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Ministrio da Educao
Instituto Federal de Educao Tecnolgica de So Paulo
LICENCIATURA EM LETRAS
COM HABILITAO EM PORTUGUS
SO PAULO
AGOSTO /2011
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PRESIDENTE DA REPBLICA
Dilma Rousseff
MINISTRO DA EDUCAO
Fernando Haddad
SECRETRIO DE EDUCAO PROFISSIONAL E TECNOLGICA
Eliezer Pacheco
REITOR DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA
DE SO PAULO
Arnaldo Augusto Ciquielo Borges
PR-REITOR DE ENSINO
Lourdes de Ftima Bezerra CarrilPR-REITOR DE ADMINISTRAO E PLANEJAMENTO
Yoshikazu Suzumura Filho
PR-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
Gersoney Tonini Pinto
PR-REITOR DE PESQUISA E INOVAO TECNOLGICA
Joo Sinohara da Silva Sousa
PR-REITOR DE EXTENSO
Garabed KenchianDIRETOR DO CAMPUSSO PAULO
Carlos Alberto Vieira
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NDICE
1.
IDENTIFICAODA INSTITUO.........................................................................5
1.1.
MISSO................................................................................................................6
1.1.1.
HISTRICO INSTITUCIONAL................................................................6
1.1.2.
A Escola de Aprendizes e Artfices de So Paulo.....................................8
1.1.3.
O Liceu Industrial de So Paulo.................................................................9
1.1.4.
A Escola Industrial de So Paulo e a Escola Tcnica de So Paulo.........10
1.1.5.
A Escola Tcnica Federal de So Paulo................................................... 12
1.1.6.
O Centro Federal de Educao Tecnolgica de So Paulo.......................13
1.1.7.
O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de So Paulo..... 14
1.2.
HISTRICO DO CAMPUS.................................................................................17
2.
JUSTIFICATIVA E DEMANDA DE MERCADO ....................................................20
2.1.
Uma universidade pblica na cidade de So Paulo..............................................20
2.2.
A qualidade das faculdades particulares...............................................................23
2.3.
O ensino de letras e a necessidade de superar antigos modelos...........................31
2.4.
O surgimento dos cursos de letras em vrios CEFETs e at em uma UFT..........34
3.
OBJETIVO .................................................................................................................36
3.1.
Objetivo Geral......................................................................................................37
3.2.
Objetivos Especficos...........................................................................................374.
REQUISITO DE ACESSO.........................................................................................39
5.
PERFIL PROFISSIONAL DO EGRESSO.................................................................40
6.
ORGANIZAO CURRICULAR.............................................................................41
6.1.
Estrutura curricular: modelo ................................................................................54
6.2.Dispositivos legais que devem ser considerados na organizao curricular........55
6.3.
Planos de Ensino...................................................................................................56
7.
ESTGIO SUPERVISIONADO...............................................................................145
8.
CRITRIOS DE APROVEITAMENTO DE ESTUDOS.........................................1509. ATENDIMENTO AO DISCENTE...........................................................................151
10.
CRITRIOS DA AVALIAO DA APRENDIZAGEM........................................152
11.
MODELOS DE CERTIFICADOS E DIPLOMAS...................................................153
12.
ATIVIDADES ACADMICO-CIENTFICO-CULTURAIS...................................154
13.
NCLEO DOCENTE ESTRUTURANTE...............................................................156
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14.
RELAO ESPAOS CURRICULARES (DISCIPLINAS)/CORPO DOCENTE.157
15.
CORPO DOCENTE...................................................................................................159
16.
INSTALAES E EQUIPAMENTOS DISPONVEIS NO CAMPUSSO
PAULO.......................................................................................................................160
17.
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................167ANEXO I (ESTRUTURA CURRICULAR)....................................................................168
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1. IDENTIFICAO DA INSTITUIO
NOME:Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de So Paulo
SIGLA:IFSP
CNPJ:10882594/0001-65
NATUREZA JURDICA: Autarquia Federal
VINCULAO: Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica do
Ministrio da Educao (SETEC)
ENDEREO:Rua Pedro Vicente, 625 Canind - So Paulo/Capital
CEP: 01109-010
TELEFONES: (11) 2763-7563 (Reitoria)
FACSMILE: (11) 2763-7650
PGINA INSTITUCIONAL NA INTERNET:http://www.ifsp.edu.br
ENDEREO ELETRNICO: [email protected]
DADOS SIAFI: UG:153026
GESTO:15220
NORMA DE CRIAO: Lei N 11.892 de 29/12/2008
NORMAS QUE ESTABELECERAM A ESTRUTURA
ORGANIZACIONAL ADOTADA NO PERODO: Lei N 11.892 de
29/12/2008
FUNO DE GOVERNO PREDOMINANTE:Educao
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1.2. MISSO
Consolidar uma prxis educativa que contribua para a insero social, a
formao integradora e a produo do conhecimento.
1.3. HISTRICO INSTITUCIONAL
Historicamente, a educao brasileira passa a ser referncia para o
desenvolvimento de projetos econmico-sociais, principalmente, a partir do avano da
industrializao ps-1930.
Nesse contexto, a escola como o lugar da aquisio do conhecimento passa a
ser esperana de uma vida melhor, sobretudo, no avano da urbanizao que se
processa no pas. Apesar de uma oferta reduzida de vagas escolares, nem sempre ainsero do aluno significou a continuidade, marcando a evaso como elemento
destacado das dificuldades de sobrevivncia dentro da dinmica educacional
brasileira, alm de uma precria qualificao profissional.
Na dcada de 1960, a internacionalizao do capital multinacional nos grandes
centros urbanos do Centro-Sul acabou por fomentar a ampliao de vagas para a
escola fundamental. O projeto tinha como princpio bsico fornecer algumas
habilidades necessrias para a expanso do setor produtivo, agora identificado com a
produo de bens deconsumo durveis. Na medida em que a popularizao da escolapblica se fortaleceu, as questes referentes interrupo do processo de escolaridade
tambm se evidenciaram, mesmo porque havia um contexto de estrutura econmica
que, de um lado, apontava para a rapidez do processo produtivo e, por outro, no
assegurava melhorias das condies de vida e nem mesmo indicava mecanismos de
permanncia do estudante, numa perspectiva formativa.
A Lei de Diretrizes de Base da Educao Nacional LDB 5692/71, de certa
maneira, tentou obscurecer esse processo, transformando a escola de nvel
fundamental num primeiro grau de oito anos e criando o segundo grau como definidordo caminho profissionalizao. No que se referia a esse ltimo grau de ensino, a
oferta de vagas no era suficiente para a expanso da escolaridade da classe mdia
que almejava um mecanismo de acesso universidade. Nesse sentido, as vagas no
contemplavam toda a demanda social e o que de fato ocorria era uma excluso das
camadas populares. Em termos educacionais, o perodo caracterizou-se pela
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privatizao do ensino, institucionalizao do ensino pseudo-profissionalizante e
demasiado tecnicismo pedaggico.
Deve-se levar em conta que o modelo educacional brasileiro historicamente
no valorizou a profissionalizao visto que as carreiras de ensino superior que eram
reconhecidas socialmente no mbito profissional. Este fato foi reforado por umaindustrializao dependente e tardia que no desenvolvia segmentos de tecnologia
avanada e, conseqentemente, por um contingente de fora de trabalho que no
requeria seno princpios bsicos de leitura e aritmtica destinados, apenas, aos
setores instalados nos centros urbano-industriais, prioritariamente no Centro-Sul.
A partir da dcada de 1970, entretanto, a ampliao da oferta de vagas em
cursos profissionalizantes apontava um novo estgio da industrializao brasileira ao
mesmo tempo em que privilegiava a educao privada em nvel de terceiro grau.
Mais uma vez, portanto, se colocava o segundo grau numa condiointermediria sem terminalidade profissional e destinado s camadas mais favorecidas
da populao. importante destacar que a presso social por vagas nas escolas, na
dcada de 1980, explicitava essa poltica.
O aprofundamento da insero do Brasil na economia mundial trouxe o
acirramento da busca de oportunidades por parte da classe trabalhadora que via
perderem-se os ganhos anteriores, do ponto de vista da obteno de um posto de
trabalho regular e da escola como formativa para as novas demandas do mercado.
Esse processo se refletiu no desemprego em massa constatado na dcada de 1990,
quando se constitui o grande contingente de trabalhadores na informalidade, a
flexibilizao da economia e a consolidao do neoliberalismo. Acompanharam esse
movimento: a migrao intraurbana, a formao de novas periferias e a precarizao
da estrutura educacional no pas.
As Escolas Tcnicas Federais surgiram num contexto histrico em que a
industrializao sequer havia se consolidado no pas. Entretanto, indicou uma tradio
que formava o artfice para as atividades prioritrias no setor secundrio.
Durante toda a evoluo da economia brasileira e sua vinculao com as
transformaes postas pela Diviso Internacional do Trabalho, essa escola teve
participao marcante e distinguia seus alunos dos demais candidatos, tanto no
mercado de trabalho, quanto na universidade.
Contudo, foi a partir de 1953 que se iniciou um processo de reconhecimento
do ensino profissionalizante como formao adequada para a universidade. Esse
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aspecto foi reiterado em 1959 com a criao das escolas tcnicas e consolidado com a
LDB 4024/61. Nessa perspectiva, at a LDB 9394/96, o ensino tcnico equivalente ao
ensino mdio foi reconhecido como acesso ao ensino superior. Essa situao se rompe
com o Decreto 2208/96 que refutado a partir de 2005 quando se assume novamente
o ensino mdio tcnico integrado.Nesse percurso histrico, pode-se perceber que o IFSP nas suas vrias
caracterizaes (Escolas de Artfices, Escola Tcnica, CEFET e Escolas
Agrotcnicas) assegurou a oferta de trabalhadores qualificados para o mercado, bem
como se transformou numa escola integrada no nvel tcnico, valorizando o ensino
superior e, ao mesmo tempo, oferecendo oportunidades para aqueles que,
injustamente, no conseguiram acompanhar a escolaridade regular.
O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de So Paulo -IFSP foi
institudo pela Lei n 11.892, de 29 de dezembro de 2008, mas, para abordarmos a suacriao, devemos observar como o IF foi construdo historicamente, partindo da
Escola de Aprendizes e Artfices de So Paulo, o Liceu Industrial de So Paulo, a
Escola Industrial de So Paulo e Escola Tcnica de So Paulo, a Escola Tcnica
Federal de So Paulo e o Centro Federal de Educao Tecnolgica de So Paulo.
