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Livro: O cinema e a produção Autor: Chris Rodrigues Capítulo III. O roteiro O roteiro é a posição—chave na fabricação de um filme, pois é a partir dele que se decide o filme. Um bom roteirista é aquele que conhece a fundo a técnica cinematográfica, pois é preciso escrever coisas filmáveis, do contrário o roteiro não passa do sonho impossível de um filme. (Jean-Claude Carrière)

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O roteirista

A função do roteirista varia bastante de acordo com o tipo de filme produzido. O roteirista pode ser chamado para desenvolver uma idéia, adaptar um livro ou uma novela, uma peça de teatro ou escrever um musical. Normalmente o primeiro passo de um roteiro é a descrição da ação da história simplificada, em uma ou duas páginas (sinopse). A seguir, o argumento, que é a descrição do roteiro, normalmente contendo passagens do diálogo, com as cenas mais ou menos esquematizadas com plots e subplots já em seus lugares. Uma vez aprovado o argumento, o roteirista escreve então o roteiro final, com as cenas, ações e diálogos detalhados.

O ato de escrever é um hábito que requer muito treino, dedicação e paciência. Ter uma boa idéia é apenas

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o início de um processo que exige muito esforço e insistência. Para se escrever bem um roteiro, é necessário conhecer o assunto (fazer pesquisas), ter uma idéia clara do que se quer dizer, estar atualizado com os acontecimentos, manter o hábito de boas leituras, assistir a muitos filmes — principalmente os clássicos — e escrever, escrever, escrever.

Um filme, seja ele longa-metragem, curta-metragem, documentário, videoclipe ou publicitário, nasce a partir de uma idéia. Esta idéia, então, se transforma em um roteiro. A idéia pode nascer a qualquer momento, em qualquer lugar, a partir de diversas razões. O jornal diário está cheio de acontecimentos que induzem a idéias de roteiros para um filme. A vida de nossos amigos, contos, livros, sonhos, enfim, devemos estar sempre atentos ao que acontece a nossa volta.

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Um roteiro é urna história contada com imagens, expressas dramaticamente em uma estrutura definida, com início, meio e fim, não necessariamente nessa ordem. Se, ao lermos um roteiro, tivermos dificuldades em visualizar a cena, certamente ele tem problemas. Um bom roteiro não é a única condição para o planejamento eficiente do tempo e do custo de filmagem, mas contribui para que o filme seja preparado de modo mais adequado.

É importante que um roteiro esteja bem formatado, com espaços em branco para anotações da equipe e dos atores; tenha as cenas marcadas, assim como suas mudanças; que o conteúdo visual esteja cuidadosamente descrito; que seja fácil de ler, em espaço duplo, sem rasuras e correção, e com todas as páginas numeradas. No roteiro de um longa-metragem, normalmente, cada página equivale

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aproximadamente a um minuto de filme. Partindo da premissa de que uni filme tem em média 110 minutos, o número de páginas de um roteiro é aproximadamente 110.

Existem muitas razões para ir ao cinema, e a seleção do espectador é influenciada por fatores como sua idade, sexo, instrução, inteligência e pela maneira como o filme foi criado. Os motivos podem variar de como se passou o dia no trabalho à mera intenção de fugir do calor. O que a maioria realmente deseja, no entanto, é deixar para trás, por algumas horas, a banalidade e a rotina do dia-a-dia e viver uma nova vida na tela, pela identificação com os conflitos dos personagens do filme.

Normalmente, os filmes de maior sucesso de público obedecem a uma estrutura dramática que ele, o público, tem facilidade de acompanhar. Nos primeiros 25 ou 30 minutos do filme,

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descobrimos sobre o que é a história, suas circunstâncias dramáticas, quem são os seus personagens e o que eles fazem.

Podemos também definir essa etapa como a do status quo: a fase em que o nosso herói está no seu ambiente natural, até que alguma coisa o impele a caminhar em direção à aventura, ou seja, a fase em que ele tem de tomar unia decisão e enfrenta a situação que vai modificar sua vida.

