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CRIANDO MODELO DE NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS: LEITE
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Diretor OperacionalTito Manuel Sarabando Bola Estanqueiro
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Equipe TécnicaMarcus Rodrigo de Faria
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Centro SEBRAE de SustentabilidadeSuênia Sousa, Renata Taques e Jéssica Ferrari
Conteúdistas:Eduardo Augusto Fontoura de Freitas Rasla, Deilton Oliveira Medeiros
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SumárioApresentação....................................................................9
Práticas sustentáveis em manejo alimentar e nutricional..........17
Análise de solo de forma periódica.............................................18
Implantação de sistema de pastejo rotacionado............................19
Implantação de área para volumoso...........................................23
Integração lavoura pecuária fl oresta (ILPF)................................24
Implantação de fontes de água para os animais...........................29
Produção de compostagem.......................................................30
Práticas sustentáveis em manejo higiênico e sanitário................31
Realização periódica de testes de mastite...........................34
Introdução de pré e pós-dipping no manejo da ordenha...............36
Secagem dos tetos com papel-toalha descartável.....................39
Utilização de tanque resfriador..................................................40
Práticas sustentáveis em manejo reprodutivo ...........................42
Uso de inseminação artifi cial.......................................................43
Recria das bezerras......................................................................44
Implantação de um Programa de acasalamento dirigido (PAD).....49
Práticas sustentáveis na gestão da atividade leiteira ..................50
Uma breve introdução para entendimento do modelo CANVAS.....54
Referências..........................................................................74
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Criando modelo de negócios sustentáveis: Leite
Os produtores rurais brasileiros apresentam diariamente sua compe-
tência na produção de alimentos e na preservação ambiental. Com a
eficiência da nossa agropecuária, o Brasil colhe sucessivos bons re-
sultados na economia. O setor é responsável por um terço do Produto
Interno Bruto (PIB), um terço dos empregos gerados no país e por um
terço das receitas das nossas exportações.
Em contrapartida, a agropecuária brasileira é responsável pela libe-
ração de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2), sendo
as principais causas as queimadas da vegetação e o revolvimento
do solo com oxidação da matéria orgânica. No entanto, é crescen-
te a preocupação em obter novas soluções sustentáveis para essas
práticas, que beneficiem o meio ambiente, as produções agrícolas e
o bem-estar animal.
Segundo Veiga (1994), os objetivos a serem alcançados pelo desen-
volvimento sustentável agrícola seriam: manutenção por longos prazos
dos recursos naturais e da produtividade agrícola, mínimo de impactos
adversos ao meio ambiente, otimização da produção com um mínimo
de insumos externos, retorno adequado aos produtores, satisfação
das necessidades humanas de alimentos e renda e atendimento das
necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais.
De acordo com Klauck (2009), a definição de desenvolvimento sus-
Apresentação
9
tentável presume a ideia de conservação, objetivando um desenvol-
vimento estável, transmitido e não interrompido em uma geração. Os
caminhos do desenvolvimento sustentável levam ao respeito ao meio
ambiente, à promoção da qualidade de vida, à conservação da fauna
e da flora do planeta, à diminuição da exploração incontrolável de re-
cursos não renováveis e a responsabilidade social de cada indivíduo.
Um sistema de produção de leite não sustentável causa inúmeros
problemas ambientais, como degradação dos solos, erosão e aque-
cimento global, afetando diretamente os meios de produção. Uma
proposta viável seria aproveitar a estrutura ambiental que necessita
ser conservada e recuperada, a fim de garantir manejos ambientais
essenciais ao bom funcionamento dos sistemas de produção, e para
o máximo proveito dos recursos naturais manejados e dos insumos
aplicados. As boas práticas de manejo são necessárias, mas de forma
planejada e integrada.
A cadeia produtiva do leite desempenha relevante papel na geração
de renda para os pequenos e médios produtores, além do significa-
tivo número de postos de trabalho, sendo que o país tem hoje acima
de um milhão e cem mil estabelecimentos rurais onde se explora a
atividade leiteira, ocupando a mão de obra de forma direta de aproxi-
madamente 3,6 milhões de pessoas.
Duas características são marcantes na pecuária de leite nacional. A
primeira é que a produção ocorre em todo o território e a segunda
é que não existe um padrão de produção. Existem propriedades de
subsistência, sem técnica e produção diária menor que dez litros, até
produtores comparáveis aos mais competitivos do mundo, usando
tecnologias avançadas e com produção diária superior a 60 mil litros
(EMBRAPA, 2012).
10
Esses produtores, com volumes de leite muito pequenos, praticam um
tipo de exploração muito aquém do que é esperada para um sistema
de produção eficiente e sustentável, mesmo existindo tecnologias de-
senvolvidas e adaptadas às condições de cada um, capazes de mudar
esse cenário de produtividade.
Neste sentido é que se objetiva o presente material, com informações
e dicas de relevância ambiental e tecnológica, por meio dos precei-
tos do desenvolvimento sustentável, tendo como público-alvo os pe-
quenos e médios produtores de leite advindos da agricultura familiar,
reconhecendo a importância das práticas sustentáveis alinhadas às
inovações tecnológicas.
Diante desse novo contexto, os produtores de leite, advindos da agri-
cultura familiar, precisam se adequar a práticas do mercado, fazen-
do um planejamento do negócio, preocupando-se não apenas com
a qualidade do produto final, mas também com sua sustentabilidade
mercadológica. Para tanto, necessitam de ferramentas que os auxi-
liem a manter seus empreendimentos rurais sustentáveis, levando-se
em conta os três pilares em que se baseiam a sustentabilidade: o am-
biental, o econômico e o social.
O Modelo de Negócios CANVAS – ferramenta desenvolvida por Ale-
xander Osterwalder e Yves Pigneur – descreve a lógica de como uma
organização “cria, entrega e captura valor”, aliada aos princípios da
sustentabilidade. (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011).
Além disso, traz indiscutivelmente aspectos de diferenciação para o
produtor enfrentar as novas exigências do mercado consumidor.
Essa ferramenta auxiliará o produtor rural voltado à cadeia produtiva
11
do leite, no que se refere a ter uma visão mais ampla de seu empre-
endimento rural em apenas uma única folha de papel. Além de ser um
recurso dinâmico e mais visual que um plano de negócios, permitirá
que sejam testadas, confi rmadas e mudadas todas as variáveis que
poderão infl uenciar no sucesso de um empreendimento.
