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  • RECIIS R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Sade. Rio de Janeiro, v5, n.2, p.44-52, Jun., 2011[www.reciis.icict.fiocruz.br] e-ISSN 1981-6278

    * Artigo original

    Sobre o poder de persuaso das imagens mdicas

    Rafaela Teixeira ZorzanelliPsicloga, Mestre em Psicologia pela UFF, Doutora em Sade Coletiva pelo Instituto de MedicinaSocial da UERJ, Ps-doutorado em andamento pelo mesmo Instituto, com apoio FAPERJ/CAPES. [email protected]

    DOI:10.3395/reciis.v5i2.500pt

    ResumoEste artigo se prope analisar o poder de persuaso das imagens mdicas, tomando como exemplos,dois casos especficos: o uso das fotografias da medicina mental europia, no fim do sculo XIX, e odas neuroimagens, no campo das neurocincias contemporneas. O ponto em comum entre os doiscasos analisados o poder de convencimento na suposta retratao da realidade de comportamentosou quadros patolgicos, sobretudo no campo da medicina mental. Daremos nfase ao campo dasneuroimagens, traando uma anlise crtica das particularidades de seu processo de produo,sobretudo por pesquisadores das neurocincias.

    Palavras-chave: imagens mdicas; objetividade; neuroimagens.

    Introduo

    O modo como cada um de ns hoje obtm fcil acesso, por meio diversos meios miditicos, simagens de msculos, ossos, sistemas funcionais do corpo, prteses, transplantes, vulos, nervos,crebros em funcionamento, desvelam e desmistificam muito daquilo que at pouco tempo eramisterioso e insondvel o que ocorre sob nossa pele, no espao invisvel de nossa visceralidade.O uso de instrumentos que possibilitem o escrutnio do interior do corpo uma condio sine quanon para essas exploraes. Reiser (1990, 1993), por exemplo, analisa a emergncia, ao longo dosc. XIX de diversos outros aparatos como o oftalmoscpio (1851), o laringoscpio (1857) e, maistarde, os raios-x (1895), que permitiram a explorao visual do interior do corpo sem penetraocirrgica.

    Nesse artigo, concentraremo-nos, especificamente, sobre dois episdios da histria mdicarelacionados ao campo das imagens: o uso das fotografias da medicina mental europia, no fim dosculo XIX, e o das neuroimagens, no campo das neurocincias contemporneas. Daremos nfase aocampo das neuroimagens, traando uma anlise crtica das particularidades de seu processo deproduo. O ponto em comum entre os dois casos analisados o poder de convencimento na supostaretratao da realidade de comportamentos ou quadros patolgicos, sobretudo no campo da medicinamental.

    Reconstituir alguns dos caminhos dessa paixo pela visualizao na histria da medicina do Ocidenterequer, ao menos, um recuo panormico ao que foi uma de suas condies de possibilidade - apublicao, em 1543, do livro de Andreas Veslio [1514-1564], Da Organizao do Corpo Humano(De humani corporis fabrica), que marca o nascimento da anatomia cientfica moderna. Nessa obra, aautoridade das proposies mdicas de Galeno [129-200] foi contestada, j que Veslio inverteu ahierarquia entre autoridade textual e evidncia emprica, dando dignidade aos achados produzidospela observao experimental do corpo, sob o olhar anatmico (Ortega, 2008). As novas ideias que a obra de Veslio prenunciou autorizavam o conhecimento do corpo a partir das dissecaesdos cadveres, tornou-se um pressuposto para a medicina ocidental. Desde ento, a verdade dadoena se encontraria no interior do corpo. Desse modo, os desenhos do autor na obra citadamarcaram uma poca de grande desenvolvimento na histria da anatomia e das ilustraesanatmicas. No limite, seu livro resume a ideia de que a verdade das doenas no estaria naspalavras dos escritos galnicos, mas nas imagens produzidas pela dissecao e conhecimentos doscadveres. Desde a, pode-se situar uma relao estreita entre o visual e o conhecimento cientficodo corpo humano, trazendo como consequncia o modelo de um nico corpo apresentado comonorma de todos.

    A reduo da experincia do corpo subjetivo ao corpo objetivo, mensurvel, quantificvel efragmentado, que desde a revoluo vesaliana acompanha a histria das prticas anatmicas e das

  • tecnologias de visualizao, corresponde a uma relao objetificada com o corpo. nesse contexto -como instrumentos que visam a produo de objetividade na cincia mdica que compreenderemosas imagens mdicas e as mquinas que as produzem.

