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Ribeirão Preto sedia importante evento sobre variedades de cana-de-açúcar

Mais de 500 pessoas entre pro-dutores, técnicos de associa-ções e usinas, consultores e

especialistas do setor, participaram da 10ª edição do Encontro sobre Varieda-des de Cana-de-açúcar, que aconteceu nos dias 28 e 29 de setembro, no Centro de Convenções em Ribeirão Preto-SP, para obterem conhecimento e discuti-rem sobre o potencial produtivo das va-riedades e até onde elas podem ajudar a recuperar a produtividade.

Na abertura, o diretor do Grupo Idea, Dib Nunes, destacou a impor-tância de se reunir num momento em que o setor começa a reagir depois de um longo período de crise e de preços para falar sobre as variedades de cana--de-açúcar, cada vez mais necessárias e exigidas, dada as grandes mudanças pelas quais passa o segmento. “Tive-mos que nos adaptar rapidamente a processos mecanizáveis de plantio e colheita, que impactaram severamen-te nossas produtividades. Além disso, esse novo cenário trouxe consigo no-vas plantas daninhas e doenças, além do aumento das populações de algu-mas pragas, que acabaram eliminando duas das mais importantes variedades dos últimos 20 anos: RB72-454 e a SP81-3250”, disse Nunes, que também afirmou “muitos relaxaram nos cuida-dos com a plantação de cana, que virou uma cultura extrativista, impedindo, assim, a máxima expressão da produ-tividade e maturação das variedades e este evento representa uma oportu-nidade para os participantes verem o que o setor já possui e o que vem por aí para que as produtividades voltem a ser as principais protagonistas dos almejados ganhos de produtividade.”

O encontro contou com palestras téc-nicas proferidas pelos principais espe-cialistas em variedades de cana do país

Fernanda Clariano

Realizado há uma década, o Encontro de Variedades de Cana-de-açúcar se tornou referência para o setor

que apresentaram produtos e explanaram sobre os fatores que influenciam nos re-sultados de produtividade das diferentes variedades bem como as estratégias para se extrair o máximo de um manejo varie-tal em diversos ambientes de produção.

Na ocasião, o IAC (Instituto Agro-nômico) divulgou seu Censo Varietal 2015/16 para o Centro-Sul do Brasil. Os dados foram apresentados pelo pes-quisador Rubens Braga, consultor em planejamento estratégico e líder do pro-jeto senso varietal no IAC, que mostrou as primeiras pesquisas que ele realizou no instituto sobre o título “Novos indi-cadores mapeiam o uso de variedades no Centro-Sul do Brasil”.

Segundo o pesquisador já foram co-letadas informações de 213 unidades

produtoras, pertencentes a oito estados, totalizando 5.998.321 hectares recensea-dos. De acordo com o seu levantamento, Braga constatou que o Estado do Paraná plantou pouca cana-de-açúcar no último ciclo de plantio; ainda são utilizadas va-riedades antigas no plantel das usinas; os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso são os que utilizam variedades mais antigas; os estados de São Paulo e Paraná são os que mais utilizam varieda-des novas; em relação às regiões do Es-tado de São Paulo, Assis é que mais tem plantado variedades novas; as demais regiões estão dentro da mesma média; ainda há uma grande concentração com a variedade RB867515; o Mato Grosso e o Paraná são os estados com maior pro-porção de RB867515 em relação a ou-tras variedades; o cultivo de variedades precoces está em crescimento.

“A meta é conseguir nessa safra, o maior senso histórico que o Brasil já conseguiu fazer e a gente está muito perto disso o que nos deixa muito sa-tisfeitos e agradecidos pela resposta que o setor está dando. O que eu pos-so dizer sobre os resultados obtidos é que, na região Centro-Sul, a RB867515 continua sendo a variedade mais im-portante, com 28% da área seguida da RB966978, com 9%, a SP81-3250 com 7%, ainda com uma participação muito

Dib Nunes, diretor do Grupo IDEA

Rubens Braga, consultor em planejamento es-tratégico e líder do projeto senso varietal no IAC

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inStitUtOS DE PESQUiSAS

importante. Depois ainda a RB92579, RB855453, RB855156, CTC4, CTC15. Esses dados são referentes à área plan-tada em 2015/16”, destacou Braga.