Assim, o objetivo desta publicação é apresentar ao produtor que ele
é capaz de criar um modelo de negócios CANVAS para seu empre-
endimento a fi m de conseguir ver como seu negócio funciona, como
ele pode diferenciar seu produto dos demais concorrentes, o que o
mercado prefere comprar, além de outras questões importantes para
que o desenvolvimento de seu negócio seja economicamente viável,
socialmente aceito e ambientalmente sustentável.
Neste material, você encontrará, também, modelos ilustrados que au-
xiliarão na implantação de práticas sustentáveis, além do próprio “qua-
dro” CANVAS para criação de seu modelo de negócio sustentável.
Segmentos
de Clientes Principais
Parcerias
Estrutura
de Custos
Fontes de
Receitas Canais de
Distribuição
Relacionamentos
com Clientes
Atividades
Chave
Principais
Recursos
Propostas de
Valor
Modelo de Negócios CANVAS
1212
13
A importância de um bom manejo alimentar na criação de bovinos
leiteiros é baseada em dois aspectos principais:
Práticas sustentáveis em manejo alimentar e nutricional
- aproximadamente 60% dos custos de produção são oriundos da
alimentação, e esse valor pode ser ainda maior quando o preço
dos insumos básicos se eleva, como ocorre de tempos em tempos
em função de aspectos político-econômicos, de sazonalidade de
produção e outros;
- dietas bem-balanceadas permitem, além de maior efi ciência pro-
dutiva dos animais (kg de leite produzido/kg de alimento ingerido),
menor excreção de nutrientes nas fezes e na urina. Esse aspecto
é fundamental nos tempos atuais, quando há grande preocupação
com o impacto ambiental produzido pela atividade leiteira.
A amostragem de solo é uma operação bastante detalhada e crite-
riosa, assim como a realização de uma amostra composta da área,
retirando-se de 5 a 10 locais diferentes (em zigue-zague), antes de
qualquer operação mecânica no solo, em profundidade de 0 a 20 cm.
Análise de solo de forma periódica
14
O produtor deve se atentar para que não ocorram erros na amos-
tragem, pois é uma das etapas mais importantes da implantação da
pastagem. Erros de amostragem acarretam resultados de análise de
solo não condizentes com a realidade do local, resultando em uma
sub ou superdosagem de fertilizantes, causando prejuízos econômi-
cos e ambientais à propriedade.
Nas condições do Brasil Central, o manejo rotacionado bem-condu-
zido, com a espécie forrageira adequada, permite, em alguns casos,
que se passe o período de seca sem a necessidade de suplementa-
ção dos bovinos com volumosos conservados. As espécies forragei-
ras de alta produção (B. brizantha, Panicuns, Cynodons) são as mais
indicadas para esse tipo de pastejo, pois possuem elevado potencial
de produção, permitindo acumular massa para depois ser consumida
durante o período seco.
Implantação de sistema de pastejo rotacionado
15
No sistema rotacionado, o objetivo é utilizar de forma mais sustentável
e racional possível as fases fi siológicas do capim, tal qual a rebrota e o
crescimento da planta forrageira, ou seja, tirar o máximo potencial da
pastagem na fase de maior desenvolvimento, quando a utilização dos fa-
tores de produção (água, luz, calor e nutrientes) é mais intensa e efi ciente.
Desta forma, os animais passam por todos os piquetes com dias pré-es-
tabelecidos de pastejo e dias de descanso (período de vedação), para
regeneração do capim. O período de vedação e o de pastejo depende-
rá de alguns fatores, tais como: cultivar da forrageira utilizada, época
do ano (águas ou seca), condições edafoclimáticas da região, níveis de
adubação e da lotação animal na área.
O sistema rotacionado ajusta
a um manejo uniforme da pas-
tagem, eliminando as áreas de
superpastejo e de subpastejo,
proporcionando um aumento
na lotação da área, em relação
ao pastejo contínuo, por cau-
sa de uma maior produção de
massa e da melhor qualidade
do capim. Esse maior acúmulo
de massa resulta do manejo de
descanso da forrageira para sua
regeneração de folhas e raízes,
o que permite a planta crescer e
recompor reservas.
o sistema de pastejo rotacionado
NÃO está condicionado à prática
de irrigação da pastagem, uma vez
que suas instalações são onerosas
e alguns capins não têm uma boa
resposta a essa prática.
Lembrete:
16
É um sistema que demanda investimentos, principalmente em infra-
estrutura, adubações corretivas e de manutenção. As instalações são
simples, com uma área de lazer e divisões na pastagem, geralmen-
te com cercas elétricas. Como alternativa, existe a opção de criar
cercas com postes de bambu e garrafa PET (como isolador), sendo
uma infraestrutura barata e bastante efi ciente, além do uso de placas
solares como fonte de energia alternativa, não poluidora e altamente
sustentável.
No período seco do ano, os capins, além de paralisarem seu cresci-
mento, ainda apresentam baixo valor nutritivo e são pouco consumi-
dos pelos animais. Isto signifi ca que deve ser feita uma suplementação
com alimentos de melhor qualidade para não prejudicar os animais e
a pastagem e garantir a sustentabilidade da atividade leiteira. Essa
suplementação com alimentos volumosos teriam como opções:
• silagem de milho, milheto, capim-napier, cana, capins, dentre outros;
Implantação de área para volumoso
17
• feno de forrageiras;
• cana-de-açúcar com ureia e sulfato de amônia;
• mandioca (após exposta ao sol), dentre outros.
O setor agropecuário vem sofrendo grandes transformações moti-
vadas pelo aumento nos custos de produção e mercado mais com-
petitivo, exigindo aumento na produtividade da atividade, qualidade
e rentabilidade, sem comprometer o meio ambiente. Para atingir tais
objetivos, uma alternativa que nos últimos anos tem se destacado é o
uso de sistemas de integração que incorporam atividades de produ-
ção agrícola, pecuária e florestal, em dimensão espacial e/ou tempo-
ral, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecos-
sistema para a sustentabilidade da propriedade rural, contemplando
sua adequação ambiental e a valorização do capital natural (Embrapa
Gado de Corte et al., 2011).
