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TRATAMENTO JURÍDICO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E SEU IMPACTO NA
QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO
Marcio José Felber1
Resumo: A sensibilização com os problemas ambientais é tema que tem alcançado proporções significativas e
ascendentes na comunidade internacional, em especial a partir de meados do último século. Esta preocupação
revela-se bastante pertinente à medida que a poluição ambiental tem atingido níveis alarmantes nos mais
diversos países. Neste sentido, a poluição atmosférica é uma das formas de poluição mais notáveis e que causa
impactos de forma mais breve e imediata sobre a população sob sua incidência; impactos estes que podem ser
traduzidos em influência direta sobre a saúde e qualidade de vida dos cidadãos. De modo consonante, a
legislação ambiental brasileira tem evoluído significativamente na tentativa de conter esses efeitos, instituindo
diversos instrumentos de controle e fiscalização. Desta forma, objetiva-se com esse estudo analisar o tratamento
legal dispensado pelo ordenamento jurídico brasileiro ao tema da poluição atmosférica, bem como o impacto que
o mesmo pode causar à qualidade de vida de sua população. Para cumprir com tal finalidade, a metodologia
adotada foi a pesquisa à bibliografia especializada sobre o tema, incluindo os dispositivos legais em vigência,
sendo que até a presente data os instrumentos jurídicos de fiscalização e controle ambientais tem se demonstrado
insatisfatórios.
Palavras-Chave: Direito Ambiental – Poluição Atmosférica – Qualidade de Vida
Abstract: Sensitization with environmental problems is the topic that has reached significant proportions and
rising in the international community, especially from the middle of the last century. This concern seems highly
relevant as environmental pollution has reached alarming levels in different countries. In this sense, air pollution
is one of the most remarkable forms of pollution and causing impacts of shorter and immediately on its incidence
in the population; that these impacts can be translated into direct influence on the health and quality of life of
citizens. The consonant, the Brazilian environmental legislation has evolved significantly in an attempt to
contain these effects by introducing various instruments of control and supervision . This way, the objective is to
study and analyze the legal treatment given by Brazilian law to the issue of air pollution , and the impact that it
can cause the quality of life of its population . To fulfill this purpose, the methodology adopted was to research
the professional literature on the subject, including the legal provisions in force, and to date the legal instruments
for environmental monitoring and control has proved unsatisfactory .
Key words: - Air Pollution - Environmental Law - Quality of Life
1 Economista. Especialista em Gestão Pública. Especialista em Administração Financeira Contábil e Auditoria do
Setor Público. Acadêmico do VIII Termo do Curso de Direito pela AJES – Faculdades de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena. E-mail para contato: [email protected]
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 04
2. DA EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL....................................................... 06
3. DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA .................................................................................... 09
4. DO IMPACTO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NA QUALIDADE DE VIDA .......... 13
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 15
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 16
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1. INTRODUÇÃO
A atividade humana, desde seus primórdios, sempre produziu impactos negativos no
meio ambiente, seja pela ação direta, representada pelo extrativismo animal, vegetal ou
mineral, ou em decorrência de suas atividades produtivas.
No caso brasileiro, o descobrimento representou, de forma imediata, uma nova e rica
fonte de recursos naturais, sendo explorados incessantemente pela coroa portuguesa a fauna, a
flora e os minérios coloniais, causando profundos impactos ao meio ambiente local.
Em seguida a colônia portuguesa, preocupada em manter sua descoberta, incentivou a
colonização das terras brasileiras, de modo que distribuía extensas propriedades a quem
estivesse disposto a cultivá-las, o que representou a formação de gigantescos latifúndios
lavoureiros e pecuários, instituídos com base na Lei das Sesmarias, e novamente causando
fortes impactos ao meio ambiente.
