SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DA PARAÍBA GERÊNCIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ALMANAQUE HOMENAGEM AO CINQUENTENÁRIO DA EXPERIÊNCIA EM ANGICOS DO EDUCADOR E FILÓSOFO PAULO FREIRE
Para comemorar o cinquentenário da experiência
em Angicos, do educador e filósofo Paulo Freire, a
Secretaria de Estado da Educação da Paraíba
organizou uma publicação especial que concentra
curiosidades, indicações de leituras e vídeos,
imagens e muitas surpresas sobre esse mestre.
Papo-cabeça com a
Secretária de Estado
da Educação,
Professora Márcia
Lucena.
Projeto ALMANAQUE Paulo Freire, idealizado pelo NEaD - Núcleo de
Educação a Distância da Secretaria de Estado da Paraíba Direção Executiva: Verônica de Souza Fragoso
Seleção de Conteúdo, Edição e Produção: Verônica de Souza Fragoso, Vânia Cristina, Nadja Braga, Suelen Regina e Karla Lucena
ALMANAQUE- Paulo Freire Diretor Editorial: Verônica de Souza Fragoso
Editor de Texto: Verônica de Souza Fragoso, Vânia Cristina e Nadja Braga
Redação Nadja Braga e Vânia Cristina
Seleção de conteúdo, edição e produção Verônica de Souza Fragoso, Vânia Cristina e Nadja Braga
Textos e pesquisas online Karla Lucena, Nadja Braga, Vânia Cristina, Suelen Regina
Arte SECOM
GOVERNADOR
Ricardo Vieira Coutinho
VICE-GOGERNADOR
Rômulo Gouveia
SECRETÁRIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Márcia Lucena
NEaD- NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA PARAÍBA
Verônica de Souza Fragoso
GERÊNCIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Maria Oliveira de Morais
GERÊNCIA OPERACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS
Maria do Socorro Arruda Diniz Pires
PROJOVEM URBANO
Francisco Eleutério de Oliveira Júnior
Sumário Editorial: Porque fazer essa homenagem? Revisitando o baú de memórias Paulo Freire inspirando cordelistas O nascimento de Paulo Freire vinculando datas comemorativas Carta Enigmática Paulo Freire educando o mundo Caça-palavras Conexão Paulo Freire Paulo Freire e a CEPLAR Papo-cabeça com Márcia Lucena, Secretária de Estado da Educação da Paraíba O mês de dezembro e suas curiosidades
O Almanaque Paulo Freire foi produzido, para endossar as várias homenagens que no ano de 2013 aconteceram no Estado da Paraíba, ao Patrono
da Educação Brasileira, Paulo Freire, título instituído a ele no ano de 2012, por meio da Lei nº 12.612. Essa publicação também visa dar voz a sua história
na construção da Educação Paraibana para jovens e adultos. É um material que apresenta uma diversidade de formas de atividades pedagógicas, tecido a
várias mãos e que, habilita e instiga olhares diversos de jovens e adultos.
Há cinquenta anos, o Brasil conhecia uma experiência inovadora e peculiar de alfabetização, com a perspectiva de que, além de ensinar a ler e a
escrever, estava o despertar, em cada um, da consciência de um ser político e crítico. O responsável por contribuir e mediar estas ações de educação foi o
educador pernambucano Paulo Reglus Neves Freire - o Paulo Freire. Diversos estados, paralelamente, também foram desenvolvendo iniciativas de
alfabetização, baseadas na filosofia freireana, inclusive com os ciclos de cultura, criados por ele. O Estado Paraíba vivenciou, também, essa experiência, por
meio da Campanha de Educação Popular (CEPLAR), em 1962, instalada no Grupo Escolar Raul Machado, na Ilha do Bispo, iniciada por um grupo de
estudantes universitário inquietos com as desigualdades sociais do contexto.
A Secretaria de Estado da Educação considera de extrema relevância resgatar o pensamento de Paulo Freire no Séc. XXI, para que possamos, a
partir de sua concepção de formação de cidadão, assegurar na educação de jovens e adultos momentos de reflexão e análise crítica na escola, e o papel
dessa na vida de cada um, para a formação e construção de sua identidade na convivência com os outros, bem como para o exercício da cidadania.