Nesse sistema, as árvores são plantadas na área da pastagem que foi
recuperada ou renovada. Nos primeiros anos, a forrageira poderá ser
utilizada para a produção de feno ou silagem até o estabelecimento
do componente arbóreo, evitando que o mesmo seja danificado pe-
los animais. Dependendo do tamanho da área, pode-se utilizar cerca
elétrica, assim os animais utilizam a área já no primeiro ano. A partir
do segundo ano da implantação da floresta, a forrageira poderá ser
utilizada em pastejo, especialmente por categorias de animais jovens
e leves.
Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF)
18
Com a introdução dos sistemas de ILPF,
além da intensifi cação e maior efi ciên-
cia do uso da terra, são gerados, tam-
bém, outros benefícios ao ambiente,
tais como: maior sequestro de carbono,
aumento da matéria orgânica do solo,
redução da erosão, melhoria das con-
dições microclimáticas e do bem-estar
animal. Quanto aos benefícios econô-
micos gerados pela diversifi cação do
sistema de produção, destacam-se:
redução dos custos de produção, aumento de produtividade e diminuição do
risco inerente à agropecuária, especialmente por variações climáticas e oscila-
ções de mercado.
Contexto socioeconômicoe ambiental dos agroecossistemas
Fig. 1: Objetivos imediatos e reflexos na adoção de sistemas de integraçãonos agroecossistemas (adaptado de Embrapa Gado de Corte, et al., 2011).
Modelos:Agropastoril
AgrossilvepastorilSilvipastorilSilviagrícola
Adequaçãoambiental
Eficiência no usode insumos, mão
de obra e dosrecursos
Conservação emelhoria do solo
e da água
Aumentoda renda doprodutor e
qualidade de vida
Diversificaçãodos sistemasde produção
Recuperaçãode pastagensdegradadas
Intensificaçãodo uso da
terra
Quebra nociclo de pregas
e doenças
Agricultura sustentável
19
Além de certifi cações de qualidade realizadas por instituições públicas e
privadas, a tendência é que estabelecimentos rurais que adotem siste-
mas de integração sejam, também, pioneiros na adoção de programas
sistemáticos de melhoria no sistema produtivo, como o programa de Boas
Práticas Agropecuárias (BPA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (EMBRAPA) e o Programa de Produção Integrada de Sistemas
Agropecuários (PISA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (MAPA), entre outros.
Apesar de alguns entraves iniciais em sua adoção, Embrapa Gado de Cor-
te (2011) cita que os sistemas de ILPF, por sua maior complexidade de
gestão, acabam por incorporar posturas mais corretas pelo produtor, por
exemplo, no manuseio e descarte dos resíduos gerados pela propriedade,
incluindo embalagens de agroquímicos, águas de lavagem com dejetos,
criação de fossas sépticas e outros, previstos na legislação.
Por sua vez, o empresário rural, disposto a assumir uma postura empre-
endedora, deve também buscar
sua própria qualifi cação e montar
equipes multidisciplinares para
enfrentar o desafi o da implanta-
ção de um projeto sustentável
de integração, contando sempre
com o apoio do SEBRAE, de ór-
gãos de assistência técnica, re-
des de pesquisa e de transferên-
cia de tecnologia.
Por sua vez, o empresário rural, disposto a assumir uma postura empre-
os componentes arbóreos
(árvores) mais utilizados na
integração com outras culturas
são: eucalipto, Acacia mangium,
mogno africano, Canafístula,
paricá, cedro, nim, dentre
outros.
Lembrete:
20
Implantação de fontes de água para os animais
apesar de permitido pelo
Código Florestal, os produtores
de leite devem evitar que os
animais tenham acesso a rios e
córregos, evitando a erosão e o
assoreamento.
Lembrete:
o bebedouro de água deve
estar no máximo a 15 metros do
cocho de sal e alimentação, de
preferência no sol, por este ser
um importante bactericida da
água.
Lembrete:
Os bebedouros de fonte artifi cial devem permitir o fácil acesso dos
animais e o fornecimento de água livre de sujidades (limpa), segundo
premissas das boas práticas agropecuárias. Um bovino adulto con-
some, em média, de 40 a 50 litros de água por dia, para vacas leitei-
ras, podendo dobrar esse consumo em vacas de grande porte e alta
produção de leite (2 litros de água consumida a mais por litro de leite
produzido).
21
A compostagem é um processo de transformação de produtos orgâ-
nicos em adubo de excelente qualidade, sendo uma prática simples,
podendo ser realizada em diferentes locais da propriedade. O com-
posto orgânico produzido melhora a produtividade das pastagens
pelo fornecimento de nutrientes aos capins e promove a melhoria da
vida no solo, além de proporcionar a reutilização de materiais orgâni-
cos que antes iriam para o lixo, diminuindo os elementos poluentes
ao meio ambiente.
Produção de compostagem
As técnicas para produção de um leite com qualidade se iniciam des-
de a condução das vacas para o curral, passando por procedimentos
de higiene na ordenha, até a limpeza do local e dos utensílios.
Práticas sustentáveis em manejo higiênico e sanitário
22
Desde dezembro de 2011, quando começou a vigorar a Instrução Nor-
mativa nº 62 (IN 62), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (MAPA), nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil, indi-
cadores de qualidade composicional (gordura, proteína e extrato seco
desengordurado) e higiênico-sanitária (contagem de células somáticas
- CCS e contagem bacteriana total - CBT) são avaliados mensalmente
no leite de rebanhos vinculados a estabelecimentos monitorados pelo
Serviço de Inspeção Federal (SIF). Entretanto, de acordo com os dados
captados pelos laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Con-
trole da Qualidade do Leite (RBQL), observa-se que um dos grandes
desafios da pecuária leiteira nacional é a melhoria da qualidade do leite,
principalmente no que diz respeito aos aspectos higiênico-sanitários.
O leite de boa qualidade deve apresentar características organolépticas
específicas (cor, sabor e odor), baixa contagem bacteriana total (CBT),
baixa contagem de células somáticas (CCS) e, obrigatoriamente, au-
sência de micro-organismos patogênicos ao homem e de resíduos quí-
micos contaminantes (principalmente os provindos de medicamentos).