O cenário internacional dessa época também não era diferente, sendo que a maior
parte das economias mundiais se baseavam no extrativismo e na produção econômica
artesanal. O artesão trabalhava por contra própria, possuindo todos os meios de produção
necessários à atividade desempenhada, dominando todas as etapas de transformação da
matéria-prima até o produto final.
Estas circunstâncias se mantiveram até o fim da idade média. Em seguida, com o
início da Idade Moderna, buscou-se produzir crescentemente para o mercado, havendo as
primeiras reuniões de trabalhadores urbanos em um mesmo local de trabalho, cada um
desempenhando uma atividade específica, modelo produtivo que mais tarde fora denominado
manufatura. Esse sistema de produção era marcado basicamente pela divisão do trabalho e já
permitiu um grande avanço em termos de produtividade, especialmente quando comparado
com a antiga forma artesanal de produção.
Em seguida, com o início do desenvolvimento do capitalismo, a produção passou a ser
realizada em série, com a utilização de máquinas ao invés da força manual, dando origem às
maquinofaturas industriais. Os trabalhadores agora forneciam tão somente a sua força de
trabalho, a ser aplicada na produção, enquanto os meios de produção, representados pelas
4
máquinas e instalações físicas, se concentravam nas mãos de uma pequena elite burguesa
ascendente.
Já no final do século XVIII, com origem na Inglaterra, tem início a primeira
Revolução Industrial, que passa a promover a utilização de máquinas que produzem em
grande escala. Como consequência da revolução, impôs-se um forte impacto tanto sobre os
aspectos sociais, como econômicos, culturais e também ambientais.
É preciso destacar que a principal matéria-prima utilizada como fonte para produção
de energia após o advento da Revolução Industrial foi o carvão mineral. Em especial porque a
Inglaterra contava com grandes reservas de carvão, que eram queimadas pelas usinas
termoelétricas para produção de energia.
Contudo, a queima do carvão implicou na grande quantidade de liberação de Dióxido
de Carbono (CO2) e, como se sabe, as inovações introduzidas pela citada revolução se
disseminaram rapidamente pelo mundo, trazendo consigo os primeiros problemas
significativos de poluição atmosférica conhecidos pela humanidade.
A partir de então, os níveis de poluição ambiental foram se intensificando cada vez
mais, chegando a níveis alarmantes. Ainda assim, mesmo diante de quadros ambientais
extremamente comprometidos, em especial nos grandes centros urbanos, a questão ambiental
só passa a ser encarada com seriedade pela comunidade internacional após a incidência de
diversas catástrofes ambientais, em especial a partir de meados do século XX, momento em
que se inicia uma transformação na forma de enxergar o meio ambiente, deixando de se
privilegiar seu aspecto econômico e utilitarista para considerá-lo um sistema interdisciplinar
vital para a existência da vida humana, em especial para as futuras gerações.
No Brasil, as questões ambientais ganharam maior destaque a partir da Lei n.
6.938/81, também conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, e a partir de
então o tema tem sido objeto de acaloradas e extensas discussões, ganhando proporção e
relevância cada vez maiores.
Entretanto, embora seja necessário admitir o grande avanço das questões ambientais
brasileiras nas últimas décadas, em especial quanto aos aspectos legislativos, o que se constata
é que a poluição atmosférica permanece uma realidade nacional, principalmente nos grandes
centros populacionais, acarretando prejuízos significativos à saúde e a qualidade de vida de
nossa população, de modo que se revela necessária uma reflexão acerca da efetividade das
normas adotadas pelo atual ordenamento jurídico em relação à questão em comento.
5
2. DA EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
Inicialmente, antes de adentrarmos à questão da legislação pertinente à poluição
atmosférica, convém traçar um panorama histórico da evolução da legislação brasileira
relativa ao meio ambiente em geral.
