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7/25/2019 Tese Vanessa Ferreira Oliveira
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UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LINGSTICAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGSTICA E SEMITICA
A CATEGORIA DE TEMPO NA ENUNCIAODA
LNGUA FRANCESA
Vanessa Ferreira de Oliveira
Dissertao apresentada aoPrograma de Ps-Graduao emLingstica e Semitica doDepartamento de Letras Modernas daFaculdade de Filosofia, Letras eCincias Humanas da Universidadede So Paulo, para obteno do
ttulo de Mestre em Letras.
Orientador: Prof Dr Antonio Vicente Serafin Pietroforte
So Paulo
2006
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Resumo:
Jos Luiz Fiorin, em suasAstcias da Enunciao (2001), analisa as categorias
da enunciao de tempo, pessoa e espao na lngua portuguesa. Esse o fundamento
terico no qual se baseia o presente trabalho. Nossa pesquisa concentra-se na lngua
francesa e nela trabalhamos somente a categoria de tempo, verificando a maneira pela qual
a sua colocao estabelece referncias temporais no discurso por meio das categorias
concomitncia vs. no-concomitncia (anterioridade e posterioridade). possvel basear-
se em uma teoria para a lngua portuguesa pelo fato de que h muita correspondncia entre
o francs e o portugus no que concerne as classes de palavras que expressam tempo em
francs (verbo, advrbio, preposio e conjuno), embora haja tambm alguns pontos em
que no existem equivalncias, como veremos.
O corpus utilizado para a realizao desse trabalho o jornal de maior
referncia na Frana: Le Monde; ele tem vrias verses, mas utilizamos a mais lida: o
quotidiano. Foram lidos somente jornais dos primeiros cinco meses de 2006.
Na pesquisa, primeiramente, conceituamos o tempo, em seguida o
sistematizamos, considerando os sistemas enuncivo e enunciativo e as categorias
topolgicas de concomitncia e no- concomitncia em relao aos momentos de referncia
presente, pretrito e futuro. Reconhecemos alguns tempos verbais franceses sem
equivalentes no portugus e especiais na lngua francesa: pass simple, pass antrieur epass surcompos.Ainda estudamos a debreagem de segundo grau e o modo subjuntivo.
Culminamos na ao intencional do enunciador e suas neutralizaes verbais, isto , as
embreagens temporais.
Esperamos contribuir para a conceituao da categoria de tempo da lngua
francesa, auxiliando no ensino/aprendizagem dessa lngua.
Palavras-chaves:
Tempo, verbo, francs, enunciao, semitica.
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Rsum:
Dans Astcias da Enunciao (2001), Jos Luiz Fiorin fait une analyse descatgories de lnonciation de temps, de personne et despace dans la langue portugaise sur
laquelle se fonde thoriquement le prsent travail. Notre recherche a pour sujet la langue
franaise et est uniquement centre sur la catgorie de temps, et plus particulirement sur la
manire dont les rfrences temporelles sont tablies dans le discours au moyen de
catgories concomitance/non-concomitance. Il est possible de s'appuyer sur une thorie
pour la langue portugaise parce quil existe beaucoup de correspondances entre le franais
et le portugais pour les classes de mots qui expriment le temps en franais (verbe, adverbe,
prposition et conjonction), bien qu'il y ait des points o il ny a pas dquivalences,
comme nous le verrons.
Le corpus utilis pour la ralisation de ce travail est le plus grand journal de
rfrence en France:Le Monde. Il existe en plusieurs versions, mais nous n'utiliserons que
la plus lue: le quotidien. Ont t uniquement lus les journaux des premiers cinq mois de
2006.
Dans cette recherche, le temps sera d'abord conceptualis puis schmatis en
prenant en compte les systmes noncs et nonciatifs ainsi que les catgories topologiquesde concomitance et de non-concomitance par rapport aux moments de rfrence prsent,
pass et futur. Nous reconnatrons quelques temps verbaux franais sans quivalents en
portugais et spcifiques la langue franaise: pass simple, pass antrieur et pass
surcompos. Nous tudierons ensuite le dbreyage de deuxime degr et le mode
subjonctif. Enfin, nous nous attacherons laction intentionnelle de lnonciateur et ses
neutralisations verbales, cest--dire, les embrayages temporels.
Cela dans le but de contribuer la conceptualisation du temps dans la languefranaise, en aidant lenseignement et l'apprentissage de cette langue.
Mots cls:
Temps, verbe, franais, nonciation, smiothique.
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Abstract:
Jose Luiz Fiorin, in his Astucias da Enunciao, analyses the categories of the
expression of time, space and person. This is the theoretical basis of this study. The
dissertation analyses the French language and deals only with the tense category, verifying
how its collocation establishes temporal references in discourse by means of concomitance
vs non-concomitance categories (anterior/posterior). It is possible to use this as a basis for
thePortuguese language because there are many parallels between French and Portuguese
in terms of the word classes which express tense (verb, preposition and conjunction),
although there are also some points that do not have parallels , as we shall see.
The corpus used in carrying out this work is the most quoted newspaper in
France:Le Monde, and the daily newspapers of the first five months of 2006 are the basis
for the corpus.
Firstly, time is considered, and then systematized, examining the enuncive and
enunciative systems and the topographical categories of concomitance vs non-
concomitance in relation to the present, past and future. Certain tenses with no equivalents
in Portuguese have been recognised, such as thepass simple, pass antrieur and pass
surcompos. Second degree "debreagem" and the subjunctive mood are also analysed, and
the dissertation ends with an analysis of the writer's intentional action and his verbal
neutralizations.Hopefully, this study will contribute to the conceptualisation of the tense
category in French, helping the teaching and learning of this language.
KEY WORDS:
Tense, verb, French, enunciation, semiotics.
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Introduo
(...) o tempo no uma linha, mas uma rede de intencionalidades.
Merleau-Ponty
O que o tempo? Como definir o tempo? E qual tempo? Falar do tempo no
uma tarefa fcil visto que ele tem vrias acepes e que, em todas as reas do
conhecimento, j houve tentativas para tentar explica-lo.
Este trabalho no mais uma tentativa de definir o tempo, mas de entende-
lo enquanto uma das categorias da enunciao. Essas categorias so: pessoa, espao e
tempo e elas no so exclusividades de uma ou de outra lngua, mas so intrnsecas a
toda e qualquer linguagem.
Fiorin, analisando o livro bblico Gnesis, o livro das origens, mostra como
essas categorias so inerentes ao homem e ao universo. No captulo 3, sobre a culpa
original e como o pecado entrou no mundo. Deus havia criado o universo, o homem e a
mulher e havia concedido o dom da liberdade e do livre arbtrio; mas o homem foi
seduzido pelo poder da mentira, expe-se a desobedecer a Deus na esperana de tornar-
se igual a ele. Ento o homem toma conscincia de si mesmo no sofrimento e na
vergonha e foi excludo das delcias do paraso. Segundo Fiorin, a queda marca a
entrada do homem na Histria, ou seja, no tempo e no espao no-mticos, em que o ser
humano sofrer a condio humana. O castigo do homem passar a sofrer o tempo
(morrer), o espao (a natureza lhe ser hostil) e a actorialidade (comer o po
com o suor do rosto, dar a luz em meio dor). A Histria est, ento, marcada pela
temporalidade, pela espacialidade e pela actorialidade(2001:12).
Como tema para a dissertao de mestrado, no trabalhamos todas as
categorias da enunciao presentes no componente sinttico do nvel discursivo,estudamos apenas a ltima, no porque uma categoria seja mais importante do que a
outra, mas pelo fato do tempo ser uma das questes mais problemticas para o
profissional que trabalha com o ensino do francs e tambm para o estudante que o
aprende. Tanto os verbos quanto as demais classes de palavras que denotam tempo em
francs (advrbio, preposio e conjuno) tm muita correspondncia com a nossa
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lngua materna, o portugus, porm, tambm h muitos pontos que no encontram
equivalncia; h, por exemplo, tempos verbais que apresentam nuances inexistentes em
portugus, como o caso dopass compose dopass simple.Por isso, acreditamos ser
til desenvolver um trabalho que mostre a questo do tempo tratada de forma menos
sistematizada e mais semiotizada, menos mtodo de lngua e mais colocao discursiva.
A descrio dos tempos verbais realizada com base no modelo proposto
por Fiorin em suas Astcias da Enunciao (2001), em que as categorias de tempo,
pessoa e espao so analisadas; essa a base terica que norteia todo o trabalho.
descrita, nesta pesquisa, baseando-se no que Fiorin desenvolveu para o portugus, a
maneira pela qual a colocao das categorias de tempo estabelece referncias temporais
no discurso por meio das categorias formais concomitncia vs. no-concomitncia
(anterioridade e posterioridade).
Ressaltamos que, assim como em Astcias da Enunciao, esse trabalhodireciona-se predominantemente ao modo indicativo do verbo j que esse o modo da
ao considerada na sua realidade. o modo indicativo que determina o tempo e
graas a ele que os tempos dos outros modos, imperativo (se o consideramos como
modo) e subjuntivo, podem articular-se.
Quando aprendemos uma lngua estrangeira, ou mesmo ao estudar nossa
prpria lngua, existe a tendncia de consider-la como reflexo e nomenclatura dos
objetos existentes no mundo, ou seja, h uma relao extra-lingstica em que se
estabelece a distino referencial entre palavras e coisas.
Essa maneira de explicar os tempos verbais parece bastante simplista e
ingnua, no condizendo com a experincia real do tempo e a ao do falante sobre ele.
O livro de Fiorin mostra o tempo atrelado enunciao e s relaes que cada tempo
tem com o presente, passado e futuro, isto , o tempo inserido em um contexto
discursivo mais prximo da experincia do enunciador.
A forma no referencializada do ensino das categorias de tempo, espao e
pessoa um dos fatores que torna mais difcil e complexa a compreenso dasistematizao dos tempos verbais na lngua francesa.
O enfoque dado nesta pesquisa ao tratamento da categoria de tempo na
enunciao da lngua francesa no tem precedentes, o nico modelo que se conhece o
proposto para a lngua portuguesa, feito por Fiorin. mile Benveniste e Dominique
Maingueneau, estudiosos da anlise do discurso, j trabalharam alguns aspectos da
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enunciao da lngua francesa, a sistematizao de suas categorias, porm, algo que
ainda est por se desenvolver para, assim, auxiliar estudiosos dessa lngua.
Tendo em vista como a semitica francesa concebida, em que a nfase
dada se refere ao sentido e ao processo de significao fundamentados no plano de
contedo e no plano de expresso, esta pesquisa visa descrio do componente
sinttico do nvel discursivo na lngua francesa.
