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PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
URBANO
IDA CLARA GUIMARÃES NOGUEIRA
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL URBANA NO ENTORNO DE HIDRELÉTRICA: PRODUÇÃO DO ESPAÇO EM TUCURUÍ-PA
BELÉM 2010
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IDA CLARA GUIMARÃES NOGUEIRA
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL URBANA NO ENTORNO DE HIDRELÉTRICA: PRODUÇÃO DO ESPAÇO E M TUCURUÍ-PA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientador: Profª. Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcelos.
BELÉM
2010
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
N778s Nogueira, Ida Clara Guimarães Segregação socioespacial urbana no entorno de hidrelétrica:
produção do espaço em Tucuruí-PA / Ida Clara Guimarães Nogueira - Belém, 2010. 159 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade da Amazônia, Curso de
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2010. Orientador(a): Profª. Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcelos
1. Espaço urbano em Tucuruí. 2. Plano diretor de Tucuruí. 3.
Segregação socioespacial de Tucuruí. I. Vasconcelos, Ana Maria de Albuquerque. II.Título.
CDD 307.764
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IDA CLARA GUIMARÃES NOGUEIRA
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL URBANA NO ENTORNO DE HIDRELÉTRICA:
PRODUÇÃO DO ESPAÇO E M TUCURUÍ-PA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientador: Profª. Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcelos.
Banca Examinadora __________________________________________ Profª Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcelos Orientadora – UNAMA ___________________________________________ Profª Dra. Eugênia Rosa Cabral Examinadora Externa – UNAMA __________________________________________ Prof. Dr. Carlos Jorge Paixão Examinador interno – UNAMA __________________________________________ Prof. Dr. Gilberto de Miranda Rocha Examinador externo – UFPA
Apresentado em: 24/ 08/ 2010. Conceito: _____________________
BELÉM 2010
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A Walcir, Matheus, João Antônio e Daniel, os homens da minha vida. Especialmente para minha filha Clarissa, amor eterno, anjo que voltou para Deus.
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AGRADECIMENTOS
A realização de um trabalho acadêmico, muitos já o disseram, é tarefa penosa,
dolorosa, exige disciplina, paciência e muita dedicação. Ao escrever estas linhas, depois da missão cumprida, vem à lembrança e o nome das
muitas pessoas que contribuíram para que este trabalho ganhasse vida. Começarei pelos meus amores. Obrigada pela compreensão, amor, dedicação: Walcir, Matheus, Daniel e João, companheiro e filhos queridos. Acredito que os finais de semanas serão de passeios mais intensos, sem a preocupação constante com a coleta e seleção de fontes, a análise de um livro ou elaboração dos textos parciais e do texto final desta dissertação.
Continuando com a família, estão meus pais, Leodomira e Antônio Guimarães, que apesar de pouca instrução souberam encaminhar seus filhos na busca pela educação formal e acreditam que podemos vencer através do conhecimento.
E ainda, para meus irmãos, que compreenderam minha ausência, especialmente minha irmã Eliete, sua luta diária pela vida me ajudou a superar os obstáculos da pesquisa e aumentar minha fé em Deus.
Com o pensamento em Deus, quero agradecer pela vida, saúde, família e conhecimento. Todas as informações adquiridas na minha vida são dádivas do criador.
Agradeço a afilhada Karolinni que através da demonstração do carinho diário, a todo o momento externou o quanto acreditava no que eu seria capaz de fazer na minha vida profissional. Não posso esquecer de agradecer para Adriane, sempre presente quando necessito.
Digo a eles que continuem a me transmitir essa energia positiva porque a caminhada ainda me reserva novas surpresas, novas aventuras, pois a estrada ainda não chegou ao fim. Meus sinceros agradecimentos para meu cunhado João Vicente e minha amiga Liciete pela hospedagem em Tucuruí e pelo incentivo. Jonga, sem sua ajuda encontraria muitas dificuldades no trabalho de campo, valeu!
Sincero agradecimento para Lúcia Creão, pela correção da pesquisa, Agradeço também – e por que não? – aos meus amigos Torquato, José Rivaldo, Deca,
Jeniffer de Lá Roque e Nonato Lisboa, vocês fazem parte do rol de pessoas que passei a admirar e a querer bem.
Nas andanças da vida encontrei amigos que sempre torceram pelo meu sucesso, portanto, meus sinceros agradecimentos aos professores e administradores da Escola Justo Chermont, e de maneira especial para Elisa, Maura e Belmira, que agora já pode se aposentar.
Não podia faltar o agradecimento especial para aos amigos Helena e Shaji. Na vida existem os anjos que nos auxiliam sempre que precisamos, obrigada.
Um abraço a todos os alunos do programa de Mestrado em desenvolvimento e meio ambiente urbano, da qual me orgulho de ter pertencido. Abraço especial para Dalva, Norma, André e Reinaldo.
Aos professores do programa, Nirvea Ravena, Voyner Ravena, Luciana Fonseca, Marco Aurélio, Carlos Paixão, especialmente o professor Mário Vasconcelos, que deu contribuições importantes na pesquisa.
Finalmente, agradeço à minha orientadora Ana Maria Vasconcelos, bastante exigente tanto no prazo de entrega da primeira versão, quanto na qualidade da pesquisa. Mostrando-se atenciosa, detalhista, competente e conhecedora dos assuntos que envolviam a pesquisa. Toda minha admiração!
Assim apresento a dissertação que vocês indiretamente ajudaram a construir.
Muitíssimo obrigada!
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Essa dimensão subjetiva que está nos pequenos processos do cotidiano, do espaço vivido, ou também nas angústias por recorrer ao vivido, ao sentido na experiência, tem também sua universalidade. Essa percepção do lugar, lugar enquanto singularidade e ao mesmo tempo lugar como universalidade da condição humana nos interroga sobre o que muda, e o que se transforma do ponto de vista das relações entre as pessoas; e a noção de lugar enquanto território da subjetividade. As cidades expressam esses veículos em escalas diversas, nacional e localmente. Refletem as relações econômicas de produção no mercado de trabalho e as racionalidades produzidas pela experiência social.
Edna Castro.
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RESUMO
Esta dissertação analisa os processos espaciais relacionados à segregação, que leva contingentes populacionais a terem dificuldade de acesso a bens urbanos e equipamentos de infraestrutura. Nesse sentido, busca-se compreender como as diretrizes existentes no Plano Diretor de Tucuruí interagem com as segregações socioespaciais e como os atores sociais buscam ações públicas capazes de atenuar as desigualdades socioespaciais, garantindo infraestrutura básica, equipamentos urbanos e serviços públicos para as comunidades. Para tanto, realizou-se entrevistas com participação dos diversos segmentos sociais na elaboração e efetivação do Plano Diretor do Município de Tucuruí e como a participação pública contribuiu para as modificações na nova configuração da cidade. A pesquisa documental foi fundamental para dar suporte à observação das mudanças ocorridas na área estudada. Com base nos dados, informações e nas análises realizadas, constatou-se que se trata de bairros formados a partir da expansão do núcleo urbano do município de Tucuruí, constituídos por uma população segregada por não possuir poder aquisitivo para se manter em áreas próximas, onde o acesso aos bens urbanos é mais fácil. A pesquisa apontou que apesar da implantação de grandes projetos e do plano diretor municipal de Tucuruí, ainda continuam existindo graves problemas socioespaciais que afetam diretamente a população local. Os principais conceitos trabalhados na pesquisa foram urbanização, produção dos espaços segregados, segregação socioespacial e governança. Palavras-chaves: Espaço Urbano. Cidade. Segregação socioespacial. Infraestrutura
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ABSTRACT This dissertation examines the processes related to spatial segregation, which leads difficulty to contingent of population in accessing urban assets and infrastructure equipment. At the same time, this research paper seeks to understand how the existing guidelines on Master Plan of Tucuruí interact with the social and spatial segregations and how social actors seek public actions able to mitigate social and spatial inequalities, ensuring basic urban infrastructure, urban equipments and public services to communities. For this purpose, it was held interviews with participation of various social segments in the elaboration and implementation of the Master Plan of the municipality of Tucuruí and to show that how public participation contributed to modify the new configuration of the city. The documentary research was essential to support the observation of changes in the area studied. On the basis of datas, informations and analyses, it was found that these are districts formed from the expansion of the urban nucleus of the municipality of Tucuruí, consisting of a segregated population which has no purchasing power to stay in nearby areas, where access to urban assets are easier. The research pointed out that despite the implementation of large projects and the municipal Master Plan of Tucuruí, still exist serious social and spatial problems which affect directly the local population. The main concepts worked in the survey were urbanization, production of segregated spaces, sociospatial segregation and governance. Keywords: Urban space. City. Social and spatial Segregation. Infrastructure
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LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mesorregião do Baixo Tocantins 23 Figura 2 - Localização do município de Tucuruí 71 Figura 3 - Avenida 31 de março 83 Figura 4 - Evolução urbana de Tucuruí de 1970 a 2000 87 Figura 5 - Bairro da GETAT (atualidade) da cidade de Tucuruí 95 Figura 6 - Bairro da COHAB e da COLINAS (atualidade) da cidade de Tucuruí 96 Figura 7 - Bairro da NOVA COHAB (atualidade) da cidade de Tucuruí 97 Figura 8 - Hierarquização e reestruturação do sistema viário de Tucuruí 117 Figura 9 - Área para projetos e zonas especiais de interesse social 118 Figura 10 - Habitação precária de Tucuruí 128 Figura 11 - Igarapés Santos e Santana, Tucuruí 134
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 - Avenida 31 de março (antigo aeroporto de Tucuruí) 82 Fotografia 2 - Vila permanente de Tucuruí 90 Fotografia 3 - Avenida Lauro Sodré - centro comercial da cidade de Tucuruí 91 Fotografia 4 - Moradia da Vilinha 98 Fotografia 5 - Conjunto habitacional Nova Matinha 99 Fotografia 6 - Bairro da COHAB – Tucuruí/Pa 100 Fotografia 7 - Ocupação desordenada do bairro Beira Rio 129 Fotografia 8 - Ocupação desordenada de Palmares/ Tucuruí/Pa 130 Fotografia 9 - Trilho da estrada de ferro Tocantins sobre o Igarapé Santos/ Tucuruí 132 Fotografia 10 - Habitações precárias sobre nas margens do Igarapé Santana/Tucuruí 133 Fotografia 11- Shopping Center de Tucuruí e o Igarapé Santana 135 Fotografia 12 - Poluição e barreira dentro do Igarapé Santos 136
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - População urbana e rural do Brasil 32 Gráfico 2 - Demografia da cidade de Tucuruí 75 Gráfico 3 - População urbana de Tucuruí nas décadas de 1970/80 77 Gráfico 4 - População urbana de Tucuruí 1991/2000 84
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Comunidades que participaram do processo de elaboração do plano diretor Municipal de Tucuruí
23
Quadro 2 - Plano de ação: 2002 - 2003 - PIRTUC 101 Quadro 3 - Sinopse do Plano Diretor de Tucuruí (lei municipal nº 7.145/2006, de 29 de dezembro de 2006)
106
Quadro 4 - Premissas e instrumentos da função social concedido no Plano Diretor de Tucuruí e possibilidade de sua aplicação
115
Quadro 5 - Zonas especiais de interesse social 119
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LISTA DE SIGLAS
BNH Banco Nacional de Habitação CEP Comitê de Ética em Pesquisa CISJUR Conselho Interativo de Segurança e Justiça COHAB Companhia de Habitação do Pará CONEP Comissão Nacional de ética em Pesquisa CPT Comissão Pastoral da Terra ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil EFT Estrada de Ferro Tocantins FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço GETAT Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e estatística INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias LOA Lei de Orçamento Anual LOM Leis Orgânicas Municipais MNRU Movimento Nacional pela Reforma Urbana MNLM Movimento Nacional de Luta pela Moradia MRN Mineração Rio do Norte PDT Plano Diretor do Município de Tucuruí PDST Plano de Desenvolvimento Sustentável da Microrregião do Entorno da
UHE Tucuruí PIRTUC Plano de Inserção Regional dos Municípios do entorno do lago da UHE
Tucuruí PPA Plano Plurianual SEPLAN Secretaria Municipal de Planejamento e Informática UH Usina Hidrelétrica UHE/TUC Usina Hidrelétrica Tucuruí ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 16 1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA 16 1.2 A PROBLEMÁTICA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO 18 1.3 A ABORDAGEM METODOLÓGICA DA INVESTIGAÇÃO 22 1.4 A ESTRUTURA DO TRABALHO 27 2 REVISANDO OS PRINCIPAIS CONCEITOS 29 2.1 URBANIZAÇÃO 29 2.2 PRODUÇÃO DOS ESPAÇOS SEGREGADOS 35 2.3 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL 41 2.4 GOVERNANÇA 48 3 PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NA AMAZÔNIA CRIANDO SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
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3.1 CIDADES EMPRESAS NA AMAZÔNIA E A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
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3.2 AFLUXOS MIGRATÓRIOS PARA A AMAZÔNIA E AS MUDANÇAS NA PAISAGEM URBANA
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4 DEMOGRAFIA DO ESPAÇO URBANO EM TUCURUÍ 70 5 SEGREGAÇÃO DO ESPAÇO EM TUCURUÍ 79 5.1 MUDANÇA NA PAISAGEM DO ESPAÇO URBANO DE TUCURUÍ 85 5.2 AÇÕES COORDENADAS PARA O ORDENAMENTO DO ESPAÇO URBANO DE TUCURUÍ ANTES DO PLANO DIRETOR
88
6 CONSTRUÇÃO DO PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ: MUDANÇA OU PERMANÊNCIA NO STATUS QUO
103
6.1 CONSTRUÇÃO DO PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ 105 6.2 FUNÇÃO SOCIAL DO PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ 114 7 PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ E A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL URBANA
118
7.1 CIDADE DE TUCURUÍ: ESPAÇO DE SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL 125 7.1.1 Infraestrutura 125 7.1.2 Assentamento precário na cidade 126 7.2 OS IMPACTOS DAS OCUPAÇÕES DESORDENADAS NO MEIO AMBIENTE 131 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 138 REFERÊNCIAS 143 APÊNDICE 150
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1 INTRODUÇÃO
1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA
Este estudo parte do pressuposto de que a produção do espaço urbano em Tucuruí é
bastante dinâmica, constituindo-se de bairros distintos, cada um com suas características.
Cada área da cidade cresce em ritmo diferenciado, obedecendo a sua própria dinâmica. É o
caso, por exemplo, das áreas periféricas, locais que em geral a população residente não tem
acesso aos bens urbanos, em função do processo de segregação que levou a sua formação.
Assim como muitas cidades fundadas próximas do rio, a cidade de Tucuruí mantinha
até a construção da hidrelétrica um perfil ribeirinho, cuja economia girava em torno do
pescado e da extração da castanha do Pará.
Desde o final da construção da Estrada de Ferro Tocantins, que facilitava o
escoamento da extração da castanha até o município de Marabá, muitos dos construtores
deixaram Tucuruí em busca de novas fronteiras de trabalho.
Contudo, a partir do final da década de 1970, o município de Tucuruí configura-se
como cenário de grandes mudanças, tanto espacial, como socioambiental. Os moradores
assistiram às mudanças sem compreender a dimensão consequencial que a chegada de um
grande projeto poderia ocasionar para o meio ambiente natural e para as comunidades ali
alocadas.
As acentuadas transformações no espaço urbano de Tucuruí, com a chegada de fluxos
migratórios para suprir a necessidade da mão-de-obra necessária para a construção do projeto
energético, ocasionaram mudanças significantes no meio ambiente urbano e em poucas
décadas a expansão desordenada dos espaços expandiram-se em direção aos igarapés Santos,
Santana, aos mananciais e às áreas verdes, configurando-se em espaços segregados na
atualidade.
Com anúncio do começo das obras de construção da Usina houve um expressivo
aumento populacional e, por conseguinte, maior pressão sobre a precária infraestrutura urbana.
Segundo Rocha (2002), o processo de urbanização vivenciado por Tucuruí acaba sendo
reflexo do que estava ocorrendo no cenário nacional, diferindo na escala local pela rapidez
com que ocorre.
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Contextualizando o modelo de planejamento urbano desenvolvido na cidade de
Tucuruí, Loureiro (2004) aponta que as exigências infraestruturais do complexo hidrelétrico
transformaram o espaço da cidade em cercas e vigilâncias permanentes para prevenir a
ocupação desordenada ao redor dos canteiros da obra.
O presente trabalho busca entender como a segregação socioespacial se apresenta na
cidade de Tucuruí - palco de construção da maior hidrelétrica genuinamente brasileira-, após a
implantação do plano diretor municipal. Ainda, como os diferentes atores sociais
compreendem as mudanças que estão ocorrendo no espaço vivido, interagem entre si e
percebem a segregação socioespacial, quando são “convidados” a participar da construção do
instrumento de planejamento de cidades, ou seja, o plano diretor.
Pesquisar como a segregação socioespacial se apresenta em uma cidade ribeirinha do
baixo Tocantins, mesmo após a implantação do plano diretor municipal, é de fundamental
importância para se buscar possíveis soluções de engajamento dos sujeitos na construção de
uma gestão democrática para a cidade de Tucuruí.
O assunto justifica-se por ser de relevante interesse público e social, pois, com o
advento do Estatuto da Cidade, estabeleceram-se novas diretrizes gerais de política urbana no
país. E, nesse passo, é o plano diretor que trará os propósitos, os objetivos e as diretrizes que
se procurarão atingir em termos de desenvolvimento e expansão urbana.
O interesse pelo estudo foi resultado das inúmeras viagens da autora deste trabalho,
ainda como estudante secundarista, para Tucuruí, seja como participante de Congresso
Estudantil ou como simpatizante de movimentos ambientalistas no final da década de 1980;
objetivando: primeiro, denunciar como o meio ambiente natural foi diretamente afetado pela
construção não democrática da barragem; segundo, e de fundamental importância, exigir que
todos os municípios atingidos direta e indiretamente pelo empreendimento energético
recebessem energia elétrica.
Até início dos anos de 1990, a cidade de Cametá, onde a autora da pesquisa nasceu,
não recebia energia da hidrelétrica de Tucuruí, logo, diariamente ocorria interrupção de
energia em vários bairros da cidade. Além disso, assistiram-se às mudanças na água do rio
Tocantins, assim como diminuição do pescado e moluscos.
As reivindicações constantes na cidade de Tucuruí levaram a autora a observar esta
cidade que parecia desassistida de políticas públicas em saneamento e equipamentos urbanos.
Apresentava ruas com muita poeira e parca iluminação, assim como preços elevados de
mercadoria, serviços e aluguéis.
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Na década de 1990 um olhar mais atento para a espacialidade de Tucuruí, aproximava-
se do que Kowarick (1993) definiu por autoconstrução de moradias populares. Para muitas
famílias a única alternativa para não pagar aluguel era construir pequenos cômodos
conjuntamente com seus familiares. A cidade perdeu a tranquilidade de cidade ribeirinha para
se tornar referência de implantação de projeto energético.
A pesquisa de campo começou em novembro de 2009 e terminou em abril de 2010.
Pela própria necessidade do tema, foram realizadas seis visitas a cidade de Tucuruí, com
duração de uma semana por visitação.
Durante esses períodos foram entrevistados os sujeitos sociais da pesquisa, assim
como observação dos igarapés, nas áreas que estão ocorrendo novas ocupações desordenadas.
Visita aos bairros antigos e novos, aos conjuntos habitacionais e ainda aos espaços planejados
e edificados pela empresa ELETRONORTE.
Observou-se as praças, calçamento, transporte urbano, arruamento, os espaços de lazer,
assoreamento da lagoa Santa Isabel, ampliação de supermercado e lojas dentro do córrego dos
igarapés Santos e Santana. Destarte ainda que a infraestrutura, equipamentos públicos e
serviços foram os principais pontos de destaque em cada visita realizada na cidade de Tucuruí.
Concomitantemente com a pesquisa de campo realizou-se a análise dos dados
coletados e a organização das informações, essenciais para o estudo. A etapa seguinte
destinou-se à construção da dissertação. Os resultados dos métodos usados foram comparados,
confrontados, analisados para assim proceder na construção desta dissertação.
1.2 A PROBLEMÁTICA E OS OBJETIVOS DO ESTUDO
As visitas constantes da autora a cidade de Tucuruí trouxeram inquietações que
precisavam de respostas. Após o final da construção da Usina Hidrelétrica (UH),
principalmente, a partir da construção e implantação do plano diretor municipal, veio a
pergunta: De que maneira as diretrizes existentes no plano diretor da cidade de Tucuruí
interagem com as segregações socioespaciais e como os atores sociais confrontaram essa
mesma realidade? Desse questionamento, nasceu o desejo de investigar essa realidade,
concentrando o foco da pesquisa na cidade de Tucuruí.
A elaboração de tal questão parte da premissa de que a discussão dos atores engajados
em movimentos sociais urbanos, que resultou na identificação de interesses coletivos para
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elaboração do ideário de Reforma Urbana presente no Estatuto da Cidade se ampara na
percepção de que as formas de organização tanto refletem quanto condicionam o
desenvolvimento social e isso evidencia a mudança de atitude da sociedade civil no que se
refere ao foco de identificação dos problemas.
O objeto da pesquisa é analisar como se processa a segregação socioespacial na cidade
de Tucuruí, tendo no plano diretor, ferramenta fundamental de planejamento sustentável da
cidade, vindo a ser, o instrumento para combater as desigualdades sociais e garantir a
qualidade de vida de seus habitantes. Por objetivos específicos: descrever como o processo de
segregação socioespacial se apresenta na espacialidade urbana de Tucuruí; identificar se
houve mudanças ou permanências na forma de participação popular após a implantação do
plano diretor; compreender se, predominantemente, o plano diretor está cumprindo o seu
papel de ordenar a função social da cidade.
O estudo trabalhou com as seguintes hipóteses: Primeira, a espacialização da malha
urbana de Tucuruí acabou processando-se de forma intensa e desordenada, principalmente no
momento da construção da Usina Hidroelétrica Tucuruí (UHE/TUC) e continua após a
aprovação do plano diretor de Tucuruí (PDT), ocasionando segregação socioespacial urbana e
degradação no ambiente natural. Segundo, os diferentes atores sociais que participaram da
elaboração do PDT, por possuírem pouco entendimento da importância da participação da
sociedade civil para elaboração de um plano diretor municipal, não exigiram conjuntamente
mudanças capazes de amenizar a segregação socioespacial. Terceiro, decorrido quase uma
década da criação do Estatuto das Cidades (BRASIL, 2001), o PDT não está sendo um
instrumento para combater as desigualdades sociais da cidade, garantindo a qualidade de vida
dos seus habitantes.
A Constituição de 1988 inovou em matéria de política urbana ao estabelecer
dispositivos e ao exigir da propriedade urbana e da própria cidade o cumprimento de sua
função social. Deste modo, o plano diretor, torna-se obrigatoriedade para todas as cidades
com mais de 20 mil habitantes. Esse deve expressar a vontade popular estabelecendo
diretrizes a serem incorporadas à legislação municipal para reger os critérios de uso e
parcelamento de solos, contemplando variáveis como habitação, transporte urbano,
saneamento básico.
Assim sendo o plano diretor de Tucuruí, teve sua aprovação na Câmara Municipal
através da Lei Municipal nº 7.1455, de 29 de dezembro de 2006.
O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) pode ser qualificado como um instrumento de
coordenação da política urbana brasileira e, por conseguinte, um instrumento que deve ser
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incorporado no planejamento e na gestão urbana em nível municipal, operacionalizando dessa
forma, os princípios da reforma urbana, manifestos no referido Estatuto.
Sendo necessário destacar que o Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU)
e os demais movimentos sociais no Brasil, a partir do final da década de 1970, são
manifestações do entendimento espacial, ou seja, das condições precárias em que a população
mais pobre vivia nos espaços urbanos, que serviram de inspiração para o estabelecimento
desses movimentos. Não é casual o fato de o MNRU ter sido mais forte até a década de 1980
nas grandes cidades, especialmente nas capitais brasileiras, nas quais já não havia mais como
manter os problemas urbanos como um campo cego (LEFEBRE, 1999).
Neste contexto, planejar e remodelar o espaço urbano sem levar em consideração o
homem que estava naquele meio e as relações sociais ali existentes, acaba reduzindo o habitar
em apenas espaço. A moradia é também a forma que o homem estabelece para se comunicar
com o global, com a cidade; todo esse espaço possui signos, linguagem própria, movimentos
dialéticos, conflituosos, por ser o habitar a reflexão de toda a sociedade que está por trás
(SILVA, 2008). Nesta perspectiva, a ideia que se tem de cidade não é estática, pelo contrário,
compreende-se a cidade como um espaço de intensas mudanças, que se apresenta como um
processo dinâmico, contraditório e cheio de significado.
Contudo, neste estudo usou-se de arcabouço teórico que possibilitasse melhor
esclarecimento dos fatores que definem a relação entre a teoria e a prática representativa da
segregação socioespacial, considerando que os atores sociais devem interagir na gestão
pública cobrando aplicabilidade do que estabelece um dos instrumentos da política urbana: o
plano diretor. Destinado à previsão e orientação geral do desenvolvimento da área planificada
do município.
Desde a definição do objeto do estudo realizou-se pesquisas bibliográficas para
construção do arcabouço teórico que tratassem das seguintes categorias estudadas na pesquisa:
urbanização, produção dos espaços segregados, segregação socioespacial e governança.
Além disso, foram realizadas várias visitas a cidade de Tucuruí, para observar mais de
perto tanto a segregação socioespacial, quanto a organização dos movimentos sociais, através
da atuação, na gestão municipal, dos líderes comunitários.
A participação mais ativa dos movimentos sociais nas principais cidades brasileiras a
partir da década de 1980 introduz novas aspirações provenientes de realidades diversas, mas
que comungam de problemas parecidos decorrentes de um processo de urbanização mais ou
menos intenso e uma periferização com forte tendência de segregação socioespacial.
Na opinião de Souza (2006), na década de 1990, o ideário da reforma urbana sofreu
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diferenciação entre duas vertentes de pensamento: de um lado, os tecnocratas (técnicos de
prefeituras ou ligados a Ongs, alimentados por um pequeno grupo de professores e
pesquisadores, sobretudo, oriundos do eixo São Paulo - Rio de Janeiro) e de outro o ambiente
dos ativismos microlocais (favelas, bairros formais).
Em trabalho anterior, Souza (2005) enfatiza que o objetivo geral da reforma urbana,
em seu sentido mais recente, é de promover um desenvolvimento urbano autêntico. Conforme
Souza (2008), o desenvolvimento urbano autêntico é identificado num contexto mais teórico
como desenvolvimento socioespacial, o qual pode ser notado e alcançado a partir do momento
em que se constata maior justiça social e melhoria na qualidade de vida da população, para os
quais a concessão e/ou conquista da autonomia individual e coletiva torna-se condição
imprescindível.
No que concerne à participação popular no planejamento e na gestão, Souza (2008, p.
161), explica que: “[...] deveria ser fator-chave para o impulsionamento de uma
democratização do planejamento e da gestão, foi secundarizada como se nota ao comparar a
pouquíssima atenção dispensada aos conselhos de desenvolvimento urbano”.
Até mesmo os movimentos sociais perderam muito de entrosamento entre lutas
especificas e encontram muitas dificuldades para prosseguir com as lutas dos grandes
movimentos sociais de décadas anteriores. Mantem-se a reivindicação para um pequeno grupo
de pressão específico que está atuando em escala local (tipo de ação, mantida por políticas
públicas compensatórias, que, ao menos aparentemente, pode ser satisfeita mediante
paliativos locais), nos diversos espaços urbanos (SOUZA, 2008).
Entretanto, as ações mais articuladas dos movimentos sociais, que apresentem debates
democráticos, compreensão dos problemas sociais urbanos com preocupação de mais largo
alcance, e cujas questões, aproxima-se da bandeira da justiça social, são desafiadores,
rompem com alguns paradigmas da sociedade capitalista por se apresentarem revolucionárias
clamando por reformas profundas. “[...] na maioria das vezes, não se tem diante de si
movimentos sociais, mas sim meros ativismos sociais que não chegam a alcançar a forma de
autêntico movimento, permanecendo presos a um paroquialismo reivindicatório[...].”
(SOUZA, 2008, p. 192).
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1.3 A ABORDAGEM METODOLÓGICA DA INVESTIGAÇÃO
Esta pesquisa é de natureza qualitativa. Chegou-se à consecução do trabalho, através
da pesquisa de campo, cartográfica, documental e bibliográfica.
A pesquisa utiliza o método qualitativo para analisar as concepções dos atores sociais
que vivenciam os processos de segregação da cidade de Tucuruí, ou seja, os diversos
movimentos socioespaciais que geram a dinâmica urbana. No entanto na coleta de dados
sentiu-se a necessidade da busca do método quantitativo para mensurar os dados.
A dicotomia entre os métodos qualitativo e quantitativo não cabe mais no campo de
pesquisas científicas. A abordagem que utiliza análises de dados quantitativos juntamente
com informações de caráter qualitativo pode ser complementar e desejável por apresentar
estatísticas descritivas e conjuntamente interpretar discursos a respeito de um determinado
tema.
Uma pesquisa de abordagem qualitativa se faz necessária pela subjetividade apontada
pela pesquisa. Segundo Minayo (2007), essa abordagem trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Os
fenômenos humanos passam a ser entendido como parte da realidade social, pois o que
distingue o ser humano não é só o agir, mas o pensar sobre o que produziu e por interpretar
suas ações a partir da realidade vivida.
A pesquisa de campo, segundo Duarte (2002, p. 152) “implica incorporar referências
teórico-metodológicas de tal maneira que se tornem lentes a ferramentas invisíveis a captar
sinais, recolher indícios, descrever práticas, atribuir sentido a gestos e palavras”. Corresponde
à coleta de informações no local onde o fenômeno ocorre. A confiabilidade e legitimidade de
uma pesquisa empírica dependem, fundamentalmente, da capacidade de o pesquisador
articular teoria e empiria em torno de um objeto, questão ou problema de pesquisa, demanda
esforço, leitura e experiência.
O local escolhido para esse fim, a cidade de Tucuruí situada na mesorregião sudeste
paraense, juntamente com os municípios de Breu Branco, Jacundá, Nova Ipixuna, Itupiranga e
Novo Repartimento, constituem a microrregião de Tucuruí. Observe a Figura 1.
Por sua vez, esta microrregião faz arte da sub-bacia do Araguaia-Tocantins, cuja área é
de aproximadamente 123.989 km², equivalentes a 9,9% da área do Estado do Pará, onde a
Usina Hidroelétrica está aproxidamente 7 km do seu núcleo urbano e cerca de 350
quilômetros em linha reta da capital Belém.
23
Figura 1 - Mesorregião do Baixo Tocantins Fonte: Plano Diretor de Tucuruí/2006
Na análise do fenômeno optou-se pela aplicação de formulários para 22 líderes
comunitários de diferentes bairros ou ocupações desordenadas de Tucuruí. O objetivo foi
avaliar como se processou a participação das comunidades quando da elaboração do plano
diretor municipal, bem como perceber a atuação participativa destas lideranças na gestão
pública municipal a partir do plano diretor. O Quadro 1 retrata as comunidades participantes
desta pesquisa.
COMUNIDADES INVESTIGADAS
LOCALIZAÇÃO DA COMUNIDADE
01 SÃO FRANCISCO CENTRO DE TUCURUÍ
02 PARAVOÁ CENTRO DE TUCURUÍ
03 SANTA MÔNICA PERIFERIA DE TUCURUÍ
04 JAQUIERA (ANTIGO BAIRRO CENTRAL)
CENTRO DE TOCANTINS
05 SÃO SEBASTIÃO PERIFERIA DE TUCURUÍ
06 SERRA AZUL OCUPAÇÃO DESORDENADA NA PERIFERIA DE
24
TRUCURUÍ
07 JARDIM COLORADO OCUPAÇÃO DESORDENADA NA PERIFERIA DE TUCURUÍ
08 JARDIM ALVORADA CENTRO DE TUCURUÍ
09 VELHA MATINHA NUCLEO ORIGINAL DA CIDADE NA ORLA DO RIO TOCANTINS
10 MARILUCE PERIFERIA DE TUCURUÍ
11 LIBERDADE OCUPAÇÃO DESORDENADA NA PERIFERIA
12 SANTA ISABEL CENTRO CE TUCURUÍ
13 GETAT ASSENTAMENTO PRECÁRIO NA PERIFERIA DE TUCURUÍ
14 COHAB ASSENTAMENTO PRECÁRIO NO CENTRO DE TUCURUÍ
15 NOVA CONQUISTA OCUPAÇÃO DESORDENADA NA PERIFERIA DE TUCURUÍ
16 BEIRA RIO OCUPAÇÃO DESORDENADA NA ORLA DA CIDADE
17 VILA TOZZETI OCUPAÇÃO DESORDENADA NO CENTRO DA CIDADE
18 BOM JESUS OCUPAÇÃO DESORDENADA NA PERIFERIA DE TUCURUÍ
19 PALMARES (área em litígio) OCUPAÇÃO DESORDENADA ÁREA EM LITÍGIO NA PERIFERIA DE TUCURUÍ
20 TERRA PROMETIDA PERIFERIA DE TUCURUÍ
21 COLINAS CENTRO DE TUCURUÍ
22 MANGAL ORLA DE TUCURUÍ
Quadro 1 - Comunidades que participaram do processo de elaboração do plano diretor Municipal de Tucuruí. Fonte: Pesquisa de campo, 2009/10.
Os líderes comunitários participantes deste estudo são representantes da sociedade
civil. Portanto, representam os sujeitos sociais que convivem com os problemas ocasionados
pela segregação socioespacial na cidade de Tucuruí.
Os formulários foram compostos por perguntas fechadas e abertas para líderes destas
comunidades, selecionadas de maneira aleatória, porém representativa da realidade urbana
pesquisada. Além disso, não se optou pela amostragem apenas das ocupações que continuam
incidindo no solo urbano ou mesmo daquelas distantes do núcleo central da cidade, procurou-
se diversificar o universo de investigação.
25
A escolha possibilitou ao pesquisador observar como se processaram a produção do
espaço em uma sociedade que historicamente assistiu à implantação de dois projetos: Estrada
de Ferro do Tocantins (EFT) e Usina Hidrelétrica, os quais colaboraram para a expansão do
tecido urbano. Todavia, registra-se que não foi objeto desta pesquisa estudar o processo de
segregação socioespacial da cidade de Tucuruí partindo da construção desses dois projetos,
principalmente da usina energética. Estes projetos são mencionados no estudo por serem
obras que instigaram grande fluxos migratórios para essa tranquila cidade do rio Tocantins.
As entrevistas semiestruturadas foram aplicadas tanto para os representantes da Gestão
Pública Municipal, como para os coordenadores do Núcleo Gestor do plano diretor de
Tucuruí.
O critério de escolha dos representantes legais das Secretarias efetuou-se através das
afinidades de suas atividades. Nesse sentido, foram objetos as seguintes Secretarias
municipais:
a) Secretaria de Meio Ambiente de Tucuruí;
b) Secretaria de Obras, Urbanismo e Habitação;
c) Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável;
d) Secretaria de Planejamento;
Para esta pesquisa de campo, a técnica de observação serviu para auxiliar na coleta de
dados visuais do fenômeno pesquisado por reservar ao pesquisador o registro em seu caderno
de anotações de campo das mudanças que estão acontecendo no espaço urbano, assim como a
segregação socioespacial se apresenta.
O uso da fotografia nesse estudo fez-se necessário para registro mais abrangente dos
fenômenos observados durante a pesquisa de campo. Logo o registro fotográfico é importante,
pois capta cenas que muitas vezes escapam numa observação visual.
Para Flick (2004, p.162), elas permitem gravações detalhadas de fatos, além de
proporcionar uma apresentação mais abrangente e holística de estilo de vida e condições.
Possibilita a apresentação destes como retratos, e também a transgressão de limites de tempo e
espaços. “Podem captar fatos e processos que sejam muito rápidos ou complexos para o olho
humano, por último, são menos seletivas do que as observações”.
No tocante a pesquisa documental, conforme Pimentel (2001) esta propõe, assim como
outros tipos de pesquisa, produzir novos conhecimentos e criar novas formas de compreender
como os fenômenos têm sido desenvolvidos. Neste trabalho, a pesquisa documental referente
26
à legislação foi efetivada no plano diretor Municipal de Tucuruí, com o propósito de analisar
como a função social da cidade foi trabalhada, buscando-se a compreensão das diretrizes para
o processo de segregação socioespacial urbana em Tucuruí.