Do período que se inicia com o descobrimento do Brasil, em 1500, até os dias atuais,
em que o Direito Ambiental passou a ser considerado uma disciplina jurídica autônoma,
vários dispositivos legais já estabeleceram normas relacionadas à proteção ambiental. No
entanto, até meados do século XX pouca atenção foi dispensada ao resguardo do meio
ambiente, de modo que os parcos dispositivos legais que abordavam o tema o faziam sob uma
perspectiva econômico-utilitarista, e não com vistas à preservação ecológica.
A doutrina em geral divide a evolução da legislação ambiental brasileira em três
momentos distintos. De acordo com Talden Queiroz Farias tais momentos, que não são
estritamente delineados no tempo, podem ser chamados de fase fragmentária, também
conhecida como fase da exploração desregrada, fase setorial e fase holística, vejamos:
Talvez seja mais adequado terminologicamente tratar esses mesmos momentos
históricos como fase fragmentária, fase setorial e fase holística, porque na fase que
Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin chama de fase de exploração
desregrada já existe uma legislação ambiental esparsa e na fase que ele chama de
fragmentária a legislação ambiental passa a existir em função de cada área de
interesse econômico. É preciso dizer que essas fases históricas não possuem marcos
delineadores precisos, de maneira que elementos caracteristicamente pertencentes a
uma fase podem estar cronologicamente relacionados a outra.2
A fase fragmentária, considerada o laisse-faire ambiental, se estende do
descobrimento até a década de 1930, sendo marcada pela ausência de uma preocupação séria
com o meio ambiente, a não ser por alguns poucos dispositivos que buscavam proteger alguns
2 FARIAS, Talden Queiroz. Propedêutica do Direito Ambiental. Disponível em: http://www.ambito-
Juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1545. Acesso em: 28 de março de 2014.
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recursos em vias de exaurimento, como foi o caso do Pau-Brasil. Valoriza-se neste período a
expansão e consolidação das fronteiras.
Ressalte-se ainda, que essa ligeira preocupação com estes bens naturais específicos
decorria tão somente de seu valor econômico. Destacam-se neste período o Código Civil de
1916, que acerca do tema limitou-se a estabelecer umas poucas normas relativas ao direito de
vizinhança, e o Código Criminal de 1830, que tipificou como crime o corte ilegal de madeira.
Em um segundo momento, ao fim da década de 20, tem início a fase setorial, onde o
legislador passa a demonstrar maior preocupação com algumas categorias de recursos
naturais, impondo maiores controles à atividades exploratórias. Essa preocupação foi
específica, sendo setorizada por categorias de recursos naturais. O meio ambiente continua a
ser compreendido sob o aspecto econômico e diante de disputas políticas entre os estados e a
união, o uso e ocupação do território e de seus recursos naturais passam a ser controlados pela
esfera federal, conforme, novamente citando Farias, se nota:
(...) a saúde pública passou a ser regida pelo Regulamento de Saúde Pública ou
Decreto nº 16.300/23, os recursos hídricos passaram a se reger pelo Código das
Águas ou Decreto-lei nº 852/38, a pesca pelo Código de Pesca ou Decreto-lei nº
794/38, a fauna pelo Código de Caça ou Decreto-lei nº 5.894/43, o solo e o subsolo
pelo Código de Minas ou Decreto-lei nº 1.985/40, e a flora pelo Código Florestal ou
Decreto nº 23.793/34.3
No entanto, a partir da década de 50 tem início um segundo momento da fase setorial,
de modo que o conceito de bem comum passou a incorporar alguns textos regulatórios da
proteção de recursos naturais, merecendo destaque a Lei n 5.197/67, que dá início ao conceito
de fauna com um enfoque de preservação da biodiversidade, contrapondo o antigo Código de
Caça, Decreto-Lei n 5.894/64. Vale destacar ainda neste período o Código de Pesca, Decreto
Lei n. 221/67, o Estatuto da Terra, Lei n. 4.504/78, o Decreto Lei n. 1.413/75, que trata do
controle da poluição industrial e o Código Florestal de 1965.
