INSTITUTO HUMANITATIS
CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL APLICA DA
A Meditação e Sua Aplicação na Escola – Uma Visão Transpessoal
2015
INSTITUTO HUMANITATIS
Cris Elena Romano
Marina Oliveira Macedo
Clinger Santana Santos
Luiz Alberto Farto da Paz
A Meditação e Sua Aplicação na Escola – Uma Visão
Transpessoal
Trabalho apresentado ao Instituto Humanitatis
como requisito para o curso de formação em
Psicologia Transpessoal Aplicada.
Leyde Christina Righetti Rino Resende
Diretora do Instituto Humanitatis
Jundiaí – SP
Fevereiro de 2016
“O espirito é o domínio da consciência em que experimentamos nossa universalidade”.
Deepak Chopra, Médico.
“Expresse-se totalmente; em seguida, fique quieto”. Tao Te Ching.
A qualidade de nossa experiência, a cada momento, determinará a qualidade de nossas
vidas”. Matthieu Ricard, biólogo e monge budista.
“A meta da educação é a formação do caráter. Caráter é a unidade entre Pensamento,
Palavra e Ação”. Satya Sai Baba, líder espiritual e educador indiano.
“Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vós serão
acrescentadas”. Mateus 6:33.
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar pela vida e a oportunidade dessa existência.
A todos os mestres espirituais que auxiliaram nessa trajetória.
Aos familiares pelo apoio e carinho nas ausências.
A Leyde, Ineke e a equipe de professores do Instituto Humanitatis por proporcionarem
conhecimento tão importante de transformação e crescimento.
Aos amigos da formação pelo carinho, integração, apoio, partilha e momentos felizes e ricos
proporcionados.
Aos alunos e professores do Colégio Della Sant’Ana por se dedicarem às práticas propostas
com amor e dedicação, isso realmente enriqueceu esse trabalho e comprovou o poder da
meditação como elemento transformador.
A equipe do hotel São Carlos pela acolhida, presteza e nos proporcionar o melhor
atendimento possível.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10
2.MEDITAÇÃO E SUA APLICAÇÃO NA ESCOLA............................................................. 12
2.1.O QUE É MEDITAÇÃO ................................................................................................... 12
2.2.ASPECTOS GERAIS DA MEDITAÇÃO......................................................................... 13
2.2.1.A ÂNCORA.................................................................................................................... 13
2.2.2.O LOCAL PARA MEDITAR ........................................................................................ 14
2.2.3.A RESPIRAÇÃO............................................................................................................ 15
2.2.4.BENEFÍCIOS DA MEDITAÇÃO.................................................................................. 17
2.3.A MEDITAÇÃO E A CIÊNCIA ........................................................................................ 18
2.4.A MEDITAÇÃO APLICADA NA ESCOLA .................................................................... 20
2.4.1.TÉCNICAS DE MEDITAÇÃO...................................................................................... 24
2.4.1.1.MEDITAÇÃO LAICA EDUCACIONAL................................................................... 24
2.4.1.2.YOGA MEDITAÇÃO ................................................................................................. 26
2.4.1.3.MEDITAÇÃO ATIVA MEDITAÇÃO PASSIVA ...................................................... 27
2.4.2.PRÁTICAS DE MEDITAÇÃO NA ESCOLA DELLA SANT'ANA............................. 28
3. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 34
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 37
10
1. INTRODUÇÃO
A sociedade nos dias atuais tem sofrido em larga escala de problemas psicológicos
como ansiedade, depressão, síndrome de pânico, etc., isso ocorre principalmente nas grandes
cidades e a população regularmente tem recorrido a medicamentos para tratar as
consequências dessas patologias. A respeito disso, a SUPERINTERESSANTE na edição 280
de julho 2010, publicou reportagem intitulada “Nação Rivotril”, onde informa que esse
remédio é o segundo mais consumido no país, sendo o Brasil o maior consumidor mundial do
mesmo. O medicamento se transformou no elixir para as pressões da vida cotidiana. Na
mesma reportagem, Dr. Carlos Hubner comenta que o remédio esconde os problemas que
ficarão guardados a espera de uma solução.
Apesar do relato se referir a população adulta estão sendo observados nas escolas os
sintomas dos problemas sociais que são enfrentados atualmente nas grandes cidades. A
violência urbana, a inversão de valores existentes na sociedade, o excesso de cobrança por
resultados e a perda da unidade que vivemos em muitos grupos sociais têm levado a
consequências graves no comportamento das crianças, então vemos a violência ocorrendo
dentro da sala de aula, entre os alunos e na relação professor e aluno, crianças ansiosas,
problemas de aprendizado tudo isso fruto desse contexto que estamos vivendo.
Outro ponto importante é que os problemas psicológicos nos adultos, muitas vezes
iniciam com uma “simples ansiedade” e se transformam em algo incapacitante ou de difícil
tratamento quando não cuidado adequadamente e isso gera consequências graves para as
famílias envolvidas na situação, sendo as crianças gravemente afetadas e isso reflete em sua
atuação na escola.
Einstein disse: “Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo nível de
consciência que o criou”. Nesse contexto, a Psicologia Transpessoal resgata o conhecimento
de que somos um complexo de energias em diversos níveis de vibração interagindo entre si a
nível individual, com a natureza, outros seres e o universo. Sendo assim, devemos
continuamente cuidar desse complexo de energia, uma vez que a qualidade da vibração que
emitimos tanto afeta a nós mesmos através de somatizações no corpo físico ou nosso estado
psicoemocional como afeta os nossos relacionamentos e o ambiente em que estamos
inseridos. Tomar consciência disso e compreender que além de um corpo físico somos um ser
11
espiritual e iniciar as mudanças necessárias com certeza transformará nossa sociedade e será o
remédio para as causas dos problemas que vivemos atualmente.
Dessa forma, considerando o que foi dito por Einstein e entendendo que a
transformação da sociedade passa pela transformação da educação, a Transpessoal acredita
que um processo pedagógico adequado deve ir além do individual, meramente humano,
sociocultural, e despertar a verdadeira consciência humana que é também espiritual e cósmica
e um dos instrumentos que recomenda para essa mudança de consciência é a meditação.