Nessa perspectiva, no corrente ano, em discussão e parceria com a Cátedra UNESCO de EJA/UFPB e Secretaria de Estado da Educação do Rio
Grande do Norte, a Secretaria de Estado da Educação da Paraíba apresentou como tema de comemoração do seu Ano Cultural 2013, “A cultura Freireana
na Educação de Jovens e Adultos no Estado da Paraíba”, comemorando os 50 anos da pedagogia de Paulo Freire na Paraíba. Para que fosse
desenvolvida a temática junto aos estudantes e para entender melhor, como e por que esse ícone surgiu na história, não só na Paraíba, mas na educação
brasileira, foi elaborado e organizado um documento de orientação, sugerindo uma diversidade de atividades a serem vivenciadas pelas escolas, de acordo
com a sua escolha, para que os alunos pudessem conhecer a importância de Freire tais como: Mostras de experiências, Exposições e Festivais de
Aprendizagem.
Esperou-se que de acordo com o Eixo Temático, as escolas desenvolvessem seus projetos para apresentação, na Mostra Cultural, prevista para o
mês de outubro, e nos Festivais de Aprendizagem no mês de novembro de 2013, nas escolas, nas praças públicas e nos presídios. Os Festivais de
Aprendizagens realizados nas praças pública, em João Pessoa e Santa Rita e Cajazeiras, contaram com grande participação da população. A satisfação e
vitalidade estampada nas atitudes vivenciada por todos pela realização das atividades em espaços pedagógicos ressignificados, foi muito emocionante. O
Ano Cultural 2013, que homenageia Freire com “A cultura Freireana na Educação de Jovens e Adultos no Estado da Paraíba” fecha esse ciclo de
homenagens com a conclusão do Almanaque Paulo Freire, e que ao mesmo tempo abre novas possibilidades de aprendizagens.
João Pessoa, 25 de novembro de 2013
Maria Oliveira de Moraes
Gerente de EJA
Porque fazer essa homenagem?
Em 19 de setembro de 1921,
nascia Paulo Freire. Filho de
Edeltrudes Neves Freire e do
militar Joaquim Temístocles
Freire, já bastante doente. (http://acervo.paulofreire.org/xmlui/bitstream/handle/7891/268/FPF_I
CO_01_0168.png)
EVI ANDO O BAÚ DE MEMÓRIAS
Paulo Freire é conhecido em todo o mundo e referência para muitos educadores. Suas palavras renovam a cada dia olhares de respeito à educação de crianças, jovens e adultos. Sua metodologia envolveu profissionais de ensino do Brasil, América Latina, África e toda Europa. Sua maior riqueza foi concretizar ações que, além de ensinar, mostravam formas prazerosas do aprender, ressignificando a cidadania não apenas como um conceito para os alunos, e sim, introduzindo-a em seu cotidiano. A vivência de uma infância pobre o levou mais tarde a defender uma educação de igualdade, tanto para crianças, como para jovens e adultos. Centrou seu olhar para o Nordeste do Brasil e, junto ao Serviço Social da Indústria, iniciou seus projetos. Consolidou diretrizes e ensinamentos, que conhecemos hoje como Educação Popular. (http://gepffaccat.wordpress.com/biografia-de-paulo-freire/)
A mangueira teve um
significado especial para
Paulo Freire. Foi à sombra
das mangueiras, rabiscando
o chão com gravetos,
auxiliado pelos pais, que
iniciou sua alfabetização.
Não há nada mais instigante do que trabalhar a literatura de cordel com alunos
em sala de aula, explorando a identidade regional, principalmente quando esses fazem parte do universo da Educação de
Jovens e Adultos. A linguagem cordelista explora realidades de muitos estudantes que retornam à sala de aula buscando uma
nova contextualização para sua vida, ressignificando-a através da compreensão do que está escrito, a partir da sua realidade.
Nesse sentido, a didática Freireana endossa muitas dessas experiências exitosas. Uma delas, encontramos no Projeto
denominado “ACORDA CORDEL”, coordenado pelo poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário cearense, Arievaldo
Viana, nascido aos 18 de setembro de 1967, em Quixeramobim”. Eleito no ano de 2000, membro da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, ocupando a cadeira de número 40, cujo patrono é o poeta popular João Melchíades Ferreira, ele alerta
em seus cordéis a importância do respeito à ortografia e à gramática quando o uso do cordel se faz para a alfabetização,
principalmente quando voltada para os jovens e adultos. (Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/a-
importancia-do-cordel-na-sala-de-aula. Acesso em: 15 out. 2013).
