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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÀ
ANAXIMANDRO ANTÔNIO SARMENTO
A VISÃO DO SUICÍDIO NO ÂMBITO DA PISIQUIATRIA
RECIFE/PE2015
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ANAXIMANDRO ANTÔNIO SARMENTO
A VISÃO DO SUICÍDIO NO ÂMBITO DA PISIQUIATRIA
RECIFE/PE2015
Monografia apresentada como requisito parcial e obrigatório da Universidade Estácio de Sá. Para conclusão do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Psiquiatra.
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ANAXIMANDRO ANTÔNIO SARMENTO
A VISÃO DO SUICÍDIO NO ÂMBITO DA PISIQUIATRIA
Monografia apresentada como requisito parcial e obrigatório da Universidade Estácio de Sá. Para conclusão do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Psiquiatra.
RECIFE/ PE, _______ de _________de 2015.
Aprovação: _______________________________
Banca Examinadora
__________________________________________
Orientador __________________________________________
Examinador__________________________________________
Examinador
RECIFE/PE2015
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RESUMO
Após a conclusão deste estudo podemos afirmar que existe cada vez mais a necessidade de se promover uma formação continuada para os profissionais da saúde que atuam com pacientes suicidas. É preciso reciclar técnicas de atendimento, conhecer os avanços tecnológicos nas áreas, e se aprofundar nas teorias da psicologia e psicanálise. Devem ser profissionais atentos e dedicados ao seu fazer diários, ter paciência e calma, saber ouvir e sentir. Por trabalhar com pacientes altamente fragilizados devem estar muito bem preparados para caminhar da área técnica ao atendimento emocional de um paciente a qualquer momento.
Palavras-chaves: Suicídio, Psiquiatra, Prevenção; Tratamento.
ABSTRACT
Upon completion of this study we can state that increasingly there is a need to promote continuing education for health professionals working with suicidal patients . You need to recycle service techniques , know the technological advances in the areas , and delving into the theories of psychology and psychoanalysis. Must be attentive professional and dedicated to their daily do , be patient and calm, listening and feeling . By working with highly vulnerable patients should be well prepared to walk the technical area to emotional care of a patient at any time.
Key-words: Suicide; Psychiatrist; Prevention; Treatment.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................061 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................081.1Conceito de Suicídio........................................................................ 081.2 Identificando os Sintomas das Ideias dos Suicidas e do Suicídio. 101.3 O Perfil do Suicida no Âmbito da Psiquiatria.......................................121.4 A Depressão Um dos Principais Fatores Que Leva ao Suicídio.......20 1.4.1 Os Sintomas da Depressão..............................................................211.5 Áreas Psicomotoras................................................................................232 A EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA PONTO BÁSICO PARA 3 EVITAR O SUICÍDIO................................................................................293.1O Tratamento e Reabilitação do Suicida................................................31
CONCLUSÃO................................................................................. ...........33REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................34
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INTRODUÇÃO
O suicídio é um fenômeno complexo, em cuja gênese podem estar
envolvidos, isolada ou simultaneamente, fatores de natureza diversa, entre os quais
destacam-se os psicológicos, sociológicos, familiares, fisiológicos, culturais,
religiosos, morais e filosóficos.
Tal complexidade reflete-se na multiplicidade de conceitos acerca do suicídio
mesmo no âmbito psiquiátrico, dificultando obter-se definição consensual que
contemple todos os aspectos potencialmente envolvidos em sua motivação.
Expressão desta dificuldade pode ser resumida no posicionamento dos psiquiatras
Erwin Stengel e Robert Litman que, apesar de ampla experiência clínica com os
suicídios, não se definem por nenhum postulado teórico sobre sua gênese e afirmam
não haver fórmula psicológica única aplicável a todos eles, limitando-se a ressaltar o
caráter interpessoal do ato suicida e seu significado de mensagem, que busca obter
algum efeito no contexto familiar e social do paciente.
Apesar dos obstáculos em obter-se uma posição consensual, a título de
exemplo pode-se citar a definição de suicídio feita pelo psiquiatra Edwin
Schneidman, como “o ato consciente de aniquilação auto-inflingida, melhor
entendido como uma enfermidade multidimensional em um indivíduo carente, que
define uma questão para a qual o ato é percebido como a melhor solução”.
Apesar de não surgir comumente em sua literatura específica mesmo nos dias
atuais, a questão do suicídio preocupou a Psicanálise desde cedo em sua história.
Sua primeira tentativa de aprofundar os conhecimentos sobre o assunto data de
1910, quando realizou-se em Viena um Simpósio enfocando o suicídio em
escolares, no qual vários psicanalistas se manifestaram e do qual se extraíram
conceitos fundamentais, destacando-se os seguintes:
“Apenas quem perdeu a esperança de ser amado abandona a vida”;
“Ninguém se mata, exceto se também queira matar ou ao menos deseje a morte de
outro”;
“Ninguém se mata sem que sua morte seja desejada por alguém”.
Freud manifesta-se no encerramento do evento e opina que, apesar do rico material
obtido, não se havia chegado a uma conclusão sobre o que poderia motivar a
superação do poderoso instinto de vida e defende que a elucidação deste enigma só
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poderia partir da já bem conhecida melancolia e de sua relação com o afeto do luto,
posição que foi o germe para os desdobramentos futuros sobre o tema.
O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica sobre o tema em
foco, ou seja, a visão do suicídio no âmbito da psiquiatria.
O aspecto metodológico desta pesquisa foi realizado baseado no uso da
pesquisa bibliográfica e artigos especializados publicados em sites específicos, para
a obtenção de dados consistentes sobre o tema, os quais foram coletados também
através de livros, revista,etc. para que então fosse desenvolvido com precisão e
coerência as informações levantadas durante o trabalho.
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O suicídio é um fenômeno complexo de causas diversas (HECK et al 2012),
e, portanto de definições também complexas, por sua característica negativa na
sociedade, por ser uma agressão da pessoas contra si própria, causando sua morte
ou não – pois muitas vezes há uma tentativa que não se consuma – o que causa
profunda repercussão na sociedade.
Segundo Bertolote et al (2010) suicídio é um óbito que resulta de uma ação
ou omissão iniciada com a intenção de causar a morte e com a expectativa desse
desfecho. Isso demonstra que a prática de suicídio é tão extensa e de difícil
identificação quanto possível, pois coloca como suicídio atitudes de omissão –
expressas em práticas de deixar de tomar medicamentos, se alimentar mal
conscientemente, acidentes de trabalho ou de transito, excessos de álcool e outras
drogas permitidas, etc. – as quais muitas vezes torna a qualificação de um ato como
suicida quase que inqualificável nessa condição. Mas a definição para efeito deste
estudo é a de um ato de agressão contra a vida e a própria integridade física ou ato
consciente de autodestruição (PARENTE et al, 2007, p. 377). Suas causas são
diversas:
Considera-se fatores associados ao suicídio as tentativas prévias, a doença
afetiva, o isolamento social, a história familiar, a declaração de intenções e uma
série de variáveis demográficas e socioeconômicas (...). Cinco situações foram
descritas como as mais importantes no comportamento suicida atual:
1) o aumento na prevalência de transtornos depressivos;
2) o aumento do uso abusivo de substâncias psicoativas;
3) mudanças psicológicas, como a diminuição na data de início da puberdade;
4) aumento no número de estressores sociais;
5) mudança nos padrões de aceitação de comportamentos suicidas e aumento na
disponibilidade de modelos suicidas. (MENEGHEL et al, 2004, p 805).