Os benefícios da meditação estão diretamente relacionados aos efeitos produzidos no
cérebro que estão sendo provados pela ciência. A respeito disso, na edição 270 da Revista
Scientific American Mente-Cérebro de Julho de 2015, em artigo de Matthieu Ricard (biólogo
e monge budista), Antonione Lutz (neurocientista) e Richard Davidson (neurocientista), é
relatado que a meditação tem potencial para proporcionar benefícios cognitivos e emocionais.
Os autores consideram que as metas da meditação correspondem em parte a muito dos
objetivos da psicologia clínica, psiquiatria, medicina e educação e citam que dentre as metas,
se destacam maior capacidade de aprendizagem, concentração e percepção das próprias
emoções. Os autores consideram meditação como o cultivo de qualidades humanas básicas,
como uma mente mais estável e clara, com equilíbrio emocional, e até amor e compaixão,
qualidades estas que permanecem latentes até que se faça um esforço para desenvolve-las.
Entendem também a meditação como um processo de familiarização a uma forma mais
serena e flexível de ser. Nesse artigo ainda é demonstrado que todas as qualidades
proporcionadas pelas práticas meditativas ativam áreas especificas do cérebro modificando-o
e isto é comprovado através de imagens.
A Transpessoal compreende a importância da qualidade de nossas emoções para nossa
saúde, equilíbrio e conexão espiritual e as descobertas da ciência a respeito da meditação
ratificam a sua utilização como instrumento na busca de um novo nível de consciência e
retorno a unidade do Ser.
Nesse trabalho, serão apresentados os aspectos básicos da meditação, seus benefícios
gerais e principalmente para a utilização na escola como um processo de transformação da
educação e do ser humano.
12
2. A MEDITAÇÃO E SUA APLICAÇÃO NA ESCOLA
2.1. O que é a Meditação
A meditação é um recurso que a espécie humana encontrou para realizar uma
reconexão com o sagrado. A necessidade de reconexão com o divino é algo inato do ser
humano e existem várias técnicas de meditação porque cada grupamento encontrou sua forma
de realizá-la (BIGNARDI, 2015).
De acordo com PESCE (2011) as práticas meditativas remontam há 800 mil anos
quando o homem primitivo se reunia em volta do fogo e focalizava sua atenção nas chamas
por longos períodos. Essa prática promovia um afastamento do padrão rotineiro de lutar ou
fugir e levava a um estado alterado de consciência trazendo paz, calma e relaxamento e
livrando da ansiedade o que era um benefício para os caçadores primitivos.
A meditação é um caminho atemporal que está no centro de todas as tradições
religiosas. Através dos tempos, as pessoas têm buscado lugares e momentos de retiros em
templos, desertos, picos de montanhas, esperando encontrar um meio de alcançar a
tranquilidade interior, um sentido do sagrado, uma renovação do espirito (FELDMAN, 2007).
Segundo BIGNARDI (2015) na meditação existe um fenômeno de concentração em
uma âncora que funciona como um instrumento para manter uma percepção da realidade,
dessa forma sempre que a mente se dispersa o meditador deve retornar voluntariamente sua
atenção ao instrumento utilizado como âncora que pode ser a respiração, por exemplo. Na
meditação se trabalha menos com um olhar imaginativo e idealizador da realidade e se
direciona para uma situação mais concreta de percepção da realidade.
Ainda segundo PESCE a meditação é um maravilhoso instrumento de descoberta do
“eu interior, da essência individual de cada um, o que pode levar à auto-observação e ao
crescimento individual. Essa afirmação está totalmente alinhada com a Psicologia
Transpessoal, já que a mesma pretende além de outras coisas levar o indivíduo a conectar sua
essência visando o crescimento como um ser espiritual.
Assim como a lâmpada ajuda a iluminar o mundo exterior a meditação ilumina o
mundo interior. A meditação é arte de manter-se alerta a tudo que acontece dentro e fora de
você, dessa forma sendo um dispositivo para que você perceba o seu verdadeiro eu (OSHO
apud PESCE 2015).
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A mensagem essencial da meditação ultrapassa religiões, culturas e épocas.
Considerando os níveis de exigência, de atividade e de expectativas crescentes no mundo
atual, os caminhos que ensinam a paz interior, calma, intuição e transformação estão cada vez
mais valiosos (FELDMAN, 2007).
2.2. Aspectos Gerais da Meditação
Se eu quiser falar com Deus;
Tenho que ficar a sós;
Tenho que apagar a luz;
Tenho que calar a voz;
Tenho que encontrar a paz;
Tenho que folgar os nós;
Dos sapatos, da gravata;
Dos desejos, dos receios.
Tenho que esquecer a data;
Tenho que perder a conta;
Tenho que ter mãos vazias;
Ter a alma e o corpo nus.
Nesse trecho da música de Gilberto Gil podemos fazer relação com atitudes
importantes para a pratica da meditação. Falar com Deus é conectar com nossa essência e para
encontrar nossa essência é preciso silenciar, fechar os olhos e observar nosso interior,
descansar na respiração, não julgar, não fazer intelecção e se entregar a essa viagem sem
temer o encontro consigo mesmo.
2.2.1. A ÂNCORA
A ÂNCORA é um instrumento utilizado durante a pratica de meditação como um foco
de concentração que pode ser, por exemplo: a respiração, um mantra, um objeto como uma
vela, outros. Os pensamentos virão, mas ao surgirem deve-se voltar a atenção ao instrumento
escolhido para manter o foco (respiração, mantra, etc.).
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A respeito disso, Cardoso comenta que quando um discípulo hindu foca sua atenção na
respiração, ele está utilizando uma “âncora”. Quando um meditador utiliza um som,
normalmente denominado de mantra, no qual mantém seu foco, ele está utilizando uma
“âncora”. Quando um monge vietnamita medita caminhando e foca na contagem dos passos e
na planta dos pés também está utilizando uma “âncora”.
