.br/documents/.../chamada ING-MCTI/CNPq/CAPES/FAPS Nº6/2014).
As propostas, a serem apresentadas nesse 2º Edital, deveriam contemplar áreas prioritárias,
que foram definidas pelos documentos das políticas públicas do governo federal. Para o setor
mineral os documentos orientadores foram: a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação (ENCTI);o Plano Brasil Maior (PBM) e o Plano Nacional de Mineração (PNM), os
quais tem foco nos minerais estratégicos e, por conseguinte, onde se encontra a cadeia
produtiva de terras raras.
De maneira a atender às exigências do Edital, tal como acontecera em 2010, se juntaram
novamente o CETEM, a UFSC, o IPT e a FCERTI, para agrupar competências acadêmicas e se
aproximar de empresas com interesse no negócio de terras raras, objetivando submeter uma
proposta ao Edital Chamada INCT-MCTI/CNPq/FAPs Nº 16/2014.
Tal como concebido, o INCT PATRIA propôs ter uma estrutura organizacional administrada
por um Comitê Gestor, formado por acadêmicos pesquisadores e técnicos/administradores
nomeados pelas entidades participantes do projeto INCT, atuando com a presidência do
coordenador geral do INCT.
O modelo operacional do INCT foi estruturado de maneira a usar uma rede de laboratórios
associados, que trabalhará com metas técnicas definidas, com o objetivo de viabilizar a
fabricação de ímãs de terras raras.
Cada instituição/laboratório da rede teria como responsabilidade o desenvolvimento de
projetos vinculados à sua área específica de atuação. Os projetos deveriam ser desenvolvidos
de forma cooperada e com informações centralizadas em um portal na internet. Esse portal foi
projetado para ser desenvolvido e administrado pelo escritório de gestão de projetos.
Participarão desse projeto as instituições USP, IPT, UFSC, CETEM e IPEN, desenvolvendo as
linhas de pesquisa centrais.
As ações relacionadas ao desenvolvimento do projeto estarão baseadas no conceito da cadeia
produtiva de terras raras, desde a mineração até a utilização/aplicação destes elementos na
indústria.
As ações com âmbito transversal na cadeia produtiva, tais como; técnicas de caracterização
especiais (física, química, mecânica e microestrutural), aspectos ambientais e de análise de
ciclo de vida, formação de recursos humanos, disseminação e transferência tecnológica e a
21
gestão do INCT em si, serão estruturadas de modo a promover o suporte e complementação
às ações dos projetos centrais relacionados diretamente com a cadeia. Nestas ações,
encontram-se instituições como UFSC, FCERTI, INOVA, Instituto SENAI de Inovação –
ISI/SENAI-SC, UFF/LABMAT e IPEN.
No âmbito da formação de recursos humanos, o INCT PATRIA terá uma estrutura organizada
em rede, com sistema de comunicação via internet a partir do portal “www.inctpatria.org.br”.
Duas vertentes de formação de recursos humanos estarão em desenvolvimento; uma
relacionada com a capacitação à distância, por meio de metodologia de ensino em ambiente
virtual de aprendizagem, enquanto a segunda por meio de curso de pós-graduação
envolvendo as instituições parceiras.
Este desenvolvimento contará com a participação das instituições que tem papel chave nas
etapas tecnológicas da cadeia produtiva, como o CETEM, IPT, UFSC, USP-Poli, UFF/LABIMAT,
IPEN e a Fundação CERTI, que proverá a articulação entre os parceiros do setor empresarial.
O INCT prevê contar, ainda, com a participação de empresas que têm interesse estratégico e
comercial na ativação da cadeia, especialmente, atendendo à demanda dos setores de energia
renovável e automobilística, por conta dos ímãs permanentes. Na base da cadeia produtiva
está inserida, atualmente, a empresa Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração
(CBMM), focada na produção dos óxidos de terras raras e na futura produção de ligas, como
um co-produto da recuperação de nióbio e suas ligas.
Na ponta do mercado estão, a princípio, a WEG, com interesse na produção de geradores
eólicos e motores elétricos de alto desempenho e de baixo consumo de energia, de pequeno a
grande porte, assim como a Indústrias Metalúrgicas Pescarmona S/A. (IMPSA), produtora de
geradores eólicos.
Sobre as iniciativas apoiadas pela EMBRAPII com foco em terras raras
Uma ação que merece ser destacada, ainda, com foco em terras raras, está vinculada à
Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII). A EMBRAPII que é uma
Organização Social apoiada pelo Poder Público Federal, tem o seu contrato de gestão sob a
égide do MCTI. Atua por meio da cooperação com instituições de pesquisa científica e
tecnológica, públicas ou privadas, tendo como foco as demandas industriais com a premissa
do compartilhamento de risco na fase pré competitiva da inovação.
22
Por meio da EMBRAPII, o IPT e a CBMM assinaram, em novembro de 2014, um convênio para
o desenvolvimento da tecnologia de redução de neodíminio metálico, que é matéria-prima
para a fabricação de super imãs de terras raras.
O convênio atinge o montante de R$ 9,5 milhões e tem a duração de dois anos. Um terço dos
investimentos virá da EMBRAPII, por meio de repasse da Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP/MCTI) para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e mais um terço sob a
responsabilidade da CBMM, enquanto o restante será contrapartida do IPT, envolvendo
infraestrutura, equipamentos e suporte administrativo (www.ipt.br/noticias/864-
parceria_em_terras_raras_htm).