A qualidade do leite pode ser avaliada pelos seguintes indicadores:
• qualidade composicional, teores mínimos:
• gordura 3%;
• proteína 2,9%;
• extrato seco desengordurado (lactose + proteína) 8,4%;
• sólidos totais.
23
• qualidade higiênico-sanitária:
• contagem Bacteriana Total (CBT);
• contagem de Células Somáticas (CCS);
• resíduos químicos contaminantes no leite.
Esses indicadores possuem valores de referência, isto é, padrões mí-
nimos ou máximos, determinados pelo MAPA, conforme publicado
na IN 62, segundo a tabela a seguir:
Uma forma de incentivar a melhoria da qualidade do leite nas pro-
priedades é o programa de pagamento com base em indicadores de
qualidade, adotado por algumas indústrias de laticínios. Porém, entre
os pontos mais importantes que devem ser levados em consideração
na elaboração de programas de melhoria da qualidade do leite estão
o treinamento, a capacitação e a qualificação contínua da mão de
obra ligada diretamente à produção.
Data de redução
dos limites
01/01/2012
01/07/2014
01/07/2016
CCS – Contagem de
Células Somáticas
600.000
500.000
400.000
CBT – Contagem
Bacteriana Total
600.000
300.000
100.000
24
Realização periódica de testes de mastite
Mastite ou mamite é a infl amação da glândula mamária, geralmente
causada por micro-organismos que penetram pelo canal do teto. De
acordo com a forma de
apresentação, é clas-
sifi cada em clínica ou
subclínica. Mastite clíni-
ca é aquela que altera o
estado clínico do animal
e/ou do leite, já na sub-
clínica não há alterações
visuais no animal e nem
no leite.
O teste da caneca de fundo preto é talvez o mais importante a ser re-
alizado na prevenção da mastite. Tem obrigatoriamente que ser uma
rotina no início de cada ordenha de cada vaca. É realizado com o
auxílio de uma caneca com o fundo de cor escura ou que seja tela-
da. Neste fundo preto ou telado, se o animal apresentar alteração no
leite, como a presença de grumos, pus, sangue ou coágulos sanguí-
neos, ela será detectada, indicando que o leite produzido por aquele
animal não está normal. Essa condição anormal do leite é sinal de
mastite clínica.
diferentemente do que muitos
produtores pensam, a mastite
não causa acidez no leite, uma
vez que esse leite contaminado
estará alcalino e não ácido.
Lembrete:
25
Já a mastite subclínica é aquela em que não há nenhum tipo de altera-
ção visual no animal ou no leite produzido, porém acarreta muitos preju-
ízos. É importante saber qual o índice de mastite subclínica do rebanho.
A identifi cação pode ser feita por vários métodos, dentre os quais po-
demos destacar o teste de Contagem de Células Somáticas (CCS), feito
somente em laboratório, e o exame California Mastitis Test (CMT), reali-
zado durante o manejo de ordenha, em intervalos de no máximo 30 dias.
As soluções desinfetantes para tetos utilizadas antes e depois da or-
denha são muito importantes para a melhoria e para a manutenção
da qualidade do leite.
A desinfecção de tetos antes da ordenha (pré-dipping) tem como ob-
jetivo eliminar as bactérias que vieram do ambiente e que estão na
pele dos tetos na chegada das vacas ao local da ordenha. As princi-
pais soluções para desinfecção nessa etapa da ordenha são à base
de hipoclorito de sódio (cloro), clorexidina e iodo.
Introdução de pré e pós-dipping no manejo da ordenha
26
Já a desinfecção dos tetos
após a ordenha é um dos
métodos mais efi cientes para
a prevenção da mastite, pois
elimina as bactérias que pos-
sam ser transmitidas, de vaca
para vaca, por meio das mãos
do ordenhador. Essa operação
deve garantir que todo o teto
seja imerso no desinfetante, e
não apenas sua ponta.
caso o sistema utilizado pela
propriedade seja o de ordenha
com bezerro ao pé, essa etapa
do manejo é dispensada, uma
vez que a saliva do bezerro
servirá como desinfetante
do teto.
Lembrete:
27
Esta operação deve ser feita após o pré-dipping e antes da retirada do
leite dos tetos (ordenha manual ou mecanizada). A adequada
secagem dos tetos garante que
não ocorram resíduos de desin-
fetantes no leite ordenhado e
também auxilia a correta ordenha,
já que tetos úmidos facilitam que
as teteiras ou mãos do ordenhador
escorreguem durante o processo
de retirada do leite. O uso de papel-
toalha descartável reduz a chance
de contaminação entre as vacas, já
que o papel utilizado em uma vaca
não será utilizado em outra.
Uma vez ordenhado, a refrigeração imediata do leite é fundamental
para a manutenção da sua qualidade, em especial para a manuten-
ção de uma baixa Contagem Bacteriana Total. Em temperaturas frias,
as bactérias, em grande parte, têm sua multiplicação paralisada. A
faixa de temperatura ideal para inibir o crescimento da maioria das
bactérias é de 2°C a 4°C.
Secagem dos tetos com papel- toalha descartável
esta operação deve ser repetida
em todos os tetos a serem
ordenhados, assegurando que
os papéis-toalha utilizados
sejam descartados em lixo
apropriado e não jogados no
meio ambiente.
Lembrete:
Utilização de tanque resfriador
28
A refrigeração do leite não resolve o problema da contaminação bacte-
riana, porque esse processo não elimina as bactérias, mas apenas inibe
a sua multiplicação. Por isso, as medidas de higiene da ordenha e dos
utensílios utilizados continuam sendo muito importantes na redução da
CBT. A combinação de baixa carga bacteriana inicial e adequada tem-
peratura de armazenamento é a melhor condição para a manutenção da
qualidade higiênica do leite.
A efi ciência reprodutiva é a base para a produtividade e lucratividade
da atividade leiteira. O objetivo do manejo reprodutivo é fazer a vaca
retornar rapidamente ao cio, emprenhar, parir e iniciar nova lactação,
quando ela é mais efi ciente e produz mais leite. Quanto mais efi ciente
for o manejo reprodutivo, maior será a produção de leite e de bezer-
ros; portanto, fatores como nutrição, sanidade, genética e conforto
dos animais devem ser adequados, para que a vaca entre em cio e
emprenhe rapidamente depois do parto (AUAD et al., 2010).
