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Artigo Inédito
Sugestão de um protocolo simples e eficiente para a remoção de braquetes ortodônticosDickson Martins da Fonseca*, Fábio Henrique de Sá Leitão Pinheiro**,
Simone Fujiwara de Medeiros***
ReSuMoEste trabalho sugere um protocolo simples e eficiente para a remoção de braquetes ortodônticos sob uma ótica mais aprofundada, porém sem perder o foco clínico. Trata-se de uma técnica de melhor visualização da resina remanescente no esmalte
PaLavRaS-cHave: Remoção de braquetes. Textura. Esmalte dentário. Microscópio clínico. Ortodontia.
dentário, após o descolamento me-cânico dos bráquetes, utilizando-se a purpurina de prata e o microscópio clínico (ou macrofotografias). Ilus-trações e descrições passo-a-passo da técnica sugerida são fornecidas para uma melhor compreensão do assunto.
* Mestre em Reabilitação Oral - Prótese pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, atuando em clínica particular.
** Mestre em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, atuando em clínica particular. *** Especialista em Dentística pela UFPE e aluna do Curso de Especialização em Ortodontia da ABO - RN.
Dickson Martins Fonseca; Fábio Henrique de Sá Leitão Pinheiro; Simone Fujiwara de Medeiros
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INTRoDuÇÃo e RevISÃo De LITeRaTuRa
Embora a literatura seja substancial quanto à
publicação de trabalhos sobre a remoção de bra-
quetes ortodônticos1-25, este não parece ser um as-
sunto aprofundado entre os profissionais da área
de Ortodontia. A maioria dos especialistas remo-
ve os braquetes ortodônticos por meio mecânico,
utilizando-se da pressão e deformação produzidos
pelos alicates removedores de braquetes6, 9, 13.
Estudos recentes têm demonstrado uma
maior preocupação com o tipo de material utili-
zado para a colagem10 e o desenho da estrutura
dos braquetes3, 14. Neste sentido, princípios la-
boratoriais têm sido implementados para pro-
piciar uma remoção mais segura e prática dos
aparelhos ortodônticos fixos.
Por outro lado, com a intenção de provocar
menores danos ao esmalte dentário, alguns pro-
fissionais têm preconizado a remoção de bra-
quetes metálicos e cerâmicos por meio eletro-
térmico7, 12, 17, 22. No entanto, há quem alerte para
os riscos de mortificação pulpar, principalmente
quando o dente apresenta-se com uma coroa ou
faceta de porcelana16.
Os métodos mecânicos de remoção, por
meio de pistolas e alicates, parecem deixar, por
sua vez, uma quantidade maior de resina a ser
removida15,21,23, o que acaba assegurando meno-
res traumas ao esmalte dentário25.
A experiência clínica tem demonstrado que há
quem utilize alicates de corte de amarrilho, How
reto e, até mesmo, alicates removedores de ban-
das na tentativa de descolar os braquetes. Deduz-
se que estes métodos não sejam muito seguros e
poderão provocar acidentes, fraturas de esmalte
e outras intercorrências. No entanto, faltam ainda
maiores comprovações neste sentido.
Ultimamente, tem-se falado muito a respei-
to da utilização do laser para a remoção dos bra-
quetes ortodônticos, em especial, de braquetes
cerâmicos1,18. Hirayama et al.11 constataram que
a remoção de braquetes de porcelana por meio
do laser CO2 se deu de forma bastante facilitada
e causou pouquíssimos danos aos dentes, em
comparação à remoção mecânica. Além disto,
proporcionou uma menor quantidade de resina
residual.
Um método também descrito na literatura re-
quer o emprego do ultra-som, inicialmente desen-
volvido para a remoção de retentores de prótese
fixa. De acordo com Boyer4, trata-se de um método
eficaz, sem fratura de esmalte, porém necessita de
um tempo relativamente longo (38 a 50 segundos),
o que gera desconforto para alguns pacientes.
Depois que os braquetes são removidos, a
resina remanescente precisa ser totalmente
eliminada. Clinicamente, dispõe-se de diversas
formas de remoção: brocas diamantadas, brocas
do tipo shofu e brocas multilaminadas carbide
(de tungstênio) de baixa e alta rotações. Estas
últimas têm caído na preferência da maioria dos
profissionais da atualidade5, 19, 20, 24.
