Download - Serrambi

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cada como sendo a de Marcelo e Val-frido. A testemunha afirmou aos de-legados não ter dúvidas de que umdos ocupantes da Kombi era Valfri-do. Na lista das testemunhas de de-fesa, o auxiliar de perito do Institu-to de Criminalística, Marcos Ley, vaidar detalhes sobre o que foi encon-trado na cena do crime que não ba-te com os objetos listados pela polí-cia no inquérito, incluindo papéis debombom, fios de náilon e aparelhode barbear. As outras pessoas con-vocadas pela defesa, na maioria, sãomoradores de Ipojuca e tinham re-lações de amizade com os réus.

Segurança - O esquema de policia-mento para o julgamento será refor-çado pelo 18º Batalhão da PolíciaMilitar. Na entrada do fórum serãoutilizados detectores de metais. Oacesso será restrito a 115 pessoas,entre elas familiares das vítimas edos réus, advogados, estudantes dedireito e jornalistas. O tenente-co-ronel Arlis Gadelha, comandantedo batalhão, disse que abusos nãoserão tolerados. "Só terão acesso aofórum as pessoas previamente ca-dastradas", avisou. Não será permi-tido entrar no prédio com telefonescelulares, câmeras fotográficas, com-putadores e outros equipamentos

eletrônicos. O efetivo de segurançanão será divulgado por questões es-tratégicas, no entanto, o que se sa-be é que os kombeiros deverão dei-xar o Centro de Triagem, em Abreue Lima, por volta das 8h, escoltadospor agentes penitenciários e PMs.Ao final do dia, os Lira retornarão

para o presídio. Deverão assistir aojulgamento os pais das vítimas, An-tônio Dourado e José Vieira de Me-lo. A mãe de Maria Eduarda, Regi-na Lacerda, disse que não irá porfalta de condições psicológicas. JáAlza Gusmão, mãe de Tarsila, mo-ra atualmente nos Estados Unidos.

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DIARIO DE PERNAMBUCO C1

Recife, segunda-feira, 30 de agosto de 2010Editora: Jaqueline Andrade Editoras-assistentes: Gisela Didier e Karla Veloso

Editora-assistente de produção: Cleide Galdino

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Mais ruas interditadas para recuperação de pavimento. Página C3Digitais em maço de cigarros pode desvendar mistério. Página C2vidaurbana Telefone: 2122.7512/7513 e-mail: [email protected] CONOSCO { }

www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana

Roubo de quadro Bairro do Recife

A poucas horas do início dojulgamento mais esperado dadécada, a cidade de Ipojuca man-teve durante todo o dia de ontemum clima de tranquilidade. Al-guns populares, sequer, sabiamda realização do júri do Caso Ser-rambi, que inicia hoje no fórumdo município e, tampouco, dasua importância. A rotina da ci-dade foi quebrada apenas porconta das alterações no trânsitona Avenida Francisco Alves deSouza, principal acesso ao cen-tro de Ipojuca, onde fica o fó-rum. Moradores vizinhos ao lo-cal estavam apreensivos com aagitação que poderá tomar con-ta da via a partir de hoje. Desdea meia-noite de ontem, o trânsi-to na avenida foi modificado eficará interditado parcialmentedurante os dias do júri, previstopara terminar na quarta-feira.

Moradores vizinhos ao fórumreclamaram por não terem sidoavisados previamente da interdi-ção da avenida e se queixaramque não foi feito nenhum cadas-tramento para que eles transi-tem na via e possam entrar esair de casa com o carro. A ave-nida que dá acesso à PE-60 estácom um trecho de 100 metros in-terditado e os veículos só podemcircular na faixa de rolamentodo lado contrário ao fórum.

Desde a tarde de ontem, guar-das municipais da Prefeitura deIpojuca faziam a fiscalização daárea, que já estava interditadacom cavaletes.

Com medo de ficar preso notrânsito, José Carlos e a mulherGeisa Kelly, 30, pretendem dei-xar o carro na garagem. "Vouacordar cedo e pegar a condu-ção da empresa que passa às5h", disse o gráfico, que traba-lha às margens da PE-60. GeisaKelly, que é funcionária públi-ca e trabalha na biblioteca da ci-dade, vai andando.

Inocentes ou culpados - A expec-tativa da população do municí-pio é de que os irmãos kombei-ros sejam inocentados. O enten-dimento popular é de que osacusados estão pagando por umcrime que não cometeram. "Euacho que eles serão absolvidos,apesar de existir várias histórias,inclusive que foram os própriosamigos que mataram as duasmeninas", disse o soldador Síl-vio Manoel.

Clima detranquilidadena cidade

Teresa Maia/DP/D.A Press

José Carlos e Geisa vão deixar o carro em casa para evitar transtornos

Começa queda de braçoEXPECTATIVA // A partir das 9h, as atenções estarão voltadas para o embate entre defesa e acusação no Fórum de Ipojuca

Como foi seu convíviocom Marcelo?Vivemos juntos por 23 anos e sem-pre fomos muito unidos.

Como era ele em casa?Normal. Não era agressivo. Semprecompreensivo. Não era de ficar es-pancando ninguém.

O que você aprendeucom ele neste tempo?Aprendi a ser um homem certo,

porque a gente nunca foi de bagun-ça. Sempre fomos trabalhadores,Sempre me ensinou a fazer amiza-de, fazer as pessoas gostarem dagente e eu tenho certeza que vouaprender mais quando ele sair da-li, né?

O que você acha deste caso?Tenho certeza, certeza mesmo deque ele não fez isso. Eu convivi comele e sei que ele não teria capacida-de para matar alguém.

Você conversou com elesobre o julgamento e aexpectativa para o júri?Ele está ansioso para sair. Está pa-gando por uma coisa que não de-ve. Todo mundo sabe que ele nãofez isso. O Brasil inteiro sabe. Eutrabalho com lotação e até os pas-sageiros falam sobre isso, acredi-tam na inocência dele. Sabe queele não tem nada a ver com estasmortes. Está nas mãos de Deus,

que sabe que ele é inocente. Espe-ro que o júri seja justo, correto.

A prisão deles prejudicou o seutrabalho.Alguém demonstrapreconceito com você?Não. Os passageiros andam normal

com a gente. Até quando ele esta-va trabalhando, e eu ficava como co-brador, as pessoas não deixaram deandar com a gente. Sempre os pas-sageiros perguntavam a ele como es-tava resolvendo estes problemas.Até os policiais quando paravam a

gente e viam que era ele, pergunta-vam como estava e diziam: “A gen-te está com você. Se Deus quiser,você vai sair dessa”.

O que você acha queaconteceu naquele dia?A gente que tá de fora não sabe.

E como vocês acham que elesentraram nessa história?Veja. O irmão dele mais novo fez umcrime, mas está pagando pelo quefez. Aí juntou com essa coisa aí prabotar ele como culpado, mas ele nãotem nada a ver com isso. O irmão de-le já tá pagando pelo que fez. No diado crime, inclusive, o carro estavaquebrado na porta de casa. Estavaquebrado já fazia três meses.

Você sente saudade dele?Tenho muita. A gente sempre vi-via junto, de domingo a domingo.Mas se Deus quiser, quarta-feira nósvamos estar na rua de novo.

Ana Luiza Machado/Esp.DP/D.A Press“ entrevista // Gustavo Carvalho

Caso Serrambi

ANA PAULA NEIVA, MARCIONILA TEIXEIRA

e WAGNER OLIVEIRA

[email protected]

C omeça hoje, às 9h, a quedade braço no Fórum de Ipo-juca. De um lado, os dois úl-

timos delegados que investigaramo Caso Serrambi e concluíram peloindiciamento dos kombeiros Marce-lo e Valfrido Lira. Do outro, dez tes-temunhas que vão tentar colocarabaixo todas as acusações feitas con-tra os dois réus. Durante os depoi-mentos, cinco peritos poderão serconsultados a qualquer momentopara a retirada de dúvidas da juízaAndrea Calado, dos promotores edos advogados de defesa. Somente de-pois dessas ouvidas, será a vez do in-terrogatório dos dois acusados. Dian-te do grande número de testemu-nhas, a previsão é a de que as ouvi-das levem dois dias e os kombeirossomente sejam ouvidos amanhã. Ospromotores Ricardo Lapenda e Salo-mão Abdo estão confiantes na con-denação dos acusados e pedirão umapena exemplar, segundo eles, quedeve ser em torno de 20 anos paracada um dos dois homicídios.

O delegado federal Cláudio Joven-tino e o da Polícia Civil Paulo JeannBarros foram os responsáveis, res-pectivamente, pelo quarto e quintoinquéritos. Esse último, baseou a de-núncia do Ministério Público de Per-nambuco à Justiça e motivou a pri-são dos dois acusados, em janeirode 2008. Os delegados deverão res-saltar com detalhes pelo menos 27índícios que apontam para a culpados irmãos Lira na morte de MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmão,em maio de 2003, e que foram colhi-dos ao longo das investigações. En-tre as revelações mais esperadas, pu-blicadas ontem com exclusividadepelo Diario, estão a fala de uma pa-rente dos acusados que disse ter pre-senciado eles confessando o assassi-nato das jovens. Os delegados tam-bém vão ressaltar os antecedentescriminais de Marcelo, consideradoscomprometedores. Ele responde pordois homicídios, um porte ilegal dearmas e uma lesão corporal grave.Marcelo foi apontado como cúmpli-ce no assassinato de Iraquitânia Sil-va, mulher do irmão dele, RobertoLira, que está preso pelo crime.

Apesar de serem consideradas pe-ças fundamentais ao longo do pro-cesso de 40 volumes e dez mil pági-

nas, seis pessoas foram deixadas defora da lista de testemunhas. Entreelas, o promotor Miguel Sales e o ex-chefe da Polícia Civil do estado, odelegado Aníbal Moura, que troca-ram farpas ao longo de toda a inves-tigação policial. Sales chegou a de-volver o inquérito por quatro vezesalegando falta de provas contra os Li-ra, o que provocou a ira de AníbalMoura. Ao longo do julgamento, os

promotores deverão apresentar umagravação onde o promotor Miguel Sa-les foi flagrado conversando com aesposa de Valfrido no dia em que aJustiça estava tentando prendê-lo.

Além desses dois personagens po-lêmicos, a mulher considerada tes-temunha-chave do caso, a dona decasa Regivânia Maria da Silva, tam-bém não será ouvida durante o jul-gamento. Regivânia diz ter visto Tar-sila e Maria Eduarda entrando emuma Kombi que depois foi identifi-

Antecedentes dosréus serão destaquesda acusação hoje

Avenida Francisco Alves de Souza, principal acesso ao centro de Ipojuca, teve um trecho de 100 metros interditado ao tráfego em frente ao fórumTeresa Maia/DP/D.A Press

ANA LUIZA MACHADO eTATIANA SOTERO // [email protected]

Enquanto a cidade se prepara para o julgamento dos irmãos Lira, a família cria a expectativa para ver os dois voltarem pa-ra casa comemorando a absolvição pelo júri. O filho de criação de Marcelo Lira, Gustavo Henrique Carvalho, 26 anos, éum deles.Acredita na inocência do “pai” que o criou. Em entrevista ao Diario, ele fala da relação com o kombeiro acusa-do da morte de Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão.Veja a íntegra da entrevista no www.diariodepernambuco.com.br.

"Sinto muito a falta dele"

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Cuidado para nãoser vítima do seupróprio Twitter

A rede social que se torna cada vezmais um fenômeno no país exige

bom senso para não falar demais ese “queimar” na vida profissional epessoal.Veja as regras de etiqueta

doTwitter. INFORMÁTICA G1 e G2

O nordestino é,antes de tudo,

um otimista

Um consumidor inveterado, quenão se preocupa com as dívidas, e

um otimista implacável. Este éo perfil do nordestino que se

destacou em estudo do Ipea sobreas regiões do país. ECONOMIA B1

Cadeirinha éobrigatória apartir de hoje

Multa de R$ 191,54, sete pontos nacarteira e o carro apreendido. Este

será o castigo para quem forflagrado com criança no carro foradas cadeirinhas e assentos exigidos

pelo Detran. ÚLTIMAS A2

Brasileiros eramescravos sexuais

na Espanha

A polícia espanhola desarticulouuma rede de exploração sexual de

brasileiros,principalmentenordestinos, que recebiam cocaína

eViagra pra se prostituírem 24horas por dia. MUNDO E6

DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brQUARTA-FEIRA Recife, 1º de setembro de 2010 Nº 244 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

FALE CONOSCO: Assinaturas: 3320.2020 (capital) 0800 2818822 (interior) ASSINANTE

Caso Serrambi

ENCURRALADOS

JOVENS, UNIVERSITÁRIOS, RICOS, OSTENTADORES E GOLPISTASQuatro jovens de classe média alta do Recife - com idade entre 19 e 22 anos e que recebiam mesadas de até R$ 2,7 mil dos pais - formavam uma quadrilha que roubou cerca de R$ 2 milhões em um ano, falsificando faturas de cartões

de crédito. O golpe foi descoberto devido ao padrão de vida ostensivo que eles vinham tendo, comprando carros luxuosos, fazendo viagens internacionais e gastando mais de R$ 10 mil por noite em boates. VIDA URBANA C6

As dez testemunhas convocadas peladefesa acabaram municiando aindamais a acusação e complicaram devez a situação de Marcelo e Valfrido

Lira. Alguns depoimentos chegaram aser constrangedores. VIDA URBANA C3

Os tiros pelaculatra dosdefensores

O advogado dos kombeiros pediu queo promotor aposentado Miguel Salesse tornasse testemunha, mas a juízaAndrea Calado indeferiu. Revoltado,Sales garante que a decisão do júripoderá ser anulada. VIDA URBANA C4

Juíza impedea defesa de

Miguel Sales

As testemunhas de defesa falharam eagora só os próprios acusados podemmudar o curso do julgamento. Hoje éconsiderado o Dia D do Caso Serrambi

com os depoimentos decisivos deMarcelo e Valfrido. VIDA URBANA C1

A últimachance doskombeiros

A previsão era de que a sentença dajuíza Andrea Calado saísse hoje, masela já adiantou que só fará o debateentre defesa e acusação amanhã. Sódepois o júri poderá definir o futuro

dos kombeiros. VIDA URBANA C1

Decisão dojúri só deve

sair amanhã

SPORTVENCE E COMEÇA ASE APROXIMAR DO G-4

Com muita dificuldade, o Sport bateu o América-MG por 1 x 0 esegue invicto há sete partidas. A distância para o G-4 já diminuiu

pela metade, passando de 12 para seis pontos. SUPERESPORTES D5

31 DIAS PARA SEREMESQUECIDOS PELO NÁUTICO

Não foi desta vez a reabilitação do Náutico, ainda na 8ª posição.Em atuação pífia, foi vencido por 2 x 1 pelo lanternaVila Nova. Em

agosto, oTimbu somou 5 pontos em 7 jogos. SUPERESPORTES D4

Teresa Maia/DP/D.A Press

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tábua deMARÉS

tempoHOJE

RECIFE //Sol e aumento de nuvensde manhã. Pancadas dechuva à tarde e à noite.

08:1321:15

0.90.1

02:1914:21

PERNAMBUCO //Nublado a parcialmente nublado. Chuvafraca no Litoral e Zona da Mata.Chuvas isoladas no Agreste.●● LUA minguante

1.51.6

Acompanhe o julgamento ao vivo e participe do debate online no www.diariodepernambuco.com.br

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DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brQUINTA-FEIRA Recife, 2 de setembro de 2010 Nº 245 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

FALE CONOSCO: Assinaturas: 3320.2020 (capital) 0800 2818822 (interior) ASSINANTE

Caso Serrambi

Alexandre Gondim/DP/D.A Press - 8/9/06

}C lass i l í derFone: 3419 9000 e-mail: [email protected]

tábua deMARÉS

tempoHOJE

RECIFE //Sol com muitas nuvens duranteo dia. Períodos de nublado,com chuva a qualquer hora.

10:2322:54

1.51.6

03:4116:38

PERNAMBUCO //Chuva fraca no Litoral eZona da Mata. Chuvasisoladas no Agreste.●● LUA minguante

0.91.0

Henrique Figueiroa / Divulgação

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VIOLÊNCIA NO INTERIOR //Em menos de 40 minutos, duas agências do Banco do Brasil foram roubadas nas cidades de Frei Miguelinho e Taquaritinga do Norte,separadas por menos de 5 km. Os assaltos foram praticamente iguais, com a explosão de quatro caixas eletrônicos. VIDA URBANA C5

O DIA DELESOs depoimentos dos irmãos Marcelo e Valfrido Lira, acusados de matar as jovens Tarsila e Maria Eduarda, foram adiados para hoje. Mas a verdade é que ontem também foi o diadeles. Os peritos foram unânimes em dizer que não existe prova técnica contra os kombeiros, reforçando a tese de que o processo não tem elemento para levar à condenação dosréus. Um deles reforçou que não havia sinais de tentativa de estupro e trouxe à tona o exame apontando que Maria Eduarda já estava morta quando recebeu os tiros. VIDA URBANA C1 a C4

O Orçamento Geral da União pre-vê que o governo federal poderá abrir40.549 vagas em 2011. A quantida-de é quase a metade dos 76,9 milcargos autorizados para este ano. Osórgãos que terão mais oportunida-des são a Aeronáutica e o Ministé-rio Público da União. ECONOMIA B1

Novo orçamentovai reduzir vagasnos concursos

Foram 274 veículos abordados no1º dia das blitze do Detran-PE parafiscalizar o uso das cadeirinhas e as-sentos. Dos carros parados, 28 tra-ziam crianças e apenas cinco não ti-nham os equipamentos obrigatórios.A multa é de R$ 191,54 e 7 pontos nacarteira de habilitação. VIDA URBANA C6

Cinco multas no1º dia das blitzedas cadeirinhas

Um estudo da Agência de Desen-volvimento Econômico apontou asprincipais qualificações profissio-nais exigidas pelas empresas quedesembarcaram em Pernambucono primeiro semestre de 2010, inves-tindo R$ 1 bilhão e gerando 4,5 milempregos. ECONOMIA B2

As profissõesonde sobramvagas no estado

O DONO DA FPFA MANOBRA QUE GARANTIU

A REELEIÇÃO DE CARLOSALBERTO OLIVEIRA NA FPFSEM NENHUM OPOSITOR

SUPERESPORTES D3

A revanche da defesa

Veja os detalhes de todos os pontos abordadospelos peritos que equilibraram o julgamento efortaleceram a tese de defesa dos kombeiros.

As casas de Serrambi

A perita Cristiana Couceiro garantiu que asperícias feitas nos imóveis de amigos das vítimas

em Serrambi não tinham vestígios de crime.

Bomba e contra-ataque

Gravações bombásticas e novas revelações doassassinato da ex-cunhada dos kombeiros são as

cartas na manga dos promotores para reagir.

Fórum virou hospital

Uma testemunha, três jurados, o promotorMiguel Sales e a mãe de Maria Eduarda

passaram mal e foram socorridos pelo Samu.

FURTONOVO GOLPENO SHOPPING

Dois estrangeiros e umabrasileira foram presos

em flagrante acusados devários furtos em lojas do

Shopping Recife. Elesusavam um equipamentopara roubar DVDs, calças,

camisas de time e degrifes. ÚLTIMAS A2

PARAGUAIAMUSA DA COPA

EM FOTOS 3D

A Playboy de setembroinova ao trazer fotos em3D de Larissa Riquelme

FLAGRAADULTOS DROGAM

UMA CRIANÇA

Um vídeo chocou o país.Um homem e uma mulher

dão maconha para umacriança de 5 anos e riem

enquanto ensinam amenina a fumar. BRASIL E3

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DAMOSTRA INTERNACIONAL DE MÚSICA DE

OLINDA, QUE COMEÇA HOJE NAS IGREJAS EPONTOSTURÍSTICOS DA CIDADE. VIVER F1

mimo

ÚLTIMAS A2

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divirta-se

DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brSEXTA-FEIRA Recife, 3 de setembro de 2010 Nº 246 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

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Caso Serrambi

Tolga Bozoglu / EFE

DaltonValério / Divulgação

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tábua deMARÉS

tempoHOJE

RECIFE //Sol e aumento de nuvensde manhã. Pancadas dechuva à tarde e à noite.

12:0200:28

1.61.8

05:5418:00

PERNAMBUCO //Chuva fraca na Zona da Mata. Chuvasisoladas no Agreste. Possibilidade dechuvas isoladas no Sertão do Pajeú.●● LUA minguante

0.90.9

O pesado e intenso espetáculo Sadeem Sodoma entra em cartaz noTeatro de Santa Isabel prometendocausar impacto no público. VIVER F1

Com orçamento de R$ 20 milhões,estreia hoje a superprodução Nossolar, do livro de Chico Xavier. VIVER F8

A essência e ofascínio do mal

O espiritismo pop

Confira o melhor da programaçãocultural para quem não vai sair dacidade neste feriado. VIVER F3 a F6

Roteiro do feriadão Gallo promete subir o NáuticoApesar da queda de rendimento e dos quatro jogos sem vencer, o técnico garante que levará oTimbu

para a Série A. O plano de reabilitação começa hoje contra o Santo André. Hamilton fará sua reestreia.

SUPERESPORTES D3

Que venha a Argentina!Depois de duas derrotas dramáticas para os EUA e Eslovênia, o Brasil enfim conseguiu transformar umagrande atuação em vitória no Campeonato Mundial de basquete e garantiu a 3ª posição do grupo Bbatendo a Croácia por 92 x 74. O duelo nas oitavas de final será contra o arquirrival sul-americano.

SUPERESPORTES D8

VIROU MODAEXPLODIR CAIXAS

ELETRÔNICOSParece mentira. Um dia depois da

explosão de caixas eletrônicos em FreiMiguelinho e Taquaritinga, mais duascidades do interior do estado tiveram

agências bancárias assaltadas damesma forma: Ferreiros e Machados.

VIDA URBANA C5

BRASIL NO REINADODO HAMBÚRGUER

FAST-FOOD

Três empresários brasileiroscompraram a Burger King,

segunda maior rede delanchonetes do mundo, porUS$ 4 bilhões. ECONOMIA B2

ACUMULADO HÁ 10SORTEIOS, PRÊMIO JÁÉ DE R$ 85 MILHÕES

MEGA-SENA

ÚLTIMAS A2

TURISMOTEME OEFEITO DO “TOQUE

DE RECOLHER”

OLINDA

VIDA URBANA C6

Cec

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reira

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CULPADOSPOR QUE ELES SERIAM

A promotoria apresentou ontem gravações telefônicas que comprometem muito os acusados,

principalmente pela informação de que os óculos que Tarsila usava no dia da sua morte foram

parar com a amante deValfrido.As coincidências entre os assassinatos das jovens e o de Iraquitânia

Silva, cunhada dos kombeiros, também pesam contra os irmãos, que caíram em várias contradições

INOCENTESPOR QUE ELES SERIAM

Todos os peritos revelaram a fragilidade técnica das provas apresentadas pela polícia. Eles aindacolocaram em xeque a testemunha-chave Regivânia Silva, que garantia ter visto as meninasentrarem na Kombi.A ausência de sinais de estupro e o laudo apontando que Maria Eduarda jáestava morta quando levou os tiros são duas informações importantes para a decisão do júri

www.diariodepernambuco.com.br

Acusação promete mais bombas“A verdadeira história sobre o caso”. É isto que os promotores

prometem revelar na apresentação final para o júri. O assistente JoséSiqueira avisa:“Até hoje vocês não viram as provas mais fortes”.

Defesa quer criar mais dúvidasBaseado em todas as análises dos peritos, o advogado JoséWellingtonvai relembrar ao júri o princípio básico do direito penal. Ele determina

que havendo dúvida sobre a autoria, deve-se absolver o réu.

Miguel Sales será processadoDepois de ouvir as gravações, o procurador-geral de Justiça, Paulo

Varejão, vai abrir um processo contra o promotor Miguel Sales.Elepode perder a aposentadoria e ser expulso do quadro do MPPE.

Acompanhe o último dia de julgamento, participe das discussões e veja a decisão do júri em tempo real no

Teresa Maia/DP/D.A.PressTeresa Maia/DP/D.A.Press

Finalmente acabaram os depoimentos e hoje ojúri popular decide se os kombeiros Marcelo eValfrido Lira mataram Tarsila e Maria Eduarda. Asociedade, dividida, espera o fim deste caso hásete anos. Hoje o DDiiaarriioo apresenta os fatos quevão definir o futuro dos acusados. VIDA URBANA C1 a C3

INOCENTESNos últimos sete anos, os kombeiros Marcelo e Valfrido Lira foram os principais acusados dos assassinatos das jovens Tarsila e Maria Eduarda e estavam presos há dois anos e

meio. Hoje, eles são homens livres. Foram considerados inocentes pelo júri popular no início da madrugada de hoje.A fragilidade técnica das provas apresentadas pela polícia ederrubadas pela perícia no julgamento foi determinante para a decisão dos jurados. Do lado de fora do Fórum de Ipojuca, uma multidão comemorou. VIDA URBANA C1 a C5

Caso Serrambi

Teresa Maia/DP/D.A.Press

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DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brSÁBADO Recife, 4 de setembro de 2010 Nº 247 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

FALE CONOSCO: Assinaturas: 3320.2020 (capital) 0800 2818822 (interior) ASSINANTE

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tábua deMARÉS

tempoHOJE

RECIFE //Sol com muitas nuvens duranteo dia. Períodos de nublado, comchuva a qualquer hora.

00:2813:04

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07:0619:04

PERNAMBUCO //Chuva fraca no Litoral e Zonada Mata. Chuvas isoladas noAgreste.●● LUA minguante

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Alcione Ferreira/DP/D.A Press

CONCURSOABIN COM 80VAGAS ESALÁRIO ATÉ R$ 10 MIL

A Agência Brasileira deInteligência lançou umconcurso público com

80 vagas (50 para nívelsuperior e 30 para médio).Os salários iniciais variamde R$ 4,2 mil a R$ 10,2 mil.A seleção acontece em trêsfases, a última inclui um

curso de 250 horas/aula naAbin. ECONOMIA B1

DIARINHOQUANDO ATELEVISÃO

SETORNA INIMIGA

PÁGINAS 4 e 5

Um celular e um GPS foram fundamentais para o resgate de 14 pessoas - entre turistas e instrutores de mergulho- que ficaram à deriva, por quase duas horas, a 5,5 km da costa pernambucana, após o barco que usavampara um passeio de mergulho afundar. Parte do casco se desprendeu e, em pouco mais de dois minutos, obarco naufragou. Tempo apenas para os ocupantes vestirem os coletes salva-vidas e pularem na água.

VIDA URBANA C6

Na raça, o Náuticoreencontra a vitória

O futebol apresentado pelo time ficou muito abaixo das expectativas,mas o Náutico conseguiu compensar os defeitos com raça e venceu oSanto André por 1 x 0 nos Aflitos, subindo para a 5ª colocação naSérie B, com os mesmos 31 pontos do Bahia, 4º colocado. SUPERESPORTES D5

Risco silenciosopara a gravidez

Pelo menos três grávidas morrempor dia no Brasil com diagnóstico

de pré-eclâmpsia. BRASIL E4

Petrobras vendenovas ações

A Petrobras colocou 3,75 bilhões deações na bolsa.Uma chance para

pequenos investidores. ECONOMIA B2

Sport luta por uma boa sequênciaContra a Portuguesa, no Canindé, o Leão tenta mais uma vez vencer fora

para engrenar uma sequência de bons resultados. SUPERESPORTES D4 e D5

Naufrágio no RecifeO DRAMA DE 14 PESSOAS À DERIVA

Segurança reforçada no lito-ral durante o feriado. Estão es-calados 1.340 policiais. Porto deGalinhas e Boa Viagem serão aspraias que receberão o maiorefetivo, com 157 e 127 homens,respectivamente. VIDA URBANA C8

Reforço nasegurançadas praias

Este é o primeiro feriadão coma Ponte do Paiva, que encurta em30 km a distância para as praiasdo Sul, mas em compensação co-bra pedágios. O Diario fez os cál-culos e aponta qual a rota quemelhor cabe no bolso. ECONOMIA B3

O melhorcaminho parao Litoral Sul

Lúcio

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Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Pressa

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ESTÁDIO FECHAPARA A COPA DE 2014

MARACANÃ

Na última partida antes da amplareforma para ser o palco principal

da Copa do Mundo de 2014, oMaracanã recebeu público de

“menos” de 35 mil torcedores.SUPERESPORTES B7

O PODEROSO CHEFÃOO pernambucano Silvano Sales dos Santos tem 25 anos, mas já é considerado um dos bandidos mais perigosos do Nordeste. Foragido do Presídio Aníbal

Bruno, acusado de liderar uma quadrilha que assaltava bancos em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, ele foi preso ontem na Praia do Pipa (RN).Conhecido como Zilo, Silvano recrutava os criminosos e se encarregava de planejar as ações violentas em agências de cidades do interior. ÚLTIMAS A2

PROFISSÕESBONS NÚMEROS PARA

OS CONTABILISTAS

A graduação de ciênciascontábeis está em alta em

Pernambuco, com um amploleque de oportunidades. Curso

superior é ideal para quemgosta de números, tem umavisão ampla e costuma seatualizar. ECONOMIA C4 e C5

THE SHOWDE IVETECANTORA BAIANA

LEVA 15 MIL PESSOASAO MADISON SQUARE

GARDEN, EM NOVAYORKÚLTIMAS A2

ASSALTANTEMORTO EM

BOA VIAGEM

Um motorista reagiu no sábadoà abordagem de Manderlan

Neto, 28 anos, que foi baleadoquatro vezes na cabeça e no

peito. Há 15 dias, umadolescente foi ferido após

roubar a bolsa de uma mulherno mesmo bairro. Especialistasalertam para o risco de reagir

a um assalto. VIDA URBANA C1

DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brSEGUNDA-FEIRA Recife, 6 de setembro de 2010 Nº 249 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

FALE CONOSCO: Assinaturas: 3320.2020 (capital) 0800 2818822 (interior)

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tábua deMARÉS

tempoHOJE

RECIFE //Sol, com chuva de manhãe diminuição de nuvens à tarde.Noite com pouca nebulosidade.

02:1714:39

2.22.3

08:3920:43

PERNAMBUCO //Chuvas isoladas no litoral e mata,possibilidade no Agreste. Parcialmentenublado a claro nas demais áreas.●● LUA minguante

0.30.3

Morte na pistaO JAPONÊS SHOYATOMIZAWA CAIU DA MOTO EFOI ATROPELADO POR OUTROS DOIS PILOTOS NOGP DE SAN MARINO. NÃO RESISTIU. SUPERESPORTES B8

CIRO PEDESOCORRO

Ontem teve reunião deemergência no Sport com oatacante Ciro. Desta vez, a

questão não era aumento desalário, mas o controle do

dinheiro pelos pais do jogadorde 21 anos. Ciro reclama que

está vivendo de mesada.SUPERESPORTES B3

EFE

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D.A

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Acusação quer novo julgamento do Caso Serrambi no Recife VIDA URBANA C3

A MAIOR TORCIDA DO BRASILOs 50.879 tricolores viram o time vencer o Guarany/CE por 4 x 3 no Arruda depois de dois gols contra. SUPERESPORTES B4 e B5

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O GUIADA SÉRIE B

Encerrada a primeira etapa doBrasileirão, Náutico e Sportretornam amanhã a campo.Veja a estratégia dos times

para chegar ao G-4.SUPERESPORTES B2 e B3

ASSINANTE

C M Y K

C M Y K

A1

FORAM ELES?

FOI ELA!

Esta pergunta é feita pelos pernambucanos há sete anos e o primeiro dia do julgamento do assassinato das jovensTarsila e Maria Eduarda revelou oquanto a sociedade continua dividida em relação à culpa dos irmãos kombeiros Marcelo eValfrido Lira. Dentro do júri, o clima foi tenso e a defesa dosacusados terminou encurralada. Primeiro, a acusação apresentou os 27 indícios (antecipados com exclusividade pelo Diario no domingo) e tentou ligar

os kombeiros a outros crimes. No final do dia - durante um bate-boca - o procurador Ricardo Lapenda afirmou que o defensor público Francisco Nunestinha feito um comentário insinuando que Marcelo Lira poderia ter matado as duas jovens. Nunes negou a acusação, mas uma testemunha da conversacitada por Lapenda, o professor universitário Carlos Fraga, foi localizado pelo Diario no final da noite e confirmou a declaração do defensor.VIDA URBANA C1 a C3

AnaTerezinha Zanforlin, 51 anos, professora e agora assassina. Ela foi apontada pela polícia comomentora da morte do seu marido, o dentista Paulo Sperança, há 20 dias. Horas antes do crime

premeditado, os dois passeavam juntos no shopping.A relação conturbada - iniciada ainda naadolescência - terminou em um roteiro de perseguição, mentiras, interesses e morte. VIDA URBANA C4

PETROLINA GANHANOVA TECELAGEM

800 empregos

Um dos dez maiores consumidores de poliéster do país, a paulistaCovolan Jeanswear vai instalar uma nova tecelagem em Petrolina.O investimento será de R$ 150 milhões gerando 800 empregosdiretos. Já Sirinhaém vai ganhar uma indústria de pré-moldadosde concreto e alvenaria, com 160 vagas de trabalho. ECONOMIA B3

UMA PARTIDAINACREDITÁVEL

Superesportes

Os jogadores do Brasil foram verdadeiros gigantes no duelocontra os Estados Unidos pelo Mundial de Basquete. O jogodisputadíssimo terminou de forma dramática, com a derrotada Seleção por apenas dois pontos (70 x 68) depois de perderduas grandes chances nos últimos segundos. SUPERESPORTES D6

BRINQUEDO DE FESTALEVA CRIANÇA À UTI

acidente

Um menino de 9 anos estava em um brinquedo chamadoLoconauta numa casa de festas no bairro de Setúbal, Zona Sul doRecife, e foi arremessado contra o chão e contra as paredes.Gustavo Gomes está na UTI com traumatismo craniano. No localnão havia maca e nem primeiros socorros. VIDA URBANA C5

REAJUSTEGÁS DE COZINHAFICA MAIS CARO

Amanhã começa o mês desetembro e com ele chega

um reajuste no preço do gásde cozinha. O aumento seráde R$ 1 para o consumidor,representando um impacto

de 2,85%. ECONOMIA B1

DOWNTOWNA DECADÊNCIA DOBAIRRO DO RECIFE

O fechamento do tradicionalDowntown Pub reflete o

abandono e degradação doantigo polo. Proprietáriosda casa reclamam que olocal hoje é associado às

drogas e ao tráfico. VIVER F2

É VENCER...SPORT ENCARA O AMÉRICA-MG NA ILHA COMA MISSÃO DE ENCURTAR DISTÂNCIA PARA O G-4

SUPERESPORTES D3

OU VENCERPARA NÃO CAIR MAIS NATABELA, NÁUTICOBUSCA REABILITAÇÃO SOBRE O LANTERNA

SUPERESPORTES D2

DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brTERÇA-FEIRA Recife, 31 de agosto de 2010 Nº 243 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

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Caso Serrambi

<<

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tempoHOJE

RECIFE //Sol, com chuva demanhã e diminuição denuvens à tarde.

07:1719:56

0.80.9

01:2413:13

PERNAMBUCO //Nublado a parcialmente nublado.Chuva fraca no Litoral e Zona daMata. Chuvas isoladas no Agreste.●● LUA cheia

1.61.7

Tolga

Bozo

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Inês Campelo/DP/D.A Press

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O Teatro de Santa Isabelrecebe hoje a montagem LuaCambará encenada por 52crianças e adolescentes debaixa renda que integram oÁria Social. A renda será re-vertida para a criação de cur-sos profissionalizantes. VIVER F1

A grandenoite para52 bailarinos

O que os kombeirosterão que rebater:

C M Y K

C M Y K

Apesar da expectativa dos de-poimentos dos irmãos kombeiros,o dia de hoje vai começar com asexposições de quatro peritos doInstituto de Criminalística (IC) querealizaram perícias do caso no iní-cio das investigações, em 2003. Oque a juíza Andrea Calado jáadiantou é que a previsão para o

encerramento, que seria inicial-mente hoje, agora é para amanhã.“Espero começar a quinta-feiracom os debates entre defesa e acu-sação. Não estamos encerrando ostrabalhos muito tarde para nãodeixar os jurados muito cansados.Nós já estamos acostumados comesse ritmo. Eles não. Quero pre-

servá-los”, ponderou a juíza.Durante o período dos debates o

clima, que não foi ameno duranteos dois primeiros dias do julgamen-to, deve ficar ainda mais quente noFórum de Ipojuca. Para hoje estãoprevistas ainda exposições de gra-vações de depoimentos e de escutastelefônicas que podem comprome-

ter ainda mais os irmãos Marcelo eValfrido Lira. Em relação ao primei-ro dia, o número de curiosos emfrente ao fórum está diminuindo.A aglomeração só aumenta duran-te a saída do carro onde os kombei-ros são levados de volta para o Cen-tro de Triagem, onde estão presosdesde janeiro de 2008.

A s quatro horas mais decisi-vas para o julgamento doCaso Serrambi devem acon-

tecer hoje à tarde no Fórum de Ipo-juca. É quando os irmãos kombeirosMarcelo e Valfrido Lira terão, cadaum, pelo menos duas horas paraconvencer os jurados de que são ino-centes do assassinato de Maria Eduar-da Dourado e Tarsila Gusmão, ocor-rido há sete anos. Esse é o momen-to mais esperado por todos os envol-vidos no júri, pela família e tambémpelos pernambucanos que ainda es-peram um esclarecimento para o ca-so. É a grande oportunidade para adefesa tentar derrubar a história quefoi construída até então contra osirmãos. Tentar provar o que boa par-te da população acredita, que eles defato não tiveram envolvimento comas mortes das garotas. Para a pro-motoria, é mais uma chance de con-tinuar atuando de forma incisiva,como aconteceu nos dois primeirosdias do julgamento.

Para os kombeiros, chegou a horade sair do papel de meros observado-res diante do corpo de jurados. Atéontem, era difícil entender o senti-mento deles em relação ao próprio

futuro que em poucos dias estariadecidido.Sentadosnobancodosréus,os dois esboçavam poucas reações.Em alguns momentos, Marcelo pro-curava a família na plateia. Valfridobalançava as pernas durante o de-poimento de testemunhas. Mas emnenhum momento demonstravamemoção, mesmo sendo acusados pe-los promotores, que procuravam bre-chas para tentar incriminá-los. Pres-são de dentro do fórum e apoio dolado de fora. Al-guns morado-res da regiãotentavam umespaço diantedo tribunal pa-ra ver os acusa-dos. Passar for-ça. E fizeram is-so, mais uma vez, aplaudindo oskombeiros quando eles retornavampara o Cotel na noite de ontem.

Para os Lira voltarem para casa, adefesa precisa esclarecer aos juradosvários pontos nebulosos suscitadospela acusação. Além dos 27 indícioscontra eles, revelados pelo Diario dePernambuco com exclusividade noúltimo domingo, outras acusações es-

tão vindo à tona ao longo do julga-mento através da promotoria. Porexemplo, mais de uma testemunhadisse ter visto as garotas entraremem uma Kombi com as mesmas ca-racterísticas da dos irmãos. E, ainda,a relação próxima que os acusadospoderiam ter com o promotor apo-sentado Miguel Sales, como está pre-visto para ser mostrado hoje em gra-vações telefônicas interceptadas pe-la polícia. A defesa precisa convencer

os jurados queos antecedentescriminais deMarcelo não sãodeterminantespara apontá-loscomo assassinosdas duas adoles-centes, como

tem sido ventilado pela promotoria.Contra Marcelo pesam as acusaçõesde dois homicídios, uma lesão cor-poral grave e uma denúncia de estu-pro. A promotoria também deveráapresentar a denúncia de falsifica-ção de Carteira de Habilitação reti-rada por Valfrido Lira, cuja identifi-cação seria de Minas Gerais.

Os advogados dos kombeiros pre-

cisam esclarecer como os óculos deTarsila foram encontrados com Val-frido e depois usados pelas amantesdos irmãos, conforme relatos de tes-temunhas. O acessório é apontado co-mo principal indício para ligá-los àcena do crime, segundo os promo-tores. Além disso, os advogados de de-fesa precisam descartar a relação en-tre os objetos encontrados no veícu-lo dele e do irmão no local do crime(veja quadro) e que os fios de cabelona Kombi não eram de Eduarda, co-mo supõe a acusação.

A decisão do futuro dos irmãosLira está nas mãos de quatro homense três mulheres, todos funcionáriospúblicos do estado, que moram emIpojuca, fazem parte do Conselhode Sentença. Mesmo que inocenta-dos, a liberdade ainda pode estardistante para os kombeiros. Isso por-que, em caso de serem absolvidos,eles recebem um mandado de soltu-ra, mas retornam ao Cotel em Abreue Lima, onde estão presos desde ja-neiro de 2008. A Justiça ainda pre-cisa certificar-se se há outros proces-sos pedentes contra os dois. (AnaNeiva, Marcionila Teixeira, TatianaSotero e Wagner Oliveira).