Práticas sustentáveis em manejo reprodutivo
Em temperatura ambiente,
as bactérias encontradas
no leite se multiplicam com
bastante facilidade, e a con-
sequência direta é o aumen-
to da CBT; este aumento,
por causa da multiplicação
intensa dessas bactérias,
pode ser tão expressivo, que
chega a causar a acidifi cação
do leite.
as maiores causas de acidez do
leite são: falta de higiene das
mãos, dos tetos, dos utensílios,
máquinas e equipamentos
utilizados no dia a dia da
propriedade.
Lembrete:
29
Uso de inseminação artifi cial
A inseminação artifi cial é uma técnica complexa que envolve diferentes
passos: a observação e detecção de cio, o momento da inseminação e
sua higiene, o correto manuseio do botijão com nitrogênio líquido, o ade-
quado descongelamento e manipulação do sêmen e uma boa prática no
ato de inseminar a vaca, uma vez que utiliza sêmen congelado de um
touro de alto valor genético.
existe no mercado a opção
de uso de sêmen sexado, cuja
porcentagem de nascimento de
uma fêmea é grande, porém,
a recomendação se restringe
a novilhas, por causa da alta
fertilidade.
Lembrete:
As vacas a serem inseminadas devem estar bem nutridas, saudáveis
e sem problemas de reprodução. Aquelas que apresentam cio pela
manhã devem ser inseminadas no fi nal da tarde, e as que dão cio à
tarde devem ser inseminadas na manhã do dia seguinte.
30
Recria das bezerras
A criação de bezerras é uma
fase muito importante nos siste-
mas de produção de leite, pois
os animais novos irão substituir
vacas de baixa produção (mérito
genético ou número elevado de
lactações) e com problemas re-
produtivos (elevado intervalo en-
tre partos), garantindo a sustenta-
bilidade da atividade.
Como consequência, no Brasil, observa-se na criação das bezerras,
elevada taxa de morbidez e mortalidade (entre 10% e 20%), sendo
que o ideal deveria ser inferior a 5%. As principais causas de mor-
talidade de bezerras são a diarreia e a pneumonia. Portanto, esses
índices devem ser melhorados com práticas adequadas de manejo
nutricional e sanitário (AUAD et al., 2010).
cada bezerra deve possuir uma
fi cha em que constem dados
de nascimento, pesos, vacinas,
coberturas, inseminações
e partos. Essa fi cha deve
acompanhar o animal durante
toda a vida.
Lembrete:
31
Uma prática importante é o fornecimento de concentrado, que tem
como objetivo estimular o desenvolvimento ruminal, principalmente
o crescimento das papilas do rúmen. Esse tipo de alimento deve ser
fornecido a partir do quarto dia de vida da bezerra, pois quanto mais
cedo o animal ingerir alimentos sólidos, mais rápido será o seu des-
mame. Uma água fresca e limpa à vontade proporciona maior consu-
mo de concentrado e maior ganho de peso.
Além do concentrado, as bezerras devem receber um bom volumoso
(feno ou capim verde picado) desde a segunda semana de idade. Os
alimentos volumosos são muito importantes para o desenvolvimento
de rúmen no que diz respeito ao tamanho e à musculatura.
O desmame pode ser feito quando o consumo de concentrado al-
cançar 1% do peso vivo do animal, ou seja, quando animais de raças
pequenas estiverem consumindo 500 a 600 g/dia e os de raças de
grande porte, 700 a 800 g/dia.
O período entre a desmama e o primeiro parto é a fase de criação da
novilha, que representa grande custo ao produtor de leite, em função
de gastos com mão de obra, alimentação, medicamentos e instala-
ções, investimentos que não apresentam retorno imediato, pois os
animais só darão lucro quando entrarem na fase reprodutiva. Por sua
vez, a idade ao primeiro parto depende da idade à puberdade, que
está diretamente associada com a qualidade do manejo nutricional
adotado na propriedade.
32
As exigências nutricionais e a capacidade de ingestão mudam à medida
que os animais crescem. Novilhas com menos de um ano de idade têm
alta exigência nutricional, mas pouca
capacidade de ingestão. Isso signifi -
ca que as taxas de crescimento serão
muito baixas se somente forragens
forem fornecidas, ainda que de boa
qualidade. Portanto, alimentos con-
centrados devem ser incluídos na dieta
de novilhas jovens para proporcionar
ganhos de peso adequados, enquanto
que forragens de boa qualidade podem
garantir taxas adequadas de crescimen-
to em idades mais avançadas (AUAD et
al., 2010).
À medida que aumentam os custos de reposição de novilhas e o mane-
jo dos grandes rebanhos, os criadores tornam-se cada vez mais cons-
cientes da importância de utilizar classifi cações para o tipo leiteiro na
identifi cação de características de produção de leite. Um programa de
acasalamento dirigido (PAD) permite que o produtor identifi que em cada
vaca características de conformação e qualidade que precisam ser me-
lhoradas em seu rebanho. Essa prática auxilia o produtor na escolha
mais criteriosa de touros (sêmen) para seu rebanho, planejando acasa-
lamentos dirigidos, pois o criador saberá quais características precisam
ser melhoradas em cada animal.
novilhas só devem ser
inseminadas quando
alcançarem o peso mínimo
indicado para a raça, nunca
baseando-se apenas pela idade
do animal.
Lembrete:
Implantação de um Programa de Acasalamento Dirigido (PAD)
33
O segredo do sucesso é o processo de gerenciamento do presente
com olhos voltados para o futuro. Em uma propriedade moderna, o
produtor vitorioso é aquele que não tenta adivinhar o futuro, mas sim
aquele que o constrói no dia a dia. Gerenciar não é se adaptar às
mudanças, mas fazer as mudanças acontecerem.
O gerenciamento da propriedade requer o entendimento das carac-
terísticas gerais do agronegócio. O sucesso na atividade leiteira não
vem por acaso: é um trabalho contínuo de observação do macroam-
biente que, com ajuda de conceitos e ferramentas técnicas, deverá
resultar em uma ação planejada no microambiente – a propriedade.
Esse gerenciamento existe para disciplinar elementos de produção,
que tem como objetivo alcançar um resultado efi caz e o retorno fi -
nanceiro. O gerenciamento está relacionado diretamente a pessoas,
na implantação de um PAD
na propriedade, os primeiros
acasalamentos devem buscar
melhorar a característica
produção de leite do rebanho.
