UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOINSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
SILVÂNIO PAULO DE BARCELOS
RELIGIÃO E MAGIA: O SAGRADO NA COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA MATA CAVALOS
Cuiabá2008
SILVÂNIO PAULO DE BARCELOS
RELIGIÃO E MAGIA: O SAGRADO NA COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA MATA CAVALOS
Projeto de pesquisa submetido à banca eleita pelo Departamento de História, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso, em cumprimento ao Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do diploma de formatura na disciplina Bacharelado e Licenciatura em História.
Cuiabá2008
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PROJETO DE PESQUISA
1. DELIMITAÇÃO DO TEMA
Em entrevista realizada com o senhor José Gregório (8 de junho de 2008), um dos
imigrantes da comunidade remanescentes quilombola Mata Cavalos, constatamos a
importância do sagrado nesse grupo social, cuja fé mescla tradição ancestral africana com a
religião católica. O olhar do entrevistado ilumina-se pelas reminiscências do passado,
acalentadas pelo espírito da solidariedade grupal, onde todos trabalhavam pelo bem estar
coletivo. Numa linguagem simples e comovente ele relatou uma das muitas histórias de sua
vida, cujos valores confundem-se no cotidiano e no imaginário religioso:
Ele conta que na sua infância, ocasião em que tinha oportunidade de trabalhar com os
adultos da sua comunidade, depois de lavrada a terra as sementes eram lançadas ao solo seco,
na esperança que a chuva viria molhar a terra, para que elas germinassem. Nesta ocasião todos
se dirigiam à lavoura entoando cânticos de louvores aos santos e, nas procissões, de joelhos
ao solo, evocavam suas crenças mais sagradas. Enlevado, e com sua alma perdida em
lembranças longínquas, eu imaginava aquele homem voltando à sua casa molhado pela chuva
que, generosa, caía abundante do céu para umedecer o solo da fartura.
Situado geograficamente a 15º45’00’’ latitude sul, 56º20’43’’ longitude oeste de Gr. o
município de Livramento, onde encontram-se as terras da Comunidade Remanescente
Quilombola Mata Cavalos (km 10 da rodovia Livramento/Poconé), integra a mesorregião 130,
da microrregião 534 de Cuiabá, no centro sul de Mato Grosso, tendo como limites os
municípios de Várzea Grande, Rosário Oeste, Barão de Melgaço, Santo Antonio do Leverger,
Jangada e Poconé. Seu clima característico é o tropical quente e sub-úmido, com temperaturas
médias anuais em torno de 26-27ºC.
O território ocupado pelos imigrantes oriundos desta comunidade localiza-se onde
hoje se denomina Bairro Ribeirão da Ponte, na cidade de Cuiabá, em Mato Grosso, na
Mesorregião centro-sul mato-grossense, microrregião Cuiabá. Limitando-se com os
municípios de Chapada dos Guimarães, Rosário Oeste, Campo Verde, Santo Antonio de
Leverger, Várzea Grande e Acorizal, possui clima tropical quente e sub-úmido registrando
temperaturas anuais em torno de 24º C., conforme FERREIRA1.
1 FERREIRA, João Carlos Vicente, 1954 – Mato Grosso e seus municípios / João Carlos Vicente Ferreira. – Cuiabá: Secretaria de Estado da Educação, 2001. p. 446, 447 e 519.
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No final da década de 1950, fugindo das perseguições, humilhações e violências
expressas nas ações de pistoleiros de aluguéis, contratados por alguns fazendeiros do
município de Livramento e, também, de Várzea Grande – MT, devido aos conflitos e disputas
dos direitos de posse de terras naquela região, chegam a Cuiabá os primeiros imigrantes da
referida comunidade. Esses imigrantes, entre os quais se inclui a família do Sr. Crescêncio
Gregório de Almeida receberam, na época da administração do então Governador Arnaldo
Estevão de Figueiredo, uma área de 47 hectares localizada na antiga Gleba Despraiado, atual
bairro Ribeirão da Ponte, em Cuiabá – MT. Pouco depois, outras famílias, também chegaram
a essa área, desejosas, como as primeiras, de construir uma vida diferente daquela que foram
submetidas na sua antiga morada.
O sentimento de solidariedade grupal, característico destas sociedades marcadas pelo
estigma do regime escravista, encontrava-se, e ainda encontra-se, muito presente entre essas
famílias. A fé, o sagrado, a religião e a tradição movimentando-se entre o sagrado e o
profano tecem as redes das relações de reciprocidade. É na união destes grupos, que se
reconhecem como remanescente quilombola, que se constroem suas identidades, na busca do
seu fortalecimento para os enfrentamentos do cotidiano.
