UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
Trauma crânio encefálico em vítimas de causas externas
atendidas em um serviço de emergência médica
Magaly Suênya de Almeida Pinto
Dissertação apresentada à Universidade Estadual da
Paraíba - UEPB, em cumprimento dos requisitos
necessários para obtenção do título de Mestre em
Saúde Pública, Área de concentração Saúde Pública.
Orientador: Profº. Drº. Alessandro Leite Cavalcanti
CAMPINA GRANDE - PB
2013
Trauma crânio encefálico em vítimas de causas externas
atendidas em um serviço de emergência médica
Magaly Suênya de Almeida Pinto
Dissertação apresentada à Universidade Estadual da
Paraíba - UEPB, em cumprimento dos requisitos
necessários para obtenção do título de Mestre em
Saúde Pública, Área de concentração Saúde Pública.
Orientador: Prof. Dr. Alessandro Leite Cavalcanti
CAMPINA GRANDE - PB
2013
É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa
como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins
acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título,
instituição e ano da dissertação
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
P659t Pinto, Magaly Suênya de Almeida.
Trauma crânio encefálico em vítimas de causas
externas atendidas em um serviço de emergência médica
[manuscrito] / Magaly Suênya de Almeida Pinto. – 2014.
70 f.
Digitado
Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) –
Universidade Estadual da Paraíba, Pró-Reitoria de Pós-
Graduação e Pesquisa, 2014.
“Orientação: Prof. Dr. Alessandro Leite Cavalcanti,
Departamento de Odontologia”.
1. Epidemiologia. 2. Traumatismos. 3. Acidentes. I.
Título.
21. ed. CDD 614.4
FOLHA DE APROVAÇÃO
Nome do Candidato: Magaly Suênya de Almeida Pinto
Título: Trauma Crânio Encefálico em Vítimas de Causas Externas Atendidas em um Serviço
de Emergência Médica
Orientador: Prof. Dr. Alessandro Leite Cavalcanti
Dissertação apresentada à Universidade Estadual da
Paraíba - UEPB, em cumprimento dos requisitos
necessários para obtenção do título de Mestre em Saúde
Pública, Área de concentração Saúde Pública.
Aprovada em: 26 de Agosto de 2013
Banca Examinadora
Assinatura: ____________________________________________
Prof. Dr. Alessandro Leite Cavalcanti
Universidade Estadual da Paraíba
Assinatura: ____________________________________________
Prof. Dr. Jovany Luis Alves de Medeiros
Universidade Estadual da Paraíba
Assinatura: ____________________________________________
Profa. Drª. Renata de Souza Coelho Soares
Universidade Estadual da Paraíba
Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como
um oceano, só porque existem algumas gotas de
água suja nele, não quer dizer que esteja sujo por
completo.
Mahatma Gandhi
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Francisco Pinto e Rita Paula (em
meu ♥), pela dedicação intensa e por nunca medirem
esforços que favorecessem o meu desempenho
pessoal e profissional, e acima de tudo por
acreditarem em mim.
Ao meu esposo, Hálamo Abrantes, pelo
companheirismo e cumplicidade sempre dispensados
no decorrer desse trajeto, pessoa fundamental na
concretização dessa vitória.
AGRADECIMENTOS
Á Deus, que em sua imensa bondade me permitiu o dom da vida, e me deu forças e
determinação suficientes para enfrentar, ousar e conseguir concretizar o meus sonhos;
Aos meus pais por me ensinarem os seus princípios e fazerem de mim o que sou hoje;
Ao meu amor, marido, namorado, amigo, companheiro de todas as horas, Hálamo Abrantes,
por ter enfrentado junto comigo essa empreitada, sem você indubitavelmente, tudo teria sido
bem mais difícil;
A todos os meus irmãos: Lourdes, Francisca, Francinalda, Socorro, Franklin, José Noilton e
Espedito, por acreditarem sempre no meu potencial e torcerem para que tudo de bom
acontecesse em minha vida;
Aos meus sobrinhos: Andrielly, Romerito, Morgana, Roger, Viviane, Valdeci Júnior, Victor,
Nadja, José Alfredo, Hericka, Hermesson, Taíse e Thamiris pelo amor, respeito e
credibilidade sempre dispensadas;
A todos os meus cunhados Valdeci, Francisco Coelho, Marta, Irene, Luciana, João Júnior e
Helliton por estarem sempre na torcida e acreditarem que tudo daria certo;
Aos meus sogros Zilda e João Abrantes, especiais demais em minha vida, por acreditarem e
torcerem tanto pelo meu crescimento profissional e pessoal.
A Alessandro Leite Cavalcanti, meu tutor acadêmico, pessoa ilumunada, colocada por Deus
em meu caminho para que com sua simplicidade me transmitisse sua sabedoria que me
conduziria nos caminhos da pesquisa e da docência, além de orientador, amigo, sempre na
torcida e acima de tudo respeitando e apoiando minhas decisões.
A amável Solange Costa, por servir de espelho na minha trajetória acadêmica, exemplo de
profissional admirável, sempre apontando soluções e direcionando os melhores caminhos,
com o seu coração de mãe sempre está disposta contribuir.
Aos professores da banca Drº Jovany Medeiros e Drª Renata Soares, que dispuseram de seus
conhecimentos e prontamente colaboraram com o meu trabalho.
A todos que compõe o corpo docente da UFCG-Campus Cajazeiras, em especial: Profºs:
Cezário, Fábio, Veruscka, Kennia, Arieli, Milena, Allisan, Antônio, não podendo esquecer de
Eliane, pessoas amáveis que me acolheram, acreditaram em meu profissionalismo e tenho
certeza que posso contar sempre que precisar.
A minha amiga querida Kaline Coeli, pessoa iluminada que Deus me permitiu conhecer e
contar com sua amizade.
A todos os colegas de sala, em especial, aos que demonstram até hoje um contato mais
estreito: Regiane, Iris, Thaliny, Amanda, Paula Renata, por tornarem as dificuldades mais
fáceis de serem superadas.
A todos que compõe a família SAME, em especial a Patrícia, Júnior, Dorivaldo, Alisson,
Sueli, Aninha e Edilane, por estarem sempre ajudando no que eu precisava, me apoiando
deixando-me sempre a vontade para que eu pudesse me sentir em casa.
Enfim, a todos os meus amigos que estiveram sempre na torcida direta ou indiretamente, o
meu muito obrigado.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................15
1.1. Traumatismo Crânio-Encefálico......................................................................................16
1.1.1. Epidemiologia.............................................................................................................16
1.1.2. Etiologia......................................................................................................................17
1.1.3. Fisiopatologia..............................................................................................................18
1.1.4. Classificação ...............................................................................................................19
1.1.5. Diagnóstico.................................................................................................................21
1.1.6. Tratamento..................................................................................................................22
2. OBJETIVOS.......................................................................................................................24
2.1. Objetivo geral..................................................................................................................24
2.2. Objetivos Específicos......................................................................................................24
3. METODOLOGIA..............................................................................................................25
3.1. Tipo de Estudo................................................................................................................25
3.2. Local do Estudo ..............................................................................................................25
3.3. População/Amostra.........................................................................................................25
3.4. Instrumento da Coleta de Dados....................................................................................26
3.5. Procedimento da Coleta de Dados.................................................................................27
3.6. Processamento e Análise Estatística...............................................................................27
3.7. Aspectos Éticos ..............................................................................................................27
4. RESULTADOS.................................................................................................................28
Artigo I – Perfil Epidemiológico das Vítimas de Traumatismo Crânio-Encefálico
Associado ou não a Fraturas, em um Hospital de Emergência.............................................29
Artigo II – Traumatismo Crânio-Encefálico em Idosos.......................................................44
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................59
6. REFERÊNCIAS................................................................................................................60
APÊNDICE............................................................................................................................63
APÊNDICE A – Instrumento para Coleta de Dados.........................................................64
ANEXOS................................................................................................................................67
ANEXO A – Termo de autorização para realização da Pesquisa.....................................68
ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa......................................................69
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
APVP: Anos Potenciais de Vida Perdido
ATLS: Advanced Trauma Life Support
CID: Classificação Internacional de Doenças
DLM: Desvio de linha média
ECGl: Escala Coma Glasgow
Hab/ano: habitantes por ano
HIC: Hipertensão intracraniana
SAME: Setor de Arquivo Médico e Estatístico
SIM: Sistema de Informação sobre Mortalidade
SIH/SUS: Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde
SISNEP: Sistema Nacional de Informação sobre ética em Pesquisa
SUS: Sistema Único de Saúde
TCE: Traumatismo cranioencefálico
TCC: Tomografia Computadorizada de Crânio
UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a ciência e cultura
LISTA DE SÍMBOLOS
% - Percentual
± - Mais ou Menos
˂ - Menor que
n - Frequência absoluta
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Estudos epidemiológicos referentes ao Trauma Crânio Encefálico.................17
Quadro 2: Parâmetros da Escala de Coma de Glasgow........................................................19
Quadro 3: Escore Tomográfico de Marshall..........................................................................22
Quadro 4: Distribuição das variáveis estudadas.....................................................................26
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
Artigo 1
Tabela 1 – Distribuição das vítimas com TCE segundo a faixa etária, o sexo e a razão entre os
sexos..........................................................................................................................................34
Tabela 2 – Associação entre o mecanismo do trauma e o sexo da vítima...............................35
Gráfico 1 – Distribuição das ocorrências de acordo com o dia da semana.............................35
Tabela 3 – Associação entre o mecanismo do trauma e a gravidade do TCE.........................36
Tabela 4 – Distribuição das vítimas segundo a região fraturada e o tipo de fratura................37
Tabela 5 – Associação entre a faixa etária, escala de coma de Glasgow e classificação de
Marshall e ocorrência de óbito..................................................................................................38
Artigo 2
Tabela 1 – Distribuição das vítimas segundo o sexo e faixa etária..........................................51
Gráfico 2 – Distribuição das ocorrências de acordo com o dia da semana..............................52
Tabela 2 – Associação entre a ocorrência de acidente de transporte e queda e a faixa etária do
idoso..........................................................................................................................................52
Tabela 3 – Associação entre a ocorrência de queda e acidente de transporte e a presença de
fratura óssea..............................................................................................................................53
Tabela 4 – Associação entre a faixa etária e gravidade do TCE e a existência de óbito.........54
Tabela 5 – Associação entre a classificação de Marshall e a ocorrência de óbito...................54
RESUMO
Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico de pacientes vítimas de traumatismo
crânioencefálico por causas externas atendidas em um serviço de emergência médica.
Métodos: Estudo transversal com amostra composta por 958 prontuários de pacientes com
diagnóstico de traumatismo crânioencefálico atendidas no Hospital de Emergência e Trauma
Senador Humberto Lucena em João Pessoa/PB, no período de janeiro a dezembro de 2011. O
instrumento de pesquisa consistiu de um formulário contendo as seguintes variáveis: sexo,
faixa etária, dia da semana e horário da ocorrência do trauma, mecanismo do trauma, presença
e tipo de fratura, Escala de Coma de Glasgow, gravidade do traumatismo crânioencefálico,
classificação de Marshall e ocorrência de óbito. Realizou-se análise descritiva dos dados
através do Software SPSS 18. Para as análises bivariadas foram empregados os Testes do
Qui-Quadrado e Exato de Fisher, considerando-se o valor de significância estatística (p <
0,05).
Resultados: Dentre as vítimas, predominaram indivíduos do sexo masculino (84,1%), com
idade entre 20 e 29 anos (26,9%). Os acidentes de transporte e as quedas foram os
mecanismos mais frequentes (62,8% e 20,4%) respectivamente, uma alta mortalidade foi
observada entre os que apresentaram Glasgow ≤ 8 (53%) e Marshal classe III (63,6%) e IV
(100%). Com relação à população idosa, o sexo masculino (64,4%) foi o mais atingido, com
as quedas (62,5%) predominando em relação aos acidentes de transporte (31%). Verificou-se
significância estatística entre a ocorrência de acidente de transporte e a presença de fratura
(p<0,001; RP=4,38 [1,75-10,98]), sendo os traumatismos leves (72,1%) os mais frequentes
nessa população.
Conclusão: Adultos jovens do sexo masculino destacam-se na ocorrência dos traumatismos
Crânio Encefálicos. As principais etiologias foram os acidentes de transporte e as quedas,
predominando os traumatismos leves.
DESCRITORES: Traumatismos Encefálicos, Causas externas, Epidemiologia.
