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Leitura da literatura juvenil:

por quê? Para quê?

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OOO

Ana Mariza Ribeiro Filipouski - 2012

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The fantastic flying books of Mr. Morris Lessmore

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Um fato curioso: antes de ser premiado, foi lançado como livro digital interativo para iPad, e chegou ao primeiro lugar entre os mais vendidos na loja da Apple em 2011.

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O curta revela paradigmas típicos da contemporaneidade :

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• aponta para problemas complexos (não mais simples);

• para uma forma de organização autônoma (não mais hieráquica);

• para uma visão de mundo fragmentária (não mais determinista);

• para uma perspectiva temporal causal (não mais linear);

• para uma realidade contextual (não mais objetiva);

• para uma visão de espaço globalizadora (não mais localizada).

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Por que a literatura (juvenil) precisa considerar esses paradigmas?

porque ler é interagir: o ato de ler implica diálogo entre sujeitos históricos;

leitura desenvolve competências para compreender o texto como manifestação de um ponto de vista autoral, assumido a partir de determinado contexto histórico (visão e valores expressos no texto);

leitura supõe uma atitude responsiva, estrutura respostas ao texto por meio de novas ações, de linguagem verbal ou não (recepção ativa).

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ESSA RELAÇÃO CONCRETIZA A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA

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O que faz a escola hoje a esse respeito?

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Para que ler literatura?

para constituir repertório de leitura, ou história de leitor (favorece a intimidade com os textos, o hábito de ler a partir do gosto pessoal e oportuniza socializar seus achados de modo a poder influenciar outros leitores em formação;

para exercitar formas de aprofundamento e qualificação da história de leitor (relacionar com a série literária, problematizar temas e soluções de linguagem encontrados pelo texto, experimentando modos de apreciar a obra como fato estético).

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A quem compete favorecer a leitura literária de jovens?

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à escola, cuja função, entre outras, é ampliar a cultura escrita dos estudantes, atribuindo novos sentidos ao letramento em suas vidas, já que ele integra as mais variadas práticas sociais contemporâneas;

às práticas pedagógicas organizadas (planejamento de tarefas de leitura com finalidade reconhecível e compatível com o gênero estudado), que tornam o ato de ler uma atividade de construção de sentidos e recuperam a função social da leitura.

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Práticas pedagógicas em literatura: o que ler? Para que ler?

Como ler?

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Ler para estabelecer relações com as situações de produção e recepção: elementos do contexto social, do movimento literário, do público, da ideologia, etc;

Ler para estabelecer relações com outros textos, verbais e não verbais, literários e não literários, da mesma época ou de outras, colocando-os em interação e diálogo;

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Práticas pedagógicas em literatura: o que ler? Para que ler?

Como ler?

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Ler para explorar as potencialidades de uso da linguagem literária, condição para produzir sentidos e adquirir uma cultura integradora das dimensões humanista, social e artística, que valorizam as noções de diacronia e sincronia, ou seja, as relações com a série literária (que envolve a história de leitor) e a capacidade de perceber uso artístico da linguagem (fruição).

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Conceitos estruturantes do trabalho com

literatura

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Tradição e ruptura

- instrumentalizam para a compreensão dos textos a partir do lugar e da época em que foram produzidos ;

- fortalecem a construção de uma história pessoal de leitor, pois habituam a estabelecer relações a partir do que as obras são capazes de dizer para um leitor atual;

- legitimam leituras produzidas em outros tempos ou contextos.

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Estranhamento

- alarga o horizonte de expectativas do leitor e permite compreender outro modo de ver;

- oportuniza, do seguro lugar do leitor, vivenciar experiências radicais da vida humana, a partir da linguagem e por meio da ficção;

- investe na ampliação da humanidade pela fruição estética;

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Intertextualidade (diálogo entre textos)

- favorece o reconhecimento de que todo o texto é um mosaico de citações;

- assegura, a um só tempo, renovação e interação com o que já existe;

- supõe ultrapassar a compreensão linear do texto e lançar mão da história pessoal de leitura para atribuir sentido à produção simbólica constituída por um novo texto.