As causas do suicídio estão ligadas principalmente a fatores sociais, de
acordo com o pensamento de Meneghel et al (2004), mas também apresenta
aspectos eminentemente psicológico, conforme o pensamento de Bertolote et al
(2010).
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Deve-se destacar que um comportamento não é, necessariamente, uma
doença; assim, os comportamentos suicidas não constituem uma doença, embora
na maioria estejam associados a diversos transtornos mentais, dos quais os
transtornos do humor (particularmente a depressão), os transtornos por uso de
substâncias (especialmente a dependência de álcool), as esquizofrenias e os
transtornos de personalidade são os mais frequentes. Ademais, determinadas
doenças físicas apresentam também significativa associação com os
comportamentos suicidas, entre as quais a síndrome de dor crônica, doenças
neurológicas (como a epilepsia, lesões neurológicas medulares e centrais e
sequelas de acidentes vasculares cerebrais), infecção pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV), a síndrome da imunodeficiência adquirida e certas
neoplasias. No fim das contas, todos esses transtornos e essas doenças
representam um risco potencial de comportamentos suicidas (BERTOLOTE et al,
2010, p. 588).
As idéias se complementam a medida que dão conta que o suicídio é
influenciado por fatores sociais e psicológicos. Sua ocorrência está ligada
diretamente a fatores que se encontram em várias áreas do conhecimento humano –
medicina, psicologia, sociologia, etc. e, portanto constituindo-se em fator
multidisciplinar de estudo. E conforme apresenta Bertolote (2010) Mas a ocorrência
de um ou mais fatores apresentados não significa risco eminente de comportamento
suicida. Para Bertolote (2010) a maioria dos suicídios dá-se em pessoas que além
de sofrerem de uma doença clínica, encontra-se sob influência de transtornos
psiquiátricos, como depressão e agitação.
O suicídio ainda é apresentado como grito de ajuda, desejo de comunicação
que precisam ser respondidos direta ou indiretamente, conforme apresenta Meleiro
(1998) em seu estudo sobre o tema.
Desta forma pode-se concluir que o suicídio é uma forma extrema de busca
de comunicação de pessoa que passa por uma perturbação de sua condição de vida
pessoal ou social e que esteja vivendo situações e problemas de saúde física ou
mental. Mas que tais condições não são determinantes do suicídio em todas as
pessoas, pois nem todas elas chegam a cometê-lo.
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Verifica-se assim que a mortalidade por suicídio caracteriza-se como um
tema que desafia pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, por isso
carece de maiores estudos, pois, quanto mais se puder entendê-la, mais forte, mais
eficazes e eficientes serão as ações já desenvolvidas, além de possibilitar o
estabelecimento de novas políticas referentes a esse grave problema. (MACENTE et
al, 2009).
Somente o estudo e o conhecimento podem gerar mais conhecimento e
propostas de solução para um determinado assunto, com relação a suicídio, apesar
de todos os estudos e pesquisas realizados ainda não se acumulou conhecimento
suficiente para poder erradicá-lo de forma sistemática e permanente ou ainda
controlar sua ocorrência.
1.2 Identificando os Sintomas das Idéias dos Suicidas e do Suicídio
As idéias suicidas não são novas, estão presente na história desde a
antiguidade. O comportamento de finalizar a própria vida, ou o suicídio, encontra-se
presente na história da humanidade e é reconhecido desde a Antiguidade. É
marcado tanto pelo que se convencionou chamar, no meio médico, de fenômeno
subnotificado, quanto, nas ciências sociais de tabu. A subnotificação se relaciona
com o status de tabu, que tanto limita o falar sobre o suicídio como o registro formal
nos prontuários médicos e atestados de óbitos. (RAMOS & FALCÂO, 2011, p. 508)
Para Ramos e Falcão (2011) os pré-conceitos que envolvem o suicídio em
qualquer sociedade e época muito tem prejudicado a melhoria de conhecimento
sobre os mecanismos que o provocam. A falta de dados torna difícil se estabelecer
suas causas e a partir deste momento se estabelecer os mecanismos de prevenção
e tratamento. A maior parte dos estudos realizados dão conta das condições físicas
para a efetivação do suicídio, tais como: idade, sexo, condição social, horário, meio
utilizado para realizar o suicídio, etc. Mas muito pouca se fala dos mecanismos
internos de sentimentos e emoções que levam ao suicídio.
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Segundo Borges & Werlang (2006) o ideal suicida se refere aos pensamentos
de autodestruição e a idéias suicidas, o que envolve os desejos, as atitudes e ao
planos que o indivíduo faz para si. Antes de se tornar um ato, o suicídio é uma idéia
que evolui para um plano e se torna um ato. Estudos realizados por Schmitt et al
(2008) indicam que segundo estudos da OMS (Organização Mundial de Saúde)
apontam que a cada 1 milhão de pessoas cometeram suicídio no ano de 2000, que
no Brasil há uma média de três a quatro suicídios / 100.000 habitantes e que os
homens tem uma incidência quatro vezes maior que as mulheres e que cresce a
prática do suicídio entre os jovens. Em outro trecho os autores Schmitt et al (2008)
afirmam que para cada suicídio consumado ocorrem pelo menos 10 tentativas de
suicídio. Todas estas informações são de grande importância para o pessoal da área
da saúde que prestam serviço na área de psiquiatria, pois nele encontram-se
informações sobre quais as características da população que irão atender, em sua
maioria homem, que já devem te passado por outras tentativas de suicídio e em um
número considerável de jovens.
Quanto aos métodos não são muito diferentes entre homens e mulheres, e
como a escolha da região pelos pesquisadores Schmitt et al (2008) por suas
condições estatísticas estarem acima da média nacional são representativos da
região onde foram coletados.
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Em um trabalho com 70 jovens que tentaram suicídio, em relação ao
método. 70% utilizaram medicamentos e 18,3% utilizaram praguicidas na tentativa.
Observou-se a maior freqüência no sexo feminino, nas residências e com uso de
medicamentos que demonstra a facilidade no acesso a essas substâncias. Outro
estudo obteve o método mais utilizado a ingestão de psicofarmacos com 51% e sua
grande maioria foi do sexo masculino. (AVANCI et al, 2009, p. 538)
As idéias apresentadas por Avanci et al (2009) demonstram como é a
condição em outra região do país, isso demonstra que os métodos a população
podem mudar de região para região, e os métodos representam a utilização de
material disponível e de fácil acesso a pessoa que busca o suicídio.
Quanto as causas do suicídio e seus sintomas ainda carece de estudos,
segundo Ramos et al (2011) constatou-se que de 40% a 60% das pessoas que
cometeram suicídio consultou um médico nãopsiquiatra no mês anterior ao suicídio.
Isto demonstra que os profissionais da saúde ainda não se encontram bem
preparados para atendimento destes pacientes que podem vir com características
variando desde sentimentos de angústia e tristeza até dificuldades financeiras,
problemas religiosos, e de relacionamento interpessoal. Quanto a preparação para
estes médicos e profissionais da saúde trabalhar com as emoções dos pacientes
muito ainda deve ser feito e estudado.
Cremasco e Brunhari (2009) em estudos afirmam que o suicídio é o fruto de
uma angustia profunda que surge do fato do indivíduo se encontrar numa situação
de grande desprazer em sua vida, o que o leva a buscar por algo que acabe com
esta situação de crise. O aprofundamento da crise de angustia leva o indivíduo
passar do discurso (comunicação de intenção de suicídio) para a ação (o suicídio
propriamente dito). Trata-se de uma escolha a partir do entendimento de que é
impossível se equilibrar diante das dificuldades da angustia.
