Download - trabalhos

Transcript

Compilação de Trabalhos realizados no

âmbito do

Mestrado em Língua e Cultura Portuguesa

2010/2011

Turma AlmadaForma

"O Homem só se completa em ser

plenamente humano pela e na cultura“

"Ninguém nasce a odiar outra pessoa pela cor da

pele, pela origem ou pela religião.

Para odiar, as pessoas precisam de aprender e se

podem aprender a odiar, podem aprender a

amar."

Nelson Mandela.

Na perspetiva da Antropologia clássica, do início do século XX, a ideia de cultura é “localizada, homogénea e estática, designada de essencialista, ou culturalista” (Stolcke, 1995). Este autor refere ainda que os conceitos de cultura e de identidade cultural “foram apropriados pelas retóricas políticas dos estados europeus a fim de legitimar estratégias de exclusão de determinados grupos sociais dentro das suas fronteiras”.

Terence Turner, reforçando a aceção antropológica clássica de Stolcke, considera a cultura e a identidade cultural “como unidades autónomas e isoladas, sistemas estruturados e significados e símbolos relativamente independentes dos processos materiais, sociais e políticos que os contextualizavam (Turner, 1993).

Na segunda metade do século XX, como resultante da interação entre os múltiplos movimentos sociais e a crescente globalização, tornou-se necessário problematizar a ideia de cultura e identidade cultural, no âmbito de uma antropologia crítica.

Deste modo, o antropólogo Fredrik Barth lançou um novo paradigma de análise construtivista das identidades étnicas, no qual se atribui significado às noções de contexto, interação, atores sociais, processo, diferenciação, fronteiras, mudança e construção - chaves interpretativas para a problemática das identidades culturais.

Michel Agier corroborando Barth resume assim a nova abordagem de cultura como sendo um: “vasto celeiro de significações” construído pelas pessoas ao longo do tempo e do qual se utilizam de acordo com as seleções situacionais, o que pode tornar os componentes do celeiro cultural diversos e mesmo contraditórios. O caminho que vai da cultura à identidade, e vice-versa, não é único, nem transparente e tão pouco natural. Ele é social, complexo e contextual “

A dimensão cultural da globalização “tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-históricas” (Hall, 1997).

Deste modo, tem sido objeto de grande estudo e reflexão,

por parte dos antropólogos, cujas diferentes abordagens:

construtivista, situacional, relacional, processual, discursiva,

apresenta propostas radicais do ponto de vista teórico e político,

porque colocam a tónica na ação dos sujeitos e na sua capacidade

de criar diferenciações e identificações, recriando, dessa forma a

cultura.

A relação dialética entre a cultura e identidade – das identidades

culturais às culturas identitárias – mostra que as pessoas não são

detentoras passivas de uma cultura e de uma identidade “dentro”

das quais vivem, mas sim atores sociais que jogam no “jogo da

cultura”, de forma competitiva e estratégica, e por isso política

(Agier, 2001).

Segundo alguns autores de referência, uma política multicultural

crítica deverá promover nos atores sociais:

Descentramento cultural, com ênfase nas relações sociais

como relações de poder e a autoconsciência dos valores

partilhados, por forma a gerar uma capacidade coletiva

criadora e emancipadora que tome a diversidade cultural

como um meio e não como um fim (Turner, 1993)

Capacidade de questionar, relativizar e contextualizar a

diversidade cultural presente em determinado contexto por forma a

permitir a criação de identidades coletivas mais conscientes das

suas diversas referências e componentes e orientar a sua ação

política mais pelo que querem do que pelo” lugar” de onde

vêm (Wade, 1995)

Visão mais ampla das identidades culturais, em que as

diferenças não sejam apenas diversidade, mas recursos para o

questionamento sobre o tipo de sociedade que desejam e

para a construção de bases comuns que permitam o

antagonismo, a incerteza, a discussão e a negociação entre

interesses múltiplos (Bulmer & Solomos, 1998)

Tomada de consciência das suas ações e limitações culturais

e da sua capacidade de as manipular, questionando fronteiras

culturais reificadas e relativizando as diferenças, por forma a

saírem do paradigma culturalista e passarem a um

paradigma multi-relacional que incorpore os outros e gere

processos de convergência (Baumann, 1999)

Contacto, comunicação e atenção aos diferentes pontos de

vista, reconhecendo as diferenças culturais mas também as suas

transformações, associadas à preocupação de contrariar as

desigualdades e a injustiça social (Wieviorka, 2002).