No percurso gerativo de sentido, h trs nveis constituintes do plano de
expresso e cada um deles tem dois componentes: um sinttico e outro semntico. O
sinttico relaciona-se forma de ordenao dos contedos, e o semntico relaciona-se
ao modo como as palavras se compem, onde surgem os contedos investidos na
estrutura sinttica. O componente sinttico do nvel discursivo sistematizado nas
categorias de pessoa, tempo e espao enquanto o semntico apresenta figuras e temas.
Prope-se analisar as implicaes dessa categoria na enunciao discursivada lngua francesa para, assim, depreender de forma mais abrangente e menos arbitrria
a colocao em discurso dos tempos verbais, considerando-os no apenas como
portadores de morfemas de pessoa, modo e nmero, mas como elementos que,
discursivizados, so carregados de mais significao.
Comeamos com a conceitualizao do tempo, fazendo uso das teorias do
bispo e filsofo Santo Agostinho e do filsofo francs Paul Ricur, assim como de
dicionrios de lngua portuguesa e francesa, passamos para um passeio sobre a histria
da Frana e de sua lngua e, ainda, sobre a francofonia. Tambm apresentamos o jornal
Le Monde, utilizado como crpus do trabalho.
Investigamos as relaes de concomitncia e no-concomitncia
(anterioridade e posteridade) nos diferentes momentos de referncia (presente, pretrito,
futuro) associados ao momento da enunciao e ao momento do acontecimento. O
momento da enunciao instaurado pelo discurso e corresponde ao agora, a partir do
qual o tempo determina se anterior ou posterior.
O tempo lingstico pode ser reconhecido em dois sistemas temporais, umrelacionado diretamente enunciao, ao nunc, que o sistema enunciativo e outro
relacionado ao momento de referncia do enunciado, que o sistema enuncivo. Na
primeira, so instalados os marcadores da enunciao eu/aqui/agora, enquanto na
segunda, eles so apagados.
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Analisamos a organizao temporal do verbo em francs, de acordo com as
categorias enunciativas e enuncivas do tempo divididas em sistemas e subsistemas.
Aqui estudamos os tempos enunciativos e enuncivos.
No sistema enunciativo dos verbos em lngua francesa, encontramos os
tempos prsent (concomitante ao momento de referncia), pass compos (anterior ao
momento de referncia) efutur simple(posterior ao momento de referncia).
No sistema enuncivo, temos os tempos dos momentos de referncia pretrito
e futuro, sendo que o primeiro constitudo pelos tempos pass simple, na
concomitncia. Na no-concomitncia, temos os tempos plus-que-parfait, pass
antrieur epass surcompos, no que concerne anterioridade, e o futur du pass (ou
conditionnel prsent) e futur antrieur du pass (ou conditionnel pass) no que
concerne posterioridade. Sendo que, no MR pretrito ainda existe um caso especial, o
tempopass surcompos, um tempo verbal raro hoje em dia.Nesse momento da pesquisa, apresentamos os tempos verbais que, por
alguma razo, podem ser considerados especiais: pass simple, pass antrieur epass
surcompos. Verificamos se esses tempos ainda so considerados pertencentes ao
registro atual da lngua francesa, tendo como referncia o jornal quotidiano de mais
prestgio na Frana,Le Monde.
Em seguida, o discurso direto, isto , a debreagem de segundo grau, e o
discurso indireto e o modo subjuntivo, no que diz respeito concordncia entre os
tempos do modo indicativo e subjuntivo.
Finalmente, adentramos no captulo mais rido, o das neutralizaes verbais,
onde levantamos as hipteses possveis de embreagem em lngua francesa e analisamos
vrias delas. No todas, pois uma grande parte no possvel ou no encontrada. O
fato de no serem encontradas no significa que essas embreagens no existam; algumas
delas realmente so usualmente inviveis na lngua francesa, mas outras hipteses,
embora plausveis, no podem ser ilustradas pelo fato de termos limitado como corpus
apenas o jornal Le Monde e, de acordo com a cena genrica e com o ethos dessequotidiano, algumas neutralizaes desrepeitariam o seu carter, no iriam de encontro
ao que prega o seu ethos.
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1.
O tempo, a lngua e o discurso
O conceito de tempo
O tempo sucessivo porque, tendo sado do eterno,
quer voltar ao eterno. Quer dizer, a idia de futuro
corresponde a nosso desejo de voltar ao princpio. Deus
criou o mundo. E todo o mundo, todo o universo das
criaturas, quer voltar a este manancial eterno que
intemporal, no anterior nem posterior ao tempo, mas
que est fora do tempo.
(Jorge Lus Borges)
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Fernando Pessoa diz que o mito o nada que tudo. Talvez, possamos
estender tal descrio para o tempo.
O tempo uma questo que sempre suscitou o interesse humano; a busca
por sua compreenso no recente e sempre existiu, trata-se de uma preocupao
constante no nosso imaginrio. Tal busca fez despertar, entre diferentes culturas,
diferentes reas e diferentes maneiras de pensar, o gnio de muitos poetas,
antroplogos, filsofos, religiosos, artistas e cientistas, deixando-nos um interessante
legado a respeito desse substantivo, sobre o qual Santo Agostinho declarou: O que
por conseguinte o tempo? Se ningum mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem
me fizer a pergunta, j no sei (Agostinho, 2000:322).
No podemos falar de noes de tempo, no cristianismo especialmente, sem
remeter, mesmo que brevemente, ao bispo e filsofo Aurlio Agostinho ou Santo
Agostinho (354-430) que, em Confisses, se inquiriu, sempre atrelando f e razo, sobrequestes psicolgicas intrnsecas ao ser humano, como o mal, a predestinao, a
liberdade e, tambm, sobre a questo do tempo. Para ele, o tempo representa um
paradoxo fcil de saber e perceber, porm difcil de explicar, pois as concepes de
presente, passado e futuro, no momento da enunciao, no podem ser concretizadas e
explicadas, visto que no tm durao real e mensurvel.
Paul Ricur, ao introduzir seu captulo sobre as aporias do tempo, baseado
no livro XI de Confisses, de Santo Agostinho, diz que no se deve disjungir a noo de
tempo da noo de eternidade e que, todavia, Santo Agostinho s se refere a ela para
marcar a deficincia ontolgica caracterstica do tempo humano (1983:22). Ricur
enfatiza que o estilo de Santo Agostinho, recorrendo a indagaes e aporias, remete ao
estilo platnico e neo-platnico: no h descrio sem discusso (1833:23). O
argumento ctico agostiniano clssico e constata que o tempo no tem ser: o tempo
no , pois o futuro no ainda, o passado no mais e o presente no dura.
Falar do tempo no fcil, pois ele est em tudo, porm, inefvel. Medir o
tempo tambm no uma tarefa fcil. Existem vrios instrumentos para medir o tempo,mas todos j foram passveis de questionamentos; ainda no se resolveu o enigma da
medida do tempo (1983:34). Em geral, a maneira de medi-lo est, em diferentes pocas
e em diferentes regies, ligada a elementos da natureza. A noite, o dia e as fases da lua
so as medidas para definir os dias do calendrio, assim como o movimento de 365 dias
da Terra ao redor do Sol e de 24 horas em torno de seu prprio eixo.
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A contagem do tempo tambm est associada religiosidade e s crenas de
cada sociedade. Uma concepo linear e progressiva do tempo uma caracterstica das
religies chamadas histricas: o judasmo, o cristianismo e o islamismo; so chamadas
histricas porque asseguram a interveno de Deus na histria, num acontecimento
nico e jamais repetido, assim como a existncia de uma meta final de salvao da
humanidade na eternidade. Dessa forma, cada uma dessas religies tem uma diferente
maneira de organizar seu calendrio: para os cristos, o marco o nascimento de Jesus
Cristo e, entre os muulmanos, a fuga de Maom para a Medina. E, se estamos em
2006 no mundo cristo e em 1426 no calendrio islmico, os judeus, que tm como
marco a criao do mundo, segundo suas concepes, esto em 5766 (a partir de
setembro, aps oRosh Hashan).
Como vemos, a forma como marcar, contar e organizar o calendrio e o
tempo varia de acordo com a religio, cultura e ideologia de cada povo ou nao, sendocomplicado chegar a um consenso. Para tentar solucionar essa difcil questo da medida
do tempo, Santo Agostinho lanou a noo do triplo presente: imprprio dizer que os
tempos so trs: pretrito, presente e futuro. Mas talvez fosse prprio dizer que os
tempos so trs: presente das coisas passadas, presente das presentes e presente das
futuras. Existem trs tempos na minha mente que no vejo em outra parte: lembrana
presente das coisas passadas, viso presente das coisas presentes e esperana das coisas
futuras (Agostinho, 2000:328). Essa tese do triplo presente, que prope uma soluo
para o enigma do ser que no possui ser, liga-se tese do distentio animi, distenso do
esprito, que, por sua vez, prope uma soluo para a questo da extenso do tempo, isto
, para o enigma da extenso de uma coisa que no tem extenso (Ricur, ibid:40).
Ricur considera a extenso do tempo um enigma pois parece impossvel medir o
tempo se o tempo no passvel de mesura, j que no tem nem presente, nem passado
e nem futuro, no tem nem comeo, nem meio e nem fim.
Para estudarmos o tempo, interessante relevar a etimologia dessa palavra.
Tempo um significante de muitos significados, podendo ser definido como durao,passado, ciclos, eras, fases, momentos, e utilizado em vrios domnios: da meteorologia,
da msica, do esporte, da gramtica etc.
O primeiro sentido que damos, em geral, para a palavra tempo sua
significao meteorolgica: O tempo est muito bom hoje para irmos piscina. Logo
em seguida, associamos a outras idias, como a expresses que mostram o tempo como
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sinnimo de simultaneidade: Ela quer fazer tudo ao mesmo tempo; de sucessividade:
Nossa, como o tempo tem passado rpido ou, ainda, de durao: No tive tempo de
ler tudo o que deveria.
Os dicionrios podem nos ajudar na definio etimolgica do tempo, pois
eles no s definem os termos, como tambm mostram o que a cultura diz sobre eles. Se
tomarmos alguns dicionrios de lngua portuguesa, podemos verificar qual o conceito
vulgar desses termos, isto , relativo ou pertencente plebe, ao vulgo; popular; que
no foge ordem normal, no se destaca; banal, comum, corriqueiro, ordinrio, usual;
que se sabe; notrio, sabido, segundo o dicionrio Houaiss. A maneira como um povo
traduz e define um signo lingstico est atrelada s coeres discursivas da sociedade
em que vive. Segundo Benveniste,para o falante h, entre a lngua e a realidade,
adequao completa: o signo encobre e comanda a realidade; ele essa realidade
(1988). Portanto, para definir um termo, preciso ir alm, pois ele no definido por sis, mas no contexto cultural e social ao qual pertence.