Para Côrte et al (2009) que realizou estudos sobre suicídio na envelhescência,
indica que a perda de status demonstrou ser um dos principais fatores responsáveis
pela ocorrência do suicídio nesta faixa etária. Em sociedades contemporâneas que
valorizam a capacidade de produção e participação ativa dos indivíduos, aqueles
que possuem alguma limitação (como os idosos) sofrem com o preconceito e são
fortemente rechaçados.
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Quando não conseguem atingir o equilíbrio de uma velhice plena e saudável
podem passar porforte fragilização ao passar dos anos. Pacientes com câncer
internados em um hospital universitário. Em termos aproximados, mostrou que um,
em cada cinco, sofre de depressão e que 5% tem risco de suicídio, sendo este maior
entre os que têm dor e os que se encontram deprimidos. (FANGER et al, 2010, p.
173)
Complementando os pensamentos dos autores apresentados
anteriormente, Fanger et al (2010) demonstra em seu estudo que em oncologia
também o suicídio esta ligado a perda de mobilidade e de capacidade produtora,
além de uma forte ligação com o excesso de dor e a incapacidade do ser humano se
relacionar com ela.
As limitações levam o ser humano a perder status, e ao preconceito.
Temas com os quais as pessoas não conseguem trabalhar bem, e que podem levar
a perda de contato com a realidade, levando-o ao suicídio. Este entendido por
Cremasco e Brunhari (2009) como um meio extremo, uma tentativa de comunicação
com o mundo ao redor do suicida.
1.3 O Perfil do Suicida no Âmbito da Psiquiatria
A rica documentação epidemiológica acumulada pela Psiquiatria sobre o
suicídio é fonte valiosa de informações sobre o tema para o profissional de Saúde
Mental, constituindo-se em um instrumento auxiliar bastante útil no diagnóstico do
sujeito potencialmente suicida. O prévio conhecimento da epidemiologia do suicídio
pode em muito contribuir na identificação do suicida potencial pelo psicanalista, que
não raramente será o responsável por este diagnóstico e, caso não seja psiquiatra,
pela solicitação da participação de um deles na condução do caso.
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Embora a Psicanálise opere em sua práxis com o individual, o
reconhecimento de que determinado paciente acumula em sua apresentação clínica
certos aspectos que, estatisticamente, elevam seu risco de vir a cometer o suicídio,
pode servir de alerta ao profissional sobre esta possibilidade e permitir-lhe adotar
providências práticas no sentido de prevenir este ato. Além disso, tais informações
podem ser úteis ao psicanalista para confronto teórico com sua visão específica
sobre o tema.
Com este duplo objetivo, abordaremos aqui os principais aspectos
epidemiológicos referentes ao suicídio identificados pela Psiquiatria, articulando-os,
sempre que possível, com conceitos a eles relacionados provenientes da
Psicanálise. A fonte dos dados objetivos aqui utilizados é a literatura psiquiátrica
americana, já que os levantamentos epidemiológicos sobre o suicídio no Brasil são
incompletos e muitas vezes pouco fidedignos. Sendo os Estados Unidos o modelo
da sociedade capitalista ocidental na qual o Brasil se insere, apesar das
particularidades culturais, tal extrapolação não parece comprometer a validade da
análise feita a seguir.
Esta análise trabalhará, sempre que possível, com a hipótese aqui levantada
de que o suicídio geralmente se deve à presença exclusiva ou predominante de um
dos mecanismos psicodinâmicos seguintes: o de desequilíbrio pulsional, que aponta
para a dimensão quantitativa da antítese freudiana das pulsões de vida e de morte
proposta em “Além doPrincípio do Prazer” (1920) e o de desorganização pulsional,
relacionado principalmente com o grau de estruturação do aparelho psíquico e com
o aspecto “qualitativo” das pulsões. Em algumas situações não seria clara a
preponderância de nenhum dos mecanismos propostos na gênese da conduta
suicida.
A. Incidência e Prevalência
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Cerca de 30.000 mortes são atribuídas ao suicídio anualmente nos Estados
Unidos e estima-se que o número de tentativas de suicídio é 8 a 10 vezes maior. O
suicídio está na oitava posição entre as causas gerais de morte naquele país, onde
também há falhas de registros, cujas causas são passíveis de interpretação. São
elas: erros intencionais na classificação da causa mortis - que talvez busquem
ocultar o estigma moral que gira em torno do suicídio -, acidentes de causa
indeterminada - que certamente incluem suicídios conscientemente encobertos por
seus autores na forma do pretensamente casual ou inconscientemente dissimulados
através de um ato falho letal – e os chamados suicídios crônicos – que mascaram o
desejo de morrer lentamente através do alcoolismo, da drogadição, do descuido com
a saúde ou do abandono de tratamentos médicos.
B. Fatores Associados:1. Idade As taxas de suicídio aumentam continuamente com a idade, atingindo um
pico na chamada “crise da meia-idade”, mas exibem particularidades quanto à faixa
etária.
As pessoas acima de 55 anos, embora tentem o suicídio com menos
frequência, o fazem com terrível eficiência. HerbertHendin, em seu livro “Suicídio
nos Estados Unidos”, pontua que a relação calculada de tentativas de suicídio para
o suicídio consumado é de 10:1 na população geral, de 100:1 entre os 15 e 24 anos
e de 1:1 acima dos 55 anos, demonstrando a enorme letalidade do ato suicida entre
as pessoas mais velhas. Tal fato, além de refletir maior eficiência do método usado
para o ato suicida, parece apontar para o aspecto quantitativo da teoria pulsional
freudiana, onde o equilíbrio entre pulsões de vida e de morte, que preserva o desejo
de viver, é rompido pelo esgotamento de alternativas percebidas pelo sujeito no
confronto com sua angustiante realidade, frequentemente marcada por fracasso
pessoal, solidão, melancolia e doença orgânica.
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O suicídio entre os jovens vem aumentando rapidamente, mas de forma
particularmente expressiva apenas entre os homens, representando hoje nos
Estados Unidos a segunda causa de morte entre os 15 e 24 anos, vindo após os
acidentes que, como já ressaltado, podem incluir muitos suicídios velados. Do ponto
de vista psicanalítico, o suicídio entre jovens parece estar principalmente
relacionado com perturbações narcísicas e suas implicações com a constituição do
Eu e com a estruturação da personalidade, refletindo mais uma desorganização
pulsional do que seu mero desequilíbrio.
2. Sexo
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Os homens suicidam-se com frequência três vezes maior do que as
mulheres, relação estável em todas as idades, embora as mulheres estejam quatro
vezes mais propensas a tentarsuicídio do que os homens. Este aparente paradoxo
pode encontrar explicação psicanalítica na idéia central de que o suicídio reflete a
introjecção patológica da agressividade humana, que normalmente está voltada para
o exterior como meio de garantir a sobrevivência do sujeito. A agressividade pode
estar a serviço de Eros ou de Tanatos. Ela é constitucionalmente mais forte no
homem, inclusive no pensamento freudiano, que a expressa na conhecida equação
“atividade e masculinidade”. Assim, as mulheres tentariam o suicídio mais
frequentemente por disporem de uma menor habilidade de exteriorizar sua
agressividade natural, introjectando-a mais facilmente, enquanto os homens seriam
mais eficazes na consumação de seu ato, porque este exige por si mesmo grande
dose de atividade e a escolha de método violento seguramente letal.
