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FRANCINEY CARREIRO DE FRANA
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA: A DINMICA DO ESPAO DOMSTICO NO DISTRITO FEDERAL
Tese de doutoramento apresentada como requisito
parcial obteno do grau de Doutora pelo Programa
de Pesquisa e Ps-graduao da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia.
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Frederico Rosa B. de HolandaFaculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU/UnB
Prof. Dr. Andrey Rosenthal Schlee Faculdade de Arquitetura e Urbanismo- FAU/UnB
Prof Dra. Lia Zanotta Machado Departamento de Antropologia - DAN/UnB
Prof Dra. Circe Maria Gama MonteiroUniversidade Federal de Pernambuco - UFPE
Prof. Dr. Dcio RigattiUniversidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
Braslia, maro de 2008.
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AO SRGIO SAUER
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AGRADECIMENTOS
Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa:mas vai dar na outra banda num ponto muito mais em baixo,
do em que primeiro se pensou...Guimares Rosa
Ao iniciar essa travessia sabia que chegaria do outro lado do rio, num ponto bem mais em baixo. Imaginava uma travessia difcil e solitria, apenas com alguns poucos para o caso de algum acidente de percurso ou coisa parecida. Mas a grande surpresa perceber que ao longo da
jornada muitas pessoas estiveram ao meu lado. A travessia contou com muitas parcerias.
Por isso agradeo a todos que estiveram comigo nessa travessia!
Em especial aos moradores. Aos cento e sessenta e oito moradores que aceitaram o convite e deram a essa pesquisa o carter concreto e indito. A eles que me permitiu de certa forma
entrar em seus lares e conhecer um pouquinho dessa dinmica. Saibam da minha alegria toda vez que chegava em casa e encontrava mais um envelope na caixa do correio. Obrigado pelosdesenhos (croquis), pela colaborao e pelos muitos recadinhos carinhosos de boa sorte...Eles
me deram sorte!
Aos servidores das Administraes Regionais do Distrito Federal, nas pessoas dos Administradores por permitir meu acesso aos arquivos para consulta aos projetos originais.
Dentre muitos que me auxiliaram agradeo: a Eng Virgnia Cussi Sanches e sua equipe (RA XXII); ao Arquiteto Anaxmenes Vale Santos e aos funcionrios do arquivo da RAI: Mrcia e
Izolda; Lourdes e Eudquio. Ao Eng Paulo Peres da RA III. Ao Sr. Jos Teixeira e Eng Daliane (RA X) e a todos os funcionrios da Regio Administrativa do Cruzeiro.
A experincia de fazer uma tese de doutorado trabalhando s poderia ter dado certo porque obtive o apoio dos meus colegas de trabalho, seja na solidariedade e cumplicidade silenciosas,
seja dividindo tarefas, seja na compreenso de algumas ausncias. Por isso, no poderia deixarde agradecer muito especialmente ao Tiago Nery, quem prontamente e generosamente assumiu meu trabalho para que eu pudesse tirar frias num perodo pouco convencional, para me dedicar pesquisa. Essa parceria s foi possvel graas ao apoio de Hlio Carlos Meira de S (Helinho)
a quem agradeo pelo carinho e sensibilidade que, juntamente com Luizinho Luiz Antnio Alves de Azevedo possibilitaram isso. Por meio deles, agradeo a todos os funcionrios do
Gabinete da Liderana do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal.
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Nessa travessia contei com um grupo especial de apoio. Agradeo ao engenheiro Guttemberg Rios (Guto) pelo suporte na complementao e manipulao do Banco de Dados da pesquisa;
ao arquiteto Reinaldo Germano pela ajuda na gerao dos dados de configurao; e s arquitetas Simone do Prado e Scylla Setsuko que dividiram comigo o trabalho de redesenhar
todas as plantas originais (levantamento no arquivo das administraes) no Autocad. Uma equipe altamente qualificada e que tive o prazer de encontrar nessa jornada.
s minhas amigas, Marleide Barbosa, Simone Telles e Cristiane Gusmo que entenderam minha ausncia nos ltimos meses...foi necessrio um pouco de isolamento.
minha famlia pelo apoio incondicional e pela torcida. minha me Creusa, minha irm Simone, meu irmo Ubirajara, minha cunhada Rosilene, minhas sobrinhas adoradas Nayara e
Yara, ao mais novo entre deles, meu sobrinho Antnio e ao mais velho entre ns, meu pai Antnio Virgnio (in memoriam).
Aos professores do Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e aos funcionrios da Secretaria da Ps-graduao, Joo e Jnior. Obrigado queles que sempre
nos socorrem e fazem parte dessa jornada, desde o comeo.
Aos colegas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Planalto Central (FAUPLAC) e ao Professor Gladson da Rocha (in memoriam) em especial, pelo carinho e por ter me dado a
oportunidade de fazer parte do corpo docente daquela instituio.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Frederico de Holanda com quem tive o prazer e a honra de ter nessa travessia. Obrigado por mais essa parceria.
Ao meu marido e companheiro Srgio, a quem dedico esta tese.
Sim, chego outra margem, no no mesmo ponto do rio, como disse o poeta, e nem sozinha. Mas com acmulo de conhecimento e de amizades construdas ao longo da travessia.
Muito Obrigada!!
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RESUMO
Na arquitetura, a feitura do espao de moradia implica a construo do lugar como
espao a ser habitado e vivido. A tese procura contribuir para o amplo espectro de estudos
sobre o espao domstico por um recorte especfico, pois as anlises esto baseadas na
morfologia dos apartamentos (caractersticas geomtricas e configuracionais) e sua relao com
o modo de vida dos habitantes, como este espao propicia relaes entre habitantes e
visitantes. O objetivo entender tais relaes em apartamentos no Distrito Federal, analisando
espaos como originalmente construdos e espaos depois de modificados pelos moradores.
O recorte histrico a evoluo do tipo apartamento ao longo das dcadas posteriores a
1960, tendo como marco a criao do Plano Piloto de Braslia, e a proliferao dessa proposta
habitacional no Distrito Federal. A amostra composta de 168 apartamentos, distribudos em 11
reas destinadas para habitao coletiva em altura, com prdios de uso estritamente residencial.
Ao todo foram analisadas 200 plantas baixas, envolvendo projetos originais e modificados. As
reas so representativas da diversidade socioeconmica e da evoluo da ocupao territorial
do Distrito Federal, para esse tipo de moradia.
O modelo analtico considerou a apropriao do espao pelos moradores e suas
condicionantes morfolgicas (geomtricas e topolgicas). A apropriao caracterizada por
indisciplinas leves (alteraes de uso e ocupao) e indisciplinas pesadas (as mudanas no
vo dos apartamentos).
As indisciplinas mostram que preferncias e necessidades da populao bem como a
busca pelo conforto e identidade das moradias so, em alguns aspectos, similares nas
diferentes localidades e classes sociais. As indisciplinas so formas de questionar as estruturas
fsicas dos apartamentos, e as intervenes dos moradores sugerem discrepncias entre as
vises do mercado e as dos futuros usurios; implicam lies sobre como projetar para
minimizar custos futuros, por parte dos moradores, forados a adaptar os apartamentos aos
seus desejos e jeitos de morar.
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ABSTRACT
In architecture, building the space for housing implies the construction of place, as the
space to be inhabited and lived. This thesis is an attempt to contribute to a broad spectrum of
studies related to domestic space in a specific perspective, since the analyses are based on the
morphology of the apartments (geometric and configurational features) and its relation to the
peoples ways of living; as this space provides relations between residents and visitors. The goal
is to understand these relations in apartments of the Federal District, analyzing spaces as
originally build and spaces after being modified by residents.
The historical process shows the evolution of the type apartment over the decades after
1960, having the creation of Pilot Plan of Brasilia as a landmark, and the proliferation of such
housing proposal in the Federal District. The sample consists of 168 apartments, distributed in 11
areas intended for collective housing in height, with buildings for strictly residential use. In total,
200 plans were studied, including original and restructured projects. These areas are
representative of the socioeconomic diversity and the development of the territorial occupation of
the Federal District for this kind of housing.
The analytical model considered the space appropriation by residents and their
morphological (geometric and topological) limitations. This appropriation is characterized by "light
indiscipline" (use and occupancy changes) and "heavy indiscipline" (deep changes in the interior
space of the apartments).
Both indisciplines show that the populations preferences and needs as the search for
comfort and identity in dwellings are, in some aspects, similar in different areas and social
classes. The indisciplines are ways to question the physical structures of the apartments, and the
residents interventions suggest discrepancies between the views of the market and of those
future users. They involve lessons on how to design minimizing future costs on the residents
part, forced to adapt the apartments to meet their wishes and ways of living.
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RSUM
Dans l'architecture, faire l'espace de logement implique la construction de l'endroit
comme un espace qui sera habit et vcu. La thse veut contribuer pour lample ensemble des
tudes sur l'espace domestique partir dune coupure spcifique, car les analyses sont bases
sur la morphologie des appartements (caractristiques gomtriques et de configurations) et sur
sa relation avec la faon de vivre des habitants, comme cet espace favorise relations entre les
habitants et les visiteurs. L'objectif est de comprendre telles relations en appartements dans le
Distrito Federal, analysant les espaces comme originellement construits et les espaces aprs
tre modifis par les habitants.
La coupure historique est l'volution du type appartement pendant les dcennies
postrieures le 1960, ayant comme borne la cration du Plano Piloto de Brasilia, et la
prolifration de cette proposition habitationelle dans le Distrito Federal. L'chantillon se compose
de 168 appartements, distribus dans 11 secteurs destins l'habitation collective dans la taille,
avec des btiments d'une utilit strictement rsidentielle. En tout ont t analyses 200 projets
bas, entourant des projets originaux et modifis. Les secteurs sont reprsentatifs de la diversit
socioconomique et de l'volution de locupation territorial du Distrito Federal, pour ce type de
logement.