Vejamos as definies dadas ao vocbulo tempo nos dicionrios Houaiss
eMichaelide lngua portuguesa
O dicionrioHouaissd 17 definies para tempo:
1. durao relativa das coisas que cria no ser humano a idia de presente,
passado e futuro; perodo contnuo e indefinido no qual os eventos se sucedem;
2. determinado perodo considerado em relao aos acontecimentos nele
ocorridos; poca;
3. certo perodo da vida que se distingue de outro;
4. perodo especfico, segundo quem fala, de quem se fala ou sobre quem
se fala;
5. (sXIII) poca na qual se vive;
6. oportunidade para a realizao de alguma coisa;
7.perodo indefinido e geralmente prolongado no futuro;
8. (sXIV) conjunto de condies meteorolgicas;9. (sXIV) poca propcia para certos fenmenos ou atividades; estao,
sazo, quadra;
10 Rubrica: astronomia. Hora em local especfico;
11. Rubrica: esportes. Cada um dos perodos em que se dividem as
partidas de determinados jogos;
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12. Rubrica: esportes. Durao cronometrada de uma corrida;
13. Rubrica: fsica. Dimenso que permite identificar dois eventos que,
caso contrrio, seriam idnticos e que ocorrem no mesmo ponto do espao [smb.:T];
14. Rubrica: gramtica. Categoria verbal que indica o momento em que se
d o fato expresso pelo verbo ou o tempo em que transcorrem [O contedo dessa
categoria varia segundo as lnguas; em portugus, compreende presente, pretrito (ou
passado) e futuro, e suas subdivises.]
15. Rubrica: gramtica. Cada subdiviso da categoria tempo, existente
numa lngua, e seu paradigma prprio;
16. Rubrica: msica. Unidade abstrata de medida do tempo musical, a
partir da qual se estabelecem as relaes rtmicas; pulsao;
17. Rubrica: msica. m.q.andamento('velocidade das pulsaes').
O dicionrioMichaelisd 21 definies para tempo:
1.Medida de durao dos seres sujeitos mudana da sua substncia ou a
mudanas acidentais e sucessivas da sua natureza, apreciveis pelos sentidos orgnicos.
2.Uma poca, um lapso de tempo futuro ou passado.
3.A poca atual.
4.A idade, a antiguidade, um longo lapso de anos.
5.A existncia humana considerada no curso dos anos.
6.poca determinada em que ocorreu um fato ou existiu uma personagem
(com referncia uma hora, a um dia, a um ms ou a qualquer outro perodo).
7. Ocasio prpria para um determinado ato; ensejo, conjuntura,
oportunidade.
8. Sazo, quadra, perodo prprio de certos atos, de certos fenmenos, da
existncia de certas qualidades.
9. Estao, quadra do ano adequada a certas fases da natureza e aos
trabalhos que delas dependem.10.Estado meteorolgico da atmosfera; vento, ar, temperatura.
11.Horas de lazer, horas vagas.
12.Delonga, dilao, prazo.
13.Gram.Flexo que indica o momento de ao dos verbos.
14.Mus.Cada uma das divises do compasso.
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15.Mus.Movimento com que se deve executar um trecho musical e que se
indica por meio de determinadas expresses.
16.Metrif.As diferentes divises do verso, conforme as slabas e os acentos
tnicos.
17.Mec. Quantidade de movimento de um corpo ou sistema de corpos,
medida pelo movimento de outro corpo, supondo-se que os dois movimentos so
proporcionais.
18. Horrio vendido aos patrocinadores, numa emissora de rdio ou
televiso.
19.Esp.Cada um dos dois perodos em que se divide a partida de futebol:
Primeiro tempo, segundo tempo.
20.Inform.Em msica MIDI, velocidade na qual as notas so reproduzidas,
medida em batidas por minuto (geralmente 120 bpm).21.Inform. Num ttulo multimdia, velocidade em que so exibidos os
quadros.
Vejamos, tambm, a definio de tempo no dicionrio francs Le Petit
Larousse Illustr:
Tempsn.m. (lat. tempus)
1. Notion fondamentale conue comme un milieu infini dans lequel se
succdent les vnements et souvent ressentie comme une force agissant sur le monde,
les tres;
2. Astron., Phys. Ce milieu, conu comme une dimension de lUnivers
(espace-temps). Temps atomique international; temps sidral; temps solaire; temps
solaire moyen; temps civil; temps universel; temps universel coordonn;
3. Temps lgal: heure lgale;
4. Phys. a. dure considre comme une quantit mesurable. b. paramtre
permettant de reprer les vnements dans leur succession;5. Chacune des phases successives dune opration, dune action.
6.Mus. Division de la mesure.
7. Inform. Temps daccs: lintervalle de temps qui spare linstant o un
processeur, dans unordinateur, demande une information et celui o la mmoire la lui
fournit.
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8.Temps dantenne: dure dtermine dmissions de radio ou de tlvision
diffuses dans le cadre de la programmation.
9. Sociol. Temps choisi: travail horaire variable.
10.Sports. Dure chronomtre dune course, dune match, etc.
11. Moment, poque occupant une place dtermine dans la suite des
vnements ou caractrise par quelque chose.
12. Fam. Vieilli:faire son temps, son service militaire.
13.Moment favorable telle ou telle action.
14.Ling. Catgorie grammaticale de la localisation dans le temps (prsent,
passe, futur), sexprimant en particulier par la modification des formes verbales;
chacune des sries verbales personnelles de la conjugaison.
15.tat de latmosphre, en un lieu et un moment donns.
Vemos que as definies so semelhantes, sempre havendo consideraessobre o tempo cronolgico, fsico e lingstico. Entretanto, possvel perceber certas
nuances; por exemplo, o tempo fsico bem mais detalhado no dicionrio francs
enquanto os dicionrios de lngua portuguesa atentam mais para o aspecto humano do
tempo, como vemos nos itens 3, 4, 5 de Houaiss, em que menciona perodo da vida,
perodo especfico, segundo quem fala, de quem se fala ou sobre quem se fala, poca na
qual se vive ou nos itens 5 e 6 do Michaellis, em que h citaes sobre a existncia
humana e a existncia da personagem. Tambm importante ressaltar qual o primeiro
item para o dicionrio de lngua francesa e o de lngua portuguesa; ambos iniciam a
definio do termo tempo na sua relao intrnseca com o homem e o universo.
Aquele comea com a noo de infinito no qual se sucedem os acontecimentos e de
influncia sobre o mundo e este inicia focando a ao do tempo sobre o ser humano na
concepo de presente, passado e futuro.
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Tempo e discurso
"-Socrate: Ce n'est pas des mots qu'il faut partir: pour
apprendre et pour chercher le rel c'est du rel lui-
mme qu'il faut partir, bien plutt que des noms -
Cratyle: videmment Socrate".
Cratyle, Socrates
Como j dissemos, ao aprendermos uma lngua estrangeira, tendemos a
considera-la como reflexo e nomenclatura do que existe no mundo. Para Saussure, a
relao deve ser entre imagem acstica e conceito, isto , entre significante e
significado, conceito este diferente daquele de existir simplesmente uma nomenclaturapara as coisas. Por meio da referncia, palavra que vem do latim e quer dizer levar
consigo, a um significante atribudo um significado do mundo extralingstico, real
ou imaginrio, que o referente; essa referncia depende das coeres discursivas de
cada cultura, isto , dos seus valores socioletais e de suas ideologias. Entretanto,
Saussure vai alm da mera referncia, ele atribui maior importncia ao processo de
referencializao, em que as relaes entre enunciador e enunciatrio so consideradas;
pois as intenes persuasivas entre eles, criadoras de tenso no nvel da estrutura da
enunciao, projetam um fazer interpretativo capaz de dimensionar os limites entre a
referencializao e o mundo extralingstico.
Segundo Saussure, como foi dito, o signo lingstico definido pela relao
significante (conceito) e significado (imagem acstica), sendo que no existe relao
necessria entre um e outro. Para ele, a lngua no capaz de designar o mundo de
forma completa e fiel por no existir uma relao proporcional entre palavras e coisas;
isso porque o signo lingstico arbitrrio, ou seja, o signo basta-se por si s e no
existe uma ligao motivada com o significado. Para Benveniste, a arbitrariedade do
signo vem do fato de a realidade ser excluda na definio do signo: O domnio do
arbitrrio fica relegado para fora da compreenso do signo lingstico (1988:35).
Arbitrrio sim, porm necessrio para haver comunicao e interao entre os falantes
de uma mesma lngua, pois ela um sistema. Como diz Kristeva, o arbitrrio do signo
por assim dizer normativo, absoluto, vlido e obrigatrio para todos os sujeitos que
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falam a mesma lngua. A palavra arbitrrio significa mais exatamente imotivado, quer
dizer que no h nenhuma relao natural ou real que ligue o significante e o
significado (1974:26).
A respeito dessa relao entre nomes e coisas podemos citar o dilogo
Crtilo, de Plato (427 - 347 a. C), em que questionado se os nomes ( orthots,
onomatn) so dados s coisas por lhe serem inatos ou por dependerem de convenes.
O dilogo Crtilo considerado, por alguns, a primeira obra de filosofia da
linguagem, visto que trata da complexa tarefa de criao de uma teoria da significao.
O debate dividido entre as posies de Hermgenes e Crtilo. O primeiro
acredita em uma concepo convencionalista da linguagem, em que os nomes so
atribudos livremente pelo falante, a partir de suas sensaes; o segundo exibe uma
concepo naturalista, em que os nomes designam a natureza das coisas. O ponto em
comum nas duas concepes a de um fluir inerente relao entre nome e coisa, sejaporque o fluxo est na multiplicidade e variedade das sensaes, seja porque a prpria
natureza das coisas o constante fluxo.
Crtilo aborda a questo do elo entre significante e significado enquanto
ligao entre o nome e a realidade, discutindo o signo e relacionando o significante
aparente ao significado escondido. Tal relao pode ser natural, se o elo necessrio ou
cultural, se o elo arbitrrio e criado pelo homem.
Se o signo depende de fatores culturais e naturais, essa teoria serve para as
lnguas. Segundo Erik Louis, Plato permite perceber que a origem de cada lngua a
conveno: a escolha efetiva de cada significante revela uma negociao que visa a
estabelecer um signo a partir do conhecimento da coisa significada. Plato introduz
Aristteles e a distino feita por ele de duas origens: a faculdade e a facticidade.