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Como a literatura juvenil revela preocupação com ler a partir de

novos paradigmas?

O exemplo de A invenção de Hugo Cabret

(Brian Selznick. São Paulo: SM Editora, 2011.)

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O autor

É autor premiado de literatura infantojuvenil. Selznick reconhece que encontrou a inspiração para criar o mundo de Hugo Cabret depois de ler Edison´s Eve: A Magical History of the Quest for Mechanical Life, de Gaby Wood, texto que contava a história de uns complicados homens mecânicos de corda que foram doados a um museu de Paris. A coleção fora abandonada em um sótão bagunçado e, por acaso, jogada no lixo. O autor então imaginou como seria se um garoto encontrasse as máquinas quebradas e enferrujadas e criou Hugo e sua história.

Brian Selznick nasceu em East Brunswick, Nova Jersey, e se formou na Escola de Design de Rhode Island.

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A obra/sinopse: Paris, anos 30. Hugo Cabret vive clandestinamente na estação de trem. Esgueirando-se por passagens secretas, o menino cuida dos relógios do lugar. Ele precisa manter-se invisível porque guarda um segredo. Descoberto pelo dono da loja de brinquedos próxima e por sua afilhada, todos os seus planos correm risco. Um valioso caderno, uma chave roubada, uma mensagem cifrada e um passado esquecido estão no centro dessa aventura. A obra oferece uma diferente experiência de leitura. Seu autor compôs a trama com textos e ilustrações que desenvolvem a história como em uma storyboard de cinema. A interação entre realidade e a ficção oportuniza que o leitor adquira novos conhecimentos.

A obra recria uma época-chave da história da humanidade: a industrialização européia, o auge das ferrovias, os funcionamentos de mecanicismos das máquinas (aplicado às artes, à mágica, à relojoaria) e o surgimento do cinema. Considerada uma obra-mestra pela crítica mundial, foi publicada em 2007 pela Scholastic, mesma editora do Harry Potter nos Estados Unidos, e vendeu 300 mil exemplares em três meses. Adaptada para o cinema por Martin Scorsese, tem agradado os espectadores e recebeu 5 Prêmios Oscar em 2012 (efeitos visuais, fotografia, direção de arte, edição de som e mixagem de som).

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A contextualização da leitura

• http://www.theinventionofhugocabret.com/index.htm

Na página oficial inglesa lê-se uma entrevista com Brian Selznick e há fotos que o autor tirou em Paris quando visitou a cidade para escrever o livro e conhecer a vida de Georges Méliés.

• http://www.melies.eu site oficial em homenagem a Méliés. Além de informações sobre vida

e obra, disponibiliza alguns curtas.

• http://www.edicoessm.com.br/hugocabret/links.html Também é interessante visualizar a página da editora SM e pesquisar

nos links que ela oferece, especialmente remetendo à foto de um acidente ferroviário na Estação de Montparnasse que ilustra um sonho de Hugo, à história dos homens mecânicos, que tem um importante papel na obra e ao estudo do ilusionismo.

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Aspectos relevantes da obra

• Breve introdução (situação inicial): um narrador onisciente (prof. H. Alcofrisbas) sugere ao leitor que simule estar numa sala de cinema, no início de um filme. Alude ao movimento de uma câmera, que começa em plano geral (situa no tempo – o sol vai nascer; no lugar - uma cidade/ Paris/ uma estação de trem/Montparnasse e vai focando um menino, Hugo Cabret, até mostrá-lo em primeiro plano. Sugere que o leitor o siga “porque ele está cheio de segredos na cabeça, esperando que sua história comece”.www.gipeonline.com.br 20