2.2.2. O LOCAL PARA MEDITAR
Principalmente no início, devido as dificuldades iniciais e para facilitar a criação do
hábito da meditação é importante que o praticante encontre um lugar reservado e tranquilo
para meditar.
Segundo Goleman, o ambiente para meditar pode variar. Os Pais do Deserto retiravam-
se para os ermos do Egito, evitavam os lugares públicos e a companhia mundana isso fazia
parte de um severo programa de autodisciplina. Os modernos iogues hindus procuram
montanhas isoladas e refúgios nas matas pela mesma razão. Ainda segundo Goleman, versões
ocidentalizadas da ioga hindu se opõem a mudanças forçadas nos hábitos de vida e
consideram que a meditação deve ser inserida no esquema normal diário. Tanto Gurdjieff
como Krishnamurti insistiam que o ambiente da família, do trabalho e dos lugares públicos
são o melhor contexto para a disciplina interior, fornecendo material bruto para a meditação.
A respeito disso Feldman comenta que é favorável definir um lugar ou espaço que seja
bem conveniente. Recomenda criar um ambiente que seja o mais simples possível, sóbrio e
silencioso, no qual seja possível dedicar atenção e cuidado a paisagem interior do meditador.
Feldman diz ainda, ter um espaço que inspire uma serena simplicidade, ainda que seja
apenas um cantinho no quarto, é um lembrete visível do anseio de nutrir a simplicidade e a
serenidade interiores.
Nos dias atuais com a descoberta dos benefícios pela ciência a meditação está sendo
inserida nos locais de trabalho, em hospitais, nas escolas, na rotina dos atletas, etc. Através do
link https://www.youtube.com/watch?v=IPrOlrYHsoQ, podemos assistir a uma proposta de
Martin Boroson de inserção da meditação na vida diária através da criação do hábito de
realizar pequenos momentos da pratica.
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2.2.3. A RESPIRAÇÃO
Cardoso considera a respiração um aspecto importantíssimo para a meditação.
Segundo o autor, existe uma relação entre respiração e o estado emocional, isso é observado
pela mudança de padrão respiratório que ocorre a depender se estamos calmos, ansiosos,
deprimidos ou excitados, por exemplo. Isso ocorre também com os animais, no entanto no
homem é possível através da mudança no padrão respiratório alterar o estado emocional.
Apesar de técnica respiratória não ser sinônimo de meditação, Cardoso diz ter observado um
progresso quatro vezes mais rápido no meditador que utiliza uma técnica de respiração.
Ao nascermos, nosso primeiro choro nos garante a primeira respiração fora do útero. É
quando tudo começa, num sistema inerente à vida e fonte primordial de energia. Respirar é a
primeira fonte de contato com nós mesmos, de ligação como o corpo e com o momento
presente – é a ferramenta primordial de autocuidado (LIMA, 2009).
A respiração é a ligação entre corpo e mente. Todos os pensamentos, ações e emoções
influenciam a respiração – a excitação, por exemplo, pode acelerá-la a fim de preparar o corpo
para agir, ou uma surpresa pode nos levar a inspirar abruptamente para alimentar o cérebro
com oxigênio, acelerando o pensamento (SARADANANDA, 2009).
O modo como respiramos afeta a maneira como pensamos e como nos sentimos.
Respirar é mais do que inspirar oxigênio, mais do que uma atividade involuntária e mecânica
do organismo. O ato de respirar tem relação direta com os fluxos de energia do organismo, e
sua qualidade se modifica de acordo com nosso estado emocional (LIMA, 2009).
Saradananda (2009) diz que tendo em vista que o corpo é um sistema vivo que se
recria constantemente, ao praticar exercícios de respiração podemos exercer o controle para
mudar padrões de respiração, pensamento e ação insalubres. Diminuir com consciência o
ritmo da respiração deixando-a mais profunda pode nos ajudar, por exemplo, a manter o foco
em momentos de dificuldade.
Uma única respiração é composta por três elementos: a inspiração, a expiração e a
transição entre essas duas ações que é a retenção (Saradananda, 2009).
Na inspiração é quando os pulmões levam o ar para dentro, o oxigênio entra no corpo,
fornecendo-lhe um dos ingredientes essenciais da vida (Saradananda, 2009).
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Na expiração o fluxo de ar que sai dos pulmões expele resíduos gasosos impuros,
como dióxido de carbono, dessa forma os pulmões funcionam como um órgão excretor. Os
iogues acreditam que a expiração também elimina as impurezas da mente e que, se a
respiração é curta ou não conseguimos exalar completamente, as toxinas vão se acumular no
corpo, o que pode ter efeitos negativos sobre a mente. A expiração também ajuda a mente e o
corpo a se ajustar às mudanças (Saradananda, 2009).
Na retenção, momento em que existe uma ausência de inspiração e expiração ocorre
um aumento na troca de gases em função da pressão que é exercida. Dessa forma, mais
oxigênio entra na corrente sanguínea ao mesmo tempo que mais dióxido de carbono e outros
gases tóxicos passam do sangue para os pulmões onde serão eliminados na expiração
(Saradananda, 2009).
Cardoso (2011) considera como segredos da respiração que ela seja: 1) abdominal, 2)
nasal, 3) silenciosa, 4) harmônica e 5) o mais lenta possível.
Ao inspirar, distenda suavemente o abdome, fazendo o umbigo movimentar-se para a
frente. Ao expirar, contraia suavemente o abdome, trazendo o umbigo para dentro.
Preferencialmente tanto a inspiração como a expiração devem acontecer pelo nariz. A
respiração também não deve ser ruidosa de forma que se houver alguém a dois metros de
distância também meditando não seja incomodado (CARDOSO, 2011).
Na filosofia indiana ou chinesa, a respiração sempre foi considerada essencial para a
manutenção da saúde. No ocidente, um dos primeiros a fazer essa associação foi o psiquiatra
Carl Gustav Jung responsável pela formulação do inconsciente coletivo. Em sua teoria, o
processo de desenvolvimento da consciência envolve o reconhecimento de tendências que
refletem o sexo oposto. A tendência feminina foi batizada por ele de anima – que em latim,
significa “alma” ou “respiração”. A tendência masculina seria o animus – termo latim para
“mente” (LIMA, 2009).