O mesmo fenmeno de desreferencializao da lngua, isto , a negligncia
na relao dos coenunciadores com o mundo extralingstico, fazendo uma simples
relao de referncia entre nomes e coisas, pode ser encontrado na forma como os
tempos verbais, seja em lngua materna, seja em lngua estrangeira, so ensinados nasescolas. Em geral, os tempos verbais so ensinados de forma linear, como sendo o
tempo que passa, sem que sejam referencializados no discurso e na enunciao e sem
interao entre lngua e falante. Os tempos verbais, s vezes, so mostrados em uma
linha do tempo pontilhada em que o passado vem simplesmente antes do presente e o
futuro depois, com o pretrito podendo ter duas representaes: uma para mostrar o
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passado que comeou e acabou em algum momento anterior (pretrito perfeito/pass
compos) e outra para o passado que teve uma durao mais indefinida/
habitual/repetitiva (pretrito imperfeito/ imparfait):
.............
imparfait pass compos prsent futur
Ex: Quand jtaisenfant jai gagnun ours de peluche que jadoreet je le
donnerai mon fils.
Essa maneira de explicar os tempos verbais parece um tanto simples e no
corresponde ao tempo e sua interao com o enunciador.
Sistema, norma e fala
Diacronia e sincronia
Foi o lingista suo Ferdinand Saussure quem criou o termo diachronie,
para opor ao termo j existente synchronie. Vejamos como esses vocbulos so
definidos no dicionrioHouaiss:
- diacronia: descrio de uma lngua ou de uma parte dela ao longo de suahistria, com as mudanas que sofreu; gramtica histrica; lingstica diacrnica; o
conjunto dos fenmenos sociais, culturais etc. que ocorrem e se desenvolvem atravs do
tempo.
fr. diachronie (1916) 'natureza dos fatos lingsticos observados em
sucessivas fases, ao longo do tempo'; voc. criado por Ferdinand de Saussure (1857-
1913, lingista suo) do gr. di 'atravs de' e khrnos 'tempo'; p.ext., tb. us. em outras
reas do conhecimento.
- sincronia: estado ou condio de dois ou mais fenmenos ou fatos
passados ou atuais que ocorrem simultaneamente e so, de certo modo, relacionados
entre si;
- estado de lngua considerado num momento dado, independente da
evoluo histrica dessa lngua Ferdinand de Saussure (1871-1913) frisou a
independncia entre as abordagens sincrnica e diacrnica das lnguas, mostrando que
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possvel abstrair os fatos que antecederam um dado estado de lngua e v-la como um
sistema completo e perfeitamente eficiente em cada etapa da sua histria, que como tal
deve ser descrito pela lingstica sincrnica.
- sncrono + -ia, prov. por infl. do fr. synchronie (1827) 'arte de comparar,
de conciliar as datas da histria, (c1913) na acp. de ling(F. de Saussure)', por oposio a
diacronia, conceitos mais amplamente divulgados a partir de 1916.
Aspectos diacrnicos
Com base em vrios autores de obras de histria da lngua francesa,
fazemos, aqui, um esboo daquilo que o autor quebequense Jean Forest chamou, nottulo de seu livro, de A incrvel aventura da lngua francesa (2002).
Apontamos apenas alguns fatos da histria da Frana e como eles afetaram a
lngua, no um estudo profundo e exaustivo, mas apenas ilustrativo, visto que no se
trata de uma pesquisa de lingstica histrica.
Antes da chegada dos romanos, no comeo da era do ferro (sculos 8 e 6 a.
C), a civilizao celta, originria do que hoje o sul da Alemanha, e o nordeste da
Frana, se implantou na ustria, no leste da Frana, na Espanha e na Gr-Bretanha.
Entre os anos 1000 e 500 antes de nossa era, a Itlia era habitada por trs
povos diferentes: os etruscos, ao norte de Roma, os gregos ao sul e um grande nmero
de etnias latinas. Os etruscos fundaram Roma em 753 e os celtas da Itlia foram
submetidos aos que se tornariam os romanos; a Glia (a maior parte do sul da Frana)
foi submetida a Jlio Csar e a maior parte da Bretanha dominao romana no sculo I
de nossa era. Depois de 800 anos de Guerra, Roma construiu um imprio imenso que,
em 286, foi dividido em imprio latino, no oriente, e imprio grego, administrado por
Constantinopla, no ocidente. Os romanos transformaram profundamente os povosconquistados e simplesmente ignoraram suas lnguas brbaras, impondo o latim. Os
brbaros que quisessem conquistar postos importantes deveriam sabe-lo.
Durante todo o imprio romano, houve um grande perodo de bilingismo,
do latim ao lado de lnguas como o celta, o grego e o germnico. No sculo 5, o
unilingismo latino foi atingido e as lnguas celtas desapareceram. Roma garantiu
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autonomia lingstica e administrativa a alguns povos, em troca de ajuda na defesa
militar, por isso, gauleses, judeus, bascos, bretes, armnios, albaneses e berberes
puderam conservar suas lnguas como instrumento veicular.
Esse latim falado por todos se distanciou do clssico do sculo I e foi
desenvolvida uma variante popular e esta triunfou sobre aquele.
Desde o fim do sculo III, os imperadores romanos passaram a acolher
germnicos como soldados para seu exrcito j que os romanos no se interessavam
pela guerra. Esses romanos ganharam terras, fundaram reinos e o latim falado nessas
regies transformou-se ainda mais.
Em 375, ocorre o que os romanos chamaram de invases brbaras, isto ,
o choque entre Hunos, provenientes da Hungria, e Ostrogodos germnicos, marcando o
inicio das grandes invases e o comeo do dislocamento do imprio romano. Em 395,
ele dividido em imprio romano do oriente e imprio romano do ocidente. Aps tervencido os ostrogodos, os hunos atacaram godos, visigodos, vndalos, francos, saxes e
todos esses povos foram deslocados para o imprio romano do ocidente. Ao fim do
sculo V, o imprio romano do ocidente j havia desaparecido, sendo substitudo por
vrios imprios germnicos. O imprio romano do oriente sobrevive at 1453. No
ocidente, os ostrogodos se instalaram na Itlia, Sardenha e Iugoslvia; os visigodos
ocuparam a Espanha e o sul da Frana; os francos, o norte da Frana e da Germnia, os
anglos e os saxes atravessaram at a Gr-Bretanha, depois de expulsar os celtas, e os
vndalos conquistaram o norte da frica.
O esfacelamento do imprio romano do ocidente tem conseqncias no
aspecto lingstico, o latim popular acompanha esse esfacelamento do imprio e passa a
apresentar muitas variaes, dependendo da regio. A situao lingstica era bem
complexa no sculo VII e as lnguas germnicas tornaram indispensveis para os povos
que quisessem ocupar um papel importante na poltica; o latim no era mais utilizado na
lngua escrita e as pessoas no o falavam mais. Comearam a falar uma lngua que no
era mais o latim, mas ainda no era francs, italiano, espanhol, portugues, romeno oucatalo, era o roman(romnico).
Essa lngua tinha muitas variaes, de acordo com cada regio; cada pas
tinha dezenas de variantes. Na Frana, por exemplo, havia francien, picard, lorrain,
normand, berrichon, champenois, franc-comtois, bourguignon, bourbonnais,
tourangeau, angevin, poitevin, saintongeaisetc.
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Para ilustrar, apresentamos um mapa da Frana onde se pode visualizar
esses diferentes dialetos:
Se comparado ao espanhol ou ao italiano, o francs se distanciou mais do
latim, devido ao contato com as lnguas germnicas, principalmente o francique
(frncico), que se tornou a lngua da aristocracia franca.
No sculo X, sem conseguir expulsar os vikings, provenientes da
Escandinvia, o rei da Frana, Carlos III, o simples, lhes ofertou uma regio inteira, a
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Normandia. L, eles se casaram com mulheres da regio e, gradualmente, perderam sua
lngua escandinava, acabando por assimilar a lngua romana falada nessa regio, o
normando.
A lngua evolua livremente e cada vila falava um dialeto diferente. O que se
chama hoje francs antigo corresponde a um grande nmero de variantes lingsticas,
geralmente orais, no normalizadas e no codificadas. Esses dialetos se dividiam em
trs grupos: as lnguas doc no norte, as lnguas dol no sul e o franco-provenal na
Franche-Comt, Savoie, Val-d'Aoste (Itlia) e na atual Sua. Eram falados, nessa
poca, cerca de 600 dialetos e somente os letrados sabiam latim.
No sculo X, o francs, associado freqentemente ao francien (a palavra
francienfoi criada em 1889 pelo fillogo Gaston Paris para se referir ao francs da le-
de-France do sculo XIII, por oposio aopicard, normand, bourguignon, poitevin etc)
ocupava somente um pequeno territrio entre as lnguas dol e s era falado em Paris eOrleans, nas camadas superiores da sociedade. Os reis, entretanto, ainda falavam a
lngua germnica frncico.
Em 987, Hugo Capeto foi coroado rei da Frana e foi o primeiro rei a
utilizar, como lngua materna, no o latim, nem o frncico, mas a lngua que viria a ser
o francs, o franois. Os capecianos fixaram-se em Paris e, em 1119, o rei Lus VI
escreveu uma carta ao Papa Calixto II, onde a palavra France aparece pela primeira
vez e nela se proclama rei da Frana, no mais dos francos, e filho da Igreja romana.
A existncia de uma sede estvel em Paris deu mais prestgio ao dialeto do senhor e a
aristocracia e a burguesia passaram a tambm utilizar o francien. Com Lus XI, a
unificao lingstica ganhou fora e, progressivamente, substituiu as outras lnguas
dol.Ao fim de seu reino, Lus XI era o mais poderoso monarca da Europa, fato que
assegurou ainda mais prestigio a sua lngua, que passou a ser chamada francs. No
sculo XII, os escritores passaram a utilizar o francs e a administrao real o utiliza ao
lado do latim. Ao fim do sculo XIII, escrevia-se em francs na Itlia, na Inglaterra, na
Alemanha e nos pases baixos. O latim permanecia a lngua dos cultos, do clero, dascincias, da filosofia e das instituies educacionais, isto , era a lngua veicular em
todo o mundo catlico.
Nos sculos XIV e XV, a Frana viveu um perodo negro, sendo um dos
perodos mais crticos tambm na histria do mundo, devido s guerras civis, s pestes,
Guerra de Cem Anos, queda do imprio romano oriental, ao desprestgio da Igreja e
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misria generalizada. No que concerne lngua, ela est em plena mudana e essa
poca marca a transio do francs antigo ao francs moderno.
Com Felipe, o Belo (1268-1314), o francs passou a ser empregado pelos
atos oficiais, pelos chanceleres reais e pelos parlamentos e, em 1300, torna-se uma
lngua administrativa e judiciria, concorrendo com o latim.