Ainda assim, as preocupações ambientais só atingiram a sociedade de forma mais
impactante ao fim da década de 60, com a divulgação de estudos apontando o aquecimento
3 FARIAS, Talden Queiroz. Propedêutica do Direito Ambiental. Disponível em: http://www.ambito-
Juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1545. Acesso em: 28 de março de 2014.
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global e a extinção de espécies. Também remontam a essa época as primeiras informações
acerca do buraco da camada de ozônio e a incidência de catástrofes ambientais.
Em 1968 foi criado o Clube de Roma, formado por um grupo de cientistas,
economistas, políticos e outros pesquisadores que analisavam problemas ambientais de ordem
mundial. O mencionado clube publicou, em 1972, um relatório que apontou o aumento do
crescimento populacional, a industrialização excessiva e a escassez dos recursos naturais,
como as principais causas dos problemas ambientais. No mesmo ano as Nações Unidas
promoveram, na cidade de Estocolmo, a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, na
qual o direito ao meio ambiente equilibrado foi declarado como um direito fundamental.
Nesse contexto, o Brasil inaugurou a terceira e última fase, a holística, marcada pela
Lei de Política Nacional do Meio Ambiente ou Lei n. 6.938/81, a primeira que tratou de forma
integral o tema da proteção do meio ambiente como sistema integrado. Foi a citada lei que
constituiu o Sistema nacional do Meio Ambiente, SISNAMA e o Conselho Nacional do Meio
Ambiente, CONAMA. Esta lei tem como objetivo geral o desenvolvimento econômico e
social com a conservação ambiental, principalmente com a criação de instrumentos de
avaliação de impactos ambientais, estabelecendo princípios protetivos e garantidores do meio
ambiente, instituindo objetivos e instrumentos da política de meio ambiente, além da
responsabilização civil objetiva do agente poluidor.
Além da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, outros três dispositivos são
marcantes na fase holística, quais sejam: a Lei da Ação Civil Pública, Lei nº 7.347/85, a
Constituição Federal de 1.988 e a Lei de Crimes ambientais, Lei 9.605/98, conforme observa
Édis Milaré:
(...) - a Lei nº 6938/81, a qual definiu de forma avançada e inovadora os conceitos,
princípios, objetivos e instrumentos para a defesa do meio ambiente;
- A lei nº 7347/85, disciplinando a ação civil pública como instrumento de defesa do
meio ambiente, fazendo com que os danos ao meio ambiente chegassem ao Poder
Judiciário;
- A constituição federal de 1988, dedicando um capítulo ao meio ambiente, e em
diversos outros artigos que tratam do assunto, fazendo com que o meio ambiente
alcançasse a categoria de bem protegido constitucionalmente;
8
- A lei nº 9605/98 – Lei de Crimes Ambientais, dispondo sobre as sanções penais e
administrativas aplicáveis às condutas lesivas ao meio ambiente, regulamentando
instrumentos importantes, como a desconsideração da personalidade e a
responsabilização penal da pessoa jurídica.4
Deve-se destacar que a Constituição Federal de 1988 traz consigo a afirmação de um
direito coletivo ao meio ambiente equilibrado, requisito essencial à sadia qualidade de vida,
conforme se apreende da leitura de seu artigo 225:
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. (...)5
A atual constituição também teve o mérito de elevar o respeito ao meio ambiente à
categoria de princípio da atividade econômica, como bem observa Paulo de Bessa Antunes:
A inclusão do “respeito ao meio ambiente” como um dos princípios da atividade
econômica e financeira é medida de enorme importância, pois ao nível mais elevado
de nosso ordenamento jurídico está assentado que a licitude constitucional de
qualquer atividade fundada na livre iniciativa está, necessariamente, vinculada à
observância do respeito ao meio ambiente ou, em outras palavras, à observância das
normas de proteção ambiental vigentes.6
Deste modo, tem se que a fase holística, experimentada na era atual, é marcada por
uma concepção do meio ambiente como um sistema integrado, com partes interdependentes, e
não regularmente divido em setores, nascendo assim uma consciência voltada mais para a
defesa do meio ambiente em si mesmo considerado do que em razão de suas oportunidades
econômicas.
3. DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
A expressão meio ambiente vem consagrada em diversos dispositivos legais, estando
também consolidada tanto na doutrina como na jurisprudência. Assim, a já citada Lei n.º
6.938/81 define meio ambiente como:
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
4 MILARÉ. Edis. Direito do Ambiente. 3ª Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2004, p. 120.
5 Constituição Federal de 1988, art. 225, caput.
6 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 12. ed. Rio de Janeiro. Lumen Juris, 2010, p. 14.
9
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas;(...)7
No mesmo sentido se apresenta o conceito oferecido por José Afonso da Silva, que
entende meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e
culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.”8
Apresentado o conceito, a doutrina classifica o meio ambiente em quatro grandes
grupos, quais sejam, o meio ambiente natural, meio ambiente cultural, meio ambiente
artificial e meio ambiente do trabalho. O meio ambiente natural é formado pelas águas, solo e
subsolo, elementos da biosfera, fauna, flora, patrimônio genético, zona costeira e atmosfera,
como bem assevera Júlio César de Sá Rocha:
(...) a) meio ambiente natural – integra a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna, a flora, o patrimônio genético e a zona costeira (art. 225 da CF)
(...)9
Já o conceito de poluição vem muito bem delimitado também pelo artigo 3º da Lei
6.938/81:
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
(...) III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que
direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;(...)10
Evidentemente a poluição se apresenta sob diversas formas, de modo que Sirvinskas11
as divide em diversas espécies, quais sejam, a poluição atmosférica, poluição hídrica,
poluição do solo, poluição sonora e poluição visual.
7 Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n.º 6.938/81, art. 3º, I
8 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 2. Ed., São Paulo, Malheiros. 1998, p.2.
9 ROCHA, Júlio Cesar de Sá. Direito ambiental e meio ambiente do trabalho. São Paulo. 1977, p. 27.
10 Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n.º 6.938/81, art. 3º, III, “a”, “b”, “c”, “d” e “e”.
10
Falando especificamente da poluição atmosférica, objeto principal deste estudo, esta
pode ter diversas fontes, dentre as quais cabe citar as atividades industriais, as emissões de
gazes pelos veículos automotivos em geral, as queimadas popularmente usadas para
“renovação” e formação de pastagens e queima da palha da cana-de-açúcar, e as atividades de
usinas nucleares e usinas termoelétricas, sendo as últimas em geral movidas pela queima de
óleo, carvão ou gás natural. Nota-se, portanto, que os principais agentes causadores de
poluição atmosférica decorrem de processos para obtenção de energia, em especial as que
envolvem combustão.
Acerca da substância poluente, a Lei n.º 6.938/81 a define como toda forma de matéria
ou energia liberada no meio ambiente em desacordo com as normas ambientais existentes,
colocando em risco a saúde, a segurança ou o bem estar comum. De modo consonante, o
mesmo dispositivo legal introduz a figura do poluidor, sendo este a pessoa física ou jurídica,
de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental.