Le modle analytique a considr l'appropriation de l'espace pour les habitants et ses
conditionnements morphologiques (gomtriques et topologiques). L'appropriation est
caractrise par "des indisciplines lgers" (des changements d'utilisation et doccupation) et "des
indisciplines lourds" (les changements la trave des appartements).
Les indisciplines prouvent que les prfrences et les ncessits de la population, ainsi
comme la recherche du confort et de l'identit des logements sont, dans quelques aspects,
similairs dans les diffrentes localits et classes sociales. Les indisciplines sont des formes de
questionner les structures physiques des appartements, et les interventions des habitants
suggrent divergences entre les points de vue du march et des futurs utilisateurs; elles
impliquent leons propos de la faon de projeter pour rduire au minimum de futurs cots, de la
part des habitants, forcs a adapter les appartements ses faons de vivre.
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RESUMEN
En la arquitectura, hacer el espacio de vivienda implica la construccin del lugar como
espacio a ser habitado y vivido. La tesis busca contribuir para el amplio espectro de estudios
sobre lo espacio domstico por medio de un recorte especfico, puesto que las anlisis son
basadas en la morfologa de los apartamentos (caractersticas geomtricas y caractersticas que
los configuran), en su relacin con el modo de vida de los residentes y en las relaciones entre
residentes y visitas que este espacio propicia. El objetivo es comprender tales relaciones en
apartamentos del Distrito Federal, analizando espacios originalmente construidos y despus de
modificados por los residentes.
El recorte histrico es la evolucin del tipo apartamento a lo largo de las dcadas
posteriores a la dcada de los sesenta, teniendo como marco la creacin del Plano Piloto, en
Brasilia, y la proliferacin de esa propuesta habitacional en el Distrito Federal. La amuestra es
compuesta de 168 apartamentos, distribuidos en 11 reas destinadas a la habitacin colectiva
en altura, con predios de uso restrictamente residencial. Al todo, fueran analizadas 200 plantas
bajas, envolviendo proyectos originales y modificados. Las reas son representativas de la
diversidad socioeconmica y de la evolucin de la ocupacin del Distrito Federal para ese tipo
de vivienda.
El modelo analtico consider la apropiacin del espacio por los moradores y sus
condicionantes morfolgicas (geomtricas y topolgicas). La apropiacin es caracterizada por
indisciplinas leves (alteracin de uso y de ocupacin) y por indisciplinas pesadas (los
cambios en los vanos de los apartamentos).
Las indisciplinas muestran que preferencias y necesidades de la populacin, as como
la busca por conforto e identidad para las viviendas son, en algunos aspectos, similares en las
diferentes regiones y clases sociales. Las indisciplinas son formas de cuestionar las estructuras
fsicas de los apartamentos, y las intervenciones sugieren discrepancias entre la visin del
mercado y la visin de los futuros residentes; implican lecciones sobre como proyectar para
minimizar costos futuros por parte de los residentes, forzados a adaptar los apartamentos a sus
deseos y modos de vivir.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Projeto original do apartamento da SQSW 102 Bloco F................................. 56
Figura 1.2 Croqui do apartamento da SQSW 102, Bloco F............................................... 57
Figura 2.1 Foto do cortio no morro do Castelo Rio de Janeiro..................................... 85
Figura 2.2 Foto do complexo de cortios Vila Barros So Paulo.................................... 85
Figura 2.3 Foto do modelo avenida................................................................................. 87
Figura 2.4 Foto do modelo vila........................................................................................ 87
Figura 2.5 Foto da Avenida Central no Rio de Janeiro, 1910 ........................................... 89
Figura 2.6 Planta baixa do Edifcio sem nome, 1930 RJ ............................................... 91
Figura 2.7 Planta baixa do Edifcio Lutcia, 1928 RJ .................................................... 91
Figura 2.8 Planta baixa do Edifcio Itaoca ........................................................................ 96
Figura 2.9 Foto do Edifcio Itaoca ..................................................................................... 96
Figura 2.10 Foto do Edifcio Esther, 1935. ....................................................................... 96
Figura 2.11 Imagem do interior do Edifcio Esther, 1935 .................................................. 96
Figura 2.12 Foto do Edifcio Prudncia, 1944 ................................................................... 97
Figura 2.13 Foto do Edifcio Louveira, 1946 ..................................................................... 97
Figura 2.14 Foto do Conjunto Realengo ........................................................................... 100
Figura 2.15 Foto do Conjunto Vrzea do Carmo .............................................................. 100
Figura 2.16 Maquete do Edifcio Japur. .......................................................................... 102
Figura 2.17 Planta dos apartamentos-tipo do Edifcio Japur .......................................... 102
Figura 2.18 Foto do Edifcio Pedregulho .......................................................................... 103
Figura 2.19 Foto do Parque Guinle ................................................................................... 103
Figura 2.20 Planta baixa do Apartamento Guinle, 1925 ................................................... 105
Figura 2.21 Planta baixa do Edifcio Prudncia, 1944 ..................................................... 105
Figura 2.22 Seco de um palcio parisiense em 1853 ................................................... 107
Figura 2.23 Planta baixa do pavimento tipo Edifcio Bristol ........................................... 109
Figura 2.24 Planta baixa de Duplex Conjunto Residencial Pedregulho ......................... 110
Figura 3.1 Mapa do Distrito Federal e localizao das reas estudadas ......................... 144
Figura 3.2 Foto do Eixo Rodovirio de Braslia ................................................................. 145
Figura 3.3 Foto da SQS 203 ............................................................................................. 145
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Figura 3.4 Perspectiva da superquadra dupla da Asa Norte ............................................ 146
Figura 3.5 Foto da SQS 410 - Blocos JK .......................................................................... 146
Figura 3.6 Foto do Bloco da SQS 703 (Asa Norte) ........................................................... 147
Figura 3.7 Foto do Bloco da SQS 714 (Asa Sul) .............................................................. 147
Figura 3.8 Foto da Pista central do Setor QNL Taguatinga ........................................... 151
Figura 3.9 Foto do Bloco residencial da QNL Taguatinga ............................................. 151
Figura 3.10 Foto do Bloco residencial da QNL Taguatinga ........................................... 151
Figura 3.11 Foto da faixa de blocos residncias QI 23 a 33 (Guar II) ......................... 153
Figura 3.12 Foto da QI 31(Guar II) .................................................................................. 153
Figura 3.13 Foto da QI 02 (Guar I) .................................................................................. 153
Figura 3.14 Planta baixa da QI 02 Guar I .................................................................... 153
Figura 3.15 Planta baixa da QELC (Quadras Econmicas Lucio Costa) .......................... 154
Figura 3.16 Planta baixa da proposta de Lucio Costa 1985 .......................................... 154
Figura 3.17 Foto do Bloco da QELC 01 ............................................................................ 155
Figura 3.18 Foto do Bloco da QELC 03 ............................................................................ 155
Figura 3.19 Foto do Cruzeiro Novo, 1997 ......................................................................... 156
Figura 3.20 Foto do bloco residencial Cruzeiro Novo .................................................... 157
Figura 3.21 Foto do bloco residencial - Cruzeiro Novo ................................................... 157
Figura 3.22 Mapa das Regies Administrativas (RA) XI e XXI ......................................... 158
Figura 3.23 Foto area do Setor Sudoeste (1999) ........................................................... 159
Figura 3.24 Foto de bloco residencial - Setor Sudoeste (2006) ........................................ 159
Figura 3.25 Foto de bloco residencial - Sudoeste Econmico ......................................... 160
Figura 3.26 Mapa do Sudoeste Econmico detalhe das quadras ................................. 160
Figura 3.27 Foto area do Octogonal (1997) .................................................................... 161
Figura 3.28 Perspectiva do projeto de guas Claras ........................................................ 163
Figura 3.29 Mapa digital de guas Claras ........................................................................ 164
Figura 4.1 Croqui de apartamento da AOS 6, Bloco C (Octogonal) ................................. 178
Figura 4.2 Projeto original da AOS 6, Bloco C (Octogonal) .............................................. 179
Figura 4.3 Projeto original da SQN 314, Bloco B (1976) .................................................. 189
Figura 4.4 Projeto original de apartamento em guas Claras, Quadra 206 (1994) .......... 190
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Figura 4.5 Foto de apartamentos no Sudoeste Econmico .............................................. 195
Figura 4.6 Foto da fachada de bloco da QELC 04 ............................................................ 195
Figura 4.7 Foto da QELC 04 ............................................................................................. 214
Figura 4.8 Foto da QELC 04 ............................................................................................. 214
Figura 5.1 Perspectiva do Immaneuble-Villa .................................................................... 222
Figura 5.2 Planta baixa de Villa Radieuse ........................................................................ 222
Figura 5.3 Planta original da QE 02, Bloco F (Guar I) .................................................... 226
Figura 5.4 Planta modificada da QE 02, Bloco F (Guar I) ............................................... 226
Figura 5.5 Planta original da SQN 314 (Asa Norte) .......................................................... 233
Figura 5.6 Planta original da QRSW1 (Sudoeste Econmico) .......................................... 234
Figura 5.7 Planta original da SQS 307, Bloco H (Asa Sul) ............................................... 239
Figura 5.8 Planta original da SQN 203, Bloco J (Asa Norte) ............................................ 239
Figura 5.9 Planta original da SQSW 305, Bloco G (Setor Sudoeste) ............................... 240
Figura 5.10 Planta original da SQSW 105, Bloco A e QRSW 1-B6................................... 251
Figura 5.11 Planta original da SQSW 304 Bloco C ......................................................... 252
Figura 5.12 Planta modificada da SQSW 304, Bloco C .................................................... 252
Figura 5.13 Planta Modificada da AOS 6, Bloco C ........................................................... 253
Figura 5.14 Planta Modificada da SQN 409, Bloco A ...................................................... 254
Figura 5.15 Planta Modificada da AOS 1 Bloco E ........................................................... 254
Figura 5.16 Foto de copa AOS 6, Bloco C ..................................................................... 254
Figura 5.17 Foto de Cozinha corredor Sudoeste, Quadras 100 .................................... 254
Figura 5.18 Planta original da SQSW 102, Bloco L .......................................................... 256
