AGRADECIMENTOS:
A Deus através de Seu Filho e Meu Senhor
Jesus Cristo, Meu Grande e Maravilhoso
Amigo; Meu Pai, Conselheiro, Abrigo que me
capacita dia após dia e sustenta minh’alma
em todos os aspectos do meu viver. Um Pai
Bondoso Que cuida de mim como Sua
Raridade e Menina dos olhos.
Ao meu querido e muito amado esposo sempre presente com sua ternura, carinho,
desprendimento, amor e atenção. ... “Não imagino minha vida sem você viu?”
Quero também externar minha gratidão a
algumas pessoas que deram um significado
todo especial a esta obra porque sempre
acreditaram nos meus ideais.
Sabe aquela conversa de anjos disfarçados
em pessoas? Digo daqueles anjos que
existem em nossas vidas e enchem nosso
espaço com pequenas, mas marcantes
alegrias e grandes atitudes? Pois, eu fui
agraciada por Deus com esta dádiva, ganhei
amigas que souberam cativar o meu coração
e interpretar a essência da minha alma... São
elas: Otília Luzia Gonçalves, Cecília Louzada (in memórian), Silvana Caetano Dias, Sandra Paixão, Janete Maroli, Patrícia Alena, Márcia Hildilene Freitas, Maria Goreth de Andrade, Aparecida do Vale e Magda Santiago... E, não importa se só uma
delas conheceu Therezinha enquanto em
vida, importa sim, que enxugaram cada
lágrima brotada nos olhos pela saudade...
Importa que souberam respeitar meu silêncio
de dor... Importa as vezes que emprestaram
seus ouvidos e corações para escutar-me
falar da mulher mais importante da minha
vida... Importa sim, o quanto me fizeram
crescer, importa o modo como seguraram
minhas mãos nos momentos em que eu mais
precisei e me fizeram acreditar de novo na
vida.
Importa Sandra, a atenção, o carinho, o
incentivo fazendo-me seguir em frente quando
eu pensava em desistir da jornada... Importa
Patrícia, aquela frase curta, mas que me
disse tanto...
Importa Janete, a lágrima derramada na
emoção de ler meus versos, meus textos, uma
linha, uma palavra...
Importa Silvana, a fé que fez renascer em
mim nas horas em que a descrença tentava
invadir meu coração...
Importa Márcia, o seu olhar terno, o seu
sorriso, a sua emoção...
Importa Otília, o puxão de orelha na hora
certa, o abraço amigo, o ombro que secou
meus olhos nos momentos de confidências...
Importa Cecília, o colinho gostoso onde
descansei meu cansaço e dor...
Importa Aparecida do Vale, nossos silêncios
que diziam tudo e nossas trocas de olhares
que afagavam a alma.
Importa Magda, nossas trocas de ternuras,
abraços, confidências, risos, lágrimas,
amizades, carinhos e até silêncios... O que
importa é você e o tesouro da nossa amizade,
pois, comparando-a com o ouro, ele não vale
nada, já dizia um grande poeta.
... Só mais uma coisa importante e que jamais
poderia deixar de registrar:
Vocês me imensam!
Dedicatória:
Aos meus filhos: Fellipe, Gustavo, Guilherme
e Pedro Henrique... Netos que deixariam o
sorriso de Thereza ainda mais belo e
encantador!
Aos familiares e aos sobreviventes do
acidente automobilístico do ônibus 10.706 -
Viação Sudeste – Grupo Itapemirim, Em
15/11/1998.
A Agda Sousa, amiga sempre presente em
minha vida, na Alegria e na Tristeza.
A Tatiana Silva e Simone Souza, amigas que
tiveram o privilégio de estar com Therezinha
Lobato, e serem cuidadas por ela, em seus
últimos dias de vida.
A Íris Barroso Bitencourt, mulher que
precedeu a promessa de Deus em minha vida,
pois se tornou a minha mãe, literalmente,
muito antes do acidente.
A professora Graça Vieira... Grande
incentivadora... Amiga e mãe do coração!
Aos Meus irmãos que, assim como eu,
sofrem até hoje a perda tão precoce dessa
mãezona.
É impossível as lágrimas não surgirem cada
vez que lembrar a mulher que passou pela
vida como um Sorriso...
Que entrou e saiu quietinho de nosso lar...
Mas não de nossas vidas!
Ah! Os anos trarão consigo outros momentos
de tristezas e sei que de muitas alegrias. Ao
decorrer desse tempo, com toda certeza,
sobrevirá um esquecimento leve de sua
figura... Sua forte, bela e meiga figura.
Porém, não importa o que o futuro me
reserva, sempre me recordarei com carinho e
de forma muito intensa de que foi Therezinha,
quem me ensinou a ser filha, mulher virtuosa,
boa esposa, mãe, testemunha real, cristã
sincera, amiga fiel e, acima de tudo, Serva.
Obrigada,
Muito obrigada mamãe!!!
14 de Novembro de 1998 – Sábado
Hoje acordei um tanto apreensiva, aliás, esta
semana toda meu coração sentia-se aflito;
uma profunda angústia tomava conta do meu
ser; meus pensamentos estavam confusos e
uma taquicardia “balançava” meu coração.
Mas, hoje eu não deveria estar assim, tive
uma noite tranqüila, Sérgio e Fellipe estão
aqui comigo... Tudo está bem!
...Eram 13 horas, Sérgio e eu conversávamos
alegres quando, de repente, senti-me irritada,
tensa, era como se algo estivesse
acontecendo. Mudei o tom de minha voz e
acho que até o magoei com minhas palavras;
lembro-me que falei como se reclamando que,
se tivesse dinheiro o suficiente naquele
momento, iria para Vitória E.S, prá casa de
minha avó paterna.
... No decorrer da tarde tratava de distrair-
me,mas, percebi que meu coração contava
cada minuto que o relógio marcava até que
chegasse a noite e pudesse dormir, porém,
aquela nódoa de insuportável angústia não
queria abandonar-me.
...
15 de Novembro de 1998 – Domingo
Aquela estranha sensação continuava a
perturbar-me a mente e passei toda a manhã
de domingo apreensiva... Sérgio e eu
ouvíamos o programa de rádio Musical Boas
Novas com o Pr.Delandi Macedo, quando um
ouvinte pediu para ser tocado o hino dos
cantores Daniel e Samuel “Mais que o
Diamante”. Ao ouvir aquele hino senti uma
forte pressão no peito e um arrepio no corpo,
porém, não era medo, era algo mais forte,
parecia um pressentimento.
No término do programa Musical “Boas
Novas” o Pr. Delandi anunciou que o nosso
Pastor Presidente Umberto Batista da Silva
( Ministério das Ass. De Deus em Cachoeiro-
ES) havia sido submetido a uma intervenção
cirúrgica devido a um problema cardíaco, e a
mesma foi realizada com sucesso...
...Bem à tardinha resolvemos levar nosso
bebê pra um passeio na beira rio e, no
caminho, encontramos um amigo que
acabava de chegar de viagem. Ele estava
eufórico, transbordando de alegria pelo fato de
ter estado no “Encontro” realizado em Aribiri -
ES e, para surpresa nossa ele disse que
almoçou junto com mamãe e que eles
brincaram muito enquanto esperavam na fila
onde seria servido o almoço.
Foi por meio dele que soubemos que mamãe
havia ido à caravana.
...Eram 19h00min, o culto estava uma
maravilha, mas eu não estava nada bem. Algo
dentro de mim perturbava-me e afligia a
minh’alma. Um inexplicável temor se
apoderou de mim e eu tive vontade de gritar,
de pedir que acabassem logo com aquele
culto “enfadonho”... Uma dor inenarrável
oprimia meu coração.
Quando o culto terminou mamãe ainda não
havia chegado e então, Sérgio e eu
resolvemos ficar em sua casa e esperar seu
regresso. Depois de lancharmos conversamos
um pouco com o Sr José e em seguida fomos
para o quarto a fim de descansarmos um
pouco. Sérgio logo adormeceu e nosso bebê
também não demorou muito a pegar no sono.
Eu estava ainda muito tensa e, inerte, fiquei
observando os meus dois amores. Sentia-me
fragilizada, não conseguia dormir, minha
amargura interna não dava tréguas aos meus
pensamentos, comecei então a pedir a Deus
que ficasse bem pertinho de mim e que me
protegesse daquilo que eu não sabia o que
era, mas que tanto me angustiava.
Olhei para o relógio, eram 22h30min,
“lembrarei dessa noite por toda a minha vida”,
pressenti. Mas por quê? A resposta que tive
foi um palpitar de coração, senti como se
estivessem arrancando com muita violência
algo de mim, era como se parte de mim
deixasse de existir.
Uma dor aguda atravessou meu coração e
penetrou em minhas juntas e medulas.
Abracei-me ao travesseiro, dei um leve beijo
em meu bebê Fellipe e pensei:“daqui a pouco
mamãe chegará e tudo estará bem”. Na
singeleza desse pensamento sorri docemente
na escuridão e, vencida pelo cansaço e sono,
adormeci...
Eram quase três horas da manhã. Alguém
chamava no meio da madrugada...
Chamavam e chamavam. –Este terror que
muitas famílias receiam, para muitos nunca
aconteceu, mas, aprouve a Deus que
chegasse a nossa vez.
- Seu Zé? Seu Zé?- Era a voz de Tatiana.
Uma voz trêmula e embargada!
Num só pulo sai da cama e exclamei: - É algo
sobre mamãe!
Corremos até a porta e Tatiana com voz aflita
e cansada relatou-nos:
Mamãe e sua mãe ficaram em Aribiri para
voltar na caravana das 21h, Vaguinho foi até a
Sede e o ônibus ainda não havia chegado,
então, preocupada resolvi ligar para a
Itapemirim para saber o motivo do atraso do
ônibus e, a informação que obtive foi que o
veículo que conduzia os irmãos sofrera um
acidente - Nesta hora Tatiana se descontrolou
e começou a chorar.
Eles então, concluiu ela, mandou-nos procurar
maiores informações nos hospitais de
Cachoeiro e Iconha...
Uma nuvem cinzenta cobriu o ambiente. O
transtorno estava estampado em nossas
faces. De repente eu “sabia o porquê me
sentia daquela forma durante toda aquela
semana... Eu estava preparada para este
pesado momento.
Uma hora depois dessa primeira notícia,
soubemos que irmã Maria José fora
encontrada; estava gravemente machucada,
porém fora de risco e já hospitalizada. Um
suspiro de alívio envolveu meu coração por
alguns instantes, mas, mamãe não foi
encontrada! “algo estava errado”, pois, se
ambas estavam juntas, o lógico seria as duas
serem encontradas: Juntas!
...
