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e nacionalistas. Mas, por que o futebol e a capoeira são os dois espor-tes nacionais do Brasil? Talvez porque, em ambos os casos, se pensacom o pé. Como no samba, aliás.

* * *

Revolução, revolta e resistência:Os pensamentos são gestos, afirmava Nietzsche.'' A capoeira é a -

a sabedona dos surfistasarte do pensamentodo corpo puro, do corpo sem órgãos que, comoum céu de trovão, sobrepujanossos corpos de chumbo. É a resistênciado corpo negro que repugnaem se precipitar no ser em que se encon-

Charles Feitosa *tram os corpos dos brancos estagnados. Quanto pensamento no gestode um capoeirista,quanta gesticulaçãomental no discurso de um filó-sofo!

À guisa de conclusão e retomandoessa potência de resistëncia vi- 1. Os muros da políticatal e alegre própria à capoeira, citarei as palavras que, após um longo

Começofazendoum protesto. Em abril de 2004, vimos um candi-momento de silëncio, mestre Pastinha teria pronunciado ao responderdato a prefeito no Rio de Janeiropropondo a construção de um muroà pergunta: o que é capoeira?em torno das favelascomo uma solução para conter a violência nesses

"A capoeira é um jogo, um brinquedo (...) É o prazer da elegäncia e da inteli- locais. De fato, Aristóteles já dizia no Capítulo IV da sua Política quegëncia. É o vento na vela, um gemido na senzala, um corpo que treme, um uma das principais tarefas dos habitantes da pólis é construir muros.berimbau bem tocado, a gargalhada de uma criança, o vöo de um pássaro, o Teria Luiz Paulo Conde lido Aristóteles? Se leu, não entendeu... Aataque de uma serpente coral (...) É o riso frente ao inimigo. (...) É levan- idéia aristotélica de construir muros visava a proteger seus cidadãostar-se de uma queda antes de tocar o chão.(...) E um pequeno barco em pere-

de amea as externas, e não isolá-los em guetos. Fazer muro em tornogrinação, abandonado e à deriva, sem fim."das favelas é transformá-las em espaços de clausura, em campo de re-

E se de tudo isso pudéssemos fazer uma filosofia?! fugiados. Nesse contexto, o muro funciona como uma instäncia de di-visão e de dominação, não de proteção dos habitantes da cidade.

Tradução Esse protesto inspira uma questão: em um simpósio sobre "arte

Fabien Pascal Lins e resistência", ou seja, que toma a criatividade e a imaginação da

arte como paradigmas para a ação, cabe perguntar se resistir signifi-ca ainda construir muros, ou melhor, se construir muros ainda é uma

tarefa fundamental da política. Penso em uma famosa frase do filó-sofo grego Epicuro: "Contra todo o resto consegue-se garantir segu-

rança, mas em relação à morte habitamos todos uma cidade sem mu-ros." A maneira mais óbvia de ouvir esse aforismo enfatiza o caráter

"Nossospensamentosdevemserconsideradoscomogestos(Gebården)correspondentesaosinexorável da morte: por causa dela vivemos todos em um espaço

nossos instintos (Trieben) como todos os gestos" (Oeuvres complètes. Paris: Gallimard. v. 4, pindefeso. A morte evidencia a limitação de nosso poder fazer, ela

303). E, amda: "Os pensamentos são signos (Zeichen) de um jogo e de um combate das emo ões(A//ekte): elas estão sempre ligadas a suas raizes ocultas" (XII, 36).* Doutor em Filosofia, professor da UniRio, autor de Explicando a filosolla com arte. Rio de

Janeiro: Ediouro, 2004.

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expõe os limites da nossa capacidade de erigir muralhas, enfim, da geral por meio de uma guerracivil sangrenta, as classes dirigentes tra-nossa atividade política. A morte não respeitabarreiras e fronteiras. dicionais, arrancado-as do poder e substituindo-aspor uma outra for-A morte é um destino inexorável, inevitável, contra o qual não é pos- ça, composta pela nova geração emergente (tal como se deu na Revo-sível opor resistência. Tal parece ser a mensagem principal da sabe- lução Americana, de 1776, e na Francesa, de 1789, ou ainda nas revo-doria epicurista. luções comunistas que ocorreram na Rússia, em 1917, e na China, a

Existe, entretanto,uma outra forma de escutar essa máxima, des- partir de 1949). Enfim, revolução é entendida como mudança de go-

de que se desloque a ênfase dada: por causa da morte moramos todos verno e de doutrina econõmica.em uma mesma "cidade". A morte não torna evidente apenas a nossa Segundo Arendt, uma das características da revolução no sentidoinaptidão para prolongar a vida indefmidamente, ela expõe também o moderno é que ela não envolve simplesmente mudanças, mas simfato de que todos nós temos, ou melhor, somos algo em comum, e que acontecimentosque pretendeminstaurarum novo começo. O concei-esse ser-em-comum faz de nós participantes de uma pólis. Entretanto, to moderno de revolução está ligado diretamente à idéia de que a his-que tipo de cidade é essa cujos habitantes se constituem a partir da fi- tória recomeça subitamente, uma história nunca antes conhecida.'nitude? Como se constrói uma comunidade de mortais? Exemplo: a Revolução Francesa merece esse título, não pelo fato de