Figura 5.19 Planta modificada da SQSW 102, Bloco L ................................................... 256
Figura 5.20 Planta original da SQS 413, Bloco S ............................................................. 257
Figura 5.21 Planta modificada SQS 413, Bloco S ............................................................ 257
Figura 5.22 Planta modificada SQS 412, Bloco D ............................................................ 258
Figura 6.1 Planta original de aptos. na AOS 1 Blocos C, D, E e F ................................... 274
Figura 6.2 Planta modificada (variao 1) da AOS 1, Bloco C ......................................... 274
Figura 6.3 Planta modificada (variao 2) da AOS 1, Bloco D ......................................... 274
Figura 6.4 Planta modificada (variao 3) da AOS 1, Bloco E ......................................... 274
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Figura 6.5 Projeto original da SQS 103, Bloco B .............................................................. 277
Figura 6.6 Espaos Convexos da SQS 103 Bloco B ..................................................... 277
Figura 6.7 Planta baixa e grafo da SQS 307, Bloco H (1967) .......................................... 284
Figura 6.8 Planta baixa da e grafo SQSW 102, Bloco F (1991) ....................................... 284
Figura 6.9 Planta baixa de apto. do Edifcio Bristol .......................................................... 285
Figura 6.10 Espaos convexos no Edifcio Bristol ............................................................ 285
Figura 6.11 Planta baixa e grafo da AOS 5, Bloco D (1977) ............................................ 286
Figura 6.12 Planta baixa e grafo da SQN 316, Bloco J (1978) ......................................... 287
Figura 6.13 Planta baixa da QI 25, Lote 12/14 (1985) ...................................................... 290
Figura 6.14 Planta baixa da AOS 7, Blocos A e B (1980) ................................................. 290
Figura 6.15 Projeto original da QELC 01, Bloco B1 e B9 ................................................. 299
Figura 6.16 Planta modificada da QELC 01, Bloco B9 ..................................................... 299
Figura 6.17 Planta modificada da QELC 01, Bloco B1 ..................................................... 299
Figura 6.18 Planta convexa da QELC 03, Bloco B3 ......................................................... 300
Figura 6.19 Planta convexa da SQSW 105, Bloco G ........................................................ 301
Figura 6.20 Planta convexa da Quadra 407, Bloco E (Cruzeiro Novo) ............................. 302
Figura 6.21 Planta convexa da SQS 313, Bloco D ........................................................... 302
Figura 6.22 Poligonal da planta baixa da SQSW 305, Bloco G ........................................ 305
Figura 6.23 Poligonal da planta baixa da SQS, Bloco G .................................................. 305
Figura 6.24 Planta convexa da SQS 215, Bloco F ........................................................... 306
Figura 6.25 Planta convexa da SQSW 105, Bloco A ........................................................ 306
Figura 6.26 Planta convexa da SQSW 304, Bloco C (planta original) .............................. 315
Figura 6.27 Planta convexa da SQSW 304, Bloco C (planta modificada) ........................ 315
Figura 6.28 Planta convexa da SQS 303, Bloco C (planta original) ................................. 315
Figura 6.29 Planta convexa da SQS 303, Bloco C (planta modificada) ............................ 315
Figura 6.30 QRSW 2, Bloco B5 (planta original) ............................................................... 316
Figura 6.31 QRSW 2, Bloco B5 (planta modificada) ......................................................... 316
Figura 6.32 QELC 03, Bloco A1 (planta original) .............................................................. 316
Figura 6.33 QELC 03, Bloco A11 (planta modificada) ...................................................... 316
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LISTA DE GRAFOS
Grafo 2.1 Apartamento Guinle ......................................................................................... 106
Grafo 2.2 Edifcio Prudncia ............................................................................................ 106
Grafo 2.3 Parque Guinle ................................................................................................... 109
Grafo 2.4 Pedregulho ....................................................................................................... 110
Grafo 6.1 SQSW 305, Bloco L .......................................................................................... 280
Grafo 6.2 SQN 402, Bloco E ............................................................................................. 280
Grafo 6.3 SQSW 304, Bloco C .......................................................................................... 283
Grafo 6.4 AOS 1, Bloco D ................................................................................................ 283
Grafo 6.5 SQSW 305, Bloco L .......................................................................................... 283
Grafo 6.6 SQS 307, Bloco H ............................................................................................. 284
Grafo 6.7 SQSW 102, Bloco F (1991) ............................................................................... 284
Grafo 6.8 Quadra 1311, Bloco B (Cruzeiro Novo) ............................................................ 289
Grafo 6.9 QRSW 8, Bloco B1 (1992) ................................................................................ 289
Grafo 6.10 SQS 312, Bloco D (1971) ................................................................................ 293
Grafo 6.11 SQN 103, Bloco A (1971) ................................................................................ 293
Grafo 6.12 Quadra 204, Lote 04 guas Claras (1994) .................................................. 293
Grafo 6.13 HCGN 706, Bloco K (1970) ............................................................................. 293
Grafo 6.14 SQN 202, Bloco F (1973) ................................................................................ 295
Grafo 6.15 SQS 215, Bloco F (1968) ................................................................................ 295
Grafo 6.16 - Quadra 601, Bloco A (1977) ............................................................................ 295
Grafo 6.17 AOS 1, Bloco C, D e E (1980) ......................................................................... 295
Grafo 6.18 SQN 316, Bloco H (planta original) ................................................................. 319
Grafo 6.19 SQN 316, Bloco H (planta modificada) ........................................................... 319
Grafo 6.20 QE 2, Bloco F (planta original) ........................................................................ 319
Grafo 6.21 QE 2, Bloco F (planta modificada) .................................................................. 319
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 3.1 Percentual da populao por faixa de renda DF e RA .......................................137
Grfico 3.2 Renda domiciliar mensal e incidncia de apto por Regio Administrativa ............138
Grfico 3.3 Distribuio dos apartamentos por nmero de quartos.........................................167
Grfico 3.4 Avaliao sobre morar em apartamentos por assentamento................................170
Grfico 4.1 Principais equipamentos e sua localizao na moradia........................................207
Grfico 4.2 Espaos e permanncias......................................................................................215
Grfico 5.1 rea mdia dos setores por dcadas dois dormitrios ......................................235
Grfico 5.2 rea mdia dos setores por dcadas trs dormitrios .......................................235
Grfico 5.3 rea mdia dos setores por dcadas quatro dormitrios...................................236
Grfico 5.4 rea mdia das salas por dcadas.......................................................................238
Grfico 5.5 rea mdia dos quartos por dcadas ...................................................................242
Grfico 5.6 rea mdia da cozinha por dcadas e programa de necessidades......................245
Grfico 5.7 rea mdia dos quartos ps-reformas..................................................................264
Grfico 5.8 rea mdia das cozinhas ps-reformas................................................................266
Grfico 5.9 rea mdia das salas ps-reformas......................................................................267
Grfico 6.1 Profundidade por dcadas e Programa de Necessidades ....................................292
Grfico 6.2 Grau de Funcionalidade por Dcadas...................................................................296
Grfico 6.3 Integrao: nmero de dormitrios por dcadas...................................................307
Grfico 6.4 Profundidade dos Sistemas aps Reforma...........................................................321
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LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 Domiclios urbanos, segundo o tipo de moradia por Regio Administrativa ..........136
Tabela 3.2 Mapeamento do universo da pesquisa ..................................................................139
Tabela 3.3 Amostra por estratos .............................................................................................143
Tabela 3.4 Total de apartamentos da amostra por Regio Administrativa ..............................165
Tabela 3.5 Nmero de mudanas em relao ao total de reformas por rea..........................168
Tabela 3.6 Domiclios por classes de renda bruta mensal, por Regio Administrativa. ..........169
Tabela 3.7 Nmero de habitantes por domiclios (com uma famlia).......................................170
Tabela 3.8 Composio familiar mdia de pessoas por faixa etria e por localidade ..........171
Tabela 4.1 Mudanas de uso/funo por assentamento .........................................................184
Tabela 4.2 As principais mudanas de funo dos espaos ...................................................183
Tabela 4.3 As mltiplas funes da varanda...........................................................................193
Tabela 4.4 Principais usos do quarto de empregada ..............................................................196
Tabela 4.5 As atividades e os respectivos espaos ................................................................199
Tabela 4.6 Nmero de computadores no quarto, por reas e renda mdia salarial ................200
Tabela 4.7 Atividades comuns Cozinha ...............................................................................202
Tabela 4.8 Espao de maior tempo de permanncia da famlia..............................................205
Tabela 4.9 Espaos de menor tempo de permanncia da famlia...........................................209
Tabela 4.10 Espaos mais utilizados para receber visitantes .................................................211
Tabela 4.11 Espao onde visitante no tem acesso ...............................................................212
Tabela 4.12 Espao mais utilizado para festas/recepes por assentamento .....................213
Tabela 5.1 Total de apartamentos por programa de necessidades e localidade.....................230
Tabela 5.2 rea mdia dos apartamentos por programa de necessidades e por dcadas .....230
Tabela 5.3 Mdia de rea por programa de necessidades e localidade .................................231
Tabela 5.4 Evoluo do quarto sute ao longo dos anos.........................................................242
Tabela 5.5 As cozinhas e suas variaes por dcadas...........................................................244
Tabela 5.6 ndice de reformas por localidade..........................................................................247
Tabela 5.7 Intervenes geomtricas por assentamentos ......................................................248
Tabela 5.8 As principais mudanas geomtricas por assentamento.......................................249