Segundo Jung, a respiração está ligada a sentimentos de cuidado e ternura. Ter
consciência da respiração significa aceitar o corpo, explorando-o e cuidando dele. Jung
percebeu o que muitos orientais já sabiam: respirar afeta nosso estado psicológico e
fisiológico. É um recurso básico para sermos saudáveis e equilibrados (LIMA, 2009).
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2.2.4. BENEFICIOS DA MEDITAÇÃO
A prática da meditação possui muitos benefícios, a maioria deles já comprovados pela
ciência através de imagens e experiências em hospitais e laboratórios de pesquisa, segue
alguns desses benefícios:
� Redução do mecanismo de resposta ao stress – A pessoa que medita
regularmente lida com o estresse de modo a romper a espiral da reação de
enfrentamento ou fuga. Ela relaxa com muito mais frequência do que a que não
medita, após um desafio ter sido superado (GOLEMAN, 2005).
� Para tratamento da hipertensão – Programas realizados em Harvard e na
Universidade de Massachusetts indicam sucesso no uso da meditação com
centenas de hipertensos (GOLEMAN, 2005).
� Aumento da imunidade - Quem medita tem as defesas do organismo
ampliadas e consegue lidar melhor com o estresse, concluiu um estudo
realizado na Universidade da Califórnia, EUA. Isso acontece porque durante a
prática da meditação a enzima telomerase (ligada ao sistema imunológico) tem
sua ação intensificada (Revista Viva Saúde, 2013).
� Paz mental e redução de emoções negativas – Reportagens publicadas na
mídia inglesa relataram que “cinco” breves sessões de meditação podem ser
suficientes para nos ajudar a alcançar paz mental (ANDREWS, 2011).
� Aumento da felicidade – A meditação pode aumentar nossa felicidade, não
apenas pela transformação dos elementos tóxicos da nossa bioquímica num
coquetel de sensações internas positivas, mas também pelo fato de “recircuitar”
nosso cérebro – neuroplasticidade do cérebro (ANDREWS, 2011).
� Eficaz no tratamento de depressão como os medicamentos – O psicólogo
cognitivo Zindel Segal e seus colegas do Centro de Dependência e Saúde
Mental de Toronto em pesquisa com 84 pacientes concluíram que a prática da
plena consciência pode ser tão eficaz quanto os antidepressivos para evitar
recaída (MENTE E CEREBRO, 2015).
� Na escola – Em São Paulo desde 2006 voluntários da Fundação Lama
Gangchen para a Cultura de Paz oferecem aulas, workshops e treinamentos a
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crianças, jovens e adultos da rede pública e particulares sobre técnicas de
respiração e concentração. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental
(Emef) Angelina Maffei Vitta, zona norte, após o acompanhamento por três
anos de 50 professores, por exemplo, foram observados como resultados
positivos: entre os profissionais e a coordenação pedagógica a diminuição do
estresse, maior tranquilidade para lidar com provocações dos alunos e com a
bagunça na classe e entre os alunos a maior capacidade de concentração e
facilidade de aprendizagem.
� Conexão espiritual – como diz Laurence Freeman, monge beneditino, a
meditação pode nos levar a uma experiência mais profunda de Deus e do
verdadeiro autoconhecimento (ANDREWS, 2011).
2.3. A Meditação e a Ciência
O sistema nervoso é formado por:
- Sistema Nervoso Central (Encéfalo e Medula Espinhal);
- Sistema Nervoso Periférico (Sensorial e Motor; somático e autônomo; simpático e
parassimpático).
O sistema nervoso central abriga a quase totalidade dos neurônios, e está contido no
interior da caixa craniana e da coluna vertebral.
O sistema nervoso periférico porta uma pequena quantidade de neurônios, mas espalha
por todo o corpo uma extensa rede de fibras nervosas direcionadas por quase todos os órgãos,
vísceras e glândulas do organismo.
No ano de 2000, o líder Dalai Lama convidou cientistas a estudar a atividade cerebral
de mediadores budistas experientes, assim definidos por terem mais de 10.000 horas de
prática.
Uma comparação entre imagens de exames cerebral de meditadores e não meditadores
revelou o grande potencial de ganho cognitivo e emocional, como maior capacidade de
aprendizagem, concentração e percepção das emoções.
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As publicações cientificas mostram a eficácia no tratamento da depressão, ansiedade e
dor crônica. Os benefícios da meditação coincidem com recentes constatações da existência
da plasticidade cerebral, que permite que o órgão adulto seja profundamente transformado por
meio da experiência.
Evidências reunidas a partir dessas pesquisas, começam a mostrar que a meditação
pode reorganizar circuitos neurológicos para produzir efeitos salutares na mente, no cérebro e
no corpo todo.
Na universidade de Emory, em Atlanta, iniciou-se uma investigação com técnicas de
imageamento cerebral para identificar as redes neutrais ativadas pela meditação de atenção
focada.
O estudo envolve 4 fases. Na primeira fase, divagação, áreas do córtex pré-frontal
medial, córtex cingulado posterior, do précuneo, lobo parietal inferior e do córtex temporal
lateral. Na segunda fase, consciência da distração, ocorre na insula anterior e no córtex
cingulado anterior. Na terceira fase, reorientação da consciência, ativa o córtex pré-frontal
dorso lateral e o lobo parietal lateral inferior. Na última fase, sustentando o foco, o córtex pré-
frontal dorso lateral.
Como resultado, os meditadores tinham mais capacidade de permanecer vigilantes. Os
mais experientes, mostraram maior atividade na área cerebral associada a atenção, o que lhes
permitem atingir um estado mental focado com menor esforço.
O treinamento meditativo aumenta a capacidade de controlar e proteger melhor
funções fisiológicas basais, como inflamação ou níveis do hormônio do estresse.