Julgamento pode terminar amanhã

❜❜

Estou esperançoso de

que os jurados

condenem os

irmãos kombeiros

Dia decisivo paraos irmãos kombeiros

Mais de uma testemunhadisse à polícia ter visto asadolescentes Maria EduardaDourado e Tarsila Gusmãoentrando numa Kombi branca nafrente da padaria Porto Pão, emPorto de Galinhas, além datestemunha-chave RegivaniaMaria da Silva, que ficou de for ada lista de convocados para ojulgamento

Várias gravações telefônicasfeitas com autorização judicialmostram que os irmãos MarceloeValfrido Lira tinham umarelação muito próxima com oentão promotor de IpojucaMiguel Sales

Os delegados CláudioJoventino, da Polícia Federal, ePaulo Jeann, da Polícia Civil,responsáveis pelos últimosinquéritos, rearfimaram que náotem dúvidas de que os irmãosLira são autores das duas mortes

Os antecedentes criminaisdescobertos contra eles. Marceloserá acusado de estupro contrauma menina de 13 anos, decorrupção a policiais de trânsito,além de já responder a doisoutros homicídios e lesáocorporal grave

A acusação descobriu queValfrido responde a umprocesso-crime no Detran porter falsificado uma Carteira deHabilitação. Segundo a acusação,o documento teria sido emitidoem Minas Gerais

Valfrido teria sido visto com osóculos escuros que pertenciam àvítima Tarsila Gusmão. Inclusiveexistem gravações quecomprovam que a amante dele ea do irmão usaram o acessóriodepois

A polícia recolheu no localonde os corpos das duas jovensforam encontrados papéis debombom, pedaços de papelão,fios de nylon e um barbeadoriguais aos que estavam na Kombique pertencia aos irmáos

Dois fios de cabelo que estavamno interior do veículo seassemelham com os fios deMaria Eduarda Dourado.Asemelhança foi constatadaatravés de perícias do Institutode Criminalística de Pernambuco

Durante as investigações,a polícia descobriu que okombeiro Marcelo Lira mudavade chip do telefone celular pordiversas vezes alegando quenunca seria copiado pela polícia

As dez pessoas escolhidas paratentar provar a inocência doskombeiros, já ouvidas no f[orum,segundo a acusação, só fizeramcomplicar mais a situação doskombeiros

Marcelo Lira foi acusado de terparticipado junto com o irmãoRoberto Lira, hoje preso, doassassinato da ex-cunhadaIraquitânia da Silva, em 2001. Oirmão acabou assumindo o crimesozinho durante julgamento, mashá indícios da forma de escondero corpo da vítima e maneira decriar álibi, que se assemelham aosassassinatos das duas jovens

Marcelo e Valfrido Lira terão duas horas, cada, para convencer jurados que não mataram as jovens

❜❜Antônio Dourado,pai de Maria Eduarda

Momento maisesperado do júriserá hoje à tarde

C1

DIARIO DE PERNAMBUCO C1

Recife, quarta-feira, 1º de setembro de 2010Editora: Jaqueline Andrade Editoras-assistentes: Gisela Didier e Karla Veloso

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Caso Serrambi

❜❜

O momento mais

esclarecedor

acontecerá hoje, no

depoimento deles

❜❜JoséVieira de Melo, pai deTarsila

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A Press

Liderados pela família dosirmãos Lira, grupo levou faixase cartazes e fez manifestaçãoem frente ao Fórum de Ipojuca

C M Y K

C M Y K

O s irmãos Marcelo e Valfri-do Lira ainda terão que es-perar mais um dia para ter

o seu destino definido. Ficou parahoje o momento em que eles tenta-rão convencer os jurados da sua ino-cência. Mas só amanhã, o conselhode sentença deve dar o veredito, tiran-do ou não os kombeiros do Centrode Triagem Abreu e Lima (Cotel), emAbreu e Lima, onde estão presos des-de 2008, acusados pelas mortes deMaria Eduarda Dourado e TarsilaGusmão. Vários imprevistos ontem,terceiro dia do julgamento, fizeramcom que os depoimentos dos irmãoskombeiros fossem adiados.

O testemunho dos peritos do IC,por exemplo, durou mais do que oprevisto. Apenas três deles foram ou-vidos, quando a juíza Andrea Cala-do imaginava que os quatro respon-deriam os questionamentos da acu-sação e defesa. Além disso, a sessãocomeçou com quase 1h30 de atra-so. Isso porque três jurados estavamcom hipertensão e precisaram rece-ber atendimento médico. E eles nãoforam os únicos. A testemunha Abe-denaldo Barbosa - dono do playtime,em Porto, e que estava à disposiçãoda Justiça – também teve pressão al-ta e foi dispensado pela magistrada.Além deles, o promotor aposentadoMiguel Sales e a mãe de Maria Eduar-da, Regina Lacerda, foram socorri-dos pelo mesmo motivo.

Depois de iniciar a sessão, a juízasuspendeu as ouvidas por 20 minu-tos após bate-boca entre a promoto-ria e os advogados de defesa dos Li-ra durante o depoimento do peritoaposentado do IC, Evson Lira. En-quanto o clima pegava fogo lá den-tro, do lado de fora, familiares dosréus e populares organizavam umapasseata pedindo justiça para os ir-mãos. Com faixas e cartazes pedin-do liberdade e fazendo um apitaço,dezenas de pessoas saíram da frentedo Fórum de Ipojuca até uma praçano entorno. O grupo era puxado pe-lo filho de Valfrido, Paulo Lira, e amãe dos kombeiros, Antônia da Sil-va. “Sei que não foram meus filhos”.

O grupo também aproveitou pa-ra aplaudir o advogado de defesa Jor-ge Wellington na saída do fórum nosintervalos. Talvez nem soubessemque aquele estava sendo um dia im-portante para ele e principalmentepara os irmãos. Ontem, os depoimen-tos dos peritos fortaleceram a defe-sa, que havia ficado acuada nos doisprimeiros dias do júri. Isso porqueeles colocaram em xeque a testemu-nha-chave da promotoria, RegivâniaSilva, e mostraram as fragilidadesque os laudos têm para se chegar auma conclusão sobre o crime.

Hoje, ainda será ouvida a últimaperita, Vanja Coelho. Emseguida, sãoesperadas as exibições das tais grava-ções bombásticas prometidas peloMPPE.SódepoisosLiraserãoouvidos.A juíza vai iniciar o quarto dia do jul-gamento uma hora mais tarde: às10h, para os jurados puderem des-cansar. Afinal, terão ainda dois lon-gosdiaspelafrenteeprecisarãotomaruma decisão importante pela qual asociedade espera há sete anos. (AnaPaula Neiva, Marcionila Teixeira, Ta-tiana Sotero e Wagner Oliveira)

●● Mais notícias na página C2, C3 e C4

Julgamentoprossegueaté amanhãCom o atraso deontem, os depoimentosdos irmãos kombeirosficaram para hoje

C1

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Recife, quinta-feira, 2 de setembro de 2010Editora: Jaqueline Andrade Editoras-assistentes: Gisela Didier e Karla Veloso

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Caso Serrambi

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C M Y K

C M Y K

A promotoria vai mostrarhoje que os irmãos Marce-lo e Valfrido Lira fugiram

de Ipojuca logo após o assassina-to das adolescentes Maria Eduar-da Dourado e Tarsila Gusmão. Elesforam para Cachoeirinha em 3 demaio de 2003 e não em 26 de abril,como ambos disseram ontem emjuízo. Esse será um dos principaispontos abordados pela acusaçãonos debates que iniciam hoje.Além disso, será mostrado que osóculos que pertenciam à vitimaTarsila Gusmão foram encontra-dos no porta-luvas da Kombi deValfrido nesse mesmo dia. Isso jáé o bastante para derrubar os de-poimentos prestados por eles on-tem, quando negaram participa-ção nas mortes das jovens. Cientede que a festa citada pelos kombei-ros, realizada na cidade de Alti-nho, onde pararam antes de che-gar a Cachoeirinha, não aconteceuem 26 de abril, a juíza Andrea Ca-lado perguntou sobre o evento di-versas vezes aos réus.

Marcelo e Valfrido contaramque estiveram na festa realizadapela prefeitura, mas não soube-ram dar mais detalhes. Duranteas investigações da Polícia Federal,foi descoberto que a festa, na ver-dade, foi no mesmo dia do duploassassinato. A acusação afirmaque eles tentaram criar um álibi.“Eles mataram as meninas e cla-ro que não iriam permanecer nacidade”, disse o o assistente deacusação José Siqueira Filho. Aocontrário do que se esperava, osdepoimentos dos irmãos dura-ram menos de uma hora. Eles fo-ram objetivos. A acusação e a de-fesa também foram sucintas nosseus questionamentos e os jura-

dos dispensaram fazer qualquerpergunta aos réus. Marcelo, oprimeiro a depor ontem, expli-cou com riqueza de detalhes oque fez no fatídico 3 de maiode 2003. Precisou que saiu porvolta das 8h30 de um mercadocom a amante Tiana e que ascompras custaram R$ 55, pagascom seu cheque. Sabia o horá-rio que vol-tou para casae o que saiuno dia se-guinte, às 6h.No entanto,não se lem-brava de terpego de voltaos bancos da sua Kombi que te-ria deixado para conserto antesde as meninas morrerem.

Ele também não recordava queseu veículo estava fazendo baru-lho. Porém, ao Grupo de Opera-ção Especiais (GOE), lido pelo pro-motor Abdo Salomão, ele teriadito que o seu carro havia quebra-do na estrada e furado o cano de

escape. A testemunha-chave daacusação, Regivânia Silva, afir-mou que a Kombi que as meni-nas entraram tinha esse proble-ma. Marcelo atribuiu os detalhesque esquecia ao fato de já ter pas-sado muito tempo e por ter sofri-do tortura psicológica. “Eu passeia ter até problema de pressão al-ta depois deste caso”, falou.

O kom-beiro contouque, na pri-meira pri-são, ele e o ir-mão foram“largadosnus, sem ca-ma, em uma

cela molhada e com apenas umaquentinha para os dois se alimen-tarem”. Esse relato foi confirma-do por Valfrido. Os maus-tratosteriam acontecido dentro e forada prisão. “Me fizeram ficar dejoelho e confessar o crime. Colo-caram uma arma no meu ouvidoe depois na minha boca. Disse aeles que matariam um homem

inocente, mas eu jamais confessa-ria um crime que não cometi”,disse ele, com a voz embargada.

Contou ainda que, no mesmodia, foi pegar o seu irmão em Ca-choeirinha e os policiais ameaça-ram colocar um saco em sua ca-beça. Foi por causa desses episó-dios que os dois justificam o fatode terem se aproximado de Mi-guel Sales. “Minha mulher de-nunciou ao promotor”, explicouValfrido. Questionado sobre o por-quê de ter fugido no dia da prisão,Valfrido falou que se assustou pe-lo fato de arrombarem a porta desua casa. “Pensei que vinham mematar”, ressaltou. Valfrido disseque soube da morte das meninasem 12 de maio, quando estavaem um posto de combustível comum amigo. “Disseram que o cor-po estava muito feio. Fui até o lo-cal do crime para tentar ver”, con-tou. Quanto aos óculos, afirmouque eles haviam sido esquecidospor algum passageiro. (Ana Pau-la Neiva, Marcionila Teixeira, Ta-tiana Sotero e Wagner Oliveira)

A forma fria como Marcelo e Val-frido Lira responderam as perguntasdurante os depoimentos prestadosontem no Fórum de Ipojuca mar-cou o momento mais esperado doquarto dia de julgamento. Se den-

tro do fórum eles eram olhados comdesconfiança pela plateia e pelos ju-rados, do lado de fora, aplausos e pa-lavras de carinho foram ouvidas nasaída dos irmãos kombeiros. Antesdeles serem ovacionados pelo quar-

to dia consecutivo, o comerciante Jo-sé Vieira, pai de Tarsila, foi hostiliza-do e até chamado de assassino aodeixar o local. Logo após dizer queestaria perto de cumprir a promes-sa de esclarecer a morte da filha,

Vieira, que chegou a ficar com a vozembargada e olhos cheios de lágri-mas, teve de encarar o protesto dosfamiliares dos réus com apoio da po-pulação. Para chegar até o carro, Jo-sé Vieira foi acompanhado por poli-

ciais militares para abrir o caminho.Antes de deixarem o fórum pela

última vez antes do veredicto do jú-ri, os irmãos Lira negaram que te-nham tentado estuprar e que mata-ram as adolescentes. “Essa acusaçãoé falsa. Nem eu nem meu irmãomatamos essas meninas”, disse Mar-celo. Valfrido foi mais adiante e dis-se estar de consciência limpa quan-to ao crime. “Em momento algum

matei alguém. Eu tenho certeza dis-so dentro de mim”, declarou. Ao fi-nal dos depoimentos, parentes eamigos dos acusados comemora-vam o que eles esperam ser um fi-nal feliz. A dona de casa Iraci Jerô-nimo, 61, com adesivos de Miguel Sa-les no rosto, foi uma das manifestan-tes que permaneceu durante todo odia de ontem cantando hinos evan-gélicos em frente ao fórum.

❜❜

Os kombeiros foram

instruídos para

depor. Mas acredito

que são culpados

Promotores vãomostrar que acusadosfugiram de Ipojuca logoapós o assassinato deMaria Eduarda e Tarsila

❜❜Antônio Dourado,pai de Maria Eduarda

Para acusação, issoserá o bastantepara condená-los

C1

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Recife, sexta-feira, 3 de setembro de 2010Editora: Jaqueline Andrade Editoras-assistentes: Gisela Didier e Karla Veloso

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Caso Serrambi

● Não lembrava se já havia feito ligações para o telefone celular doex-promotor de Ipojuca, Miguel Sales. Gravações mostradas ontemcomprovam que os dois conversaram por telefone

● Em um depoimento prestado ao GOE em 2003, Marcelo disseque teria repassado uma arma para o irmão Roberto. Em outrosdepoimentos e ontem disse que a arma foi repassada para Primopara ser vendida

● Também em depoimento ao GOE afirmou ter chegado em casano dia 3 de maio por volta das 16h30. Em declarações prestadasontem contou que por volta das 14h30 já estava em casa

● Afirmou que sua Kombi não tinha o escape furado, mas,lembrado pela promotoria de ter furado o escape durante idaa Cachoeirinha, confirmou o fato

● Valfrido disse que no dia 3 de maio chegou em casa por voltadas 21h. No entanto, a esposa dele revelou em depoimento àpolícia que naquele dia ele não dormiu em casa

● Disse ontem que os óculos que seriam de Tarsila foram deixadosdentro da Kombi por uma passageira. Em outro depoimentochegou a afirmar que os óculos pertenciam a um dos seus filhos

● Marcelo disse que chegou em casa por volta das 14h30e que não saiu mais de lá até as 6h do dia seguinte

● Valfrido disse que por volta das 21h já estava em casae que quando chegou sua esposa estava assistindo televisão

● Marcelo revelou que foi para Cachoeirinha com a amanteTiana, o irmão Valfrido, a amante dele Pepê e mais um amigopara consertar a Kombi. O serviço acabou não sendo feito

● Valfrido disse que ele e a amante Pepê foram em suaKombi para Cachoeirinha enquanto Marcelo e Tianaestavam em outro veículo

Contradições dodepoimento de Marcelo

Contradições dodepoimento de Valfrido

Sobre o dia do crime

A ida para Cachoeirinha

Os Lira mentem emdepoimento ao júri

❜❜

O que me interessa é

saber quem matou a

minha filha. Quero

saber quem fez isso

❜❜Regina Lacerda,

mãe de Maria Eduarda

❜❜

Prometi a minha

filha que esse crime

não ficaria impune.

E ela já me cobrou

❜❜JoséVieira,pai de Tarsila

Frieza dos irmãos durante sabatina

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A.Press

Os depoimentos dos irmãos Marcelo eValfrido duraram menos de uma hora. Jurados não fizeram perguntas

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Caso Serrambi

E ra pouco mais de meia-noi-te de hoje. Quem estavadentro do lotado Fórum de

Ipojuca tinha o coração batendoacelerado. Todos queriam saber oresultado do julgamento mais im-portante da década. Seriam oskombeiros Marcelo e Valfrido Liraabsolvidos ou condenados? Seteanos de perguntas foram caladas.Pelo menos, por enquanto. Um jú-ri apertado, de 4 a 3, mas que ab-solveu os réus, que até hoje se di-ziam inocentes dos assassinatosdas adolescentes Maria Eduarda eTarsila Gusmão, em maio de 2003.

Marcelo e Valfrido estão livres eagora podem voltar para casa. Ar-rumar os pertences do Centro deObservação e Triagem ProfessorEverardo Luna (Cotel) e sair da pri-são onde estavam há dois anos esete meses. Uma semana de julga-mento, mais de sessenta horas, eos fogos na frente do fórum eramo sinal de felicidade de parte da po-pulação de Ipojuca e distritos vi-zinhos que torciam pelos réus. Ain-da na madrugada de hoje, familia-res e amigos dos irmáos prepara-ram uma festa para recepcioná-los em casa. Os promotores jáanunciaram que vão entrar comrecurso de apelação para um no-vo julgamento.

Marcelo e Valfrido foram ino-centados da acusação de homicí-dio duplamente qualificado e ten-tativa de estupro pelo conselho desentença, formado por quatro ho-mens e três mulheres, todos deNossa Senhora do Ó e Camela. "Averdade chegou", bradou Marce-

lo. “A justiça foi feita”, acrescen-tou Valfrido, ainda se levantan-do das cadeiras onde estavam e deonde assistiram todo o julgamen-to sem demonstrar emocao. Per-to dali, Paulo Lira da Silva, 20anos, colocava a mão no peito.Ele é filho de Valfrido e desde aúltima segunda-feira acompa-nhou o julgamento do própriopai. “Tinha certeza de que isso iaacontecer, de que ele não era cul-pado. Meu pai não tem capacida-de para isso. Tem uma filha quetem a mesma idade que as meni-nas teriam agora se estivessem vi-vas”, desabafou. Do lado da famí-lia das vítimas, Regina Lacerda,que não participou da parte fi-nal do julgamento, já anunciou:vai mandar celebrar por trintameses uma missa em agradeci-mento à absolvição dos réus. Elaera a única entre os pais das víti-mas que acreditava na inocenciados kombeiros.

O advogado Jorge Wellington

de Lima, que defende os irmãosdesde abril deste ano, acredita queos depoimentos dos peritos foramcruciais para a defesa. “Quem ab-solveu eles foram os peritos do Ins-tituto de Criminalística de Per-nambuco. Foram eles que, do au-to de suas competências, que escla-receram as dúvida. Os peritos le-varam à prova da inocência. Dedi-co a vitória aos irmãos Lira e aoamado professor Miguel Sales”,comemorou. Ele foi aluno do pro-motor aposentado em Caruaru evirou seu discípulo.

O placar apertado do julgamen-to foi visto como um bom sinalpelos promotores que passaramos últimos dias tentando conde-nar os kombeiros. "É importantedestacar a divergência do júri. Avotação mostrou a consistênciados nossos argumentos", destacouo promotor Salomão Abdo. Na opi-nião dele, o que pesou contra aacusação foi a questão geográfica."Alertamos para o fato dos jura-

dos morarem em Camela e NossaSenhora do Ó no pedido de desa-foramento", destacou Abdo.

A partir de agora, a acusaçãoentra com recurso de apelação pa-ra novo julgamento. Para isso, énecessário esperar que todo ma-terial gravado em plenário seja ta-quigrafado, para que sejam dadasvistas. A partir daí os promotorese advogados da assistência da pro-motoria apresentam suas razões edefesa se manifesta. Só então o pe-dido segue para avaliação do Tri-bunal de Justiça de Pernambuco.

Enquanto a assistência basearáo recurso por nulidade do julga-mento no fato do advogado BrunoSantos, da defesa, ter se constituí-do primeiro como advogado deRegina Lacerda e depois passar pa-ra o lado dos kombeiros justifica-ria o pedido. Já a promotoria ape-lará com base na decisão contrá-ria à prova dos autos. “Temos co-mo reverter essa situação”, garan-tiu o promotor Ricardo Lapenda.

O júri dos irmãos kombeiros ter-minou com quatro vitoriosos. Osdois primeiros foram os irmãosMarcelo e Valfrido Lira, que espe-raram por dois anos e sete mesespela oportunidade de voltarem pa-ra casa. Depois, o advogado de de-fesa Jorge Wellington. Nas cerca dequatro horas que falou aos jura-dos, antes da sentenca, deu umshow à parte de eloquencia. Faloudas provas falhas para incriminaros acusados, explicou teorias jurí-dicas e também citou trechos da bí-blia e poesias. De quebra, defen-deu um réu a mais, o promotoraposentado Miguel Sales. Este, quepor sinal, foi o quarto vencedor.

Na primeira hora da sua expo-sição, defendeu ferrenhamente a se-riedade de Sales, que foi a todotempo acusado pelo Ministério Pú-blico e suas testemunhas de ter tu-multuado o processo, por ter devol-vido o inquérito quatro vezes. Oumelhor, nas palavras do promotorRicardo Lapenda, ele foi apontadocomo o responsável por ter trans-formado o caso em um “circo”. Emprol dos kombeiros, lembrou aosjurados o princípio básico do di-

reito, o in dubio pro reu, que dizque havendo dúvidas sobre a auto-ria do crime, deve se beneficiar oréu. Pediu e foi atendido. O reco-nhecimento veio em pouco tem-po, já na porta do fórum.

Wellington e seu assistente Bru-no Lima foram recepcionados co-mo heróis pela população que seamontoava no local, mesmo como adiantar da hora. Foram aplau-didos e receberam abraços e aper-tos de mão. O mesmo aconteceucom Miguel Sales, que chegou a ser

levantado nos bracos pela multi-dão. Foram gritos de agradecimen-to, promessas de votos e até foichamado de “futuro governador”.Mesmo estando fora do processo,dividiu os méritos com a defesa.

O agradecimento mais emocio-nado veio do filho Valfrido, PauloLira da Silva. Emocionado, eleolhou nos olhos de Sales ,apertouos seus braços e disse: “Muito obri-gado pelo o que você fez”. Em se-guida, abraçou Miguel Sales, comos olhos cheios de lágrima.

Kombeiros voltam para casaLiberdade. Na prisãodesde maio de 2008,os irmãos Marcelo eValfrido Lira foraminocentados ontempelo júri popular

Depois da sentença de 4 votos a 3, emoção dos familiares de Marcelo eValfrido Lira. Já o promotor aposentado Miguel Sales saiu do Fórum de Ipojuca carregado por uma multidão que torcia pelos kombeiros e vaiou familiares das vítimas

Jorge Wellington mostrou preocupação em limpar a imagem de Sales

Sales e Wellingtontratados como heróis“Os kombeiros

coagiram os jurados ”

O que o senhor achou doresultado do júri?Não fiquei surpreso com a decisão.Já esperava que o resultado fosse bemdividido, porque os jurados são pes-soas humildes, moradoras da mesmacidade que eles. Eu lamento muito,mas meu pensamento é de que foium júri de sentimento social. Hou-ve uma coação por parte dos kombei-ros presentes no tribunal e os jura-dos acabaram favorecendo a eles.

O que o senhor pretendefazer agora?Bola pra frente. Os kombeiros de-vem ser condenados por outros cri-mes e nós vamos entrar com recur-so. E, digo à Tarsila que ainda nãofoi desta vez. Avisa a Eduarda que pai-nho não pode cumprir a promessadele. Mas sei que você está aí com a

vida eterna. Seu pai não sabe o quan-to vai viver ainda, mas a gente vai seencontrar.

Como foi para o senhoracompanhar o júri poresses cinco dias?Muito difícil. Foi como reviver todaessa tragédia várias vezes. Mas fizquestão de que as fotos da minha fi-lha morta, com a amiga, fossem mos-tradas para as pessoas terem umaideia de como eu as encontrei. Elasnão foram as primeiras vítimas des-ses kombeiros. Iraquitânia tambémfoi estuprada por Marcelo e pelo ir-mão. A Tiana, namorada de Marce-lo, também foi estuprada por ele aos13 anos de idade.

Como o senhor se sentiu diantedos acusados?

Eu estava pensando em muita coi-sa, principalmente na minha filhae em Maria Eduarda. Encarei mui-tos os kombeiros, coisa que nuncatinha feito até hoje. Me senti con-fortável porque a verdade foi mostra-da aos jurados e às pessoas que es-tavam no tribunal. Mas infelizmen-te, eles não foram condenados.

O que o senhor acha queatrapalhou mais o processo?A problemática do caso se deu pelacomplexidade dos autos. Há até mes-mo uma investigação paralela feitapor um lunático conhecido comoPaulo Barbosa, que se diz detetiveparticular. Uma vez fui procuradopor ele, que me ofereceu um dossiêcom provas, mas que na verdade ti-nha apenas penas de urubu, luvascirúrgicas, papéis e besouros.

Sentado de frente para as cadeiras vazias da plateia do tribunal, o comerciante JoséVieira de Melo, pai de Tarsila Gusmão, estava de-solado com o resultado do julgamento. Parecia não acreditar no que havia acontecido. Ninguém mais do que ele lutou para que osirmãos kombeiros fossem condenados pelo assassinato da filha e da amiga dela, Maria Eduarda Dourado. Ele, que fez as buscas porcontra própria até encontrar o corpo das garotas num canavial em Camela, disse que continuará a sua luta para prender os irmãosMarcelo eValfrido Lira.

“ entrevista // José Vieira

❜❜

Estou triste, mas não

se perdeu a guerra. Se

perdeu apenas o

primeiro round.

Continuo acreditando

que os irmãos

kombeiros são

culpados. Agora,

depois de tudo que foi

exposto no júri,

acredito ainda mais

Antônio Dourado - pai de MariaEduarda

Julio

Jacob

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Julio Jacobina/DP/D.A.Press

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DIARIO DE PERNAMBUCO C1

Recife, sábado, 4 de setembro de 2010Editora: Jaqueline Andrade Editoras-assistentes: Gisela Didier e Karla Veloso

Editora-assistente de produção: Cleide Galdino

>>vidaurbana Telefone: 2122.7512/7513 e-mail: [email protected] CONOSCO { }

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Caso Serrambi

● Era 2 de maio de 2003, uma sexta-feira.As adolescentesestão na casa de amigos em Serrambi, onde acontece umchurrasco

● No dia seguinte, 3 de maio, Maria Eduarda e TarsilaGusmão vão com amigos fazer um passeio de lancha atéMaracaípe. Lá, resolvem caminhar sozinhas na praia atéPorto de Galinhas. Enquanto isso, os amigos ficam bebendoem um bar

● Na volta da caminhada, percebem que os amigos tinham idoembora com a lancha. Maria Eduarda, então, liga para os amigospedindo para buscá-las

● Como os rapazes não voltam, elas pegam carona com umcolega músico, que as deixa na altura do Posto Texaco, naentrada do Porto de Galinhas

● Do posto, as adolescentes caminham até a padaria PortoPão, onde perguntam o destino da primeira Kombi que passapelo local, se seguiria para Serrambi

● Nesse momento, passa outra Kombi, a de Marcelo eValfrido,com o para-choque verde, que ultrapassa o primeiro veículo

● As meninas são levadas para o canavial em Camela, ondetravam luta corporal com os kombeiros que tentam estuprá-las. Diante da reação, são mortas a tiros

● Na mesma noite, depois de praticarem o crime, os irmãosLira seguem com as amantes, de Kombi, para Cachoeirinha

● No dia seguinte, dia 4, o grupo segue para Canhotinho, ondeparticipa da 4ª Cavalgada Ecológica. Continuam se divertindo ebebendo mesmo depois do duplo homicídio

● Dia 13, os corpos das adolescentes são encontrados pelo paide Tarsila, JoséVieira de Melo, em avançado estado dedecomposição em um canavial em Camela

● Sabendo disso, por meio da imprensa, os irmãos partem paraCachoeirinha, onde descaracterizam a Kombi pintando o para-choque dianteiro de branco

Verdadeira históriana visão da acusação

P or quatro votos a três, osirmãos Marcelo e ValfridoLira foram considerados,

na madrugada de hoje, inocentesda acusação de terem assassina-do, em maio de 2003, as adolescen-tes Tarsila Gusmão e Maria Eduar-da Dourado. O placar apertado,decidido por sete funcionários pú-blicos (quatro homens e três mu-lheres), todos moradores de Ipo-juca, refletiu como a sociedadepernambucana estava dividida emrelação ao desfecho do Caso Ser-rambi. Depois de cinco dias de jul-gamento e 36h10 de ataque e de-fesa, depoimentos de testemunhase apresentações de provas e perí-cias, Marcelo e Valfrido comemo-ram o resultado, mas Marcelo po-de continuar no Cotel, em Abreu

e Lima, por uma acusação de es-tupro presumido. Se fossem consi-derados culpados, os irmãos pode-riam ser condenados a 27 anos, nomínimo, sem incluir os agravan-tes.

“A justiça foi feita”, disse Mar-celo. “A verdade chegou”, come-morou Valfrido, nas primeirasfrases ouvidas após a leitura da de-cisão do júri feita pela juíza An-drea Calado. Do lado de fora doFórum de Ipojuca, cerca de cempessoas, munidas de faixas e car-tazes, fizeram um verdadeiro car-naval depois da divulgação do re-sultado. O promotor aposentadoMiguel Sales, que foi bombardea-do durante os cinco dias de julga-mento pelo próprio MinistérioPúblico, saiu para ser aclamado.Com os ânimos exaltados, a mul-tidão acabou vaiando os familia-res das vítimas, que acreditavamna culpa dos irmãos kombeiros.O Batalhão de Choque foi aciona-do para conter os ânimos.

A pergunta continua sem res-posta: quem matou Tarsila e Ma-ria Eduarda? Antes do desfecho,no início da noite, como numa par-tida de xadrez, promotoria e defe-

sa ainda mexiam suas peças, ana-lisavam cada movimentação do ad-versário para avançar na estratégiade convencimento dos sete juradosque decidiriam sobre o futuro dosLira. Era a batalha final e ela tinhacomeçado na manhã de ontem,por volta das 10h15.

O julgamento dos irmãos, acusa-dos de assassinar Tarsila e MariaEduarda começou na última se-gunda, no Fórum de Ipojuca. On-tem, a promotoria, durante os de-bates com a defesa, chegou a qua-lificar os irmãos de monstros, pe-la frieza e forma de matar as me-ninas e criar álibis para fugir daculpa. Do outro lado, a defesa sesustentou na tese de falta de provastécnicaspara incriminá-los,alémdedesqualificar os relatos da testemu-nha Regivânia da Silva, que disse tervisto as jovens entrarem na Kombidos irmãos em 3 de maio de 2003.

Logo pela manhã, foi a vez deMarcelo e Valfrido Lira ficaremfrente a frente com os promoto-res. Marcelo parecia distraído e atébocejou. Valfrido encarou. De bra-ços cruzados, revelou que estavapouco à vontade em ser alvo. Co-meça o show. São quatro os perso-

nagens, todos de toga, prontos pa-ra desvendar uma história que pa-recia não ter fim. Era o momentodos promotores do Ministério Pú-blico de Pernambuco (MPPE) apre-sentarem suas peças. E convencer.

Promotor desde 2004, SalomãoAbdo, 36, entra em cena. Ressaltaa falta de ética de um colega doMPPE, Miguel Sales. Que, em suaopinião, misturou-se aos acusadoscomo advogado de defesa. O pro-motor Ricardo Lapenda mostra asfotos que chocam. Conta o quechama da verdadeira história doCaso Serrambi. No momento demaior tensão, fita Valfrido e bra-da: “Esses homens são uns mons-tros. E pode me encarar. Se quiserainda dou o endereço de casa”, dis-parou. Já o advogado José Siqueira,citou a importância das provas emum processo de investigação cri-minal. “Laudo não é opinião. Nãocomporta achômetro”, explicou.Queria lembrar que os 27 indíciosapontados pelas investigações eramtão importantes como provas quan-to qualquer resultado de perícia.(Ana Paula Neiva, Marcionila Tei-xeira, Tatiana Sotero e WagnerOliveira)

À tarde chegou o momento dadefesa ganhar o palco do Fórumde Ipojuca. O advogado Jorge We-llington Lima, que abusou das ges-ticulações e até arrancou risos daplateia, preocupou-se, antes de tu-do, em limpar a imagem e o nomedo promotor aposentado MiguelSales, que foi bombardeado ao lon-go dos cinco dias de julgamentopor uma suposta ligação com osréus. Jorge Wellington disse que Sa-les não tinha interesse de se promo-ver ao devolver o inquérito do Ca-so Serrambi por quatro vezes. Alémde proteger Sales, a defesa fez ques-tão de mostrar que a testemunhaRegivânia Maria da Silva não teria

condições visuais de ver detalhes dorosto do carona da Kombi onde asmeninas entraram naquele dia 3 demaio de 2003, antes de serem assas-sinadas. Além disso, Lima voltou aafirmar que não há provas técnicascontra os kombeiros.

Após o início da apresentação, amãe de Maria Eduarda Dourado, aempresária Regina Lacerda, che-gou ao fórum. Ela acreditava nainocência dos kombeiros. Nas trêshoras em que lhes foram cedidas,a defesa começou o debate fazen-do a apresentação de parte do pro-grama Linha Direta, da TV Globo,exibido em 2007. A exibição nãofoi completa, o que foi questiona-

do pela promotoria durante a répli-ca, que insinuou que só foi mos-trado o que era positivo.

Para a defesa, a tese de que aKombi de Marcelo era a única depara-choque verde em Ipojuca nãotem validade, pois em depoimen-to uma testemunha afirmou ha-

ver outros dois veículos com o aces-sório da mesma cor na cidade. Semfazer acusações contra ninguém,Lima questionou o fato de Regivâ-nia não ter sido convocada. “Cadêa mulher que tudo pode ver? Regi-vânia, que vale mais que todos osperitos do IC. Não está aqui.”

Cinco horas e meia após ter re-cebido alta do Hospital Esperança,onde se internou na UTI corona-riana na última quarta-feira, quan-do passou mal enquanto assistiaao julgamento dos irmãos kombei-ros, o promotor aposentado MiguelSales surpreendeu a todos ao voltar,no início da tarde de ontem, ao Fó-rum de Ipojuca. Ainda na calçada,ele fez questão de falar com a im-

prensa e afirmou ter passado porum procedimento de cateterismo(o hospital não confirmou). Ele sedefendeu das acusações de que te-ria envolvimento com os irmãosMarcelo e Valfrido Lira e rebateuas acusações feitas pelo procura-dor-geral de Justiça, Paulo Varejão.

O promotor, que atuou cincoanos no caso, teve ligações telefôni-cas entre ele e os acusados mostra-

das como provas pela promotoria,na quinta. Chamando os acusadosde "meninos", Sales, que se aposen-tou em 2008, negou ter repassadoinformações sigilosas aos réus.

“Tenho consciência de que todosos atos que pratiquei foram lícitos.Disseram que há uma gravação deuma mulher que liga para um pro-motor porque o marido foi preso.Atendi a ligação. Não liguei para

ela”, declarou. Na ligação intercep-tada pela Justiça e apresentada pe-la promotoria, é Sales quem ligapara a casa de Valfrido, no mesmodia em que Marcelo teria sido pre-so, em janeiro de 2008.

Sales insistiu que rejeitou a inves-tigação por não haver provas. “Nãosou o mágico de OZ para fazer in-cidir em erro os resultados dessasperícias”, disse.

Miguel Sales aparece para se defender

Kombeiros inocentados

À 0h14 de hoje,decisão de juradoslivra Marcelo eValfridoLira da acusação deduplo assassinato

Ontem à noite, em frente ao Fórum de Ipojuca, familiares e amigos dos kombeiros Marcelo eValfrido Lira se manifestaram pedindo a liberdade dos dois

Armas da defesa

● A segunda perícia feita no local onde os corpos dasadolescentes foram encontrados só foi realizada seis mesesapós terem sido encontrados. O local estavadescaracterizado, o que modificou os vestígios e dificultou aapuração de provas contra qualquer acusado

● A perícia não apontou sinais de estupro ou de tentativasde qualquer crime de conotação sexual contra as vítimas. Oexame de reação vital, feito na USP, em Ribeirão Preto,apontou que Maria Eduarda já estava morta quando recebeuos tiros

● Quanto aos barbeadores recolhidos no local onde oscorpos das vítimas foram encontrados e na Kombi deMarcelo, não foi possível afirmar que seriam do mesmo lotede fabricação

● Não foi encontrado vestígio de sangue na Kombi dosirmãos Lira, mesmo tendo sido realizado um exame com autilização da substância Luminol

● De acordo com os laudos do IC, Regivânia Maria da Silva,considerada testemunha-chave do crime, não teria condiçõesde reconhecer a pessoa que estava como carona na Kombi

● Peritos disseram que apresentaram fotos da Kombi depara-choque verde a Regivânia e ela não reconheceu comosendo a mesma que as meninas teriam entrado

● As perícias realizadas nos restos das roupas de MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmão não constataram apresença de sêmen

Jorge Wellington mostrou preocupação em limpar a imagem de Sales

Advogado questionaa falta de provas

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A.Press

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Tarsila Gusmão viveu 8.562 dias. Sua amiga, Maria Eduarda Dourado, 8.577. Em 13 de maio de 2003, seus corpos foram encontrados às margens de um canavial no litoral sul de

Pernambuco. Elas haviam desaparecido 10 dias antes, depois de serem vistas à noite, em Porto de Galinhas. Estavam com 16 anos de idade. Na madrugada deste sábado, 2.680 dias depois da

morte delas, 4 homens e 3 mulheres (todos funcionários públicos de Ipojuca) decidiram, após 5 dias de julgamento, que o Caso Serrambi não tem assassinos conhecidos. Por 4 votos a 3, os 2 irmãos

Lira, Marcelo e Valfrido - que já haviam ficado presos por 1.024 e 1.023 dias, respectivamente, apontados pela polícia como os autores dos disparos que vitimaram as 2 adolescentes - saíram do

Fórum de Ipojuca como inocentes. Depois de 36h10 de confrontos entre acusação e defesa, testemunhas e perícias, os jurados demoraram mais 1h10 para entregar à juíza Andrea Calado a

decisão que encerrou o processo reunido em 40 volumes com mais de 10.000 páginas. A decisão comunicada à 0h14 deste

sábado não acabou com a novela que mudou a vida de 4 famílias (as 2 das vítimas e as 2 dos

kombeiros) e que teve uma batalha travada ao longo de 7 anos entre 4 delegados (2 da

Polícia Federal), 4 advogados de defesa (1 deles defensor público) e 3 promotores (1 deles,

Miguel Sales, o pivô da decisão de sempre devolver os inquéritos que acusavam os 2

kombeiros). O Ministério Público já anunciou que quer um novo júri para os 2 agora ex-

suspeitos, sob o argumento de que 1 dos 7 jurados era parente dos Lira. Os peritos ouvidos

no julgamento foram unânimes em dizer que será impossível levantar 1 única prova depois

de tantos anos do crime. Os 27 indícios apresentados pela acusação foram insuficientes

para uma condenação que poderia representar até 30 anos de prisão. Resta 1 dúvida:

Quem matou as duas?

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Recife, domingo, 5 de setembro de 2010Editora: Jaqueline Andrade Editoras-assistentes: Gisela Didier e Karla Veloso

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Caso Serrambi

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A defesa dos irmãos Marcelo eVafrido Lira ficou encurra-lada no primeiro dia de jul-

gamento no Fórum de Ipojuca. On-tem, o delegado Paulo Jeann Barrose Silva, que investigou em 2007 o as-sassinato das adolescentes MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmãoapresentou 27 indícios contra eles,conforme o Diario antecipou comexclusividade no último domingo.E ainda vem mais por aí. O advoga-do José Siqueira Filho, que atua co-mo assistente de acusação do Minis-tério Público, vai levar ao júri doispontos polêmicos que complicariamainda mais os dois irmãos.

Segundo ele, Marcelo Lira confes-sou ter tido um relacionamento amo-roso com uma menina de 13 anos,em Nossa senhora do Ó, onde residia.Manter contato sexual com uma me-nor de 18 anos é considerado estupro.Contra Marcelo também será apre-sentada uma denúncia relativa a su-borno a policiais de trânsito de Ipo-juca. Já contra o seu irmão, Valfrido,a acusação vai expor que ele chegoua falsificar uma carteira de habilita-ção como se a mesma tivesse sidoemitida em Minas Gerais. Pesa con-tra Marcelo ainda a acusação de par-ticipacão na morte da cunhada Ira-quitânia Silva, em 2001, afora outrosdois crimes e uma lesão corporal gra-ve. O Fórum de Ipojuca foi reserva-do até a sexta, o que significa que ojulgamento, previsto para acabaramanhã, pode ser prorrogado.

Os irmãos entraram escoltadospor dois agentes penitenciários porvolta das 10h30 e saíram perto das20h sob aplausos da populacão. Osdois não esboçaram reação. Marcelomascava chiclete. Permaneceram ca-lados, mesmo quando a sessão foisuspensa. O júri começou com duashoras e meia de atraso, porque trêsdas testemunhas da defesa não com-pareceram e tiveram que ser levadaspela Polícia Militar e oficiais de jus-tiça. A acusação dispensou dois ho-mens e o júri acabou formado porquatro homens e três mulheres.

No detalhamento dos 27 indícios,o delegado Paulo Jeann apontou co-mo determinante o aparecimentodos óculos de Tarsila que suposta-mente foram vistos com Valfrido,após o crime, e depois com as aman-tes dos dois irmãos, Tiana e Edna. Oacessório nunca foi encontrado. Aesposa de Vafrido, Lenilda da Silva,chegou a confirmar essa versão nu-magravaçãoquefoimostradaontem.

Em quase duas horas, Paulo Jeandestacou a importância de Regivâ-nia Silva para incriminar os kombei-ros por ter narrado com precisão omomento em que viu as meninasentrando no veículo dos irmãos. O se-gundo a depor, o delegado federalCláudio Joventino, também disse nãoter dúvidas. Ressaltou coincidênciasno crime em que Marcelo tambémé acusado, o da cunhada, com o dasmeninas. “No dia em que as meninasforam mortas, ele foi para Cachoei-rinha para criar um álibi, o mesmoque ele fez no dia em que Iraquitâ-nia foi morta”, contou. (Ana PaulaNeiva, Marcionila Teixeira, TatianaSotero e Wagner Oliveira).

●● Mais notícias nas páginas C2 e C3

Defesa doskombeirosencurraladaMarcelo Lira vai seracusado de estupro porter se relacionado comuma menina de 13 anos

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Ontem, no primeiro dia dojúri popular, os irmãos, quepermaneceram caladosdurante toda a sessão,chegaram e foram emborasob escolta policial

Caso Serrambi

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vida urbanaC2 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, quarta-feira, 1º de setembro de 2010

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Onde está a

mulher dos

olhos biônicos,

Regivânia Silva?