Paulo Freire Inspirando Cordelistas...
Quero homenagear Este ilustre cavalheiro Que veio revolucionar Nosso ensino inteiro Fazendo a gente ficar
Um pouco mais brasileiro (...) (Francisco Ciro Fernandes)
Vou falar de uma vida Com muita satisfação
Nesse verso pé quebrado Mas que é de coração
Da vida de Paulo Freire Na ALFABETIZAÇÃO (...)
O nascimento de Paulo Freire
vinculado a datas
comemorativas pelo
Brasil...
Dia da Mobilização Social pela Educação Comemorado no Estado brasileiro de Goiás, conforme Lei Nº 17.940 de 27 de dezembro de 2012, através da qual também se declara que a Universalidade da Educação, como instrumento da democracia, deverá alcançar todas as localidades e camadas sociais do Estado goiano, para marcar a data do nascimento do educador e filósofo brasileiro, Paulo Reglus Neves Freire, que veio ao mundo em 19 de setembro de 1921. Dia do Adolescente Comemorado no Estado brasileiro de São Paulo, conforme Lei Nº 8.828 de 25 de julho de 1994. Dia do Educador Social Comemorado nos Estados brasileiros do Ceará [Lei Nº 14.015 de 30 de novembro de 2007 e Pernambuco [Lei Nº 14.182 de 03 de novembro de 2010], além de estar proposto em nível nacional pelo Projeto de Lei Nº 2989 de 2008 [em tramitação no Congresso Nacional brasileiro. Dia do Supervisor Educacional ou "Día del Preceptor" Comemorado por argentinos. Dia Estadual da Mobilização Social pela Educação Comemorado no Estado brasileiro do Rio Grande do Norte, conforme Lei Nº 9.503 de 14 de julho de 2011, para marcar a data do nascimento do educador e filósofo brasileiro, Paulo Reglus Neves Freire. Dia Estadual de Combate à Violência nas Escolas, Comemorado no Estado brasileiro do Ceará, conforme Lei Nº 14.379 de 18 de junho de 2009. Dia Estadual do Profissional Pedagogo Comemorado no Estado brasileiro do Mato Grosso, conforme Lei Nº 7.521 DE 28 de setembro de 2001, para marcar a data do nascimento do educador e filósofo brasileiro, Paulo Reglus Neves Freire. http://diasde.com/19-de-setembro/ / http://diasde.com/rt
Normalmente, as datas comemorativas são
instituídas pela tradição popular, pelo nascimento ou morte de alguma pessoa marcante para a celebração a ser festejada, por ser o dia de um santo padroeiro da causa a ser homenageada, ou ainda por lei (sendo que esta última, muitas vezes, somente surge para oficializar aquilo que já é tradição para um determinado grupo de pessoas). No Brasil, de acordo com a Lei Nº 12.345 de 9 de dezembro de 2010, o estabelecimento de uma data comemorativa deverá ter alta significação para os diferentes segmentos profissionais, políticos, religiosos, culturais e/ou étnicos que compõem a sociedade para a qual uma comemoração venha a ser instituída, importância essa que terá de ser comprovada por meio de consultas e audiências públicas [devidamente documentadas] realizadas junto a organizações e associações legalmente reconhecidas e que estejam vinculadas aos segmentos interessados.
Fonte:http://diasde.com/19-de-setembro/#ixzz2f9gVj5Yz
Você sabia?
TÍTULOS concedidos a Paulo Freire CIDADÃO HONORÁRIO
1983- Rio de Janeiro 1986- São Paulo
1987- São Bernardo do Campo 1987- Campinas
1989- Belo Horizonte 1992- Itabuna
1992- Porto Alegre 1993- Angicos 1995- Uberaba
1996- Juiz de Fora 1997- Porto Velho
“Reconhecimento Fraterno” 1986- Los Angeles- EUA
1987- Cochabamba (Bolívia)
Carta Enigmática
Os enigmas são ótimas formas de trabalhar
o raciocínio e concentração, duas armas
poderosas no exercício educacional. Através
de palavras proferidas pelo educador Paulo
Freire, vamos explorar esse potencial!
Educação Bancária X
Educação Problematizadora
(Almanaque Paulo Freire)
Na educação bancária, os alunos se tornam depositários dos
conteúdos transmitidos a eles.