1.3.1 A ESCOLA DE APRENDIZES E ARTFICES DE SO PAULO
A criao dos atuais Institutos Federais se deu pelo Decreto n 7.566, de 23 de
setembro de 1909, com a denominao de Escola de Aprendizes e Artfices, ento
localizadas nas capitais dos estados existentes, destinando-as a propiciar o ensino
primrio profissional gratuito (FONSECA, 1986). Este decreto representou o marco
inicial das atividades do governo federal no campo do ensino dos ofcios e
determinava que a responsabilidade pela fiscalizao e manuteno das escolas seria
do Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio.
Na Capital do Estado de So Paulo, o incio do funcionamento da escola
ocorreu no dia 24 de fevereiro de 19101, instalada precariamente num barraco
1 A data de 24 de fevereiro a constante na obra de FONSECA (1986).
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improvisado na Avenida Tiradentes, sendo transferida alguns meses depois para as
instalaes no bairro de Santa Ceclia, Rua General Jlio Marcondes Salgado, 234,
l permanecendo at o final de 19752. Os primeiros cursos oferecidos foram de
tornearia, mecnica e eletricidade, alm das oficinas de carpintaria e artes decorativas
(FONSECA, 1986).O contexto industrial da Cidade de So Paulo, provavelmente aliado
competio com o Liceu de Artes e Ofcios, tambm, na Capital do Estado, levou a
adaptao de suas oficinas para o atendimento de exigncias fabris no comuns na
grande maioria das escolas dos outros Estados. Assim, a escola de So Paulo, foi das
poucas que ofereceram desde seu incio de funcionamento os cursos de tornearia,
eletricidade e mecnica e no ofertaram os ofcios de sapateiro e alfaiate comuns nas
demais.
Nova mudana ocorreu com a aprovao do Decreto n 24.558, de 03 de julhode 1934, que expediu outro regulamento para o ensino industrial, transformando a
inspetoria em superintendncia.
1.3.2 O LICEU INDUSTRIAL DE SO PAULO3
O ensino no Brasil passou por uma nova estruturao administrativa e
funcional no ano de 1937, disciplinada pela Lei n 378, de 13 de janeiro, que
regulamentou o recm-denominado Ministrio da Educao e Sade. Na rea
educacional, foi criado o Departamento Nacional da Educao que, por sua vez, foi
estruturado em oito divises de ensino: primrio, industrial, comercial, domstico,
secundrio, superior, extraescolar e educao fsica (Lei n 378, 1937).
A nova denominao, de Liceu Industrial de So Paulo, perdurou at o ano de
1942, quando o Presidente Getlio Vargas, j em sua terceira gesto no governo
federal (10 de novembro de 1937 a 29 de outubro de 1945), baixou o Decreto-Lei n
2A respeito da localizao da escola, foram encontrados indcios nos pronturio funcionais de dois de seusex-diretores, de que teria, tambm, ocupado instalaes da atual Avenida Brigadeiro Luis Antonio, nacidade de So Paulo.
3Apesar da Lei n 378 determinar que as Escolas de Aprendizes Artfices seriam transformadas em Liceus,na documentao encontrada no CEFET-SP o nome encontrado foi o de Liceu Industrial, conformeverificamos no Anexo II.
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4.073, de 30 de janeiro, definindo a Lei Orgnica do Ensino Industrial que preparou
novas mudanas para o ensino profissional.
1.3.3 A ESCOLA INDUSTRIAL DE SO PAULO E A ESCOLA TCNICA DE
SO PAULO
Em 30 de janeiro de 1942, foi baixado o Decreto-Lei n 4.073, introduzindo a
Lei Orgnica do Ensino Industrial e implicando a deciso governamental de realizar
profundas alteraes na organizao do ensino tcnico. Foi a partir dessa reforma que
o ensino tcnico industrial passou a ser organizado como um sistema, passando a
fazer parte dos cursos reconhecidos pelo Ministrio da Educao (MATIAS, 2004).
Esta norma legal foi, juntamente com as Leis Orgnicas do Ensino Comercial
(1943) e Ensino Agrcola (1946), a responsvel pela organizao da educao decarter profissional no pas. Neste quadro, tambm conhecido como Reforma
Capanema, o Decreto-Lei 4.073, traria unidade de organizao em todo territrio
nacional. At ento, a Unio se limitara, apenas a regulamentar as escolas federais,
enquanto as demais, estaduais, municipais ou particulares regiam-se pelas prprias
normas ou, conforme os casos, obedeciam a uma regulamentao de carter regional
(FONSECA, 1986).
No momento em que o Decreto-Lei n 4.073, de 1942 passava a considerar a
classificao das escolas em tcnicas, industriais, artesanais ou de aprendizagem,
estava criada uma nova situao indutora de adaptaes das instituies de ensino
profissional e, por conta dessa necessidade de adaptao, foram se seguindo outras
determinaes definidas por disposies transitrias para a execuo do disposto na
Lei Orgnica.
A primeira disposio foi enunciada pelo Decreto-Lei n 8.673, de 03 de
fevereiro de 1942, que regulamentava o Quadro dos Cursos do Ensino Industrial,
esclarecendo aspectos diversos dos cursos industriais, dos cursos de mestria e,
tambm, dos cursos tcnicos. A segunda, pelo Decreto 4.119, de 21 de fevereiro de
1942, determinava que os estabelecimentos federais de ensino industrial passariam
categoria de escolas tcnicas ou de escolas industriais e definia, ainda, prazo at 31 de
dezembro daquele ano para a adaptao aos preceitos fixados pela Lei Orgnica.
Pouco depois, era a vez do Decreto-Lei n 4.127, assinado em 25 de fevereiro de
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1942, que estabelecia as bases de organizao da rede federal de estabelecimentos de
ensino industrial, instituindo as escolas tcnicas e as industriais (FONSECA, 1986).
Foi por conta desse ltimo Decreto, de nmero 4.127, que se deu a criao da
Escola Tcnica de So Paulo, visando oferta de cursos tcnicos e os cursos
pedaggicos, sendo eles das esferas industriais e de mestria, desde que compatveiscom as suas instalaes disponveis, embora ainda no autorizada a funcionar.
Institua, tambm, que o incio do funcionamento da Escola Tcnica de So Paulo
estaria condicionado construo de novas e prprias instalaes, mantendo-a na
situao de Escola Industrial de So Paulo enquanto no se concretizassem tais
condies.
Ainda quanto ao aspecto de funcionamento dos cursos considerados tcnicos,
preciso mencionar que, pelo Decreto n 20.593, de 14 de Fevereiro de 1946, a escola
paulista recebeu autorizao para implantar o Curso de Construo de Mquinas eMotores. Outro Decreto de n 21.609, de 12 de agosto 1946, autorizou o
funcionamento de outro curso tcnico, o de Pontes e Estradas.
Retornando questo das diversas denominaes do IFSP, apuramos em
material documental a existncia de meno ao nome de Escola Industrial de So
Paulo em raros documentos. Nessa pesquisa, observa-se que a Escola Industrial de
So Paulo foi a nica transformada em Escola Tcnica. As referncias aos processos
de transformao da Escola Industrial em Escola Tcnica apontam que a primeira
teria funcionado na Avenida Brigadeiro Lus Antnio, fato desconhecido pelos
pesquisadores da histria do IFSP (PINTO, 2008).
Tambm na condio de Escola Tcnica de So Paulo, desta feita no governo
do Presidente Juscelino Kubitschek (31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961),
foi baixado outro marco legal importante da Instituio. Trata-se da Lei n 3.552, de
16 de fevereiro de 1959, que determinou sua transformao em entidade autrquica4.
A mesma legislao, embora de maneira tpica, concedeu maior abertura para a
participao dos servidores na conduo das polticas administrativa e pedaggica da
escola.
Importncia adicional para o modelo de gesto proposto pela Lei 3.552, foi
definida pelo Decreto n 52.826, de 14 de novembro de 1963, do presidente Joo
4Segundo Meirelles (1994, p. 62 63), apud Barros Neto (2004), Entidades autrquicas so pessoasjurdicas de Direito Pblico, de natureza meramente administrativa, criadas por lei especfica, para arealizao de atividades, obras ou servios descentralizados da entidade estatal que as criou.
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Goulart (24 de janeiro de 1963 a 31 de marco de 1964), que autorizou a existncia de
entidades representativas discentes nas escolas federais, sendo o presidente da
entidade eleito por escrutnio secreto e facultada sua participao nos Conselhos
Escolares, embora sem direito a voto.
Quanto localizao da escola, dados do conta de que a ocupao deespaos, durante a existncia da escola com as denominaes de Escola de
Aprendizes Artfices, Liceu Industrial de So Paulo, Escola Industrial de So Paulo e
Escola Tcnica de So Paulo, ocorreram exclusivamente na Avenida Tiradentes, no
incio das atividades, e na Rua General Jlio Marcondes Salgado, posteriormente.
1.3.4 A ESCOLA TCNICA FEDERAL DE SO PAULO
A denominao de Escola Tcnica Federal surgiu logo no segundo ano dogoverno militar, por ato do Presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
(15 de abril de 1964 a 15 de maro de 1967), incluindo pela primeira vez a expresso
federal em seu nome e, desta maneira, tornando clara sua vinculao direta Unio.
Essa alterao foi disciplinada pela aprovao da Lei n. 4.759, de 20 de
agosto de 1965, que abrangeu todas as escolas tcnicas e instituies de nvel superior
do sistema federal.
No ano de 1971, foi celebrado o Acordo Internacional entre a Unio e o Banco
Internacional de Reconstruo e Desenvolvimento - BIRD, cuja proposta era a criao
de Centros de Engenharia de Operao, um deles junto escola paulista. Embora no
autorizado o funcionamento do referido Centro, a Escola Tcnica Federal de So
Paulo ETFSP acabou recebendo mquinas e outros equipamentos por conta do
acordo.
Ainda, com base no mesmo documento, o destaque e o reconhecimento da
ETFSP iniciou-se com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB n.
5.692/71, possibilitando a formao de tcnicos com os cursos integrados, (mdio e
tcnico), cuja carga horria, para os quatro anos, era em mdia de 4.500 horas/aula.
Foi na condio de ETFSP que ocorreu, no dia 23 de setembro de 1976, a
mudana para as novas instalaes no Bairro do Canind, na Rua Pedro Vicente, 625.
Essa sede ocupava uma rea de 60 mil m, dos quais 15 mil m construdos e 25 mil
m projetados para outras construes.