❜❜Jorge Wellington - advogado

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A promotoria guarda parahoje mais uma revelaçãobombástica que preten-

de provar o envolvimento dosacusados com o promotor MiguelSales, que acompanhou o casopor cinco anos. Os promotoresRicardo Lapenda e Salomão Ab-do Aziz prometem exibir vídeose gravações de escutas telefônicascomprometedoras, realizadas du-rante a investigação com autori-zação da Justiça. O Diario de Per-nambuco teve acesso, com exclu-sividade, à informação de queuma das interceptações traz umaconversa do kombeiro MarceloLira com a amante Aurilete Ma-ria do Nascimento, conhecida co-mo Tiana. No contato, eles acer-tam detalhes de um emprego pa-ra ela trabalhar na casa do promo-tor Miguel Sales como doméstica.Na interceptação, Marcelo tam-bém avisa para Tiana ficar tran-quila se algo acontecer com ele.

Por isso, os promotores acredi-tam que as investigações acaba-ram prejudicadas. Outro telefo-nema, também interceptado pe-la polícia, traz uma chamada fei-ta pela esposa do kombeiro Val-frido Lira, em 17 de janeiro de2008, para o então promotor,quando o kombeiro já era decla-rado foragido. Horas antes, nomesmo dia, Marcelo Lira havia si-do preso. Por conta da chama-da, a Corregedoria Geral do Mi-nistério Público de Pernambucoinstaurou um processo adminis-trativo contra Sales, que acabouarquivado após o pedido de apo-sentadoria feito pelo promotor.

Em outra gravação, que seráapresentada hoje, a prima doskombeiros conta para uma ami-ga de trabalho que ouviu umaconfissão dos irmãos sobre a par-ticipação deles no duplo homicí-dio. Contra os réus, também pe-sam 27 indícios apresentados naúltima segunda-feira pelo dele-gado Paulo Jeann Barros e Silva,que investigou o crime pela ter-ceira vez de janeiro a dezembrode 2007. Dentre esses indícios es-tão as contradições em depoi-mentos prestados pela própriaesposa de Valfrido Lira, LenildaMaria. Ao prestar declarações noGOE, inicialmente ela teria afir-mado que o marido dormiu emcasa e depois declarou que nãolembrava a que horas o kombei-ro chegou naquela noite de sá-bado, dia 3 de maio de 2003, eainda que Valfrido não teria dor-mido na residência.

Outro indício apontado no re-latório do delegado Paulo Jeann foio fato de Marcelo ter repassado umrevólver calibre 38 a um primoidentificado apenas como Primo,que nunca fora apreendido pelapolícia. O advogado José Siqueira Fi-lho, que atua como assistente mi-nisterial, também deve apresentarnovos fatos que irão comprometerainda mais a vida dos irmãos kom-beiros. Ele promete mostrar aos ju-rados a ficha extensa de antece-dentes criminais que Marcelo pos-sui. O kombeiro teria confessadoter tido um relacionamento amo-roso com uma garota de 13 anos,o que é considerado crime de estu-pro pela lei penal.

Segundo a acusação, tambémfoi apresentada contra Marcelouma denúncia relativa a subor-no de policiais de trânsito de Ipo-juca. Afora isso, ele também res-pondeu a processo pela morteda cunhada Iraquitânia Silva,em 2001, e por outros crimes.Na avaliação de Ricardo Lapen-da, Marcelo tem capacidade decriar álibis e provas para cadacrime que comete e teria indu-zido o irmão Valfrido, assim co-mo fez com Roberto Lira, irmãoque está cumprindo pena peloassassinato da mulher, Iraquitâ-nia Maria da Silva.

Uma das maiores surpresas no se-gundo dia do julgamento do CasoSerrambi foi a presença da mãe deMaria Eduarda Dourado, a empresá-ria Regina Lacerda. Ela havia dito queiria acompanhar o júri por meio daimprensa, mas acabou voltando atrás.O mais surpreendente foi o fato de Re-gina ter falado com o promotor Ri-cardo Lapenda, que assumiu o casohá dois anos. A conversa aconteceuna manhã de ontem num intervaloda sessão. A aproximação dela como promotor talvez seja um sinal deque, depois de dois dias de julgamen-to, Regina não tenha mais tanta cer-teza da inocência dos kombeiros Mar-celo e Valfrido Lira, que defendia. En-tre os pais das vítimas, Regina é aúnica que desconfia do resultado doinquérito policial, que indiciou os ir-mãos como culpados pelo duplo as-sassinato. No rápido contato com opromotor, Regina o indagou se eleconhecia algumas pessoas do seu ci-

clo de amizade. Ricardo Lapenda dis-se que sim. “Pergunte para eles quemeu sou”, respondeu o promotor. Re-gina chegou logo cedo, acompanha-da do filho Cristiano Dourado e evi-tou contato com os repórteres. No in-tervalo do almoço, foi abordada nasaída do fórum e prometeu dar en-trevista quando retornasse. O queacabou não acontecendo.

Sentada numa das primeiras filei-ras do lado esquerdo da plateia, Re-gina acompanhou os depoimentosdos peritos criminais, convocados pe-la defesa dos kombeiros, que entroupela tarde. Pouco antes de encerrara sessão, a empresária resolveu ir em-bora. Mas antes de sair, fez questãode cumprimentar o promotor Mi-guel Sales e sua família. Diante dosolhares dos jornalistas, Regina aper-tou a mão de Sales e do seu filho, Vi-nícius, e abraçou a sogra do promo-tor. Ele, por quatro vezes, devolveu oinquérito que investigou o crime.

Enquanto a promotoria prome-te para o dia de hoje novas reve-lações que podem comprometerainda mais os irmãos Marcelo eValfrido Lira, o advogado de defe-sa dos kombeiros, Jorge Welling-ton de Lima, afirmou não ter ne-nhuma carta na manga para pro-var a inocência dos clientes. Per-guntado sobre as expectativas pa-ra hoje, ele respondeu: “Quem vi-ver verá.”

Jorge Wellington avaliou comomuito positivo o dia de ontem. “Odia foi maravilhoso. As testemu-nhas ajudaram a provar a inocên-cia deles. As provas da inocência deMarcelo e Valfrido estão nos au-tos. O dia foi 100% proveitoso e aperita desmistificou muita coisa”,ressaltou Lima, acrescentando que

até agora nao viu nenhuma provabombástica contra seus clientes,como a promotoria alardeou.

Ao deixar o fórum na noite deontem, mais uma vez usando pa-lavras engraçadas, perguntou pe-la mulher dos olhos biônicos refe-rindo-se à testemunha-chave Re-givânia Maria da Silva, que disseter visto Tarsila e Maria Eduardaentrando numa Kombi branca. “Es-sa mulher que disse ter visto tudodeveria estar aqui no julgamentoe, no entanto, ela não faz partedas testemunhas. Regivânia é acontradição em pessoa. No primei-ro depoimento ela disse ter vistoum carro tipo furgão. Depois, aochegar no GOE, afirmou que asmeninas entraram numa Kombibranca”, disparou.

Caso Serrambi

Promotoria mostrará nova gravação

Mãe de MariaEduarda aparece

Defesa não tem maiscartas na manga

Conversa entre Marcelo e sua amante, Aurilete, obtida com exclusividade pelo DDiiaarriioo, revela que ela iria trabalhar como doméstica na casa de Miguel Sales

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A Press

Empresária Regina Lacerda acompanhou o segundo dia do julgamento

Promotor RicardoLapenda guardou

revelação bombásticapara hoje

Jorge Wellington de Lima (à direita), defensor dos Lira, disse que não viu nenhuma grande revelação

vida urbanaC2 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, quinta-feira, 2 de setembro de 2010

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N o terceiro dia do julgamen-to do Caso Serrambi, a de-fesa dos kombeiros Valfri-

do e Marcelo Lira ganhou fôlegopela primeira vez. O elemento cha-ve para tirá-la do papel de coadju-vante foram os depoimentos de qua-tro peritos do Instituto de Crimi-nalística (IC) que participaram jun-tos da segunda perícia solicitadapelo Ministério Público de Pernam-buco seis meses após os corpos dajovens Maria Eduarda e Tarsila Gus-mão terem sido encontrados emum canavial em Camela. Os espe-cialistas foram unânimes em dizerque a perícia não trouxe qualquerprova técnica contra os kombeiros,reforçando a tese da defesa de queo processo não tem elementos quepossam levar à condenação dosréus. Diferente dos dois primeirosdias do julgamento, quando os pro-motores do MPPE praticamente de-sacreditaram as testemunhas dosadvogados de defesa, ontem elesdemonstraram claramente a difi-culdade em interrogar os peritos.

A principal unanimidade entreos peritos e que pode ter suscitadodúvidas entre os jurados em rela-ção à culpabilidade dos kombeirosfoi quanto ao testemunho de Regi-

vânia Maria da Silva, consideradatestemunha importante do caso. Osquatro especialistas falaram que, dadistância em que ela estava, seriatecnicamente impossível ver deta-lhes do interior do carro. Em depoi-mento à polícia, Regivânia disse quereconheceu que as meninas entra-ram na Kombi onde estava Valfridopor conta da cor dos olhos dele. Co-mo estratégia, os promotores ques-tionaram aos peritos se a testemu-nha tinha condições de conhecer aKombi de Mar-celo da mesmadistância. Todosinformaramque sim.

Um dos de-poimentos quechamou a aten-ção e pôs a teste-munha Regivânia em xeque maisuma vez foi o depoimento do peri-to Evson Lira, na manhã de ontem.Ele disse que ficou surpreso ao mos-trar fotos da Kombi de para-choqueverde pertencente a Marcelo e elanão ter reconhecido o veículo. No-vas polêmicas surgiram com a falada perita Cristiana Couceiro de Al-buquerque. Além de afirmar que aperícia não apontou sinais de estu-

pro ou de tentativas de qualquercrime de conotação sexual contra asvítimas, trouxe à tona o exame dereação vital, feito na USP, em Ribei-rão Preto, que apontou que MariaEduarda já estava morta quando re-cebeu os tiros, trazendo à tona a te-se originada do promotor aposenta-do Miguel Sales de que a vítima te-ria morrido, na realidade, de over-dose na casa de amigos.

Nesse momento, para se defen-der, o MPPE questionou se a profis-

sional havia fei-to perícias emdois imóveis deamigos das ví-timas, sendoum em Ser-rambi e outroem Maracaípe.Ela disse que

sim e que não encontrou no localnenhum vestígio de crime, comochegou a ser ventilado ao longo detodos esses anos. Os promotores tam-bém questionaram porque a perí-cia não investigou um pedaço depapelão encontrado no canavial pa-ra comprovar se era o mesmo en-contrado na carroceria da Kombide Marcelo, mas Cristiana Couceiroafirmou que se tratava de material

diferente, pelo menos visualmente.No último depoimento do dia, o

perito Rogério Cláudio de OliveiraMelo Dantas afirmou que os bar-beadores encontrados no local docrime poderiam ser de lotes dife-rentes dos localizados na Kombi deMarcelo, o que significa que o obje-to não poderia se caracterizar co-mo vestígio. Além disso, o especia-lista falou que não foi encontradonenhum vestígio de sangue na Kom-bi dos irmãos Lira, mesmo tendo si-do realizado um exame com a uti-lização da substância Luminol.

Já no depoimento da última ter-ça-feira, a perita Leila Gouveia Gomesjá tinha dado um sinal do que viriapela frente. Confirmou que a perícianão encontrou sêmen nas roupas,mas justificou que o clima poderiater apagado os vestígios, caso existis-sem. Ao destacar um corte no vesti-do de Tarsila na altura do glúteo, aacusação mostrou uma foto da Kom-bi dos Lira sugerindo que o veículosem banco poderia ter rasgado o ves-tido. Ela falou que poderia. Ao final,a conclusão parecia ser unânime,inclusive a da juíza Andrea Calado.É como se toda a perícia apontasse:“pode ser que sim, pode ser que não”,como falou a própria magistrada.

A batalha travada ontem entre adefesa e acusação dos irmãos Mar-celo e Valfrido Lira foi difícil, co-mo reconheceu o próprio promo-tor Ricardo Lapenda. Mas para eleainda não foi ganha pelo adversá-rio. Os membros do Ministério Pú-blico de Pernambuco (MPPE), res-ponsáveis pela acusação contra oskombeiros, reafirmaram que, ex-cluídas as perícias, ainda são fortesas provas testemunhais e indiciá-rias, tais como as 27 publicadascom exclusividade pelo Diario noúltimo domingo. Entre elas os pro-

cessos que Marcelo responde poroutros dois homicídios, lesão cor-poral grave e estupro, além de liga-ções telefônicas comprometedoras.

Na avaliação do promotor Salo-mão Abdo, os depoimentos dos pe-ritos foram excelentes. “Mostrarama fragilidade das perícias, que nãoserviram para nada”. O debate pre-visto para amanhã, apontou Ab-do, servirá para o esclarecimentode muitas situações. “No debate,vamos explorar cada uma dessasdúvidas”, comentou. O promotorlembrou, por exemplo, os depoi-

mentos das testemunhas de defe-sa para apontar que a acusaçãoainda está em vantagem nesse em-bate. “Dava para perceber o nervo-sismo de alguns deles. Há muitapressão por parte da família dasvítimas, o medo que elas têm de se-rem vistas depois”, comentou.

Para o advogado Jorge Welling-ton Lima, que atua na defesa deValfrido e Marcelo Lira, os peri-tos falaram o que era esperado.“Não há nada de anormal nas fa-las. Apenas citaram a falta de ma-terialidade das provas. Se os pró-

prios peritos dizem que não hácomo reconhecer os dois comoacusados, é técnica”, disse. O ad-vogado foi irônico ao falar sobreos barbeadores encontrados nolocal do crime e na Kombi de Mar-celo. “Se a empresa vendesse 14milhões de barbeadores, 14 mi-lhões de brasileiros poderiam serpresos?”. Lima aproveitou para te-cer elogios ao promotor aposenta-do Miguel Sales. “Está provadoque o processo não era para ter searrastado por tanto tempo. Issocomprova o talento do promotor”.

Para MPPE, batalha não acabou

Teresa Maia/DP/D.A.Press

A revancheda defesa

Peritos dos Instituto de Criminalística ouvidos ontem foram unânimes em sustentar que a perícia nãotrouxe qualquer prova técnica contra os kombeiros, reforçando a teoria dos advogados dos Lira

Perícia foi realizadaseis meses após amorte das jovens

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Caso Serrambi

Os peritos e os pontosfavoráveis aos kombeiros

depoimentos dos peritos

● A segunda perícia feita no local onde os corpos dasadolescentes foram encontrados só foi realizada seismeses após terem sido encontrados. O local estavadescaracterizado, o que modificou os vestígios edificultou a apuração de provas contra qualquer acusado

● A perícia não apontou sinais de estupro ou detentativas de qualquer crime de conotação sexual contraas vítimas. O exame de reação vital, feito na USP, emRibeirão Preto, apontou que Maria Eduarda já estavamorta quando recebeu os tiros

● Quanto aos barbeadores recolhidos no local onde oscorpos das vítimas foram encontrados e na Kombi deMarcelo, não foi possível afirmar que seriam do mesmolote de fabricação

● Não foi encontrado vestígio de sangue na Kombi dosirmãos Lira, mesmo tendo sido realizado um exame coma utilização da substância Luminol

● De acordo com os laudos do IC, Regivânia Maria daSilva, considerada testemunha-chave do crime, não teriacondições de reconhecer a pessoa que estava comocarona na kombi

● Peritos disseram que apresentaram fotos da Kombi depara-choque verde a Regivânia e ela não reconheceucomo sendo a mesma que as meninas teriam entrado

● As perícias realizadas nos restos das roupas de MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmão não constataram apresenca de sêmen

QUESTIONAMENTOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

● Se foram realizadas perícias em dois imóveis de amigosdas vítimas, sendo um em Serrambi e outro em Maracaípe

● Um pedaço de papelão, encontrado no canavial, nãochegou a ser periciado para comprovar se era o domesmo tipo encontrado na Kombi de Marcelo, poisvisualmente os peritos acharam que eram diferentes

● Foi perguntado se um dos peritos tinha conhecimentomédico por ele ter tentado explicar o que poderia teracontecido com a visão de Regivânia

● O fato de as duas testemunhas que deram base paraas reproduções simuladas terem sido ouvidas peloMinistério Público

● A acusação sugeriu que uma pessoa de vestido e quese sentasse em uma Kombi sem banco poderia terprovocado um corte na roupa

❜❜

PELA DISTÂNCIA QUEREGIVÂNIA ESTAVA NÃOTINHA CONDIÇÕES DEVERDETALHES DA KOMBI E NEMDEVER QUEM ESTAVA NELA

●● Evson Lira, perito aposentado do IC❜❜

OTEMPO É INIMIGO DAPERÍCIA, QUANTO MAIOR ADEMORA, MAIOR É A PERDA DEVESTÍGIOS PELAS INTEMPÉRIES

OTESTE DE REAÇÃOVITALREALIZADO NA USP DERIBEIRÃO PRETO APONTOUQUE MARIA EDUARDA JÁESTAVA MORTA ANTES DERECEBER OSTIROS

●● Cristiana Couceiro, perita criminal do IC

Para JorgeWellington, advogado dos irmãos Lira, os peritos falaram o esperado.“Está provado que o processo não era para ter se arrastado por tanto tempo"

Enquanto as gravações telefô-nicas ainda ecoavam entre as pes-soas que assistiam ao julgamen-to, o advogado de defesa JorgeWellington apresentava suas ar-mas. Selecionou trechos de de-poimentos de médicos legistasque fizeram a segunda períciatanatoscópica, em novembro de2003. A defesa aproveitou paraseguir o conselho do médico le-gista Reginaldo Inojosa, que pe-la manhã conversou com os ad-vogados e disse que sentia faltada citação dessas provas técni-cas. No depoimento de Inojosa,lido no fórum, foi dito que Tar-sila Gusmão provavelmente foiestrangulada e que morreu víti-ma de arma de fogo. Além disso,estava com a mandíbula quebra-da, provavelmente por conta deum pneu de veículo que teriapassado por cima do corpo da ví-tima, o que chamou a atençãojá que apontava a possibilidadedos criminosos terem usado umveículo para chegarem ao localdo duplo homicídio.

Além disso, ao longo dos de-poimentos, ficou claro que o exa-me de reação vital, que apontouque Maria Eduarda teria recebi-

do os tiros depois de morta, temchances de ter dado um falso po-sitivo. Isso porque, os ossos lava-dos, como aconteceu com os dasmeninas, podem terminar dan-do um resultado diferente da rea-lidade. Na saída, o defensor pú-blico José Francisco Nunes ten-tou explicar sua fala na grava-ção interceptada, mas não se saiumuito bem. Inclusive, no mo-mento da reprodução no fórum,

ele demonstrou muito nervosis-mo. Chegou a dizer que não po-deria ter tido o telefone gram-peado. Porém, o promotor Ricar-do Lapenda esclareceu que ogrampo foi feito no aparelho dossuspeitos Marcelo e Valfrido.

vida urbanaC2 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, sexta-feira, 3 de setembro de 2010

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O silêncio era geral. Assimcomo a expectativa. Noquarto dia do julgamen-

to, as tão esperadas gravações queincriminariam os kombeiros Mar-celo e Valfrido estavam prestes aser lançadas no Fórum de Ipoju-ca. Apresentadas pelos promotoresdo Ministério Público, responsá-veis pela acusação, fizeram todomundo parar para se concentrarnas falas dos personagens princi-pais de toda essa trama batizadade Caso Serrambi. Talvez por issoontem foi o dia em que o fórumesteve mais cheio. Para o MPPE,o objetivo foi alcançado. E hojetem mais, segundo os promoto-res. O objetivo das gravações eratirar as máscaras de inocentesdos réus e provar que durante to-do esse tempo eles mentiram. Lo-go, os diálogos revelaram o com-prometimento do promotor apo-sentado Miguel Sales com oskombeiros, além de conversassurpreendentes sobre os óculosencontrados com os acusadosque são apontados como sendode Tarsila. Para a promotoria, osóculos são o elo com o crime.

As ligações interceptadas foramgravadas pela polícia nos dias 16e 17 de janeiro de 2008. Algumasdelas chegaram a constrangerquem estava assistindo ao julga-mento, como as que mostram diá-logos entre Marcelo e a amanteTiana. A todo momento, ela trataMarcelo como “meu amor” e emalgumas ocasiões chega a chorar,preocupada com as acusações quepesam sobre o amante e sobre aprópria situação. Ela demonstraque teme ser apontada como cul-pada de um crime que não come-teu. No momento mais revelador,Marcelo diz: “Falei para Cau (Val-frido) que isso ia complicar. Cau éteimoso. A única coisa que estão

falando agora é o negócio dos ócu-los, senão não tinha mais nada.Se esses óculos estavam no localdo crime, como foi bater com Pe-pê (Edna Maria, amante de Valfri-do)?”, diz um trecho da ligaçãoonde quem fala é Tiana.

Os óculos também foram cita-dos por Pepê em um depoimento,cuja imagem foi gravada, que pres-tou ao delegado Paulo Jeann, queinvestigou o caso pela quinta veza pedido do MPPE. Ela conta quechegou a ver o amante com osóculos cerca de três vezes e inclu-sive teria testado em seu rosto pa-ra ver como ficava. Os óculos tam-bém foram citados em depoimen-to por Lenilda Maria da Silva, mu-lher de Valfrido, e por Maria doCarmo da Silva, mãe de Tiana. Am-bas disseram que souberam daexistência do objeto.

Interceptado nas ligações telefô-nicas, o defensor público Francis-co Nunes, que defendeu os kom-beiros por cinco anos, tambémmostrou preocupação com os ócu-los e insistentemente perguntavapela nota fiscal do objeto e pela da-ta da compra do mesmo.

Promotor - Em certo momento,as gravações se voltam contra Mi-guel Sales, deixando-o em situaçãocomprometedora. Em uma delas,

Marcelo fala com uma mulherque diz que Sales está no carroesperando por eles. Na conversa,a mulher diz que Sales vai se reu-nir com os outros dois promoto-res (Salomão Abdo e Ricardo La-penda) para dar um parecer so-bre o caso. Durante as investiga-ções policiais, a promotoria de-fende que ficou claro que Salesmantinha uma relação com osacusados que incluia repasse deinformações sigilosas sobre o pro-cesso. “Isso demonstra uma rela-ção que não deveria existir entreo promotor e os acusados o queleva a crer que houve vazamentode informação”, disse o promo-tor Ricardo Lapenda.

Em outra gravação, Sales ligapara a casa de Valfrido, mas ele jáestaria foragido. Ele chega a orien-tar a família do kombeiro para ofato de que fugir é pior e que oideal é ligar para o defensor públi-co, Francisco Nunes. Em uma ou-tra interceptação telefônica ondeSales é citado, Marcelo perguntase “doutor Miguel tá acompanhan-do”. A resposta soa estranha: “Nãoposso falar sobre isso agora”, emum sinal, na opinião da promoto-ria, de que Nunes sabia que as li-gações estavam sendo gravadaspela polícia e por isso tomava cui-dado ao falar ao telefone.

Gravações comprometemos irmãos kombeirosObjetivo da acusaçãoera tirar as máscarasde inocentes dos réuse provar que elesestavam mentindo

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Caso Serrambi

MARCELO VOZ DEMULHER

Mulher -Tás onde?Marcelo -Tô saindoMulher - Já passou. Saiu decisão às 3h.Doutor Miguel Sales tá no carro.O corre-

gedor-geral disse que tem prova.Vai para amão da juíza.Tá em reunião os três paradecidir.Miguel Sales tá em reunião com osdois promotores para dar parecer.

MARCELO NUNES

Marcelo - Aló?Mulher - Aló, pois não?Marcelo - Doutor Nunes se encontra?Mulher - Espera um pouquinho, tá cer-to. Ele tá dando um entrevista alí.Marcelo - Certo.Nunes - Alô.Marcelo - Doutor Nunes, é Marcelo.Nunes - Tudo bom, meu amigo velho.Olhe, amanhã vai haver a denúncia.Marcelo - Sim.Nunes -Vamos ter calma,paciência, inclu-sive tem uma jornalista que quer conver-sar com você e conversar comValfrido. Jádei o telefone dele e ele falou comigo.Po-de conversar, tá certo. Continue dizendoque vocês são inocentes.Eu é que só pos-so falar lá amanhã no Ministério Público,depois que houver a denúncia.Antes eunão posso me precipitar. Em todo caso jáestão com uma onda aí de que o promo-tor vai denunciar por latrocínio. Um ab-surdo.Marcelo - É.Nunes - Seu celular?Marcelo - 8701.7210Nunes - Se o Diario de Pernambucoou Jornal do Commercio ligarem, atenda,

marque e dê entrevista e continue dizen-do que vocês são inocentes.Marcelo - Mas o senhor já sabe o que é?Nunes - Não.Sei que vai ter denúncia porhomicídio ou latrocínio, entendeu. Masamanhã a gente esclarece isso.Marcelo - E doutor Miguel tá acompa-nhando isso?Nunes - Eu não posso falar agora, ama-nhã a gente fala.A jornalista vai ligar pramim agora, vou dar seu número, atenda.Você tá trabalhando agora?Marcelo - Eu tô aqui com um rapaz,masse o pessoal ligar com certeza eu vouatender.Nunes - E amanhã você ligue a televisãoe fique em casa.Porque eu não sei o con-teúdo dessa denúncia,poderá até sair compedido de prisão preventiva, então nãosaia mais de casa.Marcelo - certo, certo.Nunes - Se acontecer alguma coisa,eu voubuscar vocês para que não haja nenhumanotícia de que vocês fugiram.Marcelo - Qualquer coisa o senhor ligapara mim.Nunes -Tá certo.Eu vou estar com o ce-lular ligado 24 horas.

TIANA MARCELO

Tiana - Alô, alô.Marcelo - Oi.Tiana -Tá ouvindo.Tá me ouvindo,meuamor?Marcelo - Olha, vê só. Se cair retorna.Pediu a denúncia. Eu quero todo mundotranquilo. Se acontecer algo comigo, dei-xo o cartão contigo.Não quero ninguémdesesperado. Quero que pare para pen-sar se acontecer algo comigo. Não que-ro que fique nervosa.Tô esperando o la-do positivo.Tiana - O óculos é a nova prova. Disseque era o óculos da menina.Marcelo - Não se aperreie.Doutor Nu-nes já tá preparado. Não tem porque oMinistério Público fazer isso. Eu tô pre-

parado.Você me conhece. Não tem por-que ficar desesperada.Tiana - Eu queria sair daqui.Marcelo - Calma, meu amor.Tiana -Vou pagar por coisa que não fiz.Marcelo -Tô orientando você. Deposi-tei dinheiro. Quero que você fique pre-parada.Vou deixar o cartão com Ninopara entregar a você.Tiana - Passou na TV. Tá todo mundopreocupado.Marcelo - Falei para o Cau que isso iacomplicar. Cau é teimoso.A única coisaque tão falando agora é o negócio dosóculos, senão não tinha mais nada.Tiana - Se esses óculos estavam no lo-cal do crime, como foi bater com Tetê?

MIGUEL SALES VOZ DEMULHER

Miguel Sales - Aqui é Miguel, promo-tor.Valfrido está?Mulher - Saiu.Miguel Sales - Foi para onde?Mulher - Sei não.Miguel Sales - Não,é porqueValfrido meligou aperreado dizendo que Marcelo foi

preso. EValfrido, ele correu com medo.Mulher -A polícia teve aqui,mas foi em-bora.Arrebentou a porta e tudo mais.Miguel Sales - Vou saber o que hou-ve porque não tinha motivo de prisão.Fugir é pior. Melhor ele ligar para dou-tor Nunes.

Trechos de gravaçõesreveladas pela promotoria

❜❜

ONDE ESTÁ ADEMOCRACIA?GRAMPEARAM MEUCELULAR. E OLHA QUENÃO SOU ACUSADO E,MESMO ASSIM, FUIGRAVADO. QUEDEMOCRACIA É ESSA?

Salomão Abdo AzizPROMOTOR DE ACUSAÇÃO

Idade:

36 anos

Formação:Formado pela Faculdadede Direito do Recife

Experiência:Promotor desde 2004

Júris que participou:Atuou em mais de 20 júris,a maioria no interior

Ricardo LapendaPROMOTOR DE ACUSAÇÃO

Idade:

53 anos

Formação:Formado pela Faculdadede Direito do Recife

Experiência:Promotor desde 1990

Júris que participou:Atuou em mais de 2 mil júris

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A.Press

●● Francisco Nunes, defensor público queatuou junto aos kombeiros durante cinco anoswww.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/

especiais/caso_serrambi

diariodepernambuco.com.brouça as gravações completas no:

Provas técnicas citadas

vida urbanaC2 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, sábado, 4 de setembro de 2010

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Foram longos cinco dias

Personagens que não serão esquecidos

Julgamento mais esperadoda última década terminouna madrugada de hoje,após mais de 60 horasde depoimentos

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O julgamento mais esperado dos úl-timos anos no estado mais pareceuuma guerra. De um lado, todo o po-

der de fogo dos promotores do MinistérioPúblico de Pernambuco (MPPE), responsá-veis pela acusação dos irmãos kombeirosMarcelo e Valfrido Lira. Do outro, os advo-gados de defesa e boa parte da populaçãode Ipojuca que, incansável, compareceu to-dos os dias em frente ao Fórum da cidadepara demonstrar solidariedade aos réus .Um júri previsto para três dias, chegou aoquinto e entrou pela madrugada de hoje,com a sentença de inocência para os Lira.Durante o julgamento houve de tudo. Con-tradições em depoimentos, perícias incon-testáveis, indícios contundentes. Razão eemoção misturaram-se num dos casos maispolêmicos do estado. Tudo para desvendarum dos maiores mistérios dos últimos dezanos em Pernambuco: quem matou MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmão? Ummistério que continua.

Para a acusação, não restavam dúvidasde que seriam os irmãos kombeiros. O pon-to alto da atuação dos promotores foi a di-vulgação de gravações telefônicas, inter-ceptadas com autorização da Justiça, emque os réus conversavam com suas aman-tes. Em uma das conversas, Marcelo fala queValfrido é “teimoso”, em relação aos co-mentados óculos escuros que, segundo apromotoria, seriam de Tarsila. Tambémfoi possível identificar uma relação muitoíntima entre os irmãos e o então promo-tor do caso, Miguel Sales. Em uma das li-gações, Marcelo diz à sua amante, conhe-

cida como Tiana, que “o doutor Sales” iriatirá-lo da cadeia rapidinho, caso houvessepedido de prisão preventiva.

Os promotores trabalharam com a apro-vação quase que total das famílias das ví-timas. A única exceção é a mãe de MariaEduarda, a empresária Regina Lacerda,que desde o início das investigações acre-ditava na inocência dos acusados. Mas, nosegundo dia de julgamento, ela não hesi-tou em conversar com o promotor Ricar-do Lapenda, antes de se acomodar em umadas primeiras fileiras da sala de júri. Aacusação aproveitou essa confiança dosparentes de Tarsila e Maria Eduarda paraemocionar os sete jurados. Principalmen-

te no último dia de julgamento. Durantetodo o tempo os promotores faziam refe-rência à dor dos familiares, com destaquepara o comerciante José Vieira, pai de Tar-sila. Além de perder a filha, ele foi o pri-meiro a encontrar o corpo da estudante nocanavial (antes mesmo da polícia) e presopor porte ilegal de armas, depois que oSales expediu um mandado de busca eapreensão em sua casa.

Já a defesa tentou usar o apoio populardos réus em Ipojuca para convencer a ino-cência deles frente aos jurados. O ponto al-to da atuação dos advogados de defesa ocor-reu no terceiro dia de julgamento, quandovários peritos disseram, em depoimento

oficial, não haver provas técnicas contraos irmãos Lira. Foi através das falas oficiaisque o advogado de defesa, Jorge Welligton,tentou descredenciar a testemunha-chavedo Caso Serrambi, a dona de casa Regivâ-nia Maria da Silva, que afirmou à políciadiversas vezes ter visto Maria Eduarda eTarsila entrarem numa Kombi branca nodia em que foram mortas. No depoimentoda perita do Instituto de Criminalística (IC)Vanja Coelho, ela disse ser “tecnicamenteimpossível” Regivânia ter condições de verquem estava dentro do veículo na distân-cia em que afirmou estar no dia 3 de maiode 2003. A testemunha, no entanto, nãoparticipou do julgamento.

Em Ipojuca, o promotor aposentado Mi-guel Sales é uma unanimidade. A cidade,no entanto, é uma exceção. Nos últimossete anos, o promotor que ficou cincoanos à frente do Caso Serrambi passoude herói a pessoa de caráter questioná-vel. Sua atuação no caso passou por altose baixos na opinião pública. Como nãopoderia deixar de ser, ele compareceu aosprimeiros dias do julgamento dos irmãoskombeiros. Passou mal, foi internado, re-cebeu alta e voltou ao Fórum de Ipojucaontem. Durante todos os dias, foi aplau-dido por populares. Apesar da sua parti-cipação efetiva, não foi arrolado pela de-fesa para a sabatina como testemunha.Em todos os dias que esteve no Fórum,fez parte da plateia formada por familia-res das vítimas e dos réus, além de estu-

dantes de direito e de jornalismo.Sales devolveu o inquérito do Caso Ser-

rambi por cinco vezes seguidas, alegandofalta de provas que ligassem Marcelo e Val-frido Lira às mortes das adolescentes Tarsi-la Gusmão e Maria Eduarda Dourado. Du-rante os cinco anos em que esteve à frentedo caso, seu “pé atrás” diante das conclu-sões dos delegados causou mal-estar entreo Ministério Público de Pernambuco (MPPE)e a Polícia Civil. Ao saber do duplo assassi-nato, primeiro ficou do lado da polícia. De-pois, passou a defender os kombeiros comveemência. Sua postura começou a ser ques-tionada depois que a Polícia Federal entrouno caso e, assim como a Polícia Civil, con-tinuou acusando os kombeiros como auto-res do duplo homicídio.

Outra personagem que chamou a aten-

ção no 1º dia de julgamento foi a advoga-da pernambucana radicada no Ceará, Ma-ria Consuelo Bezerra Lins, convidada pelosadvogados de defesa. Ela foi retirada da sa-la do júri por tentar falar diretamente aosjurados. Ela acusou o delegado da PolíciaFederal do Ceará, Cláudio Joventino, de in-criminar um jovem em Fortaleza, em pro-cesso semelhante ao das estudantes MariaEduarda e Tarsila, que representa uma bri-ga de classes sociais. Segundo a advogada,as provas colhidas apresentam fraudes pa-ra proteger os verdadeiros culpados. O réu,Elionildo, foi preso acusado de ter estupra-do e matado uma jovem vestibulanda emnovembro de 2000. Consuelo se dirigiu aosjurrados dizendo “eu quero recomendaraos jurados…” e foi repreendida pela juízaAndrea Calado, sendo retirada da sala.

Caso Serrambi

1º dia (segunda-feira, 30/08)

A defesa dos irmãos Marcelo eValfridoLira ficou encurralada neste primeirodia de julgamento

O delegado Paulo Jeann Barros e Silva,uma das duas testemunhas de acusação,apresentou 27 indícios contra osacusados. Entre eles o aparecimento doóculos de sol deTarsila comValfrido,dias após o crime. O acessório nuncafoi encontrado

O advogado José Siqueira Filho, queatua como assistente de acusação doMinistério Público, trouxe à tona oenvolvimento de Marcelo com umamenina de 13 anos, em Nossa Senhorado Ó, onde residia. Manter contatosexual com menor de 18 anos éconsiderado estupro

Os irmãos entraram escoltados pordois agentes penitenciários por voltadas 10h30 e saíram perto das 20h, sobaplausos da populacão.Ambos nãoesboçaram emoção

O júri começou com duas horas e meiade atraso, porque três das testemunhasda defesa não compareceram e tiveramque ser levadas pela Polícia Militar eoficiais de justiça

A acusação dispensou dois homens e ojúri final acabou formado por quatrohomens e três mulheres, todosfuncionários públicos do estado,moradores de Ipojuca

O promotor Ricardo Lapenda e odefensor público Francisco Nunes,testemunha da defesa, bateram bocadentro do Fórum. O promotor disseque o defensor teria comentado entreabril e junho deste ano que acreditavana culpa de Marcelo nos assassinatos,mas defendeuValfrido

A fala da testemunha Paulo FelicianoDiniz, o Abençoado, acabou ajudando aacusação. Ele confirmou à juíza que aúnica Kombi branca de para-choqueverde na região pertencia aos réus

Os amigos das adolescentes MariaEduarda eTarsila não participaram dotribunal de júri. Mais uma vez a acusaçãoressaltou que não havia indícios quepudessem incriminá-los

O promotor aposentado Miguel Salesaparece na plateia do Fórum

A advogada pernambucana que atua noCeará, Maria Consuelo Bezerra Lins, foiretirada da sala do júri por falardiretamente aos jurados. Ela acusou odelegado da Polícia Federal, CláudioJoventino, de incriminar um jovem emFortaleza por um assassinatosemelhante ao das estudantes EduardaeTarsila, que representa uma briga declasses sociais

2º dia (terça-feira, 31/08)

Mais uma vez, Marcelo eValfrido Liraesboçaram poucas reações diante docorpo de jurados. Em nenhummomento demostravam emoção,mesmo sendo acusados pelospromotores. Do lado de fora do fórum,no entanto, o apoio popular permaneciao mesmo

Ao contrário do que tinha afirmado àimprensa, a mãe de Maria Eduarda, aempresária Regina Lacerda, aparece nojulgamento. Ela chega ao lado do filho econversa com o promotor RicardoLapenda, antes de sentar numa dasprimeiras fileiras da plateia

Este foi mais um dia em que a acusaçãosaiu na frente na queda de braço com adefesa

Os promotores do Ministério Públicode Pernambuco e os advogadosassistentes fizeram perguntas incisivas àstestemunhas arroladas pela defesa, quecaíram em contradições e acabaramapontando mais detalhes para seremusados pela acusação

O kombeiro Antônio José Silva chegoua chorar no depoimento ao contar quefoi espancado por policiais civis, maslogo depois falou que não conhecianada do Caso Serrambi

O dono do playtime de Porto deGalinhas,Abedenaldo Barbosa daSilva, contou que viu quando umajovem morena fez menção de entrarem uma Kombi. Embora ele sempretivesse dito que estava mais distanteque a testemunha-chave Regivânia Mariada Silva, ao júri ele disse que estava maisperto

A perita criminal Leila Gouveia Gomesafirmou, em seu depoimento, não terencontrado manchas de sêmen nasroupas das vítimas. Mas justificou que assituações do clima poderiam terapagado vestígios, caso eles existissem

Fotos chocantes dos corpos deTarsila eMaria Eduarda, em avançado estado dedecomposição, foram exibidas pelaprimeira vez durante o júri popular

As imagens emocionaram a plateia e,principalmente, os familiares das duasmeninas

A juíza Andrea Calado não aceitou

pedidos da promotoria para convocar oprofessor Carlos Fraga e o ex-promotorMiguel Sales

3º dia (quarta-feira, 1º de setembro)

Vários imprevistos fazem com que osdepoimentos dos irmãos kombeiros sejamadiados

A sessão começou com quase 1h30 deatraso porque três jurados estavam comhipertensão e precisaram receberatendimento médico

Eles não foram os únicos.A testemunhaAbedenaldo Barbosa também teve pressãoalta e foi dispensado pela magistrada.Alémdeles, o promotor aposentado Miguel Salese a mãe de Maria Eduarda, Regina Lacerda,foram socorridos pelo mesmo motivo

Os familiares dos réus e popularesorganizaram uma passeata pedindo justiçapara os irmãos

Os depoimentos dos peritos fortalecerama defesa, que havia ficado acuada nos doisprimeiros dias do júri

Os quatro peritos do Instituto deCriminalística (IC), que prestaramdepoimento no dia, colocaram em xeque atestemunha-chave da promotoria, Regivânia

Silva, e mostraram as fragilidades que oslaudos tinham para a conclusão do crime

Os especialistas foram unânimes em dizerque a perícia não trouxe qualquer provatécnica contra os kombeiros

Os peritos disseram que, da distância ondeRegivânia estava, seria tecnicamenteimpossível ver detalhes do interior docarro

Já a perita Cristiana Couceiro deAlbuquerque, afirmou que a perícia nãoapontou sinais de estupro ou de tentativasde qualquer crime de conotação sexualcontra as vítimas

Ela disse que o exame de reação vital, feitona USP, em Ribeirão Preto, apontou queMaria Eduarda já estava morta quandorecebeu os tiros, trazendo à tona a teseoriginada do promotor Miguel Sales de quea vítima teria morrido, na realidade, deoverdose, na casa de amigos

4º dia (quinta-feira, 2 de setembro)

Marcelo eValfrido prestam seusdepoimentos. Mais uma vez, alegaraminocência

Ao contrário do que se esperava, osdepoimentos duraram menos de uma

hora.Ambos demonstraram frieza aoresponder as perguntas durante a sabatina

Os réus disseram em juízo que foram parao município de Cachoeirinha no dia 26 deabril de 2003, para uma festa realizada peçaprefeitura da cidade. Durante asinvestigações da Polícia Federal, foidescoberto que a festa, na verdade,aconteceu no mesmo dia do crime

No dia do crime, Marcelo afirmou que saiude casa por volta das 8h30, de ummercado com a amanteTiana e que ascompras custaram R$ 55, pagas com seucheque. Ele sabia o horário em que voltoupara casa e que saiu no dia seguinte, às 6h

Marcelo disse que não se lembrava se aKombi estava fazendo barulho. Elejustificou a falta de memória por tersofrido tortura psicológica.

Tanto Marcelo quantoValfrido garantiramter sofrido maus-tratos na prisão

Valfrido diz aos jurados que jamaisconfessaria um crime que não cometeu. Elecontou que passou a ficar mais próximo doentão promotor Miguel Sales depois queteve a casa arrombada pela polícia

Ele informou, ainda, que soube do crimeno dia 12 de maio de 2003, quando estavaem um posto de gasolina com um amigo.

