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FACULDADE SANTSSIMO SACRAMENTO PROGRAMA DE PS GRADUAO LATO SENSU ESTUDOS LINGUSTICOS E LITERRIOSAnglica Milano Jeanne Lopes Leandro Arajo Silvania Souza

Cnones e contextos na literatura brasileira

Alagoinhas - Ba 2009

MSICA NAIONALISTA DOS ANOS DE SILNCIO (60): divergncia produtiva ou convergncia destrutiva?

Nacionalismo Literrio

O que nao? O que identidade? O que pode a literatura? O que pode uma cano?

Nacionalismo Literrio

Ao longo dos dois ltimos sculos, a nacionalidade tornou-se o mais poderoso critrio de definio dos grupos em que a humanidade vem sempre se dividindo. (PEDROSA, 1992. p.277)

Nacionalismo Literrio

Qual a sua idia de nao? Lugar de nascimento de um indivduo. (at o sculo XVII)... Origem e descendncia. (A partir do sculo XVII)... Fatores polticos e culturais (A partir do sculo XIX)... Segundo Homi K. Bhabha, a nao como narrao enfatiza o pode poltico e a autoridade cultural.

Nacionalismo Literrio A pluralidade e a ambiguidade dos efeitos do nacionalismopodem ser facilmente constatadas mediante a observao do processo de formao da literatura brasileira , em que desempenhou um papel importante.Foi em torno de sua bandeira que se organizou o movimento romntico , responsvel pela consolidao da nossa atividade literria, seja no mbito da criao, seja no da crtica e da historiografia (PEDROSA, 1992. p.289)

Nacionalismo Literrio ( ... ) O homem se conscientiza de sua identidade prpria, em que a subjetividade individual interage com contingncia scio- histricas especficas ( ... ) ela passa apresentar a terra natal onde se enraizam a origem e a essncia da identidade individual e os fortes e harmoniosos laos que lhe do uma insero familiar, coletiva , nacional. Dessa nova forma de interao resulta uma linguagem mais expressiva e rica de imagens, estruturada de modo mais flexvel, libertada da definio abstrata e racional, a natureza alimenta a poesia de novos temas, ritmos, cores e sonoridades , extrados tambm das diferentes tradies populares, orais e escritas, a que ela passa a ser associada(... )( p. 279 )

Literatura e Msica

lugar comum da histria musical, tanto quanto da histria literria, a criao de um estilo novo a partir de uma relao intertextual com uma forma artstica anterior. Na msica, a constituio do novo pela subverso do tradicional chega mesmo a antecipar formas ainda por surgir nos velhos centros hegemnicos.(OLIVEIRA, 2002.p.180)

Dcada de 60...

A dcada de 1960, ou simplesmente dcada de 60 ou ainda anos 60 foi o perodo de tempo entre os anos 1960 e 1969. Vrios pases ocidentais deram uma guinada esquerda no incio da dcada, com a vitria de John F. Kennedy nas eleies de 1960 nos EUA, da coalizo de centro-esquerda na Itlia em 1963 e dos trabalhistas no Reino Unido em 1964. No Brasil, Joo Goulart virou o primeiro presidente trabalhista com a renncia de Jnio Quadros.

Contexto SHPC / 1960 Scio/histrico/poltico e cultural

A dcada de 60 representou, no incio, a realizao de projetos culturais e ideolgicos alternativos lanados na dcada de 50. Os anos 50 foram marcados por uma crise no moralismo rgido da sociedade, expresso remanescente do Sonho Americano que no conseguia mais empolgar a juventude do planeta.

Contexto SHPC / 1960 Scio/histrico/poltico e cultural

Podemos dizer que a dcada de 60, seguramente, no foi uma, foram duas dcadas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocncia e at de lirismo nas manifestaes scio-culturais, e no mbito da poltica evidente o idealismo e o entusiasmo no esprito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1968 (porque 1969 j apresenta o estado de esprito que definiria os anos 70), em um tom mais cido, revela as experincias com drogas, a perda da inocncia, a revoluo sexual e os protestos juvenis contra a ameaa de endurecimento dos governos.

