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  • DPOC E TABAGISMO:

    UM BINMIO PERIGOSO

    Marlon Akio da Silva Issobe

    Rio de Janeiro

    2012

  • ii

    MARLON AKIO DA SILVA ISSOBE

    Aluno do curso de Farmcia

    Matrcula 0823800119

    DPOC E TABAGISMO:

    UM BINMIO PERIGOSO

    Trabalho de Concluso de Curso, TCC,

    apresentado ao Curso de Graduao em

    Farmcia, da UEZO como parte dos requisitos

    para a obteno do grau de Bacharel em

    Farmcia, sob a orientao do Professor Andr

    Luiz Fonseca de Souza.

    Rio de Janeiro

    Julho de 2012

  • iii

    DPOC E TABAGISMO:

    UM BINMIO PERIGOSO

    Elaborado por Marlon Akio da Silva Issobe

    Aluno do curso de Farmcia da UEZO

    Este trabalho de Graduao foi analisado e aprovado com

    Grau: ______

    Rio de Janeiro, 03 de Julho de 2012.

    _______________________________________

    Prof. Andr Luiz Fonseca de Souza, Ph.D., da UEZO Presidente

    ______________________________________

    Prof. Isabele Barbieri dos Santos, Ph.D., da Fiocruz

    _______________________________________

    Prof. Alessandra Micherla Rodrigues do Nascimento, Ph.D., da UEZO

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    Julho de 2012

  • iv

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho...

    A toda minha famlia pelo imenso apoio, suporte, compreenso e

    torcida, a mim dedicados durante toda a trajetria de graduao.

    Aos meus amigos por todo carinho, companheirismo e ateno,

    partilhados ao longo desses 4 longos anos.

    A meu sobrinho, Miguel, cuja chegada trouxe muita luz e serviu

    de inspirao.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela beno, por ter guiado meus passos e pela proteo em

    todos os dias de minha vida.

    Aos meus pais, Takeshi e Edith, pelo amor, base e dedicao que

    sempre me deram e por todos os sacrifcios feitos at hoje por mim e, apesar

    de todas as dificuldades passadas nunca pouparam esforos para que eu

    pudesse atingir meus objetivos.

    A minha irm, Michele, pelo companheirismo e apoio, no s durante

    este perodo, mas por toda vida.

    A minha tia Erclia, pelo enorme carinho e zelo, e por me acolher de

    forma to generosa.

    A Paola e Rosilane, pessoas que conheci na graduao e que com

    certeza levarei para sempre comigo. Esta jornada no teria sido to especial,

    nem tido a mesma graa sem vocs ao meu lado. Muito obrigado pela

    amizade, convvio, companheirismo e por terem dividido angstias e

    multiplicado alegrias.

    A todos os meus amigos, que de alguma forma me alegraram,

    motivaram e impulsionaram durante esta jornada.

    A todos os companheiros da 1 turma de farmcia da UEZO, pelos

    momentos divertidos que passamos (que no foram poucos), por todas as

    dificuldades e provaes que enfrentamos para que pudssemos concluir este

    curso. Sentirei saudades.

    Ao Dr. Andr Luiz Fonseca de Souza, meu orientador, pessoa com um

    dos maiores nveis de conhecimento, que tive a honra de conhecer, e um

    professor como poucos.

    A todos os meus professores pelos ensinamentos, muito uteis, e que

    contriburam para meu crescimento profissional. Cada um dos professores tem

    uma participao especial nesta etapa de minha vida.

  • vi

    RESUMO

    A doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) caracterizada por uma

    limitao irreversvel no fluxo de ar pulmonar associada com inflamao

    crnica e hipersecreo de muco (bronquite crnica) e pela destruio

    patolgica dos espaos areos alveolares que conduzem a enfisema.

    Atualmente sabe-se que esta doena envolve uma complexa variedade de

    manifestaes celulares, anatmicas, funcionais e clnicas. uma doena

    progressiva e est relacionada a uma resposta inflamatria anormal dos

    pulmes inalao de partculas e/ou gases txicos. Na prtica e na pesquisa

    clnica, a definio da DPOC baseia-se na extenso da obstruo ao fluxo

    areo medido por meio da espirometria. DPOC considerada uma doena

    evitvel e tratvel que, embora acometa primariamente os pulmes, h

    diversas manifestaes extrapulmonares significativas que podem tambm

    contribuir para a gravidade da doena em pacientes individuais. DPOC

    causada principalmente pela exposio fumaa do tabaco, sendo uma das

    principais causas de incapacidade e mortalidade, representando a quarta maior

    causa de morte no mundo, e sua prevalncia s aumentar nos prximos anos.

    Apesar do enorme crescimento da prevalncia e da mortalidade da DPOC, no

    existe nenhuma abordagem teraputica que consiga controlar a evoluo da

    doena estabelecida, sendo que os tratamentos so baseados nos alvios dos

    sintomas dos pacientes, principalmente com a utilizao de broncodilatadores.

    Por este motivo a cessao tabgica a nica medida que melhora o

    prognstico e a sobrevida dos doentes com DPOC.

    Palavras-chaves: DPOC, Tabagismo, Inflamao, Estresse oxidativo.

  • vii

    ABSTRACT

    The chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is characterized by

    an irreversible limitation in lung airflow associated with chronic inflammation and

    mucus hypersecretion (chronic bronchitis) and the pathological destruction of

    the alveolar air spaces leading to emphysema. Currently it is known that this

    disease involves a complex diversity of cellular, anatomical, functional and

    clinical events. It is a progressive disease and is associated with an abnormal

    inflammatory response of lungs to inhaled particles and/or toxic gases. In

    practice and medical research, the definition of COPD based on the extent of

    airflow obstruction measured by spirometry. COPD is considered a treatable

    and preventable disease that, although primarily affects the lungs, there are

    several significant extrapulmonary manifestations which may also contribute to

    the severity of the disease in individual patients. COPD is primarily caused by

    exposure to tobacco smoke, being a major cause of disability and mortality,

    representing the fourth leading cause of death worldwide, and its prevalence

    will only increase in coming years. Despite the enormous increase in

    prevalence and mortality of COPD, there is no therapeutic approach that could

    control the evolution of established disease, the treatments are based on relief

    of symptoms of patients, mainly with the use of bronchodilators. Therefore

    smoking cessation is the only action that improves the prognosis and survival of

    patients with COPD.

    Key Words: COPD, Smoking, Inflammation, Oxidative Stress.

  • viii

    A realidade do seu sucesso frequentemente tem a ver

    com quem ir ganhar a batalha que est sendo travada

    dentro dos dois de voc: o voc que quer parar,

    desistir, relaxar, ou o voc que se recusa a se

    entregar e no ir desistir at conseguir alcanar seus

    sonhos.

    Chris Widener

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Caractersticas histolgicas da bronquite crnica. ........................... 20

    Figura 2. Foto de histopatologia de tecido pulmonar ....................................... 21

    Figura 3. Enfisema representa um desequilbrio ............................................. 23

    Figura 4. Enfisema centrolobular e panacinar ................................................. 24

    Figura 5. As clulas inflamatrias envolvidas na patognese da DPOC ......... 31

    Figura 6. O estresse oxidativo e seus efeitos .................................................. 35

    Figura 7. Gerao de uma resposta imune adaptativa em pacientes com

    DPOC ............................................................................................................... 42

    Figura 8. Fisiopatologia das manifestaes sistmicas e locais da DPOC. .... 50

    Figura 9. Diagnstico da DPOC ...................................................................... 52

    Figura 10. Mecanismo de ao dos agonistas -adrenrgicos ....................... 57

    Figura 11. Frmula Estrutural da N-acetilcistena ............................................ 59

  • x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Estgios GOLD de gravidade da DPOC .......................................... 19

    Tabela 2. As 10 principais causas de morte no mundo em 2008 ..................... 26

    Tabela 3. As 10 principais causas de bito no Brasil, 2005 ............................. 28

    Tabela 4. Fatores de risco para DPOC ............................................................ 29

    Tabela 5. Orientaes teraputicas de acordo com os estdios da DPOC ..... 55

  • xi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ALAT Associao Latino-Americana de Trax

    AMP Adenosina monofosfato

    AP-1 Ativador de protena-1

    CVF Capacidade vital forada

    DNA cido desoxirribonucleico

    DPOC Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica

    ENA Ativador neutroflico derivado do epitlio

    EROs Espcies reativas de oxignio

    GCL Glutamato-cistena ligase

    GM-CSF Fator estimulador de colnias de granulcitos-

    macrfagos

    GOLD Iniciativa Global para Doena Pulmonar Obstrutiva

    Crnica

    GPxe Glutationa peroxidase extracelular

    GRO Oncogene relacionado ao crescimento

    GSTM1 Glutationa S-transferase M1

    GSTP1 Glutationa S-transferase P1

    IFN- Interferon gama

    Ig Imunoglobulina

    IL Interleucina

    IMC ndice de massa corpreo

    LBA Lavado broncoalveolar

  • xii

    LTB4 Leucotrieno B4

    MAPK Protena quinase ativada por mitgenos

    MDA Malondialdedo

    MMP Metaloproteinase

    NF-B Fator nuclear-B

    NK Clulas Natural Killer

    NO xido Ntrico

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PaCO2 Presso parcial do CO2 no sangue arterial

    PaO2 Presso parcial de oxignio no sangue arterial

    PCO2 Presso parcial de dixido de carbono

    PDE Fosfodiesterase

    PLATINO Projeto Latino-americano de Investigao em

    Obstruo Pulmonar

    PMNs Leuccitos polimorfonucleares

    SIRT1 Protena sirtuna-1

    SOD Superxido dismutase

    SpO2 Saturao perifrica de oxignio

    Tc1 Clulas T citotxicas do tipo 1

    Tc2 Clulas T citotxicas do tipo 2

    Th1 T helper 1

    Th2 T helper 2

    TNF- Fator de necrose tumoral alfa

    VEF1 Volume expiratrio forado no primeiro segundo

  • xiii

    SUMRIO

    Pgina

    RESUMO............................................................................................................ vi

    ABSTRACT ....................................................................................................... vii

    LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... ix

    LISTA DE TABELAS ........................................................................................... x

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................. xi

    1. INTRODUO ............................................................................................. 15

    2. OBJETIVOS ................................................................................................. 17

    2.1. OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................... 17

    3. REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................ 18

    3.1. DOENA PULMONAR OBSTRUTIVA CRNICA .............................. 18

    3.1.1. Bronquite Crnica ................................................................ 19

    3.1.2. Enfisema Pulmonar .............................................................. 20

    3.2. EPIDEMIOLOGIA................................................................................ 24

    3.3. FATORES DE RISCO ......................................................................... 27

    3.4. PATOGNESE ................................................................................... 30

    3.4.1. Gentica da DPOC ............................................................... 33

    3.4.2. O Estresse Oxidativo ........................................................... 34

    3.4.3. Inflamao ............................................................................ 38

    3.4.3.1. Clulas inflamatrias e seus mediadores ................... 38

    3.4.3.2. Clulas estruturais ..................................................... 39

    3.4.3.3. Macrfagos ................................................................ 40

  • xiv

    3.4.3.4. Linfcitos .................................................................... 41

    3.4.3.5. Neutrfilos .................................................................. 45

    3.4.3.6. Quimiocinas na patognese da DPOC ...................... 45

    3.4.3. Desequilbrio Protease Antiprotease .............................. 47

    3.5. PATOLOGIA DA DPOC ...................................................................... 47

    3.6. SINTOMATOLOGIA ............................................................................ 49

    3.6.1. Comorbidades ...................................................................... 51

    3.7. DIAGNSTICO ................................................................................... 52

    3.7.1. Avaliao Espiromtrica ..................................................... 53

    3.7.2. Avaliao Radiolgica ......................................................... 54

    3.7.3. Avaliao Gasomtrica e do pH.......................................... 54

    3.8. TRATAMENTO ................................................................................... 55

    3.8.1. Broncodilatadores ............................................................... 55

    3.8.1.1. 2-agonistas ............................................................... 56