Tabela 5.9 Mudanas geomtricas por dcadas.....................................................................250
-
Tabela 5.10 rea mdia de espaos do setor de servio por programa de necessidades......255
Tabela 5.11 Aumento da Cozinha e ganho de rea por faixa de m2 .......................................260
Tabela 5.12 Aumento da cozinha e ganho por programa de necessidades............................261
Tabela 5.13 Aumento da Sala Ganho de rea por Programa de Necessidades..................262
Tabela 5.14 Aumento dos quartos e ganho de rea por programa de necessidades .............262
Tabela 6.1 Nmero de anis por localidade (projetos originais)..............................................282
Tabela 6.2 Mdia de anis por dcadas e programa de necessidades...................................282
Tabela 6.3 Grau de Funcionaliidade por Programa de Necessidades ....................................297
Tabela 6.4 Integrao Mdia por Programa de Necessidades e Localidade...........................303
Tabela 6.5 Nmero de Apartamentos Reformados por Localidade.........................................309
Tabela 6.6 - Integrao Mdia por Programa de Necessidades e Localidades..........................310
Tabela 6.7 Correlao Integrao e Espaos Convexos (3 Quartos)......................................311
Tabela 6.8 Grau de Funcionalidade por Localidade .............................................................. 317
Tabela 6.9: Grau de Funcionalidade por dcada (60 Apartamentos Originais e Modificados).. 318
-
SUMRIO
INTRODUO..................................................................................................................... 1
CAPTULO 1
As Bases Conceituais do Modelo Analtico.................................................................. 28
INTRODUO ......................................................................................................... 29
1.1. Caminhos da teoria em arquitetura aps 1960 ................................................. 30
1.1.1. Mais os aspectos escultricos e menos o espao interior ............................. 36
1.1.2 Mais o espao interior e menos os aspectos escultricos .............................. 39
1.1.3. Mais os aspectos estruturantes e menos o significado.................................. 46
1.2. A arquitetura e sua matria bastante ................................................................ 50
1.2.1. A autonomia da arquitetura ............................................................................ 51
1.2.2. Realidade e Representao em arquitetura................................................... 52
1.2.3. O criador, o ato de criar e a quem se destina a criao ................................ 59
1.2.4. A criao e o ocupante: apropriao do espao real..................................... 62
1.2.4.1. Apropriao do espao domstico: as prticas cotidianas ......................... 65
1.2.4.2. Apropriao do espao domstico: os aspectos geomtricos e topolgicos67
1.3. O lugar do espao domstico............................................................................ 72
CAPTULO 2
Habitao Coletiva em Altura: Construindo o Objeto e um Olhar Especfico .......... 82
INTRODUO.......................................................................................................... 83
2.1 Breve espao de tempo e muita histria para contar......................................... 84
2.1.1 Habitao coletiva: lugar da populao de baixa renda ................................. 85
2.1.2 Transio: dos palacetes e "casas de apartamentos" para o arranha-cu .... 89
2.1.3 Habitao coletiva e as mudanas arquitetnicas .......................................... 93
2.2 Habitao coletiva: a mudana de paradigma ................................................... 96
-
2.2.1 A habitao coletiva para a classe mdia ....................................................... 96
2.2.2 Os conjuntos habitacionais: a propagao do conceito.................................. 99
2.2.3 Breve comentrio sobre os aspectos configuracionais................................. 105
2.2.4 A habitao coletiva em altura em Braslia ................................................... 112
2.3. A abordagem do espao domstico: referenciais tericos e metodolgicos .. 115
2.3.1. Espao e lugar: o espao domstico ........................................................... 115
2.3.2 Aspectos geomtricos ................................................................................... 117
2.3.3 Aspectos de configurao ............................................................................. 118
2.3.4 Uso e ocupao do espao domstico ......................................................... 121
2.3.5 As ferramentas de anlise estatstica ........................................................... 127
CONCLUSO......................................................................................................... 128
CAPTULO 3
O Plano Piloto e seu Entorno: Delimitao e Apresentao do Objeto de Estudo 131
INTRODUO........................................................................................................ 132
3.1 A delimitao das reas de estudo: aspectos metodolgicos e tcnicos ........ 134
3.1.1 Definio a partir dos dados censitrios ....................................................... 135
3.1.2 Definindo o universo de pesquisa ................................................................. 139
3.1.3 As ferramentas estatsticas ........................................................................... 140
3.1.3.1 Dimensionamento da amostra ................................................................... 140
3.1.3.2 Amostragem Aleatria Estratificada ........................................................... 142
3.1.3.3 Sorteio da amostra ..................................................................................... 142
3.1.3.4 A coleta de dados....................................................................................... 143
3.2 Conhecendo as reas de estudo ..................................................................... 144
3.2.1 Plano Piloto: Asa Sul e Asa Norte................................................................. 145
3.2.2 Cidade Satlite de Taguatinga ...................................................................... 149
3.2.3 Guar I, Guar II e Quadras Econmicas Lucio Costa (QELC).................... 152
3.2.4 Cruzeiro Novo................................................................................................ 156
3.2.5 Sudoeste, Sudoeste Econmico e Octogonal............................................... 158
3.2.6 guas Claras ................................................................................................. 162
3.3 o perfil da amostra............................................................................................ 165
CONCLUSO......................................................................................................... 172
-
CAPTULO 4
As Prticas Espaciais: Uma Leitura a partir da Apropriao do Espao Domstico175
INTRODUO........................................................................................................ 176
4.1 Conceitos e procedimentos de anlises........................................................... 178
4.1.1 Apropriao do espao existente .................................................................. 178
4.1.2 Categorias de uso e ocupao dos espaos ................................................ 179
4.2 A negao da rede de vigilncia: formas de propriao do espao interior.. 182
4.2.1 A indisciplina que muda a funo.................................................................. 182
4.2.1.1 Os novos espaos do programa de necessidades.................................. 186
4.2.1.2 Os curingas do espao domstico........................................................... 193
4.3. As prticas cotidianas: as maneiras de fazer no espao domstico ............ 199
4.3.1 Os espaos e as atividades........................................................................... 199
4.3.2 Os espaos de permanncia......................................................................... 204
CONCLUSO......................................................................................................... 216
CAPTULO 5
As Alteraes Geomtricas e a Indisciplina que Muda o Vo .................................. 219
INTRODUO........................................................................................................ 220
5.1 Conceitos e categorias analticas..................................................................... 225
5.2 O espao ao longo das dcadas: uma leitura das plantas originais................ 229
5.2.1 Alteraes geomtricas no programa de necessidades ............................... 229
5.2.2 Anlise dos trs setores ................................................................................ 232
5.2.3 Os principais cmodos ao longo das dcadas.............................................. 237
5.2.3.1 Transformaes geomtricas da sala ....................................................... 237
5.2.3.2 Transformaes geomtricas do quarto..................................................... 241
5.2.3.3 Transformaes geomtricas da cozinha .................................................. 244
5.3 Quebra de autoria: a indisciplina que muda o vo ........................................ 247
5.3.1 Mudanas geomtricas dos habitantes......................................................... 249
5.3.2 Ganho de rea: o espao se revela .............................................................. 259
5.3.3 A indisciplina que rompeu com a rede de vigilncia................................... 263
CONCLUSO......................................................................................................... 268
-
CAPTULO 6
Os Riscos no Papel: a Representao Socioespacial e o Modo de Vida ............ 272
INTRODUO........................................................................................................ 273
6.1 Conceitos e instrumental metodolgico ........................................................... 275
6.1.1 Definio das categorias sintticas de anlise ............................................. 276
6.1.2 Ferramentas de anlise configuracional ....................................................... 279
6.2 Aspectos da configurao: uma leitura dos projetos originais ......................... 280
6.2.1 Distributividade e profundidade dos sistemas............................................... 281
6.2.2 Grau de Funcionalidade ................................................................................ 295
6.2.3 Integrao...................................................................................................... 303
6.3. A indisciplina que muda a configurao: o espao ps-reforma .................. 309
6.3.1 Os apartamentos ps-reformas..................................................................... 310
6.3.1.1 Integrao................................................................................................... 310
6.3.1.2 Grau de Funcionalidade ............................................................................. 317
6.3.2 Os impactos na amostra total........................................................................ 319
6.3.2.1 Sistemas menos distributivos e menos profundos..................................... 319
CONCLUSO......................................................................................................... 322
CONCLUSO...................................................................................................................... 325
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 341
ANEXOS ............................................................................................................................ 352
-
INTRODUO_______________________
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA |
O edifcio de apartamentos uma das manifestaes mais importantes da modernidade
(VAZ, 2002). As habitaes coletivas, existentes desde a era medieval, foram modificadas e
aperfeioadas at chegarem aos modernos edifcios e aos blocos de apartamentos. Esse longo
processo histrico sofreu avanos significativos a partir da Revoluo Industrial e do
conseqente caos habitacional causado pelo inchao populacional dos centros urbanos.