Também, recorreu-se a Constituição Federal (BRASIL, 2008) e ao Estatuto da Cidade
(BRASIL, 2001) apenas como arcabouços teóricos delineados na Legislação brasileira, que
expressam as necessidades da construção da gestão democrática através da participação dos
atores sociais na política urbana visando garantir a função social da cidade.
Outras fontes documentais utilizadas na pesquisa encontram-se nas Secretarias
Municipais de Planejamento Urbano, Meio Ambiente, Saúde, na Central Elétrica do Norte do
Brasil (ELETRONORTE) localizada na cidade de Belém, no Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) e no Arquivo Público do Pará.
A pesquisa documental constituiu-se numa etapa importante para um melhor
conhecimento e apreensão do referencial empírico da pesquisa e dos outros elementos a serem
analisados e relativizados com a realidade da cidade de Tucuruí. Mediante análise documental,
que permitiu o conhecimento sobre os instrumentos de reforma urbana presentes no Estatuto
da Cidade, bem como a identificação dos propósitos de operacionalização do mesmo em
Tucuruí por meio da elaboração do plano diretor municipal, no qual foram identificadas as
premissas da função social da cidade e entrevista semiestruturada.
A análise dos dados demográficos, tendo como fonte o IBGE, serviu para analisar os
processos migratórios tanto para a região norte, como para a cidade de Tucuruí, por meio de
cruzamento de dados relacionados aos censos de 1940 até a contagem populacional de 2007.
Destarte, apesar de existir necessidade de coleta de informações junto à Companhia de
Habitação do Pará (COHAB) não foi possível a obtenção de quaisquer informações perante
este órgão estadual, que possibilitasse analisar as construções das primeiras moradias, tais
como: planejamento da área, espaços que ficaram ociosos e situação na atualidade.
Nesta pesquisa usou-se o método da triangulação para maior aproximação dos
fenômenos estudados. A triangulação de métodos torna capaz de viabilizar o entrelaçamento
entre teoria e prática e de agregar múltiplos pontos de vista – seja das variadas formulações
teóricas utilizadas pelos pesquisadores ou a visão de mundo dos informantes da pesquisa –
utilizados de modo articulado no estudo empreendido pelos autores (GARNELO, 2006).
Ainda, segundo o autor, o uso da triangulação exige, também, a combinação de
múltiplas estratégias de pesquisa, capazes de apreender as dimensões qualitativas e
quantitativas do objeto. O método de triangulação atende aos requisitos do método qualitativo,
“[...] ao garantir a representatividade e a diversidade de posições dos grupos sociais que
27
formam o universo da pesquisa, quanto às ambições do método quantitativo, ao propiciar o
conhecimento da magnitude e eficiência de programa sob estudo”. (GARNELO, 2006, p.
1115).
A análise do processo de segregação socioespacial da cidade de Tucuruí formou-se a
partir da triangulação entre as informações técnicas contidas no PDT e sua aplicabilidade, as
informações obtidas junto aos líderes comunitários, representantes da gestão pública
municipal e ainda a técnica de observação da pesquisa de campo. Depois, procedeu-se o
cruzamento das informações coletadas, com as obtidas nas imagens da pesquisa cartográfica.
1.4 A ESTRUTURA DO TRABALHO
Quanto à estrutura dos capítulos, a dissertação é constituída de sete capítulos, além das
considerações finais.
O primeiro capítulo trata da introdução do estudo. Elucida-se neste capítulo o contexto
da pesquisa, a problemática, objetivos, enfim os procedimentos metodológicos da pesquisa.
O segundo capítulo trata da revisão literária sobre os principais conceitos desta
pesquisa: urbanização, produção dos espaços segregados, segregação socioespacial e
governança. Identifica-se nessa seção que as ocupações urbanas desordenadas acompanhadas
de falta de saneamento básico, equipamentos urbanos e serviços públicos poderiam ser
evitados se houvesse aplicabilidade dos planos municipais. Além disso, a participação dos
sujeitos sociais na gestão pública das cidades contribuiria para haver mais justiça social e
desenvolvimento sustentável no espaço urbano.
O terceiro capítulo discute como a presença dos grandes projetos nos espaços das
cidades da Amazônia não representa desenvolvimento local e qualidade de vida saudável para
seus habitantes. Pelo contrário, acentua-se a segregação socioespacial nestas cidades e a
construção das cidades planejadas para os funcionários das empresas representam enclaves
territoriais.
O quarto capítulo aborda um pouco da História do município de Tucuruí dando ênfase
para a implantação dos projetos (Estrada de Ferro e Usina de energia) em momentos
históricos distintos, mas que contribuíram para o espessamento deste solo urbano.
Principalmente a construção da hidrelétrica, que atraiu afluxos migratórios à procura de
28
trabalho nos canteiros de obras. Esse adensamento populacional impactou tanto no meio
ambiente natural como no espaço urbano.
O capítulo subsequente analisa o processo de segregação socioespacial de Tucuruí.
Enfatiza como em Tucuruí, a pobreza urbana não é só uma questão de nível ou índice, mas
também de concentração espacial e social, envolvendo desigualdade, separação e
homogeneidade espacial. Evidencia que as ações de planos urbanísticos antecedentes do plano
diretor não conseguiram amenizar deficits na habitação, infraestrutura e equipamentos
urbanos, que tanto necessitam as comunidades das periferias dessa cidade.
O sexto capítulo ressalta o processo de construção do plano diretor participativo do
município de Tucuruí. Busca elucidar como ocorreu a participação dos atores sociais quando
da elaboração do plano diretor de Tucuruí e como essa participação se apresenta na atualidade.
E ainda, que o plano diretor não é estático, mas eficaz e evolutivo, este deve garantir a sadia
qualidade de vida de seus habitantes, através das funções sociais da cidade.
O sétimo capítulo discorre sobre as diretrizes estabelecidas no plano diretor de Tucuruí
para as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) e sua aplicabilidade na produção do
espaço urbano. Analisa como a segregação socioespacial se configura na espacialidade urbana.
29
2 REVISANDO OS PRINCIPAIS CONCEITOS
2.1 URBANIZAÇÃO
No Brasil em decorrência do crescimento da industrialização urbana dá-se o êxodo
rural. No campo a concentração de grandes latifúndios, aliada aos problemas das condições
salariais e da exploração da mão-de-obra, contribui para expropriação de muitas famílias de
camponeses, assim como para a grilagem da terra.
Em virtude desses e outros fatos o homem deixa o campo com esperança de encontrar
na cidade trabalho e qualidade de vida.
Argumenta Santos (2005) que o processo acelerado da urbanização brasileira a partir
do fim da segunda guerra mundial é marcado por uma acentuada demografia e revela uma
crescente associação com a pobreza. As possibilidades da racionalidade de planos urbanos, ou
as preocupações com saneamento básico, urbanismo, embelezamento, lazer, qualidade de
vida, estão excluídas pela expansão das formas privadas de apropriação do espaço, admitindo,
neste caso áreas de segregação socioespacial, expansão urbana e reconfiguração socio-
territorial.
Para Lefebvre (1999), o processo de industrialização capitalista criou a anticidade que
vai conquistar a cidade legal através da propaganda, do consumismo e da expansão de tecidos
urbanos nas ruínas da antiga cidade. O tecido urbano emergente na sociedade acaba por
completo o que restou da cidade comercial, fazendo surgir a não cidade, que é caótica.
A intensificação da dualidade entre cidade formal e cidade informal tem sido uma
constante na estrutura das cidades brasileiras (MARICATO, 1996). O ritmo do crescimento
dos loteamentos irregulares, das favelas e dos cortiços nas periferias das grandes cidades é
bastante intenso, sobretudo nas áreas de invasão, o que tem reforçado a função estrutural da
informalidade na composição do espaço urbano.
Para Santos (2005), o poder público torna-se estimulante da especulação do solo ao
fomentar a produção de espaços vazios dentro das cidades. Mostra-se inoperante para resolver
problemas de moradia e empurra a maioria da população para precárias habitações nas
periferias. Assiste-se ao crescimento e aparecimento de inúmeros assentamentos, ocupações e
favelas, que ocupam áreas aleatoriamente sem nenhum tipo de (re) organização, de
conhecimentos geográficos, ambientais ou infraestrutura.
30
Lefebvre (2001) denomina de “cidade Política” as diferentes manobras administrativas
e de exploração que os dirigentes criaram desde o renascimento das cidades, no período
medieval na Europa, onde o planejamento urbanístico preparou os espaços da cidade para
atender as exigências mercantis associadas à cidade política. A partir do advento do
capitalismo na Europa ocidental – consolidação industrial capitalista – se projetou as
complexas interações entre os três aspectos e os três conceitos essenciais da cidade: função,
forma e estrutura.
Segundo Lefebvre (2001, p.102), o urbano é a obsessão daqueles que vivem na
carência, na pobreza, na desilusão da cidade, na frustração dos possíveis que permanecem
como sendo apenas possíveis. “A integração e a participação são a obsessão dos não-
participantes, do não-integrados, daqueles que sobrevivem entre os fragmentos da sociedade
possível e das ruínas do passado [...]”.
Para Villaça (2001) uma das características mais marcantes das metrópoles brasileiras
é a segregação espacial das classes sociais em áreas distintas da cidade. Basta uma volta pela
cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para constatar a diferenciação entre os bairros,
tanto no que diz respeito ao perfil da população, quanto às características urbanísticas, de
infraestrutura, de conservação dos espaços e equipamentos públicos, etc.
Na rede urbana 1 , a dificuldade do acesso à terra tem sido fator determinante de
carências e desigualdades sociais. Nas cidades, os altos preços do solo urbanizado
determinam a segregação populacional por estratos de renda e impõem ônus sociais
inversamente proporcionais à capacidade de pagamento de quem os suporta. Forçados a
buscar alojamento em áreas distantes e precariamente providas de serviços públicos, são
exatamente os mais pobres, os que arcam com os custos mais elevados de transporte e de
acesso a bens e serviços urbanos.
Compreende-se que, na urbanização brasileira, existe uma distribuição desigual dos
equipamentos de bens e serviços essenciais para vivência urbana, com intenso favorecimento
das classes com rentabilidade mais elevada e que residem nos espaços da cidade com
adequada assistência infraestrutural, acessibilidade comercial, educacional, de saúde. Isso
ocorre porque quanto maior a renda, maior a qualificação profissional e educacional, que são
1 Para compreensão do conceito, buscou-se Valença (1991), por considerar rede urbana como materialização do processo de realização do ciclo do capital. Deste modo, a rede urbana reflete características da estrutura econômica e social de um território. “Trata-se de uma dimensão socioespacial da sociedade e, portanto, uma fonte incontestável para compreensão de fenômenos sociais. Cada cidade desempenha um papel na criação, apropriação e circulação do valor excedente.” (VALENÇA, 1991, p. 96-97).
31
acompanhadas pela especulação imobiliária2 do solo urbano que contribuem para elevar o
preço das propriedades urbanas.
Assim sendo, um dos problemas sociais típicos da intensa urbanização brasileira é a
carência de moradia para famílias pobres. Afirma Corrêa (1995), na luta pela ocupação da
região urbana, apesar da carência de espaços para serem ocupados pelos habitantes, existem
amplas áreas ociosas, na forma de terrenos baldios pertencentes a particulares, empresas e
governos, e que são valorizados em virtude do próprio crescimento das cidades.
Sem possibilidade de acesso à casa própria, parte considerável da população espreme-
se em favelas, cortiços, ou casas populares construídas pelos próprios habitantes nos finais de
semana, num processo definido por Kowarick (1993) como autoconstrução.
É necessário lembrar, que além do preço da terra urbana, do setor imobiliário-
construtor e do Estado, também é preciso considerar o conjunto da composição social do
capital e a forma como se reparte o trabalho excedente do necessário, ou seja, quando a oferta
de empregos é insuficiente ou os salários são muito baixos, dificultando a aquisição de uma
moradia digna, que disponha de saneamento básico, comércio e lazer (KOWARICK, 1993).
Na atualidade, um dos graves problemas da humanidade é o adensamento
populacional das cidades. Os problemas urbanos avolumaram-se: concentrações
populacionais, migrações rurais, superpovoamento e transformação do espaço assinalam o
crescimento e configuração das cidades na contemporaneidade (SANTOS, 1982).
O Gráfico 1, baseado nos censos do IBGE, demonstra como o crescimento da
população urbana brasileira vem aumentando em relação à área rural nas últimas décadas.
2 Usa-se o termo especulação imobiliária neste trabalho para explicitar que os bairros que possuem acesso fácil às atividades comerciais e sociais, como escolas, hospitais e supermercados, se valorizam cada vez mais, impedindo que muitos adquiram um imóvel nesta região. A isso se soma a especulação imobiliária que mantém imensos vazios na cidade à espera de valorização, pois, existe pouco investimento público no setor imobiliário para habitações populares. Santos (2004, p. 27) afirma que “o espaço, tornou-se a mercadoria universal por excelência, com todas as frações do território são marcados, doravante, por uma potencialidade cuja definição não se pode encontrar senão a posteriori, o espaço se converte numa gama de especulações de ordem econômica, ideológica, política, isoladamente ou em conjunto”.
32
POPULAÇÃO BRASIL - URBANA x RURAL
0
20.000.000
40.000.000
60.000.000
80.000.000
100.000.000
120.000.000
140.000.000
160.000.000
1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000
URBANA RURAL
Gráfico 1 – População urbana e rural do Brasil. Fonte: IBGE, 2009.
Hoje, habita a cidade uma população que desafia seu espaço, sofre com os problemas
locais e reivindica infraestrutura, lazer, acessibilidade e trabalho. Nas periferias das cidades
aumentam a proliferação de assentamentos sobre encostas, à beira dos rios, córregos, nas
áreas de proteção ambiental, assim como, precariedades urbanísticas, ausência de saneamento
básico, com altas vulnerabilidades sociais e riscos ambientais, entre outros graves problemas.
As transformações que permearam a Amazônia brasileira nas décadas de 60 e 70
ocasionaram profundas mudanças e conflitos nas relações socioeconômicos e ambientais. E
ainda, surgimento de novas cidades.
A urbanização da Amazônia, a partir da segunda metade do século XX, apesar dos
impactos ao meio ambiente, proporcionados pela proliferação desordenada de novas cidades e
suas escassas condições de habitabilidade, continua a avançar. Ocasionando ocupações
irregulares no espaço urbano, criando situações de insalubridade e insegurança, tendo como
resultado comunidades que vivem precariamente.
É nesse sentido que Castro (1992) assinala a existência de vários problemas
ambientais urbanos na Amazônia, desde desajustamento de infraestrutura e equipamentos
urbanos, precariedade de esgotos sanitários na maioria dos bairros periféricos das cidades,
ineficiência na coleta de lixo que são depositados, em muitas cidades, em locais inadequados,
alagados ou próximos de rios e mananciais.
Becker (1998) ressalta que o crescimento populacional na Amazônia não foi
acompanhado pela implementação de serviços básicos essenciais que garantissem o mínimo
de qualidade e seguridade para a maioria dos habitantes das cidades. Por conseguinte,
avolumaram-se nas cidades amazônicas acentuados problemas ambientais, ineficiência
33
educacional, de saúde, baixa remuneração da mão-de-obra, violência, congregados à carência
ou ineficiência de equipamentos urbanos.
Para Castro (2008), o processo de urbanização da Amazônia vai além dos estudos
sobre fronteiras3 abertas a partir dos anos 1970, que permitiu construir modelo de povoamento
e urbanização centrado nos fluxos econômicos e migratórios nesta região. E, além das análises
que associaram esse fenômeno com base na dinâmica demográfica, ou mesmo, na importância
da economia extrativa da borracha no fortalecimento de redes de cidades e no processo de
urbanização.
A perspectiva é entender que a urbanização na Amazônia é um fenômeno mais geral,
que abrange redes socioeconômicas e culturais complexas, sujeitos sociais que fazem a cidade,
que lutam em posições de classe diferente no seu dia-a-dia e que são os artífices da
apropriação e da produção do espaço, da construção dos direitos à cidade.
Diferentes interpretações do povoamento da Amazônia nos últimos 40 anos têm sido esboçadas em vários trabalhos. Relações entre capital e trabalho, avanço da fronteira, novas configurações de poder e de conflitos, dinâmicas socioeconômicas e demográficas, formação de elites, experiência social de segmentos bastante diversos de trabalhadores e identidades sociais, são temas que fazem parte, de um lado, de estudos que tratam ângulos diferentes da problemática urbana e, de outro lado, da pauta de discussões e encaminhamentos de movimentos sociais urbanos que buscam, de sua parte, também interpretar os processos de urbanização na Amazônia e a relação entre desenvolvimento capitalista e a precarização dos direitos à cidade. (CASTRO, 2008, p. 15).
Os espaços territoriais onde foram alocados grandes projetos receberam contingente
expressivo de migrantes que passaram a residir nas periferias das cidades, modificando a
malha urbana. Um dos componentes que marcaram esse processo de configuração de uma
fronteira econômica no espaço amazônico foi o grau de urbanização de seu território,
revelando taxas de crescimento superiores ao que foi verificado em nível nacional
(TRINDADE JÚNIOR, 1998).
3 A fronteira é um espaço em construção, em movimento, transformado ao longo dos anos. É um espaço de produção social pelos grupos que chegam e que participam da construção concomitante do mundo rural e do espaço urbano, quer estejam envolvido no trabalho agrícola, quer trabalhem no garimpo ou tenham outras formas de trabalho. A fronteira é o encontro de várias origens que obedecem a racionalidades distintas, mas que acabam por conformar relações sociais e um novo campo de sociabilidade (CASTRO, 2008).
34
O modelo de cidade ribeirinha4 fundada pelos portugueses, a partir do século XVII, na
Amazônia, onde já existia uma articulação do homem com a natureza e uma identidade
cultural desse homem, deixa de existir nesse estranho modelo de cidade, onde seus habitantes
(natural ou imigrante) se sentem incapacitados para explorá-la sem que ocorra qualquer
depredação ao meio ambiente, pois na ausência de políticas públicas eficazes que atendam às
necessidades da população migrante, surgem as periferias, as ocupações irregulares, os
assentamentos desumanos (LOUREIRO, 2009).
Tal caracterização serve como advertência àqueles que acreditam ser suficiente estar à
beira-rio para que uma cidade na Amazônia possa ser considerada ribeirinha. Entretanto, a
população passa a vivenciar uma nova lógica de deslocamento e de reprodução
socioeconômica e cultural. A inserção das estradas produzem um novo tipo de interação, a
interação cidade-estrada.
As novas cidades existentes na região, assim como, apropriou-se e adaptou antigas
cidades que foram produzidas por meio da lógica de interação cidade-rio. Assim, é muito
comum haver cidades que estão à beira-rio e apresentarem uma interação muito frágil com
relação ao meio ambiente natural (SILVA, 2008).
Desse modo, por meio da exploração integrada da região a partir da década
de1960/1970, estabeleceram-se pólos de crescimento, por meio dos quais valorizaram-se
determinadas áreas, que apresentavam potencialidades a serem exploradas, e preservaram-se
aquelas que não apresentavam uma vocação econômica ou algum recurso a ser explorado pelo
grande capital (COELHO, 2003).
Por conta dessa seletividade e da integração necessária entre os projetos econômicos,
estabeleceu-se um padrão linear dos eixos de transporte, padrão este, seguido também pela
lógica do povoamento (BECKER, 2004), ou seja, os eixos de transportes, especialmente os
eixos rodoviários, não alcançaram todos os recantos da região amazônica, provocando uma
diferenciação na densidade técnica e também na densidade demográfica, bem como na
composição cultural da população.
4 [...] na maioria das vezes, o discurso que propaga a cidade ribeirinha se refere principalmente a atributos de cidades localizadas à beira-rio, e não necessariamente aos elementos que identificam a interação cidade-rio, próprios da cidade ribeirinha. Esta última adjetivação tende a caracterizar essas cidades não simplesmente por estarem localizadas à beira-rio, mas principalmente por apresentarem um sistema de objetos (forma/paisagem) e um sistema de ações (conteúdo) que reafirmam a interação cidade/rio, seja do ponto de vista material/funcional, seja do ponto de vista simbólico (TRINDADE JÚNIOR, 2002, p. 138).
35
Nesse sentido, o acelerado processo de urbanização da Amazônia e os processos
migratórios ajudam a compreender como as especificidades desta região foram sendo
construídas, desconstruídas e reconstruídas.
A migração de populações rurais e urbanas da própria região e também de outras
regiões, possibilitou o crescimento populacional de antigos núcleos urbanos que tiveram suas
regiões incluídas nas novas estratégias de desenvolvimento, mas isso não possibilitou,
entretanto, melhorias na qualidade de vida da população (ROCHA; GOMES, 2002). Assim
como o surgimento de novos núcleos urbanos não se fez acompanhar do estabelecimento de
infraestrutura e serviços que possibilitassem vida digna aos que foram se instalar nesses locais.
A inserção direta de Tucuruí, referencial empírico deste trabalho, nas estratégias de
desenvolvimento implantadas na Amazônia a partir da década de 1970 tem contribuído, para
um acelerado processo de urbanização. O aumento populacional implicou ocupações
irregulares do espaço urbano, que não foram acompanhadas por serviços e equipamentos
públicos adequados para suprir as necessidades essenciais de homens e mulheres que erguem
suas casas em locais inadequados para a vida humana.
Assim sendo, o expressivo aumento populacional na cidade de Tucuruí, associado à
inoperância do poder público para aplicar planos urbanísticos e habitacionais, ocasionaram,
para a maioria de trabalhadores sem muita perspectiva de habitabilidade, as edificações de
favelas, assentamentos precários nos espaços mais íngremes e fora de todos os regulamentos
urbanísticos, mas que representam alternativas de moradia, de vivência em comunidade.
Soluções esdrúxulas é verdade, mas que são as únicas que estão ao alcance da população.
De todo modo, na cidade de Tucuruí, a pressão sobre o meio ambiente, a busca de
habitabilidade na precária estrutura urbana, criaram desafios importantes para as políticas
governamentais da atualidade como: fornecimento de água com qualidade, esgotamento
sanitário, coleta de lixo, transporte, habitação em áreas distantes dos mananciais, igarapés,
lagoas e principalmente dos espaços inundáveis na época das chuvas e dos deslizamentos.
2.2 PRODUÇÃO DOS ESPAÇOS SEGREGADOS
Uma cidade comporta muitas realidades, e, ao analisar a produção dos espaços
urbanos, sua transformação, é possível recordar aquilo que ele foi um dia. Naturalmente, a
forma de uma cidade, seus prédios e movimentos contam uma história não verbal do que a
36
urbe vivenciou um dia, os espaços e as relações sociais se alteraram inexoravelmente, seja
enquanto forma, função ou significado (CALVINO, 1990).
Desde os anos de 1970, que estudiosos da sociedade, tem analisado densamente a
pobreza urbana. As periferias das principais cidades brasileiras nas décadas de 70 e 80 do
século XX foram caracterizadas pela ineficiência de políticas públicas.
Os espaços urbanos que passaram a ser ocupado por segmentos sociais de menor
poder aquisitivo “foram caracterizados como ‘periferias’ - espaços socialmente homogêneos,
esquecidos pelas políticas estatais, e localizados tipicamente nas extremidades da área
metropolitana” (TORRES et al, 2003, p. 98).
De uma forma geral, o padrão espacial das carências e da segregação social teria
estabelecido um sólido e identificável “modelo metropolitano brasileiro”, construído nos anos
1960 no Rio de Janeiro e exportado para o resto do Brasil em uma “moda metropolitana”
(SANTOS, 1979). Portanto, a maneira de compreender espaços urbanos distintos, seria
opondo-se constantemente os espaços através da dualidade entre centro equipado por serviços,
infraestrutura versus periferia desassistidas.
A ausência de intervenções públicas nos espaços periféricos seria produto de
mecanismos estruturais ligados à dinâmica mais geral do sistema econômico (KOWARICK,
1999).
Para Castells (1983) e Villaça (2001) que apresentam trabalhos que se aproximam no
campo dos estudos urbanos, o Estado seria o responsável pela reprodução geral da dinâmica
capitalista, tarefa desempenhada através de investimentos produtivos para auxiliar a
acumulação (viabilizando tanto a reprodução do capital quanto a do trabalho) e, ao mesmo
tempo, através de gastos públicos que legitimassem a sociedade capitalista, escamoteando as
diferenças sociais através do seu caráter assistencialista.
Segundo esses autores, as políticas públicas urbanas não foram eficazes para resolver
os principais problemas das periferias das metrópoles do Brasil, gerando os conflitos causados
por este baixo padrão de vida, constituindo-se em contradições do funcionamento do próprio
sistema capitalista. As contradições urbanas oporiam trabalhadores e Estado, ocultando o
caráter de classe do conflito, mas politizando-o de maneira concomitante.
De uma forma ou de outra, portanto, todas as correntes dessa literatura da sociologia e
dos estudos urbanos dos anos 1970 e início dos anos de 1980 mobilizaram mecanismos
estruturais e/ou de natureza econômica para explicar a conformação da cidade e as políticas
estatais, seja ligando-as ao modo de produção, em sua versão influenciada pelo marxismo
estruturalista francês, seja associando-as ao comportamento econômico de agentes sociais.
37
Todavia, a maneira de analisar através da homogeneidade e pela localização espacial
das periferias tem sido atualmente reavaliada, levando em consideração outros fatores que
ocasionaram mudanças na reestruturação dos espaços urbanos.
Para Kowarick (2000), a estrutura sem sujeitos dos estudos dos anos 1970 foi
substituída, em sua versão mais extrema, pelo estudo de sujeitos liberados de qualquer
constrangimento estrutural ao longo da década de 1980. Durante todo esse longo percurso, os
pontos cegos da literatura sempre foram a política, entendida como campo onde se
desenrolam estratégias e conflitos reais de resultado contingente, assim como o Estado, quase
nunca tratado na sua complexidade de conjunto heterogêneo de instituições dotadas de
história, estrutura, identidade e interesses próprios.
Para Corrêa (1995), o espaço urbano pode ser apreendido, em um primeiro momento,
a partir de um complexo conjunto de usos da terra. É um espaço fragmentado e ao mesmo
tempo articulado, pois cada uma de suas partes mantém algum tipo de relação espacial com as
demais. Essa articulação se manifesta através dos fluxos, de pessoas, veículos, nos momentos
de trabalho, lazer, etc.
Santos (1979) destaca que não há sociedade e nem história sem espaço, uma vez que
as relações humanas nele se materializam. Entretanto, o espaço considerado não é meramente
espaço natural ou físico, como propunham alguns estudos geográficos até a década de 1960.
Nem tampouco, é simplesmente a soma dos lugares onde a mais-valia se forma, realiza-se e se
distribui. Resultado de formas presentes, o espaço traz, também consigo, as formas deixadas
por sua historicidade.
O espaço, segundo Castells (1983) e Lefebvre (1999, 2001) é acima de tudo produto
do trabalho social, ou seja, construção de relações humanas em sociedade, correspondente à
produção de relações “visíveis” (obras físicas e objetos) e “invisíveis”, representadas por
instituições como o Estado, partidos e organizações e, ainda, por valores, ideias e
representações.
O espaço urbano é um produto social resultado das ações que são acumuladas através
do tempo e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço. Define Corrêa
(1995), como espaço fragmentado, articulado e cheios de símbolos. Os agentes sociais, que
fazem parte desse contexto, apresentam ações muito complexas, provocando grandes
mudanças no seu cotidiano.
É evidente que, ao discorrer sobre a noção de espaço, evocam-se as relações entre ação
humana e meio ambiente. Estas relações, longe de se tratarem apenas de atrelamento ou
mesmo interações, formam, na realidade, um conjunto indissociável, onde o homem passa a
38
interagir diretamente na natureza. Com efeito, é na apropriação e controle de recursos,
sobretudo os escassos, naturalmente ou socialmente produzidos, que se dá a produção de
espaço (SANTOS, 2008).
Nas últimas décadas um novo fator vem gerando modificações nos espaços urbanos:
os condomínios fechados, ou como denomina Caldeira (2000) “cidades de muros”. As
classes sociais com maior renda estão confinadas, fechadas nestes espaços em busca de
segurança, suas ações são monitoradas diariamente. Geralmente esses condomínios estão
localizados distantes das cidades e, bastante próximos às periferias, apresentando uma
segregação socioespacial nítida para qualquer visitante, tanto pela qualidade de saneamento
básico e serviços, como pela valorização da área que acaba recriando novas espoliações
urbanas.
De acordo com Torres (et al, 2003, p. 98) o processo de descentralização das
atividades comerciais e o aparecimento de diversos novos investimentos nos diferentes
espaços urbanos, tradicionalmente ocupados por pobres, acabaram por transferir para áreas
periféricas das cidades brasileiras habitações da classe rica, que apesar de produzirem
enclaves acabam por desfazer a “geometria radial-concêntrica e ocorre um aumento
significativo da heterogeneidade social nessa região”.
Os serviços e investimentos estatais, no entanto, não foram suficientes para elevar as
condições de vida da população de baixa renda ao padrão das outras estruturas das cidades.
Segundo Caldeira (2000), o abandono do espaço público e a proliferação de espaços
fortificados privados para uso coletivo não resolvem a questão da violência, além de
aprofundarem alguns de seus aspectos.
Num país com o grau extremo de desigualdade social como o Brasil, a difusão da
segurança privada tende a ser mais um sistema perverso de aprofundamento dessa
desigualdade. Logo, é ilusão pensar que se pode construir uma sociedade segura apenas
dentro dos muros de espaços protegidos. O que se consegue com esses muros é aprisionar as
pessoas e segregar os mais pobres, mas não necessariamente maior segurança (CALDEIRA,
2000).
Para Trindade Junior (1997), esses novos padrões de segregação residencial são
definidos a partir da saída da elite econômica dos centros das cidades para áreas privilegiadas
e protegidas, distantes das ocupações das áreas centrais pela população de baixa renda e da
expansão da periferia pelas camadas de imigrantes pobres e pessoas de baixo poder aquisitivo.
De acordo com Torres et al (2003), essa dimensão introduziu novos desafios
conceituais e analíticos das ocupações espaciais das cidades, ao contrário dos anos de 1970, a
39
simples classificação de um espaço como periferia já não nos permite prever os conteúdos
sociais associados à moradia no local. Embora o desenvolvimento de um novo quadro
conceitual seja uma tarefa complexa e necessariamente coletiva.
O espaço urbano no Brasil é na maioria das vezes, marcado por suas inúmeras
carências, reproduz as características do espaço urbano de demais países pobres, onde o
problema da segregação socioespacial é emblemático. De um lado, espaços segregados dos
pobres se avolumam nas periferias e favelas, carentes de infraestruturas e de serviços públicos;
de outro, como é o caso da classe social de alta renda, ocorre uma auto-segregação, sendo os
condomínios fechados de luxo um exemplo também nítido do processo de fragmentação e
segregação urbanas que, em última análise, é consequência das desigualdades sociais. “Em
realidade, a segregação parece constituir-se em uma projeção espacial do processo de
estruturação de classes, sua reprodução, e a produção de residências na sociedade capitalista”
(CORRÊA, 2001, p.132).
Assim sendo, a estrutura urbana não pode ser compreendida apenas como organismo
do tecido urbano, uma vez, que não existe um modelo exclusivo de estrutura de cidade, mas
as estruturas e seus diferentes simbolismos. A sociedade acaba ocasionando modificações
estruturais que estão presentes nos diversos espaços urbanos. A estrutura social das relações
cidade-campo, por exemplo, não desaparece, pois a vida urbana compreende mediações,
símbolos, entre a cidade, o campo e a natureza.
A estrutura corresponde à natureza social e econômica da sociedade em determinado
momento histórico. Por outro lado, é exatamente essa estrutura socioeconômica, “específica
de cada sociedade, que vai estabelecer os valores dos diversos objetos geográficos num dado
momento histórico. A estrutura, em qualquer ponto do tempo, atribui valores e funções
determinadas às formas do espaço” (TRINDADE JUNIOR, 1997, p. 9).
Contudo, os constantes deslocamentos populacionais intraurbanos, representados pelos
fluxos migratórios para dentro das cidades, emergem como agravantes das desigualdades.
Segundo Corrêa (1995), o aumento de loteamentos periféricos, em terrenos públicos ou
privados, pelos segmentos sociais excluídos dos bens e serviços dos espaços estruturados,
tornam-se agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço.
Para Caiado (2005), a configuração socioespacial resultante desse processo de
estruturação espacial marcada pela formação de extensas periferias desassistidas social e
economicamente, evidencia de forma indiscutível as desigualdades sociais entre segmentos
populacionais do espaço intraurbano, presentes no processo de desenvolvimento nacional. A
dinâmica urbana não apenas reflete a estrutura social de uma dada sociedade, como também
40
se constitui em mecanismo específico de reprodução das desigualdades das oportunidades de
participar na distribuição da riqueza gerada na sociedade.
Contextualizando o modelo de planejamento urbano desenvolvido da cidade de
Tucuruí, Loureiro (2004) aponta que as exigências infraestruturais do complexo hidrelétrico
transformaram o espaço da cidade em cercas e vigilâncias permanentes para prevenir a
ocupação desordenada ao redor dos canteiros da obra. Esse diferente plano urbano constitui
um rompimento visível com o mito da modernização e do desenvolvimento amazônico,
assinalando, o descontrole do Estado e da sociedade em geral, sobre um projeto
desenvolvimentista estranho à região.
Segundo Magalhães (2008), o modelo de políticas públicas de desenvolvimento
nacional é formulado distante do território de implementação de um grande investimento de
infraestrutura, como a construção da usina hidrelétrica de Tucuruí. Uma região como a
Amazônica que possui diversidade ética, sociais, econômicas, agrárias, ambientais, abriga
choque de interesse de diferentes grupos sociais, que se apropriam da terra com perspectivas
diversas.
Segundo Castro (2008), o espaço urbano na fronteira foi produto não só do
planejamento, mas da recriação social, das relações construídas por várias gerações que
acabaram por se envolver em um projeto de mudanças e de desenvolvimento regional.
Destarte, foram de grande importância as contribuições dos autores acima citados para
melhor compreensão sobre produção do espaço. Entretanto, a produção do espaço neste
estudo parte das primícias de que a gestão pública de uma cidade deve ter, na unidade de
planejamento, o bairro, e, como instrumento de definição de ações, o plano diretor. A
produção do espaço urbano, portanto, decorre das análises políticas que envolvam os custos e
benefícios sociais. Para isso, deve ser viabilizado o planejamento setorial, tendo como base os
bairros. Essa forma de organização permite maior consciência dos direitos e deveres da
população, enquanto cidadãos, sendo uma etapa importante a ser superada dentro das
estruturas políticas atuais.
É através do plano diretor que se define a função social da propriedade e da cidade,
cujo alcance se concretizará pela intervenção pública na busca da redução de desigualdades,
segregações e exclusões sociais, contribuindo decisivamente para a expansão da cidadania.
Desta maneira, o plano diretor de Tucuruí é um instrumento que ao indicar caminhos e
traçar rumos, deve transformar os espaços da cidade em locus de negociação entre os atores
sociais, que possuem interesses divergentes dos gestores locais e desejam uma gestão
41
participativa. Passando a exigir que a participação dos diversos agentes sociais seja contínua e
atuante no combate da centralização administrativa.
2.3 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
Na contemporaneidade, a procura por emprego, qualidade de vida 5 , educação,
atendimento à saúde são os principais atrativos que as cidades exercem nos migrantes, que
acabam surpreendidos pela realidade apresentada, visto que, enfrentam diversos tipos de
entraves, como mercado de trabalho exigente com a qualificação profissional, precariedade
habitacional e dos serviços de infraestrutura (ABELÉM, 1988).
A expansão do tecido urbano passa a ser enquadrada dentro deste modelo de sociedade
com distribuição desigual de renda, serviços e bens. Para Corrêa (1995) e Lefebvre (2001), o
problema da produção da habitação nas cidades, resulta da comercialização do solo urbano, é
a fragmentação do espaço no nível local em lotes ou parcelas de propriedade privada, os quais
são negociados com base nas regras da renda fundiária e da especulação imobiliária.