AÇÕES DO MME E DA SGM
O documento básico que orienta as ações do MME na formulação das políticas públicas para
as terras raras representando, mais uma das relevantes contribuições para fortalecer a
implantação da cadeia no Brasil é o Plano Nacional de Mineração (PNM 2012-2030).
Sobre o Plano Nacional de Mineração – 2030
O Plano Nacional de Mineração (PNM 2012-2030), cuja preparação e redação foi coordenada
pela Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME, foi lançado em
fevereiro de 2011 e publicado em 2012. Ele definiu os objetivos estratégicos e as ações para
os próximos vinte anos na gestão dos bens minerais do País.
O PNM tem como fundamentos três diretrizes básicas, que são transcritas abaixo:
• governança pública eficaz para promover o aproveitamento dos bens minerais extraídos no
País no interesse nacional;
• agregação de valor aos bens minerais; e
• adensamento do conhecimento em todas as etapas da atividade mineral e sustentabilidade ao
longo de toda a cadeia produtiva mineral.
O PNM contempla onze objetivos estratégicos, assim como aponta as ações necessárias para
viabilizá-los, tratando ainda de estabelecer uma política mineral para o País.
As ações da SGM/MME não se restringiram à preparação do PNM, mas foram ampliadas em
total alinhamento com as proposições do GTI-ME. As suas ações foram materializadas por
meio da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais-CPRM, atual Serviço Geológico do
23
Brasil-SGB, assim como pelo Departamento Nacional da Produção Mineral-DNPM, objetivando
ampliar e melhor conhecer as reservas de terras raras do País.
Há que ressaltar, ainda, que em complemento às proposições do PNM-2030 foi encaminhado
pelo MME ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nº 5807/2013, o qual propõe um novo
marco legal para o setor mineral.
No bojo desse PL foram incluídas propostas, visando garantir a definição de políticas
específicas para os minerais estratégicos, mas também para suprir as necessidades de
recursos materiais e humanos, capazes de tornar mais consistentes as atividades de P,D&I do
setor mineral.
Para que essas ações fossem realizadas com sucesso, os órgãos existentes, que estão
dedicados à P,D&I em tecnologia mineral, deveriam ser fortalecidos com recursos financeiros
e humanos, assim como ser concebido e implementado um novo arcabouço institucional.
Em acordo com o PL 5807/2013, “devem ser fortalecidos o CETEM e os centros de pesquisas
regionais; mas também o DNPM que será transformado em moderna agência reguladora;
fortalecidos a CPRM e os Serviços Geológicos Estaduais; criados o Conselho Nacional de
Política Mineral e o Conselho Nacional de Política Industrial”. Propõe-se ainda a criação de
uma Secretaria Especial de Minerais, Materiais e Tecnologias Estratégicas (SEME), vinculada à
Presidência da República, que será a condutora das políticas nacionais para viabilizar a
produção dos materiais e equipamentos estratégicos para o desenvolvimento sustentável do
País (www.camara.gov.br/.../PL+5807/2013).
Como já citado acima, as ações políticas do MME para os minerais estratégicos tiveram como
foco principal a ampliação do mapeamento geológico do País, assim como a agregação de
valor dos bens minerais.
A execução dessas estratégias, no âmbito do MME, teve como atores principais a CPRM e o
DNPM, por meio da retomada de ações específicas para as terras raras, em atendimento às
proposições do GTI-ME.
O foco principal da SGM/MME consistiu na articulação e na coordenação das atividades de
desenvolvimento do segmento das terras raras, visando o fortalecimento e implementação de
um programa de levantamento geológico detalhado, conjugado com o apoio à exploração
mineral pelo setor privado.
24
Sobre as ações do DNPM
Em 2012, a Coordenação de Fiscalização do Aproveitamento Mineral, da Diretoria de
Fiscalização do DNPM iniciou um trabalho sistemático que culminaria com a reavaliação das
reservas nacionais de terras raras.
Como metodologia estabeleceu as seguintes etapas: “identificação das áreas com condições ou
potencial para explotação de terras raras; definição de metas de fiscalização de curto prazo
para os minerais estratégicos e elaboração de relatório conclusivo, por meio das análises dos
projetos e/ou processos de direito minerário”.
Os primeiros resultados surgiram em 2013, quando o Sumário Mineral, apontou um aumento
significativo das reservas de terras raras no País. Esse aumento colocou o Brasil na posição de
2ª maior reserva mundial, somando 22 milhões de toneladas, estando atrás da China que
informa reservas de 55 milhões de toneladas (www.dnpm.gov.br/sumario_mineral_2013).
Sobre o Projeto Terras Raras no Serviço Geológico do Brasil/CPRM
A CPRM, empresa autárquica do Ministério de Minas e Energia, já vem executando desde
2010, o projeto de Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil, como demanda do PAC II,
na Ação de Recursos Minerais/Empreendimentos de minerais estratégicos/Pesquisa e
avaliação em todo território nacional. Essa ação vem ao encontro de uma das recomendações
do Plano Nacional de Mineração e do relatório do Grupo de Trabalho Interministerial
MME/MCTI para Minerais Estratégicos [GTI-ME].(www.camara.leg.br/...camara/.../terras
raras/.../cprm).