Quanto aos instrumentos administrativos de combate à poluição atmosférica, devemos
citar, conforme determinações da Lei n.º 6.938/81 e segundo doutrina de Sirvinskas:
(...) os principais instrumentos administrativos para o combate da poluição: a)
fixação de padrões de qualidade do ar; b) zoneamento ambiental; c) estudo prévio de
impacto ambiental e seu relatório de impacto ambiental; d) licenciamento ambiental
e sua previsão; e) auditoria ambiental; f) monitoramento da qualidade do ar; g)
vistorias periódicas realizadas pelo poder público; h) denúncias levantadas pelos
empregados e pelas organizações não governamentais (ONGs) etc.12
Além da recém citada lei, outros dispositivos legais apresentam instrumentos de
controle da poluição atmosférica. Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo:
A tutela do ar atmosférico pode ser encontrada em alguns diplomas, dentre os quais
a lei das Contravenções Penais (art. 38); o Código Penal (art. 252); a Lei dos Crimes
Ambientais; a Lei de Zoneamento (Lei n. 6.803/80); a Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81); a Resolução Conama n. 18/86, que instituiu o
Programa de Poluição do Ar por Veículos Automotores – Proconve; a Resolução
Conama n. 5/89; que criou o Programa Nacional de Qualidade do Ar –Pronar; a
11
SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 9. Ed. São Paulo. Saraiva, 2011, p. 222. 12
SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 9. Ed. São Paulo. Saraiva, 2011, p. 224.
11
Resolução Conama n. 3/90; a Resolução Conama n. 8/90; e as Leis n. 8.723/93 e
9.294/96.13
No mesmo sentido, o ilustre doutrinador Paulo Afonso Leme Machado sintetiza os
padrões de qualidade do ar adotados pelo Brasil por meio da Resolução Conama 3 de 28 de
junho de 1.990, a saber:
1. Partículas em suspensão – padrão de qualidade:
- uma concentração média geométrica anual de 80 microgramas por metro cúbico;
- uma concentração máxima diária de 240 microgramas por metro cúbico, que não
deve ser excedida mais de uma vez por ano.
2. Dióxido de enxofre – padrão de qualidade:
- uma concentração média aritmética anual de 80 microgramas por metro cúbico;
Uma concentração máxima diária de 365 microgramas por metro cúbico, que não
deve ser excedida mais de uma vez por ano.
3. Monóxido de carbono – padrão de qualidade:
- uma concentração máxima de 8 horas de 10 mil microgramas por metro cúbico,
que não deve ser excedida mais de uma vez por ano;
- uma concentração máxima horária de 40 mil microgramas por metro cúbico, que
não deve ser excedida mais de uma vez por ano.
4. Oxidantes fotoquímicos – padrão de qualidade (corrigido para interferência de
óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre):
- uma concentração máxima horária de 160 microgramas por metro cúbico, que não
deve ser excedida mais de uma vez por ano.14
Ainda é preciso ressaltar que a já mencionada Lei n.º 8.723/93 estabeleceu, por meio
de seu artigo 15, que o monitoramento da qualidade do ar atmosférico deve se dar por órgãos
públicos, nas esferas federal, estadual e municipal, aos quais também cabe fixar programas e
diretrizes de controle, em especial para os grandes centros urbanos.
Entretanto, a despeito da regulamentação legal que trata do tema, o que se verifica
empiricamente de forma generalizada no Brasil é uma ausência de fiscalização e controle
efetivos, infringindo à sociedade a convivência habitual e rotineira com a poluição
atmosférica, com efeitos diretos e imediatos em sua qualidade de vida.
13
FIORILLO. Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 10. Ed. São Paulo. Saraiva. 2009. P. 252. 14
MACHADO. Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21. Ed. São Paulo. Malheiros. 2013. P. 612.
12
4. DO IMPACTO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NA QUALIDADE DE VIDA
A ação humana, em razão de seu modo de produção e de vida, implica em efeitos
negativos diretos e imediatos ao meio ambiente. Nesse sentido, embora se manifeste de forma
silenciosa, a poluição do ar causa sérios impactos à condição de vida humana.
Nos grandes centros urbanos, e em outros não tão grandes assim, um dos efeitos da
poluição atmosférica pode ser o smog. O termo smog resulta da junção de duas palavras
inglesas, quais sejam smoke e fog, que traduzidas literalmente significam fumaça e nevoeiro.