“Disseram que o corpo estava muito feio.Fui até o local do crime para tentar ver.”

Os irmãos disseram que os óculosapontados pela promotoria como sendodeTarsila e que teriam sido usados porsuas amantes, haviam sido esquecidos poralgum passageiro

Em contrapartida, os promotoresdivulgaram gravações que comprometeramos réus

Os diálogos revelaram ocomprometimento do promotor MiguelSales com os kombeiros, além deconversas surpreendentes sobre osóculos que estariam com os acusados, eseriam de Tarsila

O comerciante JoséVieira, pai deTarsila, foihostilizado pelos populares que davampalavras de incentivo aos kombeiros. Ele foichamado de “assassino” e só conseguiuchegar até o carro sob escolta de doispolicais militares

O laudo do médico legista ReginaldoInojosa, feito seis meses após o crime,aponta que não existem indícios contra osacusados

No depoimento da perita do IC,VanjaCoelho, ela admitiu que a reproduçãosimulada com a testemunha Regivânia Silva

foi feita com várias pessoas

O procurador-geral de Justiça, PauloVarejão, ameaçou abrir um processoadministrativo para punir o ex-promotorMiguel Sales, após ouvir as escutastelefônicas no júri. Caso a ideia seja levadaadiante, Sales corre o risco de perder suaaposentadoria

5º dia (sexta-feira, 3 de setembro)

O promotor aposentado Miguel Sales, quedeixou de frequentar o Fórum no 3º diade julgamento, retorna à plateia do júri.Após um procedimento de cateterismo,ele recebeu alta de um hospital particular,no Recife, e seguiu para Ipojuca

A promotoria diz que os kombeirosmataram as adolescentes e depoisseguiram para uma festa em Cachoeirinha

No último dia de julgamento, a acusaçãoutiliza emoção e razão para tentarconvencer os jurados

O promotor Ricardo Lapenda disse que oskombeiros estão encarando os jurados,com a intenção de intimidá-los

O pai deTarsila afirmou que os advogadosde defesa fizeram curso de teatro, antes determinarem a graduação de direito

Pontos altosdo julgamento

Miguel Sales virou o centro das atenções

Durante o júri, os irmãos Marcelo e Valfrido foram levados diariamente do Cotel, onde estavam presos, até o Fórum de Ipojuca

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A.Press

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Caso Serrambi

ANA PAULA NEIVA, MARCIONILATEIXEIRA,

TATIANA SOTERO EWAGNER OLIVEIRA

[email protected]

A s mãos balançam veemente-mente, as vozes ganham for-ça e as faces, expressões re-

pletas de sentido. O julgamento dosirmãos kombeiros Marcelo e Valfri-do Lira acusados pelo assassinatodas adolescentes Maria Eduarda eTarsila Gusmão, em maio de 2003,e inocentados pelo júri popular porquatro votos a três, durou uma se-mana. Foram mais de 60 horas. Umespetáculo à parte para um públicoseleto, formado por gente da popu-lação, advogados, estudantes de di-reito, além da imprensa. Nos basti-dores, trocas de farpas e gentilezas,palavras fortes e muitas vezes hilá-rias. O show de ironia teve como pro-tagonistas o advogado de defesa, Jor-ge Wellington, 41 anos, e o promo-tor Ricardo Lapenda, 53.

Em meio ao julgamento maispolêmico da década, acusação edefesa pegavam suas “armas” eapontavam um para o outro. Nãoforam poucos os momentos emque a juíza Andrea Calado precisoususpender a sessão devido ao desen-tendimento entre as partes. Paraquem estava na plateia, pareciaaté ser uma briga de inimigos mor-tais. No entanto, ao final de cadadia do julgamento, os guerreirosque haviam acabado de se gladiarna frente de sete jurados e doisréus, trocavam cumprimentos.

Uma guerra às avessas, onde aspiadas também tinham vez. Certodia, o advogado de defesa Jorge We-llington Lima disparou: “Nem tu-do que parece é. Eu pareço com ocantor Roberto Leal, com o Ferru-gem, mas não sou”, disse, justifican-do que os indícios do crime nãosignificavam que a autoria seria deMarcelo e Valfrido. Foi a deixa que

o promotor Ricardo Lapenda, apa-rentemente mais sisudo, precisa-va para brincar com o “rival”. Noplenário, acabou usando o apeli-do: “Calma Roberto Leal, calma”. Aplateia foi às gargalhadas.

Essa não foi a única vez que Lapen-da e Jorge Wellington viraram o al-

vo principal das conversas nos bas-tidores. Diante de uma gentileza doadvogado no plenário, o promotorquebrou o gelo e, em troca, brincou,oferecendo um bombom, que foi re-jeitado por He-Man, como tambémficou conhecido Wellington, por con-ta da semelhança com o super-herói.

Em um dos momentos mais ten-sos do julgamento, em pleno inter-rogatório da perita do Instituto deCriminalística Vanja Coelho, nemmesmo a juíza Andrea Calado seconteve: “Isso é uma perícia ouuma pegadinha”, referindo-se àquantidade de vezes em que a tes-temunha Regivânia Maria da Sil-va foi submetida à reprodução si-mulada no mesmo dia e coordena-da por Vanja.

“Hoje é dia da onça beber água”,disparou o irreverente advogadoJorge Wellington ao avisar que adefesa dos kombeiros se prepara-va para mais um dia de estraté-gias. E não foi só essa frase que vi-rou o centro de comentários engra-çados entre os jornalistas. “Quemviver verá” foi mais uma pérolalançada pelo advogado, formadona Faculdade de Direito de Carua-ru, e com experiência de 18 anosna área criminal, além de 100 jú-

ris. Devido ao Caso Serrambi, We-llington acabou ganhando o cari-nho do povo de Ipojuca. Todas asvezes em que deixava o fórum, eraparado por populares que o cum-primentavam e pousavam para fo-tos ao seu lado. Tanta fama não énovidade para ele que já foi verea-dor por duas vezes, em Lajedo, suaterra natal, onde exerceu a presi-dência da Câmara.

Lapenda, de humor mais refi-nado, formado pela Faculdade deDireito do Recife, promotor des-de 1990 e que já atuou em mais dedois mil júris, aproveitava os inter-valos das sessões para brincar como seu rival, a quem se referia co-mo o super-herói. “E aí seu JorgeWellington, já tomou seu Rupinolhoje?”, não perdia a chance de“mexer” com o aspecto agitado doseu colega de profissão. Realmen-te, um espetáculo para poucos den-tro de tanta tensão.

O espetáculo além do júri

Foi uma semana, mais de 60 horas para defesa, acusação e uma plateia seleta participarem do júri mais esperado da última década

O júri popular do Caso Serram-bi foi considerado uma verdadeiraaula de direito penal. Não é à toaque estudantes universitários fize-ram questão de acompanhar todosos detalhes do julgamento. Senta-dos na plateia, eles observavam,anotavam e comentavam entre situdo que acontecia no tribunal.Quem esteve presente os cinco diasafirma que a experiência foi enri-quecedora para o currículo profis-sional. E também inesquecível. Re-cém-formada em direito pela Uni-versidade Católica de Pernambuco(Unicap), Christiane Amorim, 23anos, mudou-se para Porto de Ga-linhas desde o domingo passadopara ficar mais perto do Fórum deIpojuca, onde acontecia o julga-

mento. Ela foi a primeira a se ins-crever para participar do júri dosirmãos kombeiros como advoga-da. Foram dez vagas.

“O aprendizado foi intenso. Jáhavia acompanhado outros júrisno Recife, mas o do Caso Serram-bi, sem dúvida, foi uma experiên-cia muito boa para o meu currícu-lo”, comentou a jovem, que esperouaté pelo anúncio da sentença. A co-lega dela, Maria Regina Gulde, 24,também ex-aluna da Unicap, disseque o momento mais emocionan-te foram os debates. “A gente se en-volve com a empolgação dos promo-tores e também com a defesa dosréus. Acho que esse é o momentomais importante. Os depoimentosdas testemunhas é muito cansati-

vo. Nos debates, quem tiver mais ha-bilidade para convencer os juradospode virar o jogo”, comentou.

Aluna do 5º período do curso dedireito, também da Unicap, Cami-la Moura, 21, trouxe um cadernopara anotar todas as suas dúvidase depois discutí-las com um pro-fessor em sala de aula. “A genteaprende a teoria na faculdade, masé no tribunal que temos a emoçãoe satisfação de colocar em práticao nosso aprendizado”, disse. Ao to-do, o Tribunal de Justiça de Per-nambuco destinou 10 vagas para es-tudantes, que dividiram o plená-rio com advogados, populares econvidados das famílias das víti-mas e dos acusados. As cadeiras fi-caram ocupadas todos os dias.

Não adianta chegar

aqui na frente, ficar se

agachando e se

levantando e dizendo

coisas pela metade

promotor Salomão Abdo Aziz ,referindo-se aodesempenho do advogado de defesa Jorge

Wellington durante os debates.

Com a visão que

ela tem, Regivânia

deveria ser mandada

para o Afeganistão

para procurar

Ozama bin Laden

advogado de defesa JorgeWellington Limareferindo-se à testemunha-chave do Caso Serrambi

O senhor fez curso de

oftalmologista para

explicar o fenômeno

que teria acontecido

com a visão da

testemunha?

Advogado de acusação José Siqueira Filhoindagando o perito criminal Evson da Costa Lira

sobre uma explicação contra Regivânia

A carta na manga é

simplesmente a

verdade. O que temos

a nosso favor são as

provas que não

existem nos autos

Advogado de defesa Bruno Santosafirmando não haver como incriminaros kombeiros pelo duplo homicídio

Esses homens são uns

monstros e podem me

encarar, eu não tenho

medo. Se quiserem, dou

até o meu endereço

promotor Ricardo Lapenda enfrentando os olharesdos irmãos Marcelo eValfrido Lira.

Doutor Jorge

Wellington, desse jeito

a gente vai entrar pelo

fim de semana até o

feriadão e não

termina esse júriJuízaAndrea Calado tentando conter os ânimos doadvogado que se alongava em seus questionamentos

Julio Jacobina/DP/D.A.PressTeresa Maia/DP/D.A.Press

Para os universitários,aula de direito penal

Nos bastidores, o promotor Ricardo Lapenda e o defensor dos kombeiros, o advogado Jorge Wellington, trocavam gentilezas. Diante dos jurados, a batalha era intensa, cada um usava suas armas

Camila Moura levou um caderno para anotar as dúvidas e discutir na sala

Teresa Maia/DP/D.A Press

Advogado dos Liraficou famoso emIpojuca após defesa

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Caso Serrambi

Um movimento incomumtomou conta de Camela,distrito de Ipojuca, no fi-

nal da tarde deste sábado. O lugar,que ficou conhecido por um doscrimes mais brutais do estado dePernambuco nos últimos anos, ago-ra é só festa. Sem hora para acabar.Depois de passar a madrugada co-memorando a soltura, os irmãosValfrido e Marcelo Lira promove-ram uma carreata para continuarfestejando a saída da prisão. Feste-jando o fim de um sofrimento quedurou sete anos e cinco meses.

Antes dos carros saírem em di-reção ao centro do distrito, os kom-beiros foram recebidos por umapequena multidão de amigos. Osom de fundo era um funk evan-gélico ou brega. Todos na rua dan-çavam. Valfrido, agora evangélico,aproveita para pregar a quem seaproximava. Em pouco tempo,Marcelo, que mora em Nossa Se-nhora do Ó, chegou.

Logo, os dois foram carregadosjuntos nos braços. “Eles têm que sercolocados no braço mesmo. Jamaisteriam feito isso com as adolescen-tes. Passei a noite comemorando ainocência dos dois”, disse a donade casa Girlane Maria Cândido, 25anos.Assim como ela, muita gen-te ainda queria abraçar os irmãos.

Alguns filmavam, tiravam fotos.Por alguns minutos, viraram cele-bridades. A mãe dos kombeirostambém participou da comemo-ração. Valfrido, que mora em Ca-mela, voltou a falar em vida nova.“Agora tudo está melhor. Hoje é sóalegria, graças a Deus.” Questio-nado sobre a possibilidade de terexistido dois parentes entre os ju-rados, Valfrido disse que a acusa-ção era inverídica.

Apesar dos amigos e familiaresdos kombeiros estarem com adesi-vos divulgando a candidatura dopromotor aposentado Miguel Sales,por telefone ele, que é um dos prin-cipais personagens do Caso Ser-rambi, disse que foi convidado pa-ra ir ao evento, mas preferiu nãocomparecer para evitar comentá-rios de que estaria se promoven-do politicamente.

Sales afirmou, ainda, que ficousurpreso com o resultado aperta-do da votação do júri, que teve pla-car de 4 a 3. “Acho que esse resul-tado reflete a influência de todasas calúnias ditas contra mim.”

A chegada – Já se aproximavadas 4h do sábado quando os carrosque traziam os irmãos do Centrode Triagem, em Abreu e Lima, che-garam ao pequeno distrito que

acordou mais cedo para recebê-los.“Faz um mês que eu não vejo omeu pai e o meu tio. Quando eleschegarem, vou dar um abraço bemforte no meu pai”, disse a filha deValfrido, Paula Lira, 16 anos.

Com um grupo de amigas e umabanda que tocava no meio da rua,Paula Lira dançava e cantava. Erauma jovem diferente daquela quepassou os cinco dias do julgamen-to na frente do Fórum de Ipojucana expectativa da resposta da ab-solvição.

Sentada numa cadeira de plásti-co, dona Maria da Conceição Silva,70, esperava ansiosa a chegada dogenro Valfrido Lira, em Camela.“Graças a Deus ele agora vai traba-lhar e sustentar a família dele”,suspirou. Não demorou muito eele chegou acompanhado do ir-mão Marcelo e das suas esposas.

Os kombeiros que foram absol-vidos da acusação de terem mata-do Maria Eduarda Dourado e Tar-sila Gusmão agora podem respi-rar aliviados. A madrugada foi defesta para parentes e amigos queos esperavam com fogos, abraços,aplausos e muita alegria.

Aos poucos, a frente da casa dasogra de Valfrido ia ficando lotada.A mãe do kombeiros, dona Antô-nia Lira da Silva, 64, agradecia a

Deus por ter os filhos de volta emcasa. Foi esperá-los na saída do Co-tel, em Abreu e Lima. Recebeu osfilhos com um forte abraço. “Es-perei e Deus me deu a resposta nodia certo. Meus filhos são inocen-tes. Nunca mataram ninguém. Gra-ças a Deus voltaram para casa. Ago-ra eles vão poder trabalhar parame ajudar”, comemorou a donade casa, enquanto pulava de alegriano meio da rua.

Os sorrisos dos dois irmãos aochegarem em Camela indicavam oalívio. Marcelo e Valfrido foram co-locados nos braços no povo e des-filaram pelo meio da rua sob mui-tos aplausos. Desde a saída deles dofórum, o clima era só de comemo-ração. Para o futuro, os Lira espe-ram poder voltar logo a trabalhare cuidar de suas famílias.

“Quero seguir a minha vidatranquilo”, disse Valfrido. Já Mar-celo afirmou que voltará ao trans-porte alternativo. “Vou trabalharcom Kombi novamente e aprovei-tar minha família”, declarou.

Quem passava pelo local da con-centração se juntava à festa. On-tem, os irmãos Marcelo e Valfridopassaram parte da manhã receben-do visitas e agradecendo o apoiodos amigos. Depois do assédio dosjornalistas, os irmãos aproveita-

ram para matar a saudade dos pa-rentes. “Tinha certeza que os me-ninos iriam ser absolvidos. Elesnão são assassinos. Deus fez a obrae agora estamos todos felizes”, de-clarou a dona de casa Iracema Fran-cisca da Silva, prima dos irmãos.

Vida normal – De réus famososa pessoas comuns. Esse é o desafioque os irmãos kombeiros Marceloe Valfrido Lira terão que enfrentara partir de agora. Ainda na madru-gada de ontem, pouco antes de dei-xarem o Centro de Observação Cri-minológica e Triagem ProfessorEverardo Luna (Cotel), em Abreu eLima, os advogados Bruno Santose Jorge Welington Lima conversa-ram com os absolvidos e orienta-ram os kombeiros a manteremuma vida mais reservada para evi-tar mais exposição.

“É como se eles estivessem par-ticipando de um Big Brother, ondetoda a sociedade ficará fiscalizan-do cada passo dos irmãos Lira. Porisso, é bom que eles tenham umavida mais regrada, evitem beber, es-tar na rua até tarde. Falamos tam-bém da necessidade deles volta-rem a trabalhar, levar uma vidanormal”, disse Bruno Santos. (AnaPaula Neiva, Marcionila Teixeirae Wagner Oliveira)

Irmãos foram carregadosnos braços pela multidãoantes do início da carreata

Julio Jacobina/DP/D.A.Press

❜❜“Eu já sabia que meus

filhos não tinham feito

uma desgraça dessa.

Agora é a Justiça quem

está dizendo isso”

Carreata para comemorar a liberdadeNo final da tarde deste sábado, moradores de Camela, distrito de Ipojuca, visitaram manifestação para festejar a volta de Marcelo e Valfrido Lira

❜❜Antônia Lira - mãe dos kombeiros

“Polícia nunca teve provas”Como você pretende levar avida a partir de agora?Vou retomar a minha vida nor-malmente, vou trabalhar comomotorista de Kombi. Entendo ador que as famílias das vítimassentiram, mas não posso pagarpor um crime que eu não cometi.

Você está de consciênciatranquila depois de ter sidoabsolvido?Claro. Eu e meu irmão nunca de-víamos ter sido presos por causadessas mortes. Se Maria Eduardae Tarsila tivessem entrado na mi-nha Kombi, jamais elas teriam si-do assassinadas.

O que você acha que levouos jurados a não condenarvocês pelo duplo assassinatoe tentativas de estupros?A polícia nunca teve provas con-tra a gente. Fomos presos em 2003,

ficamos passando necessidade noGOE e depois presos novamentesem dever nada. Isso fez com queos jurados acreditassem na ino-cência da gente.

Agora que você inocentado,

tem alguma coisa a dizer aospais das duas meninas?Eu queria mandar um grandeabraço para dona Regina Lacerda.Ela está certa em não acreditarque somos os assassinos e sempresuspeitou de toda essa história.

O que você está sentido agoraque foi considerado inocente?Estou muito feliz. Desde segunda-feira que eu disse aos presos do Co-tel que ia voltar para casa. Minhasroupas já estavam todas arruma-das. Nunca matei ninguém, tenhomeu coração limpo.

Como vai ser a vida daquipra frente?Pretendo arrumar um emprego evoltar a trabalhar para sustentar aminha família, que já sofreu mui-to com tudo isso. Agora vai ser tu-do diferente. Como já tinha prome-tido, vou consertar a minha Kom-bi e doar para uma igreja.

Você pensa em entrar comprocesso contra o Estado?Ainda não pensamos sobre isso.Mas não descartamos essa possibi-lidade. Eu e meu irmão vamosconversar com os advogados pa-

ra resolver o que a gente vai fazer.Por enquanto, não queremos fa-lar sobre isso.

Depois de tudo isso, você quermandar algum recado para ospais deTarsila e Maria Eduarda?

Para os pais das meninas, o que eutenho a dizer é que não matei as fi-lhas deles. Mas quero agradecer àmãe de Maria Eduarda por sempreter acreditado na inocência da gen-te. Agora os verdadeiros assassinosdevem aparecer.

Teresa Maia/DP/D.A.Press

“ entrevista // Marcelo Lira

“Nunca matei ninguém”“ entrevista // Valfrido Lira

Teresa Maia/DP/D.A.Press

Teresa Maia/DP/D.A.Press

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O s amigos das adolescen-tes Maria Eduarda Dou-rado e Tarsila Gusmão

não participaram do tribunal dejúri. Mas nem por isso foram es-quecidos. Os dois delegados, tes-temunhas da acusação, ressalta-ram por diversas vezes ontem quenão havia qualquer indício quepudessem incriminá-los. PauloJeann Barros e Silva, que na épo-ca era delegado de homicídios efoi responsável pelo terceiro in-quérito, garantiu que todos eles fo-ram investigados e que, inclusi-ve, tiveram osseus telefonesintercepta-dos. Mas nadafoi encontra-do. O mesmoele afirmoucom relação àperícia reali-zada na casade Serrambi - onde as jovens pas-saram o fim de semana, antes dedesaparecerem - como tambémna lancha onde elas fizeram o úl-timo passeio. Até os poços arte-sianos da residência de veraneioforam periciados. “Em tudo isso,não houve qualquer elo dos ami-gos com o sumiço e com as mor-tes das adolescentes”, destacou.Ele fez questão de ressaltar essasinvestigações para rebater os boa-

tos de que as jovens foram mortasdurante uma festa com os amigosde classe média alta.

Cláudio Joventino foi maisalém. “Pelo que consta nos autos,afirmo com 100% de certeza quenão há qualquer prova que indi-que a participação dos amigos nasmortes”, ressaltou. “Eu desafio al-guém a mostrar algo que incri-mine algum deles”, completou.O delegado disse, inclusive, quefoi comprovado o local onde cadaum deles estaria no dia das mor-tes das garotas. Para ele, foi cria-

da uma falsaexpectativa so-bre os assassi-natos que con-turbaram as in-vestigações. Jo-ventino citoucomo exemploum site criadopela família

Dourado para colher qualquer de-núncia sobre o caso. “Acabaraminvestigando muitos boatos. Fi-lhos de empresários acabaram fi-cando como suspeitos”, destacou.Essa hipótese é defendida pelamaior parte da população que de-fende os kombeiros, numa verda-deira luta de classes.

As inúmeras versões, segundoeles, também levaram o pai deTarsila, José Vieira de Melo, a ser

investigado. “Sempre questiona-ram o fato de ele ter achado oscorpos por conta própria, antesda polícia. Ele encontrou porqueera pai, pela intuição. Ele sofreumuito”, contou. Para Jeann, Viei-ra sofreu mais do que as vítimas.

“Ele perdeu a filha, foi investiga-do, interceptado e preso por por-te ilegal de arma. Na verdade, elesó ajudou a polícia, encontrandoa filha morta”, disse.

Paulo Jeann informou tambémque foram feitas perícias pelo Ins-

tituto de Criminalística de SãoPaulo para ter a certeza de que adecomposição dos corpos era pe-culiar ao tempo e local em queelas foram encontradas. “Não hou-ve, portanto, tratamentos quími-cos como foi cogitado”, frisou.

O promotor Miguel Sales enfren-tou um dia difícil ontem. Apesar denão ser o alvo da investigação, ou se-quer testemunha, praticamente foicolocado contra a parede todo o tem-po pelos promotores do MinistérioPúblico de Pernambuco (MPPE) e pe-los advogados assistentes. Tudo pre-visto dentro de uma estratégia deacusação que saiu como esperado eao final foi comemorada pelos pro-motores. Um dos momentos demaior tensão foi durante uma aca-reação surpresa entre o defensor pú-blico José Francisco Nunes, que de-fendeu os kombeiros por cinco anos,e o empresário Antônio Dourado,pai de uma das vítimas, Maria Eduar-da. Nesse momento, foi revelado queo promotor teria feito juízo de valorantecipado sobre a inocência doskombeiros. “Aqueles kombeiros, coi-tadinhos, não têm culpa de nada”,

teria dito Sales com cerca de 15 diasdepois da prisão dos acusados, quan-do eles ainda estavam presos no Gru-po de Operações Especiais (GOE), noCordeiro. Segundo Antônio Doura-do, a afirmação foi feita, inclusive,na frente de Francisco Nunes, que,por sua vez, negou ter ouvido um co-mentário parecido. O assunto, com-pletou Dourado, foi levantado emum encontro na casa do promotor,em Setúbal. Na acareação, Douradodisparou: “Na hora, não conseguia fa-zer a ligação do promotor com oskombeiros, mas depois achei prema-turo ele avaliar os kombeiros comocoitadinhos”, disparou ao ser provo-cado pelos promotores. Visivelmen-te transtornado, Sales levantou e pro-curou a imprensa para comentar aacusação. “Dourado foi à minha ca-sa para falar que tinha contratado in-vestigadores para apurar o caso, mas

não falei que os kombeiros eram coi-tadinhos”, defendeu-se. Para o pro-motor Ricardo Lapenda e SalomãoAbdo, a acareação fortaleceu a acu-sação contra os dois réus. “Quere-mos mostrar que o promotor, logono início do caso, já considerava oskombeiros inocentes. Quem tem es-sa convicção, não pode continuarno caso. Miguel Sales terminou agin-

do mais como advogado do que co-mo promotor”, analisou Lapenda. Opromotor disse, ainda, que por trásdessa atuação de Sales poderia ha-ver interesse de promoção política.Sales devolveu o inquérito quatrovezes e hoje concorre a uma vaga dedeputado federal. Antes disso, o de-legado Cláudio Joventino tambémtinha feito outras insinuações con-

tra Sales. Ele disse que havia uma in-sistência do antigo promotor eminocentar os kombeiros. “Tudo oque era a favor dos irmãos era des-cartado. Houve uma forte tendênciado MP na época de incriminar al-gum dos amigos da vítima”, lem-brou. O delegado contou que desdeo início a atuação do órgão lhe des-pertou um certo espanto.

Sales encurraladopor todos os lados

Cláudio Joventino Barros, delegado federal, e Paulo Jeann, da Polícia Civil, foram os primeiros a serem ouvidos ontem no Fórum de Ipojuca

Delegadosnegam morteem festa

INVESTIGAÇÃO // As duas testemunhas de acusação afirmaram que os amigos das jovens foram ouvidos e que não há indícios para incriminá-los

José Francisco Nunes, defensor público

❜❜

Sempre me

questionei por que o

MP queria defender

os irmãos com tanta

veemência. Sales

queria tumulto

Defendi os irmãos

kombeiros porque

acredito na

inocência deles...

Defendi os dois em

nome da Justiça

Regivânia foi a

testemunha-chave.

Ela relatou tudo o

que viu. Foi ouvida

mais de uma vez e

deu muitos detalhes

Cláudio Joventino, delegado

❜❜Paulo Jeann Barros de Silva, delegado

Para eles, foramcriados muitosboatos sobre o fato

C2

Em meio ao júri dos irmãos kombeiros, mais uma confusão que deixou o ex-promotor de Ipojuca, Miguel Sales, em maus lençóis.A advogada Maria Consuelo Linsacabou sendo expulsa da sala pela juíza Andrea Calado durante o depoimento dodelegado federal Cláudio Joventino. Ela teria tentado falar diretamente aos jurados.Aadvogada, que trabalha no Ceará, veio participar do julgamento a pedido de MiguelSales e, inclusive, estaria hospedada na casa dele. Consuelo trouxe em mãos cópiasde um caso policial ocorrido naquele estado e que foi investigado por Joventino. Elaacusa o delegado de ter investigado o crime de maneira equivocada.“Uma pessoainocente está pagando por um crime que não cometeu. Esse delegado investigou oCaso Serrambi com o objetivo de culpar os kombeiros que são pessoas pobres”.

O delegado Cláudio Joventino disse que as acusações feitas por Consuelo podemser consideradas como um momento de loucura.“Essa senhora me persegue. Nãosei porque ela insiste em falar que essa investigação que fiz no Ceará foi errada. Foi ocrime mais fácil que já investiguei”, rebateu o delegado federal ao deixar o fórum. Elevoltou para o Ceará após prestar depoimento e confirmar que os kombeiros foramos responsáveis pelas mortes das duas adolescentes.“Se eles não forem condenados,não haverá ninguém condenado”, finalizou.

Caso Serrambi

FRASES DO DIA

Um tumulto à parte

Teresa Maia/DP/D.A Press

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Assis Lima/AscomTJPE

Teresa Maia/DP/D.A Press

Miguel Sales foi colocado contra a parede durante todo o júri pelos promotores do Ministério Público

José AlexandrePassageiro de ônibus, contou queseguia em direção a Serrambiquando viu uma Kombi parada naestrada que dá para o canavialonde os corpos das jovens foramencontrados. Mas não soubedizer as características do veículo

Abedenaldo SilvaTrabalhava em um playtime emPorto.Teria visto jovens entrandona Kombi.Apesar de sempreafirmar que estava mais distanteda Kombi do que a testemunha-chave, Regivânia Silva, ontemdisse que estava mais perto

José Nildo da SilvaDono de uma capotaria emCamela. Apesar de já conhecero veículo, falou que não lembravase o parachoque era verde,Disse que não lembrar se haviaentregue os bancos para a PolíciaCivil ou para a família dos Lira

Roberto FerreiraCobrador de Kombi. Disse quenão lembrava de ter visto asmeninas pegando uma Kombi.Ficou nervoso e os promotoresperguntaram se ele não queriaque os Lira saissem da sessãopara que falasse mais à vontade

Paulo FelicianoConhecido como “Abençoado”,era motorista de Kombi. Contouque os irmãos eram criticadospor outros kombeiros por nãoserem credenciados. Disse, ainda,que só o para-choque da Kombide Marcelo era verde na região

Edivaldo SantosPassageiro de ônibus. Contou queviu a Kombi parada na estradasentido Serrambi.Viu de relance,rápido, porque chovia e o ônibuspassou rápido.Afirmou quesomente o parachoque da Kombide Marcelo é verde na região

Antônio José SilvaDono de kombis. Disse queconhecia os irmãos. Chegou achorar no depoimento aocontar que foi espancado porpoliciais civis, mas logo depoisfalou que não conhecia nadado Caso Serrambi

Marcos LeyAuxiliar de perito do IC, fez asfotos no canavial onde os corposforam encontrados.Disse que aochegar lá já havia dois peritoslotados no GOE.Reconheceu quemateriais podem ter sido retiradoantes pelo outros peritos

Luiz SebastiãoCaseiro de um imóvel vizinhoà casa onde as jovenspassaram o fim de semana emSerrambi. Na hora dodepoimento disse que nãolembrava o dia da semana enem mesmo a data em queteria visto as vítimas

José NunesDefensor público foi expostopela promotoria que disse terouvido dele a afirmação de queacreditava na culpa de Marcelo,mas não na deValfrido.Aafirmação foi feita na frente doprofessor Carlos Fraga, queconfirmou a versão ao Diario

Testemunhas de defesa:

C M Y K

C M Y K

O s promotores do MinistérioPúblico de Pernambuco(MPPE) e os advogados as-

sistentes de acusação passaram co-mo um trator sobre as dez testemu-nhas apresentadas em dois dias dejulgamento pela defesa dos kombei-ros Marcelo e Valfrido Lira. A impres-são era a de um tiro disparado peladefesa que terminou saindo pela cu-latra. Isso porque as testemunhas ter-minaram se perdendo nos depoi-mentos. Enquanto alguns não lem-bravam detalhes de datas, outro che-gou a afirmar em juízo que náo co-nhecia nada sobre o Caso Serrambi.Em uma das situações mais cons-trangedoras, os promotores chega-ram a citar o falso testemunho depelo menos duas pessoas e até a nu-lidade da participação de uma de-las, essa que afirmou não conhecerinformações sobre o crime. Eles ter-minaram apontando mais detalhespara serem usados pela acusação.

OdonodoplaytimedePortodeGa-linhas, Abedenaldo Barbosa da Sil-va, que pode ser investigado por fal-so testemunho, foi obrigado a per-manecer incomunicavel ao invés deter sido dispensado apos o depoi-mento,comoasdemais testemunhas.Isso porque ele contou que viu quan-do uma jovem morena, que seria Tar-sila, fez menção de entrar em umaKombi, diferente do veículo de Mar-celo, enquanto a loira, que seria Ma-ria Eduarda, puxava a porta. Porém,apesar de sempre falar em depoi-mento que estava mais distante daKombi do que a testemunha-chave docaso, Regivânia Maria da Silva, eleontem disse que estava mais perto,o que favorecia sua visão.

A grande expectativa da defesa,tambem frustrada, foi o depoimen-to de Marcos Ley, auxiliar de peritodo Instituto de Criminalística (IC).Ley fez as fotos no canavial onde oscorpos das jovens foram encontra-dos em decomposição, mas disse queao chegar lá já havia dois peritos lo-tados no Grupo de Operações Espe-ciais fazendo o serviço e não encon-

trou papéis de bombom, barbeadorou outros elementos. Porém, reco-nheceu para os promotores que omaterial pode ter sido retirado antespelos outros peritos. A impressão fi-nal foi a de que nada funcionou co-mo o planejado pela defesa dos kom-beiros. Logo no primeiro depoimen-to do dia, Sebastião da Silva, que naépoca do crime era caseiro de umimóvel vizinho à casa onde as jovenspassaram o fim de semana em Ser-rambi, teria visto as duas na casa namesma noite do crime, o que signi-fica que elas não poderiam estar naKombi no mesmo horário. Porém,no depoimento, disse que não lem-brava o dia da semana e nem mes-mo a data em que as teria visto.

Em uma outra situação constran-gedora, Roberto da Cunha Júnior, co-brador de Kombi, disse que não lem-brava de ter visto na época as duasmeninas pegando o veículo. Aparen-tou nervosismo e os promotores che-garam a perguntar se ele não queriaque os kombeiros saissem da sessãopara que falasse mais à vontade. Do-no de uma capotaria em Camela, Jo-sé Nildo da Silva confirmou que osbancos da Kombi estavam na capo-taria na data do crime para a pedi-do de Marcelo, mas terminou criti-cado e ameaçado de ser denunciadopor falso testemunho por não lem-brar de uma conversa que teve comMarcelo sobre o conserto do veículo.

Outra testemunha que terminouse complicando foi Antônio José daSilva, kombeiro. Ao longo do depoi-mento, citou um episódio em que te-ria sido torturado por policiais civisque investigavam o caso. No final, noentanto, disse que não tinha infor-mações sobre o crime das jovens. Ointerrogatório fez com que o MPPEentrasse com pedido de anulação daparticipaçãodatestemunha,oquefoiindeferidopelamagistrada. Insatisfei-tos, os promotores determinaramque a Corregedoria da SDS investi-gasse as denúncias feitas por Antôniocontra os policiais. “Isso precisa seresclarecido”,destacouSalomãoAbdo.

Fotos chocantes dos corpos dasadolescentes Tarsila Gusmão e Ma-ria Eduarda Dourado em avança-do estado de decomposição foramexibidas na tarde de ontem pelaprimeira vez durante o júri popu-lar. As imagens feitas ainda den-tro do canavial do Engenho Jeni-papo, em Camela, distrito de Ipo-juca, onde as jovens foram encon-tradas mortas no dia 13 de maiode 2003, deixaram emocionadosos familiares das duas adolescen-tes. A plateia também ficou espan-tada com tamanha brutalidade.

As fotografias, que estão anexa-das em um dos 44 volumes do pro-cesso com 10 mil paginas, foramapresentadas durante o depoimen-to do auxiliar de perito Marcos LeyD´Assunção a pedido do Ministé-rio Público de Pernambuco. O au-xiliar de perito foi submetido aoreconhecimento das imagens, maso promotor Ricardo Lapenda,achou que seria necessário apre-sentá-las ao conselho de sentença,formado pelos sete jurados. Mar-cos Ley, que foi convocado pela de-fesa dos irmãos kombeiros Valfri-do e Marcelo Lira, admitiu ter si-do o autor de algumas das fotos.A juíza de Ipojuca Andréa Caladochegou a questionar a exibição

das imagens, uma vez que pode-riam causar constrangimento aosparentes das vítimas, mas as famí-lias autorizaram. Em uma das fo-tos, aparece o crânio de MariaEduarda com uma perfuração dearma de fogo. Em outra, detalhesdo corpo de Tarsila, onde trazema perna com uma pulseirinha queela costumava usar no tornozelo,um presente do seu pai. No mo-mento em que as imagens eramexibidas num telão, o comercian-te José Vieira de Melo, pai de Tar-

sila Gusmão, piscou fortementeos olhos e apertou os braços dapoltrona onde estava. “Não iría-mos mostrar as imagens, porém fizquestão que os outras pessoas vis-sem para que todos tivessem umaideia do que senti e estou passan-do”, comentou José Vieira. Senta-do mais atrás na plateia, o empre-sário Antônio Dourado, pai de Ma-ria Eduarda, também ficou emo-cionado.”Já vi essas fotos muitas ve-zes, mas toda vez, fico muito tris-te”, falou Antônio Dourado.

O depoimento da perita crimi-nal Leila Gouveia Gomes, que foiconvocada pela Justiça para escla-recer dúvidas durante o julgamen-to sobre a perícia realizada por elana época do crime nos objetos efios de cabelo encontrados no localdo crime foi positivo para acusa-ção. A perita recebeu o material re-colhido pela polícia no local ondeos corpos de Tarsila e Maria Eduar-da foram encontrados e tambémindícios encontrados na Kombi dosirmãos Lira. Os outros quatro pro-fissionais do IC convocados para o

julgamento serão ouvidos hoje.Segundo a perita, as roupas usa-

das pelas meninas estavam com al-gumas fibras rasgadas. Durante odepoimento, ela explicou que trêssituações poderiam ter provocadotal reação. “O tempo de uso do te-cido, as interferências do clima so-bre as peças ou o uso da força hu-mana nas peças podem justificar orompimento das fibras”, ressaltou.Ela afirmou não ter encontradomanchas de sêmen nas roupas. Masjustificou, tambem, que as situa-ções do clima podem ter apagado

esses vestígios, se eles existissem.Quanto aos dois fios de cabelo

colhidos na Kombi, Leila Gouveiaexplicou que após as análises ficouconstatado que as duas amostras seassemelhavam aos cabelos de Ma-ria Eduarda. Outro ponto destaca-do por ela foi um corte encontra-do no vestido de Tarsila na alturado glúteo. Nesse momento, a acu-sação mostrou uma foto da Kombidos Lira sugerindo que uma pes-soa que andasse naquele local po-deria ter provocado um corte naroupa ao descer do veículo.

Defesa fuzilada pela acusaçãoPromotores e advogados assistentes do MPPE colocaram abaixo os dezdepoimentos, chegando a citar o falso testemunho de duas pessoas

❜❜

Fiz questão que

outras pessoas

vissem para terem

ideia do que senti

e estou passando

JoséVieira, pai de Tarsila

C3

Caso Serrambi

Salomão Abdo, promotordo MPPE, destacou aconfusão feita pelaspróprias testemunhasconvocadas pela defesados irmãos kombeiros

Fotos dos corpos mostradas

Perita não encontrou sêmen

Já vi essas fotos

muitas vezes,

mas toda vez,

fico muito triste.

São muito duras

Antônio Dourado,pai de Maria Eduarda

Interferência do

clima pode ter

apagado vestígios

de sêmen, se

eles existiram

Leila Gomes, perita criminal

❜❜

vida urbana Recife, quarta-feira, 1º de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

Corpos foram achados em avançado estado de decomposição em canavial

Fotos:Teresa Maia/DP/D.A Press

Mesmo sendo inocentado no Ca-so Serrambi, o kombeiro Marcelo Li-ra pode não escapar da prisão. Des-sa vez, dentro do processo que apu-ra o assassinato da sua cunhada,Iraquitânia Maria da Silva, mortaem 2001, na cidade de Ribeirão, naMata Sul do estado. Apesar do ir-mão Roberto Lira ter assumido aculpa no assassinato, o processocontra Marcelo continua em aber-to na Comarca do município, ondeaconteceu o crime.

Durante as investigações do CasoSerrambi, a morte de Iraquitâniaveio à tona novamente porque umcasal que Marcelo apresentou à po-lícia como álibi para se livrar da acu-sação da morte da cunhada teria vol-

tado atrás em seus depoimentos. Mo-radores da cidade de Cachoeirinha,no Agreste, teriam sido interroga-dos novamente pela Polícia Federal,que investigava as mortes de Tarsi-la e Maria Eduarda, e afirmam termentido durante as investigaçõessobre o assassinato de Iraquitânia.

O casal alegou ter sido coagidopor Marcelo Lira e por isso teriaminformado que o kombeiro estava nacidade de Cachoeirinha no dia do as-sassinato da cunhada. O depoimen-to teria sido uma mentira ensaiadano Fórum de Cachoeirinha, numamanobra, segundo a polícia, mon-tada por Marcelo. No caso de seremabsolvidos, os irmãos Marcelo e Val-frido Lira terão que retornar ao Co-

tel, em Abreu e Lima. Segundo a juí-za Andrea Calado, o presídio deve-rá solicitar uma consulta no sistemapenitenciário para verificar se há

antecedentes criminais. Só depoisé que eles serão soltos. O promotorSalomão Abdo disse que no caso deuma absolvição, o Ministério Públi-

co vai tentar reverter a situação damelhor forma jurídica, sem neces-sidade de pedido de prisão preven-tiva antecipada.

A acusação promete umcontra-ataque hoje paraderrubar de vez a tese da

defesa dos irmãos kombeiros Mar-celo e Valfrido Lira. Uma de suasapostas será o depoimento da pe-rita criminal Vanja Coelho, do Ins-tituto de Criminalística de Per-nambuco, convocada pela Justiçapara esclarecer algumas dúvidas.Os promotores esperam que a pe-rita confirme as declarações pres-tadas à juíza Luciana Tavares em2008, quando afirmou que a re-produção simulada feita com atestemunha-chave Regivânia Ma-ria da Silva, em novembro de 2003- seis meses após o duplo homicí-dio - a induziu ao erro.

Na ocasião, Vanja Coelho expli-cou que o procedimento teria sidofeito inadequamente pelos peritos,já que não havia necessidade de co-locar várias pessoas para que a tes-temunha fizesse reconhecimentodelas. Numa reprodução simula-da, a testemunha relata o que viue os peritos reconstituem o crimea partir dessa descrição. O que naverdade não aconteceu com Regi-vânia Silva. Se a perita sustentar oseu depoimento, colocará em xe-que a própria defesa, que aposta

na versão de que a testemunha nãoteria condições de ter visto deta-lhes do veículo onde as adolescen-tes teriam pego uma carona, emfrente à Padaria Porto Pão, para vol-tar para a casa de veraneio de ami-gos em Serrambi na noite que de-sapareceram. Essa teria sido a últi-ma vez que Tarsila Gusmão e Ma-ria Eduarda Dourado foram vistas.

