Download - traducão etnohistoria
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Cadernos De Etnohistria Uerj 1
Programa de Estudos dos Povos Indgenas
Departamento de Extenso
Sub-Reitoria de Extenso e Cultura
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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REITOR
Antnio Celso Alves Pereira
VICE-REITOR
Nilca Freire
SUB-REITOR DE GRADUAO/SR-1
Ricardo Vieralves de Castro
SUB-REITOR DE PS-GRADUAO E PESQUISA/SR-2
Reinaldo Felipe Nery Guimares
SUB-REITORA DE EXTENSO E CULTURA/SR-3
Maria Therezinha Nbrega da Silva
DEPARTAMENTO DE EXTENSO
Liany Bonilla da Silveira Comino
PROGRAMA DE ESTUDOS DOS POVOS INDGENAS
Jos Ribamar Bessa Freire
Traduo e apresentao dos textos : Jos Ribamar Bessa Freire
Circulao Restrita
1998
CADERNOS DE ETNOHISTRIA - UERJ N 1 1998
C O N T E DO
Apresentao
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O que etnohistria? - Bernard S. Cohn
- Introduo
- Histrico do enfoque
- Fontes e Mtodos
- Documentos Escritos
- Tradio Oral
- Trabalho de campo
- Etnohistria e Antropologia
- Historiadores e Antroplogos
- Bibliografia
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Etnohistria ou histria indgena? - Osvaldo Silva Galdames
- Bibliografia
O ensino de Etnohistria - Jos R. Bessa Freire
- Bibliografia
- Ementa e Programa da disciplina
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Programa de Estudos dos Povos Indgenas - Depext/Sr-3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
1998
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ORIGINAIS
1. Bernard S. Cohn: O QUE ETNOHISTRIA?
A International Encyclopedia of the Social Science (17 volumes) apresenta,
no VI volume, oito artigos sob o verbete History. Um deles este,
intitulado O que Etnohistria (p.440-448). A Enciclopdia foi editada
em 1968, sob a coordenao de David L. Sills, e teve uma re-edio em
1972 pela The Macmillan Company and Free Press, de New York.
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2. Osvaldo Silva Galdames: ETNOHISTRIA OU HISTRIA INDGENA?
SILVA GALDAMES, Osvaldo (1988): Etnohistoria o Historia Indgena?
in Encuentro de Etnohistoriadores. Serie Nuevo Mundo: Cinco Siglos. N 1,
7-9. Universidad de Chile. Santiago de Chile. Enero,1988.
APRESENTAO
A publicao dos Cadernos de Etnohistria, embora em forma
artesanal e com circulao restrita, tem por objetivo tornar acessvel aos
estudantes artigos relacionados ao tema, publicados originalmente em uma
lngua estrangeira e que permanecem inditos em portugus.
Neste primeiro nmero, apresentamos a traduo do ingls de um
artigo de Bernard S. Cohn, publicado em 1968, em New York, na
Enciclopdia Internacional de Cincia Social. Nele, o autor define
Etnohistria, faz uma retrospectiva das diversas abordagens da disciplina,
relacionando-as com as diferentes correntes antropolgicas. Avalia a
pesquisa etnohistrica nos Estados Unidos, desde o incio do sculo XX,
com nfase nas dcadas de 40 e 50, situando os principais autores, suas
obras e a importncia delas. Descreve o contexto em que foi criada a revista
Etnohistory, em 1954 e o papel por ela desempenhado e proporciona
informaes sobre pesquisas realizadas na Inglaterra, Frana, frica, regio
do Pacfico, sia e Amrica. Define o perfil do etnohistoriador e o uso
crtico da documentao. Discute as fontes: os documentos escritos, a
tradio oral, o trabalho de campo e a relao com outras disciplinas.
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Depois de trinta anos de sua publicao, este artigo de Bernard Cohn
pode ser lido hoje quase como um documento histrico, por ser um
marco balizador da historiografia indgena produzida nos Estados Unidos.
Da o interesse em discuti-lo. Uma primeira traduo dele ao portugus foi
feita em 1985 por J.R.Bessa e R.C. Almeida, ento professores do
Departamento de Histria da Universidade do Amazonas, merecendo
naquela ocasio uma edio mimeografada, para uso dos alunos. Como
continua indito em portugus, decidimos refazer a traduo, com
mudanas substanciais, entre as quais a traduo de termos tcnicos que na
verso anterior haviam permanecido em ingls, o que foi possvel graas ao
Dicionrio de Cincias Sociais da Fundao Getlio Vargas, editado em
1986.
O segundo artigo, traduzido do espanhol, de autoria de Osvaldo
Silva Galdames, professor do Departamento de Ciencias Historicas de la
Universidad de Chile. Trata-se de uma breve comunicao apresentada no
Encontro de Etnohistoriadores, realizado em outubro de 1987 em Santiago
do Chile e publicada no ano seguinte no primeiro nmero da revista da
Serie Nuevo Mundo: Cinco Siglos. Procura definir Etnohistria e discutir a
formao do etnohistoriador, numa perspectiva um pouco diferente daquela
apresentada no artigo de Bernard Cohn. Contm ainda algumas informaes
sobre o enfoque dado na Amrica Latina e na Universidade do Chile, onde
foi criada uma rea especfica no Programa de Mestrado, dedicada
Etnohistria.
O terceiro artigo uma tentativa de contextualizar a histria indgena
no Brasil, de discutir a situao em que se encontra a pesquisa etnohistrica
e a sua insero na universidade brasileira. Trata-se, na realidade, de um
contraponto aos dois outros artigos. No final, apresentamos o programa da
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disciplina Etnohistria, que ser ministrada neste segundo semestre de 1998
na UERJ.
No momento em que o Brasil se prepara para comemorar os 500 anos
de sua existncia, esperamos que esses Cadernos contribuam para formar
aquele tipo de historiador sonhado por Peter Burke, em seu livro O Mundo
como Teatro: estudos de antropologia histrica. No o historiador guardio
da memria de feitos gloriosos, como imaginava Herdoto, mas o guardio
de fatos incmodos, dos esqueletos no armrio da memria social, capaz
de recordar s pessoas aquilo que elas gostariam de esquecer.
Jos R.B.Freire
Coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indgenas
O QUE ETNOHISTRIA?
Bernard S. Cohn
INTRODUO
O termo Etnohistria foi empregado pela primeira vez, de
forma ocasional, no incio do sculo XX, mas s na dcada de 40 comeou
a ser usado, de forma sistemtica, por alguns antroplogos culturais,
arquelogos e historiadores norte-americanos, para denominar suas
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pesquisas e publicaes sobre a histria dos povos indgenas no Novo
Mundo. Nos ltimos anos, Etnohistria passou a significar o estudo
histrico de qualquer povo no-europeu. Estes estudos tentam reconstruir a
histria das sociedades pr-letradas, antes e depois do contato com o
europeu, utilizando fontes escritas, orais e arqueolgicas, alm dos
conceitos e critrios da antropologia cultural e social.
Os etnohistoriadores combinam suas fontes histricas com o
trabalho de campo etnogrfico, realizado nas sociedades cujo passado eles
pretendem reconstruir. O seu objetivo enriquecer a Histria Universal,
que levar em considerao o sistema scio-cultural dos povos indgenas.
