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1
FACULDADE MERIDIONAL – IMED CONNECTION
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL SOBRACID
ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA
DANIEL TATSCH HOELTZ
TRATAMENTO ORTODÔNTICO COM EXTRAÇÃO DE INCISIVO
INFERIOR
Porto Alegre
2015
2
DANIEL TATSCH HOELTZ
TRATAMENTO ORTODÔNTICO COM EXTRAÇÃO DE INCISIVO
INFERIOR
TCC apresentado como
requisito para obtenção do Título de
Especialista em Ortodontia.
Prof. Ms. Stefan Cardon
Orientador
Porto Alegre
2015
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho as amadas esposa Jacqueline e filha Laís pelo apoio,
incentivo e paciência durante minhas extensas horas de estudo.
Também dedico a todos que se empenham em se tornarem melhores, o tanto
quanto possível, a fim de tornarem melhor tudo que os rodeia e tem o poder de melhorar.
4
RESUMO
A exodontia de um incisivo inferior pode ser uma opção disponível no
tratamento ortodôntico proporcionando a obtenção de máxima função, estética e
estabilidade quando corretamente indicada.
Essa opção de tratamento pode ser indicada em más oclusões com
discrepância de volume dentário anterior devido a incisivos superiores estreitos e/ou
incisivos inferiores largos. É contraindicada em más oclusões sem discrepância anterior
ou com discrepâncias ocasionadas por incisivos superiores largos e/ou incisivos inferiores
estreitos.
O objetivo deste trabalho de revisão de literatura foi de reunir informações
referentes às indicações, contraindicações, vantagens, desvantagens, “set-up”
diagnóstico e estabilidade dos resultados obtidos nos tratamentos realizados com extração
de um incisivo inferior.
Palavras-Chave: ortodontia, tratamento ortodôntico, extração de incisivo
inferior.
5
ABSTRACT
Lower incisor extraction can be a valuable option in the in orthodontic
threatment offering of function, aesthetics and stability when is correctily identcated.
This treatment option may be indicated in malocclusions with anterior dental
volume discrepancy due to narrow maxillary incisors and/or large mandibular incisors. It
is contraindicated in malocclusions without anterior discrepancy or with discrepancies
caused by large maxillary incisors and/or narrow mandibular incisors.
The aim of this study of literature rewiew was to gather information about the
indications, contraindications, advantages, disadvantages, diagnostic “set-up” and
stability of the results achieved in treatments performed with lower incisor extraction.
The literature suggests this method affords improved posttreatment stability
compared with premolar extraction.
As well as a careful diagnosis, established with the aid of a diagnostic setup,
professional skills and clinical experience are instrumental in achieving successful
orthodontic results with this treatment option.
Key words: orthodontic, orthodontic treatment, lower incisors extraction.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 8
2. REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 10
2.1. Extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico .................. 10
2.2. Indicações de extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico
.................................................................................................................................... 10
2.3. Contraindicações de extração de incisivo inferior no tratamento
ortodôntico .................................................................................................................. 12
2.4. Vantagens da extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico
.................................................................................................................................... 13
2.5. Desvantagens da extração de incisivo inferior no tratamento
ortodôntico .................................................................................................................. 14
2.6. Relação entre a extração de incisivo inferior e papila interdentária . 15
2.6.1. Papila interdentária – classificação, forma e espessura ................. 15
2.6.2. Papila interdentária – posição da papila interdentária ................... 16
2.6.3. Papila interdentária – fatores determinantes para a presença de papila
interdentária ................................................................................................................ 17
2.6.4. Extração de incisivo inferior e surgimento de espaço negro ......... 17
2.7. “set-up” de diagnóstico para determinação da extração de um incisivo
inferior ........................................................................................................................ 17
2.8. Escolha do incisivo inferior a ser extraído ....................................... 18
2.9. Estabilidade pós-tratamento.............................................................. 19
7
3. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS ........................................................ 20
3.1. Caso Clínico 1................................................................................... 20
3.1.1. Diagnóstico e etiologia .............................................................. 20
3.1.2. Objetivos do tratamento ............................................................. 20
3.1.3. Resultados do tratamento ........................................................... 21
3.2. Caso Clínico 2................................................................................... 22
3.2.1. Diagnóstico e etiologia .............................................................. 22
3.2.2. Objetivo do tratamento .............................................................. 23
3.2.3. Resultados do tratamento ........................................................... 24
4. DISCUSSÃO ........................................................................................... 25
5. CONCLUSÃO ......................................................................................... 27
6. REFERÊNCIAS ...................................................................................... 28
8
1. INTRODUÇÃO
A arquitetura de um sorriso agradável desempenha um papel fundamental em
uma face atraente e estética e realiza uma importante função individual em termos de
comunicação não verbal e auto-estima1.