3. Estado civil
O casamento, particularmente se reforçado por filhos, reduz o risco de
suicídio, o que expressa o aspecto fortemente nutridor para o Ego representado pela
experiência amorosa. Pessoas solteiras, jamais casadas, registram taxas de suicídio
duas vezes maiores que as casadas. Porém, não só a ausência da experiência
amorosa ameaça a integridade psíquica do sujeito, como também a sua perda ou o
seu fracasso, já que pessoas anteriormente casadas (viúvos e separados),
apresentam taxas de suicídio muito mais altas do que aquelas que jamais se
casaram, reforçando a idéia de que, para muitos indivíduos, o desejo de viver
depende da convicção de ser amado.
4.Ocupação
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O trabalho, de uma forma geral, protege contra o suicídio, expressando a
função estruturante do Ideal do Eu sobre a constituição do aparelho psíquico. O
suicídio é mais frequente entre pessoas desempregadas e aumenta sua incidência
durante recessões econômicas. Por outro lado, o risco de suicídio tem relação direta
com a posição social do indivíduo. Assim, a plena satisfação das necessidades
materiais atuaria para certas pessoas como fator de perda de interesse pela vida, o
que parece indicar a excessiva dependência do sujeito de ideais externos e
identificações na estruturação de sua personalidade.
Também a queda na situação social aumenta o risco de suicídio, o que pode
ser visto como resultado de desequilíbrio pulsional precipitado pelo fracasso pessoal
(como descrito no suicídio de pessoas acima de 55 anos), ou como a consequência
da perda dos significantes fálicos dinheiro e poder, particularmente valiosos para o
homem que deposita neles sua própria identidade sexual e experimenta profundos
sentimentos de impotência ao se ver deles privado. Neste sentido, é oportuno citar
um estudo de Aaron Beck, que definiu a impotência como um dos indicadores mais
acurados de risco de suicídio a longo prazo, bem como observar que o único
paciente suicida de Freud era portador de impotência incurável.
O médico é tradicionalmente considerado o profissional sob o maior risco
de suicídio, sendo que o psiquiatra apresenta as maiores taxas, mas os estudos
mostram que estas têmrelação direta com a presença de transtornos psiquiátricos,
especialmente depressão, alcoolismo e dependência de drogas. Tal fato levanta a
hipótese de que, para estes suicidas, a escolha profissional tenha representado a
busca inconsciente de um saber que lhes desse resposta acerca do próprio conflito.
É interessante notar que os médicos, independentemente do sexo, suicidam-
se principalmente por superdosagem de substâncias às quais têm acesso e das
quais conhecem a toxicidade, saber do qual se utilizam para, finalmente, responder
a seus conflitos com a própria morte. A Psicanálise tem em sua história o registro do
suicídio de importantes membros da comunidade freudiana, como Vicktor Tausk,
Herbert Silberer, Tatiana Rosenthal, Clara Happel e Eugénie Sokolnicka, o que
reforça a citada predisposição do profissional de Saúde Mental ao auto-extermínio.
5. Religião
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O suicídio é mais comum entre protestantes e judeus do que entre
católicos, sendo os grau de ortodoxia e aderência à religião os aspectos
provavelmente envolvidos com este fato. Freud afirmou em “O Mal Estar na
Civilização” (1930) ser impossível cumprir o mandamento cristão “ama a teu próximo
como a ti mesmo”, que ele interpreta como “a mais forte defesa contra a
agressividade humana”. Se esta é represada e não sublimada adequadamente, fica
disponível para sua introjecção, mecanismo essencial da instalação da conduta
suicida na visão psicanalítica.
6. Saúde física
Há uma relação clara entre doença orgânica e suicídio,que aumenta com
a idade. Metade dos homens com câncer que se suicidam o fazem dentro de um
ano após o diagnóstico, reforçando o raciocínio do desequilíbrio pulsional precipitado
pela doença, como parece ocorrer entre os idosos.
Em 70% das mulheres com câncer que se suicidam o órgão acometido é o
genital ou a mama, símbolos da feminilidade, o que sugere a grande perda narcísica
envolvida e suas consequências sobre o equilíbrio pulsional, como igualmente
acontece com as mulheres vítimas de desfiguramento. Um grande número de
doenças de diferentes sistemas e órgãos nas quais há maior risco de suicídio
associam-se com transtornos do humor e depressão, o que novamente aponta para
o mesmo mecanismo psicodinâmico envolvido.
7. Saúde mental
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Acima de 90% dos suicidas têm doença mental diagnosticada, que em
80% dos casos é a depressão. Tal fato nos remete de volta à colocação feita por
Freud em 1910 ao encerrar o Simpósio de Viena sobre suicídio em escolares,
quando afirmou que a elucidação deste enigma só poderia ser encontrada na
melancolia e na sua relação com o afeto do luto. O risco mais alto de suicídio está
entre pacientes com depressão delirante, onde estariam presentes simultaneamente
os mecanismos psicodinâmicos do desequilíbrio e da desorganização pulsional.
A agressividade excessiva, manifesta por impulsividade ou violência, é
fator de risco para o suicídio, sugerindo a existência nestes indivíduos de um
“quantum” de agressão aumentado que, reprimido tanto pelomundo externo quanto
pelo Superego, tende a se introjectar na forma de conduta suicida, na qual parecem
também coexistir ambos os mecanismos psicodinâmicos citados.
Hospitalização psiquiátrica por qualquer motivo aumenta em 5 a 10 vezes o
risco para o suicídio, por denunciar a maior gravidade do transtorno mental
subjacente.
Cerca de 15% dos dependentes de álcool suicidam-se, sendo que 80% deles
são homens, 60% são deprimidos, 50% tiveram perda afetiva íntima recente e 40%
já tentaram o suicídio anteriormente. A dependência por outras substâncias também
aumenta o risco de suicídio, que é facilitado pelo uso intravenoso de substâncias
tóxicas e por personalidade anti-social e impulsividade, que estão geralmente
associadas.
Os diagnósticos psiquiátricos dos suicidas adultos variam de acordo com a
idade, com predomínio de abuso de substâncias e de transtornos da personalidade
abaixo dos 30 anos, apontando para a desorganização pulsional como mecanismo
psicodinâmico dominante do suicídio, enquanto acima dos 30 anos se destacam os
transtornos do humor e orgânicos, sugerindo a preponderância do desequilíbrio
pulsional tendendo para a morte auto-inflingida.
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Reforça este raciocínio o fato de que, abaixo dos 30 anos, o suicídio é
precipitado geralmente por separação, rejeição, desemprego e problemas legais,
reedições simbólicas da castração com a qual o sujeito não sabe lidar, enquanto
que, acima dos 30 anos, a conduta suicida é habitualmente associada a doenças
orgânicas, mais próximas da antítese pulsional vida e morte. A mesma interpretação
pode ser dada ao fato de que pacientes psiquiátricos tendem a se suicidar mais
jovens que a população geral, em grande parte devido à ocorrência de duas
doenças crônicas de instalação precoce, a esquizofrenia e o transtorno de humor
recorrente.
Observação clínica relevante é o fato de que o risco de suicídio aumenta
muito em pacientes psiquiátricos logo após a alta hospitalar e no início ou no final de
um episódio depressivo, ou seja, em momentos de relativo “bem estar”, indicando
que a energia psíquica necessária para, nas palavras de Freud, “superar o poderoso
instinto de vida”, deve estar disponível para a consumação do ato suicida. Sob esta
ótica, independente do mecanismo psicodinâmico responsável pelo suicídio, sua
concretização final sempre envolveria um aspecto quantitativo pulsional, já que
qualquer ato e, particularmente o suicida, demanda energia psíquica suficiente para
sua conclusão.