Propostas de habitaes coletivas, como os familistrios utpicos de Fourier (1772-
1837), os familistrios de Godin (1817-1889) e a Cidade Industrial de Tony Garnier (1869-1948),
foram feitas a fim de solucionar o problema da falta de moradia para uma populao crescente.
A ascenso do Movimento Moderno, no incio do sculo XX, com novos conceitos, materiais e
tcnicas construtivas, consolidou a habitao coletiva em altura como um novo jeito de morar.
Com a introduo dos princpios modernistas, os blocos residenciais foram
definitivamente adotados como uma soluo para o problema habitacional (RAMOS, 2003),
tornando-se smbolo do jeito de viver proposto pelo Movimento Moderno. Nessa proposta, a
unidade de habitao tornou-se a principal parte constitutiva da cidade moderna, devido ao
carter dominante atribudo residncia (BENVOLO 1980:101).
No Brasil, o processo de verticalizao, iniciada nas primeiras dcadas do sculo
passado, acelerou a mudana do conceito de habitao coletiva, que antes era associado
classe de baixa renda, mas passou a ser destinado tambm classe mdia (Captulo 2). A
habitao coletiva em altura de uso misto (comrcio, escritrio, moradia) era comum at que, a
partir do final da dcada de 1920, os edifcios de uso estritamente residenciais comearam a
aparecer. Nas dcadas seguintes, surgiram os edifcios de uso estritamente residencial com
caractersticas modernistas (pilotis, fachada livre, etc.) tambm destinados classe mdia, como
o Edifcio Prudncia (1950) e o Edifcio Louveira (1950), em So Paulo.
Ainda na dcada de 1940, comearam a surgir os conjuntos residenciais, sob influncia
modernista, para atender a classe de mdia e de baixa renda, como o Vrzea do Carmo (1940)
e o Edifcio Japur (1947) localizados em So Paulo, e o Realengo (1939-1943) e o Pedregulho
(1950-1952), sediados no Rio de Janeiro. No final da dcada de 1950, os edifcios de uso
estritamente residencial poderiam, grosso modo, ser classificados em duas categorias: a)
edifcios isolados para a classe mdia; b) conjuntos residenciais para a classe mdia baixa. O
Parque Guinle (1948-1954) exceo regra, porque um conjunto residencial feito para
classe mdia alta, e considerado o principal precedente das superquadras de Braslia
23
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA |
(FICHER, 2002). Em fins da dcada de 1950, consolidou-se a concepo de habitao coletiva
em altura, que foi incorporada proposta habitacional da nova capital brasileira (Captulo 2).
Houve um processo de amadurecimento, um acmulo das experincias ao longo da
primeira metade do sculo XX, que fez das superquadras uma proposta inovadora, se
transformando no embrio de uma nova maneira de viver, prpria de Braslia. Esta proposta
alterou definitivamente o significado de morar em apartamentos, pois este tipo de habitao nas
superquadras de Braslia significou dispor de cho livre e gramados amplos, extensos moradia
(COSTA, 1987).
O conceito de superquadras foi inovador, mas o conceito de apartamentos j havia se
consolidado nas primeiras dcadas do sculo XX. Os blocos de apartamentos, smbolo do
habitar moderno, compem o cenrio da capital brasileira, despertando interesse quanto ao nvel
de satisfao e/ou processos de adaptao a esta proposta. A partir disso, pergunta-se: tal
inovao implica novidades tambm no espao interno de morar ou mantm a proposta segundo
os preceitos modernistas? Se seguem os preceitos modernistas, as caractersticas permanecem
aps as modificaes feitas pelos moradores? Estes preceitos so identificados fora
(assentamentos do entorno) do Plano Piloto de Braslia?
A partir dessas indagaes, surge uma proposta de estudo que pretende caracterizar o
modo de vida em apartamentos, fazendo uma linha cronolgica do desenvolvimento desse tipo
de moradia, ao longo das ltimas quatro dcadas. A pesquisa considera caractersticas
morfolgicas (topolgicas e geomtricas), assim como informaes de uso das moradias e
permanncia das pessoas (ocupao) nos lugares. A configurao est associada maneira
como os cmodos so ordenados ou seqenciados (caractersticas topolgicas), ou seja,
estrutura formada em termos de acessibilidade aos espaos. A caracterstica geomtrica est
relacionada rea dos apartamentos e cmodos, o que permite analis-los quanto s mudanas
de tamanho (dimenses) ao longo das dcadas e dos diferentes programas de necessidades (rol
de funes e rtulos do espao arquitetnico domstico).
Esta investigao considera as caractersticas morfolgicas relacionadas maneira
como as pessoas interagem no espao, procurando identificar a configurao e as prioridades
socioespaciais (apropriaes e intervenes dos moradores) no interior dos apartamentos. O
objetivo entender as estratgias espaciais (projetos originais e modificados) que qualificam a
relao entre as pessoas do ncleo familiar e destas com visitantes e empregados, explicitando
o modo de vida, o jeito de morar em apartamentos no Distrito Federal. Por isso, a amostra
estudada a partir de aspectos que expressam caractersticas de tempo e espao: i) uso e
24
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA |
ocupao (prticas cotidianas, segundo CERTEAU, 2000, 2002) entendidos, respectivamente,
como atividades e permanncia nos lugares (Captulo 4); ii) caractersticas geomtricas (Captlo
5) e topolgicas (Captulo 6) relacionadas a aspectos fsicos (dimenses e rea) e relaes entre
espaos (configurao), considerando funes e rtulos (salas, quarto, cozinha, etc.), inclusive a
partir das alteraes realizadas pelos moradores.
A proposta investigar os espaos de morar e suas apropriaes (uso, ocupao,
intervenes), revelando facetas e caractersticas do modo de vida contemporneo, que vem se
modificando ao longo do tempo. Esta mudana pode ser percebida comparando apartamentos
do Plano Piloto com os novos assentamentos, como o caso do Sudoeste e de guas Claras, e
assentamentos mais antigos como Guar, Taguatinga e Cruzeiro (Captulo 3). Essa investigao
procura identificar continuidades, alteraes e adaptaes (tanto pelo setor imobilirio como
pelos moradores) das propostas modernistas no Distrito Federal, explicitando transformaes no
espao domstico e no modo de vida ao longo das dcadas.
No caso do Distrito Federal, contexto geogrfico da pesquisa, o universo vai alm do
eixo rodovirio residencial do Plano Piloto (Asa Sul e Asa Norte). Foram investigados
assentamentos urbanos posteriores, com caractersticas semelhantes ao proposto para o eixo
residencial de Braslia no que diz respeito opo por assentamentos com reas habitacionais
predominantemente verticais. A implantao destes assentamentos (Guar I, Guar II, Quadras
Econmicas Lucio Costa, Cruzeiro Novo, Sudoeste, Sudoeste Econmico, Octogonal,
Taguatinga e guas Claras) abarca o processo histrico de ocupao do Distrito Federal e
representam sua diversidade temporal e socioeconmica (Captulo 3).
Embora estes assentamentos apresentem algumas caractersticas similares s do Plano
Piloto por exemplo, o nmero de pavimentos adotado no Sudoeste ou a lgica da cidade em
torno de um grande eixo, em guas Claras , o modo de vida nos seus espaos de habitao
o mesmo? Os apartamentos mantm as mesmas caractersticas morfolgicas das habitaes do
Plano Piloto? O que dizer do jeito de morar e a apropriao do espao interno destas
habitaes?
No Distrito Federal, trabalhos como os de Holanda (2003), Frana (2001) e Frana &
Holanda (2003) revelaram um perfil do espao domstico relacionando modo de vida e
configurao espacial. Esses trabalhos, no entanto, optaram por estudar exclusivamente
habitaes unifamiliares, tipo predominante de moradia no Distrito Federal, pois representa mais
de 70% do total (PDAD, 2004). Isso significa que uma importante parcela da habitao da
capital, os apartamentos em blocos residenciais, no foi objeto de anlise destes trabalhos.
25
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA |
No caso do Plano Piloto, os blocos residenciais j foram estudados quanto s mudanas
definidas pelos cdigos de obras de diferentes perodos (1960, 1967 e 1989), no que diz
respeito densidade habitacional, ao andar trreo, garagem, s alteraes no nmero de
apartamentos por blocos etc. (FICHER, 2003). Tambm foram estudados os antecedentes
histricos dos blocos de apartamentos, alm de aspectos como a implantao isolada, o uso de
pilotis, o conceito de superquadras etc. (FICHER; 2002). Quanto aos apartamentos, j foram
analisados em trabalhos comparativos entre, por exemplo, prdios modernistas em Portugal e
cones do modernismo brasileiro (RAMOS, 2003). Este e outros estudos revelaram
caractersticas morfolgicas dos apartamentos e aspectos estticos e funcionais dos edifcios,
mas no traaram um estudo da evoluo desse tipo de habitao no Distrito Federal, ao longo
das ltimas dcadas.
Esta tese procura caracterizar o modo de vida no Distrito Federal, envolvendo
assentamentos de diferentes perodos histricos (Captulo 3). A proposta investigar o modo de
vida contemporneo em apartamentos e como este vem se modificando no tempo (cronologia
via datas dos projetos originais) e suas recentes transformaes (anlise das plantas originais e
das modificadas pelos moradores). Construindo uma histria da habitao coletiva em altura
(Captulo 2) e discutindo elementos da teoria arquitetnica ps dcada de 1960 (Captulo 1), as
anlises tomam aspectos topolgicos (configurao), geomtricos, de uso (atividades) e
ocupao (permanncia) do espao domstico para explicitar o jeito de morar em apartamentos
no Distrito Federal.