Olhar a sociedade urbana a partir do processo contraditório, dialético, onde existem
pontos críticos de conflitos, heterodoxo, caos produzido por essas contradições, é perceber a
existência de campo cego que se instalam na representação paradoxal de signos da natureza -
o que olhamos na verdade não conseguimos enxergar -, impossibilitando um olhar mais atento
para o micro, à observância do macro produzido pela industrialização deslumbra e
proporciona pensar o urbano reduzido ao processo industrial, os olhares são ofuscados, a luz
deixada à sombra (LEFEBVRE, 1999).
Para Castells (1983), Corrêa (1995) e Lefebvre (2001), a cidade é obra de uma
história. Portanto, na contemporaneidade, as cidades expressam acelerado aumento
populacional e, consequentemente a pobreza gerada pelas sucessivas introduções de novas
formas de exploração econômica.
Para Corrêa (2000), os bairros das cidades refletem o planejamento urbano, pois é a
partir do bairro que se enxerga a cidade e o mundo. Um bairro e seu sistema de valores estável
possibilitam maior reprodução do grupo social que ali vive. Para isto, contribui a localização
5 Neste trabalho o conceito qualidade de vida está sendo utilizado para assinalar que em uma sociedade qualitativamente deve assegurar aos seus integrantes a condição de cidadania, dando acesso à educação, saúde, habitação, alimentação e lazer.
42
diferenciada dos serviços de uso coletivo: melhores escolas, hospitais, policiamento,
infraestrutura básica, parques e jardins localizam-se nas áreas residenciais mais nobres,
minimizando os custos de reprodução de seus já distintos habitantes.
Torres et al (2003) chegaram a conclusão de que a segregação socioespacial da cidade
de São Paulo e a pobreza urbana não é apenas uma questão da condição social, ou indicador
estatístico da realidade das cidades, mas também de concentração espaciais e sociais,
envolvendo desigualdade, separação e homogeneidade espacial. Para estes autores, problemas
de segregações sociais também estão ligados às políticas públicas, que deveriam ser criadas
para melhorar a situação dessas pessoas, pois, uma importante consequência social da fusão
entre desigualdade e a segregação é o forte efeito cumulativo dos riscos sociais e ambientais.
A concentração significativa de famílias em uma área corresponde a uma estratificação
social e tem uma expressão espacial. Os processos de segregação definem a divisão social do
espaço que colabora para o surgimento de vários problemas, sobretudo referentes à questão da
moradia. A espacialidade urbana é marcada de um lado pela exclusão de muitos, e de outro,
pelas melhores condições de vida de poucos.
A cidade de Tucuruí se apresenta com a configuração espacial como se fosse feita de
peças diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estranho nos demais,
principalmente em relação à Vila Permanente construída pela ELETRONORTE. É como se
cada espaço fosse demarcado por cercas, que definem o lugar de cada coisa e de cada um dos
habitantes. Esse acentuado movimento de separação entre as classes sociais e as funções do
espaço da cidade é que esta pesquisa denomina de segregação socioespacial.
Logicamente, que essa realidade não é típica da cidade de Tucuruí, quase todas as
cidades brasileiras apresentam segregação socioespacial. Quando o apartheid estava visível
na África do Sul, cidades como em Joanesburgo utilizavam placas indicando os territórios
permitidos ou proibidos para os negros, neste caso, a segregação se apresentava descarada e
violenta.
Portanto, compreende-se a segregação não apenas como um processo de separação dos
moradores de uma cidade, também baseadas em desigualdades maiores, mais principalmente
no tocante as condições sociais. Isso se deve, em parte, à deficiência entre diferentes
condições de vida, acesso a serviços e infraestrutura e equipamentos públicos.
De tal modo que a segregação tanto espacial, quanto por meio de planejamentos
estrutural de bairros com localização privilegiada, valorização imobiliária, disponibilidades de
equipamentos urbanos, saneamento básico e localização com acessibilidade ao trabalho,
43
comércio e lazer se contrastam com a realidade dos bairros periféricos e dos assentamentos
precários.
A própria segregação não é apenas reflexo de uma condição social, mas um fator que
contribui para tornar as diferenças ainda mais profundas. A segregação espacial aumenta a
sensação de desigualdade e pode contribuir para uma maior violência urbana.
Agravante fator da segregação socioespacial é que a maioria das pessoas que habitam
as periferias das cidades possui baixa qualificação educacional, recebem salários menores,
não possuem condição econômica de habitabilidade em locais com infraestrutura e serviços
públicos eficazes. Assim sendo, apesar do conhecimento dos riscos de vida, quando
constroem suas moradias em espaços inadequados, tendem a buscar residências em zonas
propensas à inundações, deslizamentos ou próximas de esgotamentos sanitários e lixões.
Cidades com realidades parecidas, falta de oportunidade de emprego, concentração de
renda, ausência de oportunidades equitativas para migrantes e seus descendentes, que são
seduzidos pela perspectiva de trabalho nas urbes, trazem em sua envergadura a exclusão e a
segregação social.
Segundo Maricato (2000), a exclusão social das cidades é uma das faces da segregação
social, onde a ausência de serviços infraestruturais é adicionada à difícil acessibilidade aos
bens e serviços públicos como saúde, educação, lazer, justiça oficial e, ainda maior
proximidade à criminalidade, insegurança e baixa oportunidade profissional.
Na verdade, o nível dos problemas sociais e ambientais de determinadas áreas é
impressionante. A falta de conhecimento, principalmente dos migrantes sobre o lugar, é
agravada pela falta de habitação de baixo custo, já que os bairros pobres tradicionais não
podem acomodar os recém chegados, que vão buscar um lugar nas periferias urbanas, onde há
uma ineficiente infraestrutura. Superpondo, em termos espaciais (e sociais), os piores
indicadores socioeconômicos, com riscos de enchentes e deslizamentos de terra, e um
ambiente intensamente poluído (TORRES et al, 2003; HOGAN, 2005).
A dimensão espacial dos processos socioeconômicos e os aumentos demográficos,
associados à distribuição desigual dos serviços urbanos são componentes importantes da
segregação socioespacial, do crescimento das favelas e da espoliação urbana 6 que
demonstram diferentes aspectos da falta de acesso a estilos de vida modernos (KOWARICK,
1993). 6 Utilizando neste estudo o conceito de Kowarick (1993, p. 62), quando afirma que a espoliação urbana representa “a somatória de extorsões que se operam através da inexistência ou precariedade de serviços de consumo coletivo, apresentados como socialmente necessários em relação aos níveis de subsistência, e que ainda mais a dilapidação realizada no âmbito das relações de trabalho”.
44
A segregação é um processo donde diferentes camadas sociais tendem a se agrupar em
regiões ou áreas da cidade. O que assinala a segregação de uma classe é a concentração
significativa dessa classe em uma área, mais do que em qualquer outra área ou região da
cidade (VILLAÇA, 2001).
A segregação socioespacial nos bairros é uma das características mais marcantes no
que diz respeito às classes sociais, criando-se sítios sociais muito particulares, como as favelas,
os condomínios fechados, os bairros nobres, os bairros populares. Existem segregações das
mais variadas naturezas nos sítios intraurbanos, principalmente de classes e de etnias ou
nacionalidades (VILLAÇA, 2001). A segregação das classes sociais tem importância
particular na formação dos espaços, pois domina a estruturação das cidades.
Considera Maricato (2000), que o padrão mais conhecido de segregação é o centro
versus periferia, seguindo uma organização em círculos concêntricos. Segundo a autora as
classes sociais mais ricas ficariam nas áreas mais centrais dotadas de infraestrutura e mais
valorizadas em termos mercadológico, e as classes pobres ficariam relegadas às periferias
distantes e desprovidas de equipamentos e serviços. Esse padrão, entretanto, não é o mais
comum nas cidades brasileiras. Aqui, o padrão existente é o de ocupação das camadas de mais
alta renda em setores específicos da cidade, segundo uma lógica radial, isto é, partindo do
centro principal.
Na contemporaneidade, a pobreza, as dificuldades materiais e as desigualdades sociais
existentes nas cidades brasileiras, não ocorrem aleatoriamente. São frutos da própria maneira
como vem se processando a urbanização no país. Para Corrêa (1995), Lefebvre (2001), as
cidades capitalistas expressam processos sociais, espaciais, que designam funções e formas
cuja distribuição espacial constitui a própria disposição espacial desigual e mutável das
cidades.
A dinâmica de produção dos espaços urbanos, ao gerar uma melhoria, cria
simultaneamente e constantemente muitos desalojados e desabrigados que cedem seus locais
de moradia para grupos de renda que podem pagar o preço de um processo que se opera
através de uma enorme especulação imobiliária (KOWARICK, 1993). Ainda, segundo o autor,
a problemática da habitação urbana, para os trabalhadores de menor remuneração econômica,
deve ser analisada pela interligação entre a omissão do Estado, a forte presença da
especulação imobiliária e a representatividade do valor da terra urbana, cuja adequação atrela-
se à existência de uma infraestrutura de serviços.
Inserir, completamente áreas de baixadas em processos intensos de valorização,
resultado das ações interligadas entre ocupantes e o Estado, através de políticas públicas
45
eficazes de saneamento básico, equipamentos urbanos e de serviços, que possam garantir aos
seus moradores, a sadia qualidade de vida, ainda está longe de acontecer. “Algumas áreas de
baixadas, já saneadas e recuperadas, tornam-se espaços nobres na cidade, descaracterizando-
as enquanto baixadas e absorvidas pela lógica da especulação imobiliária” (TRINDADE
JUNIOR, 1997, p. 30).
De acordo com Ribeiro e Santos Junior (2003), a segregação socioespacial expressa,
com efeito, as desigualdades existentes em uma cidade quando as pessoas não têm acesso aos
recursos materializados no espaço urbano, em razão da localização residencial e da
distribuição desigual dos equipamentos, serviços urbanos, da renda monetária e do bem-estar
social.
Alguns acontecimentos merecem referência, como por exemplo, a segregação
socioespacial imposta pela Companhia Vale, percebida, através dos programas previstos de
infraestrutura e habitação para a cidade de São Luis e, que foram parcialmente cumpridos,
conforme sustenta Vicentini (2004, p. 196-197);
São Luis possui também espaços segregados, territórios fechados e vigiados permanentemente, pedaços de anti-cidade [...] a Alumar instalou junto à produção uma cidade empresarial e no interior da cidade de São Luis um condomínio para seus principais dirigentes, verdadeiro contraste com a cidade, definindo um espaço disciplinado e antagônico, com escolas e clubes privados, de acesso absolutamente restrito.
A realidade das cidades da Amazônia, apesar das peculiaridades locais, apresenta
problemas parecidos com outras urbes. Segundo Becker (2003), a falta de acessibilidade aos
equipamentos urbanos e serviços, para muitos moradores dos espaços urbanos, contribuem
para a segregação socioespacial e constituem, em si, um dos graves problemas ambientais dos
espaços das cidades.
A Amazônia, como um espaço de fronteira aparentemente ilimitada, ofereceu uma
vasta gama de oportunidades para a estratégia expansionista do modelo de acumulação
intensiva no país (LOUREIRO, 2009). Em alguns locais da região norte vieram se instalar
grandes projetos de exploração de minérios intensivos voltados para atender às exigências do
mercado exterior, para os quais se tornou fundamental a construção de uma grande usina
hidrelétrica na margem esquerda do rio Tocantins.
Os grandes projetos solidificados no regime militar para exploração de recursos
naturais na Amazônia foram idealizados distantes do local, baseados na articulação entre
políticas públicas de desenvolvimento nacional, na ideologia da geração de emprego e renda e
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são apresentados localmente como prosperidade econômica. Apresentam-se como redentores,
através da ideia de desenvolvimento territorial (MAGALHÃES, 2008).
Muitos migrantes atraídos pelos grandes projetos passaram a morar em áreas
impróprias, onde não há equipamentos, nem serviços para atender a população. Apesar dessa
situação ser geral no Brasil, cuja moradia não tem esgoto, nem água; na Amazônia, as cidades
continuam formando-se com elevado grau de carência em infraestrutura e equipamentos
urbanos.
Analisando a segregação socioespacial da cidade de Manaus, a partir da implantação
da Zona Franca e da subsequente política de industrialização nessa cidade, Vicentini (2004)
aponta que a preponderância de ocupações irregulares ao longo dos igarapés que cortam a
cidade e de invasões é maior do que no início do século XX, quando da exploração da
borracha. A autora ao afirmar que áreas de invasão, sem infraestrutura instalada, tornaram-se
verdadeiros guetos segregados na área urbana, aproxima-se da análise de Lefebvre (2001),
quando caracterizou os guetos, como sendo último resultado da segregação no espaço urbano.
As segregações que destroem morfologicamente a cidade e que ameaçam a vida urbana não podem ser tomadas por efeito nem a casos, nem de conjunturas locais. Contentemo-nos com indicar que o caráter democrático de um regime é discernido em relação à sua atitude para com a cidade, para com as ‘liberdades’urbanas, e, por conseguinte para com a segregação (LEFEBVRE, 2001, p. 99).
Na Amazônia a segregação socioespacial é mais perceptível nas cidades onde foram
implantados grandes projetos. Para Nogueira; Sanson e Pessoa (2007), em se tratando de
cidades onde ocorreram construções de grandes projetos, a preservação das florestas naturais
praticamente inexistiu, uma vez que a ocupação desordenada do solo se expandiu, pois se
tornaram pólos atrativos de migrantes. Essas zonas urbanas, especificamente amazônicas,
desenvolvidas em meio à maior floresta tropical, são pouco discutidas, enquanto isso, os
processos de degradação ambiental e de segregação socioespacial se acumularam ao longo da
história de cada uma delas.
As empresas responsáveis pela exploração mineral na região amazônica optaram por
construir sua cidade legal (LEFEBVRE, 2001), distante dos antigos núcleos urbanos,
primeiro, não se sentem responsáveis e participantes dos problemas socioespaciais, depois
para garantir qualidade estrutural para seus dirigentes, assim como para seus funcionários
hierarquicamente distribuídos. “O espaço desigual, desigualmente distribuído e ocupado, é
47
resultante de uma determinação prévia da empresa que segmenta hierarquicamente os
trabalhadores” (PEREIRA; SILVA; FERREIRA, 2002, p. 75).
Segundo Souza e Pereira (2008), a estruturação urbana das cidades empresariais na
Região Amazônica, simultaneamente acompanha o processo de extração e industrialização
mineral e madeireira. As grandes Companhias empresariais optaram por construir seus
próprios núcleos urbanos distante da sede do município onde os recursos naturais estão sendo
explorados. O desconhecimento da realidade social, política e cultural, conferem a essas
empresas a ideia de sua onipotência perante às transformações no processo de reorganização
socioespacial dos municípios onde se localizam os projetos de exploração.
Pereira, Silva e Ferreira (2002), informam que o modelo das company-towns7, não
pode ser analisado apenas como uma ilha urbana dotada de qualidade técnica e habitacional,
que difere do padrão urbano. Mas por caracterizar um “enclave”, apresentando infraestrutura
e forma de administração que difere da política local. Demonstra um modelo de
desenvolvimento que privilegia certos espaços e atores sociais em detrimento de outros.
No caso das cidades que ficam no entorno dos grandes projetos, a segregação
socioespacial fica evidente pela instalação das company towns, nas quais se concentra a maior
parte da infraestrutura urbana, ao lado dos núcleos pré-existentes, que aglomeram as mazelas
sociais trazidas pelos grandes projetos.
Uma das consequências à cidade de Tucuruí, a partir da implantação da UH, foi a
rápida expansão de seu sítio urbano, com o aparecimento de novas áreas de ocupações que
alteraram a configuração socioespacial da mesma.
De acordo com Rocha e Gomes (2002), a expansão acentuada da malha urbana
municipal de Tucuruí foi construída no período correspondente à construção da Usina, sendo
produto tanto da ausência de ações da gestão municipal, do Estado, da empresa
ELETRONORTE, como dos fluxos migratórios. Esta situação demonstrou o caráter
segregacionista da ação do poder público, posto que as áreas construídas como base logística
do empreendimento apresentavam uma estrutura urbana melhor consolidada.
A segregação dos espaços extrapola o espaço comum e abrange totalidade da cidade,
habitação, área e lazer, criando aquilo que Vicentini (2004, p. 225) denomina de “espaço de 7 Essas ‘novas cidades’ são frequentemente solicitadas a exercer funções de produção, como estrutura de acolhida a uma indústria moderna nascente. Mas, em razão de uma fluidez insuficiente do espaço, esses organismos urbanos verdadeiramente novos pelas suas funções são levados a associar funções banais às funções dominantes, o que lhes permite exercer sobre o espaço circundante uma espécie de domínio incompleto, em virtude da diferença tecnológica entre as atividades recentemente instaladas e a economia circunvizinha (SANTOS, 1982).
48
aparência que se generaliza, onde o poder é exercido no lugar da ‘ação’, que corresponde à
cidade, sem exclusões”.
A pesquisa indica que apesar da percepção dessa realidade, os lideres comunitários
não conseguem associar que embora exista peculiaridade local, os problemas como
insegurança, falta de escola pública, posto de saúde, coleta de lixo, esgotamento sanitário,
água canalizada e melhorias no transporte público são comuns a todos os bairros envolvidos
neste estudo. Portanto, devem estar atentos aos fatos e conjuntamente lutarem para combater a
segregação socioespacial de Tucuruí.
2.4 GOVERNANÇA
Estudiosos do tema identificaram em suas pesquisas que a segregação socioespacial
também resulta da falta de aplicabilidade de ações governamentais nas periferias das cidades
brasileiras. Muitas ações são impostas de cima para baixo e não conseguem atender às
comunidades segregadas.
Portanto, o termo governança vem justamente discutir a nova postura dos governos
urbanos, redefinir que nos planejamentos deve-se considerar um importante componente na
construção da gestão democrática, os sujeitos sociais.
Nesse contexto, parece possível afirmar que se desenvolve no Brasil uma nova cultura,
vinculada tanto à dimensão dos direitos sociais inscritos na Constituição de 1988, como à
participação de uma pluralidade de atores sociais com presença na cena pública.
A nova Constituição, marca a introdução de novas discusssões sobre os problemas
urbanos do Brasil. Projetos existentes desde os meados da década de 1980 buscavam
encontrar soluções ou mesmo assegurar efeito aos dispositivos referentes à questão urbana.
A bandeira da reforma urbana, na década de 1980, tornou-se diversificada,
acompanhando muitas mudanças por que passara o Brasil, apresentava-se muito mais
urbanizada e complexa que aquela de duas ou três décadas atrás, assim como, o crescimento
dos problemas e dos conflitos das cidades, avolumaram-se. Foi neste momento, que
amadureceu a concepção de reforma urbana, que pode ser caracterizada como um conjunto
articulado de políticas públicas, voltados para reduzir os níveis de injustiça social no meio
urbano, assim como promover uma maior democratização do planejamento e da gestão das
cidades (SOUZA, 2008).
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A mobilização favorável pela reforma urbana acabou desembocando na constituição
do MNRU, que contava com diversos tipos de organizações; desde associações de bairros até
entidades estudantis e profissionais. Os objetivos específicos da reforma urbana são coibir a
especulação imobiliária; reduzir o nível de disparidade socioeconômico e espacial intraurbana;
democratizar o planejamento e a gestão do espaço urbano (SOUZA, 2005).
A promulgação da Constituição Federal de 1988, através do princípio da “função
social da propriedade”8, por exemplo, no tocante à propriedade urbana, presente nos artigos
182 e 183, estabelece:
Art. 182 – A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções socais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º É facultado ao Poder municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I – parcelamento ou edificação compulsórios; II- imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III-desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183- Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
8 Ainda na década de 80, as atuações dos movimentos sociais, elaboraram a Emenda Popular da Reforma Urbana, apresentada à época na Assembleia Constituinte, propiciando, como decorrência o surgimento das propostas aprovadas pelos artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, que passaram a integrar o Capítulo da Política Urbana e a consequente criação do Estatuto das Cidades, como: a) obrigação do Estado em assegurar os direitos urbanos a todos os cidadãos, ou seja, direito à cidade e à cidadania, através do acesso aos equipamentos e serviços urbanos, a condição de vida urbana digna. Também foram incluídos os direitos ao lazer. À informação, a liberdade de organização, etc; b) função social da cidade e da propriedade, ou seja, submissão da propriedade à sua função social da cidade e; c) gestão democrática da cidade, entendida como uma nova forma de planejar e governar as cidades submetidas ao controle e participação social, realizada pelo reconhecimento e da priorização da participação popular. Talvez à exceção de algumas propostas mais estritamente relacionadas à política habitacional, transportes urbanos, as principais teses da emenda popular, que não foram contempladas na Constituição, encontraram espaços no Estatuto da Cidade.
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§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independente do estado civil. § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. (BRASIL, 2008)
O Estatuto da Cidade pode ser especialmente favorável para reduzir as desigualdades
sociais existente nas cidades brasileiras, por apresentar uma íntima relação com o ideário da
reforma urbana. Aprovado depois de mais de uma década, oferece aos governos municipais e
aos movimentos sociais um conjunto expressivo de instrumentos que, na prática, buscam
consolidar, conforme define Lefebvre (2001) “direito à cidade”. Definido em lei como o
direito que todos os citadinos têm à terra urbana, à moradia, à preservação ambiental, à
infraestrutura urbana, ao transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer.
O Estatuto passou a estabelecer que é o plano diretor o instrumento jurídico
competente para fixar a função social da propriedade urbana, assegurando “o atendimento das
necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento
das atividades econômicas” (BRASIL, 2001, Art. 39). Esta é uma característica importante
que foi vinculada ao plano diretor.
Destarte, de acordo com a Constituição em vigor, o plano diretor é o principal
instrumento da política urbana e do desenvolvimento físico e espacial. É o norteador das
atividades públicas municipais no tocante ao ordenamento das cidades. O plano diretor é um
documento que retrata o planejamento estratégico do governo. Portanto, deve conter os
objetivos urbanísticos gerais a serem atingidos (SANT’ANA, 2006). Para tanto, deve se
constituir em um documento produzido por meio de um processo canalizador de propostas,
que direcionem o desenvolvimento da cidade, incorporando suas dimensões políticas, social,
econômica, cultural, físico-territorial e ambiental.
O plano diretor não deve ter uma concepção tecnocrática baseada na ideia de um
modelo ideal de cidade, mas ser pensado como uma espécie de pacto entre setores da
sociedade e cidadãos (ROLNIK, 1997).
De acordo com Souza (2008), o planejamento está relacionado à competência técnica,
ou seja, a partir de atividades que vão do diagnóstico ao prognóstico de uma determinada
situação, estabelecendo-se uma meta a ser atingida. Entretanto, planejamento enquanto
instrumento da gestão pública são atividades interdependentes. Por isso, sempre aparecerão
relacionados.
Assim, planejamento e a gestão não podem ser vistos como atividade exclusiva ou
irredutível à ação do Estado, apesar de ser o principal financiador e indutor da política. O
51
desenho disto obedece a uma outra dinâmica diferente da aplicada na atualidade por via de
uma democracia representativa e indireta (SOUZA, 2008).
O planejamento de uma cidade não pode mais ser pensado seguindo modelos distante
da realidade, já que não existe apenas uma realidade, mas uma diversidade complexa de
pessoas que expressão diferentes símbolos ligados à vivência social.
No processo de planejamento incluem-se os planos, programas e projetos, ou seja, a
definição de ações do poder público. Portanto, a aplicabilidade do plano diretor resulta do
planejamento urbano. Contudo, não se deve pensar que planejamento urbano e plano diretor,
embora possam expressar ideias afins, possuem o mesmo significado técnico para a gestão
pública.
No tocante ao planejamento, este se apresenta, na concepção atual, interligado a vários
planos, programas, projetos, que definem ações possíveis para os problemas que se desejam
solucionar, “[...] o planejamento é a preparação para a gestão futura, buscando-se evitar e
minimizar problemas e ampliar margens de manobra [...]”. (SOUZA, 2008, p. 46).
Conforme Sant’Ana (2006, p. 119), o planejamento é um processo voltado a fixar
grandes metas e objetivos que serão alcançados por meio de planos e programas específicos.
“É sobre esses planos e programas que o Estado deve atuar como executor, buscando atender
os objetivos e metas do planejamento”.
Assim sendo, na ausência de planejamento, a administração perderá a definição de
prioridades, não considerará as diretrizes adotadas e não terá programação de recursos para
implementação de planos ou programas oriundos de negociações entre os grupos participantes
em razão de seus interesses. Sendo assim, adotará decisões apropriadas que atenda à
satisfação de suas finalidades. “[...] planejamento não envolve apenas a de programação de
obras, ou mesmo a de disciplina do crescimento da cidade, da região ou do país. É muito mais
ampla, considera a atividade governamental como um todo” (SANT’ANA, 2006, p. 121).
Por fim, para desenvolver a ação urbanística o gestor público deverá observar o
principal instrumento do planejamento, previsto no artigo 4º, do Estatuto da Cidade (BRASIL,
2001), que estabelece:
Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: I planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; II planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; III planejamento municipal, em especial: a) plano diretor;
52
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; c) zoneamento ambiental; d) plano plurianual; e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual; f) gestão orçamentária participativa; g) planos, programas e projetos setoriais; h) planos de desenvolvimento econômico e social;
Assim sendo, não devemos confundir o plano diretor com o plano de desenvolvimento
econômico e social do Município. O plano diretor tem normas jurídicas básicas de
planejamento e expansão urbana e orienta a ação estatal e privada em seu território. Ele é mais
restrito que a lei do Plano Plurianual, porque visa orientar o desenvolvimento social e
econômico (SANT’ANA, 2006).
O novo papel exercido pelo poder público e pelos atores sociais exige a
reconfiguração dos mecanismos e dos processos de tomada de decisões, o que faz emergir um
novo regime de ação pública, descentralizado, no qual são criadas novas formas de interação
entre governo local e sociedade, através de canais e mecanismos de participação social,
principalmente, dos Conselhos Municipais.
São essas novas formas de interação entre governo e sociedade que permitem
identificar, nos municípios brasileiros, pelo menos do ponto de vista formal e institucional, a
emergência de novos padrões de governo baseados na governança participativa, centrada em
três características fundamentais: maior responsabilidade dos governos municipais em relação
às políticas sociais e às demandas dos seus cidadãos; o reconhecimento de direitos sociais a
todos os cidadãos e a abertura de canais para a ampla participação cívica da sociedade.
Portanto, para este estudo, busca-se no conceito de governança, compreender de que
maneira as diretrizes gerais fixadas a partir da Constituição Federal (BRASIL, 2008), para a
política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, apresenta-se na
cidade de Tucuruí, ou seja, de que maneira a gestão pública participativa, compartilhada está
implícita nas ações concretas do planejamento urbano. Considerando que nesta cidade, a
população assistiu à implantação não participativa de projetos capitalistas, como a construção
de hidrelétrica, que trouxe mudanças tanto no ambiente natural, como nos espaços
comunitários.
Assim entende-se por governança o novo padrão de interação entre governo e
sociedade, baseada em arranjos institucionais que coordenam e regulam a relação entre o
governo e os atores sociais em um sistema político democrático. Ao mesmo tempo, vemos
que os aspectos assinalados, relacionados ao entrelaçamento do sistema legal ao município,
53
incidem diretamente sobre as possibilidades e os padrões de interação entre o governo e a
sociedade.
De acordo com Ferreira (1996), é um processo de transformação, que envolve
mudança na cultura e atitudes que não é tarefa comum, ao contrário, requer habilidade e
liderança para a condução do processo, que certamente acontecerá num contexto
caracterizado por resistências e ambiguidades.
A governança está relacionada à capacidade de implementação de transformações
necessárias na administração pública, essa capacidade abrange tanto condições técnicas,
administrativas, quanto financeiras (FERREIRA; MOREIRA, 2000).
Dallabrida e Becker (2003) entendem governança como a participação efetiva dos
atores regionais nos diferentes tipos de práticas institucionais voltadas ao exercício da
governança territorial, ou seja, a maneira como o poder é exercido, pelos atores locais e
regionais, na administração dos recursos econômicos e sociais, com o objetivo de promover o
desenvolvimento através de uma relação direta com a dinâmica – social, econômica, cultural e
política – dos diferentes territórios, cujas ações estão relacionadas ao processo de
desenvolvimento, empreendidas por atores sociais, por meio das organizações de uma
sociedade identificada histórica e territorialmente.
Segundo Ferreira e Moreira (2000), o que há de inovador na governança é a ideia de
legitimidade e responsabilidade que a gestão das estruturas públicas, e o papel que a ação
estatal assume. A legitimidade depende da existência dos processos de participação coletiva
do Estado e da sociedade civil, enquanto que a responsabilidade evoca a transparência nos
processos de decisão e implantação.
Para Souza (2004), governança é um processo complexo de tomada de decisão que
antecipa e ultrapassa o poder público. É a repartição do poder entre aqueles que governam e
aqueles que são governados, passando a existir uma interação dos atores sociais nos processos
de negociação. A gestão democrática das interações e das interdependências que desembocam
ou não em sistemas alternativos de regulação, cuja descentralização das autoridades regional
ou local e das funções ligadas ao ato de governar exigem mudanças de toda a sociedade.
Apresentando ideias adjacentes, Ferreira (1996) e Diniz (1997), explicam governança
a partir da capacidade da ação do Estado na formulação e implementação de políticas públicas,
assim como na consecução das metas a serem obtidas. Sua implementação necessita da
reforma na gestão pública para ampliar as capacidades de garantia da prestação dos serviços.
Compreende-se a governança a partir das normas e valores, das ideias e práticas
derivadas da cultura política e das teorias democráticas específicas de cada espaço local, de
54
cada cultura, bem como de cada período histórico. Não existe, portanto, um único modelo de
governança, mas diversos.
Portanto, a análise das governanças locais poderia ser uma qualificação das
configurações de parcerias que os diferentes governos municipais desenvolvem com demais
atores sociais, bem como seus objetivos e impactos para reduzir a dicotomia dos bairros das
cidades brasileiras.
Assim, as relações e formas práticas de compromisso entre os atores públicos e os da
sociedade civil delineiam novos sistemas de gestão urbana que permitam (re) definir o
exercício de gestão no sentido de reaproximar a ação da gestão pública das demandas efetivas
das comunidades locais, em especial das periferias. Dentre eles, destaca-se a governança
urbana, que se refere ao processo interativo e dinâmico da malha de instituições que
asseguram a tomada de decisões coletivas.
Um bom desenvolvimento do processo de governança urbana pode ser verificado
através da habilidade dos atores sociais em participar integralmente dos processos de decisões
e de ações com os diversos níveis de governo. O que há de inovador na governança é a ideia
de legitimidade e responsabilidade que a gestão das estruturas públicas e políticas, e o papel
da ação estatal assumem. A legitimidade depende da existência dos processos de participação
coletiva do gestor e da sociedade civil, enquanto que a responsabilidade evoca a transparência
nos processos de decisão e implantação.
Segundo Souza (2004), a Constituição Federal de 1988 foi pródiga na criação de
mecanismos de participação das comunidades locais em alguns fóruns decisórios e no
controle dos resultados de certas políticas públicas locais, buscando, ao mesmo tempo,
empoderar segmentos da comunidade e promover a contabilidade dos gastos públicos.
Como resultado, muitos governos locais estão implementando ou consolidando várias
experiências participativas, que vão desde conselhos municipais setoriais voltados para a
decisão, participação na gestão e fiscalização de políticas sociais e de pequenas obras públicas,
até a incorporação de segmentos sociais marginalizados do processo decisório na alocação de
parcela dos recursos orçamentários locais, através do que ficou conhecido como Orçamento
Participativo.
Neste estudo, governança restringe-se à escala de análise local, portanto, parece
adequado entendê-la, de acordo com Dallabrida e Becker (2003), como sendo o exercício do
poder e autoridade, por parte dos cidadãos ou grupos devidamente articulados nas suas
instituições, incluindo todos os processos, com objetivo de diagnosticar a realidade, definir
prioridades, planejar a implementação das ações e, assim, determinar como os recursos
55
financeiros, materiais e humanos devam ser alocados, para a dinamização das potencialidades
e superação dos desafios, visando ao desenvolvimento de uma região ou território,
De acordo com Ferreira e Moreira (2000), para que isso ocorra é necessário que a
construção de um novo conhecimento político local ou regional se intensifique. No entanto, a
intensidade deste conhecimento depende muito de elementos que fazem parte da estrutura
social e da cultura, como as normas de reciprocidade, os padrões de associativismo, os hábitos
de confiança e cooperação entre as pessoas, as relações que ligam vários segmentos da
sociedade, ou seja, depende do capital social acumulado.
A habilidade de criar e sustentar associações voluntárias, ainda depende da maneira
como as instituições se apresentam na região ou no local. Para Dallabrida e Becker (2003) a
partir do momento que os atores participativos tenham o entendimento da construção do novo
conhecimento e da construção do poder político, devem superar a dependente condição de
território-palco para território-ator9. “E que desse processo virtuosos, pelo exercício de um
processo permanente de concertação social resulte a constituição de um novo pacto sócio
territorial” (DALLABRIDA; BECKER, 2003, p. 75).
Na ausência do Estado em criar a promoção do bem estar social público, o agente
social passa a assumir cada vez mais legitimidade para defender e promover esse bem público.
Através da governabilidade10 das democracias, o Estado deixa de ser centralizador, passando
a definir o espaço público constituído de uma rede complexa de interesses entre os mais
diversos segmentos sociais e de intervenção políticas (FERREIRA, 1996).
No campo da ação governamental, as parcerias que repousam sobre a divisão de
responsabilidade entre atores sociais em um universo conflitual, ocupam um lugar
fundamental e emergente na pratica da gestão local brasileira. Nesses casos, as estratégias do
Estado e da sociedade civil estão diretamente conectadas, estruturando assim uma dinâmica
cada vez mais interativa.
Os atores organizados da sociedade civil tendem a participar cada vez mais
integralmente das ações de gestão urbana, adquirindo, portanto novos níveis de participação,
9 Os territórios assumem opções de desenvolvimento que os favorecem ou que os prejudicam, em diferentes intensidades, transformando-se em territórios do tipo ‘inovadores/ganhadores’ ou ‘submissos/perdedores’. “Desse processo dialético global-local, de ação-reação, cujas intenções são projetadas pela dimensão global, mas acontecem no território, resultam as diferenciações ou desigualdades territoriais” (DALLABRIDA, 2006, p.6). 10 O termo governabilidade neste estudo aproxima-se dos autores Ferreira (1996) e Diniz (1997), por enfatizarem que o conceito representa as condições de legitimidade de um determinado governo para empreender as transformações necessárias, ou seja, condições sistêmicas de exercício do poder pelo Estado e seu governo em uma determinada sociedade.
56
contrariamente aos anos 70 e 80, quando sua participação era linear: sistematizava-se em
torno de um único campo de intervenção e não se conectava as formas de gestão mais
abrangentes definidas pelos atores públicos.
Foi somente a partir do fim dos anos 80 e começo dos 90 que os processos de
parcerias apresentaram uma maior inclusão dos diversos atores da sociedade, em especial dos
movimentos populares organizados. Apesar desses programas se transformarem ao longo dos
anos 90, em função da alternância partidária do poder político e das variações próprias à
dinâmica de relações estabelecidas entre os atores, as parcerias se mantiveram.
Organizar a gestão da cidade como uma empresa, juntamente com a colaboração do
setor privado – as chamadas parcerias – passam a definir a maneira de buscar soluções para os
problemas urbanos. É assim que os atores privados passam a ter um papel mais dominante nos
processos decisórios das políticas urbanas (SANT’ANA, 2006).
Entende-se como governança o conjunto de mecanismos de administração de um sistema social e de ações organizadas no sentido de garantir a segurança, a coerência, a ordem e a continuidade do próprio sistema. Logo, a boa governança corresponde às formas de administração desse sistema que melhor atendam aos anseios da maioria das pessoas que dele fazem parte, gerando uma gestão participativa do desenvolvimento (VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2009, p. 273-274).
Neste contexto, caberia também e, sobretudo, saber se estariam as parcerias
determinadas apenas a clausurar e alienar os indivíduos nos processos locais ou se elas ao
contrário, poderiam constituir uma práxis coletiva capaz de alavancar a reintegração do tecido
social e a recuperação das condições de cidadania; de reverter às prioridades da ação estatal
em direção à cidade informal esquecida e permitir assim, nesses locais, ações efetivas de
melhoria da qualidade do espaço físico ambiental, de provisão de infraestrutura e
equipamentos que garantam a sustentabilidade da ocupação do espaço urbano. Mais do que
isso, ainda cabe saber se poderiam dar condições ao exercício de uma cidadania, não somente
ligada aos bairros, mas também à cidade e à sociedade global.