Meu irmão Marcos estava visivelmente
abatido, porém confiante e, decidiu ir ao
Hospital Evangélico a procura de maiores
informações. Enquanto esperávamos sua
volta, a vizinhança toda se despertava para o
ocorrido e cada um, a seu modo, tentava
ajudar de alguma maneira.
Marcos demorava uma eternidade. Não dava
mais para esperar passivamente então Sérgio
e Seu Zé resolveram sair também e, para tal,
levaram-me para a casa de Maria Marinho,
vizinha, amiga e irmã em Cristo de mamãe e,
saíram cada um para um lado.
Ficamos ali as duas, sufocadas, embargadas,
sofridas. Fellipe um anjinho, dormia tranqüilo.
Irmã Maria e eu não conversamos muito, algo
calava-nos, mas, em espírito certamente em
comum orávamos.
...Não demorou muito e o dia clareou. A nossa
rua estava repleta de gente, todos queriam e
precisavam saber onde estava mamãe. De
repente Seu Zé chega com a informação de
que mamãe poderia estar no hospital de
Iconha. Uma alegria momentânea pairou no
ar... Ainda havia uma esperança.
Rapidamente alguns se prontificaram em
levar-nos até Iconha, outros estariam ligando
para lá para obterem informações mais
precisas. Todos estavam otimistas menos eu,
aquela inquietude não me dava paz. E, onde
estaria meu irmão Marcos até agora?
...
Ainda estávamos na rua mobilizando os
recursos para ida até Iconha quando olhei
para o início da escadaria e avistei o meu
esposo Sérgio. Era como se ele estivesse
carregando um enorme peso, estava pálido,
cabisbaixo, transtornado como nunca vi antes
e isto me causou novamente aquele palpitar
de coração.
Ao aproximar-se irmã Maria indagou-lhe:
-diga irmão Sérgio, você achou a minha
amiga? O que aconteceu? Diga por favor!-
insistiu em lágrimas.
Antes que ele respondesse eu já sabia... Eu
sabia desde que Tatiana chegou la em casa
com a notícia do acidente. Eu já sabia por que
o Meu Senhor falou comigo como nunca tinha
falado antes: “Não se turbe o vosso coração,
mas credes em Mim... Eu não te deixarei
órfã.”
Sérgio com voz muito dolorida falou-nos: eu a
encontrei gente, mas infelizmente, ela faleceu.
O chão abriu e novamente aquela nuvem
cinzenta invadiu o lugar e abateu-nos:
lágrimas, gemidos, gritos sufocados, dores e
tristezas, uma mistura de sentimentos seria
apenas a primeira tela que ficaria pintada para
sempre na moldura dos nossos corações.
Enxuguei as lágrimas que teimavam em rolar
dos meus olhos e imediatamente meus
pensamentos se transportaram para o Rio de
Janeiro e Vitória, onde moram minhas irmãs
Lucimar e Sônia.
Seu Zé e Sérgio foram tomar as devidas
providências já que, não há ...
“Mais nada a fazer”.
15 de Outubro de 1942 – Arraial do Café – Alegre –ES
Era manhã daquele dia chuvoso e frio.
Dorcelina já sente as dores das primeiras
contrações e sabe que seu bebê vai nascer.
Benedito corre até o vilarejo e busca
d.Cypriana, a melhor parteira da região, e mãe
de Dorcelina...
Providencie mais lenha para o fogão Bené. -
diz Cypriana ao genro!
Vamos precisar de muita água morna, muito
pano e muita oração porque a criança é
grande, dizia enquanto “examinava” Dorcelina.
Benedito tremia igual vara verde enquanto
forrava a humilde cama com a colcha de
retalhos que ele mesmo escolheu para
presentear sua amada quando completaram
dois anos de “matrimônio” (na verdade eles
nunca se casaram)...
Tudo estava preparado e agora era hora de
Benedito sair de casa com sua filha Ana Elisa
e deixar apenas as mulheres para àquela hora
tão sagrada. Antes de sair, porém, olhou bem
no fundo dos olhos de Dorcelina e deixou a
certeza de que estaria ali do lado de fora, bem
pertinho... Seus olhos estavam rasos de
lágrimas!
...
Duas horas se passaram, a casa está repleta
de panos molhados espalhados pelo chão, as
ajudantes de Cypriana colocam mais água no
fogo, Dorcelina se contorce e nada desse
bebê nascer.
D. Cypriana, uma mulata forte, de pele
aveludada e olhos cor de mel, esvaía-se em
suor, afinal, era sua filha que estava ali... Ela
não podia esmorecer.
A chuva já havia cessado e apenas uma leve
garoa caía do céu. Uma forcinha ali e outra
dali e, de repente um choro forte e d.Cypriana
pega nos braços sua mais nova neta. Ao ouvir
o choro vindo de dentro da simples casa de
sapê, Benedito que estava rezando pra todos
os santos que ele conhece e para os que não
conhece também, entrou porta adentro e só
sabia dizer para sua amada:
- Obrigado, obrigado!
Dois dias depois do parto, Dorcelina escolheu
o nome para o seu bebê:
- Ela será chamada de Therezinha.
...
Os primeiros anos de vida de Therezinha não
foram tão fáceis, porém, foram felizes na
medida do possível, o que ela não sabia, no
entanto, era que o pior ainda estava por vir.
Aos dez anos de idade ela experimenta a dor
da separação: seus pais outrora tão
apaixonados e unidos decidem romper o
relacionamento de quase15 anos.
A família se desestrutura e agora Dorcelina se
vê obrigada a mandar Therezinha trabalhar na
casa de d.Firmina, uma gentil senhora que
sempre solicitava os serviços de Dorcelina
para lavagem de roupas e costura. Thereza
torna-se dama de companhia de d.Firmina
que já entrava em seus 60 anos de idade.
Uma infância tolhida pela necessidade... Algo
não muito diferente do que acontecia com as
meninas pobres de sua época.
conhecem, começa a trabalhar na casa de
d.Carmem Miranda, um casarão situado na
rua Dr. Wanderley. Thereza é muito querida
pela família Miranda e é tratada com muito
respeito; foi contratada para tomar conta da
pequena Christianne e também ajudar com
pequenas tarefas.
Vivendo na casa de D. Carmem, Thereza
passa a freqüentar as missas de Domingo na
igreja Matriz e foi lá, que conheceu Eunice e
Dorinha, aquelas que se tornariam suas
melhores amigas e, futuramente, comadres.
Thereza tinha uma história de vida muito
parecida com a de suas amigas: nem
bonecas, nem estudos, porém, uma alegria no
coração que poucos entendiam.
As três amigas passaram a se encontrar todo
final de missa na pracinha da cidade, ali elas
conversavam, brincavam e eram paqueradas
pelos rapazes daquela região. Thereza era
E, foi em uma quermesse, que Thereza
conheceu o amor. Mario Lucio era o seu
nome,um jovem um pouco mais velho que ela,
atraente, educado e de boa lábia.
- Olá senhoritas! – disse Mário com um sorriso
encantador ao aproximar-se das moças
naquela praça.
-Oi! – respondeu timidamente Dorinha.
Eunice mais esperta, logo percebeu que o
rapaz se dirigia exclusivamente a Thereza,
então puxou Dorinha para o canto e os deixou
sozinhos.
Suas amigas gostam mesmo de você não é
mesmo? –Disse Mário.
-Acho que sim. – Respondeu Thereza com os
olhos fitos no chão.
- Desculpe-me: Meu nome é Mário Lúcio,
mas, pode me chamar de Lúcio e você? Qual
a sua graça?! - Perguntou Mário estendendo a
mão para Thereza.
- Meu nome é Therezinha!
- Lindo nome. - Falou o rapaz beijando
suavemente sua mão.
Neste momento Thereza sentiu algo que
nunca havia sentido antes. Um arrepio subia-
lhe pela espinha e acelerava-lhe o coração.
Parecia que estava embriagada, não sentia os
pés no chão... Momento este que foi
interrompido pela voz de Eunice chamando-a
para irem embora.
Mário despediu-se das moças e prometeu a
Thereza que estaria ali naquela praça a sua
espera na terça-feira, dia de novena.
No caminho para casa Thereza não abriu a
boca, estava flutuando e, naquela noite,
dormiu suspirando...
...
Mário e Thereza começaram a namorar.
Foram meses maravilhosos e de muita
intensidade, cada dia um amor crescente,
cada encontro uma explosão de prazer e
paixão. Até que, Mário diz para Thereza que
terá que ir para o Rio de Janeiro com a
empresa em que o pai dele trabalha,
conseguiu um estágio e não poderia perder
aquela oportunidade, que era uma raridade
para negros.
Novamente Thereza experimenta a dor da
separação e sente-se dilacerada pelo amor...
D.Carmem percebe que Thereza está mais
calada, quieta e apática, então decide chamá-
la para uma conversa e daí descobrem que o
que acontece nada mais é do que: Gravidez.
E agora, o que fazer?
Negra, analfabeta, pobre, solteira e grávida.
Que futuro restaria para uma menina tão
jovem nessas condições? No auge de seu
desespero e dor, d.Carmem abraça-lhe com
carinho e lhe dá o apoio necessário.
Mário Lúcio? Daquele dia até hoje nunca mais
se teve notícias daquele rapaz tão lindo e
apaixonante.
...
Na casa de d.Carmem, Thereza ficou até o
nascimento de seu bebê e ali foi uma grande
escola, pois ela aprendeu a ser mãe, boa
dona de casa, administradora e muito
organizada.
Seu bebê, uma garotinha, tornou-se afilhada
de d.Carmem e virou o xodó da família o que
estreitou ainda mais o laço de amizade entre
elas. Thereza deu-lhe o nome de Lucimar em
homenagem ao homem que lhe iludiu, mas
que também lhe proporcionou momentos
inesquecíveis de felicidade...
Lucimar completa dois anos de vida e agora
Thereza precisa mudar-se de emprego. D.
Carmem já havia providenciado tudo, ela iria
ganhar um pouquinho a mais e teria mais
tempo livre para cuidar da filha.
A despedida foi triste demais, pois, Thereza
acreditava que passaria a vida servindo
àquela que tanto lhe ajudou, porém, uma
certeza d.Carmem deixou no coração da
jovem Thereza ao dizer-lhe: “você não está
saindo daqui de casa como uma empregada,
mas como uma filha”. Aquela casa estaria
sempre aberta para ela e sua filha.
...
Thereza agora é empregada de d.Cirene, uma
bondosa religiosa que teve um de seus partos
feitos por d.Cypriana, que era avó de Thereza.