A partir de um aporte terico sobre representao socioespacial e apropriao do
espao real pelos moradores (Captulo 1), os objetivos so identificar a existncia de padres
socioespaciais domsticos para habitao coletiva em altura que sejam caractersticos de
modos de vida contemporneos no Distrito Federal; verificar se tais padres so condizentes
com a proposta modernista; e averiguar como as relaes sociais, a partir das prticas
cotidianas (de uso e ocupao dos espaos), esto relacionadas com aspectos geomtricos
(Captulo 5) e topolgicos (Captulo 6) dos apartamentos.
Buscando atingir estes objetivos, a pesquisa de campo foi realizada atravs da aplicao
de questionrio (Anexo I) em 168 apartamentos, distribudos em 11 localidades do Distrito
Federal. Alm das respostas sobre uso e ocupao - informaes que compem o banco de
dados, ver CD-ROM de dados que acompanha esta tese - este instrumento serviu para obter
informaes (desenhos e croquis, feitos pelos moradores) sobre a configurao atual dos
26
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA |
apartamentos (intervenes, mudanas de funo, alteraes no vo etc.), sendo que 60
apartamentos sofreram modificaes no vo, ou seja, 35% da amostra total.
Alm das informaes obtidas pelos questionrios, foi feito um levantamento dos
projetos originais destes 168 apartamentos nas Administraes Regionais. Foram localizadas e
analisadas (aspectos geomtricos e topolgicos) 140 plantas baixas (somente 28 no foram
localizados). Conseqentemente, a amostra total de 200 plantas, sendo 140 projetos originais
e 60 plantas dos apartamentos modificados (ver CD-ROM de imagens que acompanha esta
tese).
Comparar as propostas feitas ao longo de mais de quatro dcadas (plantas originais),
depois da inaugurao da capital, a oportunidade de estudar o que foi proposto e o que foi
efetivamente aceito (intervenes) pela populao brasiliense. perceber quais propostas
modernistas foram absorvidas pelos moradores, sendo que a busca pelo nvel de satisfao
destes pode expressar diferentes graus de aceitao da proposta original. Mais que nveis de
aceitao, a pesquisa investigou o modo como os moradores utilizam ou se apropriam do
espao, diagnosticando tendncias quanto mudana das funes e rtulos do espao
domstico (Captulo 4).
Tambm analisou as mudanas geomtricas (alteraes de rea) nos diferentes
assentamentos, ao longo das dcadas, e por tipo de apartamento (1, 2, 3 e 4 quartos) (Captulo
5); a proposta configuracional (plantas originais) e a configurao atual (plantas modificadas) por
Regio Administrativa e tambm ao longo do tempo (Captulo 6). A inteno foi verificar se os
apartamentos mantm caractersticas modernas (funes geomtricas e topolgicas), se
resgatam caractersticas pr-modernistas da casa brasileira, ou revelam novas tendncias nos
programas de necessidades.
A tese est estruturada em seis captulos dispostos da seguinte maneira: i) o Captulo 1
sistematiza conceitos e bases tericas que fundamentam as discusses ao longo do trabalho; ii)
no Captulo 2, o objeto (apartamentos em edifcios de uso estritamente residencial no Distrito
Federal) foi construdo a partir do resgate histrico da habitao coletiva em altura no Brasil,
explicitando tambm a abordagem sobre espao domstico adotada nesta tese; iii) o Captulo 3
apresenta o objeto de estudo (aspectos metodolgicos e tcnicos das anlises), a histria de
constituio dos assentamentos analisados e o perfil da amostra; iv) os ltimos trs captulos
so resultantes das anlises de uso e ocupao (Captulo 4), das caractersticas geomtricas
(Captulo 5) e topolgicas (Captulo 6) da amostra estudada. Para melhor compreenso, cada
captulo acompanhado de sua concluso, alm da concluso final da tese.
27
-
CAPTULO 1_______________________AS BASES CONCEITUAIS DO MODELO
ANALTICO
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA | 01
INTRODUO
O estudo do espao arquitetnico o grande desafio da Arquitetura como disciplina,
afinal, o espao , por excelncia, seu protagonista e seu produto principal, ou, como diria
Coutinho (1998), sua matria bastante. Por isso, estudar os atributos do espao to importante
para a Arquitetura quanto estudar os nmeros para a Matemtica. Espao e nmeros se
tornaram grandes desafios para essas duas reas do conhecimento, pois ambas necessitam de
um arcabouo terico que revele e explique os atributos dos elementos que so, em ltima
anlise, suas essncias.
No caso da Matemtica, os nmeros so estudados objetivando entender a estrutura
dos sistemas numricos e as propriedades dos inteiros positivos, em especial os nmeros
primos1. Estes formam um conjunto que fascina a humanidade desde sempre e so elementos
essenciais da teoria dos nmeros, pois parece no haver um padro ou uma lgica matemtica
que os geram.
Assim como os nmeros, o espao tambm fascina, no s a Arquitetura, como outras
reas do conhecimento2, e por isso continua sendo estudado sob diferentes aspectos3. Como na
Matemtica, a Arquitetura busca aprofundar o estudo dos atributos do espao arquitetnico,
procurando entender os sistemas espaciais e suas propriedades. Como no estudo dos nmeros,
isso nem sempre bvio e trivial.
Na Arquitetura, os mtodos procuram estudar o espao, abrangendo, grosso modo, dois
grupos: os componentes-meios e os componentes-fins. Os componentes-meios so os
elementos escultricos, os cheios, os slidos, a forma, e os componentes-fins seriam os
vos, os vazios, os ocos, os espaos (COUTINHO, 1998; HOLANDA, 2006). Estes termos
definem o alvo dos mtodos de estudo comumente utilizados na Arquitetura.
1 Nmeros Primos so inteiros positivos que s podem ser divididos por 1 ou por eles mesmos como, por exemplo,os nmeros 2, 3, 5, 7, 11. 2 Alm da Geografia, a Sociologia, a Filosofia e a Antropologia so algumas das reas que tm vasto histrico deestudo do espao, incluindo anlises do espao arquitetnico como expresso cultural da sociedade modernaocidental. Ver, por exemplo, Jameson (1996), Aug (1992). 3 Nesse sentido, importante no esquecer uma determinada noo moderna que sobreps o tempo ao espao. Segundo Foucault, essa noo comeou com Bergson, ou mesmo antes, sendo que o espao o que estava morto, fixo, no dialtico, e imvel. Em compensao, o tempo era rico, fecundo, vivo, dialtico. (1979:159).
29
-
A INDISCIPLINA QUE MUDA A ARQUITETURA | 01
Para Holanda (2006), os elementos por excelncia da Arquitetura so os componentes-
fins, afinal, so neles que estamos imersos. Essa discusso est inserida num espectro ainda
maior na investigao sobre espao na Arquitetura, e precisa ser mais bem apresentada. O que
se segue uma tentativa de situar tal discusso e apresentar o modelo analtico proposto, como
conseqncia dessas reflexes.
Este captulo est dividido em trs partes e procura apresentar algumas das teorias que
abordam o espao arquitetnico, surgidas a partir da dcada de 1960, e como e porqu elas
foram incorporadas Arquitetura. O critrio para escolhas de determinadas teorias sua
abrangncia e relevncia para os atuais estudos relativos ao espao domstico, portanto, ao
espao interior. A perspectiva deste primeiro captulo apresentar o arcabouo terico a ser
utilizado no decorrer do trabalho, com o cuidado de definir, neste primeiro momento, os
principais conceitos utilizados nesta tese.
1.1. CAMINHOS DA TEORIA EM ARQUITETURA APS 1960
Desde a Filosofia, passando pela Antropologia e Sociologia, at Lingstica, vrios so
os olhares sobre o espao arquitetnico, e muitas so as contribuies para seu estudo em
diferentes disciplinas ou reas de conhecimento. Particularmente, no sculo XX, a Arquitetura
teve papel importante nas discusses sobre as percepes e concepes do espao na
modernidade e na ps-modernidade, com reflexes no mbito da Antropologia4 e da Sociologia5.
As discusses em Arquitetura foram impulsionadas principalmente pelas crticas s
propostas arquitetnicas e urbansticas do Movimento Moderno, iniciadas praticamente por
Jacobs (1961) embora divergncias e questionamentos j existissem dentro do CIAM,
protagonizadas pelo Team X6 que fizeram com que a Arquitetura entrasse em um perodo de
4 Marc Aug ao discutir o espao na modernidade analisou lugares arquitetnicos como aeroportos, supermercadose outros, para discutir seu conceito de no lugares - espaos que no so identitrios, relacionais e histricos.(AUG, 1992). Roberto DaMatta deu contribuio fundamental ao estudar a casa e rua como sistema de relaes e cdigos sociais (DaMATTA, 1991). 5 O filsofo Fredric Jameson, por exemplo, lanou mo de anlises sobre a esttica e os re-arranjos do espaoarquitetnico para materializar as discusses sobre as concepes ps-modernas. Para ele, as novas construestornam explcitas as mudanas nas formas, usos e percepes do espao na contemporaneidade ocidental(JAMESON, 1996). 6 O grupo de arquitetos que esteve frente dos CIAMs em seu terceiro estgio, composto, entre outros, por Alison e Peter Smithson e Aldo van Eyck ,tambm chamado de Team X, protagonizou as primeiras crticas ao urbanismo
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questionamentos que abalaram a hegemonia do movimento (FRAMPTON, 1997; SEGAWA,
2002). Fruto desses questionamentos foi o surgimento, nas dcadas seguintes, de vrias
manifestaes denominadas de pr, ps ou anti-modernas. Os antagonismos destas
manifestaes contriburam para explicitar, por um lado, o momento crtico no qual a Arquitetura
se encontrava, e, por outro, a efervescncia do debate sobre o papel da disciplina.