Deste modo, os etnohistoriadores norte-americanos concentraram particular
ateno na localizao e migrao das tribos indgenas, nas mudanas das
adaptaes culturais ao meio-ambiente, na histria demogrfica, na
natureza exata das relaes de cada tribo em particular com os europeus e
nas conseqncias, para os ndios americanos, de atividades como o
comrcio de peles e a guerra (Simpsio sobre o conceito de Etnohistria,
1961).
A Etnohistria direcionou seus estudos principalmente para as
formaes culturais especficas, de modo equivalente aos registros
etnogrficos da pesquisa de campo dos antroplogos. Houve um pequeno
esforo para construir um corpo de generalizaes, tanto atravs da
comparao, como atravs do desenvolvimento de categorias ou de
conceitos articulados, o que tornaria possvel a comparao inter-regional.
Os enfoques peculiares e os problemas da Etnohistria derivam da natureza
das sociedades indgenas que so estudadas, do perodo, do tipo e da
durao da dominao europia, da espcie de documentao disponvel e
da orientao terica dos antroplogos que estudaram a regio.
Muitos so os aspectos que permitem diferenciar a
Etnohistria da Histria Colonial convencional. O etnohistoriador, como
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regra geral, tem experincia de campo e contato direto com a rea. Esta
experincia aumenta o seu conhecimento sobre as sociedades indgenas e
sobre como elas realmente funcionam ou funcionaram. Em conseqncia,
sua interpretao dos testemunhos dos documentos aprofundada. Ele
tende a pensar muito mais em termos sistmicos e funcionais do que apenas
em termos do acaso e dos detalhes. Procura usar o seu conhecimento mais
amplo da organizao social e cultural e constri suas unidades a partir de
conceitos tais como sociedades segmentadas em cls, sociedades
camponesas e sociedades patrimoniais. Sua percepo do fato
histrico, at mesmo quando utiliza os documentos produzidos pela
administrao colonial, sempre na perspectiva dos ndios, muito mais do
que na do administrador europeu. Est mais interessado no impacto da
prtica e da poltica colonial do que na gnese dessas polticas na sociedade
metropolitana.
HISTRICO DO ENFOQUE
Uma das principais fontes da Antropologia era a preocupao
com a histria do homem em geral, o estudo comparativo de sociedades e
instituies e a reconstruo histrica de sociedades concretas. Voltaire,
Gustav Klemm, Sir Henry Maine, J.F. McLennan, J.J. Bachofen, N.D.
Fustel de Coulanges, L.H. Morgan e E. Tylor aproximaram-se
gradualmente dos registros histricos, procurando estabelecer uma cincia
comparativa da sociedade e da cultura. Esses primeiros antroplogos
usaram informaes sobre as civilizaes clssicas, a ndia, os povos
brbaros europeus, as instituies da Europa medieval, alm dos relatos
dos missionrios e viajantes sobre as sociedades primitivas. Em suas
reconstrues generalizantes e tericas da histria do homem, eles
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descobriram e classificaram alguns aspectos essenciais das sociedades
primitivas e camponesas.
Os esquemas gerais de uma histria evolucionista,
formulados por esses primeiros antroplogos, foram rejeitados
posteriormente, mas eles esclareceram como os documentos, focalizados
pela teoria comparativa, podem ser usados para compreender determinadas
seqncias da mudana social e cultural.
No comeo do sculo XX, difusionistas tais como Ratzel e
Graebner, e em seguida distribucionistas como Wissler, Kreber e Lowie
negaram a possibilidade do uso de mtodos histricos diretos na
reconstruo da histria das sociedades indgenas. Kreber acreditava que
para o estudo de pequenas sociedades primitivas, to antigas que no
podem ser datadas... no possumos nem mesmo um documento escrito
antes de nossa poca (KREBER, 1952:.65).
Robert Lowie, negando categoricamente que o homem
primitivo seja dotado de perspectiva ou senso histrico, criticou o uso da
tradio oral e dos relatos dos viajantes feito por Swanton e Dixon, quando
escreveram a histria das migraes dos ndios da Amrica do Norte
(SWANTON & DIXON: 1914). Lowie observou que os problemas
histricos dos antroplogos s podem ser resolvidos pelos mtodos
objetivos da Etnologia Comparativa, da Arqueologia, da Antropologia
Fsica e da Lingstica. (LOWIE: 1917-1960, 206 e 210).
A escola distribucionista ou histrica americana
concentrou todo seu esforo para descobrir informaes sobre a cultura e a
sociedade na memria cultural dos mais velhos sobreviventes das tribos
indgenas americanas,. Essas informaes ou caractersticas sociais e
culturais, os itens da cultura material e os dados lingsticos foram
mapeados geograficamente, na tentativa de deduzir as afinidades
intertnicas, histricas ou cronolgicas. Os distribucionistas de nenhuma
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maneira estavam interessados na histria particular das tribos. Um desses
enfoques tpicos o de Sapir, cujo livro Perspectivas do tempo na cultura
indgena americana: um estudo do mtodo, publicado em 1916, dedica
apenas duas das suas 87 pginas ao uso de documentos e tradies orais
indgenas. Os trabalhos da escola histrica americana perderam fora,
devido sua subordinao aos estudos de distribuio de traos culturais
simples ou complexos (por exemplo, a Dana do Sol, contos e mitos
especficos) e pela falta de uso sistemtico de documentos e tradies orais.
Sua tendncia produzir descries interminveis de fenmenos em uma
base territorial ou relatos descritivos sincrnicos da memria de
determinadas culturas.
As pesquisas antropolgicas com orientao histrica foram
desaprovadas tambm na dcada de 20, na Inglaterra, por Malinowski e
Radcliffe-Brown. Ambos argumentaram que documentos para o estudo das
sociedades primitivas eram inacessveis. Radcliffe-Brown sustentou que a
Antropologia Social e a Histria tinham naturezas antagnicas, devendo os
antroplogos sociais, to diferentes dos etnlogos, se ocuparem com o
avano das generalizaes sobre a estrutura da sociedade, como resultado
do estudo comparativo das sociedades primitivas, sem referncia sua
histria. Estudos sincrnicos ou interseccionados das sociedades foram
cuidadosamente diferenciados dos estudos diacrnicos, ou seja dos estudos
das mudanas das sociedades atravs dos tempos; esses ltimos - os
diacrnicos- com condies de produzir apenas explicaes acerca do
singular.
Muitos antroplogos sociais britnicos evitaram as pesquisas
diacrnicas at a dcada de 50, seguindo risca as observaes de
Radcliffe-Brown. Antroplogos britnicos e americanos continuaram
estudando a mudana cultural e social, sem referncia aos documentos
histricos, mesmo quando as fontes documentais eram facilmente
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acessveis, como nos casos da pesquisa de Lucy Mair sobre Baganda (1934)
ou de Mnica Hunter Wilson sobre Pondo (1936). A pesquisa de Gluckman
sobre o sistema poltico Zulu (1940) e a obra de Nadel intitulada Black
Byzantium (1942) usaram documentos histricos para desenvolver o
modelo de estruturas polticas antes das incurses europias. No entanto
essas no so pesquisas histricas, mas abstraes analticas a partir de
fontes histricas, com o objetivo de esclarecer os princpios estruturais.