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medida que a escola ganhava novas condies, outras ocupaes surgiram
no mundo do trabalho e outros cursos foram criados. Dessa forma, foram
implementados os cursos tcnicos de Eletrotcnica (1965), de Eletrnica e
Telecomunicaes (1977) e de Processamento de Dados (1978) que se somaram aos
de Edificaes e Mecnica, j oferecidos.No ano de 1986, pela primeira vez, aps 23 anos de interveno militar,
professores, servidores administrativos e alunos participaram diretamente da escolha
do diretor, mediante a realizao de eleies. Com a finalizao do processo eleitoral,
os trs candidatos mais votados, de um total de seis que concorreram, compuseram a
lista trplice encaminhada ao Ministrio da Educao para a definio daquele que
seria nomeado.
Foi na primeira gesto eleita (Prof. Antonio Soares Cervila) que houve o incio
da expanso das unidades descentralizadas - UNEDs da escola, com a criao, em1987, da primeira do pas, no municpio de Cubato. A segunda UNED do Estado de
So Paulo principiou seu funcionamento no ano de 1996, na cidade de Sertozinho,
com a oferta de cursos preparatrios e, posteriormente, ainda no mesmo ano, as
primeiras turmas do Curso Tcnico de Mecnica, desenvolvido de forma integrada ao
ensino mdio.
1.3.5 O CENTRO FEDERAL DE EDUCAO TECNOLGICA DE SO PAULO
No primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o
financiamento da ampliao e reforma de prdios escolares, aquisio de
equipamentos, e capacitao de servidores, no caso das instituies federais, passou a
ser realizado com recursos do Programa de Expanso da Educao Profissional -
PROEP (MATIAS, 2004).
Por fora de um decreto sem nmero, de 18 de janeiro de 1999, baixado pelo
Presidente Fernando Henrique Cardoso (segundo mandato de 01 de janeiro de 1999 a
01 de janeiro de 2003), se oficializou a mudana de denominao para CEFET- SP.
Igualmente, a obteno do statusde CEFET propiciou a entrada da Escola no
oferecimento de cursos de graduao, em especial, na Unidade de So Paulo, onde, no
perodo compreendido entre 2000 a 2008, foi ofertada a formao de tecnlogos na
rea da Indstria e de Servios, Licenciaturas e Engenharias.
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Desta maneira, as peculiaridades da pequena escola criada h quase um sculo
e cuja memria estrutura sua cultura organizacional, majoritariamente, desenhada
pelos servidores da Unidade So Paulo, foi sendo, nessa dcada, alterada por fora da
criao de novas unidades, acarretando a abertura de novas oportunidades na atuao
educacional e discusso quanto aos objetivos de sua funo social.A obrigatoriedade do foco na busca da perfeita sintonia entre os valores e
possibilidades da Instituio foi impulsionada para atender s demandas da sociedade
em cada localidade onde se inaugurava uma Unidade de Ensino, levando
necessidade de flexibilizao da gesto escolar e construo de novos mecanismos de
atuao.
1.3.6 - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA DE
SO PAULO
O Brasil vem experimentando, nos ltimos anos, um crescimento consistente
de sua economia, o que demanda da sociedade uma populao com nveis crescentes
de escolaridade, educao bsica de qualidade e profissionalizao. A sociedade
comea a reconhecer o valor da educao profissional, sendo patente a sua vinculao
ao desenvolvimento econmico.
Um dos propulsores do avano econmico a indstria que, para continuar
crescendo, necessita de pessoal altamente qualificado: engenheiros, tecnlogos e,
principalmente, tcnicos de nvel mdio. O setor primrio tem se modernizado,
demandando profissionais para manter a produtividade. Essa tendncia se observa
tambm no setor de servios, com o aprimoramento da informtica e das tecnologias
de comunicao, bem como a expanso do segmento ligado ao turismo.
Se de um lado temos uma crescente demanda por professores e profissionais
qualificados, por outro temos uma populao que foi historicamente esquecida no que
diz respeito ao direito a educao de qualidade e que no teve oportunidade de
formao para o trabalho.
Considerando-se, portanto, essa grande necessidade pela formao
profissional de qualidade por parte dos alunos oriundos do ensino mdio,
especialmente nas classes populares, aliada proporcional baixa oferta de cursos
superiores pblicos no Estado de So Paulo, o IFSP desempenha um relevante papel
na formao de tcnicos, tecnlogos, engenheiros, professores, especialistas, mestres
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e doutores, alm da correo de escolaridade regular por meio do PROEJA e PROEJA
FIC.
A oferta de cursos est sempre em sintonia com os arranjos produtivos,
culturais e educacionais, de mbito local e regional. O dimensionamento dos cursos
privilegia, assim, a oferta daqueles tcnicos e de graduaes nas reas delicenciaturas, engenharias e tecnologias.
Alm da oferta de cursos tcnicos e superiores, o IFSP atua na formao
inicial e continuada de trabalhadores, bem como na ps-graduao e pesquisa
tecnolgica. Avana no enriquecimento da cultura, do empreendedorismo e
cooperativismo, e no desenvolvimento socioeconmico da regio de influncia de
cada campus, da pesquisa aplicada destinada elevao do potencial das atividades
produtivas locais e da democratizao do conhecimento comunidade em todas as
suas representaes.A Educao Cientfica e Tecnolgica ministrada pelo IFSP entendida como
um conjunto de aes que buscam articular os princpios e aplicaes cientficas dos
conhecimentos tecnolgicos cincia, tcnica, cultura e s atividades produtivas.
Este tipo de formao imprescindvel para o desenvolvimento social da nao, sem
perder de vista os interesses das comunidades locais e suas inseres no mundo cada
vez mais definido pelos conhecimentos tecnolgicos, integrando o saber e o fazer por
meio de uma reflexo crtica das atividades da sociedade atual, em que novos valores
reestruturam o ser humano.
Assim, a educao exercida no IFSP no est restrita a uma formao
meramente profissional, mas contribui para a iniciao na cincia, nas tecnologias,
nas artes e na promoo de instrumentos que levem reflexo sobre o mundo.
Atualmente, o IFSP conta com 23 campi e 3 campiavanados, sendo que o
primeiro campus o de So Paulo, cujo histrico j foi relatado neste panorama.
Relao doscampido IFSP
Campus Autorizao de FuncionamentoInicio das
Atividades
So Paulo Decreto n. 7.566, de 23/09/1909 24/02/1910
Cubato Portaria Ministerial n. 158, de
12/03/198701/04/1987
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Sertozinho Portaria Ministerial n. 403, de
30/04/199601/1996
Guarulhos Portaria Ministerial n. 2.113, de
06/06/200613/02/2006
So Joo da BoaVista
Portaria Ministerial n. 1.715, de20/12/2006
02/01/2007
Caraguatatuba Portaria Ministerial n. 1.714, de
20/12/200612/02/2007
Bragana Paulista Portaria Ministerial n. 1.712, de
20/12/200630/07/2007
Salto Portaria Ministerial n. 1.713, de
20/12/200602/08/2007
So Carlos Portaria Ministerial n. 1.008, de
29/10/200701/08/2008
So Roque Portaria Ministerial n. 710, de
09/06/200811/08/2008
Campos do Jordo Portaria Ministerial n. 116, de
29/01/201002/2009
Birigui Portaria Ministerial n. 116, de
29/01/20102 semestre de 2010
Piracicaba Portaria Ministerial n. 104, de
29/01/20102 semestre de 2010
Itapetininga Portaria Ministerial n. 127, de
29/01/20102 semestre de 2010
Catanduva Portaria Ministerial n. 120, de
29/01/20102 semestre de 2010
Araraquara Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/2010
2 semestre de 2010
Suzano Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20102 semestre de 2010
Barretos Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20102 semestre de 2010
Boituva Resoluo do Conselho Superior n 28, 2 semestre de 2010
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(campus avanado) de 23/12/09
Capivari
(campus avanado)
Resoluo do Conselho Superior n 30,
de 23/12/092 semestre de 2010
Mato
(campus avanado)
Resoluo do Conselho Superior n 29,
de 23/12/092 semestre de 2010
Avar Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20101 semestre de 2011
Hortolndia Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20101 semestre de 2011
Registro Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20101 semestre de 2011
Votuporanga Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/2010 1 semestre de 2011
Presidente Epitcio Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20101 semestre de 2011
Campinas Portaria Ministerial n. 1.170, de
21/09/20101 semestre de 2011
1.4 HISTRICO INSTITUCIONAL
O Campus So Paulo tem sua histria intimamente relacionada do prprio
IFSP por ter sido a primeira das escolas deste sistema educacional a entrar em
funcionamento. Localizado na Rua Pedro Vicente, 625, no Bairro do Canind, alm
do desenvolvimento das atividades educacionais, abriga a sede da Reitoria da
Instituio.
Seu funcionamento decorreu do Decreto n. 7.566, de 23 de setembro de 1909,
que criou as Escolas de Aprendizes Artfices e que, com o tempo, compuseram a Rede
de Escolas Federais de Ensino Tcnico Profissional. O incio efetivo de suas
atividades ocorreu no ano de 1910 e, em sua trajetria, foram vrias as denominaes,
mantendo, entretanto, a condio de escola pblica vinculada Unio e, tambm, o
prestgio junto sociedade paulistana.
Nos primeiros meses de 1910, a escola funcionou provisoriamente em um
galpo instalado na Avenida Tiradentes, no Bairro da Luz, sendo transferida no
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mesmo ano para o bairro de Santa Ceclia, na Rua General Jlio Marcondes Salgado,
onde permaneceu at a mudana definitiva para o endereo atual, no ano de 1976. Os
primeiros cursos foram de Tornearia, Mecnica e Eletricidade, alm das oficinas de
Carpintaria e Artes Decorativas, sendo o corpo discente composto de quase uma
centena de aprendizes.A partir de 1965, a escola passou a ser Escola Tcnica Federal de So Paulo e,
em 1999, a Centro Federal de Educao Tecnolgica de So Paulo. Como CEFET-SP,
ampliou as suas possibilidades de atuao e seus objetivos oferecendo cursos
superiores na Unidade Sede So Paulo, e, entre 2000 e 2008, foram implementados
diversos cursos voltados formao de tecnlogos na rea da Indstria e de Servios,
Licenciaturas e Engenharias.
Transformado o CEFETSP em IFSP, no final de 2008, a antiga Unidade Sede
inicia uma nova fase de sua histria. Como o maior campus do Instituto, a escolaprivilegia a oferta de vrias modalidades e nveis de formao, de cursos tcnicos de
nvel mdio a licenciaturas, graduaes na rea tecnolgica e ps-graduaes.