Enquanto as crticas ao Modernismo eram propagadas, especialmente na Europa e
EUA, no Brasil acontecia o pice do movimento com a construo de Braslia (SEGAWA, 2002;
BRUAND, 2002; FRAMPTON, 1997; BASTOS, 2003). Para alguns autores, desde a construo
de Braslia, ocorreu no pas um curto-circuito que provocou um isolamento dos arquitetos
brasileiros do dilogo mundial. Situao muito diferente da primeira metade do sculo XX,
quando a Arquitetura Moderna, predominantemente de origem corbusiana, encontrou nos
arquitetos brasileiros um de seus principais interlocutores.
Na apresentao do livro de Nesbitt (2006), Lira afirma que provvel que o curto-
circuito que se produziu no pas depois da construo de Braslia tenha algo a ver com a forma
como a modernidade arquitetnica passou a ser interpelada entre ns. Sobretudo desde o golpe
militar de 1964 (2006). Em relao ao golpe militar e suas conseqncias para a Arquitetura
moderna, essa parece ser uma leitura compartilhada por outros autores.
Para Bastos (2003), o golpe de 1964 representou o fim de uma poltica de conciliao
ideolgica que marcou o perodo de propagao da Arquitetura Moderna no pas e sua
consagrao com a construo da nova capital. Segundo ela, o golpe militar atingiu em cheio o
projeto arquitetnico que tinha encontrado no pas, desde o Governo Vargas, a possibilidade de
concretizar muitas das idias que refletiam os ideais socialistas. Segundo Bastos,
grande parte dos arquitetos era de esquerda e tinha, portanto, um projeto para o pas que se
refletia num desenho para a ocupao do territrio nacional. Desenho que talvez comungasse
muita das caractersticas de Braslia, que agora se prestava a sede de um regime extremamente
repressor das liberdades individuais, com um modelo econmico concentrador de renda, que
afastava o pas de um futuro socialista (2003:05).
moderno, ainda em 1953, e ficaram evidentes no ltimo CIAM, realizado em Dubrovnik, em 1956. (FRAMPTON,1997:329).
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De fato, o movimento moderno na arquitetura brasileira vivenciou momentos de glria no
primeiro e no segundo ps-guerra (SEGAWA, 2002). O Estado brasileiro adotou a proposta e
deu condies para que se propagassem os novos ideais de urbanismo e arquitetura pelo
territrio nacional, como veremos adiante. No entanto, as dcadas de 1960 e 1970 foram
marcadas pelas controvrsias poltico-ideolgicas que interromperam esse crculo virtuoso,
embora ainda persistisse o desafio de completar o processo de modernizao brasileira (Bastos,
2003)7, mesmo que relegando as discusses internacionais que estavam em curso. Segundo
Bastos (2003), somente na dcada de 1980 se criou no Brasil uma reao ps-modernidade e
s afirmaes sobre o esgotamento dos ideais modernistas na Arquitetura.
O livro de Nesbitt (2006) um panorama da produo terica com a temtica ps-
moderna8, com textos de arquitetos produzidos entre 1965 e 1995, na Europa e nos Estados
Unidos. Para Lira (2006), esse apanhado permite romper com o longo isolamento que
condenou o meio local dos arquitetos a um dilogo de surdos. Na mesma linha de Bastos
(2003), ele est se referindo discusso travada no mbito da Arquitetura ou mesmo fora dela
, onde a modernidade e as manifestaes ps-perodo moderno ditaram o discurso alm das
nossas fronteiras, mas os arquitetos brasileiros no se fizeram presentes.
Ressalta-se, entretanto, que no Brasil e alhures ocorreu, no mesmo perodo, uma
grande produo terica incluindo reflexes sobre o espao arquitetnico, a Arquitetura como
disciplina e tambm como rea de conhecimento, em diferentes direes. Nada parecido com o
discurso afinado que regeu os ideais modernos na primeira metade do Sculo XX, mas,
diferente do que foi apresentado por Nesbitt (2006), ocorreram manifestaes outras, alm das
teorias ps-modernas difundidas a partir da dcada de 1960, nos EUA e na Europa. Inclusive, no
Brasil, essas manifestaes foram consubstanciadas na permanncia e na evoluo da
arquitetura moderna em obras como as de Lel (Joo Filgueiras Lima), Oscar Niemeyer, Paulo
Mendes da Rocha e tantos outros.
Dentre as caractersticas da abordagem arquitetnica, no perodo posterior dcada de
1960, est a interdisciplinaridade. Segundo Nesbitt (2006:15), desde meados dos anos 1960, a
teoria vem se caracterizando pela interdisciplinaridade e pelo recurso a um amplo espectro de
paradigmas crticos. Postura adotada por muitos tericos da arquitetura, a interdisciplinaridade
7 Bastos est se referindo ao perodo marcado pelo Governo Vargas (1930-1945), caracterizado pelo processo demodernizao brasileira mediante o incentivo industrializao.8 Seguindo Nesbitt (2006), os termos ps-moderno e ps-modernismo sero usados no sentido de integrar eidentificar um perodo marcado pelo pluralismo na Arquitetura. Segundo ele (2006:15), de fato, uma dascaractersticas do perodo pluralista imprecisamente designado de ps-moderno a inexistncia de um tpico ou deum ponto de vista predominante.
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foi a soluo para o entendimento do espao como objeto a ser analisado luz de conceitos
advindos de outras disciplinas. A nfase dada interdisciplinaridade, em detrimento da
disciplinaridade na Arquitetura, foi duramente criticada por Peponis (1989) e Holanda (2006). O
problema, segundo Peponis, no o vnculo com outras disciplinas, mas a ausncia de uma
contribuio terica efetiva da Arquitetura, onde o espao passa a ser ator principal (PEPONIS,
1989; HILLIER & HANSON, 1984; HOLANDA, 2006)9. A crtica, portanto, feita para os tericos
da Arquitetura. Segundo Holanda (2006:06), No paradigma epistemolgico hegemnico a
arquitetura estranha ao panteo das disciplinas cientficas. Decorre que ela ressente-se de um
complexo de inferioridade que a faz aceitar o status de adjetivo afeto a disciplinas de maior
tradio de pesquisa
Holanda (2006:17) defende que Arquitetura disciplina autnoma, com olhar especfico
sobre o espao arquitetnico, e que o aprofundamento disciplinar implica a construo de
pontes entre a disciplina da Arquitetura e as cincias exatas, da natureza ou humanas. A
simples transposio de conceitos e mtodos de anlise de outras disciplinas um equvoco,
uma vez que as disciplinas na rea das cincias sociais ou naturais possuem mtodos e
categorias analticas que lhe so prprias, elaboradas em funo de fenmenos outros que no
partem da Arquitetura (HOLANDA, 2006).
Para Peponis, um dos equvocos ao estudar o espao luz das teorias de outras
disciplinas que estas no partem do espao para suas anlises, pois h uma iluso de uma
sociedade a-espacial, na qual a percepo do espao como pano de fundo homogneo para
uma arquitetura de imagens visuais tem sua contrapartida nas anlises sociais que sugerem que
a sociedade contempornea superou o problema do espao (1989:14)10. O espao, portanto, foi
tido como coadjuvante nos estudos envolvendo a sociedade quando a estrutura espacial no
apenas pano de fundo neutro e a arquitetura no deve ser entendida em termos de pura
expresso visual (PEPONIS, 1989).
Por outro lado, o trabalho de Nesbitt (2006), ao reunir textos que abordam temas como
fenomenologia, estruturalismo, ps-estruturalismo e semitica, como fundamentais da cultura
9 importante destacar que a discusso sobre a reflexo terica, em Arquitetura, e a constituio de um arcabouoterico no uma novidade do sculo XX. Holanda (2002:69), cuidadosamente, faz essa ressalva ao destacar a discusso sobre a necessidade de um pensamento reflexivo apropriado para a Arquitetura, encontrado desdeVitrvio.10 Essa perspectiva em relao ao espao est calcada em teorias que afirmam que o tempo prevaleceu sobre oespao na modernidade. A separao entre tempo e espao resultou num conceito de espao com caractersticas de extenso e inrcia em contrapartida dinmica e ao fluxo contnuo e uniforme do tempo (SAUER, 2002). Paramaiores detalhes, ver Sauer, 2002:88-99.
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arquitetnica contempornea11, explicita como a produo terica, a partir do arcabouo de
outras reas de conhecimento, predominou nas dcadas posteriores a 1960. Segundo Nesbitt
(2006), essa produo terica dos arquitetos a procura por retomar o significado que os
questionamentos da ideologia arquitetnica moderna tiveram para criao intelectual no seio da
arquitetura. Para Nesbitt (2006:15), Todas as tendncias contraditrias coexistentes no ps-
modernismo mostram claramente um desejo de ultrapassar os limites da teoria modernista,
inclusive do formalismo e dos princpios do funcionalismo..
Holanda (2006) apresenta, no entanto, uma leitura bastante diferente sobre essa postura
diante das crticas ao modernismo arquitetnico. Para ele, esse foi o grande equvoco da febre
interdisciplinar dos anos 1970, que atrasou perversamente o conhecimento da arquitetura,
conseqentemente levando repetio dos erros do Movimento Moderno (HOLANDA,
2006:06). Na mesma linha, Peponis (1989:04) acredita na limitao das crticas ao urbanismo
moderno: a crtica ao modernismo limitou-se rejeio de seus objetivos programticos, mais
precisamente no que se refere ao zoneamento, em vez de investir no desenvolvimento de
melhores teorias descritivas do espao urbano..