Lembrete:
Práticas sustentáveis na gestão da atividade leiteira
34
Além de uma análise econômica completa, é também importante que
se faça a avaliação de alguns indicadores ou índices de produtividade
e da relação entre eles. Quando o produtor começa a utilizar índices
CUSTO TOTAL DA ATIVIDADE
RECEITA TOTAL OUFATURAMENTO
PRODUÇÃO DE LEITE X PREÇOMÉDIO DE VENDA
CUSTO FIXO + CUSTO VARIÁVEL
RESULTADO(LUCRO OU PREJUÍZO)
RECEITA TOTAL – CUSTO TOTAL
CUSTO MÉDIO UNITÁRIO CUSTO TOTALPRODUÇÃO DE LEITE TOTAL
MARGEM DE LUCRO PREÇO MÉDIO DE VENDA DOLEITE – CUSTO MÉDIO UNITÁRIO
PRAZO DE RETORNODO INVESTIMENTO
INVESTIMENTO TOTALRESULTADO (LUCRO LÍQUIDO)
PONTO DE EQUILÍBRIO CUSTO TOTALPREÇO MÉDIO DE VENDA
enquanto o planejamento está relacionado ao processo produtivo da
propriedade. O produtor deve assumir diversos papéis para lidar com
os recursos humanos, tais como: o de relacionamento interpessoal, o
de comunicador de informações e o de decisão. Para tanto, precisa
ter ou desenvolver habilidades técnicas, humanas e conceituais.
Quando a rentabilidade é baixa, o produtor percebe, mas tem dificul-
dade em quantificar e identificar os pontos de estrangulamento do
processo produtivo, bem como se as tecnologias são adequadas ao
rebanho utilizado na produção de leite. Portanto, para obter sucesso
no gerenciamento da atividade, é importante ter informações corretas
sobre o desempenho da propriedade.
A seguir são sugeridos alguns indicadores ou índices de produtividade.
35
para analisar a estrutura de produção, ele cria um padrão que pode
ser comparado com números publicados por outras propriedades e,
dessa maneira, será capaz de detectar problemas e apontar virtudes.
Outra vantagem diz respeito à possibilidade de se conhecer o
potencial de produtivida-
de que pode ser atingido,
mas, sem um termo de
comparação, fi ca difícil es-
tabelecer julgamento apro-
priado e, mais complicado
ainda, propor mudanças.
Quando pensamos em CANVAS devemos dividir os blocos para melhor
visualizar nosso negócio. Importante sempre iniciarmos a pensar na pro-
dução do leite com foco no público-alvo que irá adquirir nossos produtos.
Como primeiro passo devemos nos perguntar: Para quem vou vender
minha produção?
Outra vantagem diz respeito à possibilidade de se conhecer o
produzir leite pode ser lucrativo,
desde que o negócio seja
conduzido com planejamento,
tecnologia e foco claro nas
metas e nos objetivos a serem
alcançados.
Lembrete:
Uma breve introdução para entendimento do modelo CANVAS:
36
Segmento de clientesQuem é meu cliente? Para
quem vou levar a proposta
de valor?
A resposta varia de acordo com seu cliente, que pode ser o leiteiro,
que recolhe diariamente o leite na sua porta, ou mesmo o consumidor
fi nal, aquelas famílias em que você produtor entrega pessoalmente o
leite na porta da casa delas.
Ainda falando no segmento de cliente, devemos levar em considera-
ção o volume de leite que produzimos. Nada adianta querer entregar
ao laticínio cinquenta litros por dia se minha capacidade é de vinte li-
tros diários, eu estaria buscando um público incompatível com minha
capacidade de produção. O importante é mesmo saber qual é esse
público. Buscar ajuda especializada pode ser uma boa saída, para
então partirmos a um segundo passo.
A pergunta no segundo passo será: O que meu cliente espera de
“valor” ao adquirir meu leite? A resposta pode ser leite que conheço
a procedência, isento de sujeira e contaminação ou mesmo a bus-
ca por uma alimentação mais rica em nutrientes, ou mesmo foco na
utilização culinária para produção de doce, ou coalhada, ou queijo...
37
Enfi m, devemos questionar esse nosso cliente para verifi car O QUE
ele espera ao receber nosso leite.
Nesse segundo passo, temos que pensar no nosso DIFERENCIAL
perante os demais produtores de leite da nossa região. A questão é
simples, basta se perguntar o que leva o seu cliente a comprar leite
de você e não do seu vizinho. Cuidados devem ser tomados quando
acreditamos que o fator seja preço. Porque diminuir o preço pratica-
do no mercado não é a forma viável de aumentar nossa venda.
Tendo defi nido o público-alvo e a proposta de valor, que é nosso
diferencial competitivo, devemos partir agora para outros dois impor-
tantes pontos, sendo eles: canais de distribuição (TERCEIRO PASSO)
e relacionamento com o cliente (QUARTO PASSO).
Nesse segundo passo, temos que pensar no nosso DIFERENCIAL
Proposta de valorQual é a oferta ao entregar
o leite? Vai além do produto
em si, mas o que o cliente
quer ao consumir o produto.
Canais de DistribuiçãoComo o leite chegará ao
cliente?
38
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO: o canal se refere aos dois aspectos
básicos da entrega da Proposta de Valor (produto) ao Segmento de
Clientes (mercado). O PRIMEIRO ASPECTO BÁSICO é saber onde o
cliente comprará o seu produto (ex.: na porta de sua propriedade, o
leiteiro passará recolhendo, você levará até a casa dele e outros). O
SEGUNDO ASPECTO BÁSICO é a maneira pela qual o cliente passa-
rá a saber que você vende leite. Por exemplo: colocando uma placa
na porteira da propriedade, participação em uma feira livre, divulga-
ção na cidade por meio de panfl etos em órgãos públicos e empresas,
participação em eventos do segmento rural e outros.
Agora temos que partir para um quarto passo: defi nir como nos rela-
cionar com o cliente.