Em 2000, psicólogos clínicos da Universidade de Toronto, Oxford e Zindel Segal
mostraram que um paciente com pelo menos 03 episódios de depressão, com 6 meses de
prática meditativa e psicoterapia, reduziam o risco de recaídas em quase 40% no ano seguinte
ao início da depressão, comparável ao uso da medicação padrão.
Durante o processo meditativo, foi observado o potencial do cérebro na construção de
redes provisórias que podem integrar funções cognitivas e afetivas durante o aprendizado e
percepção consciente resultando em mudanças duradouras em circuitos cerebrais.
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A meditação beneficia o mental, físico e eleva a consciência para os valores humanos
numa sociedade, e pode ser praticada em qualquer lugar e por qualquer pessoa independente
da cultura ou religião.
2.4. A Meditação Aplicada na Escola
As crianças de hoje são constantemente bombardeadas por inúmeras informações e
possuem uma agenda que concorre com a dos adultos, recheadas de atividades e mais
atividades.
A sociedade moderna exige um comprometimento cada vez maior dos pais com suas
atividades profissionais e para compensar a ausência com os filhos utilizam de recompensas
materiais.
Outra consequência da modernidade é a “cultura de competição e individualidade”.
Sendo assim, estamos vivendo numa sociedade onde os indivíduos estão cada vez mais
céticos, egoístas e profundamente isolados e infelizes.
O ser humano encontra-se cada vez mais perdido, com sede de plenitude.
A fragmentação do ser, faz com que cada dia busquemos mais por restaurarmos a
inteireza de nosso núcleo, e nossas crianças crescem, envolvidas por um contexto onde o
desejo de consumir e se destacar, prevalecem sobre valores mais sublimes e elementares
como a relação familiar e espiritualidade.
Os pais, por um lado, com a necessidade de oferecer sempre o melhor aos filhos,
preenchem sua agenda com atividades. Os filhos, por sua vez, para chamarem a atenção dos
pais, os manipulam com seus desejos de consumo. E neste ciclo, com o peso da “ausência” os
pais acabam por compensá-los com objetos materiais.
Podemos dizer que estamos vivendo num ciclo de compensações, onde o resultado é o
distanciamento cada vez maior de filhos e pais.
Porém em meio a tantas distorções, encontramos na Meditação, o fio condutor, capaz
de interligar, e recuperar este elo de ligação entre homem-Deus-equilíbrio.
Os pais são os primeiros professores dos filhos. As crianças são um reflexo do
ambiente que vivem.
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Independente da religião, a Meditação busca despertar nas crianças o sentimento de
amor e um espaço para a experiência de Deus.
Em pesquisas em escolas da Inglaterra, Polly McLean descobriu que a Meditação
regular proporciona aumento da autoconsciência na maioria das crianças e que práticas de
meditação, duas vezes por dia, ajudaram as crianças a desenvolverem uma autoimagem mais
feliz, ou seja, a consciência de que Deus está dentro de nós e não apenas fora.
NA MEDITAÇÃO, EXPERIMENTAMOS A REALIDADE DAS PALAVRAS DA
ESCRITURA “ CADA UM DE NÓS É FEITO A IMAGEM DE DEUS.
A Meditação nos proporciona:
� Atenção ao outro;
� Experiência do silêncio;
� Senso de propósito e sentido;
� Saciar a fome de espiritualidade das crianças.
A prática da Meditação passo a passo:
� Sentar-se mantendo as costas eretas;
� Fechar os olhos suavemente;
� Silenciosamente recitar um mantra;
� Respirar profundamente e dar toda a atenção a palavra que está sendo
pronunciada mentalmente.
� Deixe ir embora todas as palavras, imagens e pensamentos.
� Recomenda-se 1 minuto por idade, ou seja, para a criança de 5 anos, 5 minutos.
O uso do Mantra
Mantra é uma palavra do sânscrito cujo significado é “instrumento para conduzir o
pensamento”. O objetivo do uso do mesmo, é simplificar e unificar a mente ao libertá-la das
distrações.
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Ao silenciar nossos pensamentos, deixamos o eu para trás (Lucas 9:23) e nos tornamos
mais atentos a Deus e, por sua vez, aos outros na vida diária. O mantra nos ajuda a superar as
distrações, nos trazendo para o momento presente.
É importante ressaltarmos às crianças que o mantra não é uma palavra mágica e sim
uma maneira de aquietar a mente.
A meditação é uma sabedoria espiritual universal que, no silêncio, na imobilidade e
simplicidade, nos conduz da mente para o coração.
Ao permitir que as crianças experimentassem a meditação, John Main acreditava, que
elas iriam descobrir seu “eu verdadeiro” na participação da verdadeira realidade de Deus.
Quando falamos num programa de Meditação para as crianças, buscamos como
objetivo primordial desenvolver a espiritualidade e a dimensão contemplativa nas crianças,
ajudar as crianças a encontrar Deus no silencio, na quietude e na simplicidade. Como o
Antigo Testamento diz: Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus. ”
As premissas básicas
Como professores, facilitadores, temos que assumir diante do desenvolvimento
espiritual das crianças alguns posicionamentos:
� Precisamos reconhecer que cada criança nasce como um ser espiritual;
� Estar preparados a lidar com e ao lado da criança;
� Escutar a criança;
� Honrar a relação da criança com o Divino.
Segundo estudos, podemos pontuar cinco inimigos internos, que tendem a aparecer em
determinadas épocas em nossa vida.
1.Ansiedade: Cresce no mundo todo, percebemos que o ritmo de vida acelerou,
aumentou 40% o consumo de CLONAZEPAN, uma substância ativa, um ansiolítico muito
famoso. Crianças sofrendo de bruxismo, e sabemos que até os 7 anos todas as doenças estão
relacionadas às mães e dos 7 aos 14 anos aos pais, sendo assim, concluímos que não só os
adultos estão sofrendo deste mal, mas o mesmo está sendo absorvido pelas nossas crianças,
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que são reflexo desta sociedade doente. Nossas crianças estão refletindo as angústias e
ansiedade dos pais. A ansiedade afeta hoje, relacionamentos e também a concentração.