O projeto estava, à época da preparação desse texto, sendo executado de acordo com a
seguinte metodologia:
a) Reanálise das amostras obtidas em projetos pretéritos realizados pela CPRM.
b) Levantamento geológico e geoquímico prospectivo regional com a amostragem sistemática
em folhas de 1:100.000.
c) Prospecção geoquímica de detalhes em alvos anômalos de interesse.
d) Estudo orientativo de depósitos conhecidos para aprimorar o modelo de pesquisa em terras
raras.
O projeto abrange todo o território nacional com várias áreas de interesse geológico para
terras raras.
25
A etapa preparatória refere-se aos trabalhos iniciais que abrangema compilação e análise do
acervo disponível, incluindo o levantamento, refinamento de dados pretéritos, formação de
equipe e planejamento das fases de campo.
A etapa principal visa a aquisição, processamento, interpretação, integração, síntese e
avaliação final dos dados, incluindo montagem dos mapas temáticos em ambiente SIG, a
construção da base de dados e elaboração dos relatórios parciais e final.
O levantamento geológico foi feito a partir do reconhecimento geológico na região, sendo o
acompanhado da descrição e coleta de rochas presentes na área estudada. Também foi
realizada a coleta de amostras de sedimentos de corrente e concentrados de peneira/bateia
para obtenção da informação sobre minerais pesados, de forma sistemática sobre a área
mapeada.
As áreas de trabalho são os alvos que foram previamente selecionados para serem estudados em
2012, e correspondem aos dos projetos históricos da CPRM: Morro dos Seis Lagos (AM) e Serra
do Repartimento (RR). Os testemunhos de sondagens do Projeto Seis Lagos foram descritos
novamente e novos intervalos de amostragens foram feitos. Enquanto que alíquotas existentes
das amostras do projeto Repartimento (RR) e as amostras superficiais do Projeto Seis Lagos e
dos testemunhos de sondagens do Projeto Uaupés (AM) foram selecionados e enviados para
novas análises. Nesta fase, também foram executados os estudos orientativos para exploração
mineral de terras raras nos diferentes tipos de mineralizações.
Como resultados esperados desse projeto espera-se que sejam identificadas novas áreas com
potencial geológico para a explotação de terras raras, ampliando as possibilidades de reservas
e da capacidade produtiva do Brasil (www.camara.leg.br/.../citamara/.../terras
raras/.../cprm).
AÇÕES DO MDIC E ABDI
Sobre os Planos para política industrial
O MDIC lançou, em 2004, a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE),
com o objetivo de “fortalecer e expandir a base industrial brasileira por meio da melhoria da
capacidade inovadora das empresas. A PITCE foi concebida a partir de uma visão estratégica
de longo prazo, tendo como pilar central a inovação e a agregação de valor aos processos,
produtos e serviços da indústria nacional” (www.abraci.gor.br/arquivos/ABDI.pdf).
26
No momento atual, no que concerne ao aproveitamento dos bens minerais, destacam-se os
seguintes planos nacionais: Plano Brasil Maior (PBM); Plano Nacional de Mineração (PNM);
Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), além dos renovados planos
para política industrial elaborados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
(MDIC) e projetos do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Em continuidade à PITCE, foi instituída a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), com o
objetivo de “fortalecer a economia do País, sustentar o crescimento e incentivar a exportação”.
Seus princípios norteadores foram o diálogo com o setor privado e o estabelecimento de
metas para o seu permanente monitoramento, tais como: “a recuperação da capacidade de
formulação e coordenação do Estado brasileiro e a definição de ações integradas visando
mudar o patamar da indústria nacional” (www.desenvolvimento.gov.br/pdf).
Dando sequência às proposições para o ordenamento de políticas industriais, sob
coordenação do MDIC, o PBM estabelece a política industrial, tecnológica, de serviços e de
comércio exterior para o período de 2011 a 2014. Ao mobilizar as forças produtivas para
inovar, competir e crescer, o PBM aproveitou a sinergia entre as competências presentes nas
empresas, na academia e na sociedade.
No PBM, os setores industriais estão divididos em blocos organizados, segundo características
relevantes, que ajudam a ordenar o processo de formulação de propostas de programas e
projetos que envolvam mais de um setor.
A mineração está inserida no Bloco 2 do PBM, que tem a característica de ser um sistema
produtivo intensivo em escala, com as seguintes diretrizes:
1. Fortalecimento da atividade de mineração no País
• estimular o aumento da produtividade dos processos produtivos da mineração;
• fomentar a produção mais limpa; e
• promover a transferência de tecnologia para o fortalecimento das pequenas e médias
empresas de mineração e atrair empresas estrangeiras de base tecnológica.
2. Adensamento produtivo na indústria de mineração
• ampliar o conteúdo local na mineração e consolidar empresas fornecedoras de bens e
serviços;
• fortalecer programas para modernização de máquinas e equipamentos na mineração;
• estimular a cooperação entre empresas de mineração e empresas da cadeia de
fornecimento de bens e serviços nas regiões mineradoras; e
27
• ampliar as compras governamentais de serviços para o aumento do conhecimento geológico
(www.brasilmaior.mdic.gov.br).
Sobre o Programa ETR-BR do Plano Brasil Maior
O objetivo geral do Programa Elementos Terras Raras (ETR-BR) consistiu em viabilizar a
implantação do ciclo completo da cadeia industrial de terras raras no Brasil, desde a produção
de matérias-primas até a fabricação de produtos finais.