Contexto SHPC / 1960 Scio/histrico/poltico e cultural

Nesta poca teve incio uma grande revoluo comportamental como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais. O Papa Joo XXIII abre o Conclio Vaticano II e revoluciona a Igreja Catlica. Surgem movimentos de comportamento como os Hippies, com seus protestos contrrios Guerra Fria e Guerra do Vietn e o racionalismo. Esse movimento foi tambm a chamado de contracultura. Ocorre tambm a Revoluo Cubana na Amrica Latina, levando Fidel Castro ao poder. Tem incio tambm a descolonizao da frica e do Caribe, com a gradual independncia das antigas colnias.

Contexto SHPC / 1960 Scio/histrico/poltico e cultural

Em 1960 inaugurada a cidade de Braslia, nova capital do pas, pelo presidente Juscelino Kubitschek. Jnio Quadros sucede Juscelino e renuncia cerca de sete meses depois, sendo substitudo pelo ento vicepresidente Joo Goulart. Sob o pretexto das supostas tendncias comunistas de Jango, ocorre o golpe militar de 1964, que depe Goulart e institui uma ditadura militar que duraria 21 anos. No final da dcada, tem incio o perodo conhecido como "milagre econmico".

Contexto SHPC / 1960 Scio/histrico/poltico e cultural

Nascimento da Rede Globo de televiso (1965). A Rede Globo e o jornal Folha de So Paulo, foram os principais meios de comunicao de massa que apoiaram a ditadura militar.

DITADURA MILITAR NO BRASIL (1945/1985)

CRONOLOGIA

DO

1961

REGIME

MILITAR

25/08 Joo

-

Renncia

de

Jnio

Quadros. Goulart.

30/08 - Ministros militares declaram-se contrrios posse de 02/09 - Institudo o sistema parlamentar de governo como resultado do acordo que possibilitaria a posse do vicepresidente Joo Goulart. 07/09 - Posse de Joo Goulart.

DITADURA MILITAR NO BRASIL (1945/1985)1962 02/02 - Criao oficial do Instituto de Pesquisas Sociais (Ips), que conspiraria contra o governo Goulart.

20/03 - O chefe do Estado-Maior do Exrcito, general Castelo Branco, divulga circular reservada entre seus subordinados contra Joo Goulart. 21/03 a 29/03 - Marchas da Famlia, com Deus e pela Liberdade, em diversas cidades de So Paulo. 31/03 - Inicia-se o movimento militar em Minas Gerais com deslocamento de tropas comandadas pelo general Mouro filho. 1965 03/10 - O general Costa e Silva eleito presidente da repblica pelo Congresso Nacional.

Os Anos 60 No Brasil: engajamento ou cultura de massa?

As principais correntes culturais dos anos 60 no Brasil (Cultura engajada, Jovem Guarda e Tropicalismo) devem ser entendidas no contexto de radicalizao poltica do pas antes e depois do golpe militar de 1964.

Correntes musicais no Brasil / 60Bossa Nova

Jovem Guarda

Tropicalismo

Cultura engajada...

Ligado UNE surgia no Rio de Janeiro, em 1961, o primeiro CPC (Centro Popular de Cultura), colocado na ordem do dia a definio de estratgia para a construo de uma cultura NACIONAL, popular e democrtica de esquerda. Atraindo jovens intelectuais, e organizados por todo o pas, os CPCs tratavam de desenvolver uma cultura engajada de atitude conscientizadora junto s classes populares. Com isso, um novo tipo de artista, revolucionrio e consequente, ganhava forma. Empolgados pela efervescncia poltica, os CPCs defendiam a oposio pela arte revolucionria, definida como instrumento a servio da revoluo social.

A diviso da Bossa Nova...

Dentro desse contexto, de intensa militncia poltica, uma parte do movimento bossa-novista evoluiu rapidamente em direo da chamada cano de protesto. E a msica que cantava e falava sobre si mesma, com o tempo, foi se afastando do padro esttico da Bossa Nova. Apresentando letras de contedo poltico e social, as novas canes tornaram-se tambm um instrumento de conscientizao das classes populares.