    Corpos transparentes?

    A esse respeito, pareceu-nos interessante seguir a anlise de van Dijck (2005), que se interessa emcompreender o papel das tecnologias de visualizao mdica na construo social e cultural dasdoenas, segundo o ideal de um corpo transparente. Esse ideal um constructo na interface entre osinstrumentos mdicos, tecnologias miditicas, convenes artsticas e normas sociais, e refletenoes de racionalidade e progresso sustentados pelas aspiraes biomdicas. Van Djick (2005)chama a ateno para o fato de que, a ideia de um corpo transparente, que daria acesso a seuscantos mais recnditos, contraditria. Se o corpo se tornou mais visvel em sua interioridade,tornou-se tambm, tecnologicamente mais complexo, pois quanto mais se v por meio de lentes eparmetros variados, mais complicada se torna a informao visual alcanada e, portanto, o prprioobjeto visto . No caso das tecnologias de imageamento cerebral aqui analisadas, elas trazemindubitveis insights clnicos, mas acabam por confrontar mdicos e pacientes com dilemasperturbadores para os quais ainda no se tem resposta.

    O mito da transparncia se assenta sobre duas pressuposies: a de que ver curar; e a de queolhar dentro do corpo uma atividade inocente e sem consequncias. O olhar aparentementeinerme, porque mantm os corpos ilesos quando s ele os alcana. Por meio das imagens, supe-seque seja possvel revelar o interior do corpo de um modo realstico e quase fotogrfico, em que cadanovo instrumento produz quadros mais precisos das patologias que esto por baixo da pele. Mas,segundo a autora, o corpo tecnologicamente visualizado tudo, menos transparente, na medida emque sua complexidade tambm foi acirrada pelos mtodos que o tornaram mais visvel. O que sepode concluir, portanto, que um corpo desvelado no significa mais acessvel compreenso leiga.

    Desde o sculo XV, diversas tecnologias foram produzidas para permitir o acesso ao interior doorganismo e, mais do que revelar de um modo supostamente realstico nosso interior, essastecnologias afetaram nossas vises sobre os corpos, os modos como olhamos para o processo desade e de doena e a prpria ideia que fazemos do que deve ser a interveno teraputica. Tendose tornado parte da vida moderna, as imagens mdicas assumiram uma relao autoevidente ecausal com as doenas. A confiana irrestrita no olho mecnico das mquinas tem, portanto,consequncias diretas - sobre o tratamento do paciente -, e indiretas - sobre as polticas de sadeconstrudas a partir da.

    A crena comum no progresso da cincia mdica se assenta, em parte, nessa confiana firme no olhomecnico: melhores instrumentos de imageamento levaro a mais conhecimento, resultando emmais curas. Da visualizao ao diagnstico, temos, em tese, um passo pequeno para que sepressuponha que s necessrio ver para encontrar um remdio para o mal, enquanto cada novatcnica parece desvelar algum segredo da fisiologia (ou da alma?) humana. Em suma, enquanto asmquinas tornam o interior do corpo aparentemente transparente, as imagens que elas produziram,ao contrrio, no simplificaram o universo da sade. Ver acaba levando a escolhas difceis, cenriosmultifatoriais e dilemas morais.

    Da pressuposio de que ver o primeiro passo para curar decorre a ideia de que, se no vemosnada - ou se as mquinas no vem -, nada est acontecendo. A definio e reconhecimento de umadoena frequentemente dependem, portanto, da habilidade das mquinas mdicas em fornecerevidncia visual objetiva, e as companhias de seguro podem no cobrir os custos de doenas que nosejam visualmente substancializadas ou, materializadas de algum modo. O papel da visualizao naconstruo social e cultural das doenas aponta para um processo no qual, segundo van Djick(2005), ser capaz de detectar um vrus em seu local de ao equivale a ter acesso s armas paracombater os invasores. Esse o af de provar a existncia do que at ento era consideradoimaterial ou de atestar a materialidade do que at agora no era possvel de ser visto.

    As fotografias na medicina mental do sculo XIX o caso Salptrire

    No campo mdico, a fotografia pareceu oferecer um mecanismo eficaz de conteno da subjetividadee, consequentemente, de produo de objetividade. O olho neutro e objetivo da cmera,supostamente, corrigia os erros subjetivos das ilustraes mdicas, feitas mo (Daston, 1999;Reiser, 1990). Por volta do incio do sculo XX, a fotografia se tornou uma fora poderosa, smbolo daverdade objetiva.