O Programa ETR-BR que, à época de elaboração desse capítulo estava em curso, sob a
coordenação da ABDI/MDIC. Representa, portanto, um desdobramento do estudo
anteriormente encomendado à FCERTI em 2010, do qual resultou o relatório “ESTUDO PARA
A IMPLANTAÇÃO DE UMA CADEIA PRODUTIVA DE ÍMÃS DE TERRAS RARAS NO BRASIL -
RELATÓRIO DA COOPERAÇÃO E SUAS PROPOSIÇÕES” - Desenvolvido no Contexto da
Iniciativa para um Programa de Cooperação Bilateral Brasil – Alemanha em Inovação,
Fundação CERTI – Maio de 2011.
Dada a relevância do assunto o trabalho anterior da FCERTI de 2011, foi incorporado ao PBM
tendo seu escopo ampliado e sendo usado como referência para as ações de articulação e
planejamento da ABDI. Resultou desse fato que a ABDI a partir de então passou a atuar na
aproximação entre os setores governamentais, acadêmicos e privados, promovendo a inclusão
do ETR-BR no PBM, contribuindo, assim, para fortalecer a posição das terras raras nas
políticas de governo.
Os objetivos específicos desse programa são:
• construir sinergias empresariais no segmento de Elementos de Terras raras (ETR);
• integrar a oferta e a demanda de produtos ao longo da cadeia produtiva (insumos, bens
intermediários e produtos finais);
• desenvolver aplicações de produtos de base ETR;
• reduzir a dependência externa de produtos de base ETR;
• promover o domínio tecnológico de produtos de base ETR em todos os elos da cadeia;
• implantar a cadeia industrial de terras raras no Brasil.
A Figura abaixo ilustra as inter-relações entre os vários atores que estão tratando do tema
terras raras, colocando em destaque a governança de todo esse esforço.
28
Da Figura se pode observar as instâncias de tomada de decisão, caracterizando toda a inter-
relação entre os atores, que participam do esforço de viabilizar a implantação de uma cadeia
de terras raras.
Participantes:
Governança do Projeto ETR-BR
GT do Programa ETR BR
MCTIEstudo Técnico e Econômico
Projeto ETR BR
CGEECoordenação da Execução
COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO
MCTI - CGEE– MDIC –ABDI –MME - BNDES – CETEM
Consórcio Tecnológico Executivo:
ABDI/BNDESArticulação Empresarial
Consultorias nacionais e
internacionais
Empresas estratégicas
Demais Instituições de Governo
COMITÊ EXEC. IND. MINERAÇÃO - PBM
GTMCTI - CGEE– MDIC –MME -
ABDI –BNDES – CETEM – DNPM – CPRM -
Fonte: Extraído da apresentação de Miguel Nery (www2.camara.leg.br/a_camara/ altosestudos/miguel.nery)
Como atores principais figuram as empresas do setor ao longo da cadeia e as instituições do
Governo Federal, que tem participado com várias contribuições, desde a formação do GTI-ME
e do GASSME.
Percebe-se, ainda, a inserção de uma instância de coordenação geral que fica sob
responsabilidade do CGEE/MCTI, tendo o suporte de um consórcio tecnológico executivo
constituído pela FCERTI, CETEM/MCTI, IPT, UFSC, podendo, ainda, contar com o apoio de
outras instituições e/ou consultores.
Ainda, se observa que foi proposto um nível para tratar da articulação empresarial que estava
sendo liderado pela ABDI, em estreita colaboração com o MCTI, que conduziu estudos técnicos
e econômicos, assim como com o BNDES que participa dos esforços para viabilização dos
financiamentos. Todas essas informações e articulações foram tratadas pelo Grupo de
Trabalho do ETR-BR, que foi constituído por representantes do MCTI, CGEE, MME, ABDI,
BNDES, CETEM, DNPM e CPRM, os quais também participavam do Comitê Executivo da
Indústria de Mineração – PBM. Da Comissão de acompanhamento participavam
29
representantes do MCTI, CGEE, MDIC, ABDI, MME, BNDES e CETEM
(www2.camara.leg.br/a_camara/ altosestudos/Miguel.nery).
AÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
Conforme já citado, a partir do relatório do GTI-ME, o governo realizou ações mobilizando
ministérios (MME, MCTI, MDIC), mas também o Congresso Nacional, assim como articulando
com o setor industrial, num esforço para viabilizar a implantação da cadeia.
No caso específico do Senado, por iniciativa da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação,
Comunicação e Informática (CCTCI), foram realizadas cerca de 20 audiências públicas ao
longo de 2012-2013, as audiências visaram subsidiar a CCTCI para a elaboração de propostas
de maneira ao País aproveitar mais efetivamente as suas reservas de terras raras, mas
também inovar e produzir equipamentos de alta tecnologia.
A Revista Em Discussão, em seu nº 17, de setembro de 2013, publicou as contribuições dos
vários especialistas que participaram das audiências. O conteúdo dessas contribuições está
representado em 4 diferentes tópicos que contextualizam: “a importância das terras raras
para usos e aplicações de alta tecnologia; a situação atual brasileira (anos 2010-2013); a
avaliação do cenário mundial e, ao final, as várias sugestões para a formulação de propostas
de ações de modo a viabilizar a plena implantação da cadeia no Brasil” (Revista em Discussão
Nº 17/2013).