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8. Conduta suicida anterior
A tentativa prévia é talvez o melhor indicador de risco para o suicídio, já
que 40% dos pacientes deprimidos que se suicidam fizeram uma tentativa anterior,
que geralmente ocorreu até três meses antes da sua repetição. Esta tendência à
repetição parece independer do mecanismo psicodinâmico envolvido na gênese do
suicídio, refletindo o que poderia ser chamado de um “curto-circuito pulsional”.
9. Métodos
O método usado no suicídio tem relação direta com sua letalidade e explica
porque os homens têm taxas mais altas de suicídio consumado do que as mulheres,
já que tentam matar-se preferencialmente com armas de fogo, por enforcamento ou
precipitando-se de locais altos. As mulheres geralmente tentam o suicídio por
envenenamento, afogamento ou pulando de janelas.
Freud, em opinião extraída de sua extensa correspondência, relacionou o
método de suicídio com a diferença sexual, afirmando que ele “revela o simbolismo
sexual mais primitivo; o homem se mata com um revólver, ou seja, joga com seu
pênis, ou então se enforca, isto é, transforma-se em algo que pende em todo seu
comprimento.
A mulher conhece três maneiras de suicidar-se: saltar de uma janela, que
significa dar à luz, atirar-se na água, que significa trazer ao mundo e envenenar-se,
que significa a gravidez (...). Assim, mesmo ao morrer a mulher cumpre sua função
sexual”. Parece que, para Freud, tais associações, também encontradas em sua
angular obra “A interpretação dos sonhos” (1900), em seu artigo “A psicogênese de
um caso de homossexualismo numa mulher” (1920) e em sua X Conferência
introdutória sobre Psicanálise intitulada “Simbolismo nos sonhos” (1917), poderiam
permitir ao psicanalista deduzir, através da análise do material onírico do paciente
suicida, o método a ser escolhido por ele na consumação de seu ato, posição
defendida por outros psicanalistas como Yampey.
Tal informação poderia ser eventualmente útil na prevenção do suicídio do
analisando. Por outro lado, se repentinamenteum paciente com ideação suicida
torna-se calado durante a análise, isto deve ser interpretado como evidência de que
ele se decidiu e como sinal de suicídio iminente, já que simbolicamente o mutismo
significa morte.
24
1.4 A Depressão Um dos Principais Fatores Que Leva ao Suicídio
A depressão compõe, ao lado da ansiedade, da angústia e da mania o
conjunto de distúrbio da afetividade. No caso da depressão a mudança do estado de
ânimo consiste no surgimento da tristeza. A duração é variável de poucos dias até
anos a fio, não se pode confundir estados passageiros de melancolia, com
depressão, pois a tristeza faz parte da vida, existem situações diante das quais o
anormal é não ficar deprimido como: perda de emprego, ou status social, do
rompimento amoroso e da morte de uma pessoa querida, a esse tipo de depressão
os médicos chamam de depressão reativa. Na maioria dos casos, os estados
depressivos associam-se a um rebaixamento da auto-estima, com maior ou menor
grau de perda ou abalo da imagem idealizada que se tenha de si mesmo. (MARCO
SILVA, 2000, p 68)
A partir da percepção da perda, ou assimila com ela e convive, ou entra em
depressão. A escolha de uma dessas alternativas é do indivíduo, e dependerá tanto
dos fatores biológicos quanto de sua capacidade psíquica emocional de elaborar o
sofrimento, o fator biológico de origem genética predomina nas depressões
bipolares. A partir do momento em que se instala a depressão, a duração e a
gravidade dependerão de três fatores: Biológica coesão do eu e a capacidade de
elaboração. (MARCO SILVA, 2000, p 68)
Didaticamente os sintomas da depressão podem assim agrupar-se:
Alterações de humor, a lentificação das ações reais e psíquicas e de movimentação
dos sintomas físicos propriamente ditos. Embora a pessoa deprimida preencha o
perfil há casos em que a depressão é mascarada, isto é, apresenta-se sobre a forma
de um sintoma físico qualquer, sem que pareça ou se reconheça triste ou deprimida.
Outra maneira de depressão mascarada é a fadiga, o paciente há exprime
como uma permanente sensação de cansaço e falta de disposição para quase todo
o tipo de atividade, a sensação de fadiga é desagradável e difusa, excetuados os
casos de doenças orgânicas claramente identificadas (infecção, anemia, câncer e
etc...), a queixa de fadiga nada mais é que a resposta de um conflito emocional não
resolvido, o câncer é a reprodução desordenada e anormal, de um tipo de célula do
organismo. (MARCO SILVA, 2000, p 68)
A opinião corrente é que em estado de depressão o organismo perderia a
capacidade de reconhecer e de combater as células malignas, as quais
25
reproduziriam livremente. Além disso, a contração da musculatura lisa em situação
de estresse contribuiria para a disseminação das células cancerosas. O fato
concreto é que há uma clara relação entre eclosão do câncer e situações de perda
levando a depressão. (MARCO SILVA, 2000, p 69)
O suicídio é um dos principais riscos da depressão, fatores que contribuem
para o suicídio: Alcoolismo, toxicomania, classe social e profissão. O suicídio
decorre da integração de fatores diversos que pode agrupar-se assim: Predisposição
psicológica e social, crises pessoais e acontecimento capazes de gerar estresse e
depressão. O tédio, componente mais suave e mascarado de algumas formas de
depressão, é a principal fonte de sofrimento psíquico neste final de século,
superadas as dificuldades básicas ligadas à vida e tendo alcançado um nível de
avanço tecnológico gerador de conforto e facilidade a humanidade encontrou uma
nova fonte de sofrimento: (MARCO SILVA, 2000, p 69)
Segundo Marco Silva (2000 p 69):
A obrigação de ser feliz, o direito a busca da felicidade é de todos, não se pode entender a felicidade como uma vida sem sofrimento e tristeza e sim como uma predisposição às sensações de bem estar sem confundir com momentos de êxtase.
O mais importante e o que caracteriza a pessoa feliz é a existência em sua
personalidade e sua maneira de ser de um traço de felicidade. As pessoas felizes
não vivem a buscar a felicidade, vivem as vidas e curtem por inteiro.
1.4.1 Os Sintomas da Depressão
Didaticamente, os sintomas da depressão (quadro 1) podem assim se agrupar:
alterações do humor, lentificação das ações e reações psíquicas e de movimentação
e os sintomas físicos propriamente ditos.
Quadro I:
Principais sintomas orgânicos da depressão
Insônia Dor de cabeça Perda de apetite Constipação intestinal ou diarréia Náuseas Sensação de pressão no peito Sensação de "bolo na garganta" Dificuldade de respirar, sensação de falta de ar
26
Dor no peito Sensação de "falhas" no coração Dor nas costas Perda ou redução do apetite sexual
Fonte: (MENDELS, 2009)
No primeiro quadro, num primeiro grupo se insere a perda de humor,
sobressai a tristeza, com profundos sentimentos de desvalorização de si mesmo,
acompanhados ou não de sentimentos de culpa.
Um segundo grupo do primeiro quadro, apresenta as tentativas frustradas da
lentificação psicomotora, como a própria denominação informa, marcado por um
amortecimento generalizado nas atitudes, na capacidade de raciocínio, nas reações
emocionais, no andar, gesticular etc. Do ponto de vista psíquico, o deprimido
caracteriza-se por enorme falta de raciocínio e concentração. O indivíduo também
sente-se incapacitado para o intercâmbio afetivo ou emocional com outras pessoas.