A capacidade de analisar e reconhecer os requisitos morfológicos que
interferem na estética dental e facial é dirigida por várias peculiaridades estéticas como a
relação entre ossos e tecidos moles, assim como da harmonia entre os dentes1,2.
A sociedade tem criado uma demanda quanto a aparência e a percepção da
estética facial, em particular, da auto-percepção, tem direcionado ocasionado
consequências no campo da odontologia1.
Ortodontistas seguem diretrizes especificas para fazerem diagnósticos e
planejamentos factíveis embora os conceitos que qualificam e quantificam a beleza
estejam baseados em questões subjetivas1.
A precisão diagnóstica e, consequentemente, a correta formulação de um
plano de tratamento apresenta um alto grau de dificuldade e complexidade1,3.
Quando definido o plano de tratamento, uma significante percentagem de
casos envolvendo má–oclusão requerem terapias que envolvam extrações dentárias (por
exemplo, discrepâncias entre tamanhos de dentes e maxila, e discrepâncias entre as bases
ósseas)4.
Rotineiramente os dentes extraídos são os primeiros pré-molares, segundos
pré-molares e molares nesta ordem. A extração de incisivos inferiores é a opção de
tratamento menos comum5.
9
A extração de incisivos inferiores envolve uma região de fácil acesso visual
podendo ter repercussões negativas quando as extrações são realizadas de maneira
indevida, sendo o surgimento de espaços negros a mais comum complicação estética1,6.
A ocorrência de espaço negro é comum devido a extração de incisivos
inferiores1. Em adultos, geralmente, surgem com a perda de tecido gengival devido à
doença periodontal, mas quando apinhamentos e giroversões dos incisivos são corrigidos,
o ponto de contato desloca-se para incisal6.
O objetivo deste trabalho é de analisar, através de um trabalho de revisão de
literatura, à extração de incisivos inferiores como opção de tratamento ortodôntico
apresentando os aspectos morfológicos, estéticos e funcionais que devem ser
considerados nesta opção de tratamento.
10
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico
A exodontia de um incisivo inferior pode ser considerada uma opção valiosa
na busca da excelência nos resultados ortodônticos para obtenção de máxima função,
estética e estabilidade7.
A exodontia de um incisivo inferior torna-se uma alternativa de tratamento
para as más oclusões que não se enquadram nas formas convencionais de extração, uma
vez que são estáveis a longo prazo8.