Agier, M. (2001). Distúrbios Identitários em tempos de Globalização.

Mana 7, pp. 7-33.

Martins, F. (fevereiro de 2006). Para uma visão crítica da Cultura nas

Sociedades Multiculturais. Cadernos d' Inducar.

Turner, T. (1993). Anthropology and Multiculturalism: What is

Anthropology that Multiculturalists should be mindful of it?

Cultural Anthropology 8, pp. 411-440.

Wieviorka, M. (2002). A Diferença. Fenda.

"Missão antropológica do milénio:

- Trabalhar para a humanização da

humanidade"

O JOGO DAS DIFERENÇAS: O

MULTICULTURALISMO

E SEUS CONTEXTOS 9.04.11

Ana Medeiros

Helena Leitão

MULTICULTURALISMO

Discriminação Contextos sócio-históricos Preconceito

O contexto de onde se fala dita os sentidos e significados do MULTICULTURALISMO

O MULTICULTURALISMO

E OS SEUS SIGNIFICADOS

Movimento de ideias;

Proposta política;

Estímulo à fragmentação da vida social, desintegração nacional;

Estratégia política de integração social;

Corpo teórico que deve auxiliar ou orientar a produção do conhecimento;

Um antídoto contra o eurocentrismo.

TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTOS:

Meios

de

comunicação

Sociedade

Cultura

Escola

CONTEXTO SOCIO-CULTURAL

Multiculturalismo

França

Inglaterra

Espanha

Austrália

Alemanha

Canadá

E Portugal?

Tratamento histórico-

Sociológico dos

contextos aos quais o

Multiculturalismo se

refere

A ORIGEM DO FENÓMENO MULTICULTURAL

CONTEMPORÂNEO

Teve origem nos países nos quais a diversidade cultural é vista como um problema para a construção da unidade nacional.

É um princípio ético que tem orientado a acção de grupos culturalmente dominados, aos quais foi negado o direito de preservarem as suas características culturais - emergência de movimentos multiculturalistas

EX: AO CHEGAREM AO CONTINENTE AMERICANO, OS

COLONOS EUROPEUS DEPARARAM-SE COM UMA

PLURALIDADE DE HÁBITOS E COSTUMES JAMAIS VISTA:

Segundo Bastide, a resistência exprime

“o que há de trágico no choque das civilizações”

Em seguida, a resistência dá lugar ao movimento de contra-aculturação.

O contacto cultural prolongado dá lugar à

“interpenetração das civilizações”, em que os colonizadores se deixam impregnar pela cultura dos colonizados sem perderem a referência da sua civilização que se mantém dominante pela força física e pela persuasão.

AS IMAGENS UNITÁRIAS DA SOCIEDADE NO JOGO

DAS DIFERENÇAS:

Estados unidos

Exemplos como se dá a relação de

interdependência entre acção

colectiva, produção científica e

contexto sócio-histórico.

Brasil

AS EXPLICAÇÕES NATURALISTAS DO FINAL DO

SÉC.XX, INSISTEM NA QUESTÃO DA NATUREZA:

“a cultura interpreta a natureza e a transforma.

Mesmo as funções vitais são informadas pela

cultura comer, dormir, copular, dar a luz, defecar,

urinar etc. Todas essas práticas do corpo,

absolutamente naturais, são profundamente

determinadas em cada cultura particular”.

OS ESTETAS DO MULTICULTURALISMO

O Rap

Música

O Reggae

A Indústria Cinematográfica (Philadelphia)

(Faça a certa)

(Os jovens rebeldes do Soul)

A EDUCAÇÃO MULTICULTURALISTA:

OS NOVOS SUJEITOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Políticas referentes à Educação – público

Com critérios de equidade (direitos de cidadania)

PROBLEMA:

As sociedades não se representam plurais mas como monoculturais, a partir de um referencial etnocêntrico.

ENTÃO:

O multiculturalismo parece não interessar à sociedade como um todo e sim a certos grupos sociais que, de uma forma ou de outra, são excluídos dos centros de decisão por questões económicas e, sobretudo, por questões culturais.