Em um determinado ponto, nosso personagem será instado a mudar a sua 1inha de conduta (plot 1) e partir para a confrontação. Aqui serão encontrados os obstáculos ao nosso personagem para atingir os seus objetivos. Essa parte do roteiro deverá ter em média 50 ou 60 minutos.

Perto do final da confrontação, novamente algo deve acontecer que levará nossa história para o final (plot 2). Conseguirá o nosso personagem

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atingir os seus objetivos? A história termina com um happy end? O nosso personagem morre no fim? Essa parte da história deverá ser contada em aproximadamente 25 ou 30 minutos Não existe drama em urna história sem conflitos. São os conflitos que impulsionam a história, e a resolução deles é que prende a atenção do espectador. Numa história, alguns conflitos são básicos, sendo normalmente rivalidades entre adversários ou adversidades que precisam ser vencidas. A resolução dos conflitos normalmente só é revelada no final. Os conflitos básicos de um drama já eram conhecidos e explorados desde 250 a.C. pelos dramaturgos gregos, e até hoje pouca ou nenhuma modificação ocorreu. Shakespeare, por exemplo, foi um mestre na utilização desses conflitos, o que talvez explique a popularidade de suas peças.

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Amor, piedade, carinho, ódio, desprezo, desespero são alguns dos elementos dramáticos que vivemos no nosso dia-a-dia. O espectador reconhece tais emoções pela sua vivência e, por esse reconhecimento, identifica-se com os personagens do filme. Portanto, um roteiro deve ter personagens interessantes, conflitos, temas de apelo universal e uma história que prenda sua imaginação.

Um roteiro deve ter um ou mais personagens principais. É com ele ou eles que espectador se identifica. No momento em que definimos os nossos personagens principais, definimos também que a história é sobre eles. O espectador espera que a história contada seja a deles, e o final do filme é o que acontece com os personagens principais. Esse mesmo interesse se revela por outro personagem, que, mesmo não sendo principal, tem sua parte na história tão fortalecida que o

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espectador fica curioso em saber seu destino.

Christopher Vogler utiliza arquétipos para definir os personagens de um roteiro, que podem ser: o herói, o amigo do herói, o mentor (que o orienta sobre o caminho a tomar), o guardião do templo (que dificulta a conquista dos objetivos por parte do herói), entre outros.

A vida real não é exatamente igual à vida no cinema. Na vida real, as nossas reações de caráter variam de acordo com a situação e o momento. No cinema, uma vez definido o caráter de um personagem, suas reações serão sempre coerentes, ou espectador ficará confuso. Um personagem ambicioso, amoral na perseguição dos seus objetivos, terá sempre esta característica de caráter durante todo o desenrolar da história (a não ser em casos especiais e que seja justificado no roteiro). Vingativo, rancoroso,

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honesto, viril, ambicioso, pusilânime são alguns traços de caráter de um personagem. Não devemos confundir caráter com personalidade. Um personagem pode ter uma personalidade simpática ou rabugenta, mas com caráter diferente de sua personalidade. Num filme, o espectador se deixa envolver, de boa vontade, em qualquer boa história que lhe for apresentada, seja ela de mistério, intriga, comédia, assuntos históricos ou aventuras. Envolve-se conscientemente na história, e, se o filme for bom, geralmente sai do cinema emocionalmente mexido. Na elaboração de um roteiro, o roteirista tipicamente o desenvolve da seguinte forma: Story line - Idéia sucinta do roteiro, com cerca de cinco linhas.

