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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 25/7/2011 32ROMANCE Briga entre famílias deu origem àhistória que notabilizou a cangaceira baiana

Derramamentode sangue emagia negra nasaga de AnésiaJUSCELINO SOUZAVitória da Conquista

O romance Anésia Cauaçu, deDomingos Ailton, reporta à for-mação do município de Ituaçu,antigo Brejo Grande, e relata asbrigas de duas famílias da lo-calidade: os Silvas, conhecidoscomo "rabudos", e os Gondins,chamados de "mocós".

O derramamento de sanguecomeça quando o major Zezi-nho dos Laços, um dos líderesdos “rabudos”, exige que umprimo de Anésia, Augusto Caua-çu, acompanhe seu grupo dejagunços em uma emboscadacontra a família Gondim.

Augusto se recusa e é assas-sinado a sangue-frio a mandode Zezinho dos Laços. A famíliaCauaçu se reúne e resolve vingara morte, assassinando Zezinhodos Laços seis anos depois emuma tocaia na Fazenda Rochedocom uma bala feita do chifre deum boi preto, que fora confec-cionada pelo pai de santo HeitorGurunga, um sacerdote da re-ligiosidade afro que cuidava dopovo pobre da região.

Daí em diante a história co-meça a prender a atenção pelanarrativa suave, como se pro-jetasse imagens na mente doleitor, e pelo viés dramático aoredor da chacina que viria.

“Ao saber da morte de Ze-zinho, seu irmão Cassiano doAreão, o cunhado, coronel Mar-cionílio de Souza, e o filho deste,Tranquilino de Souza, passam aperseguir e matar membros dafamília Cauaçu e do bando decangaceiros que acompanha ogrupo, comandado por Anésia eseu irmão José Cauaçu”, diz Do-mingos.

Surge, então, a lendária fi-gura da cangaceira Anésia Caua-çu, que lidera e enfrenta várioscombates com coragem e umaforça extraordinária. Tal força,

contam os mais velhos, rever-berando relatos de geração emgeração, vinha de poderes ocul-tos, tipo magia negra. “Em mui-tos momentos ela envultava(desmaterializava) e virava umarochaoutocodeárvore”,explicao lavrador Claudionor Souza.

Na tentativa de erradicar obando de cangaceiros e por fimaos embates, o governador daBahia na época, Antônio Muniz,denomina o movimento arma-do dos Cauaçus de "conflagra-ção sertaneja” e envia para Je-quié e região mais de 240 sol-dados. Os cangaceiros passam autilizar táticas de guerrilha paraenfrentar a polícia.

“Anésia cai em emboscada eépresa. Interrogada,épostaemliberdade e concede entrevistade primeira página na edição de25 de outubro de 1916 do jornalA TARDE sobre a história do ban-do”, enfatiza o autor.

Ao saber que a líder fora ren-dida e posta fora de combate, aforça policial começa a praticaruma série de arbitrariedadescontra a população jequieense eda região, como represália pelosuposto apoio ao cangaço.

Não se sabe ao certo qual oparadeirodeAnésia.Algunssus-tentam que ela mudou o nomee permaneceu em Jequié, comosimples lavradora, até morrer,em dia, mês e ano ignorados.

Juscelino Souza / Ag. A TARDE

Domingos Ailton ouviu relatos de antigos moradores da região, como o lavrador Claudionor Souza, para escrever o romance histórico

Anésia Cauaçulidera e enfrentavários combatesno sertão da Bahiacom coragem euma forçaextraordinária

Narrativas orais e pesquisasgarantem fidelidade aos fatos

A TARDE de 25 de outubro de 1916 publica entrevista com Anésia

O romance não se prende es-sencialmente à trajetória deAnésia enquanto líder do can-gaço e figura máscula. O ladofeminino e passional é afloradona passagem que insere figurascomo o mascate Afonso, dan-çador de forró e mulherengo,que se apaixona por ela.

Tudo milimetricamente bor-dado com base em narrativasorais de pessoas que ouviramhistórias relacionados aos Caua-çus ou que mesmo chegaram aconhecer personagens do ro-mance, como a centenária Al-vina Ferreira, que conviveu comAnésia Cauaçu e morreu com112 anos de idade, ou BraulinoAntônio de Souza, que morreuaos 96 anos, não sem antes terconhecido o pai de santo HeitorGurunga.

“A obra procura também pre-servar a pronúncia e a morfos-sintaxe popular e é neste sen-tido que é rica em palavras eexpressões da variante linguís-ticadocatingueirodasprimeirasdécadas do século 20”, explica oautor, Domingos Ailton.

Assim ele procura na ficçãorevelar fatos históricos e acon-

tecimentos presentes na memó-ria coletiva por meio da tradiçãooral. “Anésia Cauaçu tem umadimensão tão grande que nãocabe apenas nos estudos socio-lógicos”, avalia.

O romance Anésia Cauaçutambém baseia-se em fontescientíficas como livros diversossobre a história de Jequié e dis-sertações de mestrado.