O campusSo Paulo atua nos segmentos de Turismo, Mecnica, Informtica,
Eltrica, Eletrnica e Construo Civil; oferece as licenciaturas em Fsica, Geografia,
Qumica, Matemtica e Cincias Biolgicas; as engenharias em Construo Civil,
Automao e Produo Mecnica; os cursos de especializao lato sensu em
Educao Profissional Integrada Educao Bsica na Modalidade de Educao de
Jovens e Adultos, em Planejamento e Gesto de Empreendimentos na Construo
Civil, em Formao de Professores com nfase no Ensino Superior, em Tecnologias e
Operaes em Infraestrutura da Construo Civil, em Controle e Automao, em
Projeto e Tecnologia do Ambiente Construdo, em Aeroportos - Projeto e Construo
e o Programa de Mestrado Profissionalizante em Automao e Controle de Processos.
Alm dos cursos superiores, o campus oferta cursos profissionalizantes de
nvel mdio integrado voltado para a rea de Educao Tecnolgica, e ainda o
PROEJA, ensino de nvel mdio integrado formao de Tcnico em Qualidade.
Dessa maneira, as peculiaridades da pequena escola, criada h pouco mais de
um sculo e cuja memria estrutura sua cultura organizacional, vem sendo alteradas
nos ltimos anos por uma proposta que pretende articular cada vez mais a formao
de profissionais e a transformao da sociedade.
Como centro criador de cincia e tecnologia e com a vasta experincia e
competncia acumuladas em sua extensa trajetria, o IFSP tem capacidade para
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proporcionar aos seus estudantes uma viso crtica do conjunto do sistema e do
processo produtivo e para contribuir com a educao brasileira de modo a desvincul-
la dos instrumentos de dominao prprios ao mundo globalizado, praticando a
Educao como efetivo fator de desenvolvimento humano e social.
Em 2010, o campus So Paulo realizou, pela primeira vez, eleies diretaspara Diretor-Geral, com a participao de professores, estudantes e tcnicos
administrativos, sendo eleito o Prof. Carlos Alberto Vieira.
Rumo ao avano em suas metas, em 01/09/2010 o IFSP iniciou o programa
PROEJA-FIC pelo oferecimento do curso de Pintura em Paredes de Alvenaria, com
durao de dois anos e do qual participam os municpios de Osasco, Francisco
Morato, Itapevi e So Bernardo do Campo.
O espao fsico do campus So Paulo abriga dezesseis laboratrios de
Informtica, dois laboratrios de Geografia, um laboratrio de Turismo, seislaboratrios de Fsica, treze laboratrios de Mecnica, nove laboratrios de Eltrica,
seis laboratrios de Eletrnica e Telecomunicaes e dez laboratrios de Construo
Civil, e turmas de outros cursos podem beneficiar-se da utilizao destes espaos.
A estrutura fsica do campus So Paulo abriga espaos administrativos e de
uso acadmico dedicados ao atendimento de estudantes e servidores, e mais quatro
salas de redao, duas salas de desenho, trs salas de projeo, sessenta salas de aulas
tradicionais, trs auditrios para 180, 130 e 80 pessoas e uma biblioteca, alm de
ambientes apropriados para a prtica da educao fsica e desportos, como uma pista
de atletismo, um campo de futebol gramado, um campo de futebol de areia, quatro
quadras poliesportivas, uma sala para condicionamento fsico e dois vestirios.
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2. JUSTIFICATIVA E DEMANDA DE MERCADO
O curso de Licenciatura em Letras, com habilitao em Portugus, elaborado
pela equipe de professores da rea de Cdigos e Linguagens, partiu de um sonho
antigo de oferecer cidade de So Paulo um curso de Formao de Professores, que
refletisse o nvel de qualidade que perseguimos, quando ministramos aulas em cursos
de outras reas do conhecimento, de diferentes nveis e modalidades de ensino no
IFSP. Alm, no s das diversas disciplinas-projeto criadas pela rea, um dos grandes
diferenciais do antigo Curso Mdio na Instituio, como tambm das prticas do
antigo e do novo integrado.
Embora haja um nmero razovel de cursos de Letras na cidade de So Paulo
na esfera privada, apenas um pblico e raros partem da experincia de sala de aula
para construir um modelo que oferea formao adequada e competente. Portanto, ostrs motivos fundamentais que permitem o campus So Paulo implementar a
Licenciatura em Letras so:
h apenas uma universidade pblica na cidade de So Paulo;
a qualidade da maioria das faculdades particulares na cidade de So Paulo
duvidosa;
a rea desenvolveu uma proposta que procura superar o modelo adotado pelas
universidades (3+1).
2.1. Uma universidade pblica na cidade de So Paulo
O primeiro tpico que embasa a justificativa da oferta do curso de
Licenciatura em Letras no IF-SP a escassez de universidades pblicas em So Paulo.
De acordo com a tabela 1.1 da Sinopse Estatstica da Educao Superior de 2007,
elaborada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio
Teixeira INEP, o Estado de So Paulo conta com 8 universidades pblicas -
distribudas em 3 federais, 3 estaduais e 2 municipais para atender a maior
concentrao de populao do pas, mais exatamente, 39,8 milhes de habitantes, ou
seja, 21,6% da populao brasileira (183,9 milhes). O Rio de Janeiro, que responde
por 8,3% dos brasileiros, ou seja, 15,4 milhes de pessoas, possui 6 universidades
pblicas 4 federais e 2 estaduais.
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A situao, que no favorvel, torna-se dramtica, quando comparamos os
dados das capitais. De acordo com o IBGE, a populao do municpio de So Paulo
de 10,8 milhes de habitantes e conta com 1 universidade federal e 2 estaduais. A
cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, possui 6,1 milhes e 2 universidades federais e
1 estadual. Em outras palavras, a cidade de So Paulo tem quase o dobro dapopulao do Rio de Janeiro e possui o mesmo nmero de universidades.
Alm disso, h elementos agravantes, quando se estuda o nmero de vagas
ofertadas em Licenciatura em Letras nas universidades pblicas da cidade de So
Paulo. A Universidade de So Paulo (USP), fundada em 1934, tem seu principal
campus situado no bairro do Butant, regio oeste da cidade e oferece cursos de
graduao, ps-graduao, extenso e pesquisa nas reas de cincias exatas,
biolgicas e humanas, inclusive em Letras-Portugus. Por outro lado, a Universidade
Federal de So Paulo, (Unifesp), destaca-se na rea da sade, seu campus localizadona Vila Clementino, regio centro-sul disponibiliza cursos de Medicina, Enfermagem,
Cincias Biomdicas, Fonoaudiologia e Tecnologia Oftlmica; porm nenhum na rea
de Letras. Por sua vez, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), criada em 1976,
possui campi por vrias cidades do estado, mas na capital concentra apenas a reitoria
e o Instituto de Artes, localizado na Barra Funda, regio oeste, ou seja, nenhum curso
vinculado a Letras.
Diante da distoro histrica na cidade de So Paulo, convm sublinhar que a
USP foi sensvel ao problema e abriu, em 30 de agosto de 2004, 1.020 vagas na zona
leste, mais precisamente, em Ermelindo Matarazzo, uma das regies mais populosas
da cidade de So Paulo. Contudo, dentre os cursos criados Gesto de Polticas
Pblicas, Tecnologia Txtil e Indumentria, Lazer e Turismo, Gesto Ambiental,
Gerontologia, Marketing e outros no destinou nenhum para formao de
professores na rea de Letras.
Disto decorre que, atualmente, apenas a Universidade de So Paulo (USP)
oferece o curso de Bacharel em Letras. De acordo com o Manual do Candidato
FUVEST 2010, so disponibilizadas 422 vagas no perodo matutino e 427 no noturno,
distribudas da seguinte maneira: Bacharelado em Letras (8 semestres), com
habilitaes em: Portugus; Lingustica; Grego; Latim; Ingls; Espanhol; Francs;
Alemo; Italiano; rabe; Armnio; Chins; Hebraico; Japons; Russo; Portugus e
Lingustica; Portugus e Grego, Portugus e Latim. Bacharelado com dupla
habilitao em Letras Modernas (10 semestres), em: Portugus e Ingls; Portugus e
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Espanhol; Portugus e Francs; Portugus e Alemo; Portugus e Italiano; Portugus
e rabe; Portugus e Armnio; Portugus e Chins, Portugus e Hebraico, Portugus
e Japons; Portugus e Russo.
Se considerarmos que metade dos estudantes opte por um curso mais longo
(10 semestres), mas que lhe garanta dupla habilitao, chegaremos ao nmero de 211(matutino) e 214 (noturno) de bacharis em Letras com habilitao em Portugus e
outra lngua moderna. Se considerarmos, ainda, que a outra metade se distribua
igualmente pelas 15 habilitaes, concluiremos que podemos somar mais 14
(matutino) e 15 (noturno) bacharis em Letras com habilitao em Portugus, o que
perfaz um total de 454 vagas de Bacharelado em Letras com habilitao em
Portugus, ofertados por uma universidade pblica na cidade de So Paulo. Antes de
concluir o raciocnio, convm assinalar que parte dos bacharis no faz Licenciatura,
optando por reas cujos salrios so mais atrativos do que o de professor, tornando-se,por exemplo, revisores, editores, relatores em assembleias legislativas, secretrios em
multinacionais, entre outros, o que equivale dizer que o nmero de professores de
Portugus formados nas dependncias da universidade pblica em So Paulo
bastante inexpressivo, se consideramos a dimenso da cidade e de seu entorno, j que,
segundo os dados da Prefeitura Municipal de So Paulo, a regio metropolitana,
composta por 38 municpios, concentra aproximadamente 19 milhes de habitantes.
Outrossim, o fato de a Universidade de So Paulo ficar na zona oeste da
cidade no um dado secundrio na vida do estudante trabalhador. Como todos
sabem, a evaso pode ocorrer por vrios motivos, quer os circunscritos esfera
pessoal, quer os relacionados ao processo educacional anterior. Dentre os motivos
relacionados esfera pessoal, destacam-se: trabalho, transferncia de domiclio e
dvidas no momento da escolha da profisso; porm, na cidade de So Paulo, o que
ganha vulto a distncia entre residncia, trabalho e faculdade. Muitos estudantes
dividem o tempo entre a faculdade e o trabalho, e acabam sendo vencidos pelo
cansao, optando pelo abandono dos estudos; outros so pressionados pela distncia
entre a moradia e a faculdade, bem como pelos custos adicionais com transporte e
alimentao. Esse motivo, quando no termina em evaso, provoca baixo rendimento
escolar, uma vez que boa parte do tempo consumida no transporte.