A nica exceo digna de nota durante todo este perodo o
estudo sobre o beduno de Cirenaica (1949) de E. Evans-Pritchard. Neste
trabalho, seu autor analisou o processo pelo qual uma sociedade
segmentada em cls desenvolveu instituies e funes polticas
centralizadas. Uma ordem de lderes religiosos muulmanos - a Ordem dos
Sanusi - migrou para a regio de Cirenaica no alvorecer do sculo XIX e
preencheu as funes religiosas e de troca necessrias sociedade. Do
ponto de vista geogrfico e estrutural, esses lderes muulmanos
localizaram os seus centros religiosos nas fronteiras dos territrios tribais e
dos cls que a viviam. Principalmente devido presso, primeiro dos
administradores turcos e depois dos italianos que tentaram governar os
bedunos, os chefes da ordem religiosa - como nicos lderes visveis -
foram obrigados a desempenhar funes polticas mais amplas na
sociedade. Evans-Pritchard usou relatrios e registros coloniais acessveis,
narrativas publicadas, tradies orais e as lembranas de participantes nos
acontecimentos que compuseram a narrativa histrica. Toda a base do The
Sanusi of Cyrenaica reside na compreenso do seu autor sobre como
funciona um sistema poltico acfalo em uma sociedade segmentada em
cls. E esta compreenso que lhe d no s os princpios estruturais com
os quais ele organizou sua narrativa histrica, como tambm lhe
proporciona um modelo para o estudo do processo de mudanas estruturais
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internas de toda e qualquer sociedade que se encontrar sobre o impacto do
controle externo.
Nos Estados Unidos, no perodo entre 1910 a 1930, alguns
poucos antroplogos usaram mtodos histricos diretos para reconstruir os
passados tribais, como o caso de John R. Swanton, em sua pesquisa sobre
alguns povos indgenas do sudoeste americano (1922:1946) e o de Frank
G.Speck, em sua histria sobre as tribos do nordeste dos Estados Unidos
(1928). Para esta tarefa, eles contaram com o seu prprio trabalho de
campo entre os remanescentes das tribos das respectivas regies e fizeram
uso intensivo de uma dupla srie de documentos histricos.
Os primeiros exemplos mais evidentes de pesquisa
etnohistrica sistemtica so encontrados justamente num volume de
estudos dedicados a Swanton, publicado pelo Smithsonian Institution em
1940. William Fenton usou documentos dos sculos XVII e XVIII para
localizar o territrio e as migraes de grupos iroqueses (1940). Willian
Duncan Strong demonstrou que os documentos histricos podem ser usados
de forma combinada com os dados arqueolgicos para fornecer, do presente
ao passado, um registro contnuo de stios particulares (1940). O estudo de
Julian Steward sobre as sociedades da Grande Bacia combina a ecologia, a
histria, a arqueologia e a etnografia, havendo descoberto critrios nos
processos culturais e estruturais (1940 ). Esses trs estudos revelam a
abordagem etnolgica que seria formalizada nos anos 50.
Os dados etnogrficos acumulados evidenciaram a falsidade
das primeiras hipteses sobre a imutabilidade das culturas e sociedades
antes do contato europeu. Os antroplogos comearam a reconhecer que no
perodo anterior ao contato, em vez de estagnao das sociedades indgenas,
ocorreram mudanas de trs tipos. Primeiro, houve mudanas cclicas em
pequena escala, comprovadas pelo crescimento e diviso de cls e de
famlias extensas. Segundo, houve ainda ciclos maiores de expanso
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poltica e cultural, quando as linhagens, no interior das tribos, conseguiram
dominar grupos similares; no entanto, muitas sociedades no puderam
desenvolver instituies para impedir a reafirmao da independncia de
tais grupos, de tal forma que as organizaes tribais extensas cresceriam
durante um tempo sujeitas a uma ou a outra parte de uma tribo, apenas para,
novamente, voltar a fragmentar-se em pedaos dentro de grupos menores. O
terceiro tipo de mudana envolve as migraes tribais de grande amplitude,
ocasionando muitas transformaes polticas, sociais e nas normas rituais.
Alm desses processos internos de mudana, os
etnohistoriadores demonstraram as conseqncias indiretas dos intrusos -
europeus e rabes, por exemplo - sobre as sociedades e culturas nativas,
mesmo antes do perodo da dominao europia. O trfico de escravos,
tanto no leste como no oeste da frica, o comrcio no oeste africano
atravs do deserto de Saara e a circulao de marfim na frica central e no
litoral leste ocasionaram importantes mudanas polticas nas sociedades
africanas. O comrcio de peles na Amrica do Norte deu origem a
significativas guerras intertribais, ao aparecimento da noo de propriedade
e ao surgimento de um sistema social estratificado, baseado na obteno e
na posse diferenciada de peles. A introduo do cavalo nas grandes
pradarias da Amrica do Norte mudou o modo de vida de muitas tribos que,
na poca, viviam em regio de fronteiras. Em cada caso, a cultura e a
sociedade eram consideradas pelos antroplogos como estticas e estveis e
a partir do momento em que se podia avaliar ou descrever as mudanas,
elas estavam em si mesmas mudando devido a influncias externas.
(EWERS:1955; LEACOCK:1954; JONES:1963; DILSE: 1956).
A aprovao pelo Congresso Nacional, em 1946, do INDIAN
CLAIMS ACT (Legislao Sobre o Direito dos ndios) propiciou um
vigoroso avano na pesquisa etnohistrica nos Estados Unidos. Protegidas
por estas disposies legais, as tribos indgenas podiam mover ao judicial
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contra o Governo Federal, exigindo indenizao pelas terras que lhes foram
tomadas depois que haviam assinado tratados protegendo seus direitos.
Antroplogos foram contratados como especialistas, tanto pelas tribos
indgenas como pelo Governo, para estabelecer a localizao, o tamanho e
o tipo de controle indgena sobre os vrios territrios e a exata natureza das
obrigaes contratuais. Isto atraiu o interesse de muitos etnlogos, que
anteriormente, em suas pesquisas sobre os ndios americanos, haviam
prestado pouca ateno aos enormes recursos dos arquivos do Governo
Federal e documentao de vrios Estados. A principal revista do ramo -
ETNOHISTORY - foi fundada em 1954, em parte com o objetivo de
proporcionar uma sada para as matrias e para o interesse desenvolvido
pelas reivindicaes judiciais dos ndios.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a expanso das
oportunidades de pesquisa de campo na Amrica Latina e na sia e o
surgimento de muitos Estados oriundos do sistema colonial tm sido um
extraordinrio estmulo para o trabalho etnohistrico. Em muitas dessas
reas existem tradies literrias de longo alcance e uma riqueza de
documentos histricos. Na Amrica Latina, por exemplo, certas reas foram
cobertas com fontes histricas por um perodo de 400 anos. (Para um
resumo da literatura, ver ADAMS:1962; ARMILLAS:1960;
GIBSON:1955). No leste e sudeste asitico, foram realizadas importantes
pesquisas etnohistricas sobre as estruturas de parentesco e de cls,
(FREEDMAN:1958; R.J. SMITH:1962), posse da terra (T.C SMITH:1959),
recrutamento e treinamento da burocracia indgena (HO:1962;
MARSH:1961; SILBERMAN:1964), histria e mobilidade social urbana
(R.J. SMITH:1963), comunidades imigrantes ( SKINNER:1957) e sistemas
polticos indgenas (GULLICK:1958). Estudos etnohistricos sobre o sul da
sia e o centro leste esto comeando a aparecer (COHN:1962 a, 1962 b;
POLK: 1963).