Quando soube da situação que a jovem se
encontrava, não hesitou nem um pouquinho
em prestar-lhe ajuda. Levou-a para sua casa
na rua 13 de Maio e lhe deu o emprego de
cozinheira. O tempo foi passando e uma
cativou o coração da outra e tornaram-se
grandes amigas. Mais tarde d.Cirene passaria
a ser chamada de vó Cirene pelos filhos de
Thereza – era assim a relação das duas: mãe
e filha!
...Aos vinte e um anos, seu coração ainda
suspirava por seu 1º amor, havia uma leve
esperança de que ele chegaria de uma hora
para outra em um daqueles vagões do trem,
não era nada incomum pegá-la suspirando e
olhando sem direção próxima a Estação.
Numa manhã de sábado, enquanto fazia a
feira na praça do comércio, Thereza se vê
cortejada por um homem bem mais velho que
ela. Não dá muita importância e vai embora.
No domingo, porém, quando entra na igreja,
dá de frente com o mesmo homem que lhe
oferece o lugar para sentar-se visto que a
igreja já estava lotada e ela estava com sua
filhinha nos braços. Daquele momento em
diante ficou difícil fugir de tantos galanteios, o
mineiro era persistente.
- Talvez você esteja pensando que quero
brincar com seus sentimentos, dizia o
mineirinho Zé.
- Já passei por isso moço, e não “tô” aqui pra
sofrer de novo não. - respondeu Thereza.
- Como posso provar que tenho boas
intenções com a senhorita? Leve-me até os
seus pais, quero casar-me com você!
- De boas intenções o inferno está cheio meu
senhor!!!
Falou assim e saiu sem olhar para trás.
...
Não foi fácil seduzir aquela negra fascinante,
mas, Zé não desistiu.
D.Cirene viajou para a capital do Estado e
deu alguns dias de folga para Thereza então
ela aproveitou esses dias para estar junto de
sua mãe que mora em Celina. Duas horas
depois e chegar a casa de sua mãe, uma
surpresa: Zé apareceu levando uma apetitosa
peça de queijo mineiro junto com uma barra
de rapadura.
Dorcelina se encantou com o rapaz,
acreditando primeiro, que este era o pai de
sua neta Lucimar; conversa vai, conversa vem
e ela logo entendeu que se tratava de outra
pessoa.
...Três meses, foi o tempo necessário para
José Dias conquistar o coração de Thereza e,
uma vez conquistado lá estava a jovem mais
uma vez envolta nos laços da paixão, só que
dessa vez será diferente, ela iria casar-se,
construir uma família, ter uma casa só dela.
De fato, o mineiro não estava brincando com
os sentimentos de Thereza, assumiu-a junto
com sua filha e deu um lar, simples, mas um
lar para as duas.
...
... Não demorou muito e Thereza já estava
grávida de seu segundo bebê. José estava
trabalhando na Fazenda Fortaleza e vinha em
casa de dois em dois dias, ele era um homem
amável e dedicado. Thereza trabalhava na
casa de d. Cirene pela manhã e no finalzinho
da tarde ia para a casa de d.Petrolina ,na rua
Antônio Marins, engomar roupas.
Foi assim até os sete meses de gestação,
Thereza estava enorme e já não agüentava
tanto esforço, passou o serviço de d.Petrolina
para a sua amiga Eunice e, Dorinha, começou
a ajudá-la na casa de d. Cirene.
No dia 18 de março de 1965 nascia sua
segunda filha, Sônia Maria, fruto do amor de
Zé.
Thereza apesar da vida simples e trabalhosa
que vivia, sentia-se no céu. Tudo corria bem,
as meninas cresciam saudáveis, seu pai
Benedito veio passar uns dias em sua casa e
ajudava a olhar as meninas enquanto ela
trabalhava, d. Cirene mudou para uma casa
maior na rua 23 de maio e contratou Dorinha
para arrumar a casa enquanto Thereza
cozinhava e passava. Tudo ia as mil
maravilhas até que Zé é dispensado da
Fazenda Fortaleza, começa então a trabalhar
na construção de uma mercearia na rua
Antônio Marins, só que agora,trabalhando
perto, passa a chegar só de madrugada em
casa . A desconfiança não deixa Thereza em
paz e ela começa a cheirar as roupas de Zé e
a observar os passos de uma vizinha que há
muito está lhe “incomodando”.
Suas suspeitas estavam certas, Zé e
Conceição estavam “de caso”.
- Olha Zé, vou te avisar só mais uma vez: se
vocês continuarem com essa pouca vergonha
eu vou dar uma surra na Conceição e jogar
suas roupas no quintal.
- Deixa de besteiras Thereza, nem converso
com essa mulher!
-Não me provoca homem que você me
conhece!
- Thereza, eu jamais vou trocar você por outra
mulher.
Essas foram as palavras mais duras que
Thereza ouviu em toda a sua vida!!
... Conceição já sabe que Thereza descobriu a
traição de Zé e para desdenhar começa a
cantarolar algumas músicas provocativas na
intenção de irritá-la.
Certo dia na beira do rio, enquanto lavavam
roupas, Conceição passou e esbarrou em
Thereza jogando-a em cima de uma pedra
onde estavam algumas roupas quarando.
Enfurecida Thereza partiu para cima dela,
mas, no primeiro golpe, sentiu uma forte dor
na barriga, começou a sangrar e não viu mais
nada.
Dorinha segurava na mão de Thereza quando
esta despertou, estava pálida, gélida e sem
viço.
- O que aconteceu? Cadê aquela ordinária?
-Calma Thereza!
- Mãe? O que faz aqui?
- Eu estava acabando de chegar em sua casa
quando te trouxeram carregada nos braços
pra cá minha filha!
- Não me lembro do que aconteceu só sei que
ia dar uma surra naquela...
Calma filha! O que você tem que fazer agora
é se alimentar bem e fazer repouso para
segurar essa criança que está aí na sua
barriga!
- O quê?
Thereza estava novamente grávida!
...
O tempo passa e José parece mais calmo,
deve ter tomado jeito. Conceição foi para a
casa de uma tia em Rive e deixou o casal em
paz. Thereza resolve ir para a casa da mãe
em Celina enquanto José viaja para Minas
Gerais a serviço...Thereza já tem com 24 anos
e está com uma gestação de oito meses.
... Na manhã do dia 14 de fevereiro de 1967,
Thereza sofre mais uma dura desilusão: o
mineiro que acabava de chegar de viagem a
abandona com uma “barriga de oito meses e
meio”.
- Thereza tô indo embora!
- deixa de besteira homem, venha ver como
nosso filho está mexendo!
- Tô indo agora mesmo, vá arrumar minhas
coisas!
- Olha Zé! Será que dessa vez vai ser um
menino? Tá mexendo tanto!
- Você nunca me levou a sério mesmo! Você
não sabe que eu não te amo mais?Vou ir pra
Cachoeiro encontrar a Conceição.
- Por que você tem que falar nessa mulher?
Quer estragar o meu dia?
- Olha, eu tentei mais com você não dá pra
conversar, vou pegar o trem pra Cachoeiro
agora!
- Zé! José! Você tá brincando comigo não tá?
Nosso filho vai nascer por esses dias,você
não vai fazer isso comigo vai?
José pegou sua sacola com as poucas roupas
que tinha, virou as costas e sumiu rua afora.
Thereza se desesperou e começou a gritar.
... Quanto sofrimento e dor!
Agora sim ela saberia o que é padecer!
Após o nascimento de seu terceiro filho, agora
um menino, Thereza vai trabalhar na casa da
família Albuquerque, Sr. Enock e d. Dulcinéia,
moradores da Praça da Bandeira e muito
amigos de d. Firmina. O casal recebeu a
Thereza como membro da família uma vez
que as referências que tinham dela eram
muito boas. Não demorou muito e Thereza era
a babá mais querida dos três filhos do casal.
Por certo, Thereza foi uma luz na vida dessa
família e serviu como arrimo num dos
momentos mais tristes e cruciais que eles
passaram... Era festa na cidade, as ruas
enfeitadas, os altos falantes anunciavam a
todo instante a programação festiva. Ia ter
desfile escolar e, todos estavam orgulhosos
da pequenina Ana que iria desfilar pela
primeira vez.
Thereza já havia engomado a blusa branca, a
saia plissada e a gravata da pequena
menininha, Sr. Enock fez questão de pagar ao
melhor engraxate da cidade pelo brilho no
sapato preto de sua amada filha e, para esta
ocasião, d. Dulce ( assim era chamada pelos
amigos) não abriu mão de um par de meias
três quartos novas para Aninha.
Estava tudo pronto quando, de repente, ouve-
se um alvoroço na rua. Todos saem correndo
para o portão e se deparam com a seguinte
cena:
“Uma criança linda estirada no chão enquanto
alguns tentam anotar a placa daquele Belina
que saia em disparada.”
- Oh meu Deus! É minha filha! – gritava d.
Dulce.
- Não pode ser! Diga que não é verdade! –
clamava sr.Enock.
Não demorou muito e a ambulância chegou e
ao prestar os primeiros socorros constatou o
que ninguém queria saber: Aninha estava
morta!
Um pavor inundou aquela cidade; ruas
enfeitadas, banda de música, holofotes,
desfile escolar... Tudo se silenciou!
...
Por um único instante e deu-se esta tragédia.
Aninha ouviu o anúncio de que o desfile em
menos de uma hora iria começar, então, com
medo de chegar atrasada foi até o portão a
fim de chamar seu pai que fora atender a um
caixeiro viajante que chegou a porta. Não
obstante, seu pai já havia entrado pela porta
da cozinha, Ana percebeu que o portão estava
aberto e, vendo outras crianças indo em
direção a praça, resolveu sair também. Dois
passos somente além do portão foram o
suficiente para que um motorista imprudente e
irresponsável ceifasse-lhe a vida.
Que ano difícil e doloroso para aquela
família... Só mesmo uma amizade tão forte e
sincera seria capaz de amenizar um pouco de
tanta dor.
Essa amizade estava ali e seu nome era
Thereza.
...Durante alguns anos Thereza trabalhou com
“tia Dulce” cuidando de Denise e Renato. No
período que ficou com eles, permaneceu
sozinha; demorou muito cicatrizar as feridas
causadas pelas desilusões que sofrera. Seu
maior objetivo agora era trabalhar e criar os
filhos que a vida lhe deu...
Denise e Renato cresciam e já não
necessitavam de uma babá, dessa forma
então, Thereza resolveu tentar uma vaga que
havia como cozinheira no Bar e Restaurante
Pico da Bandeira. Por sempre ter trabalhado
para famílias tradicionais e ilustres da cidade
não foi difícil conseguir um teste para o cargo.
...
Dois meses como ajudante de cozinha e,
numa manhã de quinta- feira chega até o
balcão onde Thereza fazia a limpeza de copos
e de garrafas de vinhos, um atraente viajante
que lhe pergunta o preço de um prato feito.