Apesar da distância temporal que separa as novas gerações de “Mata Cavalos” dos
seus imigrantes, o sentimento de pertença destes últimos ao território original encontra-se
mais forte que nunca. As festas, ritos, curas, santos e o cemitério marcam o território do
sagrado delimitando, também, as fronteiras do profano exemplificadas nas relações de
compadrio, e interação social dinamizadas pela hierarquia simbólica, tradição e
ancestralidade.
3. PROBLEMA
Os integrantes desta comunidade, ainda nos dias de hoje, carregam os traços
característicos que os identificam com os antigos grupamentos rurais negros do município de
Livramento. Segundo DANTAS2 essas características remontam a um período de tempo mais
afastado historicamente, o que explica a considerável influência da Cultura Africana presente
no seio destas sociedades. Conforme essa autora
A constituição histórica desses grupamentos rurais negros em Livramento remonta à época da transição do trabalho escravo para o
2 DANTAS, Triana de Veneza Sodré e. Educação do negro: a pedagogia do Congo de Livramento, MT. / Triana de Veneza Sodré e Dantas. –Cuiabá: Instituto de Educação, 1995. p. 30.
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trabalho livre, quando famílias de negros unidas pelo parentesco, passaram a desenvolver um modelo específico de vida, se comparado àquele que norteava as relações sociais da sociedade de classe em construção.
Sem dúvida a questão do sagrado é uma representação marcante em todos os aspectos
relacionados ao cotidiano dessas comunidades, materializado em forma de cultos, práticas de
curas através das rezas e benzeções, ritos e danças, estes últimos presentes nas ocasiões
festivas observadas em vários momentos específicos durante o ano, entre eles as festas aos
santos. As ações materiais e simbólicas revelam a práxis desenvolvida em período de longa
duração, mais especificamente desde a chegada dos africanos ao nosso país, adaptadas
conforme imposições dos meios em que foram desenvolvidas. Geradas no bojo de um
contexto de lutas e enfrentamentos, de dificuldades diversas, as práticas relacionadas aos
aspectos do sagrado, tornaram-se essenciais para o fortalecimento do grupo.
É notável como os integrantes dessas comunidades procuraram preservar o seu modo
de vida, enquanto comunidade diferenciada, especificamente grupamentos de negros, no
interior de uma sociedade envolvente de maioria branca, embora o alto grau de miscigenação
étnica presente na região.
Numa visita recente à casa de um dos filhos do primeiro imigrante oriundo do Mata
Cavalos, sabendo que nesse local realiza-se aos sábados uma sessão de cura espiritual,
solicitamos ao anfitrião a permissão para registrar em vídeos esse momento ritual. A resposta
foi negativa e algumas indagações inevitáveis surgiram então, após esse pequeno incidente,
desvelando possíveis características peculiares do grupo no que se refere ao seu instinto de
auto-preservação.
Após um longo histórico de perseguições de toda sorte sofridas por esse
grupamento, relacionadas a preconceitos raciais e aos interesses pela ocupação de suas
terras, nada seria mais natural que essas ações de defesa, principalmente considerando a
pressão psicológica advinda do longo período de escravidão a que foram submetidos.
Outrossim, atribuir essa prática protecionista ao instinto de conservação pura e
simplesmente consiste num reducionismo perigoso. Nessa altura do raciocínio em que nos
encontramos surgem outras questões conflitantes que vieram à tona materializadas numa
forma psicológica mais profunda do comportamento humano. Numa sociedade envolvente de
predominância católica e também evangélica toda forma ritual de cura é vista de forma
preconceituosa, e aí está, também, uma provável resposta aos problemas levantados até o
presente momento. Os integrantes desta comunidade são católicos praticantes, talvez se
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evidencie também nesse meio certo grau de conflito ideológico verificado nas práticas
mágico-religiosas (curas espirituais) em oposição aos dogmas da Igreja Católica.
Outra questão importante consiste nas formas que os integrantes dessas comunidades
se apropriam de símbolos e representações nas festas tradicionais utilizando das danças do
Congo, Siriri e Cururu como elementos sócio-culturais facilitadores da coesão do grupo como
um todo. É na apreensão dos significados destas práticas que perceberemos como as gerações
atuais conseguiram manter parte das antigas tradições herdadas dos povos africanos em
simbiose com heranças culturais oriundas dos povos europeus e ameríndios. Compreender
quais aspectos transcendem as alegorias festivas possibilitarão a apreensão de significados
mais profundos destas manifestações culturais para o imaginário coletivo.
4. HIPÓTESES
Considerando a ancestralidade dos integrantes dessas comunidades, como
descendentes de antigos escravos da região, poderemos levantar algumas hipóteses
comparando as recorrências de práticas culturais em comunidades com a mesma origem. O
final da década de 1950 foi um marco decisivo para o destino da comunidade do Mata
Cavalos. A pauperização desta população em conseqüência do avanço das relações
capitalistas, traduzidas sob a forma de extensa onda de ações de intimidação e terror por parte
de alguns representantes da elite agrária de Livramento e também de Várzea Grande, em
Mato Grosso, indicou o início de um novo tempo, um divisor de águas para a história na
espacialidade desta região.