Corcovado Tom Jobim (1960)

Um cantinho, um violo Esse amor, uma cano Pra fazer feliz a quem se ama Muita calma pra pensar E ter tempo pra sonhar Da janela v-se o Corcovado o Redentor Que lindo! Quero a vida sempre assim Com voc perto de mim At o apagar da velha chama E eu que era triste Descrente desse mundo Ao encontrar voc eu conheci O que felicidade meu amor

Quero a vida sempre assim Com voc perto de mim At o apagar da velha chama E eu que era triste Descrente desse mundo Ao encontrar voc eu conheci O que felicidade meu amor

Maria Bethnia Viana Teles Veloso Carcar (Composio: Joo do Vale/JosCndido/ 1965)

Carcar L no serto um bicho que avoa que nem avio um pssaro malvado Tem o bico volteado que nem gavio Carcar Quando v roa queimada Sai voando, cantando, Carcar Vai fazer sua caada Carcar come int cobra queimada Quando chega o tempo da invernada O serto no tem mais roa queimada Carcar mesmo assim num passa fome Os burrego que nasce na baixada Carcar Pega, mata e come Carcar Num vai morrer de fome Carcar Mais coragem do que home Carcar Pega, mata e come Carcar malvado, valento a guia de l do meu serto Os burrego novinho num pode and Ele puxa o umbigo int mat

Cultura do consumo do i-i-i

Apesar de o rock n roll ter chegado ao Brasil em meados da dcada de 1950, sua produo em mbito nacional, como j dissemos, s comeou a marcar presena a partir de 1959, no Rio de Janeiro e So Paulo, com a gravao, por Celly Campello, de Estpido Cupido.

Jovem Guarda...

Jovem Guarda foi um movimento surgido na segunda metade da dcada de 60, que mesclava msica, comportamento e moda. Surgiu com um programa televisivo brasileiro exibido pela Rede Record, a partir de 1965. Ao contrrio de muitos movimentos que surgiram na mesma poca, a Jovem Guarda no possua cunho poltico. Com letras romnticas e descontradas, voltada para o pblico jovem. A maioria de seus participantes teve como inspirao o rock da dcada de 60, comandado por bandas como Beatles e Rolling Stones.

Programa Jovem Guarda/1965...

Antropofagia Tropicalista / 1967...

Inspirado no Manifesto Pau-Brasil da Semana de Arte Moderna de 1922, do poeta Oswald de Andrade, o tropicalismo criou uma esttica antropofgica contempornea, que procurava deglutir os movimentos de vanguarda vindos de fora no primitivismo da cultura popular brasileira, a partir de uma relao de contrastes entre o moderno e o arcaico, o mstico e o industrializado, o primitivo e o tecnolgico. Suas alegorias e sua linguagem metafrica criavam um humor crtico (pardia), que tentava superar a polarizao entre as posies estticas defensoras da cultura engajada(MPB/Bossa Nova) e as culturas de massa(Jovem Guarda).

Antropofagia Tropicalista / 1967...

A nfase em seu aspecto composicional revolucionrio harmoniza-se com a inspirao poltica subjacente narrativa que, de certa forma, tenta desestabilizar a ditadura militar instaurada no Brasil pelo golpe de 1964.(SOLANGE, 2002.p.180)

Polarizaes estticas da cultura brasileira / dcada de 60...Bossa Nova Jovem Guarda Tropicalismo

Tropicalistas...

Tropicalismo...

Assim, sem incorrer no discurso militante de esquerda, na msica de protesto ou no comercialismo do i-i-i, a Tropiclia trabalhou a poltica e a esttica num mesmo plano, mostrando as contradies da nossa modernizao subdesenvolvida a partir de outra forma de arte. Montando um verdadeiro painel cultural do Brasil do final dos anos 60.

Tropicalismo... A questo da ambivalncia no ser humano est vinculada a um importante pensamento.- Ns somos e no somos e no somos ao mesmo tempo. (BHABHA, 1997.p.49) O que desejo enfatizar nesta imagem ampla e liminar de nao, a ambivalncia especfica que ronda a idia de nao, a liguagem de queme screve a seu respeito, os que vivenciam(...) (BHABHA, 1997.p.49)

Chico Buarque e Gilberto Gil Clice / Cale-se (1973)

Pai! Afasta de mim esse clice Pai! Afasta de mim esse clice Pai! Afasta de mim esse clice De vinho tinto de sangue...(2x)

Como beber Dessa bebida amarga Tragar a dor Engolir a labuta Mesmo calada a boca Resta o peito Silncio na cidade No se escuta De que me vale Ser filho da santa Melhor seria Ser filho da outra Outra realidade Menos morta Tanta mentira Tanta fora bruta...