A administração pública exigirá nova mudança de postura dos gestores,
administradores, pois o novo contexto caracterizado por profundas transformações vai
demandar habilidades de negociação e administração de conflitos. O ideal seria aprimorar a
discussão sobre os papéis e funções do Estado que a sociedade deseja para, em seguida,
iniciar o movimento de mudança, promovendo os ajustes necessários. A gestão do
desenvolvimento realizada na perspectiva da “[...] concertação público-privada implica numa
57
revalorização da sociedade, assumindo o papel de protagonista, com postura propositiva, sem,
no entanto diminuir o papel das estruturas estatais nas suas diferentes instâncias”
(DALLABRIDA, 2006, p. 19).
Segundo Souza (2004), a inserção de novos atores ao processo decisório local assume
formatos diferenciados. Existem experiências nas quais prevalecem formas mais restritas de
participação, que se resumem a dar voz aos cidadãos, enquanto em outras, a participação se
torna um mecanismo de empoderamento que visa promover mudanças na assimetria de poder
entre atores sociais locais. Esse último formato visa, via ação coletiva, diminuir desigualdades
sociais.
58
3 PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NA AMAZÔNIA CRIANDO SEGREGAÇÃO
SOCIOESPACIAL
Apesar das especificidades, o processo de segregação socioespacial da cidade de
Tucuruí não pode ser dissociado dos processos de urbanização e do modelo de
desenvolvimento nacional introduzido no Brasil, durante o Regime Militar. A configuração
socioespacial resultante do processo de urbanização não poderia ser muito diferente daquelas
encontradas nas demais cidades nacionais, uma vez que está submetida ao mesmo processo
econômico (regime de acumulação) e a mesma formação social.
Deste modo, a segregação de Tucuruí não pode ser analisada como especificidade
local, pois em todas as cidades onde foram planejados e consolidados grandes projetos existe
acentuado processo de segregação. As sedes administrativas dos municípios foram
coadjuvantes do processo de construções dos equipamentos urbanos necessários para a
funcionabilidade da Vila residencial – company-towns das cidades empresas dos grandes
projetos, principalmente na Amazônia.
Os grandes projetos de mineração, de hidrelétricas ou de experimentos agrícolas,
construíram núcleos urbanos que são verdadeiramente enclaves urbanos. De um lado estão os
bairros bem cuidados, com infraestrutura física para residências de técnicos e funcionários, e
de outro, os bairros segregados, sem equipamentos urbanos, para a residência de
“trabalhadores braçais e de outros que vivem em função dos projetos, prestando serviços
também para as famílias dos técnicos e funcionários. É o caso da ICOMI em Macapá, do
projeto Jari e de Tucuruí no Pará” (ABELÉM, 1988, p. 28).
Mesmo quando analisados processos históricos distintos, como no período da extração
da borracha na Amazônia e do regime militar do Brasil, as políticas públicas desenvolvidas
nas cidades não atenderam às necessidades básicas da maioria da população desprovidas de
recursos econômicos que passaram a residir nos espaços distantes dos bairros centrais, mas
bem assistidos por saneamento e serviços públicos.
A inserção da Amazônia na divisão internacional do trabalho, no decorrer do regime
militar, transformou a região em fornecedora de recursos naturais, cujas frentes econômicas
compuseram essa lógica de desenvolvimento regional – a mineral, a madeireira, a agrícola, a
energética, que ocasionaram mudanças expressivas tanto no meio rural, como nas cidades que
estavam desprovidas de infraestrutura adequada para receber grande fluxos populacionais
atraídos pelos investimentos econômicos. E ainda, no final do século XIX e nas primeiras
59
décadas do século XX, cuja produção da borracha na Amazônia transformou a estruturação
urbana das maiores cidades da região norte do Brasil, Belém e Manaus, em espaços
segregados.
Os trabalhos de Sarges (2000) e Dias (2007) explicam que ao tentar recuperar o
processo histórico dessas cidades, deve-se perceber as políticas públicas de pressão,
dominação e segregação contra grupos de pessoas que surgem na cidade e que não se
enquadram nos conceitos de modernização que o fausto da borracha propiciou. A política de
preservação e defesa da ordem pública, através das alterações que sofrem os Códigos de
Posturas municipais, reforça a segregação espacial, a medida em que cabia excluir do espaço
urbano os pobres, os desocupados, os doentes, em defesa da ordem urbana.
Por outro lado, a cidade urbanizada e próspera não condiz com o processo de exclusão
habitacional dos trabalhadores da área central, pois estes foram segregados aos espaços mais
desvalorizados e distantes do centro comercial. Os bairros periféricos das cidades de Belém e
Manaus que começaram a surgir diferem dos bairros centrais que receberam investimentos
públicos, em infraestrutura e equipamentos urbanos.
Essas cidades tiveram a malha urbana desenvolvida de forma desordenada e que
atualmente tem pagado um preço ambiental muito alto por conta da excessiva expansão
urbana das últimas décadas. O modelo de desenvolvimento urbano é excludente e a
estruturação de acomodamentos urbanos marcados por um “mosaico” de paisagens
reveladoras e geradoras da segregação socioespacial.
Portanto, a segregação socioespacial urbana presente em Tucuruí deve ser entendida a
partir da própria formação das cidades da Amazônia. Processo iniciado com a exploração da
borracha e acentuado com a implantação dos grandes projetos durante o Regime Militar.
Assunto que será trabalhado na próxima seção.
3.1 CIDADES EMPRESAS NA AMAZÔNIA E A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
A utopia urbana de Ford na Amazônia representou, nas primeiras décadas do século
XX, uma antecipação das cidades empresariais que surgiriam nessa região a partir da década
de 1980 (VICENTINI, 2004).
No caso de Fordlândia, localizada no município de Belterra (no Estado do Pará), a
possibilidade de implantação de novas áreas de cultivo de Hevea Brasiliensis na América
60
Latina interessavam a Henry Ford que buscava além da auto-suficiência de sua produção de
automóveis, também concorrer com a produção da borracha de melhor qualidade, plantada na
colônia inglesa do Ceilão (sul da Índia). A cidade planejada de Fordlândia possuía toda a
infraestrutura urbana – incluindo água, esgoto, rede de energia. Além de área de lazer,
telefonia, estação de rádio e mais de 70 Km de estradas, portos, sendo um deles flutuante.
Contudo, a segregação socioespacial em Belterra é percebida através do planejamento
urbano da Vila Americana destinada para os dirigentes nacionais e estrangeiros, com
infraestruturas modernas, próximas da área de produção industrial e do centro comercial; e
das Vilas Operárias e dos barracões, que eram destinados para os trabalhadores sem família,
configurados em espaços habitacionais de discriminação, disciplinas e sem qualquer
infraestrutura. Na verdade, o lazer e a infraestrutura são exemplo de segregação, pois somente
os dirigentes usufruíam das modernas tecnologias da época e a maioria das terras ocupadas
pela população encontrava-se em áreas ribeirinhas do rio Tapajós (VICENTINI, 2004).
No caso da região do médio Amazonas, a partir de 1976, a simetria na trajetória
histórica regional foi rompida com a chegada da mineração industrial de bauxita. O que se
percebe que o Pólo Mineral de Trombetas se constituiu numa forma nova de utilização dos
recursos físicos e humanos da região. Nesta nova fase de produção do espaço, o pólo mineral
de exploração de bauxita e a sua respectiva área de influência tornaram-se focos de atração
populacional. As intensificações dos movimentos migratórios espontâneos e dirigidos
acarretaram na cidade de Oriximiná, sede do município minerador, uma mudança no processo
de desestruturação e reestruturação socioespaciais.
A expansão das funções administrativas, comerciais e de serviços da cidade de
Oriximiná favoreceu o desempenho de novas funções. Oriximiná se tornou uma cidade de
funções terciárias, onde o setor do governo emprega uma parte considerável da população,
assim como ocorre em outras cidades amazônicas.
O projeto de exploração de bauxita interferiu na formação da rede da cidade, como
também, introduziu novos padrões de urbanização. A implantação das Vilas Residenciais de
Porto de Trombetas, criadas pela Mineração Rio do Norte (MRN), são exemplos de novas
formas e conteúdos urbanos representados pela introdução das Vilas Residenciais pelos
grandes projetos – as company-towns.
A infraestrutura urbana projetada em Porto de Trombetas representa segregação
socioespacial, principalmente para as populações que habitam os arredores da cidade de
Oriximiná. Inicialmente, as mudanças que o aumento demográfico, de acordo com dados do
IBGE, proporcionou sobre a reestruturação do espaço urbano, associada à precariedade
61
habitacional, de saúde, educação, transporte e de saneamento de água e esgoto para a maioria
de trabalhadores, acabaram ocasionando alterações na reestruturação do sistema espacial,
introduzindo novas formas urbanas, como a fragmentação dos espaços e das relações
socioespaciais.
Sobre novas formas que acentuaram a segregação dos espaços Abelém (1988), aponta
que nos planejamentos urbanos normalmente não são incluídas as áreas periféricas e tão
pouco se questiona os fatores que levaram essa população a procurar novos espaços das
cidades sem qualquer infraestrutura física para construir habitações. Retirar as famílias desses
locais sem resolver seus problemas fundamentais é contribuir para que em outras áreas a
precária condição de vida reapareça.
Distante aproximadamente 80 km da cidade de Oriximiná, a company towns, apresenta
uma nova trama de sistemas de engenharia urbana, responsável pela definição de um novo
espaço geográfico. Com acessibilidade aos sistemas de saneamento básico, áreas de lazer,
educação e saúde, os administradores empresariais dispõem das condições materiais e
imateriais indispensáveis ao desenvolvimento das atividades econômicas do projeto.
Discorrendo sobre as vilas residenciais dos grandes projetos, retoma-se Vicentini
(2004), para explicar que estas servem como atrativos para um efetivo populacional, que
migra tanto para a área mineradora, como para o núcleo urbano próximo do empreendimento.
Elas representam, assim, oportunidade de trabalho, sendo comum formar-se, na periferia da
cidade, outro núcleo urbano, funcionando como reservatório de mão-de-obra.
Contudo, a oposição entre a Vila planejada de Porto de Trombetas e a sede municipal
é bastante expressiva e relativamente parecida com outras Vilas planejadas por empresas que
gerenciam os grandes projetos na Amazônia.
As cidades empresariais, as new towns da Amazônia, enquanto espaços territoriais
dominantes economicamente, socialmente, politicamente, divergem dos espaços segregados,
que concentram no seu interior a miséria gerada pelas sucessivas introduções de novas formas
de exploração econômica, nas últimas décadas (VICENTINI, 2004). As possibilidades da
racionalidade de planos urbanos, ou as preocupações com saneamento, urbanismo e
embelezamento, estão excluídas pela expansão das formas privadas de apropriação do espaço,
admitindo, neste caso, áreas de segregação socioespacial.
Entre as company-towns na região norte, destaca-se a Vila dos cabanos na cidade de
Barcarena, junto à usina de alumínio da Albrás-Alunorte. A implantação da usina de alumínio,
conglomerado de Albrás/Alunorte produziu efeitos imediatos na transformação territorial e
socioespacial da cidade de Barcarena no Estado do Pará. A unidade industrial de produção de
62
alumínio primário da Albrás, empresa que, quando de sua instalação, demandou entre outras
coisas à construção de uma company towns, chamada Vila dos Cabanos, baseada num modelo
de “cidade aberta”, porém apresentando características de vila “fechada”, como
homogeneidade e segregação socioespacial (VICENTINI, 2004).
A Vila dos Cabanos, assim como as demais “cidades companhia”, foram criadas com
a função de servir de moradia à mão-de-obra qualificada, que viria trabalhar no Complexo
Albrás-Alunorte. Para isso, contaria com uma rede de infraestrutura – sistema de esgoto, água,
energia elétrica, escolas, hospitais, clubes – capaz de satisfazer as necessidades dos seus
habitantes.
Um outro exemplo da influência das company towns na região é da Companhia Vale
que em 1980 planejou a edificação de dois núcleos urbanos que deveriam ter finalidades
distintas em Parauapebas. O núcleo urbano denominado Carajás, construído para os
funcionários de apoio administrativo e operadores de mina, localizado nas proximidades das
minas de ferro, e outro núcleo de Parauapebas, situada nas margens do rio Parauapebas, para
apoio dos funcionários da ferrovia das firmas contratadas pela Companhia Vale. O
crescimento populacional foi bastante extensivo e o antigo povoado Rio Verde, que recebia
migrantes a procura de emprego, atualmente é um dos maiores bairros da cidade de
Parauapebas.
A periferia de Parauapebas cresce a uma velocidade espantosa e a maior parte das
pessoas que se estabelece em moradias precárias vem de regiões muito pobres, localizadas nas
proximidades do município. Não muito distante da pobreza absoluta, da periferia de
Parauapebas, onde se amontoam migrantes miseráveis, encontra-se o núcleo urbano de
Carajás, construído para abrigar os funcionários da Companhia Vale.
De acordo com Souza e Pereira (2008) a cidade de Parauapebas, devido à migração
intensiva, cresce de forma desordenada criando imensas áreas periféricas que estão sujeitas às
inundações do rio Parauapebas, suscetíveis a deslizamento de terra nas encostas dos morros, e
ainda, sem infraestrutura e segurança pública.
Apresentando uma segregação socioespacial, evidenciada na alteração da configuração
estrutural da cidade, a partir da introdução das diversidades de formas de produção e da
mobilidade espacial da mão-de-obra que impulsionou a ocupação extensiva do solo urbano,
essas ocupações constituem-se locais de expressiva mão-de-obra, que em sua maioria realiza
serviços temporários.
Os territórios não estão à margem da política de poder, pelo contrário, são
consolidados pela legalidade e legitimidade (MAGALHÃES, 2008). No município de
63
Parauapebas ocasionou a reprodução social no interior de uma cidade planejada que, apesar
de ter seguido um modelo de modernização, foi fragmentada por conteúdos e usos
socioeconômicos que se distanciam muito da modernidade.
Em alguns pontos da cidade as ruas possuem pavimentação, água tratada, esgoto,
coleta de lixo e boa sinalização. Em contrapartida, as áreas de expansão urbana do município
têm avançado sobre regiões impróprias ao uso do solo, com a finalidade residencial (SOUZA;
PEREIRA, 2008).
A cidade de Monte Dourado é mais um exemplo de company towns, edificada para
atender confortavelmente as necessidades do Complexo Jari Celulose. Ali foram construídas
centenas de casa destinadas a dar suporte aos funcionários e dirigentes do projeto. A cidade é
equipada com sistema de saúde, escolas, estação de tratamento d’água, área de lazer, parques
ecológicos, entre outros.
A criação desse grande projeto no lado paraense trouxe algumas implicações para o
Estado do Amapá. A maior delas pode ser colocada como a “ocupação aleatória” da margem
esquerda do Rio Jari – Laranjal do Jari. Esta área passou por acelerado afluxo migratório, cuja
consequência foi uma ocupação desordenada do espaço que se situa além das “cercas” da
cidade planejada de Monte Dourado.
A segregação socioespacial que a cidade de Laranjal do Jari vivencia é concretizada
quando observada a posição geográfica das cidades. Distante apenas alguns minutos da cidade
de Monte Dourado, Laranjal do Jari é considerada a maior “favela fluvial” do Brasil, por
abrigar inúmeras palafitas construídas desordenadamente pelos trabalhadores atraídos pelo
grande projeto Jari, a partir da década de 1970. Agravante nesse processo do aumento
populacional é o fato do município não ter acompanhado um desenvolvimento que pudesse
suprir as necessidades desta população, ficando carente de políticas públicas e serviços
básicos como mobilidade urbana, habitabilidade e infraestrutura.
As cidades empresariais contemporâneas vão manter, em certo sentido, os princípios
básicos da ordem estabelecida em nível de esfera privada e retratam, de forma mais complexa,
a divisão social do trabalho, na estrutura urbana e na apropriação dos espaços como lugares.
“A concepção urbanística é diretamente derivada das relações sociais da indústria, traduzindo-
se em cidades-modelo para operários, sem deixar de considerar ainda um modelo de
comportamento social ideal, expresso pelo desejo de ‘ordem’[...]”. (VICENTINI, 2004. p.
220).
A implantação da UHE/TUC provocou expressiva configuração espacial da área em
questão, aumentando expressivamente a malha urbana da cidade a partir do aumento
64
populacional, as consequências diretas ocorreram no meio ambiente naturais como nas fontes
d’água e nos igarapés. O acelerado processo de ocupação de terras colaborou para a expansão
do sítio urbano da cidade, em direção às áreas de mananciais sem qualquer controle por parte
do poder público para a preservação das mesmas (ROCHA, 2002).
O contexto em que se processou a construção da UHE/TUC, acabou alterando
significamente a estrutura socioespacial e demográfica local, modificando as relações
estabelecidas entre os homens e o meio ambiente.
A construção da usina hidrelétrica de Tucuruí atraiu trabalhadores de várias partes do
país, que almejavam oportunidades de trabalho tanto no mercado formal, como no informal.
Dessa forma, a estrutura urbana de Tucuruí se tornou incapaz de acolher os surtos
populacionais, resultando na acentuada segregação socioespacial da atualidade.
Dessa maneira, o aumento de contingente populacional em cidades que não estavam
equipadas estruturalmente para recebê-los, contribuíram para que a aglomeração populacional
nas periferias represente, na atualidade, a segregação socioespacial.
Aproximando-se de Rocha (2008), quando analisa que a construção de uma grande
obra, como o complexo energético de Tucuruí, representa fronteira econômica não somente
por atrair novos investimentos capitalistas, mas ao mesmo tempo, torna-se gerenciador de
novas ofertas de trabalho que atrai fluxos populacionais, nem sempre absorvidos como mão-
de-obra.
A questão da oferta de emprego que grandes investimentos proporcionam, aumenta o
afluxo de trabalhadores que desempenham atividades econômicas de baixa qualificação
profissional. Portanto, se a remuneração não proporciona melhoria da qualidade de vida, estes
vem a residir em espaços por eles construídos, sem qualquer infraestrutura, criando os bairros
segregados de equipamentos urbanos e de serviços.
Ao invés de constituir-se em uma cidade infraestruturada, para receber tanto os
funcionários da empresa, como o afluxo populacional necessário para execução do
empreendimento, a propriedade pública da terra urbana passa a funcionar como instrumento
de ocupação seletiva, instituindo a segregação planejada ao construir e estruturar a cidade
empresarial distante da cidade tradicional, segregando socialmente os espaços da cidade.
Ao discorrer sobre o assunto, Valença (1991, p. 70) explica: “Na política seguida pela
ELETRONORTE, ou mesmo por outras empresas que atuam na Amazônia, não se insere um
desenvolvimento planificado da cidade, ainda que esta represente ponto de apoio à obra”.
A Vila Permanente da ELETRONORTE possui elevado padrão de infraestrutura,
equipamentos e serviços públicos. Como essa realidade contrasta com a situação das
65
comunidades da cidade de Tucuruí, buscou-se indagar junto aos líderes comunitários o que
representa para sua comunidade a presença da vila da ELETRONORTE. Sobre essa questão
uma das lideranças comunitárias entrevistadas respondeu:
Ah, aí é outra coisa. A estrutura da Vila é invejável, o país todo, o Brasil todo não tem, qualquer cidade brasileira 100% de esgoto, que a vila tem! A vila é uma cidade, uma cidadezinha, uma microcidade, que ela tem 100% de esgoto, ela tem uma estação de tratamento de esgoto, ela tem. Tucuruí não tem esgoto, não tem um palmo de esgoto, Tucuruí tem rede fluvial, tem tubulação para escorrer essa água da chuva, só isso! Tucuruí não tem um palmo de esgoto e a vila é completamente coberta, 100% de esgoto. (informação verbal, entrevista concedida em 15 nov. 2009).
Fica evidente como a segregação socioespacial se apresenta entre a company towns da
ELETRONORTE e os espaços desigualmente ocupados da cidade de Tucuruí. A ineficiência
nos equipamentos infraestruturais e de serviços para atender às necessidades básicas das
populações acabam transformando as habitações dentro da cidade empresarial sinônimo de
ascensão social, pois residir na Vila Permanente é garantir acessibilidades aos equipamentos
sociais, habitação de qualidade e seguridade.
A segregação dos espaços extrapola o espaço comum e abrange totalidade da cidade,
habitação, área e lazer, criando aquilo que Vicentini (2004, p.225) denomina de “espaço de
aparência que se generaliza, onde o poder é exercido no lugar da ‘ação’, que corresponde à
cidade, sem exclusões”.
3.2 AFLUXOS MIGRATÓRIOS PARA A AMAZÔNIA E AS MUDANÇAS NA
PAISAGEM URBANA
Entre as estradas federais que maior impacto demográfico e econômico tiveram para a
Amazônia Legal, destaca-se além da Belém-Brasília e da Transamazônica (BR-230)11; a BR-
163, de Cuibá-Santarém, que liga o Centro-Oeste à cidade de Santarém; BR-174, a Manaus-
11 Rodovia que cortou transversalmente a floresta amazônica, sob o lema de Terra Sem Homens para Homens Sem Terra. Atraiu um número expressivo de migrantes nordestinos, tendo por objetivos fixar grupos populacionais naquele espaço considerado hostil e com “vazio demográfico” e os incentivos para as derrubadas da mata e da implantação de assentamentos agropecuários. Vencia-se o vazio demográfico e impunha-se o “desenvolvimento”. A Transamazônica começa no Estado do Piauí, nordeste do Brasil, cortando as rodovias Cuiabá-Santarém e Porto Velho-Manaus.
66
Boa Vista; BR-364, a Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco, etc; artérias de penetração na floresta
que começam a definir novos eixos de desenvolvimento na região.
Com a construção da Belém-Brasília, intensifica-se a entrada de migrantes e também
de outro grupo de pessoas ligadas a negócios fundiários, de agropecuária e agroindústria que
se dirigiram para as terras ao longo das estradas (CASTRO, 1992).
A partir daí, os antigos núcleos urbanos crescem e novas cidades surgem adensando e
desconcentrando a rede urbana amazônica, antes polarizada entre Belém e Manaus. O
entrelaçamento das redes viária, urbana, de energia, telecomunicações e de projetos
governamentais compôs uma malha que o Estado implantou de forma eficaz, criando a
infraestrutura física e de suporte humano necessário para a instalação de grandes projetos
econômicos transnacionais na Amazônia, nas décadas de 1970 e 1980.
A implantação de grandes projetos na fronteira amazônica impactaram fortemente nos
pequenos núcleos populacionais existentes na sua área de influência direta. Assim, a cidade de
Tucuruí, importante ponto para a implantação de um grande projeto energético, passou a
vivenciar realidades diversas que se vinculavam diretamente ao contexto global sobre
realidades locais, isoladas e pouco integradas até mesmo ao seu contexto regional, levou à sua
desestruturação econômica, cultural e ambiental.
Fato não questionável é o crescimento demográfico nas diversas áreas urbanas na
região Norte, como nos mostra a Tabela 1. Tabela 1 – Aspectos da dinâmica populacional da Região Norte – (1.000)
ANO POPULAÇÃO URBANA
POPULAÇÃO RURAL
POPULAÇÃO TOTAL
1940 425,5 26% 1.207,10 74% 1.627,60 1950 607,2 30% 1.441,50 70% 2.048,70 1960 1.041,20 36% 1.888,80 64% 2.930,00 1970 1.784,20 43% 2.404,10 57% 4.188,30 1980 3.330,60 49% 3.288,60 49% 6.767,20 1991 5.922,60 59% 4.107,90 41% 10.030,50 2000 9.005,80 70% 3.914,10 30% 12.900,70
Fonte: IBGE, 2009. Censos Demográficos de 1940 a 2000 – Estimativa 2007
A questão que se colocou para o Estado brasileiro era como atrair, para uma região de
terras devolutas, uma população que deveria se tornar força de trabalho, não proprietária de
seus meios de produção, e, ainda, como fixá-la sem lhe dar a propriedade da terra? Portanto, a
política de distribuição controlada de terras e a distribuição seletiva de créditos agrícolas
67
canalizaram os fluxos migratórios, enquanto que a política de urbanização agia no sentido de
alocar esta população num espaço crescentemente privatizado na região, o espaço urbano.
Como se observa na Tabela 2, o crescimento demográfico a partir de 1970, na Região
Norte, especificamente no Estado Pará, deu-se de forma acelerado, quando comparado com o
número de habitantes nas décadas de 1940/60.
Tabela 2 – População do Brasil, região Norte e Pará.
ANO BRASIL NORTE PARÁ
1940 41.236.315 1.627.608 913.897
1950 51.944.397 2.048.696 1.123.273
1960 70.992.343 2.930.005 1.550.935
1970 94.508.583 4.188.313 2.197.072
1980 121.150.573 6.767.249 3.507.312
1991 146.825.475 10.030.556 5.181.570
1996 157.070.163 11.288.259 5.510.849
2000 169.799.170 12.900.704 6.189.550
2007 183.937.291 14.623.316 7.065.573 Fonte: IBGE, 2009
O processo migratório para o Estado do Pará deu-se através das políticas de incentivos
fiscais em fins da década de 1960 e início de 1970, direcionados fundamentalmente para o sul
do Estado, cuja cidade mais importante foi Marabá e que passou a apresentar acelerado
crescimento populacional em decorrência da extração da castanha-do-pará, criação de gado,
madeira e principalmente da exploração dos minérios em áreas que pertenciam ao município.
À medida que outras frentes econômicas avançavam no Pará, antigas vilas, lugarejos
em poucas décadas adquiriram emancipação política-administrativa, tornando-se cidades.
Assim como, mudanças significativas no sítio urbano de cidades já existentes. Entretanto,
parte dessa população na Amazônia acabou em povoados recém-formados, em antigas Vilas,
ou em Distritos municipais (TOBIAS, 2003).
Os migrantes que buscaram alternativa de sobrevivência nos espaços urbanos
encontraram contradições, segregação socioespacial na apropriação desses espaços. Esses
atores sociais passaram a engrossar as fileiras daqueles que buscavam moradia nas cidades e,
rapidamente acentuaram o processo de periferização, ou seja, o surgimento de invasões como
alternativa de habitabilidade.
68
A título de exemplo, na cidade de Belém, a rapidez que novos bairros surgiram, a
especulação imobiliária e a crescente área de “baixadas”12 no entorno dos bairros assistidos
com equipamentos urbanos e serviços, refletem bem esta realidade.
A partir de 1960, essa cidade passou a receber um contingente expressivo de migrantes
oriundos tantos das pequenas cidades do interior do Estado e do êxodo rural, como
interestaduais, principalmente do Nordeste do Brasil. A necessidade de moradia levou a
ocupação desordenada nas áreas sujeitas às inundações do entorno de Belém, o surgimento de
novos bairros e ampliação dos já existentes. Em pouco tempo, as baixadas passaram a compor
o sítio urbano de Belém, “[...] que apresentam localizações centralizadas no contexto da
expansão urbana atual, algumas áreas de baixadas foram incorporadas há mais tempo ao
tecido urbano”. (TRINDADE JUNIOR, 1997, p. 30).
As baixadas de Belém, assim como as favelas de cidades brasileiras, representam
espaços de segregação socioespacial, moradia das camadas sociais de menor poder econômico,
com deficiência e insuficiência de equipamentos urbanos e serviços. Portanto, são espaços
socialmente excluídos que expressam a condição social de um indivíduo, independentes da
localização de sua moradia.
A respeito do assunto, Castro (1992) avalia que a questão urbana submerge o processo
de periferização, ou seja, um deslocamento de bairro para bairro dentro da própria cidade. O
processo mais comum é a mudança das famílias de baixa remuneração, de bairros mais
próximos ao centro da cidade em direção à periferia. Isso em geral ocorre à medida que os
bairros centrais onde moravam, vão sofrendo uma melhoria e sobre eles incide a especulação
imobiliária, fechando seu acesso à população de renda mais baixa.
Logo, a explosão de baixadas em cidades da Amazônia como Belém e Manaus,
representa a ineficiência de políticas públicas em saneamentos básicos e serviços, pois a
população que se deslocou (a) de diferentes áreas do interior e de outras regiões do Brasil, não
encontram alternativa habitacional a não ser buscar como estratégia de sobrevivência
construir seus barracos em áreas alagadas e de difícil acessibilidade.
Assim sendo, a cidade tornou-se o espaço atrativo para onde se convergem muitos
camponeses expulsos de suas terras pelos latifundiários, ou para migrantes não absorvidos
pelas políticas de colonização dirigidas dos governos militares. A cidade como local de
12 Formas naturais integrantes do sítio da cidade, que têm sido incorporadas ao tecido urbano a partir de necessidades requeridas no decorrer do processo de produção do espaço urbano belenense (TRINDADE JUNIOR, 1997, p.22).
69
consumo, de intensa velocidade entre as relações de trabalho, mercadoria e produtos, torna-se
atrativo para essas famílias.
Empreendimentos de grande porte atraem afluxos migratórios e proporcionam
mudanças significativas na espacialidade local. Implicam transformações para os espaço onde
são construídos, transformando-os em área de fronteira de recurso, de grande importância. A
urbanização do território institui-se como condição essencial, assim como, a demanda de
grandes fluxos migratórios.
Exemplo foi a construção da UHE/TUC de Tucuruí que atraiu trabalhadores de várias
partes do país, que almejavam oportunidades de trabalho tanto no mercado formal e informal
ali constituído. Assunto que será analisado no quarto capítulo.
70
4 DEMOGRAFIA DO ESPAÇO URBANO EM TUCURUÍ
A evolução da cidade de Tucuruí seguiu o leito do rio Tocantins, modelo típico de
cidades ribeirinhas da Amazônia, com economia entrelaçada entre os rios e o extrativismo.
De acordo com a pesquisa documental, a mudança sofrida no espaço urbano de
Tucuruí, foi feita anteriormente, quando descrito o funcionamento e a forma espacial da rede
de núcleos, em conformidade com a atividade econômica da região do médio Tocantins, a
exploração da castanha-do-pará, no final do século XIX.
Prenunciou-se, ali, a alteração do sistema dendrítico13, primeiro foi a construção da
EFT, depois, a cidade de Tucuruí sedia espaços para a construção da maior hidrelétrica
brasileira e polariza a microrregião, por ser o seu principal núcleo urbano.
13 Basicamente, esse padrão de rede se caracteriza, em primeiro lugar, por sua origem colonial. É na valorização dos territórios conquistados pelo capital europeu que ela se estrutura. Essa estruturação começa com a fundação de uma cidade estratégica e excentricamente localizada em relação a uma futura hinterlândia, denominada cidade primaz. Sempre junto ao rio, essa cidade era ponto de penetração no território, sede das principais funções políticas e econômicas, do comércio atacadista e exportador, possibilitando a participação da região na divisão internacional do trabalho (VALENÇA, 1991, p. 48).
71
Figura 2 - Localização do município de Tucuruí Fonte: Plano Diretor de Tucuruí/2006
72
De acordo com as fontes históricas, Tucuruí começa a sua história ainda no século
XVII, quando em 1625 o frei Cristovão de Lisboa chegou à região pretendendo fazer contato
com os nativos. Em 1782, o governador e capitão-general do Grão-Pará, José Nápoles Tello
de Menezes fundou o lugarejo de São Bernardo de Pederneiras e, no ano seguinte, este
lugarejo foi denominado de Alcobaça14.Os primeiros habitantes da região onde surgiria o
município de Tucuruí foram os índios Asurini do Trocará, os Parakanã e os Gaviões da
Montanha, dentre outros.
A história de Tucuruí encontra-se interligada aos interesses estratégicos e militares de
controle do território Amazônico, por parte dos portugueses. Portanto, o controle geopolítico
visava fiscalizar a navegação no rio Tocantins e evitar o contrabando de ouro dos garimpos de
Cuiabá e de Goiás.
Pela Lei nº 661, de 31 de outubro de 1870, o povoado de Alcobaça foi elevado à
condição de Freguesia, com a denominação de São Pedro do Alto Tocantins, ficando situado
no município de Baião, lugar de maior adensamento populacional naquele trecho do rio
Tocantins. Transcreve-se a Lei sancionada pelo vice-presidente da província do Grão-Pará
Manoel José de Siqueira Mendes.
Faço saber á todos os seus habitantes que a assembléa Legislativa provincial resolveu, e eu saccionei a lei seguinte: Art. 1º Fica criada mais uma freguezia no município de Baião, no logar – Pederneiras – com a denominação de freguezia de S. Pedro do Alto Tocantins e com a invocação de S. Pedro. § Único. Os limites desta nova freguezia com a villa de Baião, serão o rio Matacurá de baixo, e na margem esquerda do Tocantins o rio Carará de ambas as margens, inclusivo a ilha Jutahy. Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrario. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução desta Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nella se contém. O secretario desta província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no palácio do governo da província do Pará, aos 24 dias do mez de outubro do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e setenta, quadragésimo nono da Independência e do Império. L.S. Cônego, Manoel José de Siqueira Mendes.
14 Tucuruí era conhecida como Alcobaça, nome tirado de um lugar do reino de Portugal. Sua finalidade era domesticar índios, aprisionar escravos fugitivos, contrabandistas de ouro que desciam das minas goianas e mato-grossenses, pela via natural de comunicação entre o Centro e o Norte – o rio Tocantins. Quarenta anos depois, existia no local apenas uma cruz tosca de madeira que mal se distinguia numa clareira quase retomada pelo mato. O povoado ressurge mais tarde, por volta de 1900, quando, então, deu-se início ao trabalho de construção da Estrada de Ferro Tocantins e a cidade passa a ser o entroncamento entre a ferrovia e a aguavia no transporte das castanhas (VALENÇA, 1991, p. 66).
73
CARTA DE LEI, pela qual fica creada mais uma freguezia no município de Baião, e marca os limites da mesma frequezia, como acima se declara. Para Vossa Excellencia ver. José Custedio de Mello Freire Barata, a fez.
Cinco anos depois, 1875, esta localidade passa a se chamar de São Pedro de Alcobaça,
denominação aprovada pela Lei n° 839. Essa designação perdurou até o ano de 1943, quando
pelo Decreto-Lei estadual nº 4.505, foi elevado à categoria de município com a denominação
de Tucuruí. Através da Lei nº 62 de 31/12/1947, foi desmembrado de Baião com sede no
antigo distrito de Tucuruí, constituído do distrito sede.
A cidade de Tucuruí apresenta em sua estrutura espacial características bastante
específicas no âmbito do espaço regional, tanto no nível da organização espacial dos objetos
geográficos, quanto das relações que se articulam nesses e com o seu entorno. Seja como for,
esse espaço urbano passou por mudanças significativas em dois momentos históricos distintos,
mas que contribuíram para modificações no meio ambiente natural e na estrutura espacial da
cidade.
Primeiro foi a construção da EFT, construída entre 1927 a 1947 e desativada em 1974,
compunha o sistema ferroviário, assim como os rios Itacaiúnas e Tocantins que formavam o
sistema fluvial, sendo responsáveis pelo escoamento da extração da castanha-do-pará até a
capital Belém. Nesse sentido, sobressai à conclusão de Valença (1991, p. 42):
Depois de transportada para Marabá, toda a produção regional era escoada diretamente até Belém pelo rio Tocantins, quando as águas permitiam, ou para Jatobal, onde embarcava de trem para Tucuruí pela Estrada de Ferro Tocantins. Isto porque a jusante de Marabá, no trecho compreendido entre Jatobal e Tucuruí, o rio Tocantins, em época de estiagem, apresentava obstáculos à navegação. Em uma extensão de 12 quilômetros, num desnível de 72 metros, onde agora se localiza a UH de Tucuruí, travessões e corredeiras interceptavam a navegação no “verão”. Tucuruí teve sua origem ligada a essas atividades.
Planeada em 1869, a via férrea na região tocantina deveria servir para contornar o
trecho encachoeirado e ligar a região do Alto ao Baixo Tocantins. Torna-se realidade, em fins
do século XIX, no ano de 1890, quando a Companhia Férrea e Fluvial do Tocantins e
Araguaia foi criada. A estrada de Ferro Tocantins teve início entre 1894/1895, quando os
trabalhos concretamente começaram na localidade de Alcobaça, atual Tucuruí.
A obra da via férrea trouxe para Alcobaça levas de migrantes de várias cidades do
baixo Tocantins, da região bragantina e do nordeste brasileiro. Tais fatores contribuíram para
que ocorresse na localidade uma ocupação desordenada sobre o solo urbano.