Thereza fica atônita com aquela voz tão
aveludada e não consegue responder, como
uma adolescente sai correndo e entra
esbaforida na cozinha.
Ás 20:00h daquele mesmo dia Thereza foi até
a pracinha como de costume com suas
amigas e enquanto batiam o maior papo,
sentia-se atraída por um olhar vindo da
barraquinha de algodão doce. Tentou até
fingir que não percebia aquele olhar,mas, a
força da atração era tão forte que parecia
chamar-lhe pelo nome.
Chamou Ritinha e foram até o carrinho de
pipoca para tentar sondar quem era aquele
homem misterioso. Quando estendeu a mão
cheia de moedas para pagar o saquinho de
pipoca, ouviu uma voz que lhe arrepiou a
alma:
-Deixe que eu pago senhorita!!
Thereza virou-se e quase caiu para trás: era
aquele viajante do restaurante.
...Cláudio era o seu nome e, por maravilhosos
cinco meses, Thereza conheceu o amor
novamente.
Tudo era perfeito? Não dava para acreditar
nisso.
Cláudio viajou e, assim como Mário Lúcio,
nunca mais se ouviu falar nele.
...
O cerco aperta. Cláudio abandonou Thereza
deixando-a grávida de três meses.
Assim que souberam de sua gravidez, lá no
restaurante, dispensaram-na e, Thereza se viu
desempregada, com três crianças pequenas,
grávida e sozinha. O jeito agora seria voltar
para a casa da mãe em Celina e ir trabalhar
na lavoura colhendo café.
... Uma semana após ter voltado para Alegre,
no dia 23 de março de 1971, aos vinte e oito
anos, Thereza ganha seu bebê Sebastião
Cláudio, parto feito por sua própria mãe
Dorcelina.
Thereza agora manda sua filha Lucimar para
trabalhar em Minas Gerais na casa de
Christianne, filha de d.Carmen, que agora era
madrinha de Sônia, José Márcio e Cláudio.
Quatro anos após o nascimento de José
Márcio o pai de Thereza passa a morar com
ela, pois ficou viúvo da segunda mulher e, por
coincidência, sua irmã Ana Elisa junto com as
filhas, também se muda para Celina e vai
morar com a mãe porque o marido a
abandonou.
Thereza consegue serviço na Praça do
comércio, trabalhando fazendo a escolha do
café. O único problema era que lá também
trabalhavam umas mulheres que a noite
“faziam vida”. Quando soube que Thereza
estava trabalhando lá, vó Cirene logo deu um
jeito de chamá-la para uma conversa.
Thereza prometeu para vó Cirene que jamais
iria andar com tais mulheres, mas, que não
tinha como abandonar aquele serviço.
...
Benedito adoece e quando menos se espera
vem a óbito. Uma tristeza muito grande sufoca
o peito de Thereza e ela promete enterrar seu
pai com dignidade. Juntou suas reservas e
comprou o melhor caixão que seus réis
podiam pagar.
... A vida continua e Thereza tinha que
sozinha sustentar seus filhos. Certa ocasião,
com a dispensa vazia, um fato comovente
aconteceu:
- Mamãe tô com fome!
- Eu sei minha filha, você e seus irmãos estão
desde ontem a tarde sem comer nada,mas eu
vou dar um jeito nisso.
- Mãe, traz broa pra gente.
-Trago sim Claudinho!
- Se a senhora quiser eu vou vender banana
na praça igual ao vovô – disse o filho José
Márcio.
- Sônia, cuide de seus irmãos que eu já estou
voltando.
Thereza saiu com um nó atravessado na
garganta. Sem rumo ela pensou até mesmo
em conversar com a Cidinha, a amiga que
conseguiu o serviço para ela na Praça do
comércio.
Antes porém, resolveu passar na casa de vó
Cirene para ver se tinha roupa para lavar e
engomar. Chegando lá ,vó Cirene disse que
as roupas já estavam até guardadas, mas que
se Thereza quisesse poderia preparar o
almoço, pois ela iria receber visitas.
Thereza nunca cozinhou com tanta rapidez
assim na vida. Cada pitada de sal, cada
verdura picada, cada fritura fazia com que ela
pensasse nos seus filhos em casa sem ter o
que comer.
Ao terminar o almoço despediu se de vó
Cirene na intenção de receber e ir direto fazer
umas comprinhas, mas, para surpresa sua,
ela mandou-a almoçar e também arrumar
comida e levar para as crianças, além de
pagar-lhe pela manhã de trabalho. A comida
descia como sopa em sua garganta tamanha
a felicidade. Thereza não via a hora de chegar
a casa e abraçar seus filhos e dar-lhes de
comer. No caminho de volta outra surpresa,
encontra-se com madrinha Carmem que já ia
a sua casa então lhe entrega um envelope
lacrado e diz para abri-lo só em casa.
Se até então Thereza duvidasse da existência
de Deus, neste dia ela passaria a acreditar
piamente n’Ele, ao abrir o envelope ficou
admirada:em notas de réis tinha o equivalente
a dois meses de compras com direito a broa
de fubá todos os dias. Naquela noite o céu
desceu naquela simples casinha de sapê e
Thereza dormiu com o coração leve como
uma pluma.
Agosto de 1972 - Thereza recebe a notícia
de que sua mãe está doente e sozinha, sua
irmã foi morar no Arraial do café com o novo
namorado.
Chegando a Celina Thereza fica apavorada
em ver sua mãe. Ela estava em um quarto
escuro gemendo de dor e dizia que não podia
olhar pra claridade, pois, seu olho direito doía
muito. Thereza tentou levá-la ao posto médico
em Alegre ou até em Guaçuí, mas, “vó Doce”
(como era chamada pelos netos) resistiu
preferindo que a filha cuidasse dela ali mesmo
em casa e com “remédio de mato”.
Quinze dias nessa agonia e de repente vó
Doce melhorou, mas, sua vista tapou e nunca
mais ela enxergou com o olho direito.
...
Um ano se passou e Ana Elisa voltou a morar
com a mãe o que deixou Thereza menos
preocupada.
Sua filha Lucimar retorna para Alegre e junto
com sua irmã Sônia começam a trabalhar na
casa de vó Cirene e também voltam a estudar.
Thereza agora trabalha na mercearia dos
Meneguetis e é lá que conhece Tião. Um
mulato forte, bonito, um pouco mais jovem
que ela e “atraentemente” mal humorado.
-Você está sempre por aqui?
- Eu trabalho aqui!- respondeu Thereza sem
dar muita atenção a quem lhe perguntava.
- Meu nome é Tião e você como se chama?
- Desculpe-me senhor, mas eu estou
trabalhando, se quiser conversar comigo
precisa ao menos consumir algo.
- Então me sirva uma dose da sua melhor
cachaça.
Thereza desapontada serve ao homem que
lhe perturbava os sentidos...
...
Não demorou muito e Thereza já estava nos
braços de Tião. Desta vez, porém parecia que
o negócio iria mais além e, em poucos meses
eles foram morar juntos, agora, em um morro
periférico da cidade: “morro do querosene”.
Tudo eram flores no início deste
relacionamento, Thereza levava consigo
quatro filhos e Tião três. A família era bem
grande, mas o amor era bem maior... Ela
finalmente encontrara a completitude.
Sebastião era um homem de negócios e
pensava alto, não demorou e conseguiu
ampliar o terreno da casinha onde moravam e
também conseguiu comprar outras casinhas
das quais ele alugava por um preço acessível
aos inquilinos.
Sete meses se passaram e tudo corria bem
até que a mãe de Sebastião fica adoentada e
vai morar com a família, tudo tranqüilo, uma
vez que ela é uma senhora bem prestativa e
amável. Nesta mesma ocasião Thereza
descobre que está mais uma vez grávida.
...Em 27 de Setembro de 1973 nascia Marcos
Elias, filho de Tião e Thereza e, foi só passar
o resguardo que Tião começou a aprontar e
as coisas começarem a mudar na vida
daquela família.
Dois anos de muita luta: bebida, brigas,
ciúmes, machismo, mulheres... Alegre fica
pequena demais para as armações e
encrencas de Tião, a mais grave delas
causou-lhe a perda da visão no olho esquerdo
e também dezessetes cicatrizes de facadas
nas costas.
Vender tudo e tentar a vida em Cachoeiro foi a
decisão tomada e enquanto isso se
processava Thereza descobre que está
novamente grávida.
...
Muitas agruras e decepções acontecem na
vida de Thereza e para piorar a situação sua
saúde fica debilitada... No dia 24 de abril, aos
34 anos, nasce na Maternidade São José, de
uma cesariana complicada seu último bebê,
uma menina, que precisa ficar internada
alguns dias devido a suspeita de um problema
no coração.
... Final de 1977, a família muda-se para
Cachoeiro e alugam uma casa no bairro
Baiminas onde residem por um ano e meio.
Nesta mudança eles trouxeram muitas
“bagagens”,mas também deixaram outras. A
“vida” obrigou Thereza a renunciar e abdicar
mesmo de muitos valores, renúncias essas
que certamente deixaram marcas de remorso
e dor por uma vida inteira, mas... A vida
continua e tem coisas que não voltam mais.
Tião e Thereza se estabilizam
profissionalmente, logo ele começa a trabalhar
na Prefeitura da cidade e ela como doméstica
na casa de d. Terezinha. Daí eles compram
um terreno no bairro Parque das Laranjeiras
km90 e, não demora muito, mudam-se para lá
na intenção de deixar o aluguel. Na rua
projetada em que construíram um pequeno
barraco de madeira havia poucos moradores e
ainda não possuía rede elétrica nem de água
e esgoto. Foi um período difícil, mas que
durou menos de um ano, depois, com muita
garra e coragem, juntos, construíram uma
casa com seis cômodos muito confortáveis.
Os anos foram passando e as coisas
pareciam estar melhorando para a vida dessa
família até que um dia, numa tarde de sábado,
após Thereza chegar cansada do serviço,
Tião chega quebrando tudo dentro de casa.
Ele estava irreconhecível devido à ingestão
desenfreada de bebida alcoólica, isto, não era
novidade para Thereza, o que a assustou foi a
bagunça que ele fez em casa, isto sim foi algo
inédito...
...
... Thereza agora é cozinheira do Restaurante
de d. Lourdes que mais tarde pertencerá a d.
Jucy, esta se tornará uma das melhores
amigas e companheiras de Thereza.