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Nas pesquisas europias, firmou-se uma longa tradio de
estudos do medievo clssico e do comeo da sociedade moderna, orientados
por mtodos e conceitos sociolgicos e antropolgicos. A maioria desses
trabalhos foi produzida muito mais por especialistas em Histria Social,
Econmica e Jurdica do que pelos prprios antroplogos. A pesquisa
etnohistrica sobre a sociedade clssica atraiu considervel ateno
(KLUCKHOHN:1961). Baseado na Odissia, Finley escreveu um ensaio
sobre a cultura e a estrutura social da Grcia da era herica, usando
deliberadamente para isso as idias de Malinowski, Mauss, e Radcliffe-
Brown (FINLEY:1954). J Dodds (1951), em sua anlise da literatura
grega, aproximou-se de alguns conceitos da antropologia, inspirado pela
psicoanlise. Os grandes trabalhos de Marc Bloch sobre a sociedade feudal
(1939-1940) e sobre a estrutura rural da Frana medieval (1931)
demonstram as possibilidades de uma etnohistria da Europa na Idade
Mdia.
A narrativa da Histria Social britnica da poca de Maitland
(1897) e Vinogradoff (1905) foi marcada pelo uso consciente ou
inconsciente da Antropologia Social. Temas modernos que receberam um
sofisticado tratamento etnohistrico incluem a nobreza feudal dos francos
(WALLACE-HADRILL:1959), o parentesco anglo-saxnico
(LANCASTER:1958) e os sistemas de casamento do comeo da Idade
Moderna (STONE:1965, 589-671; HABAKKUK:1950). Embora os
antroplogos sociais tenham realizado muitos trabalhos cientficos de
campo nas sociedades camponesas europias, poucos exemplos de pesquisa
etnohistrica, sistemtica e rigorosa, tm aparecido. Uma exceo o
trabalho de Lawrence Wyllie, um estudioso da literatura e civilizao
francesas, que fundamentado na pesquisa de campo entre os camponeses da
Frana, foi capaz de mostrar a utilidade das tradies orais e dos
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documentos no estudo das mudanas dos sistemas de valores de uma aldeia
rural (WYLLIE:1965).
Um trabalho importante e cuidadoso comea a ser feito, em
reas sem longa tradio escrita. O JOURNAL OF AFRICAN HISTORY,
criado em 1960, mostra a utilizao de crnicas oficiais, tradies africanas
arquivadas e documentos em idiomas rabe e copta. A histria institucional
do povo Maori, no sculo XVIII, comea a ser escrita (VAYDA:1961;
BIGGS:1960). O JOURNAL OF PACIFIC HISTORY foi recentemente
criado para dar vazo pesquisa etnohistrica cada vez maior na regio do
oceano Pacfico.
FONTES E MTODOS
DOCUMENTOS ESCRITOS
O etnohistoriador, no uso que faz dos documentos escritos,
enfrenta inicialmente o mesmo problema e aplica as mesmas tcnicas que
os historiadores convencionais. Se ele recebeu uma formao de
antroplogo e j realizou uma pesquisa de campo, muitas vezes fica
profundamente frustrado, quando tem de sujeitar-se aos documentos. Em
geral, os problemas formulados pela pesquisa etnohistrica dizem respeito
histria local ou so problemas sub-histricos. O etnohistoriador no est
interessado nos acontecimentos principais, bem documentados, com os
quais se preocupa o especialista em histria poltica; com muita freqncia,
o que ele quer conhecer so as particularidades do passado, tais como os
laos de parentesco de vultos histricos obscuros em uma sociedade
indgena, o movimento e a situao de linhagens particulares em pocas
determinadas, os significados simblicos de uma cerimnia de coroao em
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um reino africano, a populao de um grupo indgena americano no sculo
XVIII.
Muitas vezes difcil identificar corretamente os indivduos e
grupos pelos quais a etnohistria se interessa. Devido sua formao de
antroplogo, o etnohistoriador espera construir indutivamente, a partir de
fragmentos parciais de informao, um quadro do funcionamento do
sistema. No entanto, ele no pode gerar os seus prprios dados, formulando
questes populao e observando seu comportamento no contexto de
experincias vivenciadas. Os documentos por ele manuseados quase nunca
foram escritos pelo povo cuja estrutura scio-cultural ele quer estudar; so
relatos redigidos por observadores, simplrios e preconceituosos, que quase
sempre entendiam s pela metade a realidade que estavam descrevendo.
Se o etnohistoriador usa os arquivos administrativos como um
historiador, ele deve saber no apenas quem escreveu as atas ou o relato
das decises tomadas e porque escreveu, mas tambm deve situar os dados
num contexto mais amplo da poltica administrativa. Certos registros
oficiais, tais como os cadastros de imposto, as demarcaes de terra e
documentos de medidas judiciais vigentes, se bem que diferentes das
decises polticas, muitas vezes revelam ser os melhores dados. Esses
materiais so filtrados pelo crivo cultural dos administradores, com menos
perfeio. O etnohistoriador deve constantemente tentar compreender as
categorias do administrador e do observador externo, to bem quanto ele
deve compreender os sistemas indgenas de classificao. A interpretao
de documentos oficiais ou no-oficiais, de declaraes polticas ou de
outras fontes primrias, requer uma compreenso da cultura e da sociedade
dos administradores coloniais. Isto , por si s, muito difcil, porque grande
parte dos feitos da sociedade metropolitana pode ter uma aparncia
enganadora.
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O etnohistoriador tem de saber de que grupo social especfico
o administrador proveniente e se seus valores, a sua educao e filosofia
poltica e social diferem do resto da sociedade, e, em caso afirmativo, como
diferem. Precisa compreender a estrutura da administrao colonial e saber
com quem estavam comprometidos os autores dos documentos que ele
estuda. Deve perceber as relaes entre os responsveis pelas decises na
Metrpole, os administradores na sede da colnia e os homens operando na
rea. Tem de verificar como os administradores coletaram os dados e
informaes, quais so os ndios com os quais eles negociam e quais so
aqueles que eles empregam como trabalhadores. Necessita descobrir quais
noes desenvolvidas sobre as sociedades indgenas estavam erradas, como
elas influram nas observaes e decises, e como essas decises - baseadas
em tal desinformao - afetaram as diferentes etnias. A tarefa do
etnohistoriador usar os mtodos histricos convencionais, mas colocando
sempre perguntas diferentes e guardando na conscincia o seu compromisso
com a sociedade indgena. (CURTIN:1964).
Existe, para quase todas as regies, grandes colees de fontes
primrias j publicadas, tais como a srie de 73 volumes do Thwaite (Cartas
Jesuticas das Misses 1896-1901) para a Amrica do Norte; as colees de
Theal (1883) e Brsio (1952-1960) para o sudoeste africano; os documentos
parlamentares da Gr-Bretanha para ndia e frica. As principais fontes, no
entanto, so para ser encontradas nos arquivos nacional e regional, na
administrao local e nos cartrios de registro da rea que est sendo
estudada.