A Guerra de Cem Anos fez nascer, tanto nos franceses quanto nos ingleses,
um nacionalismo muito forte e, em 1383, o francs substitudo pelo ingls no
Parlamento de Londres. Henrique V o primeiro rei a utilizar o ingls nos documentos
oficiais, porm o francs ainda falado na corte, pois a maior parte das rainhas da
Inglaterra francesa.
Durante o perodo de 1789-1870, marcado por mudanas de regime e pelo
triunfo da burguesia, iniciados com a Revoluo francesa, o poder da Inglaterra
expandia-se, a Bulgria, a Grcia, a Blgica conquistavam a independncia e a Itlia e aAlemanha unificavam-se. Junto a todas essas mudanas, ainda houve os progressos no
transporte e na comunicao (navegao a vapor, telefone etc), que facilitaram a
unificao lingstica, assim como a influncia de uma lngua sobre outra. Os ideais de
patriotismo da Revoluo influenciaram o interesse por uma lngua nica, simbolizando
a nao e, tambm, para que as idias dos revolucionrios pudessem ser transmitidas e
compreendidas uniformemente. Alm do mais, a existncia de inmerospatoistambm
no era coerente ao ideal de igualdade da Revoluo, pois os cidados que no falavam
a lngua do rei eram discriminados. Uma sociedade verdadeiramente livre devia ter uma
lngua nacional, acessvel a todos.
Com a lei do II Termidor (20 de julho de 1794), foi decretado o terror
lingstico e os patois, uma ameaa unidade desejada pelos revolucionrios,
passaram a ser o principal alvo. De acordo com essa lei, todo ato pblico no territrio da
Repblica devia ser escrito e pronunciado em lngua francesa.
Aspectos sincrnicos
Aps essa viso panormica e diacrnica da histria da lngua francesa,
passemos a uma viso sincrnica, tendo em vista a francofonia. O que aqui dito tem
como base estudos francfonos da Universidade Laval, em Qubec.
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Ainda hoje, so falados, ao lado da lngua francesa, alguns dialetos. As
lnguas da Frana metropolitana so o basco, breto, alemo, flamengo, corsa, ocitano,
catalo, franco provenal e outras menos representativas.
Nos DOM-TOM, departamentos e territrios de alm mar, como Martinica,
Guadalupe, Guiana, Reunio, Haiti, Santa Lcia, Seichelas, Maurcio, so falados
crioulos com base na lngua francesa
Como dizia o jornalista Bertrand Barre j em 1794, o federalismo e a
superstio falam baixo breto; a emigraao e o dio da Repblica falam alemo; a
contra-revoluo fala italiano e o fanatismo fala basco. (fonte:
http://site.voila.fr/HISTOPRESSE1/page8.html)
O termo francofonia foi empregado pela primeira vez em 1880 pelo
gegrafo francs Onsime Reclus. Hoje, francofonia, com f minsculo, utilizado
para nomear os povos ou grupos de locutores que fazem uso parcial ou integral dalngua francesa em suas vidas cotidianas e em suas comunicaes; j o termo
Francofonia, com f maisculo, designa os governos que usam o francs em seus
trabalhos e negociaes.
Os membros da Francofonia so aqueles que fazem parte dos Sommets
francfonos.
A noo de francs lngua materna s aplicada aos que o falam na Frana,
na Blgica, na Sua, no Canad e no principado de Mnaco.
Com o estatuto de lngua oficial ou co-oficial em 51 estados e 34 pases, o
francs a segunda lngua do mundo sob o plano de importncia poltica. Na Europa, o
Francs a nica lngua oficial na Frana, no principado de Mnaco e no gro ducado
de Luxemburgo. Na frica, a nica lngua oficial no Benin, na Burkina Faso, na
Repblica Centro-Africana, no Congo-Brazzaville, no Congo-Kinshasa, na Costa do
Marfim, no Gabo, na Guin, no Mali, na Nigria, na Reunio, no Senegal e no Togo.
Na Amrica, o francs conserva esse estatuto nos DOM (Departamentos de alm mar):
Martinica e Guadalupe, Saint-Pierre-e-Miquelon e Guiana francesa. Na Oceania, alngua francesa goza desse estatuto nos TOM (Territrios de alm mar): Nova-
Calednia, Polinsia francesa, ilhas Wallis e Futuna.
J com o estatuto de lngua no-oficial, encontramos Blgica, Sua, Canad,
Haiti, Burundi, Camares, Comores, Djibouti, Guin equatorial, Madagascar,
Mauritnia, Ruanda, Seichelas e Tchad.
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O estatuto jurdico do francs se estende ainda a vrios pases no soberanos,
sendo lngua oficial na provncia de Qubec, nos cantes suos de Genebra, Neuchtel,
Jura e Vaud e lngua no-oficial nos cantes suos de Friburgo, Valais e Berna, na
provncia do Novo-Brunswick, nos Territrios do Nordeste do Canad, no Val-d'Aoste
na Itlia e no territrio autnomo de Pondichry, na ndia.
Vejamos, a ttulo de ilustrao, um quadro em que figuram os estados onde o
francs lngua oficial ou co-oficial:
tats: 51Pays: 29 Continents Population(enmillions)
Locuteursfranais(en %)
Langue(s) officielle(s)
Belgique Europe 10,0 41 % franais/nerlandais/allemandBnin Afrique 5,5 13 % franaisBerne (Suisse) Europe 942 000 8,1 % franais/allemandBurkina Faso Afrique 10,3 4,7 % franaisBurundi Afrique 6,2 4 % franais/kirundiCameroun Afrique 12,8 67 % franais/anglaisCanada Amrique 29,9 23,2 % anglais/franaisCentrafrique Afrique 3,4 3,7 % franais
Comores Afrique 600 000 0,3 % franais/arabeCongo-Brazzaville
Afrique 2,3 1,2 % franais
Congo-Kinshasa
Afrique 41,8 6 % franais/anglais
Cte d'Ivoire Afrique 12,9 1 % franaisDjibouti Afrique 473 000 2,8 % arabe/franaisFrance Europe 57,2 82 % franaisFribourg(Suisse)
Europe 227 866 61 % franais/allemand
Gabon Afrique 1,3 6 % franais
Genve(Suisse)
Europe 398 900 96 % franais
Guadeloupe(F)
Amrique 421 632 4 % franais
Guine Afrique 7,8 2 % franaisGuyanefranaise
Amrique 150 000 60 % franais
Hati Amrique 7,1 1,5 % franais/crole
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Jura (Suisse) Europe 69 000 100 % franaisLuxembourg Europe 384 000 4,1 % franaisMadagascar Afrique 14,6 1 % malgache (franais)Mali Afrique 10,8 0,01 % franaisMauritanie Afrique 2,3 2,6 % arabe/franaisMayotte(France)
Afrique 135 000 0,01 % franais
Monaco Europe 27 063 100 % franaisNeuchtel(Suisse)
Europe 160 000 58 % franais
Niger Afrique 8,3 8,9 % franaisNouveau-Brunswick (C)
Amrique 729 625 32,8 % anglais/franais
Nlle-Caldonie (F)
Pacifique 196 000 37 % franais
Nunavut (C) Amrique 25 000 2 %anglais/franais/inuktitut/inuinnaqtun
Polynsie
franaise (F) Pacifique 219 521 5 % franaisPondichry(Inde)
Asie 40 000 10 % hindi/franais
Qubec (C) Amrique 7,0 80,9 % franaisRunion (F) Afrique 675 000 0,3 % franaisRwanda Afrique 8,5 5% kinyarwanda/franaisSngal Afrique 8,4 7,4 % franaisSeychelles Afrique 79 000 0,10 % anglais/franais/croleSuisse Europe 6,5 18,4 allemand/franais/italienTchad Afrique 6,4 6 % arabe/franaisTerritoires duNord-Ouest(C)
Amrique 0,04 2 % anglais/franais
Togo Afrique 4,1 2,4 % franaisVal d'Aoste(Italie)
Europe 115 000 65 % italien/franais
Valais (Suisse) Europe 270 000 60 % franais/allemandVanuatu Pacifique 191 000 3,8 % anglais/franais/bichlamarVaud (Suisse) Europe 611 600 95 % franaisWallis-et-Futuna (F)
Pacifique 14 166 0,75 % franais
Fonte: http://www.tlfq.ulaval.ca/axl/francophonie/francophonie_tableau1.htm
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Le monde
Escolhemos o jornal Le Monde como crpus, por ser um meio de
comunicao representativo no registro da norma urbana culta da lngua francesa e ser
considerado um quotidien de rfrence; alm de ser um jornal que se esfora em
manter a norma culta da lngua.
Seguimos, ento, com a apresentao e explicao do corpus desse trabalho,
o jornal Le Monde. Partimos de uma apresentao formal, passamos pela sua histria,
do surgimento aos dias de hoje e chegamos a depreenso de seu ethos, isto , suamaneira de se posicionar no mundo. A fonte para a maioria das informaes aqui
apresentadas o stio http://fr.wikipedia.org/wiki/Le_Monde.
Apresentao
Pays FranceLangue FranaisPriodicit QuotidienGenre Presse nationaleDiffusion 371 000 ex.Date de fondation 1944Ville d'dition ParisDirecteur de la rdactionRdacteur en chef Grard CourtoisPropritaire
Site Web www.lemonde.fr ISSN 0395-2037
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Le monde conquistou o ttulo de jornal de referncia na imprensa
quotidiana francesa. Essa reputao se deve a varios fatores, tais como: o grande
nmero de leitores, no s na Frana, mas em vrios pases francfonos e mesmo em
outros pases, seja via jornal impresso, seja via internet (desde 1995), o que fez
aumentar ainda mais o seu alcance; a coerncia interna entre seus jornalistas na feitura
dos editoriais; a linguagem refinada, clssica, sem muitos modismos, mas que, ao
mesmo tempo, tem a adeso de diversos tipos de leitores, pois no chega a ser
exclusivista; o designer elegante e agradvel; a qualidade de sua equipe: jornalistas
reprteres, desenhistas etc. Embora receba contribuies de indstrias e mercados
financeiros, aos quais o jornal deve prestar contas, ainda existe uma grande orientao
centro esquerdista em sua produo.
Para ilustrar porque considerado o jornal de referncia, um dos itens aser destacado o imenso alcance de Le monde. Vejamos um quadro ilustrativo com
tiragem de alguns dos mais importantes quotidianos franceses, nos ltimos anos:
Fonte: OJD (Office de justification de la diffusion) de 1999 a 2004.