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Sinopse - É urna breve idéia geral da história e de seus personagens, normalmente não ultrapassando uma ou duas páginas. Argumento - É o conjunto de idéias que formarão o roteiro. Com as ações definidas em seqüências, com as locações, personagens e situações dramáticas com pouca narração e sem os diálogos. Normalmente entre 45 e 65 páginas. Roteiro literário - Finalizado com as descrições necessárias e os diálogos. Este roteiro, sem indicações de planos, servirá como base para o orçamento inicial e os projetos de captação. Tem normalmente entre 90 e 120 páginas. Roteiro técnico - Roteiro decupado pelo diretor com indicações de planos, movimentos de câmera, e que servirá para o 1º assistente de direção fazer a

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análise técnica, o diretor de produção o orçamento final. Será o guia de trabalho da equipe técnica. Formatação do roteiro Quando escrevemos um roteiro, a primeira coisa que queremos é vê-lo transformado em filme. O homem que poderá tornar isso possível é o produtor. Portanto, nossa principal preocupação é despertar o interesse desse profissional pelo nosso roteiro. Um produtor está constantemente recebendo roteiros para ler e decidir se vale a pena produzir. Se o seu roteiro está mal formatado e difícil de ler, seguramente irá para o final da fila, podendo mesmo nunca chegar a ser lido. Um roteiro deve ser escrito de uma forma que todos possam entender claramente as informações contidas;

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em espaço duplo e com os diálogos destacados. Devemos ter sempre em mente que a equipe técnica fiará suas anotações entre os parágrafos e os atores no espaço livre junto aos seus diálogos. Um dos principais erros do roteirista iniciante é a falta de espaço em branco em um roteiro - O diretor estuda as cenas do roteiro para poder conta-las de modo visualmente dramático. - Os atores decoram seus diálogos e formam a estrutura dramática do caráter de seus personagens - O desenhista de produção cria os ambientes segundo as cenas descritas. - O diretor de fotografia planeja a atmosfera visual das cenas e seleciona as lentes necessárias e o negativo. - O desenhista de som pensa como serão gravados os diálogos, música e outros efeitos e já estuda como todos esses

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ingredientes serão misturados na mixagem final. - O editor, de antemão, visualiza em temos de tempo e espaço cinematográfico, e assim por diante.

É pelo roteiro que o produtor terá as informações para elaborar um orçamento após minuciosas decupagens de atores principais, pequenos papéis, figurantes, número dos interiores e exteriores, cenas noturnas e diurnas, veículos de cena etc.

Nos concursos de roteiro, a grande variedade de modos de formatação dificultava a leitura por parte dos jurados, daí a necessidade de se criar uma formatação padronizada. Com esse propósito, surgiram em todo o mundo cursos de formatação e foram escritos vários livros sobre o assunto. Todos são unânimes em

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relação a algumas regras, que descreveremos daqui em diante. Quando essas regras são seguidas, cada página de roteiro corresponde aproximadamente a um minuto de filme.

Fonte: Courier new

Tamanho da letra: 12

Tamanho do papel: carta (27,94 cm x 21,59 cm), podendo também ser A4 Numeração de página: em cima e à direita

Margens: Vertical: .................... em cima 2,5 cm embaixo 2,5 cm / 3 cm Linha de ação e cabeçalho: .......................... esquerda 3,5 cm/ direita 3,5 a 4 cm Nome dos personagens:................. 9 cm da esquerda

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Rubrica dos personagens: ............ centralizado abaixo do nome Diálogos: .................... 6,5 cm da esquerda / 7,5 cm da direita Justificação: ................... diálogo e ação para a esquerda Capa: Título ................... 3/8 da página centralizado (em maiúscula) Nome do escritor (adaptação) .... centralizado abaixo d0 título Nome do roteirista .......... centralizado logo a seguir. (Canto inferior à esquerda) O registro no escritório de direitos autorais (Canto inferior à direita) Telefone do responsável para contato 1’ página: dez espaços, centralize o título do roteiro, mais cinco espaços e inicie com a cena 1 do roteiro.