MAS…

We have a dream…

Ana Medeiros

Helena Leitão

"Missão antropológica do milénio:

- Efectuar a dupla condução do planta:

obedecer à vida , guiar a vida"

Texto de Arnaldo Rosa Vianna Neto -

Universidade Estácio de Sá

MULTICULTURALISMO

E

PLURICULTURALISMO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO CARMO MACHADO

Multiculturalismo e Dinâmicas Interculturais

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Caracterização e compreensão

tipos de multiculturalismo e questões de identidade

Pluriculturalismo

Multiculturalismo

Reflexão

Pressupostos

teóricos

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Modos de

organização social

Produção e distribuição da riqueza

Consequências e impactos em função de situações geopolíticas

específicas e determinantes

Era industrial/modernidade

Era pós-industrial/pós-modernidade

Tra

ça

nd

o e

im

pli

ca

nd

o

gic

as d

e m

igra

çõ

es e

re

co

nstr

uçõ

es

ide

nti

tária

s

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

planetária

global

nacional

local

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Com

o c

on

cili

ar?

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

Abril/2011 MARIA ADELAIDE PAREDES DA SILVA E MARIA DO

CARMO MACHADO

"Missão antropológica do milénio:

- Realizar a unidade planetária na

diversidade"

RECONHECIMENTO E LIBERDADE DE

REALIZAÇÃO JACQUES D’ADESKY

Apresentação: Filomena Galvão e Rosário Sousa

Racismo e sexismo

Estigmatização imposta pela

sociedade – marginalização

que se apoia em

características biológicas ou

físicas

racismos

Original da Lei Áurea, assinada

pela Regente Dona Isabel (1888)

Brasil anos 80/90

promoção população negra,

politicas de acção afirmativa ---acesso

estudantes afro-descendentes ensino

universitário.

…a pessoa é livre quando capaz de agir

conforme sua própria vontade na busca dos

fins que ela mesma escolheu. (101)

• Mulher face ao homem (nível doméstico)

• Imigrantes e estrangeiros residentes

• Índios canadianos e norte americanos

• Racismo, sexismo, intolerância

Prejuízos:

Auto-estima;

autoconfiança;

autonomia pessoal;

dignidade;

Formas de restrição à liberdade

Nancy Fraser

Reconhecimento

e domínio de classe

Reconhecimento

estatutário

(desconstrução anti-

racista que visa quebrar

a dicotomia

branco/negro e

distinção das raças)

Jacques d’Adesky

Necessidade de

garantir uma

política de

distribuição e de

reconhecimento

pelo respeito à

população negra

no Brasil

“Os negros desorganizariam as universidades,

como a Abolição destruiria a economia brasileira “

Programa de Estágio do Ministério Público da

União agora conta com sistema de cotas para

minorias étnico-raciais

RECONHECIMENTO, IGUALDADE,

DISTINÇÃO E CONFORMIDADE

JACQUES D’ADESKY

A igualdade formal não invalida as desigualdades económicas e sociais

As desigualdades são evolutivas e multiformes e a percepção que temos

delas

Ex:

• ‡ salarial

• impossibilidade de ascensão a cargos de responsabilidade,

• inexistência de representatividade no meio científico,

• falta de igualdade no domínio político, diplomático, militar

NOVELAS TV GLOBO

2004 E 2005

Concurso Rainha das Piscinas, realizado em Porto Alegre

Ela conquistou o título mas a coroação, ela

lembra, foi tumultuada. As famílias das

demais candidatas reclamaram e a votação

teve de ser repetida por três vezes para

confirmação da vitória de Deise. O motivo, era mais do que previsível, considerando-se que Deise, sendo negra, concorria ao título de Miss, em um dos concursos mais representativos do Rio Grande do Sul, conhecido pela beleza das mulheres loiras, em virtude da forte presença da imigração europeia. Eleger uma negra era um absurdo, achava o coro dos inconformados.

“No dia, percebi alguns comentários maldosos, mais só fui saber dos

detalhes depois. Foi uma passagem lamentável”, lembra Deise que, dois

anos depois, – em 1.986 – foi coroada a primeira - e até hoje única –

Miss Brasil negra.