ABSTRACT
objective: To describe the epidemiological profile of victims from traumatic brain injury by
external causes at medical emergency service
Methods: Cross sectional study with a sample of 958 medical records of patients diagnosed
with traumatic brain injury treated at Hospital Emergency and Trauma Senador Humberto
Lucena in João Pessoa / PB, from January to December 2011. The survey instrument
consisted of a form with the variables: sex, age, day of week and time of occurrence of
trauma, injury mechanism, presence and type of fracture, Glasgow Coma Scale, severity of
traumatic brain injury, Marshall classification and deaths. Was used SPSS 18 software for
data analyzes. In case of bivariate analyzes were employed Chi-Square and Fisher Exact tests,
was considered statistical significance value same (p<.05).
Results: Among the victims, there was a predominance of males (84.1%), aged between 20
and 29 years (26.9%). Transport accidents and falls were the most common mechanisms
(62.8% and 20.4%) respectively, a high mortality was observed among those who had
Glasgow ≤ 8 (53%) and Marshall class III (63.6%) and IV (100%). In elderly population there
was predominance of male (64.4%) with falls (62.5%) being the more frequent than transport
accidents (31%). There was statistical significance between the occurrence of traffic accidents
and presence of fractures (p <0.001, PR= 4.38 [1.75 to 10.98]), with the mild trauma (72.1%)
the most frequent in this population.
Conclusion: Young adult males stand out in the occurrence of traumatic brain injury. The
main etiologies are falls and transport accidents, there was predominance of mild trauma.
Keywords: Traumatic Brain Injury, External Causes, Epidemiology.
15
1. INTRODUÇÃO
Atualmente os acidentes e violências são enquadrados pelo Ministério da Saúde, de
acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) como causas externas1, as quais
vem sofrendo um crescimento acelerado, afetando a morbimortalidade da população gerando
ônus econômicos e sociais elevados, inclusive gastos hospitalares2. Configura-se, portanto,
como importante problema de saúde pública, particularmente, em países de baixa e média
renda3.
As causas externas podem ser definidas como todos os acidentes e violências que
provocam algum tipo de lesão física, mental ou psicológica, podendo evoluir ou não para
óbito1. Esse tipo de agravo pode ser classificado como lesões intencionais, as quais são
representadas pelas agressões, homicídios, suicídios, privação ou negligência, e lesões não
intencionais, que abrangem os acidentes de transporte, afogamentos, queimaduras, entre
outros4, sendo responsáveis por grande parte de óbitos em todo o mundo
5.
Durante a década de 90, os Estados Unidos apresentavam os homicídios como o
principal responsável por mais anos potenciais de vida perdidos (APVP) do que todos os
acidentes, cânceres e doenças cardiovasculares entre homens jovens e negros e entre mulheres
negras abaixo dos 44 anos6. Desde então, vários estudos têm sido conduzidos, em que o porte
de armas e mortes relacionadas à violência tem se excedido em relação a outros países
industrializados7.
Na África, as causas externas configuram a segunda causa de morte, sendo os fatores
etiológicos mais frequentes as guerras e homicídios1. A Rússia apresenta-se nesse mesmo
panorama8, entretanto, na Europa, nos países do Leste Mediterrâneo e Sudeste da Ásia, se
constituem na terceira causa de morte, de modo que o perfil etiológico varia de região para
região1.
As causas externas, consideradas por especialistas como uma epidemia, assumem a
segunda causa de morte no Brasil, e representam 15% do total de óbitos1. Pesquisa realizada
demonstrou que a taxa de lesões fatais por 100 mil habitantes em 2003 foi de 14,8 entre
adolescentes de 10 a14 anos e de 74,7 entre indivíduos de 15 a 19 anos9. Particularmente, em
Recife/PE, uma das cidades mais violentas do Brasil, a maior taxa de mortes entre
adolescentes foi por homicídios10
.
Em 2009, no Brasil, as causas externas foram responsáveis por mais de 213 mil
internações de pacientes menores de 19 anos, nos hospitais que integram o Sistema Único de
16
Saúde (SUS)11
. Entre indivíduos de cinco a 39 anos tornaram-se o primeiro fator de morte,
especialmente os homicídios e os acidentes de trânsito. Os acidentes e violências são
fenômenos mais claros nas áreas urbanizadas, que acumulam 75% dos casos1.
Estudo realizado em São José dos Campos/SP apontou os acidentes de transporte
como responsáveis por 31,8% dos casos de internação, seguido das quedas com 26,7% das
ocorrências, sendo a razão entre os sexos masculino e feminino por causas externas de 3,1:1,
com a faixa etária predominante entre 20-29 anos. Nos acidentes de transporte, essa razão foi
de 4,2:1, e nas agressões, de 3,5:112
.
Durante o ano de 2004 foram registradas no Sistema de Informação sobre Mortalidade
(SIM), 127.470 mortes decorrentes de acidentes e violências, cujo coeficiente foi
71,2/100.000 habitantes13
. Em 2005 foram registradas 127.633 mortes, correspondendo a
aproximadamente 12% do total, representando um coeficiente de mortalidade de 69/100.00
habitantes11
. No ano de 2006 foram registrados 128 mil óbitos de brasileiros em decorrência
de acidentes e violências, dos quais 49.145 (38%) foram vítimas de homicídios (TM =
26,3/100.000 habitantes) e 37.249 (29%) de acidentes de transporte (TM = 19,9/100.000
habitantes)12
.
Em 2005, ocorreram mais de 11 milhões de internações no País, sendo que 788 mil
foram decorrentes de causas externas11,13
ocasionando um custo estimado em R$ 594 milhões,
representando 8,5% do total pago para todas as internações11,12
.
1.1. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO (TCE)
Dentre as lesões ocasionadas por causas externas, merece destaque o trauma
cranioencefálico devido a sua elevada prevalência, alta mortalidade e incapacidade física
parcial ou total. O TCE caracteriza-se como uma injúria que lesiona de forma isolada ou
combinada, provocando comprometimento funcional permanente ou transitório do couro
cabeludo, crânio, meninges ou encéfalo, causado por uma força externa14-16
. Pode ainda ser
definido como uma lesão do crânio ou do cérebro que é suficientemente grave para interferir
no funcionamento normal17
.
1.1.1. Epidemiologia
17
Cerca de 1,5 milhões de pessoas morrem e centenas de milhões requerem tratamento
emergencial por ano em todo o mundo devido ao TCE18
. Entre indivíduos de 1 a 44 anos é o
principal determinante de morbidade, incapacidade e mortalidade19
. Em função das
morbidades e incapacidades geradas, há um alto custo com a recuperação, além de muitas
vezes comprometer a qualidade de vida das vítimas15,20,21
.
Nos Estados Unidos, cerca de 50 mil vítimas com TCE morrem antes de chegar ao
hospital, entre 15 a 20 mil falecem após atendimento hospitalar e outros 50 mil irão evoluir
com sequelas neurológicas de maior e menor gravidade22
. A incidência geral do TCE, nos
Estados Unidos foi estimada em 538,2 por 100.000 habitantes, ou cerca de 1,5 milhões de
novos casos no ano de 200323
.
Na Europa, estima-se uma taxa de 235 por 100 mil habitantes24
, sendo que na
Inglaterra, 5% de todos os internamentos pediátricos foram por TCE, com presença de
sequelas neurológicas em cerca de 3.000 crianças por ano25
. Na Austrália há uma taxa de 322
por 100.000 habitantes vítimas de TCE por ano26
.
No Brasil, a incidência cresce a cada dia, sendo a maior causa de morte entre
indivíduos na faixa etária de 10 a 29 anos. Em todo país, são mais de 100 mil vítimas fatais,
com estimativa de uma morte para cada três sobreviventes, que evoluem com sequelas
graves27
.
O quadro 1 apresenta dados epidemiológicos referentes a ocorrência de TCE em
diferentes locais.
Quadro 1: Estudos epidemiológicos referentes ao Trauma Crânio Encefálico
Autor/Ano Local Dados epidemiológicos
Rutland-Brown, 2006 EUA 532,8 vítimas/100.000 hab./ano
Tagliaferri, 2006 Europa 235 vítimas/100.000 hab./ano
Hillier, 1997 Austrália 322 vítimas/100.000 hab/ano
Oliveira, 2005 Brasil •500.000 hospitalizações/ano
•incidência de 350/100.000 hab/ano
Roozenbeek, 2013 Africa do Sul Incidência de cerca de 300/100.000
hab/ano
1.1.2. Etiologia
18
A etiologia do TCE pertence ao grupo das causas externas, em que as principais
incluem: acidentes automobilísticos, quedas, assaltos e agressões, esportes e recreações e,
projétil por arma de fogo29
. É crescente o número de mortes por agressões físicas e homicídio
por arma branca, porém a causa de morte mais frequente e de maior prevalência é por arma de
fogo. Estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) revelou que entre 1979 e 2003 as armas de fogo mataram 550 mil pessoas
no Brasil, ou seja, 35 mil vítimas por ano ou 100 pessoas por dia29
.
Os homicídios atingem desproporcionalmente adolescentes e adultos jovens, e que
tanto no Brasil quanto no exterior existem diferenciais intra-urbanos em relação à violência,
sendo os índices mais altos encontrados nos grupos com condições sociais mais
desfavoráveis30
.
Estima-se que a cada ano entre 20 e 50 milhões de pessoas são feridas em acidentes de
trânsito e aproximadamente 1,2 milhão morrem em todo o mundo, tornando esses eventos um
dos mais importantes de saúde coletiva31
, configurando entre as primeiras causas de óbitos
entre jovens do sexo masculino na faixa etária entre 15 e 44 anos32
. No Brasil é a segunda
causa de internações por causas externas12
. Além da importância social desses agravos,
estima-se um impacto econômico para o país de aproximadamente 5,3 bilhões de Reais,
equivalendo a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional ao ano31
e 2% em países com alta
renda33
.
Apesar dos acidentes e violências estarem entre as principais causas de morte na
população jovem e adulta, estudo revelou que as quedas são merecedoras de atenção entre a
população idosa. Sobretudo, a situação de violência, mais especificamente no trânsito, tem
demonstrado que embora essas causas estejam concentradas em adultos jovens, as taxas de
mortalidade demonstram-se crescentes à medida que aumenta a idade, o que gera um grande
impacto econômico, correspondendo a quase um terço de todas as despesas relacionadas a
esse tipo de agravo34
.
Entre os idosos, as quedas ocupam o terceiro lugar na mortalidade, com 14/100.000.
No que se referem às internações, as quedas lideraram as estatísticas com 56,1% do total de
internações, e entre as lesões relacionadas com as quedas e acidentes de transporte,
destacaram-se as fraturas com 52,8%13
.
1.1.3. Fisiopatologia
19
A lesão provocada por um traumatismo crânio-encefálico pode ser dividida em dois
tipos: lesão primária e secundária. A lesão primária é o resultado direto das forças mecânicas
que atuam no momento do impacto inicial e que são transmitidas ao crânio e ao seu
conteúdo35
, podendo produzir lesões difusas (decorrente de forças de desaceleração e rotação)
e lesões focais (resultantes de forças de contato direto). O tipo de lesão primária decorrente de
um TCE depende da natureza e magnitude da força física aplicada, da sua duração e do local
de aplicação36
.
A lesão secundária acontece nas primeiras horas após o mecanismo de trauma
primário em que se inicia uma cascata neurocitotóxica com alterações intracelulares (influxo
de cálcio, disfunção mitocondrial, produção de radicais livres de oxigénio e apoptose) e
extracelulares (alterações da membrana vascular e acidose extracelular) responsável pela
falência da auto-regulação cerebral e pelo desenvolvimento do edema cerebral pós-traumático
e consequente hipertensão intracraniana (HIC)37,38
. A lesão secundária poderá existir até o
décimo dia pós-TCE e episódios de hipertensão intracraniana pós-traumática, precoce ou
tardia, estão associados a pior evolução39
.
1.1.4. Classificação
O TCE pode ser classificado quanto ao mecanismo de lesão, gravidade da lesão ou
morfologia40
. Com relação ao mecanismo da lesão, classifica-se o TCE como fechado ou
penetrante. O fechado está geralmente associado a colisões automobilísticas, quedas e
agressões, enquanto o penetrante resulta habitualmente de ferimento por projétil de arma de
fogo e por arma branca40
, considera-se também os mecanismos como lesão por impacto e
lesão penetrante, em que a penetração através da dura-máter é o que determina se a lesão é
fechada ou penetrante41
.