Nesse quesito, o IFSP ocupa posio invejvel. Atendido pelo meio de
transporte mais rpido da cidade, o Instituto dista duas quadras das estaes do metr:
Armnia e Tiet. Alm disso, o Instituto fica prximo da Rodoviria Tiet, que liga o
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municpio a outros do Estado, bem como a outros Estados. Logo a localizao do
Instituto garante atender toda a regio norte da cidade e outras cidades prximas,
como Diadema, Santo Andr, So Bernardo, So Caetano, Osasco, Barueri,
Carapicuba, Jandira, Itapevi, Caieiras, Cajamar, Guarulhos, Suzano, entre outros.
Portanto, considerando a relao de 5,225
candidatos por vaga, conformeestatsticas da FUVEST em 2009; considerando que os candidatos, aps enfrentarem
concorrncia muito forte no vestibular para poder cursar esta universidade pblica de
qualidade, acabam ficando fora da lista de aprovados, sem alternativa a no ser
ingressar em faculdades particulares cuja qualidade, com raras excees, duvidosa;
considerando que os ingressantes na nica universidade pblica correm o risco de
desistir da vaga, dada a distncia; considerando a falta de equipamentos tanto na
esfera federal quanto na municipal, uma vez que a UNIFESP oferece cursos
predominantemente na rea da Sade e o municpio no oferece nenhum;considerando, ainda, a centralidade da capital paulista, estamos certos de que a
abertura de um curso de Letras-Portugus no IF-SP corrigir uma distoro antiga,
atender parcela significativa da populao que habita a regio Norte da cidade e os
municpios limtrofes, e colaborar para a incluso e permanncia de estudantes
trabalhadores.
2.2. A qualidade das faculdades particulares
O PDI do IF-SP, ao tratar da criao das Licenciaturas, toca num dos pontos
nevrlgicos da formao de professores no pas:
Os cursos de licenciaturas passaram a ser oferecidos pelo IFSP a partirdos Decretos n. 3.276, de 06/12/1999, e n. 3.462, de 17/05/2000,visando atender a demandas da sociedade brasileira pela formaode professores de Educao Bsica em instituies pblicas. Sabe-se que, hoje, cerca de 95% das licenciaturas so oferecidas pelasinstituies privadas, que tratam tal formao no plano damercadoria. 6
5http://www.fuvest.br/estat/insreg.stm?anofuv=2009, acesso em 22/06/2010.6Em 5 de julho de 2010, digitou-se no Google a expresso ensino como mercadoria. O resultado foi
uma profuso de textos concernentes ao problema, o que assustador. Com frequncia eram feitascrticas contundentes ao ensino privado. significativo, entre outros, o texto de Lus Arajo, ex-
presidente do INEP, Cada vez mais o ensino uma mercadoria (de 9/11/2008), sobre o crescimentoda participao da rede privada no nmero de matrculas. Tambm foi relevante o movimento mineiroEducao no mercadoria, que aconteceu na Assemblia Legislativa de Minas Gerais e se
posicionou criticamente contra a atuao muito discreta do MEC em relao proliferao deinstituies pouco srias, o que foi ento considerado um crime de lesa-ptria. (Cf. Campanha
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A situao em So Paulo no difere da do resto do pas, uma vez que a nica
universidade pblica (USP) na cidade de So Paulo no consegue minimizar os
resultados desalentadores da formao de professores oferecida majoritariamente pelo
setor privado. No recente exame de avaliao preparado pela UNESP e aplicado em
dezembro de 2009, 181 mil docentes temporrios participaram, no entanto, cerca de88 mil no alcanaram a nota mnima para lecionar. Os resultados do ltimo concurso
de ingresso para o magistrio pblico so to desalentadores quanto os do exame de
avaliao. Dos 261 mil inscritos, apenas 22,8% conseguiram obter a nota mnima de
aprovao. Os dados revelam a situao das licenciaturas no estado: Ingls teve
43,6% dos candidatos aprovados; Biologia, 20,4%; Histria, 23,4%; Geografia,
32,3%; Qumica, 33,2%; Artes, 18%; Lngua Portuguesa, 18,1%7.
Os dados permitem aquilatar a qualidade dos cursos de Licenciatura
oferecidos em So Paulo e impem rigorosa seleo para captar os profissionais maiscapazes. No caso do concurso pblico, todos os aprovados devem passar por uma
Escola de Formao de Professores, entre agosto e novembro, e, depois, se
educao no mercadoria em Minas, de 5/7/2007). Ainda mais alarmante o texto Quando oensino uma mercadoria, que mostra que em 1960 havia 350 instituies de ensino superior no Brasil,das quais 247 pblicas. Em 1980, o total passou para 882, mas o nmero de pblicas caiu para 200. Em1990, das 1097 existentes, s 192 eram pblicas. Hoje, mesmo com o crescimento das vagas nasfederais nos ltimos anos, o nmero das particulares (e deve-se falar no daquelas que ao longo dosanos tm mostrado qualidade de sobra e hoje sofrem com uma concorrncia deletria) to grande que
os resultados de reverso de tal desequilbrio s podero ocorrer se houver um empenho ainda maior,com o no conformismo ante crescimentos pequenos como os do IDEB, que podem iludir-nos emrelao ao que tem que ser feito realmente no que diz respeito ao ensino brasileiro. Hlio Duque, emEducao no mercadoria, de 27/9/2009, revela que a Universidade Anhanguera passou demodestos 240 alunos em 1994 para 140.000 em 2009. Tal instituio tem o intuito de chegar a 500.000alunos. No por acaso a Laureate International Universities investiu R$ 1 bilho e j o quarto maiorgrupo educacional superior do pas. As duas maiores universidades do pas (A Paulista e a Estcio deS) j se aproximam da casa de 200 mil alunos. So nmeros impressionantes. Mas s impressionantes
por aquilo que se traduzem em cifras, pois difcil avaliar qual contribuio tais instituies temlegado cincia, filosofia, tecnologia, s artes do pas.
7.http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100527/not_imp557314,0.php, acesso em 30 de maio de2010.
Tais nmeros revelam que a Licenciatura em Lngua Portuguesa de urgncia ainda mais necessria eessencial, sob certo ponto de vista, j que a preparao dos professores de tal rea tem-se revelado
muito problemtica. Traduzindo, menos de um quinto dos formados pode atuar de forma minimamentecondizente. Basta comparar com Qumica ou Geografia, setores em que pelo menos um tero dosformados tem preparao satisfatria. Se isso pouco, e de fato , todavia mais preocupante ainda oque acontece em lngua verncula. Ou seja, pode haver comunicao com tal estado de domnio dalinguagem, mas qual a compreenso que de fato se tem do mundo, das relaes de poder, dacompreenso dialgica. Ou seja, como se pode exercer uma cidadania plena, se aqueles que soresponsveis para desdobrar e revelar certas camadas deste tesouro que a lngua e seus documentosno esto aptos para exercer a funo que lhes atribuda? A linguagem para alunos formados
precariamente torna-se arcano, privilgio para poucos, fonte de dominao, atraso na esfera produtiva,tecido de violncia para o indivduo que no entende o seu papel e o papel da do mundo comorepresentao.
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submetero a um novo exame, e somente os que forem aprovados lecionaro na rede
em 2011.
Para equacionar a situao, a imprensa paulista v duas estratgias
complementares:
A primeira de alada do governo estadual e consiste em investir naformao continuada do professorado, como prev a lei queobriga os docentes da rede escolar estadual a cursar uma Escolade Formao, antes de assumir uma sala de aula, e que autoriza ogoverno a conceder bolsas de estmulo para o professor que fizercursos de especializao e atingir metas prefixadas. A segundaestratgia de alada da Unio e consiste em cobrar mais rigordos cursos de licenciatura e criar um padro mnimo de qualidade
para que possam continuar funcionando. Como estes so baratos,uma vez que os gastos so apenas com giz e biblioteca, foi pormeio deles que a iniciativa privada se expandiu no mbito doensino superior, a partir da dcada de 1990. Eles cobram
mensalidades baixas, mas so muito fracos, o que sobrecarrega asSecretarias da Educao com atividades de formao etreinamento.8
Os ndices de desempenho dos estudantes da cidade de So Paulo so ainda
mais preocupantes, tendo em vista que sabidamente representam a cidade mais
poderosa economicamente do pas. A regio em que proporcionalmente menos se v a
presena de professores formados pelas instituies pblicas, os resultados negativos
do desempenho de alunos dos cursos fundamental e mdio chamam a ateno. De um
lado, v-se que as particulares - com poucas excees - esto preocupadas apenas como ingresso do maior nmero de alunos e oferecem uma formao precria e ligeira. 9
De outro lado, sabido que o capital econmico favorece o desenvolvimento
cultural.10A concentrao econmica, em So Paulo, abre oportunidades educativas
(fcil acesso a filmes, teatros, espetculos em geral, editoras, bibliotecas, sistemas
formais e informais de transmisso de conhecimento, etc.), bem como d um maior
poder de compra aos seus moradores. Conclui-se ento que, se os alunos formados em
8ibidem9Mesmo com a inflao de 104,3 % no perodo, entre 1999 e 2009 o valor mdio cobrado pelas particulares
recuou de R$ 532 para R$ 367. No primeiro semestre de 2010, a Faculdade Sumar cobrou apenas R$94,22 para o primeiro semestre do curso de Pedagogia. In: Folha de S. Paulo, 21 jun. 2010, p.C1 e C3.
10 Quanto maior a porcentagem de indivduos pobres em um municpio, pior o desempenho Escolar. oque constatou uma pesquisa da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). A situao econmicadeterminou em at 58% o rendimento dos alunos das Escolas municipais, enquanto nosestabelecimentos estaduais o mesmo percentual ficou em 44%. In: Correio Brasiliense, 11 jan. 2010
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So Paulo morassem em uma regio mais carente, os resultados seriam ainda bem
piores.11
Para entender, de fato, a importncia da educao na sociedade brasileira e,
com isso,a boa formao do professor, recorremos a Tardif e Lessard que ressaltam
que o magistrio constitui um ponto nevrlgico nas sociedades contemporneas, umadas chaves para entender as suas transformaes (2005, apud UNESCO, 2009, p.