    3.8.1.2. Anticolinrgicos .......................................................... 56

    3.8.1.3. Xantinas ..................................................................... 57

    3.8.2. Corticoides ........................................................................... 57

    3.8.3. N-acetilcistena ..................................................................... 58

    3.8.4. Oxigenoterapia ..................................................................... 59

    3.8.5. Fisioterapia Respiratria ..................................................... 59

    3.8.6. Novas Opes Teraputicas ............................................... 60

    3.8.7. Tratamento das Comorbidades .......................................... 60

    4. CONCLUSO .............................................................................................. 62

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................ 63

  • 15

    1. INTRODUO

    A doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) um termo genrico usado

    para descrever um grupo de doenas pulmonares crnicas, caracterizadas pela

    limitao por um longo perodo ao fluxo areo nos pulmes que no totalmente

    reversvel. O termo inclui bronquite crnica e enfisema pulmonar, que no

    esto mais sendo usados, mas includos dentro do diagnstico da DPOC (WHO,

    2011).

    Na bronquite crnica a leso pulmonar se localiza nos brnquios e

    bronquolos, tornando-os cronicamente inflamados, espessos e com constante

    produo de muco. O paciente com bronquite crnica apresenta alm dos

    sintomas de falta de ar e cansao, um quadro de tosse crnica com expectorao

    (FERREIRA, 2010).

    O enfisema se caracteriza pela destruio e alargamento dos bronquolos

    terminais e alvolos, que perdem sua elasticidade e favorecem o aprisionamento

    do ar dentro dos pulmes. No enfisema notamos uma hiperinsuflao mantida dos

    pulmes devido ao ar que nunca sai por completo (FERREIRA, 2010).

    A obstruo no fluxo de ar do pulmo geralmente progressiva e est

    associada a uma resposta inflamatria anormal dos pulmes inalao de

    partculas nocivas ou gases txicos e a um processo lesivo do tecido pulmonar,

    tendo como uma das principais causas o cigarro (JARDIM; OLIVEIRA;

    NASCIMENTO, 2004).

    O tabagismo um fator de risco para seis das oito principais causas de

    morte no mundo. E cerca de 85% a 90% de todas as mortes por DPOC so

    atribuveis ao tabagismo, e estudos mostram evidncias suficientes para se

    chegar concluso que existe uma relao causal entre tabagismo e morbidade e

    mortalidade por DPOC. A exposio ocupacional a poluentes e a poluio

    ambiental tambm constituem fatores de risco, mas s representam 10 a 15% dos

    casos registrados (MEIRELLES, 2009).

    O tabagismo leva DPOC pelo desequilbrio dos sistemas enzimticos e

    dos sistemas de proteases e antiproteases e pela limitao ao fluxo areo

    (MARTINELLO, 2009).

  • 16

    A DPOC evitvel, mas no curvel. O tratamento pode simplesmente

    ajudar a retardar a progresso da doena. Por isso to importante que fumantes

    interrompam o uso do cigarro, para evitar que este propicie o surgimento e/ou a

    piora do quadro desta doena, que em 2005 atingiu 65 milhes de pessoas, de

    acordo com estimativas recentes divulgadas pela Organizao Mundial de Sade

    (OMS) e que vitimou neste mesmo ano mais de 3 milhes de pessoas pelo

    mundo (correspondendo a 5% de todas as mortes globais). E o total de bitos por

    DPOC pode aumentar em mais de 30% nos prximos 10 anos, tornando esta

    doena a terceira maior causa de morte at 2030 (WHO, 2011).

    Por isso a cessao tabgica considerada um componente fundamental

    de aes preventivas, e deveria ser evidente tanto para doentes quanto para os

    profissionais de sade, que a cessao tabgica o tratamento mais importante

    na DPOC. reconhecido que nenhuma outra interveno, alm desta, melhora a

    sobrevida destes doentes independentemente do estado de gravidade da doena

    (PAMPLONA; MENDES, 2009).

  • 17

    2. OBJETIVOS

    O objetivo geral deste trabalho realizar uma reviso bibliogrfica acerca

    da relao da doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) com o uso do tabaco

    (tabagismo).

    2.1. OBJETIVOS ESPECFICOS

    Dentre os objetivos especficos esto:

    1. A caracterizao da DPOC, no que tange a sua patognese,

    epidemiologia, sintomatologia, diagnstico e tratamento;

    2. E a caracterizao dos mecanismos pelos quais os agentes nocivos

    presentes no cigarro levam ao surgimento da DPOC.

  • 18

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1. DOENA PULMONAR OBSTRUTIVA CRNICA

    A doena pulmonar obstrutiva crnica uma doena heterognea com

    diferentes apresentaes clnicas, sendo caracterizada pela presena de

    obstruo crnica do fluxo areo das vias pulmonares, geralmente progressiva e,

    parcialmente reversvel. evitvel em sua fase inicial e tratvel em todas as

    etapas (BRIGGS, 2004). Associa-se a uma resposta inflamatria anormal das vias

    areas inalao de gases txicos ou partculas nocivas, causada, sobretudo,

    pelo tabagismo. A DPOC no uma doena que compromete somente as vias

    areas, mas tambm todo o corpo, atravs das manifestaes sistmicas da

    inflamao da DPOC. Na verdade essas manifestaes so responsveis por

    grande parte da morbidade e mortalidade associadas a essa doena (JARDIM;

    OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

    descrita como uma combinao variada de alteraes das vias areas

    (bronquite crnica) e do parnquima pulmonar (enfisema pulmonar), produzidas

    pelo processo inflamatrio crnico. Cada componente tem caractersticas

    singulares e se distingue do outro pela causa da obstruo do fluxo areo, pelo

    surgimento da doena, localizao e reversibilidade da obstruo. A

    predominncia de um ou outro componente varivel em cada indivduo, tendo

    relao com os sintomas apresentados (FERREIRA, 2010).

    Para Bethlen (2001) a DPOC descrita como um conjunto de alteraes

    clnicas, radiolgicas, funcionais e patolgicas do pulmo, que engloba a

    bronquite crnica e o enfisema pulmonar.

    De acordo com as diretrizes da Iniciativa Global para Doena Pulmonar

    Obstrutiva Crnica (GOLD - Global Initiative for Chronic Obstructive Lung

    Disease) a gravidade da DPOC pode ser classificada em 4 estgios (Tabela 1),

    baseada principalmente em testes de funo pulmonar, ou seja, capacidade vital

    forada (CVF) e volume expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1)

    (MARWICK; CHUNG, 2010; FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

  • 19

    Tabela 1: Estgios GOLD de gravidade da DPOC

    Gravidade da DPOC Caractersticas

    VEF1/CVF VEF1

    Estgio I (leve) < 70%

    Estgio II (moderado) < 70% < 50%70%

    Estgio III (grave) < 70% < 30%50%

    Estgio IV (muito grave) < 70% < 30% ou < 30%50% com insuficincia

    respiratria (definida por PaO2, 60 mmHg

    e/ou PCO2, 50 mmHg, ao nvel do mar).

    Abreviaes: VEF1, volume expiratrio forado no primeiro segundo; CVF, capacidade vital

    forada; PaO2, presso parcial de oxignio no sangue arterial; PCO2, presso parcial de dixido de

    carbono. Adaptado de: MARWICK; CHUNG, 2010

    3.1.1. Bronquite Crnica

    A bronquite crnica uma doena pulmonar caracterizada por excessiva

    produo de muco na arvore brnquica, suficiente para causar expectorao

    excessiva de escarro, com relato de expectorao na maioria dos dias por mais

    de trs meses no ano, durante dois ou mais anos consecutivos, sempre que

    outras causas estejam descartadas (WEST, 2002; ALAT, 2004). As principais

    causas so o consumo de tabaco, a exposio ocupacional por longo perodo em

    ambiente poludo e infeco. Estes fatores desencadeiam: a produo de muco

    mais espesso, dificultando o movimento ciliar e gerando limitao ao fluxo areo;

    o aumento da quantidade de muco intraluminal, produzindo alteraes nas

    pequenas vias areas, caractersticas da inflamao crnica (WEST, 2002).

    O exame macroscpico do tecido pulmonar em um paciente com bronquite

    crnica mostra paredes brnquicas espessas com estreitamento luminal e

    obstruo da mucosa ou detritos mucopurulentos nas vias areas.

    Microscopicamente, estes resultados brutos correspondem hiperplasia de

    clulas caliciformes, espessamento da membrana basal subepitelial, fibrose da

    parede brnquica, e hiperplasia das glndulas seromucinosas subepiteliais

    (Figura 1). Um infiltrado inflamatrio crnico pode tambm estar presente, mas

  • 20

    no necessrio, e tambm pode ser visto metaplasia escamosa do epitlio

    respiratrio (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

    A caracterstica mais inicial da bronquite crnica a hipersecreo de

    muco nas grandes vias areas, associada hipertrofia das glndulas submucosas

    na traqueia e nos brnquios. Proteases liberadas por leuccitos, como a elastase

    neutroflica e catepsina, alm das metaloproteinases de matriz (MMPs),

    estimulam a hipersecreo de muco. Conforme a bronquite crnica persiste,

    ocorre tambm um aumento acentuado das clulas caliciformes nas grandes vias

    areas (pequenos brnquios e pequenos bronquolos), levando a produo

    excessiva de muco, que contribui para a obstruo das vias areas. Supe-se

    que tanto a hipertrofia das glndulas submucosas como o aumento no nmero de

    clulas caliciformes sejam uma reao metaplsica protetora contra a fumaa do

    tabaco e outros poluentes (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).

