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Page 1: Seminário - O BAILE DO JUDEU (INGLÊS DE SOUSA)

O BAILE DO JUDEU(INGLÊS DE SOUSA)

Universidade Federal de UberlândiaInstituto de Letras e Linguística

Mestrado em Teoria LiteráriaDisciplina: Seminário em Teorias da

CulturaProfa. Dra. Kênia Maria de Almeida

PereiraAluna: Tatiele da Cunha Freitas

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1) Dados biográficos do autor 2) Dados sobre a obra “Contos

Amazônicos” 3) Apresentação e análise do conto

sugerido 4) A figura do Judeu 5) A lenda do Boto 6) Aproximações do conto “O baile do

Judeu” e do filme “Ele, o boto” 7) Considerações finais

Roteiro de apresentação:

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DELUMEAU, Jean. Os agentes de Satã II: O Judeu, mal absoluto. In: História do Medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das letras, 2009.MURATORE, Eliane. Um filete de vozes: A narrativa oral na formação do conto literário brasileiro. 2006. Dissertação (Mestrado em Literaturas brasileira, portuguesa e luso-africanas). Programa de Pós-Graduação em Letras. UFRS.PAIXÃO, Silvia Perlingeiro. Prefácio. In: Contos Amazônicos. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes.2004.ROCHA, Gerôncio Albuquerque. Ai de ti, Amazônia. Estud. av.,  São Paulo,  v. 6,  n. 15, Aug.  1992 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141992000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20  Out.  2011.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141992000200004.SOUSA, Inglês. O baile do Judeu. In: Contos Amazônicos. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.SOUZA, Laura de Mello. Humanidade: predominância da demonização. In: O diabo e a terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das letras, 1986.SZNITZER, Célia. Representações do Judeu na Cultura Brasileira: Imaginário e História. 2002. Programa de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas. Departamento de Letras Orientais. USP.

Bibliografia utilizada:

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Dados biográficos: Herculano Marcos Inglês de Sousa ( 1853 – 1918)

1870 – Se matricula na Faculdade de Direito em São Paulo.

1875 - Escreve O Cacaulista, publicado em Santos em 1876

1876 - Forma-se pela Faculdade de Direito de São Paulo. Publica “Cenas da vida de um pescador

1877 - Publica em Santos O Coronel Sangrado

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1878 - Em maio é nomeado Secretário da Relação de São Paulo no Governo do Conselheiro João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu; em dezembro casa-se em Santos com Carlota Emília Peixoto, sobrinha-bisneta de José Bonifácio de Andrada e Silva; funda o jornal Diário de Santos; funda o jornal Tribuna Liberal; funda com o Dr. Antônio Carlos a Revista Nacional de Ciências, Artes e Letras; elabora o projeto de criação da Escola Normal de São Paulo

1880-1881 - Deputado da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo (Império: 23ª Legislatura)

1881 - Funda a revista A Ilustração Paulista

1881-1882 - Nomeado Presidente da Província de Sergipe (Lei Saraiva)

1882 (Março a dezembro) - Nomeado Presidente da Província do Espírito Santo

Dados biográficos:

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1882-1883 - Deputado da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo (Império: 24ª Legislatura)

Perde a nomeação à Assembleia Geral e abandona a política

1883 - Advoga em Santos

1888 - Escreve O Missionário

1890 - Muda-se para São

Paulo e durante a política

do encilhamento funda o Banco

de Melhoramentos de São Paulo

1891 - Publica O Missionário, escrito em 1888.

1892 - Muda-se para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil

Dados biográficos:

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1893 – Publica seu último livro: “Contos Amazônicos.

1894 - E convidado e aceita lecionar na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro

1896 - Participa da criação da Academia Brasileira de Letras e redige o projeto de estatutos.

1897 - Na sessão de 28 de janeiro foi nomeado tesoureiro da Academia.