O diretor de tecnologia agrícola da GranBio, José Antônio Bressiani, falou so-bre as “Variedades Vertix de cana-energia para a produção de biomassa e etanol”. Na ocasião, Bressiani apresentou as caracte-rísticas da cana-energia e fez um compara-tivo de custo de produção da cana de corte e da cana-energia onde afirmou que “a produtividade da cana-energia da Granbio ultrapassa 180 toneladas por hectare, prati-camente o dobro do rendimento. Seu teor de fibras chega a 33%, valor duas vezes maior que o da cana convencional, quando colhida de forma integral.”

Já o gerente de planejamento e desenvol-vimento da Agrícola Nova América, José Francisco Fogaça, falou sobre os fatores que influenciam no ATR das variedades e também comentou sobre a safra 2016/17.

As multinacionais Syngenta, Ihara, ArystaLifeScience e DuPont também marcaram presença no 10º Encontro de Variedades e representadas por seus profissionais apresentaram soluções de manejo varietal.

As empresas que desenvolvem tec-nologias na área como o IAC, a Ri-desa e o CTC apresentaram soluções, resultados de pesquisas, avaliações de desempenho de materiais, materiais recém-liberados e futuras.

Marcos Landell, pesquisador e diretor do Centro de Cana, do IAC, foi um dos palestrantes e explanou sobre "Manejo das Variedades IAC: altas produtivida-des e adequação à colheita mecanizada”. De acordo com o especialista, para se conseguir a cana de três dígitos é preciso construir uma elevada população de col-mos/touceiras com plantio "falha zero" e manter esta elevada população de col-mos/touceiras estabelecida no plantio.

O Instituto Agronômico (IAC), por meio do Centro Avançado de Pesqui-sa Tecnológica do Agronegócio Cana, lançou recentemente variedades de cana-de-açúcar com ótimas caracterís-ticas agronômicas visando atender às demandas da era da mecanização e das indústrias processadoras de bioenergia.

Entre os materiais lançados na úl-tima década pelo IAC estão as varie-dades IAC91-1099, IACSP95-5000, IACSP95-5094 e IACSP97-4039, que vêm apresentando crescimento signifi-cativo nas intenções de plantio na re-gião Centro-Sul do Brasil.

Os pesquisadores Antônio Ribeiro Fernandes Junior e Roberto Giacomi-

José Antônio Bressiani, tecnologiaagrícola da GranBio

José Francisco Fogaça, gerente de planejamen-to e desenvolvimento da Agrícola Nova América

Marcos Landell, pesquisador e diretor do Centro de Cana, do IAC

Antônio Ribeiro Fernandes Junior e Roberto Giacomini Chapola, do PMGCA

ni Chapola, do PMGCA (Programa de Melhoramento Genético de Cana-de--açúcar) da UFSCar, ligado à Ridesa, apresentaram a palestra “Censo Varietal 2016 e Variedades RB, recém-liberadas e futuras”, onde mostraram o resultado do Censo Varietal de 2016 apontando as variedades mais plantadas e mais culti-vadas em 124 unidades dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, com destaque para cinco variedades das 20 variedades mais plantadas: RB966928; RB867515; CTC4; RB925779; RB855156 e as cinco primeiras das mais cultivadas: RB 867515; RB966928; RB92579; SP813250 e RB855156.

Quanto às variedades lançadas no ano passado pela UFSCar (RB975201; RB975242; RB975952; RB985476) fo-ram apresentados dados experimentais, resultados de áreas pré-comerciais e re-comendações de manejo. Também desta-caram as variedades futuras: RB 975375; RB005014; RB005983; RB015935 e as três futuras variedades com maior apti-dão para ambientes restritos: RB975033; RB985517 e RB975162.

O gerente de desenvolvimento de produtos do CTC, Mauro Violante, abordou o tema “Variedades CTC sé-rie 9000: porque já estão entre as mais plantadas”. Segundo Violante, pela pri-meira vez variedades novas, com ape-nas treze anos após o cruzamento, já aparecem com destaque dentro do Cen-so de plantio das usinas. Pela média do

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Centro-Sul, uma variedade começaria a figurar entre as vinte mais plantadas se fosse lançada na década de 1990.