Essas formas de resistência às ações praticadas pela elite dominante fortaleceram os
elos de ligação do grupo, determinando a construção de uma identidade própria, aqui expressa
como identidade quilombola. Esse sentimento de pertença constitui-se numa das formas de
sobrevivência do grupo como um todo, criando mecanismos de preservação das antigas
tradições como forma de manutenção de suas identidades. No caso dos imigrantes que vieram
para o atual Bairro Ribeirão da Ponte, em Cuiabá, as práticas culturais foram mantidas através
dos ritos religiosos, das rezas e benzeções, além das relações familiares e também de
compadrio, em sua estrutura social. Tanto aqui como no município de Livramento eles se
fecharam em uma comunidade, que se quer, diferenciada no ambiente envolvente, a saber:
uma comunidade de negros3.
3 O termo negro utilizado neste trabalho constitui-se em categoria sociológica normalmente empregada pelos integrantes dessas comunidades, e não caracteriza uma forma de segregação, na redação deste projeto.
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No caso específico da comunidade de negros do Bairro Ribeirão da Ponte, várias das
antigas práticas culturais não foram mais utilizadas, certamente por se tratar de uma realidade
diferenciada, num ambiente urbano em oposição ao ambiente rural de onde eram originários.
Ações comunitárias como o Muxirum4 e o Celebre5, e também a troca de dia ou “demão”6,
foram muito pouco utilizados, evidenciando uma nova realidade sócio-econômica, a qual
deveriam se adaptar. Ainda assim, os indivíduos não perderam o vínculo estreito com a
comunidade Mata Cavalos, tornando-a assim uma expressão do lócus privilegiado do
sentimento de pertença a uma entidade abstrata de grande valor simbólico.
Depois destas pequenas considerações, arriscamos uma hipótese explicativa da forma
como os integrantes destas comunidades se apropriaram das práticas relacionadas ao sagrado
enquanto base para sustentação da manutenção de suas identidades étnicas e raciais
diferenciadas e marcadas pelas reminiscências quilombolas. A questão do sagrado relaciona-
se, portanto, diretamente ao sentimento de pertença e na constituição dos elos da rede de
reciprocidade presentes no seio destas comunidades.
5. OBJETIVOS GERAIS
Analisar os aspectos da religião e magia na comunidade remanescente quilombola
Mata Cavalos e de seus imigrantes, para apreensão das formas como esses grupamentos
humanos se apropriaram das questões do sagrado, enquanto elos constitutivos da cadeia de
reciprocidade sócio-econômica e também cultural em seu interior, como forma da
manutenção de uma identidade negra, quilombola e ancestral africana.
6. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
4 Muxirum – consiste num sistema de trabalho comunal e cooperativo envolvendo a maioria dos integrantes da sociedade, cada qual com atribuições especificas na elaboração da tarefa proposta. A alimentação dos trabalhadores fica a cargo do indivíduo que recebe o auxílio, este retribui em forma de trabalho quando requisitado por um membro qualquer da comunidade.5 Celebre – prática comunal parecida com o muxirum, mas somente utilizada quando há a impossibilidade do indivíduo que recebe o auxilio fornecer a alimentação necessária aos trabalhadores. Desta forma os trabalhos são realizados somente em uma parte do dia, normalmente após o almoço.6 Demão – Sistema de ajuda mútua para trabalhos entre parentes mais próximos e amigos, solicitado ou oferecido informalmente.
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Mapear os aspectos sócio-econômicos e políticos da referida comunidade, sua
trajetória no tempo e no espaço, bem como os movimentos migratórios de algumas de suas
famílias, reunindo o material necessário para identificar os aspectos ligados ao sagrado e suas
conseqüências, de forma geral, à vida cotidiana desses povos.
Confrontar os resultados obtidos para determinar a influência percebida nos aspectos
religiosos trazidos da África em relação ao trabalho de catequização da Igreja Católica, para
apreender como se processou a ressignificação destes aspectos, adaptados por essa sociedade
à sua realidade abrangente, e que originou o profundo sincretismo religioso característico
desta comunidade remanescente quilombola.
Abordar a questão do imaginário religioso, numa perspectiva cultural, através dos
pressupostos teórico-metodológicos da “nova história cultural”, para o entendimento das
formas como essas comunidades, através das manifestações religiosas, conseguiram se manter
unidas socialmente. Buscar-se-á aqui decifrar os códigos e os signos de uma prática passada
de geração a geração, evidenciando uma rede de integração social e também de poder,
visando à manutenção da tradição e ao fortalecimento do grupo, como um todo, onde religião
e o sagrado se misturam na constituição da sua identidade.