Minha proposta aqui é refletir sobre três palavras fundamentais: ter conquistadodefinitivamente a liberdade, mas por ter feito da liber-revolução, revolta e resistência. Trata-se de trës palavrasque parecem dade um dos direitos alienáveisdo homem. O novo começo é o direitodizer a mesma coisa, que parecem ser sinônimas, mas não são! Minha universal a ter direitos.hipótese é de que revolução,revolta e resistência são formasdiferentes A idéia de revolução política no sentido antigo, ao contrário,de o homem lidar com seu destino mortal, maneiras diferentesde "di- pressupunhauma interpretaçãodas mudanças sociais não como rup-zer não", enfim, formas diferentes de lidar com os muros da política. turas, mas como fases diferentes de um ciclo predeterminadopela na-

tureza dos problemashumanos, portanto imutável. Revolução era um2. Revolução - a onda de lava termo da astronomia (Copérnico escrevera em 1507 um famoso texto

. intitulado Da revolução das órbitas celestes). Era o nome do movi-No Brasil, acabamos de comemorar ou lamentar o aniversário de .,, mento rotativo regular das estrelas, para além da mfluência dos ho-40 anos da assim chamada "Revolução de 1964 , que instaurou uma .. . mens, irresistível, não necessariamente caracterizadopela novidadeditadura militar durante quase 30 anos. Um debate interminável se .

nem pela violência, mas "pela repetição dos altos e baixos do destinoproduziu na mídia a respeito da questão se o termo "revolução' usado , .

humano",- como um movimento ciclico, tal como na imagem da rodapelos próprios militares seria mesmo o mais apropriado para descre-- . da fortuna do tarô. Revolução significava originariamente restaura-ver o golpe. O dicionário define o significado político do termo des-

ção, e não transformação,estando originariamente associada à noçãocrevendo-o como um movimento de revolta contra um poder estabe-· de destino, no sentido de um ciclo necessário e imutável entre ascen-lecido, feito por um número significativo de pessoas, em que geral-. . , sao e decadëncia dos povos.mente se adotam métodos mais ou menos violentos; insurreiçao, re-O próprio Aristóteles fala na sua Política de uma alternänciaeter-belião, resistência, sublevação.Observemque no dicionário todos os .

. na entre a oligarquia, governo da elite, e a democracia, governo dotermos, revolta, resistência, são usados como se fossem equivalentes.. povo. Sobre esse aspecto, Arendt observaque a distinção entre pobresAqui me associo a HannahArendt (1906-1975), que no seu livroSobre a revolução, de 1963, dá algumas pistas fundamentais parauma compreensãomais radical do termo. Sabemos que, na concepçãO Arendt, H. Über die Revolution [Sobre a revolução]. München: Piper Verlag, 1999. p. 35.

- Eu cito a partir de uma tradução do ingl s para o alemño. mas existe uma versão em portuguès.da ciëncia política clássica, a palavra "revolução" é entendidacomo infelizmente já esgotada, publicada pela Editora Ática em 1995.um fenömenosociopolítico radical e violento que remove à força, em 2Arendt. Ü/wr die Revolution. p. 55

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e ricos era considerada natural, uma espécie de fatum no corpo políti- ou ainda "tempestade revolucionária que varre tudo pela frente".' Aco: "A questão social só começou a desempenharpapel revolucioná- revolução era como uma tsunami que a todos levava; o revolucioná-rio quandona idade modernaos homens começaram a duvidar de que rio, nesse sentido, não se vê como um agente que resiste, mas alguéma pobreza fosse inerente à condição humana."' que aceita incondicionalmente os designios dessa onda.

Para isso foi preciso romper com a noção antiga de história como Parecia que uma força maior que o homem, o destino, interferiramovimento cíclico imutável e trabalhar com a idéia de um processo exatamente no momento quando os homens começavam a lutar porprogressivo retilíneo, marcado agora por um novo começo. Segundo uma vida melhor. Segundo Arendt:Arendt, trata-se de um resultado da filosofia cristã, que vê o nascimentode Cristo como um acontecimento único e irrepetível, que não apenas "Há um certo grandioso absurdo no espetáculo desses homens que ousa-

ram desafiar todos os poderes que existem e todas as autoridades do mundo,dá um novo começo para a história, mas é o começo da história tal .cuja coragem não tinha quaisquer sombras de dúvida - submetendo-se, fre-como a compreendemos desde a modernidade.Nesse sentido estrito os qüentemente, de um dia para o outro, com humildade e sem um rito sequer, àtermos "rebelião" e "revolta" não são revoluções,pois não promovem chamada da necessidade histórica, por mais louco e incongruente que lhesnovoscomeços. Trata-se de eventos comprometidoscom a antiga lógi- deve ter parecido o aspecto exterior dessa necessidade."

ca histórica das mudanças vistas apenas como fases diferentesde umciclo eterno, necessário e imutável, estações de um destino. Em resumo, a palavra "revolução", tanto no seu sentido antigo