No Concurso Miss Universo ela ficou entre as finalistas, terminando em

sexto lugar. “As outras concorrentes estranhavam. Geralmente as

negras do concurso vinham só da África. Hoje isso já mudou um pouco”,

acrescenta.

Desporto

Música

…NÃO HÁ EXISTÊNCIA HUMANA SEM O OLHAR

QUE DIRIGIMOS UNS AOS OUTROS (125)

"Missão antropológica do milénio:

- Respeitar ao mesmo tempo no próximo,

a diferença e a identidade consigo

próprio."

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

Trabalho realizado por: Cristina Carvalho e Laura Carvalho

Seminário de Multiculturalismo e Dinâmicas Interculturais

2010/2011

Partidários do

Multiculturalismo (formas políticas de gerir a diferença)

melting pot

Salad bowl Botanic garden Mosaico

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

Fenómenos de resistência à evolução multicultural do espaço público

Christian Coalition milícias armadas xenófobos racistas

Patriotismo de base sociocultural (não política) = mistura de valores, modos de vida, crenças religiosas e raciais.

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

Quatro modelos de espaço multicultural

1. Modelo político liberal clássico

espaço público ≠ espaço privado

Direitos e deveres cívicos e políticos dos indivíduos (leis, pagamento de impostos, direito de voto, …)

O indivíduo adquire o estatuto de cidadão

≠s entre os indivíduos (decisões morais, crenças religiosas, orientação sexual, comportamentos,…)

Reconhece a existência de Estado-Nação

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

2. Modelo liberal multicultural (Will Kymlicka)

Reconhece a existência de Estado-Nação

Propõe o reconhecimento do papel central das dimensões étnicas e culturais na formação do indivíduo, enquanto ser moral e cidadão.

Grupo Grupo Grupo

zona central “monocultural” (onde cada grupo é autónomo)

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

Quatro modelos de espaço multicultural

3. Modelo multicultural “ maximalista”

Grupo

• separação / autonomia política completa; • recusa uma esfera comum; • indiferente ao Estado-Nação.

Grupo Grupo Grupo

Interesses (partilha de infra-estruturas, e/ou aspectos “secundários” da vida colectiva:

lazer, consumo)

Desintegração da coesão social = criação de inúmeros espaços monoculturais

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

Quatro modelos de espaço multicultural

4. Modelo do Multiculturalismo combinado

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

Quatro modelos de espaço multicultural

• supera o Estado-Nação; • o espaço comum é do tipo económico; • os grupos são vistos como alvos, sobre formas pontuais e mutantes de agregação social (moda, consumo, lazer, …)

A diferença transformada num argumento de venda (Benetton, Coca-Cola,…).

Multiculturalistas • criticam a exibição de casos bem sucedidos de gerenciamento da diferença; • idealiza e gera a diferença; • Criticam a dominação económica sobre o aspecto culural.

Pode haver um espaço público multicultural?

• dificuldade de conceber um espaço autenticamente multicultural; • nenhum modelo prefigura um espaço multicultural.

Condições essenciais para a construção de um espaço autenticamente multicultural:

• reconhecimento do indivíduo na sua especificidade; • negociação de identidades e fronteiras dos grupos; • o espaço multicultural não surge por decreto; desenvolve-se in vivo na sociedade (laboratório); • gestão das reinvidições de cada grupo; • necessidade de harmonizar sistemas temporais diferentes (Sex Wars).

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

O exemplo francês

• “neutralização” da esfera pública (noção de cidadania entendida como lugar político e abstracto, onde os indivíduos gozam de uma condição de igualdade absoluta; as diferenças individuais são relegadas para o espaço privado); • submissão dos cidadãos a uma “vontade geral” (pretende-se garantir a igualdade entre os cidadãos em todos os actos da vida colectiva);

• as diferenças não são negadas, nem reprimidas , mas remetidas ao espaço privado * * véu islâmico

Do Paradigma Político ao Paradigma Ético

Multiculturalismo

Fruto da crise da modernidade POLÍTICO Justiça Liberdade individual - Aumento da influência do Direito contribui para a distinção entre a esfera pública e privada; - O que era do domínio privado passa para o público.