Titre 1999 2000 2001 2002 2003 2004Aujourdhui en France* 479 112 486 145 506 610 509 114 505 419 501 492
La Croix 86 400 86 574 87 891 92 873 94 929 96 312
Les chos 122 999 128 342 127 445 120 333 116 903 116 856L'quipe 386 189 397 898 370 661 331 638 336 533 365 752
Le Figaro 366 690 360 909 366 529 359 108 352 706 341 075
L'Humanit ? 50 097 47 051 46 126 48 175 48 966
Libration 169 427 169 011 171 551 164 286 158 115 146 055
Le Monde 390 840 392 772 405 983 407 085 389 249 371 803
La Tribune 85 885 90 918 87 577 82 042 80 459 80 846
* : Les diffusions du Parisienet dAujourd'hui en Francesont couples. Attention, il arrive quele premier soit considr comme un quotidien rgional et le second comme un quotidiennational.
Suplementos existentes emLe monde:
- Le mondeconomie(s segundas-feiras) ;
- Le monde des livres(s quintas-feiras) ;
- Le monde2 era mensal e se tornou suplemento semanal na edio de fim
de semana ( venda s sextas-feiras) ;
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- Le monde Radio TV : programao do rdio e da televiso para toda a
semana ( venda aos sbados) ;
- New York Times, artigos surgidos no jornal estado-unidense, publicado
em ingls (aos fins de semana, junto aoLe monde2).
A partir de 2004, Le monde passou a produzir colees sobre temas
culturais a serem vendidas com as edies Le monde2 e Le monde Radio TV, tais
como :
- Le cinma du Monde (coleo ecltica de DVD)
- Le muse du Monde (coleo de livros de arte)
Ao lado de Le monde , h vrias outras publicaes cuja linha editorial
independente do quotidiano :- Le monde de lducation ;
- Le monde des ados ;
- Le mondede la musique et Le monde des philatlistes (1951), que no
fazem mais parte do grupo ; o ltimo passou a ser Timbres magazine
(2000) ;
- Le monde initiative et Le monde des dbats (no existem mais).
No seio do grupo La vie le monde, no que concerne o plo magazine,
constitudo por:
- Courier international;
- La vie (temtica crist);
- Tlrama (programa de televises, semanrio cultural de referncia);
- Cahier du cinema.
Le monde, ainda, acionrio majoritrio do quotidiano Midi Libre e
tambm possui 51% do mensal Le monde diplomatique, cuja linha editorial
totalmente independente. Le monde diplomatique tambm edita o bimestral Manire de voir e anualmente o Atlas du monde diplomatique.
Desde 1954, Le monde diplomatique analisa as grandes apostas
econmicas, estratgias, polticas e sociais ; trata-se de um jornal engajado ao servio da
informao escrupulosa, privilegiando as enquetes e as anlises com numerosos
especialistas dos pases em questo, alm de dar relevante espao cartografia.
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Histria
O quotidiano francs Le monde foi fundado em 1944 pelo jornalista e ex-
professor de direito em Praga, Hubert Beuve-Mry (1902-1989).Em 1940, Hubert Beuve-Mry era Diretor dos Estudos, nas atividades da
Ecole dUriage, escola criada com apoio do regime de Vichy; em 1942, ela fechada
e muitos de seus contribuidores se engajam no movimento da Resistncia e, em 1944, o
general de Gaulle o chama para criar, com a ajuda do governo francs, um quotidiano
de referncia que substitua o extintoLe Temps. Le Monde mantm a mesma tipografia,
o mesmo formato e a mesma apresentao deLe Temps; atualmente esse o nome de
um quotidiano suo, editado em Genebra e surgido em 1998.
Hubert Beuve-Mry mantm-se diretor deLe mondeat sua aposentadoria,
em 1969, publicando seus editoriais sob o pseudnimo Sirius. A primeira edio de
Le monde foi editada no dia 18 de dezembro de 1944, aparecendo no dia 19.
Le monde passa por agitados e conflituosos momentos histricos, como a
guerra da Arglia, as guerras pelo movimento de Libertao, a guerra do Vietnan.
A partir de 1985, a primeira pgina (la une) passou a ser ilustrada com uma
caricatura feita, normalmente, pelo desenhista Plantu (1951), cujos desenhos satricos j
renderam vrias polmicas.Meio sculo depois de sua criao, em 19 de dezembro de 1995, Le monde
passa a apresentar parte de seu contedo na internet, uma parte importante de seu
contedo textual dirio passar a ser disponvel gratuitamente aos internautas de todo o
mundo.
No dia 07 de novembro de 2005, Le monde passa a apresentar uma nova
roupagem, propondo mudanas profundas em sua arquitetura; passa a ter mais
imagens (fotos, desenhos, infografias) e proporcionar uma leitura, digamos, maisarejada. Tais mudanas tiveram como motivao a hierarquizao de informaes mais
complexas, proporcionando as chaves necessrias para a compreenso da atualidade, e
do engendramento de fatos que explicam tambm os acontecimentos futuros, e a
instaurao de um elo de proximidade entre o leitor e o seu jornal. Essas mudanas
correspodem s trs novas partes que dividem o jornal: "actualit" (informaes do
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dia), "dcryptages" (atualidade durvel) et "rendez-vous" (com o leitor). A pgina 3 do
jornal passa a dedicar, todos os dias, uma coluna sobre um determinado tema, isto , um
dossier sobre todo tipo de informao, buscando alcanar os mais variados tipos de
leitor.
Ethos
Na introduo ao seu livro O estilo nos textos, a lingista Norma Discini
define estilo:
O estilo o homem, se pensarmos na imagem de um sujeito, construda
por uma totalidade de textos que se firma em uma unidade de sentido. O
estilo o homem, se pensarmos em um indivduo que, com corpo, voz e
carter, construo do prprio discurso. O estilo o homem, se
pensarmos na imagem de um sujeito que, depreendida dos textos, supe
saberes, quereres, poderes e deveres ditados por valores e crenas
sociais; um eu fundado no dilogo com o outro. O estilo o homem, se,
para homem, for pensado um modo prprio de presena no mundo: um
ethos (2003:07).
Cada jornal faz e apresenta a construo de seu discurso e de sua concepo
de mundo, que so criadas na prpria percepo constitutiva do outro. Isso quer dizer
que, para a construo do prprio estilo do jornal, necessria a interao com seu
enunciatrio, o leitor, cabendo aqui, o termo usado por Maingueneau, o co-enunciador;
pois baseado na imagem do leitor a ser atingido que o sujeito da enunciao do jornal
deve construir o seu discurso para, dessa forma, conseguir a adeso de seu enunciatrio.
A todo ato de comunicao, est intrnseca a manipulao e o sujeito da
enunciao, para ser efetivo, deve buscar a interao e integrao do co-enunciador para
persuadi-lo e convence-lo. Para isso o ethos deLe Mondefaz uso de vrias estratgias,
no plano do contedo e no plano de expresso, para vender uma boa, crvel e
convincente imagem, capazes de causar uma boa impresso no seu co-enunciador,
conquistando sua confiana e conivncia. Para que a performance seja realizada e seu
enunciado seja considerado legtimo, o ethos deve adequar a cena da enunciao aos
seus propsitos e segundo o seu auditrio. Assim sendo, o sujeito da enunciao deLe
Monde incorpora um co-enunciador moderado, culto (ou que deseja ser e parecer
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culto), de bom domnio da norma culta da lngua. dessa forma que o garant, termo
utilizado por Maingueneau para nomear o sujeito da enunciao nessa relao de adeso
do leitor, mostra sua identidade e capaz de convencer e fazer crer o seu co-enunciador.
Assim sendo, a cenografia de Le Mondepermite construir tanto o ethos do
jornal quanto o perfil do seu leitor, j que os jornais apresentam-se da forma como
acreditam ser a mais apropriada para corresponder s expectativas do leitor. O ethosde
Le Monde, preocupado com a relao tensa e no adeso do co-enunciador, deseja criar
um efeito de pluralidade e polifonia, pois nenhum jornal quer perder leitores, buscando
a adeso do mais amplo pblico. O garant do jornal, enquanto responsvel pela
imagem e pela cenografia que passa aos respectivos coenunciadores, busca a conivncia
do leitor e deve ser fiel a essa cumplicidade, com seu estilo prprio.
Le Mondeapresenta o mundo por meio da discursivizao de um ethoscujo
ideal de voz de concentrao, fixidez e densidade, na verdade, no vai de encontro auma indiscriminada pluralidade de leitores, pois existe um invisvel crivo para a
incorporao do leitor, isto , o jornal visa a um pblico de senso crtico, de poder de
argumentao e de domnio da norma culta da lngua e do estilo srio e refinado de Le
Monde.
Vrias so as estratgias deLe Mondepara convencer o enunciatrio de seu
ethosde seriedade e credibilidade, assim como, de refinamento e busca da perfeio. A
perfrmance buscada pelo discurso de Le Monde convencer o co-enunciador da
objetividade, seriedade, refinamento e comprometimento caracterizadores de seu ethos
eufemstico, de corpo seletivo, cuja voz amena e sbria no refinamento do seu dizer.
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2.Os sistemas temporais
Como o tempo, ainda mais sem corpo,
pode trabalhar suas verrumas?
E se o seu corpo nada,
onde que as dissimula?
Ora, como mais que o vento oco,
e sua carne de nada, nula,
no agride a paisagem:
de dentro que atua.
(Joo Cabral de Melo Neto)
A semitica a teoria que busca mostrar como a significao constituda e
organizada e o modo pelo qual o objeto de estudo se manifesta em qualquer linguagem:
pintura, cinema, dana, msica, escultura, arquitetura, moda. Trata-se, ento, de uma
cincia mais geral que a lingstica, pois transcende a linguagem verbal, estudando
todas as outras linguagens.Dessa forma, a semitica torna-se um estudo imanente do texto conhecendo
os seus mecanismos internos e produtores de coerncia, assim como sua organizao de
sentido. Para Saussure, o sentido construdo na linguagem e produz uma viso de
mundo, e essa linguagem no mero reflexo de um mundo extra-lingstico.
Tratamos, aqui, da semitica francesa, que compreende a manifestao
como uma totalidade de sentido e, para que esse sentido seja construdo, a semitica
define o percurso gerativo do sentido. Esse percurso caminha do mais simples e
abstrato ao mais complexo e concreto e constitudo de trs etapas: a mais simples e
abstrata, o nvel fundamental; em seguida, o nvel narrativo e, em ltimo lugar, o nvel
discursivo, o mais concreto. Todos os nveis apresentam uma semnticae uma sintaxe
e, juntos, constituem o plano de contedo que, no nvel da manifestao, ou seja, no
texto, constituir oplano da expresso.
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No plano das estruturas fundamentais, a significao concebida como uma
oposio semntica mnima, por meio da qual o sentido comea a ser formado. Essa
oposio articula-se no quadrado semitico determinando as relaes fundamentais que
geram o sentido e os valores inscritos no discurso.