1898 - Publica Títulos ao Portador no Direito Brasileiro

1899 - Revisa e publica a segunda edição de O Missionário

Dados biográficos:

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1902 - 1902 - Nomeado diretor da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro

1908 - Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados; preside o 2° Congresso Jurídico Brasileiro

1916 - Representa o Brasil no Congresso financeiro Pan-Americano em Buenos Aires, Argentina, no qual é escolhido Presidente da Comissão para a unificação da legislação sobre letras de câmbio

6 de setembro de 1918 - Morre no Rio de Janeiro

Dados biográficos:

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Lucia Miguel Pereira “Considerada em conjunto, a obra de Inglês de Sousa apresenta-se como um documento social, fixando aspectos vários da Amazônia, da Amazônia do cacau e da pesca, região meio selvagem onde a vida era sempre uma luta; luta do apuio contra o proprietário que o explora na “Historia do Pescador”, luta do mulato ambicioso contra o branco que não o quer considerar seu igual, no “Cacaulista” e no “Coronel Sangrado”; luta do individuo superior contra o meio mesquinho, no “Missionário”; em todos eles, luta do homem contra o homem, e contra natureza que o ameaça física e moralmente”

Contos Amazônicos (1893) Grande preocupação com a região

amazônica;Mitos e lendas incorporados à ficção;Histórias de “espírito popular”.

A obra:

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Contexto: Contos Amazônicos

Naturalista

Afrânio Coutinho:

“Quanto ao Naturalismo, é um Realismo a que se acrescentam certos elementos, que os distinguem e tornam inconfundível sua fisionomia em relação a ele. Não é apenas um exagero ou uma simples forma reforçada do realismo, pois o termo inclui escritores que não se confundem com os realistas. É o Realismo fortalecido por uma teoria peculiar, de cunho cientifico, uma visão materialista do homem, da vida e da sociedade.”

Realismo X Naturalismo

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Escritor observa o homem por meio do método científico Ânsia pela “verdade” que conduz a literatura pelo campo da ciência.

Inglês de Sousa Aluísio de

Azevedo

Contexto: Contos Amazônicos

Naturalismo

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Naturalismo de “Contos Amazônicos :

Contexto: Contos Amazônicos

Preocupação em relatar detalhadamente uma região

Personagens marcadas pelo

“fatalismo”

Relatos populares causos

Maior preocupação com o homem que com a paisagem.

Lúcia Miguel Pereira: O autor falhou na natureza, mas foi bem sucedido quando essa natureza interfere no homem.

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O “Baile do Judeu”, 7º conto da obra, pode ser considerado um amálgama de diferentes superstições e crendices populares;

Figura do Judeu x Figura do Boto

O baile do Judeu

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Narrador em 3ª pessoa:

Ora, um dia, lembrou-se o Judeu de dar um baile e atreveu-se a convidar a gente da terra...

Leitura do conto

Figura do Judeu relacionada ao mal:

... a modo de escárnio pela verdadeira religião de Deus Crucificado

Convida todas as pessoas importantes do lugar, menos as autoridades eclesiásticas e a justiça:

Só não convidou o vigário, o sacristão, nem o andador das almas, e menos ainda o Juiz de Direito; a este, por medo de se meter com a Justiça, e aqueles, pela certeza de que o mandariam pentear macacos.

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Leitura do contoEsperava-se que as pessoas não comparecessem, entretanto a casa do Judeu fica cheia:

...às oito horas da noite daquele famoso dia, a casa do Judeu, [...], já não podia conter o povo que lhe entrava pela porta adentro;

Narrador Intruso:

Lá estavam, em plena judiaria, pois assim se pode chamar a casa de um malvado Judeu

Motivação das pessoas para comparecer à festa:

 toda a gente grada, enfim, pretextando uma curiosidade desesperada de saber se, de fato, o Judeu adorava uma cabeça de cavalo mas, na realidade, movida da notícia da excelente cerveja Bass e dos sequilhos que o Isaac arranjara para aquela noite, entrava alegremente no covil de um inimigo da Igreja, com a mesma frescura com que iria visitar um bom cristão.

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Leitura do conto:

Convidada de destaque no baile:

A rainha do baile era, incontestavelmente, a D. Mariquinhas, a mulher do tenente-coronel Bento de Arruda, casadinha de três semanas, alta, gorda, tão rosada que parecia uma portuguesa...

“Fato insólito”:

Às onze horas da noite, quando mais animado ia ao baile, entrou um sujeito baixo, feio, de casacão comprido e chapéu desabado, que não deixava ver o rosto, escondido também pela gola levantada do casaco. Foi direto a D. Mariquinhas, deu-lhe a mão, tirando-a para uma contradança que ia começar.

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Leitura do conto:

Clímax:

No meio dessa estupenda valsa, o homem deixa cair o chapéu e o tenente-coronel, que o seguiu assustado, para pedir que parassem, viu, com horror, que o tal sujeito tinha a cabeça furada. Em vez de ser homem, era um boto, sim, um grande boto, ou o demônio por ele.