2.2. Indicações de extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico
São indicações de extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico:
1. Más oclusões de Classe I de Angle com severa discrepância de
volume dentário anterior (maior que 4,5 mm) devida à agenesia de
incisivos superiores, ou deficiência no diâmetro mesiodistal dos
incisivos superiores (estreitos) ou, inversamente, excesso no diâmetro
mesiodistal dos incisivos inferiores7,10,11,12,13;
2. Más oclusões dentárias de Classe I com dentição superior normal,
adequada intercuspidação posterior e apinhamento anteroinferior com
falta de espaço para aproximadamente um incisivo inferior7,13,14;
3. Más oclusões dentárias de Classe I com mordida cruzada anterior
devida ao apinhamento e protrusão dos incisivos inferiores;
intercuspidação posterior apropriada, estética facial aceitável e
ausência de discrepância osseodentária na arcada superior 7,15;
11
4. Casos com fissura labiopalatina, onde, após a cirurgia de mandíbula,
não foi possível estabelecer sobremordida e sobressaliência
adequadas, tornando-se necessária a exodontia de um incisivo inferior
para favorecer a estabilidade do resultado cirúrgico7,16;
5. Casos em que se deseja evitar aumento da largura intercaninos em
determinadas más oclusões7,12,17,18;
6. Más oclusões com tendência à Classe III 7,19,20;
7. Como alternativa não cirúrgica em tratamento de Classe III 7,19,21;
8. Como compromisso na solução de tratamento em adulto ou em
situações de recidiva7,21;
9. Pacientes adultos com má oclusão de Classe III suave a moderada,
com apinhamento relativamente pequeno e forma não triangular dos
incisivos 7,19;
10. Más oclusões de Classe III moderadas, com tendência à mordida
aberta anterior 7,21;
11. Má oclusão esquelética e dentária de Classe II, 1ª divisão com
protrusão da maxila e protrusão ou apinhamento dos incisivos
inferiores. Normalmente, a extração de um incisivo inferior deve ser
associada às extrações de pré-molares superiores, mantendo a relação
molar de Classe II, mas estabelecendo chave de oclusão de
caninos7,22,23,24,25,26;
12. Má oclusão com incisivo inferior mal formado ou comprometido
periodontalmente, cujo benefício de mantê-lo é praticamente
inexistente devido a estabilidade da dentição como um todo 7,13,17,27.
12
Diversos autores salientam que a principal indicação da extração de um
incisivo inferior é a presença de discrepância de volume dentário igual ou superior a 4,5
mm que é devido a excesso anteroinferior ou deficiência anterosuperior9,13,14,27.
2.3. Contraindicações de extração de incisivo inferior no tratamento
ortodôntico
São contraindicações de extração de incisivo inferior no tratamento
ortodôntico:
1. Todos os casos que necessitam de extrações em ambas arcadas com
sobremordida severa e padrão de crescimento horizontal,
apinhamento bimaxilar, sem discrepância de volume dentário na
região anterior, discrepância de volume dentário anterior devida a
incisivos inferiores estreitos e/ou superiores largos, acentuada
sobressaliência7,9,13;
2. Casos com incisivos inferiores triangulares e apinhamento mínimo
com falta de espaço menor do que 3mm, os quais devem ser tratados,
preferencialmente sem extrações através de “strippings” nos incisivos
para evitar a reabertura de espaços e a perda da papila gengival
interdentária entre os incisivos que seriam esteticamente
insatisfatórios7,12,19,28;
3. Casos onde o “set-up” demonstrar que a extração do incisivo inferior
pode resultar em sobremordida exagerada7,21;
13
4. Casos em que a inserção alta do freio labial inferior poderá causar
recessão gengival no incisivo remanescente a ser movimentado para
a área do freio7,21.
2.4. Vantagens da extração de incisivo inferior no tratamento ortodôntico
A extração de um incisivo inferior tem as seguintes vantagens:
1. Manutenção ou redução da distância intercaninos7,10;
2. Manutenção da forma geral da arcada, minimizando ou evitando a
expansão, preservando as estruturas de suporte7,22 e aumentando o
potencial para maior estabilidade7,13,17;
3. Redução do período de contenção, considerando-se que as
possibilidades de recidiva são menores7,13,17;
4. Pronta retração dos segmentos anteriores quando necessário7,13,17;
5. Menor risco de perda de ancoragem7,13,17;
6. Redução da necessidade do uso de elásticos (que é algo importante no
caso de pacientes não colaboradores, crianças ou pacientes com
distúrbios de comportamento) 7,13,17;
7. Propicia espaço na área de maior apinhamento7,10,19;
8. Melhora no paralelismo entre as raízes dos dentes anteroinferiores e
redução da proximidade das raizes7,10;
9. Redução do volume dentário minimizando alterações no perfil facial,
além de reduzir o tempo de tratamento7,22;
Levin14 considera que a exodontia de um incisivo inferior possibilita:
14
1. Melhorar o perfil facial através da redução da aparência de “protrusão
da mandíbula”;
2. Alinhar os dentes anteroinferiores facilmente;
3. Estabelecer uma sobremordida esteticamente favorável e
funcionalmente efetiva;
4. Posicionar os dentes anterossuperiores corretamente com inclinações
axiais aceitáveis, ao invés de os vestibularizar para permitir o
posicionamento de todos os dentes anteroinferiores.