15). Sobre a importncia econmica da carreira do professor, os autores afirmam que:
Nos pases avanados, e tambm nos pases emergentes como oBrasil, o setor de servios e, no seu interior, os grupos de
profissionais, cientistas e tcnicos no cessam de crescer, epassam a ocupar posies de destaque em relao aostrabalhadores que produzem bens materiais, cuja presenanumrica e importncia relativa diminuem.O crescimento das profisses referidas est ligado ao
crescimento desmesurado das informaes e de suas formas decirculao, possibilitado pelo avano tecnolgico, bem como aoenorme crescimento dos conhecimentos sistematizados e decarter complexo, que requerem, para o seu manejo ou domnio,formao prolongada e de alto nvel.12
S pode trabalhar bem com a informao que cresce veloz e espantosamente
quem tiver boa preparao. Mas quem a figura mediadora do processo ensino-
aprendizagem? Em ltima instncia, o professor. Cabe a ele apontar caminhos. Mas,
se ele no recebe boa formao, o que poder proferir, o que poder semear, o que
poder galvanizar com sua presena? Absolutamente nada. Este o quadro atual. E
11 Entre 2007 e 2008, 85,5% dos alunos da antiga oitava srie (hoje nono ano) tinham desempenhoconsiderado abaixo do esperado, o que levou o governo do estado a criar um bnus para os professores,cujos alunos tivessem bom nvel de aprendizado. Mesmo os novos resultados no so alentadores.Corre-se apenas atrs do prejuzo quando so tomadas medidas reparadoras. Assim, a evoluo doIDEB 2009 apresenta elementos ilusrios, pois se pensarmos em sries histricas mais longas do que aapontada pelo IDEB 2009, veremos que o domnio em Lngua Portuguesa na Rede Pblica em SoPaulo no apresenta evolues reais. s ver os resultados de 1995 e os atuais para tanto. Alm disso,o desempenho sob qualquer ponto de vista muito baixo. Principalmente para o curso mdio. Se forestudada a srie histrica do SAEB em Lngua Portuguesa, ser visto que em 1995 os resultados foram
bem mais favorveis que os de 2009, com exceo da antiga 4 srie do fundamental. RESULTADOSCOMPARATIVOS: Antiga 4 srie do fundamental: 183,3 pontos em 1995 e 184,3 pontos em 2009
(subida de 1 ponto). Antiga 8 srie do fundamental: 256,1 pontos em 1995 e 244 pontos em 2009(queda de 12,1 pontos). Antiga 3 srie do Ensino Mdio: 290 pontos em 1995 e 268 pontos em 2009(queda de 22 pontos). O que faz agora a imprensa, no entanto, apenas comparar os dados de 2009com os nmeros de 2007. Por a a comparao ser bem vantajosa para 2009, o que distorce umarealidade tambm de curto prazo, pois de 1995 a 2009 temos apenas um intervalo de catorze anos.COMPARAO 2007-2009: Antiga 4 srie do fundamental: 175,8 pontos em 2007 e 184,3 pontosem 2009. Antiga 8 srie do fundamental: 234,6 pontos em 2007 e 244 pontos em 2009. Antiga 3 sriedo Ensino Mdio: 261,4 em 2007 e 268 pontos em 2009 (queda de 22 pontos). Mas mesmo em termosdo IDEB 2009, a cidade de So Paulo situa-se na modesta 1962 colocao, entre todos os municpios
brasileiros. Cf. Folha de S. Paulo, 5 jul. 2010, p. C3.12. Ibidem
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isso no diferente na rea de Letras. E os resultados em lngua verncula so a clara
prova da ineficincia.
Assim, o problema que existe em relao aos professores de Letras, no Brasil,
diz respeito no tanto ao nmero de docentes existentes ou quilo que os quadros
gerenciais-burocrticos-pedaggicos diagnosticam com uma espcie de olhar desobrevoo que produz uma avaliao mope dos resultados. O que de fato ocorre que
os cursos de formao de professores, em geral, e de Letras, em particular, em
primeiro lugar tm uma carga horria muito pequena, principalmente se levarmos em
conta todos os truques apresentados para se fazer contabilizao do tempo de
formao, com qualquer tipo de atividade complementar sendo considerada.13
No h como explicar que se formem profissionais de ensino com uma carga
muito diminuta (2400 horas em Letras), se comparada com as de cursos como o de
Direito (3700 horas), Medicina (7200 horas), Odontologia (4000 horas) e Engenharia(3700 horas).14Como corolrio o que se tem implicitamente que para a docncia
qualquer preparao serve. E exatamente isso que torna precrio os resultados dos
alunos nas avaliaes que so feitas em sua prpria lngua materna. Munidos de uma
filosofia de segunda mo (diluda em receitas e em leitura de comentadores) e de uma
prtica pedaggica que trabalha meramente modelos e no com a realidade cotidiana,
os quadros burocrticos em nosso pas permitiram que todos os interesses das
instituies particulares de ensino pelo lucro rpido e fcil em educao acontecesse.
Aceitam-se cursos com cargas que no permitem a compreenso de mundo, de
conceitos, de transformaes e da tradio cultural. S a durao do contato futuro
professor com peas importantes da tradio (documentos culturais, como livros,
obras, ensinamentos, etc) permite que se diga o que h de relevante na formao
humanstica, bem como se compreendam as trilhas que levam de fato ao que comea
a se mostrar como fundamental hoje e como pea angular frente ao devir. Assim, ao
verem resultados sem a percepo adequada do fenmeno, os quadros burocrticos,
por no saber o que fazer, apregoam to somente sadas reparadoras, que, na verdade
ao final, produzem um custo maior, sob a forma de n cursos adicionais que so uma
13Uma das sadas atuais colocar uma carga horria elevada, mas para cursos feitos a distncia, sem svezes uma especificao muito clara de como se chegou a este nmero, tal como se v com a grade daAnhanguera Uniderp, cuja carga seria de 3320, com a mera listagem de disciplinas. In: . Acesso em 30 jun. 2010. J a UNIBAN, fez a mgica, consideradairregular pela SESU, de juntar licenciatura comps-lato sensu.
14Carga horria mnima para cursos presenciais segundo os pareceres CNE-CES 329-2004 e parecer 184-2004.
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espcie de iluminismo-salvacionista com receitas pedaggicas de assimilao rpida,
porm como no acompanhadas da formao prvia acabam-se revelando pouco
produtivas.
O que se tem, em geral, no um trabalho de boa base e slida formao.
Com isso, corre-se sempre atrs de algo que tem de ser refeito. Ao ser refeito, oscustos so agregados desnecessariamente e os resultados so tacanhos. Ou seja, h um
duplo prejuzo. De um lado, os profissionais de ensino tm de ser conduzidos por
estranhos processos de iluminismo tardio, como o da Escola de Formao de
Professores no Estado de So Paulo. De outro lado, os alunos perdem oportunidades
condizentes com a faixa etria em que esto.
Os processos iluministas ora so bem intencionados porm revelam
desconhecimento do cotidiano da sala de aula e bastante ingenuidade, o que falseia a
realidade , ora so mal intencionados h interesse de vender alguma coisa(apostilas, cursos, ideias, assessorias, etc.) ou promover-se.
Os discentes, ao no terem as oportunidades certas na hora certa, acabam
desacreditando da escola, percebem que ela no corresponde a formas de ascenso
social e, portanto, no investem energia em algo que no vai lhes permitir grandes
coisas.
Ao lado disso, h um jogo de faz de conta, que percorre de modo
silenciosamente estranho, vrios setores da sociedade, sem nenhum questionamento
da imprensa. Trata-se do professor eventual. Proposta esta que almeja apenas suprir
de qualquer forma a falta de um docente da disciplina x. Garante-se no papel, assim,
que os alunos tenham as aulas regulamentares (pois previstas na grade) da disciplina
x. No importa quem a proferiu. No importa que o docente no saiba absolutamente
nada daquilo. O que importa o faz de conta. O que importa que a sociedade
silenciosamente aceite o jogo. Os desdobramentos disso e os custos futuros no
interessam, mas certamente o jovem professor nota os disparates de mero acerto
burocrtico e se desmoraliza.
Por seu turno, neste ltimo meio sculo, a prtica com raras excees de
sucessivos governos (municipais, estaduais e federais) e a postura irresponsvel (ou s
vezes at suspeita) de setores de formao da opinio pblica em relao educao
tm feito com que vrias e talentosas vocaes para o ensino no se cumpram.
As prticas governamentais desvalorizam socialmente o professor com salrio
pouco condizente para a relevncia do trabalho que executa e o desdobramento disso
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um aumento de jornada que lhe permita sobreviver adequadamente. Com menos
tempo livre, acaba-se a carreira paralela de docncia e pesquisa, de vrios promissores
e estudiosos mestres. No raro os docentes chegam a um patamar de descrena na
educao, frente ao desconforto de anos a fio se sentirem assim desvalorizados.
A postura da imprensa comumente assume um duplo carter. Em primeirolugar, a de ter solues que na realidade funcionam como apontar erros e mais erros
na prtica docente seguida de solues j ditas iluministas que apontariam para sadas
virtuosas, casos os preguiosos professores quisessem um dia segui-las (Mas oh!
Meu Deus! Eles no querem nossos conselhos nem nossos encartes e revistas
subsidiadas). Em segundo lugar, nos casos mais agudos e perversos, de confirmar as
prticas governamentais de que os salrios dos professores no precisariam ser
socialmente condizentes com o nvel de formao esperada de tais professores (e para
no haver nenhum questionamento quanto a isso, nada nem sequer sugestes de umacarga maior para os cursos de licenciatura; basta uma merreca como dizem estes
professores cheios de grias, basta pouco para no terem mais munio para exigirem
bons salrios). Assim, at a qualificao e os ttulos no magistrio parecem seguir
uma outra lgica. No servio pblico, comum o salrio dos professores apenas
graduados serem equivalentes ou inferiores a pessoas de outras reas que tenham
apenas a formao do ensino mdio15, ou professores que tenham doutorado
ganharem menos que s graduados de diversos outros setores
Nada como fazer com que professores talentosos ou vocaes de futuros
professores talentosos sejam desestimuladas. Se a pessoa tiver juzo, vai perceber
que estudando menos vai conseguir salrios melhores (s vezes j em curto prazo) em
outras reas do prprio funcionalismo. E o setor privado, vendo que o paradigma
salarial produzido pelo setor pblico, baixssimo pode apresentar propostas de
remunerao baixas, produzindo substancial mais valia em cima do trabalho
docente.16
15Basta comparar com os salrios dos guardas rodovirios ou com de certos funcionrios do judicirio, porexemplo.
16. No presente, ainda ajuda a tal postura de ganhos exacerbados o chamado ensino a distncia (que no vemcomo um virtuoso complemento ou como forma de dar acesso educao aos que no a poderiam ter
presencialmente, mas sim como simples forma de cortar custos). Por meio dela, cada professor atende aum nmero muito maior de alunos com um ganho ainda mais reduzido e sem garantias de preservaode direitos autorais.