Verificar as práticas mágico-religiosas e o conjunto de crenças e ações determinadas
pela tradição, relacionadas às transformações pelas quais passaram os imigrantes que vieram
para a cidade de Cuiabá, buscando identificar a forma como foram ressignificados seus modos
de vida, numa adaptação à uma realidade diferenciada daquela encontrada em suas regiões de
origem.
Comparar o tipo de vida percebido por AMADO7 cujo texto resulta das pesquisas de
campo realizadas junto à Comunidade dos Pretos, na localidade às margens do córrego
Aguaçú, na região do rio Manso, com a situação vivida pela comunidade oriunda do Mata
Cavalos que migrou para Cuiabá em finais da década de 1950. A autora trabalha o ethos
desta comunidade e as relações de parentesco e finaliza analisando a estrutura da Festa de
São Francisco, durante a pesquisa antropológica realizada em campo. Ao descrever,
etnologicamente, a comunidade e a festa de São Francisco, realça as práticas de cooperação e
reciprocidade, observadas no cotidiano dessas pessoas, para entender a importância das
relações de parentesco no seu interior. Comparando essas duas situações distintas buscaremos
7 AMADO, Lúcia Lobo Cortez. A comunidade dos pretos e a festa de São Francisco. In: História e antropologia no Vale do Rio Manso (MT) / organizadoras Laís Aparecida Machado e Leila Miguel Fraga. – Goiânia: Ed. Da UCG, 2006. p. 317-331.
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observar as recorrências ou não de modelos comportamentais presente nessas culturas,
herança de longa duração trazida da mãe África.
Reconstituir a trajetória desses imigrantes, elencando os dados estatísticos coletados
em fontes escritas, confrontado-os com os depoimentos orais coletados junto aos
representantes da comunidade, para levantar sua história enquanto comunidade diferenciada,
que se auto-denomina remanescente quilombola, objetivando dar-lhes visibilidade social e
política, propiciando elementos que salvaguardem sua integridade enquanto comunidade,
protegendo seus interesses e cooperando na manutenção de seu modus vivendi.
Salientar a relevância do tema proposto para o debate atual nos meios acadêmicos bem
como para a sociedade, em particular para os setores que trabalham na educação no país, em
cumprimento ao que estabelece a Lei no. 10.639/2000 cujas determinações alteram a Lei
9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelecendo a obrigatoriedade do
ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. Os artigos 5º, I,
Art. 210, Art. 206, I, parágrafo 1º do Art. 242, Art. 215 e Art. 216 da Constituição Federal de
1988, bem como os Art. 26, 26 A e 79B da Lei 9394/96 LDBN, de acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais8, “asseguram o direito à igualdade de condições de vida e de
cidadania, assim como garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a nação
brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a todos
brasileiros”.
7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O sagrado constitui-se para a população da Comunidade remanescente quilombola
Mata Cavalos um sistema de integração social e manutenção de uma identidade constituída
ancestralmente. É ao mesmo tempo a mescla entre práticas herdadas dos povos Africanos e
Europeus sob influência direta da Igreja Católica. Nos locais de difícil acesso, e onde a igreja
não se faz presente, a fé católica se mantêm ativa através das figuras dos Capelães e outros
líderes sacralizados em suas próprias comunidades. As práticas mágico-religiosas fundem-se
em culto aos santos católicos, numa simbiose perfeita decantada no tempo e modificável
8 Para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 23001.000215/2002-96 CNE/CP 3/2004, aprovado em 10/3/2004, proc. 23001000215/2002-96, conforme relatório do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno/DF, publicado em outubro de 2005. p. 9.
9
conforme as necessidades de readaptações impostas por necessidades oriundas de
transformações nas estruturas sociais, políticas e também espaciais.
GIL FILHO9, da Universidade Católica de Goiás, inspirado em Bourdieu apresentam
o sagrado como “elemento estruturante e estruturado da sociedade”. Assim, a religião
contribui para impor, de forma dissimulada, os princípios da estrutura de um pensamento de
mundo, bem como do sistema de percepção deste. Segundo os autores supracitados “o
sagrado é pleno de atributos de transcendência”:
i) transcendência além da percepção e compreensão humanaii) referencia a uma vida post mortemiii) um espectro de valores moraisiv) indicação de um juízo final ou final dos tempos e/ou expectativa de
um messias escatológico (fim do mundo).
Numa análise das relações de poder entre o sagrado e profano ele conclui que a
experiência do sagrado só se torna legítima se administrada por seus gestores. Um sacerdote
ao manipular os conhecimentos sagrados, considerados compactos e fechados, tende a
garantir seus poderes no âmbito da instituição e este, por sua vez só se torna inteligível se
contar com a instituição do rito. Conforme OTTO10
A identidade religiosa seria uma construção histórico-cultural socialmente reconhecível do sentimento de pertença religiosa. [...] Todavia ao destacarmos a identidade religiosa, também estamos diante de uma construção que remete à materialidade histórica, à memória coletiva e à espacialidade da própria revelação religiosa processada sob determinada cultura.