2.Depressão: a doença mais incapacitante diagnostica hoje segundo a Organização
Mundial de Saúde são dores nas costas e segundo pesquisas, em 2017 será substituída pela
depressão.
Inicia-se com tristeza e desanimo que uma vez alimentados, transforma-se em
Depressão.
3.Insônia: Noites mal dormidas, minam os relacionamentos, as mulheres são as que
mais sofrem deste mal. Resultado, com a rotina de corre corre, mães tendem a cobrar mais dos
filhos, intolerância e impaciência regem a rotina das famílias e as crianças, neste ambiente
estressante, tornam-se agitadas e desregradas, já que dormem tarde e sendo assim, não
demonstram rendimento satisfatório na rotina escolar.
4. Falta de Concentração: De 2004 a 2014, o consumo de Ritalina cresceu cerca de
75%. As crianças estão somatizando as angustias e ansiedades dos pais. A maioria das
crianças agitadas são diagnosticas erroneamente e estão sendo tratadas como hiperativas ou
com déficit de atenção. É mais fácil diagnosticar e medicar, do que tratar a causa. Famílias
doentes, totalmente perdidas e que “compensam” a ausência física com materialismo
incontrolável, o culto ao ter.
5. Vazio no peito por não conhecer ou viver sua missão de vida: a baixa autoestima
sabota relacionamentos e pessoas. Por não ter amor próprio, as pessoas colocam expectativa
no outro, sendo assim, não sabem lidar com a frustração, pois começam a cobrar do outro,
algo que não está bem definido dentro de si. Mágoa, insatisfação, isolamento, o processo de
vitimização emerge nestes momentos onde não sabendo lidar com frustrações, a pessoa
remete ao outro a responsabilidade por seus fracassos e insucessos.
Todos estes fatores estão associados a Aminese Causal que estamos vivendo, pois
estamos no piloto automático, ou seja, não sabemos quem somos, não temos mais brilho no
olhar. Por isso, a proposta de Meditação para as crianças, tem por principal objetivo,
trabalharmos a prevenção nas nossas crianças de tais causas, para que estas não venham a se
transformar em sintomas justificáveis.
Várias pesquisas em Universidades, já demonstraram por meio de estudos, que a
Meditação:
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� Aumenta o volume de massa cinzenta no córtex pré-frontal, onde está nossa
capacidade de memória, concentração e resiliência, ou seja, nos possibilita ter
um olhar diferenciado sobre o mundo, mesmo tudo desmoronando,
conseguimos enxergar novas possibilidades;
� Estimula o Córtex insular: integra emoção, raciocínio, rege nosso sistema
autônomo e límbico;
� Diminui o volume da Amigdala: responsável pelo medo e emoções negativas;
� Estimula o Córtex parietal: Sentimento de compaixão, amor, ajuda ao próximo.
Sendo assim, por meio da Meditação, temos a possibilidade de poupar nossos
pequenos da síndrome de Gabriela, ou seja, despertamos nos pequenos a diferença entre estar
e ser. Estamos suscetíveis a tristezas, doenças, situações que testam nosso SER, porém
entender e separar o momento que estamos atravessando do que realmente somos é o que faz
toda a diferença.
Nosso desejo enquanto pais e educadores é sempre nos questionar em relação ao
Mundo que deixaremos aos nossos sucessores, no entanto, nosso grande desafio é em relação
a que SERES humanos estamos preparando para habitar e transformar este planeta.
A Meditação possui um resultado PSICONEUROIMUNOENDÓCRINO
extremamente benéfico e podemos afirmar que restaurador, já que equilibra as funções
psicológicas, interfere na estruturação cerebral, contribui na sua reorganização, estabiliza o
sistema imunológico e ajusta as funções hormonais.
Todas as pesquisas e estudos voltados para o Bem-Estar do ser humano, buscam sanar
ou ao menos amenizar o sofrimento do ser humano neste fantástico, porém árduo percurso
terreno.
2.4.1. Técnicas de Meditação
2.4.1.1 Meditação Laica Educacional
A Meditação Laica Educacional é uma técnica de meditação que foi desenvolvida pela
psicóloga e Mestre em Ciências da Educação Claudiah Maria de Luca, surgiu inicialmente
como uma modalidade da disciplina de educação física voltada para os alunos do ensino
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médio. Esta é direcionada ao desenvolvimento da habilidade humana que melhora os
elementos cognitivos da mente como atenção, memória e desenvolve inteligência emocional.
É uma técnica desprovida de ligação com qualquer sistema de crenças, filosófico ou
religioso. Está fundamentada multidisciplinarmente em conceitos da neurociência, psicologia
e pedagogia reunidas didaticamente para o professor ou educador aplicar a grupos.
A técnica desenvolvida pela professora Claudia Maria de Luca (Claudiah Rato)
apresenta uma meditação em torno 20 minutos, em que o indivíduo, passa pelas seguintes
etapas, obrigatórias em todas as aplicações:
I – Inteligência Física. O Corpo Físico. Segundo Rato apud Gomes (2014), essa etapa
pode ser descrita da seguinte maneira:
“Aqui trabalhamos o relaxamento do corpo físico. Quanto mais relaxamos e
“soltamos“ nossos músculos mais liberamos nosso corpo para que ele siga funcionando em
seus processos autônomos, que mantêm nossa saúde”.
- Etapa Permanente: “Sustente a sua atenção na sua respiração”
Nessa etapa pedimos aos participantes que se concentre na respiração sentindo o ar
entrar encher os pulmões, e sair lentamente esvaziando os pulmões num ritmo calmo, e
cadenciado. Essa etapa está presente durante toda a meditação
- Etapa II – Inteligência racional. A mente. Essa etapa prepara o aluno para o momento
que sua mente vai começar a questionar o que ele está fazendo ali.
- Etapa III – Inteligência Emocional. A presença no presente. O Aluno deverá
continuar ouvindo todos os barulhos e ruídos a sua volta, sem se preocupar se eles estão
atrapalhando ou não à meditação.