A gravidade do TCE é baseada na Escala de Coma de Glasgow (ECGl), que avalia três
parâmetros: abertura ocular, melhor resposta verbal e melhor resposta motora, sendo
atribuídos valores para cada achado no paciente, em que o resultado varia de 3 a 15 pontos42
.
O TCE leve possui ECGl de 13 a 15 pontos, moderado de 9 a 12 e grave de 3 a 819,43-45
.
O quadro 2 apresenta os parâmetros da ECGl.
20
Quadro 2. Parâmetros da Escala de Coma de Glasgow.
ABERTURA OCULAR RESPOSTA VERBAL RESPOSTA MOTORA
Expontânea 4 Orientado 5 Obedece comandos 6
Estímulo verbal 3 Confuso 4 Localiza dor 5
Dor 2 Palavras inapropriadas 3 Afasta dor 4
Ausente 1 Sons incompreensíveis 2 Decorticação 3
Ausente 1 Descerebração 2
Ausente 1
Quanto à morfologia, o TCE pode ser classificado em lesões extracranianas,
intracranianas e fraturas de crânio. As lesões extracranianas englobam as lacerações do couro
cabeludo, podendo ser fonte importante de sangramento e hematomas subgaleais. As lesões
intracranianas podem ser focais, representadas por hematomas extradural, sub-dural ou intra-
parenquimatosas, ou difusas, representada pela concussão, lesão axonal difusa ou edema e
ingurgitamento cerebral22,40
. As fraturas de crânio podem ser lineares, cominutivas, e com
afundamento, estando associadas com lesão da dura-máter e do parênquima cerebral ou com
lesões diastáticas40
.
Constituem-se lesões focais a contusão, o hematoma epidural e o hematoma subdural.
Contusão: Resulta de agressão direta do parênquima cerebral devido ao atrito entre o
mesmo e estruturas rígidas do crânio22
, podendo causar efeito de massa significativo
devido a edema ou à ocorrência de hemorragia, da qual pode resultar um hematoma
intraparenquimatoso. As contusões são mais graves se estiverem associadas a fraturas do
crânio e podem agravar a lesão secundária no tecido adjacente por libertação de
neurotransmissores e alterações bioquímicas locais36
.
Hematoma epidural: Resulta de impacto craniano com baixa energia cinética, com
rompimento de vasos arteriais localizados entre dura-máter e crânio22
. Ocorre em 1-2%
dos TCE, com taxa de mortalidade de cerca de 20%, acometendo pacientes jovens e
comumente com fratura do osso temporal e lesão da artéria meníngea média46
,
classicamente cursam com um período de vigília (intervalo lúcido) que rapidamente se
deteriora com a posterior instalação de hemiparesia e midríase da pupila homolateral47
.
Hematoma Subdural: Esses hematomas surgem pelo rompimento de veias no espaço
entre a dura-máter e aracnoide, sendo responsáveis por 30% dos traumas cranianos
graves. Podem ser classificados como: agudos, que tem como mecanismo aceleração e
desaceleração do trauma com grande energia cinética46
, crônicos, que surgem devido a
21
traumas pequenos em crianças e idosos, principalmente, com manifestações clínicas mais
tardias devido ao sangramento ser lento47
.
Dentre as lesões difusas estão a concussão cerebral, a lesão axonal difusa e a
hemorragia subaracnoideia.
Concussão cerebral: Ocorre quando um paciente vítima de trauma mostra alteração
transitória da função neurológica com exames de imagem normais46
.
Lesão Axonal Difusa: É a lesão mais comum associada ao TCE, ocorre por tensão e
estiramento axonal por forças de aceleração angular e rotacional podendo resultar num
déficit neurológico por algumas horas36
, na TC crânio são visíveis hemorragias
puntiformes resultantes da ruptura de pequenos vasos, em regiões que sofrem forças de
aceleração máximas22
.
Hemorragia subaracnoideia: Resulta da rotura de vasos para as cisternas do espaço
subaracnoide ocorrendo em 33% dos casos de TCE grave e correlaciona--se com pior
prognóstico neurológico. Nesta situação pode ocorrer vasoespasmo, sendo este um fator
independente do prognóstico neurológico46
.
1.1.5. Diagnóstico
A Escala de Coma de Glasgow (ECGl) é considerada um dos melhores fatores para
avaliação clínica da gravidade e prognóstico das vítimas de TCE48
, entretanto, outros fatores
contribuem para essa avaliação, como: idade, respostas motoras anormais, achados
tomográficos, anormalidades pupilares e episódios de hipóxia e hipotensão19
. A ECGl pode
sofrer interferência de fatores que dificultam a sua determinação, como: intubação ou sedação
durante o atendimento pré-hospitalar49
e intoxicação alcóolica50
.
A tomografia computadorizada de Crânio (TCC) é o exame de imagem de escolha no
manejo da vítima de TCE na sala de emergência. Através desse exame, hematomas podem ser
rapidamente diagnosticados, favorecendo, quando indicado, tratamento cirúrgico precoce51,52
.
A TCC tem, no entanto, baixa sensibilidade no diagnóstico de lesões não hemorrágicas, o que
explica a pobre correlação, muitas vezes observada, entre os achados tomográficos e a
pontuação na ECGl51
.
A TCC deve ser repetida se houver deterioração do quadro clínico, uma vez que lesões
já diagnosticadas podem aumentar ou novas lesões podem se desenvolver, principalmente nas
primeiras 12 a 24 horas após o trauma52
.
22
A classificação de Marshall foi desenvolvida baseada nos achados tomográficos na
vítima de TCE53
(Quadro 3). As alterações encontradas nesse exame radiológico e usadas para
a referida classificação são: edema (avaliado pela compressão ou ausência de cisternas),
volume de lesões de alta ou mista densidade (coleções hemáticas), desvio de linha média
(DLM) e evacuação de lesão de massa54
. Vários estudos confirmaram o valor preditivo de
prognóstico da classificação de Marshall em pacientes com TCE55
.
Quadro 3. Escore Tomográfico de Marshall
Classificação de Marshall-TCE Descrição da TCC Classe
Lesão difusa I Nenhuma alteração visível. I
Lesão difusa II Cisternas presentes, DLM, <5mm (0-
5mm), lesões densas ou mistas se
presentes <25ml, pode haver fragmentos
ósseos ou corpos estranhos.
II
Lesão difusa III (swelling) Cisternas comprimidas ou ausentes,
DLM, <5mm (0-5mm), lesões densas ou
mistas se presentes <25ml.
III
Lesão difusa IV (desvio) DLM >5mm, lesões densas ou mistas se
presentes <25ml.
IV
Lesão focal (expansiva) Qualquer lesão expansiva cirurgicamente
evacuada.
V
Qualquer lesão expansiva não evacuada
cirurgicamente.
1.1.6. Tratamento
O tratamento adequado de uma vítima de TCE deve seguir uma ordem de prioridades,
avaliando inicialmente, as lesões que comprometam a vida, identificadas no exame
primário46,22
.
O manejo inicial segue o protocolo do Advance Trauma Life Support (ATLS) do
American College of Surgeons, esse processo é designado pelo ABCDE do trauma, o qual
visa avaliar de forma sequencial ou simultaneamente se existem elementos suficientes para o
desempenho das seguintes funções: a via aérea (Airway), a respiração (Breathing), a
23
circulação (Circulation), o seu estado neurológico (Disability) e expor corporalmente o
doente para identificação de outras lesões ou deformidades exteriormente visíveis
(Exposure)22
.
Após essa avaliação, realiza-se o exame secundário, pois mais de 50% dos doentes
com TCE grave tem outras lesões associadas: fraturas da cintura pélvica e dos ossos longos
em 32%, lesões torácicas em 23%, fraturas faciais em 22%, lesões abdominais em 7% e
medulares em 2%56
. Por fim, implementa-se o tratamento definitivo que pode ser conservador
e/ou cirúrgico22
, o que dependerá do grau do TCE, localização das lesões cranianas, outras
injúrias associadas ao trauma e comorbidades pregressas da vítima.
O Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena é uma instituição
referência para todo o estado da Paraíba, que conta com especializado serviço na área de
urgência e emergência, disponibilizando uma atenção terciária a vítimas de TCE.
Diante do exposto e em face da importância do tema, bem como a ausência de estudos
similares no estado da Paraíba, o presente trabalho propõe-se a investigar a ocorrência de
traumatismo crânio encefálico em um serviço de emergência no município de João Pessoa.
24
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Descrever o perfil epidemiológico de pacientes vítimas de traumatismo crânio
encefálico por causas externas atendidas em um serviço de emergência médica.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Caracterizar demograficamente as vítimas e o dia e horário da ocorrência do agravo.
Identificar as principais etiologias e verificar a ocorrência de fraturas entre as vítimas.
Observar a ocorrência e a gravidade de Traumatismo Crânio Encefálico (TCE).
Categorizar as vítimas com TCE segundo a classificação tomográfica de Marshall.
Verificar a ocorrência de óbito.
Classificar os pacientes segundo a escala de coma de Glasgow (ECGl).
Verificar a associação entre o mecanismo do trauma e as variáveis sexo e gravidade do
TCE.
Analisar a associação entre a existência de fraturas e o agente etiológico.
25
3. METODOLOGIA
3.1. TIPO DE ESTUDO
Estudo transversal, retrospectivo, do tipo documental, com abordagem indutiva e
procedimento descritivo. A técnica de pesquisa utilizada foi a observação indireta, por meio
da análise de dados secundários57
.
3.2. LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido no município de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba,
a qual possui uma população de 723.515 habitantes com densidade demográfica de 3.421,30
hab\km2, com predomínio do sexo feminino, sendo a maior economia do Estado
58.
O local de coleta dos dados compreendeu o Hospital de Emergência e Trauma Senador
Humberto Lucena. A escolha do Hospital de Emergência e Trauma deveu-se ao fato de o
mesmo se constituir em um serviço público de referência no município de João Pessoa e
regiões circunvizinhas para os atendimentos considerados de maior gravidade, sendo,
inclusive, um centro de referência para o atendimento de politraumatizados.
O referido hospital foi fundado em 2001 e tem como finalidade específica
operacionalizar a gestão e execução das atividades e dos serviços de saúde de urgência e
emergência em trauma. A instituição tem um papel fundamental no estado da Paraíba, numa
área de 14 mil metros quadrados que tem disponível setores de urgência e emergência, centro
de imagem, pediatria, centro cirúrgico, unidade de tratamento de queimados, conta com
heliponto para transporte de pacientes graves e com aparelhos de última geração e unidade de
terapia adulto e infantil.
3.3. POPULAÇÃO/AMOSTRA
A população do estudo compreendeu todos os prontuários das vítimas por causas
externas atendidas no referido hospital durante o período de janeiro a dezembro de 2011, e
que apresentaram diagnóstico de Trauma Crânio Encefálico devidamente confirmado por
meio de exame físico e radiológico (Tomografia Computadorizada de Crânio). Foram
excluídos do estudo os prontuários de vítimas cujo diagnóstico foi de qualquer tipo de lesão
26
3.4. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
O instrumento de coleta consistiu de um formulário específico desenvolvido pelo
pesquisador mediante análise dos prontuários, composto por questões objetivas e subjetivas,
dicotômicas ou de múltipla escolha, desenvolvido a partir da análise do prontuário
(APÊNDICE A).
Para analisar o perfil das vítimas, principais lesões e gravidade, foram criadas as
seguintes variáveis:
Quadro 4: Distribuição das variáveis estudadas.
Variáveis Categorias
Sexo Masculino ou feminino
Faixa etária 0-9, 10-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50-59, > 60, 60-69, 70-
79, >80 anos.
Dias da semana Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo
Horário Manhã (06:00 às 11:59), tarde (12:00 às 17:59), noite
(18:00 às 23:59), madrugada (00:00 às 05:59)
Mecanismo do trauma Acidente de transporte, queda, agressão, lesão auto
provocada, exposição á força mecânica animada,
exposição á força mecânica inanimada, NI.
Presença de fratura Sim, não
Região fraturada Crânio, face, caixa torácica, membros superiores,
membros inferiores, coluna vertebral, quadril.