    Dedicaremo-nos a compreender especificamente o caso da visualizao no campo da medicina mental

  • europia no sculo XIX, sobretudo no campo da neurologia de ento. Isso porque a neurologianovecentista era um campo particularmente afeito ao registro imagtico dos corpos fora de controle,como bem atesta o material visual produzido por Charcot no Hospital da Salptrire, no fim do sculoXIX (Cartwright, 1995; Didi-Huberman, 1984). Nele, temos uma compilao de fotografias de casos,em sua maioria, de histeria, nas diferentes fases do ataque histrico. importante considerar que ouso que a neurologia faz dos registros das fotografias dos doentes contextualizada em um dilemado campo neurolgico - a dificuldade de encontrar achados antomo-fisiolgicos convincentes para aspatologias de que tratava, como era o caso emblemtico da histeria .

    O fato de os sintomas histricos poderem ser desfeitos pela hipnose era, sem dvida, um problemapara a legitimidade da perspectiva neuroanatmica de Charcot e para seu reconhecimento peranteseus pares. A ideia de que tal doena se baseada em uma leso funcional foi uma soluo importantepara esse problema lgico. Uma leso funcional ou dinmica significava, para Charcot (1888), queno se podia encontrar nenhuma modificao tecidual no exame ps-morte. Ela seria um eventoorgnico no relacionado a uma alterao da estrutura dos tecidos ou rgos, mas apenas a seufuncionamento. Alm disso, a afirmao de leis e regras presentes nos quadros histricos, emanalogia a outras patologias neurolgicas, contribuiu de forma determinante para a construo deobjetividade para a histeria.

    A demonstrao fotogrfica dos diferentes perodos do ataque histrico, e de suas leis eregularidades, bem como dos estigmas e sintomas de maior destaque, tiveram o objetivo deestabelecer uma sintomatologia estvel, bem descrita, que servisse para a identificao de estigmase possibilitasse um diagnstico diferencial. Isso permitiu a Charcot safar-se das crticas que lhedirigia, sobretudo, o neurologista francs Hyppolite Bernheim [1837-1919], acerca da ilegitimidadedos sintomas histricos (Castel, 1998). As fotografias supriam a ausncia de achadosanatomopatolgicos da histeria, atuando como evidncia possvel, diante da falta de um substratoanatmico da doena. Nesse caso paradigmtico, a fotografia teve valor de uma evidncia por simesma, com poder de convencimento sobre os observadores, tornando visvel a marca damanifestao patolgica, e sua existncia nosolgica. Na ausncia de um substrato anatmico, alente fotogrfica capturaria a verdade do sintoma histrico como uma entidade clnica circunscrita,caucionando cientificamente a descrio da histeria, a despeito da ausncia de leso estrutural que acaracterizava (Didi-Huberman, 1984).

    Os volumes da Iconografia Fotogrfica da Salptrire, compilados, sobretudo, pelo mdico DesireMagloire Bourneville [1840-1909] e pelo fotgrafo Paul Regnard [1850-1927], entre 1877 e 1880,so, portanto, um exemplo do processo de produo de verdades e de fatos clnicos da histria dapsiquiatria francesa do sculo XIX. As fotografias constituram elemento crucial para a operaorealizada por Charcot de outorgar legitimidade ao quadro da histeria. A fotografia ofereceu, assim,uma nova tcnica de figurao das posturas, utilizada para reforar o conhecimento clnico dasdoenas, constituindo, no domnio visual, um equivalente de um documento autntico. Ela poderiarevelar o invisvel, tendo um papel de prova irrefutvel (Langlois, 1994).