- Etapa IV – Inteligência Criativa. O portal para a Imaginação. Nessa etapa os alunos
são direcionados a focar a atenção no seu coração, e nos sentimentos e emoções que estão
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presentes nele, esclarecendo que esse ambiente é único e sagrado. Eles são estimulados a usar
a imaginação para que a sua decoração, arrumação, seja feita da maneira que desejarem.
“Um dos motivos porque a Meditação Laica Educacional funciona é o fato de conduzir você a outra
dimensão que não é a da competitividade. A dimensão do humano. A meditação leva para seu
recôndito humano. E neste lugar somos todos absolutamente iguais. Então você vive um sentimento
de pertencimento. Quando você volta dessa viagem interna, você volta olhando o outro de outra
maneira. Assim, não foi a turma problemática que mudou, o que mudou foi o olhar de todos para
todos. O outro não está fora de mim competindo comigo, mas ele está junto de mim, está próximo”.
Rato (2013).
2.4.1.2 Yoga Meditação
A yoga é uma prática milenar que significa “união” e “integração”. Hoje esta prática
vem sendo implantada nas escolas e é uma das técnicas de meditação mais utilizadas no
sistema educacional da atualidade. Além de trabalhar o desenvolvimento da psicomotricidade
das crianças, esta procura a integração corpo-mente a fim de desenvolver um trabalho que
estruture cognitivamente o aluno, buscando também o estímulo das habilidades psicomotoras.
Busca-se que a criança conheça o próprio corpo para que assim, seja possível superar
dificuldades a sua volta.
Os exercícios de Yoga buscam estimular da melhor maneira possível o aluno como um
todo. Quando a criança recebe a possibilidade de se desenvolver, de maneira qualificada,
consequentemente as dificuldades de aprendizado acabam diminuindo ou até se anulando. O
corpo deve ser cuidado junto com a mente para que esta criança tenha, em sua formação, a
possibilidade de desenvolver-se de forma integrada e harmoniosa. (MORAES; BALGA,
2007, p.63 apud ROCHA 2014).
Em uma turma com crianças muito novas, as práticas devem ser mais rápidas e flexíveis, pois a
concentração ainda está em estágio de desenvolvimento. Com o passar do tempo as práticas vão se
aprimorando e perdurando por mais tempo. É mais uma forma de integração do corpo com o meio
buscando o desenvolvimento de nossas funções psicomotoras. (MORAES; BALGA, 2007, p.64 apud
ROCHA 2014).
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2.4.1.3 Meditação Ativa Meditação Passiva
A meditação ativa e a meditação passiva são técnicas de meditação desenvolvidas pelo
projeto Mente Viva, que já estão sendo implantadas em algumas escolas do país. A meditação
não possui caráter religioso, pode ser aplicada em qualquer indivíduo independente de
crenças, pode ser praticada sentada, deitada, em pé, de forma individual ou coletiva, não se
faz necessário um ambiente específico. Os exercícios levam em média de 5 á 10 minutos
antes do início das atividades, ou após o recreio. Os alunos são beneficiados com uma melhor
concentração, mais respeito com seus colegas, mais cooperação em sala de aula e um melhor
desempenho segundo os educadores que fazem o uso destas técnicas.
Na meditação passiva os estudantes permanecem sentados em suas cadeiras de forma
relaxada e repetem de 5 a 10 vezes 5 frases positivas:
- Eu estou em paz;
- Minha família e meus amigos estão em paz
- Minha escola está em paz
- Meu bairro está em paz
-Minha cidade está em paz
Após o exercício é dado início as atividades escolares normalmente.
“O corpo fica mais leve, a mente fica mais sã, dá foco só em uma coisa e
não fica pensando em tantas outras, quando a gente faz meditação as coisas
ruins vão embora, só ficam as coisas boas na nossa mente. ” (Bruna, 12
anos, aluna de uma escola em Gramado).
Na meditação ativa também são repetidas as 5 frases, de 5 a 10 vezes, a diferença nesta
é que a aplicação é em movimento, os alunos caminham pela sala e repetem as frases em voz
alta, utilizada em alunos mais agitados.
“A principal mudança foi na parte da afetividade porque os alunos se
agrediam verbalmente e isso mudou muito, eles são mais amigos, mais
companheiros. ” (Márcia Bianchi, professora, Gramado).
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2.4.2. Práticas de Meditação na Escola Della Sant’Ana
Foi aplicada a meditação com os alunos da escola Della Sant’Ana e logo após a prática
foi solicitado aos alunos que esboçassem através de um desenho e um texto o que sentiram
com a prática, abaixo seguem imagens dos depoimentos que comprovam o poder da
meditação como um instrumento de transformação do ser humano.
“Eu me sinto relaxada, em paz, me sinto calma, eu me sinto mais concentrada no que
estou fazendo. Eu fico de corpo e alma no que estou fazendo, exemplo uma atividade. Eu
estou em paz.” Stephanie.
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“Eu fiquei relaxado e eu senti algo me ajudando.” Paulo. Esse relato deixa claro a
ocorrência de uma ampliação de consciência.
“Depois da meditação eu me sinto relaxado e também focado so na aula e não fico
pensando no que eu vou fazer quando chegar em casa, eu também fico em paz no
ambiente e com as pessoas.” José Carlos.
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“Eu me sinto relaxado, tenho a impressao que tudo vai dar certo, me sinto bem, me dar
vontade de estudar, sinto que tudo está bem, sinto que estou em um rio refrescante e
quentinho.”
“Eu me sinto um clima de alivio.”
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“Quando eu fiz a meditação eu fiquei mais tranquila e solto para fazer as coisas do dia e
eu me senti mais concentrado do que antes. Amos, paz, alegria.”
“Sinto minha respiração melhorando e que a paz nunca vai acabar. Eu estou
concentrado e estou aqui na escola de corpo e alma”. Arthur.