Há que se destacar, entre os desdobramentos das atividades dessa Comissão do Senado, o
relatório apresentado pelo relator, Senador Luiz Henrique da Silveira, da Subcomissão
Temporária de Ciência e Tecnologia (CCT), que propôs a inclusão de um capítulo específico
para as terras raras, no Marco Regulatório da Mineração, que estava em discussão no
Congresso Nacional desde junho de 2013.
Mais recentemente, em fevereiro de 2015, depois de uma série de audiências públicas e de
seminários realizados tanto na Câmara como no Senado, foi apresentado o Projeto de Lei do
Senado PLS 529/2013, por meio do qual se pretendia instituir o Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Tecnológico dos Minerais de Elementos de Terras raras e a Criação da
Cadeia Produtiva (PADETR).
O principal objetivo do PLS 529/2013 consistia, portanto, em “oferecer um marco regulatório
que assegure ao Brasil, independentemente de oscilações de preços no mercado internacional,
30
o domínio do conhecimento científico e tecnológico, como também da cadeia produtiva desses
elementos”.
Pela proposta, conforme seu relator, o PADETR seria “implementado pelo Poder Executivo e
deveria apoiar a articulação de empresas, institutos de pesquisa, parques tecnológicos e
universidades, com o objetivo de criar redes de trabalho que formatem projetos-piloto e de
pesquisa aplicada para os elementos das terras raras, privilegiando, ainda, o desenvolvimento
de novas aplicações e produtos”.
A proposta foi enviada à Câmara dos Deputados em 19/12/2014, tendo recebido parecer
favorável (PL 8235/2014) do relator da CCTCI da Câmara em 17/07/2015.
Em síntese, segundo o texto, “o Programa deverá receber recursos advindos do orçamento
anual do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT. O Executivo
poderá instituir regime especial de incentivo ao desenvolvimento da cadeia, mediante a
concessão de alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
(CFEM), do PIS/PASEP, do COFINS, do IPI e do imposto de importação”. Além disso, “prevê
incentivos a possibilidade de serem concedidos financiamentos em condições favoráveis,
regimes especiais de depreciação e procedimentos simplificados para a contratação de
serviços e aquisição de bens”.
Por outro lado, “o Executivo poderá determinar a cobrança de um imposto de exportação para
inibir a venda para o exterior de minerais e concentrados de terras raras, cuja transformação
possa ser desenvolvida no País”. (www.camara.gov.br/ web.PL8325/2014).
Sobre as ações do Centro de Estudos e Debates Estratégicos-CEDES
As principais articulações na Câmara dos Deputados também iniciaram a partir da divulgação
do relatório GTI-ME. Elas aconteceram quase que concomitantemente com as articulações
encetadas pelo MME e pelo MCTI.
Assim, ao tempo em que esses ministérios trabalhavam para a criação de um novo código de
mineração, paralelamente a Câmara, por meio de seu Centro de Estudos e Debates
Estratégicos-CEDES, se ocupava do tema, com interesse especial nos minerais estratégicos
e/ou considerados como os portadores de futuro, segundo outros estudos feitos à época,
sobre o tema.
As ações mais incisivas do CEDES iniciaram em 2012, quando durante a 9ª reunião de
trabalho do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara (CEAT) foi feita
31
uma apresentação pela Consultoria Legislativa aos membros do Conselho sobre minerais
estratégicos e a cadeia produtiva de terras raras da China.
A partir de então, em alinhamento com as proposições do GTI-ME, o CEDES passou a trabalhar
sistematicamente no tema, como mais um assunto de prioridade daquele Conselho.
Ainda em 2012 a Câmara dos Deputados publicou um extenso relatório preparado pela
Consultoria Legislativa, intitulado “TERRAS RARAS: Elementos Estratégicos para o Brasil”, no
qual o autor contextualiza: “o mercado mundial das terras raras; as políticas de P&D em terras
raras adotadas pela China, que lhe proporcionou a hegemonia do cenário mundial e fazendo
uma análise da situação, à época, do Brasil, abordando produção histórica; o potencial
geológico brasileiro, o potencial para novos projetos no Brasil; as instituições de pesquisa
atuantes no tema; finalizando com sugestões para se adotar uma política industrial especial
para esses elementos” (www2.camara.leg.br).
Em 2013 o mesmo CEDES patrocinou pelo menos dois eventos/seminários específicos sobre o
assunto. Em 26 de março realizou uma reunião sobre o estudo/relatório citado acima. O foco
do evento tratou das sugestões apresentadas naquele estudo de 2012. Uma das principais
recomendações do seminário apontava para “viabilizar a construção e/ou fornecer condições
materiais e recursos humanos para o Brasil ter um grande centro tecnológico de ponta para
dar suporte aos setores de transformação mineral, metalurgia e energias renováveis, de
maneira a agregar valor aos bens minerais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável”.
As exposições que foram seguidas de debates com os parlamentares, ficaram sob a condução
do Consultor Legislativo, que também autor do relatório Minerais Estratégicos e Terras raras
e do Sr. Secretário de Geologia e Transformação Mineral (SGM/MME).
