Download - Teatro, crianças e relações de gênero
“Eu não gosto de filme de mulherzinha” ou “A Fadinha Assassina na Floresta Encantada dos Amores” – gênero e sexualidade como mediações na relação de crianças com artefatos culturais na
contemporaneidade
Taís [email protected] SIGAM
Gênero e sexualidade: mediações
Os artefatos culturais veiculam discursos que constituem identidades e subjetividades, atuando como “pedagogias culturais”, ensinando modos de ser/estar no mundo.
No entanto, as construções identitárias de gênero e sexualidade de meninos e meninas também “atravessam” suas relações com diferentes artefatos culturais e linguagens, atuando nos processos de recepção e construção de significados e sentidos.
Gênero...
Patrício – Minha mãe disse que se eu quiser um videogame não tem festa de aniversário.
Amanda – Eu vou fazer festa de aniversário este sábado.
Marcus – Eu vou ser convidado? Amanda – Não, só guria, minha
mãe falou. Marcus – Deixa. Então no meu
aniversário eu vou fazer só guri, e vai ter torta de caramelo!
Emília – Eu não gosto de Linha Direta. Douglas – É tri massa! Pom! Pom!
(imita barulhos de tiros) Joziane – Às vezes não consigo
assistir, porque é depois de A Grande Família. Mas eu acho legal.
Eu – Por que tu não acha legal? Emília – Porque mostra as pessoas se
matando, um monte de coisa... (Douglas conta uma história de morte
que assistira no programa). Eu – Vocês acham legal isso? Douglas – Eu gosto, só que me dá
medo. Eu fico olhando me cagando de medo.
Emília – Eu também. Joziane – Eu só sonho com isso, eu
não tenho medo. (risos) Minha mãe não deixa assistir porque eu sonho, mas eu não tenho medo.
Sexualidade...
Juliana – Eu gostei do Palhaço porque ele era divertido, ele é todo mole, daquela parte do avião que ele cai, ele levanta e abre a janela...
Tobias – Ele é boiola. Juliana – Ele não é boiola! [ . . . ] Juliana – Eu gostei da parte, que... como é que é... aquela lá que eles tavam
deitados aí o Palhaço começa a abri as pernas, aí levanta, aí ele cai pra subir... Tobias – Eu achei o Palhaço muito fraquinho, porque ele apanhou duma
guria... Eu – E menino não pode apanhar de guria? Patrícia – Pode! Juliana – Eu dou soco em todo mundo! Eu – Ninguém tem que apanhar de ninguém, né? Tobias –Tem que rachar... Patrícia – Os homem! (risos)
(grifos meus)
Sexualidade e gênero: posições preferenciais
Diálogo 1:
Adilson – Eu não gosto de filme de mulherzinha...
Eu – E o que que é filme de mulherzinha?
Adilson – É os que ficam fazendo assim com a mão (faz gesto com o punho e mão), é os bichinha...
Diálogo 2:
Eu – Se vocês pudessem fazer uma peça de teatro só de vocês, que vocês chegassem e pudessem fazer do jeito que quisessem, que vocês gostariam de assistir? O que é que ela teria?
Joziane – Teria um monte de cara lutando, um monte de moto.
Vitor – E carinha comendo grafite. Douglas – Que os carinha tavam apostando
pega e aí a polícia pegou e prendeu eles e depois eles ficaram presos.
Vitor – É que nem Velozes e Furiosos, no teatro.
Douglas – É. Eu – O que que é isso? Vitor – É um filme. Eu – Isso vocês querem ver no teatro? [ . . .]
Emília, como seria uma peça que tu ia gostar de ver?
Emília – Bem romântica... (Do continua falando de carros e
caminhões...)
Desenhando e brincando teatro...
A fadinha assassina na floresta dos amores...
Eu – Se vocês pudessem mudar alguma coisa na peça, o que vocês mudariam?
Tobias – Eu faria com que o Palhaço voasse!
Patrícia – Eu botaria uma bela menina que seria eu, que ela fosse uma fadinha, que ela fosse assim de rosa, com o vestido todo rasgado embaixo...
Eu – E o que que a fada faria na peça? Patrícia – A fada ia matar o Dr. Chip! Juliana – Matar? Coitado! Patrícia – E também ia tirar a viseira
do Léo...