“Eles só queriam levar a teste-munha ao erro. A reprodução si-mulada foi realizada, na verdade,com o intuito de desmentir e desa-creditar a testemunha”, declarou opromotor Ricardo Lapenda. Emcontrapartida, a defesa se apega aoprimeiro depoimento prestado aoGrupo de Operações Especiais(GOE), quando Regivânia não teriapassado detalhes da Kombi ondeas jovens pegaram a carona. “Naverdade, a testemunha-chave ficoucom medo, uma prova disso é quedeu até o próprio nome trocado”,comentou Lapenda.

Gravações - Outros trunfos guarda-dos pela promotoria e que serão apre-sentados hoje são as interceptaçõestelefônicas gravadas com autoriza-ção da Justiça. Uma delas traz umaconversa do kombeiro Marcelo Lira

com a amante falando sobre a pos-sibilidade de arrumar um empregona casa do então promotor de Ipoju-ca,MiguelSales.Outragravaçãobom-bástica é a de uma conversa telefôni-ca feita entre Valfrido e a esposa so-bre o aparecimento dos óculos deTarsila Gusmão com as amantes de-leedoirmão.Emoutraescuta,asmu-lheres afirmam que usaram o aces-sório da jovem encontrada morta.

Numa outra interceptação, uma

prima dos irmãos kombeiros con-ta para uma amiga de trabalhoque ouviu uma confissão dos Lirasobre a participação deles no du-plo homicídio das adolescentes. Apromotoria ainda deve apresentartodos os antecedentes criminaisdos dois irmãos. A acusação vaimostrar que Marcelo Lira respon-de por dois crimes de homicídio,lesão corporal grave, corrupção apoliciais de trânsito e, também,

tentativa de estupro contra umamenina de 13 anos. Já contra Val-frido Lira, será mostrada a acusa-ção de falsificação de uma cartei-ra de habilitação em Minas Gerais.O promotor Ricardo Lapenda fezquestão de ressaltar que hoje aapresentação dessas provas prome-te ser a atração principal do dia.“Hoje, preparem-se para ver um ci-neminha. Temos muito a mostraraos jurados”, adiantou.

vida urbana Recife, quinta-feira, 2 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

C M Y K

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Apesar de ter voltado ao centrodas atenções ontem, durante osdepoimentos dos peritos crimi-nais, a testemunha-chave do CasoSerrambi Regivânia Maria da Sil-va, que disse ter visto as meninasentrando numa Kombi branca depara-choque verde, em Porto deGalinhas, não será chamada parauma acareação. A juíza AndreaCalado afirmou que não vê a ne-cessidade de intimá-la para o jul-gamento. A magistrada deixou cla-ro que caberia ao Ministerio Publi-co pedir a participação de Regi-vânia no júri, o que também jáfoi descartado pelo promotor Ri-cardo Lapenda.

“Não vemos a necessidade de cha-mar Regivânia para prestar novosdepoimentos. Ela sempre disse amesma coisa quando era ouvida pe-

la polícia. Já ficou provado que elaestava em melhores condições de tervisto as meninas entrando numaKombi do que a testemunha Abede-naldo”, justificou Lapenda. Longedos holofotes, a dona de casa resol-veu passar os dias do julgamentoem um lugar secreto. Parentes de Re-givânia afirmaram ao Diario, naterça-feira, que ela não queria falarmais sobre o assunto.

Regivânia entrou em cena, nasinvestigações, ao ser indagada porpoliciais do Grupo de Operações Es-peciais (GOE) ainda no ano de 2003.Ela afirmou ter visto Tarsila Gus-mão e Maria Eduarda Dourado en-trarem numa Kombi no início danoite do dia 3 de maio daquele ano.A polícia disse que a Kombi perten-cia a Marcelo que estava acompa-nhado do irmão Valfrido.

Juiza descartanova acareação

Marcelo podeficar preso

Promotores apostam no depoimento da peritacriminalVanja Coelho. Esperam que ela confirme adeclaração de que a reprodução simulada induziua testemunha-chave, Regivânia Silva, ao erro

Vim aqui pela segunda vez para dar

força aos meus filhos, mesmo do lado

de fora. Tenho certeza de que eles são

inocentes e os jurados vão reconhecer”

❜❜Antônia Lira da Silva, mãe dos kombeiros

❜❜JoséVieira de Melo, pai de Tarsila

C3

Caso Serrambi

Julio Jacobina/DP/D.A.Press

Teresa Maia/DP/D.A Press

Teresa Maia/DP/D.A PressJúlio Jacobina/DP/D.A Press

❜❜

Não há necesidade

da testemunha-

chave Regivânia

Maria da Silva

prestar depoimento

novamente perante

à Justiça. O que ela

disse ter visto já

repetiu várias vezes

e se encontra nos

autos do processo”

❜❜Ricardo Lapenda, promotor

O contra-ataque da acusação

Cunhada do kombeiro foi assassinada em 2001. Seu corpo também foi encontrado em um canavial

Emitiram juízo de valor na perícia,

enquanto o laudo científico deveria ter

apenas fatos e não opiniões. Estou confiante

na promotoria e nos meus advogados”

O promotor aposentado MiguelSales, que atuou por cinco anos noCaso Serrambi, corre o risco de per-der a sua aposentadoria e ser ex-pulso dos quadros do Ministério Pú-blico de Pernambuco (MPPE). A de-cisão de abrir um novo processo ad-ministrativo para punir o promotoraposentado com a sua exclusão dainstituição foi anunciada pelo pro-curador-geral de Justiça Paulo Va-rejão, após ouvir na tarde de on-tem no plenário do júri de Ipojucaas escutas telefônicas que mostra-vam o envolvimento de Sales comos irmãos kombeiros Valfrido e Mar-

celo Lira. Varejão disse se envergo-nhar da postura de Miguel Sales egarantiu que entrará com medidaspenais para que ele seja punido.

“Eu me envergonho de ter tidouma pessoa nociva como ele nosquadros do Ministério Público. Jáestá mais do que provada a relaçãopromíscua que ele mantinha comos réus. É lamentável porque en-quanto ele esteve representando ainstituição, a sociedade ficou des-protegida”, disse Varejão.

Desde janeiro de 2008, a Procu-radoria Geral de Justiça designouos procuradores Ricardo Lapenda

e Salomão Abdo Aziz para acom-panhar o caso por conta das de-núncias do vazamento de infor-mações sigilosas. A CorregedoriaGeral do MMPE abriu inquérito ad-

ministrativo no dia 18 de janeirodo mesmo ano para apurar a con-duta de Sales, que devolveu o in-quérito policial por quatro vezes.O procedimento acabou sendo ar-

quivado, depois que Sales entroucom o pedido de aposentadoria.

Hospital - A assessoria de impren-sa do Hospital Esperança não con-firmou nem desmentiu se MiguelSales, internado desde quarta-feirana UTI coronária da unidade, de-pois de ter se sentido mal dentro dofórum de Ipojuca, passou por umprocedimento de cateterismo on-tem. Pela manhã, ele foi submetidoa novos exames de sangue e per-maneceu no setor de terapia inten-siva em estado estável. A previsãoé de que tenha alta hoje.

A defesa dos irmãos kombeirosganhou um reforço ontem depoisque os holofotes se voltaram paraum personagem até então esqueci-do, porém de extrema importânciano Caso Serrambi. O médico legis-ta e vice-reitor da Universidade dePernambuco (UPE), Reginaldo Ino-josa, que participou da segunda pe-rícia, realizada em novembro de2003, seis meses após o crime, pelaequipe do Instituto de Medicina Le-gal (IML). Para ele, a necropsia doscorpos é clara: não aponta qualquerindício de culpa dos Lira. O mesmodocumento, segundo Inojosa, levaa crer que as jovens não foram mor-tas no canavial onde os corpos esta-vam. Fato que, para ele, significaque a cena do crime foi montada.

Esse laudo foi lido ontem pela de-fesa como mais uma prova da partetécnica. Também ontem, a perita doInstituto de Criminalística Criminal(IC) Vanja Coelho, responsável pela se-

gunda reprodução simulada do mo-mento em que a testemunha Regivâ-nia Silva disse ter visto as adolescen-tes entrar na Kombi dos irmãos, aca-bou admitindo que o procedimentofoi realizado com a participação devárias pessoas para confundi-la.

“Não se pode incriminar uma pes-soa somente com provas testemu-nhais como defende o Ministério Pú-blico. Há o parecer do laudo tanatos-cópico, com provas científicas”, dis-parou Inojosa. O laudo pericial demedicina legal foi concluído por Re-ginaldo Inojosa, Raílton Bezerra eLuiz Carlos Galvão, esse último daBahia. O laudo diz que a causa dasmortes é indeterminada. “MariaEduarda recebeu os tiros depois demorta. O exame de reação vital fei-to na USP, de Ribeirão Preto, apontaisso. Isso leva a crer que ela não foimorta no canavial. É como se a cenado crime tivesse sido montada. No ca-so de Tarsila, a ideia é reforçada pois

fotos apontam para a possibilidadede estrangulamento da jovem, alémdos tiros”, detalha o médico. O casochamou tanto a atenção de Inojosaqueele jásepreparaparaescreverumlivro sobre o homicídio.

As informações reveladoras deInojosa só vêm reforçar o que já foidito até agora pelos cinco peritos doIC. Vanja Coelho, responsável pelareprodução simulada, tentou expli-car como procedeu para chegar a

conclusão de que Regivânia não te-ria condições de reconhecer o ho-mem que estava sentado no bancode carona da Kombi. No entanto,acabou se perdendo no relato aoafirmar que Regivânia foi subme-tida três vezes ao procedimento pa-ra que os peritos testassem o po-der de memorização dela. A juízaAndrea Calado questionou o tra-balho: “Isso foi uma perícia ou umapegadinha?”, indagou.

O desfecho do Caso Serrambi,aguardado há sete anos, es-tá bem próximo. Depois de

quatro dias de julgamento, muitobate-boca e surpresas, chegou o mo-mento dos jurados definirem o des-tino dos irmãos Marcelo e ValfridoLira, acusados pelas mortes das ado-lescentes Maria Eduarda Dourado eTarsila Gusmão. Mesmo com a ho-ra do veredito se aproximando, quepode entrar pela madrugada do sá-bado, o jogo ainda não está decidi-do. Ao contrário. As cartas estão to-das nas mesa, mas é difícil preverquem sairá vencedor. Ainda há mui-tas brechas, muitas possibilidadespara os dois principais jogadores dodia de hoje: o advogado de defesaJorge Wellington e o promotor deJustiça, Abdo Salomão, com os seusassistentes. É possível ainda para osdois virarem o jogo.

A acusação vai se apegar às escu-tas telefônicas, ao relato da testemu-nha-chave que não foi convocada pa-ra o fórum, Regivânia Silva, e às con-tradições no depoimento prestadopor eles ontem, no júri. Promete, ain-da, levar novas provas que, segundoo assistente ministerial José SiqueiraFilho, “vão contar a verdadeira his-tória sobre o caso”. “Até hoje, vocêsainda não viram as provas mais for-tes”, ressaltou ele, sem querer ante-cipar as suas cartas. A acusação vaimostrar, ainda, algumas falhas nasafirmações feitas ontem pelos irmãos

kombeiros. “Iremos provar hoje queeles mentiram durante o depoimen-to. Foram várias contradições”, afir-mou o promotor Salomão Abdo.

Jorge Wellington também prome-te levar surpresas. “Vou mostrar oexame mitocondrial da USP, que dánegativo para a semelhança entre ocabelo encontrado na Kombi e o quefoi achado no local do crime”, desta-ca. Também quer se apoiar nas fra-gilidades das perícias técnicas. Amaioria levanta dúvidas até mesmocom relação à causa da morte dasgarotas. Pelos laudos, Maria Eduardajá estava morta quando recebeu osdisparos. Tarsila teria sido esganadae também levado os tiros. Nenhumafirma categoricamente que ela foiestuprada ou que, pelo menos, tives-se havido uma tentativa. “Para mim,o depoimento da perita Vanja colo-cou a última pá de cal em Regivâ-

nia”, disse. Por fim, irá argumentaro princípio básico do direito penal,que diz que, havendo dúvida sobrea autoria, deve-se absolver o réu.

Estes e outros argumentos têmque ser discutidos no total de novehoras. A acusação terá duas horas emeia para apresentar os motivos pe-los quais acha que os kombeiros de-vem ser condenados. O mesmo tem-po terão os advogados de defesa pa-ra provar o contrário. Depois, cadaum terá mais duas horas para répli-ca e tréplica. O “gran finale” será da-do pelo Conselho de Sentença. O cor-po de jurados, formado por quatrohomens e três mulheres, vai deposi-tar em urnas apenas as respostas simou não para os quesitos formuladospela juíza Andrea Calado. A princi-pal delas e pela qual todos esperamé a que questiona: “O jurado absol-ve o réu?”... Sim ou não?

vida urbana Recife, sexta-feira, 3 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

C M Y K

C M Y K

Dia de cartada final em IpojucaJúri decide hojedestino dos irmãoskombeiros e tudopode acontecer

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Caso Serrambi

Revelações do médico legista

● As meninas não foram mortas no canavial onde oscorpos das duas adolescentes foram encontrados no dia13 de maio de 2003 pelo comerciante JoséVieira, pai deTarsila, junto com um amigo

● A cena do crime foi montada. Ou seja, todos aquelesindícios colhidos que polícia junto aos corpos dasmeninas e que se assemelhavam aos encontrados naKombi podem ter sido forjados

● A necropsia dos corpos não apontou qualquer indíciode culpa dos irmãos kombeiros na morte das duasadolescentes

● Foram encontrados dois tipos diferentes de projéteisde revólver no canavial, em Camela

● No caso da morte de Tarsila, fotos feitas pela períciaapontam para a possibilidade de estrangulamento alémde tiros

Os peritos e os pontosfavoráveis aos kombeiros

● A segunda perícia feita no local onde os corpos dasadolescentes foram encontrados só foi realizada seis mesesapós terem sido encontrados. O local estavadescaracterizado, o que modificou os vestígios e dificultoua apuração de provas contra qualquer acusado

● A perícia não apontou sinais de estupro ou detentativas de qualquer crime de conotação sexual contraas vítimas. O exame de reação vital, feito na USP, emRibeirão Preto, apontou que Maria Eduarda já estavamorta quando recebeu os tiros

● Quanto aos barbeadores recolhidos no local onde oscorpos das vítimas foram encontrados e na Kombi deMarcelo, não foi possível afirmar que seriam do mesmolote de fabricação

● Não foi encontrado nenhum vestígio de sangue naKombi dos irmãos Lira, mesmo tendo sido realizado umexame com a utilização da substância Luminol

● De acordo com os laudos do IC, Regivânia Maria daSilva, considerada testemunha-chave do crime, não teriacondições de reconhecer a pessoa que estava comocarona na kombi

● Peritos disseram que apresentaram fotos da Kombi depara-choque verde a Regivânia e ela não reconheceucomo sendo a mesma que as meninas teriam entrado

● As perícias realizadas nos restos das roupas de MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmão não constataram apresença de sêmen

Varejão vai abrir umprocesso contra Sales

Perito diz que cena docrime foi montada

Médico legista, Reginaldo Inojosa participou da segunda perícia nos corpos

Advogado de defesa Jorge Wellington também promete levar surpresas e se apoiar na fragilidade das perícias

PauloVarejão disse estarenvergonhado de ter tidouma “pessoa nociva”trabalhando no MPPE

Jorge Wellington,advogado de defesa

Idade:

41 anos

Ano de formação:

1991, na Faculdade de Direitode Caruaru

Experiência:

18 anos advogandona área criminal

Júris que participou:

Em torno de 100

❜❜

NOS ESTADOS UNIDOSACONTECE UM CRIME PARA20 PERITOS INVESTIGAR.NO BRASIL, SÃO 200 CRIMESPARA UM PERITO SÓ

●● Andrea Calado - juíza

Júlio Jacobina/DP/D.A.Press

Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press

Teresa Maia/DP/D.A.Press

HOME (1)Mesmo após o fim do julgamento, o hotsiteespecial do Caso Serrambi vai continuar no arnos próximos dias, para que os interessadospossam acompanhar como foi a cobertura.Durante todos os dias de julgamento, a capado site especial levou os internautas paradentro de uma ferramenta que permitia ler eparticipar da cobertura feita em tempo real,direto do Fórum de Ipojuca.A sala de debates- frequentada por milhares de internautasnestes cinco dias - era aberta todos os dias às7h e encerrada apenas quando acaba a sessãodo julgamento.Todos os repórteres envolvi-dos na cobertura postavam informações namesma plataforma, onde também respondiamàs dúvidas dos internautas.Ao lado, uma janelade vídeo de onde eram transmitidas imagensao vivo, direto do Fórum, os vídeos gravadoscom as entrevistas e os resumos do dia.

OS PERSONAGENS (2)Traz os perfis dos principais envolvidos noCaso Serrambi. São informações sobre asvítimas, os réus e os envolvidos na investi-gação e na esfera judicial do caso.

O ENREDO (3)Em forma de storyboard, o link traz anarrativa do que aconteceu durante todo odia 3 de maio de 2003, quandoTarsila e MariaEduarda desapareceram, de acordo com oque consta nos autos do processo, e nos diasseguintes à investigação.As ilustrações efotografias cobrem também momentosimportantes do caso, como a prisão deMarcelo eValfrido Lira e a soltura deles.

O DESFECHO (4)Aqui, o internauta fica sabendo o resultado do

julgamento e o que levou ao esperadoveredito, além de entender os argumentosusados pela defesa e acusação, comofuncionou o júri popular e quem eram astestemunhas convocadaspor ambas as partes

CRONOLOGIA (5)Com ampla cobertura nas páginas impres-sas do Diario, o Caso Serrambi ocupa asmanchetes desde 2008. Neste link, ointernauta encontra as principais reporta-gens sobre o caso, tal qual foram publicadas

na época dos fatos. É um arquivo eletrôni-co que registra toda a cobertura.

GALERIA DE FOTOS (6)Traz as imagens mais marcantes do caso.São fotos de arquivo das vítimas, dosfamiliares e os principais registros dosfotógrafos do Diario em momentosmarcantes, como a prisão dos irmãosMarcelo a Valfrido Lira, as apresentaçõesdos inquéritos, os passos das investigaçõese as reações dos familiares de vítimas eréus em várias fases do caso.A galeria

também traz as imagens produzidasdurante a cobertura do julgamento,dia a dia no Fórum de Ipojuca.

GALERIA DE VÍDEOS (7)A galeria traz todos os vídeos feitos àsvésperas do julgamento, e durante todosos dias de sessões. Entre os entrevistados,o ex-promotor Miguel Sales, os pais dasadolescentes, promotores e advogados.Os vídeos também trazem resumosdo dia, feitos pelos jornalistas doDiario e da TV Clube.

C om nomes de personagenscélebres da literatura poli-cial, apelidos, ou identida-

des reais, os internautas do Diario-depernambuco.com.br foram os gran-des responsáveis pela cobertura iné-dita realizada na internet para es-te caso que, há sete anos, movimen-ta a opinião pública de Pernambu-co. Milhares de pessoas que dedica-ram dias inteiros ou grande partedo seu tempo livre para acompa-nhar, no site especial, tudo o queacontecia a portas fechadas na Sa-la do Júri do Fórum de Ipojuca, on-de o Caso Serrambi chegou, final-mente, a uma conclusão.

Foram mais de sessenta horastransmitindo em tempo real textos,fotos e vídeos - ao vivo em pelo me-nos três momentos do dia - com to-da a movimentação dentro e forado fórum. Uma equipe de doze pro-fissionais trabalhou para a cobertu-ra do portal, um esforço que se tra-duziu no reconhecimento dos fiéisinternautas que também puderamse sentir parte da equipe. Pessoascomo o analista de sistemas ItamarSouto, de 35 anos, que frequentouo fórum todos os dias do julgamen-to. “Acompanhei tudo, sempre queconseguia um tempo livre no tra-balho. Já tinha uma opinião forma-da sobre o caso, mas a coberturame ajudou a formar ainda mais asminhas certezas”, comentou.

Bem informados pelo que liam eassistiam nos portais, os internau-tas chegaram a se transformar emfontes de informação para os cole-gas. Foi o caso da analista fiscal Ca-rol Lima, 39, que consultava o fórumdurante todo o dia e transmitia os úl-timos acontecimentos para compa-nheiros de trabalho. “Eu e três ami-gas ficamos o dia todo olhando a mo-vimentação no site do DP e informá-

vamos aos outros o que estava acon-tecendo. A curiosidade era grandeem torno deste caso, e a sensaçãoque tivemos no portal foi a de que pu-demos vivenciar tudo o que aconte-cia lá dentro”, comemorou.

Polêmica - Como em todos os am-bientes entre o Caso Serrambi este-ve em discussão durante toda a se-mana do julgamento, as opiniõeseram bastantes divididas em rela-ção ao resultado do júri. Polêmicas,

boatos, novas versões e o trabalhoda polícia na investigação do duplohomicídio foram exaustivamentediscutidos, gerando debates acalo-rados sobre os assassinatos de MariaEduarda Dourado e Tarsila Gusmãoe sobre o desfecho do caso que me-xeu com a imaginação e com os ins-tintos de detetive de todo mundoque se interessou pelo caso.

A curiosidade era tanta com osacontecimentos das sessões e com acobertura em tempo real, que em al-

guns dias passou de trezes horas inin-terruptas, que vários internautas nãose conformavam em espiar a tela du-rante o expediente de trabalho, e se-guiam para outros compromissoscom o notebook embaixo do braço,para não perder um minuto da dis-cussão. A secretária e estudante de di-reito Cacilda Oliveira, 37, foi uma de-las. “Passava o dia acompanhando ojulgamento no site do Diario e, à noi-te, levava o notebook para a faculda-de, para poder me manter informa-da nos intervalos das aulas”, comen-tou. "Já tinha interesse pelo caso eestavaprocurandoinformações sobreo julgamento na internet. Quando via cobertura do Diario, resolvi acom-panhar tudo por lá", confessou.

O interesse profissional no julga-mento também foi o que atraiu oadministrador e estudante de di-reito Gilmar Gomes da Silva, 40.“Acompanhei o chat todos os diasdo julgamento. Ficava ligado no si-te o tempo todo, alternando a teladurante as tarefas do trabalho, masposso considerar que cheguei a pas-sar uma média de quatro horas pordia no fórum”, afirmou. “Esta co-bertura tão ampla ajudou a formara minha opinião sobre o caso de for-ma mais clara. A possibilidade deacompanhar tudo de perto e po-der expressar a opinião sobre o ca-so que foi um dos mais importan-tes de Pernambuco foi uma opor-tunidade de exercer a democraciae a cidadania”, completou.

Reforçando o coro dos que se sen-tiram mais perto do Fórum de Ipo-juca por causa do site está a odontó-loga e também estudante de direitoRenata Cavalcanti, 29. “Fiquei no si-te horas seguidas. A minha vontadeera estar no Fórum de Ipojuca. Comonão consegui, aqui foi o lugar queachei para ter notícias diretas em

tempo real, o que me ajudou a teruma opinião mais clara”, comemo-rou. “O Caso Serrambi foi um dosque mais me chocaram aqui no Re-cife e tive vontade de acompanhar deperto, de ter uma opinião própria,longe dos inúmeros boatos que nosforam repassados. O DP nos deu opor-tunidade de ouvir peritos, testemu-nhas e algumas partes dos autos quenunca foram divulgados, que foramcamuflados por tantas histórias dig-nas de seriado de TV”, opinou.

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Analista de sistemasItamar Souto e a

secretária Cacilda Oliveiraacompanharam toda a

cobertura on-line

Tela do site especialcriado para a cobertura

do Caso Serrambi noDiariodepernambuco.com.br

Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press

Gil Vicente/DP/D.A Press

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Olhava o site durante

todo o dia e, à noite,

levava o notebook para

a faculdade

Participação ativa nacobertura onlineMilhares de internautas participaram ativamente dos cinco dias de coberturado Caso Serrambi no site do DDiiaarriioo. Foram mais de 60 horas no ar

❜❜Cacilda Oliveira - secretária

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Caso Serrambi

[Comentário de Pessoa]O Diario de Pernambuco está de para-béns. Estamos diante de um exemplo iné-dito de cobertura jornalística com intera-tividade. É a tecnologia a serviço informa-ção jornalística.Tenho certeza que esta co-bertura em tempo real vai abocanhar inú-meros prêmios jornalísticos. Parabéns!!!

[Comentário de Max Pina]Venho aqui dar os parabéns ao Diario dePernambuco, ao abrir este espaço paraque possamos dividir os nossos comentá-rios, para tentar entender esse caso, queao meu ver foi um dos casos mais cheiosde trapalhadas que se pode ter visto.Obri-gado, DP A.melo A prestatividade do DP éfundamental para deixar a sociedade saben-do do que se passa em todo o trâmite dojulgamento. É de suma importância e degrande valia todas as informações, tanto pa-ra o DP quanto para os leitores. Parabénsao DP e sua equipe!

[Comentário de Rivaldo Jr]DP que trabalho exaustivo o de vocês,mas,está de primeiro nível. Parabéns!

[Comentário de Cláudia]Só quem não é jornalista não entende o queé imparcialidade.O DP está prestando umgrande serviço à população com o acom-panhamento ao vivo, por isso não tem queresponder às insinuações de curiosos.

[Comentário de Keu]Diario de Pernambuco, parabéns pelacobertura que vocês estão fazendo. Estouacompanhado desde o primeiro dia.

[Comentário de Diogo]Parabéns ao DP pela cobertura que está fa-zendo. Imparcial, esclarecedora e de altíssi-mo nível!

[Comentário de Mika]Obrigado pela resposta. Estou em SãoPaulo acompanhando o caso e quero pa-rabenizar o Diario de Pernambuco pe-lo acesso que vem dando a nós, aqui deoutros estados.

[Comentário de Aline]Por me encontrar distante dessa terra ra-ramente tenho oportunidade de saber anotícia na hora em que está acontecendo.Essa ideia foi maravilhosa e só pediria ao jor-nalista que desse mais noticias sobre o queestá acontecendo no julgamento,tais como:o que os arguidos estão falando.

[Comentário de Carlos Araújo]Show de bola vocês do Pe.com - Eis a ra-zão por que eu sou assinante do DP porlongos anos e não abro mão desse privilé-gio e tenho passado isso para os meus fi-lhos para que se atualizem a cada dia. Para-béns de coração!

[Comentário de Fernando de Barros]Parabéns ao Diario pela cobertura on-line,no nível dos jornais mais antenados do mun-do (se não ainda MELHOR)...

[Comentário de Lu]Gente, aqui na Itália são 00h22, estou dor-mindo sobre o computador espero de re-sistir ainda um pouco.

[Comentário de Lucinaldo Melo]Dou meus parabéns ao trabalho realizadopela equipe do Diario de Pernambucona cobertura deste julgamento.

[Comentário de Dr. Ivo Costa]Vocês do Diario de Pernambuco, comesta coluna, permitem ao povo brasileiro oexercício pleno do direito à cidadaniaacostado na Constituição brasileira de 1988.Parabéns!

[Comentário de Ana]Quero parabenizar o DP pela brilhante co-bertura do caso,principalmente por permi-tir que a população,mesmo que indiretamen-te, acompanhe o desenrolar do julgamento.

[Comentário de Ito Cavalcanti]Resido na Califórnia,USA. Parabéns aoDiario de Pernambuco, sempre estoulendo-o.

[Comentário de Sonia-Ce]Parabéns, DP, pela a excelente coberturae por este fórum democrático.

[Comentário deTiago]Parabéns pelo excelente trabalho do DP,que fez a melhor e mais completa cober-tura de toda a imprensa local.

vida urbana Recife, sábado, 4 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

O que disseramos internautas

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Hotsite especialvai continuar no ar

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vida urbana Recife, domingo, 5 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

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Profissionais transmitiram ao público as informações sobre o desfecho do caso através do jornal, do rádio, da televisão e da internet

Uma cobertura como nunca se viu

Interatividade foia tônica na web

Diários Associados em Pernambuco montaram umaoperação jornalística especial para contar todos os detalhesdo maior julgamento da história policial da década no estado

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O epílogo de sete anos de um enredopolicial marcado por polêmicas,reviravoltas, dramas familiares e

embates judiciais exigia uma cobertura jor-nalística proporcional à expectativa criadapela sociedade pernambucana. Era precisomostrar com detalhes o papel e a atuaçãode cada personagem envolvido na tramado julgamento dos acusados de matar asadolescentes Maria Eduarda e Tarsila Gus-mão. Durante uma semana, os Diários As-sociados em Pernambuco montaram umaoperação especial para munir o público detodos os elementos liga-dos ao júri que absolveuos kombeiros Marcelo eValfrido Lira.

A missão de reportar odesfecho do Caso Serram-bi ficou a cargo de 12 pro-fissionais do grupo - Dia-riodePernambuco,AquiPE, pernambuco.com,diariodepernambu-co.com.br, TV Clube e Rá-dio Clube - especialmen-te enviados para Ipojuca.Eles narraram a movi-mentação dos réus, ex-puseram a tática da defe-sa e acusação e relataramo comportamento dos ju-rados. Deram vida à vozdos familiares das víti-mas e dos suspeitos, mos-traram a ansiedade dentro e fora do da salado júri e analisaram cada desdobramento domaior julgamento da história criminal re-cente do estado. A cobertura primou por umobjetivo: fazer com que leitores, internautas,telespectadores e ouvintes se sentissem nosarredores do fórum quando desejassem ob-ter informações sobre o assunto.

O diferencial da abordagem foi a inte-gração e a convergência entre os veículos

do grupo. A informação alimentou os jor-nais, a televisão, o rádio e a internet. Sem-pre para chegar ao público de forma cla-ra, rápida e consistente. Um desafio dian-te do volume de dados e da importância docaso. “Tínhamos que apresentar para o in-ternauta uma informação em tempo reale integral. Aos leitores do impresso, trazersempre um conteúdo além do exposto nainternet. E, em um caso desses, você lidacom a multiplicidade de fontes dentro e fo-ra do fórum: são acusados, testemunhas, fa-miliares, populares, advogados e promo-

tores. A equipe está deparabéns”, observou adiretora de redação doDiario de Pernambu-co, Vera Ogando. Só ojornal dedicou 26 pági-

nas editoriais ao ca-so em sete dias. O as-sunto virou man-chete das ediçõespor uma semana.

Na televisão, a ló-gica foi a mesma.“Garantimos duasmatérias diárias em

cada programa infor-mativo da grade. O jul-gamento se diluiu nostelejornais”, contou agerente de jornalismoda TV Clube, Alessan-dra Senna. “Foram mais

de 30 horas de informação levadas ao ar nosprogramas da emissora”, ela frisou.

Textos, vídeos e fotos alimentaram o hot-site criado pelo grupo para tratar do caso.O site fez transmissões ao vivo com inser-ções diárias de duas horas de duração. “Fo-ram mais de 60 horas de transmissão emtempo real para milhares de internautascom as empresas do grupo", informou aeditora do portal, Carol Monteiro.

Durante o julgamento do Caso Serrambi,a interatividade com o internauta foi a pa-lavra de ordem no diariodepernambu-co.com.br. O site criou fóruns de discussão,enquetes e debates com especialista para tra-tar do assunto. Neles, os leitores puderam co-mentar o crime, criticar as investigações e su-gerir formas de abordagem. Uma equipe dejornalistas ficou a postos na redação paraesclarecer em tempo real e integral as dúvi-das sobre o júri, a investigação policial e asteses da defesa e da acusação.

“Fizemos uma aposta para interagir comos interessados em saber mais sobre o caso.Chamamos um criminalista que respondeua questionamentos. Transmitimos ao vivopara ‘levar o internauta ao fórum’ e colocá-lo perto da nossa reportagem”, afirmou aeditora Carol Monteiro. Nos intervalos da ses-são, o portal também fez transmissões paramostrar a movimentação de familiares, cu-riosos e personagens do julgamento em fren-te ao tribunal. “A ideia era fazer as pessoasterem em contato com o fato”, pontuou.

O portal do diariodepernambuco.com.brpôs no ar um hotsite com conteúdo com-pleto sobre o duplo assassinato que marcoua história do estado. No site, o leitor teveacesso a links com reportagens feitas desdea época do desaparecimento das duas ado-lescentes, em maio de 2003, a prisão doskombeiros e as reviravoltas do enredo poli-cial. A página disponibilizou links para oleitor encontrar informações sobre os perso-nagens ligados à trama, a cronologia do cri-me até a absolvição, uma galeria de fotosdas garotas, dos familiares e réus e o enre-do dos sete anos desde o desaparecimento de-las no litoral sul.

O internauta pôde ver as matérias produ-zidas os flashes feitos de Ipojuca pela equi-pe de jornalistas, as entrevistas com quemparticipou do julgamento, as matérias feitaspara o jornal e a televisão. “Utilizamos todasas informações dos nossos repórteres emcampo. Foi a primeira vez que a coberturajornalística do estado montou uma operaçãodesse porte”, ressaltou Carol.

Caso Serrambi

❜❜

A equipe está de parabéns

por vencer o desafio de

informar o público em

tempo real e integral

❜❜Vera Ogando - diretora de redação 12

profissionais enviados para Ipojuca

26páginas editoriais

dedicadas ao tema no Diario

60 horasde transmissão em tempo real

no Diariodepernambuco.com.br

30 horasde informação levada ao ar naTV Clube

saiba maisSite especial criado pelodiariodepernambuco.com.br forneceuinformações ao vivo em tempo real eintegral. Disponibilizou vídeos comentrevistas e matérias sobre a história doCaso Serrambi. Um dos espaços maisacessados foi o fórum dedicado aoscomentários, onde os leitores debateram oandamento do julgamento, postaram críticas

sobre a investigação policial, esclareceramdúvidas a respeito do caso e acompanharamcada detalhe até a absolvição dos kombeirosem uma decisão apertada dos jurados. Omodelo de cobertura jornalística, com aconvergência da produção em jornais,televisão, rádio e internet, foi semprecedentes no estado e recebeuelogios de vários internautas.

Julio Jacobina/DP/D.A.Press

Insatisfeito com a absolviçãodos irmãos Marcelo e Valfrido Li-ra, o empresário Antônio Doura-do, pai de uma das vítimas, Ma-ria Eduarda Dourado, mandouum recado para a ex-mulher, Re-gina Lacerda, que ainda acreditana inocência dos kombeiros. “Elae meu filho Cristiano agora équem devem providenciar políciae advogado para achar os verda-deiros culpados. Tenho a certezade que cumpri minha missão jun-to com o pai de Tarsila, José Viei-ra”, desabafou.

Antes mesmo do julgamento,o empresário já dizia ter certezada culpa dos kombeiros e ao lon-go dos cinco dias de júri no Fó-rum de Ipojuca ele disse ter fica-do mais certo ainda da autoria doduplo assassinato. Ao contráriodele, a ex-mulher e o filho do ca-sal sempre se mostraram resis-tentes a acreditar nessa hipóte-se. Inclusive, era assim que pen-sava Dourado no começo das in-vestigações. Somente com a con-clusão do inquérito da Polícia Fe-deral, ele se convenceu que Mar-celo e Valfrido Lira teriam assas-sinado a filha dele junto com aamiga Tarsila Gusmão, ambascom 16. O crime ocorreu em

maio de 2003 e somente no iní-cio da madrugada do sábado oConselho de Sentença teve suadecisão anunciada pela juíza An-drea Calado.

Emocionado ao longo de todoo julgamento, Dourado chegou ase abraçar com o pai de Tarsila ecom o promotor de acusação doMinistério Público de Pernambu-co (MPPE) Ricardo Lapenda como anúncio da sentença. “Meu ad-vogado já está certo de que haviadois parentes dos kombeiros noconselho de sentença. Um delesé primo e o outro é sobrinho. Porisso vamos recorrer para anularesse júri, que foi um júri de car-tas marcadas”, considerou.

O advogado José Siqueira ex-plicou que durante o sorteio docorpo de jurados, dois dos sor-teados tinham grau de parentes-co com os acusados e por isso fo-ram rejeitados pela acusação lo-go no início do processo, que ale-gou suspeição e por isso teve o pe-dido deferido pela Justiça. “Só nofinal do julgamento descobrimosque dois parentes dos réus ter-minaram participando do con-selho de sentença sem que a gen-te soubesse”, esclareceu.

Segundo o Tribunal de Justiça

de Pernambuco (TJPE), não há co-mo checar o grau de parentescodos jurados com os réus. Somen-te na hora do julgamento o ma-gistrado pergunta se há paren-tes entre os sorteados. Se a defe-sa e acusação não tiverem nadacontra os acusados, a lista per-manece.

Enquanto os pais das adoles-centes mortas participaram a ca-da minuto do julgamento, a mãede Eduarda preferiu ficar distan-te na hora final. Regina aprovei-tou a manhã deste sábado paradormir. O advogado dela, Leonar-do Rêgo Barros, avisou que elapretender dar uma coletiva, masainda não marcou o dia. A posi-ção de Regina em favor dos kom-beiros terminou sendo usada pe-la defesa. Durante o julgamento,o advogado Jorge Wellington Li-ma exibiu para os jurados umareportagem de TV onde ela dáuma entrevista afirmando quenão acreditava na culpa dos Lira.Já José Vieira foi à praia descan-sar e pediu para evitar o assun-to: “Ainda estou muito aborreci-do com o resultado”, falou. A mãede Tarsila, Alza Gusmão, perma-nece no Alabama, nos EUA, ondevive desde 2005.

vida urbana Recife, domingo, 5 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

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Caso Serrambi

Para Antônio Dourado, os kombeiros são os culpados e só foram absolvidos por terem parentes no júri

Alcione Ferreira/DP/D.A Press

Inojosa participou da perícia realizada nos corpos seis meses após o crime

Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press

Pai de Maria Eduardaespera por Justiça

Com a absolvição doskombeiros, promotoriavai recorrer pedindoa anulação dojulgamento, alegandoa participação deparentes dos réusno corpo de jurados

❜❜

Meu advogado já está

certo de que havia dois

parentes dos kombeiros

entre os jurados

❜❜Antônio Dourado - pai de Maria Eduarda

❜❜

Seria a maior injustiça

eles serem condenados.

Não há nenhuma

prova contra eles

❜❜Reginaldo Inojosa - médico legista

O fim do julgamento dos ir-mãos Marcelo José de Lirae Valfrido Lira da Silva não

significa o desfecho do Caso Serram-bi. Para começar, se não foram oskombeiros, quem matou Tarsila eMaria Eduarda? Com a apelação fei-ta pelos promotores de Justiça AbdoSalomão e Ricardo Lapenda para aanulação do julgamento, o proces-so ainda terá um longo percurso naJustiça. O pedido dos promotores foifeito logo após a leitura da senten-ça. Dentro de cerca de 30 dias, come-ça a contar o prazo para a acusaçãoapresentar as razões do pedido deanulação. Esse prazo de um mês édado porque todo o julgamento, quefoi gravado, deverá ser passado pa-ra notas taquigráficas, quando é dis-ponibilizado, então, para as partes.

Os advogados da assistência dapromotoria vão alegar nulidade doprocesso fundamentados no fato doadvogado Bruno Santos ter se habi-litado inicialmente para defender amãe de Maria Eduarda, Regina Lacer-da, como assistente da promotoria,e depois aparecer como advogadode defesa dos réus. Já os promotoresvão basear o pedido na decisão con-trária à prova dos autos. Ao mesmotempo, também vão alegar a presen-ça de parentes entre o corpo de ju-rados que absolveu os kombeiros.

Para o advogado criminalista JoãoOlímpio, o argumento utilizado pe-los promotores para obter a anula-ção do júri é válida. “O máximo quepode ser feito é se anular o júri e de-terminar um novo julgamento. Se forverdade essa história de que um dosjurados era primo dos réus, então aanulação é fácil”, explicou.

Caso a Justiça acate o pedido daacusação, um novo julgamento po-derá acontecer dentro de um ano. “OTribunal de Justiça não tem demo-rado muito tempo para julgar umaapelação. Chega, no máximo, a seismeses para dar o resultado. Mas co-mo esse não é um processo normale tem mais de 40 volumes, essa de-cisão no mínimo deve levar um ano”,disse Olímpio.

Até lá, o percurso será longo. Apósa apelação dos promotores, a acusa-ção tem oito dias (contados a partirda publicação da intimação) paraapresentar as razões do pedido. Comisso, a defesa será intimada a apre-sentar suas razões para evitar o anu-lamento do júri.O processo então se-rá encaminho ao Tribunal de Justi-ça, distribuído de forma automáti-ca para uma das câmaras criminaise sorteado um desembargador parase tornar o relator do caso.

Por sua vez, o relator encaminhao processo à Procuradoria de Justi-ça para que ela emita um parecer so-bre a recusa ou não da apelação. “ALei estabelece que o prazo é de 10dias para emitir o parecer, mas, naprática, isso é letra morta”, apontouOlímpio. O caso então volta para orelator dar seu voto e depois seguepara um revisor da Câmara Crimi-nal, que também dá o voto dele eencaminha para julgamento.

Absolvição – Com o resultado dojulgamento favorável aos irmãoskombeiros, abre-se a possibilidadedeles processarem o Estado por con-ta do período de dois anos e sete me-ses ao qual eles estiveram detidosno Cotel. Mas, para isso, eles teriamque provar que houve erro grossei-ro ou má-fé por parte da polícia.“Acho essa possibilidade inexistente,isso seria possível se eles tivessem si-do condenados”, adiantou Olímpio.

“As perícias foram fundamentaispara a decisão dos jurados”, disseontem o médico legista e vice-reitorda Universidade de Pernambuco, Re-ginaldo Inojosa. O especialista par-ticipou da segunda perícia dos cor-pos, realizada em novembro de 2003,ou seja, seis meses após o crime, echegou a comentar da necessidadedos advogados de defesa dos irmãosLira apresentarem o resultado daperícia tanatoscópica, que não apon-ta, tecnicamente, qualquer indício deculpa dos kombeiros. O mesmo do-cumento, revelou Inojosa, leva a crerque as meninas não foram mortasno canavial onde os corpos termi-naram encontrados.