Em 21 de maio de 2013 o CEDES organizou outro Seminário sobre o mesmo tema. O evento
aconteceu em um dos plenários das Comissões da Câmara, apresentando três rodadas de
discussão. “A primeira focou no tema “Uma Política para Terras raras e Minerais Estratégicos;
a segunda debateu A Construção da Cadeia Produtiva”, enquanto a terceira abordou sobre
Pesquisa, Lavra e Minerais Radioativos”. O evento reuniu autoridades como o Presidente do
CEDES e o Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral SGM/MME, assim
como representantes do setor da indústria de mineração (Instituto Brasileiro de Mineração –
IBRAM), do DNPM/MME e do CETEM/MCTI na primeira rodada de discussões.
Na segunda estiveram apresentando e debatendo sobre o tema, o Consultor Legislativo e
autor do estudo sobre terras raras, assim como representantes da INB/CNEN/MCTI e da
CPRM/MME. Na terceira rodada os apresentadores e debatedores representaram a
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ABDI/MDIC, a MBAC Fertilizantes Ltda., a SETEC/MCTI, a FCERTI e um representante da
Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados (www2.camara.leg.br/a-
camara/.../fdp/minerais_estrategivos_e_terras_raras).
Em 2014 foi publicado um livro texto sobre minerais estratégicos e terras raras, pertencente à
Série Estudos Estratégicos do Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos
Deputados. A publicação foi decorrente da realização de três seminários, sendo dois deles
organizados pelo CETEM (2011 e 2013), enquanto o outro foi realizado na Câmara dos
Deputados (2013), conforme citado anteriormente. Contribuíram ainda para o conteúdo dessa
publicação as exposições feitas durante a realização de audiências públicas, que contaram
com a presença de representantes do Executivo, do Legislativo e dos setores privados e
acadêmicos (Minerais Estratégicos e Terras raras, Estudos Estratégicos 12, Centro de Estudos
e Debates Estratégicos, Edição Câmara, Brasília, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao encerrar esse capítulo, entendemos ser pertinente registrar algumas considerações,
levando em conta não somente os fatos geradores da crise, mas também as respostas do setor
governamental brasileiro, no sentido de superá-la.
É fato, ainda, no momento em que se elabora esse texto, que a China continua sendo o player
dominante na produção e comercialização de terras raras (USGS, Mineral Commodities
Summers, 2014).
Entretanto, há uma evidência bastante consistente de que vários países e empresas do
Ocidente, mas também do Japão, Austrália e Coréia do Sul tem realizado ações no sentido de
eliminar a dependência do fornecimento desses insumos/produtos, até então, existente.
Nesse sentido vários trabalhos foram realizados nos últimos cinco anos, dentre os quais
citamos: o do US Department of Energy – 2011 – Critical Materials Strategy; o do Council on
Foreign Relations, intitulado Rare Earth Elements and National Security; a publicação South
African Institute of International Affairs, de autoria de Nicholas Jepson, intitulado A 21st
Century Scramble: South Africa, China and the Rare Earths Metals Industry, no âmbito do
Programa Sul Africano “Governance of Africa’s Resouces Programme”. Todas essas
publicações coletaram dados sobre a geopolítica das terras raras e as transformaram em
informações para subsidiar a elaboração de políticas para o seu melhor aproveitamento e uso
nos respectivos países de origem ou de suas empresas.
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Ainda, contribuiu decisivamente para referendar essa posição que nos parece sem retorno,
qual seja: a de que é objetivo estratégico de países e empresas eliminar a dependência do
fornecimento de commodities de terras raras pela China, veja –se nesse sentido o significativo
número de publicações editadas pelo USGS sobre o tema que somam 15 (quinze) relatórios
especiais sobre a geopolítica das terras raras no período 2010-2015
(HTTP://mineral.usgs.gov/mineral/pubs/commodities_rare_earths)
Em se tratando de Brasil, como já visto anteriormente, a movimentação não foi diferente.
O Brasil pode-se assim dizer, haja vista os desdobramentos desde a formação do GTI-ME,
caminhou para não somente eliminar a dependência dos chineses, mas também procurou
fomentar as condições necessárias para a instalação de uma cadeia produtiva abrangendo os
campos regulatórios, tributários, financeiros, de fomento a pesquisa e formação de recursos
humanos. Entretanto, aquela que nos parece a mais marcante dentre todos as ações que
sucederam, foi a decisão de instalar uma cadeia produtiva, a qual passou a ser prioridade,
estando incluída na política industrial do setor mineral, fazendo parte de uma das agendas
setoriais do Plano Brasil Maior.
Ao finalizar esses comentários e visando comparar a situação atual com momentos anteriores
(2010), passamos, a seguir, confrontar o avanço das propostas do GTI-ME, conforme
destacadas anteriormente nesse capítulo, com as ações articuladas pelos setores
governamentais e os resultados advindos, até então, dessa movimentação.
Proposição 1
Formação de GT para a articulação e coordenação das atividades de desenvolvimento do
segmento de terras raras. [MME/SGM, MCTI/SETEC e MDIC]
Desdobramentos 1
Como desdobramento imediato foi criado o Grupo de Assessoramento em Minerais
Estratégicos (GASSME), formado por representantes do CETEM/MCTI, SGM/MME,
CPRM/MME, DNPM/MME e MDC.