O desenvolvimento poltico e social pode ser observado
atravs dos olhos de alguns indgenas, em regies onde os documentos
foram elaborados pelos prprios membros da sociedade local, como
Uganda, Emirados do norte da Nigria e Estados Malaios, porque a os
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europeus tentaram manter o sistema poltico indgena, governando
indiretamente.
TRADIO ORAL
Nos ltimos anos, particularmente no estudo da Histria das
sociedades africanas, o etnohistoriador e o antroplogo preocupado com a
histria demonstraram convincentemente como a tradio oral pode ser
registrada, confrontada, verificada e usada para fins histricos
(ABRAHAM:1961; VANSINA: 1961; M.G.SMITH: 1961). As tradies
orais cobrem uma ampla variedade de temas e de assuntos e podem ser
encontradas sob mltiplas formas. Sociedades com instituies polticas
centralizadas e Estados conquistados produziram, muitas vezes, histrias
orais bem desenvolvidas, mantendo especialistas, cuja preocupao
memorizar e transmitir estas tradies. No uso desta forma de tradio oral,
obviamente todo cuidado necessrio, na medida em que a histria reflete
tanto a estrutura socio-poltica do presente, quanto a do passado, e est
constantemente se transformando para poder dar conta de situaes em
mudana (BARNES:1951; CUNNISON: 1951).
A histria oral reproduz os grupos sociais no interior da
sociedade; relatos do passado de aldeias e linhagens desempenham a funo
especfica de relacionar os grupos uns com os outros, confirmando ou
corrigindo as pretenses locais e justificando as relaes de parentesco. O
etnohistoriador, freqentemente, confrontado com uma extraordinria
multiplicidade de relatos conflitantes do passado, inclusive da mesma aldeia
(COHN:1961). Segmentos tribais, linhagens nobres e cortes devem ter
histrias bem preservadas, que funcionam como garantias legais para
justificar a estrutura social do momento
-
21
Como Vansina (1961) demonstra, a narrativa histrica no o
nico aspecto da tradio oral que pode ser registrado, confrontado e
utilizado; frmulas sagradas, nomes, poesias, genealogias, contos
folclricos, mitos e exemplos legais so teis ao etnohistoriador. Na
interpretao da tradio oral, a nfase deve ser primeiro colocada no
contexto cultural no qual se encontra a tradio. Vansina define a tradio
oral como testemunhos do passado que so transmitidos deliberadamente
de boca em boca. Tal como ele faz no caso de documentos escritos, o
pesquisador deve sempre perguntar que funo a tradio desempenha na
sociedade atual. Mesmo o testemunho que comprovadamente falso pode
ser de grande valor, na medida em que ele pode, ocasionalmente, conter
fatos histricos.
Quando pessoas de fora passam um longo tempo registrando
narrativas orais indgenas (como por exemplo, entre o povo Maori), a
relao entre a tradio oral e a estrutura poltica contempornea pode ser
usada para compreender no apenas o passado narrado, mas a prpria
situao poltica atual, existente no momento do registro.
TRABALHO DE CAMPO
O trabalho de campo essencial para o ofcio do
etnohistoriador, o que o diferencia do historiador convencional. A
orientao antropolgica bsica desenvolvida atravs da experincia, da
observao sistemtica e da coleta de dados realizadas com povos que esto
vivos, com o objetivo de descrever e analisar o funcionamento de seu
sistema social.
Em conseqncia, o trabalho de campo a base da maior parte
da formao do etnohistoriador, atravs dele que o pesquisador
desenvolve sua sensibilidade em relao estrutura de uma sociedade, o
-
22
que difcil conseguir atravs apenas do estudo de dados documentais.
Idias referentes a processos e relaes histricas podem ser verificadas,
atualmente, no campo, onde aspectos sociais e culturais continuam ainda
operando.
ETNOHISTRIA E ANTROPOLOGIA
Os estudos diacrnicos realizados no produziram at hoje
formulaes tericas. Enquanto estudos sincrnicos geralmente permitem
ao etnohistoriador deduzir os processos sociais de evidncias documentais,
muito mais difcil demonstrar a contribuio que os estudos diacrnicos
daro para a construo de teorias ou mesmo para o desenvolvimento de
generalizaes descritivas relacionadas sociedade e cultura. Mesmo no
mais rigoroso estudo etnogrfico sincrnico, o etngrafo deve se ocupar
com a dimenso do tempo. No mnimo, ele est se relacionando com trs
geraes e com indivduos cujas vidas abrangem um perodo de 60 anos.
Inevitavelmente o etngrafo de campo formula perguntas sobre o passado;
ele deve confrontar a questo de padres com padres em mudana, de
ajustes sociais acidentais com aspectos permanentes da estrutura social.
Atravs do estudo histrico, o antroplogo pode identificar
aquelas mudanas no interior do sistema que so o resultado de seqncias
instveis, casuais ou cclicas e aquelas decorrentes de realinhamentos
estruturais. Nadel e outros argumentaram que para conhecer o
direcionamento da mudana social estrutural necessrio um mergulho
profundo no tempo (NADEL:1957, captulo 6; LVI-STRAUSS: 1949).
Desta forma, por exemplo, estudo estatstico rigoroso mostra que existem
em muitas sociedades, seno em todas, autonomia ou liberdade numa
escolha individual de residncia, ainda que ela seja patrilocal ou matrilocal,
e essas escolhas podem estar vinculadas a outras variveis. Estudos
-
23
sincrnicos podem dar conta dessas relaes, mas se ns queremos explicar
a mudana, ento os mtodos histricos para estudar uma sociedade - seja
ela primitiva, camponesa ou industrial - so o pr-requisito para o
desenvolvimento de teorias adequadas. (EVANS-PRITCHARD:1961;
M.G.SMITH:1962; THOMAS:1963).
HISTORIADORES E ANTROPLOGOS
O estudo do passado divorciado dos valores e paixes da
poca do historiador; a idia de que os fatos histricos podem ser
determinados e, se ordenados cronologicamente, podem falar por si ss;
enfim, o desenvolvimento da histria cientfica do sculo XIX - com
algumas notveis excees - levou os historiadores a evitar
conscientemente os conceitos e generalizaes que deveriam orientar e
elucidar a sua descrio e anlise do passado. No sculo XX, entretanto, os
historiadores tm se tornado cada vez mais conscientes de que eles utilizam
- e devem utilizar - generalizaes, caso queiram fazer algo mais do que
simplesmente editar textos.
H. Stuart Hughes (1960: 25-26) destacou pelo menos quatro
nveis em que se d essa generalizao. Primeiro: os historiadores
abstraem, generalizam e comparam implicitamente, usando palavras como
nao, revoluo, desenvolvimento, tendncia e classe social, ou
seja, generalizam semanticamente. Segundo: concluses na forma de
declaraes ordenadas sobre um homem, um perodo ou um movimento so
generalizaes. Terceiro: esquematizaes inerentes em idias tais como
urbanizao e industrializao, pelas quais fragmentos e partes do
estudo histrico so organizados em termos de processo ou estrutura, so
-
24
generalizaes e esto prximas daquelas elaboradas pelos cientistas
sociais. Finalmente, existem sistematizaes amplas e inclusivas da
histria ou metahistria, associadas com o trabalho de homens como
Spengler e Toynbee. nesse quarto nvel, ou seja, no uso consciente de
conceitos referentes a processo e estrutura na sociedade e cultura, que o
cientista social e o historiador podem melhor dialogar e inter-relacionar
suas pesquisas.