Arendt aponta a data exata em que a palavra "revolução" foi usa- como no moderno, denota uma atitude de submissão incondicional eda pela primeira vez quebrandocom seu caráter cíclico e destinal. No absoluta a uma força exterior. A única diferença é que antes essa ne-dia 14 de julho de 1789, à noite em Paris, Luís XVI soube pelo duque cessidade era natural e cíclica, e na modernidadepassa a ser histórica,de Liancourt da tomada de Bastilha, da fuga de alguns prisioneiros e quer dizer, linear e progressiva. Revolução é tão-somenteum "não"da derrotadas tropas reais diante de um ataque popular. O diálogo que aparente, na verdadeé um "sim" a forças exteriores. Embora o termose segue é um dos mais famosos da história moderna: "é uma revolta", apareça em uma retórica da liberdade, seu motor é a necessidade ine-diz o rei; "não majestade, é uma revolução", respondeo

duque.4ISso xorável. Os revolucionários não são agentes, mas gravetosengolidos

quer dizer que estava para além do poder do rei, estava para além do pelo fluxo de uma onda destinal. Por mais paradoxal que isso possapoder do homem, era uma força histórica tão necessária e irresistível soar, a palavra "revolução" está associada a um gesto de aceitação ir-como o movimento dos planetas no céu. restrita e absoluta do destino. O "não" revolucionário aproxima-sedo

Uma observaçãoimportante no sentido de uma desconstrução do "sim" do camelo, na famosa passagem "Das três metamorfoses", notermo revolução deve ser feita aqui: na transição do sentido astronô- Zaratustra, de Nietzsche.mico antigo para o moderno a idéia de irrestibilidade é mantida, comose fosse apenas substituição de um tipo de destino, ciclico, por outro, 3. Revolta - o combate contra o marlinear e progressivo. A aceitação incondicional do destino não é ques-tionada,mas, ao contrário, reforçadapor diversas imagens na literatu. Interrompo esta breve reflexão sobre a revolução para falar umra revolucionária da época. Arendt cita diversasexpressões que deno- pouco sobre a segunda palavra fundamental: "revolta". Minha hipó-tam esse caráter destinal ou irresistível, tais como "torrente revolu- tese é de que esse termo designa uma outra forma de oposição ao po-cionária", "ondas tumultuosas que sugam seus atores", "majestosa der, uma outra forma de exercício de liberdade, outra forma de dizercorrente de lava que nada poupa e que ninguém pode interromper", não. Vimos com Arendt que na origem do termo revolução, no senti-

' Idem. p. 22. * Idem. p. 64-65.* Cf. Idem. p. 62. * Idem. p. 57.

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do de instauração de um novo começo, já está dada uma contraposi- em todas as épocas da história, entre os gregos, os indios ou os africa-ção à idéia de revolta, como se esta fosse apenas uma espécie de agita- nos. Camus está mais preocupado, entretanto, com um fenõmeno dação que parece se manter na superficie. O uso comum parece confir- modernidade,mais precisamente a partir do Enal do século XVIII, quemar essa distinção, pois a expressão freqüente e já meio banalizadana ele chama de "revolta metafisica", uma espécie de "nào-ilimitado" a

mídia-"uma revolução nas artes, na música, literatura"- indica uma tudo que oprime, em nome de uma liberdade também ilimitada.ruptura, um novo começo, ao passo que a descrição de um sujeito A revolta metafisica pode ser vista então como a recusa irrestritacomo sendo "revoltado" já carrega o peso da denúncia de uma certa e indiscriminada de tudo que seja consideradolimite, constrangimen-ineficácia dessa revolta. to, condição, seja na forma do senhor, do rei, de Deus, de destino, da

O dicionário define revolta como manifestaçãocoletiva, organi- verdadeou da morte. Segundo Camus, a revolta metafísica é um fenô-zada ou não, de insubmissão contra qualquer autoridade; motim, re- meno moderno, do fmal do século XVII. Os gregos não a conheciam,belião, levante.Julia Kristeva, no seu livro Sentido e contra-sensoda pois acreditavamna natureza, e se revoltar contra a natureza era se re-revolta (1996), aponta para o fato de que a origem semântica do termo voltar contra si mesmo: "O cúmulo da desmedidapara um grego é umestá associada à idéia de movimento. O verbo latim volvere que deu combater o mar com paus e pedras." A revolta, no sentido da reaçãoorigem ao termo "revolta" tambémgerou termos tais como evolução, contra a fmitude, é uma das dimensões essenciais que caracterizanos-que dizia respeitooriginariamente aos movimentos das tropas milita- so momento histórico. Ela é o seio no qual nasce o niilismo contem-res, avançandoou recuando.Revoltar-se é, nesse sentido, desviar-se poräneo.da evolução, retornar ou trocar o sentido do movimento, virar o rosto O cerne dessa revolta metafisica é a interpretaçãoda condição fi-para outro lado, rejeitar o sentido que é imposto por uma autoridade nita do homem como uma pena de morte generalizada. Essa recusapara o movimento. Etimologicamente, a palavra revolta está associa- incondicional da finitude encontra-se expressa de forma contundenteda às palavras motim, volume e até "omelete".' em um diálogo da peça de Ionesco, O rei morre (1963):