“Enquanto a prática bancária, como enfatizamos, implica numa espécie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos, a educação problematizadora, de
caráter autenticamente reflexivo, implica num constante ato de desvelamento da realidade.”
(FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17. Ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1987, p.80)
“A educação será libertadora na medida em que incentivar a
reflexão e a ação consciente e criativa das classes oprimidas
em relação ao seu próprio processo de libertação.”
(FREIRE, Paulo. “Educação:o sonho possível”. In: Brandão .C.R. (org). Educador:vida e morte. Rio de
Janeiro: Graal, 1986, p.20)
Resposta na
próxima
página...
SE A EDUCAÇÃO SOZINHA NÃO PODE TRANSFORMAR A SOCIEDADE,
TAMPOUCO SEM ELA A SOCIEDADE MUDA. (Carta Enigmática)
« Tout le monde sait tout. Personne ne sait tout.
Nous savons tous quelque chose. Tout ce que nous
ignorons quelque chose. Donc, apprendre
toujours ».
"Todo mundo sabe de tudo. Ninguém sabe de tudo.
Todos nós sabemos alguma coisa. Tudo o que não
sabemos alguma coisa. Assim, aprender ainda".
(Paulo Freire)
''Vi è di più per conoscere, o conoscere di meno, ci sono
diversi saperi”. ''Não há saber mais, ou saber
menos, existem diferentes tipos de conhecimento".
(Paulo Freire)
O livro Pedagogia do Oprimido, escrito por Paulo
Freire ainda no exílio, foi traduzido por mais de 40
línguas e completa 43 anos de uma leitura
extremamente atual. Objetivamente, trabalha dois tipos
de pedagogia: aquela que integra a dos dominantes,
denominada de bancária, na qual a educação existe
como prática da dominação, e a do oprimido, que
deve ser vivenciada como prática da liberdade. Para
Freire, a ação libertadora só pode acontecer se o
oprimido constrói ativamente a sua integração
educacional.
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P E R N A M B U C O
Paulo Freire, educador brasileiro que pensou
e escreveu sobre o amor e o compromisso
com a educação do jovem e do adulto,
nasceu em Pernambuco , em setembro de
1921 e casou-se com Elza. Foi um pensador
notável no mundo e pelo mundo, construiu
uma carreira dentro e fora do país, quando foi
exilado. Mentor no surgimento de uma
educação voltada à consciência do papel
social do eu e do outro, escreveu livros
essenciais para quem quer fazer a diferença
dentro e fora do espaço escolar, dentre eles,
cita-se: Pedagogia da Autonomia, Pedagogia
do Oprimido, Educação como prática da
liberdade, etc.
Com base no texto acima, busque no CAÇA-PALAVRAS, ideias que lembrem (estejam ligadas) ao educador que foi o grande mestre Paulo Freire:
A rede mundial de computadores, ou
Internet, surgiu em plena Guerra Fria. Foi
criada com objetivos militares, para ser
uma das formas das forças armadas
norte-americanas de manter as
comunicações em caso de ataques
inimigos que destruíssem os meios
convencionais de telecomunicações.
Nas décadas de 1970 e 1980, além de ser
utilizada para fins militares, a Internet
também foi um importante meio de
comunicação acadêmico. Estudantes e
professores universitários, principalmente
dos EUA, trocavam ideias, mensagens e
descobertas pelas linhas da rede mundial.
(Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/internet/>
Acesso em 18 out. 2013)
Projeto Memorial Paulo Freire http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/
Biblioteca Digital Paulo Freire
http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/
Centro de Referência Paulo Freire
http://acervo.paulofreire.org/
Boletim Paulo Freire http://boletim.unifreire.org/edicao02/
Acervo Paulo Freire http://acervo.paulofreire.org/xmlui
DOCVERDADE - Documentários: Paulo Freire Contemporâneo (2007)
http://docverdade.blogspot.com.br/2013/06/paulo-freire-contemporaneo-
2007.html
Paraíba Área / Total 56 439,838 km² (21º) 1
População 2013 - Estimativa 3 914 418 hab. (13º) 2
Mesmo após a chegada dos europeus em terras brasileiras, Portugal, de imediato, não se interessou pela exploração deste local, pois não havia nenhuma riqueza que os interessasse naquele momento. Além disso, as especiarias nas Índias eram o foco do momento. Nesse descuido português, corsários e piratas atracaram na costa brasileira e iniciaram a exploração do pau-brasil. Só assim, os colonizadores começaram a se preocupar e fazer algo para proteção das riquezas. Entre embates com nativos e invasores, o rei português dividiu as terras em quinze capitanias hereditárias, entre elas estava a Capitania de Itamaracá, a qual a Paraíba estava subordinada. Em 1574, índios mataram todos os moradores de um engenho chamado Tracunhaém, em Pernambuco, levando o rei de Portugal, D. João III, a desmembrar a Capitania de Itamaracá e fundar a Capitania da Paraíba.