    Os esforos na histria da medicina para conferir objetividade inespecificidade marcante de algumasdoenas mentais foi impulsionado pela onda de inovaes e estudos de visualizao do crebro emque desembocamos hoje. Se na virada do sc. XIX, Charcot apelava s fotografias para dar solidezao campo impalpvel da neurose, o fim do sc. XX assistiu a uma exploso de novas tcnicas cujosobjetivos talvez no se afastem em muito daquele de Charcot: o de fornecer evidncia visual quase como um sinnimo de materialidade e objetividade s entidades clnicas pertencentes aocampo da doena mental no incio do sc. XXI. O desenvolvimento do campo das tcnicas de visualizao da doena mental deve ser relacionadosobretudo aos avanos no imageamento do crebro. Esse campo tm um ponto de gatilho sobretudonas dcadas de 1950 e 1960, quando os pesquisadores passaram a utilizar scans por tomografiacomputadorizada - o que culminou nos anos de 1970 - no uso clnico dessas tecnologias. Poucasdcadas antes disso, um dos principais mtodos para estudar a conexo entre crebro ecomportamento era indireto, pelo exame de crebros individuais lesados, com o objetivo de avaliarcomo essas leses afetavam a performance diria (Crease,1993). No caso especfico da visualizao do crebro, os raios-x no promoveram tantos avanos, porque otecido nervoso tem baixa opacidade e est alocado na caixa ssea. Muitos desenvolvimentos foramnecessrios para transcender os raios-x e chegar a uma retratao mais apurada do crebro.Certamente, o desenvolvimento dos computadores aliados s tecnologias de imageamento foram umpasso importante nesse processo, j que, desse modo, era possvel realizar clculos matemticoscom as medidas alcanadas por meio do processamento da informao recolhida. nesse contextoque se desenvolvem tecnologias como a tomografia por emisso de psitrons (positron emissiontomography -PET) e o imageamento por ressonncia magntica (magnetic resonance imaging MRI),funcional ou no.

  • Imagens do crebro

    notvel o nmero crescente de estudos utilizando a ressonncia magntica funcional acessveis aodomnio geral, cruzando a fronteira entre o mundo cientfico e a pblico leigo, por apresentaes deimagens do crebro em escalas de cores. As imagens do corpo produzidas por tecnologias deimageamento tm ocupado um lugar significativo no imaginrio cultural, que as associa realidadedo corpo fsico, ao progresso cientfico e ao conhecimento autorizado e legtimo (Roskies, 2008;Joyce, 2005). Essas tecnologias tm sido entusiasticamente recebidas, no somente por parte dacomunidade cientfica, mas tambm pelos leigos, que a elas tm acesso pela mdia popular.

    No entanto, o apelo persuasivo dessas imagens indiretamente proporcional aos recursos de seusobservadores para criticar seu processo de produo, o que facilmente se desdobra em uma adesoacrtica a quaisquer alegaes que se faa por meio delas. Os alcances dessas tecnologias sosuperdimensionados, enquanto seus limites so encobertos.

    Faz-se importante notar que o encantamento e o efeito de verdade que essas imagens produzem sfaz sentido em uma cultura na qual o crebro e suas funes passaram a ter grande poder deconvencimento na explicao de doenas, comportamentos e gostos. Ehrenberg (2004); Vidal (2005);Ortega e Vidal (2007) denominam sujeito cerebral, os processos, prticas, discursos, formas depensar sobre sade e doena, que tomam como base a ideia de que o crebro um rgoexclusivamente necessrio para construir nossa identidade saudvel ou doente.

    Que o crebro seja um rgo necessrio para o desenvolvimento de funes vitais e do exerccio dascapacidades humanas ningum contestaria. No entanto, o que digno de crtica queparticularidades do seu funcionamento sejam consideradas suficientes para a formao de certascaractersticas do agir humano: escolhas morais, patologias mentais, prticas sexuais, dentre outros.O uso de neuroimageamento um dos braos mais importantes no desenvolvimento das pesquisasque visam estabelecer correlatos neurais de experincias humanas, comportamentos e doenas. dentro deste contexto que as imagens cerebrais tm sido colocadas - como uma nova vogaimagtica, a produzir correlaes entre padres cerebrais e comportamentos humanos.

    A onda de inovaes sobre os estudos de visualizao do crebro em que desembocamos hoje, tmum ponto de gatilho nas dcadas de 1950 e 1960, quando os pesquisadores aprenderam a fazerscans por tomografia computadorizada, o que se converteu em uso clnico (Crease, 1993). O conceitode base para as tecnologias de imageamento cerebral, como a ressonncia magntica funcional e atomografia por emisso de psitrons, que uma mudana no fluxo sanguneo regional pode refletir aatividade neural. Tarefas solicitadas ou formas de estimulao induziriam a atividades sinpticas eeltricas em determinadas regies do crebro, que disparariam mudanas em processos metablicose respostas hemodinmicas incluindo o fluxo cerebral de sangue. As tcnicas de imageamentocerebral posssibilitam detectar essas mudanas em parmetros vasculares (Kim, 2003). Diferentemente de uma cartografia, de uma tabela ou de um grfico, a neuroimagem d a impressode transparncia, e de que o objeto diretamente acessado e representado (Crease, 1993; Dumit,2004). Esse conhecimento encoraja a agir a partir da familiaridade sentida com o objeto visualizado.