ÉTICO

SEMPRINI, A.. Multiculturalismo, Bauru, SP: EDUSC, 1999

CONCLUSÕES

Semprini chama a atenção para as questões da diferença (mais notórias nas democracias liberais). O multiculturalismo traz para a civilização as questões da diferença, igualdade, ética, cidadania e direito / o projecto moderno que passa por uma crise.

EU SOMOS TRISTES. NÃO ME ENGANO, DIGO BEM. OU

TALVEZ: NÓS SOU TRISTE? PORQUE DENTRO DE MIM NÃO SOU

SOZINHO. SOU MUITOS. E ESSES TODOS

DISPUTAM MINHA ÚNICA VIDA. VAMOS TENDO NOSSAS MORTES.

MAS PARTO FOI SÓ UM. AÍ, O PROBLEMA.

POR ISSO, QUANDO CONTO A MINHA HISTÓRIA ME MISTURO,

MULATO NÃO DE RAÇAS, MAS DE EXISTÊNCIAS.”

MIA COUTO, “AFINAL CARLOTA GENTINA NÃO CHEGOU DE VOAR?”, VOZES ANOITECIDAS 1987

"Missão antropológica do milénio:

- Desenvolver a ética da solidariedade "

Introdução

Identidade cultural

Diferenças culturais Debates

polémicos

Particularismos culturais

Objectivo do livro: -Sugerir instrumentos intelectuais que permitam ultrapassar

/situar tensões e diferenças

originam

Da análise à acção

A discussão das diferenças culturais compreende 3 registos:

1. - Ciências Sociais - factos

2. -Filosofia - Análise/Compreensão politico - jurídica

3. -Acção Politica - Traduzir em “leis” adaptações/excepções culturais

Capitulo IV

O multiculturalismo

Multiculturalismo e Politicas Multiculturalistas

-Sociológico

-Filosófico

-Político

Remetem

para 3

registos

que se

inter-

relacionam

Foram designados de “Multiculturalistas” os que exigiam:

-reconhecimento cultural

- beneficio de um tratamento politico democrático

-reconhecimento da diversidade cultural das sociedades

-atenção às minorias étnicas

Abordagens distintas, filosóficas ou práticas

verificando-

se

Injustiça Social

Inferiorização e Marginalização

Religião

Preferências sexuais

originara

m

Acções Multiculturalistas

Multiculturalismo

Fragmentado

Assenta no principio da dissociação

(divisão)

Interessa-se pela diferença cultural

sem assumir a questão social

•Integrado

• Associa o cultural e o social • Propões leis ou medidas de reconhecimento cultural • Luta contra as desigualdades sociais

Multiculturalismo Integrado

Canadá

• Impulsionado pela língua francesa ( Quebec) • Em 1971 passa a ter contornos legais abrangendo os domínios: -da língua, -cultura, -educação, -luta contra a discriminação, acesso à igualdade no emprego • Resposta às dificuldades culturais do país

1ºas

manifestaçõe

s

Austrália • Menos formal • Conjunto de disposições aplicadas nas politicas oficiais • Tem como objectivo a coesão nacional • Dá importância ao desenvolvimento económico proveniente das relações com outros países

Suécia • Assenta em 3 princípios: -Nível de vida igual para grupos minoritários - liberdade de escolha entre identidade étnica e identidade cultural - Acção de parceria

Multiculturalismo Integrado

Canadá Austrália Suécia

- Diferenças culturais e desigualdades sociais fazem parte do mesmo conjunto de problemas,

- Promove a participação económica das pessoas ao mesmo tempo que reconhece as suas particularidades culturais

1ºas

manifestaçõe

s

Todos

considera

m que

Multiculturalismo Fragmentado

Estados Unidos da América

Funciona a nível do sistema politico estatal ( vida social e intelectual)

Remete para a imagem da dissociação do tratamento da injustiça social

e da luta contra as desigualdades e a satisfação das exigências de

reconhecimento cultural

Aplicou a medida politica Affirmative action (garantir igualdade de

oportunidades)

Revelou-se positivo tendo sido resposta a certos problemas da

sociedade

Manifestou-

se

Reconhecimento da diferença ou

comunitarismo?