Como difcil Acordar calado Se na calada da noite Eu me dano Quero lanar Um grito desumano Que uma maneira De ser escutado Esse silncio todo Me atordoa Atordoado Eu permaneo atento Na arquibancada Pr a qualquer momento Ver emergir O monstro da lagoa...De muito gorda A porca j no anda (Clice!) De muito usada A faca j no corta Como difcil Pai, abrir a porta (Clice!) Essa palavra

Presa na garganta Esse pileque Homrico no mundo De que adianta Ter boa vontade Mesmo calado o peito Resta a cuca Dos bbados Do centro da cidade... Talvez o mundo No seja pequeno (Clice!) Nem seja a vida Um fato consumado (Clice!) Quero inventar O meu prprio pecado (Clice!) Quero morrer Do meu prprio veneno (Pai! Clice!) Quero perder de vez Tua cabea (Clice!) Minha cabea Perder teu juzo (Clice!) Quero cheirar fumaa De leo diesel (Clice!) Me embriagar At que algum me esquea (Clice!)

Chico Buarque de Holanda Apesar de voc (1969).

Caetano Emanuel Viana Teles Veloso

Caetano Emanuel Viana Teles Veloso Alegria Alegria (1968)

CAMINHANDO CONTRA O VENTO SEM LENO, SEM DOCUMENTO NO SOL DE QUASE DEZEMBRO EU VOU O SOL SE REPARTE EM CRIMES, ESPAONAVES, GUERRILHAS EM CARDINALES BONITAS EU VOU EM CARAS DE PRESIDENTES EM GRANDES BEIJOS DE AMOR EM DENTES, PERNAS, BANDEIRAS BOMBA E BRIGITTE BARDOT O SOL NAS BANCAS DE REVISTA ME ENCHE DE ALEGRIA E PREGUIA QUEM L TANTA NOTCIA EU VOU POR ENTRE FOTOS E NOMES OS OLHOS CHEIOS DE CORES O PEITO CHEIO DE AMORES VOS EU VOU POR QUE NO, POR QUE NO

CASAMENTO E EU NUNCA MAIS FUI ESCOLA SEM LENO, SEM DOCUMENTO, EU VOU EU TOMO UMA COCA-COLA ELA PENSA EM CASAMENTO E UMA CANO ME CONSOLA EU VOU POR ENTRE FOTOS E NOMES SEM LIVROS E SEM FUZIL SEM FOME SEM TELEFONE NO CORAO DO BRASIL ELA NEM SABE AT PENSEI EM CANTAR NA TELEVISO O SOL TO BONITO EU VOU SEM LENO, SEM DOCUMENTO NADA NO BOLSO OU NAS MOS EU QUERO SEGUIR VIVENDO, AMOR EU VOU POR QUE NO, POR QUE NO...

ELA PENSA EM

Quadro Poltico Ps - 68

A partir de 1968, a represso poltica que desarticulou os movimentos populares de esquerda, formado aps o golpe de 64, comeava a agir sobre os setores estudantis, que eram foco das agitaes de massa contra o novo regime.

Quadro Poltico Ps - 68

Com a decretao do Ato Institucional n 5 (AI 5), pelo presidente Costa e Silva, e o fechamento do Congresso Nacional, em 13 de Dezembro de 1968, iniciou-se um perodo de muitas cassaes, prises, torturas, assassinatos e grande silncio nos meios estudantis, sindicais, intelectuais e artsticos, que perdurou at meados da dcada de 1970.

1960 - A dcada de Silncio!

Quadro Poltico Ps - 68

Com o golpe institucional do AI 5 e o fechamento expresso, Buarque, dos parte Geraldo principais da canais de produo cultural Gil,

brasileira entrou em crise. Artistas como Chico vandr, Gilberto Augusto Boal,Glauber Rocha, Caetano Veloso e muitos outros exilaram-se ou foram exilados.

Bibliografia

BHABHA, Homi K. Narrando a nao. In: ROUANET. Maria Helena.Nacionalidade em questo: Caderno da Ps-Letras. Rio de Janeiro: UERJ, 1997. BRANDO, Antnio Carlos, 1954. Movimentos culturais de juventude. 2. ed. Refor. So Paulo: Moderna, 2004. OLIVEIRA, Solange de. Literatura e Msica. So Paulo:Perspectiva, 2002. PEDROSA, Clia. Nacionalismo literrio. In: JOBIM, Jos Luis. Palavras da Crtica. Rio de Janeiro: Imago, 1992.


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