Instala-se uma certa indiferença para com os outros e o mundo em relação ao
futuro.
Outros três distúrbios orgânicos podem aparecer no quadro 1, mais
significativos do deprimido: distúrbios do sono, a falta de apetite e o mau
funcionamento do intestino. O sono é, talvez, o mais precoce e intensamente
atingido, a tal ponto que se deve colocar em dúvida o diagnóstico de depressão se a
pessoa estiver dormindo bem. A insônia do deprimido é, na maioria das vezes, do
tipo clássico: dificuldade de conciliar o sono ao se deitar. Também o apetite fica
perturbado. Na maioria das vezes o que há é a inapetência. Mais raramente pode
ocorrer a bulimia. Embora possa haver diarréia, mas o mais comum é que haja
constipação intestinal. O aprofundamento do casuístico (quadro 2) pode levar ao
suicídio, cujo risco de sucesso é aumentado quando já ocorreram ou ocorrem
sintomas da depressão (quadro 1). Quem cerca ou trata o paciente deve ter uma
atenção especial a isto (MENDELS, 2009, p.76)
Quadro II:
Indicadores de risco elevado de conseguir sucesso no suicídio, após
27
tentativa frustrada
Mostra de tentativa preparada, premeditada e ativa. Mostra de precauções para evitar intervenções de terceiros, que
frustrem a consumação do ato. Comunicação prévia do instinto suicida. Mostra de tentativa de utilizar métodos violentos ou drogas de
potencial letal. Mostra de desapontamento pessoal legítimo, após a frustração da
tentativa. Mostra de não tentar obter ajuda após a consumação
Fonte: (MENDELS, 2009)
1.5 Áreas Psicomotoras
Presencia-se, atualmente, um grande paradoxo. Nunca se viveu com
possibilidades de comunicação, com todos os cantos da terra, imediatamente, vias
Internet, satélites, celulares etc. Basta apertar uma tecla e se fala em qualquer parte
do mundo, No entretanto, o homem nunca viveu tão egocentricamente como agora,
isolado, cada um no seu canto. Os elevadores têm códigos, de forma que um vizinho
não pode ir à porta do outro. Com a violência atual e a perda de códigos morais e
éticos, vive-se uma época em que “todo sujeito é suspeito até prova em
contrário”.Não se pode mais “bater um papo” na porta de suas residências. A
síndrome depressiva, maior flagelo do século passado, continua com a prevalência
existencial.
Segundo Maturana (2002, 34) o amor, pulsão de vida, indispensável à
existência humana, pois, ”nós somos filhos do amor”, amor este que, em
suaconcepção é: “a aceitação do outro como um legítimo outro da convivência”,
está, cada vez mais, desaparecendo nas relações humanas. A cidadania está
sendo, inexoravelmente, perdida.
Sem a pulsão amorosa, no ser e nas comunicações, vigoriza-se a pulsão de
morte com sua desorganização, agressividade e destrutividade e sua nítida
participação nos fenômenos patológicos corporais, como assinalarei mais à frente.
Com a fase de idealização do corpo, que passou a ser o Ideal de ego, sob o
absoluto controle da Mídia Perversa, que só visa dinheiro e lucro assiste-se a um
crescimento pronunciado das chamadas “depressões somatoformes”. Miller (2001,
p.56), diz:
28
Está havendo um processo de destotalização: A clínica que estrutura por classes, nas quais os elementos tinham um estatuto de atributo, agora, na contemporaneidade, a segurança dos atributos é precária. Há crise nas classificações. O sintoma passa a ser a unidade elementar, na clínica e a se desejar superá-lo pela medicação.
Veja, o que fala Drumonnd (2005, p.87)):
O Outro da contemporaneidade não é um outro do desejo mas um Outro da demanda, que se apresenta, muitas vezes, de forma insistente e imperativa. No sujeito moderno, além da falta suturada pelo objeto, também o sentido está coagulado e o sujeito se vê, cada vez mais submerso na imbecilidade”. Importante e interessante continuar a apontar alguns pensamentos e conclusões de outros autores estudiosos do assunto.
Assim de acordo com Goldenberg (2002, p.21):
O corpo ocidental esta em plena metamorfose. O indivíduo contemporâneo busca, em seu corpo uma verdade sobre si mesmo que a sociedade não consegue mais proporcionar. Na falta de realizar-se em sua própria essência, este indivíduo procura hoje realizar-se através de seu corpo. Ao muda-lo ele tenta transformar sua relação com o mundo, multiplicando seus personagens sociais (...). A profundeza do Eu encarna-se à flor da pele, o corpo torna-se o lugar da salvação, sendo uma forma de não ser despercebido, uma maneira de destacar na cena social.
Acontece que a maioria das pessoas não consegue fazer esta transformação
corporal e isto tem trazido conseqüências graves para muitas delas. Já se cunhou
até uma nova síndrome: Desordem Dismórfica do Corpo (DDC). Sobre esta, assim
escreveu Novais (2003, p.65).
A obsessão pelas formas perfeitas e permanente insatisfação com os atributos físicos podem ser sintomas de uma doença batizada de Desordem Dismórfica do Corpo. Os que sofrem do distúrbio são incapazes de aceitar pequenas imperfeições e acreditam ter defeitos que na verdade são produtos da fantasia. Para eles, a presença de culotes mais avantajados, de uma manchinha no rosto ou de músculos pouco proeminentes costumam virar fonte da mais profunda angústia e vergonha. Com isto tornam-se verdadeiros viciados em exercícios ou escravos da dietas e cirurgias plásticas e procuram esconder e disfarçar, a todo custo, determinadas partes do corpo. No estado mais crítico podem desenvolver depressão, fobia social e transtornos alimentares, além de apresentar comportamento compulsivo.
29
A chamada Mídia Perversa no que respeita à valorização e exploração
exagerada do corpo tem sido responsável pelo aumento pronunciado de certas
patologias bem como surgimento de outras. Assim, tem-se;
Aumento de casos de anorexia nervosa em mulheres adolescentes; Idem, em
Bulimia;
Absurdo aumento de cirurgias plásticas;
Aumento de casas de Cirurgia Bariátrica e suas inúmeras consequências,
especialmente em pacientes não preparadas adequadamente;
Aparecimento da “Desordem Dismórfica do corpo”;
Sentimentos de auto-estima baixa, por não corresponder às expectativas e
conseqüente depressão reativa, somatoforme (ou não).
Aumento das síndromes hipocondríacas, especialmente na terceira idade.
Conforme a predominância de um destes, os sintomas, comportamento do
individuo, suas defesas psíquicas e as expressões sintomáticas, quando não se
consegue controlar o conflito, serão bem diferentes. A característica fundamental de
cada um é que, ao se expressar o Incs. Secundário este se faz pelos sintomas
neuróticos clássicos ou da forma já assinalada para os tempos atuais. Já o Incs.
Primário se expressa principalmente em atuações, com uma agressividade
acentuada e sintomas de perversão, psicóticos e psicossomáticos.
O que interessa na verdade sobre maneira é que, em muitos indivíduos, a
explosão não se exterioriza, mas lesa o corpo acarretando o surgimento de
fenômenos corporais sérios e mesmo mortais.Todos os dois inconscientes têm uma
um ponto sensível que o autor chamou de área de sensibilidade.