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Foram aplicadas a meditação ativa/passiva, técnicas de relaxamento e massagens entre
os colegas de classe, as imagens a seguir demonstram alguns desses momentos:
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3. CONCLUSÃO
ESSÊNCIA
Um cientista estrangeiro foi convidado a montar um laboratório no meio da Amazônia,
um local de difícil acesso, e a única maneira de chegar até lá era caminhando por difíceis
trilhas, que só os índios daquela região conheciam. Então, o cientista e a sua equipe
contrataram alguns índios para guiá-los e carregarem parte do material que usariam para
montar o laboratório e o alojamento. Ao começar a expedição, o cientista, muito aflito para
chegar, dizia para os índios a todo momento: “Mais rápido, mais rápido! Não temos tempo a
perder”. E os índios, ouvindo as ordens do cientista, aceleraram a caminhada, andando de
forma rápida. Com um pouco mais de cinco horas de caminhada, toda a equipe da expedição
chegou ao destino. Os índios mal colocaram suas mochilas no chão, sentaram e já ouviram a
seguinte ordem:
- Vamos montar o acampamento o mais rápido possível. Vamos agilizar; não podemos
perder tempo.
Após ouvirem essa ordem, os índios permaneceram sentados, em silêncio, respirando
profundamente. O cientista perguntou:
Vocês não escutaram minhas ordens? Já está escurecendo. Temos que montar o
alojamento rapidamente.
Os índios permaneceram sentados, respirando profundamente. O cientista estava
ficando cada vez mais nervoso com aquela situação, até que um índio o chamou para sentar-se
ao seu lado, e disse:
- Nosso corpo, de forma acelerada, já chegou até aqui, mas nosso espirito, nossa
essência, está pelo caminho, no seu ritmo de serenidade, no tempo da natureza, desfrutando
as belezas e as riquezas dos caminhos da vida. Temos que esperar por ele para poder dar
continuidade ao nosso trabalho.
(Do livro Respirando o Momento Presente de Kélvio Luís.)
Esse conto demonstra a situação que vivemos na sociedade atual, um ritmo frenético
em busca de riqueza, competição excessiva e desconexão com a natureza. E tudo isso tem
afetado as crianças e adolescentes. Medo, agressividade, problemas de saúde física e
psicológica são consequências desse contexto que passamos nesse momento.
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A respeito disso, Andrews (2011) comenta que a depressão se tornou, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde, o quarto maior problema de saúde pública no mundo, “uma
nova epidemia global”. Violência no trânsito, adolescentes suicidando-se e crianças tornando-
se medrosas e obesas e apesar disso as nações continuam a perseguir o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB).
Entendemos que para a transformação da sociedade é necessário que haja o resgate de
valores mais profundos do ser humano, que haja o resgate da consciência da unidade, que
valores como a cooperação sejam valorizados, que o SER substitua a busca do TER.
Considerando a compreensão da Psicologia Transpessoal a respeito do ser humano é
imprescindível que o inicio seja na base, ou seja, uma mudança na educação. É necessário que
tenhamos uma educação que além dos aspectos cognitivos também estimule aspectos como:
� Despertar da consciência da dimensão espiritual;
� Manifestação de valores humanos verdadeiros (respeito, cooperação, inclusão, não
violência, compaixão, etc.);
� Despertar da paz interior e harmonia;
� Consciência da unidade entre todos os seres, meio ambiente, etc.
OSHO (2006) comenta, uma educação de verdade não lhe ensinará a competir; ela lhe
ensinará a cooperar. Ela não lhe ensinará a lutar e a chegar em primeiro lugar, mas a ser
criativo, a ser amoroso, a ser alegre sem se comparar com os outros. Ela não lhe ensinará que
você pode ser feliz somente quando for o primeiro; isso é pura tolice.
OSHO (2006) diz ainda, uma educação de verdade não lhe ensinará a ser o primeiro; ela
lhe ensinará a desfrutar tudo o que você estiver fazendo, e não pelo resultado, mas pelo ato em
si. Como pintor, dançarino, músico...
Um dos instrumentos que demonstramos nesse trabalho a ser utilizado na educação para
um novo paradigma é a meditação. Os sábios orientais já compreendiam e agora
pesquisadores, médicos, psicólogos, educadores, etc., ocidentais estão comprovando a eficácia
do uso da meditação como importante para a saúde física, mental e psicológica. E todos os
benefícios da meditação ocorrem por transformações no cérebro que estimulam a compaixão,
a cognição, a compreensão da unidade, a redução do mecanismo de redução do estresse, a
espiritualidade, etc. Assim, a aplicação da meditação na escola desde o início da
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alfabetização, ajudando as crianças a lidarem com o excesso de estímulos do mundo moderno
e todos os problemas do convívio social existentes na atualidade, certamente tende a criar uma
nova sociedade, mais saudável e com valores mais profundos e consciente. Sobre isso, Taynã
Bonifácio, coordenadora de São Paulo da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã e
idealizadora do projeto Brincando de Meditar cita a frase do pensador Karl Mannheim: “o
que fazemos hoje com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade”.
Segundo OSHO (2002), todos nascemos místicos e para ele um místico é alguém que
está tentando desvendar os mistérios da vida, que está se movendo rumo ao desconhecido, que
está explorando novos territórios, cuja vida é de exploração, de aventuras. E é assim que
começa a vida de toda a criança. Com admiração, assombro, com muitas perguntas em seu
coração. Cada criança é um místico.
Ainda segundo OSHO a meditação é para místicos e as crianças são místicos naturais.
E antes que sejam destruídos pela sociedade, antes que sejam destruídos por outras pessoas
condicionadas, corrompidas, o melhor a fazer é lhes ensinar algumas coisas sobre a
meditação.
Apesar da meditação ser originada da prática espiritual em várias tradições, atualmente
existem modalidades sem associação religiosa como a mindfulness e a meditação laica o que
facilita a inclusão nas escolas compostas por grupos com diversidade religiosa.
Finalmente entendemos que aplicar a meditação na escola é plantar a semente para
construir uma sociedade mais Feliz mais Transpessoal.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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