2.5. Desvantagens da extração de incisivo inferior no tratamento
ortodôntico
Conforme Brandt e Safirstein17, são desvantagens da extração de incisivo
inferior no tratamento ortodôntico:
1. A tendência em reabrir o espaço no local da extração, especialmente
se for removido um incisivo central inferior. Independentemente do
paralelismo das raízes adjacentes ao espaço da exodontia, a incidência
de reabertura de espaço é comum;
2. A possibilidade de se criar uma discrepância de volume dentário,
especialmente se a extração do incisivo inferior estiver associada às
extrações de pré-molares superiores;
Outras desvantagens são a possibilidade de: aumento de sobremordida e
sobressaliência além dos limites aceitáveis, oclusão parcialmente insatisfatória, recidiva
de apinhamento com três incisivos, além da perda da estética da papila gengival
interdentária na área da exodontia7,13,15,19,29.
15
Sheridan e Hastings30 citam que pode ser criado um espaço triangular
remanescente na área da extração, principalmente nos pacientes com mais idade.
2.6. Relação entre a extração de incisivo inferior e papila interdentária
2.6.1. Papila interdentária – classificação, forma e espessura
A papila interdental é classificada como tecido gengival não queratinizado ou
paraqueratinizado, recoberto por epitélio escamoso estratificado31.
A forma da papila interdentária é determinada pelo ponto de contato
interdentário, pela largura dos dentes proximais e pelo trajeto da junção amelocementária
dos dentes adjacentes seguindo o contorno dos dentes em função da forma, do tamanho e
da posição deles 31,32.
No sentido vestibulolingual/palatino, a porção interdental da gengiva é mais
estreita entre os dentes anteriores, tendo a papila interdentária um formato piramidal
31,32,33,34.
A altura e a espessura da gengiva clínica varia nas diferentes regiões dentárias
conforme estudo realizado em 42 adultos jovens do sexo masculino por Müller e Eger em
199735. Tabela 1 – Altura da gengiva clínica em 42 adultos jovens do sexo masculino
(segundo Müller e Eger35, 1997)
Dente Altura da gengiva (mm) Média (desvio-padrão) Intervalo
15/25 4,28 1,20 2,05-7,20
14/24 3,79 1,10 1,65-6,45
13/23 4,21 1,34 1,80-7,65
12/22 4,80 1,49 1,45-7,45
11/21 4,44 1,41 1,25-7,45
31/41 4,04 1,32 1,10-7,35
32/42 4,18 1,24 1,10-6,95
33/43 3,59 1,02 1,45-6,50
34/44 3,21 0,98 1,80-6,20
35/45 3,81 0,84 2,00-5,85
16
Tabela 2 – Espessura da gengiva clínica em 42 adultos jovens do sexo
masculino (segundo Müller e Eger35, 1997)
Dente Espessura da gengiva (mm) Média (desvio-padrão) Intervalo
15/25 1,08 0,38 0,55-2,35
14/24 1,05 0,28 0,50-1,65
13/23 0,90 0,29 0,55-1,80
12/22 1,15 0,33 0,50-1,75
11/21 1,28 0,37 0,70-2,35
31/41 0,89 0,27 0,50-1,60
32/42 0,91 0,30 0,50-1,25
33/43 0,84 0,24 0,50-1,55
34/44 0,76 0,14 0,50-1,05
35/45 0,94 0,22 0,60-1,55
2.6.2. Papila interdentária – posição da papila interdentária
A posição da papila interdental (PI) é classificada em normal: quando a PI
preenche todo espaço da ameia interdental, desde a junção cemento-esmalte (JCE) até o
ponto ou área de contato interproximal; classe I: quando a extremidade da PI localiza-se
entre o ponto de contato interproximal e o nível da JCE na superfície proximal do dente;
classe II: quando a extremidade da PI localiza-se apicalmente ou ao nível da JCE na
superfície proximal do dente, mas coronalmente ao nível da JCE vestibular; classe III: a
ponta da PI localiza-se apicalmente ou ao nível da JCE vestibular34.