Tipo de fratura Fechada, exposta, fechada e exposta
Ocorrência de acidente de
transporte
Sim, não
Ocorrência de queda Sim, não
Gravidade do TCE ECGl leve (15-13 pontos), moderado (9-12 pontos),
grave (≤ 8 pontos)
Classificação de Marshall Classe I, II, III, IV, V
Presença de óbito Sim, não
27
3.5. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Os dados foram obtidos com base nos prontuários de vítimas de TCE atendidas no
Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena e arquivadas no SAME Setor
de Arquivo Médico e Estatístico (SAME).
Dois pesquisadores devidamente treinados realizaram a coleta de dados no período de
dezembro de 2011 a julho de 2012. Previamente realizou-se o estudo piloto com 100
prontuários do ano de 2010 a fim de verificar a confiabilidade do instrumento, bem como a
existência de possíveis inconsistências.
3.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para a digitação, armazenamento dos dados e obtenção dos cálculos estatísticos
empregou-se o programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na
versão 18.
Na análise dos dados foram utilizadas técnicas de estatística descritiva e inferencial.
As técnicas de estatística envolveram a obtenção de distribuições absolutas, percentuais e as
medidas estatísticas: média, mediana e desvio padrão. Nas técnicas e estatísticas inferenciais
foram utilizados os testes do Qui-quadrado de Pearson, ou Exato de Fisher quando as
condições para utilização do Qui-quadrado não foram verificadas, estimou-se ainda a razão de
prevalência. Os testes foram realizados com margem de erro de 5,0% e os intervalos com
confiabilidade de 95,0%.
3.7. ASPECTOS ÉTICOS
O projeto de pesquisa foi registrado no Sistema Nacional de Informação sobre Ética
em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (SISNEP) e submetidos ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual da Paraíba, sob CAAE 05480133000-11 (ANEXO
B). Os pesquisadores seguiram as observâncias éticas da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, que trata sobre pesquisas com seres humanos (Brasil, 1996). Além disso,
buscou-se obedecer às normas da instituição onde se realizou a pesquisa, com vistas a
preservar o material utilizado na coleta, bem como o não prejuízo à rotina de funcionamento
do serviço.
28
4. RESULTADOS
ARTIGO I: Perfil Epidemiológico das Vítimas de Traumatismo Crânio-Encefálico associado
ou não a Fraturas, em um Hospital de Emergência.
ARTIGO II: Traumatismo Crânio Encefálico em idosos.
29
Perfil Epidemiológico das Vítimas de Traumatismo Crânio-Encefálico associado ou não
a Fraturas, em um Hospital de Emergência.
Magaly Suênya de Almeida Pinto1, Hálamo Figueirêdo Lima Abrantes
2, Iris Sant’Anna de
Araújo Rodrigues1, Thalliny Batista Sarmento de Oliveira
1, Rogéria Máximo Lavôr
1,
Alessandro Leite Cavalcanti3
1Aluna do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB).
2Médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM) e Farmacêutico-Bioquímico
pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
3Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB).
Correspondência:
Magaly Suênya de Almeida Pinto
Rua Joao de Pessoa, 102, Miramar
João Pessoa-PB
CEP 58043030
E-mail: [email protected]
Telefone: (83) 8844-7036
30
RESUMO
Introdução: O traumatismo cranioencefálico é um problema de saúde mundial, considerada a
maior causa de incapacidade, morte e gastos econômicos para a sociedade.
Objetivo: Determinar o perfil epidemiológico das vítimas de traumatismo crânio encefálico
atendidas em um serviço de emergência e trauma.
Métodos: Estudo transversal, por meio da análise de prontuários de vítimas de traumatismo
crânioencefálico no período de janeiro a dezembro de 2011 com diagnóstico confirmado por
meio de exame físico e radiológico (Tomografia Computadorizada de Crânio). Foram
analisadas as variáveis: sexo, faixa etária, dia da semana e horário da ocorrência do trauma,
mecanismo do trauma, presença e tipo de fratura, Escala de Coma de Glasgow, gravidade do
traumatismo crânioencefálico, classificação de Marshall e ocorrência de óbito. Os dados
foram organizados com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão
18 e apresentados por meio da estatística descritiva (distribuições absolutas e percentuais,
média e desvio padrão). Nas análises bivariadas empregou-se o teste do Qui-Quadrado, sendo
adotado um nível de significância de 5% (p<0,05).
Resultados: A maioria das vítimas foi do sexo masculino (84,1%) com faixa etária entre 20 e
29 anos (26,9%). Os acidentes de transporte e as queda constituíram nas principais etiologias,
correspondendo a 62,8% e 20,4%, respectivamente e a maioria das ocorrência se deu aos
domingos (24,9%). Ocorreu associação significante entre presença de fraturas com os
acidentes de transporte (p<0,001; RP=2,49 [1,88-3,30]), queda (p<0,001) e agressão (p<0,05;
RP=1,66 [1,09-2,53]). Vítimas com Escala de Coma de Glasgow (ECGl) ≤ 8 apresentaram
uma alta mortalidade, enquanto Marshall classe V representou o maior percentual de óbito
total (36,2%).
Conclusão: Os traumatismos cranioencefálicos leves são os mais freqüentes, acometendo
indivíduos jovens, do sexo masculino, com os acidentes de transporte e as queda constituindo-
se nos principais fatores etiológicos. Essa condição gera lacunas na população
economicamente ativa, bem como maiores gastos para o sistema de saúde na recuperação
física e mental dessas vítimas, o que indica a necessidade de políticas de prevenção mais
eficazes.
DESCRITORES: Epidemiologia; Traumatismos Encefálicos, Causas Externas.
31
ABSTRACT
Introduction: Traumatic brain injury is a worldwide health problem, considered the leading
cause of disability, death and economic costs to society.
Objective: To determine the epidemiological profile of traumatic brain injury victims treated
in a emergency and trauma service.
Methods: sectional study was conducted analyzing records of all victims of traumatic brain
injury from January to December 2011 with a diagnosis confirmed by physical examination
and radiological (Cranial computed tomography). Following variables were analyzed: sex,
age, day of week and time of occurrence of trauma, mechanism of injury, presence and type
of fracture, Glasgow Coma Scale, severity of traumatic brain injury, Marshall classification
and deaths. Data were organized with the software SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences), version 18 and presented using descriptive statistics (absolute and percentage
distributions, mean and standard deviation). In bivariate analyzes, was used the chi-square,
and adopted a significance level of 5% (p <0,05).
Results: The majority of victims were male (84.1%) aged between 20 and 29 years (26.9%).
Transport accidents and fall constituted the main etiologies, accounting for 62.8% and 20.4%,
respectively and most injury occurred on Sundays (24.9%). There was significance
association between the presence of fractures with transport accidents (p <0.001, PR = 2.49
[1.88 to 3.30]), fall (p <0.001) and aggression (p <0.05 and PR = 1.66 [1.09 to 2.53]). Victims
with Glasgow Coma Scale (GCS) ≤ 8 showed a high mortality, while Marshall Class V
represented the highest percentage of overall mortality (36.2%).
Conclusion: The mild trauma brain injury are the most common, affecting young individuals,
male, with transport accidents and falling constituting the main etiological factors. This
condition creates gaps in the economically active population, as well as higher costs for the
health system in physical and mental recovery of these victims, which indicates the need for
more effective prevention policies.
KEYWORDS: Epidemiology, Traumatic Brain Injury, External Causes.
32
INTRODUÇÃO
O trauma crânioencefálico (TCE) ocorre quando uma força externa impacta o cérebro,
altera a consciência, prejudica as habilidades cognitivas ou funcionamento físico1. Essa lesão
é considerada a maior causa de incapacidade, morte e gastos econômicos para nossa
sociedade2. Deficiências mentais e cognitivas advindas desse tipo de lesão muitas vezes não
são visíveis, motivo pelo qual tem sido identificada como epidemia silenciosa, em que a
população desconhece a amplitude desse problema3.
As principais causas desta condição estão relacionadas a acidentes de trânsito, seguido
das quedas4,5,6
, e acometem principalmente, indivíduos entre 15-30 anos6. O risco de TCE
pode ser reduzido através de medidas preventivas como o uso do cinto de segurança, airbags,
capacetes, e a não ingestão de álcool1.
A incidência geral do trauma crânioencefálico nos Estados Unidos foi estimada em
538,2 por 100 mil habitantes, ou cerca de 1,5 milhões de novos casos anuais7. Na Europa,
estima-se uma taxa de 235 por 100 mil habitantes5. Em São Paulo, umas das maiores cidades
do Brasil a incidência de TCE foi de 360 para 100 mil habitantes8.
Dentre a população americana, 5,3 milhões de pessoas vivem com incapacidades
relacionadas ao TCE3, enquanto que entre os europeus esse número sobe para 7,7 milhões
5.
Os sobreviventes de TCE, comumente, desenvolvem déficits cognitivos ou transtornos
psicológicos, como depressão (cerca de 30%), comportamento agressivo ou impulsividade9.
Os danos neurológicos após TCE geralmente, não ocorrem no momento do impacto,
mas ao longo de horas e dias subsequentes. Isso ocorre devido à redução da perfusão cerebral
que se houver uma boa recuperação, há a diminuição da mortalidade desses pacientes de 50%
para 30-25%2. As tentativas de diminuir os danos neurológicos e mortalidade têm seguido
protocolos baseados em evidências cujos objetivos são monitorização e manutenção da
perfusão cerebral adequada10
.
Avariabilidade dos critérios de diagnóstico e busca de casos de TCE contribui para a
inconsistência da estimativa da incidência de TCE9. No Brasil, informações diagnósticas e
demográficas estão disponíveis no Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de
Saúde (SIH/SUS), que tem abrangência nacional, porém são utilizados principalmente, para
fins de pagamentos aos hospitais conveniados11
, em que o TCE tem sido associado à baixa
confiabilidade do diagnóstico nesses dados12
.
Face ao exposto, o objetivo desse estudo foi analisar o perfil epidemiológico de
vítimas com trauma crânioencefálico no município de João Pessoa, PB, Brasil.
33
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo transversal, com abordagem indutiva e procedimento
descritivo-analítico, através da observação indireta13
, por meio da análise de prontuários
médicos de vitimas de traumatismo cranioencefálico.
A pesquisa foi desenvolvida no Hospital Estadual de Emergência e Trauma Senador
Humberto Lucena, instituição pública de referência para o atendimento de emergência às
vítimas de trauma, situado na cidade de João Pessoa, Paraíba.
A amostra foi composta por todos os prontuários de pacientes vítimas de traumatismo
craniano (TCE) no período de janeiro a dezembro de 2011 e que apresentaram diagnóstico
devidamente confirmado por meio de exame físico e radiológico (Tomografia
Computadorizada de Crânio). Foram excluídos do estudo os prontuários de vítimas cujo
diagnóstico foi de qualquer tipo de lesão crônica.
Dois pesquisadores devidamente treinados realizaram a coleta, sendo os dados
registrados em um formulário específico, composto por questões abertas e fechadas,
dicotômicas e de múltipla escolha, desenvolvido a partir da análise do prontuário.
Previamente à coleta, realizou-se o estudo piloto a fim de verificar a confiabilidade do
instrumento, bem como a existência de possíveis inconsistências. Os dados foram coletados
no Setor de Arquivo Médico e Estatístico (SAME) do referido hospital e contemplaram a
seguintes variáveis: sexo, faixa etária, dia da semana e horário da ocorrência do trauma,
mecanismo do trauma, presença e tipo de fratura, Escala de Coma de Glasgow (ECGl),
gravidade do TCE, classificação de Marshall e ocorrência de óbito.
A ECGl é uma escala neurológica, bastante utilizada para classificação da gravidade
neurológica do TCE. Baseia-se nas respostas dos pacientes quanto à abertura ocular, resposta
verbal e melhor resposta motora. Sua variação é de 3-15 pontos, e considera-se TCE leve
aquele entre 13-15pontos, TCE moderado, entre 9-12, e TCE grave os traumas <8 pontos14
.
Os dados foram organizados com o auxílio do programa estatístico SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences), versão 18 e apresentados por meio da estatística descritiva
(distribuições absoluta e percentuais, média e desvio padrão). Nas análises bivariadas
empregou-se o teste do Qui-Quadrado, sendo adotado um nível de significância de 5%
(p<0,05).
Seguindo os preceitos estabelecidos pela Resolução 196/96, este estudo foi
devidamente registrado no Sistema Nacional de Informações sobre Ética em Pesquisa
34
(SISNEP) envolvendo Seres Humanos e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual da Paraíba, sob o número CAAE 05480133000-11.