Desenlace:

O monstro, arrastando a desgraçada dama pela porta fora, espavorido com o sinal da cruz feito pelo Bento de Arruda, atravessou a rua, sempre valsando ao som da 'varsoviana" e, chegando à ribanceira do rio, atirou-se lá de cima com a moça imprudente e com ela se atufou nas águas.

Desde essa vez, ninguém quis voltar aos bailes do Judeu.

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O Judeu:

Mais

cruéis

que lobos

Mais dilacerantes que um escorpião

São maus e ímpios

libertinos Ignóbil e perversa progênie E, p

ara

dizer t

udo,

diabos

do

infe

rno

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2 motivos de queixa:

O Judeu

A acusação de usura, vinda do povo miúdos e dos meios comerciantes

E a de deicídio, inventada e incansavelmente repetida pelos meios da igreja.

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1. As relações entre os judeus e os cristão não foram sempre más;

2. O fator religiosos desempenhou um papel importante nessa degradação;

3. No século XVI, esse fator religioso tornou-se o elemento motor, característica dominante do antijudaísmo ocidental;

O judeu foi uma das

faces do diabo.

O Judeu

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Mistérios e moralidades Dramas de Cristo:

1º) o debate entre jesus crianças e os doutores;

2) a expulsão dos mercadores do templo; 3) a tentação de jesus pelos fariseus; 4) a expulsão dos mercadores do templo; 5) a traição de Judas; 6) a detenção de Jesus; 7) Jesus diante do grande sacerdote; 8) os sofrimentos de Jesus na prisão; 9) o conselho dos judeus na manhã de sexta-

feira; 10) a flagelação e a coroa de espinhos; 11) o caminho do calvário e a crucificação 12) as tentativas dos judeus de impedir a

ressurreição.

Alternadamente são ressaltadas a cegueira, a maldade e a covardia dos israelitas.

O judeu

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Delumeau:

“Revela-se a insuficiência de uma historiografia que não perceberia no antijudaísmo senão uma inveja de caráter econômico e na perseguição dos israelitas apenas um meio cômodo de apropriar-se de seus bens. Tais motivações, por certo intervieram localmente em um momento ou em outro, Mas muitas vezes a Inquisição Espanhola prendeu judeus ou conversos que não eram ricos e para os quais precisavam pagar a alimentação na prisão”.

O judeu

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O judeuHERANÇAS LINGUÍSTICAS

Como bons cristãos

Caridade cristã Valores cristãos

Judeu Judiar Judiação

Dicionário Aurélio Básico: Judeu Popularmente possui o significado de “Individuo mau, avarento, usurário”

X

Câmara Cascudo – Folclore Pernambucano:

“Um dia cheio de contrariedade é um dia de judeu”“Quem cospe em cristão é judeu”“Quem promete e falta é judeu”Quem come carne em dia de sexta-feira da paixão é judeu”Judeu bebe sangue de gente.”“Judeu come carne de menino novo”

Nelson Omegña: Quem não assiste a missa do galo Ou é judeu

Ou é cavalo

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O Boto:

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FILME

Figura do Boto como sedutor;

As mulheres queriam estar com o Boto

Figura do Boto bestializada;

O ritual no conto é angustiante e acontece contra a vontade da jovem

Filme X Conto

CONTO

Aparecem durante as festas,

de chapéu

Roubam as esposas dos maridos

A dança com o Boto custa a vida de D. Mariquinhas

O Boto quem “morre” no Final, deixando Teresa desolada

Tem um correspondente

“brincalhão”

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Não há um pacto explícito no conto;

É possível fazer uma leitura estabelecendo um pacto “implícito” entre o judeu e os convidados da festa, que terminam por abandonar suas crenças cristãs em troca de prazeres imediatos, compactuando-se com

esta figura que representa o mal.

Uma outra leitura (em comparação com o filme) possibilitaria o pacto entre o Boto e a mulher. Esta, depois de seduzida por ele, continua sendo perseguida, mesmo depois de casada.

Pacto Fausto

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Sob a perspectiva da diferença, o boto está diretamente ligado ao judeu, visto que ambos são corpos estranhos e inassimiláveis, violando, portanto a “igualdade” social. Como os dois são figuras malignas, eles possuem certa empatia, no que tange a aversão pelo cristianismo. O baile é o momento perfeito para o surgimento do boto pois, além de não estar presente nenhuma autoridade religiosa, seria também um ambiente propício para a “manifestação maligna” devido às motivações que levaram os convidados a ir ao baile, e o pacto que isso leva com o “anfitrião”.

Considerações finais:

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