Figura 1 – Classificação da papila interdentária segundo Tarnow34.
17
2.6.3. Papila interdentária – fatores determinantes para a presença de
papila interdentária
A distância entre a base do ponto de contato e a crista óssea parece ser um
fator determinante na presença da papila interdentária 31,34.
Se a distância é inferior a 5 mm, a papila está presente em 98% dos casos.
Quando a distância é de 6 mm, a papila está presente em 56% dos casos e, quando a
distância é superior a 7 mm, a papila está presente em menos de 27% dos casos 32.
2.6.4. Extração de incisivo inferior e surgimento de espaço negro
A extração de incisivo inferior pode gerar o surgimento de espaços negros,
principalmente nos casos onde os incisivos possuem o formato triangular, ocorrendo
assim a perda da estética da papila gengival interdentária na área da exodontia7,13,15,19,29.
2.7. “set-up” de diagnóstico para determinação da extração de um
incisivo inferior
O “set-up” é uma montagem de diagnóstico que se realiza nos modelos
iniciais de estudo que são duplicados, onde é possível simular diferentes opções de
tratamento com ou sem extrações, com “strippings”, com aumento das inclinações axiais,
assim como a associação de procedimentos e mecânicas variadas ao possibilitar a
avaliação dos tipos de ancoragem necessários, necessidade de redirecionamento do
crescimento, quantidade de disjunção/expansão, quantidade de retração dentária. Tudo
isto com a vantagem de permitir a visualização do resultado do tratamento facilitando a
seleção da melhor opção de tratamento23,36.
18
Especificamente na questão sobre a extração de incisivos inferiores, Kokich,
Shapiro22 e Tuverson26 sintetizam a importância do “set-up” como um dos mais valiosos
registros ortodônticos para determinar se um incisivo inferior deve ser extraído.
O “set-up” é a forma mais precisa para prever as relações interoclusais
possíveis de serem atingidas com o tratamento ortodôntico, sendo imprudente iniciar o
tratamento sem antes analisar a sobressaliência e a sobremordida que serão obtidas com
tal procedimento7.
Na realização do setup, é importante considerar que o “stripping” na arcada
superior deve ser considerado, dentro dos limites aceitáveis, quando existe
sobressaliência excessiva. Se o resultado oclusal ainda for insatisfatório, então,
provavelmente, a extração de um incisivo inferior não deve ser o tratamento de
escolha7,29.
2.8. Escolha do incisivo inferior a ser extraído
Definida a indicação da extração de incisivo inferior, o dentista deve
selecionar qual incisivo será estraído7.
Alguns critérios de seleção são: tipo de má oclusão, quantidade de
discrepância de volume dentário anterior, deficiência de comprimento da arcada na região
anterior, condições de saúde dentária e dos tecidos de suporte e relação da linha mediana
dentária superior e inferior7,9,13,16,17.
Também deve-se selecionar, preferencialmente, o dente com diagnosticado
com anquilose, giroversão severa, erupção ectópica muito distante de sua posição normal.
Neste último caso, a exodontia do incisivo em pior posição torna-se um modo de prevenir
a recidiva, pois limita a movimentação desnecessária de muitos dentes21.
19
A análise de tamanho dentário de Bolton também pode auxiliar na
determinação das discrepâncias, bem como assimetrias em ambas as arcadas,
estabelecendo se a melhor indicação será a remoção do incisivo lateral mais largo ou do
incisivo central mais estreito7,29.