A revolta tem predominantementeum caráter negativo: rejeiçãoda autoridade, oposição a um poder, desvio de uma crença etc. Essa MARGUERITE, ao Rei: Majestade, é preciso anunciar que ireisidéia de revolta como um "virar a face", um "dizer não", é enfatizada morrer!por Camus no seu famoso livro O homem revoltado, de 1951. Esse li- O MÉDICO: Sim, Majestade.vro não é uma pura e simples apologia da revolta, mas uma investiga- O REI: Mas eu sei bem, certamente. Todos sabemos. Me lembremção sobre as sutilezas e ambigüidades implicitas nessa atitude. Logo quandofor a hora. (...). Eu morrerei quandoeu quiser, eu sou o rei, souna introdução, Camus diz: "o homem é única criatura que se recusa a eu quem decide.ser o que ela é"." Essa recusa pode ter tanto um caráter criativo (todo O MÉDICO: Perdestes o poder de decidir sozinho, Majestade.artista é por defmição um revoltado com o real, pois se recusa a acei-tar as coisas do jeito que são) como um caráter reativo, que pode levar A peça narra a lenta degradaçãode um homem, o rei Bérenger, eà destruição dos outros e ató de si mesmo. sua aprendizagemde aceitação da morte através de um longo cami-

Interessa-me aqui, em primeiro lugar, esse caráter reativo da revol- nho permeadopor revolta e desespero. Qualquer semelhança desseta, esse dizer não a todo custo, contra tudo e contra todos. A revolta diálogo sobre a inevitabilidade da morte com o diálogo de Luís XVI ecomo um dizer "não" do escravo ao seu senhor é uma atitude presente o duque de Liancourt acerca da diferença entre revolta e revolução

não é mera coincidência.Kristeva, Jul ia. Sentido e contra-senso da revolta - poderes e liinites da psicanálise. Trad. Ana

Maria Scherer. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 17.

Camus, Albert. L'homme révolté. In: Essais. Paris: Gallimard, 1965. p. 420. " Idern. p. 439.

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A não-aceitaçãoda morte como condição humanaé um dos indí- são a conseqüência lógica da revolta metafisica, ou seja, do movi-cios da desmedidaque caracterizao movimento da revolta na era con- mento desesperado e sangrento de afirmar o homem no lugar daquilotemporänea.'°A denegação da morte faz o homem procurarjustifica- que ele nega. A recusa de tudo supõe a crença de que o homem é capaztivas e culpadospara sua condição. A "revolta metafisica" vira revol- de uma liberdade irrestrita, sua subjetividade é expansível de formata política quando o homem moderno mata Deus, que é tido como o irresistível. A diferença é que, se a revolução modernamata Deus naautor da pena de morte, substituindo-o logo em seguida pelo próprio pessoa de seu representante, o rei, a revolução do século XX mata ohomem, ao arrogarpara si o poderde decidir quem deveviver ou mor- que resta de Deus nos princípios eles mesmos e consagra o niilismorer, passando a "fabricar cadáveres". Camus descreve no seu livro, histórico. Por causa dessa critica à revolução, o livro de Camus foiseguindouma linha nietzschiana de diagnóstico cultural do niilismo, primeiramente ignorado e depois fortemente criticado. Também poras diferentes etapas desse dizer não indiscriminado, que começa causa dessa tese polêmica Sartre rompe sua amizade com ele. O tem-como uma reação do escravo contra o senhor, podendo virar o assas- po mostrou que Camus estava certo, as revoluções se tornaram re-sinato do rei, depois o assassinato do próprio Deus, por fim o assassi- pressivas, institucionalizadas, exacerbando e dando completude aonato generalizado, o terror absoluto. espirito reativo de revolta que havia nelas.

Em resumo, a revolta metafisica é um odiumfati, um não destru- Se a revolução no sentido de Arendt nasce sob os auspicios detivo, um bater com a cabeça na parede, um insensato que dá socos nas uma necessidade absoluta pela mudança, a revolta metafísica, no sen-ondas. Se na idéia de revolução trabalha uma lei eterna, da natureza tido de Camus, nasce de um não absoluto e indiscriminado contra oou da história, na idéia de revolta trabalha a idéia de uma ausência ab- senhor, Deus e a própria condição mortal. Revolucionar pressupõesoluta de lei, mas essa liberdade absoluta é também uma prisão abso- dizer sim incondicionalmente a um destino, revoltar-se pressupõe di-luta, pois, se nada é verdadeiro, então tudo é permitido; mas, se nada é zer um não incondicional a toda forma de destino. As retóricas da re-verdadeiro então também nada é permitido, porque não há nada pelo volução e da revolta visamà liberdade,mas ambas contêm elementosqual se mereça lutar, combater ou se arriscar: que desmobilizam e enfraquecem a liberdade humana.