No entanto, a não ser pela própria visuali-
zação clínica ou pela fricção de um instrumen-
tal metálico contra a superfície vestibular do
dente, tem-se publicado muito pouco2, 8 sobre
qualquer outro método mais cientificamente
comprovado de inspeção, que também possa
apresentar praticidade clínica. Por este motivo,
decidiu-se apresentar um protocolo alternativo
de remoção de braquetes, bem como da resina
remanescente, no sentido de dirimir os fatores
colaterais sobre o esmalte dentário.
DeScRIÇÃo Do PRoTocoLo SuGeRIDo PaRa a
ReMoÇÃo De BRaqueTeS
O protocolo apresentado para a remoção de
braquetes ortodônticos e da resina remanes-
cente consiste na execução das etapas clínicas
descritas a seguir.
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1) Adaptam-se as garras de um alicate re-
movedor de braquetes às aletas superiores e
inferiores. Em seguida, realiza-se um suave
pressionamento com o objetivo de deformar
a estrutura do acessório (Fig. 1A, B), de modo
que boa parte da resina permaneça na estrutura
dentária (Fig. 2A, B; 3);
2) para a remoção da maior parte da resi-
na remanescente, preconiza-se a utilização
de brocas multilaminadas (12 lâminas) de
alta rotação, procurando-se desgastar ape-
nas o provável local onde os braquetes ha-
viam sido posicionados. Aconselha-se secar
cada dente com uma seringa tríplice e fric-
cionar a região com uma sonda exploradora,
no intuito de riscar a resina que possa ainda
persistir;
3) em seguida, com uma esponja do tipo “mi-
crobrush”, espalha-se um pouco de purpurina
de prata em cada dente isoladamente (Fig. 4A).
Com isto, objetiva-se identificar a presença de
resina remanescente (Fig. 4B, C). Nestes pontos,
passa-se cuidadosamente a broca multilamina-
da de baixa rotação, sem refrigeração, para uma
complementação da remoção (Fig. 5A, B);
4) nos casos onde surgirem dúvidas acerca
Figuras 1a, B - Remoção do braquete com o alicate removedor, imediatamente após a realização do pressionamento. Observe que a maior parte da resina composta ficou aderida ao esmalte.
Figuras 2a, B - Vista vestibular da quantidade de resina remanescente após a remoção do braquete ortodôntico.
A B
A B
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Figura 3 - Vista incisal da resina remanescente após a remoção do brá-quete ortodôntico.
A
Figuras 4a, B ,c - Identificação da resina remanescente após a aplicação de purpurina de prata.
B C
Figuras 5a, B - Remoção do remanescente de resina composta com broca multilaminada de baixa rotação, sem refrigeração.
A B
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Figura 6 - Reaplicação da purpurina de prata para a visualização de falhas na remoção da resina remanescente. Observe a presença de irregulari-dade no esmalte.
A
Figuras 7a, B, c - Seqüência descrescente de abrasividade ao utilizarem-se as borrachas e o disco abrasivo para o polimento final.
B C
Figuras 8a, B - Aspecto final da superfície vestibular dos dentes após a realização do protocolo sugerido. Observe a textura, o brilho e a suavidade naturais do esmalte.
A B
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de resina ou de trincas/deformações no esmal-
te, repete-se a aplicação de purpurina de prata
(Fig. 6), utilizando-se um meio de magnificação
da imagem para uma melhor visualização. Para
isto, pode-se contar com o microscópio clínico
ou lentes para macrofotografias. O microscópio
clínico é um equipamento bastante útil para
este tipo de procedimento. Se necessário, re-
pete-se a aplicação da broca multilaminada de
baixa rotação;
5) por fim, prossegue-se com um leve poli-
mento à base de borrachas e discos abrasivos,
de abrasividade decrescente (Fig. 7A, B, C), até
obter-se um brilho natural semelhante ao das
áreas de esmalte que não sofreram o processo
de adesão (Fig. 8A, B).