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Destarte, frente ao exposto, que o da manuteno da situao extremamente
negativa quanto aos resultados reais de nossa educao, caberia Rede Federal
quebrar tal modelo pouco eficaz e pouco eficiente, criando novas sadas que
virtuosamente faam a recuperao do ensino no pas. Esta seria verdadeiramente a
postura de um governo transformador. Esta seria verdadeiramente a vocao e a razode ser do crescimento da rede. Do contrrio ser mais uma mentira a contabilizar-se
no triste rol dos enganos, economtrica e estatisticamente produzida na histria de
nossa educao, sob a rubrica de para ingls (ou outros quaisquer) ver. Ou seja, a
funo de um estado responsvel quebrar tal modelo, deflagrando um novo
processo. Para tanto no basta s crescer. J vimos a que leva a concepo de
primeiro crescer o bolo para depois reparti-lo, como defendia um antigo ministro da
Fazenda. Corolrio de tal frmula foi o crescimento da rede estadual nos anos setenta
sem a manuteno de salrios condizentes. Os resultados no demoraram a se mostrar.O que se faz hoje a expanso indiscriminada de um pssimo modelo de faculdade,
no setor privado, em geral. Como resultado, o nvel de formao hoje dos alunos que
concluem cursos superiores no Brasil equivale ao dos concluintes do antigo ginsio na
dcada de cinquenta, acrescido to somente de verniz de um conhecimento de carter
especializado. Por exemplo, formao de 4 srie de ginsio, mas com conhecimentos
especficos das reas A ou B. Como a formao bsica hoje ruim, a assimilao at
deste conhecimento mais especializado fica prejudicada, pois faltam certos pr-
requisitos para a boa capacitao. Ou seja, faculta-se algo a quem no tem a faculdade
de exercer adequadamente dada formao. Em suma, brinca-se de aprender e ensinar.
E mais, brinca-se inconsequentemente e garantem-se as estatsticas. Desse modo, a
viso meramente economtrica averigua as estatsticas e diz: - Foi feito de acordo
com o modelo. Est correto Surge, todavia uma adversativa. - Mas no deu certo.
Os resultados em provas de aferio, assim como os prticos no mundo do trabalho
so ruins, etc. J sabemos, a culpa dos professores. Pelos resultados, medidos por
rgua e compasso, v-se que eles ganham muito.
Todas as sadas apontadas antes no funcionaram porque simplesmente
apresentam uma obviedade: no so srias. Ou se quebra isso ou nunca teremos uma
educao que v pelo caminho certo.
Pode at existir um nmero razovel de professores de certas disciplinas no
mercado. Mas a questo saber que professores so estes. E se no tivermos cuidado,
frente ao conjunto de mentiras seguidas como cartilhas sobre o como desestimular
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talentos, em curto prazo no teremos docentes nem nas reas em que estatisticamente
eles preenchem ou quase (seja do modo que for) as vagas existentes.
provvel que em algum momento sejam criadas formas de aferio mais
srias, tal como faz o Curso de Direito, que breca os profissionais com a formao
deficiente, com o chamado exame da Ordem. o que precisa ser feito em algummomento. De um lado, conteno das formaes deficientes, de outro, remunerao
adequada para atrair talentos. No meio dela, a atuao oficial, com mais vagas em
instituies comprometidas com a qualidade de ensino.
2.3. O ensino de Letras e a necessidade de superar antigos modelos
O PDI do IF-SP, ao tratar da criao das Licenciaturas, critica o modelo
adotado pelas Universidades Pblicas: A oferta de cursos de licenciaturas pelasuniversidades pblicas caracteriza-se pelo modelo 3 + 1: 3 anos de bacharelado e o
quarto ano com a licenciatura17. Este tipo de organizao acadmica acaba
valorizando os contedos disciplinares em detrimento de uma formao especfica
para o exerccio da docncia. A crtica vem ao encontro das atuais Diretrizes para
Formao de Professores do Ensino Bsico que aponta para a formao do docente
em torno de critrios distintos, tais como os contedos cientfico-culturais como
recursos para o exerccio da aprendizagem, e a realidade como referncia e a pesquisa
como princpio educativo.
Sem dvida, o desafio grande e exige propostas de encaminhamento
inovadoras. Nessa direo, o prprio PDI do IF-SP indica uma das possibilidades de
superao: importante salientar que o pressuposto assinalado nas diretrizes deve
ser assegurado na organizao das licenciaturas no IFSP, possibilitando a insero de
uma pedagogia de projetos acionadora da integrao entre teoria e prtica num
movimento de prxis em que a avaliao permanente seja o requisito para a
excelncia.
Ora, a rea de CCL no desconhece a pedagogia de projeto. Por ocasio do
Mdio, apresentou vrios projetos: Formao de Repertrio e Leituras da
Contemporaneidade, Arte na Antiguidade, Histria, Filosofia e Literatura na
17 importante salientar que o modelo 3+1 foi criado nos anos 1930, e no condiz com a evoluo dasreflexes no campo da educao, e nem com a prtica pedaggica que exige, na atualidade, novas
perspectivas sobre a formao e a atuao docente.
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Idade Mdia, Literatura dos ltimos trezentos anos, Mundo Hispnico,
Literatura: as viagens, entre outras. Nesse sentido, importante dizer que o plano de
elaborao e implantao da Licenciatura em Letras no IFSP, nasce numa rea que
colocou em prtica, nos referidos projetos, a pedagogia que diz respeito s Diretrizes
para Formao de Professores do Ensino Bsico. Tais cursos funcionaram comoexperincia, de certo modo, piloto para elaborao de vrios aspectos da grade
presente e das concepes pedaggicas aplicadas previamente em sala, com
resultados que demonstram uma compreenso de mundo em um patamar
diferenciado. Em outras palavras, representaram perspectivas de vanguarda no ensino,
que com o resultado alcanado levaram ento os alunos a um patamar de
compreenso de mundo invejvel. O desdobramento de tal prtica docente no superior
em Letras contribuir muito significativamente para o compartilhamento de tais
experincias com os docentes em formao.Alm disso, a rea j tem se preocupado em formar grupo de pesquisas,
articulando-se de forma no endgena, o que traz, evidentemente, para dentro de suas
linhas de atuao um alargamento da prtica de ensino e pesquisa, em consonncia
com aquilo que aqui nos governa, a busca do que ainda vlido da tradio e o que
aparece como abertura para se entender os novos tempos e seus problemas18.
Em suma, o compromisso com uma prtica consequente levou a rea por anos
atualizao, s interfaces, consolidao dos conhecimentos, reflexo sobre a
experincia pedaggica vivida e colocada em situao, ao olhar para a alteridade.
Assim, em relao atualizao, os docentes foram-se aperfeioando. Aqueles
que j estavam aqui, com razes fortemente estabelecidas, fizeram vrios cursos,
18. Com o objetivo de melhorar o desenvolvimento das atividades em sala de aula, professores e alunos daps-graduao lato-sensuem Formao de Professores para o Ensino Superior do IFSP participam deum grupo de pesquisa denominadoAnlise Crtica e Lingustica Sistmico-funcional - inserido na linhade pesquisaLinguagem, trabalho e educao que desenvolve, em parceria com integrantes da PUC-SP, uma pesquisa chamada: Metforas vivas. Esta pesquisa tem por objetivo verificar se o uso demetforas utilizadas por docentes de diferentes reas de conhecimento em suas aulas colaboram namediao da aprendizagem. H uma grande preocupao desse grupo em colaborar com pesquisas
atuais a fim de pensar uma melhor formao nos cursos de Licenciatura, ou seja, em focar a formaode docentes numa viso integradora que saliente a importncia do professor na formao do educando.Para o grupo de pesquisadores, necessrio que o futuro professor tenha convices da importncia dalinguagem utilizada em sala de aula e sua influncia na formao do seu aluno. Assim, o IFSPdemonstra sua preocupao na qualidade de ensino que oferece aos seus alunos e sua ampla viso defuturo quando atua de modo a inseri-los em pesquisas certificadas em rgos como o Cnpq. importante salientar que, alm de formar docentes capazes de atuar em suas respectivas especialidades,a instituio tambm tem a responsabilidade de promover a estes alunos de ps-graduao umconhecimento holstico da educao, integrando teoria e prtica em seus cursos - o que valoriza aformao e resulta em um profissional mais bem preparado para atuar na docncia.
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inclusive os de ps-graduao stricto sensu, como os de mestrado e doutorado. Muitas
vezes os percursos e recortes feitos nos trabalhos de pesquisa, muitas vezes os cursos
de ps, muitas vezes outras experincias pregressas (outras graduaes, outros
trabalhos, outras atividades) permitiram os naturais dilogos com outras sries
culturais e uma vivncia mltipla, que possibilitaram, ao mesmo tempo, a adernciaao campo de estudo em torno daquilo que tradicionalmente a macrorea de Letras e
a percepo de outros dizeres que alargavam a concepo do que ensinar a ler o
mundo como texto e o texto como mundo. E ao se enxergar a articulao velho-novo,
exploraram-se as semovncias do conhecimento.19
A experincia no fossilizada dos que esto h muito tempo na escola permitiu
um dilogo vivo com os que chegam muitas vezes j titulados, apesar de jovens e
trazem outra viso, outro situar-se frente ao mundo. Os mais antigos conheceram
outras grades, outros cursos, vrias concepes do que seria seu objeto de ensinocomo algo que se modificou muito no eixo do tempo, porque diretrizes mudaram,
porque paradigmas foram alterados, porque novas leituras chegavam. Os mais novos
j se formavam e comeavam a exercer a docncia com outra postura, com outros
suportes tomados como importantes para se pensar a linguagem e seus textos.20 Os
mais novos j foram alunos que na universidade seguiam outras balizas gnosiolgicas.
E a interao entre velho e novo, entre razes e contrapontos, entre saberes e sabores
de vrias matrizes cognitivas proporcionaram talvez um enriquecimento mpar para
pensar a cultura enquanto algo no sedimentado. Como algo que cultivo, mas que
tambm abertura ao que busca novos caminhos, novas perquiries.
Por isso, a rea percebe a alteridade. Compreende a surdez no como surdez
absoluta, mas como um dizer, um signo da diferena. Percebe a impossibilidade de
andar como um andar em outra direo, to variegado quanto o andar de quem no
tem nenhuma necessidade especial. Percebe como o novo professor deve ensinar
19. H desde aqueles que trabalharam em outras reas. Por exemplo, servio social, editorao, sindicalismo,entre outras coisas. H tambm os que fizeram estudos em mais de uma rea no curso de Letras, at os
que passaram por outros cursos. Houve quem estivesse em programas que articulavam o saberlingustico ou literrio com outros saberes, como o de Comunicao e Semitica, mas recortaram oobjeto em uma perspectiva literria, at outros que estiveram em um programa de Lingustica eestabeleceram conexes com a Publicidade. Alguns dos professores da rea ministraram disciplinasdiversas como Metodologia, Linguagem e Comunicao Empresarial, etc. Outros deram aulas emdepartamentos variados, internos ou externos (Turismo, Fsica, Matemtica, Cincias Biolgicas,Qumica, Tecnologia, Engenharia, Geografia, Histria, Jornalismo, Administrao, Comrcio Exterior,entre outros, alm de Letras tambm).