Esta é acionada pelo encontro com o outro, na vivência diária. A partir disto
uma série de fenômenos vão acontecer. Certo é que quanto mais primitivo for o
paciente, sem a construção de um Édipo suficiente, mais vai predominar o Incs,
primário com a agressividade inata do mesmo e suas conseqüencias. A clínica
mostra um progressivo aumento deste fenômeno.
Dejours (2000, p.28) observou também que, nestes pacientes há uma
presença evidente do chamado pensamento operatório. Segue-se uma síntese dos
fenômenos descritos nesta teoria e sua ilustração.
30
MECANISMOS DE DEFESA USADOS PELOS PACIENTES QUANDO O ENCONTRO COM A REALIDADE ULTRAPASSA A BARREIRA DE NEGAÇÃO E ATINGE A ZONA DE SENSIBILIDA DO INCONSCIENTE:
O neurótico coloca em latência a percepção e os pensamentos nascidos
dessa percepção para recalcá-los posteriormente graças ao sonho;
O psicótico opõe à percepção uma rejeição para fora da tópica;
O psicopata ataca a realidade graças à atuação violenta;
O caracteropata opõe-se à sensação recorrendo à repressão.
Áreas Psicomotoras
Outro autor, que tem presença nos tempos atuais, pelas razões já abordadas
à respeito da sintomatologias dos pacientes histéricos Valabrega (2000, p.58).
chamou de conversão psicossomática alguns fenômenos corporais, em estruturas
histéricas, que lesam o corpo real e não só o corpo simbólico, como é clássico
nestes casos. Esta idéia nunca foi muito divulgada porque sua defesa teórica não
ficou muito precisa e mesmo confusa. Todavia, nos tempos atuais temos visto casos
em que há lesão de corpo real e a estrutura do paciente é eminentemente histérica.
Veja abaixo um caso clínico em que esta hipótese tem plena confirmação.
Trata-se de uma jovem, solteira, 30 anos de idade, bem magra, cujo sintoma
que motivou a procura psicoterápica foi uma insônia crônica, rebelde aos
tratamentos clássicos, até este momento. Era a única solteira, de 06 irmãos, nunca
31
teve namorado e tinha a missão de cuidar de seu pai, diabético. Em seus dados, o
que primeiro me chamou a atenção foi ela ter um nome de um astro que só brilha a
noite e este nome ter sido escolhido pelo pai, ao se dirigir ao quintal de sua casa,
logo após seu nascimento, olhar par o céu e ver o brilho do mesmo. È claro que um
significante só o nome próprio, não quer dizer tudo, mas, ao longo das entrevistas e
sessões outros significantes a ligavam diretamente à figura paterna, num
aprisionamento edípico. A hipótese ligando o nome à insônia, já que ela precisava
brilhar à noite, para não decepcionar o pai, assumindo literalmente as duas coisas,
nome e astro noturno, foi recebido com cautelas, por ela, mas começou logo a fazer
efeito e, um mês após, a insônia desapareceu. Todavia tem que considerar que ela
apresentava outros sintomas depressivos e foi medicada com antidepressivo
tricíclico.
Certa vez, e aí está o quadro de conversão psicossomática, ela chega à
sessão com uma erupção cutânea, bem evidente, mas só da cintura para cima. Este
fato associado ao já assinalado, de uma erupção só da cintura para cima, poupando
a genitália e coxas, autorizou-me a procurar uma leitura pelos significantes
inconscientes, a partir de seu discurso.
A Rubra nova é uma injeção de conteúdo a vermelhado, além do nome Rubra
e ela os associou a sangue (menstrual, entre outros.) Agora, o mais evidente: o
nome Rubra Nova ela associou ao nome Rubra Rosa, que era uma personagem de
novela da Globo que estava no ar(Suzana Vieira) e que fazia, na mesma, o papel de
uma amante do Prefeito da cidade(José Wilker). Ficou claro a identificação que ela
fez com esta personagem, que vivia um romance triangular proibido. Ao fazermos,
nós dois, a leitura dos fatos, o que é absolutamente possível na conversão histérica,
os fenômenos físicos desapareceram em 05, dias sem nenhuma medicação. Como
se sabe toda conversão histérica traz o desejo e a censura juntos e aparece numa
formação de compromisso, retorno do recalcado. O que chama atenção neste caso
e daí a sua nomeação de conversão psicossomática é que, na conversão pura, não
há nenhuma lesão no corpo real e, neste caso tinha as erupções bem salientes na
pele. Certamente, casos como estes são freqüentes na contemporaneidade e
precisamos estar alerta para percebê-los.
O que está a desafiar todas estas situações no momento atual? Ao
atendermos os pacientes deve-se ter em mente:
Nunca se precisou tanto de se fazer laços sociais, como agora;
32
Nunca se precisou tanto de se resgatar a cidadania;
O nosso saber, à respeito do ser humano e sua inserção social está, cada vez
mais, suposto-saber.
Cabe ao profissional da saúde tentar resgatar o ser humano, construindo um
campo dinâmico, na relação Profissional-Paciente, para um verdadeiro encontro,
tendo sempre em mente o que afirmou o saudoso Prof. Heládio Capisano: “Todo
atendimento tem que visar uma reconstrução existencial”.
33
1 A EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA PONTO BÁSICO PARA EVITAR O SUICÍDIO
Para Barros et al (2010) a emergência psiquiátrica refere-se ao atendimento
médico imediato, cujo principal objetivo é evitar que o paciente sofra maiores
prejuízos à sua saúde psíquica, física ou social além de evitar riscos a sua vida.·.
Emergência é toda situação que se encontre fora da normalidade e segundo Bueno
a emergência psiquiátrica é aquela que provoca alteração na forma de pensar ou no
comportamento de uma pessoa.
A emergência psiquiátrica envolve situações de alteração do pensamento
(delírio), alteração comportamental (violência), que se dá em razão do surgimento de
quadros psiquiátricos ou sua agudização, quando crônicos e em função de uso
abusivo de álcool e outras drogas.Todos estes casos requerem atendimento rápido,
alguns estão associados a risco de morte, como, nas tentativas de suicídio e
complicações clínicas. Nestas situações, frequentemente, as intervenções
terapêuticas realizadas em curto espaço de tempo, contribuem para diminuir
agravamentos e riscos de sequelas. (BUENO, p. 5)
Este tipo de comportamento exige do pessoal da área da saúde em
psiquiatria uma ação rápida, eficiente e eficaz, capaz de gerar soluções que
amenizem os problemas vivenciados pelo paciente impedindo o surgimento ou o
agravamento de toda e qualquer possibilidade de riscos para o paciente ou qualquer
pessoa que esteja na presença deste paciente. Assim todas as medidas tomadas no
primeiro atendimento prestado a paciente com problemas de alteração em seu
quadro psiquiátrico, para Bueno é uma emergência da responsabilidade do pessoal
da psiquiatria.
Townsend (1998) define emergência psiquiátrica como sendo uma situação
de crise em que o funcionamento geral é gravemente prejudicado e o indivíduo se
torna incompetente ou incapaz de assumir responsabilidades pessoais. Esta crise
provoca no indivíduo agitação, raiva, violência, agressividade e agitação, numa
perda de controle sobre suas emoções e ações. Um indivíduo em estado de
emergência psiquiátrica é alguém que não consegue se controlar por padrões
sociais ou morais. Transportando esta idéia para a emergência psiquiátrica em
atendimento a pessoas com comportamento suicida Bertolote et al (2010) afirma
que:
34
Numa emergência psiquiátrica, as principais situações clínicas associadas ao
comportamento suicida são os pacientes que apresentam grave ideação suicida e os
sobreviventes de tentativas de suicídio, que já estão com os possíveis
comprometimentos clínicos e cirúrgicos estabilizados. Em ambos os casos, o papel
do psiquiatra seria o de determinar os procedimentos de curto e longo prazo para
diminuir o risco de suicídio, incluindo uma possível decisão de internação
psiquiátrica. (BERTOLOTE et al, 2010, p. 588)
Então cabe ao médico psiquiatra determinar os devidos encaminhamentos a
serem utilizados nos pacientes que passaram por tentativas de suicídio, analisando
sua condição e suas necessidades.