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Aspectos relevantes da obra

p. 46 – narrativa escrita, curta e ágil, que detalha ponto de vista de Hugo e sua relação com o velho. Introduz outra personagem (uma menina, observada por Hugo) e refere ainda o guarda de estação, temido por ele. Coloca Hugo e o velho em conflito e apresenta um objeto que passa a ser disputado por ambos: um caderno de notas, guardado pelo menino e que perturba o velho. O objeto é examinado pelo velho e seu conteúdo é informado ao leitor através de imagens que se misturam às páginas escritas.www.gipeonline.com.br 21

Parte 1/ cap 1: O ladrão: 44 páginas de narração por imagens que retomam o que um narrador onisciente apresentou e dá seguimento à narrativa, desenvolvendo aspectos relativos ao segredo e introduzindo outro personagem: um velho que trabalha em uma loja de brinquedos e é observado por Hugo.

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A linguagem

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é hibrida: envolve imagem e palavras, remete aos quadrinhos, à literatura, ao cinema;

é familiar ao destinatário/leitor, predispondo-o a ler;

o recurso (característico da literatura contemporânea destinada a jovens e a adultos (ver Diário de um Banana, de Jeff Kinney, ou Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá); rompe com o cânone tradicional da literatura, vinculando a leitura a seu tempo e desafiando o jovem a continuar a ler. Pela linguagem, enreda o leitor na narrativa atualiza o interesse pelo passado.

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A narrativa

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• à medida que evolui, a trama remete à realidade (a história de Georges Méliés, 1861-1938), e propõe à discussão do que há de verdade e de ficção no enredo. Isso supõe a possibilidade de discutir uma das funções da literatura: dar a conhecer um contexto social (a virada do século XIX/XX), especialmente os aspectos culturais e científicos, de um grande centro urbano da época.• por ser ficção, recorre à caracterização de um tempo determinado (simbologia do relógio, objeto que supõe o domínio do seu mecanismo de funcionamento), num espaço definido (estação de trem, transporte que representa, na época, progresso e encurtamento do espaço, mediado pelo tempo )– não é à toa que tempo e espaço são aspectos descritivos da narrativa.

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A narrativa

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• ao simular histórias de vida para apresentar aspectos do real, cria personagens complexos, imersos em problemas que fazem sentido ainda na contemporaneidade (as relações afetivas, os vínculos pessoais com traumas do passado e a necessidade de resolvê-los para poder crescer), oportunizando, do seguro lugar do leitor, vivenciar experiências radicais da vida humana, a partir da linguagem e por meio da ficção.• ao ser lida por jovens, dá acesso a conhecimentos sobre o passado, alarga o horizonte de expectativas do leitor e permite compreender outros tempos, outro modo de ver o mundo (o contexto).

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A experiência de leitura pode ampliar conhecimentos:

remeter a outras leituras sobre o contexto (pesquisas a respeito do tempo, das personagens reais presentes na trama, das máquinas e de sua influência na vida de época (trens, brinquedos, mágicas, etc);

remeter a outras obras literárias e explorar outros tempos e contextos representados pela ficção (Mark Twain e As aventuras de Tom Sawyer, e outros).

propor a discussão do suporte utilizado para criar: filme ou livro? No livro, a imagem tem que finalidade? Ela aproxima ou distancia do leitor? Ela facilita ou complexifica a leitura?

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A experiência de leitura pode:

dar concretude à interação proposta pela leitura:

a) através da criação de fóruns de discussão e difusão dos achados sobre a época retratada no texto (relato oral, ou em suporte a ser socializado em forma de pôster, painel, blog etc);

b) pelo registro escrito, em forma de resenha crítica, criação de cadernos temáticos que documentem todo o processo de leitura, as relações de intertextualidade, a apropriação de conhecimentos e a ampliação das competências de leitura literária.

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Síntese

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A unidade propõe, então, que se realize a função da leitura de literatura (juvenil):

Ler para estabelecer relações com as situações de produção e recepção: dá conta do contexto social da época retratada com recursos que interessam o leitor hoje.

Ler para estabelecer relações com outros textos: relaciona literatura e HQ, explora recursos de linguagem atuais, abre perspectiva para outras artes, colocando-as em interação e diálogo.


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