O autor alerta para a diferença entre identidade religiosa e religiosidade, pois esta
escapa à materialidade institucional. Outra questão está na diferenciação encontrada entre
território e territorialidade, sendo que o território pode ser associado a um objeto
perfeitamente delineado no espaço e a territorialidade se refere a um sistema representativo
que só pode ser percebido através de abstrações mentais.
9 GIL FILHO, Sylvio Fausto e GIL, Ana Helena Corrêa. Identidade religiosa e territorialidade do sagrado: notas para uma teoria do fato religioso. In: Religião, identidade e território / Organizadores Zeny Rosendahl, Roberto Lobato Correa. – Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p. 39-56.10 OTTO, R. O sagrado. Lisboa: Edições 70, 1992. Apud GIL FILHO, Sylvio Fausto e GIL, Ana Helena Corrêa. Identidade religiosa e territorialidade do sagrado: notas para uma teoria do fato religioso. In: Religião, identidade e território / Organizadores Zeny Rosendahl, Roberto Lobato Corrêa. – Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p. 39-56.
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Na comunidade de imigrantes do Mata Cavalos, no Bairro Ribeirão da Ponte, o lugar
onde encontra-se o espaço destinado aos cultos religiosos para tratamentos de enfermidades
físicas e espirituais, constitui-se em local sacralizado, uma territorialidade do sagrado,
portanto. Nesse espaço religioso nota-se a interação entre dois mundos que se interligam pela
ação dos encarregados da cerimônia e pela própria essência, que se quer, sobrenatural em
volta do altar. É ali que os santos são evocados para o ato de cura, através de hierofanias
identificadas em ritos que mesclam tradição católica a rituais africanos. ELIADE11 para
explicar a hierofanização afirma que em “manifestando o sagrado, um objeto qualquer torna-
se outra coisa e, contudo, continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio
cósmico envolvente”.
No caso da cerimônia de cura neste local já mencionado, a sacralização material se
expressa na utilização de várias cruzes talhadas em madeira, que segundo a lógica
transcendente, se reveste de poderes místicos. Nos tempos sacralizados pelas seções de curas
espirituais os símbolos hierofânicos sob a atmosfera mística do local, permite o intercâmbio
com os santos para a economia simbólica do tratamento que tanto pode resultar em cura da
enfermidade ou não, o que depende da fé de ambas as partes, e do merecimento de quem o
recebe. Essa janela de comunicação com o “alto” é explicada por ELIADE12:
Lá, no recinto sagrado, torna-se possível a comunicação com os deuses; conseqüentemente, deve existir uma porta para o alto, por onde os deuses podem descer à terra e o homem pode subir simbolicamente ao céu.
Símbolos e signos sagrados estão presentes em forma de crucifixos, utilizados como
adereços pessoais ou como enfeites nas portas, paredes e mesas. Em várias casas percebemos
a existência de altares, bíblias, imagens de santos, terços, contas, oratórios, entre outros. Essa
materialidade religiosa remete à práticas que, certamente, são muito usuais no seu interior, em
cujas intimidades se realizam cultos e rezas, tornando-os santuários capazes de exercer o
papel da experiência sagrada, colocando uma aparente ordem no mundo desordenado.
Santuário encontrado na casa de um dos imigrantes oriundos do Mata Cavalos que vieram para Cuiabá.
11 ELIADE, Mircea, 1907 – 1986. – O sagrado e o profano / Mircea Eliade; tradução de Rogério Fernandes. – São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 13.12 Ibidem. p. 18-19.
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IMAGEM 01Modelo da Câmera DSC-H9, tirada em 09/09/2008Autoria: Silvânio Paulo de Barcelos
Segundo Eliade “A revelação de um espaço sagrado permite que se obtenha um ponto
fixo, possibilitando, portanto, a orientação na homogeneidade caótica, a fundação do mundo,
o viver real”. No interior dessas residências o local do oráculo marca o território do sagrado
em oposição aos outros espaços ocupados pelo profano, como a cozinha, o quarto, o banheiro
ou a varanda.
As festas realizadas em homenagem a Santo Antonio, na casa de D. Tereza, presidente
da Comunidade Remanescente quilombola Mata Cavalos, tem um sentido que ultrapassa a
questão do sagrado, embora este constitua o centro dinâmico de sua representatividade
colocando-o em posição de destaque e relevância. Nessas datas festivas os participantes
entram no que ELIADE13 chama de “tempo mítico”. Porém, nesses dias, as representações
simbólicas oscilam do sagrado para o profano, na medida em que funcionam como
catalisadores das relações de compadrio, de poder e hierarquia social. É também o espaço
disponível ao lazer, às socializações, ao desenvolvimento do lúdico, aos encontros dos jovens
e ao culto das antigas tradições.