    Interessa-nos compreender este apelo que as imagens cerebrais trazem consigo, e que lhes outorgao lugar da verdade sobre a doena e sobre o indivduo por ela acometido, sendo um meio tecnolgicoem que a molstia, supostamente, se d a ver. A visualizao da doena o ponto que equaciona aobjetividade do mtodo organicidade da leso (dficit ou padro neuroqumico alterado), ou emoutras palavras: aquilo que visvel por meios objetivos e cientificamente autorizado sinal daexistncia da doena, e de sua legitimidade.

    Se os pesquisadores estivessem interessados apenas nas medidas estatsticas, o crebrorepresentado visualmente seria totalmente suprfluo, e os dados matemticos e comparativos entrediferentes crebros seriam suficientes. Mas a representao visual dos crebros melhora a visibilidadedo que antes eram apenas nmeros e comparaes. A tcnica da ressonncia magntica funcionalassim, torna visvel e espacial o que , de outra maneira, invisvel e temporal (Alac, 2004, p.203).H, dessa forma, uma co-dependncia entre o modo quantitativo e o modo visual-espacial derepresentao, associado ao fato de que as imagens de ressonncia magntica funcionalmaterializam esses dois aspectos em um s tempo.

    O antroplogo Joseph Dumit (2003) se empenha em analisar o papel das imagens cerebrais na mdiae seu poder persuasivo na formao do que as pessoas pensam de seus prprios corpos e de simesmas, perguntando-se sobre como passamos a ver nas imagens cerebrais, ideias sobre quemsomos e sobre nossas doenas, principalmente, mentais. O que intriga o autor o processo pelo qualessas pesquisas vo lentamente contribuindo para produzir naquele que v a sensao de que o

  • crebro visto a prpria pessoa.

    Por isso, ele se prope a investigar o impacto da visualizao cerebral produzido principalmente porPET scanners a partir de 1970 - j que essa foi a primeira tecnologia no invasiva a permitir acessoaos processos regionais do crebro. partindo dessa relao entre a identidade daquele que tem ocrebro visualizado e a imagem cerebral que Dumit (2004) descreve a formao da crena naexistncia de tipos cerebrais doentes, sadios, inteligentes, deprimidos, obsessivos.

    Nesse contexto, as imagens de tipos cerebrais, pelo apelo inelutvel de mostrar aquilo que existe,so tomadas como fatos indubitveis, e tm contribudo para a categorizao dos indivduos a partirde seus crebros. A apresentao de imagens de crebros tpicos de esquizofrnicos, deprimidos ounormais produz a sensao de que h uma diferena categrica entre trs tipos de humanos quecorrespondem, essencialmente, a seus tipos de crebros .

    Nessa mesma direo esto os argumentos de Alac (2004), que analisa o processo de produo deconhecimento e de objetividade subjacente aos procedimentos de submisso, reviso e publicao depesquisas experimentais em cincias cognitivas, e o papel especfico das representaes visuais docrebro na produo de um fato cientfico. As cores usadas nas imagens so, em geral, divididasentre as que representam o pano de fundo cerebral (servindo simplesmente de contraste com asreas de interesse estudadas), e o resto aparece em preto; as imagens estruturais do crtex, por suavez, representam o que esttico, e ajudam a situar o que de interesse, aparecendo em tons decinza; e os mapas dos padres de atividade especificamente nas reas estudadas, aparecem emcores brilhantes, representando a atividade cognitiva que deve ser foco da ateno do espectador. Aforma de colorao das imagens conduz a ateno de quem as v, seguindo certas pores daimagem com algum significado particular. A representao visual construda, portanto, de forma aexcluir as interpretaes no visadas pelo autor.

    Nesse processo de transformao dos dados numricos em dados visuais, aquilo que invisvel ou,no mximo, visvel por grficos os nmeros e comparaes estatsticas - transformado em dadovisual, possvel de ser experienciado. interessante notar, no entanto, que as imagens cerebrais noso fotografias de um crebro real (Alac, 2004; Roskies, 2008; De Rijcke e Beaulieu, 2007), mas areconstituio visual de parmetros estatsticos e matemticos e - por isso, so imagens de nmerose no de crebros.