74
A necessidade de mão-de-obra para a realização de diferentes funções no período de
construção da ferrovia atraiu uma população de migrantes que transformou o modo de vida
desta cidade, tipicamente portuária, dependente da exploração da castanha-do-pará, da
agricultura e do pescado.
Pela localização geográfica, Alcobaça torna-se ponto estratégico da região do baixo
Tocantins, pois todo o movimento comercial – em particular de exportação da castanha-do-
pará, de produção expressiva nesta região do Tocantins – feito entre Marabá, Belém, Goiás e
o sertão do Maranhão passavam por esta cidade, especialmente, durante o verão, período em
que as cachoeiras impossibilitavam o transporte fluvial. Todavia, havia riscos na navegação
do rio, as cachoeiras e corredeiras, poderia imergir as embarcações e consequentemente toda a
produção. A construção de uma via férrea se justificava pela vontade de unir a região do Alto
ao Baixo Tocantins facilitando o escoamento da produção da castanha.
A geoestratégia foi uma condição essencial para a retomada e conclusão da EFT que
funcionou em sua totalidade de trajeto, da década de 1940 a 1974 quando o Governo Federal
decidiu substituí-la pela rodovia Transamazônica, sendo os trilhos arrancados, extinguindo a
ferrovia.
Depois, nos anos de 1970, a construção da UH, resultou na produção de novo espaço
urbano coexistente com configurações pré-existentes, que se toma como marco temporal
significativo para a apreensão geográfica do processo de produção social do espaço em suas
dimensões do espaço concebido e do espaço vivido.
A implantação do empreendimento e o conjunto de projetos econômicos a ele
articulado, demonstram o papel decisivo do Estado na redefinição do território, assim como a
imposição do externo sobre o interno e as implicações do novo sobre o velho, repercutindo
profundamente na estrutura espacial e demográfica local conforme já assinalara Rocha (2002).
Isto se verifica pelo estabelecimento de novas configurações urbanas e dinâmicas espaciais
oriundas dos seus impactos e pelo forte poder de atração populacional por estes exercidos,
revelando, desse modo, mudanças no quadro da dinâmica interna da cidade e na estrutura
territorial, econômica e sócio-cultural.
Dentro desse quadro geral se insere o crescimento explosivo da cidade de Tucuruí,
desencadeado em meados da década de 70, quando se tornou sede do projeto de construção da
UHE/TUC, apresentando taxas de crescimento bastante elevado entre as décadas de 1980/90.
Conforme Gráfico 2.
75
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007
Gráfico 2 - Demografia da cidade de Tucuruí. Fonte: IBGE, 2009.
Deste modo, não só Tucuruí, mas toda a região do Médio Tocantins conhece um novo
papel na divisão territorial do trabalho, que altera o significado e a natureza da rede urbana
local. A intensidade do capital investido na construção da UH, a força de trabalho, que para lá
se dirigiu bem, como a energia tornada disponível posteriormente, são fatores preponderantes
na configuração do novo padrão de rede urbana dos anos seguintes, da implantação da
hidrelétrica.
A implantação de um projeto hidrelétrico, dada a longa duração, produz como que
uma diferenciação de impactos no decorrer do tempo. Significa dizer que, a região sofreu uma
desestruturação/reestruturação em função dos anúncios do período de construção, o que
acarretou, além dos conflitos entre os atores sociais atingidos pela formação do lago e a
empresa responsável pela implantação da Usina, também uma ineficiência infraestrutural e de
equipamentos urbanos para a maioria dos moradores das periferias de Tucuruí. Uma vez
estando a usina em operação, novas e profundas alterações são introduzidas, dando origem a
novos espaços.
Nesse contexto, Rocha (2002) destaca que o complexo contexto em que se processou a
construção da UH em Tucuruí, acabou alterando significamente a estrutura socioespacial e
demográfica local, modificando as relações estabelecidas entre os homens e o meio ambiente.
Ainda, segundo o autor, a construção da hidrelétrica atraiu trabalhadores de várias partes do
país, que almejavam oportunidades de trabalho tanto no mercado formal e informal que se
formou.
De todo o modo, a chegada desse contingente populacional em cidades que não
estavam preparadas para acolhê-las, promoveu a aglomeração de pessoas nas periferias e
posteriormente, nos núcleos das cidades, passando a viver em condições precárias.
Demografia da cidade de Tucuruí
76
A grande mobilização de mão-de-obra para os trabalhos de construção foi o principal
fator no desencadear do incremento populacional. Cumulativamente, nesta fase do
investimento hidrelétrico há a preocupação em formar e reter uma força de trabalho que se
enquadre nos requisitos técnicos e econômicos.
Segundo dados do IBGE, quanto à mobilidade populacional para Tucuruí,
aproximadamente 45% da população do município na década de 1980 nutriu-se de grandes
fluxos migratórios de várias origens. Compunha-se, inicialmente, da mão-de-obra empregada
na construção da usina, proveniente de todo o Brasil, alojada em vilas construídas
especialmente para esse fim. Tucuruí experimenta, então, um revigoramento, tornando-se uma
cidade de “frente pioneira”, e passa a exercer uma atratividade sobre vários grupos sociais
(VALENÇA, 1991).
Tucuruí passou a ser atrativo para as populações de menor poder aquisitivo,
principalmente moradores de cidades próximas. A crise econômica da década de 80, assim
como os altos índices de desemprego, ocasionaram acentuadas mudanças de pessoas que
buscavam empregos diretos na construção da hidrelétrica ou indiretamente através do trabalho
informal.
Interessante compreender, na problemática urbana de Tucuruí, que o crescimento
acelerado de migrantes naquele espaço, não simboliza que estava ocorrendo processo
econômico próximo do que aconteceu na cidade de São Paulo no início do século XX –
industrialização urbana -, pelo contrário, a economia estava atrelada às mudanças no meio
natural (rio Tocantins) para construção da UHE/TUC e toda a circulação monetária dependia
da exploração de recursos naturais, como a extração de madeira que aumentaram
consideravelmente no período. Isso tudo, promovida pelas atividades da expansão capitalista
na fronteira.
Contudo, o crescente afluxo migratório para o urbano de Tucuruí, foi predominante
produto decorrente do centralismo administrativo do Regime Militar, cuja implantação de
projeto grandioso como a construção de hidrelétrica, não foi acompanhada de estudos prévios
de impactos ambientais, culturais e sociais. “É imperioso lembrar que a constituição e o
crescimento de novos contingentes de força de trabalho ultrapassam o ritmo próprio de
crescimento das atividades urbanas formais de Tucuruí” (VALENÇA, 1991, p. 63).
De acordo com os dados do IBGE, uma população urbana de 5.545 no ano de 1970,
passou para 27.308 habitantes no início de 1980. Assim, o município de Tucuruí na década
seguinte destacou-se como local de densidade populacional do Estado do Pará. Conforme nos
mostra o Gráfico 3:
77
Gráfico 3 - População urbana de Tucuruí nas décadas de 1970/80. Fonte: Censos Demográficos do IBGE dos anos de 1970-1980.
Neste contexto histórico, a ELETRONORTE foi a principal responsável pelas
transformações nos espaços da cidade, pois todos buscavam através desta empresa trabalho e
renda. O crescimento urbano acelerado, verificado na cidade de Tucuruí, correspondeu, tanto
durante os anos de construção, como atualmente, a um típico processo de urbanização
verificada nos países em desenvolvimento. Na realidade, não houve absorção da economia
urbana formal de desenvolvimento local, que acompanhe as mudanças que a implantação de
grande projeto proporciona para o crescimento das diversas atividades econômicas.
Tucuruí, como cidade pioneira de investimentos energético no Estado do Pará, não é
um lugar de produção. Tem, sobretudo, a função de um lugar de passagens de homens,
mercadorias e capitais. Ainda, entre o final da década de 70 e início dos anos 80, como
resultado do intenso fluxo migratório, a sede municipal teve expansão da área urbana. Assim
como a presença acentuada de madeireiras, no espaço urbano, acarretou mudanças nos dois
principais igarapés que cortam a cidade: Santos e Santana, pois os resíduos das serrarias
foram lançados diretamente nas suas águas límpidas, o resultado, diminuição das margens e
ocupações irregulares.
Mesmo com pagamento de parcela da compensação financeira da produção de energia,
a cidade de Tucuruí possuiu acentuado problema social. Ocupação como Palmares, não possui
qualquer tipo de saneamento básico, as escolas estão distantes da comunidade, ausência de
postos de saúde, segurança publica, creches, área de lazer e as precárias habitações
transformam o local em área de extrema precariedade humana.
5.545
27.308
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
ANO 1970 ANO 1980
78
De acordo com a pesquisa a cidade de Tucuruí carece de calçadas para deslocamento
de pedestre, as pessoas constantemente disputam espaços entre os automóveis e motocicleta.
As áreas de lazer como: praças, parques ambientais, balneários, quadra esportivas; quando
existentes apresentam-se ineficientes.
Na época presente, a cidade expandiu-se desordenadamente, apresentando um traçado
bastante irregular com ruas mal traçadas, casas construídas próximas do cruzamento de ruas o
que prejudica o trânsito e a circulação de pessoas e calçamento inexpressivo e desalinhado. As
casas geralmente seguem o processo de autoconstrução, exemplo diferente de favela, e estão
próximas dos igarapés Santos e Santana.
Em função do aumento populacional, a cidade tende a expandir seus limites, surgindo
assim novos espaços de ocupações. A periferização, com terrenos mais baratos e distantes do
centro, expande-se ocasionando processo de tensão social e segregação socioespacial. Essa
realidade aproxima-se do que Caiado (2005) considera como sendo a configuração
socioespacial resultado das extensas periferias desassistidas de políticas públicas em
saneamento básico e habitação.
A configuração urbana de Tucuruí se aproxima das demais cidades brasileira,
apresentando problemas ambientais, saneamento deficiente, ilhas de calor, segregação
socioespacial, entretanto, possuem problemas intraurbanos específicos, derivado do afluxo
populacional ligado à obra energética, que contribuiu para a expansão do sítio urbano da
cidade, que além da produção de novos espaços e de dinâmica social, acarretou sobre o meio
ambiente intenso processo de degradação.
79
5 SEGREGAÇÃO DO ESPAÇO EM TUCURUÍ
O processo de segregação socioespacial da cidade de Tucuruí é bastante complexo.
Começa dentro dos próprios espaços hierarquicamente construídos pela ELETRONORTE
para abrigar seus funcionários. Assim sendo, o nome que as ruas receberam são indícios de
segregação. Observa-se que as residências mais confortáveis e mais bem localizadas
encontram-se na parte mais elevada geograficamente, sendo que estas recebem o nome dos
países economicamente desenvolvidos.
Adentrando mais no espaço da Vila Permanente, percebe-se que as ruas que
homenageiam os estados brasileiros são ocupadas por funcionários que estão numa escala
intermediária na hierarquia funcional. Os funcionários ocupantes de cargos temporários e com
menor qualificação profissional residem em habitações menores e com pouca área privativa.
Esses espaços localizam-se no plano mais baixo do terreno e as ruas receberam denominação
de cidades da Amazônia.
Apesar da segregação socioespacial existente no interior da Vila Permanente, seus
moradores sentem-se socialmente privilegiados em relação aos habitantes da antiga cidade de
Tucuruí, visto que dispõem de infraestrutura integral e gratuidade no fornecimento de energia
elétrica.
Quanto aos moradores das comunidades da cidade de Tucuruí, envolvidos na pesquisa,
há um sentimento de exclusão em relação à Vila Permanente, principalmente a ausência de
infraestrutura e elevadas tarifas de energia elétrica. Assim sendo, a segregação socioespacial
em Tucuruí apresenta-se bastante diversificada. Portanto, este estudo, dá ênfase à segregação
no interior dos espaços da cidade de Tucuruí, sem, no entanto, deixar de observar outras
realidades, como da company-towns.
Recordando Rocha (2002) que ao fazer referências à cidade de Tucuruí de outrora,
indica que esta expressava um padrão de ocupação urbana linear, formado a partir do rio.
Entretanto, com a implantação do projeto energético, adquire outras feições, afastando-se do
eixo de circulação fluvial e recriando-se através de outras configurações espaciais.
Observe o que relata Moura (1989) que no final do século XIX esteve visitando
Alcobaça, pouco depois de terem sido iniciados os trabalhos da ferrovia.
80
Sua situação deveria ser melhor estudada, avaliando-se sua importância futura, demografando-se, planejando e até localizando a grande cidade, que, pelas imperiosas circunstâncias topográficas do destino, sendo edificada, será talvez a mais importante do Estado, depois de Belém. Por tudo isso, as suas circunstâncias topográficas são escassas e mesquinhas, oferecendo apenas uma lombada de terra entre o barranco, que a cada inverno foge para o rio, e uma zona de pantanosa para o centro, que serve de nascente aos pequenos rios da zona, envenenando as fontes e tornando más as condições de salubridade publica, condição mais importante pela qual o engenheiro moderno deve encarar o problema (MOURA, 1989, p. 162).
A propósito do espaço físico da cidade de Alcobaça em 1895, o engenheiro civil
afirmava, que:
Ali se achava erguido, sem estilo algum, o casarão coberto de folhas de zinco, todo de madeira, destinado a servir de escritório e de resistência da administração e do pessoal técnico da Estrada de Ferro de Alcobaça à Praia da Rainha, ultimamente transformada em Companhia das Estradas de Ferro do Norte do Brasil. Oito a nove casas cobertas de telhas de zinco ou de madeira, destinados a oferecer acomodações ao resto do pessoal de construção, armazéns, escritório, etc., completam toda a casaria, que formava naquele ano a povoação, destinada a servir de ponto inicial à maior e à mais importante via-férrea do Norte da República (MOURA, 1989. p. 160).
Contudo, na Tabela 3 evidencia que entre os anos de 1950 e 1970, período de
funcionamento da EFT (desativada em 1974), houve um acréscimo populacional no
município de Tucuruí.
Tabela 3 - Crescimento da população do município de Tucuruí (de 1950/1970)
DÉCADA POP. TOTAL POP. URBANA POP. RURAL 1950 2.448 1.264 1.184 1960 5.716 3.524 2.192 1970 9.921 5.545 4.376
Fonte: IBGE, 2009
Nos termos apresentados, Rocha (2008) indica que naquele momento histórico o
espaço urbano de Tucuruí já se destacava pela especificidade de sua organização, marcado
por uma dicotomia socioespacial, demonstrada tanto pelo poder da gestão, como pela
influência da Companhia da EFT.
De acordo com fontes documentais, Tucuruí, em virtude da localização geográfica,
desde o final do século XIX, serviu como ponto estratégico para a construção de grandes
projetos, entretanto, não conseguiu entronizar nas pessoas que chegavam, uma identidade
81
local que pudessem criar articulações tanto na esfera federal, estadual, ou mesmo com as
empresas responsáveis por esses empreendimentos.
A construção da UHE/TUC, no município de Tucuruí ocasionou mudanças para os
recursos naturais e humanos, assim como segmentou e diferenciou o espaço preexistente. Não
obstante, aliada às novas condições impostas pelo rearranjo provocado pela construção da
usina, o expressivo aumento populacional sobre o espaço urbano proporcionou acelerado
processo de ocupações irregulares, cujas repercussões sociais, econômicas e ambientais são
traçados expressivos na atualidade.
Nesse contexto de transformações urbanas na década de 1970, período de construção
da Vila Pioneira e de intenso processo migratório, ocorreu vertiginoso crescimento urbano.
Essa expansão continuou no período compreendido entre a fase de pré-ensaio15 e a própria
construção.
Indagado sobre esse assunto, o líder comunitário residente há, aproximadamente, 50
anos em Tucuruí, informa que: “[...] cada dia mais crescia essa cidade, nós não sabia como
fazer, me lembro que nós até se mudou pra beira do igarapé Santos porque o aluguel ficou
muito caro para meu pai pagar, muita gente também morava e de lá tirava a comida do dia”
(informação verbal).
Ao concentrar elevado investimento público para edificação da UH e na época da
construção da EFT -, o poder público local não conseguiu canalizar recursos para obras de
infraestrutura na velha Tucuruí e assim amenizar um dos graves problemas da atualidade.
Hoje, sabe-se que o primeiro impacto dos grandes projetos é a atração de mão-de-obra não
qualificada na fase pré-operacional de construção, a qual é descartada na fase de produção.
Essa massa empobrecida, em grande parte, passou a habitar a periferia da velha Tucuruí.
A respeito deste assunto uma das lideranças comunitárias entrevistadas, relatou:
A empresa de energia para Tucuruí determinou algumas obras aí, como, por exemplo: o asfalto do bairro ali, do bairro Bela Vista, Matinha, o bairro do Colorado e outros bairros, então, aí a Eletronorte adiantou alguns trabalhos lá, mas não foi de forma como tem na vila, ela fez da forma como estava sendo feita em Tucuruí: sem esgoto, sem calçadas, sem sinalização, absolutamente nada. Apenas fez, colocou os tubos na rede fluvial, fez a terra planagem, jogou um asfaltozinho em cima e da má qualidade, foi isso que foi feito. Eles contabilizam um valor absurdo por metros de asfalto pronto, como se fosse uma coisa de primeira e faz uma coisa de 5ª e 6ª categoria. Então de qualquer forma pra quem vive na invasão, vive lama no inverno, no verão, na poeira, então ta bom, ta asfaltado. Mas não é uma coisa boa, como deveria ter sido. (informação verbal, entrevista concedida em 19 nov. 2009).
15 Período que antecede propriamente a fase de construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
82
O elevado custo no investimento e a oferta de emprego temporário produzido pela
UHE/TUC, fornecedora principalmente de energia para beneficiamento de alumínio, causam
distorções econômicas com impactos sociais de grande alcance.
Destarte, tanto no período de construção e funcionamento da ferrovia Tocantins, como
nas diferentes etapas da implantação da hidrelétrica, a improvisação de investimentos e
ausência de ordenação da espacialidade dos bairros vem prevalecendo.
Fotografia 1 - Avenida 31 de março (antigo aeroporto de Tucuruí). Fonte: João Vicente.
83
Figura 3 - Avenida 31 de março. Fonte: IBGE, 2009. Através da pesquisa documental e da observação, constatou-se a descaracterização do
primeiro aeroporto de Tucuruí, conforme demonstrado pela Fotografia 1, cuja via era a pista
do mesmo. Construído na cidade de Tucuruí, no ano de 1976 para servir de infraestrutura de
transporte de cargas e passageiros a fim de atender aos empreiteiros da usina. Depois da
conclusão da hidrelétrica e pelas constantes ameaças que as aeronaves apresentavam para as
populações residentes nos arredores, buscou-se a construção de um novo aeroporto.
Dois fatores devem ser destacados: primeiro referente ao despreparo dos governos
locais para exigir dos construtores da UHE/TUC a construção definitiva de um aeroporto que
pudesse atender às necessidades coletivas da população, não somente de Tucuruí, mas das
demais cidades que direta ou indiretamente, foram afetadas pela barragem e através de estudo
prévio de engenharia escolhessem local apropriado para esse investimento. O segundo, trata-
se do período da desativação do antigo aeroporto, quando houve invasão do local.
A ausência de políticas públicas e aplicabilidade de planejamentos pelo poder local
permitiram que essa grande área urbana sofresse ocupação irregular. O privilegiado espaço
urbano do antigo aeroporto, relativamente próximo ao centro e com topografia regular,
poderia receber obras de infraestrutura que minimamente se encontra nas cidades planejadas e
da qual muito se ressente Tucuruí, cidade com pouco verde e áreas públicas de lazer.
84
Na atualidade, como se observa na Fotografia 1, é uma rua de tráfego intenso, com
muitos casebres no seu entorno e durante o período chuvoso parte do leito da avenida fica
submerso.
As formas urbanas e dinâmicas tradicionais passam a coexistir, mesmo que de maneira
contraditória e conflituosa, com a produção de um novo espaço urbano em Tucuruí. Novas
racionalidades, temporalidades e novas formas de organização e vivências, sociabilidades e
solidariedades, saberes e fazeres, enfim, exprimindo numa complexidade de formas e funções
e uma diversidade de conteúdos (LEFEBVRE, 2001).
Dentre os dois grandes projetos implantados em Tucuruí, a construção da UH foi a que
mais transformou a vida da população local, mudou a paisagem e a configuração geográfica
de Tucuruí, assim como, reestruturou a economia e a história do Município. Percorrendo
momentos históricos distintos, antes e depois do funcionamento da UH, não foi somente a
configuração geográfica do município que passou por mudanças, também, a base econômica,
cultural e social acompanharam essas transformações, fazendo de Tucuruí, hoje, um pólo de
geração de energia e ao mesmo tempo, espaços nítidos de segregação socioespacial.
Os dados da pesquisa indicam que houve a instauração de uma dinâmica demográfica
paralela às fases de implantação do projeto (antes da Usina, em construção e em operação). A
cidade tornou-se atrativa para a população migrante.
Tanto que na retomada das obras da segunda etapa da usina, em 1998, a cidade passou
por novos fluxos de investimentos, intenso crescimento populacional e expansão da malha
urbana. Segundo dados do IBGE o urbano de Tucuruí entre 1991 e o ano de 2000 apresentou
crescimento populacional de 123%, como demonstra o Gráfico 4:
27.30860.918
0
20.000
40.000
60.000
80.000
POPULAÇÃO URBANA
ANO 1991 27.308
ANO 2000 60.918
1
Gráfico 4 - População urbana de Tucuruí 1991/2000. Fonte: IBGE, 2009.
85
Relatos de líderes comunitários indicam que na época dos investimentos da UHE/TUC,
os gestores municipais não demonstraram interesse por investimentos em infraestrutura
urbana, tendo preocupação imediatista, que atendessem interesses político-eleitoreiros. “Os
prefeitos só queriam que a ELETRONORTE fizesse pequenos reparos na cidade na época da
eleição para enganar todo mundo, depois pediam que melhorassem as estradas próximas de
suas fazendas” (informação verbal).
Seja como for, a antiga cidade de Tucuruí aumentou sua população e, por conseguinte,
os problemas sociais avolumaram-se durante e após a construção desses projetos, por não
existir aplicabilidade de planejamento urbano que definisse melhor a estrutura urbana.
Vivenciaram grandes empreendimentos e canalizaram pouco para a cidade.
5.1 MUDANÇA NA PAISAGEM DO ESPAÇO URBANO DE TUCURUÍ
Sabe-se que vários fatores produzem a segregação socioespacial e a desorganização do
espaço e que toda cidade é produto da ação de vários segmentos sociais. Portanto, as
mudanças no perímetro urbano de Tucuruí refletem diferentes intervenções humanas e da
incorporação de novas áreas, tanto o Estado, como gestor municipal e os agentes sociais
participaram da sua produção.
A produção acentuada do espaço em Tucuruí aproxima-se da visão de Santos (2008),
quando delineia que o espaço deve ser considerado com um conjunto indissociável de que
participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais,
e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento.
Assim sendo, o afluxo populacional no espaço urbano da cidade de Tucuruí não foi
acompanhado pela aplicação de planos urbanísticos, de políticas públicas educacionais,
geração de emprego/renda, além das ofertas dos trabalhos temporários nas obras da
hidrelétrica.
Dentro desta perspectiva, o estudo remete-se a abordagem anterior de Valença (1991),
ao elucidar que a ausência de interação participativa em projetos coletivo trouxe como
resultado o surgimento de uma desigualdade socioespacial e da desorganização do espaço
urbano local.
No final da década de 1970 e durante a década de 1980, Tucuruí adquiriu traçados de
cidade, o bairro da Matinha (núcleo histórico) originalmente, possuía como limites as atuais
86
ruas Lauro Sodré, Santo Antônio e Magalhães Barata, expandiu-se em direção aos igarapés
Santos e Santana. A partir daí, desenvolveu-se para oeste até o bairro Colinas, e para o norte
até os limites dos bairros Jaqueira, Mangal e Jardim Paraíso, configuração que a cidade
manteve até meados da década de 1970.
Os igarapés Santos e Santana, que drenam o sítio da cidade, constituem barreiras
físicas à integração dos bairros. A passagem destes cursos d’água provoca a interrupção da
malha urbana em muitos pontos. A região situada ao norte do igarapé Santos, especialmente,
encontra poucos pontos de acesso ao centro da cidade, constituindo, sob a ótica espacial,
bairros mais segregados do conjunto urbano.
As mudanças são percebidas na expansão do sítio urbano, poucos anos após o início
das obras da UH. Entre os anos de 1976 e 1980 passam a surgir novos bairros como a Vila
Pioneira, Pimentel, Santa Isabel (no antigo Aeroporto), COHAB e Santa Mônica.
De acordo com as informações do trabalho de campo, de 1985-2005, a cidade se
expande em todas as direções, seja pela agregação de novos espaços, ou pelo adensamento
promovido no interior de bairros preexistentes, preenchendo vazios, muitas vezes, impróprios
à ocupação urbana, por constituírem áreas alagadas, ambientalmente frágeis ou já degradadas
e insalubres.
Os novos bairros são, em sua maioria, extremamente precários em relação à
infraestrutura básica e à qualidade das construções habitacionais. A Figura 4 serve para
elucidar como a expansão urbana foi acentuada em poucas décadas na cidade de Tucuruí.
87
0 500 1000 m
Núcleo Histórico Até 1970 De 1970-1980 De 1980-1985 De 1985 a 2000
Figura 4 - Evolução urbana de Tucuruí de 1970 a 2000 Fonte: Plano Diretor/2006
Os bairros mais antigos da cidade (Matinha, Jaqueira e Jardim Paraíso) apresentam
lotes, ruas, quadras, praças, bastante adaptados à topografia. Através do trabalho de
observação, constatou-se que esses bairros, por estarem parcialmente situados em áreas mais
íngremes, os usos de escada tornam-se elemento aliado à topografia.
De acordo com os dados da pesquisa documental e das entrevistas com os líderes
comunitários, com o início das obras da UHE/TUC, as ocupações no solo urbano de Tucuruí
intensificaram. Bairros surgiram como: COHAB, Santa Mônica, Santa Isabel, Jardim
Alvorada, Pioneira.
Entre os anos de 1980 e 1985, ou seja, menos de uma década, surgiram novas
ocupações habitacionais no solo urbano de Tucuruí que hoje são denominados de bairros:
Nova Tucuruí, Bela Vista, Marilucy, Terra Prometida, Paravoá e o bairro do GETAT com
traçados definidos de lotes e arruamento. É também desse período a vila planejada e
88
estruturada da ELETRONORTE, bairro situado no extremo sul da cidade, distante 11 km do
centro urbano.
A partir de 1985 até o ano de 2000, intensificaram-se as ocupações desordenadas que
passaram a integrar-se à paisagem urbana. Destacam-se os seguintes bairros: Serra Azul,
Jardim Colorado, Bom Jesus, Loteamento Carajás, Nova Conquista, Liberdade, São Francisco
e São Sebastião e as ocupações que dividiram o Bairro Beira Rio em dois espaços distintos:
área antiga e a ocupação que está ocorrendo no entorno do igarapé Santana, assim como, a
invasão no bairro do Mangal.
A pesquisa de campo assinala, que nos dias atuais, as ocupações irregulares vêm
diminuindo nos locais como: GETAT, Santa Mônica, São Francisco, COHAB, Pioneira,
Velha Matinha, Mariluci, Santa Isabel; pela simples falta de terras disponíveis. Isso representa
acesso à terra urbana de maneira rápida e desordenada.
5.2 AÇÕES COORDENADAS PARA O ORDENAMENTO DO ESPAÇO URBANO DE
TUCURUÍ ANTES DO PLANO DIRETOR
Para melhor compreensão dos planos de urbanização que antecederam o PDT,
enfatiza-se que os planos urbanísticos podem ser federais, estaduais e municipais. Sendo que
um plano de desenvolvimento municipal tem por finalidade o adequado ordenamento do
território municipal, com o objetivo de disciplinar o uso, o parcelamento e a ocupação do solo
urbano (BRASIL, 2008, art. 30, VIII).
É importante ressaltar que as ações de ordenamento do solo urbano discutido neste
item para Tucuruí ocorreram antes da promulgação da Constituição de 1988, portanto, não
foram concentrados na criação de oportunidades para a aquisição de propriedades pela
maioria da população, através de mecanismos de redistribuição do estoque imobiliário e de
assentamentos em áreas providas de serviços públicos e com ampla participação popular.
Na década de 1980, destacam-se, principalmente, as intervenções de órgãos como, por
exemplo, ELETRONORTE, GETAT e COHAB-PA, assumindo papéis para além de suas
funções. Objetivando, entre outras coisas:
Amenizar os problemas socioespaciais como: construção de moradias para
combater deficit habitacional, levantamento estatístico das doenças frequentes no município,
89
implementação de esgotos sanitários e distribuição de redes de energia elétrica e água, entre
outros socialmente essenciais;
Auxiliar a gestão municipal a lidar com avolumados problemas urbanos e com
a pressão dos movimentos sociais;
Incentivar os arranjos e as articulações das elites políticas locais com as novas
disposições econômicas, políticas e culturais, em processo de acomodação;
Organizar o mercado de trabalho local e regional;
Dos objetivos propostos, somente a repressão aos movimentos sociais e as articulações
políticas foram devidamente tratadas. De acordo com a pesquisa de campo, as habitações
construídas não atenderam às demandas existentes, por isso, a busca por moradias nas áreas
distantes do centro da cidade e próxima às margens dos igarapés Santos e Santana,
expandiram-se no mesmo período que as intervenções aconteciam.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, os espaços de moradias da maioria da
população migrante eram locais insalubres, sem esgotamento sanitário, água potável e coletas
de lixo. Cenário propenso para proliferação de doenças como o cólera morbus, tuberculose,
hanseníase e vários tipos de infecções. As populações que viviam próximas dos igarapés
utilizavam suas águas para sobreviver e ao mesmo tempo como depósito dos lixos domésticos.
Igualando-se, aos proprietários das serrarias que despejavam as serragens das madeiras, assim
como dejetos de suas residências nos igarapés.
Vale ressaltar que, na década de 1970, início da construção da UH as intervenções
consistiram na criação de espaços dotados de infraestrutura, equipamentos coletivos e
serviços públicos que serviriam de suporte para as atividades de implantação do
empreendimento, os quais se destacam as vilas planejadas da ELETRONORTE: Pioneira
(1973), Temporária I (1977) e II (1979).
A Vila residencial Permanente da ELETRONORTE (efetivada em 1983), por exemplo,
localizada a 11 km do núcleo urbano de Tucuruí, apresenta infraestrutura, equipamentos
urbanos e de serviços que atendem às necessidades de seus moradores. Entretanto, a
concepção urbanística desenvolvida “[...] foi pensada para adequar o perfil do relevo à
estratificação sócio-profissional desejada pela empresa, isto é, a morfologia do terreno atende
à intencionalidade de segregação espaço-funcional [...]” (PEREIRA; SILVA; FERREIRA,
2002, p. 61).
A Vila não representou para Tucuruí conquista de um espaço com qualidade de vida,
mas demonstra a falência ou ineficácia de um modelo de desenvolvimento que privilegia
certos espaços e atores, em detrimentos de outros. O plano urbanístico fixou uma série de
90
determinações que, tomadas em conjunto, permitem uma compreensão do espaço que foi
produzido, preenchendo todos os requisitos necessários à sua plena funcionalização.
Quando analisado, o planejamento urbano que antecede o PDT, percebeu-se que a
improvisação e o clientelismo estiveram como mediador do interesse público. Exceto a
company towns, arquitetada e administrada pela ELETRONORTE, fazendo contraste com os
espaços urbanos da Tucuruí, que são totalmente desprovidos de infraestrutura e equipamentos
públicos.
Observe através da Fotografia (2), como a aplicabilidade do planejamento contribui
para a sadia qualidade de vida. Já Fotografia (3) evidencia como a desorganização das
ocupações no solo urbano acaba instituindo problemas sociais, ambientais, educacionais e de
insegurança. A segregação socioespacial entre o núcleo planejado e a cidade de Tucuruí é
bastante visível.
Fotografia 2 - Vila permanente de Tucuruí. Fonte: João Vicente.
91
Fotografia 3 - Avenida Lauro Sodré – centro comercial da cidade de Tucuruí. Fonte: Arquivo departamento de Turismo/PMT.
Na realidade, trata-se de um enclave urbano desarticulado do espaço da cidade de
Tucuruí, apresentando uma nova configuração socioespacial, expressando uma nova paisagem,
equipada de infraestrutura, equipamentos públicos e serviços essenciais, e impondo novos
costumes, estilo de vida que se contrasta com a paisagem e com a cultura local. A respeito
deste assunto um líder comunitário informa:
A construção da vila da Eletronorte, pra nós aqui em Tucuruí não representa nada, (no meu ponto de vista), porque usufruí o benefício dos planejamentos os que moram lá e da estrutura. Aqui ninguém foi beneficiado com nada daquela estrutura lá, inclusive nós sofremos uma consequência através da Eletronorte que seria pra implantação do sistema de água de Tucuruí, um convênio Eletronorte, FUNASA e município, onde a FUNASA liberaria os recursos da parte dela, o município construiu a parte dele e a Eletronorte nunca construiu a parte dela que seria lá na vila. (informação verbal, entrevista concedida em 15 nov. 2009).
O papel desempenhado pela empresa concessionária de energia, ELETRONORTE,
como produtora deste espaço, possui especial importância. Ainda considerando que a região
de alguma forma e intensidade, já teria sido alcançada pela expansão de fronteira da
Amazônia décadas anteriores, foi, decisivamente, a implantação do projeto hidrelétrico que,
varrendo a prévia organização socioeconômica e espacial, lançou as bases de uma nova
estruturação socioespacial urbana.
Em vários aspectos, a implantação do complexo energético no espaço territorial de
Tucuruí trouxe uma série de consequências e problemas, tais como: perda da floresta nativa, o
92
deslocamento dos povos indígenas, o desaparecimento do pescado, a proliferação de
mosquitos e os vários efeitos sobre a saúde humana devido os surtos de malária, cólera
morbus e doenças dermatológicas. Além disso, a cidade de Tucuruí, nas últimas décadas, vem
apresentando clima quente na maioria dos meses do ano.
As alterações ambientais e sociais nos espaços desta cidade, acrescida pelo processo
de urbanização, sem expressivas ações de planos urbanísticos, representam acréscimos de
segregação socioespacial.
No decorrer da construção da UHE/TUC a disparidade dos espaços começava pelo
“que é permitido fazer”. Os trabalhadores tinham permissão para jogos, prostituição e todas as
maneiras de extravasar os dias árduos de trabalho apenas na cidade de Tucuruí e não nas vilas
planejadas pela ELETRONORTE. Consequentemente, essas ações provocavam a desordem
na cidade, que somadas à falta de aplicação de planejamentos na ordenação urbana, contribuiu
tanto para o desajuste social como para o crescimento da segregação socioespacial.
De acordo com dados da pesquisa, para a empresa ELETRONORTE, investimentos
em infraestrutura, equipamentos e serviços públicos, no espaço urbano de Tucuruí,
representou a edificação da company-towns para acomodar hierarquicamente seus
funcionários. Já os problemas sociais: como improvisações das moradias, aumento da
criminalidade, prostituição que acontecia no entorno da hidrelétrica, não era responsabilidade
desta empresa pública (VALENÇA, 1991).
Esses espaços “planejados” confrontavam com o espaço pré-existente (núcleo
ribeirinho de Tucuruí) e com outros espaços de ocupação “espontânea” que se reproduziam na
cidade, com estrutura urbanística precária, resultado das necessidades e diversidade dos
migrantes, estabelecendo uma dicotomia socioespacial entre as vilas planejadas
(ELETRONORTE) e a cidade tornada “livre” e precária (ROCHA; GOMES, 2002).
Destaca-se que a cidade apresentava-se paradoxalmente: de um lado, despertava
interesse econômico capitalista para implantação da hidrelétrica; por outro, atraía migrantes
em busca de trabalho nos canteiros de obras. Para a grande maioria da mão-de-obra disponível
as atividades desenvolvidas eram apenas temporárias. Durante os anos da construção, a cidade
de Tucuruí tornou-se a opção quase natural em virtude de sua proximidade e, por conseguinte,
de menor custo, para expropriados e migrantes que chegavam à expectativa de negócio ou
emprego (VALENÇA, 1991).