RESULTADOS
Foram analisados 958 prontuários de vítimas com TCE, sendo a maioria das vítimas
do sexo masculino (84,1%) com idades entre 20 e 29 anos (26,9%), conforme demonstrado na
Tabela 1. A amplitude variou de 0,3 meses a 93 anos, sendo a média de idade de 34,1 anos,
mediana de 30,0 anos e desvio padrão de ±18,1 anos. Constatou-se ainda que entre as vítimas
de 50 e 59 anos a razão entre os sexos masculino e feminino foi de 18:1. Dentre as vítimas do
sexo feminino com TCE, a maioria se encontrava na faixa etária entre 0-9 e acima dos 60
anos (36,7%; 35,6%), respectivamente.
Tabela 1. Distribuição das vítimas com TCE segundo a faixa etária, o sexo e a razão
entre os sexos. Sexo
Faixa Etária (em
anos)
Masculino Feminino Total Razão M:F
n % n % n %
0-9 31 63,3 18 36,7 49 5,1 1,7
10-19 126 82,3 27 17,7 153 16,0 4,7
20-29 230 89,2 28 10,8 258 26,9 8,2
30-39 160 85,1 28 14,9 188 19,6 5,7
40-49 120 92,3 10 7,7 130 13,6 12
50-59 72 94,7 04 5,3 76 7,9 18
60 ou mais 67 64,4 37 35,6 104 10,9 1,8
Total 806 84,1 152 15,9 958 100 5,3:1
Em relação ao mecanismo do trauma, os acidentes de transporte (62,8%) e a queda
(20,4%) estiveram entre os mais freqüentes, sendo verificado associação estatisticamente
significante entre o mecanismo do trauma e o sexo da vítima (p<0,01) (Tabela 2).
35
Tabela 2. Associação entre o mecanismo do trauma e o sexo da vítima.
Mecanismo do Trauma
Sexo
Masculino Feminino Total p-valor
n % n % n %
Acidente de Transporte 511 85 90 15 601 62,8
0,01
Queda 148 75,9 47 24,1 195 20,4
Agressão 126 92 11 8 137 14,3
Lesões autoprovocadas 6 100 0 0 6 0,6
Exposição Forças Animadas 4 100 0 0 4 0,4
Exposição Forças Inanimadas 7 70 3 30 10 1,0
Não Informado 4 80 1 20 5 0,5
Total 806 84,1 152 15,9 958 100
Com relação ao dia da semana de ocorrência do trauma, verificou-se que a maior
frequência foi registrada aos domingos (24,9%) seguido dos sábados (18,9%) (Gráfico 1). No
tocante ao horário, 18,5% (n=177) das ocorrências se deram no turno da manhã, enquanto os
períodos da tarde, noite e madrugada comportaram 27,9%, 37,4% e 16,2% dos casos,
respectivamente.
Gráfico 1. Distribuição das ocorrências de acordo com o dia da semana.
Ao se analisar a gravidade do TCE, constatou-se que 66,7 % das vítimas sofreram
traumas de grau leve, seguido do grave (18,6%). Esse predomínio foi observado em quase
13,4
11,4
10,3
8,2
12,8
18,9
24,9
segunda
terça
quarta
quinta sexta
sábado
domingo
36
todos os mecanismos do trauma, exceto nas quedas onde o TCE moderado (13,9%) ocupou a
segunda posição, e nas lesões autoprovocadas em que o TCE grave (50%) teve posição de
destaque, existindo associação significativa entre o mecanismo do trauma e o grau do TCE
(p<0,001) (Tabela 3).
Tabela 3. Associação entre o mecanismo do trauma e a gravidade do TCE.
Gravidade do TCE
Mecanismo do trauma Leve Moderado Grave Total p-valor
n % n % n % n %
Acidente de Transporte 386 64,2 103 17,2 112 18,6 601 62,8
<0,001
Queda 151 77,4 27 13,9 17 8,7 195 20,4
Agressão 86 62,8 16 11,7 35 25,5 137 14,3
Lesões autoprovocadas 02 33,3 01 16,7 03 50,0 06 0,6
Exposição Forças Animadas 04 100,0 00 00 00 00 04 0,4
Exposição Forças Inanimadas 08 80,0 00 00 02 20,0 10 1,0
Não Informado 01 20,0 01 20,0 03 60,0 05 0,5
Total 638 66,7 148 15,4 172 17,9 958 100
Com relação à presença de fratura, verificou-se que 61,6% (n=590) da amostra
apresentavam este tipo de lesão, predominando as fraturas únicas (63,4%; n=374). A análise
bivariada revelou diferença estatisticamente significante entre a presença de fratura e a
ocorrência de acidentes de transporte (p<0,001; OR=2,49 [1,88-3,30]), queda (p<0,001) e
agressão (p<0,05; OR=1,66 [1,09-2,53]). Vítimas de acidentes de transporte têm quase 2,5
vezes mais chances de sofrerem fraturas múltiplas (p<0,001; OR=2,46 [1,70-3,55]), enquanto
que as vítimas de agressão possuem 1,7 vezes mais chances de apresentarem fraturas únicas
(p<0,01; OR=1,71 [1,17-2,52]).
As vítimas de fraturas apresentavam um total de 759 regiões do corpo fraturadas,
média de 1,29 (± 0,52) e mediana de 1,0. A Tabela 4 mostra a distribuição das regiões
fraturadas e o tipo de fratura encontrada, sendo possível observar que a região do crânio foi a
mais atingida (41,4%) e quanto ao tipo, houve predomínio das fraturas fechadas (81,4%).
37
Tabela 4. Distribuição das vítimas segundo a região fraturada e o tipo de fratura
existente. Tipo de Fratura
Região Fraturada* Fechada Exposta Fechada e Exposta Total
n % n % n % n %
Crânio 249 79,3 63 20,1 02 0,6 314 41,4
Face 206 95,8 08 3,7 01 0,5 215 28,3
Caixa Torácica 41 93,2 03 6,8 00 00 44 5,8
Membros Superiores 65 73,9 20 22,7 03 3,4 88 11,6
Membros Inferiores 36 46,8 31 40,2 10 13,0 77 10,2
Coluna Vertebral 10 100 00 00 00 00 10 1,3
Quadril 11 100 00 00 00 00 11 1,4
Total 618 81,4 125 16,5 16 2,1 759 100
*A vítima poderia apresentar mais de uma região fraturada.
Entre as vítimas com TCE, 13,2% foram a óbito, predominando indivíduos jovens,
com idades entre 20 a 29 anos (26%). No entanto, ao se analisar individualmente cada faixa
etária, verifica-se que a maior frequência de mortalidade situou-se entre os indivíduos com
idade igual ou superior a 60 anos (19,2%). A análise multivariada entre a ECGl e ocorrência
de óbito e entre a classificação de Marshall e ocorrência de óbito revelou estatística
significante (p< 0,01), podendo-se observar uma alta mortalidade nas vítimas que
apresentaram Glasgow ≤ 8 (53%). Apesar do Marshall classe V representar o maior
percentual de óbito total (36,2%), verificou-se um predomínio da mortalidade entre os que
apresentaram o resultado tomográfico com classe IV e III, respectivamente 100% e 63,6%.
38
Tabela 5. Associação entre a faixa etária, Escala de Coma de Glasgow e classificação de
Marshall e ocorrência de óbito.
Óbito
Variável Sim Não Total p-valor
n % n % n %
Faixa Etária
0-9 04 8,2 45 91,8 49 5,1
10-19 22 14,4 131 85,6 153 16
20-29 33 12,8 225 87,2 258 27 >0,05
30-39 22 11,7 166 88,3 188 19,6
40-49 15 11,5 115 88,5 130 13,6
50-59 11 14,5 65 85,5 76 7,9
60 ou mais 20 19,2 84 80,8 104 10,8
Total 127 13,2 831 86,8 958 100
Escala Coma Glasgow (ECGl)
13-15 pontos 17 2,6 624 97,4 641 67
09-12 pontos 20 13,6 127 86,4 147 15,3 <0,001
≤ 08 pontos 89 53 79 47 168 17,5
Não Informado 01 50 01 50 2 0,2
Total 127 13,2 831 86,8 958 100
Classificação Marshall
Classe I 08 2,4 328 97,6 336 35,1
Classe II 26 09 264 91 290 30,3 <0,001
Classe III 35 63,6 20 36,4 55 5,7
Classe IV 05 100 00 00 05 0,5
Classe V
Evacuada cirurgicamente 30 24 95 76 125 13
Não evacuada cirurgicamente 16 13,9 99 86,1 115 12
Não realizado tomografia 05 22,7 17 77,3 22 2,4
Sem laudo tomografia 01 11,1 08 88,9 09 0,9
Não Informado 01 100 00 00 01 0,1
Total 127 13,2 831 86,8 958 100
39
DISCUSSÃO
O traumatismo cranioencefálico é um problema de saúde pública prevalente em todo o
mundo, estando essa injúria entre as adversidades mais comuns encontradas no ambiente
hospitalar e na prática clínica ambulatorial15
. Além de envolver tratamentos caros e uma alta
taxa de mortalidade, os sobreviventes quando apresentam essa lesão grave ou moderada
muitas vezes requerem extensos cuidados e podem nunca mais voltar as plenas atividades, o
que leva a um problema social complexo16
.
O Hospital de Emergência e Trauma se constitui em um serviço público aberto a
atendimentos considerados de maior gravidade, inclusive politraumatizados, sendo referência
no município de João Pessoa e regiões circunvizinhas, razão pela qual foi escolhida a referida
instituição.
O registro incompleto das informações e consequente dificuldade na transcrição fiel
dos achados retrata uma das principais dificuldades de se trabalhar com dados secundários,
condição essa verificada nesta pesquisa em virtude de alguns prontuários não estarem
adequadamente preenchidos. No entanto, os resultados aqui elucidados transparecem o perfil
das vítimas acometidas por traumatismo cranioencefálico do município de João Pessoa e
cidades adjacentes atendidos na instituição supracitada.
Nesse estudo, houve predomínio de vítimas do sexo masculino com destaque para
indivíduos adultos com idades entre 20 a 29, ratificando achados prévios17,18
. A
predominância de vítimas jovens e do sexo masculino pode estar relacionada a uma maior
exposição desses indivíduos aos perigos advindos do trânsito, bem como por determinados
comportamentos social e cultural que os fazem assumir maiores riscos19
.
Apesar da razão entre os sexos masculino e feminino variar de 1,7:1 a 18:1, observou-
se uma semelhança nessa proporção entre as crianças com até 9 anos e idosos acima dos 60
anos. Para essas faixas etárias, tanto as crianças como os idosos estão expostos a riscos
condizentes com a idade, independente do sexo. As crianças têm em comum o ambiente
escolar no qual a ocorrência de algumas brincadeiras pode ser potencialmente perigosa. Em
relação aos idosos, existe uma aproximação ou inversão das relações de sexo nos extremos de
idade14,20
, de modo que a proximidade da razão entre os sexos no idoso pode estar associada a
uma maior longevidade do sexo feminino que geralmente procura com mais frequência os
serviços de saúde, ao contrário da população masculina que está mais exposta a riscos, por
isso morre mais cedo21,22
.
40
Os acidentes com veículos automotivos foram o principal mecanismo do trauma, com
as quedas constituindo-se na segunda causa mais importante dessa lesão, confirmando
achados prévios5,17
. Pode-se associar essa alta incidência das vítimas de acidentes de
transporte com o aumento do número de veículos automotivos. Em países de alta renda, os
indivíduos com TCE são geralmente ocupantes de veículos a motor, enquanto que nos países
de média e baixa renda os principais acometidos são pedestres, ciclistas e motociclistas, sendo
importante considerar que nesses últimos países o aumento da motorização combinado com
educação no trânsito inadequada e lenta implementação das normas de segurança podem ser
consideradas as principais causas do aumento dessa incidência, enquanto nos países de alta
renda, os eficientes regulamentos de segurança levaram a um declínio no TCE relacionadas ao
trânsito23
.
Idosos e crianças têm em comum possuírem um alto risco de quedas1. Nos idosos essa
incidência elevada pode ser atribuída a uma combinação de declínio sensorial e motor,
descondicionamento cognitivo ou deficiências, sexo feminino e uso de medicamentos14,24
.
Quanto às crianças acredita-se que o alto número de quedas se deve a exposição a acidentes
próprios da idade.