Se a atividade caracterstica do historiador o estudo do
passado e se seu princpio de organizao uma seqncia no tempo, ento
ele deve tomar emprestado princpios de organizao de outras disciplinas,
tanto das Cincias Sociais como das demais Cincias Humanas. Na maior
parte das sub-reas da Histria, este processo de emprstimo explcito,
por exemplo, na Histria Econmica, onde os conceitos e mtodos da
Economia so constantemente utilizados para fornecer a estrutura
conceitual. A Histria Social e a Histria das Idias tambm devem muito
Psicologia, Sociologia e Antropologia.
Nos ltimos trinta anos, tem havido muitos esforos para
utilizar a abordagem dos antroplogos no estudo da Histria. A
Antropologia que tem se mostrado mais prxima dos historiadores a
Antropologia Cultural. O conceito de cultura, como uma idia abrangente
que cobre comportamentos e valores de um determinado povo, num tempo
bem delimitado, adapta-se bem s preferncias dos historiadores. Hughes
coloca isso muito bem quando afirma: ... a abordagem da Antropologia
Cultural se aproxima tanto daquela do historiador, que freqentemente
parece idntica a ela (HUGHES,1960:34)
-
25
Como o pesquisador em Histria, o estudioso das culturas
exticas adota uma atitude altamente tolerante em relao a seus dados,
ficando absolutamente satisfeito no domnio da impreciso e dos
procedimentos intuitivos, tentando agarrar aquilo que considera como
sendo os problemas centrais da sociedade com as quais ele se ocupa.(Ver
WARE:1940; GUTSCHALK:1963 e Social Science Research
Council:1954).
Livros como o Patterns of Culture de Ruth Benedict (1934) e
ensaios de antroplogos que realizaram estudos de carter nacional so
considerados como modelos pelos historiadores (ver POTTER:1954, por
exemplo), mais interessados na prpria abordagem da Antropologia
Cultural do que nas tcnicas, mtodos e conceitos. Com notveis excees,
como Marc Bloch, os historiadores no tm se empenhado em combinar o
trabalho de campo com a pesquisa histrica para encontrar nas sociedades
traos ainda existentes de tcnicas agrcolas e industriais anteriores ou
formas sobreviventes de relao social (BLOCH:1939-1940).
Contudo, onde antroplogo e historiador aparecem
necessitando mais um do outro, justamente no estudo das sociedades pr-
industriais e modernizantes de hoje e nas pesquisas sobre as sociedades
histricas que caracterizaram o mundo inteiro antes do incio do sculo
XIX.
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ETNOHISTRIA OU HISTRIA INDGENA?
Osvaldo Silva Galdames
Quando Clark Wissler utilizou, em 1909, o termo Etnohistria,
estava se referindo a um mtodo que combinava os dados arqueolgicos e
os histricos - provenientes de cronistas, funcionrios pblicos,
missionrios e viajantes - com o objetivo de reconstruir a histria das
culturas pr-letradas para as quais no se possua antecedentes
contemporneos (BAERREIS,1961:49). Nesse sentido, as fontes escritas
cumpriam um papel similar ao dos informantes empregados pelos
etngrafos. Tratava-se, ento, de buscar na documentao europia
respostas s indagaes sobre as estruturas socio-econmicas e polticas,
as idias e crenas religiosas ou o sistema de parentesco das etnias
americanas.
Naturalmente, as informaes assim obtidas deviam submeter-se a
uma severa crtica interna e externa, afim de filtr-las dos preconceitos ou
interpretaes falsas inerentes a toda e qualquer observao de fatos
culturais, realizados por pessoas estranhas sociedade descrita. O
-
32
resultado foi o desenvolvimento de uma nova tcnica, vinculada tanto
Histria como Antropologia, da qual surgiu uma metodologia, na qual
tambm desempenhava um importante papel a tradio oral que, na falta
de outra denominao, se chamou etnohistria.
Da se conclui - como assinalou Trigger (1982) - que a etnohistria
no uma disciplina autnoma, mas uma metodologia usada por
pesquisadores que devem possuir alm da habilidade de um bom
historiador convencional, um slido conhecimento de etnografia, se querem
ser capazes de avaliar as fontes e interpret-las com um entendimento
razovel das percepes e motivaes do povo nativo envolvido.
(TRIGGER,1982:9)
O etnohistoriador , portanto, um historiador das sociedades no-
ocidentais. Devido natureza de seu trabalho, ele deve combinar mtodos
prprios das disciplinas histricas e antropolgicas, incluindo a
arqueologia. Somente dessa forma poder reconstruir o passado daquelas
culturas que entraram no mundo ocidental durante a poca em que os
europeus se lanaram ao descobrimento e colonizao de outros
continentes. Partindo dessa perspectiva, podemos distinguir dois campos de
ao para a etnohistria. Um representaria o interesse de revelar o
comportamento das instituies sociais, econmicas, polticas e ideolgicas
das culturas nativas no momento do contato com os europeus. O outro, a
preocupao de estudar as mudanas vivenciadas pelas sociedades
indgenas, como conseqncia deste contato com a cultura ocidental,
fenmeno que se traduz em um processo de aculturao.
Com base no que acabamos de descrever aqui, muitos
pesquisadores argumentam que a etnohistria , mais apropriadamente, a
histria de uma determinada etnia. Eles defendem que. por esse motivo, o
termo devia ser abandonado e substitudo pelo de histria de tal ou qual
sociedade nativa. Nesse sentido, por exemplo, os doutores John Murra e
-
33
Franklin Pease falam de uma histria andina. No Chile tambm estamos
em condies de comear a escrever as histrias dos diversos grupos
tnicos que habitavam nosso territrio no momento da chegada dos
conquistadores. Para isso, alm das crnicas do sculo XVI, contamos com
a possibilidade de prospectar, em busca de novas informaes, nos arquivos
civis e eclesisticos, recorrer tradio oral, analise dos mitos, aos
trabalhos etnogrficos ou aos dados produzidos pela arqueologia. Deste
modo, podemos revelar o comportamento cultural daquelas sociedades no
momento em que foram contatadas pelos europeus e as mudanas
ocasionadas pelo contato.
O objetivo da pesquisa etnohistrica justifica que uma das reas do
Programa de Mestrado em Histria, oferecido pelo Departamento de
Cincias Histricas da Universidade do Chile seja Etnohistria,
considerando-a como um termo genrico, da mesma forma que Histria do
Chile, Histria da Amrica ou Histria Universal e que admite
especializaes tendentes a estudar certos aspectos ou a reconstruir, em
forma global, a histria de um grupo nativo em especial.