Enquanto os ps-modernos criticam o formalismo e o funcionalismo, outros autores
acreditam que o problema menos o zoneamento, considerado um dos males do funcionalismo
modernista, e mais a fragilidade de identificar os problemas do espao, propriamente dito.
Portanto, uma diferena de fundo. Ao analisar os pontos de vista surgidos a partir das crticas
proposta modernista, principalmente as motivadas por Jacobs (1961), Peponis (1989) identifica
fragilidade na argumentao de alguns tericos da arquitetura.
As argumentaes so passveis da mesma crtica, pois no resolvem a questo de
como projetar espaos, uma vez que esto mais preocupados com o significado do espao
arquitetnico e menos com a resposta que esse espao pode dar s expectativas dos potenciais
usurios, seja de uma arquitetura como bem ou como signo12. A fragilidade argumentativa est
ligada a pouca ateno dada configurao, afirma Peponis. Em relao ao espao das
cidades, por exemplo, a falta de clareza em relao morfologia fsica de cidades bem
11 As teorias ps-modernas tm, em suas razes, conceitos emprestados de outras reas de conhecimento, dentre as quais se destacam: a fenomenologia; a esttica do sublime; a lingstica; o marxismo e o feminismo (NESBITT, 2006). Da lingstica vm a semitica, o estruturalismo e o ps-estruturalismo, sendo que dentro do ps-estruturalismo est a desconstruo (NESBITT, 2006:31).12 A arquitetura entendida como bem, pois implica aspectos funcionais, bioclimticos, econmicos e sociolgicos.Como signo ela expressa aspectos estticos, simblicos, afetivos e topoceptivos (Holanda, comunicao oral, apartir de conceituao exposta em PULS, Maurcio. Arquitetura e filosofia. So Paulo: ANNABLUME, 2006).
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sucedidas, tem estado na base da argumentao dos tericos da arquitetura (PEPONIS,
1989:03). E conclui:
As crticas pioneiras ao planejamento urbano moderno, que no chegavam a identificar
sistematicamente as variveis arquiteturais que afetam a maneira pela qual as cidades so
utilizadas, podem sugerir que, nessas discusses, uma reflexo em particular evitada: faz-se
grande silncio sobre as propriedades projetuais e configurativas das cidades (PEPONIS,
1989:16).
Existem duas posies reflexivas distintas que marcam o perodo posterior construo
de Braslia. O ponto de partida de ambas o momento de reflexo sobre a prtica arquitetnica,
principalmente, a partir das crticas ao Movimento Moderno, mas se apresentam com
caractersticas distintas. A primeira questiona uma postura interdisciplinar que negligencia a
disciplinaridade (rea de conhecimento prprio) em Arquitetura (PEPONIS, 1989; HOLANDA
2006), e a segunda, ilustra o quanto a interdisciplinaridade (especialmente as teorias chamadas
ps-modernas) motivou a produo intelectual do perodo (NESBITT, 2006). Ambas so
igualmente defendidas e criticadas e aguam a discusso e reflexo sobre as diferenas nos
caminhos que definiram a teoria arquitetnica na segunda metade do sculo XX.
De maneira geral, o estudo das chamadas teorias ps-modernas, ou das diferentes
manifestaes arquitetnicas surgidas na segunda metade do sculo XX, so agrupadas por
vertentes: historicistas, racionalistas, neo-modernistas, funcionalistas, deconstrutivistas, entre
outras (FRAMPTON, 1997; STELLE, 1997). Essa classificao depende das influncias
identificadas nas obras arquitetnicas (esttica, por exemplo) ou da proximidade do arquiteto
determinada teoria.
Seguindo outra lgica de agrupamento, possvel fazer uma leitura a depender do tipo
de abordagem que se faz do espao arquitetnico. Dentro do amplo espectro da abordagem na
teoria arquitetnica, uma rpida passagem por algumas teorias, difundidas a partir da dcada de
1960, visa identificar diferenas quanto ao enfoque dado em relao aos componentes-meios
(escultricos) e dos componentes-fins (os vos) (COUTINHO, 1998). Destaque-se que no se
procura perpassar todas as correntes de abordagem, mas ressaltar apenas algumas delas e
suas diferenas em relao anlise dos elementos-alvo desta tese.
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1.1.1. MAIS OS ASPECTOS ESCULTRICOS E MENOS O ESPAO INTERIOR
A preocupao com os aspectos escultricos faz parte da arquitetura ao longo dos
sculos. Em Vitrvio (sc. I a.C), Alberti (sc. XV) e Palladio (sc. XVI) encontramos tambm a
preocupao com os elementos estticos da arquitetura. De acordo com Coutinho (1998), essa
parte da obra arquitetnica e se refere aos componentes-meios, que so os aspectos
escultricos da arquitetura. Isso no diferente para os arquitetos do sculo XX que, partindo de
diferentes matrizes conceituais, teorizaram sobre os componentes-meios da arquitetura.
Particularmente na segunda metade do ltimo sculo, dentre as manifestaes surgidas
a partir das crticas ao movimento moderno, est o resgate dos aspectos historicistas em
arquitetura. Os chamados historicistas ps-modernos (FRAMPTON, 1997; NESBITT, 2006)
formularam crticas ao Modernismo retomando, por exemplo, a ornamentao.
Essa retomada no privilegiou nenhum estilo arquitetnico, mas, sim, protagonizou um
ecletismo, diferente, na forma e na intensidade, do que foi encontrado no final do sculo XIX e
incio do sculo XX no Brasil, onde era possvel encontrar justapostos todos os estilos que
utilizavam colunas, cornija, frontes da Renascena Italiana ao Segundo Imprio Francs,
passando pelo classicismo, pelo barroco e pelo neoclssico de fins do sculo XVII e primeira
metade do sculo XIX (BRUAND, 2002).
O ecletismo historicista da Piazza dItlia (1975-79, de Charles Moore) e das fachadas
da Bienal de Veneza (1980) com o tema a presena do passado e chamadas por Habermas
(1992) de vanguarda de fachadas retroversas so exemplos de uma postura que procurou
confrontar uma posio contrria ornamentao. Essa posio contrria ornamentao
suprflua na arquitetura foi defendida pelo movimento moderno e protagonizada, dentre outros,
por Aldof Loos (1850-1928) em suas obras e no manifesto Ornamentao e crime, de 1908.
Anterior a isso, mas considerado um marco na defesa de uma esttica com caminhos
diferentes da at ento difundida pelo movimento moderno, surgiu o chamado populismo nos
Estados Unidos. Em 1966, Venturi (1995), ao retratar o populismo americano, procurou colocar
em questo a esttica universalizante que os modernistas propagaram. Para Venturi (1995), a
histria fonte dos ps-modernos historicistas no era a nica fonte de modelos ou inspirao
para a arquitetura contempornea. A pop-art foi defendida por ele como arquitetura inovadora
por mostrar que a banalidade quotidiana pode ser fonte de vitalidade, de diverso e de cor
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(LUPFER et al., 2003). O populismo fazia uma pardia ecltica que ia do clssico ao Art Dco
e tambm ao vernculo (FRAMPTON, 1997).
Do ponto de vista deste estudo, em 1972, a grande contribuio de Venturi (1998) foi
propor a discusso da arquitetura do galpo decorado ou do pato, mostrando como o espao
interno foi pouco importante naquele momento das discusses sobre a teoria arquitetnica.
primeira vista, Venturi questionou o lema a forma segue a funo de Louis Sullivan, pois seu
galpo decorado era uma construo funcional, cuja decorao e indicao de funo se
apresentaram sob a forma de um cartaz publicitrio colocado na platibanda ou no telhado, como
so, por exemplo, as fachadas dos hipermercados atuais.
Segundo Steele (1997:340), Venturi e Brown [...] declararam uma completa contradio
do cnone modernista, pois um edifcio no necessariamente precisa expressar sua funo
formalmente e visualmente. Afinal, a cenografia de Las Vegas revela galpes decorados, cujas
fachadas so ornamentadas com rplicas de diferentes estilos arquitetnicos e cuja funo a
mesma: abrigar cassinos.
Por outro lado, o pato a imagem de um quiosque de fast-food especializado em
carne de aves, no formato de pato tornou-se o smbolo da construo comercial escultural, em
que a forma simblica apropriou-se literalmente da arquitetura. Mesmo em oposio, o pato e o
galpo decorado explicitam mais do que uma crtica ao lema de Johnson. Mostram que no
a arquitetura que domina o espao, mas sim o signo, com sua forma escultural, a sua silhueta e
os seus efeitos de luz (LUPFER et al, 2003:792). Para Venturi (1998:115)13, O pato o edifcio
especial que um smbolo; o galpo decorado o refgio convencional ao qual se aplica
smbolos. Afirmamos que ambas as classes de arquiteturas so vlidas.
A crena de que a arquitetura no domina o espao, o vo, e sim o signo, por meio de
seus aspectos escultricos, , sem dvida, uma diferena marcante entre as preocupaes
apresentadas por Venturi e por outros tericos do perodo. O apego aos aspectos do significado
da obra arquitetnica tornou-se demasiadamente forte e uma das caractersticas das teorias
em fins de sculo XX.
Frampton (1997) fez uma crtica excessiva nfase na avaliao dos aspectos
escultricos da arquitetura. Para ele, essa simulao cenogrfica reduz a arquitetura da
construo pura pardia e o populismo tendia a minar a capacidade da sociedade no sentido
de continuar com uma cultura significativa da forma construda (FR