    Figura 1: Caractersticas histolgicas da bronquite crnica. (A) Seo da parede de bronquolo

    com acmulo luminal de muco, hiperplasia das clulas caliciformes, espessamento da membrana basal (seta), e dispersas clulas inflamatrias mononucleares. (B) Parede brnquica com

    metaplasia escamosa do epitlio luminal (cabea de seta) e hiperplasia das glndulas seromucinosas subepitelial (seta). Adaptado de: FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011

    3.1.2. Enfisema Pulmonar

    Enfisema uma patologia crnica, definido como o alargamento anormal e

    permanente dos espaos areos distais aos bronquolos terminais, acompanhado

    pela destruio tecidual de suas paredes, sem fibrose bvia, o que torna os

    pulmes hiperinsulflados. Esta destruio resulta em perda de estrutura acinar, e,

  • 21

    por conseguinte reduo da rea disponvel para troca gasosa (Figura 2). As

    pequenas vias areas esto estreitadas, tortuosas, e reduzidas em nmero, alm

    de possurem paredes finas e atrofiadas. A perda de tecido elstico leva ao

    colapso dessas pequenas vias areas e obstrui a sada de ar do interior dos

    pulmes, que frequentemente uma caracterstica proeminente da doena.

    Dentre as causas esto o tabagismo (principal fator etiolgico), a poluio

    atmosfrica e a deficincia de -1 antitripsina (KEMP; POLKEY; SHAH, 2009;

    FERREIRA, 2010).

    Figura 2: Foto de histopatologia de tecido pulmonar (x40). Painel A mostra o tecido de um pulmo

    normal e painel B um pulmo enfisematoso, mostrando a perda das estruturas alveolares e da rea de superfcie no enfisema, sem fibrose aparente. Adaptado de: KEMP; POLKEY; SHAH,

    2009

    O fumo do cigarro provoca uma resposta inflamatria no trato respiratrio

    inferior, caracterizada pela acumulao de macrfagos alveolares carregados de

    pigmento em conjunto com o recrutamento de nmeros menores de neutrfilos.

    Estas clulas inflamatrias ativadas liberam uma variedade de mediadores,

    incluindo proteases, oxidantes e peptdeos txicos, que podem danificar as

    estruturas pulmonares e acredita-se ser a causa principal da destruio de

    tecidos, atravs da qual o enfisema definido (RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006).

    O enfisema por deficincia de -1 antitripsina atinge um em cada 2.000-

    5.000 indivduos. um distrbio gentico de descoberta recente, resultante de

    diferentes mutaes no gene SERPINA1. A -1 antitripsina produzida

    principalmente no fgado e atua como uma antiprotease, cuja funo principal

    inativar a elastase neutroflica, impedindo a ocorrncia de dano tecidual. A

  • 22

    mutao mais frequentemente relacionada doena clnica o alelo Z, que

    determina polimerizao e acmulo dentro dos hepatcitos. O acmulo e a

    consequente reduo dos nveis sricos de -1 antitripsina determinam,

    respectivamente, doena heptica e pulmonar, sendo que esta se manifesta

    principalmente sob a forma de enfisema de aparecimento precoce, habitualmente

    com predomnio basal (CAMELIER et al., 2008).

    Em face da leso, o pulmo, como a maioria dos tecidos, pode iniciar

    mecanismos de reparao. A destruio da rede tecidual que caracteriza

    enfisema representa um desequilbrio entre a destruio dos tecidos e os

    processos de reparao de tecidos, anlogo ao equilbrio protease-antiprotease.

    Na hiptese protease-antiprotease clssica de enfisema, a destruio do

    tecido resulta quando a elastase neutroflica prevalece sobre a proteo

    endgena fornecida pela -1 antitripsina. Este equilbrio pode ser rompido, quer

    por aumento da carga de elastase (por exemplo, com inflamao originada do

    fumo) ou atravs da diminuio da proteo antielastase (por exemplo, pela

    deficincia gentica de -1 antitripsina) (Figura 3 A). Na hiptese dos mediadores

    de leso expandidos, o conceito clssico foi expandido para incluir vrias classes

    de antiproteases, cada uma com muitos membros, bem como outros mediadores

    prejudiciais, incluindo oxidantes e peptdeos txicos. Existe um conjunto

    correspondente de inibidores para cada um destes mediadores, sendo que o

    saldo global determina os resultados de leso tecidual (Figura 3 B). Na hiptese

    da reparao da leso, os tecidos podem reparar leses, a integridade do tecido

    pode ser mantida em face da leso se a reparao adequada. Destruio dos

    tecidos, por conseguinte, representa um desequilbrio entre a leso do tecido e a

    reparao (Figura 3 C) (RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006).

    Embora a deficincia de -1 antitripsina continue a ser o nico distrbio

    gentico bem caracterizado associado com DPOC, um nmero de outros

    candidatos tm sido sugeridos. Entre eles esto outras antiproteases,

    antioxidantes, e mutaes em genes defensina (um tipo de peptdeo txico),

    consistente com o conceito de um desequilbrio entre leso tecidual e proteo do

    tecido (RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006).

    O enfisema pode ser classificado em alguns subtipos: centrolobular (ou

    centroacinar), panlobular (ou panacinar) e parasseptal. Enfisema centrolobular

  • 23

    caracterizado pela perda de bronquolos respiratrios, com um grau escasso dos

    alvolos distais, e afeta predominantemente as pores superiores do pulmo.

    Este padro aquele que mais comumente visto em fumantes. O enfisema

    panacinar afeta o cino inteiro de modo uniforme (destruio generalizada do

    tecido alveolar); visto predominantemente nos lobos inferiores, e o padro

    mais associado com a deficincia de -1 antitripsina. Enfisema parasseptal

    (tambm conhecido como acinar distal) localizado em torno do septo e pleura, e

    afeta as estruturas acinares distais (KEMP; POLKEY; SHAH, 2009).

    Figura 3: Enfisema representa um desequilbrio. Adaptado de: RENNARD; TOGO; HOLZ, 2006

    O enfisema centrolobular geralmente acomete as regies mais superiores do

    pulmo, causando grande alterao na relao ventilao-perfuso, pois o

    suprimento de sangue est relativamente preservado para os alvolos, mas o

    oxignio que chega aos capilares reduzido devido aos danos nas vias areas

    proximais. Como o enfisema panacinar afeta mais os lobos inferiores (Figura 4),

    seu efeito menos drstico na relao ventilao-perfuso, pois o suprimento

  • 24

    sanguneo reduz medida que h a diminuio da ventilao nessas regies

    (LIMA et al., 2007).

    Figura 4: Enfisema centrolobular e panacinar. Observar que no enfisema centrolobular, a

    destruio limitada aos bronquolos terminais e respiratrios (BT e BR). No enfisema panacinar os alvolos perifricos (A) tambm so comprometidos. Adaptado de: WEST, 1996

    No exame microscpio do tecido pulmonar de um paciente com enfisema

    observam-se alvolos anormalmente grandes, separados por finos septos que

    apresentam somente uma fibrose centroacinar focal. V-se o desaparecimento

    das fixaes dos alvolos parede externa das vias areas. Com a progresso

    da doena, observam-se espaos areos anormais ainda maiores e

    possivelmente bolhas. Geralmente, os bronquolos respiratrios e a vasculatura

    do pulmo esto deformados e comprimidos pela distoro enfisematosa dos

    espaos areos (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).

    As manifestaes clnicas do enfisema no aparecem at que pelo menos

    um tero do parnquima pulmonar funcionante seja danificado. A dispneia

    costuma ser o primeiro sintoma, que comea de forma insidiosa e progride de

    forma constante. Em alguns pacientes, a tosse a principal queixa, facilmente

    confundida com asma (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005).

    3.2. EPIDEMIOLOGIA

    A DPOC uma das doenas mais comuns e uma das principais causas de

    morte em todo o mundo. Alm de gerar custos elevados de sade, a DPOC impe

    uma carga significativa em termos de incapacidade e qualidade de vida

    comprometida. Ao contrrio de muitas causas de morte e invalidez, a incidncia

  • 25

    da DPOC projetada para aumentar em muitas partes do mundo com o

    envelhecimento da populao e principalmente com a ampla difuso de seu

    principal fator etiolgico, o fumo do tabaco. O uso crescente de tabaco no mundo

    em desenvolvimento permite a previso de um grande aumento no nmero de

    casos no futuro prximo e distante (PLANTIER; BOCZKOWSKI; CRESTANI,

    2007; HALBERT et al., 2006).

    De acordo com a OMS, em 2002, a DPOC foi a quinta maior causa de

    morte. E segundo estimativas, em 2007, 210 milhes de pessoas em todo o

    mundo tinham DPOC, dos quais 80 milhes se encontravam na faixa de

    gravidade moderada grave. E neste mesmo ano, mais de 3 milhes de pessoas

    morreram devido a esta doena, correspondendo a 5% do total de bitos

    registrados no mundo. E conforme boletim divulgado pela OMS em 2011,

    referente a dados de 2008, ela j passa a ser a quarta maior causa de morte,

    representando 5,8% do total de mortes (Tabela 2).

    O total de bitos por DPOC so projetados para aumentar em mais de 30%

    nos prximos 10 anos, a menos que medidas urgentes sejam tomadas para

    reduzir os fatores de risco, em especial o uso do cigarro. As estimativas mostram

    que a DPOC torna-se em 2030 a terceira maior causa de morte no mundo (WHO,

    2011).

    Uma meta-anlise realizada por Halbert e seus colaboradores sugere que a

    prevalncia da DPOC maior entre homens do que mulheres, entre fumantes e

    ex-fumantes do que no fumantes, e entre os indivduos com mais de 40 anos do

    que aqueles com menos de 40. No entanto, a prevalncia da DPOC pode variar

    de forma significativa para uma determinada populao, dependendo de qual

    definio usada (HALBERT et al., 2006).

    No ano de 2000, a Associao Latino-Americana de Trax (ALAT), reuniu

    um grupo multidisciplinar de especialistas para elaborar as primeiras

    recomendaes sobre a exacerbao infecciosa da DPOC e pneumonia adquirida

    na comunidade. Estas orientaes foram publicadas em 2001 e pretendiam ser

    uma adaptao realidade latino-americana de conhecimento sobre a gesto e

    tratamento destas infeces respiratrias. Devido ao tamanho e heterogeneidade

    da Amrica Latina, difcil estabelecer um padro que possa ser igualmente til

  • 26

    para todos, mas esses documentos podem ser um ponto de orientao para lidar

    com essas condies to frequentes (ALAT, 2004).

    Tabela 2: As 10 principais causas de morte no mundo em 2008

    Causas Mortes em milhes % de mortes

    Doena cardaca isqumica 7.25 12.8%

    Acidente vascular cerebral e outras doenas

    cerebrovasculares 6.15 10.8%

    Infeces respiratrias 3.46 6.1%

    DPOC 3.28 5.8%

    As doenas diarreicas 2.46 4.3%

    HIV/AIDS 1.78 3.1%

    Cncer de pulmo, traqueia e brnquio 1.39 2.4%

    Tuberculose 1.34 2.4%

    Diabetes mellitus 1.26 2.2%

    Acidentes de trnsito 1.21 2.1%

    Adaptado de: Organizao Mundial de Sade, junho de 2011

    A prevalncia da DPOC em indivduos acima de 50 anos na populao geral

    estimada para ser de 3 a 6% nos pases desenvolvidos, como os Estados

    Unidos, o que implica que pelo menos 15 milhes de pessoas tero a doena

    nesse pas. Na Espanha, 9% da populao entre 40 e 70 anos apresenta DPOC,

    embora apenas 22% dos casos so diagnosticados e recebem algum tipo de

    ateno mdica. importante ressaltar que pode haver diferenas de prevalncia

    entre diferentes reas geogrficas, mesmo dentro do mesmo pas. Um estudo

    populacional no Brasil mostrou uma prevalncia de bronquite crnica de 12,7%

    em indivduos com mais de 40 anos, mas no conseguiu obter a prevalncia de

    DPOC por falta do estudo de espirometria (ALAT, 2004).