A maior ocorrência dos traumatismos foi registrada aos sábados e domingos,
correspondendo ao final de semana, resultado esse semelhante ao verificado por outro autor
brasileiro25
. Esse fato pode ser explicado por se tratar do dia de folga de grande parte dos
trabalhadores, além da provável associação de bebidas alcoólicas com condução de veículos
automotores, alta velocidade e manobras arriscadas, o que os deixam mais expostos a
acidentes19
.
O TCE leve esteve presente em dois terços das vítimas, porém um estudo recente
identificou um predomínio ainda maior, onde esse tipo de gravidade foi destacada em 95%
dos casos26
. Apesar da maioria dos casos de traumas serem leves, geralmente 10 a 20% desses
pacientes evoluem com problemas psicossociais, principalmente transtornos do humor, além
de uma alta possibilidade de desenvolver depressão, podendo esses transtornos perdurar até
um ano após o trauma27
. Neste estudo, o TCE grave se destacou nas lesões autoprovocadas,
sendo responsável por metade dessas lesões, fato que pode ser justificado pela determinação
do indivíduo em acabar com a própria vida.
As fraturas craniofaciais foram comumente observadas em mais da metade dos
indivíduos, estando às fraturas de crânio exclusivamente presentes em um terço dos TCE’s.
Os TCE’s leves estão relacionados principalmente com fraturas craniofaciais28
. Contudo,
41
apenas aproximadamente 4% dos pacientes que sofrem TCE apresentam fratura de crânio,
sendo as três causas mais frequentes os acidentes com veículos e motocicletas, quedas e
assaltos29
. Talvez isso venha a acontecer devido à exposição e desproteção do crânio e face,
principalmente nos acidentes com veículos, devido ao impacto contra o para-brisa quando o
não uso do cinto de segurança, bem como nos motociclistas devido à ausência do uso de
capacete.
Constatou-se predomínio de fraturas únicas entre as vítimas. Contudo, ao se analisar
essa condição com a etiologia, as vítimas de acidentes de transporte apresentaram 2,5 vezes
mais chances de sofrerem fraturas múltiplas, enquanto que as vítimas de agressão possuem
1,7 vezes mais chances de apresentarem fraturas únicas. Deduz-se que as vítimas de acidente
de transporte têm mais chances de apresentar fraturas múltiplas pela possibilidade de
contusões nas mais diversas regiões do corpo, enquanto nas vítimas de agressão, geralmente o
agressor escolhe um local para desferir os golpes, fato que pode justificar uma maior chance
desses indivíduos apresentarem fraturas únicas.
Nesta pesquisa não se observou diferença estatisticamente significativa em relação ao
óbito com a faixa etária e apesar do maior número de óbitos estar concentrados na faixa dos
20-29 anos, idosos que se encontravam acima de 70 anos apresentaram uma maior
mortalidade, semelhante a outros estudos20,30,31
. Idosos quando sobrevivem a esse tipo de
trauma, após a recuperação muitas vezes apresentam alteração em nível funcional, o que
precipita modificações na circunstância social30
. Portanto, a idade em si é um preditor de mau
resultado, mesmo quando as comorbidades são controladas32
, aumentando a frequência de
óbito, complicações e tempo de permanência hospitalar quando comparado a pacientes não
idosos33
.
A Escala de Coma de Glasgow é um método objetivo de registrar o nível de
consciência de um indivíduo após um traumatismo craniano. Introduzida, inicialmente, em
1974 para medir a profundidade de inconsciência de pacientes, a ECGl compreende três sub-
escores independente para mensurar o desempenho motor, resposta verbal e abertura ocular e
tem sido aceita internacionalmente na prática clínica como um meio para estimar a gravidade
da lesão que afeta o cérebro34
. Apesar da predominância dos TCE’s leves (ECGl 15-13) neste
estudo, mais da metade das vítimas com TCE grave (ECGl ≤ 08) foram a óbito, visto que este
grupo tem a maior mortalidade e morbidade35
, sendo a ECGl considerada um preditor de
mortalidade36
.
42
Baseada nos achados tomográficos, a classificação de Marshall independente da faixa
etária, tornou-se amplamente aceita para fins descritivos, e vem sendo cada vez mais utilizada
como preditor de resultados no TCE37-40
. É categorizada em cinco classes que consideram
como achados: edema (avaliado pela compressão ou ausência de cisternas), volume de lesões
de alta ou mista densidade (coleções hemáticas), desvio de linha média e evacuação de lesão
de massa. Considera-se classe I quando na há nenhuma alteração na tomografia
computadorizada, na classe II as cisternas estão livres, lesão densa ou mista quando presente
< 25 m2
e desvio de linha média (DLM) < 5mm, a classe III diferencia-se da II devido a
compressão das cisternas, observa-se no Marshall classe IV a compressão das cisternas, lesão
densa ou mista <25 m2 e DLM > 5mm, a classe V é dividida em lesão >25 m
2, que podem ser
ou não evacuadas cirurgicamente38
.
Embora nesse estudo tenha havido uma maior representatividade do Marshall classe
V, foram nas classes III e IV que se encontraram a maior mortalidade. Pesquisa realizada com
dados da Rede de Pesquisa de Auditoria e Trauma (Trauma Audit and Research Network-
TARN) considerou que apenas o Marshall IV afetou significativamente a sobrevivência das
vítimas de TCE34
, Contudo, um estudo de coorte considerou os menores resultados da ECGl e
Marshall IV e V como indicadores de pior prognóstico, o que demonstra uma correlação
inversamente proporcional entre as duas escalas39
.
O Trauma cranioencefálico (TCE) é uma epidemia em expansão na saúde pública
gerando impactos epidemiológicos e em termos econômicos, bem como perda na qualidade
de vida. Portanto, é de suma importância conhecer o perfil dos pacientes vítimas de TCE, pois
o esclarecimento de dados epidemiológicos é essencial para o planejamento de ações
preventivas e melhoria no atendimento.
CONCLUSÃO
Os traumatismos cranioencefálicos leves são os mais freqüentes, acometendo
indivíduos jovens, do sexo masculino, com os acidentes de transporte e as queda constituindo-
se nos principais fatores etiológicos. A classificação tomográfica de Marshall e Escala de
coma de Glasgow foram significativas no prognóstico das vítimas neste estudo.
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45
Traumatismo Crânio Encefálico em Idosos
Magaly Suênya de Almeida Pinto1, Hálamo Figueirêdo Lima Abrantes
2, Thaliny Batista
Sarmento de Oliveira1, Iris Sant’Anna de Araújo Rodrigues
1, Rogéria Máximo Lavôr
1,
Alessandro Leite Cavalcanti3.
1Aluna do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB).
2Médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM) e Farmacêutico Bioquímico
pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
3Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB).
Correspondência:
Magaly Suênya de Almeida Pinto
Rua Joao de Pessoa, 102, Miramar
CEP 58043030
João Pessoa-PB
46
RESUMO
Introdução: Os idosos representam uma parcela considerável da população mundial,
participando ativamente na economia de um país, entretanto, é cada vez mais frequente o
número de vítimas por causas externas que apresentam trauma cranioencefálico (TCE).
Objetivo: Descrever o perfil dos idosos vítimas de TCE atendidos em um hospital de
emergência e trauma em João Pessoa, PB.
Métodos: Estudo transversal, através da observação indireta, por meio da análise de
prontuários médicos de idosos vitimados por causas externas no ano de 2011. Foram
analisadas as variáveis: sexo, faixa etária, dia da semana e horário de ocorrência, mecanismo
do trauma, presença de fratura, Escala de Coma de Glasgow, gravidade do TCE, classificação
de Marshall e existência de óbito. Os dados foram organizados com o software SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences), versão 18 e apresentados por meio da estatística
descritiva (distribuições absoluta e percentuais, média e desvio padrão). Nas análises
bivariadas empregou-se o teste do Qui-Quadrado, sendo adotado um nível de significância de
5% (p<0,05).
Resultados: Houve predomínio de vítimas do sexo masculino (64,4%) e da faixa etária de 60
a 69 anos (46,1%). Verificou-se que a maior frequência de trauma foi registrada aos sábados
(17,3%) e domingos (16,3%), predominando os turnos da tarde e noite (32,7% cada um).
Quanto ao mecanismo do trauma, as quedas (62,5%) ocuparam posição de destaque, seguidas
dos acidentes de transporte (31%). Verificou-se diferença estatisticamente significante entre a
ocorrência de acidente de transporte e a presença de fratura (p<0,001; RP=4,38 [1,75-10,98]).
Com relação à gravidade do TCE, predominaram os traumatismos leves (72,1%) e moderados
(17,3%). Houve associação significativa entre a classificação de Marshall e presença de óbito
(p<0,002).
Conclusão: O TCE é um problema constante para a saúde pública, e devido ao crescente
envelhecimento populacional vem se tornando cada vez mais frequente entre os idosos,
influenciando diretamente na morbimortalidade por causas externas. Nas faixas etárias acima
dos 60 anos ambos os sexos estão expostos a sofrerem TCE em proporção equivalente onde a
quedas e os acidentes de transportes destacam-se como as principais etiologias.
Descritores: Saúde do Idoso, Causas Externas, Traumatismos Encefálicos.
47
ABSTRACT
Introdution: The elderly represent a considerable portion of the world population,
participating actively in the economy of a country, however, is more frequent the number of
casualties due to external causes that have traumatic brain injury (TBI).
Objective: To describe the profile of the elderly with TBI treated in a trauma hospital
emergency in João Pessoa, PB.
Methods: It was a cross-sectional study through indirect observation, analyzing the medical
records of elderly victims of external causes in 2011. The variables analyzed were sex, age,
day of week and time of occurrence, mechanism of injury, presence of fractures, Glasgow
Coma Scale, severity of TBI, Marshall classification and existence of death. The data were
organized with the software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), version 18
and presented using descriptive statistics (absolute and percentage distributions, mean and
standard deviation). In bivariate analyzes, we used the chi-square, adopted a significance level
of 5 % (p < 0,05) .
Results: There was a predominance of male victims (64.4 %) and aged 60-69 years (46.1 %).
It was found that the highest frequency of injury happened on Saturdays (17.3%) and Sundays
(16.3%), predominantly the evening and night shifts (32.7 % each) . About the mechanism of
injury, falls (62.5 %) occupied a prominent position, followed by traffic accidents (31 %).
There was a statistically significant difference between the occurrence of traffic accidents and
the presence of fractures (p < 0.001, PR = 4.38 [1.75 to 10.98]. Regarding the severity of TBI,
predominated the mild trauma (72.1 %) and moderate one (17.3%). It was founded a
significant association between the classification of Marshall and the presence of death (p <
0.002).
Conclusion: The ECA is a constant problem for public health, and because of the growing
aging population, is becoming increasingly common among the elderly, influencing directly
at the mortality from external causes. In the age groups over 60 years both sexes are exposed
to suffer TBI in equivalent proportion. where the main causes was the falls and traffic
accidents.
KEYWORDS: Elderly; External Causes; Traumatic Brain Injury.
48
INTRODUÇÃO
Os idosos constituem o grupo populacional que mais cresce proporcionalmente em
todo mundo1. Isso se deve a vários fatores como: avanço da medicina, melhoria das condições
socioeconômicas da população favorecendo a qualidade de vida das pessoas, redução da taxa
de fecundidade das mulheres, dentre outros2,3
.
Por mais subsídios que haja atualmente, a população geriátrica não se exime das
mudanças biopsicossociais nessa faixa etária, o que os torna limitados às atividades da vida
diária e, consequentemente, mais susceptíveis às injúrias por causas externas2.
Traumas em idosos representam uma significativa parcela dos atendimentos em
hospitais de emergência4, com as quedas e os acidentes de transporte constituindo-se nos
principais responsáveis pela maioria das ocorrências5,6
. Inúmeras são as injúrias decorrentes,
destacando-se entre as principais lesões o Trauma cranioencefálico (TCE) que é a maior causa
de mortalidade neste grupo, podendo estar relacionada à decadência da capacidade física,
presença de comorbidades e o uso de várias drogas3. Particularmente, nos Estados Unidos da
América, a população idosa contribui com 25% do total de mortes por TCE7.
Em tempos de envelhecimento da população, uma maior atenção aos idosos tem que
ser dispensada, para dar continuidade à longevidade dos mesmos com capacidade funcional
adequada, prevenindo-os dos acidentes que causam traumatismo craniano. É importante
ressaltar que a idade é considerada fator de prognóstico para idosos vítimas de TCE, uma vez
que quanto maior, mais alta é a mortalidade8.