O nvel das estruturas narrativas organiza, a partir do ponto de vista de um
sujeito, as oposies semnticas por ele assumidas. Esse sujeito chamado sujeito
operadorou sujeito do fazere pode transformar estados, ou seja, estabelecer as relaes
juntivas (de conjuno ou disjuno) entre sujeito de estado e objeto de valor. Esse
objeto de valor so os valores do nvel fundamental convertidos, nesse nvel no h
mais a negao ou a afirmao de contedos, mas sim a transformao daquelas
oposies semnticas fundamentais em objetos de valor por meio da ao do sujeito.
A narratividade constituda por uma sucesso de estados em que os
sujeitos estabelecem relaes juntivas com os objetos e transformaes, por aquisioou privao desses objetos, que levam produo do sentido. Essas relaes juntivas
podem aparecer como conjuno, em que o sujeito est conjunto com o objeto de valor,
sendo um sujeito realizado; disjuno, em que o sujeito est disjunto do objeto de valor
e virtualizado; no-conjuno, em que o sujeito potencializado e no-disjuno, em
que o sujeito atualizado.
Ainda para definir a narratividade, podemos citar Denis Bertrand, que diz
existir narrativa desde que dois enunciados de estado sejam regidos e tranformados por
um ou mais enunciados de fazer (2003: 284). Assim, o nvel das estruturas narrativas
organiza a narrativa do ponto de vista de um sujeito, e as oposies semnticas do nvel
fundamental so assumidas por esse sujeito do fazer, que pode transformar os estados.
Um programa narrativo representa um enunciado de fazer, que rege um
enunciado de estado, integrando estados e transformaes, podendo ser de duas
naturezas: perfrmance e competncia. No programa narrativo de perfrmance, existeuma aquisio ou construo do objeto de valor sendo que o sujeito do fazer (S1) e o
sujeito de estado (S2) so sincretizados em um mesmo ator da narrativa. No programa
narrativo de competncia, existe uma doao de valores modais (querer, dever, saber e
poder fazer ou ser) ao sujeito de estado tornando-o competente para agir e vivenciar sua
paixes e aes.
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O sujeito do fazer, imbudo da competncia necessria ou no, pode, ento,
realizar dois programas narrativos, de acordo com a relao que ele determina entre o
sujeito de estado e o objeto de valor, lembrando que sujeito de estado e sujeito de fazer
podem representar o mesmo actante. O esquema de um programa narrativo pode ser
assim construdo:
a) em uma narrativa de aquisio:
PN= S16(S2 Ov) 6PN= S16(S2 1Ov)
b) em uma narrativa de privao:
PN= S16(S2 1Ov) 6PN= S16(S2 Ov)
E, finalmente, chegamos ao nvel discursivo, em cuja dimenso sinttica, a
categoria de tempo, tema desta dissertao, est inserida, ao lado das categorias de
pessoa e espao. Aqui estudamos a lngua francesa, mas vlido lembrar que todas aslnguas apresentam as categorias da enunciao (pessoa, espao e tempo), pois se trata
de uma caracterstica intrnseca a qualquer linguagem, seja verbal, seja no-verbal.
O ltimo nvel, o das estruturas discursivas, o mais concreto e complexo;
nesse nvel, os valores axiologizados no nvel fundamental e incorporados no nvel
narrativo so convertidos no plano de contedo, formando o nvel smio-narrativo, e
concretizados no enunciado. Nele, examinamos as categorias de tempo, espao e
pessoa, na dimenso sinttica, e as oposies fundamentais assumidas como valores
narrativos e que sero desenvolvidas, na dimenso semntica, sob a forma de temas,
podendo concretizar-se por meio de figuras. Enfim, o nvel discursivo onde os
esquemas narrativos so retomados por um sujeito da enunciao que, discursivizando
as estruturas smio-narrativas, faz determinadas escolhas de pessoa, tempo, espao,
temas e figuras para, atravs de uma iluso de realidade, fazer crer o enunciatrio.
Os procedimentos de discursivizao - chamados a se constiturem numa
sintaxe discursiva - tm em comum poderem ser definidos como autilizao das operaes de debreagem e embreagem a ligarem-se assim
instncia da enunciao. Dividir-se-o em pelo menos trs
subcomponentes: actorializao, temporalizao e espacializao, que tm
por efeito produzir um dispositivo de atores e um quadro ao mesmo tempo
temporal e espacial, onde se inscrevero os programas narrativos
provenientes das estruturas narrativas (Greimas e Courts, 1979).
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Na dimenso sinttica do nvel discursivo, analisam-se as projees da
enunciao no enunciado e os meios pelos quais o enunciador persuade e convence o
seu enunciatrio; essas projees dizem respeito s categorias de pessoa, espao e
tempo.
Vemos, assim, que a abordagem dada ao tempo neste trabalho, assim como
Fiorin fez em As astcias da enunciao, lingstica. Segundo Benveniste, o tempo
pode ser abordado de trs maneiras diferentes: lingstico, fsico e cronolgico (1988).
O tempo fsico o tempo do mundo e medido a partir dos movimentos dos astros, nele
so instaurados os marcos temporais. O tempo cronolgico, ou crnico, o tempo do
calendrio, no qual se desenvolvem os acontecimentos na vida do homem; por meio do
tempo crnico, possvel lembrar do passado e projetar o futuro, enquanto a vida e o
tempo passam, e seguem sempre em frente. O tempo lingstico aquele que, ligado aomomento da fala, se constitui no ato do dizer e reconstrudo em cada ato de
enunciao.
O tempo lingstico, diferentemente dos tempos fsico e cronolgico, leva
em considerao o enunciador e o enunciatrio, e suas relaes enquanto
coenunciadores na construo da enunciao. A enunciao o ato de dizer, o ato
produtor do enunciado, sendo pressuposto pela existncia do prprio enunciado. Como
diz Benveniste, a enunciao a instncia de mediao entre o sistema social da lngua
e sua assuno por um indivduo na relao com o outro por meio da fala. O aparelho
formal da enunciao constitudo pelas categorias de pessoa, espao e tempo cujas
coordenadas so o EGO/ HIC/NUNC, ou seja, oeu(que pressupe o tu) no espao do
aqui e no tempo do agora e, assim, por meio de um ato individual de utilizao, a
enunciao coloca a lngua em funcionamento. A enunciao pressupe a existncia da
dupla enuciativa eu/tu, ou seja, no existe enunciao sem que haja enunciador e
enunciatrio.
Em As astcias da enunciao, Jos Luiz Fiorin baseia-se nesse tempolingstico e o seu modelo utilizado aqui. Seguindo esse modelo, analisamos como
ocorre a apresentao da categoria de tempo enquanto referncia no discurso. Ao falar
de tempo lingstico, preciso considerar as suas relaes intrnsecas de anterioridade e
posterioridade. Como diz Fiorin:
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O momento dos acontecimentos (estados e transformaes) ordenado
em relao aos diferentes momentos de referncia. Faz-se essa
ordenao aplicando-se a categoria topolgica concomitncia vs no-
concomitncia (anterioridade vs posterioridade) aos diferentes momentos
de referncia. So trs os momentos estruturalmente relevantes na
constituio do sistema temporal: momento da enunciao (ME), momentoda referncia (MR) e momento do acontecimento (MA) (2001:146).
No tempo lingstico, essas categorias topolgicas podem ainda estar
instauradas no discurso por marcos de dois sistemas temporais: o sistema enunciativo,
relacionado diretamente enunciao, ao nunc e o sistema enuncivo, relacionado ao
momento de referncia do enunciado. No primeiro, os marcadores da enunciao
eu/aqui/agora so instalados, no segundo, eles so suprimidos, existindo, assim, no
enunciado, uma terceira pessoa, ele, no espao do alhurese no tempo do ento.
Essas categorias dizem respeito ao fato de que todos os tempos referem-se
ao agora, opondo-se ao ento: os fatos acontecem antes, depois ou no momento da
enunciao. Lembrando as palavras de Maingueneau:
Chaque nonc rinvente son prsent, ds quun locuteur prend la parole:
le prsent glisse ainsi indfiniment le long du fil du discours.
Ce prsent constitue la base du systme temporel linguistique, et les deux
autres dimensions dictiques (pass et futur) ne peuvent tre repres que
par rapport lui (1994:74)
Tempos verbais
Segundo Fiorin, como j foi dito acima, so trs os momentosestruturalmente relevantes na constituio do sistema temporal: momento da
enunciao (ME), momento da referncia (MR) e momento do acontecimento (MA)
(2001:146). Vejamos o que significa cada um desses momentos, caros organizao
temporal.
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O momento da enunciao (ME) o eixo gerador e ordenador do tempo
lingstico, pois ele representa o presente implcito inerente a todo ato de comunicao,
mesmo o sistema enuncivo ordena os tempos que no tm concomitncia ao ME, por
oposio aos tempos do sistema enunciativo.
O momento da referncia (MR) apresenta os marcos temporais que
permitem identificar quando os fatos acontecem/aconteceram/acontecero no
enunciado, ele est relacionado ao ME e pode ser do sistema enunciativo ou do
enuncivo, representando, no primeiro, a concomitncia ao ME (o presente) e, no
segundo, a no-concomitncia (anterioridade: o pretrito e posterioridade: o futuro).
O momento do acontecimento (MA) est dentro do MR e se ordena em
relao a ele. O momento do acontecimento tambm organizado de acordo com ascategorias topolgicas de concomitncia e no-concomitncia, ele marca os estados e
transformaes, que podem ser expressos pelos verbos, no enunciado.
O excerto seguinte do jornal Le Mondede 15 de maro de 2006. Nele
possvel exemplificar o que acabamos de teorizar:
Le prsident Jacques Chirac a salu, mercredi 15 mars en conseil des
ministres, la volont du premier ministre, Dominique de Villepin, d'engager
le dialogue social, d'amliorer ce qui peut l'tre dans le contrat premire
embauche, a rapport, en fin de matine, le ministre des PME (petites et
moyennes entreprises), Renaud Dutreil.
O momento da enunciao pode ser a data do jornal, 15 de maro, mas a
notcia no concomitante a esse momento, ela lhe anterior, como mostra o marco
temporal mercredi 15 mars. O momento da referncia , ento, mercredi 15 mars e
o momento do acontecimento a salu concomitante a ele.
Vejamos o sistema temporal criado por Fiorin para organizar os momentos
de referncia e de acontecimento, em relao ao momento da enunciao:
ME (presente implcito)
Sistema enunciativo Sistema enuncivo concomitncia no-concomitncia MR presente
anterioridade posterioridade
concomitncia no-concomitncia MR pretrito MR futuro MA presente
Ant. post. Concomit. no-conc. Conc. no-conc. MA pretrito MA futuro
Ant. post. ant. post.