    Dados sobre a DPOC na Amrica Latina so escassos, mas h indcios de

    que a DPOC tambm vem crescendo em prevalncia e mortalidade em alguns

    pases dessa regio (AIT-KHALED; ENARSON; BOUSQUET, 2001).

    Para resolver a carncia de dados viveis sobre a DPOC na Amrica Latina,

    a ALAT lanou o projeto PLATINO (Projeto Latino-americano de Investigao em

    Obstruo Pulmonar), com objetivo de determinar a prevalncia da DPOC em

  • 27

    diferentes pases da rea e verificar a associao entre DPOC e alguns fatores de

    risco, utilizando para isso um protocolo comum (ALAT, 2004). Cinco grandes

    centros foram eleitos para representar as diferentes regies da Amrica Latina. O

    critrio de seleo das cidades foi baseado em sua posio geogrfica, tamanho

    da populao, relevncia em relao ao pas e a disponibilidade de centros de

    pesquisa locais de colaborao, sendo eles: So Paulo (Brasil), Cidade do Mxico

    (Mxico), Santiago (Chile), Caracas (Venezuela) e Montevidu (Uruguai)

    (PLATINO, 2006).

    O estudo PLATINO realizado no Brasil avaliou indivduos com idade igual ou

    superior a 40 anos, residentes na rea metropolitana da grande So Paulo. Os

    resultados mostraram que a prevalncia total de DPOC variou de 6 a 15,8%, de

    acordo com a definio utilizada, o que seria equivalente a 2.800.000 a 6.900.000

    indivduos com DPOC (JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2004).

    A DPOC, em 2003, foi a quinta maior causa de internamento no sistema

    pblico de sade do Brasil, em maiores de 40 anos, com 196.698 internaes e

    gastos aproximados de 72 milhes de reais. E vem ocorrendo um aumento no

    nmero de bitos por DPOC nos ltimos 20 anos, em ambos os sexos, tendo a

    taxa de mortalidade passado de 7,88 em cada 100.000 habitantes, na dcada de

    1980, para 19,04 em cada 100.000 habitantes na dcada de 1990, com um

    crescimento de 340%. A DPOC nos ltimos anos vem ocupando da 4 7

    posio entre as principais causas de morte no Brasil (Tabela 3) (JARDIM;

    OLIVEIRA; NASCIMENTO; 2004).

    3.3. FATORES DE RISCO

    A DPOC se desenvolve devido presena e atuao de vrios fatores de

    risco. Embora se tenha identificado vrios destes fatores, o tabagismo de longe

    o principal fator de risco isolado para a doena (ALAT, 2004). E mais: est

    relacionado a um risco aumentado de bito devido a DPOC, carcinoma pulmonar

    e doena coronariana isqumica. O aumento de risco est diretamente

    relacionado carga tabgica. Fumantes de cigarros apresentam um risco 10 a 14

    vezes maior de morte por DPOC, e os de charutos e cachimbos um risco 6 vezes

    maior de morte por essa patologia. A mortalidade por DPOC em fumantes de

  • 28

    cigarros tem relao com o nmero de cigarros consumidos, pois quem fuma de 1

    a 14 cigarros por dia apresenta uma mortalidade 5 vezes maior do que os no

    fumantes. J quem fuma mais de 25 cigarros por dia dobra a chance de morte em

    relao com o grupo que fuma menos (MEIRELLES, 2009; COSTA; RUFINO;

    LAPA E SILVA, 2009).

    Tabela 3: As 10 principais causas de bito no Brasil, 2005

    Causas Nmero de bitos % de mortes

    1. Doenas cerebrovasculares 90.006 10,0%

    2. Doenas isqumicas do corao 84.945 9,4%

    3. Agresses (homicdios) 47.578 5,3%

    4. Diabetes mellitus 40.317 4,5%

    5. Doenas crnicas das vias respiratrias

    inferiores (DPOC) 36.555 4,1%

    6. Influenza e pneumonia 36.053 4,0%

    7. Acidentes de transporte terrestre 35.994 4,0%

    8. Doenas hipertensivas 33.487 3,7%

    9. Insuficincia cardaca 31.054 3,4%

    10. Certas afeces originadas no perodo

    perinatal 29.799 3,3%

    Adaptado de: Secretaria De Vigilncia Em Sade, novembro de 2008

    No entanto, sabido que menos de 20% dos fumantes evolui para DPOC

    clinicamente evidente, o que sugere que haja uma populao de tabagistas

    susceptveis ao desenvolvimento da doena obstrutiva. A razo pela qual apenas

    uma minoria dos tabagistas desenvolve resposta inflamatria aos agentes nocivos

    presentes no cigarro que leva destruio pulmonar ainda fato desconhecido

    (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    Os dados disponveis indicam que a prevalncia mdia do tabagismo na

    Amrica Latina de 37% nos homens e 20% em mulheres (ALAT, 2004).

    Um aspecto vital a precocidade na iniciao do tabagismo, pois a maioria

    dos fumantes inicia o hbito entre 13 e 15 anos de idade. Tambm importante

    notar o aumento da prevalncia em mulheres em idade jovem, sugerindo que em

  • 29

    poucos anos o nmero de tabagismo entre homens e mulheres tende a equalizar

    (ALAT, 2004).

    A prevalncia do principal fator de risco para a DPOC - tabagismo - alta na

    Amrica Latina. A mdia de consumo de cigarros anuais por pessoa, na maioria

    dos pases latino-americanos varia de 500 a 1499. Como na maioria dos pases

    de alta renda, h alguma evidncia de que a prevalncia de tabagismo em

    homens ligeiramente decrescente, enquanto que para as mulheres est

    aumentando. Mesmo que as taxas de prevalncia do tabagismo caiam

    ligeiramente, o nmero absoluto de fumantes pode aumentar devido ao

    crescimento populacional (MENEZES et al., 2005).

    Embora de menor relevncia, importante notar outros fatores de risco para

    a ocorrncia da DPOC (Tabela 4). A poluio atmosfrica um fator que tem sido

    associada com aumento da mortalidade, especialmente em pessoas com

    doenas pulmonares crnicas. A DPOC pode ser agravada (embora haja menos

    evidncias) pela exposio poluio ambiental, especialmente causada por

    partculas, e esta pode causar sintomas de exacerbao, com internaes e

    mortalidade (ALAT, 2004).

    Tabela 4: Fatores de risco para DPOC

    Fatores externos Fatores individuais

    Tabagismo (Principal) Deficincia de alfa-1 antitripsina

    Poeira ocupacional Deficincia de glutationa transferase

    Irritantes qumicos Alfa-1 antiquimotripsina

    Fumaa de lenha Hiper-responsividade brnquica

    Infeces respiratrias graves na infncia Desnutrio

    Condio socioeconmica Prematuridade

    Adaptado de: JARDIM; OLIVEIRA; NASCIMENTO; 2004

    A poluio em domiclio pelo consumo de lenha ou outra biomassa tem sido

    implicada na patognese da DPOC. Em alguns pases latino-americanos, foges

    a lenha podem ser encontrados em reas rurais, emitindo quantidades

    significativas de fumaa intradomiclio. Fumaa de madeira tem muitas

    substncias txicas e cancergenas, semelhantes quelas encontradas no cigarro,

  • 30

    e considera-se que 50% da populao mundial recorrem a ela como fonte de

    energia (ALAT, 2004).

    Outros fatores de risco para a incidncia da DPOC variam em diferentes

    grupos populacionais. A exposio ocupacional a fumaas e poeiras, embora a

    sua importncia seja pequena se no for associada ao consumo de tabaco.

    Tambm deve ser considerado: graves infeces respiratrias na infncia, que

    colocam uma maior susceptibilidade a outros agentes que podem ser adicionados

    no futuro, como fumaa de tabaco, a exposio fumaa de lenha ou exposies

    ocupacionais (ALAT, 2004).

    Finalmente, devemos ter em mente que fatores especficos ao indivduo, tais

    como hiper-reatividade brnquica ou mutaes em genes que codificam protenas

    com efeito protetor da regio pulmonar, como a -1 antitripsina, podem influenciar

    a suscetibilidade de ter DPOC (ALAT, 2004).

    3.4. PATOGNESE

    A compreenso da patognese da DPOC tem aumentado ao longo dos

    ltimos 25 anos. agora evidente que uma variedade de processos patolgicos

    est envolvida no desenvolvimento da DPOC. A resposta do hospedeiro a gases

    e partculas inaladas desempenha um papel importante no desenvolvimento da

    doena (ANDERSON; MACNEE, 2009).

    O tabagismo o principal fator de risco ambiental para a DPOC. Alm disso,

    outras exposies ambientais (por exemplo, fumaa de madeira) e ocupacionais,

    bem como a gentica contribuem para a patognese da DPOC. Por conseguinte,

    as alteraes patolgicas e sintomas clnicos esto ligados interao dos

    fatores do hospedeiro com os fatores ambientais. Essas interaes geram a trade

    patolgica da DPOC: inflamao persistente, desequilbrio proteaseantiprotease

    e estresse oxidativo. Esta trade resulta em metaplasia e hiperplasia de clulas

    mucosas/caliciformes, hipersecreo de muco, fibrose, alteraes do msculo liso

    e destruio do tecido pulmonar, que levam aos principais sintomas, que so

    tosse crnica, produo de catarro e falta de ar incapacitante. A patologia

    subjacente causada por uma resposta inflamatria anormal do pulmo a

    partculas ou gases nocivos sendo os neutrfilos, macrfagos e linfcitos T as

  • 31

    clulas inflamatrias chaves e mediadores da doena, juntamente com os

    mediadores que secretam, tais como a elastase, MMPs e citocinas (Figura 5)

    (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011; LANE et al., 2010).

    Figura 5: As clulas inflamatrias envolvidas na patognese da DPOC. As partculas do cigarro passam atravs das clulas epiteliais do pulmo e so absorvidas pelas clulas apresentadoras

    de antgenos. Macrfagos alveolares desempenham um papel importante que afeta uma variedade de tipos celulares, liberando uma variedade de quimiocinas (entre elas, CXCL8 e

    CXCL10). Os linfcitos T CD8+ potencialmente desempenham um papel na destruio do pulmo.

    O papel dos linfcitos T CD4+ menos compreendida na DPOC. Adaptado de: LANE et al., 2010

    A inflamao crnica, em todas as vias areas e no parnquima pulmonar,

    que ocorre na DPOC, principalmente resultado da inalao de substncias

    txicas principalmente os produtos qumicos no cigarro, charuto, cachimbo e

    fumo que ativam as clulas epiteliais para a produo de mediadores

    inflamatrios que provocam a inflamao crnica em todas as vias areas e no

    parnquima pulmonar. Na DPOC, a inflamao pulmonar prejudicial surge

    predominantemente da ao de leuccitos polimorfonucleares (PMNs) e

    macrfagos alveolares pulmonares. Estas clulas da inflamao liberam

  • 32

    proteases que irritam as vias areas, aumentam a secreo de muco, destroem

    as paredes alveolares, e perpetuam e agravam a atividade inflamatria em curso.