"Se nada é verdadeiro, se o mundo é sem regra, nada é defendido, para proi-4. Resistência --- a sabedoria do surfistabir uma ação é preciso ter um valor ou uma meta. Mas ao mesmo tempo nada

é autorizado, é preciso também um valor e metas para escolher uma outra Interrompo esta reflexão sobre revolução e revolta para falar sobreação. A subordinação absolu a uma lei não é liberdade, mas o caos é tam-a terceira e última palavra fundamental: resistência. O dicionário diz:bém uma forma de servidao.recusa de submissão à vontade de outrem; oposição, reação. No sentidocorriqueiro, resistir é sempre "resistir contra" ou "resistir a". Etimolo-Camus tem em comum com Arendt a suspeita de que as revolu-. gicamente, o prefixo "re aponta para uma duplicação, literalmenteções tendem a negara liberdade que colocam como meta e justificati-

12 uma insistëncia no estar, no existir, enfim a qualidade de quem de-va. Só que para Camus as revoluções modernas e contemporâneasmonstra firmeza, persistëncia, de quem afirma sua diferença. Vimosaté agora que os termos revolução e revolta, tanto na sua origem como

"'Outra imagem dess revolta desesperada contra o poder da morte encontra-se no famoso livro 13o seu uso histórico, se defmem como diferentesatitudes em relação ade Kafka O processo. Trata-se muito mais do que uma critica a uma sociedade burocratizada, poder, seja como sua aceitação absoluta na forma de um destino, sejamas muito mais a descrição de um homem revoltado com sua condição humana mortal, que é m-

como sua recusa desmedida através da crença em uma subjetividadeli-terpretada como acusação e da qual ele vai procurar se evadir a todo custo, seja provando sua su-

posta inocöncia, seja subornando seus acusadores, seja ameaçando-os de morte. Yr e Poderosa. Quero sugerir agora, desde Nietzsche e Deleuze, umCamus. L homme révolté, p. 480. outro significado para a palavra resistir, que não seja mais um resistirIdem. p. 5 I 5.

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contra algo, mas um re-insistir. Resistëncia como uma forma especial ou na filosofia, é a aceitação de um destino, embora essa aceitaçãode enfrentar o poder, de dizer não e sim, de agir conforme a liberdade, . não seja uma mera submissão.

de lidar com a morte e com os muros da política. Há ainda um segundo ponto igualmente importante. Para Deleuze,No colóquio internacional de filosofia "Resistëncias", realizado retomandouma tese de Foucault, estamos passando de uma sociedade

no cinema Odeon, Rio de Janeiro,em 2001, a professoraTatiana Ro- disciplinar (onde se constituem espaços de enclausuramento, tais como

que, do Departamentode Matemática da UFRJ, na sua palestra inau- as prisões, as escolas, os hospitais) para uma sociedade de controle,gural, propös a idéia de que resistëncia também é uma forma de desti- onde não há mais necessidade de meios de enclausuramento. A dife-no. Ela cita uma frase, para mim intrigante, do matemático francês rença entre o controle e a disciplina é que o controlepromove uma do-

Jean Cavaillès (1903-1944), morto no combate contra a ocupação minação sem clausura. As paredes da prisão, da escola, do hospital são

alemã, que justificava seu envolvimento na resistência francesa não como que estendidas para todos os dominios da existência, são como

como uma escolha de livre-arbítrio, mas como uma forma de necessi- que introjetadas, sem que se dêem conta disso. A melhor imagem para

dade tão urgente quanto a própria necessidade dos encadeamentos entender a noção de controle é a da estrada: "Com uma estrada não se

matemáticos: "eu não posso fazer de outro jeito", dizia ele. enclausuram pessoas, mas, ao se construir estradas, multiplicam-se as

Desde entào venho pensando em um outro sentido para a palavra formas de controle", diz Deleuze. A idéia básica da estrada é que se tra-

resistência, um sentido que envolva a idéia de destino, mas que não seja ta de uma via na qual as pessoas podemtrafegar até o infmito, suposta-

nem a aceitação absoluta de uma necessidade imutável, qualquer que mente de maneira absolutamente livre, quandona verdade seus movi-seja, nem a sua recusa absoluta. Como pensar a resistência para além mentos estão sendo perfeitamentecontrolados. A sociedade de contro-das noções de revolução e da revolta? Algumas indicações podem ser le do futuro e do presente oferece muitas dessas estradas, tais como as

encontradas em uma palestra de Deleuze, proferida em 1987, para estu- supervias de automóveis, de imagens na televisào, de informações na

dantes de cinema, intitulada O ato de criação." O objetivo principal rede de computadores, e em cada uma dessas supervias temos a ilusão

dessa palestra é mostrar, de um lado, que o cinema também tem idéias, de agir livremente, mas cada escolha e cada movimento estão sendo

que o pensar não é prerrogativa da ciência e da filosofia. Por outro lado, predeterminadose controlados.