Com esse critrio em mente, organizamos o Encontro de
Etnohistoriadores, realizado de 8 a 10 de outubro de 1987. Conseqente
com o que foi dito anteriormente, dividiu-se em dois simpsios: Contato
Cultural I e Contato Cultural II. No primeiro, como expressava o
manifesto de convocao, procurou-se debater... o encontro das
sociedades indgenas americanas com a cultura ocidental de raiz europia,
em sua etapa expansiva inicial. O corte cronolgico priorizou o sculo
XVI, sem descartar os outros sculos posteriores, para aqueles casos em
que a primeira relao intertnica se produziu depois do ano 1.600.
O segundo simpsio tinha como finalidade aprofundar a
problemtica do contato com processo de aculturao, centrando-se em
-
34
situaes histricas prprias do perodo ps-conquista (fases colonial e
republicana).
Houve tambm uma mesa de comunicaes, onde se abriu espao
para a exposio de trabalhos que no tinham uma relao direta com os
simpsios.
No total, foram apresentados cerca de trinta trabalhos.
Lamentavelmente, nem todos foram enviados a tempo para sua publicao
neste primeiro volume, no qual se juntam o Departamento de Cincias
Histricas e a Faculdade de Filosofia, Humanidades e Educao para
comemorar o Quinto Centenrio do Descobrimento da Amrica.
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O ENSINO DE ETNOHISTRIA
Jos R. Bessa Freire
H mais de 40 mil anos, existem sociedades humanas vivendo aqui
em territrio brasileiro, em luta permanente com a natureza, adaptando-se a
ela, transformando-a, dominando-a e freqentemente at servindo-a. Essas
sociedades domesticaram plantas, praticaram uma agricultura sofisticada
para os padres culturais ento vigentes, fabricaram instrumentos de
trabalho, produziram uma refinada cermica, transformaram o algodo em
-
36
redes e mantas e a mandioca em farinha, estocaram e conservaram
alimentos, descobriram as propriedades medicinais e nutritivas de ervas e
frutas, inventaram centenas de lnguas diferentes, realizaram observaes
rigorosas e classificaram o mundo natural com uma taxonomia complexa,
produziram literatura oral, poesia, msica, cantos e danas, elaboraram
mitos, criaram deuses, migraram, navegaram, brigaram, fizeram e
desfizeram alianas, amaram, enfim, viveram e se reproduziram aqui,
graas aos saberes acumulados que lhes permitiram fazer uma leitura
correta do ecossistema.
H 500 anos, os europeus aportaram no litoral, penetrando depois o
interior, na busca da fora de trabalho indgena. Encontraram resistncia e
destruram muitas das sociedades locais e com elas suas lnguas e seus
saberes, ocasionando o que foi considerado pela escola demogrfica de
Berkeley como uma das maiores catstrofes demogrficas da histria da
humanidade (BORAH:1976)). Lanaram as bases da atual sociedade
mestia que sobrevive atualmente em territrio brasileiro e da qual fazemos
parte, construindo assim uma nova cultura e um novo povo.
Hoje, procurando entender esse processo histrico, algumas perguntas
se impem: qual a verso da sociedade brasileira, por exemplo, sobre o
embate histrico da conquista e de todo o processo do contato? Em que
contexto, sob quais condies e com base em quais fontes foi produzido
esse saber? Em que medida, a difuso de um conhecimento assim
produzido contribui para uma relao positiva dos ndios com a sociedade
nacional ou refora preconceitos discriminatrios? Quais as verses dos
diferentes grupos tnicos sobre as suas origens e sobre a sua histria? Qual
a contribuio indgena para a formao da identidade nacional? Afinal, o
que que a atual sociedade brasileira sabe sobre as experincias passadas
dos povos que habitaram milenarmente seu territrio? Como reconstruir a
histria de sociedades sem escrita?
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Durante muito tempo, a historiografia considerou os povos de
tradio oral como povos sem histria ou povos pr-histricos, nica e
exclusivamente por lhes faltar literacidade, isto , uma prtica
sistemtica de leitura e escritura. Argumentava-se que, na ausncia de
documentos escritos, os documentos de cultura material constituam pistas
frgeis para o levantamento da histria desses povos. Quanto memria
oral, ela no era digna de credibilidade. Portanto, sem fontes escritas, no
havia histria.
A historiografia ocidental, da qual a brasileira faz parte, desdenhou
desde o seu incio qualquer documentao verbal que no fosse escrita. De
forma arrogante, padronizou este trao e universalizou o seu modelo de
confiabilidade nos documentos escritos, fazendo extensiva esta qualidade
ao resto do mundo que foi encontrado no processo de colonizao. Os
povos grafos, que j eram tratados etnocentricamente como povos pr-
lgicos, foram considerados tambm como povos sem histria, posto que
no dominavam a escrita. (FREIRE, 1992: 154)
Nos ltimos quarenta anos, esta situao comeou a mudar, com o
surgimento da Etnohistria, uma disciplina que, segundo Le Goff,
constitui um dos desenvolvimentos recentes mais interessantes da cincia
histrica. (LE GOFF, 1984: 46)
A Etnohistria reconhece as profundas diferenas entre as sociedades
essencialmente orais e as sociedades onde predomina a escrita, cada uma
delas com formas distintas de armazenamento, transmisso e produo do
saber, o que exige procedimentos particulares de abordagem. No entanto,
considera tais sociedades como equivalentes, no sentido de que ambas
possuem uma memria institucionalizada.
Ao descobrir a existncia, nas sociedades grafas, de mecanismos de
conservao e transmisso da memria coletiva, a Etnohistria reconhece e
valoriza a tradio oral, o que permite a integrao de novas fontes a serem
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trabalhadas pelo historiador, com novos mtodos, reformulando o
sentimento de impossibilidade de reconstruir a memria dos povos sem
escrita.
As pesquisas que incorporaram a tradio oral, como fonte,
realizadas nas quatro ltimas dcadas, vm demonstrando que os
julgamentos sobre as culturas grafas, consideradas como incapazes de
construir o pensamento abstrato, so preconceitos que confundem o saber
com a escrita, quando na expresso talvez simplificadora do tradicionalista
africano Tierno Bokar, mas didtica para esse contexto, a escrita uma
coisa, e o saber outra. A escrita apenas uma fotografia do saber, mas no
o saber em si. (HAMPAT B, 1980: 181)
interessante observar que est em curso um processo de
recuperao da tradio oral no apenas nas sociedades sem escrita, mas at
mesmo naquelas que tm uma longa e forte tradio literria, derrubando os
preconceitos sobre sua credibilidade:
Se tradio e memria oral significassem fantasia e fragilidade
perptua, compreenderamos mal que sociedades sem escrita tenham
sustentado prticas e realizaes polticas e culturais, algumas vezes
complexas, extensas e durveis. (MONIOT, 1979:102)
Desta forma, a tradio oral passou a ser trabalhada no apenas como
uma fonte que se aceita por falta de outra melhor e qual nos resignamos
por desespero de causa, mas como uma fonte integral, cuja metodologia j
se encontra bem estabelecida. (KI-ZERBO:1980, 31). Nas ltimas
dcadas, a disciplina Etnohistria ganhou importncia, passando a integrar
os currculos de universidades norte-americanas, europias e de pases da
rea andina, especialmente no Peru, com a publicao de revistas
especializadas.