    Alm disso, nveis elevados de certas citocinas, principalmente, a interleucina (IL)-

    8, leucotrieno B4 (LTB4), e fator de necrose tumoral alfa (TNF-), ampliam e

    perpetuam o processo inflamatrio na DPOC, mesmo depois da cessao

    tabgica (BRIGGS, 2004).

    Como a DPOC uma doena inflamatria crnica dos pulmes que

    progride lentamente, a maioria dos pacientes so, portanto, idosos. Existe uma

    evidncia crescente para uma relao estreita entre o envelhecimento e doenas

    inflamatrias crnicas que conduzem hiptese de que o envelhecimento

    acelerado do pulmo em resposta ao estresse oxidativo pode estar envolvido na

    patognese e progresso da DPOC, particularmente enfisema. Isto resulta de

    uma falha dos rgos em reparar danos no cido desoxirribonucleico (DNA) pelo

    estresse oxidativo (envelhecimento no programado) e do encurtamento dos

    telmeros, como resultado da diviso celular (envelhecimento programado).

    Comprimento dos telmeros efetivamente considerado como um marcador para

    o envelhecimento biolgico, e o encurtamento em excesso dos telmeros

    consistentemente encontrado na DPOC (COSIO; AGUST, 2010).

    O tabagismo um gatilho para a senescncia, o processo natural de

    envelhecimento ao nvel celular. Uma das sequelas da senescncia o

    desenvolvimento de um fentipo pr-inflamatrio. Em tecidos pulmonares de

    pacientes com DPOC comparados com fumantes saudveis e indivduos-controle

    no fumantes, a ativao do fator nuclear (NF)-B est aumentada em clulas

    senescentes alveolares do tipo II. Alm disso, em comparao com controles no

    fumantes, h uma reduo na expresso da protena sirtuna-1 (SIRT1), uma

    protena anti-inflamatria e antienvelhecimento que regula negativamente fatores

    de transcrio tais como NF-B, nos pulmes de pacientes com DPOC. Assim, as

    clulas senescentes podem propagar a resposta inflamatria na DPOC

    (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

    Uma hiptese intrigante sugerindo um papel para a autoimunidade na

    patognese da DPOC tem emergido nos ltimos anos e est amadurecendo

    rapidamente (COSIO; AGUST, 2010). A observao de que apenas 20-30% de

    fumantes habituais vo desenvolver DPOC sugere um grau de suscetibilidade

  • 33

    gentica entre os indivduos. Adicionado a isto, o fato de que a inflamao

    pulmonar progressiva permanece, mesmo aps a cessao tabgica, levanta a

    possibilidade de que houve uma avaria na autotolerncia resultante da leso

    tecidual causada pelos estmulos nocivos iniciais. De fato, os avanos recentes na

    compreenso da patognese da doena indicam que pacientes com DPOC

    apresentam muitos dos mesmos recursos que pacientes que sofrem de doenas

    autoimunes clssicas (STEFANSKA; WALSH, 2009).

    Prope-se que os mecanismos imunolgicos que levam a DPOC seguem

    trs etapas. A primeira caracterizada por uma resposta imunolgica inata a

    fumaa do cigarro que se baseia no reconhecimento de danos nos tecidos por

    receptores Toll-like e acionado por clulas epiteliais, macrfagos e neutrfilos. A

    segunda etapa envolve a ativao das clulas T e proliferao, bem como a

    maturao de clulas dendrticas conhecidas por aumentar nos pulmes de

    pacientes com a progresso da DPOC. O terceiro e ltimo passo seria uma

    reao imune adaptativa impulsionada por clulas T citotxicas CD8+, clulas T

    helper 1 e clulas B oligoclonais, todas as quais so encontradas em pacientes

    com DPOC grave. Estas clulas expressam o receptor de quimiocina CXCR3 e os

    seus ligantes, que contribuem para formao de folculos linfoides. Este ltimo

    passo contribuiria para a persistncia dos anos da resposta inflamatria aps a

    cessao tabgica, em resposta a autoantgenos produzidos ao longo de todo

    este processo, uma caracterstica de doenas autoimunes. No entanto, devem ser

    realizadas mais pesquisas para demonstrar a relao causa-efeito entre

    autoimunidade e o desenvolvimento da DPOC (COSIO; AGUST, 2010).

    3.4.1. Gentica da DPOC

    A DPOC influenciada por mltiplos determinantes genticos, mas a grave

    deficincia de -1 antitripsina o nico fator de risco gentico comprovado. Dado

    o papel claro do tabagismo nessa doena e as diferenas interindividuais na

    resposta fumaa de cigarro, etiologia da DPOC esperada para incluir

    interaes gene-ambiente (HIZAWA, 2009).

    Numerosos genes candidatos que podem estar ligados patognese da

    doena tm sido implicados na gentica da DPOC. Esses estudos tm fornecido

  • 34

    evidncias para o possvel papel de muitos mediadores inflamatrios e seus

    receptores, proteases, antiproteases e antioxidantes na fisiopatologia da DPOC.

    Por exemplo, uma reviso sistemtica da literatura caracterizou a evidncia de

    que os genes que codificam enzimas antioxidantes contribuem para a etiologia da

    DPOC e traos relacionados; os efeitos mais fortes e mais consistente eram nos

    genes que codificam glutamato-cistena ligase (GCL), glutationa S-transferase M1

    (GSTM1), glutationa S-transferase P1 (GSTP1), e superxido dismutase 3

    (SOD3) (HIZAWA, 2009).

    3.4.2. O Estresse Oxidativo

    H evidncias considerveis de aumento do estresse oxidativo na DPOC. O

    aumento do estresse oxidativo nas vias areas de pacientes com DPOC pode

    desempenhar um importante papel fisiopatolgico na doena, amplificando a

    resposta inflamatria na DPOC (Figura 6). As clulas inflamatrias e estruturais

    que so ativadas nas vias areas de pacientes com DPOC produzem espcies

    reativas de oxignio (EROs), incluindo, neutrfilos, eosinfilos, macrfagos e

    clulas epiteliais (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

    O estresse oxidativo ocorre quando EROs so produzidas em excesso dos

    mecanismos de defesa antioxidantes e resultam em efeitos nocivos, incluindo

    danos aos lipdios, protenas e DNA (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

    A inalao da fumaa de cigarro, e demais derivados do tabaco produtores

    de fumaa, expe os pulmes a altas concentraes de agentes oxidantes e

    radicais livres que diminuem a capacidade antioxidante que normalmente protege

    as clulas epiteliais (MEIRELLES, 2009). A fumaa do tabaco contm um

    conjunto de mais de 4.700 compostos qumicos. Na verdade, cada tragada

    contm 1015 radicais livres na fase gasosa e 1018 radicais livres por grama de

    alcatro, e inclui oxidantes potentes, tais como perxido de hidrognio, nion

    hidroxila e radicais orgnicos (TUDER et al., 2006).

    O fumo do cigarro em si contm uma elevada concentrao de EROs, e

    estas apresentam vrios efeitos sobre as vias respiratrias, principalmente

    aumento da resposta inflamatria. Estes efeitos podem ser mediados por aes

    diretas das EROs nas clulas alvo das vias areas, mas podem tambm ser

  • 35

    mediados indiretamente atravs da ativao de vias de transduo de sinal e dos

    fatores de transcrio e atravs da formao de mediadores oxidados, tais como

    isoprostanos e hidroxi-nonenal (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

    Figura 6: O estresse oxidativo e seus efeitos. Oxidantes contidos na fumaa do cigarro irritam as clulas epiteliais (1), liberando citocinas ativadoras que induzem o recrutamento dos neutrfilos e a liberao de oxidantes derivados de clulas (2) e proteases (3). Antioxidantes inibem os danos mediados por oxidante ao pulmo (4), mas quando surge um desequilbrio (talvez por causa dos

    polimorfismos dos genes) resulta no estresse oxidativo (5). As consequncias do estresse oxidativo incluem a ativao de macrfagos (6), que conduz produo de mais proteases, hipersecreo de muco, apoptose de clulas epiteliais, inflamao e a inibio da ao das

    antiproteases. Adaptado de: HEALTHY LIFESTYLE, 2007

    Embora haja no corpo uma bateria de sistemas antioxidantes, os quais

    controlam a produo de oxidantes e os seus potenciais efeitos negativos, a

    presena da fumaa do tabaco altera o equilbrio entre oxidantes e antioxidantes

    e conduz o sistema a uma situao de estresse oxidativo (PUERTO-NEVADO et

    al., 2010).

    A produo normal de oxidantes neutralizada por vrios mecanismos

    antioxidantes no trato respiratrio humano. Os principais antioxidantes

    intracelulares nas vias areas so catalase, SOD e glutationa, formada pelas

    enzimas -glutamil-cistena sintetase e glutationa sintetase. No pulmo,

    antioxidantes intracelulares so expressos em nveis relativamente baixos e no

  • 36

    so induzidos pelo estresse oxidativo, enquanto que os principais antioxidantes

    so extracelulares. Antioxidantes extracelulares, particularmente glutationa

    peroxidase, so marcadamente regulados em resposta fumaa de cigarro e

    estresse oxidativo. O sistema da glutationa o principal mecanismo antioxidante

    nas vias areas. Existe uma elevada concentrao de glutationa reduzida no

    fluido de revestimento epitelial do pulmo e as concentraes so aumentadas

    nos fumantes de cigarros. Glutationa peroxidase extracelular (GPxe) um

    importante antioxidante nos pulmes e pode ser secretada pelas clulas epiteliais

    e macrfagos, particularmente em resposta fumaa do cigarro ou ao estresse

    oxidativo. GPxe inativa as EROs H2O2 e O2-, mas tambm pode bloquear as

    espcies reativas de nitrognio. Antioxidantes extracelulares tambm incluem

    cido rico, lactoferrina, SOD3 extracelular, e antioxidantes da dieta: vitamina C

    (cido ascrbico) e vitamina E (-tocoferol) (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS,

    2003).

    No entanto, a exposio fumaa do tabaco produz alteraes importantes

    na homeostase da glutationa, produzindo uma diminuio na sua concentrao

    assim como na atividade das enzimas envolvidas neste ciclo redox (PUERTO-

    NEVADO et al., 2010).