Deste modo, os bairros periféricos foram surgindo, devido ao aumento dos preços do
terreno e da especulação imobiliária, criando uma nova configuração espacial ao perímetro
urbano precário de Tucuruí. Essa realidade expressa o que Kowarick (1993), aponta como
93
tendência que acentua a expulsão da população para as periferias da cidade, onde acaba
aumentando o número de barracos e casas precárias nestes locais.
A estrutura do espaço urbano de Tucuruí, nos meados da década de 1980, pôde ser
representada pela ampliação do sítio urbano, aprofundamento da segregação socioespacial e
inexpressiva implementação de políticas públicas urbanas com ruptura dos agentes sociais.
Tudo isso indica que a natureza da gestão desses espaços “recortados” e de seu
funcionamento foram construídos através dos conflitos, tensões entre os movimentos sociais
com os políticos locais e representantes da empresa ELETRONORTE. Na atualidade, os
movimentos sociais sinalizam para o engajamento nas transformações da gestão
administrativa da gestão pública que o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) trouxe para os
municípios. Para que haja construção da gestão democrática dos municípios, deve existir a
participação compartilhada dos gestores com os movimentos sociais.
Na década de 1980, medidas e ações de órgãos como do Grupo Executivo de Terras do
Araguaia-Tocantins (GETAT) e da Companhia de Habitação do Estado do Pará (COHAB),
visavam intervenções de natureza regulatória e de políticas mitigadoras. Consistindo tanto no
disciplinamento da expansão urbana, quanto na criação de novas habitações urbanas (bairros
da COHAB e GETAT) definidas como áreas loteadas para fins de moradias.
Através de entrevistas com líderes comunitários e da observação constata-se que os
planejamentos urbanísticos definidos para essas áreas foram parcialmente implementados no
bairro da COHAB; enquanto no bairro do GETAT prevaleceu a autoconstrução e as
habitações improvisadas. Isso porque, o espaço urbano onde foi planejado o bairro GETAT
pertencia ao INCRA. Mas foi através do órgão GETAT que ocorreu a limpeza do terreno,
loteamento, arruamento da área onde seriam construídas 400 moradias para abrigar os
migrantes. Como não houve qualquer construção dessas casas, os lotes foram distribuídos por
esse extinto órgão para as famílias, de forma aleatória, sem qualquer cadastramento prévio,
ocasionando assim um acentuado processo de ocupação da área, sobretudo pelos migrantes.
O bairro Caraipé (GETAT como é conhecido), evidencia que houve planejamento
urbano para Tucuruí, o que faltou foram ações concretas de políticas públicas para habitação
popular e a participação dos atores sociais tanto na elaboração como na execução. A respeito
desse assunto, um líder comunitário afirma que:
Toda GETAT foi topografada e loteada apenas depois do loteamento é que chegaram os invasores, começou na rua Amapá e Acre. As invasões foram encima do que já tinha sido loteado. Devido a destruição das matas, vem aumentando o calor aqui [...] dentro do bairro existe uma invasão Alto
94
Alegre, fica onde existe uma quadra e uma praça construída encima do olho d’água [...] onde hoje é Alto Alegre era um terreno baldio do Estado para a construção de um colégio, que foi construído, a partir do colégio é que partiu a invasão [...] (informação verbal, entrevista concedida 20 nov. 2009).
Conforme informações dos representantes, dessas comunidades inexistiu
aplicabilidade do que foi planejado com a realidade apresentada. O autoritarismo do regime
militar, instaurado no Brasil (1964-1984), impossibilitou a participação popular tanto na
elaboração do plano para a construção das habitações da GETAT, como para
acompanhamento da execução. Essa realidade aproxima-se do que Castells (1983) assinala
sobre como é estruturado o espaço urbano, mas que não está organizado por acaso, deste
modo o processo social que se liga a ele exprime o determinismo de sua articulação com
outros elementos de uma realidade histórica.
Através da pesquisa, observou-se que o local onde está consolidado o bairro GETAT é
nítida a diferença entre o que foi planejado e a realidade. Inicialmente, não existe
remanescente de qualquer modelo de casa erguida como consolidação do plano. Depois, o que
o órgão GETAT fez foi demarcar alguns lotes de terra, neste perímetro urbano, sem
considerar os mangues, igarapés, diversidade de árvores frutíferas que desapareceram ou estão
em processo de extinção, assim como, não foram delimitadas áreas destinadas para bosques,
praças, quadra esportiva, hospital e creche. Foram planejados apenas o loteamento e o
arruamento (abertura das ruas).
De acordo com as informações de líderes comunitários, o bairro GETAT é precário de
equipamentos urbanos e serviços, e apresenta, ainda, graves problemas no esgotamento
sanitário e água potável nas residências. Muitos moradores continuam recorrendo aos “olhos
d’água” como garantia de abastecimento domiciliar.
A Figura (5) quando comparada a Figura (6) demonstra que ocorreu alinhamento das
ruas e quadras no bairro GETAT.
95
Figura 5 - Bairro da GETAT (atualidade) da cidade de Tucuruí. Fonte: Disponível em: www.google.com.br/maps. Acesso em: 23 mar. 2010.
A questão atinente ao bairro da COHAB mostra a existência de planejamento para a
área que foi além do arruamento e loteamento. No início dos anos de 1980, ocorreu a
construção de moradias para abrigar a população que não cessava de crescer e ocupar
aleatoriamente o solo urbano. A Secretaria de Obras, Habitação e Urbanismo de Tucuruí,
informa que: “esse bairro foi planejado, urbanizado e entregue para as famílias que estavam
inscritas junto a esse órgão do governo do Estado, houve todo um processo para atender às
famílias sem moradia”.
Segundo dados da pesquisa de campo existem controvérsias nestas informações.
Inicialmente, a existência de duas COHABs com realidades diferentes indicam que o número
de casas ofertadas não atendeu à demanda das famílias, ocasionando as ocupações
desordenadas no espaço. Depois, a ineficiência de infraestrutura na contemporaneidade não
possibilita pensar o espaço assistido adequadamente por sistemas de água encanada e
esgotamento sanitário. Segundo informou um líder comunitário: “todas as casa têm sua
própria fossa improvisada, a água tem todos os dias, mas a qualidade é ruim, falta
calçamento” (informação verbal).
96
Figura 6 - Bairro da COHAB e da COLINAS (atualidade) da cidade de Tucuruí. Fonte: Disponível em: www.google.com.br/maps. Acesso em: 23 mar. 2010.
O projeto habitacional conveniado entre a prefeitura de Tucuruí e o governo do Estado
através da Companhia de habitação do Estado do Pará (COHAB), buscava a construção de
casas com quatro cômodos, saneamento básico, equipamentos urbanos e serviços.
De acordo com as informações coletadas com os líderes comunitários da COHAB e da
nova COHAB a realidade difere muito do que foi planejado, não que com isso a construção
das casas não tenha acontecido. Seguindo o modelo de casa popular preexistente,
aproximadamente 500 casas foram construídas de madeira – apesar do projeto inicial
mencionar casas de alvenaria – contendo um quarto, sala e cozinha, para um terreno que mede
aproximadamente 220 m2.
Atualmente, quase todas essas moradias passaram ou passam por reformas. Quando
comparadas as casas planejadas pela prefeitura no bairro denominado de “Nova Matinha”, o
terreno e o arruamento do bairro da COHAB são superiores. Entretanto, quando o assunto é
ineficiência nos serviços de água e esgotamento sanitário esses bairros assemelham-se.
Assim como a maioria dos bairros de Tucuruí, o bairro da COHAB apresenta
ineficiência no esgotamento sanitário, problemas com o abastecimento de água encanada
devido às várias interrupções diárias e pela péssima qualidade que apresenta. Inexistem praças,
quadra coletiva para prática de esporte, bosques, ou seja, quando planejada não foram
priorizados espaços de lazer, equipamentos urbanos e infraestrutura.
A situação da Nova COHAB (COHAB de cima, popularmente conhecida) é ainda
mais grave, pois, primeiro houve abandono da área pelos órgãos responsáveis pela execução
97
do projeto habitacional. Ou seja, não se chegou a desenvolver projeto de habitação, o que
ocasionou processo de ocupações desordenadas. Devido a aproximação com as casa da
COHAB o espaço ocupado passou a ser chamado pelo mesmo nome. Depois, a disputa pelos
terrenos, a autoconstrução, a improvisação de moradias contribuíram para um traçado
irregular de algumas ruas e ineficiência de calçadas para pedestre.
Figura 7 - Bairro da NOVA COHAB (atualidade) da cidade de Tucuruí. Fonte: autora, com base nas imagens de satélite/ GoogleEarth. Acesso em: 23 mar. 2010.
Ainda no final da década de 1980, ocorreu novo planejamento habitacional para o
espaço urbano de Tucuruí. Desta vez, contou-se com investimento do governo federal na
implantação do projeto para construção de casas destinadas para trabalhadores. O
financiamento do projeto deu-se através de recursos financeiros do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS). A área escolhida localiza-se próxima do bairro do GETAT,
denominada Vila Tocantins ou “Vilinha”. Referente ao assunto um líder comunitário explica:
Agora lá teve um projetozinho chamado “vilinha”, umas casinhas que fizeram lá pra 100 famílias lá, do tamanho de um puleirinho de pombo, assim foi feito, dizem que é foi um projeto da Caixa Econômica, só sei que abandonaram aquilo, porque não sei como foi aquilo foi negociado e
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construíram um negocio que [...] uma coisa mais horrorosa do mundo (informação verbal).
Segundo os líderes comunitários, as casas não foram edificadas conforme o projeto,
contribuindo para inexistência de infraestrutura no conjunto habitacional. A falta de
gerenciamento e a demora para entrega dos imóveis contribuíram para que as famílias
cadastradas invadissem a área e ocupassem terrenos ociosos e casas precariamente erguidas.
Em alguns casos, as moradias foram vendidas, os que continuam ampliaram com
recurso próprio suas casas. Não possuem título de propriedade e não conseguem regularização
do terreno. Do projeto inicial, poucas implementações foram realizadas, perto de 60 moradias
parcialmente construídas: sem esgotamento sanitário, água canalizada, asfaltamento das ruas,
calçadas para pedestre e equipamentos urbanos. Essencialmente, quatro ruas constituem toda
área. A Fotografia 4 demonstra como se encontram as habitações planejadas e edificadas
nesse espaço urbano.
Fotografia 4 - Moradia da Vilinha Fonte: Pesquisa de campo - abril de 2010
Para construção das eclusas16 houve necessidade da transferência dos moradores da
orla do rio Tocantins. Assim sendo, a prefeitura municipal planejou e está construindo
moradias desde 2005 para alojar essas famílias atingidas diretamente pela implantação das
obras.
A nova Matinha, denominação da área urbana, representa o único planejamento
habitacional para o espaço urbano de Tucuruí concretizado pelo poder público municipal.
16 Consiste num sistema de transposição de desnível do rio Tocantins em Tucuruí ocorrido a partir da implantação da implantação da UH. É parte também do projeto de integração da Hidrovia Araguaia-Tocantins, que visa, em sentido amplo, a circulação espacial de bens e mercadorias.
99
Através da pesquisa de campo verifica-se falta de infraestrutura, como: água, esgoto,
asfaltamento das ruas, assim como ausência de qualquer equipamento urbano e serviços
públicos. Apesar de não ser objeto desta pesquisa, chama atenção a sobrevivência dessas
famílias, já que muitas dependiam da pesca artesanal como meio de vida.
Por meio do trabalho de observação e das imagens seguintes, pode-se fazer uma
comparação do tamanho do terreno entre o bairro da COHAB e do bairro Nova Matinha,
percebendo-se, que as casas da Nova Matinha estão tão próximas que acabam tanto com a
privacidade, como com a percepção de rua como espaço de lazer e circulação de pessoas. Da
cozinha de uma casa, percebem-se os movimentos da sala de outra.
Fotografia 5 - Conjunto habitacional Nova Matinha. Fonte: Pesquisa de campo – nov. 2009.
100
Fotografia 6 - Bairro da COHAB – Tucuruí/Pa. Fonte: Pesquisa de campo – abr. 2010.
Analisando o período da construção UH e observando a consolidação socioespacial na
atualidade, percebe-se que as ações do planejamento urbano são tímidas iniciativas do gestor
municipal. O poder público local deve atuar como mediador das políticas públicas que
possam mitigar os problemas existentes na cidade de Tucuruí, decorrentes da precária
infraestrutura e equipamentos urbanos de que tanto carecem as populações que residem nos
espaços segregados. A regularização da apropriação do solo urbano tanto nos espaços
anteriormente pensados e ocupados, como naqueles gerados a partir de transformações
recentes, em consonância com o plano diretor, representaria avanço na política urbanística do
município.
Dentro dessa perspectiva Valença (1991), aborda que não somente, mas também, a
partir de uma política elaborada no âmbito da cidade, concorrendo para isso estudos sobre a
potencialidade dos núcleos urbanos regionais, é que serão viabilizados laços de dependência
locais, ao invés da produção de enclaves territoriais.
No ano de 2002, foi implantado o Plano de Desenvolvimento Sustentável da
Microrregião do Entorno da UHE Tucuruí (PDST), abrangendo os municípios de: Tucuruí,
Breu Branco, Goianésia do Pará, Jacundá, Nova Ipixuna, Itupiranga e Novo Repartimento.
Esse plano tem como objetivos propor estratégias de desenvolvimento sustentável para estes
locais, tais como:
101
Aumento da renda e da ocupação produtiva da população regional, levando a
uma redução da pobreza e das desigualdades sociais;
Elevação dos níveis de escolaridade da população e redução do analfabetismo
combinados com o aumento da capacitação profissional da população regional;
Melhoria da saúde pública, com ampliação do atendimento e dos serviços.
Levando a uma redução da mortalidade infantil e um aumento da expectativa de vida
da população;
Ampliação da rede de saneamento básico, abastecimento de água e esgoto e
coleta e tratamento do lixo, com melhoria geral das condições sanitárias da população;
Dinamização da economia regional com aumento do PIB-Produto Interno
Bruto e da participação no produto estadual;
Preservação do meio ambiente com redução do adensamento das florestas e
recuperação dos ambientes degradados da região, etc.
O PDST, elaborado pela empresa pública ELETRONORTE, tem como proposta de
planejamento participativo, o Plano de Inserção Regional dos municípios do entorno do lago
da UHE Tucuruí (PIRTUC). O PIRTUC representa plano específico de investimento e
desenvolvimento para os municípios e está diretamente interligado com o PDST. Ambos são
planos de desenvolvimento da ELETRONORTE, com investimentos previstos para
2002/2020. “As ações planejadas e implantadas na região tiveram mais o sentido de mitigar,
amortecer os efeitos negativos do empreendimento do que potencializar aqueles feitos de
caráter positivo” (ROCHA; GOMES, 2002, p. 51).
Na fase de elaboração do PIRTUC (2002-2020), não ocorreu efetivamente uma
participação popular, foi uma construção interna da ELETRONORTE que sempre acreditou
conhecer a realidade das comunidades. Portanto, a relação acontece entre a prefeitura e a
empresa ELETRONORTE.
PLANO DE AÇÃO: 2002 – 2003 – PIRTUC
1. Construção de 60 mil2 de Infraestrutura física para educação;
2. Ligação de 3 mil residências à rede de água;
3. Ligação de 2,4 mil residências à rede de esgoto;
4. Implantação da coleta de lixo em 2,4 mil residências;
5. Cobertura de 21 mil habitantes através do Sistema de Atenção Básica à Saúde;
102
6. Implantação de 60 novos Leitos Hospitalares;
7. Construção de 1,4 mil Novas Habitações;
8. Ligação de 2,2 mil residências à rede de EE;
9. Ligação de 460 residências à rede de EE Rural;
Quadro 2 – Plano de ação: 2002 - 2003 - PIRTUC Fonte: ELETRONORTE, jun. 2009.
È importante acrescentar quanto ao PIRTUC que este não é o planejamento urbano de
Tucuruí, portanto não pode ser analisado dentro de uma política urbanística, mas integra
royalty, ou seja, compensação financeira pelo uso do recurso natural e/ou do território (Leis
7.990/8917 e 8.001/1990), assegurado pela Constituição de 1988 (Art. 20, § 1º). Portanto, é um
plano de inclusão para a região de Tucuruí, através de convênios entre a ELETRONORTE e
as prefeituras municipais, contendo programas/metas a serem alcançadas no período de vinte
anos.
Entretanto, a preocupação durante a pesquisa centrou-se no que estabelece o plano de
ação do PIRTUC para os anos 2002/2003, quanto à ligação de água canalizada para 3 mil
residências, assim como, ligação à rede de esgoto para mais de duas mil moradias e
construção de 1,4 mil novas habitações. De maneira superficial, os sete municípios do entorno
do lago da UHE/TUC apresentam ineficiência de saneamento básico, equipamentos urbanos
etc, o que torna inexpressiva tal estimativa de investimentos. Constatou-se que em Tucuruí os
investimentos em água e rede de esgoto são parcos perante as demandas da população.
17 A Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, “institui para os estados, Distrito Federal e Municípios, compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de recursos minerais em seus respectivos territórios, plataformas continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva”. Lei nº 8001, de 13 de março de 1990, define os percentuais da distribuição da compensação financeira de que trata a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
103
6 CONSTRUÇÃO DO PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ: MUDANÇA OU
PERMANÊNCIA NO STATUS QUO
O plano diretor foi concebido como instrumento de um novo modelo de gestão urbana,
que abandonando a concepção puramente tecnocrática, tem por sustentação a identificação de
forças sociais existentes no cenário da cidade e seus respectivos interesses em torno de
garantias e direitos que assegurem a redução das desigualdades sociais. Objetiva ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
Seja como for, a concepção do plano diretor deve ser, antes de tudo, instrumento de
gestão democrática da cidade. Nesse sentido, é importante salientar dois aspectos: a
transparência e a participação democrática. A transparência é um atributo fundamental em
qualquer política pública. A participação democrática possibilita a prática da gestão
compartilhada, com a participação direta da população no planejamento urbano. Observe o
que estabelece o Capítulo IV do Estatuto da cidade (BRASIL, 2001):
Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I- órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal; II- debates, audiências e consultas públicas; III- conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal; IV- iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; V- (vetado) Art.44. No âmbito municipal, a gestão orçamentária participativa de que trata a alínea f do inciso III do art. 4º desta Lei incluirá a realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal. Art.45. Os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas incluirão obrigatória e significativa participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle direto de suas atividades e o pleno exercício da cidadania.
O Estatuto das Cidades reforça a natureza democrática da política ao estabelecer que
no processo de elaboração do plano diretor, deverão ser garantidas pelos poderes legislativo e
executivo as promoções dos seguintes institutos: audiências públicas e debates com
representantes das sociedades organizadas; publicidade das informações e documentos
produzidos; acesso de qualquer interessado a estas informações e documentos. No Capítulo
104
III do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), estão estabelecidas as diretrizes do plano diretor
Municipal:
Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei. Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. § 1º. O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. § 2º. O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo. § 3º. A lei que institui o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. § 4º. No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo Municipais garantirão: I- a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários seguimentos da comunidade; II- a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; III- o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos; § 5º. (vetado). Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades: I- com mais de vinte mil habitantes; II- integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; III- onde o poder Público Municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4º do art. 182 da Constituição Federal; IV- integrantes de áreas de especial interesse turístico; V- inseridas na área de influência de empreendimento ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. § 1º. No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas. § 2º. No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido. Art.42. O plano diretor deverá conter no mínimo: I- a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5º desta Lei; II- disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta lei; III- sistema de acompanhamento e controle.
Pode-se ainda dizer que não basta que as diretrizes e prioridades do plano diretor
sejam aprovadas em lei. São necessárias a implementação e eficácia deste plano que depende
da pretensão política e das organizações entre os diversos parceiros envolvidos. Todavia,
105
registre-se, por oportuno, que é através do plano diretor que o município tem a obrigação
constitucional de definir as exigências fundamentais de ordenação da cidade, determinando,
assim, quando a propriedade urbana cumpre sua função social.
6.1 CONSTRUÇÃO DO PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ
O plano diretor do município de Tucuruí deve ser analisado, no contexto das
mudanças nas relações políticas nacionais, a partir da Constituição Federal de 1988, onde
foram impostas as transformações das relações entre o poder público local e as comunidades,
e disso faz parte o disciplinamento do controle do uso e ocupação do solo.
Portanto, o plano diretor é a um só tempo resultado e fato gerador dessa nova
institucionalidades da participação popular nos municípios. Teoricamente, proporciona aos
moradores dos bairros mais pobres maior poder de voz e de participação dos processos em um
contexto de relações mais previsíveis e transparentes com o poder executivo. Teoriza ainda,
dificuldades para as especulações imobiliárias, que durante muitas décadas dominaram o
cenário das políticas habitacionais nas cidades brasileiras, ressalta-se, por exemplo, o extinto
Banco Nacional de Habitação (BNH), que proporcionou favorecimentos aos empresários do
setor imobiliário.
Tucuruí é frequentemente lembrada como a primeiro município onde foi construída a
maior usina hidrelétrica do Brasil. Por outro lado, esta urbe recebeu parca aplicabilidade de
planejamentos urbanos, produzindo consequências nefastas do ponto de vista da legitimação
do município como gestor do uso do solo.
Ainda que pareça incompreensível que um município renuncie ao poder de regular seu
próprio território, é interessante nos aprofundarmos nessa questão. De acordo com as
informações coletadas na Secretaria municipal de Obras, urbanismo e Habitação de Tucuruí, a
omissão da esfera municipal (no período de construção da UH) significou para a cidade,
ausência de regulação fundiária.
A ELETRONORTE não implantou planos urbanísticos, pelo menos na antiga cidade.
Quando observado o primeiro núcleo urbano, bairro da Matinha, não existe uma completa
infraestrutura, uma vez que, na atualidade, carece de rede de esgotos e água potável com
qualidade e em tempo integral.
106
De qualquer forma, as tarefas de elaborar e executar o PDT começaram no ano de
2005, atendendo ao Estatuto da Cidade, regulamentação dos art. 182 e 183 (política urbana:
plano diretor) e novos instrumentos de Gestão e do Ministério das Cidades que incorpora
parcialmente o ideário da reforma urbana. “Elaborada a proposta, segue sua apresentação à
promulgação e segmentos da sociedade civil, para debates e audiências públicas, com
publicidade e amplo acesso a seus documentos e informações” (SANT’ANA, 2006, p. 159).
Segundo dados coletados junto à Secretaria Municipal de Planejamento de Tucuruí,
fez-se necessário a organização de reuniões comunitárias, entre oficinas zonais e temáticas,
palestras, seminários, audiência pública e reuniões diversas, além de exposições e outros
fóruns de discussão coletiva e participação social, para elaboração do PDT. O Quadro 3, é
uma sinopse deste plano diretor municipal.
Capítulos Seções Subseções I- Da política Municipal de desenvolvimento sustentável
II- Das estratégias de desenvolvimento sustentável do município
I- Da macrozona ambiental II- Da macrozona indígena III- Da macrozona urbana
III- Do ordenamento territorial
IV- Das macrozonas rurais
IV- Do uso e ocupação do solo na macrozona urbana
V- Do sistema viário urbano VI- Do sistema municipal de áreas verdes
I- Da edificação e utilização compulsórias II- Do consórcio imobiliário III- Do direito de preempção IV- Do estudo de impacto de vizinhança V- Da operação urbana consorciada
I- Das zonas especiais de interesse social
VI- Da outorga onerosa do direito de construir VII- Do direito de preempção VIII- Do direito de superfície IX- Transferência do direito de construir
VII- Dos instrumentos de política urbana
X- Da regularização fundiária
II- Da concessão especial de uso para moradia
VIII- Do sistema de planejamento e gestão municipal e urbano
I- Do sistema municipal de planejamento e gestão participativo
107
II- Do sistema municipal de informações
XI- Das disposições finais e transitórias
Quadro 3 - Sinopse do Plano Diretor de Tucuruí (lei municipal nº 7.145/2006, de 29 de dezembro de 2006). Fonte: Autora, com base nos dados do Plano Diretor de Tucuruí/2006.
Partindo do princípio, onde, casuísmo e interesses imediatos na gestão pública são
determinantes, os lideres comunitários em Tucuruí demonstram preocupação com as
estratégias da política local, ressaltando que, na maioria das vezes, são chamados apenas
numericamente ou como cumprimento do que estabelece a lei, como aconteceu no processo
de construção do PDT. Sobre o assunto, Souza (2008) elucida que esse novo arranjo possa
também ser instrumentalizado pelas forças políticas – como qualquer arranjo participativo –
mas é positiva a representação dos diversos segmentos sociais, democraticamente escolhidos,
atuando com entendimento de causa e atitudes de líderes conscientes dos objetivos coletivos.
Segundo informações obtidas entre os líderes de bairros de Tucuruí e da pesquisa
documental, os recursos necessários para elaboração do plano diretor saíram da empresa
estatal ELETRONORTE, que custeou a contratação de consultoria da Engevix, assim como
todo material produzido durante o processo como dados estatísticos, mapeamentos e
pesquisas.
As informações obtidas na Secretaria de planejamento e no Núcleo Gestor do PDT,
afirmam que todo o processo de elaboração do plano diretor foi sustentado por dois grupos: a
Comissão Permanente do Executivo, através da Secretaria Municipal de Planejamento e
Informática- SEPLAN e pelo Núcleo Gestor do Plano, tendo como objetivo dar legitimidade e
prioridade ao plano diretor no executivo Municipal.
Contou ainda com a consultoria do Consórcio Engevix/Themag e com a participação
da sociedade civil. Sobre esse assunto Sant’ana (2006) adianta que para a construção do plano
diretor, a administração pública municipal tem o dever de promover o debate, por intermédio
de audiências públicas na forma descentralizada, com vistas a agregar o maior número
possível de representação e participação social no processo.
Segundo pesquisa de campo, a construção do PDT denominado de “participativo”, acabou
expressando uma participação não qualificada, já que muitos dos sujeitos envolvidos não
possuíam amplo entendimento do que estavam construindo e tão pouco poder de decisão final.
Indicando, que os sujeitos sociais foram mais ouvintes do que participes de propostas
coletivas para a sociedade, quando da elaboração das diretrizes do plano diretor.
108
De acordo com os lideres comunitários sua participação nas reuniões e assembleias,
restringia-se mais a escutar, do que construir propostas para amenizar os problemas da
sociedade.
Na verdade o que ocorre é que a participação social na gestão pública não tem sido
qualificada, considerando que os sujeitos envolvidos não possuem esclarecimentos daquilo
que está sendo discutido e não têm poder na tomada de decisão. A participação tem sido mais
enquanto um referendo, uma revalidação daquilo que já foi decidido, daquilo que vai ser.
Sobre o assunto um líder comunitário informa:
Nós somos convidados apenas para constar, quase não falamos e eles chegam dizendo que as coisas já estão sobre controle temos que escutar e depois compreender o que estão falando. Quase não entendo o que falam e são rapidamente nas reuniões e quando começo a falar dos problemas do meu bairro dizem que o tempo já acabou [...]. (informação verbal, entrevista concedida em 19 nov. 2009).
Em relação aos problemas urbanos que afetam coletivamente a sociedade, a pesquisa
quis saber se houve amplos e esclarecidos debates que os impulsionassem a diagnosticar os
problemas de seus bairros e os principais problemas da cidade, para em seguida,
conjuntamente construírem as prioridades e soluções que deveriam estar contidas no plano
diretor. A esse respeito os líderes comunitários explicam que os debates foram rápidos e os
que estavam na coordenação tinham apenas o objetivo de concluir o plano diretor.
Nós pouco falamos, apenas ouvimos, ouvimos conversa fiada e depois diziam que estava tudo pronto e que nós devia esperar pelos bons resultados. Nós achava que esse tal plano diretor seria alguma coisa para nossa rua, uma praça, uma escola ou vinha melhorar a saúde [...]. (informação verbal, entrevista concedida em 15 dez. 2009).
Todas as vezes que ao atores sociais não são envolvidos diretamente com a gestão
pública, acabam sem compreender os acontecimentos que envolvem coletivamente a
sociedade, servindo apenas para legitimar os interesses de grupos dominantes. Participação
popular seria entre outras coisas poder compartilhar do decidir, poder decidir da ação pública,
dos investimentos, da formulação de políticas públicas e dos efeitos dessas ações (SOUZA,
2008).
A participação, antes de qualquer coisa, deve representar mais que participação
quantitativa do ponto de vista do número de participantes, que participam dos momentos de
encontro, dos momentos de convergência, dos momentos de tomada de decisões, deve ser
109
acima de tudo a participação qualificada para entender as discussões, das consequencias das
decisões e da tomada de decisões. Para um dos membros do Núcleo Gestor do plano diretor
participativo de Tucuruí a participação dos atores sociais, procedeu-se:
O processo de elaboração do plano diretor de Tucuruí foi participativo, mas uma participação que eu diria que ela é um meio termo entre uma participação mais tecnocrática e uma participação efetivamente popular é porque dizer por que a primeira experiência é de compartilhamento, de participação na elaboração de alguns planos de desenvolvimento específico do município de Tucuruí, é o plano diretor, eles não têm uma experiência comunitária, são experiências populares de participação na gestão pública, primeira porta que se abre é o plano diretor, porém as formulações que os sujeitos envolvidos, principalmente os sujeitos sociais, tinham não eram tão qualificada [...]. (informação verbal, entrevista concedida em 01 dez. 2009).
Embasado pela discussão teórica, temos em Souza (2008, p. 335) a importância da
participação popular para repensar as gestões das políticas públicas urbanas, considerando as
experiências nas propostas de planejamentos que concebam o espaço vivido cotidianamente
pelos usuários, habitantes da cidade em suas múltiplas práticas espaciais, em seus diferentes
usos, sociabilidades e vivências. “Participar, no sentido essencial de exercer a autonomia. É a
alma mesma de um planejamento e de uma gestão que queiram se credenciar para reivindicar
seriamente o adjetivo democrático”.
Cabe também aos agentes sociais localmente definidos formularem estratégias de
intervenção, participação coletiva entre os movimentos sociais, conselhos deliberativos,
sindicatos, grupos sociais excluídos, cidadãos simples, para a construção de uma participação
que rompa com o bairrismo (grupos de pessoas que apenas defendem os interesses do seu
bairro) e busque construir ações que beneficiem a sociedade como um todo.
Segundo informações coletadas no Núcleo Gestor, o processo de elaboração do PDT
não foi tão didático18 e pedagógico como deveria. Houve maior preocupação em cumprir o
cronograma e o prazo, ao invés de se buscar envolvimento dos sujeitos sociais nos assuntos
relevantes, como a segregação socioespacial e habitação, além da delegação de poder de
debates e decisão. A decisão final dos conteúdos ficou com o corpo tecnocrata da empresa de
consultoria, corpo técnico da Prefeitura e com o próprio Núcleo Gestor.
O estudo aproxima-se de Sant’Ana (2006) ao analisar que a perspectiva da governança
participativa é propiciar que ocorram processos catalisadores de propostas, promovendo
18 Os sujeitos envolvidos deveriam conhecer todos os processos, todas as etapas, os conteúdos daquilo que estava sendo discutindo, do que estava sendo elaborado. Conhecer depende dos sujeitos que estão conduzindo o processo para explicar detalhadamente e suficiente para uma participação ativa.
110
amplos debates sobre a cidade, capaz de garantir a mais ampla participação da população na
elaboração, fiscalização e avaliação da política urbana.
O mérito de uma governança participativa é saber, sobretudo, debater exaustivamente
as propostas, para que ocorra a democratização dos seus benefícios. A respeito dos processos
de construção do PDT, um líder comunitário, explica:
O plano diretor em Tucuruí ele foi anunciado, divulgado que iria haver o plano diretor, só que o plano diretor deveria ter sido discutido com a Comunidade, por associações e não foi, eles trouxeram esse plano diretor elaborado já, preparado só fizeram ler e apresentar pras pessoas. As Comunidades em Tucuruí elas são muito atuantes e elas gostam de participar, elas gostam de participar mesmo, de estar ali fazendo a sua participação, fazendo a sua discussão, fazendo debate em cima do assunto, gostam de mostrar porque tem muitos líderes que são esclarecidos, que tem conhecimentos da situação, da necessidade das coisas eles gostam de participar, então o problema foi que não foi mesmo divulgado, foi convidados através de ofícios, nós fomos convidados por exemplo aqui quando foi feita a reunião nós fomos lá e eles chegaram lá só rapidamente e disseram: “olha nós temos uma hora só pra apresentar esse estilo aqui pra vocês e vamos lá pra tal lugar” e eu disse: que negócio é esse? Que plano diretor é esse que vocês estão fazendo que não querem discutir com a Comunidade e na hora que eu fui colocar: olha tem que discutir isso, isso,isso e não foi possível então foi assim que foi feito, não foi as comunidades que não quiseram participar não,eles não deram oportunidade para as comunidades participarem. Eu procurei até o pessoal, até o próprio secretario de planejamento, eu procurei ele depois, falei pra ele a respeito: Que negócio é esse que está sendo feito aí? Porque, seus amigos chegaram lá só botaram uma mesinha, mostraram um filme lá, falaram alguma coisa e saíram, foram embora, não foi discutido, não foi debatido. (informação verbal, entrevista concedida em 20 jan. 2010).
Oportuno demonstrar como a Secretaria de Planejamento do município de Tucuruí
através da coordenação do Núcleo Gestor do PDT entendeu o mesmo fenômeno.
Como secretário de Planejamento, fui o coordenador do núcleo Gestor que elaborou o plano diretor de Tucuruí, um núcleo formado por executivo e pela sociedade civil. Quanto aos processos de construção do plano diretor participativo de Tucuruí, foram mais de 100 reuniões, 100 eventos participantes entre: oficinas, conferências, seminários, reuniões esclarecedoras com as comunidades, tudo isso em busca de escutar o segmento da população, a percepção da população somente com a percepção técnica, através, a gente tentou combinar a qualidade técnica com a percepção coletiva, participativa, dentro daquele princípio de que a sociedade participa da elaboração de um plano é de se esperar que ela tenha mais compromisso com a execução, com a implantação do plano diretor. (informação verbal, entrevista concedida pelo Secretario de planejamento em 20 jan. 2010).
111
Nota-se que são segmentos sociais com percepções diferenciadas da mesma realidade.
Na 2ª Conferência Municipal da Cidade de Tucuruí realizada nos dias 21 e 22 de Janeiro de
2010, pela Secretaria de obras, urbanismo e habitação municipal, cujo Lema era: Avanços,
dificuldades e desafios na Implementação da política de desenvolvimento urbano e como
Tema: Cidades para todos e todas com gestão democrática, participativa e controle social,
ocorreram protestos dos atores sociais que não tiveram direito de expressar opinião sobre os
assuntos abordados.
Essa Conferência possuía eixos temáticos primordiais para identificar os avanços e
resultados na implementação de políticas urbanas. Entretanto, assuntos como “aplicação do
Estatuto da Cidade e dos planos diretores e a efetivação da função social da propriedade do
solo urbano”; “saneamento ambiental” e “a integração da política urbana no território: política
fundiária”; entre outros, foram superficialmente debatidos em apenas um dia. Aliás, os atores
sociais atuaram mais como platéia do que como participantes na construção da governança
participativa. Eis o que expressou um líder comunitário quando lhe foi concedida o direito de
voz:
Fomos convidados apenas para escutar, não nos deixaram falar, estou indignada, não apenas eu, mas toda a platéia que deixou seus afazeres diários e vieram pra cá. Quando pedimos que a reunião começasse com a leitura do regimento interno não permitiram que isso acontecesse, muitas pessoas já foram embora, indignados, como nós podemos participar de conferência apenas para escutar o que está já pronto. Tenho mais de 15 anos atuando em movimentos sociais e vejo nessa Conferência que tudo começou errado, visto que o Regimento Interno deveria ter sido lido no inicio da Conferência e peço desculpas á plenária pela falta de respeito. (informação verbal, entrevista concedida em 16 nov. 2009).
Os representantes dos bairros envolvidos na pesquisa são unânimes em afirmar,
quando o assunto é participação na gestão pública atual, que desde a elaboração do PDT, não
foram mais convocados para participar de qualquer elaboração de planejamento na gestão
municipal de Tucuruí. Há, porém, um exemplo ainda mais forte que eles apontam, a ausência
de participação dos atores sociais na definição política de instrumentos orçamentários como
Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei de Orçamento Anual
(LOA).