    Os processos que sustentam a reviso e publicao de artigos cientficos so facilmente ignorados, sesupomos que eles advenham de um mundo neutro de procedimentos experimentais. Mas o que seobserva que as estratgias de escolha das imagens a serem publicadas em peridicos da rearetratam a expectativa de que determinadas reas de ativao cerebral - que se tem o costume deencontrar na literatura sobre imageamento por ressonncia magntica funcional apaream maisvisveis que outras. Como afirma (Alac, 2004, p.212): como demonstra essa negociao do nmerode pontos de ativao cortical, a ligao entre a imagem e seu referente sempre mediada pelosfiltros normas e expectativas sociais e culturais. A viso da realidade torna-se mais clara, menosconfusa e mais fcil de verificar quando segue os parmetros da cultura cientfica da qual faz parte.

    Beaulieu (2001), enfatiza que a essncia das doenas, dos comportamentos ou das funes mentaisretratadas por imagens cerebrais constituda pela sntese das leses identificadas atravs deprocessos automticos entre os casos, no pela observao dos casos individuais. Para a autora, esseprocesso contribui para noes essencialistas de doena, que se tornam possveis quando diferenasrelevantes entre os crebros so identificadas pelo desenvolvimento de parmetros de comparaodigitalmente padronizados.

    Os ideais visados por esses mtodos consistem, portanto, em remover o individual, tanto comoidiossincraticamente doente (j que o padro da doena proveniente de amostras comparadas)quanto como subjetivo, pela manipulao automatizada dos dados. Essa abordagem produz modelosde crebro baseados em dados purificados, que passaram por transformaes no intuito de produzirum objetivo ideal - um crebro mediano normal e um crebro doente. Trata-se da revelao dofenmeno da doena entre os exemplos, e da identificao de um caso particular (desvio) dentregrandes quantidades de dados.

    Outro ponto importante a ser detalhado no processo de produo dessas imagens que asignificncia de uma determinada funo cerebral envolvida em uma atividade comumente definidapelas diferenas regionais na ativao entre dois conjuntos cerebrais. Em cada caso, a nfase estem determinar quais voxels de atividade se diferenciam o suficiente entre dois todos cerebrais parasugerir que a localizao anatmica desses voxels est envolvida no processo de comparao. Amudana na ativao significantiva e representa a participao da rea diferencialmente ativada natarefa investigada. Quanto maior a ativao, maior a participao daquela rea em uma

  • determinada funo.

    A ideia subjacente leitura das imagens a de que voxels no diferem entre dois conjuntoscerebrais que no esto envolvidos na tarefa pesquisada. Contudo, no crebro vivo, todas as reasesto constantemente ativas, exceto aquelas que esto mortas por causa de uma leso, por exemplo.Quando as imagens so coloridas, os voxels que se diferenciam recebem cores e os outros voxels sofrequentemente deixados em preto (Dumit, 2004). H um efeito gerado por este mecanismo que aimpresso de que nenhuma outra rea, exceto as coloridas, est ativa - o que no verdico. Isso srefora a ideia de que as demais no esto envolvidas no processo, j que no aparecem coloridasna fotografia cerebral, pressupondo-se que regies do crebro que no mostram mudana global emsua atividade no esto diretamente envolvidas na tarefa ou condio pesquisada .

    Uma vez que os dados so convertidos em imagens, os pesquisadores passam a decidir quaisimagens publicar. Nesse processo, as imagens mais extremas so as escolhidas para mostrar asdiferenas que se pretende relatar. Imagens extremas so aquelas que apresentam maior diferenauma em relao a outra, e que, por suposio, podem representar melhor a significncia doexperimento. Nos artigos publicados com imagens cerebrais nos peridicos cientficos, aparecem, emgeral, duas imagens extremamente dspares - o que, em tese, ofereceria uma diferena cristalinapara a discriminao diagnstica, mesmo quando o texto do artigo explicitamente avisa contra essetipo de explicao. A escolha de imagens extremas mesmo quando as distribuies entre os gruposestudados no ficam to claras uma prtica padro na comunidade pesquisadora de neuroimagens.Sendo imagens de extrema diferenciao, elas do um sentido visual de distino clara entre ocrebro normal e aquele que alvo da pesquisa, muito embora haja muitos esquizofrnicos, comoexemplifica Dumit (2004), cujos crebros parecem com os de pessoas consideradas saudveis e vice-versa. A imagem, no entanto, rotula e mostra a doena em si mesma, bem como o doenteobjetificado.