No Brasil, um dos primeiros foruns onde se discutiu a temtica foi o
Grupo de Trabalho Histria Indgena e do Indigenismo, coordenado por
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Manuela Carneiro da Cunha, da USP, que realizou o seu primeiro encontro
formal em 1984, no quadro da reunio da ANPOCS - Associao Nacional
de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais. Naquela ocasio, trs
blocos temticos foram discutidos: 1. Fontes para a Histria Indigena e do
Indigenismo; 2. Processos regionais e estudos de caso e 3. A Histria do
Indigenismo. A partir desse encontro, algumas universidades brasileiras
passaram a integrar a disciplina em seus programas curriculares. No
primeiro semestre de 1985, Etnohistria oferecida na Ps-Graduao da
UNICAMP (SP). No segundo semestre do mesmo ano, o Curso de Histria
da Universidade Federal do Amazonas reformula sua grade curricular,
introduzindo esta disciplina na graduao. Logo depois, ocorre mudana
similar na Universidade Federal da Bahia, seguida de algumas outras
instituies de ensino superior.
No entanto, em nosso pas, ainda no so muitas as universidades
que oferecem essa disciplina aos seus alunos, o que pode explicar a pouca
produo nesse campo, a ausncia de textos tericos e metodolgicos
publicados em portugus e um certo desconhecimento sobre a questo.
Como observa Manuela Carneiro da Cunha, sabe-se pouco da histria
indgena: nem a origem, nem as cifras de populao so seguras, muito
menos o que realmente aconteceu. Mas progrediu-se, no entanto: hoje est
mais claro, pelo menos, a extenso do que no se sabe. Ela chama a
ateno para o fato de que uma histria propriamente indgena ainda est
por ser feita. No s o obstculo, real, da ausncia de escrita, no s a
fragilidade dos testemunhos materiais, mas tambm a dificuldade de
adotarmos esse ponto de vista outro sobre uma trajetria de que fazemos
parte. (CARNEIRO DA CUNHA:1992,11 e 20)
Nos ltimos anos, um esforo vem sendo feito para mapear a
documentao manuscrita e iconogrfica relacionada histria indgena.
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No Rio de Janeiro, nos anos de 1992 a 1994, uma equipe de 10 bolsistas do
Programa de Estudos dos Povos Indgenas, num projeto elaborado pelo
Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo da USP, vasculhou mais de
300 fundos, colees e arquivos pertencentes a 25 grandes instituies
localizadas na cidade do Rio de Janeiro. Nos dois anos que se seguiram -
1995, 1996 - uma equipe mais reduzida realizou levantamento em arquivos
cartoriais, paroquiais e municipais de algumas cidades do Norte Fluminense
e do vale do Paraba. Nesses arquivos, tanto da capital como do interior, foi
encontrada rica documentao manuscrita relativa histria indgena, ainda
que dispersa, fragmentada, mal conservada e desorganizada.
Trs publicaes resultaram deste trabalho. A primeira foi o Guia de
Fontes para a Histria Indgena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros -
acervos das capitais, editado pela USP. A segunda publicao, em dois
volumes, foi editada pela prpria UERJ: Os ndios em arquivos do Rio de
Janeiro, com informaes organizadas segundo um programa de banco de
dados, ao invs de um arquivo de texto, colocado disposio dos
pesquisadores. Concebido para ambiente Windows 3.1, baseado no
programa ACCESS da Microsoft, este programa permite a manipulao dos
dados e um acesso mais direto s informaes. A terceira publicao um
texto para-didtico destinado s escolas do 2 grau: Os Aldeamentos
Indgenas do Rio de Janeiro.
Apesar desse avano, durante o II Encontro Fluminense de Estudantes
de Historia (EFEH), realizado em Campos, em outubro de 1997, constatou-
se que nenhum dos cursos ali representados havia incorporado a disciplina
Etnohistria, sequer como optativa. Finalmente, no segundo semestre de
1998, pela primeira vez, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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(UERJ) abre um espao, dentro da grade curricular, para que alunos de
graduao do curso de histria discutam a questo (Ver Ementa, em anexo).
Bibliografia
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Colquio UERJ. Imago Editora. Rio de Janeiro.
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tica-UNESCO. So Paulo
KI-ZERBO, J. (coord.) (1980): Histria Geral da frica. Vol. I. Metodologia e Pr-Histria da frica. So Paulo. tica-Unesco.
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Janeiro.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTRIA
Disciplina: Tpico Especial de Histria do Brasil V - Etnohistria
Sigla : HUM 627-7
Crditos : 03
C. Horria: 45 h.
Turma : 01
Professor : Jos R. Bessa Freire
EMENTA - Sociedades etnolgicas e sociedades histricas. Relao
Histria e Etnologia. Definio de Etnohistria: principais conceitos. A
questo do mtodo. As fontes: os documentos escritos e a tradio oral.
Relao com as diferentes disciplinas associadas. Etnohistria do Rio de
Janeiro.
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OBJETIVOS:
Avaliar criticamente o termo Etnohistria;
Demonstrar como vem se dando a evoluo da etnohistria e sua relao
com diferentes disciplinas: antropologia, histria, arqueologia,
lingstica, demografia etc.;
Reconhecer e discutir mtodos, fontes e conceitos que possam ser
instrumentais para o desenvolvimento da pesquisa histrica em
sociedades grafas;
Repensar a histria dos grupos tnicos do Rio de Janeiro em relao ao
contedo da disciplina, isto , discutir mtodos, conceitos e tcnicas
operativos para uma Histria das Etnias do Estado.
CONTEDO PROGRAMTICO
I. O que Etnohistria?
1. A propsito do conceito
2. A operacionalidade do termo Etnohistria.
3. O objeto da Etnohistria.
4. A construo de uma Histria das Populaes Indgenas
II. O fazer Histria em sociedades grafas ou sem Estado
1. Caracterizao das sociedades orais
2. Discusso sobre as fontes.
3. A tradio oral, a literatura histrica e etnolgica
4. Os relatos dos primeiros viajantes
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III. Histria e Antropologia
1. A construo de uma Histria de populaes etnicamente
diferenciadas;
2. Conceitos de interculturalidade, situao histrica e contato
intertnico
3. Etnohistria e disciplinas associadas
4. A incorporao de mtodos histricos na anlise diacrnica de
sociedades grafas
IV. Etnohistria do Rio de Janeiro
1. Produo etnohistrica do Rio de Janeiro
2. A tradio oral nas crnicas de Lry, Thevet e Gndavo
3. As fontes escritas e os grandes arquivos
4. O discurso dos ndios em arquivos paroquiais e cartoriais
METODOLOGIA
O curso ser desenvolvido atravs de aulas expositivas, seminrios,
discusso de textos lidos previamente e outras atividades, envolvendo
sempre trabalhos individuais ou em grupo.
AVALIAO
Alm da avaliao na sala de aula, atravs da participao dos alunos nas
discusses de texto, ser sugerida a realizao de um trabalho final, no qual
o aluno sistematize algumas das principais idias desenvolvidas ao longo do
curso. Do trabalho constar tambm um levantamento bibliogrfico sobre
uma etnia escolha do aluno. A meta que eles possam exteriorizar de
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forma prtica algumas idias sobre a utilizao de mtodos, fontes e
conceitos relacionados Etnohistria.
BIBLIOGRAFIA
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