Deleuze busca mostrar que a filosofia também é um ato criativo, cria- A tese deleuzeana é que a obra de arte é um ato de resistëncia em

ção de conceitos. Os conceitos não estão prontos, como em um céu de uma sociedade de controle. Perguntas difíceis podem ser feitas aqui:

conceitos esperando para serem apanhados. A criatividade não é uma O que é arte eo que é resistir? Qual a relação entre arte e resistência?

prerrogativaúnica da arte, muito menos da propagandae do marketing; Deleuze também parece não saber a resposta para essas perguntas:

a filosofia também é uma atividade criativa. "Qual a relação misteriosa entre uma obra de arte e um ato de resistên-

Dois pontos importantes devem ser ressaltados: o ato de criar cia? Nào sei..." Uma possível tentativa de resposta diz que arte é aqui-

pressupõe uma não-aceitaçàodo real tal como ele se apresenta, maslo que resiste, mesmo que não seja a única coisa que resiste: "Todo ato

também não é a mera imposição da vontade do criador nem a realiza- de resistência nào é uma obra de arte, embora de uma certa maneira

ção simples de um desejo ou um prazer, mas antes de tudo é a aceita-ela faça parte dele." Existe então uma dimensàoartística em todo ato

ção de uma certa necessidade. "É preciso que haja necessidade, tantode resistir? Mais adiante Deleuzeafirma: "Toda obra de arte não é umato de resistência, e, no entanto, de uma certa maneira, acaba sendo."

na filosofia, quantoem qualquer outra área, do contrário não há nada.. Criar artisticamente é sempre resistir? Lembremo-nos da obra do es-Um criador não é um ser que trabalha pelo prazer. Um criador só faz

. . ,, critor cearense José de Alencar: há uma dimensãode resistência mes-aquilo que tem absoluta necessidade. O que move a criação, na arte .mo na sua literatura conservadora?Nào existe uma arte niilista? A

" Eu cito a partir da tradução de José Marcos Macedo publicada no caderno "Mais" da Folha de arte traz sempre, mesmo que não intencionalmente, algo que resiste

S. Paulo, de 27.6.1999. ao poder?

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Deleuze aponta para uma intimidade entre resistir e criar artisti- como se o homem socasse as ondas do mar, então que imagem mais

camente. Nem todo ato de resistência produz obra de arte, mas a arte apropriadapara o gesto da resistência é a do surfista, aquele que nem

pode nos dar uma perspectiva sobre a resistência. Em A gaia ciência, ' luta desarvoradamentenem se deixa levar como um graveto, mas que

Nietzsche afirma que não existe realidadeabsoluta para o artista, "ne- tem a sabedoria paradoxal de respeitar e aproveitar a força, a veloci-nhum artista tolera o real", mas, por outro lado, nenhum artista pode dade e a intensidadedas ondas. O surfista incorpora a imagem do filó-abstrair totalmente do real. A criação é simultaneamenteexigência e sofo do amor fati, aquele que tem a capacidade de dizer não para os

uma recusa do mundo. A arte recusa o mundo em nome do que lhe fal- impasses tradicionais da revolução e da revolta, mas também sabe di-ta, mas também o afirma em nome do que ele é. zer sim para as surpresas do acaso, condição de possibilidade do gesto

Resistir parece com o criar porque há no ato de criação um gesto de criação na arte e na vida."ambíguode contestação e de afirmaçãoapaixonadapelo que é. Pode-se ,

dizer, nesse contexto, que "resistir" é renunciar à revoluçãoe à revolta, 5. A comunidade dos cunhadosuma forma de dizer sim e não ao mundo, de repetir e diferenciar o mun-do e a si mesmo. Resistência é a recusa de ser tratado como uma coisa Deleuze cita na sua palestra sobre o ato de criação uma frase de

no devir histórico, mas também é a renúnciaà reinvidicação de uma li Malraux: "A arte é a única coisa que resiste à morte." Todo ato de re-

berdade total. A diferençamais fundamentalentre a revolta metafisica sistëncia é uma resistência à morte. O que significa aqui dizer que a

e a resistência é a ausëncia de limites, a instauração de uma liberdade arte resiste à morte? Certamentenão é apenas o sentido óbvio de que a

absoluta, tão absoluta que se autoriza a matar indiscriminadamente.A obra sobrevive ao artista. O resistente se encontradiante da morte as-

resistência no seu sentido mais originário, ao contrário, aceita as ambi_ sim como o artista diante do real; ele a combate, sem a subtrair e sem

güidades inerentes à ação e assume seu caráter provisório e relativo. se subtrair dela. Não se trata apenas de aceitar a transitoriedade da

Para mim, a resistência no seu sentido afirmativo se mostra como uma existência, mas de se alegrar com ela e até lhe sentir amor.

espécie de "liberdade finita": uma liberdadeque tem clareza sobre as li- A atitude da resistência correspondeà sabedoriado surfista, que

mitações e também sobre os imponderáveisde cada situação. A liber não se deixa levar passivamentepela onda nem tenta lutar contra ela,

dade finita é a serenidade para desistir de uma decisão se os rumos da mas aproveita sua energia e explora criativamente suas possibilida-situação assim o exigirem, mas é também a disponibilidade para aceitar des. A onda do momento é o niilismo. Revolução, revolta e resistên-

o fato de que não é possível não escolher. A não-escolha já é sempre cia são maneiras diferentes de lidar com essa onda. O niilismo é o pro-uma escolha, e talvezuma das mais difundidas.A liberdadefinita pres- blema mais fundamental da era contemporânea,mas acredito que ele