A remoção do incisivo central mais estreito pode ocorrer sob o argumento de
que isso favorece a estabilidade, principalmente, nos casos com menor apinhamento15.
2.9. Estabilidade pós-tratamento
A estabilidade dos resultados de tratamento é um dos maiores desafios da
prática ortodôntica7.
Valinoti29 sugeriu, em 1994, que a extração de um incisivo inferior tem menor
probabilidade de recidiva de apinhamento pós-contenção, pois o incisivo localiza-se mais
próximo da área onde está o problema, necessitando menor movimento e esforço sobre
as condições originais dos demais dentes e Riedel et al.27 sugeriram que a extração de um
incisivo inferior pode conceder maior estabilidade na área anterior, na ausência de
contenção permanente.
A longo prazo, os casos com extração de um incisivo inferior mostram menor
recidiva de apinhamento pós-contenção do que os casos tratados com extrações de pré-
molares, devido aos seguintes fatores: conservação mais próxima possível da posição
original dos dentes, de tal forma que as pressões musculares têm menor probabilidade de
introduzir instabilidade e mínimo esforço sobre a ancoragem adjacente, durante o
fechamento do espaço, utilizando-o integralmente ou a maior parte dele para correção
anterior29.
20
3. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS
Os dois casos clínicos, a seguir, foram extraídos do artigo “Extração de
incisivo inferior: uma opção de tratamento ortodôntico” da Revista Dental Press1.
3.1. Caso Clínico 1
3.1.1. Diagnóstico e etiologia
Paciente do sexo masculino, leucoderma, 23 anos e 8 meses de idade,
apresentou-se com queixa principal de “consertar as posições dos dentes”. No exame
clínico-facial apresentava padrão mesofacial, face sem assimetria aparente, perfil reto,
face inferior normal, nariz proeminente, ângulo nasolabial normal, respiração nasal (Fig.
1)1.
Na avaliação intrabucal, apresentava relação dos molares em Classe I de
Angle, caninos em Classe I, apinhamento dentário anteroinferior severo e leve na arcada
superior, sobremordida reduzida, oclusão dentária posterior satisfatória nos sentidos
vertical e transversal. Desvio de linha média inferior de 1mm para o lado esquerdo e
superior coincidente com a rafe palatina mediana (Fig. 1) 1.
3.1.2. Objetivos do tratamento
Eliminar a discrepância anteroinferior, corrigindo o apinhamento dos
incisivos inferiores, alinhar e nivelar os dentes e estabelecer sobressaliência e
sobremordida adequadas com aparelho ortodôntico fixo1.
21
FIGURA 1 - Caso clínico 1: fotografias extrabucais e intrabucais iniciais1.
3.1.3. Resultados do tratamento
Ao final do tratamento houve melhora da estética facial, a oclusão apresentou-
se com relação molar e de caninos em Classe I, sobressaliência e sobremordida normais
(Fig. 2). Os principais objetivos do tratamento foram atingidos. O apinhamento
anteroinferior foi corrigido após a exodontia do incisivo central inferior. A oclusão dos
molares e pré-molares, que era bastante favorável, foi mantida com a montagem criteriosa
do aparelho ortodôntico Edgewise. Além disso, obteve-se sobressaliência e sobremordida
normais, estabelecendo as funções mandibulares apropriadas durante os movimentos de
lateralidade e protrusão1.
22
FIGURA 2 - Fotografias extrabucais e intrabucais finais1.
3.2. Caso Clínico 2
3.2.1. Diagnóstico e etiologia
Paciente do sexo feminino, leucoderma, com 12 anos de idade e queixa
principal de “apinhamento anterior”. No exame clínico-facial, detectou-se padrão
mesofacial, face simétrica, perfil reto, face inferior normal, nariz médio, ângulo
nasolabial normal, respiração nasal, fonação e deglutição normais, desvio no fechamento
da mandíbula para a direita e presença de estalido, mas sem dor, na ATM (Fig. 5) 1.