Nesta trajetória de batalhas, Thereza conhece
d. Geralda e d. Aureny que se tornam um
porto seguro para sua alma, anjos mesmos
que Deus envia para cuidarem de seu carente
coração. É nessas amigas que ela encontra
forças para não desistir de tudo uma vez que
a cada dia parece que Tião piora: farras,
bebidas, cheiro de “perfume barato”, fumo,
brigas,ciúmes... É essa a rotina diária naquela
casa.
As crianças já crescidinhas começam a ver e
entender o que se passa naquele lar...
Quando menos espera, Thereza descobre que
a vizinha está grávida de Tião, com quem
tinha um caso desde que mudaram para o
bairro.
- Por que você fez isso comigo Tião, tenho
sido sua companheira e cuidado de você e
dos seus filhos com tanto zelo, eu não
merecia isso!
- Thereza, esse filho pode até não ser meu.
Ela é casada, pode ser do marido dela.
- Claro que não Tião, ela mesma falou que
este filho é seu!
- Você está ficando doida, só está arrumando
um pretexto pra me abandonar.
- Você está bêbado Tião! Quando essa bebida
sair de sua cabeça então conversaremos.
...
Julho de 1981, Thereza é chamada as
pressas na Santa Casa de Misericórdia pois
seu filho Marcos Elias havia acabado de ser
atropelado por um carro, na av. Jones dos
Santos Neves, enquanto ia para a escola. O
menino teve que ser operado com urgência e
corria risco de vida.
Após o grande susto, veio a notícia de que a
cirurgia foi bem sucedida e, dois dias após o
menino iria para o Hospital Infantil onde
permaneceria por quase um mês internado.
Não bastasse isso, a filha caçula também
adoece e fica internada em estado grave no
Hospital Infantil.
...
... Aos quarenta anos, Thereza conhece os
sócios Onézio e Toninho, donos do
Restaurante Honda e começa a trabalhar
como cozinheira para eles. Tião continua na
Prefeitura, mas não dá pra contar muito com
sua ajuda financeira porque continua com
aquela vida promíscua. Ele até é um homem
bom, acreditava ela, porém a “maldita”
cachaça tirava-lhe a sensatez.
... Tião não tomava jeito mesmo, cada dia era
uma história nova para as suas chegadas de
madrugada em casa, nem mesmo o fato de
sua filha estar internada e Thereza operada
de varizes e cravos faziam com que o homem
dormisse em casa. O que será que ele fazia
até tarde fora de casa?
Quem ainda tiver dúvidas que tente
adivinhar!!!!
Apesar de uma vida marcada por tantas
decepções, dores e sofrimentos, Thereza era
uma mulher que trazia sempre um sorriso nos
lábios. Era forte, guerreira, corajosa e contava
agora com a fé que ardia em seu peito e a
fazia crer que o seu Redentor está Vivo e que
em breve lhe traria a “salvação.” Thereza
tornou-se evangélica servindo ao Senhor na
Igreja Assembléia de Deus como congregada.
Assim aconteceu a sua conversão.
Chovia muito e Tião chega em casa todo
molhado:
- Tião, onde você estava até agora! Você está
todo “ensopado”, vai pegar um resfriado!
- Não estava aonde você tá pensando não!
- Como não?! Você está bêbado, fedendo,
onde mais poderia estar?
- Eu estava na igreja daquele pastorzinho!
Aquele que trabalha lá na prefeitura também
lembra, que sempre te falo sobre ele?
-Ah Tião, você nunca foi numa igreja, nem no
batismo de seus filhos, ainda mais numa
igreja desses crentes. Como posso acreditar
em você? Vá tirar essa roupa molhada!!
- Estou falando sério mulher e tem mais, falei
com o pastor que quarta-feira você e as
crianças irão também.
- Eu aceitei a Jesus e agora Ele ta morando
aqui no meu...
Tião mal conseguia parar em pé porque
depois que participou do culto parou no
boteco do seu João e tomou três doses de
cachaça como de costume...
Quarta -feira, 1978- Igreja Evangélica Ass.de
Deus do Bairro Baiminas.
Thereza entra timidamente na congregação e
logo é recepcionada por um grupo de
mulheres muito simpáticas, as crianças são
colocadas sentadas perto de outras crianças e
assim participam do culto.
Os louvores da harpa cristã soam como
melodias do céu para o coração de Thereza,
sua alma fica leve, ela pedi para que esse
momento dure uma eternidade e, na hora da
mensagem não há mais dúvidas: ela precisa
desse Deus Bondoso em sua vida.
Quando o pastor faz o apelo imediatamente
ela se coloca de pé e vai até a frente, dobra
os joelhos e começa a chorar. Sua alma anela
por Deus e ali sela uma aliança que não terá
fim.
Se durante todo o tempo em que estiveram
juntos, Tião não tivesse feito como homem,
nada louvável para Thereza, de uma coisa ela
não poderia jamais se esquecer: foi através de
uma atitude dele que ela conheceu a “Pessoa
Bendita de Jesus Cristo”.
...
... Thereza era muito cativante e isto a tornava
amiga e conhecida de muita gente e, foi
através dessas amizades que ela descobriu
que Tião estava com outra mulher e que o
caso era mais sério do que se podia imaginar.
Ele comprou um terreno no bairro Village da
Luz e estava construindo para esta mulher.
Daí não parou mais e Tião tornou-se um
marido e pai ausente por diversas vezes: as
crianças se machucavam – ele ausente;
quebravam braços e pernas – cadê Tião?
Um dia o filho Marcos ficou soterrado por um
barranco que caiu, os vizinhos ajudaram e
tiraram-no com vida, mas, Tião só soube no
dia seguinte. Sua filha caçula foi internada em
estado grave novamente e ele de tão ausente
nem ficou sabendo, quando retornou pra casa
a filha já estava melhor.
Thereza estava cansada de tanto sofrimento,
ainda não entendia que o fato de servir Ao
Senhor não lhe impediria de passar por
provações e lutas constantes...
Tião resolveu assumir a amante de forma tão
descarada que levava os próprios filhos para
ajudar na construção da casa para a mesma
e, se não bastasse isso, ainda levava para ela
da comida que a própria Thereza fazia.
Thereza no desespero em ver seu
“casamento” desfeito resolve junto com a
amiga e comadre Eunice, entrar por uma porta
“estranha” a fim de separar o novo casal. Algo
interessante porém acontece: para surpresa
de Eunice e “benção” para Thereza, a tal
cartomante e feiticeira havia sido regenerada
pelo poder transformador de Jesus Cristo e de
feiticeira foi transformada em irmã do Círculo
de Oração e profeta na Casa de Deus.
Thereza descobre onde é a casa da mulher de
Tião e vai até lá. Chegando se depara com
uma situação deplorável: a casa está sem
energia, não tem água e a mulher está
passando necessidades. Thereza conversa
com ela e pede para que desista de continuar
com o romance com Tião, mas, para tristeza
ainda maior, ela revela que está grávida.
... Thereza está decidida a separar-se de Tião,
pois, não demorou muito passar o resguardo e
novamente a amante estava grávida. Como
aceitar passivamente uma situação como
esta? Coitada, mas, era apenas o início de
muitas decepções que ainda aconteceriam em
sua vida.
O tempo passa e, numa bela manhã de
segunda-feira, aparece e, passa a freqüentar
diariamente o restaurante, o mineiro José, um
dos pais dos filhos de Thereza, aquele
mesmo, que a abandonou grávida de oito
meses.
... José começa a “cercar” Thereza com a
promessa de que tudo seria diferente dessa
vez, dizia nunca tê-la esquecido e que ela era
o grande amor de sua vida. Falou ainda que já
sabia de tudo quanto ela estava passando e
até mesmo sobre a amante de Tião ele já
tinha relatório.
Rever aquele mineirinho mexeu muito com
suas emoções...
...
Sebastião e Thereza já não vivem bem, eles
brigam muito e a cada dia que passa o
respeito parece que diminui entre os dois.
Thereza continua na igreja, mas não tem
liberdade para estar presente no culto porque
apesar da vida promíscua de Tião, ele tem um
ciúme doentio por ela. Diz ele que ao invés
de ir para a igreja ela vai se encontrar com o
“Zé boi”, um homem que mora na rua abaixo
da igreja onde congrega e que vive fazendo
serenata que, “dizem as más e boas línguas”,
são para ela.
Na verdade, mais tarde descobriu-se que Zé
boi era realmente apaixonado Por esta “nega”
cativante.
Um ano se passou e Thereza decide separar-
se de Tião e dar uma nova chance a José, no
entanto, ela agora tem consciência de que sua
vida não é mais a mesma e que não pode
viver nesta situação porque já estava
separada de corpos mais ainda morava na
mesma casa com Tião. Foi uma decisão
difícil, mas ela tomou coragem e disse para
Tião que iria sair de casa já que ele não abria
mão das duas mulheres que tinha.
...Alguns meses de namoro e Thereza
desafiam a José dizendo que só continuaria
com ele se ele assumisse o compromisso de
casar-se com ela. Ele prontamente diz sim!!!
...
... Noite chuvosa e Tião reclama de dores no
peito. Amanhece e chega a notícia de que o
tio de Tião, vindo de São Paulo, sofre uma
parada cardíaca e não resiste. Tião vai até o
IML e assiste a autopsia...
No velório, um pouco antes do enterro, Tião
reclama de dores e dormências nas mãos e
pernas.
Tio Tatão é enterrado no Cemitério Municipal
do Coronel Borges. Tião vai embora sem dizer
uma só palavra. Não janta e fica “moribundo”
pela casa.
Dia seguinte... Tião é levado às pressas para
a Santa Casa de Misericórdia e lá fica
internado no CTI com o diagnóstico de
Acidente Vascular Cerebral. Começa aí uma
rígida, dolorosa e longa jornada; para Thereza
era hora de esquecer-se das decepções e
mágoas e amparar e cuidar do pai de seus
filhos, os planos feitos foram desfeitos sem
nenhuma sombra de dúvidas de que era o
melhor a se fazer.
Thereza vai todos os dias ao hospital,
acompanhava cada progresso e cada recaída
e assim seguiu sua vida nesta labuta diária.
Devido ao serviço no restaurante, o hospital
abriu uma exceção para que ela visitasse seu
esposo fora do horário de visitação, isto
ocorreu depois de muito diálogo e
intermediação de Onézio, dono do restaurante
junto ao médico diretor do hospital.
... Se é certo que algumas pessoas nasceram
marcadas para sofrer, Thereza, em muitos
momentos deve ter pensado ser uma delas...
Faltavam dois dias apenas para Tião receber
alta e Thereza já estava disposta a abandonar
a possibilidade de uma vida melhor ao lado de
José para permanecer com Tião, até que,
banhada em suor e quase sem fôlego, chegou
à portaria da Santa Casa e foi barrada pelo
porteiro:
- Aonde a senhora vai? É em alguma seção
particular?