Mas em se tratando de emergência psiquiátrica os pacientes são pessoas
que segundo Townsend (1998) é alguém que perdeu a capacidade de lidar com
suas responsabilidades pessoais. Entender o que seja esta responsabilidade ajuda a
definir e entender o que seja a emergência, a situação de perda de controle e a
necessidade de tomada de decisão rápida que permita a correção de um problema.
Nem sempre conseguimos ter o necessário impulso a encarar determinadas
situações, especialmente se elas expressam os nossos erros, inabilidades e
exageros. Nós zelamos pela boa imagem construída ao longo do tempo, e qualquer
arranhão pode nos parecer um verdadeiro desastre. A nossa vaidade pode criar um
conflito mediante tal condição. Mas o melhor caminho ainda é assumir a questão
etirar proveito dela, crescendo ainda mais e servir de exemplo para os nossos
colegas. (SIQUEIRA, p. 2).
O processo de crescimento causado pelas frustrações podem não ser tão
fácil para algumas pessoas trabalharem, nem todos conseguem lidar bem com suas
frustrações e podem chegar a situações extremas. A perda de responsabilidade
pessoal é a incapacidade da pessoa se relacionar com sua própria situação de
crescimento e desenvolvimento. A situação de formação de sua experiência de vida,
que nem sempre é algo prazeroso.
Para Quevedo (2005) a responsabilidade pessoal é eminentemente uma
capacidade de julgamento entre o certo e o errado e quando o ser humano perde
esta capacidade se instala uma emergência psiquiátrica
A emergência psiquiátrica é, pois, marcada por uma situação de crise, de
desestabilização, de ruptura, de perturbação, de conflitos, de desordem, tanto em
nível individual quanto coletivo. Trata-se de um evento que ressalta a dinâmica e o
35
movimento de determinados saberes e práticas em relação à loucura. (CARVALHO
in SOUSA et al, 2010, p. 797)
E é nesta desordem citada por Sousa (2010) que se desenvolve o trabalho
dos profissionais da saúde que atuam na emergência psiquiátrica. Desordem que
exigem tomadas de decisões capazes de responder e bloquear as possibilidades de
surgimento de problemas para o paciente que se encontra fora de suas condições
normais de tomar decisões e se responsabilizar pelas mesmas.
a. O Tratamento e Reabilitação do Suicida
A principal função dos serviços de saúde é a reabilitação do paciente,
devolvendo-lhe a saúde e a capacidade de viver na sociedade. Quando se trata de
suicida, isso se torna um pouco mais complexo pois segundos dados de Ramos &
Falcão (2011) as informações sobre o tema não são bem divulgados ou registrados
devido a situação de preconceito.
Outra dificuldade apontada por Ramos & Falcão (2011) é a falta de
profissionais preparados para atendimento, não basta ser um profissional de saúde,
é necessário que seja um especialista em doenças mentais para realizar o
atendimento.
A assistência que é prestado ao doente mental, limitando-se aos cuidados técnicos, especificamente, os de contenção e medicação do paciente. Vale lembrar que a própria medicação serve, as vezes, como contenção química do paciente, especialmente em casosde agressividade ou agitação psicomotora, muito comuns em atendimentos de emergência. (CAMPOS & TEIXEIRA, 2001, p.147)
Para Campos & Teixeira (2001) não basta apenas a contenção do paciente
com distúrbios psicológicos, é necessário dar-lhe um atendimento que cure as suas
dores e sua angustia. Mas para tanto é necessário que os profissionais estejam
preparados para trabalhar os sentimentos e emoções do paciente, entender aquilo
que ele fala, o que ele não fala, seus gestos e suas atitudes. O trabalho deve levar
em consideração o indivíduo de forma integral (corpo e emoções), e para tanto a
equipe deve contar com profissionais capacitados a cuidar dos aspectos
psicológicos dos pacientes e que busquem a qualificação da equipe.
Ainda de acordo com Campos & Teixeira (2001), a comunicação é um
importante instrumento para o relacionamento interpessoal com o doente, ele deve
36
ser utilizado de forma a permitir o estreitamento e estabelecimento de confiança do
paciente em seus cuidadores e no tratamento estabelecido para sua cura e
restabelecimento
Para Bertolote et al (2010) é necessário criar um serviço de acompanhamento
dos pacientes atendidos em uma unidade de tratamento a suicidas. Profissionais
qualificados devem acompanhar estes pacientes via telefônico ou por visitas
residenciais periódicas a fim de avaliar as condições do paciente e sua reintegração
a família e a sociedade, este sistema aplicado resultou numa redução na
reincidência em tentativas de suicídios.
Cremasco e Brunheri(2009) falam de uma falta de carinho e de atenção que
agrava todos os sentimentos de morte. Então os profissionais de saúde devem estar
preparados para também trabalhar com esta necessidade de seus pacientes.
37
CONCLUSÃO
O suicídio, devido ao preconceito existente, ainda é um assunto pouco
estudado. As informações sobre suas causas e seus efeitos ficam escondidas em
prontuários médicos e histórias de família, impossibilitadas de utilização por parte de
pesquisadores que buscam soluções ao problema.
Um segundo ponto agravante da situação é a falta de preparo do pessoal que
se dedica ao atendimento de pessoas que passaram por uma situação de tentativa
de suicídio. Essa deve-se a falta de estudos sobre o assunto causado pela baixa
disponibilidade de informações sobre ocorrências, muitas vezes os suicídios são
registrados em prontuários médicos e boletins de ocorrência policiais como
acidentes de trabalho, automobilísticos, domésticos, uso de tóxicos, etc., quando na
verdade representam o desejo da pessoa em interromper a sua vida.
Os profissionais da área de saúde devem estar preparados para dar
atendimento a estas pessoas. Nesse atendimento devem ser considerados não
apenas as condições e necessidades físicas do paciente, mas dar atenção a sua
condição emocional também.
As frustrações, a depressão, o medo, a insegurança, a solidão e muitos outros
sentimentos (tidos como negativos) podem estar presentes no suicida e apartir do
momento que estes sentimentos o envolvem, fazendo-o perder contato com a
realidade transformando sua vida em um “fardo muito pesado e difícil de carregar”
se instala o sentimento e a idéia de suicídio.
O suicida então é uma pessoa com dificuldade de se relacionar com o mundo
e com seus problemas. Se torna intolerante à dor física e moral, agressivo em
alguns casos e que busca através de seu ato a libertação de toda e qualquer
dificuldade que a v ida tenha, além de realizar um ato de vingança contra as
pessoas as quais considera responsáveis pela sua dor e sofrimento.
São pessoas que buscam compreensão e carinho dos que estão a sua volta.
Cabe ao serviço de saúde ajudar, tratando as feridas e traumas do corpo, mas
atendendo às necessidades da alma. Os profissionais que atuam junto a estes
pacientes devem ser competentes a ponto de ouvir e ver o que esta sendo falado e
apresentado, mas também saber entender os sentimentos e as emoções do
paciente, escondidos num emaranhado de palavras e situações.
38
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