Para Inojosa, não há como incri-minar um réu apenas com provastestemunhais como defendeu oMPPE. “Há o parecer do laudo tana-toscópico, com provas científicas.Seria a maior injustiça eles seremcondenados. No Caso Nardoni, o ca-

sal foi condenado graças ao examemédico legal, que constatou o es-trangulamento da criança”, comen-tou. O laudo pericial foi concluídopor Reginaldo Inojosa, Raílton Be-zerra e Luiz Carlos Galvão, esse últi-mo da Bahia, e diz que a causa dasmortes é indeterminada.

“Maria Eduarda recebeu os tirosdepois de morta. O exame de rea-ção vital, feito na USP de Ribeirão Pre-to, aponta isso. Isso leva a crer queela não foi morta no canavial. Nocaso de Tarsila, a ideia é reforçadaporque fotos apontam para a possi-bilidade de estrangulamento da jo-vem, além dos tiros”, detalhou.

As informações de Inojosa refor-çaram o que foi dito ao longo do jul-gamento pelos cinco peritos do Ins-tituto de Criminalística (IC) que pres-taram depoimento ao júri. Os espe-cialistas foram unânimes em dizerque a perícia não trouxe qualquerprova técnica contra os kombeiros.

André Marins/Esp.DP/D.A Press

Perícias inocentaramos irmãos kombeiros

❜❜

O máximo que a

promotoria pode ser

feito é se anular o júri e

determinar um novo

julgamento. Se for

verdade essa história

de que um dos

jurados era primo dos

irmãos Marcelo e

Valfrido Lira, então a

anulação é fácil.

❜❜José Olímpio - advogado criminalista

Mistério sobre o crime continua

Criminalista José Olímpio, que participou da cobertura online dos Diários Associados, reafirmou ser difícil os kombeiros conseguirem indenização por prisão

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O resultado do julgamento docaso Serrambi trouxe alívio nãoapenas para os irmãos MarceloJosé de Lira e Valfrido Lira da Sil-va e seus familiares, mas tambémpara a mãe de uma das vítimas.Regina Lacerda, mãe de MariaEduarda Dourado, é a única, en-tre os pais, que acredita na ino-cência dos kombeiros. Descan-sando em uma fazenda da famí-lia no interior, ela disse que de-verá comentar o resultado do jul-gamento quando retornar paraa capital, provavelmente na quin-ta-feira. Regina Lacerda não quisfalar sobre a posição do ex-mari-do, o empresário Antônio Doura-do. O empresário afirmou que, apartir de agora, se houver inte-resse dela em continuar com ocaso, terá que bancar por contaprópria com as despesas.

De acordo com o advogado de-

la, Leonardo Rêgo Barros, contra-tado há um ano, seus serviçosnão foram dispensados. “Conti-nuo sendo o advogado de Regi-na Lacerda”, afirmou. Barrosadiantou que vai aguardar o re-sultado da apelação dos promo-tores de justiça Ricardo Lapendae Salomão Abdo para entrar ounão com o pedido de indeferi-mento, caso a anulação do julga-mento se confirme. “Ainda não te-mos uma posição. Acreditamosna decisão do júri, que é sobera-na. Acho difícil a anulação”.

Barros também não acreditarno desaforamento do caso. “Naminha opinião, juridicamente fa-lando, não faz sentido você julgarpessoas fora do seu ambiente, dosseus costumes. Isso está previsto naConstituição. E, por enquanto, nãohá nada que justifique esse tipo depedido”, concluiu o advogado.

Regina Lacerdaacredita nos Lira

Para a promotoria, clamor público em frente ao fórumfoi incentivado por Miguel Sales e interferiu na sentença

Teresa Maia/DP/D.A.Press

Teresa Maia/DP/D.A.Press Júlio Jacobina/DP/D.A Press - 26/8/10

Além da anulação, desaforamentoPromotores alegam que os irmãos Marceloe Valfrido Lira teriam sido condenados seo júri popular fosse realizado em outracomarca e não no Fórum de Ipojuca

“Preferia que júri fosse no Recife”

O promotor de Justiça Ricardo Lapendadisse que o senhor influenciou o corpode sentença levando, inclusive, ônibuspara frente do fórumEu fiz isso? Isso é uma absoluta inverdade. Inclu-sive não participei da carreata que houve aqui(em Camela) para ninguém dizer que estava ti-rando proveito da situação. Eu entendo ao con-trário, que o fato do meu nome ter sido citado,como terceiro réu, pode trazido prejuízo. Na ver-dade, preferia que o júri tivesse sido no Recife.Haveria mais isenção.

Então o senhor admite que não houve isenção?Diria que pelo menos não haveria nenhuma dú-vida. A própria defesa não se opôs quando hou-ve o primeiro pedido de desaforamento. Quementendeu que não deveria haver o desaforamen-to foi o TJPE.

O senhor não acha que o caso poderá

ajudá-lo a se eleger?E se eles tivessem sido condenados? O riscoque corre o pau, corre o machado. Eu nuncapretendi fazer disso um trampolim político.Gostaria de ter permanecido no Ministério Pú-blico e chegar a procurador de Justiça. Infeliz-mente fui afastado do cargo, exatamente porrazões políticas. Me tiraram a contragosto dacomarca de Ipojuca.

O senhor disse que vai lançar um livrosobre o caso Serrambi. O que será abordado?Pretendo mostrar a ineficiência do nosso siste-ma investigativo relatando as falhas da investi-gação. Apesar de ter sido um caso de grande re-percussão, não foi possível afirmar, em grau decerteza, quem foram os autores do crime. Essasdeficiências na investigação deixam a socieda-de insegura. O fato do júri ter dado a absolvição,por si só, não quer dizer que não foram eles osculpados. Mas é preciso provar.

Uma das figuras mais polêmicas do Caso Serrambi, o ex-promotor de Ipojuca, Miguel Sales, que está apo-sentado, fala sobre o livro que pretende escrever sobre o caso. Nega que esteja usando a publicidade emtorno do assassinato das jovens Tarsila Gusmão e Maria Eduarda para se eleger como deputado federal.Também fala da mágoa de ter sido afastado da comarca de Ipojuca que o levou a pedir a aposentadoria.

Teresa Maia/DP/D.A Press

“ entrevista // Miguel Sales

vida urbana Recife, segunda-feira, 6 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

❜❜Sales levou gente

para a frente do

fórum. Não houve

isenção do júri

Júri pode ser em

qualquer lugar. Com

as provas que há,

serão inocentados

❜❜

● Dirigido aoTribunal de Justiça e com rito semelhan-te ao do habeas corpus, a medida tem como objeto atransferência do julgamento da causa (e não do pro-cesso) à comarca mais próxima na qual não subsis-tam vícios que possam comprometer a imparcialida-de do Conselho de Sentença

● Pelo Código de Processo Penal - art 424 - orien-ta-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal(STF) no sentido de o desaforamento, quando neces-sário, dar-se para a comarca mais próxima do distri-to da culpa, onde não subsistam os motivos que o de-terminam

● A dúvida sobre a legitimidade da decisão dos jura-dos proferida em sede de ação penal cujo Conselhode Sentença foi reconhecido incapaz de apreciar a mes-ma, por lhe faltar isenção e imparcialidade, está pre-vista no Código de Processo Penal, art, 424

● Na jurisprudência, aponta-se também a influênciado réu e da família nas regiões próximas ao distritoda culpa (caso do STF, Relator Ministro Néri da Sil-veira - 16.06.95)

Fonte: Código Penal - art 424 e jurista Paulo Eduardo Sampaio

Desaforamentoe jurisprudência

Caso Serrambi

TÂNIA PASSOS

[email protected]

U ma dúvida que aindapersiste e que passa aser o principal argumen-

to dos promotores de acusaçãodo Caso Serrambi para pedir aanulação e o desaforamento dojulgamento que inocentou os ir-mãos Marcelo e Valfrido Lira. Afi-nal, se tivesse havido o desafora-mento do júri, da comarca de Ipo-juca para o Recife, como o Minis-tério Público de Pernambuco ha-via solicitado e foi negado, porunamidade, pelo Tribunal de Jus-tiça de Pernambuco (TJPE), a sen-tença de quatro votos a favor trêscontra os irmãos Lira seria dife-rente? Os promotores Ricardo La-penda e Salomão Abdo acreditamque sim. Agora, vão aguardar o re-sultado da apelação que pede aanulação dojulgamentopara em se-guida pedirum novo de-saforamento.Os kombei-ros eram acu-sados pelo as-sassinato das adolescentes Tarsi-la Gusmão e Maria Eduarda Dou-rado, ambas com 16 anos.

O primeiro pedido feito pelapromotoria para que o julgamen-to fosse realizado no Recife ale-gava a falta de estrutura do pró-prio município e do fórum deIpojuca para a realização de umjulgamento com tamanha reper-cussão. E, principalmente, umapossível influência na opiniãopública do ex-promotor de Ipo-juca, hoje aposentado, MiguelSales. Segundo o promotor Ri-cardo Lapenda, o que era apenasuma expectativa acabou se con-firmando. “Agora temos elemen-tos que confirmam a influênciano conselho de sentença. Antesera apenas uma expectativa. Atéo pai de uma das vítimas foi hos-tilizado”, ressaltou.

Lapenda ressaltou que MiguelSales influenciou, sim, a opiniãopública local. “ Ele levou três ôni-bus para a frente do fórum para

fazer política. Vamos mostrar aoTJPE que não havia a mínima isen-ção das pessoas que fizeram par-te do corpo de jurados”, afirmou.Em relação à apelação junto aoTJPE, o promotor adiantou que,no caso de um novo júri popular,não haverá reabertura de mais in-vestigações. “Serão as mesmas pro-vas que esperamos sejam vistas ejulgadas em um ambiente que nãosofra nenhum tipo de influência”.

Provas válidas — Para a defesados irmãos kombeiros, a mudan-ça de comarca é um detalhe quenão irá alterar o resultado do jú-ri, seja onde for. O advogado Bru-no Santos destacou que, na hipó-tese de um novo julgamento, oprocesso poderá ser feito em qual-quer lugar. “Desde o primeiro pe-dido de desaforamento a defesanunca foi contrária. Pode ser aqui,

no Rio Gran-de do Sul ouno Mara-nhão. Com asprovas exis-tentes nos au-tos os kom-beiros nuncaserão conde-

nados”, afirmou. Segundo ele, mes-mo com a vitória, a defesa saiuum pouco decepcionada com oplacar apertado de 4 x 3. “Esperá-vamos unanimidade no placar. Ostrês votos contrários eu só possoatribuir à competência dos pro-motores, eles tiraram leite de pe-dra”, afirmou.

Para o advogado criminalista eprofessor de processo penal daUniversidade Católica de Pernam-buco e da Escola da Magistratura,João Olímpio, muito excepcional-mente a jurisprudência brasilei-ra admite o desaforamento do se-gundo julgamento. “O desafora-mento já foi requerido uma vez efoi negado pelo TJPE. Teria que ha-ver um novo fato que não seja oda absolvição dos réus”, explicou.Também criminalista, o advoga-do Sílvio Torres não acredita queo tribunal acate o pedido da pro-motoria. “A manobra é inviável.Seria preciso criar um novo fato,que não existe”, afirmou.

Kombeiros eram osacusados pela mortede Tarsila e Eduarda

Ricardo Lapenda, promotor Bruno Santos,advogados dos irmãos Lira

vida urbana Recife, domingo, 29 de agosto de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

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Promotores certos da condenação

Promotor Salomão Abdogarante que há provas fortesda presença dos Lira nacena do crime

Dossiêcomplicakombeiros

ACUSAÇÃO // Promotores apresentarão documento com 27 provas, que o Diario teve acesso, trazendo novas revelações sobre o assassinato das jovens

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ANA PAULA NEIVA, MARCIONILATEIXEIRA

E WAGNER OLIVEIRA

[email protected]

Apolêmica do Caso Serrambiestá perto do fim. Nesta se-gunda-feira, os dois homens

apontados pelo Ministério Públicode Pernambuco como os assassinosdas adolescentes Maria EduardaDourado e Tarsila Gusmão estarãono banco dos réus. Dois promoto-res terão a missão de convencer osjurados da culpabilidade dos irmãoskombeiros Marcelo e Valfrido Lira.Apesar da opinião pública acharque os Lira foram usados como bo-des expiatórios para encobrir os ver-dadeiros culpados pelo duplo as-sassinato, os promotores prometemvirar o jogo com uma lista compos-ta por pelo menos 27 indícios for-tes contra osréus. O Diariode Pernambu-co conseguiu,com exclusivi-dade, um rela-tório confiden-cial com as pe-ças que serãoapresentadas ao longo dos três diasdo julgamento. Indícios que foramcolhidos numa investigação que ge-rou um processo com 40 volumese mais de 10 mil páginas e chegoua ser devolvido quatro vezes sob aalegação de falta de provas contraos irmãos Lira.

Entre as revelações mais bombás-ticas, o dossiê traz o depoimento deuma parente dos acusados que disseter presenciado eles confessando par-ticipação no assassinato das jovens.Outro ponto que será levantado con-traosréus,segundoodocumento,sãoos antecedentes criminais de Marce-lo, considerados comprometedores.Ao longo da investigação, a políciadescobriu que ele responde a quatroprocessosnacomarcadeIpojuca, sen-do dois por homicídio, um por por-te ilegal de arma e um por lesão cor-poral grave. O que fortaleceu ainda

mais as suspeitas dos investigadoresfoi o fato de Marcelo trocar constan-temente o chip do seu telefone celu-lar, numa tentativa de não ser gram-peado pela polícia.

Outra prova que será apresenta-da é uma gravação que mostra Mar-celo Lira e a esposa discutindo sobrecomo os óculos de Tarsila Gusmão te-riam aparecido com Valfrido. A gra-vação da conversa do casal foi feitapela Polícia Civil dentro da Kombiem que eles andavam. Além dessesindícios, a polícia ressalta as inúme-ras contradições encontradas nos de-poimentos dos dois acusados e dosparentes deles.

Independentemente da condena-ção ou da absolvição dos Lira, umacoisa é certa: as dúvidas vão conti-nuar pairando na cabeça daquelesque acreditam até hoje na inocên-

ciadosacusados.Um caso que di-vidiu a opiniãopública, tevegrande destaquena imprensa epermeou o ima-ginário populardurante os últi-

mos sete anos. Nos bastidores, o sen-timento é de uma verdadeira luta declasses. Travada entre famílias abas-tadas que perderam suas filhas e oclã de dois kombeiros pobres quetentam provar que são inocentes.

Até hoje, nem mesmo as famíliasdas duas jovens se entendem sobreo assunto. Os pais de Maria Eduarda,por exemplo, no começo das inves-tigaçõesnãoacreditavamqueoskom-beiros fossem os culpados. Dois anosdepois, o pai, Antônio Dourado, dis-se ter sido convencido pela PolíciaFederal de que as adolescentes forammortas por eles. Os pais de Tarsilatambém pensam assim desde o co-meço. Já a mãe de Eduarda, ReginaLacerda, até hoje não crê nessa pos-sibilidade. O enredo dessa históriaserá revelado no tribunal nos próxi-mos três dias. Um embate que mar-cará para sempre a Justiça do estado.

Caso Serrambi

1- Objetos colhidos no local do crime ena Kombi de Marcelo, tais como: fio denailon,barbeador da mesma marca e corusado por Marcelo, papéis de bombom,fios de cabelo que se assemelham aosdas vítimas e pedaços de papelão.

2- A atitude do kombeiro Marcelo querefugiou-se em Cachoeirinha.Ele teria fei-to a mesma coisa logo após o crime quevitimou Iraquitânia na cidade de Ribeirão,no qual foi apontado como suspeito jun-to com o irmão.

3- O depoimento da principal testemu-nha Regivânia Maria da Silva que susten-ta até hoje o reconhecimento do kom-beiroValfrido como a pessoa que estavano carona da Kombi e que abriu a portada mesma, dando passagem para as me-ninas entrarem.

4- O depoimento contraditório da com-panheira de Marcelo. Ela disse que tinhabrigado com ele por causa deTiana (aman-te do kombeiro), indo dormir sozinha noquarto por volta das 19h,deixando Mar-celo dormindo na sala.

5- A contradição da esposa de Valfridoque inicialmente ao GOE disse que o ma-rido dormiu em casa e depois declarouque não lembrava que horas ele chegouem casa naquele sábado e ainda disse nãolembrar seValfrido dormiu em casa.

6-O reconhecimento da Kombi de Mar-celo pela testemunha Regivânia.

7-Os antecedentes criminais do kombei-ro Marcelo o qual responde a quatro pro-cessos na Comarca de Ipojuca,sendo doispor homicídio,um por porte ilegal de ar-ma e outro por lesão corporal grave.

8- Um revólver calibre 38 que nunca foiapreendido e que foi repassado por Mar-celo, para um cunhado identificado ape-nas como Primo.

9- O local onde os corpos foram encon-trados só poderia ser conhecido por mo-radores daquela área, por ser de acessodifícil e duvidoso.

10-Marcelo é apontado juntamente como irmão Roberto como autor do homi-cídio da cunhada Iraquitânia.

11- O crime cometido contra as víti-mas tem as mesmas circunstâncias do co-metido contra a pessoa de Iraquitânia.

12- Os óculos de Tarsila que nuncaforam encontrados mas foram vistoscomValfrido,Tiana e Pepê e ainda den-tro do porta-luvas da Kombi deValfri-do e Marcelo.

13-As contradições dos indiciados Mar-celo eValfrido quanto ao local onde es-tavam no dia do desaparecimento das ví-timas.

14- A Kombi de Marcelo que não esta-va parada como o mesmo afirmou,saben-do-se que estava funcionando no dia do

desaparecimento das vítima.

15- A informação da Tiana, Pepê, Le-nilda e Maria do Socorro de que exis-tiu sim um óculos de sol, na época doCaso Serrambi, e segundo Pepê essesóculos eram guardados porValfrido noporta-luvas do carro e que Tiana che-gou a usá-lo por dois dias.

16- Depoimento de Lucilene dizendoque sua comadre Marinês teria lhe fala-do chorando em Sirinhaém dizendo queseus primos Marcelo eValfrido contaramque mataram as meninas.

17- A informação que de fato Marinêstinha contato com os irmãos kombeiros,e que à época do crime a mesma traba-lhava num albergue em Sirinhaém.

18- A troca constante do chip do tele-fone celular de Marcelo. O mesmo diziaque ninguém iria copiá-lo jamais.

19- O cobrador de kombi conhecidopor Galego,que trabalhou com Roberto,irmão de Marcelo e passou a trabalhar co-mo cobrador de Marcelo.Galego tinha areputação de praticar crimes contra opatrimônio.

20- Uma cunhada deValfrido disse queele era uma pessoa ruim,de gênio ruim,por ter ameaçado passar a Kombi porcima do sobrinho de 11 anos de idadeporque o menino bateu com a bola noveículo dele.

21- Segundo Tiana, Pepê, Lenilda e Ma-rilene, os irmãos kombeiros sempre bri-gavam e logo em seguida estavam se fa-lando.

22- O laudo da segunda reconstituiçãoatesta que Regivânia reconheceu a Kom-bi de Marcelo. Ela nunca teve dúvida docarro que viu naquele dia.

23- As vítimas foram vistas pedindo ca-rona em Porto de Galinhas, em frente àpadaria Porto Pão, por mais de três pes-soas.

24- A negativa dos kombeiros em infor-mar que a Kombi de Marcelo estava que-brada no dia 3 de maio de 2003.

25- Marcelo, Roberto e Zeca Gordo,além dos cobradores de Kombi, Galegoe Mercinho fizeram uso de porte ilegal dearmas, conforme consta nos autos.

26- A pouca distância do local onde oscorpos foram encontrados para as casasdos indiciados,podendo ambos os locaisserem vistos a olho nu a partir de refe-rencial aéreo.

27-A informação que Marcelo teria ven-dido uma arma de fogo para o irmão Ro-berto antes do assassinato de Iraquitânia.

Designados para acompanhar o CasoSerrambi desde janeiro de 2008,os promo-tores do Ministério Público de Pernambu-co (MPPE) SalomãoAbdoAziz e Ricardo La-penda irão ao julgamento confiantes na con-denação dos irmãos kombeiros.Com a fun-ção de convencer os jurados da culpabili-dade de Marcelo eValfrido Lira,os promo-

tores vão apresentar o dossiê com novosindícios contra os irmãos Lira.Entre eles,es-tão diversas gravações telefônicas, CDs eDVDs com depoimentos das testemunhas.“A minha expectativa é de que haja Justiça.É um processo muito complexo,que duroumuitos anos.As duas famílias vêm sofrendomuito”, disse o promotor Salomão Abdo.

O mesmo sentimento tem o promotorRicardo Lapenda. “Confio na condenação.Quem partiu para outras vertentes foi opromotor do caso na época, Miguel Sales.Vamos mostrar os prejuízos que o envolvi-mento dos kombeiros com ele causou aoprocesso”,disse.SalomãoAbdo garantiu quehá provas da participação dos Lira no cri-

me.“São provas fortes”, completou.Os novos promotores foram designados

pelo procurador-geral de Justiça,PauloVare-jão, para acompanhar o trabalho de MiguelSales,que acabou deixando o processo apóspedir a sua aposentadoria.Sales foi acusadoporVarejão de ter prolongado as investiga-ções para se promover politicamente.

Processo tem 40volumes e mais de10 mil páginas

o que diz a ACUSAÇÃO

Defesa diz que processo só tem conjecturasQuatro profissionais para defendê-los ao

longo de sete anos.Aos kombeiros Marce-lo eValfrido Lira não faltou defesa.Além doadvogado Ivo Costa, também atuaram noprocesso o defensor público José Francis-co Nunes e até mesmo o famoso crimina-lista BórisTrindade.Por fim,assumiram o ca-so JorgeWellington Lima de Mattos e Bru-

no Santos,que vão ao julgamento na segun-da-feira.Durante todo esse tempo,advoga-dos e defensores se basearam na mesma teo-ria: faltam provas no inquérito para incrimi-ná-los.

Há cerca de 60 dias, Jorge e Bruno, quetêm ligação com o promotor aposentadodo caso,Miguel Sales,começaram a estudar

com mais afinco o processo.“Quem tem queter algo contra os réus é o Ministério Pú-blico e até agora eles não confirmaram na-da.Trata-se do processo mais absurdo quejá vi.Todo o processo não passa de conjec-turas”, dispara JorgeWellington.

Entre todos que assumiram a defesa doskombeiros, quem passou mais tempo foi o

defensor público José Francisco Nunes, to-talizando cinco anos de atuação.Nunes saiuapós a polêmica entrada de BórisTrindade,reconhecido pela eficiência profissional epelos altos preços que cobra.Menos de umano após assumir a defesa, Bóris foi desti-tuído pelos próprios réus. Até hoje, um mis-tério continua: Quem custeava Bóris?

o que contestam os ADVOGADOS

Advogado de defesa JorgeWellington disse que oprocesso é o mais absurdoque ele já viu

No dia 2 de maio de 2003, Maria Eduardae Tarsila Gusmão seguiram para um finalde semana numa casa de praia emSerrambi com um grupo de amigos

Na noite desse mesmo dia, as duas jovensparticiparam de um churrasco com outrosamigos na casa de praia onde estavamhospedadas

No dia seguinte, um sábado, o grupo saiupara um passeio de lancha até a praia deMaracaípe, ao lado de Porto de Galinhas.Todos os jovens estavam alegres

No final da tarde, o grupo se reuniu paravoltar a Serrambi.Apenas Maria Eduardae Tarsila não retornaram com os demaisamigos

As meninas procuraram um telefonepúblico e ligaram para o dono da casa ondeestavam hospedadas pedindo que ele asfossem buscar em Porto

Uma testemunha afirmou à polícia ter vistoas duas adolescentes entrando em umaKombi branca de para-choque verde

Os amigos de Eduarda e Tarsila chegarama Porto de Galinhas e não as encontram.Eles procuraram a polícia e registraramo desaparecimento das duas

No dia 13 de maio de 2003, os corpos dasduas jovens foram encontrados pelo paide uma delas, em um canavial, no distritode Camela, em Ipojuca

No dia 18 de maio, os agentes civisprenderam os irmãos kombeiros apósrealizarem operações em Ipojuca e emCachoeirinha

No dia 21 de julho de 2003 os irmãosMarcelo eValfrido Lira foram soltos porfalta de provas.Ambos foram recebidos comfesta pelos moradores de Camela

No dia 17 de janeiro de 2008, o kombeiroMarcelo José de Lira foi preso pela políciadepois que os promotores solicitaram aprisão dos dois irmãos

No dia seguinte, o kombeiroValfrido Lirada Silva se apresentou à polícia, depoisde passar um dia considerado foragidoda Justiça

Indícios colhidos pela polícia contra os kombeiros

memória do caso

Alcione Ferreira/DP/D.A Press Jaqueline Maia/DP/D.A Press Alcione Ferreira/DP/D.A Press Jaqueline Maia/DP/D.A Press

Uma grande cobertura está no ar,deste ontem, no site www.diariodeper-nambuco.com.br. Com a participaçãodas equipes do portal Pernambu-co.com, do Diario de Pernambuco eda TV Clube, os internautas estão po-dendo acompanhar ao vivo a movi-mentação dentro e fora do Fórumde Ipojuca, onde está ocorrendo ojulgamento dos irmãos kombeiros.Ontem, milhares de pessoas ficaramsabendo, em tempo real, de tudo oque aconteceu dentro e fora do pré-dio onde o destino dos réus está sen-

do decidido por um júri popular. Emtextos, fotos e vídeos, os internautasacompanharam mais de 14 horas detransmissão direta, ao vivo, ou emimagens e entrevistas gravadas comas pessoas que chegavam ao fórum.

Outra possibilidade desta mega-cobertura on-line feita por todas asempresas dos Diários Associados é ainteratividade entre os internautas.Eles podem participar, também emtempo real, da transmissão, comen-tando as notícias em uma platafor-ma única para onde convergem to-

dasas informaçõesobtidaspelasequi-pes de reportagem sobre o polêmicojulgamento. Como não é permitidoentrar na Sala do Júri com celularesou qualquer equipamento eletrôni-co, os repórteres se revezam dentroe fora da sala para atualizar as infor-mações. Da redação, outra equipebusca fontes que possam responderàs perguntas dos internautas. O es-quema de cobertura vai funcionardurante todo o julgamento, por meiodo endereço www.diariodepernambu-co.com e www.pernambuco.com.

vida urbana Recife, terça-feira, 31 de agosto de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C3

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U m dos pontos mais con-flitantes no primeiro diado julgamento dos ir-

máos kombeiros aconteceu no fi-nal da tarde de ontem quando, emmeio a um bate-boca entre o pro-motor Ricardo Lapenda e o defen-sor público Francisco Nunes, teste-munha de defesa, a juíza AndreaCalado, em reprimenda, suspen-deu a sessão. Tudo começou por-que o promotor levantou um su-posto comentário feito pelo defen-sor, que atuou junto aos kombei-ros por cinco anos, sobre a culpa-bilidade dos réus. Nunes teria di-to que se a polícia apurasse quequem teria matado as adolescen-tes foi Marcelo, ele acreditava, masMarcelo e Valfrido juntos não. O fa-to pôs em xeque a defesa dos kom-beiros, considerada tímida no pri-meiro dia, e causou mal-estar en-tre os dois colegas de trabalho. Ape-sar da fala ter sido negada por Nu-nes, uma testemunha que ouviu a

conversa disse ao Diario de Per-nambuco na noite de ontem, queo promotor falou a verdade.

Lapenda chegou a pedir à juízaa ouvida dessa testemunha, o pro-fessor universitário Carlos Fraga,que mora em Olinda, mas teve o pe-dido negado. Ela entendeu que a

solicitação deveria ter sido feitacom antecedência. “Em tom opi-nativo, o defensor disse que umdos kombeiros podia ser culpado,mas o outro não. Disse, ainda, queo ajudante de Marcelo poderia tersido uma outra pessoa da região.Isso aconteceu entre abril e junho

deste ano”, comentou o professorna casa dele.

Lapenda também ressaltou quea fala da testemunha Paulo Feli-ciano Diniz, o Abençoado, a pri-meira de um total de dez levanta-das pela defesa, terminou ajudan-do a acusação. “Ele confirmou quea única Kombi branca de paracho-que verde que havia na região per-tencia aos réus e disse, ainda, queMarcelo costumava provocar a rai-va no colegas porque ultrapassavaeles no trânsito”.

“Miguel Sales não é o réu, masé ele que está sendo perseguido”,disparou o advogado dos kombei-ros, Jorge Wellington de Lima, nasaída do julgamento. Ele disse, ain-da, que se o MPPE tem provas, queapresente. Onde estão as provasbombásticas? Nesse processo, tudoé hipotético, inclusive, pode ter si-do eles que mataram as meninas.Me mostrem quem ouviu os gritosdessas adolescentes”, provocou.

Cobertura em tempo real

Brechas para anular júri popularO fato de o advogado Bruno Lima

Santos, que atualmente defende osirmãos kombeiros ter atuado comoassistente de acusação para a mãede Maria Eduarda, Regina Lacerda,poderá abrir brechas para a anula-ção do julgamento do Caso Serram-bi, segundo o promotor Ricardo La-penda. A atuação de Bruno Santosem ambos os lados foi questionadaontem por Lapenda, que denun-ciou que o advogado teve acesso ainformações importantes do pro-cesso de acusação. O que pode terprejudicado as investigações.

Apesar de entender que não ha-veria prejuízo para os acusados, ajuíza Andrea Calado determinouque o fato fosse comunicado à Or-dem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) para que a entidade providen-

ciasse a abertura de sindicância ad-ministrativa e também a instala-ção de inquérito policial para apu-rar a denúncia contra o advogado.

De acordo com o promotor Ricar-do Lapenda, em 16 de novembro de2009 Santos se habilitou no proces-so para atuar como assistente deacusação representando a mãe deMaria Eduarda, que sempre defen-deu a inocência dos kombeiros. Nodia 2 de fevereiro deste ano, a 3ª Câ-mara Criminal do Tribunal de Jus-tiça decidiu que os advogados deRegina Lacerda não poderiamatuar mais na assistência ministe-rial. “Para surpresa de todos, em 1ºde março passado, após praticaratos na acusação, o advogado Bru-no Santos passou a defender osdois kombeiros acusados. Enten-

do que tal procedimento se cons-titui motivo de nulidade proces-sual até porque se não for caracte-rizado crime, com certeza, é faltade ética e deve ser comunicado àOAB”, comentou o promotor.

Ricardo Lapenda disse ontem ànoite que se os kombeiros Valfri-do e Marcelo Lira forem absolvidospoderá pedir a anulação do júri,alegando que os acusados acabamfavorecidos porque seus advoga-dos tinham conhecimento de in-formações sigilosas que estavamnos autos do processo. “Está claroque o advogado se beneficiou ten-do acesso aos autos, estando habi-litado como assistente do Minis-tério Público. Por isso, se eles fo-rem inocentados, vou solicitar aanulação do júri”, finalizou.

Sessão chegou a ser suspensa por causa do bate-boca entre o defensor público Francisco Nunes, testemunha de defesa, e o promotor Ricardo Lapenda, que trouxe à tona a informação do professor universitário Carlos Fraga

❜❜

Reviravolta no fimdo primeiro diaSegundo o promotor Ricardo Lapenda, ex-defensor público dos irmãosteria comentado com um professor que Marcelo é culpado,Valfrido não

JoséVieira – pai de Tarsila

❜❜

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Caso Serrambi

Reprodução/DP

Estou mais certo

do que nunca que

os dois kombeiros

finalmente vão

ser condenados

pelos assassinatos

Antônia Silva – mãe dos kombeiros

Vim para passar

só um tempinho.

Tomei um

remédio, mas não

vou entrar.

Deus sabe que

meus filhos são

inocentes

Paula Lira – filha deValfrido

Fizemos camisas e

cartazes para usar

na frente do

fórum.

Meu pai e meu tio

com certeza vão

ser inocentados

Internautas podem interagir,participando por meio doportal Pernambuco.com

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Teresa Maia/DP/D.A Press

Teresa Maia/DP/D.A Press

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/especiais/caso_serrambi

diariodepernambuco.com.brveja o especial sobre o caso no:

Carlos Fraga disse aoDiario que promotorfalou a verdade

vida urbanaC4 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, quarta-feira, 1º de setembro de 2010

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U ma informação exclusi-va publicada pelo Diariode Pernambuco, ontem,

levou os promotores que atuamno julgamento dos kombeiros apedirem à juíza Andrea Calado, noFórum de Ipojuca, mais uma vez,a ouvida da testemunha Carlos Fra-ga, professor universitário que mo-ra em Jardim Atlântico, em Olin-da. Em matéria publicada e cita-da na manhã de ontem duranteexposição feita pelo advogado de as-sistência, Jose Siqueira Filho, o pro-fessor confirmou ter ouvido do de-fensor público e testemunha con-vocada pela defesa, Francisco Nu-nes, que ele acreditava na culpa deMarcelo Lira, mas não na de Valfri-do, no assassinato das duas jovens.A informação terminou atrapa-lhando a defesa dos kombeiros,pois Nunes atuou em prol deles aolongo de cinco anos. Além do pro-fessor, também ouviu a informaçãoda boca de Nunes o promotor Ri-cardo Lapenda, que atua na acusa-ção dos kombeiros junto com opromotor Salomão Abdo. O pró-prio Lapenda citou, no primeirodia do julgamento, essa conversaocorrida entre os três. Chegou apedir, pela primeira vez, à juízaautorização para ouvir a testemu-nha, mas teve o pedido indeferido.

Mais uma vez, o pedido foi inde-ferido logo na abertura da sessãode ontem no fórum sob alegaçãode que a testemunha não havia si-do apresentada como tal dentrodo prazo legal previsto pelo Tribu-nal de Justiça de Pernambuco(TJPE). A revelação surpresa da acu-sação provocou mal-estar, no pri-meiro dia do julgamento, entre opromotor e o defensor público, jáque este negou ter falado algo se-melhante, dando a entender que opromotor era um mentiroso. On-tem, Nunes não foi visto no Fórumde Ipojuca. Não foi só a acusaçãoque pediu a ouvida de uma teste-munha, na manhã de ontem, à juí-za Andrea Calado. A defesa tam-bém surpreendeu a todos ao pedira ouvida do promotor aposentadoMiguel Sales, também indeferida.Para o MPPE, Sales terminaria clas-sificado como “uma supertestemu-nha”, já que teria acompanhado ojulgamento desde o início, ao con-trário das outras, que permane-cem sem assistir à sessão, e por is-so teria informações privilegiadasdos outros depoentes. O advogadodos kombeiros, Jorge Wellingtonde Lima, justificou o pedido dele:“Ele foi atacado de forma contu-dente por testemunhas da acusa-ção, como se tivesse atrapalhado asinvestigações. Foi citado pelo pai deuma das vítimas”, disse.

Confirmação - Na noite da segun-da-feira,emsuacasa,oprofessordis-se ao Diario que nem sabia aindaque havia sido citado durante o jú-ri e se mostrou surpreso com a no-tícia. Porém, confirmou a informa-ção de Nunes durante o intervalode uma sessão em um tribunal doRecife,ondeatuacomojurado.“Emtom opinativo, o defensor disse queumdosLirapodiaserculpado,oou-tro não. Disse, ainda, que o ajudan-te de Marcelo poderia ter sido ou-tra pessoa. Isso foi entre abril e ju-nho deste ano”, disse.

O senhor vai tomar algumaprovidência em relação àsacusações que têm sido feitas?Vou procurar as vias legais. O julga-mento não é o fórum para me defen-der. Se as acusações partiram dos pa-rentes das vítimas, perdoo, mas sevierem de algum advogado, vou acio-nar a Justiça. É grave dizer que eu ofe-reci casa a um dos acusados. Vou re-querer à juíza ação de danos e até aapuração da notícia crime por injú-ria. Se um dos parentes dos réus li-gou e atendi, foi tudo lícito. Até por-

que já foi feita correção pelo MPPE.

O senhor falou sobre anulação.Esse julgamento carece de legitimi-dade. Ricardo Lapenda foi designadopara assumir o Caso Serrambi peloprocurador-geral de Justiça Paulo Va-rejão sem anuência do promotor ti-tular da vara de Ipojuca, RobertoBrayner, que não estaria correto.

Uma das acusações é queo senhor queria se promover.Estou magoado por isso. Fui remo-

vido a contragosto da comarca, pe-nalizado das minhas funções eobrigado a me aposentar precoce-mente e tive perdas financeiras.

O senhor acredita na inocênciados kombeiros?Nomeuentender,ninguémestápreo-cupado propriamente se os Lira serãoabsolvidos ou condenados, o objeti-vo já foi atingido que é ocultar a au-toria do crime. Se forem absolvidos,quem será punido pelo crime? Nãohá provas que eles sejam culpados

A testemunha-chave do Caso Ser-rambi, a dona de casa Regivânia Ma-ria da Silva, que afirmou à polícia di-versas vezes ter visto Maria EduardaDourado e Tarsila Gusmão entraremnuma Kombi branca no dia em queforam mortas, e que não foi chama-da para depor no julgamento, prefe-riu se isolar durante os dias do júripopular. Em um lugar guardado a se-te chaves pelos familiares, ela optoupor sair de casa para evitar o assédioda imprensa. Apesar disso, seu no-me tem sido relatado como presen-ça fundamental no Fórum de Ipoju-ca. Ontem, o Diario de Pernambucoesteve na casa da testemunha e con-versou com seus parentes.

O marido de Regivânia, que prefe-riu não ter o nome publicado, afir-mou que a esposa previa que pudes-se ser procurada para entrevistas emudou o endereço temporariamen-te. “Desde que Regivânia falou o quetinha visto naquele dia (3 de maio de2003), a vida da gente virou de cabe-ça pra baixo. A gente chegou a dis-cutir por causa disso. Mas, se vocêconversar com ela hoje e perguntaro que aconteceu naquele dia, ela vaidizer o que sempre disse. Ela nuncafalou que tinha visto os kombeiros.

De onde ela estava sentada só davapara ver o rosto de uma pessoa”, con-tou o marido da testemunha.

Ele ainda ressaltou que toda a fa-mília teme algum tipo de represá-lia. “Ela saiu de casa justamente pa-ra não falar mais com ninguém so-bre esse caso. Já se passaram seteanos desde que as meninas forammortas e até hoje não contamos comnenhuma proteção. Chegaram até adizer que a gente tinha recebido di-nheiro pelas coisas que Regivânia fa-lou, mas isso não existiu. Nunca re-cebemos nada de ninguém”.

Assim que o GOE começou a apu-rar as mortes das duas jovens, aindaem 2003, os agentes que se passa-ram por veranistas durante as inves-tigações foram até a frente da pada-ria Porto Pão, local onde as meninasforam vistas com vida pela últimavez, conversaram com diversas pes-soas e mostraram fotos das duas. In-dagada pelos policiais, Regivânia aca-bou falando o que tinha visto sem sa-ber que aquelas pessoas eram doGOE. O depoimento então foi forma-lizado e ela passou a ser considera-da a testemunha-chave do caso.

Regivânia longe do tribunal

Novas testemunhasrejeitadas pela juízaAndrea Calado nãoaceitou pedidos dapromotoria paraconvocar o professorCarlos Fraga e o ex-promotor Miguel Sales

“Objetivo é ocultar a autoria”“ entrevista // Miguel Sales

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O recado do rei // Os conselhos Federal e regionais de Educação Fí-sica sacramentam o bombardeio contra o exercício ilegal da profissão con-vidando ninguém menos do que Pelé para ser a estrela de uma campanhatelevisiva que marca o dia desses profissionais, comemorado hoje. O maiorídolo do futebol brasileiro, que é formado pela Faculdade de Educação Físi-ca de Santos (SP), dará o seguinte recado: a prática de atividades físicas éessencial, mas sob a orientação de quem entende do assunto.

Fábricas de problemas // A propósito, se a “patrulha” do Conse-lho Regional de Educação Física da 12ª Região (CREF 12/PE-AL) ainda está coma agenda aberta, a sugestão de leitores é de que fiscalize academias do Agres-te Setentrional, onde haveria algumas delas dispostas a economizar colocandoem risco a saúde de usuários, ao abrir mão de profissionais formados.

Conversa animada // O barquinho vai, o barquinho vem e trios deagentes da CTTU e de soldados PMs – esses últimos,de bicicleta – conversamde forma tão animada,naAvenida BoaViagem,bem no horário do rush, de ma-nhã, que não é justo interromper e lembrar a eles sobre a necessidade de fis-calizar o trânsito. Muito menos de que policiamento ostensivo sem a devidapostura de vigilância e atenção não vale nada.