Como o próprio nome indica, o smog é resultado da junção da fumaça advinda da queima de
combustíveis fósseis, em especial pela atividade industrial e pelos veículos automotivos, com
o nevoeiro. Como resultado, forma-se um tipo de nevoeiro altamente tóxico que, por
acumulares diversas espécies de metais pesados, podem causar sérios danos à saúde. Os casos
mais graves foram registrados em Londres, nos anos de 1.948, 1.952, 1.956 e 1.962, sendo
que no caso de 1.952 aproximadamente três mil pessoas morreram em decorrência das
misturas letais ocasionados pelo fenômeno smog.
Outro fenômeno que decorre diretamente da poluição do ar é o efeito estufa. De
acordo com Fiorillo o efeito estufa:
É o fenômeno de isolamento térmico do planeta, em decorrência da presença de
determinados gases na atmosfera, ou seja, é o aquecimento global da temperatura na
superfície da Terra devido à grande quantidade de gases tóxicos oriundos da queima
de combustíveis fósseis (carvão e petróleo), florestas e pastagens.15
Como consequência da elevação na temperatura da superfície da terra, tem início o
processo de derretimento das geleiras das calotas polares. Esse fato leva ao aumento na
quantidade de água dos oceanos, o que pode causar o aumento nos seus níveis e consequente
alagamento das cidades litorâneas, bem com a submersão das ilhas existentes.
Não sendo o bastante, o efeito estufa pode implicar ainda na aceleração dos processos
de desertificação de determinadas regiões, bem como pode resultar em sérias mudanças
climáticas que, potencialmente, podem aumentar a incidência de furacões, tempestades, secas
e enchentes, mudando o equilíbrio dos ecossistemas e levando ao desaparecimento de
espécies animais e vegetais.
15
FIORILLO. Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 10. Ed. São Paulo. Saraiva. 2009. P. 251.
13
Ressalte-se ainda, que a mudança no clima de determinadas regiões, ocasionadas pelo
aumento da temperatura, pode resultar em significativos prejuízos à agricultura, reduzindo
seriamente a produção mundial de alimentos.
Há que se mencionar também, como efeito direto da poluição atmosférica, a incidência
das chuvas ácidas. A chuva ácida ocorre quando há na atmosfera uma grande concentração de
gases de enxofre (SO2) e de óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) que, ao entrarem em
contato com o hidrogênio em forma de vapor, formam ácidos como o ácido nítrico (HNO3), e
o ácido sulfúrico (H2SO4).
A chuva ácida gera sérios efeitos, em especial nos lagos e no solo. No primeiro, por
implicarem em significativa alteração nos níveis de acidez da água, podem causar a
mortandade da vida lacustre. Quanto ao solo, a chuva ácida importa em redução de sua
fertilidade e o torna mais propício às erosões.
Não obstante, a poluição atmosférica também tem implicações diretas na qualidade de
vida e saúde das pessoas a ela submetidas. Pode-se mencionar, a princípio, as doenças
respiratórias e cardiovasculares decorrentes da baixa qualidade do ar. A exposição à poluição
atmosférica também acarreta prejuízos significativos ao sistema imunológico do indivíduo,
tornando-o mais suscetível às enfermidades em geral, de modo que os mais afetados são as
crianças, os idosos e as pessoas com problemas respiratórios, como bronquites, asmas e
alergias. E mais, de acordo com Sirvinskas o índice de abortos também aumenta, porque o
fluxo arterial na placenta diminui, além de existirem suspeitas de efeitos negativos sobre a
fertilidade de homens e mulheres. Como ainda menciona o autor, após pesquisas realizadas
nas principais capitais brasileiras, constatou-se que cidades como São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre estão com o nível de poluição do ar bem acima do
que recomenda a Organização Mundial de Saúde.
