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Imagine tomar banho de mar pela manhã na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, e, à tarde, agasalhar-se um pouco mais e caminhar pelas alame-das que entornam a Avenida Paulista, centro fi nanceiro da maior cidade da América La-tina. Imagine pagar menos de R$ 115 e fazer este trajeto, por terra, em no máximo duas ho-ras. Se depender do BNDES (Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico e Social), do BID (Banco Interamerica-no de Desenvolvimento) e do governo brasileiro, isso em breve será possível. Se tudo sair como o planejado, até 2014 paulistas, cariocas e turistas po-derão usufruir do Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligará as duas principais capitais e fará o Brasil entrar para o seleto grupo dos países que dispõem deste tipo de tecnologia.

Em março de 2009 ocor-rerá o leilão de concessão que dará ao País a opção do trans-porte ultra-rápido. O projeto, que será entregue pronto ao governo, está sendo estrutu-rado pelo BNDES e BID. As informações para os grupos interessados na disputa pelo leilão devem ser divulgadas nos próximos dias pela ANTT (Agência Nacional dos Trans-portes Terrestres), responsável pelo processo de concessão.

Estima-se que o investimen-to para a construção do trem gire em torno de R$ 20 bilhões, mas o ponto fundamental para se defi nir o valor ainda está em aberto. Segundo o BNDES, a rota a ser percorrida não está defi nida, o que faz com que a perspectiva de preço ainda seja uma incógnita. Nas próximas semanas será divulgada a linha defi nitiva do trajeto de aproxi-madamente 500 quilômetros que irá unir, possivelmente, a Estação Leopoldina, na capital fl uminense, à Estação da Luz, em São Paulo. O projeto ainda estuda a possibilidade de es-calas. Uma já confi rmada pela Secretaria Estadual de Trans-portes do Rio de Janeiro é o Aeroporto Internacional Tom Jobim. Outra será em Viraco-pos, Aeroporto de Campinas, no interior paulista. As demais ainda estão sendo estudadas. Segundo o secretário estadual de Transportes do Rio de Janei-ro, Júlio Lopes, para cada para-da existirá uma infra-estrutura integrada com as necessidades da região. “Elas irão fomentar o desenvolvimento econômico das cidades”, analisa.

De acordo com o BID, a velocidade que o trem-bala irá atingir não está defi nida. Ela

Um trem para chamar de nossoA maior obra da história recente do País está a ponto de ser iniciada. O Trem de Alta Velocidade que ligará Rio a São Paulo já é uma realidade e pode colocar o Brasil no seleto grupo dos países que dispõem deste tipo de tecnologia como Japão, China, França e Alemanha

dependerá do tempo despen-dido em cada deslocamento. A idéia é que a viagem entre São Paulo e Rio de Janeiro dure em média duas horas, e a dis-tância entre a capital paulista e o aeroporto de Campinas seja percorrida em 30 minutos. Levando em conta o tempo, a velocidade média do trem-bala será em torno de 200 km/h, diminuindo em zonas urbanas e aumentando em áreas aber-tas. Tudo isso para suprir uma demanda que, estima-se, atinja os 32 milhões de passageiros anualmente.

A VIABILIDADE De acordo com Marcus

Quintella, doutor em Enge-nharia de Produção, mestre em Transportes e professor do IME (Instituto Militar de Engenharia) e da FGV (Fun-dação Getúlio Vargas), a obra é viável. Porém, ele assinala que toda a tecnologia necessá-ria para a construção do trem deverá ser importada. Fran-ça, Alemanha, Coréia, Japão e China estão entre os países que fabricam e irão fornecer fer-ramentas e maquinários, que inclui material rodante e siste-mas de controle operacional, sinalização e eletrifi cação. No que diz respeito à infra-estru-tura ferroviária, segundo ele, não haverá problema, pois o Brasil possui engenharia civil forte, reconhecida internacio-nalmente.

Em relação ao caminho que deverá ser percorrido pelo ve-ículo, a hipótese anteriormen-te cogitada de que ele se daria pela Via Dutra, está, conforme Quintella, descartada. “Essa idéia não existe, visto que um traçado para atender o trem-bala deve ser o mais retilíneo possível, com rampas pouco

acentuadas e curvas de raios longos. Por isso fala-se em tan-tos túneis e viadutos”, explica. Sobre os custos de investi-mentos da obra, o engenheiro afi rma que difi cilmente serão bancados apenas pela iniciativa privada. “Em todos os projetos de trem-bala da Europa e Ásia, o dinheiro público está presen-te, tanto na fase de construção como na fase de operação. Te-nho absoluta certeza de que o estudo do BNDES apresentará uma modelagem fi nanceira ba-seada em investimentos públi-cos e privados”, acredita.

OS PRAZOS

A expectativa do governo é que até 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, o País já disponibilize a nova tecno-logia para deslocamento dos turistas. Mas, de acordo com perspectivas feitas por Quin-tella, considerando os pro-cessos licitatório (ou leilão de concessão), de licenciamento ambiental e a elaboração do projeto executivo, a obra po-derá começar apenas no fi nal de 2010. “Caso não ocorram interrupções no fl uxo de re-cursos fi nanceiros, ou proble-mas ambientais, técnicos, eco-

nômicos, jurídicos e políticos, a conclusão do projeto poderá acontecer em oito anos, num cenário otimista”, calcula.