1º - Adianta benefícios do universalismo e manifesta-se nos planos políticos e

institucionais a favor da assimilação das diferenças culturais

2º- Avança com o principio da tolerância que se baseia em admitir os

particularismos no espaço privado e no espaço público

3º- Considera que o multiculturalismo é ultrapassado por posições

hipercríticas que se assemelham ao comunitarismo e que o reconhecimento

da diferença cultural implica um esforço democrático assentes em valores

universais.

3

argumentos

que

constituem

um debate

A quem se aplica o Multiculturalismo?

-Politica clara e estável

- Identifica e conhece as suas fronteiras

-Promove condições para nomear os seus membros

-Baseia-se numa categorização

- Deve ter benefícios específicos

Princípi

os em

que

assenta

Dificuldades práticas do Multiculturalismo:

Nem todos os particularismos culturais se adaptam à politica

multiculturalista

Uma política requer comunidades culturais estáveis

As imigrações provisórias exigem políticas diferentes do

multiculturalismo

Encontra dificuldades que se relacionam com a diferença cultural

( não é uma realidade estabilizada)

É necessário interlocutores reconhecidos e grupos bem definidos

Em conclusão

O reconhecimento das diferenças culturais e aceitação das

suas transformações ligadas à preocupação de impedir as

desigualdades sociais requer politicas específicas, dando valor

ao contacto, à comunicação, à atenção de pontos de vista

minoritários.

Todos estes diferentes aspectos exigem políticas complexas e

flexíveis.

As práticas multiculturalistas são de grande utilidade na

formação de debates.

"Missão antropológica do milénio:

- Desenvolver a ética da compreensão"

As discriminações raciais

examinadas pelo CERD

Encaradas como limitações impostas em áreas variadas:

Remete para a noção de “cor” e “feições físicas”,

associadas a atitudes “essencializadas“,

como características naturais;

concepção não aplicável a todas as regiões do Mundo.

Fora do continente americano

o racismo e a discriminação racial

baseadas noutros tipos de diferenças menos visíveis.

O seu artigo 1º

Nessa convenção a expressão discriminação racial “ cobre toda a

distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor,

descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objectivo

ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício

em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades

fundamentais no domínio político, económico, social, cultural ou em

qualquer domínio da vida pública.

A Convenção Internacional sobre a eliminação

de todas as formas de discriminação social

Quando pensamos em “raça “,no Brasil, pensamos, sobretudo, nas

três grandes fontes formadoras do povo brasileiro: os habitantes

autóctones, os brancos colonizadores e imigrantes ( entre os quais

árabes e judeus) e os negros arrancados de várias comunidades

africanas, juntamente com os seus descendentes.

Hoje a situação é outra.

O Estado voltou a ser encarado como

impulsionador insubstituível de políticas de

reconhecimento, defesa e promoção das minorias

no seu território.

O “multiculturalismo” instaurou-se como a ideologia

não – economicista, auxiliada pela obsessão do

“politicamente correcto”.

O desmoronamento dos direitos humanos, resultou

da separação de ideias de uma mal definida pós-

modernidade, associada a um certo conceito “

multiculturalista” de organização societária como

única alternativa às opressões do Iluminismo

Ocidental.

Essa ideologia apresenta-se como de “esquerda “.

Os activistas esquecem de promover o direito à

segurança da pessoa, entronizado no Artigo 3º da

Declaração Universal junto com os direitos à vida e

à liberdade ou são esquecidos por serem

irrelevantes ou violados por representarem

complicadores no combate ao crime e ao

terrorismo.

Foram assinaladas pelo quebecquiano Charles

Taylor no seu ensaio de 1992, algumas das

contradições da reivindicação de reconhecimento das

diferenças com exigência de equiparação de todas as

culturas.

Esse famoso ensaio

Uma espécie de bíblia do multiculturalismo

dominante (Taylor 1994:68-73) e de ordem prática.

Endossa as políticas multiculturalistas que

reconheçam as diferenças não somente de

“minorias “perante as “maiorias” mas também os

diversos tipos de diferenças.

Fora do continente americano, o racismo e a

discriminação racial baseiam-se noutros tipos de

diferenças “menos visíveis”. Por isso, a Convenção

precisa de ser abrangente;

Nesta convenção a expressão discriminação racial

“cobre toda a distinção, exclusão, restrição ou

preferência baseada na raça, cor, descendência ou

origem nacional ou étnica.”