    Uma incerteza a mais com a qual os que lidam com a interpretao das imagens se deparam apresena, nas imagens resultantes, do que que em radiologia se chamam UBOs (unidentified brightobjects). Pontos brilhantes presentes nas imagens, cujos desdobramentos clnicos pode-se pouco ouquase nada esclarecer at o momento.

    Dentre as muitas linhas que compe o uso dessas tecnologias, ainda importante destacar que ospequisadores quase exclusivamente conduzem seus estudos com amostras pequenas (de 4 a 20pessoas), e os detalhes dos experimentos frequentemente so deixados pra trs, restando deles nomais que duas imagens com padres ideais, tais como pessoa deprimida e controle normal, queunem uma anormalidade cerebral a um diagnstico (Dumit, 2003). O risco dessas prticas umaseparao entre essas imagens e o contexto que as acompanha, o que contribui para que sirvamcomo um argumento da existncia da diferena definitiva de um tipo cerebral para outro. Uma outraconsequncia que os pacientes passam a ver a si mesmos como algum que partilha, alm de umsofrimento, um tipo cerebral com outros.

    Concluses

    Os cuidados necessrios utilizao de neuroimagens no lhes retira a utilidade como ferramentapara a investigao da natureza dos processos cerebrais. Entretanto, mais do que para a construode padres eletroqumicos aos quais se pode associar uma doena, elas servem para a construo deevidncias convergentes ou divergentes sobre os fenmenos em estudo. Talvez estejamosendereando s tecnologias de imageamento do crebro perguntas maiores do que elas podemresponder - principalmente porque ainda so iniciais as concluses a que se pode chegar a partir daverificao de que uma rea est mais ativada que outra em determinada tarefa. importante estarmunido com questes que nos permitam tirar vantagens dessas tcnicas - esse um cuidadonecessrio para no tornar seu uso uma forma de simplificar questes complexas, que dependem devariveis no contempladas naquilo que a visualizao cerebral oferece (Kosslyn, 1999).

    O achado de que uma rea est ativada, mesmo uma rea com caractersticas bem definidas, no suficiente para inferir nada alm do fato de que as propriedades daquela rea contribuem para aperformance em questo (funo cerebral, comportamento, patologia, dentre outras). Por isso,[c]onstatar que certas reas do crebro so ativas quando algum realiza uma tarefa no suficiente (Kosslyn, 1999, p.1293). Dados como esses s so interpretveis no contexto de teoriasque conduzem a hipteses especficas. So a essas teorias que necessrio recorrer parainterpret-las, no s imagens, per se.

    Ainda que tendamos a interpretar as neuroimagens como se fossem fotografias, diferentementedessas ltimas, as imagens cerebrais no so auto-evidentes nem auto-explicativas. Elas s fazemsentido dentro de uma cultura de sentidos partilhada. (De Rijcke e Beaulieu, 2007). Em outras

  • palavras, o estatuto epistmico das neuroimagens no pode ser igualado ao das fotografias, uma vezque as primeiras so geradas por mtodos inteiramente diferentes das segundas. As imagensresultantes do neuroimageamento funcional no nos permitem ver diretamente as propriedades docrebro, mas visualizar propriedades no-visuais determinadas pelo objeto que o pesquisador estprocurando entender - as mudanas no fluxo sanguneo decorrentes da realizao de determinadastarefas. Infere-se, a partir desse sinal dependente do fluxo sanguneo que a atividade neural mudou(Roskies, 2008).

    o conhecimento prvio que permite ver nos nmeros e correlaes estatsticas, uma representaodo crebro em funcionamento e no limite, uma narrativa sobre o comportamento humano. ainterao social em seus diferentes nveis que constri campos de ateno nos quais se apoia ainterpretao das imagens cerebrais (Roepstorff, 2007). Alm disso, sem levar em considerao aslimitaes das tcnicas, ou seja, aquilo que elas no podem responder, as inferncias construdas apartir delas podem levar a uma interpretao hiperblica de seus achados Burock (2009).