supõe uma certa serenidade, que não deve ser confundida com uma não se apresenta de uma forma única e universal; existem formas re-

simples passividadediante das coisas. gionais, européia, norte-americana,asiática, africana, brasileira. Nossa

tarefa como filósofos no Brasil é reconhecer as formas nacionais doVejo essa idéia da liberdade finita, um dizer sim e não simulta-- . . niilismo, que podem ser o tédio, a supervalorização da beleza fisica,neos, já delineada na famosa concepção nietzschiana de amor fati: . ., , ou ainda a indiferença generahzadaem relação aos muros da política.Eu queroaprendermais e mais a ver como belo aquilo que e necessa- .O mais importante é que precisamos começar a discutir as alternati-rio nas coisas - assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coi- .. . . -

vas para as formas do milismo brasileiro.sas. Amor fati: esse é meu amor a partir de agora" (A gaia ciência, §. Para concluir, gostaria de arriscar uma resposta provisória para a341). Trata-sede uma adesão ao destino, que não tem nada de fatalis-questão inicial de como pensar uma comunidade de seres mortais,ta. Se o modelo da revolução é a órbita dos planetas, a torrente de lava,

a onda que tudo arrasta; se a retórica da revolta envolve um não que a "daFolhade" Eu cito a partir da tradução de José Marcos Macedo publicada no caderno "Maistudo arrasa, um não que se volta contra a própria condição humana,S Paulo, de 27.6.1999.

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como construir uma cidade que protege seus cidadãos, sem precisar. . Yanomami na Amazônia, usada como interlocutório pessoal. Os pro-construir muros. A morte é algo que nos divide, na medida em que - -. datores queriam que Viveiros de Castro explicasse o sentido do ter-cada um tem de morrer a sua própria morte, mas é também o que divi-

mo, que estava sendo entendidocomo "irmão", eo associasse aos dis-dimos entre nós.. cursos sobre fraternidade e solidariedadeda cultura ocidental. Vivei-É possívelpensar uma comunidade de mortais desde que ela seja . -

ros de Castro disse que poderia fazer a nota, mas que seria necessáriode outra ordem. O filósofo francës Georges Bataille estabeleceu uma ,tazer uma importante correção: Txai, expressão de tratamento infor-diferenciação, que me parece muito pertinente, entre uma "comuni-. . . . mal usada tanto para pessoas conhecidas próximas como para estran-dade tradicional" e uma "comunidade eletiva". A "comumdade tradi- geiros e visitantes, não poderia ser traduzido como "irmão", mas simcional" se funda na veneraçãoda raça, solo ou tradição. A "comuni- ,, ocomo "cunhado . Os produtores, decepcionados, desistiram dadade eletiva" é a comunidade desses que nada têm em comum, a não .,, a , idéia de colocar a nota explicativa na contracapa, pois acharam poucoser "uma escolha da parte dos elementos que a compõem . So que o - -

, promissora a perspectivade comercializar um cd com o título de "Cu-escolher' refere-se menos à comunidade mesma do que à condição nhado"de mortal. É preciso primeiro escolher ser mortal. Trata-sede uma si-. . O que me interessou nessa anedota é que ha algo de muito sábiotuação ambivalente: não podemos perder a comunidade, pois ela nos - . , -

nessa forma de tratamento usada pelos Yanomami. A "cunhadice' in-constitui essencialmente; somos como que condenados a ela. Mas, ao -dígenaparece-meuma idéia alternativa, amda a ser desenvolvida, àmesmo tempo, a comunidadenão é dada, impõe-se conquistá-la e tor- retórica já ultrapassada dos modernosocidentais em torno da "frater-nar possível seu vir-a-ser. Seria curioso tentar antecipar como isso se . . . .. . nidade". O irmão é alguém que se conecta a mim pelas vias da identi-daria na realidade brasileira, morena, simultaneamente pré e pós-dade (de sangue, de solo ou de língua). A sedutora e simpática retóri-moderna.ca da fraternidade esconde, na verdade,uma lógica de exclusão e vio-Qualquer antecipação de modelos, esquemas ou estratégias é

. . ,.' lëncia contra o que é outro eo que é diferente. Cunhado,ao contrário,nesse caso, desaconselhável, mas talvez seja a hora de sugerir a ideia

. nao e um parente que se conecta pelo sangue em comum, mas por ali-de que a comumdadede mortais, a cidade sem muros da "resistencia. ança, alguém com quem me ligo não porque temos uma identidade,afirmativa", é uma espécie de "comumdade de cunhados". O dicioná-. mas por uma diferença. Cunhadosnão têm uma identidade comum,rio define "cunhado" como o irmão de um dos cônjuges relativamente. estào conectados de maneirasdiferentes com um diferente; a pessoaao outro cõnjuge, um parenteque não se liga pelo sangue em comum.de quem sou cunhado nunca é a mesma, pode ser irmão(ã) ou espo-Entretanto, cunhado é mesmo um parente? A inspiração para a hipó-, so(a), dependendoda relação. Cunhados são parentes que se ligamtese de uma "comunidade de cunhados' me veio a partir de uma pa-. . pela diferença.A comumdadede mortais é também uma comunidadelestra do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro (UFRJ), por oca-. . de Txais, uma comunidade de cunhados, daqueles que nada tëm emsião de uma aula inaugural realizada em abril de 2004 no Mestrado .. . comum, mas que se ligam de formas diferentes através da diferença.em Memória Social e Documento da UniRio. Na ocasião, Viveiros de