Nessa parte do Modelo de Negócios Sustentável, o produtor vai pen-
sar em dois aspectos importantes: a) a forma de relacionamento que
será usada para adquirir novos clientes (ex.: buscar cooperativismo
ou associativismo para melhor introduzir o produto no mercado e
consequentemente ter melhor remuneração); b) a forma de relaciona-
Relacionamento com o clienteQual o relacionamento que a
empresa constrói?
39
mento que será usada para manter os clientes existentes (ex.: busca
constante na melhoria da qualidade do leite, melhorando, por exem-
plo, o alimento do gado).
Em outras palavras, aqui buscamos mais a maneira de FIDELIZAR-
MOS esse cliente, para que, ao comprar uma vez, queira comprar
outra, e mais outra, e mais outra...
Agora vamos pensar no que muito nos interessa, que é nosso passo
5 - a Fonte de Receitas.
É aqui que fi nalmente chega o momento de saber quanto e como o
dinheiro entra no seu bolso. E parece que as vezes vendemos toda
a produção leiteira, recebemos do cliente e o dinheiro nunca é o su-
fi ciente para manter a atividade. Se isso acontece com você, preci-
samos defi nir uma linha de raciocínio básica, respondendo a uma
pergunta simples: a venda do leite é um complemento da atividade
de sua propriedade, ou a fonte de dinheiro que deve sustentar a ati-
vidade?
Fontes de receitaComo faremos dinheiro?
40
NÃO PODEMOS NOS ESQUECER QUE QUANDO FA-
LAMOS EM CLIENTE FINAL, FALAMOS EM AGROIN-
DUSTRIAL, POIS SABEMOS QUE NÃO PODEMOS CO-
MERCIALIZAR LEITE DIRETO AO CONSUMIDOR FINAL,
POIS ESSE LEITE TEM QUE ESTAR PASTEURIZADO!
Até esse ponto do nosso CANVAS, já definimos a par-
te na qual foram estabelecidos os seguintes aspectos: o
mercado, o produto, o marketing e os recebimentos. Na
segunda parte, será definido o funcionamento interno de
nosso empreendimento.
Dependendo de sua resposta, haverá mudanças na proposta de valor e
no público-alvo, mas, o mais importante, pode haver mudanças na sua
capacidade de produção. Porque não basta querer que a venda de leite
absorva todos os custos com o gado leiteiro, se não tenho produção su-
ficiente para tanta receita assim. Por outro lado, pode ser o momento de
ver que preciso de outra atividade para agregar receita de forma a com-
plementar a venda do leite e sustentar meu negócio. Ou não, aqui a res-
posta pode ser que a venda do leite já supre todas as minhas despesas.
Outro ponto que você deve pensar quando trabalha a fonte de re-
ceitas, é definir as diversas formas de recebimento. Lembre-se de
que as formas de cobrança pelo produto poderão ajudar a inovar seu
modelo de negócios. Um exemplo disso é o produtor que vende leite
no cartão de crédito ou débito, ou mesmo por meio de uma assinatura
mensal, como se fosse uma mensalidade.
41
Passo 6 - Principais Recursos – em se tratando da cadeia leiteira,
você deve pensar quais são os recursos necessários para que seu
negócio, de fato, funcione. Por exemplo: para obter melhor rendimen-
to do leite, é preciso de bom pasto, de uma vaca nutrida, de pesso-
as para o manejo do gado, entre outros. Aqui também é importante
levar em consideração quais recursos você utilizará para realizar seu
negócio, considerando-se os valores econômicos, ambientais e so-
ciais. Lembre-se de que os principais recursos também devem ser
pensados para atender todos os blocos do Modelo de Negócios já
desenhados até o presente momento.
Principais atividades: nosso passo 7 - Quais são as atividades de
produção e entrega que você precisa executar? Nesse bloco do Mo-
delo de Negócios, você, produtor, deverá pensar em quais são as
atividades que precisa fazer para garantir a operacionalização da sua
empresa. Lembre-se de que você deverá executar as atividades que
geram valores para que seu modelo de negócios seja sustentável.
Um exemplo disso é a incorporação de práticas e manejo susten-
táveis que irão envolver todo o processo, desde as práticas susten-
táveis em manejo alimentar e nutricional, práticas sustentáveis em
manejo higiênico e sanitário, práticas sustentáveis em manejo repro-
Principais Recursos
Quais as capacidades
requeridas?
42
Principais atividadesPara cada etapa, quais
as atividades que devo
organizar?
Como temos muitas atividades no desenvolvimento e implantação de
processo da cadeia produtiva do leite, e sabemos que nem sempre
podemos fazer tudo sozinho, principalmente no que diz respeito à
comercialização e distribuição do produto fi nal (leite) é que necessi-
tamos estudar esta importante situação – Parcerias. Nosso passo 8.
Principais parceriasQuais são as parcerias
necessárias para
desenvolver
melhor o negócio?
dutivo até fi nalizar com a visão das atividades com foco nas práticas
sustentáveis da gestão na atividade leiteira. Conforme esta cartilha.
43
Principais parcerias – os parceiros podem ser classificados em três ti-
pos básicos do ponto de vista de um modelo de negócios: 1) aqueles
que podem contribuir com recursos-chave (ex.: associação que tem
um trator, o qual pode ser utilizado para dar manutenção nas pas-
tagens); 2) aqueles que podem contribuir nas atividades-chave (ex.:
o leiteiro que colhe o leite e entrega ao cliente final); 3) aqueles que
podem ajudar a minimizar os custos (ex.: compra de insumos para a
propriedade de forma coletiva, unindo-se a outros produtores e au-
mentando o poder de barganha com os fornecedores). Lembre-se de
que os parceiros são aqueles que podem contribuir estrategicamente
para o seu negócio em todos os aspectos.
E agora chegamos ao último bloco, e o mais minucioso e crítico de
todo o CANVAS o de custos. Nosso passo 9.
Estrutura de Custos – nesse bloco, você, produtor, listará os princi-
pais custos do seu negócio. Aqui devem ser incluídos tanto os custos
da operação (ex.: custos das pastagens) como também os custos de
investimento (ex.: equipamentos, maquinários e outros). Lembre-se
de que os seus dois principais custos serão os de produção/opera-
ção do negócio e os de aquisição de clientes, mais conhecido como
custo de venda! Por exemplo: custo da entrega, custo dos vasilha-
mes para transporte do leite, custo de reposição dos vasilhames, que
têm um prazo de vida útil, entre outros. Também precisamos estimar
os custos de divulgação.