A AVIAÇÃOAtualmente a ponte aérea

Rio-São Paulo movimenta em torno de quatro milhões de passageiros por ano. A ponte rodoviária, cerca de três mi-lhões. De acordo com o espe-cialista, a perspectiva não é oti-mista em relação ao transporte aéreo. Caso o trem seja conclu-ído, explica, abocanharia cerca de 80% da fatia do mercado. O restante seria dividido en-tre avião, ônibus e automóvel. “Isso já ocorreu na Europa, como, por exemplo, nos tre-chos entre Paris e Bruxelas e Paris e Lyon, onde o trem-bala detém mais de 80% do merca-do de transporte de passagei-ros”, lembra.

A POSIÇÃO DO GOVERNO

“O que é certo, é que esta ligação Rio-São Paulo vai pro-porcionar o aumento conside-rável da freqüência das pessoas entre as duas cidades, agregan-do demanda e trazendo mais desenvolvimento para as duas metrópoles, que concentram grande parte da economia do país”. A frase traduz o otimis-mo de Júlio Lopes, que afi rma acreditar que esta seja a mola propulsora

para a união das duas cidades e da futura formação de uma grande e única megalópole na região sudeste. “Tenho con-vicção de que o trem-bala irá mudar radicalmente a realidade das duas capitais. Queremos trazer para o Brasil o que há de mais inovador no mundo, uma vez que o TAV (Trem de Alta Velocidade) possui uma das tecnologias mais desenvolvidas em termos de transporte, com raros casos de acidentes nos países que o adotaram”.

Segundo dados de uma pesquisa encomendada ao Ibope pela Secretaria Estadu-al de Transportes do Rio de Janeiro, 86% das pessoas tro-cariam outros meios de trans-porte pela segurança, rapidez e o conforto do trem-bala. Embora sejam regiões próxi-mas, 68% dos paulistas pes-quisados ainda não visitaram o Rio e 71% das pessoas iriam ao Estado vizinho com mais freqüência. O Instituto ouviu dois mil moradores do Rio e de São Paulo, com idades en-tre 18 e 65 anos, e constatou que 95% dos entrevistados afi rmaram que o trem-bala se-ria a melhor opção de viagem entre as duas cidades. “Na mi-

nha opinião, só mesmo

uma crise de mobilidade pode explicar porque cidadãos que vivem tão próximos nunca tenham visitado o Estado vi-zinho. Certamente, o TAV vai alterar essa realidade con-tribuindo para que tenhamos cidades mais próximas, e um desenvolvimento cuja ampli-tude ainda não podemos tra-çar”, acredita Lopes.

CONTRAPONTOPara Marcus Quintella, a

construção viria a atropelar de-mandas mais urgentes de mo-bilidade urbana. “Penso que as metrópoles do Rio e São Paulo estão com gravíssimos proble-mas de transporte público e ca-beria aos tomadores de decisão governamentais uma avaliação se este projeto seria mais im-portante para essas cidades do que, por exemplo, a construção de mais linhas de metrô, trens urbanos e corredores expres-sos sobre pneus, entre outras melhorias nos sistemas viários dessas capitais”.

O professor

ainda alerta para problemas decorrentes da possível de-sorganização na estrutura das estações. “Para recebe-rem o trem-bala, tanto o Rio como São Paulo necessitarão de grandes investimentos no entorno de suas estações ter-minais e em seus sistemas de transporte público, para terem condições de atender decente-mente a demanda de passagei-ros. Caso contrário, os termi-nais de acesso ao trem poderão se transformar num grande gargalo, criando, com o tempo, problemas para os usuários, que voltarão a desejar o avião”, prevê.

A OPINIÃO DO TRADE A OPINIÃO DO TRADE

Na opinião de Leonel Ros-si, diretor de assuntos interna-cionais da Abav (Associação Brasileira de Agências de Via-gens), se o projeto sair do papel, tratá benefícios

para inúmeras áreas. “Ter um transporte rápido e moderno é sempre bom para o turismo, até mesmo para fazê-lo ser di-ferenciado. No transporte de executivos também será óti-mo”, analisa, com algumas res-salvas: “Ouço falar nesse trem desde criancinha. Quero ver pronto”. Quanto à preparação das agências de viagens para a mudança, Rossi afi rma ainda não ser o momento. “Não há uma preocupação nesse senti-do. A licitação vai estar pronta ano que vem, e essas coisas de-moram no Brasil. Vai levar no mínimo cinco anos para fi car pronto”, acredita.

Para o presidente da ABIH-SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo), Maurício Bernardino, o

projeto é positivo em todos os aspectos. “É muito bom. Nós esperamos por isso há tempo. O trem irá ajudar na confra-ternização das duas maiores cidades do País: Rio de Janei-ro, com turismo de recreativo, e São Paulo, com turismo de negócios. Será bom não ape-nas para a população de cada cidade, mas para estrangeiros e pessoas de outros Estados. As escalas nos aeroportos se-rão muito positivas, pois irão facilitar a locomoção dos visi-tantes”, explica. Ele ratifi ca a importância do investimento também para a consolidação da capital fl uminense como sede

da Copa do Mundo de 2014 e, possivelmente, das Olimpíadas de 2016. “O Rio não tem ho-téis sufi cientes para acomodar as delegações e os turistas que virão assistir aos jogos”. São Paulo possui uma infra-estru-tura melhor nesse sentido. O trem seria um facilitador, pois aproximaria as duas cidades”. Bernardino afi rma ainda que a ABIH e todo o trade turís-tico torcem para que a obra se concretize. “Estamos com uma expectativa muito grande em relação ao trem-bala e dis-postos a colaborar no que for preciso para que o projeto saia do papel”, conclui.

Caroline Bicocchi / JT

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