    O tabagismo expe a rvore respiratria e os pulmes s EROs, resultando

    em estresse oxidativo e leso. Isso desencadeia a produo de outras EROs e

    peroxidao lipdica e inflamao pulmonar subsequente. Por exemplo, o

    aumento da expresso de 4-hidroxi-2-nonenal, um produto de peroxidao

    lipdica, est presente nas vias areas e no epitlio alveolar de pacientes com

    DPOC. Do mesmo modo, o malondialdedo (MDA, C3H4O2), um produto final da

    peroxidao lipdica tambm aumenta no sangue de pacientes com DPOC e

    aumenta com a gravidade da doena (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

    EROs ativam o NF-B, que liga mltiplos genes inflamatrios, resultando em

    amplificao da resposta inflamatria. As vias moleculares pelas quais o estresse

    oxidativo ativa NF-B no foram completamente elucidadas. Muitos dos estmulos

    que ativam o NF-B parecem faz-lo atravs da formao de EROs,

    particularmente H2O2. EROs ativa NF-B numa linha celular epitelial e aumenta a

    liberao de citocinas pr-inflamatrias. Estresse oxidativo resulta em ativao da

    atividade de histona-acetiltransferase o que abre a estrutura da cromatina e est

  • 37

    associada com a transcrio aumentada de mltiplos genes inflamatrios. Outro

    fator de transcrio que ativa genes inflamatrios o Ativador de protena-1 (AP-

    1), um heterodmero de protenas Fos e Jun. O estresse oxidativo pode refletir na

    ativao de NF-B e de AP-1, que em seguida, induzem uma via inflamatria

    neutroflica aumentando a expresso de IL-8 e outras quimiocinas CXC, TNF- e

    MMP-9. NF-B ativado nas vias areas e macrfagos alveolares de pacientes

    com DPOC e est mais ativado durante as exacerbaes. provvel que o

    estresse oxidativo seja um importante ativador deste fator de transcrio em

    pacientes com DPOC (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

    O fumo do cigarro, e em menor extenso, o dixido de nitrognio, impe um

    estresse oxidativo nas vias areas, gerando H2O2, um potente ativador da via da

    protena quinase ativada por mitgenos (MAPK) p38 que regula a expresso de

    muitos genes inflamatrios e de sobrevivncia em certas clulas, e a propagao

    dos macrfagos (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003).

    O estresse oxidativo pode tambm prejudicar a funo de antiproteases

    como -1 antitripsina e Inibidor da leucoprotease secretora, e, assim, acelerar a

    quebra de elastina no parnquima pulmonar (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS,

    2003).

    Estresse oxidativo pode tambm induzir a apoptose em clulas estruturais,

    clulas epiteliais alveolares e clulas endoteliais. A apoptose de pneumcitos tipo

    1 pode contribuir para o desenvolvimento de enfisema e isto pode ser induzido

    por linfcitos T citotxicos ou por inibio dos receptores do fator de crescimento

    endotelial vascular. EROs podem induzir a apoptose por ativao da via de NF-

    B, por danos diretos no DNA atravs da ativao da poli adenosina difosfato

    ribose e atravs da gerao de 4-hidroxi-nonenal (um produto de peroxidao

    lipdica). O sinal de apoptose regulado pela quinase-1 realizado em uma

    conformao inativa por tiorredoxina e quando oxidados por EROs isso dispara

    vias apoptticas (BARNES; SHAPIRO; PAUWELS, 2003; FISCHER; PAVLISKO;

    VOYNOW, 2011)

  • 38

    3.4.3. Inflamao

    Pacientes com DPOC em comparao com indivduos controle

    experimentam um estado geral elevado de inflamao sistmica refletida por

    biomarcadores, como citocinas e xido ntrico. Da mesma forma, lavado

    broncoalveolar (LBA) e escarro de pacientes tambm demonstram um aumento

    de biomarcadores inflamatrios, como citocinas, proteases, e receptores de

    citocinas solveis. Alm disso, os nveis de citocinas podem aumentar com a

    gravidade da doena DPOC (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

    O cigarro e outros tipos de fumaas inaladas desencadeiam uma resposta

    inflamatria nos pulmes, resultando no influxo de diferentes tipos de clulas

    inflamatrias. Os neutrfilos, macrfagos, linfcitos T, bem como eosinfilos e

    mastcitos, tm sido associados com bronquite crnica ou DPOC. interessante

    notar que h um forte aspecto imunolgico para DPOC que caracterizado por

    ativao de clulas T, proliferao em clulas T do tipo efetoras, e em seguida,

    quimiotaxia para o pulmo com base no receptor de quimiocina do tecido

    especfico e expresso do ligante (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

    3.4.3.1. Clulas inflamatrias e seus mediadores

    Alguns autores demonstraram a presena de linfcitos T e macrfagos na

    parede das vias areas de tabagistas, enquanto que neutrfilos so

    preferencialmente coletados na luz alveolar. Nesse processo inflamatrio existe a

    participao no apenas das clulas inflamatrias, mas de clulas estruturais

    como epiteliais, musculares e fibroblastos. O acmulo de macrfagos e de

    linfcitos na parede das pequenas vias areas tem recebido muito interesse por

    parte dos pesquisadores da especialidade. Os neutrfilos, atravs da liberao de

    elastases e EROs so pensados para desempenhar um papel significativo na

    destruio do tecido enquanto os macrfagos tambm tm sido implicados na

    promoo de alargamento do espao areo alveolar, principalmente atravs da

    liberao de MMPs. Diferente do que ocorre na asma, onde existe proliferao de

    linfcitos T com predomnio de CD4, vrios achados apontam para o acmulo

    especialmente de linfcitos T CD8. Esta dicotomizao do perfil inflamatrio, que

  • 39

    particular a cada uma das doenas inflamatrias pulmonares, poderia explicar o

    aparecimento de mediadores inflamatrios especficos que seriam determinantes

    no desenvolvimento da leso estrutural que ocorre na DPOC. Entre os

    mediadores que causam acmulo de clulas no pulmo enfisematoso e que

    propiciam a manuteno do processo inflamatrio, certamente existe um lugar

    para as quimiocinas relacionadas ao fentipo 1 de inflamao. CXCL9/MIG,

    CXCL10/ IP-10, CXCL11/I-TAC e CCL5/RANTES tm sido aventadas como

    possveis quimiocinas implicadas no recrutamento de linfcitos T e moncitos

    sanguneos, facilitando o aumento de macrfagos alveolares e linfcitos T,

    especialmente CD8, no parnquima dos pacientes com DPOC. O reconhecimento

    do mecanismo pelo qual ocorre o trfego de clulas mononucleares em direo

    ao pulmo fundamental no s para um maior entendimento da patognese da

    DPOC, mas para o desenvolvimento de teraputicas adequadas. O bloqueio de

    receptores especficos que reduzisse o recrutamento de clulas inflamatrias

    diretamente relacionadas com a destruio pulmonar pode ser uma proposta

    interessante de atuao sobre esta doena (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA,

    2009; STEFANSKA; WALSH, 2009).

    3.4.3.2. Clulas estruturais

    O processo inflamatrio da DPOC envolve uma variedade de clulas

    inflamatrias e seus mediadores. No entanto, tem sido sugerida a participao

    das clulas estruturais na fisiopatologia da doena (COSTA; RUFINO; LAPA E

    SILVA, 2009).

    As clulas epiteliais que revestem as grandes e pequenas vias areas

    representam a primeira linha de defesa na resposta imune inata pulmonar. Bem

    como proporcionam uma barreira fsica contra micro-organismos patognicos e

    toxinas inaladas, tais como as presentes no fumo do tabaco, clulas epiteliais

    respiratrias so agora reconhecidas por desempenhar um papel central na

    iniciao e mediao das respostas inflamatrias no pulmo (STEFANSKA;

    WALSH, 2009).

    As clulas epiteliais podem ser ativadas diretamente pela fumaa de cigarro

    passando a produzir mediadores inflamatrios como IL-8, CCL20 e TNF-. Aps a

  • 40

    exposio fumaa do cigarro, clulas epiteliais respiratrias so submetidas a

    uma gama de alteraes estruturais, resultando em perda da funo de barreira,

    diminuio da depurao mucociliar e metaplasia escamosa. possvel que as

    clulas epiteliais deixem de exercer adequadamente seu papel de defesa, com a

    perda da integridade estrutural da monocamada epitelial, facilitando a ocorrncia

    de infeces respiratrias e a liberao de citocinas (COSTA; RUFINO; LAPA E

    SILVA, 2009; STEFANSKA; WALSH, 2009).

    3.4.3.3. Macrfagos

    Os macrfagos representam a maioria das clulas inflamatrias recolhidas

    das vias areas tanto de pessoas saudveis quanto de pacientes com DPOC. No

    entanto, o nmero de macrfagos est aumentado entre 5 e 10 vezes no LBA de

    pacientes com DPOC, quando comparado com voluntrios no tabagistas. O

    nmero de macrfagos no LBA parece correlacionar-se com a gravidade da

    doena. O acmulo de macrfagos nas paredes das vias areas e no parnquima

    pulmonar dos tabagistas que desenvolvem DPOC pode ser explicado tanto pelo

    prolongamento do tempo de vida da clula no pulmo como pelo aumento do

    recrutamento de moncitos (seu precursor) da circulao. Alguns trabalhos

    sugerem que a participao dos macrfagos na patognese da DPOC tem

    relao com a sua capacidade de produzir enzimas MMP como a MMP-1, MMP-9

    e MMP-12. Acredita-se que as metaloproteinases sejam capazes de degradar

    protenas de forma semelhante s enzimas neutroflicas e recrutar clulas

    inflamatrias da circulao, facilitando sua infiltrao nos tecidos lesados.

    Macrfagos recolhidos do LBA de pacientes com DPOC apresentam aumento da

    expresso de receptores para MMP-1 e MMP-9, enquanto que tanto

    camundongos com deficincia de MMP-12 quanto o uso de inibidores de MMP em

    cobaias apresentaram efeito protetor exposio fumaa de cigarro (COSTA;

    RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    Essas clulas so a fonte de um nmero de mediadores potencialmente

    significativos, tais como TNF-, LTB4, EROs, e vrias quimiocinas incluindo IL-8

    (que promove a infiltrao de neutrfilos, enquanto amplifica a destruio do

    tecido atravs da secreo de protease) e o agonista pr-inflamatrio do CCR2,

  • 41

    CCL2. A produo deste fator pode ser particularmente crtica porque a produo

    de CCL2 fornece uma oportunidade para o recrutamento adicional de macrfagos

    do subtipo pr-inflamatrio para os pulmes (KIM; ROGERS; CRINER, 2008).

    Os macrfagos tambm tm a capacidade de promover a infiltrao de

    clulas T atravs da expresso de quimiocinas especficas Th1/Tc1, tais como

    CXCL9, CXCL10 e CXCL11 (Figura 7). Os nveis aumentados destas quimiocinas

    tm sido relatados no escarro de pacientes com DPOC e correlacionada

    diretamente com aumento observado na infiltrao de macrfagos, bem como

    diminuio da funo pulmonar (STEFANSKA; WALSH, 2009).