CEPLAR
Campanha de Educação Popular
que iniciou suas atividades com um
grupo reduzido de estudantes
universitários e que terminou com
centenas de pessoas de classes,
níveis e estratos sociais os mais
diversos, atuando em nove cidades
do Estado. (p.19)
FOTOS INTEGRANTES P.37
Paulo Freire e CEPLAR,
interação e respeito na
Paraíba
A interação existente entre a cidade de João Pessoa e o ilustre Paulo Freire teve início através da
inquietação de jovens estudantes universitários que, em seus desejos de mudar o mundo, acabaram por
movimentar para a conscientização cidadã centenas de jovens e adultos paraibanos em uma época onde o olhar
para a educação popular não existia. Sobre o povo, havia o peso sólido da fome, da miséria e do analfabetismo.
Essa dinâmica social que remexia a indignação desses jovens provocou posicionamentos que
antecederam o encontro físico com o educador Paulo Freire, embora, no plano das ideias, já tinha com esses
jovens grandes afinidades.
Nesse período delicado, o povo representava uma massa manipulável, moldada por uma economia
excludente, dominada pelas “oligarquias originárias de grandes latifundiários”.
POPULISMO
Contudo, o processo de industrialização a que o Brasil fora induzido entre os anos de 1930 e 1960
levantou, em meio à população, bandeiras de lutas significativas e, nessa dinâmica, a CEPLAR aparece
figurando como parte atuante na memória histórica da Paraíba. Precisamente em 1961, ela surge.
Por que NEGO, na bandeira da Paraíba? A palavra NEGO, estampada na bandeira da
Paraíba, significa o NÃO dado pelo
governador, João Pessoa, ao sucessor à
Presidência, indicado por Washington Luís.
Mas, por que negar?
Naquele tempo, vigorava no país a política do
Café com Leite, na qual a presidência do Brasil
se revezava entre os Estados de Minas Gerais
e São Paulo. Só que o então presidente,
Washington Luís, que era de São Paulo,
resolveu repetir e passar o cargo para um
paulista. Essa atitude causou revolta em alguns
Estados, a exemplo da Paraíba.
Nego é a conjugação do verbo Negar, na
primeira pessoa do singular do presente do
indicativo.
Figura 1- Dorinha de Oliveira Porto-
Integrante da CEPLAR em visita à Secretaria
de Estado da Educação da Paraíba/2013.
Em meio aos quatro pilares a que se definiam como base para seu funcionamento, estava:
Atuar junto às camadas mais desfavorecidas, o que deveria ser feito com elas e não para elas. Partia-se do princípio de que o povo tem um saber, tem um potencial a serem apresentados e desenvolvidos. A atitude da CEPLAR era de valorizá-lo, de capacitá-lo para ampliar seu nível de cultura e de consciência política, de mobilizá-lo para uma participação consciente nas pressões sociais para o desenvolvimento (p. 41, 1995).
Essa afirmativa demonstra claramente que a alfabetização de adultos era a mola
mestre do trabalho a ser desenvolvido. Por isso, surgiram os cursos noturnos organizados
inicialmente na Ilha do Bispo, nas salas do Grupo Raul Machado.
Entre construções e desconstruções dos métodos didáticos a serem trabalhados,
ficou evidenciado que “O material destinado à educação de adultos não estimulava a
reflexão e análise da realidade do adulto analfabeto” (p.60, 1995).
Diante disso, em 1962, Germano Coelho (MCP do Recife), entrou em contato com
o professor Paulo Freire, que até então estava em fase de desenvolvimento do seu método
de alfabetização de adultos, para que os membros da CEPLAR buscassem orientações e
refinamento em sua dinâmica de trabalho.