CINEMA

Arte e polêmica em festival no MaranhãoJOÃO CARLOS SAMPAIOSão Luís

O 1º Festival Internacional Lumede Cinema, sediado em São Luís(Maranhão), consagrou comovencedor o simbólico filme sue-co-polonês O Moinho e a Cruz,de Lech Majewski, em premia-ção ocorrida na noite do últimosábado.

Só que no ambiente do fes-tival e nas redes sociais o grandeassunto do final de semana foioutro filme do evento, o polê-mico A Serbian Movie – Terrorsem Limites, de Srdjan Spaso-jevic. Depois da exibição no Ma-

ranhão, o filme seria projetadono Festival RioFan, no Rio deJaneiro, no Espaço Caixa Cul-tural. A fita foi vetada por di-rigentes da instituição bancáriamantenedoradasala,devidoaoconteúdo que mescla sexo e vio-lência.

O veto motivou nota de re-púdio da Associação Brasileirade Críticos de Cinema (Abrac-cine), na última sexta-feira, di-vulgada desde o Maranhão. Nomesmo dia, por determinaçãojudicial, o espaço alternativo en-contrado pelos organizadoresdo RioFan para a exibição dafita, o Cinema Odeon, recebeu

visita de força policial, que apre-endeu a cópia do filme.

No sábado, dezenas de ci-neastas, cinéfilos e manifestan-tes que consideraram o ato umaatitude de censura, fizeram ma-nifestação na porta do Odeon,às 22h, horário previsto para aexibição de A Serbian Movie. Ofilme está longe de ser umaobra-prima, mas também não éexplícito nas cenas, nem expôs(a não ser por trucagem) ne-nhum ator a tortura.

RaridadesPara além das polêmicas, o Fes-tival Lume chamou a atenção

pela valorização de filmografiasraras, com belos exercícios ar-tísticos. O Moinho e a Cruz, ovencedor, já tinha dividido asatenções com o estoniano AsTentações de Santo Antônio, deVeiko Õunpuu, que mescla in-fluênciasquevãodeDavidLyncha Alejandro Jodorowsky. Na pa-ralela mostra Olhar Crítico, o do-cumentário austríaco Totò, dePeter Schreiner, saiu ganhadordepois de exibir um belo retratointrospectivo. Entre os brasilei-ros, venceu Além da Estrada, deCharlyBraun,maisumfilmequeo espectador baiano deveaguardar com expectativa.

Divulgação

A Serbian Film, de Srdjan Spasojevic: exibição cancelada no Rio

CURTAS

Biblioteca promove oficinas de inverno

A Biblioteca Betty Coelho pro-move as oficinas de inverno (ar-tes plásticas, literatura de cor-del, poesia e teatro) entre 28 dejulho e 20 de agosto, em suasede, no bairro da Boca do Rio.Fruto de um prêmio ganho como Edital Bibliotecas Comunitá-rias Edição 2010, do Ministérioda Cultura e Fundação PedroCalmon, as oficinas têm comoparticipantes alunos da EscolaMunicipal União Caridade eAbrigo, do Colégio Estadual Rô-mulo Almeida, e demais mo-radores do bairro. As inscriçõessão gratuitas e estão sendo fei-tas na sede – Rua Lavínia Ma-

galhães, 42. A Biblioteca infan-to-juvenil Betty Coelho foi cria-da em março de 2005. Infor-mações, fone 8123-0873.

As oficinas daBiblioteca BettyCoelho ensinamartes plásticas,literatura de cordel,poesia e teatro

Bando ensaianova peça teatral

O grupo de Teatro Olodum estápreparando um novo espetá-culo, batizado de trilogiaRe-mix.DOC#aquartapeça. A mon-tagem transforma a Trilogia doPelô (composta por Essa é nos-sa praia, Ó paí, Ó! e Bai Bai Pelô)em um novo espetáculo. “Éuma reflexão, através de umaremixagem, das três pecas an-teriores. Uma peça-documen-tário, com depoimentos reaisde quem vive no Pelourinho”,explica o diretor Marcio Mei-relles. A proposta é que as pes-soas interajam ao vivo na mon-tagem, com depoimentos.

Tiago Lima /Divulgação

trilogiaRemix.DOC#aquartapeça é a nova peça do Bando de Teatro

Encontro de NeideCortizo com leitores

Em homenagem ao Dia Nacio-nal do Escritor, comemoradohoje, a Fundação Pedro Calmonpromove o encontro de NeideCortizo com o público leitor. Apartir das 15h, na BibliotecaPública do Estado da Bahia(Barris), ela fala de sua expe-riência como autora e ilustra-dora de livros infantis. Em2009, Neide recebeu a terceiramenção honrosa em poesia noPrêmio OFF FLIP de Literatura –Categoria Nacional/Exterior,na Festa Literária Internacionalde Parati (RJ), com o conjuntode poemas Volátil, Disperso.

Capa do livro Anésia Cauaçu, doromancista Domingos Ailton

Reprodução

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