Na avaliação intrabucal, apresentava relação dos molares em Classe I de
Angle, caninos em Classe I, sobressaliência de 0,5mm e sobremordida topo a topo,
apinhamento dos incisivos superiores e inferiores. Desvio de linha média inferior de 1mm
23
para o lado direito e linha média superior coincidente com a rafe palatina mediana (Fig.
3); onicofagia e tonsilas palatinas hipertrofiadas1.
FIGURA 3 – Caso clínico 2: fotografias extrabucais e intrabucais iniciais1
3.2.2. Objetivo do tratamento
Manter a oclusão molar em ClasseI, eliminar a discrepância anteroinferior,
estabelecer sobressaliência e sobremordida adequadas, alinhar e nivelar os dentes e
corrigir a linha média com aparelho ortodôntico fixo1.
24
3.2.3. Resultados do tratamento
Ao final do tratamento, o perfil tornou-se levemente côncavo, a oclusão
apresentou-se com relação molar e de caninos de Classe I, sobressaliência e sobremordida
adequadas1 (Fig. 4).
Os principais objetivos do tratamento foram atingidos com a exodontia do
dente 41 e alinhamento dos incisivos inferiores. A relação molar e de caninos em Classe
I foi mantida durante todo o tratamento. Houve pequena modificação no perfil facial, mas
que não comprometeu a estética. Do ponto de vista funcional, o resultado foi satisfatório:
as guias incisal e canino foram restabelecidas1.
FIGURA 4 – Fotografias extrabucais e intrabucais finais
25
4. DISCUSSÃO
A exodontia de incisivo inferior pode ser uma excelente opção quando bem
indicada nos tratamentos ortodônticos de más oclusões com discrepância de volume
dentário anterior devido a incisivos superiores estreitos e/ou incisivos inferiores
largos7,10,11,12,13, sendo uma alternativa de tratamento para as más oclusões que não se
enquadram nas formas convencionais de extração, uma vez que são estáveis a longo
prazo8, mas é contraindicada em más oclusões sem discrepância anterior ou com
discrepâncias ocasionadas por incisivos superiores largos e/ou incisivos inferiores
estreitos7, 9, 12, 13, 19, 21, 28.
A literatura adverte sobre a possibilidade da ocorrência de espaços negros
remanescentes ao término do tratamento7,13,15,19,29.
Também se deve considerar que a inserção alta do freio labial inferior poderá
causar recessão gengival no incisivo remanescente a ser movimentado para a área do
freio7,21.
A possibilidade de aumento de sobremordida e sobressaliência além dos
limites aceitáveis com oclusão parcialmente insatisfatória e consequente recidiva de
apinhamento com três incisivos deve ser avaliada7,13,15,19,29.
O resultado satisfatório do tratamento ortodôntico com extração de um
incisivo inferior deve obedecer pode ser obtido através do diagnóstico minucioso por
meio das análises de discrepâncias de modelos, análise de Bolton e avaliação clínica,
sendo muito importante a realização de “set-up” de modelo para adequada seleção do
incisivo a ser extraído7,9,13,16,17, 22, 23, 26, 36.
26
O “set-up” de modelo possibilita uma real previsibilidade do resultado final
do tratamento que somada a experiência clínica do profissional possibilita o sucesso dos
resultados ortodônticos7, ,9,13,16,17, 22, 23, 26, 36.
A literatura sugere maior estabilidade pós-tratamento quando comparada
com a opção de extrações de prémolares27,29.
27
5. CONCLUSÃO
A literatura apresenta diversas considerações sobre as vantagens e
desvantagens, indicações e contraindicações do tratamento ortodôntico com extração de
um incisivo inferior.
Esta opção é valiosa no tratamento de determinadas más oclusões
possibilitando serem atingidos os resultados adequados de função, estética e estabilidade,
desde que corretamente indicada e conduzida sob os critérios de diagnóstico minucioso
por meio das análises de discrepâncias de modelos, análise de Bolton, avaliação clínica,
e realização de “set-up” de modelo.
28
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