Com euforia, Freire relata a experiência vivenciada com 25 adultos usando seu
método experimental e de pesquisa.
Durante o relato de Freire, o grupo CEPLAR também expõe questões
metodológico-políticas experenciadas no trabalho de alfabetização da Ilha do Bispo.
Era o entrelaçamento que desejava a CEPLAR!
Depois daquele encontro, Paulo Freire elaborou um plano de ação que abrangia o
treinamento do pessoal da CEPLAR pela equipe do Serviço de Extensão Cultural da
Universidade do Recife (Criado em 1962).
Figura2 Dorinha de Oliveira Porto
Fonte: Arquivo pessoal
Em uma tarde de sábado do mês de junho de 1962,
integrantes da CEPLAR se encontram com Paulo Freire em sua
casa, em Recife. Foi então que, desse encontro, perceberam a
possibilidade de ampliação das perspectivas de trabalho com os
adultos, “permitindo alfabetizar em tempo rápido” (p.60).
A secretária de Estado da Educação da Paraíba, professora Márcia Lucena, provocou para um bate-papo descontraído com os
técnicos da SEE/PB, uma das integrantes da CEPLAR, professora Dorinha de Oliveira Porto, em sua sala no dia 28 de agosto de 2013,
aproveitando o momento em que a mesma estava de férias. Entre lembranças e falas emocionadas, Dorinha relatou a construção do
pensamento que mais tarde consolidou a base de um movimento ousado e profundamente envolvido com a educação popular na
Paraíba. Movimento esse surgido de jovens que buscavam, através da educação de adultos, perspectivas reais de melhoria de vida.
PAPO-CABEÇA,
Secretária de Estado da
Educação da Paraíba,
Márcia Lucena
Almanaque PF- Professora Márcia, é senso comum ouvir-se falar em História como algo que relaciona fatos passados. Heródoto, na Antiguidade, dizia que
a História é “um repositório de exemplos que deveriam ser preservados”. Relacionando a importância de trazer vivências do passado para o presente,
gostaria que a senhora falasse um pouco do seu sentimento em poder ouvir de uma fonte viva, fatos que relacionam um olhar sobre a educação na
Paraíba em um período em que poucos davam a devida importância.
Márcia Lucena - Quando você diz do sentimento de ouvir de uma fonte viva fatos relacionados à educação na Paraíba, eu devo dizer que a minha vida foi forjada aí, nesse lugar. Desde menina que eu participo de forma indireta da educação no Estado da Paraíba. Meu pai sempre foi professor. Trabalhou e atuou também com o pessoal das Ligas Camponesas. A minha mãe sempre foi professora e trabalhava na rede estadual, tanto aqui em João Pessoa, como em Santa Rita e nas cidades da grande João Pessoa. Mais precisamente em cima do que você está colocando, sobre o relato de “Dorinha”, esse também fez parte de toda a minha vida, porque minha tia, Iveline Lucena, foi uma das quatro moças - que se chamava: “As quatro moças da CEPLAR” - que fundou a CEPLAR, e que escreveu o livro junto com “Dorinha”.
Almanaque PF - Ainda sobre a pergunta anterior. O trabalho da CEPLAR é uma referência para os educadores paraibanos? Em quais aspectos?
Márcia Lucena - O trabalho desenvolvido pela CEPLAR, de fato, deve ser uma referência. Não acredito que ele seja uma referência, porque poucas pessoas conhecem hoje verdadeiramente o trabalho que aconteceu na CEPLAR. Nós não fomos bons em difundir, em valorizar essa experiência. Veja que “As quarenta horas de Angicos” são conhecidas em todo Brasil - e fora do Brasil também - até hoje. Está fazendo cinquenta anos das Quarenta horas de Angicos, e isso foi plenamente comemorado, divulgado. E, aqui na Paraíba, a experiência avança muito no sentido em que ela teve muito mais tempo do que quarenta horas e teve um aprofundamento. Porque o pessoal da CEPLAR, em cima da experiência com as pessoas alfabetizadas, criou outros materiais pedagógicos, que deram continuidade a esse processo. Na verdade, isso foi pouco divulgado. Foi, de certa forma, mal tratado pela nossa história e pela consciência do processo de educação em nosso Estado. Mas eu acho que deve, sim, ser ainda conhecido por todos e servir de referência, porque essa foi uma experiência realmente muito significativa e vivida aqui no Estado da Paraíba.