As formas de realização dos rituais destas festas obedecem a um padrão mais ou
menos recorrentes em várias outras regiões, evidenciando uma prática profundamente
13 “Participar religiosamente de uma festa implica a saída da duração temporal “ordinária” e a reintegração no tempo mítico reatualizado pela própria festa. [...] Reencontra-se na festa a primeira aparição do tempo sagrado.” p. 38
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arraigada na mentalidade coletiva, herança de um contexto mais abrangente, a saber, o dos
ambientes quilombolas, expressão de resistência ao escravismo no Brasil.
Segundo VOLPATO14 o quilombo era a alternativa viável por sua organização social
em torno da sobrevivência e defesa, caracterizando em fenômeno universal, muito presente
durante todo o período da escravidão.
A ressignificação cultural, percebida no culto aos santos de predominância Católica,
caracteriza-se por uma forma de resistência e oposição ao regime dominante no tempo e no
espaço. É ao mesmo tempo uma conformação com imposições de ordem externa da qual não
se tinha como se desviar da aculturação, ou conforme CHARTIER15 “a reapropriação, o
desvio, a desconfiança ou resistência.” Trata-se, portanto de apropriações que foram feitas aos
ritos católicos adaptando-os com antigas práticas ancestrais trazidas a bordo dos navios
negreiros.
Esse sincretismo religioso percebido nessas comunidades, cujas origens resultam do
cruzamento de forças antagônicas a despeito de todo esforço da igreja encetado no afã de sua
erradicação foi percebida por SOUZA16: “Enquanto a Europa ‘tridentina’ se esforçava em
depurar a religião e limpá-la das reminiscências folclóricas, a colonização européia dos
trópicos impunha o sincretismo”.
Resistência, adaptação ao meio, construção de um espaço de fuga e afirmação de
identidade, ressignificação, territorialização, (des)territorialização e (re)territorialização
compreendem o universo de condicionantes históricas vivido e ainda em curso no interior
dessas comunidades, resultando no que BANDEIRA17 percebe a respeito
Da construção social de cada espacialidade negra é resultado de um processo particular. Em conjunto, todavia, as diversas espacialidades negras possuem certo grau de generalidade, constituindo um todo.
Uma questão muito importante verificada neste processo constitui-se nas formas de
manutenção da tradição ancestral Africana, apropriadas pelos descendentes, traduzidas em
danças, cânticos, culinária, músicas, ritmos e religiosidade, enquanto recurso primordial para
a educação das futuras gerações. DANTAS18 num trabalho de síntese, reporta-se a esse
14 VOLPATO, Luiza Rios Ricci. Cativos do Sertão – vida cotidiana e escravidão em Cuiabá – 1850 – 1888. São Paulo, Tese de Doutorado, USP 1990.15 CHARTIER, Roger, 1988. A história cultural – entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Ed. Bertrand Brasil, S. A. Rio de Janeiro. p. 59-6016 SOUZA, Laura de Melo e. O diabo e a terra de santa cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil Colonial / Laura de Melo e Souza. – São Paulo: Cia. Das Letras, 1986. p. 17.17 BANDEIRA, Maria de Lourdes. Terra e territorialidade negra no Brasil contemporâneo. In: XV encontro anual da ANPOCS, 15 a 18 de outubro de 1991, Caxambu, Minas Gerais. P. 118 DANTAS, op. Cit. p. 93.
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sistema educacional empírico que perpetua a tradição da Festa do Congo realizada pela Casa
São Benedito, em Livramento – MT, segundo ela:
O reconhecimento social do Congo como um conhecimento eminentemente negro, na perspectiva do processo ensino/aprendizagem, recupera para os negros e para a sociedade, a identidade dos negros como sujeitos e como produtores de cultura. Como um fenômeno educativo de alcance étnico, apresenta o negro como concretude na sociedade local, regional e nacional; apreende sua existência como real e viva. Evidencia-se a possibilidade de ser – no – mundo – negro, com outros negros, com outros brancos. Uma forma de aprender a ser negro no arrepio dos parâmetros racistas, mantendo uma saída para fora do vínculo do branqueamento e da integração da imagem branca do negro.
Essa questão fundamental para a própria sobrevivência da cultura negra do Mata
Cavalos, a tradição do Congo, já foi percebida no seu interior, e hoje, rebuscando as origens
desta festa, que originalmente era produzida na própria comunidade e com o tempo foi
transferida para Livramento - MT, está sendo retomada com toda intensidade pelas crianças e
jovens que são enviadas à Casa São Benedito, nesta cidade, para o aprendizado desta tradição
secular representada pela dança do Congo. Aqui, segundo Gonçalina19, resgatando o espírito
de Zumbi da tradição de Palmares, “vamos contar a nossa história, na visão que a gente vê, na
realidade que a gente vive...”.
8. REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO
A Nova História Cultural, com seus pressupostos teórico-metodológicos, servirá de
aporte técnico para esta pesquisa. Afastando-se da forma de descrição narrativa dos grandes
feitos produzidos pelos grandes homens do passado, ela privilegia, via de regra, a vida da
pessoa comum, suas lutas e tensões cotidianas, na afirmação de sua condição enquanto ator
na história. Este novo conceito na maneira de se pensar a história acompanha a tendência
originada a partir de meados do século XX que busca no contato com suas disciplinas
vizinhas, como a antropologia, a geografia, a sociologia e a arqueologia uma maior inter-
relação de procedimentos e métodos para a apreensão dos problemas que envolvem a análise
das sociedades. Segundo GINZBURG20
19 Uma militante do movimento de resistência quilombola do Mata Cavalos, numa declaração contida na capa do documentário “A terra e o tempo” Vozes do quilombo, dirigido por Sergio Brito.20 GINZBURG, Carlo. El queso y los gusanos: el cosmos, según um molinero Del siglo XVI. Traducido Del Italiano por Francisco Martín, traducidas las citas em latin por Francisco Cuartera. Barcelona: Muchnick Editores, 1981. 3ª. Ed. 1999. p. 1
14
Antes era válido acusar a quienes historiaban el pasado, de consignar únicamente las ‘gestas de los reyes’. Hoy dia ya no lo es, pues cada vez se investiga más sobre lo que ellos callaron, expurgaron o simplesmente ignoraron.
Contudo, não podemos radicalizar privilegiando “um ou outro lado da história”, por
assim dizer, pois incorreríamos no mesmo erro de procedimentos e formas de se ver o
passado, visto que numa visão de conjunto toda ação social implica, via de regra, sua reação.
Ninguém aceita “passivamente” imposições externas sem expressar alguma forma de
resistência.
Esta forma de se ver os movimentos humanos no tempo e no espaço está sintonizada
com os pressupostos postulados por CHARTIER21 confirmando que a “história cultural, tal
como a entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e
momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”. Desta forma,
os atores sociais longe de subordinarem-se à cultura dominante, antes, apropriam-se dos seus
modelos e os readaptam à sua realidade de maneira a conciliar um sistema de valores
imiscuídos no conjunto de determinantes sociais as quais não se pode opor diretamente, mas
sim de outras formas, segundo CHARTIER22 .
Ginzburg reinventa diferentes formas que colocam em lados opostos e antagônicos a
cultura dominante e subalterna, admitindo-se os dois níveis, dominante/dominado e colocada
a impossibilidade da assimilação direta da cultura dominante pelos ditos “vencidos”, e nisso
está de acordo com os conceitos de “apropriação” de Roger Chartier.
Neste trabalho serão utilizados os métodos da Micro-história, sendo essa uma eficiente
ferramenta para as abordagens inerentes à Nova História Cultural e, por se tratar de uma
pesquisa devidamente delineada no tempo e no espaço, ou seja, o estudo das comunidades
remanescentes quilombolas Mata Cavalos e seus imigrantes, considerando-se uma abordagem
de história recente, ou do tempo presente.
Para a instrumentalização de todo o processo pesquisa/produção da dissertação final
serão utilizadas, além das pesquisas em documentos, as abordagens da história oral com toda
a sua especificidade teórica e também metodológica. Através das entrevistas orais buscaremos
a apreensão de alguns aspectos culturais destes grupamentos. Segundo ALBERTI23 deve-se
21 CHARTIER, op. Cit. p. 16-17.22 “A noção de apropriação pode ser, desde logo, reformulada e colocada no centro de uma abordagem de história cultural que se prende com práticas diferenciadas, com utilizações contrastadas”. CHARTIER, op. Cit. p.26.23 ALBERTI, Verona. Fontes orais: histórias dentro da história. In: Fontes históricas / Carla Bassanezi Pinsky, (organizadora). 2. Ed. – São Paulo : Contexto, 2006. pg. 155-202.
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levar em consideração as questões de recuos e avanços no tempo; estar atento às repetições,
pois elas podem indicar uma possível fonte de informações importantes; saber ouvir; prestar
atenção nos desvios que podem se tornar contraproducentes; observar a lógica na escolha dos
candidatos a serem entrevistados; identificar padrões; relacionar fatos com suas
representações imaginárias e culturais.
Importante ressalvar a importância das histórias de vida individuais, pois estão
inseridas no conjunto das sociedades que, por sua vez, constituem-se de particularidades. De
acordo com BOURDIEU24 falar da história de vida é:
[...] Pelo menos pressupor – e isso não é pouco – que a vida é uma história e que, como no título de Maupassant, Uma vida, uma vida é inseparavelmente o conjunto dos acontecimentos de uma existência individual concebida como uma história e o relato dessa história.