[email protected] urbano

Placar invertidoO comércio de armaduras (blindadas) só não prospera, no

Recife, por causa do calor, mas entre derreter a umatemperatura de mais de 40 graus e morrer de bala perdida, aprimeira alternativa parece bem mais simpática. Foi essa aconclusão a que eu cheguei depois de estar bem perto da cena doassalto a um carro do IMIP, ontem, por volta das 11h, na AvenidaAgamenon Magalhães, encerrada com tiroteio e perseguição aosladrões. Movimentado por natureza, o cruzamento ganhou aresde encruzilhada do “velho Oeste”, com pedestres atordoados pelarapidez com que tudo acontecia. Não sabiam se se jogavam nacalçada, se corriam ou se chamavam o tabelião para fazer otestamento. Mais do que nunca, a certeza era de que, apesar dapropaganda em torno dos números do Pacto pela Vida, falar emaumento da sensação de segurança, sobretudo no Recife, é colocarcarroça na frente de bois. Só para reforçar a tese, ontem, também,um veículo da Funase foi atingido por um tiro quando estavadentro da Secretaria de Desenvolvimento Social e DireitosHumanos, na Avenida Cruz Cabugá. Era outra tentativa deassalto, da qual os ladrões saíram de mãos vazias. Infelizmente, acrônica policial continua recheada de casos que dão outraimpressão sobre os níveis de criminalidade. Na tentativa decombatê-la, a polícia vive uma rotina de trabalho exaustiva, que é,o tempo inteiro, desafiada pela ousadia das quadrilhas. E elastêm se superado no planejamento e execução de crimes capazes derender muito dinheiro. Ir a bancos já virou uma tarefa de enormerisco, tão grande quanto usar cartão de crédito, porque o adventoda clonagem anda rendendo a maior vida boa aos bandidos. APolícia Civil acaba de apresentar grupo que agia em Boa Viageme levava vida nababesca, com carros de R$ 200 mil e festas emboates fechadas exclusivamente para convidados, ao preço de R$30 mil, a noitada. Diante de mais desenvolvimento trazido porSuape e indústrias instaladas em Pernambuco, há palpites de queas coisas possam piorar muito. Lugares onde circula muitodinheiro costumam atrair criminosos, inclusive de outras regiões,doidos para se dar bem sem fazer esforço. Nesse cenário, asperspectivas não são nada boas, a não ser que o serviço deinteligência das polícias passe a dar de dez a zero no dabandidagem. Por enquanto, o placar parece invertido.

LUCE PEREIRA

Polyanna Batista/Divulgação

Diretor do Hospital Júlio Alves de Lira, em Belo Jardim,Maurílio Cavalcanti Filho (D) comemora parceria com a

Fundação AltinoVentura para um mutirão de cirurgias decatarata e pterígio em 120 idosos do município.

Caso Serrambi

Piorando // Não perca as estribeiras se, no intervalo de 8 às 9h, depoisde sair de Setúbal,se encontrar naAvenida BoaViagem tentando chegar a tem-po para um compromisso na BoaVista. Da próxima, se não quiser correr ris-co de se atrasar, programe uma hora e meia de antecedência para perder notrânsito, sabendo que a tendência é a situação piorar cada vez mais.

Toque francês // Na agenda do Consulado Geral da França no Recife,as apresentações dos representantes do país na MIMO 2010.O pianista MárioCanonge, íntimo do piano desde a adolescência, que faz concerto nos dias 3 e6 (o primeiro,às 20h30,na Igreja da Sé.o segundo,às 18h30,na Basílica do Car-mo/Recife) e a moçadinha do grupo de jazz Selmer # 607,que também faz doisconcertos:dia 4 de setembro,às 20h30,na Igreja da Sé,e dia 6,às 21h,no Con-vento de São Francisco (João Pessoa/PB).

Autossabotagem // O livro O ciclo da autossabotagem é o ponto departida da palestra (gratuita) que o médico Carlos Bayma ministra na Livra-ria Jaqueira, hoje, a partir das 18h, como parte do projeto Medicina dasEmoções. Deve ajudar a entender como é difícil a vida dos autossabotado-res, levados a repetir comportamentos e relacionamentos causadores de dore estagnação. Isso em qualquer área.

Teresa Maia/DP/D.A Press

Julio Jacobina/DP/D.A.Press

Padaria,em Porto, teria sido o lugar onde vítimas foram vistas pela última vez

Um julgamento que não está sódividindo opiniões, mas a socieda-de. É assim que o advogado crimi-nalista João Olímpio classifica ojúri dos kombeiros. Especialistanum dos assuntos mais comenta-dos esta semana no estado – os de-talhes e procedimentos do tribunaldo júri -, Olímpio, professor de pro-cesso penal na Universidade Cató-lica de Pernambuco e na Escola deMagistratura de Pernambuco, par-

ticipou ontem da cobertura ao vi-vo do julgamento feita pelo diario-depernambuco.com.br e esclareceudúvidas dos internautas.

Entre os questionamentos maisapontados pelos milhares de par-ticipantes está o fato de os amigosdas adolescentes, com quem elasviajaram para passar o fim de se-mana na praia de Serrambi, nãoterem sido chamados para deporem juízo.

Por que os ditos inocentesamigos deTarsila e Eduardanão estão presentes no fórumpara testemunhar suainocência? (Júlio)Issoéumaquestãodeforo íntimodes-ses rapazes. Quem indica as pessoaspara testemunhar num julgamentoperante o júri é a defesa ou a acusa-ção. E nenhuma das partes manifes-tou o interesse de ouvir os rapazes.Além disso, a Dra. juíza pode, a qual-quer momento, no decorrer do jul-gamento, determinar, excepcional-mente, a ouvida de qualquer pessoaque possa, segundo a sua ótica, tra-zer informações que possam ser re-levantes para o julgamento dos réus,o que não ocorreu, pelo menos atéagora,nocasopresente,postoquecer-tamente os ditos depoimentos não es-tão sendo considerados importantespara o deslinde da causa.

Se o Sr. fosse o advogado dedefesa chamaria o ex-promotor

Miguel Sales para depor? (Rafael)Apesar da polêmica que envolveu aatuação do então promotor, entendoque seria válida a sua ouvida em ple-nário para que pudesse ele, na fren-te dos jurados, explicar as razões pe-las quais nunca acreditou que os ir-mãos kombeiros tenham sido os au-tores desses homicídios. A sua pala-vra perante o júri poderia causar umcerto impacto e beneficiar os réus.

A absolvição pode levar a Justiçaa determinar uma novainvestigação, já que o crimeficou sem solução? (Fábio)Sem dúvida. Se o júri entender e de-cidir que não foram os acusados, élógico que os homicídios teriam si-do praticados por outra ou por ou-tras pessoas. Nada impede, assim,que novas e novas investigações se-jam feitas para se tentar chegar aoresponsável. Todavia, posso lhe adian-tar, com a minha experiência de ad-vogado, que se os kombeiros vierem

a ser absolvidos muito dificilmenteteremos possibilidade de êxito emnovas investigações, o que poderá fa-zer com que o crime fique impune,lamentavelmente.

Qual é a principal prova que oscondena ou que os inocenta?(Ivan)Não conheço as provas no processo.Todavia, pelo que noticiou a mídia,o fato das moças terem sido vistaspela última vez entrando na Kombidos acusados e dias depois terem apa-recido mortas é algo que de certaformacomprometeosacusados,prin-cipalmente se for verdade que os ócu-los de uma das vítimas estava em po-der de um dos réus. Por outro lado,a multiplicidade de versões que to-dos nós ouvimos no decorrer de to-do esse tempo, inclusive a de que asjovens teriam sido mortas numa fes-ta com largo consumo de drogas, su-gere outras possibilidades e dúvidas,o que somente favorece os acusados.

Em que parte os jurados ficammais comovidos? Com osdepoimentos da acusaçãoou da defesa? (Carol)Não podemos afirmar a priori quaisos depoimentos capazes de mais me-xer com a emoção dos jurados. Issodepende muito do que esteja sendodito, por quem esteja sendo dito etambém da forma como esteja sen-do dito. É natural que no caso espe-cífico dos irmãos kombeiros, sendoeles, filhos naturais da terra onde es-tá sendo realizado o julgamento, econsiderando ainda que boa parteda opinião pública local entende queeles são inocentes, agregando-se tu-do isso ao fato de que os jurados sãopessoas da sociedade local, é possívelque no caso concreto, em princípio,os depoimentos trazidos pela defesapossam causar maior impacto e emo-ção nos componentes do júri.

Pode aparecer algum fato novo(como nas novelas) e alguém

resolver falar? (Luísa)Por iniciativa própria, ninguém po-de se apresentar perante um júri pe-dindo para prestar depoimento semter sido arrolado pelas partes. Toda-via, o artigo 497, inciso 11, do Códi-go de Processo Penal, confere pode-res ao juiz para determinar, de ofí-cio, ou a requerimento das partes,ou de qualquer jurado , qualquer di-ligência que possa ser tida como im-portante para o esclarecimento daverdade. Dentro dessa moldura, se-ria legalmente possível a ouvida ain-da de qualquer pessoa.

Considera os óculos deTarsila,embora não encontrados,e agravação que será exibida no júri,cujo teor remete aos óculos,prova substancial para umacondenação? (Priscila)Não entendo isso como uma provaabsoluta e capaz de, por si só, levarà condenação dos réus. Todavia,não resta dúvida de que se realmen-

te os óculos de Tarsila estavam nasmãos dos acusados ou de familiaresseus, é indício bastante forte que, so-mado a outros e outros, podem noslevar a concluir pela responsabili-dade dos acusados, no tocante àmorte das vítimas.

Caso sejam absolvidos, quais osdireitos com relação ao estado?(Juliana)É muito difícil se obter a reparaçãocivil por parte do Estado em caso des-sa natureza. A lei processual penal so-mente prevê a indenização por errojudiciário, ou seja, se eles forem con-denados, estiverem cumprindo pe-na e depois se descobrir que os mes-mos são inocentes. A prisão preven-tiva, por força da qual eles estão pre-sos, é medida prevista na lei e tida pe-lo direito como um mal necessáriodurante o processo, para acautelar ointeresse público. Por fim, não vejocomo viável reparação civil por par-te do estado, no caso presente.

A equipe do Serviço de Aten-dimento Móvel de Urgên-cia (Samu) teve muito tra-

balho ontem no Fórum de Ipoju-ca. Duas enfermeiras foram cha-madas logo no início da manhã.O motivo: uma testemunha, trêsjurados e duas pessoas da plateia,incluindo o promotor aposenta-do Miguel Sales, passaram mal. Àtarde, foi a vez da mãe de MariaEduarda Dourado, Regina Lacer-da, também ser socorrida e até le-vada ao Hospital Santo Cristo, emIpojuca, onde foi medicada e retor-nou ao fórum para acompanhar osdepoimentos dos peritos do Ins-tituto de Criminalística (IC). A tes-temunha Abedenaldo Barbosa daSilva também precisou de atendi-mento médico. Ele estava à dispo-sição da Justica a pedido do Mi-nisterio Público. No entanto, aca-bou sendo dispensado pela juízaAndrea Calado. Em comum, todoscom picos de hipertensão.

A situação mais complicada foia de Miguel Sales, que iria passara noite de ontem no Hospital Es-perança, no Recife, em virtude dohistórico do promotor aposentado,que é cardiopata e hipertenso. Sa-les ficou internado na UTI coro-nária da unidade e, na manhã dehoje, será submetido a novos exa-mes para só então receber alta. Sa-les apresentou sinais de tontura

quando os promotores questiona-vam um perito do IC sobre a ido-neidade da reconstituição feita nolocal onde as meninas teriam en-trado em uma Kombi branca.

Segundo nota oficial divulgadapela família de Sales, ele tem sequeixado de dores no peito há pe-lo menos uma semana. E esta, emparticular, foi de estresse acimada média para ele. O promotoraposentado foi por várias vezes ci-tado pela acusação e suas duas tes-temunhas, os delegados PauloJeann Barros e Cláudio Joventino,como o responsável por contur-bar as investigações e, desde o iní-cio, tentar incriminar os kombei-ros Marcelo e Valfrido Lira. Inclu-sive, o advogado de defesa JorgeWellington pediu para que ele fos-se chamado para depor no júri,por causa da frequência com quefoi citado. No entanto, a juíza nãoautorizou o pedido.

Atendimento - Logo no inícioda manhã, a esposa de Marcelo,Marilene Carvalho, teria afirma-do que o marido também estavacom pressão alta. No entanto, ainformacão não foi confirmadapela assessoria de imprensa do Tri-bunal de Justica de Pernambuco(TJPE). Os rumores do lado de fo-ra do tribunal davam conta que okombeiro teria machucado a cabe-

ca dentro do carro que o levavapara o fórum, mas também não foiconfirmado oficialmente.

- Por volta das 15h, foi a empre-sária Regina Lacerda quem preci-sou ser socorrida. Ela foi levada

para hospital no centro de Ipoju-ca, onde foi medicada e depois re-tornou para o fórum. Em meio aotumulto da manhã, o promotorRicardo Lapenda também preci-sou deixar o tribunal às pressas. O

irmão dele Cláudio Lapenda, queé oficial de Justiça e o acompanhano julgamento, também teve umpico de pressão e precisou de aten-dimento. Em menos de uma hora,os dois retornaram ao fórum.

vida urbanaC4 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, quinta-feira, 2 de setembro de 2010

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Advogado tiroudúvidas no portal

Sete passammal dentrodo fórum

HIPERTENSÃO // Caso mais grave foi odo promotor Miguel Sales, internado no Recife

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Caso Serrambi

Criminalista e internautas

Criminalista João Olímpioparticipou da cobertura aovivo do julgamento feita pelodiariodepernambuco.com.brontem à tarde

Equipe do Samu foi chamada noinício da manhã para atenderuma testemunha, três jurados eduas pessoas da plateia,incluindo o promotoraposentado Miguel Sales.À tarde, empresária ReginaLacerda, mãe de Maria EduardaDourado, foi levada para umhospital em Ipojuca.Todostiveram picos hipertensivos

Fotos: Teresa Maia/DP/D.A.Press

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O passeioComo muitas jovens da capital,

Tarsila Gusmão e Maria EduardaDourado, ambas com 16 anos, apro-veitaram o feriadão do dia 1º demaio de 2003, uma quinta-feira,para passar o final de semana nomunicípio de Ipojuca. É lá que fi-cam as praias de Porto de Galinhase Maracaípe, as mais badaladas doestado. Lugares onde “todo mun-do”, leia-se adolescentes de classemédia alta, se encontra. Popular,Eduarda recebeu um dia antes oconvite para ficar hospedada nacasa de veraneio de um amigo, emSerrambi, praia um pouco maisafastada do point. Nessa idade, acompanhia da melhor amiga é im-prescindível. E Eduarda não hesitouem levar Tarsila, sua amiga há cer-ca de dois anos, para a viagem.

Elas se conheceram por meio deamigos em comum numa tarde desábado, no Shopping Center Reci-fe, e moravam próximas, na ZonaSul. Eduarda vivia com a famílianum apartamento à beira-mar dePiedade, em Jaboatão dos Guarara-pes, enquanto Tarsila morava coma mãe, Alza Gusmão, num prédioem Setúbal, bairro localizado naZona Sul do Recife. Desde que se co-nheceram, as duas ficaram muitopróximas. Segundo os amigos e fa-miliares, Tarsila era mais reserva-da enquanto Eduarda era mais es-pontânea e colecionava amizades.Tarsila era estudiosa e tirava boasnotas na escola. Já Eduarda é clas-sificada pelas antigas professorascomo uma aluna mediana.

Além das idas ao centro de com-pras, ela e a amiga também costuma-vam frequentar a matinê da hojeextinta boate Fashion Club, locali-zada no bairro de Boa Viagem. Ocomportamento delas, de acordocom colegas de classe, não era dife-rente das outras adolescentes de suaclasse social. As duas seguiram pa-ra Serrambi com o grupo de jovensno dia 2 de maio, uma sexta-feira àtarde. Embora alguns dos hóspedes,inclusive o dono da casa, fossemmaiores de idade, não havia a pre-sença de pais para controlar os ho-rários ou mesmo as programações.

Era definitivamente um fim desemana de jovens. O último fim desemana de Tarsila e Maria Eduarda.Na mesma noite em que chegarama Serrambi, o anfitrião promoveuum churrasco com seus 14 convida-dos no jardim da casa ampla, nabeira da piscina. Uma festinha re-gada a bebida alcoólica que entroupela madrugada. Segundo informa-ções dos vizinhos, nada que chegas-se a incomodar ou fosse diferentede outras comemorações realiza-das no condomínio. Na manhã se-guinte, no dia 3 de maio de 2003,o grupo fez um passeio de lanchade Serrambi até o Pontal de Mara-caípe. As duas adolescentes foramcaminhar por Maracaípe. O combi-nado, no entanto, era de que todosos hóspedes da casa deveriam vol-tar ao Pontal, no final da tarde, pa-ra retornar a Serrambi. Até a horamarcada, de acordo com os ami-gos, nem Tarsila nem Maria Eduar-

da estavam lá. O grupo, então, se-guiu. Daí para frente, o que se sa-be são suposições e informações re-passadas por testemunhas que afir-maram ter visto as duas garotas emtrechos de Porto de Galinhas.

Uma pista de que elas passarampelos bares da Cris e da Mônica sãoas sandálias de ambas, que foramdeixadas no segundo estabelecimen-to. Sete anos depois, ainda não foidescoberto o motivo pelo qual as jo-vens deixaram as sandálias. A últimafoto das meninas, e mais emblemá-tica do caso, foi tirada ao acaso porum rapaz que fotografava, da areia,o desempenho do irmão numa pran-cha de surfe. Pelo semblante regis-trado é possível perceber duas me-ninas bonitas, que chamavam a aten-ção. Até mesmo de desconhecidos,como o fotógrafo amador. Tarsilaparecia segura, serena e mais velhaque seus 16 anos. A amiga tinha umar inocente, mas também pareciamais velha do que era realmente.

Eduarda tinha telefone celular echegou a falar com o pai, segundoele, na manhã do dia 3 de maio. Nodia seguinte, era o aniversário do em-presário Antônio Dourado e a filhatinha garantido que estaria em casaa tempo da comemoração, num diade domingo. Mas é provável que elatenha deixado o aparelho na casados amigos. Sem encontrar ninguémno Pontal, as meninas seguiram pa-ra o centro de Porto de Galinhas. Noinício da noite, ligaram para os ami-gos de um telefone público. Nas pri-meiras investigações, falava-se queEduarda teria dito que dormiria nacasa de uma amiga, conhecida co-mo Juliana. Depois, a versão mudou.O telefonema seria para que eles fos-sem buscar as duas na cidade.

A caronaAs meninas saíram de Maracaípe

com destino ao centro de Porto decarona com um amigo recifense,que foi interrogado mas não acres-centou novidades. Na época, poli-ciais do Batalhão Rodoviário che-garam a informar que as duas me-ninas tinham sido vistas na estra-da de Maracaípe, a bordo de umveículo Peugeot de cor prata, ao la-do de dois rapazes, com sotaque su-lista. Um deles, disse o agente, tinhauma tatuagem com o desenho deuma clave de sol no braço direito.Mas o fato é que Eduarda e Tarsiladecidiram chegar até Serrambi porconta própria, pedindo carona auma Kombi. Isso é o que garanti-ram duas testemunhas.

Uma delas é Regivânia Maria daSilva, dona de casa que morava apoucos metros do local onde as me-ninas foram vistas pela última vez,em frente à padaria Porto Pão. A ou-tra é o comerciante Abedenaldo Bar-bosa da Silva, dono de uma lan-hou-se próxima à padaria. Ambos dizemter visto as duas adolescentes paran-do uma Kombi lotação. Regivâniadá descrições do veículo semelhan-tes a dos irmãos Marcelo e ValfridoLira, o que municiou a polícia, diasdepois, a apontar os dois como sus-peitos pela autoria do crime.

A dona de casa cita detalhes docarro, como um para-choque ver-de, e das meninas, como porexemplo uma tornozeleira usadapor Tarsila que, inclusive, foi cru-cial para a identificação dos cor-pos das meninas, dez dias depois.Abedenaldo, no entanto, disseque a Kombi que elas pegaramera de um modelo mais novo quea usada pelos irmãos Lira. Depoisdessa viagem, as duas jovens nãovoltaram mais. O desaparecimen-to das jovens foi registrado pelosamigos na Delegacia de Porto deGalinhas. Os pais das meninastambém foram procurados e in-formados.

O sumiçoMaria Eduarda e Tarsila foram

dadas como desaparecidas na noi-te do dia 3 de maio de 2003. O che-fe da Polícia Civil na época, AníbalMoura, cogitou a possibilidade desequestro, embora não houvesse pe-dido de resgate às famílias. Ele in-formou, num primeiro momento,que também trabalhava com a hi-pótese de as adolescentes terem fu-gido de propósito, para assustar ospais. O motivo, segundo Moura, se-ria chamar a atenção, já que os paisdas duas jovens são separados.

A suposta colega, que abrigaria as

meninas durante a noite de sábado,sequer foi intimada ou mesmo iden-tificada pela polícia. Os rapazes queteriam dado carona às garotas nun-ca foram achados para prestar es-clarecimentos. Os outros hóspedes dacasa onde elas estavam em Serram-bi, no entanto, foram ouvidos.

Foram dez dias de desapareci-mento. Sem que a polícia sequer ti-vesse um retrato falado ou mesmoindicação de suspeitos. As famíliasdas jovens chegaram a criar um si-te na internet pedindo que as pes-soas que soubessem algo sobre oparadeiro das jovens informassemno espaço virtual. Hoje, os policiaiscreditam os diversos boatos a respei-

to do caso em virtude deste site.Qualquer pessoa poderia, sem seidentificar, prestar informações.

No Recife, uma tensão se espalha-va na classe média. Missas foramrealizadas em intenção das garotas.Amigos, colegas de classe e familia-res se juntaram e cobraram provi-dências às autoridades. Nas ruas,uma pergunta no ar: o que aconte-ceu com Tarsila e Maria Eduarda?

A certezaFiliado à Federação Pernambuca-

na de Motociclismo, o pai de Tar-sila, o comerciante José Vieira, de-cide fazer uma busca de moto pa-ralela à realizada por quatro equi-pes do Grupo de Operações Espe-ciais (GOE) na área onde as meni-nas desapareceram. Às 12h40 dodia 13 de maio de 2003, Vieira en-contra dois corpos num caminhode terra do Engenho Jenipapo, a100 metros do KM-6 da rodovia PE-051, que liga Camela (distrito deIpojuca) a Serrambi. Apesar doadiantado estado de decomposi-ção, uma pulseira prateada ajudana identificação de Tarsila.

Ela e a amiga estavam deitadaspróximas uma da outra, de bruços,com os mesmos trajes que usavamquando foram vistas no final da tar-de do dia 3 de maio, no Bar da Cris,em Maracaípe. As partes de baixodos biquínis estavam arriadas abai-xo dos joelhos, indicando a possibi-lidade de violência sexual. Um pro-jétil de revólver foi encontrado per-to dos corpos. Numa avaliação pre-liminar feita pelos peritos do Insti-tuto de Criminalística (IC), as duasjovens foram assassinadas com ti-ros na cabeça. Assim que chegou aolocal, o pai de Tarsila acionou o 18ºBatalhão da Polícia Militar (BPM),sediado em Ipojuca, que deslocouseis viaturas para isolar a área.

O incrível é que os policiais, espe-cializados, não tinham materialapropriado para fazer o isolamentoe, dessa forma, demarcar as provasdo crime. Um pedaço de pano trazi-do por José Vieira substituiu as fi-tas oficiais. Depois disso, as famíliasforam comunicadas. Só parentes eperitos tiveram acesso à estrada deterra que levava ao canavial onde oscorpos foram achados. A retiradados restos mortais de Tarsila e Eduar-da terminou por volta das 15h30. Oúltimo a sair foi José Vieira, queacompanhou a viatura do Institutode Medicina Legal (IML) até o Reci-fe. Chorava copiosamente. A pulsei-ra prateada que ajudou na identifi-cação da filha foi um presente seu.

Pela primeira vez desde o desa-parecimento das adolescentes, apolícia admite que elas podem tersido vítimas de uma carona queacabou de forma trágica. “O veícu-lo que teria levado as amigas ao lo-cal da morte pode ter sido umaKombi, não necessariamente umcarro de lotação”, afirmou o dele-gado José Silvestre, primeiro res-ponsável pelo caso. Segundo ele, operfil psicológico das adolescentesapontava que elas eram abertas acontatos com estranhos.

vida urbanaC4 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, sábado, 4 de setembro de 2010

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Um passeioque acabouem tragédiaJovens, cheias de vida, Maria Eduarda Dourado e

Tarsila Gusmão saíram de casa para passar o

feriadão de 1º de maio com um grupo de amigos

na Praia de Serrambi. Foram encontradas mortas

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Caso Serrambi

memória do caso

No dia 2 de maio de 2003, Maria Eduardae Tarsila Gusmão seguiram para um finalde semana numa casa de praia emSerrambi com um grupo de amigos

Na noite desse mesmo dia, as duas jovensparticiparam de um churrasco com outrosamigos na casa de praia onde estavamhospedadas

No dia seguinte, um sábado, o grupo saiupara um passeio de lancha até a praia deMaracaípe, ao lado de Porto de Galinhas.Todos os jovens estavam alegres

No final da tarde, o grupo se reuniu paravoltar a Serrambi.Apenas Maria Eduardae Tarsila não retornaram com os demaisamigos

Os amigos de Eduarda e Tarsila chegarama Porto de Galinhas e não as encontram.Eles procuraram a polícia e registraramo desaparecimento das duas

No dia 13 de maio de 2003, os corpos dasduas jovens foram encontrados pelo paide uma delas, em um canavial, no distritode Camela, em Ipojuca

No dia 18 de maio, os agentes civisprenderam os irmãos kombeiros apósrealizarem operações em Ipojuca e emCachoeirinha

No dia 21 de julho de 2003 os irmãosMarcelo eValfrido Lira foram soltos porfalta de provas.Ambos foram recebidos comfesta pelos moradores de Camela

No dia 1º de janeiro de 2008, o kombeiroMarcelo José de Lira foi preso pela políciadepois que os promotores solicitaram aprisão dos dois irmãos

No dia seguinte, o kombeiroValfrido Lirada Silva se apresentou à polícia, depoisde passar um dia considerado foragidoda Justiça

Alcione Ferreira/DP/D.A Press Jaqueline Maia/DP/D.A Press

Alcione Ferreira/DP/D.A Press Jaqueline Maia/DP/D.A Press

As meninas procuraram um telefone públi-co e ligaram para o dono da casa ondeestavam hospedadas pedindo que ele asfossem buscar em Porto

Uma testemunha afirmou à polícia ter vistoas duas adolescentes entrando em umaKombi branca de para-choque verde

vida urbanaC4 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, Recife, domingo, 29 de agosto de 2010

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Luta de classes no tribunalFórum de Ipojuca, que tem espaço para apenas 90 pessoas, vai abrigar o julgamento mais esperado desta década

TESTEMUNHAS // Personagens importantes que contribuíram nasinvestigações sobre o duplo assassinato ficaram de fora do julgamento

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A s investigações sobre o as-sassinato de Maria Eduar-da Dourado e de Tarsila

Gusmão não se resumem apenasa vítimas e a culpados. O Caso Ser-rambi ficou conhecido tambémpor alguns personagens-chaves epolêmicos.Quem não lembra dastrocas de acusações entre o dele-gado e então chefe da Polícia Ci-vil de Pernambuco, Aníbal Moura,e o promotor de Ipojuca, hoje apo-sentado, Miguel Sales? E a revira-volta provocada por Regivânia daSilva, considerada testemunha fun-damental do caso após contar tervisto as adolescentes entrarem emuma Kombi branca de para-cho-que verde, identificada como sen-do o veículo dos irmãos kombei-ros? E onde foi parar Tiago Alen-car Carneiro da Silva, dono da ca-sa de praia em Serrambi onde asadolescentes ficaram hospedadasno fim de semana que morreram?Nenhuma dessas pessoas, no en-tanto, foi convocada a participardo julgamento como testemunha.Da mesma forma, as supostasamantes dos kombeiros, AurileteCunha e Edna da Silva, que teriamsido vistas com os óculos perten-centes a Tarsila Gusmão, foramdeixadas no limbo.

Fontes da Polícia Civil, por exem-plo, destacam que pelo menos osdepoimentos das três mulheres se-riam decisivos para a acusação doMinistério Público de Pernambuco(MPPE) por conta da riqueza de de-talhes contida nos depoimentosfeitos aos investigadores, à época.Quanto a Miguel Sales, por quenão ouvi-lo sobre os motivos queo levaram a devolver, por quatro ve-

zes consecutivas, o inquérito in-vestigado pelas polícias Civil e Fe-deral? Numa briga particular en-tre ele e o então chefe da Polícia Ci-vil, Aníbal Moura, ambos levaramao limite as trocas de acusações.

Sales alardeou que as provasapresentadas no inquérito eraminsuficientes e que não levariam àcondenação dos kombeiros. Aní-bal Moura, por sua vez, rebatia queo ex-promotor queria apenas sepromover politicamente. Nessaseleições, Sales concorre a uma va-ga a deputado federal. Na últimaquarta-feira, em matéria publica-

da pelo Diario de Pernambuco, osdois voltaram a trocar farpas, repe-tindo o mesmo tom de acusaçõesdo passado. O desentendimentoentre eles chegou a tal ponto quea acusação promete revelar, duran-te o julgamento, uma gravação on-de Miguel Sales conversa e orien-ta um dos acusados, Valfrido Lira,a como se portar diante da políciapara não cair em contradições.

Estratégia da acusação - A acu-sação decidiu assumir a estraté-gia de colocar no rol de testemu-nhas apenas os relatos de delega-dos que apuraram o caso, entreeles o cearense Cláudio Joventino,um policial federal que veio ao es-

tado com a tarefa de apurar o in-quérito, na época, devolvido pelasegunda vez por Miguel Sales. Tam-bém foi convocado o delegado Pau-lo Jeann Barros, indicado pelo pró-prio promotor Sales para apurarpela quinta e última vez a mortedas adolescentes. Uma terceira tes-temunha dos promotores, o dele-gado José Silvestre, que na épocaera chefe do Grupo de OperaçõesEspeciais e foi o primeiro a apuraro duplo homicídio, ficou de forado júri porque alegou que está fa-zendo um curso e não pode au-sentar-se das aulas.

Se a lista de testemunhas doMPPE tem apenas duas pessoas, ade defesa tem um total de dez con-vocados, a maioria moradores deIpojuca, onde aconteceu o crime.Entre os listados para contar aosjurados o que sabem sobre a vidados irmãos Lira, estão funcionáriosda capotaria para onde Marcelo Li-ra teria levado a Kombi para con-sertar no dia do crime, além dekombeiros que conheciam os réus.

Outras testemunhas são um ca-seiro da residência vizinha à deTiago Carneiro, o defensor públi-co que atuou junto aos acusadospor cinco anos, além de um auxi-liar de perito do Instituto de Cri-minalística, que teria fotografa-do a cena do crime no canavial. Se-gundo informações de fontes daJustiça, o depoimento do peritoMarcos Ley D’Assunção deverá sero mais polêmico, já que ele su-postamente deve dar detalhes so-bre os objetos encontrados juntoaos corpos na cena do crime. En-tre eles, um barbeador, fios de ca-belo e papéis de bombons.

O Caso Serrambi virou uma dis-puta de classes. Desde a conclusãodo primeiro inquérito policial, ain-da em junho de 2003, o resultadoapresentado não conseguiu con-vencer muita gente. Em meio aosboatos e provas que foram colhi-das, várias dúvidas ficaram no ar.O que se fala até hoje é que os doisacusados estão pagando por umcrime que não cometeram, no lu-gar de supostos assassinos que se-riam amigos das vítimas e de clas-se média alta.Especialistas ouvidospelo Diario acreditam que de cer-ta forma o corpo de jurado pode serinfluenciado por essa vitimização,o rico contra o pobre, o que seriaum erro, segundo eles.

Na opinião da socióloga da Fun-dação Joaquim Nabuco RonidalvaAndrade, todas as dúvidas e suposi-ções criadas sobre o crime estão di-

retamente ligadas à falta de credi-bilidade que a sociedade tem da po-lícia. “Essa reação social em tornodo Caso Serrambi se deve ao fato daaproximação de classes sociais dis-tintas. Não é comum as pessoas declasses mais abastadas se aproxima-rem de pessoas de nível social maisbaixo”, explicou a socióloga, refe-rindo-se ao fato das adolescentes te-rem entrado na Kombi.

Para ela, a opinião pública aceitamais facilmente a história de que asmeninas teriam morrido duranteuma festa onde só havia gente rica.A polícia investigou essa hipótese,que corre até hoje na internet, masnão obteve provas. Ronidalva prefe-riu não arriscar um palpite para oresultado do julgamento, mas ressal-tou que, no geral, a sociedade sem-pre vê o pobre como injustiçado.

Já o advogado criminalista e pro-

fessor de direito penal da Universi-dade Católica de Pernambuco JoãoOlímpio Mendonça também con-corda que o júri popular pode ser in-fluenciado pelo sentimento de em-bate social. Ele lembra, no entanto,que os jurados fazem um compro-misso de servir à causa de formaimparcial. “Não conheço o proces-so do Caso Serrambi, mas não há dú-vidas de que o sentimento social écapaz de repercutir entre os jura-dos. Essa questão de classe, na ver-dade, não deveria ser levada em con-ta”, finalizou João Olímpio. Os setejurados são funcionários públicosde Ipojuca, onde o crime aconteceu.Temendo que o resultado do júripoderia ser influenciado por essaquestão, o Ministério Público ten-tou sem sucesso o desaforamentodo julgamento para o Recife, mas te-ve o pedido negado pela Justiça.

Caso Serrambi

Aníbal MouraNa época do crime, o delegadoera chefe da Polícia Civil e aolongo da investigação entrou emconflito com o promotor docaso, Miguel Sales

Miguel SalesPromotor de Ipojuca na época docrime, Sales devolveu o inquéritosobre o Caso Serrambi quatrovezes, provocando um verdadeiromal-estar entre Polícia eMinistério Público de Pernambuco

Regivânia da SilvaConsiderada testemunha-chave pela Polícia Civil, a donade casa contou ter visto MariaEduarda e Tarsila entrarem emuma Kombi branca de para-choque verde, que foiidentificada como sendo oveículo dos irmãos kombeiros

Tiago AlencarCarneiro da SilvaDono da casa da praia emSerrambi, onde as adolescentesestavam hospedadas,Tiago fezum churrasco onde Tarsila eMaria Eduarda consumirambebida alcoólica.Terminouindiciado pela Polícia Civil porter oferecido bebida a duasmenores de idade

Aurilete Maria doNascimento Cunha(Tiana)Amante de Marcelo Lira naépoca do crime, teria sido vistacom um par de óculospertencente a Tarsila

Edna Maria daSilva (Pepê)Amante deValfrido, tambémteria sido vista usando o parde óculos de Tarsila

Delegado CláudioJoventinoCearense, o delegado da PolíciaFederal veio ao estado com atarefa de apurar o inquéritosobre o Caso Serrambi,devolvido pela segundavez pelo MPPE

Delegado PauloJeannDelegado da Polícia Civilespecializado em Homicídios,Jeann foi indicado pelo própriopromotor Miguel Sales paraapurar pela quinta e última veza morte das adolescentes

José Alexandredos SantosDono de uma capotariaem Camela, onde Marcelo Liradiz ter colocado a Kombi paraconsertar no dia do crime

AbedenaldoBarbosa da SilvaA testemunha disse ter ouvidoMaria Eduarda comentar queprecisava de uma carona paraSerrambi. Na ocasião, eletrabalhava em um playtime emPorto de Galinhas

José Nildo da SilvaMorador de Camela na épocado crime, trabalhava na mesmacapotaria onde Marcelo alegouter deixado a Kombi paraconserto no dia da morte dasduas jovens

Roberto Ferreira daCunha JuniorCobrador de Kombi, trabalhavaem Ipojuca e também fazia partedo círculo de amizades dosdois irmãos Lira

Paulo FelicianoDinizConhecido como“Abençoado”, é motoristade Kombi e amigo dos irmãosMarcelo eValfrido Lira

Edivaldo Josédos SantosA testemunha contou à políciaque viu uma Kombi no canavialonde os corpos das duas jovensforam encontrados

Antônio José Diasda SilvaDono de duas Kombis lotação,que também faziam parte dotransporte alternativo emIpojuca, convivia com os doisirmãos

Marcos LeyD’AssunçãoAuxiliar de perito do Institutode Criminalística (IC) fez asfotos no canavial onde oscorpos foram encontrados jáem decomposição

Luiz SebastiãoLuiz Pretinho é caseiro de umimóvel vizinho à casa de Tiago edisse ter visto as adolescentesna casa na mesma noite docrime, o que significa que elasnão poderiam estar na Kombinesse mesmo horário

José FranciscoNunesDefensor público lotado nomunicípio de Ipojuca, foi umadas quatro pessoas a defenderos irmãos kombeirosMarcelo eValfrido Lira

Testemunhas de defesa:

Testemunhas de acusação:

Quem ficou de fora

Teresa Maia/DP/D.A Press

Miguel Sales eAníbal Moura, porexemplo, não vão

A lista dos excluídosno julgamento

Q uem não pode acompanharao vivo um dos julgamen-tos mais polêmicos e aguar-

dados da história da Justiça pernam-bucana, está aproveitando a cober-tura especial montada pelo www.dia-riodepernambuco.com.br para saber detodos os detalhes do processo quedeve selar o desfecho de uma dos ca-sos policiais de maior repercussãono estado. Desde a segunda-feira,quando começou o júri do Caso Ser-rambi, milhares de internautas vêmparticipando da transmissão emtempo real alimentada pela equipedo portal e transformando a cober-tura em um grande fórum de dis-cussões – muitas vezes acaloradas -sobre o julgamento dos irmãos Mar-celo e Valfrido Lira.

Além de acompanhar tudo o quevem acontecendo no Fórum de Ipo-juca – com textos, fotos e vídeostransmitidos em tempo real, os lei-tores aproveitam para trocar opi-niões sobre o caso. No segundo diado julgamento, as discussões sobrea autoria do crime, a atuação da po-lícia e os rumos dos depoimentos de-ram o tom do debate. Se por um la-do muitos demonstram acreditarna conclusão do inquérito, queaponta os irmãos kombeiros comoautores das mortes, vários depoi-mentos colocaram o trabalho da po-lícia e da Justiça à prova e contesta-ram as evidências de autoria do cri-me apresentadas. Hoje à tarde, o ad-vogado João Olímpio vai responderàs dúvidas dos internautas.

Em alguns momentos, à medidaem que as informações dos depoi-mentos eram colocadas no ar pelaequipe de reportagem do portal, adiscussão tomou fôlego, como ocor-reu depois da divulgação de que umadas testemunhas arroladas pela defe-sa afirmou em depoimento que o pa-ra-choque da Kombi na qual as me-ninas entraram era branco e não ver-decomoodoveículodeMarceloeVal-frido Lira. Outra declaração bastantecomentada foi a do vigilante de umacasa vizinha à que as adolescentes es-

tavam hospedadas. À justiça, ele afir-mou que não se lembrava de quan-doviu,emumbaremSerrambi,umamenina loura e uma outra morenadescendo de um carro cinza. No en-tanto, em depoimento à Polícia Fe-deral, ele afirmou que teria presen-ciado a cena no dia 3 de maio (mes-mo dia em que as adolescentes te-riam desaparecido e sido mortas).

Para alguns internautas maisexaltados, a cobertura se transfor-mou em espaço de protesto. Houvequem tachasse as provas apresenta-das pela acusação como absurdas eprotestasse contra opiniões de ou-tros participantes que se diziam

convencidos da culpa dos réus. Dolado oposto, vários leitores se ma-nifestaram em favor da condena-ção dos kombeiros, convictos deque, com isso, se encerrarão as po-lêmicas que contornam o caso.

Omomentodasentença,quesóde-ve ser pronunciada amanhã, um diaapós o prazo previsto para o encer-ramento do julgamento, já está ge-rando grandes expectativas. A com-posição do corpo de jurados, a penaa que os réus podem ser condena-dos e informações sobre a formalida-dedadecisãoforamalgunsdosassun-tos mais comentados do dia.

Muitas dúvidas sobre os detalhesdo crime e do julgamento tambémtêm sido expostas pelos internau-tas e esclarecidas pela equipe de re-portagem. Entre os pontos maisquestionados ontem estava o fatode os corpos das adolescentes teremsido localizados pelo pai de Tarsila,o comerciante José Vieira, e a nãoconvocação dos amigos que viaja-ram para Serrambi com MariaEduarda e Tarsila para testemunharem juízo. Uma das provas apontadascomo mais contundentes no proces-so - os óculos escuros de Tarsila queteriam, segundo a acusação, sidovistos na kombi dos dois acusados– também foi alvo de muitos ques-tionamentos dos participantes.

vida urbana Recife, quarta-feira, 1º de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C5

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HOME (1)Na capa do hotsite, um clique levao internauta para dentro de umaferramenta que permite ler e participarda cobertura feita em tempo real, diretodo Fórum de Ipojuca.A sala dedebates – frequentada por milhares deinternautas nestes dois dias – é abertatodos os dias às 7h e encerrada apenasquando acaba a sessão do julgamento.Todos os repórteres envolvidosna cobertura postam informaçõesna mesma plataforma, ondetambém respondem às dúvidasdos internautas.Ao lado, uma janela de vídeo de ondeão transmitidas imagens ao vivo,direto do Fórum, os vídeos gravadoscom as entrevistas e os resumos do dia.

OS PERSONAGENS (2)Traz os perfis dos principais envolvidos noCaso Serrambi. São informações sobre asvítimas, os réus e os envolvidos nainvestigação e na esfera judicial do caso.

O ENREDO (3)Em forma de storyboard, o link traz anarrativa do que aconteceu durante todo odia 3 de maio, quando Tarsila e MariaEduarda desapareceram, de acordo com oque consta nos autos do processo, e nos diasseguintes à investigação.As ilustrações efotografias cobrem também momentosimportantes do caso, como a prisão deMarcelo eValfrido Lira e a soltura deles.

O DESFECHO (4)Aqui, o internauta fica sabendo detalhes

sobre o que está acontecendo no julgamento,que argumentos vão usar a defesa e aacusação, como funciona um júri popular equem são as testemunhas convocadas porambas as partes.Aqui também está acobertura dos dois primeiros dias deacontecimentos no Fórum de Ipojuca.

CRONOLOGIA (5)Com ampla cobertura nas páginas impressasdo Diario, o Caso Serrambi ocupa asmanchetes desde 2008. Neste link, ointernauta encontra as principais reportagenssobre o caso, tal qual foram publicadas naépoca dos fatos. É um arquivo eletrônico queregistra toda a cobertura.

GALERIA DE FOTOS (6)Traz as imagens mais marcantes do caso.