A partir da inclusão do Projeto ETR/BR, no âmbito do Plano Brasil Maior, as instituições que
participavam do GASSME foram inseridas também, nas discussões e no apoio técnico do
Grupo de Trabalho do ETR-BR, o qual foi ampliado com a inclusão de representantes do CGEE
e do BNDES.
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Proposição 2
Realização de diagnóstico e estudo prospectivo contando com a participação da universidade,
setor empresarial, consumidores e potenciais produtores. [MCTI/SETEC, MCTI/CETEM,
CGEE]
Desdobramento 2
No tocante a essa proposição os desdobramentos aconteceram por meio da realização de dois
estudos prospectivos, ambos patrocinados pelo MCTI e coordenados pelo CGEE.
O primeiro desses estudos resultou no relatório elaborado pela FCERTI, por meio do qual,
contando com a participação de um consórcio tecnológico formado pelo CETEM/MCTI, IPT,
UFSC, DNPM, foi possível caracterizar as quatro etapas da cadeia produtiva. Esse mesmo
estudo apresentou um conjunto de propostas detalhadas das ações para viabilizar a
implementação do negócio de imãs de terras raras no Brasil, identificando, ainda, os prováveis
parceiros do segmento empresarial em todas as etapas.
O outro estudo prospectivo foi uma nova encomenda da SETEC/MCTI, cabendo ao CGEE a sua
coordenação geral. O estudo resultou na publicação Usos e Aplicações de Terras raras no
Brasil: 2012-2030, ampliando o escopo do relatório elaborado, anteriormente, pela FCERTI.O
escopo desse estudo contemplou a construções de cenários prospectivos do mercado global
de terras raras e uma visão de futuro e objetivos de longo prazo (2030), no tocante à
explotação de terras raras no Brasil.
Foram elaborados, ainda, 5 (cinco) road maps tecnológicos para as cadeias de produtos
identificados como mais significativos no curto-médio prazo, a saber: a de ímãs permanentes,
catalisadores, ligas metálicas, fósforos e pós para polimento e fabricação de vidros e lentes
especiais.
Proposição 3
Implementação e/ou fortalecimento de programa de levantamento geológico detalhado,
conjugado com o apoio à exploração mineral pelo setor privado. [MME/DNPM e MME/CPRM]
Desdobramento 3
Nesse contexto há que destacar o avanço bastante significativo por conta das ações do DNPM
e CPRM, ambas autarquias públicas que são subordinadas ao MME.
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A partir de 2010 as ações da CPRM se intensificaram, visando a identificação de novas áreas
potenciais para a ocorrência de terras raras, mas também de outros elementos/minerais
considerados estratégicos.
Essas ações foram inseridas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC II), o qual previu
que será feita a avaliação do potencial geológico, assim como a total documentação
cartográfica do território nacional até 2016.
As ações do DNPM foram decisivas para confirmar em 2013 a existência de um volume de
terras raras, de classe Premium, na região de Araxá. A partir dessas ações o Brasil foi
confirmado como o detentor da segunda maior reserva mundial.
Proposição 4
Formatação de programas de P,D&I de longo prazo nas áreas de tecnologia mineral e
desenvolvimento de produtos com valor agregado, assegurando e promovendo a interação
entre ICT e empresas.[MCT/SETEC e MCT/CETEM]
Desdobramento 4
Esses desdobramentos foram integralmente levados adiante pelo MCTI, por meio não
somente de encomendas e lançamento de editais (MCTI/CNPq/CT-Mineral) para os
elementos de terras raras e minerais estratégicos, a partir de 2010.
Foram feitos investimentos da ordem de R$ 11 milhões de Reais no lançamento dos Editais
44/2010 e 76/2013. Os editais tiveram como objetivos; “fortalecer a retomada de P,D&I de
longo prazo em terras raras, incluindo a capacitação de recursos humanos, mas também na
melhoria de infraestrutura de pesquisa e a possibilidade de se estabelecer cooperações
internacionais”.
A encomenda feita ao CETEM, a partir do CT-Mineral para realização do Projeto
PROTERRARAS (2013-2016) é mais um exemplo da implantação da política do MCTI com
relação às terras raras.
Mais recentemente foi lançado o 2º Edital do Programa INCT, por meio do qual se pretende,
no horizonte de 3 anos, ter instaladas as unidades de demonstração das etapas de produção
de imãs de terras raras. Essas ações têm apoio da EMBRAPII, contando com a participação do
IPT, CETEM/MCTI, USP, ISI/SENAI, CBMM, IPEN/CNEN entre outros.
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Proposição 5
Identificação de demanda e integração em projetos inovadores em curso, com previsão de
grande consumo de terras raras (MCTI/SETEC, MCTI/CGEE, MDIC e MME/SGM).
Desdobramentos
Essa proposição foi materializada a partir da inclusão do Programa ETR-BR na agenda setorial
da atividade de mineração do PBM.
Os avanços foram tais que todos os atores que participam do esforço de implantar a cadeia
tem se reunido desde 2013 até a época de preparação desse texto (agosto 2015) para a sua
viabilização, sob a coordenação da ABDI.
Aos esforços do MME, MCTI, MDIC se somaram as contribuições do Congresso Nacional, a
partir das ações e articulações aportadas pelo Centro de Altos Estudos e Debates Estratégicos
(CEDES).