A título ilustrativo Sirvinskas assevera que:
(...) os seguintes poluentes causam à saúde humana: a) NOx – óxidos de nitrogênio:
provocam problemas respiratórios nos seres humanos, e a exposição prolongada a
altas concentrações da substância pode levar ao óbito. Os NOx, assim como os SOx
– óxidos de enxofre, agem como precursores da chuva ácida; b) CO – monóxido de
carbono: interfere no transporte de oxigênio pelo sangue, diminui reflexos, afeta a
discriminação temporal e pode levar à morte em caso de exposição prolongada à
substância; c) CO2 – dióxido de carbono: o aumento da concentração de dióxido de
carbono na atmosfera contribui para o aquecimento global (efeito estufa); e d) HC –
14
hidrocarbonetos: além do odor desagradável, pode causar câncer no pulmão,
irritação nos olhos, pele e aparelho respiratório.16
Além das implicações supramencionadas, a poluição atmosférica gera aumento dos
custos para o Estado, uma vez que os altos índices de poluição atmosférica significam
também elevação dos custos de atendimentos à população nos serviços de saúde pública, dado
que os altos níveis de poluição do ar ocasionam um aumento da procura pelos prontos
socorros, unidades básicas de saúde e hospitais. Aumentam também as consultas médicas, as
hospitalizações e as mortes, ocasionando ainda um aumento do consumo de medicamentos,
exigindo o dispêndio de orçamento que poderia ser revertido para a educação, segurança ou
mesmo lazer daquela população.
5. CONCLUSÃO
Conforme abordado anteriormente, a preocupação com o meio ambiente despida de
uma visão utilitarista e econômica é uma questão recente. Não é difícil verificar que desde os
primórdios da civilização humana até o início da fase holística, a questão ambiental foi regida
sob o prisma da elevação de custos e do exaurimento de recursos naturais. Até o final da idade
média pouco tratamento jurídico foi dispensado à questão e, mesmo após o início da idade
moderna e advento da revolução industrial, persiste à mera atribuição econômica atrelada à
problemática ambiental.
No entanto, a revolução industrial traria consigo uma inevitável mudança do aspecto
ambiental. Os níveis de poluição passam a assombrar os grandes centros populacionais em
escalas cada vez maiores, de modo que a questão ambiental começa a despertar a atenção
mundial. Contudo, é somente ao fim da década de 60 do último século que o meio ambiente
passa a ser tratado como um sistema interdependente, momento a partir do qual o direito
ambiental passa a evoluir significativamente.
No Brasil, embora já houvessem leis sobre o assunto, o marco histórico do direito
ambiental vem com a promulgação da Lei 6.938/81. À referida lei seguiram-se, entre outros
diversos dispositivos legais, a Lei da Ação Civil Pública, a Constituição Federal de 1.988 e a
Lei de Crimes ambientais.
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SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 9. Ed. São Paulo. Saraiva, 2011, p. 234.
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Entretanto, mesmo contando com diversos institutos e instrumentos jurídicos de
proteção e controle ambiental, a poluição atmosférica persiste como um sério problema de
ordem nacional, em destaque evidente nos principais centros populacionais.
Como consequência, além dos efeitos indiretos que podem ser gerados pelo efeito
estufa, pelo smog e pelas chuvas ácidas, a poluição atmosférica causa impactos imediatos à
saúde. Tais efeitos se traduzem em doenças respiratórias e cardiovasculares, diversas espécies
de câncer, em especial o de pele e de pulmão, prejuízos ao sistema imunológico, aumento dos
índices de aborto e até mesmo infertilidade. Isso sem falar na inevitável elevação dos custos
da administração pública para combate das mencionadas implicações, levando ao dispêndio
de enormes quantias monetárias que poderiam ser empregadas em outros setores como
educação, segurança pública, lazer, entre outros.
Desta forma, evidenciada a indiscutível depreciação da qualidade de vida decorrente
dos atuais níveis de poluição atmosférica, conclui-se que a fiscalização e controle acerca dos
diversos instrumentos jurídicos existentes tem se mostrado preocupantemente insatisfatórias,
cabendo ao estado e à coletividade o poder-dever de manifestação com vistas a impedir a
perpetuação de tais condições.
6. REFERÊNCIAS
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