    As imagens cerebrais tendem a funcionar como uma prova demonstrativa de algum marcadorbiolgico definitivo para a doena, como um critrio objetivo para sua definio, ou como umaevidncia que se possa ligar a uma patologia. No caso de diversas condies controversas atualmentepesquisadas, as imagens cerebrais produzidas so ainda consideradas incertas, realizadas a partir deestudos preliminares, plenas de UBOs (unidentified bright objects) sobre os quais pouco ainda sepode esclarecer. No entanto, so iconicamente usadas como prova da natureza neurobiolgica, ecomo demonstrao da causa de determinadas condies patolgicas . A migrao desses resultados- provenientes desse campo de pesquisa ainda em seu incio - para o diagnstico e construo denovas categorias de doena talvez decorra desse poder de persuaso das imagens do crebro, queno encontrado em outros testes diagnsticos. Mas, cabe-nos retomar o questionamento deKosslyn (1999): estamos endereando s neuroimagens perguntas que elas podem responder?

    Referncias

    ALAC, M. Negotiating pictures of numbers. Social epistemology, v. 18, n. 2/3, p. 199-214, 2004.doi: 10.1080/0269172042000249291.

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    Notas

    1 No trataremos aqui da emergncia da mquina de Raios-X - tendo sido criada em 1895, pelofsico alemo Wilhelm Roentgen [1845-1895] - e de seus impactos culturais, muito embora o ideal deum corpo transparente tenha tido nele sua pedra fundamental (Kevles, 1998).

    2 A histeria, tal como aparece nos escritos de Charcot (1888), era considerada uma doena funcionaldo sistema nervoso que trazia como consequncia: sintomas sensrios, incluindo dores crnicas eperturbaes visuais, hemianestesia, cefalias, contraturas e crises motoras. Para um breve estudohistrico mais detalhado da histeria como categoria mdica, recomendamos os trabalhos de Trillat(1991) e Micale (1989).

    3 importante considerar que, alm de imagear o crebro, as tecnologias de visualizao soutilizadas para retratar outras partes do corpo, ou mesmo, o prprio crebro em suas caractersticasestruturais. Esses usos do no so o tema do questionamento de Dumit (2004), pois, neles, aimagem pode ser calibrada diretamente com seu referente. Mas, no caso da atividade cerebral paracomportamentos humanos, doenas mentais e determinadas funes superiores no h calibrao

  • correspondente.

    4 No sem motivo que os inmeros movimentos sociais no campo da sade na contemporaneidade,sobretudo aqueles desenvolvidos pela internet, se engajam em disputas pelo reconhecimento moral elegal de suas condies patolgicas por meio desse aparente novo achado da evidncia fsica que oimageamento cerebral. Esse o caso de sofredores de esquizofrnica, transtorno de dficit deateno e hiperatividade, sndrome da fadiga crnica - cada um a seu modo, procurando legitimarsuas condies, combinando o capital de uma cincia emergente com a alegao de fisicalidade, pelatentativa da construo de seus quadros clnicos como algo tangvel e materialmente existente (Cohn,2004).

    5 Um voxel a unidade bsica da tomografia computadorizada, representada como um pixel naimagem. a menor parte distinguvel em uma imagem tridimensional.

    6 Stewart (2002) chama a ateno para o fato de que muitos dos neurocientistas dedicados aocampo das neuroimagens ignoram a plasticidade do crebro e a capacidade multitarefa deste rgo,em favor de uma concepo que associa o crebro execuo de tarefas confinadas a partesespecficas. como se as tendncias das pesquisas neurocientficas acontecessem na contramo dapressuposio da plasticidade do crebro, assumindo que uma alterao funcional causada por umaleso e nada mais, e simplificando pressuposies de localizao da funo e de sua constncia.

    7 dentro desse contexto de crtica s interpretaes hiperblicas dos resultados das pesquisas comneuroimageamento, sobretudo de tipo funcional, que alguns pesquisadores chamam a ateno para aprecariedade no rigor de certas pesquisas. Esses estudos crticos apontam que as pesquisasutilizando ressonncia magntica funcional para investigar as emoes, caractersticas dapersonalidade e a cognio social apresentam altas correlaes estatsticas entre a ativao cerebrale as medidas em questo. Essas correlaes so muito maiores do que se pode esperar, em razo daconfiabilidade limitada tanto da tcnica de ressonncia funcional quanto das medidas depersonalidade ou de outras funes complexas humanas. A esse respeito, confira Vul et al (2009).

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