São fotos de arquivo das vítimas, dosfamiliares e os principais registros dosfotógrafos do Diario em momentosmarcantes, como a prisão dos irmãosMarcelo a Valfrido Lira, as apresentaçõesdos inquéritos, os passos das investigaçõese as reações dos familiares de vítimas eréus em várias fases do caso.

GALERIA DE VÍDEOS (7)A galeria traz todos os vídeos feitos àsvésperas do julgamento, e durante osdois dias de sessões. Entre os entrevistados,o ex-promotor Miguel Sales, os pais dasadolescentes e personagens polêmicosdo processo. Os vídeos tambémtrazem resumos do dia, feitospelos jornalistas do Diario e daTV Clube que participam da cobertura.

Leitores opinam sobre ocaso no portal do DiarioDesde o início do júri popular, milhares de internautas têm acessado o site diariamente para comentar

Jornal está comtransmissão diretodo Fórum de Ipojuca

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Caso Serrambi

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O que dizemos internautas

[Comentário de Carla]“É fácil colocar a culpa total em duas cria-turas que talvez tenham até participadodo crime, dando um sumiço nos corpos,ou pelo menos tentado dar...Mas o que to-dos sabemos é que ninguém tem provapara incriminá-los. Os exames não foramsuficientes. Se levaram tiro, cadê a arma? “

[Comentário de Lilian]“Embora eu discorde totalmente, o tribu-nal do júri nada mais é que uma demons-tração de democracia, deixar que o povodecida aquilo que é praticado contraele...Mas já sabemos que desde os primór-dios essa prática não é a mais justa vale lem-brar que Cristo foi condenado pelo povo”

[Comentário de Rose]“Interessante que puseram este inquéritopara frente para trás, e não encontraramprovas contra os kombeiros,papel de bom-bom, não vale, estojo piorou, fio de cabe-lo hum não deu...”

[Comentário de Jonas]“Na minha opinião,sendo júri popular,o cla-mor da população pesa.A acusação terá queser bem convincente para condená-los”

[Comentário de Maria]“Quem tiver dúvida leia os autos mas nãofiquem inocentando esses caras, que real-mente tudo leva a crer que cometeramessa barbárie com as meninas, são provase mais provas muito fortes contra eles”

www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/especiais/caso_serrambi

diariodepernambuco.com.brveja o especial sobre o caso no:

Reviravoltas

No dia 18 de junho, o então pro-motor de Ipojuca, Miguel Sales, afir-mou que iria denunciar Marcelo eValfrido Lira por assassinato e aten-tado violento ao pudor. Três diasdepois, no dia 21 de junho de 2003,Sales voltou atrás e encaminhou àjuíza da Comarca de Ipojuca, Ilde-te Veríssimo, o pedido de devolu-ção do inquérito policial. O docu-mento de cinco páginas solicitavadiligências complementares e a to-mada de depoimentos de pessoas ci-tadas nas investigações. Estas pes-soas eram, principalmente, amigosde Tarsila e Eduarda que estavamem Serrambi. Ele afirmou que nãohavia indícios suficientes para acu-sar os kombeiros.

Após 62 dias de prisão, na cadeiada sede do Grupo de Operações Es-peciais (GOE), os kombeiros foramsoltos e voltaram para casa. Em Ipo-juca, onde vivem, os Lira foram re-cebidos com festa e foguetório porvizinhos e parentes. Os dois afir-maram ser inocentes e disseramque a polícia cometeu um erro aoapontá-los como os autores do cri-me. Surgem na cidade versões deque os irmãos estavam sendo usa-dos como bodes expiatórios.

No dia 18 de novembro de 2003,peritos do IC exumaram os cadá-veres das estudantes para a reali-zação de exames químicos e toxi-cológicos. A exumação e mais 15perícias foram recomendadas pe-lo Ministério Público e acatadaspela juíza de Ipojuca. Um ano de-pois da Secretaria de Defesa So-cial apresentar oficialmente os ir-mãos kombeiros como os assassi-nos das adolescentes, dia 16 de ju-nho de 2004, exames de DNA rea-lizados em São Paulo, apontaramque o comerciante José Vieira e aex-mulher dele, Alza Gusmão, nãosão os pais biológicos de Tarsila.Após um novo exame, foi confir-mado que Alza e José Veira são ospais de Tarsila. A mãe de Eduarda,Regina Lacerda, diz que desconfiadas investigações.

No dia 2 de setembro de 2004,parecer emitido pelos peritos Ge-nival França e Domingos Tochettoa partir dos resultados das períciassolicitadas pelo MPPE desmente pra-ticamente todos os indícios apre-sentados pela polícia para apontaros irmãos Lira comos responsáveis.

vida urbana Recife, sábado, 4 de setembro de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C5

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O pai deTarsila, JoséVieira (E)e os pais de Maria Eduarda, ReginaLacerda e Antônio Dourado,sepultaram as filhas no Cemitériode Santo Amaro

Investigações e dor para os paisXXXXXX // Mkjn mkjnmkjn mkjn mkjn mkj nmkj nmk jnmk jnm kjnm

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Os suspeitos

No dia 20 de maio de 2003, a po-lícia apresenta os irmãos Valfrido Li-ra da Silva, 35 anos, e Marcelo Joséde Lira, 34, como principais suspei-tos de assassinar as estudantes. Elesforam presos por equipes do GOE,no início da tarde. Os nomes dos ir-mãos kombeiros vieram à tona de-pois do depoimento de Regivânia.A testemunha disse ter visto as jo-vens entrando numa Kombi comas características da usada por Mar-celo, relatando, inclusive, que elasteriam passado por cima das pernasde um dos ocupantes, o que estavano banco do passageiro. Os irmãosacusados, no entanto, negaram en-volvimento com o crime.

As estudantes sentaram-se entreos dois. Segundo Regivânia, não ha-via mais passageiros. Com base nes-sas informações, a polícia fez dili-gências em Ipojuca, interrogandoos motoristas de lotação que circu-lam na área. Um funcionário deum play-time próximo a PadariaPorto Pão disse ter visto as meni-nas entrando em um carro e nãoem uma Kombi. Nas investigações,há também depoimentos de kom-

Os indícios

No dia 23 de maio, a polícia in-forma que está investigando umaterceira pessoa suspeita de partici-pação no assassinato de Tarsila eMaria Eduarda. A possibilidade, noentanto, não foi adiante com o pas-sar dos anos. Os peritos Antônio Ne-to e Edvaldo Uchôa encontraramcinco fios de cabelo, no interior daKombi usada pelos irmãos. Os fioscastanho-claros foram levados aoIC. Também foram achados no veí-culo embalagens de bombons idên-ticas às que estavam no canavialem Camela, onde os corpos foramencontrados. O veículo estava semo banco traseiro, conforme relatoua testemunha que viu as garotassentarem no banco dianteiro, ao la-do dos kombeiros.

A amante de Marcelo, conheci-da como Tiana, disse à polícia queesteve com ele na tarde do dia 3 demaio de 2003, data em que as ado-lescentes desapareceram e na tardedo domingo, dia 4 de maio. Ela afir-mou que se relaciona com o kom-beiro há 11 anos, ou seja, desde quetinha apenas 14 anos de idade. Como depoimento, a amante e a espo-sa de Marcelo, Marilene Carvalho dePaula, afirmam à polícia que esti-veram com ele à tarde e, depois, ànoite, no dia do desaparecimento,fechando a “agenda” do suspeito. Se-gundo Marilene, os cabelos encon-trados na Kombi eram de Tiana.Apesar da denúncia, Tiana é more-na e os fios são negros e não casta-nho-claro como os encontrados.

No dia 28 de maio de 2003, apolícia pede a quebra do sigilo te-lefônico do orelhão localizado emfrente à padaria Porto Pão, ondeas adolescentes foram vistas poruma testemunha.

Caso Serrambi

A comoção

No dia 14 de maio de 2003, Tar-sila e Maria Eduarda foram enter-radas. Dez minutos separaram oscortejos das amigas, no Cemitériode Santo Amaro, Zona Norte do Re-cife. Emocionado, o pai de MariaEduarda, Antônio Dourado pediuque o GOE investigasse todos os queestavam na casa de Serrambi. Naépoca, ele alertou os pais de filhosadolescentes para que eles os acom-panhassem mais de perto. A políciainformou que já estava trabalhan-do para localizar os suspeitos.

Investigação

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Regivânia disse ter visto jovens entrando em uma Kombi de para-choque verde

beirosinformando que os dois ir-mãos, coincidentemente, desapa-receram do município dias depoisda divulgação do crime. Os poli-ciais descobriram que Marcelo nãotinha carteira de habilitação nemautorização para fazer lotação. Porisso, os irmãos costumavam traba-lhar à noite, exatamente no horá-rio em que as duas garotas teriamsido vistas pegando o veículo.

De acordo com as investigações,Marcelo teria fugido para Cachoei-

rinha, no Agreste, levando a Kom-bi que trabalhava. A polícia tam-bém descobriu que Marcelo respon-deu a processo pelo homicídio deIraquitânia Silva, 21, sua ex-cunha-da, em 2000. Iraquitânia, que mo-rava em Camela, foi morta por ti-ros, esquartejada e enterrada emno canavial na cidade de Ribeirão.O irmão caçula de Marcelo e ex-ma-rido da vítima, Roberto Lira, assu-miu a autoria do crime, com moti-vações passionais, e está preso.

No dia 16 de junho de 2003, apolícia conclui o caso, após 43 diasde investigação e baseada em indí-cios. Os kombeiros tiveram a pri-são preventiva solicitada à Comar-ca de Ipojuca. Foram ouvidas 62pessoas. A perícia feita no veículorecolheu 12 fios de cabelo, um pe-daço de náilon verde com 41 centí-metros de comprimento, um apa-relho de barbear amarelo e papeisde bombons. Impressões digitaisdos suspeitos e as armas utilizadasno crime não foram apresentadas.O trabalho da polícia começa a serquestionado pela sociedade.

O que mais se aproxima de pro-va contra os irmãos Lira são doisfios de cabelo semelhantes aos deMaria Eduarda, identificados entreos 12 recolhidos pela perícia naKombi. Como a ausência de bulbo

(raiz) impediu a realização do exa-me de DNA, a alternativa foi fazeruma comparação no microscópiocom outros fios encontrados na es-cova usada pela jovem. O resultadofoi positivo. O diretor de PolíciaCientífica, Paulo Tadeu, revelou queTarsila foi morta com cinco tirosde revólver 38. Um deles acertou amandíbula direita. As outras lesõesforam na região frontal do crânio,na mão esquerda e em dois lugaresno abdômen. O exame das vestesrevelou um corte na canga que a es-tudante usava, o que indica que elapode também ter sido esfaqueada.

Maria Eduarda foi morta comdois tiros, um na testa e outro nomaxilar direito. Ele reconheceu queo local onde os corpos foram en-contrados havia sido violado, o queprejudicou a perícia.

Queda de braço

No dia 2 de setembro de 2004, a pedido do secre-tário de Desfesa Social, João Braga, o caso sai do do-mínio da Polícia Civil e passa a ser investigado pelaPolícia Federal. Seis meses depois, ainda não haviamprovas inquestionáveis contra os kombeiros. No dia 4de janeiro de 2006, o promotor Miguel Sales pediu no-vas diligências. No dia 24 de maio de 2006, Sales de-volve o inquérito policial pela quarta vez. A Polícia Fe-deral continua acusando os kombeiros. No início de2008, o Caso Serrambi ganhou três promotores. No dia17 de janeiro de 2008, os irmãos Lira foram denun-ciados à Justiça pela primeira vez. Neste mesmo dia,Marcelo é preso. No dia seguinte, Valfrido se apresen-ta à polícia, depois de passar um dia considerado fo-ragido da Justiça. No dia 18 de janeiro de 2008, o Con-selho Superior do Ministério Público de Pernambucodecide afastar o promotor Miguel Sales das investiga-ções do caso. No dia 28 de janeiro de 2008, aconteceo primeiro depoimento dos irmãos Marcelo e Valfri-do Lira, no Fórum de Ipojuca. Antes do julgamento,marcado para o início desta semana, os irmãos con-tinuavam jurando inocência. Boa parte dos morado-res de Ipojuca acreditava neles.

Alcione Ferreira/DP/D.A Press Alcione Ferreira/DP/D.A Press Alcione Ferreira/DP/D.A Press

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Teresa Maia/DP/D.A Press

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vida urbana Recife, domingo, 29 de agosto de 2010 - DIARIO DE PERNAMBUCO << C5

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●● José Roberto de Oliveira,motorista de Kombi

Antônia LIra da Silva, mãe dos kombeiros, vê os filhos de dois em dois meses, desde que foram presos, em 2008. Na segunda, vai ao fórum assistir ao júri

Dona Branca, sogra deValfrido, acredita na inocência do genro e tem certeza que ele será absolvido

Teresa MaiaDP/D.A Press

Teresa MaiaDP/D.A Press

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Teresa MaiaDP/D.A Press

O outrolado datragédia

ESPERANÇA // Familiares dos kombeirosacusados de matar as jovens defendem a inocênciados mesmos e esperam por um final feliz

c5

A ntônia Lira da Silva apro-veita o sol da segunda-feirapara estender algumas pou-

cas roupas que acabou de lavar. Lo-go que vê o carro do Diario de Per-nambuco na porta de casa, apres-sa-se em nossa direção. “A mãe deMarcelo e Valfrido? Sou eu mesma”,identifica-se, sorridente. Chegar àcasa dessa senhora de 64 anos é fá-cil. Em Camela, distrito de Ipojuca,todos a conhecem e logo tratam deapontar a direção na estrada. Den-tro do imóvel apertado, a idosa con-vida para entrar e senta em umacadeira à disposição na sala. Acimada cabeça dela, repousa um cartazcom as imagens dos dois filhos comos dizeres: “Somos inocentes, somosdo bem. Praticamos o bem, mas es-tamos presos”. Essa também é a cer-teza de dona Antônia, mãe de oitofilhos, sendo três mortos por doen-ça ainda na in-fância e outrostrês presos poracusaçãodemor-tes. Nos últimosanos, com osdois kombeirosapontados comoassassinos de umcrime brutal, do-na Antônia con-fessa que nãotem sido fácil so-breviver.

Separada dopai de Marcelo eValfrido há dezanos, Antôniacontava com osdois filhos parapagar as contasdomésticas.“Agora que eles estão presos, fiqueina miséria. Quem me ajuda são osvizinhos”, lamenta, e logo chora aolembrar da visita que está deven-do a Marcelo e a Valfrido, presosno Cotel, em Abreu e Lima, desdejaneiro de 2008. “Não tenho con-dição de ir lá não, minha filha.Não tenho saúde e dinheiro. Sóvou de dois em dois meses”, diz. Opróximo encontro, no entanto, jáestá marcado: é na segunda-feira,no Fórum de Ipojuca.

Na mente de mãe de Antônia re-pousam pensamentos contraditó-rios. “Não posso dizer quem matouas meninas. Não posso confirmar,não sei, não vi. Dou a vida pelosdois. No dia do crime, Marcelo esta-va em Cachoeirinha, ajeitando ocarro. Valfrido estava em casa, coma família”, defendeu. Em Camela, édifícil encontrar entre os 15 mil mo-

radores do lugar alguém que conde-ne Marcelo ou Valfrido.A maior par-te da população defende a tese deque os verdadeiros culpados são “ri-cos” e não apareceram no inquéri-to por isso. Sobrou para os “pobres”.

Nascidos em Sirinhaém, os doisirmãos mudaram-se para o distritocom a família há mais de dez anos,antes do suposto crime. Lá, traba-lhavam com o transporte alternati-vo de passageiros, onde cada umchegou a ter uma Kombi própria.

Esperança - Nas paredes, dizeres re-ligiosos confortam a dona de casaMaria da Conceição da Silva, 70, so-gra de Valfrido. Desde que o genrofoi preso, a vida dela virou uma tris-teza. Até mesmo a saúde ficou fra-gilizada. “Nessa história toda ele éinocente. Ele só vivia aqui, comigo.No dia do crime, ele trouxe as fi-

lhas para umaniversário nacasa da frente.Era um bom fi-lho, genro emarido”, co-mentou donaBranca, comotambém é cha-mada. Com osnervos abala-dos e com apressão alta,ela conta queprefere nãoacompanhar ojulgamento.

Perto dali, oimóvel fecha-do é o retratoda desolação.Lenilda Silva,

mulher de Valfrido, prefere ficardentro de casa depois de tudo queviveu. Toma remédios controladose dorme até tarde. Nela não restanada da mulher que na época docrime concedia entrevista ao ladodo marido, inocentando-o. “Ela dizque é muito difícil passar por tudoisso. Só Deus para dar força para ela.Nem para a igreja quer ir”, comen-tou uma amiga e vizinha, Edinei-de dos Santos. Quando não estádoente, dizem as amigas, Lenildajunta as energias e segue para vi-sitar o marido às quartas-feiras e do-mingos.A família de Marcelo Liracontinua morando no distrito deNossa Senhora do Ó, mas muda-ram de casa.Marilene Carvalho, suaesposa, trabalha em uma pousada.Hoje, com o marido distante, so-brevive do próprio trabalho e sus-tenta as quatro filhas.

Caso Serrambi

❜❜Não posso dizer quem

matou as meninas.

Não sei, não vi. Mas

dou a vida pelos dois

❜❜Antonia Lira da Silva - mãe dos réus

fala povo //

“Já era para eles estarem soltos. Os doissão inocentes.Pagaram um preço que nãodevem. Eles são dois batalhadores, viviampara a família.Trabalhei com os dois e sei.Não tenho o que falar deles”

●● Cláudio dos Santos, operador de máquinas

●● Cilene Gomes da Silva, funcionária pública

“A autoria do crime é uma dúvida paratodo mundo até hoje. Sete anos depois,ainda acredito que não foram eles. Sefossem,não ficavam rodando normalmentecom a Kombi depois do crime”

“Quem sou eu para julgar, né? Mas nãotenho dúvidas sobre esse caso. Sei queforam eles que mataram as duas meninas.Para uma pessoa ser apontada assim,comoeles foram, tem que ter algo no meio”

Você acha que os kombeirossão culpados ou inocentes?

No dia 14 de maio de 2000,uma jovem com 21 anos foi en-contrada morta em um canavialno Engenho Vicente Campelo, a12 quilômetros do município deRibeirão. Três anos depois, asmortes de Tarsila e Maria Eduar-da foram relacionadas a esse ho-micídio. Mas o que ligava um ca-so ao outro?

Durante as investigações doCaso Serrambi, a polícia trouxeà tona a morte da jovem de 21anos, Iraquitânia Maria da Sil-va, porque ela foi assassinada pe-lo ex-marido, Roberto Lira, ir-

mão de Marcelo e Valfrido Lira.Iraquitânia morava em Camela,vivia com a família e era muitoquerida no distrito.

Na noite de 12 de maio de 2000,testemunhas contaram que virama jovem ser arrastada para dentrode uma Kombi onde estavam Mar-celo, o irmão dele, Roberto Lira, emais um adolescente que traba-lhava como cobrador da lotação.

Os irmãos foram presos diasdepois. Marcelo, em Palmares, eRoberto, em Gameleira. No en-tanto, no julgamento realizadoem Ribeirão, Marcelo foi inocen-

tado pelo irmão, que assumiu to-da a culpa e acabou condenadosozinho em júri popular. Atual-mente ele cumpre pena na Peni-tenciária Agroindustrial São João,na Ilha de Itamaracá.

As semelhanças entre os crimeschamaram a atenção dos investi-gadores. O corpo de Iraquitânia foienterrado em uma cova rasa eapresentava marcas de tiros namão, testa, nuca e peito. A vítimaainda foi torturada com queima-duras de cigarro e furos de umobjeto que poderia ser uma cha-ve. A blusa que vestia estava abai-

xada, um indício de abuso sexual.Para a mãe dos irmãos, o episó-

dio envolvendo o filho Roberto le-vou algumas pessoas de Camelaa acreditarem na culpa de Mar-

celo e Valfrido. “É por causa deRoberto que muita gente não gos-ta deles. Em todo canto tem gen-te que não gosta da gente”, co-mentou Antônia Lira.

Marcelo José de Lira tem 41 anos e nasceu em

Sirinhaém. Cursou até a 1ª série do primeiro

grau. Antes do crime,morava em Nossa Senho-

ra do Ó com a mulher e quatro filhas, sendo a

mais nova com cinco anos. Por algum tempo,tra-

balhou vendendo objetos à prestação.Na ápoca

do crime, trabalhava como kombeiro

Valfrido Lira da Silva,42.Cursou até a 2ª sé-

rie do primeiro grau,mas começou a trabalhar

aos sete anos, no corte de cana, em Sirinhaém,

onde nasceu. Em Camela, vivia com a mulher e

dois filhos. Na época do crime, também roda-

va como motorista na kombi que dvidia com

o irmão. Hoje trabalha na cozinha do Cotel

Dois crimes que se cruzaram

perfil dos acusados

Iraquitânia foi morta pelo ex-marido, Roberto Lira, irmão dos kombeiros

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N inguém imaginava o que odestino reservava para asadolescentes Maria Eduar-

da Dourado e Tarsila Gusmão, ambascom 16 anos. Jovens de classe médiaalta do Recife, elas eram alegres echeias de amigos. Se tudo tivesseocorrido como seus pais e familia-res planejaram, estariam hoje com23 anos, realizando sonhos, seguin-do uma profissão e, provavelmente,formando suas próprias famílias.Mas o destino trouxe uma morte pre-matura, interrompida pela violên-cia. Os que ficaram tiveram de pros-seguir. Assim fez Marina Guerra deMeneses, 23, que frequentava a casade Maria Eduarda desde a infân-cia.Quando soube da morte da cole-ga, a quem chamava carinhosamen-te de Mana, ela buscou ajuda psico-lógica para continuar as tarefas dodia a dia. Também tinha 16 anos.“Não tive coragem de ir ao enterrode Eduarda. Preferi guardar as boaslembranças”, diz.

Marina conseguiu superar o golpeda perda repentina da sua grandeamiga de época de escola. Nesses se-te anos, sua vida mudou bastante.Hoje, está casada, é mãe de um me-nino de quatro anos e cursa o pri-meiro ano de enfermagem na Facul-dade Pernambucana, em Boa Via-gem. Como toda jovem de sua idade,faz planos para o futuro. “No mo-mento, me dedico aos estudos. Masquero estagiar na minha área e de-pois ter outro filho”, comenta. Mari-na e Maria Eduarda se conhecerampor meio das famílias. “Meu pai émuito amigo do pai dela. Por issoacabamos indo estudar na mesma

escola, o Colégio Dourado”, lembra.Quando crianças, elas costuma-

vam passar o fim de semana no flatdo pai de Maria Eduarda, em Grava-tá, no Agreste. “A gente andava a ca-valo e brincava de Barbie. As bonecasde Mana eram lindas”, recordou. En-tre tantas lembranças, Marina guar-

da uma em especial: um pacto deamizade que fez com a amiga doisanos antes da sua morte. “Estávamoscom um grupo de amigos embaixode uma árvore em Gravatá, quandofalamos sobre morte. Naquele dia,combinamos que se alguém morres-se, voltaríamos ao mesmo lugar. Mas

só tive coragem de ir até a árvore nocarnaval de 2008. Mesmo assim, nemme sentei nos banquinhos onde con-versávamos”, conta a universitária,com a voz embargada.

Outro momento marcante foi afesta de 15 anos de Maria Eduarda,ocorrida em março de 2002, um ano

antes do assassinato. “Fui uma das da-mas que dançou a valsa. O vestido deMana era lindo, todo bordado compedrinhas de pérolas e brilhantes”,lembrou. Segundo Marina, a amigaera muito alegre. “Ela vivia de bemcom a vida, sempre sorria e era mui-to brincalhona”, diz. No dia em que

o corpo da amiga foi encontrado,Marina e a mãe estavam no aparta-mento da adolescente, em Piedade,Jaboatão dos Guararapes. “Tinha es-perança de encontrar ela com vida.Para mim, era como se ela fosse vol-tar a qualquer momento”.

Maria Eduarda estudou no Colé-gio Dourado junto com Marina até2002. Segundo a coordenadora daescola, Hevane Montenegro, MariaEduarda era uma aluna mediana.“Ela era bastante sensível, choravacom facilidade.Reservada, conser-vou bem suas amizades até a ado-lescência”, detalha. Na adolescência,Maria Eduarda gostava de ir à tar-de ao Shopping Center Recife. Foilá que ela conheceu a amiga Tarsi-la Gusmão, que era aluna do Colé-gio Atual, em Boa Viagem. Dos en-contros nas tardes de fim de sába-do às matinês na extinta boate Fash-ion Club, em Boa Viagem, a amiza-de entre as duas se fortaleceu rapi-damente. Andavam sempre juntas.Os amigos dizem que Tarsila era amais comunicativa das duas e quesempre gostou de dançar.

Na infância, fez balé clássico naEscola de Dança de Mariza Queiroga,no Pina. Sua mãe, Alza Gusmão, eraa maior incentivadora. Mas na pré-adolescência acabou deixando a dan-ça de lado por conta do volume dosestudos. Filha de pais separados, Tar-sila morava com a mãe no bairro deSetúbal. Dois anos após a sua morte,a mãe, Alza Gusmão, que sempremanteve uma postura mais reserva-da, decidiu sair do país. Desde 2005,ela mora na cidade do Alabama, nosEstados Unidos.

vida urbanaC6 >> DIARIO DE PERNAMBUCO - Recife, domingo, 29 de agosto de 2010

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Até hoje, a mãe de Maria Eduar-da Dourado, a empresária ReginaLacerda, é a única entre as famíliasdas vítimas que não acredita na cul-pabilidade dos irmãos kombeiros.Regina acha que o inquérito poli-cial não reuniu provas concretas daparticipação dos Lira. Ainda muitoabalada com a morte da filha, elanão pretende ir ao Fórum de Ipoju-ca assistir ao júri popular.

No entanto, o advogado da empre-sária, Leonardo Rêgo Barros, anun-ciou que sua cliente já pensa em pe-dir a anulação do júri. Isso porqueLeonardo se habilitou para atuar co-mo assistente de acusação do Minis-tério Público de Pernambuco, mas te-ve o pedido negado pelo Tribunal deJustiça estadual. Depois, o advogadoentrou com um mandado de segu-rança junto ao Superior Tribunal de

Justiça para garantir o direito deatuar como assistente ministerial. Orecurso ainda não foi julgado. O ad-vogado explicou que se conseguir omandado de segurança e dona Regi-na tiver interesse no recurso, deverápediraanulaçãodojulgamento,umavez que o júri aconteceu sem a par-ticipação do seu representante jurí-dico. Isso na hipótese de os kombei-ros serem condenados.

Na contramão da ex-mulher, o em-presário Antônio Dourado acreditaque kombeiros são culpados “No co-meço, cheguei a duvidar. Mas depoisque o delegado federal Cláudio Jo-ventino mostrou detalhes da apura-ção fiquei convencido “, disse.

Pai e mãe de Eduardatêm opiniões opostas

Alcione Ferreira/DP/D.A Press./Reprodução

Jaqueline Maia/DP/D.A Press./Reprodução

Alcione Ferreira/DP/D.A Press.

Sonhos que ficaramno meio do caminho

“Prometi a Tarsila que suamorte não ficaria impune”

O senhor acredita que osirmãos Marcelo eValfridoserão condenados?Mais do que nunca estou confian-te e certo da culpabilidade dos ir-mãos Lira. Digo isso com base nasnovas provas que serão apresen-tadas e que a população não temconhecimento. São coisas reais enão boataria.São provas concre-tas. Já vi e ouvi essas novas pro-

vas. São gravações de familiares epessoas ligadas aos irmãos Lira on-de não deixam dúvidas da partici-pação deles.

O senhor acha que a opiniãopública acredita na culpa doskombeiros?O grande problema da populaçãoé que ela cai no achismo. Eu comopai de uma das vítimas li o proces-

so, andei em carro de polícia, aju-dei a juntar provas e sei de tudo quefoi investigado pelos policiais. Nãoacredito que mais de 56 policiaisque chegaram à mesma conclusãopoderiam ter manipulado o rumodas investigações.

O que lhe fez ter a certezada culpa dos irmão Lira?Minha filha estava viva no sábado,

dia 3 de maio de 2003, às 16h28.Afirmo isso pois a última foto dasduas na praia foi encontrada pormim e tirada por um colega de Tar-sila. Ela foi vista na frente da pada-ria Porto Pão por três testemunhasentrando na Kombi dos Lira e umadelas, a Regivânia, me disse, trêsanos depois, que não tinha dúvi-das de que as meninas tinham en-trado naquela Kombi.

O comerciante JoséVieira, 50 anos, desde o começo das investigações sempre acreditou que os irmãos kombeiros eram osresponsáveis pelas mortes da sua filha e da amiga.Agora, está confiante que os Lira serão condenados.O pai deTarsila Gusmãofoi quem encontrou os corpos das meninas em um canavial no distrito de Camela, com a ajuda de um amigo, após 10 dias dodesaparecimento das jovens. Ele disse ter feito uma promessa à filha e acredita estar perto de cumpri-la.

entrevista // José Vieira

C6

Caso Serrambi

Hoje com 23 anos, Marina Guerra(foto maior), amiga de infância deMaria Eduarda Dourado, fazfaculdade, está casada e já é mãe.Lembra com saudade da jovem, aquem chamava carinhosamentede Mana.Ao lado, as duas(Eduarda de vermelho) pequenas.Abaixo,Tarsila ainda um bebê

SAUDADE //Elas eram alegres echeias de vida. Amigas,estavam juntas noúltimo passeio que aslevou à morte

Maria Eduarda Lacerda Dourado nasceu em

10 de março de 1987.Filha do empresárioAntônio

Dourado e Regina Lacerda, a adolescente morava

num condomínio à beira-mar de Piedade.Foi aluna

dos colégios Conviver, Dourado e Motivo.Alegre,

gostava de dançar, viajar e fazer novas amizades

perfil das vítimas

Tarsila Gusmão Vieira de Melo era filha do

comerciante JoséVieira de Melo e da dona de casa

Alza Gusmão.A jovem nasceu em 25 de março de

1987 e morava em Setúbal com a mãe, já que os

pais eram separados.Tarsila estudou nos colégios

Madre de Deus eAtual.Comunicativa,tinha muitos

amigos e adorava sair à noite para dançar

Na verdade, minha ex-mulher foi influenciada pelo promotor Miguel

Sales, que devolveu o inquérito policial quatro vezesAntônio Dourado - pai de Eduarda

Regina Lacerda não vai ao fórum

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Gil Vicente/DP/D.A Press - 30/04/2004

www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/especiais/caso_serrambi

diariodepernambuco.com.brveja o especial sobre o caso no:

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DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brDOMINGO Recife, 5 de setembro de 2010 Nº 248 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

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tempoHOJE

RECIFE //Sol e aumento de nuvensde manhã. Pancadas dechuva à tarde e à noite.

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PERNAMBUCO //Chuva fraca na Zona da Mata. Chuvasisoladas no Agreste. Possibilidade de chuvaem áreas isoladas do Sertão do Pajeú.●● LUA minguante

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Caso Serrambi

mimo

Fellipe Castro / Esp.Aqui PE / D.A Press

Heitor Cunha / DP / D.A PressTeresa Maia / DP / D.A Press

Dez pernambucanas integram a lista das 200 micro e pequenas empresas que mais crescem no país- de acordo com pesquisa da Deloitte em parceria com a revista Exame PME. As áreas de destaqueforam a construção civil e a indústria digital. O Diario explica a receita para o sucesso. ECONOMIA B6

O segredo do sucesso dedez empresas do estado

UMA PLAYBOY PARTICULARCada vez mais mulheres casadas do Recife descobrem uma forma de apimentara relação e realizar um desejo pessoal. Os ensaios sensuais estão virandofebre entre as “senhoras” da sociedade. As sessões fotográficas são feitas emhotéis de luxo da cidade.Veja quanto custa fazer uma “Playboy particular”.

ECONOMIA B3

Dia de 60 mil coraçõesirem à luta no ArrudaNão são apenas 11 jogadores. Milhares de

tricolores “entram em campo” neste domingocontra o Guarany de Sobral. SUPERESPORTES D2 a D5

Diario ganha prêmiode excelência gráficaO Diario venceu o 2º Prêmio Nordeste deExcelência Gráfica José Cândido Cordeiro,

concorrendo com 200 trabalhos. ECONOMIA B4

Aos 72 anos, McCoy Tyner é sinônimo de elegância e sofisticação ao piano. A maneira única de tocar fazdele uma referência entre os músicos de jazz. McCoy integrou a banda de John Coltrane, lançou 80 álbunse ganhou cinco Grammys. É esta lenda viva que se apresenta neste domingo, às 20h30, na Igreja da Sé,dentro da Mostra Internacional de Música em Olinda. Confira a entrevista exclusiva de McCoy ao Diario.

VIVER G1 e G6

Passaram-se mais de sete anos. Exatos 2.680 dias desde a morte das duas adolescentes no Litoral Sul de Pernambuco. E, tanto tempo depois, a pergunta permanece a mesma: quemforam os assassinos? A decisão do júri de inocentar os kombeiros Marcelo e Valfrido Lira, principais suspeitos do crime, recoloca o caso na estaca zero. A polícia apostou todas asfichas na condenação dos acusados e perdeu o rumo. Dez mil páginas de processo em vão. A sociedade está diante de um quadro quase irreversível de impunidade. VIDA URBANA C1 a C3

QUEM MATOUTARSILAE MARIA EDUARDA?

CENAS DA MADRUGADA // Passava de 1h quando o promotor Miguel Sales e o advogado José Wellington saíram do fórum festejados pela população. Às 2h30, no Cotel, os kombeiros foram libertados.

ELES SÃO BURGUESES? // O presidente Lula afirmou que o tênis era coisa de burguês. Maso esporte revela sua outra face, transformando vidas nas comunidades carentes. SUPERESPORTES D6 e D7

Agência Nude/Divulgação

Acervo MIMO 2010 / Divulgação

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EPIDEMIA // Os acidentes com motos seguem fazendo vítimas e levam os profissionais de saúde a iniciar umacapacitação para conscientizar a população do perigo de infringir as normas básica de segurança. VIDA URBANA C2

RUA DO LIMA // Não há mais como não notar. Há um novo polo cultural no Recife. E ele começa a pulsare ferver dia e noite com bares, restaurantes, música, teatro, artes plásticas, fotografia e moda. VIVER D1, D2 e D5

O sucesso da novela Passione resgatou o fascí-nio pela Itália. Os cursos de italiano, os restau-rantes e os vinhos viraram moda no Recife. E osdescendentes, como a família Rizzo, não dei-xam as tradições pra trás. DIARIO EM REVISTA PÁGS. 4 a 6

A paixão pela Itáliamuito além da novela

diarioemrevista

Depois de 13 anos, oDowntown fecha as portas

OS ACUSADOS

A mãe dos acusados, Antônia Lira, abre a porta dapequena casa em Camela e conta a história dosfilhos. Os vizinhos culpam os “ricos” pelo crime.

Mas um outro assassinato complica os kombeiros.

AS VÍTIMAS AS TESTEMUNHAS OS ESQUECIDOS

A mais resistente casa noturna do Recife, inauguradaem 1997, não suportou a decadência do Bairro do

Recife e fechará em setembro. JOÃO ALBERTO G3

Os remédios que retardamos efeitos do tempo

Confira a opinião dos especialistas sobre as “cápsulasda juventude”, que prometem vencer as marcas do

tempo na pele. DIARIO EM REVISTA PÁG. 7

Verdades e suposiçõessobre a infidelidade

A vingança e o desgaste da relação são as razões maiscomuns. Mas pesquisas relacionam a traição com agenética e a inteligência. DIARIO EM REVISTA PÁGS. 10 e 11

Descubra quem realmenteé classe média no BrasilEntenda como famílias com padrões de vida tão

diferentes integram a mesma classe social e faça umteste para saber se está na classe média. ECONOMIA B4

A demolição do maiorestádio do Nordeste

Neste domingo, 700 kg de explosivos vão implodira Fonte Nova, em Salvador. Serão gastos R$ 591

milhões para construir o novo estádio. SUPERESPORTES D3

O perigo dos cadastrosem lojas e na internet

Ao fornecer números pessoais, como CPF e RG, nahora de uma compra, o consumidor corre risco de osseus dados caírem nas mãos de golpistas. ECONOMIA B8

AS 27 PROVASO processo criminal mais conturbado da década em Pernambuco está bem perto do seu desfecho. Nesta segunda-feira, um júri popular começa a definir ofuturo dos kombeiros Marcelo eValfrido Lira, principais suspeitos pelo assassinato das jovensTarsila e Maria Eduarda em 2003. O Diario teve acesso a um

relatório inédito com 27 indícios considerados decisivos para provar a culpa dos acusados. São depoimentos de parentes, gravações, contradições e antecedentescriminais. Informações que os promotores guardam como uma carta na manga para convencer os sete jurados a condenar os dois irmãos. VIDA URBANA C3 a C6

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DIARIO DE PERNAMBUCOFUNDADOR DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS:ASSIS CHATEAUBRIAND

www.diariodepernambuco.com.brDOMINGO Recife, 29 de agosto de 2010 Nº 241 O JORNAL MAIS ANTIGO EM CIRCULAÇÃO NA AMÉRICA LATINA – 184 ANOS DE CREDIBILIDADE

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Caso Serrambi EXCLUSIVO

HojeTarsila e Maria Eduarda teriam 23 anos.Vejacomo era a rotina das meninas e o que planejavampara o futuro que não tiveram. Em entrevistas ao

Diario, os pais revelam o que esperam do julgamento.

Veja o perfil de todas as testemunhas do júri. Aacusação escalou apenas os delegados Paulo Barros eCláudio Joventino. Já a defesa aposta nos moradores

de Ipojuca e no perito Marcos Ley D’Assunção.

Personagens-chaves do caso não vão estar no júri,entre eles o ex-chefe da Polícia Civil, Aníbal Moura; opromotor Miguel Sales; o dono da casa de Serrambi,Tiago Alencar Carneiro; e as amantes dos kombeiros.

A arma na mão de Alice Guerra, de 10 anos, éo símbolo da expansão do pentatlo moderno emPernambuco. Inspirada em Yane Marques, umageração de crianças descobre os segredos de umesporte completo e pouco popular. SUPERESPORTES D11

Capital brasileira dopentatlo moderno

superesportes

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06:1518:36

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00:0612:23

PERNAMBUCO //Chuvas isoladas no Litoral, Zonada Mata e Agreste. Possibilidadeno Sertão do São Francisco.●● LUA cheia

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André Marins / Esp. DP / D.A Press

Cecília de Sá Pereira / DP / D.A Press Alcione Ferreira / DP / D.A Press

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tábua deMARÉS

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RECIFE //Sol, com chuva demanhã e diminuição denuvens à tarde.

06:4119:09

1.81.8

00:4312:39

PERNAMBUCO //Chuva fraca no Litoral e Zona daMata. Chuvas isoladas no Agreste epossibilidade no Sertão do Pajeú.●● LUA cheia

0.60.8

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/EFE

FIVB / Divulgação

ACUSAÇÃO E DEFESAMOSTRAM SUAS ARMAS

O julgamento da década em Pernambuco começa hoje, às 9h, no

Fórum de Ipojuca. De um lado, estarão os dois últimos delegados

que investigaram a morte de Tarsila e Maria Eduarda: Cláudio

Joventino, da Polícia Federal, e Paulo Jeann Barros, da Polícia Civil. Do

outro, dez testemunhas que tentarão derrubar todas as acusações

feitas contra os kombeiros Marcelo eValfrido Lira. Os promotores

Ricardo Lapenda e Salomão Abdo estão confiantes na condenação

dos acusados e pedirão uma pena de 20 anos para cada um.VIDA URBANA C1

RUAS DO RECIFEANTIGO RECUPERADAS

Oito ruas do Bairro do Recife terão seus pavimentos e calçadasrecuperados, resgatando suas características originais. Quarta-feira,

começam as obras na Mariz e Barros. VIDA URBANA C3

TURISTAS SE SENTEMINSEGUROS EM PORTO

A Secretaria de Defesa Social decidiu reforçar a segurança naspraias de Porto de Galinhas, Muro Alto e Maracaípe, mas turistas

ainda se queixam do número insuficiente de policiais. ÚLTIMAS A2

SELEÇÃO DE BASQUETE ENFRENTAHOJE OS GIGANTES AMERICANOSBrasil precisa corrigir problemas no ataque e na defesa para evitar massacreSUPERESPORTES B7

Jaqueline é eleita amelhor atacanteO Grand Prix na China não poderia teracabado melhor para a pernambucana.Além da medalha de prata conquistada pelaSeleção Brasileira de vôlei, ela foi eleita amelhor atacante da competição. SUPERESPORTES B6

Maço de cigarros é primeira pistaAs impressões digitais em uma carteira de cigarros podem ser a chave paraa polícia chegar a quem roubou as duas telas da pintoraTereza Costa Rego.O maço foi achado na propriedade da artista, que não fuma. VIDA URBANAC2

E a Fonte Nova virou póA primeira implosão de um estádio na América Latina parou ontem a capital baiana. Foram exatos 17

segundos para que os cerca de 700 quilos de explosivos transformassem praticamente em pó o estádio daFonte Nova. Em Pernambuco, as obras da arena de São Lourenço da Mata se arrastam. SUPERESPORTES B5 e B8

PROFISSÃODAR AULAS DE BALÉEXIGE DEDICAÇÃO

PÁGINAS C4 e C5

MÉXICODOIS MINEIROS ENTREMORTOS EM MASSACREJuliard Aires Fernandes, 20 anos,e Hermínio Cardoso dos Santos,

24 anos, estão entre os 72imigrantes assassinados porcartel de drogas. MUNDO C6

CHILERESGATE PODE DURARMENOS QUE PREVISTOAutoridades chilenas estudam

alargar um dos três dutos usadospara ventilação a fim de resgataros mineiros. Isso reduziria em 30

dias os trabalhos. MUNDO C6


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