Portanto, este trabalho objetiva caracterizar o TCE em idosos atendidos num centro
de referência de emergência e trauma, como também identificar a gravidade dessa lesão
baseando-se na Escala de Coma de Glasgow (ECGl) e Classificação Tomográfica de
Marshall.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo transversal, com abordagem indutiva e procedimento
descritivo-analítico, através da observação indireta, por meio da análise de prontuários
médicos de idosos vitimados por causas externas. A pesquisa foi desenvolvida no Hospital
Estadual de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, instituição pública de
referência para o atendimento de emergência às vítimas de trauma, situado na cidade de João
Pessoa, Paraíba.
49
A amostra foi composta por todos os prontuários de pacientes com idade igual ou
superior a 60 anos vítimas de traumatismo craniano (TCE) no período de janeiro a dezembro
de 2011 e que apresentaram diagnóstico devidamente confirmado por meio de exame físico e
radiológico (Tomografia Computadorizada de Crânio). Foram excluídos do estudo os
prontuários de vítimas cujo diagnóstico foi de qualquer tipo de lesão crônica.
Dois pesquisadores devidamente treinados realizaram a coleta, sendo os dados
registrados em um formulário específico, composto por questões abertas e fechadas,
dicotômicas e de múltipla escolha, desenvolvido a partir da análise do prontuário.
Previamente a coleta, realizou-se o estudo piloto a fim de verificar a confiabilidade do
instrumento, bem como a existência de possíveis inconsistências. Os dados foram coletados
no Setor de Arquivo Médico e Estatístico (SAME) do referido hospital e contemplaram a
seguintes variáveis: sexo, faixa etária, dia da semana e horário da ocorrência do trauma,
mecanismo do trauma, presença de fratura, Escala de Coma de Glasgow (ECGl), gravidade do
TCE, classificação de Marshall e ocorrência de óbito.
Historicamente, a ECGl tem sido a mais utilizada para classificação da gravidade
neurológica do TCE, baseada nas respostas dos pacientes voltadas para abertura ocular,
resposta verbal e melhor resposta motora, varia de 3-15 pontos, considerando 15-13 TCE
leve, 9-12 TCE moderado e < 8 TCE grave9.
A classificação de Marshall é baseada nos achados tomográficos e tornou-se
amplamente aceita para fins descritivos, vem sendo cada vez mais utilizada como preditor de
resultados no TCE10
e está categorizada em cinco classes que consideram como achados:
edema (avaliado pela compressão ou ausência de cisternas), volume de lesões de alta ou mista
densidade (coleções hemáticas), desvio de linha média e evacuação de lesão de massa.
Considera-se classe I quando na há nenhuma alteração na tomografia computadorizada, na
classe II as cisternas estão livres, lesão densa ou mista quando presente < 25 m2
e desvio de
linha média (DLM) < 5mm, a classe III diferencia-se da II devido a compressão das cisternas,
observa-se no Marshall classe IV a compressão das cisternas, lesão densa ou mista <25 m2 e
DLM > 5mm, a classe V é dividida em lesão >25 m2, que podem ser ou não evacuadas
cirurgicamente11
.
Os dados foram registrados com o auxílio do programa estatístico SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences), versão 18 e apresentados por meio da estatística descritiva
(distribuições absoluta e percentuais, média e desvio padrão) e inferencial. Nas análises
50
bivariadas empregou-se o teste do Qui-Quadrado, sendo adotado um nível de significância de
5% (p<0,05).
Seguindo os preceitos estabelecidos pela Resolução 196/96, este estudo foi
devidamente registrado no SISNEP (Sistema Nacional de Informações sobre Ética em
Pesquisa envolvendo Seres Humanos) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual da Paraíba, sob o número CAAE 05480133000-11.
RESULTADOS
Foram analisados 104 prontuários de vítimas de TCE com idade variando de 60 a 93
anos, média de 71,8 (± 8,66) e mediana de 70 anos. Houve predomínio de vítimas do sexo
masculino (64,4%) e da faixa etária de 60 a 69 anos (46,1%) (Tabela 1). A razão entre os
sexos masculino e feminino reduziu com o avançar da idade, passando de 2,7:1 na faixa etária
entre 60 a 69 anos para 1,2 entre os idosos de 80 anos ou mais.
Tabela 1-Distribuição das vítimas segundo o sexo e faixa etária
Faixa Etária
Sexo 60 a 69 70 a 79 80 ou mais Total
n % n % n % n %
Masculino 35 52,2 20 29,9 12 17,9 67 64,4
Feminino 13 35,1 14 37,8 10 27,1 37 35,6
Total 48 46,1 34 32,7 22 21,2 104 100,0
Razão M:F 2,7:1 1,4:1 1,2:1 1,8:1
Com relação ao dia da semana de ocorrência do trauma, verificou-se que a maior
frequência foi registrada aos sábados (17,3%) seguido do domingo (16,3%) e da quarta-feira
(16,3%) (Gráfico 1). No tocante ao horário, predominaram ocorrências nos turnos da tarde e
noite (com 32,5% cada um), seguidos do turno (24%) e da madrugada (11%).
51
Gráfico 1. Distribuição das ocorrências de acordo com o dia da semana.
Em relação ao mecanismo de trauma, as vítimas de queda e acidente de transporte
estiveram entre os mais frequentes correspondendo a 93,4% dos casos, a queda (n=65; 62,6%)
teve posição de destaque, seguido dos acidentes de transporte (n=32; 30,8%). Outras
etiologias incluíram as agressões (1,9%), lesões autoprovocadas (1,9%), exposição a forças
mecânicas inanimadas (0,9%), e em 1,9% dos casos não foi informado o mecanismo do
trauma. Houve associação significativa entre faixa etária e queda (p<0,012), sendo possível
observar o predomínio das vítimas com TCE na faixa etária entre 60 a 69 anos (45,1%)
(Tabela 2).
Tabela 2-Associação entre a ocorrência de acidentes de transporte e queda e a faixa
etária do idoso.
(a) Em dois casos não havia informação sobre mecanismo do trauma.
14,4
14,4
16,3
7,7
13,5
17,3
16,3
segunda
terça
quarta
quinta sexta
sábado
domingo
Faixa Etária (em anos)
Variável 60 a 69 70 a 79 80 ou mais Total p-valor
n % n % n % n %
Acid. Transporte(a)
Sim 19 41,3 10 29,4 03 13,6 32 31,4 >0,05
Não 27 58,7 24 70,6 19 86,4 70 68,6
Queda(a)
Sim 23 50 23 67,7 19 86,4 65 63,7 <0,012
Não 23 50 11 32,3 03 13,6 37 36,3
TOTAL 46 45 34 33,3 22 21,57 102 100
52
Observou-se presença de fratura óssea em 28,4% das vítimas, e apesar da queda ser o
mecanismo de trauma mais frequente, apenas 13,9% dos idosos que sofreram queda
apresentaram algum tipo de fratura, conforme descrito na Tabela 3. Verificou-se diferença
estatisticamente significante entre a ocorrência de acidente de transporte e a presença de
fratura (p<0,001; RP=4,38 [1,75-10,98]).
Tabela 3. Associação entre a ocorrência de queda e acidentes de transporte e a presença
de fratura óssea. Presença de Fratura
Variável Sim Não TOTAL p-valor RP
n % n % n %
Queda(a) 1
Sim 09 13,9 56 86,1 65 100 <0,001 0,13 (0,05-0,35)
Não 20 54,1 17 45,9 37 100
Acidente de Transporte(a) 1
Sim 16 50 16 50 32 100 <0,001 4,38 (1,75-10,98)
Não 13 18,6 57 81,4 70 100
Total 29 28,4 73 71,6 102 100
(a) Em dois casos não havia informação.
Verificou-se que 19,2% das vítimas foram a óbito, havendo uma maior frequência
entre os idosos de 70 a 79 anos (45%). Ao se analisar a gravidade do TCE, constatou-se que
72,1% dos idosos sofreram traumas de grau leve (72,1%), seguido do moderado (17,3%),
enquanto o TCE grave se apresentou em menor proporção (10,6%). Esse predomínio foi
observado em quase todos os mecanismos do trauma, exceto nas lesões autoprovocadas em
que o TCE grave representou 100% dos casos. Observou-se associação significativa entre o
grau do TCE com a ocorrência de óbito (p<0,001) (Tabela 4).
53
Tabela 4-Associação entre a faixa etária e gravidade do TCE e existência de óbito.
Óbito
Variável Sim Não Total p-valor
n % n % n %
Faixa Etária
60 a 69 05 25,0 43 51,2 48 46,1 >0,05
70 a 79 09 45,0 25 29,8 34 32,7
80 ou mais 06 30,0 16 19,0 22 21,2
Total 20 19,2 84 80,8 104 100
Grau do TCE
Leve ECGl (15-13) 06 8,0 69 92,0 75 72,1 <0,001
Moderado ECGl (12-9) 07 38,9 11 61,9 18 17,3
Grave ECGl (8-3) 07 63,6 04 36,4 11 10,7
Total 20 19,2 84 80,8 104 100
Houve associação significativa entre a classificação de Marshall e presença de óbito
(p<0,01), podendo-se observar que apesar do Marshall classe V representar o maior
percentual de óbito total (60%), há um predomínio na mortalidade entre os que apresentaram
o resultado tomográfico com classe IV e III respectivamente (100%; 50%). A mortalidade
global foi de 19,2%, conforme apresentado na Tabela 5.
Tabela 5. Associação entre a classificação de Marshall e a ocorrência de óbito.
Óbito
Variável Sim Não Total p-valor
n % n % n %
Classificação de Marshall
Classe I 0 0 33 100 33 31,8
Classe II 5 21,7 18 78,3 23 22,1
Classe III 1 50 1 50 2 1,9 <0,01
Classe IV 2 100 0 0 2 1,9
Classe V
Cirúrgico 8 27,6 21 72,4 29 27,9
Não cirúrgico 4 26,7 11 73,3 15 14,4
Total 20 19,2 84 80,8 104 100
54
DISCUSSÃO
Uma das mais importantes mudanças demográficas do nosso século é o aumento
gradual da população idosa12,13
, o que potencializa a ocorrência de diversos traumas por
causas externas. O trauma vem sendo cada vez mais frequente nessa fase da vida, pois com o
aumento da idade começam a surgir os distúrbios motores, alterações fisiológicas e
comorbidades, o que resultam em tempo de reação alterado, sendo o traumatismo craniano
uma das mais frequentes causas de morte3. Frequentemente negligenciado, idosos vítimas de
TCE serão uma constante preocupação para a sociedade com o crescente envelhecimento da
população mundial14
.
A escolha do Hospital de Emergência e Trauma deveu-se ao fato de o mesmo se
constituir em um serviço público de referência no município de João Pessoa e regiões
circunvizinhas para os atendimentos considerados de maior gravidade, sendo, inclusive, um
centro de referência para o atendimento de politraumatizados.
Uma das dificuldades de se trabalhar com dados secundários reside no fato de que, em
muitas situações, o registro incompleto das informações impossibilita a transcrição fiel dos
achados. Essa condição foi verificada nesta pesquisa, posto que alguns prontuários não
estivessem adequadamente preenchidos. Porém, a despeito deste fato, os resultados aqui
apresentados retratam o perfil do portador de traumatismo crânioencefálico entre as vítimas
idosas do município de João Pessoa e cidades adjacentes atendidos na referida instituição.
Nesse estudo, idosos do sexo masculino apresentaram uma discreta maioria na razão
entre os sexos. Particularmente nos idosos, existe uma aproximação ou inversão das relações
de sexo nos extremos de idade8,9
, esse fato pode estar associado a uma maior longevidade do
sexo feminino que geralmente procuram com mais frequência os serviços de saúde, ao
contrário da população masculina que está mais exposta a riscos, por isso morre mais cedo.
Em adultos a relação entre os sexos masc./fem. pode variar entre 2.7:1 a 6.0:115,16
.
Os indivíduos que se encontravam na faixa etária entre 60 a 69 foram os mais
afetados, o que pode implicar que os mesmos ainda encontram-se economicamente ativos,
dirigem seus próprios veículos, expondo-se mais dessa forma. Nesse sentido, vale ressaltar
que os idosos tem apresentado menos deficiência e um estilo de vida mais ativo comparado a
gerações anteriores, o que aumenta o risco de lesões6.