Se compararmos o resultado final a outros
casos cuja resina remanescente fora removida
aleatoriamente com brocas diamantadas e/ou
shofu, a diferença chega a ser marcante. As irre-
gularidades do esmalte chegam a ser facilmen-
te identificadas em modelos de gesso, e até, a
olho nu. Em longo prazo, o acúmulo de placa
bacteriana e pigmentos nas microfissuras e ir-
regularidades produzidas no esmalte ofuscará a
estética da correção ortodôntica obtida.
coNSIDeRaÇÕeS FINaIS
O protocolo aqui apresentado supre as ne-
cessidades clínicas relacionadas à remoção de
braquetes ortodônticos, fornecendo uma lisura
e um brilho distintamente superiores aos pro-
porcionados pela à simples e habitual remoção
de braquetes. Indubitavelmente, o microscópio
clínico2 desempenhou um importante papel
neste sentido, embora métodos de visualização
menos precisos, tais como macrofotografias e
lentes de aumento, possam certamente produ-
zir resultados bastante semelhantes.
Diante da diversidade de instrumentais para
a remoção mecânica de braquetes ortodônti-
cos, bem como da falta de comprovação cientí-
fica de suas respectivas desvantagens, optou-se
pela utilização de um alicate removedor de bra-
quetes, já que é específico para esta função, de
baixo custo e bastante cômodo para o paciente.
Forças de impacto parecem provocar menos da-
nos ao esmalte dentário do que forças de tor-
ção, aplicadas subitamente24.
A purpurina de prata, embora não utilizada
rotineiramente em Odontologia, dedutivamen-
te não causaria efeitos prejudiciais à saúde dos
pacientes, haja vista a eventualidade de sua
utilização e o fato da prata ser empregada nas
ligas de amálgama para restaurações. De qual-
quer forma, recomenda-se cautela e uma inves-
tigação prévia sobre a possibilidade de alergia.
O uso de óculos de proteção para os pacientes
também é recomendado.
No meio protético, a purpurina de prata fun-
ciona como um excelente avaliador de textura
e micro-anatomia. Por este método, a presença
de minúsculas quantidades de resina sobre o
esmalte pode ser facilmente identificada. Suge-
rem-se, assim, maiores investigações a respei-
to de materiais simples, utilizados na área de
prótese há bastante tempo, tais como carbono
oclusal, batom e outros, para uma análise práti-
ca da textura do esmalte pós-remoção de bra-
quetes ortodônticos.
Também seria uma grande falha não citar a
importância de um sistema de classificação da
textura e do brilho do esmalte. Afinal de contas,
como seria possível comparar-se cientificamen-
te o aspecto pré e pós-tratamento ortodôntico
do esmalte dentário? Um trabalho recente-
mente publicado25 sugeriu uma escala de nove
possíveis combinações de brilho e textura para
o esmalte, algo que seria muito útil como refe-
rência em Ortodontia.
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coNcLuSÕeS
Diante do exposto, obtiveram-se as seguin-
tes conclusões:
1) Para a remoção de braquetes ortodônti-
cos, há diversos instrumentais disponíveis no
mercado, com suas vantagens e desvantagens.
No caso clínico apresentado, o alicate remove-
dor de braquetes se mostrou bastante seguro e
eficiente;
2) para a remoção da resina remanescente,
praticamente não há uma diversidade muito
grande de relatos. No consultório, a técnica de
visualização com a purpurina de prata e o mi-
croscópio clínico (ou macrofotografias) mos-
trou-se bastante útil para limitar o raio de ação
das brocas removedoras;
3) para aumentar a lisura e fornecer um bri-
lho especial, aconselha-se polir a superfície com
borrachas e/ou discos abrasivos, evitando-se a
retenção da placa bacteriana.
A simple and efficient method to remove orthodontic brackets
aBSTRacTThe literature is plentiful of works on the removal of orthodontic brackets. However, this topic has not been deeply approached by practioners so far. This paper suggests a more refined protocol for the removal of orthodontic brackets in the orthodontic set. The utilized
technique was found to improve the inspection of the remaining resin on tooth enamel after the mechanical debonding of brackets. Silver grains and enlargement lens were used to better detect irregularities. Illustrations and step-by-step instructions were provided to easily follow the suggested protocol.
KEY WORDS: Removal of brackets. Texture. Dental enamel. Operating microscope. Orthodontics.
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119R Dental Press Estét - v.1, n.1, p. 112-119, out./nov./dez. 2004
Dickson Martins da FonsecaRua Mossoró, 561 - PetrópolisNatal - RNCep: 59020-090E-mail: [email protected]
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