    Apesar de no se saber ao certo como os macrfagos atuam na DPOC, est

    claro que, alm de quantitativamente aumentados, estas clulas esto

    relacionadas com a destruio pulmonar. Avaliando tecido pulmonar biopsiado de

    pacientes com DPOC foi verificado que as reas mais destrudas eram

    circundadas por processo macrofgico e linfocitrio, fazendo com que alguns

    autores sugerissem uma possvel interao entre essas clulas na patognese da

    DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    3.4.3.4. Linfcitos

    Estudos demonstraram que tanto os linfcitos T CD4 (T helper) como os

    CD8 (citotxico) estavam aumentados nas vias areas e no parnquima pulmonar

    dos pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    Existem dois padres de resposta das clulas T CD4: T helper 1 (Th1) e T

    helper 2 (Th2). O padro Th1 est relacionado com a liberao de IL-2, interferon

    gama (IFN-) e TNF-; enquanto que o padro Th2 est associado secreo de

    IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13, produo de imunoglobulina (Ig)-E e IgG4, e se associa

    com a ativao de mastcitos e eosinfilos. Este o padro, por exemplo, da

    asma (FREEMAN; CURTIS; CHENSUE, 2007).

    Assim como as clulas T CD4, as CD8 tambm apresentam dicotomia de

    expresso, neste caso, sendo chamadas de Tc1 (clulas T citotxicas do tipo 1) e

    Tc2 (clulas T citotxicas do tipo 2). No primeiro padro, observa-se produo de

    IFN-, mas no de IL-4. No segundo, as clulas liberam IL-4, mas no INF-

    (FREEMAN; CURTIS; CHENSUE, 2007).

  • 42

    Figura 7: Gerao de uma resposta imune adaptativa em pacientes com DPOC. O fumo do tabaco induz dano tecidual resultado do recrutamento e ativao de clulas imunes inatas, como

    macrfagos e clulas dendrticas para o local da inflamao. Os constituintes do fumo do tabaco e molculas endgenas derivadas do tecido danificado podem constituir uma fonte de antgenos que

    so processados e apresentados por clulas dendrticas para clulas T nave nos gnglios linfticos de drenagem. Ativao de clulas T antgeno especfica resulta em proliferao

    oligoclonal de subpopulaes de clulas T CD4+ e CD8

    +, que migram para o local da inflamao,

    em resposta a quimiocinas derivadas de macrfagos (CXCL9, CXCL10 e CXCL11). Clulas T helper infiltrantes (Th1 e Th17) amplificam a resposta inflamatria atravs da secreo de

    citocinas especficas (por exemplo, IL- 17 e IFN-) que promovem a infiltrao de neutrfilos, ativao de macrfagos, respostas de clulas T CD8

    + citotxicas e produo de auto-anticorpo

    pelas clulas B ativadas. Adaptado de: STEFANSKA; WALSH, 2009

    A resposta celular associada com a DPOC tem sido mais frequentemente

    (mas no exclusivamente) atribuda resposta Th1 inflamatria (ou Tc1 para

    designar uma resposta de clulas T CD8+ em que citocinas pr-inflamatrias so

    proeminentes) do sistema imune adquirido. No entanto, avanos recentes na

    compreenso da biologia das clulas T efetoras revelou a existncia de uma

    subpopulao distinta de clulas T CD4+ com potentes atividades funcionais pr-

    inflamatrias. Estas clulas so designadas clulas Th17 por causa da sua

    capacidade para produzir IL-17A e IL-17F. As populaes de clulas T efetoras

    CD4+ clssicas (Th1 e Th2) no conseguem produzir estas citocinas, embora a IL-

    17 tambm seja produzida por um nmero de outras clulas hematopoiticas,

    incluindo as clulas CD8+ e clulas T (gama delta), clulas Natural Killer (NK),

  • 43

    e neutrfilos. A atividade inflamatria das clulas Th17 aparentemente devido

    produo de um complexo nico de citocinas pr-inflamatrias, incluindo IL-6, IL-

    17A, a IL-17F, GM-CSF (fator estimulador de colnias de granulcitos-

    macrfagos) e TNF-. Estas clulas tambm expressam receptores para IL-18 e

    IL-23 (esta serve como um fator de crescimento para promover a atividade da

    populao Th17), citocinas tipicamente produzidas por moncitos, macrfagos e

    clulas dendrticas. No que diz respeito ao pulmo, IL-17 um potente indutor da

    produo de IL-6 por clulas epiteliais brnquicas, e IL-6 e IL-17 so fortes

    indutores da produo de mucinas Muc5AC e Muc5B por clulas epiteliais do

    pulmo. Alm disso, a IL-17 induz as clulas epiteliais a liberarem CXCL8, uma

    quimiocina que importante para a atrao de neutrfilos (KIM; ROGERS;

    CRINER, 2008).

    Os linfcitos T CD4 e CD8 esto aumentados no parnquima pulmonar e na

    parede das vias areas de pacientes com DPOC. Em modelo animal de enfisema

    induzido pela exposio fumaa de cigarro foi observado que, alm do nmero

    de linfcitos T estarem aumentado, havia correlao direta entre esse nmero e a

    gravidade da doena pulmonar (TAKUBO et al., 2002).

    Vrios artigos tambm tem demonstrado o predomnio do padro Tc1 das

    clulas CD8 no escarro, no LBA e na bipsia dos pacientes, quando comparado

    aos tabagistas sem limitao do fluxo areo e aos voluntrios no tabagistas. No

    entanto, os linfcitos T CD4 tambm esto aumentados no parnquima de

    pacientes com DPOC, especialmente naqueles com doena mais grave.

    possvel que elas tenham importncia na manuteno da memria imunolgica

    que perpetuaria o processo mesmo aps a suspenso do tabagismo (COSTA;

    RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    A polarizao da inflamao pulmonar da DPOC em favor do tipo 1 resulta

    na produo e liberao de um determinado tipo de citocinas, especialmente o

    IFN-, liberado pelos linfcitos CD4 e CD8 e capaz de ativar os macrfagos, que,

    por sua vez, passam a produzir uma srie de citocinas, incluindo IL-12, que

    mantm a diferenciao de linfcitos desviada para o fentipo 1 (COSTA;

    RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    Linfcitos T CD8 esto aumentados na parede brnquica e no parnquima

    pulmonar de pacientes com DPOC quando comparado com tabagistas sem

  • 44

    obstruo brnquica. Mais ainda, a intensidade da infiltrao linfocitria est

    diretamente relacionada com o grau de obstruo brnquica. Dessa forma, a

    proliferao de clulas T CD8 no pulmo de tabagistas estaria relacionada com a

    progresso da doena obstrutiva. Uma das funes das clulas T CD8 a

    apoptose de clulas-alvo, que no caso do enfisema est relacionada com a

    destruio pulmonar. Foi demonstrada a relao tanto da apoptose quanto da

    infiltrao de clulas T CD8 na parede brnquica com a carga tabgica e com a

    destruio pulmonar em pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E

    SILVA, 2009).

    O mecanismo pelo qual os linfcitos T CD8 se acumulam nas paredes das

    vias areas e no parnquima pulmonar dos pacientes com DPOC ainda no est

    claro. No entanto, o recrutamento de clulas para o pulmo deve necessitar da

    ativao linfocitria, que, por sua vez, provavelmente ser seguida por adeso e

    quimiotaxia seletiva. H evidncias de que as clulas T expressam vrios

    receptores de quimiocinas pr-inflamatrias, incluindo CCR5 e CXCR3,

    relacionados s quimiocinas responsveis pelo recrutamento de linfcitos T, mas

    no de todo certo que estes receptores de quimiocinas sejam responsveis pela

    a acumulao de clulas T CD8+ nos pulmes de pacientes. As quimiocinas que

    atuam no receptor CXCR3 so CXCL9, CXCL10 e CXCL11, enquanto que as

    relativas ao receptor CCR5 compreendem CCL3, CCL4, CCL5 e CCL11. Todas

    tm atividade quimiotxica de linfcitos (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009;

    KIM; ROGERS; CRINER, 2008).

    Deve-se considerar a possibilidade de que as clulas T CD8+ no pulmo

    doente no representem a populao inflamatria mais importante, mesmo que

    elas sejam uma populao relativamente abundante. No entanto, a simples

    presena destas clulas quase certamente contribui como uma fonte de

    mediadores patognicos, que claramente tm o potencial para participar de danos

    no tecido pulmonar. Alm disso, estas clulas possuem o potencial para promover

    a destruio do interstcio pulmonar atravs da liberao de proteases, tais como

    perforina e granzima, bem como as citocinas citotxicos tais como o TNF- (KIM;

    ROGERS; CRINER, 2008).

  • 45

    3.4.3.5. Neutrfilos

    A primeira e mais consistente anormalidade encontrada nas vias areas de

    pacientes com DPOC a infiltrao celular da parede e luz brnquicas. Estudos

    em animais demonstraram que a exposio fumaa de cigarro promove a

    proliferao de neutrfilos nas vias areas. Dessa forma vrios autores tm

    publicado estudos relatando o aumento de neutrfilos no escarro e no LBA de

    pacientes com DPOC. Os neutrfilos esto implicados na liberao de citocinas

    inflamatrias, mediadores lipdicos e enzimas capazes de promover dano tecidual.

    Alm disso, podem promover hipersecreo de muco por meio de efeito

    secretagogo e pela proliferao de glndulas mucosas (COSTA; RUFINO; LAPA

    E SILVA, 2009).

    Desde o advento da tese de que a destruio pulmonar estaria relacionada

    ao desequilbrio entre proteases e antiproteases, o neutrfilo foi tido como fator

    importante para o desencadeamento da doena, j que esse desequilbrio seria

    mantido atravs da liberao de enzimas neutroflicas, o que ocasionaria o

    aumento de proteases no pulmo (COSTA, RUFINO, LAPA E SILVA, 2009).

    Alguns autores tm relatado que, embora a inflamao neutroflica esteja

    constantemente presente nos fumantes, ela provavelmente representa uma

    resposta inespecfica das vias areas agresso causada pelo tabagismo, no

    estando, necessariamente, relacionada progresso para DPOC. E mais: seria

    necessria a ocorrncia de interao com macrfagos e linfcitos T, os quais

    desencadeariam resposta inflamatria ampliada e anormal apenas na parcela de

    tabagistas que desenvolveria quadro clnico de DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E

    SILVA, 2009).

    3.4.3.6. Quimiocinas na patognese da DPOC

    Atravs da regulao do trnsito de clulas inflamatrias em direo aos

    pulmes, as quimiocinas desempenham um papel fundamental no processo

    inflamatrio da DPOC. Algumas quimiocinas esto sendo estudadas h mais

    tempo e esto mais claramente implicadas ao processo, enquanto outras

    desempenham papel ainda incerto (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

  • 46

    a) IL-8/CXCL8

    um potente fator quimiottico de neutrfilos e seu nvel est aumentado no

    escarro induzido de pacientes com DPOC em comparao com os controles no

    tabagistas. O nvel de IL-8 est relacionado ao nmero absoluto e relativo de

    neutrfilos no escarro induzido e est especialmente aumentado nos pacientes

    com deficincia de -1 antitripsina e naqueles com exacerbao brnquica

    (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    b) Oncogene relacionado ao crescimento (GRO)-/CXCL1

    Produzida e liberada por macrfagos alveolares e clulas epiteliais, GRO-

    tem sido implicada na ativao de neutrfilos, moncitos, basfilos e linfcitos T

    por meio de sua ligao com o receptor CXCR2. Sua concentrao est

    aumentada no escarro, mas no no LBA de pacientes com DPOC em

    comparao com tabagistas e no tabagistas. capaz de recrutar moncitos,

    mecanismo pelo qual deve ocorrer o acmulo de macrfagos alveolares no

    pulmo de pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    c) Ativador neutroflico derivado do epitlio (ENA)-78/CXCL5

    Assim como o GRO-, o ENA-78/CXCL5 atua por meio do receptor CXCR2

    e est aumentado no LBA de pacientes com DPOC em relao a controles no

    tabagistas, embora em nveis no superiores queles encontrados em fumantes.