Figura6: Dorinha de Oliveira Porto
Fonte: Arquivo pessoal
Figura3 Dorinha de Oliveira Porto, seu marido e profª Márcia Lucena
Fonte: Arquivo pessoal Figura 4: Técnicos da SEE/PB
Fonte: Arquivo pessoal Figura 5 Dorinha e profª Maria Oliveira
Fonte: Arquivo pessoal
Almanaque PF - Sabe-se que sua história profissional foi construída envolta à vivências com a juventude. A senhora foi Coordenadora Pedagógica e Geral
do Projovem Urbano e do Piollin, ambos em João Pessoa. Diante disso, saber de jovens que se preocupavam com uma educação mais conscientizadora e
cidadã em tempos de miséria e fome latente, principalmente no Nordeste, reflete com maior intensidade seu lado cidadão e/ou profissional?
Márcia Lucena - Os fatos que marcaram em todo a minha formação, como pessoa e como profissional, tem a ver com a educação. Minha família é cheia de professores, a partir dos meus pais que também são professores. Enfim... Isso vai forjando você. Desde os 17 anos dou aula. Mas a minha formação pessoal, dentro da casa da minha família, com as histórias vividas e a diversidade existente na minha família, isso também enriqueceu a minha ação como profissional, como educadora. E o que mais reflete isso pra mim é justamente o segmento da juventude, porque é um segmento que tem muita diversidade. É um segmento que tem muita mudança, passa muita transformação, e esse fato, de certa forma, faz com que eu me sinta comprometida, de uma forma diferente, com a educação voltada para a juventude. Eu tenho essa preocupação, independente de ser coordenadora do PROJOVEM URBANO, que foi uma experiência muito significativa na minha vida. Estudei sobre juventude. Meu mestrado em Serviço Social é em Política da Juventude. Ou seja, é uma área que, de fato, chama muito minha atenção. E, hoje, estou aqui como Secretária de Educação do Estado trabalhando, justamente, com a tentativa de acordar a responsabilidade do Estado para o foco no Ensino Médio, que é onde está localizado o segmento da juventude. Acho que o lado cidadã e o lado profissional se misturam. Você não consegue desenvolver ou aprimorar um aspecto só da sua vida. Você vai integrando essas partes. E o que eu havia dito antes era justamente isso: que a minha formação em casa, na minha família, favoreceu o aprendizado para a integração. Eu tenho certa facilidade de integrar e trazer para a realidade, de imediato, os meus aprendizados. Então, eu acredito que a experiência do PROJOVEM me trouxe um crescimento profissional e pessoal.
Almanaque PF - Paulo Freire atuou junto a realidade do povo, sua metodologia se embasava na vivência, no chão da vida de cada aluno. Em que medida
essa metodologia pode se vincular as estratégias metodológicas na educação da Paraíba?
Márcia Lucena - Acho que o maior aprendizado quando você olha para Paulo Freire, para tudo que ele construiu e que tem uma força até hoje, é justamente o fato de se refazer, de se reconstruir. Paulo Freire, o que ele trás pra gente, é essa possibilidade: a de interação do indivíduo, do grupo, com a vida imediata. O aprendizado está a serviço da cidadania, a serviço da participação desse indivíduo na sua própria vida e na vida dos seus pares. Considero esse processo o maior legado de Paulo Freire. Acho que isso a gente está buscando com esforço, com o compromisso necessário. Buscando trazer para os projetos que estão sendo desenvolvidos na Secretaria de Estado da Educação hoje. Temos vários projetos que estimulam uma participação cidadã consciente. O ODE (Orçamento Democrático Escolar), que faz com que toda comunidade escolar: Professores, Gestores, Servidores - de uma maneira geral, alunos e pais de alunos, participem dos recursos que estão dentro da escola, o destino da escola, no que diz respeito a utilização desses recursos, ele passa a ser uma coisa pedagógica, passa a ser uma coisa discutida por todos. Isso aumenta o sentido de participação e traz outro nível de consciência na escola. Isso é muito freireano. A troca de experiência na escola, o que está sendo discutido em praça pública, todos que estão ali na comunidade, isso também é ampliação de consciência, e isso tambem é extremamente freireano. Vários projetos que estamos desenvolvendo na Secretaria hoje, trazemos uma data significativa, de agir de acordo com a escuta, com a fala das pessoas envolvidas, as falas dos atores envolvidos. Essa escuta, esse reconhecimento a respeito dos sujeitos, do trabalho a ser realizado, a ser feito, isso é um legado, um aprendizado a partir de Paulo Freire.