- Não, eu vou visitar meu esposo que está
internado aqui, mas, não é particular não!
- Minha senhora o horário de visitas já expiou
há duas horas, agora a senhora não pode
entrar mais.
- Como não meu rapaz? Eu estou autorizada
a visitar meu marido sim!
- Quem é a senhora? Talvez eu possa fazer
alguma coisa - disse o porteiro com muita
gentileza.
Thereza então explicou toda a situação e falou
o nome do seu esposo para aquele atencioso
porteiro, o mesmo, olhando na ficha e sem
entender nada do que estava acontecendo,
lamentavelmente lhe falou:
- d. Thereza, eu sinto muito, mas, a esposa e
a filhinha do Sr. Sebastião Athaides já estão lá
dentro e ninguém mais pode entrar. Sinto
muito, mas, eu sigo ordens.
... Thereza esvaiu-se em lágrimas, lágrimas
de raiva, de pavor, de decepção, de fúria e de
dor.
Tião voltou para casa e uma semana
após,Thereza saiu, levando consigo os únicos
frutos bons desse relacionamento: “um casal
de filhos.”
... Na semana seguinte a saída de Thereza,
Tião manda buscar a nova companheira para
morar em casa com ele.
Para os parentes de Tião Thereza ficou sendo
vista como uma mulher sem coração, sem
escrúpulos, foram meses ouvindo afrontas e
até calúnias. Os únicos que a apoiaram foram
tio Antônio e tia Terezinha, tios de Tião, mas,
que acompanharam de perto os anos de
dedicação e luta de Thereza.
...
28 de Junho de 1984 – Data escolhida para
realização do casamento entre José e
Thereza por ser também aniversário de
Dorcelina, nada mais singular e carinhoso, a
mãe poder não só abençoar, mas também
participar desse momento lindo e único na
vida da filha. Tudo era festa e muita alegria,
uma cerimônia simples realizada no cartório
de Celina tendo como testemunhas: comadre
Eunice, Tia Dulcinéia e tio Enock, vó Cirene e
madrinha Carmem.
Thereza era só felicidade, agora era uma
mulher casada, possuía um lar de verdade e
poderia concretizar um grande sonho: batizar-
se em águas e tornar-se membro da igreja em
que freqüentava.
Ansiava por nascer de novo e deixar de fato
as velhas coisas para trás.
Sua mãe Dorcelina estava extremamente
emocionada neste dia e confessou para a
filha:
- Você sempre foi a filha querida do meu
coração. Uma filha sempre presente, minha
companheira, minha ajudadora e hoje, você
está me dando o maior presente de
aniversário que eu poderia ganhar. Você está
casando minha filha e isso é um presente de
Deus, o que eu posso de dar é a minha
benção e pedir que Ele te proteja sempre e
sempre. Eu amo você!
Sem palavras, Thereza abraçou fortemente a
sua mãe e chorou... Chorou de muita
felicidade!
06 de Agosto de 1984 – Thereza é batizada
em águas na Igreja Evangélica Pentecostal
em Avivamento, igreja esta que mais tarde
teria sua nomenclatura mudada para
Assembléia de Deus “ministério Vida”.
...
... Três anos se passaram, o relacionamento
do casal ia às mil maravilhas, Thereza
continuava trabalhando com Onézio e Toninho
no restaurante Honda e agora atua como a 1ª
dirigente do Círculo de Oração na
congregação da Ass. de Deus no bairro
Amarelo, onde reside.
No dia 31 de Outubro de 1987, porém,
acontece o maior drama em sua vida:
Dorcelina, seu porto seguro, sua metade, vem
a óbito. Diante de todos os sofrimentos e lutas
passados, nunca se viu Thereza tão abatida e
sofrida. Neste dia de tamanha dor Tião estava
lá dando o seu apoio porque uma coisa não
se podia negar, ele e Dorcelina se davam
muito bem, eram como mãe e filho e,
certamente ele estava sofrendo com a sua
perda. Neste tempo também, vale lembrar,
Tião e Thereza já estavam em paz um com o
outro, o perdão já havia entrado no coração
de ambos e cada um a sua maneira tentava
ser feliz...
... Não demorou muito essa dor ser
amenizada pelo tempo, outra perda
esmagadora: Madrinha Carmem também
“resolve” deixar a filha tão amada.
...
Passaram-se esses anos e as coisas
começaram a mudar drasticamente na vida de
Thereza, aquele mineiro pacato, carinhoso e
gentil deus lugar a um homem arrogante e
avarento. José não mais ajuda nas despesas
da casa e implica com os filhos de Thereza
por mínimas coisas. Aparentemente ele até é
um homem bom,mas,por causa dos filhos que
Thereza trazia de outro relacionamento, ele a
maltratava e, cada vez que deixava de ajudá-
la era como se dissesse: “se fosse somente
você Thereza, eu te daria de tudo e você nem
precisaria trabalhar fora de casa.”
Thereza não abriu mão de seus filhos e, essa
decisão tirou-lhe momentos maravilhosos e
privou-lhe de muitas regalias e coisas boas,
porém, nada neste mundo a faria mudar de
decisão.
“Só a morte será capaz de afastar-me de
meus preciosos filhos”- pensava ela.
Sua vida de batalhas perdurou por muitos
anos só que agora era diferente, ela via o
resultado de tantos esforços e, não só os via
como também usufruía dele.
Aquela moça vaidosa aflorou novamente e ela
voltou a cuidar mais de si: sempre no salão de
beleza da Maria; sempre comprando roupas e
sapatos novos; sempre viajando para o Rio de
Janeiro onde mora a família; sempre
participando de festas, caravanas e
congressos da igreja; sempre preparando
deliciosos banquetes em casa aos domingos
para receber os filhos e amigos.
Muitas provas e dissabores marcaram a vida
de Thereza, mas, nesta escalada Deus
também lhe deu alguns refrigérios: seus filhos
começam a crescer, conquistam carreiras,
tornam-se homens de bem, se casam, dão-lhe
netos e netas. Deus dá-lhe a amizade de Ana,
Maria Marinho e Maria José, amigas essas,
que darão um novo sentido a sua vida.
Reencontra os “filhos do coração” Renato e
Denise e volta a cuidar deles,reencontra “tia”
Jucy, vê seu filho Marcos servindo ao
Exército, seu filho Sebastião Cláudio
trabalhando na Empresa Viação Itapemirim e
“forma” a sua filha caçula em Magistério.
O seu maior e grande sonho, porém, se
realizou no dia 11 de Maio de 1996:
Thereza leva ao altar do Senhor, sua filha
caçula para casar-se com o homem que é
muito mais que genro, é um filho, é um amigo.
Além do casamento da filha, Thereza recebe
outro grande presente: sua filha Lucimar vem
do Rio de Janeiro para o casamento e passa o
dia das Mães com ela.
...
Agosto de 1997:
Mês de bençãos espirituais para Thereza:
começa a trabalhar na cozinha da Sede. Em
todos os eventos realizados pela igreja lá
estava ela, feliz em contribuir com o seu divino
talento, para o bem da obra do Senhor.
Setembro de 1997:
Thereza amanhece com as pernas inchadas e
doloridas. No decorrer dos dias só vai
piorando até chegar ao ponto de ficar
impossibilitada de andar.
- Você precisa dar um jeito de ir ao médico. -
disse José sem prestar-lhe um “pingo” de
assistência.
- Posso ir sim, mas, como? Não consigo
sequer ficar em pé direito!
- Dá um jeito! Cadê seus filhos que vivem aí
comendo nas suas costas?
- Se você não quer me ajudar tudo bem!
Somente me deixe em paz então!
José todos os dias perturbava Thereza
falando de seus filhos, ele, porém, não movia
um dedo para ampará-la e socorrê-la.
17 de Setembro de 1997:
- Mãe! Como que sua perna chegou a esse
estado? A senhora já foi ao médico?
Perguntou a filha caçula que acabava de
chegar a sua casa.
- Ainda não minha filha! Estou sentindo tanta
dor! – Thereza começa a chorar.
- Então vamos pro hospital agora, a senhora
não pode ficar desse jeito.
Chegando a Santa Casa Thereza logo é
atendida e medicada, devido ao estado de sua
perna e também da febre, teve que ficar em
observação e passou aquela noite
hospitalizada.
Thereza estava passando por um processo
muito penoso e até sua recuperação seria
uma maratona muito exaustiva, mas, valeu e
valeria a pena sempre...
Não se pode entender por qual razão ou
motivo isto aconteceu, mas, a filha de Thereza
Sônia e seu pai José, não trataram-na como
deveria uma filha e um esposo: deixavam-na
sozinha por um período longo, sem água e as
vezes com fome e, talvez na intenção de
ajudar, amarravam sua perna que estava
ferida para o alto com uma corda.
Thereza não questionava o porquê de tantas
provações. Foram muitas noites em claro e de
lágrimas pela dor física e emocional, contudo,
ela não perdia a convicção de que, passasse
o que fosse o Senhor estaria com ela e não a
deixaria jamais.
Dezembro de 1997:
Após a difícil recuperação da erisipela em sua
perna esquerda Thereza é bombardeada com
a triste notícia de que seu filho Marcos é preso
em flagrante e acusado de tráfico de drogas.
- Meu filho Marcos? O meu “Marquinhos”?
Vocês só podem estar brincando! Pai de
Misericórdia! – Exclamou Thereza olhando
para o céu.
- É sim d. Thereza, a polícia acabou de levar
ele e o Lúcio. – disse Ana abraçando e
consolando Thereza que estava em lágrimas.
- Não pode ser verdade, o que será do meu
filho!...
Que mês terrível para esta mulher, mais uma
vez: dores, lágrimas, decepções e
humilhações... O que o Senhor lhe tinha
reservado?!
Incalculável o seu sofrimento, mas também, a
sua perseverança e confiança no milagre do
Senhor. A luta estava travada, porém não o
suficiente para fazê-la parar. Continuou
fazendo a obra de Deus dando assistência a
Sede e a congregação, participando
ativamente dos cultos e encontros realizados.
Era uma maratona de afazeres domésticos,
encomendas de salgados, visitas ao filho
preso, e, cultos na casa do Senhor...
18 de Janeiro de 1998:
Em meio a tanto sofrimento Deus agracia a
vida de Thereza com o nascimento de seu
netinho Fellipe, que ficou aos seus cuidados
por 45 dias. Foram dias de bênçãos, muitas
bênçãos.
2º Domingo do mês de Maio de 1998 – Dia das Mães
Thereza está no Rio de Janeiro, foi passar uns
dias lá para descansar um pouco de tantas
amarguras. Seu genro Sérgio lhe deu a
passagem como presente e pediu para que
ela tentasse “esquecer” um pouco dos
problemas daqui e aproveitar o tempo com os
familiares ali. Como se cumprindo uma
promessa, Thereza voltou a gargalhar como
há muito não fazia.