Um problema incorre nos métodos da entrevista oral das histórias de vida: a tendência
em narrar os acontecimentos passados não de forma linear-temporal, mas de acordo com os
sentidos particulares da própria existência individual do ser, ainda segundo BOURDIEU25 “o
relato, seja ele biográfico ou autobiográfico, [...] propõe acontecimentos que, sem terem se
desenrolado sempre em sua estrita sucessão cronológica, [...] tendem ou pretendem organizar-
se em seqüências ordenadas segundo relações inteligíveis”.
Cabe, portanto, ao pesquisador identificar os recortes, as rupturas e as continuidades
nas falas dos entrevistados, buscando a compreensão da mensagem e do seu ponto de vista
particular, evidenciado por seu modo de ver o mundo, e pela sua experiência acumulada de
vida, daí a necessidade de utilizar-se do maior número possível de entrevistados para que ao
final da pesquisa e através dos cruzamentos de dados, possa se conseguir dados confiáveis
acerca do estudo em questão.
Para a reconstituição de alguns dados referentes à historia cultural dos imigrantes do
Mata Cavalos, utilizaremos de fontes documentais disponíveis em cartórios na cidade de
Livramento, Várzea Grande e Cuiabá, arquivos da Pastoral da Terra, Casa de São Benedito,
Associação dos Herdeiros de Mata Cavalos, Arquivo Público do Estado de Mato Grosso,
Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional e, também, em documentos
escritos e iconográficos pertencentes às famílias aqui estudadas.
24 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: Usos e abusos da história oral. Marieta de Moraes Ferreira e Janaína Amado (Organizadoras). UNESP. 1986. p.183.25 Ibidem, p. 184.
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A compilação destes dados estatísticos confrontados com os depoimentos orais
(histórias de vida e memórias sociais individuais e coletivas) possibilitará a apreensão da
trajetória histórica e cultural destas sociedades para a resolução da problemática da
construção de identidade e afirmação étnica, enquanto grupo diferenciado num meio
envolvente de maioria branca, a saber o meio urbano da cidade de Cuiabá – MT, no caso dos
imigrantes e do meio rural da comunidade Mata Cavalos, em Livramento – MT.
Há quase um ano estamos em contato efetivo com vários membros desta comunidade:
Da. Tereza, Sr. Antonio Mulato, Sr. Airton, Da. Gonçalina, Sr. Augustinho, Da. Elisiane, Da.
Josephina, Da. Laura, Da. Tita, Srta. Sueli, Sr. João Bosco, Sr. Bugre, Da. Ana, Sr. Erinaldo,
Sr. Martiniano (entre outros representantes do “Mata Cavalos”) e Sr. José Gregório, Sr.
Antonio Gregório, Sr. Salomão Gregório, Sr. Sebastião Gregório, Sr. Crescêncio Gregório,
Da. Belícia, Da. Vitorina, Da. Denise e Da. Erondina (alguns representantes dos imigrantes da
referida comunidade, atualmente vivendo em Cuiabá), e também de alguns colaboradores
como o Sr. Sérgio Brito (produtor do documentário A terra e o tempo, distribuído pela Terra
do sol filmes), representantes da Casa de São Benedito (escola destinada a manutenção da
tradição da Festa do Congo em Livramento – MT), e do Posto de Assistência Espírita
Cândido Rondon, também nesta cidade.
Até o presente momento já foram colhidas mais de 400 fotos digitais, gravados em
torno de 4 horas de depoimentos orais e 3 horas de filmagens, focalizando temas do cotidiano
dessa comunidade. A coleta inicial desses dados constitui-se no propósito de reconhecimento
do campo de pesquisa a ser trabalhado, seus atores, delimitação de objetivos e metas a serem
cumpridas, além da sociabilização necessária entre pesquisador e pesquisados, para a
construção conjunta do saber acadêmico aqui proposto.
9. CRONOGRAMA
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Março2009
Abril2009
Maio2009
Junho2009
Julho2009
Agosto2009
Setembro2009
Outubro2009
Novembro2009
RevisãoTeórica
RevisãoTeórica
RevisãoTeórica
Pesquisa documen-tal
PesquisaDocumen-tal
PesquisaDocumen-tal
Pesquisa DeCampo
Pesquisa DeCampo
Pesquisa DeCampo
Dezembro2009
Janeiro2010
Fevereiro2010
Março2010
Abril2010
Maio2010
Junho2010
Julho2010
Agosto2010
RevisãoTeórica
RevisãoTeórica
RevisãoTeórica
PesquisaDeCampo
Pesquisa DeCampo
Pesquisa DeCampo
Pesquisa DeCampo
Pesquisa DeCampo
Pesquisa DeCampo
Setembro2010
Outubro2010
Novembro2010
Dezembro2010
Janeiro2011
Fevereiro2011
Março2011
Pesquisa DeCampo
Crítica eElabora-ção dosdados
Crítica e ElaboraçãoDos dados
produção Detexto
CorreçãoDo texto eDigitação.
Qualifica-ção
Defesa Dadissertação
10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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