MA pret. MA fut. MA pret. MA fut.
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Essas formas verbais, quando projetadas no enunciado, como vemos a
seguir, resultam em debreagens temporais, que podem ser enunciativas ou enuncivas,
dependendo do sistema temporal utilizado.
Debreagens
A debreagem, enunciva ou enunciativa, na sintaxe discursiva do texto, um
mecanismo de instaurao de pessoa, tempo e espao no discurso. Debreagem a
operao em que a instncia da enunciao disjunge de si e projeta fora de si, no
momento da discursivizao, certos termos ligados a sua estrutura de base, com vistas
constituio dos elementos fundadores do enunciado, isto , pessoa, espao e tempo
(Fiorin:2001:43). O eu/aqui/agora inscritos no enunciado no so realmente a pessoa, oespao e o tempo da enunciao, mas suas projees. Como diz Benveniste, a
enunciao este colocar em funcionamento a lngua por um ato individual de
utilizao (1988).
A debreagem, de acordo com a relao existente com a enunciao, como
foi dito, pode ser enunciativa ou enunciva. Na debreagem enunciativa, os actantes
(pessoas), espao e tempo da enunciao, isto , o eu, o aqui e o agoraso instaurados
no enunciado. Para exemplificar, tomemos um exemplo da literatura francesa, visto que
se trata da lngua em questo nesta pesquisa:
Parfois jai limpression davoir des secrets. Ce ne sont pas des secrets
puisque je nai pas envie den parler et aussi bien ces choses-l ne peuvent
pas se dire personne, trop bizarre.
(ERNEAUX, Annie. Ce quils disent ou rien)
Nesse exemplo, os verbos, no tempo presente, e o pronome em primeira
pessoa, esto instalados na enunciao, isso quer dizer que, no excerto, o tempo e os
actantes so debreados enunciativamente, no ego e no nunc. A debreagem actancial
enunciativa rara no discurso jornalstico, pois no condiz com sua cena genrica de
objetividade; essa debreagem pode ser encontrada no discurso direto, isto , quando,
numa debreagem de segundo grau, o sujeito da enunciao do jornal passa a fala a um
outro sujeito, como vemos no excerto deLe Mondede 01 de maro de 2006:
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Saddam Hussein a galement justifi les condamnations mort
prononces contre les auteurs de l'attentat qui le visait. J'ai vu passer les
balles devant mes yeux. J'tais dans la voiture derrire le chauffeur. Il y
avait un ami mes cts et un garde du corps prs du chauffeur. C'est
Dieu qui a voulu sauver la voiture mme si des balles l'ont touche, a-t-ilexpliqu. Ces personnes ont commis un crime contre le chef de l'Etat et,
quel que soit son nom, c'est le chef de l'Etat. Alors jugez le prsident mais
laissez les autres tranquilles, a-t-il ajout faisant allusion ses sept
coaccuss. Si vous pensez que le CCR a eu tort de confisquer les terres
alors jugez-moi, car le chef du CCR est entre vos mains, a-t-il encore dit.
Saddam n'a peur de personne except Dieu. Mme quand j'tais colier je
n'avais peur de personne. Nous avons vou notre vie Dieu et il a voulu
que nous soyons encore vivants. Je m'inquite seulement de la rputationde l'Irak, a-t-il finalement lanc.
Nesse trecho, toda parte em itlico e entre aspas fala no do sujeito da
enunciao do jornal, mas sim de Saddam Hussein. Trata-se de um trecho debreado
enunciativamente, tanto actorial quanto temporalmente, como vemos no uso da
primeira pessoa je e dos tempos verbais prsent (est, pensez, a, m'inquite) e
pass compos (J'ai vu, ont commis, il a voulu etc).
Na debreagem enunciativade segundo grau, um sujeito debreado realiza a
segunda debreagem, criando efeito de realidade, pois como se as palavras sassem da
prpria boca desse sujeito, diminuindo tambm a responsabilidade do ator da
enunciao sobre o enunciado.
Eh bien, madame la marquise, dit le vieillard, avez-vous un peu song la
masse des souffrances humaines? Avez-vous lev les yeux vers le ciel?
Avez-vous vu cette immensit de mondes qui, en diminuant notre
importance, en crasant nos vanits, amoindrit nos douleurs?...
- Non, monsieur, dit-elle. Les lois sociales me psent trop sur le cur et
me dchirent trop vivement pour que je puisse mlever dans les usages
du monde. Oh! Le monde!
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- Nous devons, madame, obir aux uns et aux autres: la loi est la parole, et
les usages sont les actions de la socit.
(BALZAC, Honor de. La femme de trente ans)
Com exceo do primeiro pargrafo, em que h uso do pass compos, o
excerto predominantemente enuncivo, com as confisses de Julie que, aos trinta anos,
est frustrada por ter de renunciar ao sonho de viver uma grande paixo e confia a um
padre os seus sentimentos de revolta contra as leis dos homens e dos cus. Balzac, por
meio da debreagem enunciativa de primeiro grau, coloca as palavras na boca de Julie,
assim como na do padre; dessa forma, a revolta em relao s normas impostas pela
sociedade parte do ator do enunciado e no do ator da enunciao.
A debreagem enunciva refere-se ao eleno tempo do entoe no espao do
alhures, distanciando-se do momento da enunciao. Para ilustrar essa debreagem,vejamos um excerto do jornal Le Mondede 13 de maro de 2006 e um poema de Ren
Char, poeta simbolista da Libertao, movimento contra a ocupao alem na Frana:
Originaire de la province afghane de Khost, Mohammed Gul tait paysan
et propritaire d'une station-service en Afghanistan. Auparavant, il a vcu
en Arabie saoudite. Les Amricains le souponnent d'avoir entretenu des
liens troits avec les talibans. Il explique que, en Arabie saoudite, il tait
chauffeur livreur et qu'il a t arrt chez lui uniquement parce qu'il
possdait un kalachnikov, comme beaucoup de fermiers : Je suis pauvre,je n'ai qu'un petit lopin de terre. (...) Je ne veux pas rester ici une minute de
plus .
Nesse excerto, como si acontecer, a debreagem mixta, encontramos
pessoas e tempos tanto do sistema enunciativo quanto do enuncivo. Quando o ator do
enunciado, Mohamed Gul, apresentado, a debreagem temporal e actancial enunciva:
usa-se a terceira pessoa e o imparfait: Mohammed Gul tait paysan, il tait
chauffeur livreur e ilpossdaitun kalachnikov.
Mourir, ce nest jamais que contraindre sa conscience, au moment mme
o elle sabolit, prendre cong de quelques quartiers physiques actifs ou
somnolents dun corps qui nous fut passablement tranger puisque sa
connaissance ne nous vint quau travers dexpdients mesquins et
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sporadiques. Gros bourg sans grce au brouhaha duquel semployaient
des habitants modrs... Et au-dessus de cet atroce hermtisme slanait
une colonne dombre face vote, endolorie et demi-aveugle, de loin
en loin bonheur scalpe par la foudre
(Ren Char, Fureur et mystre)
O poema fala da morte, um actante fora da enunciao, logo, a debreagem
actancial enunciva, assim como a debreagem temporal, que se refere ao tempo do
ento, com o uso dopass simple(abolit, fut, vint), tempo enuncivo por excelncia.
Nesse poema, vemos o pronome pessoal de primeira pessoa do plural nous,
marco de debreagem actancial enunciativa, porm, esse pronome no est ligado enunciao, trata-se de um dativo tico, isto , um pronome cujo uso visa a inserir o
enunciatrio no enunciado; no dativo tico, o alocutrio individualizado se encontra
integrado no enunciado a titulo de testemunha fictcia, mas sem interpretar qualquer
papel no processo, sua supresso no alteraria em nada o enunciado no nvel do
contedo (Maingueneau,1999:25). O dativo tico empregado na primeira pessoa pode
criar efeito de proximidade entre o enunciador e o enunciatrio.
Como vimos, a debreagem, quando enunciva, cria simulacro de
objetividade, por usar tempos e pessoas do sistema enuncivo; fazer uso do
ele/alhures/ento confere um carter mais objetivo, idneo e menos questionvel ao
discurso. Por outro lado, a debreagem enunciativa cria simulacro de subjetividade, pois
a primeira pessoa, assim como tempos e espaos enunciativos, so inseridos no
discurso, conferindo-lhe um carter subjetivo, intimista e pessoal, o que pode, por
vezes, at mesmo diminuir a credibilidade do enunciado, como se tratasse apenas da
opinio ou ponto de vista do enunciado, mas no dos fatos como aconteceram (no
falamos aqui do discurso direto, esse um outro caso, que trataremos adiante).Analisemos, agora, a organizao temporal do verbo em francs, de acordo
com as categorias enunciativas e enuncivas do tempo, divididas em sistemas e
subsistemas.
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No sistema enunciativo dos verbos em lngua francesa, encontramos os
tempos prsent (concomitante ao momento de referncia), pass compos (anterior ao
momento de referncia) efutur simple(posterior ao momento de referncia).
No sistema enuncivo, temos os tempos dos momentos de referncia pretrito
e futuro, sendo que o primeiro constitudo, na concomitncia, pelo tempopass simple
e, na no-concomitncia, pelo plus-que-parfait e pass antrieur, no que concerne
anterioridade e pelofutur du pass (ou conditionnel prsent) efutur antrieur du pass
(ou conditionnel pass) no que concerne posterioridade. Sendo que, no MR pretrito,
ainda existe um caso especial, pass surcompos, um tempo verbal bastante raro hoje
em dia.
Seguindo o modelo de Fiorin, podemos organizar o sistema verbal
enunciativo da lngua francesa da seguinte maneira:
Concentramo-nos nos tempos verbais do modo indicativo. Eles so
abordados de acordo com os trs momentos de referncia: presente, passado e futuro. O
momento de referncia presente aquele em que os tempos verbais esto diretamente
relacionados com o momento da enunciao, ou seja, aqueles que fazem parte do
sistema enunciativo: prsent, pass compos e futur simple. Estudemos, ento,
baseados na proposta de Fiorin (2001), os tempos segundo as categorias de
concomitncia e no-concomitncia. Em um primeiro momento, fazemos uma
apresentao e definio dos tempos verbais na lngua francesa sem, adentrar, ainda, nas
questes mais problemticas que a eles se referem.
MR presente
concomitncia no-concomitncia
anterioridade posterioridade prsent(MA)
pass compos(MA) futur simple(MA)
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7/25/2019 Tese Vanessa Ferreira Oliveira
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O sistema enunciativo
Le prsent est proprement la source du temps