Ao regressar da viagem, que alegre notícia ela
recebe: seu filho Marcos sairia da prisão por
aqueles dias. A felicidade não pôde conter as
lágrimas que rolavam de seus olhos... Já não
eram lágrimas que aprisionam, mas, que
libertam.
- Obrigada Meu Pai! – sussurrou!
... Assim prosseguiu a longa trajetória de
Thereza. Uma vida marcada pelo sofrimento e
também pela fé, não uma fé natural dada aos
homens para se crer em algo, mas a fé
sobrenatural de crer no impossível.
Foi através desta fé que Thereza conseguiu
em meio a tantas intempéries, permanecer de
pé até o final.
...
Junho de 1998 – Semana do Dia dos namorados:
Thereza prepara o almoço para os
participantes do “Encontro de Casais” que
está sendo realizado na congregação do
Amarelo. Pastor Carlos Azevedo ministra aos
casais e brinca dizendo que o cheiro da
comida está tão bom que está fazendo com
que ele não pense em outra coisa.
Ele não poderia ficar para o almoço, mas, não
resiste e resolve “beliscar” alguma coisinha.
De repente uma “nuvem de glória” invade
aquela casa e Pr. Carlos Azevedo é tomado
pelo Espírito Santo em profecias e revelações
da parte de Deus. Em determinado momento
ele impõe as mãos sobre a cabeça de
Thereza e com notória unção entrega-lhe
promessas de Deus para sua vida, entre elas,
a promessa de “um breve descanso”.
O céu desceu naquela tarde dentro daquele
lar, só se ouviam barulho de “glórias e
aleluias”. Todos estavam extasiados de poder,
mergulhados e envolvidos na unção que
desceu ali.
... Não demorou muito e as promessas de
Deus começaram a se cumprir na vida de
Thereza, de forma paulatina, porém, muito
clara. Enquanto isso, ela e suas fiéis amigas,
aguardavam com paciência a promessa do
“descanso”, pois acreditavam tratar-se de sua
aposentadoria que estava preste a sair.
Nesta época Thereza estava “encostada” pelo
INSS e sua aposentadoria estava em
processo.
...
15 de Outubro de 1998:
19 horas: Casa cheia.
É realizado um culto em Ação de Graças pelo
aniversário de Thereza e também por sua
recuperação física total. Seu genro dirige o
culto, suas amigas prestam-lhe homenagens,
as jovens, pelas quais ela vivia cercada,
estavam todas lá; seus filhos, noras e netos
estavam presentes também.
Um momento de muita emoção foi quando
todos, para homenageá-la, cantaram o hino
“Experiência” e, na última parte do coro ela
mesma fez questão de declarar cantando:
”Eu já tenho a experiência, pois não
me esqueço daquela benção,
Que no choro conquistei, o povo do
mundo chora com razão,
Mas o meu choro não é em vão,
pois, tenho um Consolador.”
Esta canção resume toda a vida de Thereza,
todos os seus 56 anos de vida...
Quando ela pensava que terminava as
homenagens, recebe uma surpresa preparada
por sua nora Veralucy: um bolo feito por sua
amiga Aureny. Foi a coisa mais linda de ver
aquela mulher tão grande ficar pequenininha
no abraço de sua nora e banhando-se em
lágrimas. Foi impossível não se emocionar e
não chorar também.
Para Thereza aquele dia foi como olhar para
trás e descobrir que valeu cada dor, cada
espinho da caminhada, cada amargura
sofrida, cada tempestade enfrentada, cada
noite mal dormida,cada queda, cada
humilhação...
Valeu a pena; valeu muito a pena!
...
1º de Novembro de 1998
Thereza resolve ir à casa de sua amiga
Geralda, no bairro Parque das Laranjeiras,
fazia alguns meses que elas não se viam e
agora a saudade apertava. Conversaram
muito neste dia, também oraram juntas e
louvaram ao Senhor com aqueles hinos de
“sua época”.
No dia seguinte Thereza retorna ao bairro,
mas, dessa vez para ir buscar sua roupa que
foi costurada por sua amiga Aureny,
aproveitou também para almoçar com sua
filha e conversar com Tião seu antigo
companheiro.
- Tudo bom com você Tião?
- Vou aqui levando a vida!
- Você parece estar muito bem, engordou e
está com a aparência saudável.
- Você também Thereza, continua muito
bonita!
- Quero te dizer Tião que não guardo mais
mágoas do que nos aconteceu. Hoje eu sou
uma nova criatura, as coisas velhas se
passaram e estou vivendo em novidade de
vida, já não tenho motivos para olhar para o
passado e sofrer. Precisamos, no entanto,
resolver a situação dos nossos filhos e
também da sua mulher porque tem filhos com
você e eles precisam estar amparados caso
eu ou você “falte”um dia.
- Ah Thereza! Tudo podia ser diferente,
porque fui tão cabeça dura.
- Não vamos nos lamentar Tião, aconteceu o
que tinha que acontecer. Só desejo que hoje
você esteja feliz, respeite sua mulher e que
ela te respeite também, outra coisa, vocês
precisam procurar uma igreja, buscar ao
Senhor, pois, Ele é o único que pode dar tudo
o que nós precisamos para sermos felizes.
- Sei disso Thereza, sei que preciso de Deus
na minha vida...
...
09 de Novembro de 1998:
- D. Thereza, Tatiana e eu viemos aqui saber
se a senhora vai com a gente em Vitória! –
disse Simone.
- Ainda não decidi, quero ir mas estou com
pouco dinheiro.
- Se este for o problema a gente paga pra
senhora! – falou Tatiana.
- Vamos sim dona Thereza! A senhora sabe
que papai só vai me deixar ir se a senhora for
também. – disse Simone.
- Então vamos fazer assim: vou esperar a
Scheilla vir aqui aí eu decido se vou ou não!
À tarde, Conversando com Maria Marinho,
Thereza ficou mais animada a ir à caravana,
Tatiana também lhe avisa que sua mãe vai
também e, Scheilla liga e diz que se for
possível irá junto.
No decorrer da semana Thereza começa a
colocar a casa em ordem: faz compras, lava e
passa roupa, escala as irmãs para o culto de
sábado à noite e para a consagração do
domingo... Arruma a igreja para a Santa Ceia.
...
14 de Novembro de 1998
7:00h – Thereza acorda cedo, prepara o café,
faz um bolo e também um delicioso doce de
mamão.
11:15h – Hora de ir ao Hortifrut para fazer
umas comprinhas de frutas verduras e
legumes.
13:10h – Tudo pronto e Thereza antes de sair
escreve um bilhete para a filha:
“Querida Scheilla, resolvi ir na caravana com
as meninas. Dá uma olhadinha na casa para
mim e tire essas roupas que estão no varal.
Olha, tem doce de mamão no pote em cima
do armário e no forno também tem bolo.Na
geladeira tem banana prata e danoninho para
o Fellipe. Fica com Deus e que Ele te
abençoe!”
14:00h – Sai da Sede a caravana para Aribiri
em dois ônibus. Thereza vai no ônibus que
levavam os irmãos da congregação do Zumbí
porque não havia lugar para as meninas no
ônibus da Sede, então, para irem juntas,
Thereza também foi neste que possuía vários
lugares vagos.
...
Aribiri – ES, 14 de Novembro de 1998
Quando a caravana de Cachoeiro chegou a
Aribiri havia uma singela recepção para
recebê-los e, na hora do culto uma explosão
de poder, particularmente, visitava os
mesmos irmãos.
No alojamento foi uma farra, ninguém dormia,
estavam todos muito eufóricos e jubilavam de
uma alegria incontida, era como se Deus
fosse impactá-los com algo que os marcaria
para sempre...
No domingo pela manhã, o grupo foi passear
pela cidade e, nesse passeio Thereza
comentou com Maria José que só Deus sabia
o tamanho de sua alegria por estar ali.
As 10:00h foi realizado o primeiro culto
daquele dia. Em alguns minutos após, o Pr.
Reginaldo Almeida, anuncia e levanta um
clamor pela vida de Pr. Umberto que acabava
de passar por uma cirurgia cardíaca.
Confiante na ação poderosa de Deus,
Thereza chora e ora fervorosamente pelo seu
amado pastor.
12:00h – Fila para o almoço:
- Olhe aqui, eu acabei de chegar, mas, vocês
precisam dar a vez para mim porque eu sou a
mais velha da turma – falou Thereza
estampando um belo e peculiar sorrisão.
- Pode ficar aqui na minha frente irmã
Thereza! – disse Fabinho gentilmente.
- Tão vendo só, isso é que é menino de ouro!
– exclamou Thereza agora com uma
gargalhada que não deixou ninguém sério
naquele momento.
Depois do almoço enquanto as “meninas”
conversavam com os jovens que acabaram de
conhecer, Thereza e Maria José sentaram-se
na arquibancada e conversaram sobre coisas
comuns e também sobre o culto matinal.
14:00h – Um dos ônibus regressa para
Cachoeiro e as “meninas” decidem voltar nele,
para Thereza tudo bem,mas, ela e Maria José
ficariam para o culto da noite.
- Irmã Thereza, a senhora tem certeza que
não quer ir com a gente? – perguntou Tatiana.
- Não minha filha! Vamos ficar para o próximo
culto.
- Mas a senhora não vai ficar chateada? Se
quiser, a gente fica?
- Tatiana não se preocupe conosco, sua mãe
e eu vamos nos cuidar direitinho! – falou rindo.
- Porque a senhora não quer ir agora? Tem
lugar sobrando no ônibus! – disse Simone.
- Meu lugar já está reservado no ônibus em
que viemos, não posso deixar o lugar vago.
Ao se despedirem, Thereza como sempre,
brincou com elas dizendo para terem juízo,
mas, para Simone, essa brincadeira soou com
um tom de voz diferente quando Thereza
disse:
- “Vão com Deus e se cuidem...”
Havia algo diferente, seu sorriso até era o
mesmo, porém, uma seriedade transparecia
em seu olhar...
Seu “tchau” expressava um adeus!!!
...
Já eram 21:00h e hora de voltar para casa.
Thereza e Maria José conversavam alegres
sobre filhos, família e sobre a alegria de servir
ao Senhor enquanto os outros irmãos
cantavam. Irmã Luciana Scarpin interrompeu-
as pedindo que Thereza “tirasse” o hino da
harpa cristã de nº122 ; foi um momento
sublime tamanha a afinação vocal daqueles
que a acompanhavam.