QUER SABER MAIS?
HTTP://FORUMEJA.ORG.BR/CEPLAR
Almanaque PF - Seu pai, professor Iveraldo Lucena da Costa, é irmão de Iveline Lucena da C. Lage (in memoriam), uma das escritoras do livro CEPLAR,
história de um sonho coletivo, o qual usamos para embasar essa entrevista, é historiador. Você cresceu ouvindo de seu pai e/ou sua tia a história da
CEPLAR? Nos fale um pouco sobre algumas dessas lembranças.
Márcia Lucena - Na verdade, cresci, sim, ouvindo histórias da CEPLAR. Minha tia, como todos na época, teve que fugir do Brasil e passar pelo processo que todos que foram exilados passaram. Então, isso no universo da consciência infantil já é uma coisa bem desafiadora que chama muita atenção. Então, eu sempre refleti muito sobre minha tia, sobre a vivência dela. E sempre que ela veio de férias ao Brasil, a medida que isso foi possível por lei, que ela foi anistiada, e veio de férias para o Brasil, porque ela depois da anistia não conseguiu aqui um emprego... uma vida da forma como ela tinha na Holanda, ela já morava na Holanda quando foi anistiada, então, eu sempre tive um olhar muito sensível com direção à minha tia, por uma identificação realmente muito grande com ela... com as experiências dela, com a sensibilidade dela como educadora e que é o mesmo que eu vejo no meu pai e essa mesma empatia, essa mesma identidade eu sempre tive também com meu pai, que é de fato um professor, um educador e também – ele é professor de história – um excelente contador de histórias. Então, as histórias vividas pelo meu pai sempre despertaram demais o meu desejo de ser alguém na vida. De ser alguém com compromisso. Alguém que veio pra vida também dar a sua parte, com todo esforço necessário. Então, assim, eu sempre estive, desde os 17 anos, que eu comecei a dar aula e me identifiquei profundamente como professora eu sempre estive dessa forma nesse espaço. Com muito compromisso e com a pressa de quem quer realmente quer imprimir alguma coisa do que tem de melhor. E isso, de fato, eu devo muito a eles. Devo muito a vida e a forma de agir deles dois que trouxe muito ao meu imaginário. E eu lembro que quando eu fui convidada a coordenar o PROJOVEM, que hoje se chama PROJOVEM Urbano, mas na época era só PROJOVEM, eu fui à Brasília e conheci o material e a metodologia do PROJOVEM me emocionei muito, porque parecia muito aquilo que era praticado em 1961/62/63, pela CEPLAR, eu vi uma identificação profunda na metodologia, na proposta pedagógica do PROJOVEM com a CEPLAR, e vi que era um lugar que eu realmente poderia dar o meu melhor e, ao mesmo tempo, me sentir realizada fazendo. E isso fez uma grande diferença e esse mesmo espírito de possibilidades e compromisso permanece em mim até hoje como Secretária de Educação
Paulo Freire por ELE MESMO
“Gosto de passear de carro para ver paisagens, prédios e pessoas.”
“Flor que mais gosto? Rosa!”
“Gosto de andar na praia.”
“Tenho medo de andar de avião.”
“Não gosto de frio.”
“Minha comida favorita é peixe com leite de coco.”
“Adoro passarinhos...”
“O que aprecio nas pessoas: Coerência, honradez, lisura, inteligência criadora.”
“No fundo, eu sou simplesmente...
um nordestino de maneiras calmas e sentimentos fortes
um ser humano consciente de sua posição no mundo
uma alma eternamente apaixonada pela vida.”
Referencial Bibliográfico
PORTO, Maria das Dores Paiva de Oliveira e LAGE, Iveline Lucean da Costa. CEPLAR: história de um sonho coletivo: uma experiência de educação popular na Paraíba destruída pelo golpe de Estado de 1964. JOÃO PESSOA: Conselho Estadual de Educação, 1995. 207p. Governo do Estado da Paraíba – Secretaria da Educação e Cultura VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para transformar. SÃO PAULO: Mercado Cultural, 2005. 64p.