Foram examinados outros territórios tais como: os da

Estónia, da Ucrânia e da Noruega. Para compreender

o “multiculturalismo “é essencial ter em mente que o

conceito de “nacionalidade “ é cultura enquanto que a

“cidadania” é jurídica.

Para a Estónia não há diferença racial entre esses

dois termos para o governo que ao declarar um

país literalmente multicultural, não reconhece

oficialmente nenhuma minoria. Todos os habitantes

podem ser o que quiserem além de terem direito à

educação na Língua Materna, embora a língua

oficial seja o estoniano, que é falada por todos os

cidadãos.

Segundo a opinião de Lindgren Alves sobre a

Estónia o Multiculturalismo consiste num facto, não

num projecto social ou programa educativo

diferencialista.

O Estado dispõe-se a fortalecer a integração da

população tendo plena consciência da sua variedade

cultural como: a possibilidade de preservação da

língua e da cultura específicas dos grupos étnicos.

Mas, a grande preocupação é da numerosa minoria russa

não cidadã, porque não faz questão de adquirir a cidadania

estoniana. Para demonstrar a legítima preocupação

estoniana, o CERD, apresentou por insistência de alguns

peritos as seguintes recomendações:

a) Reforma da Constituição de que se permite aos “ não

nacionais” ( os russos que não se querem naturalizar) a

participação em partidos políticos;

b) facilidade para a naturalização dos russos residentes que não

querem aprender o estoniano, nem se interessam pela

obtenção da cidadania local;

c) Acções afirmativas no emprego e na educação para os não

cidadãos de língua russa. Segundo a opinião de Lindgren

Alves, compreende que tanto na Europa, como na Ásia, a

identidade em sentido “herderiano” é tão forte que os russos da

Estónia ( e da Letónia) prefiram abdicar de direitos referentes à

cidadania em favor da integridade da sua russofilia.

A Ucrânia também europeia e ex-República Socialista Soviética mas

eslava e culturamente parecida com a Rússia até na língua, teve o

seu relatório periódico examinado pelo CERD no verão de 2006. No

período estalinista, a Ucrânia tem também um número elevadíssimo

de minorias reconhecidas e culturalmente protegidas . Em relação

aos Tártaros há informações não-oficiais de discriminações ,

inclusive na “República Autónoma”.

No que diz respeito a línguas e tradições folclóricas a Ucrânia

protege as culturas das minorias, incentivando uma renascença dos

dialectos ciganos desde que essa protecção não prejudique o

ucraniano como único idioma oficial.

Lindgren Alves, reparou que o multiculturalismo ucraniano, ao contrário

do estoniano, preocupa-se em reconhecer as minorias ainda que não

consiga destruir as discriminações contra o estoniano. Este faz o

seguinte comentário: enquanto a Estónia para garantir a integração

evita “separar “, a Ucrânia “ separa “ oficialmente para integrar.

Na Noruega, assim como muitos outros países europeus, não inclui

nos seus recenseamentos perguntas sobre “raça “, “religião”,ou

origem étnica, para evitar o racismo, contra os que se auto

identifiquem como diferentes o que não impede de reconhecer que

os saamis como povo indígena, assim como os judeus, os Roma e

os etnofinlandeses como minorias nacionais.

2 estados árabes: Iemén e Omã negam a

existência de minorias nos seus territórios;

Defendem sociedades homogéneas e não

discriminatórias porque são islâmicas e todos

são da mesma religião;

De todos os relatórios examinados o mais “ chocante” foi da África

do Sul, cujo regime no passado, fora uma das motivações para a

própria Convenção;

O 1º relatório apresentado continha informação positiva para superar

a herança do apartheid e a discrição das dificuldades apresentadas;

O Comité insistiu na recomendação de que África do sul

descrevesse a composição da sua população de acordo com o

recorte étnico;

Se o texto fosse aprovado o CERD era o 1º

órgão vinculativo ao sistema das Nações

Unidas a propor 1 censura de natureza

religiosa;

Peritos da América latina com alguns

colegas asiáticos impediram o sucesso;

Hoje as ameaças terroristas são mais variadas. Mas as

distorções já ocorriam por obra de um multiculturalismo que o

próprio ocidente criou;

Lindgren Alves recorda que já propusera ao CERD que

deliberassem sobre o tipo de multiculturalismo que deveriam

defender;

Auxílio aos estados Afro-Asiáticos de emigração a

orientarem os seus cidadãos sobre a necessidade de

adaptação ao contexto ocidental;

A palavra “multiculturalismo” com igual fervor e

interpretações diversas pela comunidade brasileira e

norte americana.