    Foi relatado que a sua expresso nas clulas epiteliais est aumentada durante

    as fases de exacerbao da DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E SILVA, 2009).

    d) Quimiocinas dos receptores CXCR1 e CXCR2

    Estes receptores esto presentes principalmente em neutrfilos e moncitos.

    CXCL6 e CXCL8 so quimiocinas que se ligam aos receptores e esto envolvidas

    com processos inflamatrios neutroflicos. A expresso dos receptores CXCR1 e

  • 47

    CXCR2 est aumentada nos pacientes com DPOC (COSTA; RUFINO; LAPA E

    SILVA, 2009).

    3.4.4. Desequilbrio Protease Antiprotease

    Num sentido simplista, enfisema causado pelo desequilbrio de proteases

    e antiproteases que resulta na destruio do parnquima pulmonar. O exemplo

    clssico deficincia de -1 antitripsina, onde sem oposio da elastase

    neutroflica tem efeitos deletrios sobre os pulmes. No entanto, na patognese

    geral, so as interaes entre EROs e proteases ou antiproteases que

    desencadeiam este desequilbrio. Exposio fumaa de cigarro pode inativar

    antiproteases endgenas, bem como desencadear uma resposta pulmonar

    aguda, que ativa os macrfagos alveolares residentes e promove o influxo de

    neutrfilos para os pulmes. medida que a exposio fumaa continua e

    torna-se crnica, h acumulao de macrfagos, neutrfilos e clulas T CD8+ nos

    pulmes. Os macrfagos e neutrfilos liberam uma variedade de proteases,

    incluindo a elastase neutroflica, proteinase 3, MMPs e as catepsinas. Essas

    proteinases apoiam umas as outras, ativando umas as outras ou inibindo seus

    inibidores endgenos, tais como elastase neutroflica inibi inibidores teciduais de

    MMPs e MMPs degradam -1 antitripsina. Estas proteinases clivam componentes

    da matriz extracelular, fibras de elastina e colgeno, gerando fragmentos de

    elastina ou peptdeos derivados de colgeno, tais como prolina-glicina-prolina,

    que tem sido demonstrado ser quimiotctico para moncitos, a clula precursora

    de macrfagos ou neutrfilos. Coletivamente, fragmentos de peptdeos

    quimiotticos perpetuam a acumulao de macrfagos e neutrfilos e destruio

    pulmonar (FISCHER; PAVLISKO; VOYNOW, 2011).

    3.5. PATOLOGIA DA DPOC

    As caractersticas patolgicas da DPOC so a inflamao das vias areas

    perifricas e destruio do parnquima pulmonar contribuindo para a

    consequncia funcional da limitao do fluxo areo expiratrio (WOUTERS,

    2005).

  • 48

    As alteraes patolgicas so detectadas muito cedo nos bronquolos,

    onde fibrose peribronquiolar resulta em obstruo ao fluxo areo. Alteraes

    precoces tambm podem ser detectadas em todos os brnquios, onde

    hipersecreo de muco, clulas inflamatrias, e a contrao da musculatura lisa

    brnquica tambm obstruem o fluxo de ar. A hipersecreo de muco uma

    caracterstica saliente da hipertrofia das glndulas submucosas e hiperplasia de

    clulas caliciformes. Fatores quimiotticos de neutrfilos tambm emanam de

    macrfagos ativados e de clulas epiteliais e linfcitos CD8+. Na verdade, os

    macrfagos, pela liberao de fatores quimiotticos de neutrfilos e enzimas

    proteolticas, desempenham um papel proeminente na perpetuao da resposta

    inflamatria PMN na DPOC (BRIGGS, 2004).

    Na DPOC, a inflamao crnica em todas as vias areas e o parnquima

    pulmonar produzem alteraes patolgicas acumulativas ao longo do tempo,

    culminando na deteriorao progressiva da funo pulmonar. Inflamao

    constante provoca a hipertrofia das glndulas de muco, hiperplasia de clulas

    caliciformes, fibrose peribronquiolar, e espessamento da vasculatura pulmonar

    que conspiram para debilitar o funcionamento pulmonar. Estas caractersticas

    patolgicas da DPOC, juntamente com aumento do tnus vagal, provoca aumento

    no tnus do msculo liso, disfuno ciliar, edema e recolhimento elstico

    diminudo no tecido pulmonar, juntos obstruem o fluxo de ar. Pacientes j no

    podem exalar de forma eficiente e, em resposta, o volume do pulmo aumenta,

    especialmente durante o exerccio, aprisionando ar, diminuindo a capacidade

    inspiratria, e induzindo dispneia. De fato, muitas pessoas que morrem de DPOC

    sucumbem a defeitos de trocas gasosas que produzem nveis reduzidos de

    oxignio e nveis aumentados de dixido de carbono no corpo, ou seja,

    insuficincia respiratria. A hipertenso pulmonar da hipoxemia e perda de leito

    vascular e cor pulmonale (forma de insuficincia cardaca, onde h diminuio da

    capacidade de funcionamento das cmaras direitas do corao, por doena

    pulmonar), so resultados inexorveis para pacientes com DPOC avanada.

    Importantemente, a DPOC tambm pode causar uma perda de massa magra,

    uma manifestao da inflamao sistmica e do estado catablico dos pacientes

    com doena avanada. Os pacientes com baixo ndice de massa corporal (IMC)

    desta caquexia pulmonar tm maior mortalidade. Alguns tm notado que, em

  • 49

    pacientes com DPOC, o dimetro transversal do msculo quadrceps prediz a

    mortalidade melhor do que a diminuio do VEF1 (BRIGGS, 2004).

    3.6. SINTOMATOLOGIA

    A DPOC caracterizada por inflamao crnica que induz o estreitamento

    dos brnquios, resultando em uma reduo progressiva do fluxo areo e

    hiperinsuflao dinmica. Principais sintomas da DPOC podem incluir dispneia,

    tosse crnica, produo de expectorao, e s vezes chiado. Entretanto, os

    sintomas podem estar ausentes ou negados por pacientes com doena precoce.

    Apesar de que j se acreditou ser irreversvel e inexoravelmente

    progressiva, a sintomatologia da DPOC pode ser detida, ou mesmo revertida, com

    o diagnstico precoce, tratamento broncodilatador adequado, e principalmente

    pela interrupo do ato de fumar. No entanto, para gerir eficazmente as sequelas

    desta doena, importante reconhecer a verdadeira natureza da DPOC: uma

    doena inflamatria que afeta no somente todas as vias areas, mas tambm

    todo o corpo (Figura 8). Na verdade, as manifestaes sistmicas da inflamao

    da DPOC, tais como inflamao sistmica (desequilbrio entre a formao de

    radicais livres de oxignio e capacidade antioxidante resultando no estresse

    oxidativo sistmico e ativao das clulas inflamatrias), disfuno msculo

    esqueltica (perda da massa muscular esqueltica e anomalias bioenergticas) e

    principalmente a aterosclerose, so responsveis por grande parte da sua

    morbidade e mortalidade associadas (BRIGGS, 2004; DOURADO et al., 2006;

    FERREIRA, 2010).

    A presena de sintomas respiratrios crnicos no paciente com hbito

    tabgico (cigarro, cigarrilha, cachimbo, charuto) deve levar a suspeita clnica de

    DPOC. Quanto maior a intensidade do tabagismo, maior a tendncia ao

    comprometimento da funo pulmonar, embora a relao no seja obrigatria.

    Aproximadamente 15% dos fumantes desenvolvem DPOC (JARDIM; OLIVEIRA;

    NASCIMENTO, 2004).

    A tosse o sintoma mais encontrado, podendo ser diria ou intermitente e

    pode preceder a dispneia ou aparecer simultaneamente a ela. O aparecimento da

    tosse no fumante to frequente que muitos pacientes no a percebem como

  • 50

    sintomas de doena, considerando-a como o pigarro do fumante. A tosse

    produtiva ocorre em aproximadamente 50% dos fumantes (JARDIM; OLIVEIRA;

    NASCIMENTO, 2004).

    Figura 8: Fisiopatologia das manifestaes sistmicas e locais da DPOC. Legenda: VEF1, volume expiratrio forado no primeiro segundo; AVDs, atividades da vida diria; IL, interleucina; TNF-,

    fator de necrose tumoral. Adaptado de: DOURADO et al., 2006

    A dispneia, ou falta de ar, o principal sintoma associado incapacidade,

    reduo da qualidade de vida e pior prognstico. geralmente progressiva com a

    evoluo da doena. Muitos pacientes s referem dispneia numa fase mais

    avanada da doena, pois atribuem parte da incapacidade fsica ao

  • 51

    envelhecimento e falta de condicionamento fsico (JARDIM; OLIVEIRA;

    NASCIMENTO, 2004).

    A perda de massa esqueltica um preditor de mortalidade em pacientes

    com DPOC e, pode estar associada acentuao dos sintomas, piora da

    qualidade de vida e, intolerncia ao exerccio (JARDIM; OLIVEIRA;

    NASCIMENTO, 2006).

    A prevalncia da desnutrio varivel, oscilando entre 26% e 47% dos

    pacientes portadores de DPOC. Estudos retrospectivos indicam que redues do

    peso do corpo, resultando em valores abaixo de 90% do peso ideal e em valores

    baixos de IMC, so fatores prognsticos negativos independentemente da

    gravidade da doena. H relao inversa entre o IMC e a sobrevida em pacientes

    com DPOC. Em todos os grupos, a perda de peso est associada com

    mortalidade aumentada; alm disso, pacientes com DPOC grave e IMC menor

    que 25 kg/m2 apresentam aumento da sobrevida quando ocorre ganho de peso

    (DOURADO et al., 2006).

    Em decorrncia da progresso da DPOC o individuo tambm limita a

    execuo de suas atividades da vida diria para amenizar os sintomas,

    apresentando um quadro de descondicionamento cardiovascular, disfuno

    musculo esqueltica e transtornos psicolgicos, dentre eles a depresso

    (FERREIRA, 2010).

    3.6.1. Comorbidades

    A comorbidade, descrita como a coexistncia simultnea de doenas de

    natureza distinta da DPOC no paciente portador desta condio constitui um fator

    associado ao pior prognstico da DPOC (LAST, 2001).

    Como uma doena multicomponente, a DPOC frequentemente associada

    com disfuno de diferentes rgos/sistemas. De particular interesse a sua

    associao com aumento da morbidade e mortalidade por doena cardiovascular

    (CO


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