20Um livro um suporte. O meio digital outro suporte. Um texto projetado sobre edifcios da Paulista,como aconteceu no incio da dcada de 90, com poemas de Octvio Paz, Arnaldo Antunes, etc., passa aser um novo suporte. O holograma ainda outro.
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lngua como linguagens para os jovens que hoje habitam um universo de alteraes
econmicas, perceptivas, culturais, sgnicas, criando-se ento um universo de
interao e compreenso. Um espao-tempo que no seja do j dito, do j feito, e sim
um espao-tempo em que se perceba que nascem novos problemas e umas tantas
aporias a cada instante, a cada presena no mundo. Que ensinar trazer o logosrecolhido, o recolhimento, o apontar caminhos o do eu, o do tu, o do ele, o de todos.
E tal ensino, como se ver neste documento, supera dicotomias entre teoria e
prtica, colocando sempre o aluno em situaes de dilogo vivo, entendendo a
educao como ensino e como pesquisa, fazendo com que os estgios sejam imerses
vivas em uma profisso que leve transmisso e busca do que deve ser investigado.
Assim, o curso ter prticas pedaggicas que levaro articulao teoria-prtica, alm
de disciplinas (ou melhor, interdisciplinas) que faam interfaces e complementem o
processo de formao. Tambm o curso proposto sempre encarar como vivos eformadores os elos culturais que deram surgimento ao que somos como brasileiros,
da o dilogo com a cultura indgena, com a cultura afro-brasileira, com outras pocas
e outras civilizaes que ecoam em nossa linguagem, em nossos textos, em nossos
tecidos.
2.4 O surgimento de cursos de Letras em vrios IFs e CEFETs e at em uma UFT
Com a percepo de que no s diminuem cada vez mais os professores bem
formados de portugus, como tambm h uma perspectiva de rpido declnio em
nmeros absolutos dos profissionais de tal rea de atuao21, j comearam a aparecer
na Rede Federal, fora das Universidades Federais, a preocupao com a eminente
falta de docentes de tal rea, principalmente se agregarmos a isso a tendncia de
fechamento de vagas na Rede Privada. Assim, a UTPR mantm o curso de
Licenciatura em Portugus/Ingls em dois campi(Curitiba e Pato Branco), o CEFET-
MG criar em 2011 um curso, bem como o IF-AL, isso sem contar o curso no
presencial do CEFET-GO (Letras-Libras) e o das Licenciaturas em Espanhol do IFRN
(CampusNatal) e do IFRR (CampusBoa Vista). A maior parte deles bem recente e
o que interessante que pertencem a realidades diferentes. Tanto em polos menos
21Em levantamento apresentado pelo MEC, em 2007, constatou-se que a maior queda de formandos emlicenciatura deu-se entre os de Letras (10%), enquanto que os nmeros de maior declnio em seguidaso dos cursos de Geografia (9%) e de Qumica (7%).
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desenvolvidos, como em outros economicamente desenvolvidos (Belo Horizonte e
Curitiba, por exemplo), surgem as Licenciaturas em Letras. Em Belo Horizonte h um
curso que se articula com o trabalho editorial (sem abandonar a formao mais
clssica) e em Curitiba surge um que oferece uma formao mais clssica.
No se entende, assim, como So Paulo, com desempenho pfio nos ltimosprocessos de avaliao em termos nacionais, possa abrir mo de formar licenciados
bem preparados. Deve-se enfatizar ainda que cada vez mais os alunos de letras da
USP tm aberto mo de ir ao magistrio, principalmente ao pblico. Alis, h
uspianos que fazem apenas o bacharelado. Tudo o que foi dito corrobora a urgente
necessidade deste IF implementar a Licenciatura em Letras. Caso no o faa, perder
a oportunidade de contar com um corpo docente interessado por tal demanda. Caso
no o faa, deixar de cumprir parte de sua funo e de seu papel como agente
responsvel pela educao pblica de qualidade deste pas.
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3. OBJETIVO
Antes de apresentar os objetivos do curso, h de se explicitar a concepo e os
princpios pedaggicos que o aliceram. O curso de Licenciatura em Letras est
organizado em torno de trs grandes reas do conhecimento: Estudos Lingusticos,
Estudos Literrios,e Educao e Didticaos quais, embora se apresentem de modo
disciplinar no currculo do curso, se inter-relacionam por meio de prticas
pedaggicas, atividades didtico-pedaggicas e atividades complementares que
refletem e refratam a espinha dorsal da concepo do currculo, a sua inter e
transversalidade.
Considerando que o licenciado em Letras dever ser capaz de planejar,
implementar e aprimorar atividades inerentes ao magistrio, alm de assumir a
pesquisa e a prtica educacional com conscincia de seu papel frente sociedade, ocurso procurar desenvolver:
A.
domnio do uso da lngua portuguesa, nas suas manifestaes oral e escrita, em
termos de recepo e produo de textos;
B.
capacidade de estabelecer relaes entre a leitura de textos literrios e seu
contexto histrico, social ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gneros
discursivos e recursos expressivos dos autores;
C.
reflexo analtica e crtica sobre a linguagem como fenmeno psicolgico,
educacional, social, histrico, cultural, poltico e ideolgico;D.
domnio de uma viso crtica na leitura de textos literrios escritos em lngua
portuguesa;
E.
Uso dos instrumentos tericos e prticos necessrios, de crtica e teoria literria,
para desenvolver estratgias de interpretao literrias, levando em conta a relao
entre discurso, texto e contexto.
F.
reviso crtica das perspectivas tericas adotadas nas investigaes lingusticas e
literrias, que fundamentam sua formao profissional;
G.
preparao profissional atualizada, de acordo com a dinmica do mercado detrabalho;
H.
percepo de diferentes contextos interculturais;
I.
domnio dos contedos bsicos que so objeto dos processos de ensino e
aprendizagem no ensino fundamental e mdio;
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J.
domnio de variados mtodos e tcnicas pedaggicas, inclusive utilizados por
meio de recursos da informtica, que permitam a transposio adequada dos
conhecimentos para os diferentes nveis de ensino.
O resultado do processo de aprendizagem dever ser a formao de
profissional que, alm da base especfica consolidada, esteja apto a atuar,interdisciplinarmente, em reas afins. Dever ter, tambm, a capacidade de resolver
problemas, tomar decises, trabalhar em equipe e comunicar-se dentro da
multidisciplinaridade dos diversos saberes que compem a formao universitria em
Letras. O profissional de Letras dever, ainda, estar compromissado com a tica, com
a responsabilidade social e educacional, e com as consequncias de sua atuao no
mundo do trabalho. Finalmente, dever ampliar o senso crtico necessrio para
compreender a importncia da busca permanente da educao continuada e do
desenvolvimento profissional.
3.1. Objetivo Geral
Formar professores competentes, em termos de pesquisa, informao e
autonomia, capazes de lidar de forma sistemtica, reflexiva e crtica com temas e
questes relativos a conhecimentos lingsticos, literrios e pedaggicos, em
diferentes contextos de oralidade e escrita, atuando na Educao Bsica, na rea de
Letras Portugus.
3.2. Objetivos Especficos
- Compreender e utilizar o trip Ensino, Pesquisa e Extenso no
desenvolvimento pessoal e das aulas dos futuros professores;
- Capacitar professores para compreender a linguagem e a literatura como
atividades humanas contextualizadas e como elementos de interpretao e interveno
no mundo;
- Entender a relao entre o desenvolvimento da lngua e das manifestaes
artsticas e o desenvolvimento tecnolgico e associar as diferentes tecnologias
soluo de problemas;
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- Compreender e usar adequadamente a lngua portuguesa no que se refere a
sua estrutura, funcionamento e manifestaes culturais;
- Compreender a literatura no que tange a sua estrutura, funcionamento e
expresso de um momento cultural;
- Ter conscincia das variedades lingsticas, artsticas e culturais
historicamente constitudas, e da significao social que elas possuem;
- Utilizar novas tecnologias na sua prtica profissional sempre que necessrio;
- Propiciar, criando oportunidades pedaggicas, o desenvolvimento da
autonomia do aluno quanto resoluo de problemas, tomada de decises, trabalho
em equipe, comunicao, dentro da multidisciplinaridade dos diversos saberes que
compem a formao universitria em Letras;
- Elaborar projetos para o Ensino Fundamental (do 5 ao 9 anos) e para o
Ensino Mdio concatenados com os novos parmetros curriculares nacionais e com a
prxis educativa.
O curso de Letras, com habilitao em Portugus, pretende ainda incorporar a
interface pesquisa/ensino, formando um professor com habilidade crtica suficiente
para romper os limites estreitos de currculos pr-formatados e de livros didticos
concebidos segundo interesses de mercado e compor ele mesmo, sempre que possvel,
seu prprio material didtico.
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4. REQUISITO DE ACESSO
O cursode Licenciatura em Letras com habilitao em Portugus oferecer
anualmente 40 vagas para o perodo vespertino, uma vez que a Universidade de So
Paulo disponibiliza vagas na rea para o matutino e o noturno, e os cursos superiores
do IFSP concentram-se na manh e noite. Portanto, as vagas oferecidas procuram
atender demanda reprimida e ocupar o perodo mais ocioso do espao institucional.
Os candidatos s vagas devero ter concludo o Ensino Mdio ou equivalente,
de acordo com art. 10 das Normas Acadmicas do Ensino Superior, aprovadas pela
Portaria 143/GAB, de 1 de fevereiro de 2008.
Em consonncia tambm com as Normas Acadmicas, em seu artigo nono, os
candidatos sero selecionados mediante Exame de Classificao, vestibular, cuja
avaliao ser composta por dissertao e testes de mltipla escolha envolvendoconhecimentos referentes ao ensino mdio: Cdigos e Linguagens (Portugus e
Ingls), Cincias da Natureza e Matemtica (Fsica, Qumica, Biologia e Matemtica)
e Cincias Humanas (Geografia e Histria).
Do total de vagas oferecidas para os cursos superiores, 100% preenchida por
meio do Sistema de Seleo Unificada (SISU) do Enem, sendo que 50% para
candidatos que cursaram integralmente o Ensino Fundamental e Mdio em instituio
pblica.
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