Mauro Violante, gerente de desenvolvimento de produtos do CTC

Álvaro Sanguino, consultor na área de fitossanidade

Renê de Assis Sordi, do Grupo São Martinho

Alessandra Durigan e Daniela Aragão, gestora técnica da Canaoeste e engenheira agrônoma, respectivamente,

participaram do 10º Encontro de Variedades de Cana-de--açúcar, realizado pelo Grupo IDEA

“Quando pegamos todos os resul-tados de produtividade, vemos que as variedades CTC da série 9000, na mé-dia de cinco corte, em comparação com as cinco variedades mais cultivadas, obtêm-se uma média de ganho de 8 to-neladas por hectare. Isso é longevidade e sinal de que é material já adaptado às condições de colheita”, destacou.

Um debate para discutir temas rela-cionados a variedades de cana fechou o primeiro dia do encontro.

O segundo dia do encontro também contou com temas importantesPara abrir os trabalhos do segundo

dia do evento, o diretor do Grupo IDEA ministrou palestra sobre “Como avaliar corretamente o desempenho das varie-dades de cana-de-açúcar”. De acordo com Dib Nunes, colhemos mal e mane-jamos mal. “É preciso ter clareza que a queda da produtividade registrada nos últimos anos não é apenas culpa das va-riedades. Ao contrário, talvez a varie-dade tenha sido nos últimos anos o que sustentou a agroindústria canavieira, mas o que a mecanização está fazendo com a cultura da cana é “brincadeira”. Temos que buscar, por exemplo, o tipo de variedade ideal para colheita meca-nizada”, enfatizou o executivo.

Ainda durante sua apresentação, Nunes pediu aos participantes um mi-nuto de silêncio em homenagem aos canaviais que já morreram. “solicitei um minuto de silêncio para homenagear os canaviais que já morreram por pisoteio, por arranquio, por maus-tratos, por mato competição, por excesso de pragas, de doenças, não há variedade que aguente. A nossa produtividade caiu demais por causa da agressão, e é essa a resposta dos canaviais quando sofre agressão, ele dei-xa de produzir, por isso a homenagem, um minuto de reflexão”, afirmou.

Sinal amarelo para o Colletotrichu-mfalcatum: por que está tão agressivo? Que medidas tomar? Este foi o tema da palestra ministrada pelo fitopatologis-ta, Álvaro Sanguino, consultor na área de fitossanidade. Na Índia, o fungo é conhecido como principal causador da podridão de toletes. No Brasil, a doença

tem trazido preocupação crescente aos produtores de cana porque onde esse fungo penetra ele coloniza rapidamente e a cana murcha. A partir daí a planta seca pra baixo. Isso diferencia o fungo do ataque da cigarrinha-das-raízes.

De acordo com o especialista, o fungo atacar a cana não é surpresa, o problema é que, como o setor mudou radicalmente o sistema de colheita, os problemas com doenças também muda-ram. “Trabalho com doença de cana há muitos anos e estou vendo o ressurgi-mento de doenças que vi no início da minha carreira, quando ainda havia cana sendo colhida sem queima.” Segundo ele, a doença tem chamado a atenção devido à intensidade e disseminação crescente em diversas áreas, tendo já atingido o Triângulo Mineiro, regiões de Uberaba e Iturama; o Mato Grosso do Sul e Araçatuba- SP. Recentemente, foram registrados casos na região de Sertãozinho-SP, afirmou Sanguino que pediu a colaboração dos profissionais do setor na coleta de informações so-bre a doença. “A observação de todos

é fundamental, pode nos ajudar a tomar medidas de controle”, afirmou.

Já Renê de Assis Sordi, do Grupo São Martinho, destacou em sua apre-sentação as principais dificuldades para o manejo varietal. Dentre elas, poucas variedades adaptadas a ambien-tes restritivos; poucas informações so-bre outras características importantes; colheitabilidade baixa (tombamento, desuniformidade); falta de segurança na longevidade e inexistência de dados sobre perdas por doenças, pragas e ou-tros estresses.

Para fechar o grande encontro, os profissionais José Fogaça, da Agrícola Nova América, Renê Sordi, do Grupo São Martinho, e Rodrigo Vinchi, do Grupo Raízen, participaram de um de-bate, onde o manejo varietal, posicio-namento, tempo de lançamento de no-vos materiais, problemas com doenças, época de plantio dentre outras questões, foram discutidas durante o debate que contou também com os questionamen-tos do público presente. RC


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