A maior recompensa se refletiu na aprovação do PADETR (PL 8235/2014), que prevê um
regime diferenciado para empresas que estiverem atuando na cadeia de terras raras,
habilitando-as a condições de financiamento favoráveis, a obtenção de incentivos fiscais e
adoção de procedimentos simplificados para contratar serviços e adquirir bens de capital
(Ref.: PL 8235/2014).
Proposição 6
Articulações público-privadas visando à identificação de nichos de oportunidades para a
produção no País de produtos de alta tecnologia com uso intensivo de compostos de terras
raras. [MCTI/SETEC, MME/SGM e MDIC/ABDI].
Desdobramento
Nesse contexto entendemos que a demanda apresentada pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI) à Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial (ABDI), a qual foi
atendida via MCTI/CGEE, resultando no já citado relatório do projeto do ETR-BR Empresarial,
apresentado pela FCERTI, foi o ponto de partida dessas articulações.
A partir da inclusão das ações preliminares executadas no Projeto ETR-BR Empresarial no
âmbito do PBM (2012), as articulações se intensificaram, pelo lado do Governo Federal,
sobremaneira, estando sob a coordenação da ABDI, a partir de então. Assim, tem estado
reunidos com freqüência todos os atores da cadeia, representados por algumas das empresas
de mineração (CBMM, VALE, TABOCA Mineração), que detém terras raras em suas jazidas, da
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mesma forma que alguns dos fabricantes que usam terras raras em seus produtos (BOSCH,
DELPHI, NIPPODENSO, TOYOTA, EMBRACO, IMPSA, MAGNETI MARELLI, VOITH, VOGES,
WEG, WOBEN), junto com atores do Governo Federal (MCTI, MME, MDIC, FINEP, BNDES,
CGEE, ABDI) e do grupo de institutos de pesquisa e universidades (CETEM, UFSC, IPT, FCERTI
e outros parceiros em rede) para viabilizar essa empreitada.
Tomando como base as os desdobramentos apontados, pode-se afirmar que houve um
sinergismo positivo entre o setor público e o privado, no tocante aos esforços para
implantação de uma cadeia produtiva de terras raras no Brasil.
As ações no âmbito do Congresso Nacional foram decisivas para destacar condições especiais
para a explotação de terras raras, concedendo espaço, diálogo e incentivo às várias empresas
que tenham interesse em participar da cadeia. Nesse sentido o PADETR e o PL 8235/2014
tem papel fulcral.
As articulações feitas pelos MDIC, MCTI e MME atingiram seus objetivos no sentido de
aproximar os vários blocos de atores com interesse no tema e de criar condições favoráveis
para que se estabelecessem bases legais para a instalação da cadeia. Da mesma forma sucedeu
para fortalecer os grupos de pesquisa, capacitar recursos humanos, melhorar infraestrutura
de P,D&I, assim como para confirmar da existência de reservas nacionais capazes de suprir a
cadeia.
Nesse mister há que se referir que as ações coordenadas do DNPM e da CBMM (Companhia
Brasileira de Metalurgia e Mineração) comprovaram na jazida da empresa, em Araxá-MG, a
segunda reserva mundial de ETR, até então reconhecida.
Em razão disso, a empresa avançou no sentido da explotação desses elementos. Desde 2013
tem em operação uma planta que recupera compostos de ETR, como co-produto da sua
produção de nióbio.
A partir do domínio da produção de óxido de didímio (mistura dos óxidos de praseodímio e
neodímio), evoluiu junto com o IPT para dominar a etapa de redução da liga de
didímio/ferro/boro, que é a base para a fabricação dos imãs permanentes de alto
desempenho, que são specialties de elevado conteúdo tecnológico e valor agregado.
A partir desses resultados abrem-se, portanto, perspectivas para se estabelecer uma relação
virtuosa entre as empresas de mineração que detém ETR em suas jazidas e as de
transformação em produtos de alta tecnologia, comprovada pelos resultados práticos já
demonstrados.
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Há que se destacar que outras empresas brasileiras de mineração, no momento, também
reavaliam suas jazidas, no tocante aos ETR.
A partir do que foi relatado é de se esperar que o Brasil no médio-longo prazo tenha uma
cadeia produtiva de terras raras, bem estruturada, competitiva, e sustentável.
Referências
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HATCH, G.Introducing The TMR Advanced Rare-Earth Projects Index, January 7, 2011.
HATCH, G. The TMR Critical Rare Earths Report, August 16, 2011.
HUMPHRIES, M.Rare Earth Elements: The Global Supply Chain Congressional Research Service Rport, Sept. 2011.
JEPSON, W.A 21st Century Scramble: South Africa, China and the Rare Earths Metals Industry, SAIMN, March 2012.
KENNEDY, J.Critical and Strategic Failure of Rare Earth Resources. Society for Mining, Metallurgy and Mining, SME 2010, Phoenix Annual Meeting. Technical Paper and Power Point Presentation.
LAPIDO-LOUREIRO, F.E.O Brasil e a reglobalização da indústria das terras raras, Rio de Janeiro: CETEM/ MCTI, 2013, 216 p.
LONG et al.The Principal Rare Earth Elements Deposits of the United States—A Summary of Domestic Deposits and a Global Perspective. USGS Scientific Report 2010-5220, 2010.
U.S. Department of the Interior.Rare Earths Statistics and Information, USGS, 2010.
YACINE, J.P.Terres rares:la face cachée du monopole chinois. 2010. [www.questionchine.net] (acesso em 30/08/10).