Ressalta-se, que é através do Conselho Municipal de Planejamento que as propostas
do PPA, LDO e a LOA, antes da aprovação pela Câmara Municipal, são debatidas e
analisadas pelos representantes da sociedade. No âmbito deste Conselho deve ser apreciado o
que estabelece os instrumentos do plano diretor, assim como orientar os investimentos
112
públicos do Município. Os dados da pesquisa revelam que o PPA, LDO e LOA estão sendo
implantados sem qualquer interação com o plano diretor de Tucuruí e sem participação
constante dos sujeitos sociais.
A postura política autoritária aliada às limitações de percepção que os sujeitos sociais
têm dos problemas em geral, contribuem para que os planos para o desenvolvimento do
município continuem existindo desarticulados da realidade dos espaços segregados.
Analisando o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), no capítulo IV, arts. 43 e 44
(transcrito anteriormente), que definem quais são as diretrizes essenciais da gestão
democrática da cidade, reafirmam a importância da participação de segmentos da sociedade
civil através de debates, audiência pública e consulta pública, nas propostas do plano PPA,
LDO e LOA, como condição obrigatória para sua aprovação na Câmara.
O plano diretor de Tucuruí (TUCURUI, 2006) estabelece:
Art. 99. Fica criado o Sistema Municipal de Planejamento e Gestão Participativo. Parágrafo Primeiro: O Sistema Municipal de Planejamento e Gestão Participativo compreende o conjunto de órgãos, diretrizes, normas, recursos humanos e técnicos que possibilita a criação das condições de implementação do processo de desenvolvimento para o Município. Parágrafo Terceiro. O Sistema Municipal de Planejamento e Gestão Participativo, em sua estrutura, organização e funcionamento, pautam-se pelos seguintes princípios: I – Compatibilidade e integração das políticas, programas e ações executadas no âmbito das Unidades Administrativas que compõem o executivo Municipal, bem como destas em relação às políticas públicas executadas nas esferas estadual e federal. II – Participação social, transparência e controle social nos processos decisórios.
Assim sendo, a inoperância do Conselho municipal de planejamento e gestão
participativa, vem impossibilitando a construção de uma gestão compartilhada e participativa,
base da governança democrática. Deste modo, a ampliação da participação popular, no
processo decisório de implementação do planejamento e gestão municipal de Tucuruí,
apresenta-se como uma utopia futurística, principalmente no monitoramento da tomada de
decisões das ações públicas e nas avaliações dos resultados.
De acordo com a pesquisa, o processo de acompanhamento, controle, avaliação
permanente do plano diretor não existe. Primeiro, não foi constituído o Conselho Municipal
do plano diretor, assim como, não se formou a Conferência Municipal para o planejamento
participativo e Fórum Municipal, essenciais para que os atores sociais participem de amplos
113
debates e exijam investimentos de políticas públicas no combate das desigualdades sociais;
segundo, passados quatro anos de implementação do plano diretor, não houve qualquer
encontro que envolvesse os diversos segmentos sociais para debater, avaliar e verificar sua
implementação. Resultando na ausência de controle social no processo de implementação e
avaliação do plano.
A tomada de decisão não deve ser restrita apenas aos administradores públicos, mas
com ampla divulgação e engajamento dos movimentos sociais, principalmente dos sujeitos
que representam as comunidades segregadas e que necessitam concretamente de políticas
públicas. A respeito desse assunto o PDT (TUCURUÍ, 2006) estabelece:
Art. 97. O sistema de Planejamento e Gestão, objetiva garantir um processo dinâmico, participativo e permanente de implementação, acompanhamento, monitoramento e avaliação do plano diretor municipal de Tucuruí, bem como dos programas, projetos e atividades dele decorrentes. Art. 98. A execução dos planos, programas e atividades do Governo Municipal obedecerá as diretrizes do Plano Diretor do Município de Tucuruí e terá acompanhamento e avaliação permanente, de modo a assegurar o seu êxito e a sua continuidade.
No que concerne aos órgãos de participação e representação da sociedade em Tucuruí,
quando da elaboração ao plano diretor, estão: os Conselhos Municipais de Saúde, Assistência
Social, Direito da Criança e do Adolescente, Emprego/trabalho, Conselho Interativo de
Segurança e Justiça (CISJUR) etc.
Seja como for, diante das informações coletadas entre os diferentes sujeitos que
participaram da elaboração do PDT, verificou-se que, em sua maioria, os lideres comunitários
possuem limitações para pensar coletivamente os problemas urbanos, prevalecendo ideias
setoriais, paroquianas, em detrimento da construção coletiva.
Em Souza (2008) encontram-se embasamentos teóricos que reforçam a análise anterior,
por acrescentar a isto o fato de que as matérias abordadas pelo planejamento e a gestão
territorial não são facilmente compreendidas por estes cidadãos, talvez por não tiverem sido
amplamente divulgadas e debatidas com as pessoas que vivem nas periferias da cidade.
Surgem assim as desarmonias entre o poder executivo municipal e a sociedade
organizada. Os instrumentos de planejamento como o plano diretor (deverá ser revisto antes
de completar dez anos de implementação); o Plano Plurianual (dimensão temporal de 4 anos);
a Lei de Diretrizes Orçamentárias ( dimensão temporal de 2 anos) e a Lei orçamentária anual;
todos esses planos, dificilmente, corresponderão às expectativas de quem planejou e nem de
longe atenderá às necessidades e aspirações dos que habitam espaços segregados. Para
114
aquelas pessoas que já tinham alguma experiência em participação ou envolvimento em
discussões sobre o tema, a desconectividade entre a cidade planejada e a cidade real, têm
contribuído para o ceticismo em relação à participação.
Assim sendo, são muitas as dificuldades que os sujeitos sociais envolvidos na pesquisa
encontram para compreender a importância das cobranças pela implementação do plano
diretor perante o governo municipal.
6.2 FUNÇÃO SOCIAL DO PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ
A função social da cidade deve induzir ao pleno desenvolvimento da qualidade de vida
para os habitantes. É através da aplicabilidade das diretrizes existentes no plano diretor que a
cidade e a propriedade exercem mais satisfatoriamente suas funções sociais. A propriedade
urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor (art.182, § 2º da Constituição federal). Este será um
instrumento da maior importância da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
Esse princípio constitucional somente terá sido cumprido quando existir política capaz
de eliminar a pobreza e erradicar as desigualdades e segregação socioespacial. Garantindo
moradia digna e meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para tanto, é tarefa de todos,
através da mobilização da sociedade civil, das autoridades públicas construir para os citadinos
a sadia qualidade de vida.
O pleno direito à cidade inclui o direito à vida com dignidade, à moradia, à
alimentação, à saúde, à segurança, ao meio ambiente. “E, para efetivação da função social da
cidade, o direito à cidade deve ser exercido em sua plenitude, ou se já, a cidade cumpre sua
função social quando os cidadãos possuem os direitos urbanos” (SANT’ANA, 2006, p. 73).
Sobre o assunto Souza (2008) aponta para a premissa de que há uma necessidade de
estabelecer uma clara diferença entre dois conceitos que se referem ao solo urbano: o direito
de construir e o direito de propriedade. O direito de propriedade ao qual o cidadão faz jus não
lhe dará o direito de manter o terreno sem desempenhar função social.
O direito à cidade, no sentido amplo de suas formas e funções, vai da moradia aos
diversos espaços da cidade. Referisse a infraestrutura, ao transporte, ao lazer, aos serviços
públicos e ao trabalho é disposto no inciso I do estatuto da Cidade, denotando a necessidade
de um planejamento e uma gestão urbana voltados ao desenvolvimento socioespacial.
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A função social atende a questões ambientais e sociais. Quanto ao que apresenta, no
caso de Tucuruí, o Quadro 4 buscará demonstrar se o direito à cidade está acontecendo em
Tucuruí, no tocante à habitação, circulação, lazer, trabalho, saneamento ambiental,
infraestrutura e gestão democrática da cidade.
Instrumentos Objetivos de acordo com
Plano Diretor de Tucuruí Possibilidade de aplicação em Tucuruí
Habitação Promover o acesso de toda população à moradia adequada, servida por infraestrutura básica e serviços públicos, fácil acesso aos equipamentos comunitários e ao sistema de transportes; impedir a segregação socioespacial; promover a regularização da situação fundiária, urbanística e edilícia das habitações.
Através do trabalho de observação da pesquisa, percebe-se que em quase todos os bairros da cidade existem problemas relacionados com moradias precárias. Como os igarapés cortam a maioria dos bairros as casas estão localizadas nas suas margens, o que torna áreas de riscos. Se as famílias que foram remanejadas para a Nova Matinha para construção das eclusas, ainda não podem usufruir da infraestrutura básica, reivindicam acessibilidade de circulação e equipamentos e serviços públicos. Torna-se grandioso e soa demagogo, promover para toda uma população segregada socialmente e espacialmente, moradias que proporcione qualidade de vida.
Circulação (Observe Figura 8)
Provimento e disciplinamento dos meios de transportes coletivos adequados às necessidades do município.
Através do trabalho de observação da pesquisa, constatou-se a inexistência de ciclovias no espaço urbano de Tucuruí, entretanto, parte da população utiliza a bicicleta como meio de transporte. Também se observou que a ciclofaixas nas vias arteriais e coletoras são inexpressivas. Tendo em vista que a cidade de Tucuruí é recortada pelos igarapés Santos e Santana, o sistema de circulação como as ciclovias acompanhando os cursos d’água iriam proporcionar maior integração espacial ao tecido urbano. O que não se verifica na atualidade.
Lazer (recreação) Objetiva oferecer espaços de oportunidades variadas de atividades e eventos culturais, esportivos, de entretenimento e lazer e valorizar os talentos locais.
Em Tucuruí, existem poucas áreas verdes, parques, assim como praças nos bairros mais distantes e aquelas existentes necessitam de reformas -, além de pequenas, são escuras e sem atrativo. Tudo isso dificulta o lazer de muitas pessoas que habitam a cidade. Como valorizar talentos em bairros que não possuem espaços esportivos?
Condições adequadas de Trabalho
O desenvolvimento das atividades econômicas deverá incorporar avanços tecnológicos, promover a geração de trabalho e renda para a população, estimulando-se a instalação de indústrias e agroindústrias, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, orientados pela vocação econômica local e regional.
A geração de emprego/renda representa uma das diretrizes gerais do desenvolvimento de um município. Todavia, de acordo com os líderes comunitários a maioria das pessoas empregadas ocupam atividades que exigem força física e são temporários nas obras da UH.
Saneamento ambiental
Objetiva assegurar a proteção e a conservação do patrimônio ambiental do município; garantir
A possibilidade de sua aplicação encontra-se nos fatores: meio ambiente natural e ações humanas. Para garantir o equilíbrio sustentável, de imediato
116
o equilíbrio entre seu uso sustentável e o desenvolvimento municipal; universalizar o uso adequado dos recursos naturais; assegurar a qualidade do meio ambiente natural e construído e dos ecossistemas existentes; valorizar o aproveitamento dos conhecimentos tradicionais de proteção ambiental.
os igarapés Santos e Santana devem passar por revitalização. Em seguida apresentar projetos inserindo os cidadãos na prática de aproveitamento dos recursos naturais como componente do desenvolvimento urbano, princípio do desenvolvimento sustentável. A pesquisa de campo aponta que a proteção e conservação do patrimônio ambiental estão distantes da realidade urbana, já que a Lagoa Santa Isabel em menos de uma década de extensiva ocupação desordenada desapareceu do espaço urbano de Tucuruí, dando lugar para precárias moradias sem qualquer infraestrutura.
Infraestrutura e dos Serviços Públicos
Objetiva assegurar o abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, limpeza urbana e coleta do lixo, energia elétrica e iluminação pública, transporte coletivo, comunicações, inclusive com amplo acesso à Internet, e segurança pública a toda população.
Água canalizada e esgotamento sanitário são apontados na coleta de dados da pesquisa, como necessidade essencial dos moradores de Tucuruí. Apenas analisando esses dois saneamentos básicos, percebe-se que falta muito investimento público para suprir tanta carência. Há possibilidade de aplicação destes instrumentos, desde que seja prioridade das políticas pública municipal. Ao longo de décadas água e esgoto não são prioridades das políticas públicas municipais, talvez por serem obras que ninguém ver, pois estão escondidos no solo urbano.
Quadro 4 - Premissas e instrumentos da função social concedido no Plano Diretor de Tucuruí e possibilidade de sua aplicação. Fonte: Pesquisa de campo e dados do Plano Diretor de Tucuruí/2006.
Em todos os itens, acima, relacionados à função social da cidade deve existir a
participação popular, ou seja, gestão democrática, para que as políticas públicas de
enfrentamento da precariedade local possam acontecer.
O plano diretor de Tucuruí objetiva: a implementação do processo de planejamento e
gestão municipal e urbana; a modernização da estrutura administrativa; a participação popular
no processo decisório; a articulação intermunicipal e a integração regional. Contudo, apesar
da inserção dos sujeitos sociais na elaboração do PDT, estes não possuem entendimento sobre
autonomia participativa, o que contribui para que as diretrizes deste instrumento de política
urbana continuem sem aplicabilidade. De acordo com a História, é através das organizações
dos movimentos sociais, cobrando ações concretas dos planejamentos, que os gestores
públicos agem para tornar prático o que os planos teorizam.
Entende-se que a forma de planejar, produzir, operar e governar uma cidade deve estar
submetida ao controle e participação social, com destaque prioritário à participação popular.
A Figura 8 serve para reafirmar que não basta existir plano diretor implantado no município.
É somente com a aplicabilidade deste, através da parceria da gestão pública e participação dos
117
segmentos sociais, que serão garantidos o direito à cidade e à cidadania, entendidos como
uma nova lógica que universaliza o acesso aos equipamentos e serviços urbanos.
VIAS PROPOSTAS
Ligação para o tráfego pesado Vias arteriais
Vias coletoras Vias coletoras anel viário
VIAS EXISTENTES Rodovias de acesso Vias Arteriais Vias Coletoras Vias coletoras ANEL VIÁRIO Vias locais
Figura 8 - Hierarquização e reestruturação do sistema viário de Tucuruí. Fonte: Plano Diretor/2006
Teoricamente, a Figura (8) simboliza a projeção futurística do modelo adequado de
sistema viário para resolver os problemas ligados ao tráfego urbano. Entretanto, para a
maioria das famílias que residem distantes do bairro central da cidade de Tucuruí, segregadas
pela falta de transportes coletivos em suas comunidades, dificuldades de acessibilidade aos
demais espaços urbanos; a concretização da reestruturação do sistema viário dessa urbe
apresenta-se distante da realidade de muitas comunidades.
118
7 PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ E A SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
URBANA
Quando se analisou o PDT, percebeu-se que existe uma preocupação com as áreas
consideradas de riscos, tanto para o meio ambiente quanto para a vida humana. As Zonas
Especiais de Interesse Social (ZEIS) são estabelecidas como áreas a serem ocupadas por
habitação de interesse social, habitação de mercado popular, bem como para abrigar espaços
de lazer comunitário, implantação de equipamentos públicos.
A pesquisa aproxima-se dos termos apresentados por Silva (2008), de que o
zoneamento urbano é um importante instrumento para garantir a utilização adequada do solo
urbano, além de criar barreiras impeditivas de especulação imobiliária, degradação ambiental
e subutilização ou não-utilização da propriedade urbana.
ZEIS 1 – Zonas Especiais de Interesse Social prioritariamente destinados a oferta de habitação
de interesse social. ZEIS 2 - Zonas Especiais de Interesse Social prioritariamente destinadas a qualificação urbana
e habitacional.
119
ZEIS 3 - Zonas Especiais de Interesse Social para destinação de reserva de área para habitação de interesse social.
ZEER – Zona de estudos especiais em áraes de risco ZEEH – Zona de estudos especiais de interesse histórico em áreas de risco
AR – Áreas de Risco Figura 9 - Área para projetos e zonas especiais de interesse social. Fonte: Plano Diretor de Tucuruí/2006.
De acordo com o PDT as áreas destinadas as ZEIS foram determinadas por possuírem
as seguintes características:
Falta de infraestrutura de saneamento;
Ausência de urbanização;
Carência de equipamentos públicos;
Dificuldades de acesso ao transporte público;
Ausência de regularização fundiária.
As zonas especiais de interesse social, em consonância com o plano diretor são
divididas em três categorias, que são: ZEIS I, ZEIS II e ZEIS III. Integram ainda os Estudos
espaciais em áreas de risco, Zona de estudos espaciais e interesse histórico e Áreas de risco.
ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL
PRODUÇÃO DO ESPAÇO DE ACORDO COM O PLANO DIRETOR DE TUCURUÍ
DIRETRIZES ESTABELECIDAS PARA ESSAS ÁREAS NO PLANO DIRETOR.
PESQUISA DE CAMPO NESTAS ÁREAS
ZEIS I
Zonas com relativa ocupação de baixa renda e habitações de características subnormal, com delimitação de terrenos precários e elevado índice de terrenos desocupados ou subutilizados, ausência de regularização fundiária e de equipamentos e serviços públicos, além da falta de áreas de lazer comunitárias. Integram esses espaços os bairros de Palmares, Novo Horizonte, Liberdade e o loteamento da Nova Matinha.
As ZEIS I, são destinadas à qualificação urbana pela implantação de infraestrutura de saneamento e urbanização, regularização fundiária dos lotes já ocupados e dos lotes vazios, destinação de lotes vazios prioritariamente para abrigar programas de Habitação de Interesse Social, para população de baixa renda. E para abrigar habitação de mercado popular.
De acordo com a pesquisa de campo, os bairros que integram esses espaços urbanos encontram-se segregados pela total falta de urbanização. Como não existe aplicabilidade das diretrizes propostas no PDT, as comunidades de Novo Horizonte, Liberdade e Palmares continuam em processo de ocupações desordenadas, sem regularização fundiária dos lotes ocupados, ou mesmo sem infraestrutura de saneamento. A situação de Palmares é mais agravante por ser área em litígio. O assentamento da Nova
120
Matinha já foi tratado no capítulo anterior.
ZEIS II
Zonas com elevada ocupação por população de baixa renda e habitação de característica subnormal, ausência de regularização fundiária e de equipamentos e serviços públicos e de áreas de lazer comunitárias, além de apresentarem edificações em áreas de solo hidromórfico e sobre cursos d’água, impróprias à ocupação. Integram esta Zona os bairros Bom Jesus e Beira Rio.
As ZEIS II são destinadas à qualificação urbana pela implantação da infraestrutura de saneamento de urbanização. Destinação de lotes vazios prioritariamente para abrigar programas de Habitação de Interesse Social, programas de remanejamento de famílias que habitam locais impróprios, pelas condições de topografia ou proximidade de cursos d’água.
O estudo aponta que não existe muita diferença entre as ZEIS I e II, ambas estão sem infraestrutura, ou seja, sem urbanização. Desde a implantação do PDT que os bairros Bom Jesus e Beira Rio deveriam abrigar programas de remanejamento de famílias que habitam locais impróprios, entretanto, através da observação de campo constatou-se que as ocupações desordenadas continuam acontecendo no Bairro Beira Rio sem qualquer programa de assentamentos com urbanização.
ZEIS III
Zonas que possuem certa infraestrutura urbana que devem ser destinadas à reserva de áreas para oferta de habitação de interesse social, com o intuito de promover uma distribuição socioespacial igualitária. Integra esta zona o Bairro Santa Mônica.
Quando questionado sobre as possíveis soluções que os moradores do bairro Santa Mônica encontram para resolver problemas de moradia, o líder comunitário, respondeu: “estão buscando uma saída distante daqui, já que está faltando espaço no bairro”. E ainda: “a qualidade da água é péssima, ficamos até cinco horas sem água, o esgoto é ruim”. Portanto, como no PDT, este espaço urbano é apontado com infraestrutura e destinado à habitação de interesse social. Como resolver problemas de outros espaços da cidade se os próprios moradores do bairro Santa Mônica possuem deficit habitacionais e de urbanização?
ZEER- ZONA DE ESTUDOS ESPECIAIS EM ÁREA DE RISCO
Área destinada a estudo, projeto e implementação de solução para evitar o impacto das cheias do rio Tocantins dobre as comunidades que ali habitam, bem como para ordenar a ocupação urbana de modo a garantir a segurança e infraestrutura. Integra esta zona o
- Avaliação da ocupação existente através de estudo de risco para permanência de áreas residenciais nos locais atingidos por enchentes; e - Análise do comportamento das águas do rio Tocantins para avaliar a periodicidade e
A pesquisa de campo indica que inexiste aplicabilidade de qualquer projeto para evitar que as cheias do rio e dos igarapés destruam as moradias das comunidades próximas
121
bairro Matinha e Beira Rio. intensidade das cheias. destes. Segundo líderes desses bairros a maioria dos moradores são pescadores, ou sobrevivem da pesca, portanto, necessitam morar próximo da orla como forma de sobrevivência. Através do trabalho de observação percebeu-se que muitas casas são palafitas alocadas sobre os igarapés, aguardando que as diretrizes do PDT sobre as avaliações das ocupações, tornem-se práticas.
Quadro 5 - Zonas especiais de interesse social Fonte: Autora. baseada no Plano Diretor de Tucuruí,2006.
No tocante às áreas de risco, segundo o PDT, são áreas que se caracterizam pela
ocupação de caráter subnormal em preservação permanente, alagadiça ou sob risco de
enchentes ou inundações, com ausência de infraestrutura. Situa-se entre os bairros Santa
Isabel e Jardim Alvorada. As diretrizes para essas áreas compreendem estudo para remoção
da ocupação subnormal, e projeto de recuperação ambiental.
De acordo com os dados da pesquisa, as enchentes constantes são as que mais
preocupam os moradores desses locais. A drenagem precária acarreta transtornos às famílias.
Afirma um líder comunitário que: “quando chove forte, aqui onde era a lagoa fica tudo
alagado e as pessoas ficam ilhadas dentro de casa, esperando ajuda”.
Atinente ao assunto, a Secretaria de Obras e Urbanismo de Tucuruí informa que:
“como esse local era uma lagoa que foi ocupada por várias famílias que aterraram com
resíduos de serrarias, as obras são constantes para melhorar a infraestrutura”.
Durante a pesquisa de campo, a ocupação na lagoa Santa Isabel despertou interesse.
Inicialmente, por ser uma ocupação dentro do bairro Santa Isabel que apresenta melhor
infraestrutura e serviços públicos. Depois, pelo descaso dos gestores municipal em preservar o
patrimônio ambiental tão primordial para a qualidade de vida urbana e ainda, pela segregação
socioespacial imposta aos moradores desta ocupação.
No PDT, a delimitação das Zonas especiais de interesse social ainda não deixou de ser
apenas teoria, além disso, o zoneamento urbano está distante do que Souza. (2008) considera
importante nesse instrumento urbano, que é garantir a utilização adequada do solo urbano,
122
além de criar barreiras impeditivas de especulação imobiliária, degradação ambiental e
subutilização ou não-utilização da propriedade urbana.
Dentro dessa discussão cabe entender em que sentido a cidade cumpre a sua função
social. A pesquisa de campo indica que em Tucuruí, as ZEIS não estão cumprindo sua função
social, pois os indicadores sociais relacionados à justiça social e qualidade de vida em Tucuruí
apresentam-se muito distantes da realidade dos habitantes dessas áreas.
As Zonas especiais são consideravelmente importantes. Contudo, as comunidades que
vivem em espaços de segregação socioespacial necessitam de soluções emergenciais e não de
atitudes clientelistas ou discussões sem a participação dos sujeitos sociais.
Nas áreas delimitadas como ZEIS 1, por exemplo, ainda não existem serviços de água
canalizada para todos os domicílios e os existentes encontram-se em péssima qualidade e
precariedade no fornecimento. O esgotamento sanitário é um dos graves problemas de toda a
cidade de Tucuruí, existem poucas tubulações em algumas áreas que ainda deságuam nos
igarapés Santos e Santana. Os demais espaços urbanos utilizam as fossas sépticas e nas
ocupações desordenadas as alternativas são fossas improvisadas próximos das casas, o que
configura segregação socioespacial nessas áreas.
A coleta de lixo nas áreas ZEIS 1, são quase inexpressivas, assim como a
acessibilidade de transporte urbano. As escolas estão localizadas distantes das ocupações
desordenadas, tornando o acesso dificultoso, principalmente, para os moradores da ocupação
Palmares. Os postos de saúde nessas áreas são inoperantes ou inexistentes. O acesso justo das
pessoas aos serviços e bens ofertados em sociedade, garantido pela Constituição Federal/88 e
presente no Estatuto da Cidade, no Art. 2º, ainda não proporcionou segurança e o bem-estar
aos cidadãos segregados no espaço urbano de Tucuruí. Um líder comunitário da ZEIS I, em
relação à infraestrutura e saneamento, esclarece que:
Não temos energia, água encanada, falta de saneamento básico, falta esgoto. A água é precária na qualidade e no acesso já que chega a partir das 22:00 e vai embora pela manhã. Os investimentos do governo municipal para a comunidade deveriam ser no posto de saúde, linha de ônibus, boxe de polícia, praças, calçadas, escolas mais próxima da comunidade. Aqui só lembram na época da eleição, prometem e estigam as pessoas a invadir [...]. (informação verbal, entrevista concedida em 22 jan. 2010).
Colocado de uma forma mais direta, sustenta-se que os direitos urbanos,
universalmente declarados, nada valem se os mesmos não são passíveis de aplicação na
comunidade na qual o cidadão vive, e mais, se sua cidadania e suas peculiaridades não são
123
reconhecidas. Este estudo aproxima-se de Souza (2008), ao esclarecer, que a justiça social
constitui um dos elementos do desenvolvimento socioespacial, tendo como condição essencial
a valorização da autonomia individual e coletiva.
De acordo com os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Obras, Urbanismo e
Habitação de Tucuruí, os problemas que algumas dessas áreas estão em litígio, o que impede
os investimentos em infraestrutura. Ainda segundo essa Secretaria, há dificuldade nesses
espaços urbanos pelo próprio processo de acomodação das habitações, que não apresentam
reserva de área para implantação de equipamentos urbanos como: escolas, posto de saúde,
praças. A “Secretaria está construindo a urbanização desses espaços através de projetos de
regularização de quadras, ruas, inserindo o recuo das casas para as construções de
calçamento”.
Representante comunitário da ZEIS I confronta os argumentos dessa Secretaria,
dizendo: “se o que a prefeitura construiu tem problema que foi a Nova Matinha, as casas são
pequenas e já apresentam rachaduras e não comportam mais de cinco pessoas. Há famílias
com mais de treze pessoas, como eles vão morar? Imagine como nos vivemos?”.
No decorrer da pesquisa, verificou-se que nas ocupações existentes antes do PDT
como: Colorado, Serra Azul, Liberdade e a mais recente Bom Jesus (ocorrida após a
implantação do plano diretor), existe uma discrepância nas informações coletadas entre os
líderes dessas comunidades e os dados fornecidos pelo poder público municipal.
Quanto ao processo de urbanização enfatizado pela Secretaria de Obras, Urbanismo e
Habitação, não está ocorrendo nesses locais. Mas justificar que a falta de espaços urbanos
impossibilita a implantação de equipamentos públicos não procede, haja vista, que ocupações
como Liberdade, Serra Azul e Colorado ainda apresentam espaços livres que são utilizados
pela comunidade para prática de esporte e para novas ocupações.
Observe o que informa um líder comunitário dessas comunidades sobre o assunto:
“Vivemos em péssima condição, falta de asfalto, água precária. Falta escola, creches. Mesmo
assim as invasões continuam aqui em Serra Azul” (informação verbal).
Observa-se que o PDT tem pouca aplicabilidade por vários motivos, a saber: É
extremamente normativo, transformou-se em um instrumento essencialmente político,
enquanto que o crescimento das cidades se dá independente dele. Essas informações se
pautam em Villlaça (1995), quando argumenta que os planos diretores têm cumprido papel
ideológico mais do que instrumento de orientação da gestão e dos investimentos.
124
No tocante a esse assunto, um líder comunitário, explica:
De concreto o plano diretor não acontece de maneira nenhuma. E eu tenho pelejado pra ver a respeito disso e eu não vi até hoje, eu não tenho conhecimento de que alguma coisa tenha se aplicado, não só o plano diretor como também o tal de plano territorial participativo que a Governadora mandou fazer aqui uma reunião pro Plano Territorial Participativo e eu não vejo nada, não existe, não existe, olha bem se tiver fazendo alguma coisinha por aí, uma limpeza, alguma reformazinha, alguma coisa e ta colocando que isso é problema plano diretor, pode ser que eles estejam colocando isso como parte disso aí mas do plano diretor mesmo não tô vendo nada. (informação verbal, entrevista concedida no dia 20 jan. 2010).
Aborde-se que como a cobrança é insignificante, a aplicação e implementação dos
instrumentos são basicamente nulas. Uma vez que envolve o rompimento de práticas imediatista
e clientelistas, que ainda predominam no processo de tomada de decisão em setores da
administração pública. Entende-se que é através da governança participativa, com cobrança e
aplicabilidade das diretrizes estabelecidas para as ZEIS, que os investimentos públicos em
saneamento básico e serviços públicos ocorrerão nesses espaços urbanos. Sobre o assunto
Sant’Ana (2006) enfatiza que a participação dos moradores dos assentamentos delimitados
como ZEIS é de fundamental importância, pois em geral, a sustentabilidade da ação depende
de seu engajamento.
Buscou-se, com a pesquisa identificar quais as prioridades de investimentos públicos
que a cidade de Tucuruí necessita para reduzir as desigualdades sociais e melhorar a
qualidade de vida urbana. Os dados da pesquisa apontam que existe incoerência na
compreensão dos atores sociais em priorizar investimentos públicos. Quando indagados a
respeito da infraestrutura de seu bairro, as respostas indicam o esgotamento sanitário e
melhoramento na oferta da água encanada como necessidades essenciais.
Percebe-se que os representantes das comunidades apesar de conviverem com carência
de saneamento básico e serviços públicos, não possuem compreensão da importância de suas
participação para mudar a postura da gestão pública municipal.
De acordo com esses dados da pesquisa, o pleno direito à cidade, enquanto vida digna
e de qualidade, que deve nortear a política governamental de qualquer cidade, ainda é pouco
compreendido pelos líderes comunitários e gestor público. Os termos apresentados aqui se
aproximam de Souza (2008) ao argumentar que em determinadas situações os atores sociais
perderam a essência dos movimentos sociais da década de 1980, quando reivindicavam
mudanças coletivas e avaliam participação.
125
7.1 CIDADE DE TUCURUÍ: ESPAÇO DE SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
Como citado anteriormente, os espaços “planejados” confrontavam com o espaço pré-
existente (núcleo ribeirinho de Tucuruí) e com outros espaços de assentamentos precários que
se reproduziam na cidade, com estrutura urbanística precária, resultado das necessidades de
habitabilidade de muitos migrantes que chegaram em Tucuruí, estabelecendo uma dicotomia
socioespacial principalmente entre as vilas planejadas pela ELETRONORTE e a cidade
tornada “livre” e precária (ROCHA; GOMES 2002).
O poder público quando planeja e remodela o espaço urbano sem levar em
consideração o homem que estava naquele meio e as relações sociais existentes nesse
contexto, acaba reduzindo o habitar em apenas espaço. Em Tucuruí, as construções das
habitações populares aproximam-se do que Lefebvre (1999) propôs por moradia, sendo
também a forma que o homem estabelece de se comunicar com o global, com a cidade. Todo
esse espaço possui signos, linguagem própria, movimento dialético, conflituoso, por ser o
habitar a reflexão de toda a sociedade que está por trás.
O contexto de segregação, presente na cidade de Tucuruí aproxima-se de Santos
(2005), por elucidar que a cidade não estava e ainda hoje não está preparada para receber o
grande contingente de pessoas que se mudaram do campo. Cresce de forma descontínua e sem
aplicabilidade de planejamento, prejudicando seriamente a qualidade de vida, justamente por
não disponibilizar empregos, saúde, educação, habitação e lazer.
7.1.1 Infraestrutura
As coletas de dados junto aos líderes dos bairros indicam que a infraestrutura básica da
cidade necessita de esgotamento sanitário, água canalizada, energia, calçamento,
pavimentação das ruas, coleta de lixo, transporte. Para a maioria dos líderes comunitários a
infraestrutura existente em seus bairros são ineficientes, principalmente água canalizada e
esgotamento sanitário.
De acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Planejamento, a cidade
de Tucuruí apresenta os seguintes equipamentos para distribuição de água potável:
126
Adutoras: a) adutora de 600mm entre o Km 4 e a Nova Tucuruí; b) 250mm
entre esta e o Reservatório do GETAT; c) e 300mm entre a Nova Tucuruí e o Bairro Santa
Mônica.
Reservatórios: a) NOVA TUCURUÍ: reservatório de 200m3 apoiado,
construído em fibra de vidro; um reservatório metálico com 250m3 apoiado; e um
reservatório elevado de 150m3. Possui bombas de elevação. b) GETAT – reservatório elevado
de 150m3; operado por gravidade partindo da adutora de 600mm, com uma bifurcação entre o
Km 4 e a Nova Tucuruí. c) SANTA MÔNICA: um reservatório elevado de 200m3, metálico;
um reservatório semi-enterrado de 150m3; um reservatório semi-enterrado de 150m3.
No tocante à questão do abastecimento e qualidade da água canalizada de Tucuruí, um
líder comunitário informa que:
Sei que onde tem muita água é na vila, lá as pessoas vivem como rico, lá por centro eu acho que tem água boa, mas aqui, não tem não senhora, nosso pessoal anda muita até a praça da bica quando quer tomar água, tem vezes que nós não tem nem pra fazer comida, beber[..] pior é quando ela vem toda barrenta parece lama de igapó [...]. (informação verbal, entrevista concedida em 22 jan. 2010).
Destarte, de acordo com os representantes destes bairros, água potável diária e com
qualidade está distante da realidade das comunidades, que em suas residências recebem de
forma precária e somente algumas horas do dia, tendo que recorrer ao abastecimento público
denominado de “bicas”.
A situação é mais agravante nos locais onde inexistem os reservatórios e bombas de
elevação como Palmares, Bom Jesus e Beira Mar. Pode-se ainda dizer que água potável na
cidade de Tucuruí está distante de atender as necessidades básicas de homens e mulheres.
7.1.2 Assentamento precário na cidade
No bairro da GETAT houve loteamentos irregulares, pois existia agente responsável
pela subdivisão e pelo parcelamento do solo. A irregularidade diz respeito ao não
cumprimento integral da normativa de urbanização do local. A partir das ocupações houve a
clandestinidade do solo, sem qualquer iniciativa de licenciamento, ou seja, não há registro
127
oficial pelo poder público. Apresentando ainda carência de infraestrutura, um dos elementos
central que caracterizam loteamentos irregulares.
Palmares, na cidade de Tucuruí, é um típico exemplo de favelas. São assentamentos
caracterizados pela ocupação irregular do solo privado, apresentando uma tipologia bastante
irregular e com acentuados padrões inferiores aos mínimos exigidos no Estatuto da Cidade,
como garantia de sadia qualidade de vida para seus habitantes.
O conjunto habitacional Nova Matinha, construído pelo poder público municipal de
Tucuruí, pode ser caracterizado como conjunto irregular e degradado, ou mesmo, como
assentamento precário. Além da ausência de infraestrutura (água encanada, esgotamento
sanitário, coleta de lixo, pavimentação, drenagem, iluminação pública), a precariedade refere-
se também aos riscos de alagamento, dificuldade de acessibilidade e habitabilidade das
edificações, assim como, salubridade, segurança, densidade da unidade habitacional (número
de pessoas por cômodo, ou área adequada ao tamanho da família).
Além disso, neste conjunto habitacional não existe arborização, o que torna as
condições de ventilação e insolação inadequada para o ser humano. Ambientalmente, neste
local onde foram erguidas essas casas, um mangue desapareceu sem qualquer estudo prévio
de impacto ambiental. Assim sendo, a qualidade ambiental do assentamento, como densidade,
área verde por habitante, praças, arborização, não estão presentes nos planos urbanísticos do
bairro nova Matinha.
Esta realidade aproxima-se do estudo de Trindade Júnior (1998), quando explica que
os assentamentos para segmentos sociais de menor poder aquisitivo, em periferia distante,
representam um processo de dispersão habitacional que se apresenta desarticulado de uma
política de desconcentração das atividades e empregos urbanos, caracterizando assim novos
padrões de segregação socioespacial.
A Figura 10 evidencia como na atualidade as habitações precárias estão espalhados na
malha urbana de Tucuruí.