Em países desenvolvidos devido a uma maior perspectiva de vida, são considerados
idosos os que estão acima dos 65 anos17-19
, sendo mais acometidos aqueles que se encontram
na faixa etária entre 65 a 74 anos8.
55
As ocorrências no dia da semana se deram quase que na mesma proporção, com
exceção das quintas feiras onde o número foi bem menor, não foram encontrados estudos
semelhantes que abordassem o predomínio do dia da semana.
Entre os principais mecanismos do trauma a queda se destaca como principal
causadora de lesão craniana, seguida dos acidentes de transporte, ratificando achados
prévios3,8,20
. Verificou-se uma crescente das vítimas de queda com o aumento da faixa etária,
ao contrário dos acidentes de transporte que diminuiu o número de vítimas com o avançar da
idade. Baseado nesse contexto, a incidência elevada de quedas pode ser atribuída a uma
combinação de declínio sensorial e motor, descondicionamento cognitivo ou deficiências,
sexo feminino e uso de medicamentos9,21
. No que concerne aos acidentes de trânsito, com o
avançar da idade essa população diminui o uso de veículos automotores, fato que pode ser
justificado pela fisiopatologia do envelhecimento e a presença de patologias agudas e crônicas
que afetam a visão, reflexos, equilíbrio e cognição21
.
Menos de um terço das vítimas possuíam fraturas ósseas, porém a análise da
ocorrência de acidente de transporte e a presença de fratura demonstrou que as vítimas desse
tipo de acidente possuíam 4,3 vezes mais chances de sofrerem fraturas. Dirigir é uma
habilidade essencial para manter a independência e mobilidade para os idosos, uma vez que os
automóveis são o meio principal de transporte5.
Lesão na cabeça em idosos é um problema comum associado com uma alta
mortalidade21-23
. Apesar de neste estudo a maioria das vítimas apresentarem TCE leve, como
observado em pesquisa semelhante24
, a mortalidade foi bem maior entre aqueles que
apresentaram gravidade moderada ou severa, principalmente nos casos mais graves,
representado por mais da metade de óbitos. Idosos com ECGl ≤ 8 (menor/igual) tem um
prognóstico extremamente pobre6.
Nesta pesquisa não se observou diferença estatisticamente significativa entre a
ocorrência de óbito e faixa etária demonstrando que idosos que se encontravam acima de 70
anos e/ou com a ECGl entre 8-3 apresentaram uma maior mortalidade. Estudos semelhantes
demonstram o mesmo resultado8,25,26
, e quando esses idosos sobrevivem, após a recuperação
muitas vezes apresentam alteração de nível funcional, o que precipita modificações na
circunstância social26
. Mudanças relacionadas à idade e comorbidades tendem a piorar a
extensão das lesões, complicam a gestão clínica, e favorecem a lenta recuperação27
. Portanto,
a idade em si é um preditor de mau resultado, mesmo quando as comorbidades são
56
controladas6, aumentando a frequência de óbito, complicações e tempo de permanência
hospitalar quando comparado a pacientes não idosos28
.
A classificação de Marshall, independente da faixa etária, identifica seis grupos
diferentes de pacientes com TCE baseada na gravidade dos achados tomográficos11
. Desde a
sua introdução tornou-se amplamente aceita para fins descritivos10
e vem sendo cada vez mais
utilizada como preditor de resultados10,29,30
.
Apesar de nesse estudo ter havido uma maior representatividade do Marshall classe V,
identificou-se uma maior mortalidade nas classes III e IV. Estudo realizado no banco de
dados da Rede de Pesquisa de Auditoria e Trauma (Trauma Audit and Research Network-
TARN) apontou que apenas o Marshall IV afetou significativamente a sobrevivência das
vítimas de TCE31
, enquanto um estudo de coorte considerou os menores resultados da ECGl e
Marshall IV e V como indicadores de pior prognóstico, o que demonstra uma correlação
inversamente proporcional entre as duas escalas29
.
A morbimortalidade em idosos vítimas de TCE vem aumentando com o fenômeno de
envelhecimento populacional, o que alerta a sociedade a instituir políticas de prevenção
desses agravos, contribuindo para reduzir a prevalência dos agravos, os custos hospitalares e
as possíveis sequelas advindas desse tipo de trauma.
CONCLUSÃO
Na faixa etária acima dos 60 anos, ambos os sexos estão expostos a sofrerem TCE em
proporção equivalente, sendo que as quedas e acidentes de transporte destacam-se como
principais etiologias do trauma. A classificação tomográfica de Marshall e Escala de coma de
Glasgow foram significativas no prognóstico das vítimas neste estudo.
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59
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As causas externas tornaram-se um problema mundial na saúde pública, afetando a
morbimortalidade da população de forma contundente, o que gera um elevado ônus
econômico para o país e grandes transformações físicas e mentais às vítimas. O trauma
crânio-encefálico merece destaque por ser um agravo altamente prevalente em nosso meio,
que provoca lesões incapacitantes ou que levam ao óbito grande parte dos acidentados.
A população adulta jovem, do sexo masculino, predomina dentre as vítimas de TCE
por causas externas, principalmente, devido a acidentes de transporte, quedas e agressões,
sugerindo que essa faixa etária, ao se expor mais, de forma muitas vezes imprudente, seja alvo
de uma abordagem mais prática e eficaz com relação às medidas de prevenção desses agravos.
Na população geriátrica a queda destacou-se entre os mecanismos do trauma, fato que pode
ser justificado pelas disfunções físicas e cognitivas que surgem com o avançar da idade. A
ocorrência de óbito foi de 19,2% entre os idosos.
A escala de coma de Glasgow permanece de grande valor no diagnóstico de gravidade
do TCE, enquanto que a escala tomográfica de Marshall mostrou-se importante na avaliação
prognóstica.
60
6. REFERÊNCIAS
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Acesso em 18.fevereiro.2013
63
APÊNDICE
64
APÊNDICE A- Modelo do Instrumento para Coleta de Dados Variável Categoria
Prontuário Nº Procedência:
Meio de acesso ( ) SAMU ( ) Resgate ( ) familiares ( ) o próprio
( ) terceiros ( ) ambulância_______________________
Mês 1. ( )Janeiro 2.( )Fevereiro 3. ( )Março 4. ( )Abril
5. ( )Maio 6.( )Junho 7. ( )Julho 8. ( )Agosto
9. ( )Setembro 10.( )Outubro 11.( ) Novembro 12.( ) Dezembro
Data Entrada___/___/___ Saída___/___/___
Dias de internação:____________
Sexo 1. ( ) Masculino 2. ( ) Feminino
Idade (Em Anos) 1. ____________ 2. ( ) NR
Estado civil 1. ( )solteiro 2. ( )casado 3. ( )viúvo
4. ( )separado 5. ( )divorciado 6.( )outros
Escolaridade 1. ( )ens. fund. incompleto 2. ( )ens. fund. completo
3. ( )ens. médio incompleto 4. ( )ens. médio completo
5. ( )ens. sup. incompleto 6. ( )ens. sup. completo
Profissão ____________________________________
Dia Da Semana 1. ( ) Segunda 2. ( ) Terça 3. ( ) Quarta 4. ( ) Quinta
5. ( ) Sexta 6. ( ) Sábado 7. ( ) Domingo 8. ( ) NR
Horário 1. ( ) Manhã 2. ( ) Tarde 3. ( ) Noite 4. ( ) Madrugada
5. ( ) NR
Etiologia 1. ( ) Acidentes de transporte (V01-V99)
2.( ) Queda (W00-W19)
3.( ) Afogamento e submersão acidentais (W65-W74)
4.( ) Exposição a corrente elétrica, a radiação e a temperatura e
pressão extremas do ar ambiental (W85-W99)
5.( ) Queimaduras (X00-X19)
6.( ) Envenenamento (X40-X49) __________________________
7.( ) Lesões autoprovocadas voluntariamente (X60-X84)_________
8.( ) Agressões (X85-Y09)
9.( ) Acidente de trabalho
10.( ) Acidentes por outras causas externas_____________________
11.( ) NR
Acidentes de trânsito 1. ( ) pedestre 2. ( ) ciclista 3. ( ) motociclista
4. ( ) triciclo 5. ( ) ocupante de veículo 6. ( ) capotamento
7. ( ) outros acidentes de transporte
Presença de Hálito
Etílico
1.( ) sim 2. ( ) não 3. ( ) NR
Uso de Capacete 1.( ) sim 2. ( ) não 3. ( ) NR
Queda 1.( ) própria altura 2. ( ) altura___________________
Agressões 1. ( ) enforcamento 2. ( ) estrangulamento e sufocação
3. ( ) arma de fogo 4. ( ) arma branca
5. ( ) força corporal
6. ( ) por outros meios não especificados
Lesão de partes
moles
1. ( ) escoriações 2. ( ) bolha 3. ( ) flictena
4. ( ) ferimento 5.( ) contusão 6. ( ) luxação
7. ( ) entorse 8. ( ) contratura 9. ( ) equimose
65
10.( ) hematoma 11. ( ) laceração 12. ( ) edema
13.( ) lesão vascular 14. ( ) lesão de nervos
15.( ) lesão de tendões
16.( ) lesão de ligamentos
Local 1. ( ) couro cabeludo 2. ( ) cabeça 3. ( ) face
4. ( )r. periorbitaria 5. ( ) pescoço 6. ( ) torax
7. ( ) abdome 8. ( ) região cervical 9. ( ) região lombar
10.( ) região dorsal 11. ( ) braço 12. ( ) antebraço
13.( ) mãos 14. ( ) coxa 15. ( ) perna
16.( ) pés 17. ( ) ombro 18. ( ) cotovelo
19.( ) punho 20. ( ) quadril 20. ( ) joelho
21.( ) tornozelo 22. ( ) gluteo 23. ( )NR
Fratura 1. ( ) sim 2. ( ) não
1. ( ) fechada 2. ( ) exposta
1. ( ) crânio 2. ( ) órbita 3. ( ) nariz
4. ( ) zigomático 5. ( ) maxila 6. ( ) mandíbula
7. ( ) clavícula 8. ( ) úmero 9. ( ) rádio
10.( ) ulna 11. ( ) ossos mãos 12. ( ) dedos mãos
13.( ) coluna cervical 14. ( ) coluna dorsal
15.( ) coluna lombar 16.( ) bacia
17.( ) fêmur______________
18.( ) tíbia 19.( ) fíbula 20. ( ) ossos pés
21.( ) dedos pés 22.( ) cotovelo 23. ( ) punho
24.( ) patela 25.( ) platô tibial 26. ( ) tornozelo
27.( ) outros ossos 28. ( ) arcos costais
Outras lesões 1. ( ) amputação___________________________
2. ( ) avulsão _____________________________
3. ( ) esmagamento_________________________
4. ( ) escalpelamento
TRM 1. ( ) sim 2. ( ) não
Enxerto 1. ( ) pele 2. ( ) osséa
Queimadura 1. ( ) 1º grau 2. ( ) 2º grau 3. ( ) 3º grau
Agente_________________________
Extensão________________________
TCE 1. ( ) Sim 2. ( ) Não
Grau TCE 1. ( ) Leve 2. ( ) Moderado 3. ( ) Grave
Classificação
Tomográfica de
Marshall
1. ( ) Classe I 2. ( ) Classe II 3. ( ) Classe III 4. ( )
Classe IV
5. Classe V
( )qualquer lesão cirurgicamente evacuada
( )lesão maior que 25 ml não evacuada cirurgicamente.
Destino 1. ( ) UTI 2. ( ) UTQ 3. ( ) internação
4. ( ) centro cirúrgico
( ) cirurgia ( ) drenagem em selo dágua
Alta 1. ( ) à pedido 2. ( ) critério médico
3. ( )outros__________________
Transferência 1. ( ) à pedido 3. ( ) decisão médica
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Escala de Coma de Glasgow
ABERTURA OCULAR RESPOSTA VERBAL RESPOSTA MOTORA
Expontânea 4 Orientado 5 Obedece comandos 6
Estímulo verbal 3 Confuso 4 Localiza dor 5
Dor 2 Palavras inapropriadas 3 Afasta dor 4
Ausente 1 Sons incompreensíveis 2 Decorticação 3
Ausente 1 Descerebração 2
Ausente 1
Trancrição dos achados tomográficos
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________
Óbito 1. ( ) Sim 2. ( ) Não
Tempo do Óbito 1. ( ) até 48h 2. ( ) Após 48h
67
ANEXO
68
69