Os brasileiros, inclusive do movimento Negro, defendiam

um “pluralismo cultural” que na interpretação de Giovanni

Sartori o “pluralismo deve a si mesmo a obrigação de

respeitar a multiplicidade cultural que encontra e não a

necessidade de fabricá-la”.

Todos os norte americanos (White e African

Americans) tinham adoptado e radicalizado a

concepção canadiana, avessa a misturas e

sincretismos.

É este 2º multiculturalismo que predomina no

mundo.

Não se pode desejar que em nome de um

“multiculturalismo” desumano, a Europa se curve

ante tradições que levaram ao assassinato da jovem

paquistanesa e do director de cinema Theo Van

Gogh em Amesterdão.

A insistência de Lindgren Alves no CERD é

simples: para serem realistas e justas as

observações do Comité, precisam levar em

consideração o contexto.

Ao fazê-lo estaremos a ser multiculturalistas num

sentido universalista não homogeneizante.

Lindgren Alves, comenta

no Brasil, nunca existiu uma única cultura africana. os afro -

descendentes brasileiros, eram classificados de acordo com

as nações antepassadas e as suas origens,

O estado brasileiro assegura a cada um a educação

gratuita na respectiva língua, por justiça

compensatória e recomendação internacional, mas

não por “multiculturalismo”, com as comunidades

indígenas não-aculturadas.

É imprescindível que o Brasil após tantos anos de

lutas de movimento negro contra o branqueamento

disfarçado do povo brasileiro, continue a dar valor a

culturas africanas e indígenas à originalidade cultura

brasileira.

Devemos continuar a dar o valor apropriado aos

aportes fundamentais das culturas africanas e

indígenas à originalidade da cultura brasileira:

Capoeira; Candomblé; Macumba; as festas de Iemanjá;

Zumbi (alma); as comidas típicas do Norte e da Bahia;

a feijoada; a bumba-meu-boi; o Samba.

O facto actualmente recordado com o intuito

provocativo de o Quilombo dos Palmares também

ter funcionado com os seus próprios escravos, não

diminui o seu valor histórico, nem o seu

simbolismo libertário para os escravos negros

escravizados em função da “raça”, numa fase em

que o “escravismo” era legal em todo o Mundo.

Para terminar esse sistema tão prolongado de

escravidão surgiram os actos de resistência e

rebeldia dos próprios escravos negros e mulatos,

juntamente com as campanhas políticas de brancos

e mestiços, no século XIX.

Lindgren Alves, tendo sido “negociador” da Conferência de

Durban (África do Sul) é favorável à adopção

de acções afirmativas que ajudem a erradicar

as discriminações e preconceitos raciais.

Juntemo-nos a ele!

"Missão antropológica do milénio:

- Ensinar a ética do género humano"

Todo o tempo é de poesia …

António Gedeão

… e de reflexão

… e de trabalho

… e de aprender

… e de prazer.

E Tudo somos eu/nós

“Acontece-me fazer algumas vezes aquilo que chamaria o meu

exame de identidade, como outros fazem o seu exame de

consciência. (…) Remexo a minha memória” e ainda está

palpitante a ansiedade de conhecer, o medo de desvendar, o

prazer da partilha entre tantos Wieviorka, Malouf, Semprini,

Arnaldo Neto, Jacques d’ Adesky, Petronilha, Gonçalves,

Inocência Mata – la meneuse du jeu , Jogo das Diferenças.

Porque é o nosso olhar que aprisiona muitas vezes os outros nas

suas pertenças mais estreitas e é também o nosso olhar que tem o

poder de os libertar.

Muito obrigada, querida professora Inocência Mata,

por ser rizoma.

"salvar a humanidade realizando-a"


Top Related