44
Todo modelo de negócios, sus-
tentável ou não, precisa necessa-
riamente gerar ganhos fi nanceiros
para o seu empreendedor. No seu
caso, produtor, esses ganhos fi -
nanceiros podem sustentar todo o
negócio, ou ser uma complemen-
tação de receita para a operação
do negócio, possibilitando uma
renda extra para o custeio da ati-
vidade.
Todo modelo de negócios, sus-
Estrutura de custos
Quais os custos que vou ter?
45
A gestão fi nanceira do seu Modelo de Negócios Sustentável tem um
papel muito importante no sucesso do seu empreendimento. Para que
se conscientize, aos poucos, de sua importância, iremos listar algumas
dicas para aumentar seu sucesso como produtor rural.
Dica 1: Tenha um fl uxo de caixa diário. Importante anotar todos os dias as entradas e saídas de dinheiro, para que não esqueça nos dias seguintes onde foi parar o dinheiro da atividade. Lembre-se de que pequenos gastos como R$5,00 são importantes serem ano-tados, pois de cinco em cinco acumulamos centenas de reais no decorrer de um mês.
Dica 2: Ao longo dos meses, faça uma comparação de tudo que ganhou e gastou no mês anterior, a fim de procurar saber o por-quê dessas diferenças. Tenha sempre em mente que, em razão das sazonalidades de produção e da variação dos preços de venda e dos insumos, os seus custos e receitas podem sofrer acréscimos, e é sempre importante levar isso em consideração para se preparar para tempos difíceis (“vacas magras”).
Movimento do caixa dia 03/11/xx
Histórico Entrada Saída Saldo
Recebido do cliente Eduardo 633,00 633,00
Recebido do leiteiro 532,00 1.165,00
Pagamento ao cerqueiro referente à manutenção
da invernada 600,00 565,00
Recolhido INSS outubro 53,00 512,00
TOTAIS DO DIA 1.165,00 653,00 512,00
SALDO DO DIA ANTERIOR 850,00
SALDO ATUAL 1.362,00
46
Dica 3: Toda propriedade rural deveria ter outros pequenos modelos de negócios para garantir a sustentabilidade do seu negócio rural. Isto é, se você, produtor, tiver uma produção de leite, pense também em, por exemplo, cultivar cana ou abóbora, pois, além de gerar renda com a comercialização, pode servir de alimentação complementar ao gado.
Dica 4: Para obter financiamento, é sempre importante procurar um técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), ou de-senvolver um projeto de viabilidade junto ao SEBRAE, pois eles po-dem orientá-lo na elaboração de uma proposta de financiamento para melhoria da produção do leite.
Dica 5: Para evitar problemas futuros, em tempos de chuva, econo-mize para que na seca consiga sobreviver com uma produção menor. Analise com frequência sua capacidade produtiva. Você vai precisar manter uma boa produtividade para garantir que o dinheiro obtido na venda dos produtos vai ser suficiente para cobrir as despesas.
CONTAS Mês 1 R$ Mês 2 R$
VENDA LEITE 1.500,00 1.650,00
(-) Deduções
IMPOSTO (150,00) (165,00)
PERDAS (200,00 ) (120,00)
VENDA LÍQUIDA 1.150,00 1.365,00
(-) CUSTO DE PRODUÇÃO
MEDICAMENTO P/GADO (180,00) (190,00)
(-) Despesas Opercionais
Vendas (450,00) (550,00)
Administrativas (300,00) (360,00)
Financeiras (50,00) (0,00)
LUCRO/PREJUÍZO OPERACIONAL 170,00 265,00
47
Dica 6: Se você já faz o controle de suas despesas e receitas, o próximo passo é conseguir enxergar o que acontecerá com suas despesas e receitas futuras. Quanto irei receber nos próximos seis meses? Quais são as despesas que preciso realizar na minha pro-dução nos próximos seis meses? O produtor que é capaz de enxer-gar um horizonte de gastos e ganhos para o próximo semestre es-tará mais preparado para lidar com problemas de sustentabilidade fi nanceira do seu negócio.
Dica 7: Procure sempre o SEBRAE para obter apoio nas questões fi nanceiras, de negócio ou de produção. Ele dispõe de materiais e consultores que podem lhe ajudar a melhorar o desempenho do seu negócio rural.
Parabéns, agora você pode montar todo o processo do seu negócio
em uma folha de papel. Agora que já sabe manusear os quadrantes,
vamos preenchê-los?
Segmentos
de Clientes Principais
Parcerias
Estrutura
de Custos
Fontes de
Receitas Canais de
Distribuição
Relacionamentos
com Clientes
Atividades
Chave
Principais
Recursos
Propostas de
Valor
48
Pensando no seu negócio, preencha os passos de um a nove, que
certamente visualizará com mais clareza o seu processo produtivo e
comercial.
Principais parcerias
8
Atividade- chave
7Proposta de valor
1
Relacio-namen-tos com clientes
4
Segmen-tos de
clientes2Principais
recursos6
Canais3
Estrutura de custos9
Fontes de receitas5
Estrutura de custos9
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAUAD, Alexander Machado; SANTOS, Alexandre Magno Brighenti et al. Manual de bovinocultura de leite. Belo Horizonte: SENAR-AR/MG; Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2010. 608 p.
Embrapa Gado de Corte. Sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta: a produção sustentá-vel. Editar técnico Davi José Bungenstab. Campo Grande, MS. 2011. 128 p.
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KLAUCK, Jaqueline Bilibio. Bovinocultura Leiteira no Desenvolvimento Sustentável. Pós Gradua-ção Stricto Sensu em Desenvolvimento - Mestrado, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, jun., 2009.
VEIGA, José Eli. Problemas de transição à agricultura sustentável. Estudos Econômicos, São Pau-lo, v. 24, p. 9-29, 1994. Edição especial.
OSTERWALDER, Alexander; PIGNEUR, Yves. Inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro - RJ: Alta Books, 2011.
50
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SEBRAE-MSCriando Modelo de Negócios Sustentáveis
Prefixo Editorial: 93463Número ISBN: 978-85-93463-00-6Título: Criando modelo de negócios sustentáveis-leiteTipo de Suporte: Papel