Fogo divino, clamamos por ti;Vem lá do alto, vem, desce aqui;
Ó vem despertar-nos com teu fulgor;Vem inflamar-nos com teu calor.
Por um instante Thereza silenciou-se e, em
seguida voltou a cantar... Com os lábios sei
que cantava o mesmo hino, sua alma, porém,
já entoava o hino 36 da mesma harpa cristã.
Da linda pátria estou bem longe;Cansado estou;
Eu tenho de Jesus saudade,Oh, quando é que eu vou?Passarinhos, belas flores,
Querem m'encantar;São vãos terrestres esplendores,
Mas contemplo o meu lar.
22:30h – Um barulho ensurdecedor invade
aquele ônibus e, de repente, vê-se toda a
lateral esquerda sendo arrancada
bruscamente por uma carreta que vinha na
contramão e em alta velocidade...
Em poucas horas noticia-se a maior tragédia
automobilística ocorrida com uma caravana
evangélica, da Ass. de Deus, nos últimos
tempos...
Entre mortos e feridos foi grande o massacre
e, enquanto voluntários ajudavam a resgatar
das ferragens aqueles que ainda respiravam
com vida, o Espírito Santo conduzia para o lar
as almas daqueles que, aprouve a Deus, dar o
tão necessário “Descanso”.
16 de Novembro de 1998
Tudo estava pronto para o velório e culto
fúnebre dos corpos dos “amados” irmãos. A
Sede, na Samuel Levi, estava abarrotada de
gente. Todos estavam enlutados; aquele
ambiente de tanta alegria agora estava
envolto por uma névoa de tristeza; a “vida”
silenciava-se para a morte ao mesmo tempo
em que assoprava uma doce paz nos
corações...
Quantas lágrimas, quantas vozes
embargadas, quantos suspiros, quantos
amigos...
Aquele foi o culto fúnebre mais lindo que
presenciei... E, eu ali parada, senti-me só e
desamparada, tive vontade de gritar, fugir e
esvair-me dentro de mim, porém, uma voz
suave e mansa falou-me novamente ao
coração: “Não Te deixarei órfã”. Uma calma
inundou-me e comecei a consolar os que se
achegavam a mim.
Olhei para a galeria e vi prantos; olhei para a
minha direita e vi lamentos; olhei para a
esquerda e vi tristeza; olhando para os lados
via corações dilacerados pela dor e, voltando-
me para frente daquele altar via seis caixões
lacrados.
Eram seis vidas que haviam acabado a
carreira e guardado a fé; eram seis vidas que
não mais sofreriam; não mais chorariam; não
mais padeceriam fome, frio, calor e nenhum
outro tipo de privação... Nunca, para sempre,
nunca mais...
A frente daquele altar se cumpria a promessa
para a vida de Thereza: “Eu te darei descanso
em breve”.
...
Therezinha Lobato morreu no auge de seus
56 anos com “esmagamento dos ossos do
crânio e da face”.
Seu corpo foi sepultado em Celina – E.S, junto
ao corpo de sua mãe Dorcelina de Jesus
Lobato, as 21:00h.
23:00h – Casa vazia... Maior é o vazio que
está em meu coração e que nem o tempo será
capaz de preencher...
Uma saudade invade a minh’alma e a faz
chorar... Chorar intensamente. Há um grito
preso em minha garganta; uma dor apertando
o meu peito; um suspiro sufocando o meu
coração.
Sei que que os que creem em Jesus não
morrem e que a morte física para ele é
ganho... Hoje mamãe está ganhando,
ganhando o direito de entrar na “Cidade” pelas
portas.
Hoje... Suas vestes estão “mais alvas do que
a neve...”
Saudades é certo que sempre sentirei e, dos
meus olhos sempre rolará uma lágrima, mas,
em meio à dor meu coração exultará sempre
ao lembrar-se de que se eu for fiel e
permanecer no “Caminho”, um dia eu irei
revê-la e,
Viveremos para todo o sempre ao lado do
Senhor Jesus!
...
Saudade...
15 de Dezembro de 1998
1º mês de ausência física:
Hoje amanheci com uma lágrima no olhar... É
difícil demais pensar que ela não está mais
aqui entre a gente;
Dói muito saber que não vou mais ouvir
aquela gargalhada gostosa, aquela voz
vibrante; sentir aquele olhar terno... Ai que
saudade!!!!
Hoje também “briguei” com uma das filhas do
meu pai; ela falou horrores a respeito de
mamãe e nem respeitou a minha dor. Disse
com despeito que ela não passava de uma
“prostituta” arrependida, achando que isso iria
desestruturar-me,mas, pelo contrário, só me
deu a certeza de que quando Deus transforma
o “homem”, transforma de verdade e por
completo e, Thereza foi transformada pelo
Poder do Senhor Jesus.
Para mim o que importa não é o que Thereza
fez no passado de sua existência, mas sim, o
que ela preparou para o futuro...
Eu tenho o maior orgulho de ser o “espelho
refletido” de tudo aquilo que ela queria fazer e
não pode... Queria ser e não foi...
... Quantos amores Thereza teve?
Paixões e aventuras ela até pode ter tido em
número considerável,
Mas, amores? Ah...!!!
Amores ela só teve 6: Lucimar Lobato, Sônia Mª Lobato,José Márcio, Sebastião Cláudio, Marcos Elias e...
... Depois da discussão com minha irmã fiquei
muito chateada, primeiro que não gosto nem
um pouco dessa situação e também, porque
eu não tinha nada a ver com a briga familiar
que estava acontecendo, mas, já que eu fui
envolvida dei o meu parecer buscando não
defender ninguém, unicamente sendo justa no
que argumentava. Ela,porém, para desarmar-
me começou a difamar a memória de minha
mãe...
Quando entrei em casa estava com a alma em
paz, pois, consegui desfazer a discussão; os
ânimos se acalmaram e cada um foi cuidar de
sua vida; senti-me orgulhosa também por
defender e honrar mamãe, no entanto, aquilo
me machucou profundamente... Afinal, hoje
está fazendo só um mês que ela nos deixou...
Quando meu coração parecia esmorecer,
Deus falou-me profundamente:
“E ouvi uma voz do céu que me dizia:
escreve: Bem aventurados os mortos que
desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o
Espírito, para que descansem dos seus
trabalhos e as suas obras os sigam.” (Apoc.
14.13)
Diante desta mensagem celestial e
consoladora, eu só tenho a agradecer a Deus
por estar me sustentando e pedir que Ele
continue firmando os meus passos,
aumentando a minha fé, guardando a
lembrança viva da mulher mais amorosa, com
o sorriso mais lindo e mais temente a Deus
que eu já conheci.
Therezinha Lobato,
Minha Mãe
...
Thereza passou aqui na terra como um sorriso;
Um belo e encantador sorriso...
E é assim sorrindo...
Que eu sempre me lembrarei dela!
... Com muita saudade...
Imensurável Saudade!!!
Therezinha Lobato
15/10/1942 *15/11/1998
Sua sempre caçula: Scheilla Regina Lobato de Ataide e Silveira.
Fotos:
Encontro da União feminina Assembléia de Deus
Ministério Cachoeiro - ES
Quantos amores Thereza teve? Paixões e
aventuras ela até pode ter tido em número
considerável, Mas, amores? Ah...!!!
Amores ela só teve 6: Lucimar Lobato, Sônia Mª Lobato, José Márcio ( In memorian), Sebastião Cláudio, Marcos Elias e Scheilla Lobato.
Os filhos da esquerda para direita na parte superior:
Lucimar, Sônia, José Marcio, Therezinha (no centro),
embaixo: Sebastião Claúdio, Marcos Elias e Scheilla
.
“... Havia algo diferente... Seu sorriso até era o mesmo, porém, uma seriedade transparecia em seu olhar”...
Seu “tchau” expressava um Adeus!!!
Foi assim que tudo começou...
Alegre – Espírito Santo
“ Se tivesse que morar em outro lugar que não fosse no Espírito Santo, que ao menos tivesse a beleza e o encanto que um dia eu vi no meu Alegrinho.” Therezinha Lobato
Sobre a autora:
Meu nome é Scheilla Regina Lobato de Ataide
e Silveira, tenho 40 anos e sou a filha caçula
de Therezinha Lobato. Sou casada com
Sérgio Silveira, meu anjo protetor, meu amigo,
companheiro e amor. Temos quatro filhos:
Fellipe, Gustavo, Guilherme e Pedro
Henrique, razões de nossas vidas. Sou
professora formada em Pedagogia pela
UNIUBE e trabalho com a turma do maternal II
há 13 anos pela Rede Municipal da minha
cidade.
Do que gosto?
Gosto do que é simples;
Gosto do que é amor;
Gosto do que é viver...
A inspiração para escrever este “resumo
biográfico” da vida de minha mãe começou na
noite em que ela foi sepultada. Na verdade,
sempre aspirei por escrever alguma “coisa”
sobre ela e, aos 16 anos de idade, comecei a
rascunhar sobre a história de uma mulher que
aos 25 anos fora abandonada pelo marido
estando grávida de oito meses e sem possuir
renda financeira alguma... Após 17 anos,
marido e mulher se reencontram e, desse
encontro, desperta uma paixão que estava
adormecida pelo tempo...
Rascunhei algumas páginas e parei... Faltou-
me inspiração para prosseguir ou a certeza de
que era sobre esta fase de sua vida mesmo
que queria descrever...
Em meu aniversário de 18 anos ganhei de
presente um livro que impactou minha vida.
Era a história de uma jovem, contada por sua
mãe, que perdera a vida em um acidente
automobilístico após regressar de um “Retiro
Espiritual”. Um livro fascinante, um “diário”
completo. Enquanto lia a narrativa parecia
estar vivendo minha própria história, mas,
será que eu iria morrer tão jovem assim
também?... O livro, emprestei-o e nunca mais
o vi, sua mensagem porém, ficou gravada em
meu coração...E, Só agora entendo o porquê
ele causou tanto impacto em mim desde as
primeiras páginas folheadas.
... Ao chegarmos a nossa casa depois dessa
hora tão crucial, senti-me vazia, sozinha e tive
vontade de gritar para o mundo inteiro ouvir
minha voz de amargura... Meu coração estava
dilacerado. Sufocada, porém, pela missão de
ser a “coluna forte” entre meus familiares,
calei-me na solidão de meus pensamentos. O
que fazer então com tamanha dor?
Como se entrando em um túnel do tempo,
peguei uma velha agenda que estava na
cabeceira da cama e um toco de lápis que
estava perdido por ali também e comecei a
escrever a cena que se passava em minha
frente:
“... Era manhã daquele dia chuvoso e frio. Dorcelina já sente as dores das primeiras contrações e sabe que o seu bebê vai nascer...”