128
Áreas com predominância de habitação precária Áreas de uso predominantemente habitacional
Figura 10 - Habitação precária de Tucuruí. Fonte: Plano Diretor/2006.
Um dos grandes problemas encontrados na cidade de Tucuruí é a falta de moradias.
De acordo com os dados coletados, a solução encontrada por muitas pessoas é recorrer às
ocupações irregulares, invadindo terras. Os líderes comunitários afirmam que muitas pessoas
constroem suas moradias em lugares inadequados como margens de igarapés. E que muitas
famílias habitam uma mesma moradia.
Constatou-se, através do trabalho de observação de campo, que em locais como Terra
Prometida, Nova Conquista, Beira Rio, Liberdade, Palmares, as ocupações desordenadas
continuam acontecendo sem qualquer ordenamento territorial e infraestrutura. Exemplos da
continuidade de segregação socioespacial, mesmo sendo áreas de projetos e zonas espaciais,
tratadas no plano diretor. Observe as Fotografias 7 e 8.
129
Fotografia 7 - Ocupação desordenada do bairro Beira Rio. Fonte: Pesquisa de campo– dez. 2009.
Esses assentamentos precários corroboram com os estudos de Kowarick (1993);
Villaça (1999), por demonstrarem que segregação socioespacial representa a alta
concentração da população de menor poder aquisitivo em determinado espaço da cidade,
representando grave impacto sobre a estrutura urbana, sendo bastante expressivo devido a
desigual distribuição econômica e política entre as classes sociais.
A ocupação desordenada Palmares apresenta um acentuado acréscimo populacional,
com disputa violenta pelos lotes de terra. Segundo informações obtidas junto às Secretaria de
Planejamento e Secretaria de Obras, Urbanismo e Habitação de Tucuruí, o lugar teria sido
uma antiga fazenda, onde o proprietário possui título da terra, já tendo ingressado em juízo
solicitando a reintegração de posse. Este caso, em particular, chama atenção pelo fato de
existirem aproximadamente mil moradias, e as construções precárias continuam surgindo,
expondo o grave problema das ocupações irregulares: ausência de escolas, água, esgotamento
sanitário, segurança, posto de saúde.
130
Fotografia 8 - Ocupação desordenada de Palmares/ Tucuruí/Pa. Fonte: João Vicente – nov. 2009.
Essas precárias habitações e a ausência de infraestrutura urbana (energia precária) são
exemplos que retratam claramente como a segregação socioespacial se processa no solo
urbano de Tucuruí. Ressalta-se, entretanto, que o município, com base no Art. 182 (já citado)
é o principal ente federativo responsável em promover a política urbana, de modo a ordenar o
pleno desenvolvimento das funções socais da cidade, para garantir o bem-estar de seus
habitantes e de assegurar que a propriedade urbana cumpra sua função social, de acordo com
os princípios e instrumentos regulamentados no Estatuto da Cidade, eleitos e mapeados pelo
plano diretor, que é o instrumento básico da política urbana municipal (SANT’ANA, 2006).
É nesse sentido que se pode falar como Kowarick (1993), Corrêa (2000), da
articulação que esses moradores encontram para resolver o problema de moradia, a
autoconstrução, que além de ser desprovida de infraestrutura básica, também está situada em
espaços da cidade distantes dos locais de trabalho de seus moradores e apresentam
precariedade de habitabilidade.
Seja como for, é através do plano diretor que os municípios desenvolverão suas
competências de promover, no que couber, o adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano.
Todavia, registre-se, por oportuno, que as ocupações desordenadas estão sendo
sucessivamente agregadas ao tecido urbano de Tucuruí, sem qualquer saneamento básico e
acompanhados de equipamentos urbanos e serviço. E estão contribuindo para degradação do
meio ambiente natural. O assoreamento e vitalidade dos igarapés, assim como a erosão do
solo e degradação hídrica com o aterramento de antigos “olhos d’água” e lagoas. Os modelos
131
de habitabilidade acabaram sobrecarregando os já insuficientes serviços de adução de água
potável, de coleta e saneamento de esgoto e lixo.
De acordo com a pesquisa, na atualidade, o inchamento do núcleo urbano de Tucuruí e
a falta de aplicabilidade do planejamento, para solo urbano, representam alto custo social,
principalmente, no período do inverno amazônico que as águas do rio Tocantins transbordam.
A falta de limpeza dos igarapés contribui para estas situações de calamidade e muitas famílias
são obrigadas a procurar abrigos públicos
Enquanto o PDT não é implementado, muitos moradores da cidade são segregados nos
espaços que moram, convivem sem o direito à cidade legal. Destarte, a situação dos cidadãos
que residem em Bom Jesus ainda é mais agravante. Como está em processo de ocupação
desordenada não existe saneamento básico, acessibilidade de transporte e serviço público,
assim como coleta de lixo. Prevalecendo a degradação do ambiente natural e o aumento da
criminalidade.
7.2 OS IMPACTOS DAS OCUPAÇÕES DESORDENADAS NO MEIO AMBIENTE
O crescimento populacional da cidade de Tucuruí nas últimas décadas, assim como a
expansão do tecido urbano, deu-se em decorrência da implantação de projetos como a EFT e
principalmente a UHE/TUC. Assim sendo, os igarapés Santos e Santana, que antes seguiam
seus cursos normais, utilizados como balneários, fornecedores de peixes e moluscos para
famílias ribeirinhas, rapidamente perderam muito de sua vitalidade.
Imagens da década de 1950 (ver Fotografia 9) retratam a largura destes igarapés,
pontes e trilhos foram erguidos sobre eles na época da construção da ferrovia Tocantins.
Na atualidade, possuem redução de suas margens, pescados e qualidade da água.
Encontram-se com elevados níveis de poluição, decorrente da improvisação de esgotamento
sanitário que deságua nas suas águas, resíduos das serrarias, assim como construções de
moradias nas periferias ao longo de seu trajeto.
132
Fotografia 9 - Trilho da estrada de ferro Tocantins sobre o Igarapé Santos/ Tucuruí. Fonte: Pesquisa de campo.
Os igarapés Santos e Santana continuam na paisagem urbana, mas com simbolismos
diferentes, não mais representam a vitalidade de outrora e tão pouco fornecem alimentos para
as famílias. Poucas pessoas se arriscam a banhar-se nas suas turvas águas, assim como,
pequenas embarcações que trafegam apenas quando os igarapés Santos e Santana se
aproximam das margens do rio Tocantins, uma vez que à medida que suas águas adentram na
extensão do tecido urbano de Tucuruí torna-se impossível qualquer navegação.
A segregação socioespacial ainda pode ser verificada nas ocupações acentuadas de
precárias moradias nas margens dos igarapés Santos e Santana. A maioria são comunidades
desassistidas de políticas públicas de saneamentos básicos, serviços públicos, apresentam
baixos poder aquisitivo e sofrem com as cheias que invadem suas casas na época do período
chuvoso. A Fotografia 10 retrata um pouco dessa realidade.
Através da imagem pode-se observar como os assentamentos precários estão presentes
também nas habitações ao longo dos igarapés. Recodando Santos (2005), quando enfatiza que
o poder público mostra-se inoperante para resolver problemas de moradia e incentiva a
população de baixo grau de escolaridade e menor renda a construírem suas precárias
habitações em locais impróprios, como as margens de igarapés.
133
Fotografia 10 - Habitações precárias sobre nas margens do Igarapé Santana/Tucuruí. Fonte: Pesquisa de campo – jan. 2010.
A respeito dessas ocupações próximas dos Igarapés Santos e Santana, um dos lideres
comunitário esclarece:
As pessoas não tem onde morar, o aluguel é muito caro, o jeito agora é invadir o que ainda resta [...]. eu e minha gente não pode morar na rua, nós não somos cachorro. Trabalhamos na campanha do prefeito e ele disse que podia construir e ficar ai e depois vem aqui e falam outra coisa, que não pode aqui no igarapé[...]. (informação verbal, entrevista concedida em 22 jan. 2010).
Segundo informações coletadas na Secretaria de Meio Ambiente de Tucuruí, os
igarapés Santos e Santana, que cortam de um extremo a outro o território da cidade,
necessitam de revitalização imediata, para evitar que desapareçam da paisagem urbana e
deixem perdas irreversíveis para o meio ambiente.
Observa-se através da Figura 11, que os igarapés Santos e Santana estendem-se ao
longo do território urbano.
134
Figura 11 - Igarapés Santos e Santana, Tucuruí. Fonte: SEMMA, 2009.
De acordo com o PDT, os igarapés Santos e Santana são de grande relevância para a
cidade, além de representarem potencial paisagístico, servem como transporte fluvial para
pescadores, algumas famílias plantam nas suas margens açaizeiros, bananeiras e verduras para
abastecimento familiar.
Através da pesquisa de campo, observou-se que esses recursos hídricos estão se
tornando ambientes degradados por receberem dejetos de esgotos improvisados das
residências instaladas próximas às suas margens. A evolução da degradação certamente os
tornará extintos. A lagoa Santa Isabel exemplifica como nas últimas duas décadas a
degradação do meio ambiente urbano em Tucuruí é realidade. Segundo líder comunitário, até
a década de 1980 amenizava o intenso calor do seu entorno, entretanto, hoje, desapareceu do
espaço urbano de Tucuruí.
È certo que as ocupações no entorno da lagoa Santa Isabel não são as únicas
responsáveis pela extinção desta, soma-se a isso, principalmente, o descaso do poder público
municipal em ordenar as ocupações e preservar o meio ambiente natural.
Segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente, a educação ambiental está sendo
inserida nas escolas, assim como no ambiente das feiras de bairros, praças e periferias, através
135
de palestras, reuniões e informações educativas que possibilitem criar na população o hábito
de não poluir, e sim o de preservar.
No entanto, não são apenas as construções de casas populares que ameaçam os
igarapés. O poder econômico das grandes lojas, como o shopping center de Tucuruí foi
construído próximo a margem do igarapé Santana, despejando nele seus entulhos.
No mesmo período da construção do plano diretor, o supermercado Carajás construiu
o seu estacionamento sobre o igarapé Santana. Segundo informações da Secretaria de Obras,
Urbanismo, os responsáveis pelo supermercado seguiram com as construções sem sofrer
nenhum tipo de advertência. “Na atualidade entregam algumas cestas básicas como
compensação pela barragem construída no córrego do igarapé” (informação verbal). Observe
Fotografia 11.
Fotografia 11- Shopping Center de Tucuruí e o Igarapé Santana. Fonte: Pesquisa de campo – nov. 2009.
Não são apenas os moradores das ocupações precárias localizadas próximas dos
igarapés Santos e Santana que degradam o meio ambiente natural em Tucuruí. As ocupações
da classe com maior poder econômico continuam acontecendo além das construções nas
margens. O aterramento dos igarapés, como aconteceu com o Santana, possibilitou que as
edificações para ampliações do supermercado Carajás continuassem. Quanto o que vai
acontecer com o igarapé Santana, as gerações futuras saberão.
Quando o Secretario de Meio Ambiente de Tucuruí foi questionado sobre o assunto,
explicou:
136
È importante dizer que nós trabalhamos. Existe um setor de mobilização e articulação, mobilização no setor público que é de execução que autoriza tomada de atitudes de tudo o que ocorre dentro da cidade e dentro dessa articulação sempre houve o questionamento da não construção dentro dos entorno desses igarapés, não só do supermercado, mas qualquer habitação. Ocorre que, numa articulação política, da gestão anterior, houve um acordo entre o poder público e proprietários do supermercado e não houve por parte da sociedade, apesar de ter ocorrido dentro do conselho discussões contrárias àquilo lá. A carta da segunda conferência ordinária retrata isso e faz um apelo para que providências sejam tomadas quanto esse tipo de comportamento, só que na questão propriamente dita, do supermercado, o acordo é um desvio do trecho do igarapé pela sinuosidade que ele fazia e os argumentos que convenceram o gestor anterior de fazer a propriedade, se apropriar do espaço onde passa o igarapé e construir o desvio seria melhor pra questão de reduzir a quantidade de alagamento que tem quando tem as enchentes. (informação verbal, entrevista cedida em 24 nov. 2009).
A pesquisa de campo constatou que o igarapé Santos serve de depósitos fecais das
casas próximas de sua margem, assim como, despejos de resíduos provenientes das
tubulações. A imagem seguinte é da comunidade Tozetti que se localiza no bairro Santa Isabel,
que é um dos bairros que melhor apresenta infraestrutura urbana.
Observe que as águas deste igarapé perderam sua cor natural e vitalidade,
transformou-se em esgoto aberto sem qualquer inspeção sanitária dos órgãos competentes,
que não aplica o que determina as diretrizes do plano diretor municipal para o meio ambiente.
Fotografia 12 - Poluição e barreira dentro do Igarapé Santos Foto: João Vicente – dez. 2009.
137
Manter preservado e com vida igarapés e córregos naturais que recortam cidades é um
desafio muito grande para os citadinos e poder público. Nas cidades brasileiras a omissão do
poder público continua sendo a maior responsável pela degradação ambiental, uma vez que,
as ocupações irregulares continuam existindo em áreas de preservação ambiental ou em locais
insalubres, em virtude, da não aplicação dos planos urbanísticos.
Portanto, não é possível falar de segregação socioespacial sem mencionar o meio
ambiente. Na cidade de Tucuruí, evidencia-se que o modelo de desenvolvimento econômico
com a implantação da UH acarretou graves problemas para o meio ambiente urbano. Atrativa
de expressiva mão-de-obra desassistida pela política habitacional da company-towns, criada
pela ELETRONORTE, acabaram migrando para as margens dos igarapés Santos e Santana,
orla do rio Tocantins, lagoa Santa Isabel, para erguer sua precárias moradias. Hoje,
segregados em áreas que sofrem com as elevações do nível das águas durante período do
inverno amazônico.
A sadia qualidade de vida na cidade depende da preservação do meio ambiente natural.
Cada vez mais homens e mulheres necessitam de espaço de lazer que incluam bosques,
museus naturais e contato direto com a natureza.
138
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da Constituição Federal (BRASIL, 2008) e, sobretudo com o advento do
Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), que a participação dos movimentos sociais no
planejamento de desenvolvimento local executada pelos gestores públicos, tornam-se
fundamentais para a concepção de políticas públicas que busquem diminuir as desigualdades
socioespaciais e para a construção do desenvolvimento local sustentável, visando à melhoria
das condições de vida das populações socialmente menos favorecidas.
Na busca para entender como a segregação socioespacial apresenta-se em uma cidade
que já aprovou o plano diretor Municipal é que surgiu esta pesquisa a respeito da segregação
socioespacial.
O foco principal desta pesquisa concentrou-se em estudar como as diretrizes existentes
no plano diretor do município de Tucuruí interagem com as segregações espaciais e sociais
presentes no espaço urbano e ainda como se processou a participação dos sujeitos sociais
quando da elaboração do plano diretor e, na atualidade, como esses segmentos sociais
interagem para a construção de uma governança participativa.
A pesquisa mostrou que apesar da implantação do plano diretor no município de
Tucuruí, a segregação socioespacial na espacialidade urbana ainda se apresenta pela
localização das moradias, acessibilidade precária, ausência de infraestrutura básica,
equipamentos e serviços públicos. Estes são os principais elementos que indicam as alterações
das formas espaciais no interior do espaço urbano.
O direito à cidade, no sentido amplo de suas formas e funções, que vão da moradia ao
seu entorno, referente à infraestrutura, ao transporte, ao lazer, aos serviços públicos e ao
trabalho disposto no inciso I das diretrizes gerais do Estatuto da Cidade, denota claramente a
necessidade de aplicabilidade de planejamento e de uma governança participativa em Tucuruí,
voltados ao desenvolvimento socioespacial urbano.
Em Tucuruí, o direito urbano continua restrito a uns poucos segmentos sociais e dessa
maneira a desigualdade social só tende a se aprofundar ainda mais.
O estudo demonstrou que a segregação socioespacial, ao produzir efeitos de
isolamento social, vem se tornando uma dimensão importante da desigualdade, gerando
processos de exclusão social. E que o espaço é produto e produtor das relações sociais. Assim
sendo, o espaço não pode ser analisado pelo aspecto físico, ele precisa antes de tudo, ser visto
pelo social.
139
Em Tucuruí, a segregação é evidente nas desigualdades de tratamento por parte da
administração local. Existem, por exemplo, bairros como Santa Isabel, Pioneira, Nova
Tucuruí, cujo lixo é recolhido diariamente; porém, em outros, como Liberdade, Nova
Conquista, Terra Prometida a coleta ocorre apenas uma vez por semana; e há ainda aqueles
como Beira Rio, Bom Jesus, onde o lixo ao invés de recolhido, é despejado.
A imensa periferia apresenta grave problema com a falta de água encanada, as
residências recebem parcialmente água das torneiras, assim como luz e esgotamento sanitário.
Tudo isso evidencia a política discriminatória por parte do poder público municipal, um dos
fortes elementos produtores da segregação socioespacial.
Cada município tem uma especialização funcional que lhe é própria e reflete as opções
de localização da população, das atividades e serviços ali desenvolvidos e que, portanto,
requer políticas públicas peculiares e diferentes, exigências fundamentais de ordenação da
cidade. Independente dos caminhos a serem percorridos pelo processo de planejamento torna-
se cada vez mais evidente que este deva ser um processo que envolva a participação da
população.
Autores argumentaram que um dos aspectos importante para a promoção do
desenvolvimento urbano trazido pelo Estatuto da Cidade é a possibilidade de uma ampla
participação dos atores sociais no planejamento e na gestão urbana. Entretanto, em Tucuruí
existe o risco de manipulação da vontade coletiva e a participação nas decisões ainda é
mascarada. “[...] com o amadurecimento crítico-político da coletividade e sobre a base de uma
postura eticamente consciente por parte dos intelectuais/cientístas é possível minimizar o risco
de manipulação da vontade coletiva, risco que jamais será eliminado” (SOUZA, 2008, p. 81).
Contudo, a não participação dos sujeitos sociais nas decisões sobre aplicação dos
recursos públicos não é característica apenas de Tucuruí. Silva (2008) ao analisar os dilemas
do planejamento e da gestão municipal na Amazônia ribeirinha, enfatiza que no caso da
maioria das pequenas cidades da Amazônia, assim como das demais cidades brasileiras, a
participação popular quase não acontece, pois o planejamento ainda está fortemente
relacionado às necessidades imediatas e individuais de políticos locais, comprometendo a
possibilidade de autonomia coletiva.
Um dos elementos que contribuiria, sem dúvida, para o estabelecimento da gestão
participativa e que possibilitaria amenizar a segregação socioespacial nos termos apresentados
por Souza (2008), isto é, com justiça social e qualidade de vida, seria através da organização
político-administrativa capaz de viabilizar a consolidação de uma participação pública
democrática, na qual os atores sociais tivessem a possibilidade de participar ativamente do
140
planejamento e gestão municipal, exigindo a aplicabilidade dos planos municipais,
principalmente das diretrizes estabelecidas no plano diretor municipal.
Entretanto, o estudo conseguiu apontar que em Tucuruí não é falta de planejamento
urbano que contribui para a permanência da segregação socioespacial, mas de ações concretas
por parte dos gestores municipais para aplicá-los. Planos sempre existiram, o que falta é
aplicabilidade. Como informa Villaça (1995), não existe falta de planejamento como
justificativa dos problemas urbanos, o problema está no tipo de planejamento e na ineficiência
dos gestores públicos.
Considerando a realidade urbana de Tucuruí, o plano diretor não está cumprindo sua
função social. Para que a aplicabilidade das diretrizes existentes no PDT ocorra, é preciso
ampliar as possibilidades participativas, coletivas ou individuais de homens e mulheres,
garantir a inserção de diferentes atores, organizações, lutas e sujeitos em propostas
participativas na gestão municipal de Tucuruí, exigindo do poder público combate à pobreza,
lutando por moradia digna, sistemas decentes de transporte público, direito de abastecimento
d´água e esgotamento sanitário para todos ao bairros, que as ações interligadas para os
espaços comunitários possibilitem condições adequadas para o funcionamento de
equipamentos e serviços públicos.
A ausência de participação da sociedade civil nas decisões dos investimentos públicos
se reflete no descaso dos governos em amenizar os problemas imediatos das famílias que
residem em espaços urbanos com falta de água, esgotamento sanitário, energia, escolas,
segurança, entre outras necessidades essenciais para o viver com dignidade.
Todavia, não se pretende afirmar que existe total abandono por parte do poder
municipal e do próprio Estado para com os moradores dessas comunidades. Pelo contrário, a
permanência do status quo que mantém o clientelismo, assistencialismo e os espaços
eleitoreiros.
Os resultados da pesquisa realizada com os líderes comunitários indicaram que a
cidade de Tucuruí sofreu poucos investimentos na infraestrutura, sobretudo esgotamento
sanitário e água canalizada, tanto no período de funcionamento da EFT, como quando da
construção da UHE/TUC, o que vem acarretando graves problemas para o solo urbano nos
dias atuais. E que muitos programas, mapas, projetos estão distantes da realidade vivida pelos
moradores de menor poder aquisitivo, à medida que ao longo do tempo, as ações voltaram-se
para a aplicação de instrumentos de planejamento que desconsideravam a organicidade do
espaço vivido, a multiplicidade de conteúdos, formas, significados e vivências cotidianas do
espaço urbano.
141
A partir da descentralização política da década de 1980 no Brasil, os municípios
passam a ser a base do desenvolvimento regional. Entretanto, para que estes se tornem
protagonistas deste evento, é necessário que haja fortalecimento de suas instituições públicas,
da organização da sociedade civil por meio de um profundo processo de politização, o que
dependerá do nível de informações e educação a que tem acesso os atores sociais.
Partindo desses pressupostos, a pesquisa indicou que, em Tucuruí, o Conselho Gestor
do plano diretor ainda não foi efetivado, a ausência de expressividade e de representatividade
deste Conselho se constitui um dos entraves para o bom andamento da gestão participativa.
É através da participação ativa dos atores sociais, na gestão pública, que pode ser
garantida sua legitimidade, assim como assegurar as condições necessárias para sua
efetivação e implementação. Aliás, esta última é o grande problema dos planos diretores, são
abandonados na gaveta após serem aprovados, ou como acontece na cidade de Tucuruí
esquecido em um depósito sem ventilação, pertencente à prefeitura municipal. O baixo grau
de aplicabilidade dos planos diretores reflete seu baixo grau de legitimidade.
Teoricamente, o plano diretor objetiva construir para os cidadão residentes nos
espaços urbanos, a sadia qualidade de vida, evitando a formação de assentamentos irregulares
e informais. Portanto, investimentos de políticas públicas em habitação, saneamento básico,
transporte urbano, uso e ocupação do solo urbano, visam, sobretudo, a preservação da
qualidade ambiental dos espaços das cidades e melhorias de vida para os citadinos.
Desse modo, espera-se que a realização deste trabalho venha a contribuir na
elaboração de ações eficientes por parte do gestor público, oferecendo-lhe elementos
necessários para a implementação dos instrumentos da reforma urbana concebidos no Estatuto
da Cidade, adequando-o às particularidades socioespaciais que possam existir no Município
de Tucuruí, criando as condições necessárias, através do planejamento e da gestão com
participação popular, para que o plano diretor cumpra sua função social.
Mesmo constituindo assim um desafio e necessidade para a gestão pública urbana, a
instalação de uma efetiva democracia participativa nos marcos de uma sociedade estruturada
por assimetrias estruturais de poder, os conteúdos e significados sociais devem ter vez e lugar
no processo político de decisão e intervenção urbana, através da ampla radicalização da
participação pública.
A legitimidade das discussões sobre a política urbana virá através dos debates e das
deliberações, seja em audiências, conferências ou consultas públicas, em órgãos colegiados de
política urbana, ou qualquer outro meio capaz de proporcionar à sociedade civil canais de
comunicação para uma gestão da cidade realmente inclusiva.
142
Para que a gestão urbana da cidade seja de fato democrática, os setores implicados
precisam ser organizados, fortes e representativos, para que possam participar das decisões e
avaliações, de modo a interferirem na gestão da política e da elaboração normativa e para que
as demandas dos vários setores da sociedade sejam atendidas e seus interesses representados.
Contudo, o mais importante avanço na questão urbana brasileira deve cumprir com
seus objetivos, o de realmente trazer para a convivência urbana a justiça social e a
preservação do meio ambiente, isso só acontecerá se as forças sociais que a constituíram a
tornem realidade e que façam valer as importantes conquistas. Sem esquecer a função
relevante da cidade, como ambiente de articulações políticas, de tomadas de decisões, palco
de lutas, reivindicações por parte dos atores sociais que compõem diferentes espaços da urbe,
assim como de decisões socioeconômicas e política.
Assim sendo, espera-se, que o plano diretor de Tucuruí reflita não um plano de
governo, uma vez que o seu horizonte de tempo vai além da duração de um mandato
governamental, mas um plano da cidade, abordando os seus problemas de forma abrangente,
considerando a cidade informal, os processos expansivos espontâneos, as irregularidades
urbanísticas e seus reflexos econômicos e sociais.
Somente com mudança de postura por parte do gestor municipal de Tucuruí,
relacionado à necessidade de considerar que a participação popular nos fóruns de discussões
são importantes para efetivação de uma gestão compartilhada e democrática é, que os novos
arranjos a serem construídos no PDT poderá atender de fato as necessidades das comunidades
segregadas.
Para tanto, existe necessidade de maior esclarecimento, envolvimento dos atores
sociais nos processos decisórios e assim criar as bases da governança democrática.
143
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150
APÊNDICES
APÊNDICE 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Reestruturação Socioespacial a partir da Implantação dos Grandes Projetos na Amazônia: o caso da Cidade de Tucuruí-PA.
Você está sendo convidado a participar do projeto de pesquisa acima citado. O
documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos
fazendo Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a
qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo a você.
Eu,__________________________________________________________, residente
e domiciliado na _________________________________________________, portador da
Cédula de identidade, RG___________________e CPF _______________________, nascido
(a) e, _____/_____/______, a baixo assinado (a), concordo de ‘livre e espontânea vontade em
participar como voluntário do estudo. Reestruturação Sócio-Espacial a partir da
Implantação dos Grandes Projetos na Amazônia: o caso da Cidade de Tucuruí-PA
Estou ciente que:
I) O presente projeto aborda um aprofundamento sobre a forma como se deu o processo de
reestruturação sócio-espacial na cidade de Tucuruí, a partir da implantação e consolidação da
UHE, sob a luz do Plano Diretor 2006. O objetivo geral da pesquisa é compreender o
processo de transformação e consolidação sócio-espacial da estrutura urbana de Tucuruí, a
partir da implantação da UHE e com a elaboração e implantação do Plano Diretor (2006), e
como objetivos específicos: descrever o processo de segregação socioespacial introduzida na
cidade de Tucuruí, a partir da construção da UHE; identificar de que forma e através de quem
se processa a segregação socioespacial em Tucuruí; identificar de que maneira a segregação
social e espacial foi percebida pelo Plano Diretor e o que este propõe para resolver tais
problemas; analisar como o Plano Diretor vem contribuindo para o diálogo entre as Vilas
planejadas da Eletronorte e a antiga cidade de Tucuruí, como essa interação tem se dado na
nova configuração do espaço.
151
A opção metodológica consiste na utilização de um caminho de natureza quali-quanti,
de caráter analítico. Para se chegar à consecução do trabalho proposto, utilizar-se-á a pesquisa
de campo, a pesquisa cartográfica, a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica. Os
primeiros momentos da pesquisa de campo concentram-se na observação. Além disso, serão
utilizados entrevistas e formulários.
II) Os dados serão coletados entre os líderes das comunidades da cidade de Tucuruí,
através de formulário;
III) Não sou obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação;
IV) A participação neste projeto não tem objetivo econômico, bem como não me
causará nenhum gasto com relação ao estudo;
V) Tenho liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no
momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;
VI) A minha participação neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura dados
referentes ao tema, direcionado as ações voltadas para a compreensão da
reestruturação sócio-espacial urbana de Tucuruí e não me causará nenhum risco;
VII) Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo
minha participação voluntária;
VIII) O risco existente para os participantes da pesquisa é a possibilidade da perda de
sigilo da fonte de informação, mas não da identidade do sujeito. Como
pesquisadores garantimos o sigilo da identificação do sujeito;
IX) Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas, desde
que meus dados pessoais não sejam mencionados;
X) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados parciais
e finais desta pesquisa.
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
Belém - PA, ____, de ___________________de 200_____.
Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais
esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.
152
( ) nome
..............................................................................................................................................
Testemunha 1 : _______________________________________________
Nome / RG / Telefone
Testemunha 2 : ___________________________________________________
Nome / RG / Telefone Responsável pelo Projeto: ANA MARIA VASCONCELLOS PESQUISADORA RESPONSÁVEL Telefone para contato: 40093069. Endereço: Avenida Alcindo Cacela, 287. CEP 66060-902- Bairro de Umarizal. Núcleo Sócio-Econômia
153
APÊNDICE 2
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE ENTREVISTA
Eu _______________________________________, CPF_____________________,
RG_________________, cargo/função ____________________________________. Estou
ciente da necessidade do uso desta entrevista para o desenvolvimento da pesquisa de mestrado
em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, da Universidade da Amazônia - UNAMA.
Autorizo, através do presente termo, os pesquisadores da pesquisa intitulada “Reestruturação
Sócio-Espacial a partir da Implantação dos Grandes Projetos na Amazônia: o caso da cidade
de Tucuruí-Pa” a colher minha entrevista sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das
partes.
Ao mesmo tempo, libero a utilização desta entrevista, para fins de estudos científicos e de
publicação em (livros, artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadores da
pesquisa, acima especificados.
Tucuruí - PA, ________ de ________________________ de 2009.
Autoridade participante da pesquisa
___________________________________________________________________
ANA MARIA VASCONCELLOS
Pesquisadora responsável pelo projeto
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APÊNDICE 3
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO
Reestruturação sócio-espacial a partir da implantação dos grandes projetos na Amazônia: o caso da cidade de Tucuruí
FORMULÁRIO
Data de preenchimento do questionário: ____/_____/2009
1-Qual a associação de bairro que você representa?
2- Qual a localizada de sua comunidade?
___________________________________________________________________________
3- Como se apresenta a infraestrutura de sua comunidade:
( ) Excelente
( ) Boa
( ) Ruim
4- Se a resposta for ruim, informe o que está faltando para melhorar a infraestrutura.
__________________________________________________________________
5- Quais os motivos que ocasionaram a criação da sua comunidade?
___________________________________________________________________________
6- O que falta no investimento do governo municipal para melhoramento da cidade de Tucuruí?
( ) Praças
( ) Calçadas ( ) Pavimentação dos bairros mais distantes ( ) Escolas próximas das comunidades
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( ) Outros Quais?____________________________________________________________________ 7- As melhorias na infraestrutura que a cidade de Tucuruí recebeu, durante o período de construção da UHE, foram: ( ) Excelente ( )Boa ( ) Regular ( ) Não existiram 8- Se houve melhorias, quais foram: __________________________________________________________________________ 9- Quais as funções que a maioria dos membros da sua comunidade ocuparam na construção da UHE? _________________________________________________________________________ 10- O que representou para sua comunidade a construção das Vilas (Temporárias e Permanentes) pela Eletronorte? ___________________________________________________________________________ 11- O que existe nas Vilas da Eletronorte que não existe na sua comunidade? _________________________________________________________________________ 12- Quanto ao meio ambiente natural da cidade ( ) Muitos igarapés, florestas, “olho d’água”, desapareceram ( ) As madeireiras aumentaram no período ( ) As novas ocupações ocorreram próximas dos principais igarapés ( ) Nada disso aconteceu 13- Moradia, no período da construção da UHE. ( ) Existiam muitas casas disponíveis para os migrantes ( ) Não existiam casas disponíveis para as famílias que chegavam 14- Quais foram às soluções que sua comunidade encontrou para resolver o problema de moradia no momento da construção da UHE? ___________________________________________________________________________ 15- Na atualidade, como sua comunidade enfrenta o problema de habitação? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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16- A implantação da Usina trouxe consequencia para o meio ambiente urbano e para o morador de Tucuruí? ( ) Sim ( ) Não 17- Se houve, quais foram para o meio ambiente urbano? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 18- E para o morador da cidade de Tucuruí? ____________________________________________________________________
19- Sua comunidade participou da elaboração do Plano Diretor de Tucuruí?
( ) Sim ( ) Não
20- Se participou, qual sua participação de sua comunidade?
___________________________________________________________________________ 21- As reivindicações de sua comunidade foram contempladas pelo Plano Diretor? ( ) Completamente ( ) Parcialmente ( ) Não foram contempladas 22- Se não foram contempladas, explique por quê? _____________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 23- Atualmente, sua comunidade reivindica o cumprimento do Plano Diretor? ( ) sim ( ) não 24- Se a resposta for sim, aponte de que maneira. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 25- Quais são as cobranças de sua comunidade para o poder público na implementação do plano diretor na cidade. ___________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 26- Quais os projetos de sua comunidade para melhorias coletivas na cidade de Tucuruí? ___________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 27-Qual a proposta da sua comunidade para o melhoramento do meio ambiente de Tucuruí
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___________________________________________________________________________ 28- Quais equipamentos urbanos existem em sua comunidade: ( ) Escolas públicas; ( ) Hospitais; ( ) Biblioteca; ( ) Espaço verde; ( ) Espaços de lazer ( ) Outros Quais______________________________________________________________________ 29- Existe Orçamento Participativo na cidade de Tucuruí? ( ) Sim ( ) Não 30- Se existe, Sua comunidade já participou de alguma reunião e quais suas propostas?
OBRIGADA PELA PARTICIPAÇÃO
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APÊNDICE 4
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO
Reestruturação sócio-espacial a partir da implantação dos grandes projetos na Amazônia: o caso da cidade de Tucuruí
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
PARA AUTORIDADES PÚBLICAS DE TUCURUÍ
a) SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DE TUCURUÍ Quais as políticas públicas para as ocupações em torno dos igarapés que recortam a cidade de Tucuruí pela Secretaria de Meio ambiente? Como a interação entre o homem e a natureza no meio ambiente urbano vem sendo trabalhada pela Secretaria? De que maneira o desmatamento, o assoreamento dos igarapés: Santos e S’antana e o destino final do lixo urbano vem sendo tratado por essa secretaria? b) SECRETARIA DE OBRAS, URBANISMO E HABITAÇÃO Que estratégias são utilizadas para resolver os problemas de saneamento básico nas áreas periféricas? Em que se baseia a escolha dos locais para implantação de infraestrutura. Quais as dificuldades para implementação de políticas urbanísticas em consonância com o Plano Diretor (2006)? O que a secretaria vem fazendo para resolver a falta de equipamentos urbanos nas áreas invadidas? c) SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL Quais são as principais atividades da Secretaria? Quais estratégias de desenvolvimento sustentável estão sendo implantadas a partir do Plano Diretor para Tucuruí;
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Qual o apoio que a secretaria vem dando aos micro-produtores da região? Existe preocupação ambiental? Quais? O que a secretaria vem planejando para atender a mão-de-obra que ficará desempregada com o final das obras das eclusas da UHE? d) ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DO NÚCLEO GESTOR DOPLANO DIRETOR.
1. Qual a finalidade do plano diretor? 2. Como se deu o processo de construção do pd? 3. O que entende por participação? 4. Houve participação da sociedade civil na elaboração do pd de tucuruí? 5. De que maneira? 6. Quais os objetivos das reuniões, audiências publicas? 7. De que maneira o poder público municipal participou da pd? 8. E os representantes da câmara municipal? 9. E da eletronorte? 10. Qual a importância da empresa de consultoria engevix? 11. O plano diretor vem sendo efetivado no município? 12. O que falta para sua efetivação? 13. Depois de pronto está ocorrendo participação das comunidades nas reuniões sobre o pd.
e) ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DA SOCIEDADE CIVIL
1. Qual a associação que o senhor representa? 2. Por que foi criado está associação? 3. Há quanto tempo existe? 4. Qual a finalidade? 5. Como a moradia se apresenta na cidade de tucuruí? 6. O que falta para melhorar? 7. A questão da qualidade de habitação no plano diretor é trabalhado como prioridade das
gestão pública, isso vem ocorrendo? 8. Quanto ao conjunto construído pela prefeitura: nova matinha atendeu as necessidades
básicas da população? 9. Existem novas propostas dos gestores quanto a questão de novas casas populares?
essas associação é chamada para dialogar com o governo municipal