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O texto do roteiro Evite redundâncias em seu roteiro. Por exemplo: por que começar o roteiro com fade in,já que todos os filmes começam assim? Ou corte após cada cena, se o fim de uma cena implica necessariamente um corte? Cabeçalho Deve ser limpo e claro, somente com as informações necessárias e que não podem estar em outro lugar a) Onde a cena se passa (interior ou exterior). b) O título da cena (cada cena do roteiro deve ter o nome do local onde se desenvolve a ação. Para evitar confusões de nomes para a produção, esse nome deverá se

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repetir sempre que a ação se desenrolar naquele local). Assim, se se estabelece uma cena com título de “Apartamento de João”, todas as cenas em seu apartamento, a rua, portaria do prédio etc. serão sempre “Apartamento de João”, mesmo que ele more com a esposa ou mãe e não apareça na tal cena. c) A seguir, indicar em que momento se passa a cena (diurna ou noturna). É permitido esclarecer mais detalhadamente esse tempo (exs.: anoitecer, amanhecer, meio-dia, pôr-do-sol etc.). Mas, sempre que possível, descreva na linha de ação indicações do tempo (exs.: relógio na parede que marca 12 horas, sol surgindo ou desaparecendo no horizonte etc.). d) Sempre que houver mudança de espaço e tempo, um novo cabeçalho.

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Quando uma ação continua num ambiente contíguo ao da ação principal, não será necessário um novo cabeçalho completo. Damos espaço duplo, destacamos o nome do novo ambiente em maiúscula, damos outro espaço duplo e continuamos a linha de ação. e) Não é necessário numeraras cenas, mas, se desejar faze-o, faça em ordem numérica crescente. Linha de ação a) Os ambientes do “Apartamento de João” serão o quarto, a varanda, a sala, a cozinha, o prédio onde está o apartamento, a rua do prédio, a portaria do edifício etc. O ambiente pode estar entre parênteses no cabeçalho logo após o nome da locação, mas sugerimos iniciar a linha

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de ação descrevendo o ambiente, mantendo dessa forma o cabeçalho o mais limpo possível. A linha de ação deve ser clara, objetivamente explícita, deixando claras as passagens de tempo dentro da cena e espaço simples. Lembre-se de que você está escrevendo um roteiro e não um livro. Abstenha-se de estilo literário. Se for difícil para o leitor visualizar a sua descrição, alguma coisa está errada. Reescreva a cena. b) No texto de uma cena, cada vez que uma ação termina, a próxima deve estar em outro parágrafo, mantendo sempre espaço duplo entre parágrafos. c) As rubricas, quando necessárias na linha de ação ou dentro dos diálogos, devem estar entre parênteses e em itálico. Ex.: (Olhando pelo retrovisor do carro)

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d) Sempre que um personagem aparecer pela primeira vez, deve estar em maiúscula e ser apresentado. Ex.: JOÃO, 35 anos, classe média, boa aparência etc. e) Sempre que houver descrição de um som, este deve estar indicado em letra maiúscula. Ex.: A bala passou ZUNINDO sobre a cabeça de João. Diálogos a) O nome do personagem deve estar em maiúscula e centralizado, após espaço duplo da última frase da linha de ação. b) As rubricas dos atores (informações sobre suas ações), quando necessárias, devem estar centralizadas em relação ao nome do personagem, entre parênteses. Evite rubricas que induzem

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ou interferem na interpretação do ator. Ex.: (nervoso, irritado etc.) c) Os diálogos dos atores devem estar centralizados em relação ao nome do personagem com espaço simples. Neste caso também, uma vez definido o nome do personagem, em todo o roteiro aquele será o nome do personagem. Se no roteiro a mãe do personagem Luís se chama Amália e a chamamos no cabeçalho do diálogo da primeira cena de “Mãe de Luís”, sempre que nos referirmos a ela, será como Mãe de Luís. Exceção feita dentro dos diálogos em que um outro personagem pode chama-la de Amália. d) É aconselhável iniciar o diálogo dos personagens com - (hífen) ou ... (três pontos) para que o ator saiba o início de seu diálogo. Quando o diálogo precisa continuar na página seguinte, não é necessário colocar novamente o

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nome do personagem, já que o hífen indicou o início do diálogo. A seguir um exemplo de formatação de roteiro do filme Bar Don Juan do livro homônimo de Antonio Callado. Roteiro adaptado para cinema de Tobias e Lucia Murad (versão final para cinema de Chris Rodrigues)


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