. Deleuze termina sua conferência dizendo: "Não existe obra de arteCastro contou uma interessante anedota acerca do pensamento indí-,,que nao faça apelo a um povo que ainda não existe... Esse povo quegena. Os produtores do cantor Milton Nascimento procuraram o an- .

ainda não existe é a comunidade dos cunhados, mortais que nem ne-tropólogo certa vez para que este fizesse uma nota explicativa para o. gam nem aceitam seu destino, mas o recriam, como surfistas, comodisco Trai, lançado em 1990. Trai é uma expressão comum entre osartistas, como resistentes.

"' Para uma discussão mais detalhada sobre a questão da afinidade na Amazönia, recomendo a

" Eu cito a partir da tradução de José Marcos Macedo publicada no caderno "Mais" da Folha</eleitura do livro de Eduardo Viveiros de Castro. A inconstancia da alma se/ragem. São Paulo:S Paulo, de 27.6.1999.Cosac & Naify, 2002, especialmente os Capítulos 2 e 8.

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NIETZSCHE/DELEUZE:

ARTE, RESISTÊNCIA

SIMPÓSIO INTERNACIONALDE FILOSOFIA - 2004

Organizador:Daniel Lins

( y Prefeitura de

FORENSE FortalezaUNIVERSITARIA

Page 10: Revolução, Revolta e Resistencia

P edição 2007

e CopvrightCamille Dumoulië, Charles Feitosa, Cláudia Maria Pemme. Dimiel I.ins,Edson Passetti. Eduardo Diatahy B. de Menezes. François Zourabichvili.

Fredrika Spindler, Jacques Ranciare, Jorge Vasconcellos, luiz B. L. Orlandi.Maria Cristina Franco Ferraz. Norman Madarasz, O. E Bauchwitz.

Paulo Domenech Oneto. Paulo Germano Albuquerque. Peter Pál Pelbart,Raymond Bellour. Reghme Collares. Rosa Maria Dias. Selda Engelman, Apresentaç ãoSilvia Pimenta Velloso Rocha. Sylvio de S. Gadelha Costa.

Tania Mara Galli Fonseca.Walter Bruno Berg

Arte, ResistênciaCIP-Brasil. Catalogação-ini-foine

sinalano Nacional aos sciare, de oss,s.«A arte pode ser concebidacomo uma esfera semiótica, como umaNieitsche eleuze: anc, resisincia: Siniposio Internacional de Filoso6a 20"' disciplina segmentada da vida, apresentando rigidos limites, determi-orgtinizador Danici f.ins Rio de Janerro: Forense Universitária: Forulleza. CE

Funditcão de Ctiltura, Fsporte e Ttirismo. 2007.nados por um conjunto de regras de produção e julgamento que vari-

Inclui bibliografia am em um percurso histórico. Quando tratada dessa maneira, passa aTrabalhos apresentados no V Simposio Interiuiciolull de Filosolla Nietzsche e.Deleute: arte. resistência. realizado em Fortaieza, 2004 Ser submetida à história da filosofia e considerada uma espécie deISf3N 978-85 2l8 0419 2

- --apendice, encontrando-seem uma relação subordmadaque a reduz a

y sÌ"Ê$s "in's'""

,''

a"

^"uma representação estética ora separada, ora submetida à lógica, à éti-

Congressos L Lins. Daniel soares. 1943 11 Siniposio internacional de Eliosona 5:

C3 e à POÌÍÍÍCa.2004: I artalent CEL [II Fundação de Cu]1ura. Esporte e Turismo do Estado do Ceani

Ao ser arrastada pela história da filosofia, a arte persegue e repro-coo ai duz os universais através da contemplação,da reflexão e da comuni-

cação. Ela consiste em uma representação estética do objeto-naturezasegundo regras e valores que demarcam o belo, o universal, o imutá-vel, a essência, a consciëncia, a estrutura, a significação, a mensagem.A representação comporta a divisão do mundo em binariedades(sen-sível/inteligível, real/abstrato, essência/aparência...), fixando um re-ferente que opera pela equivalência e pelo rebatimento sobre o Mes-mo com caráter extensivo e valor universal.

A potência da arte reside na possibilidade de fugir dessa forma deorganizaçào,gerandodeslocamentos que implicam o abandonoda re-Proibida a reprodução total ou parciaL de qualquer forma

ouporquaiguermeiceletronicooumecanico.sempermissao presentação. Caso contrário, não é arte. Deleuze e Guattari afirmamexpressadoEditor(Lein 9.610.de 19.2.1998L 1que a arte jamais foi representativa. Ela é criação, composição deReservadososdireitosdepropriedadedest diçàopela blocos de sensações, afectos e perceptos," que escapam ao humano.EDITORA FORENSE UNIVERSITARIA

RiodeJaneiro:RuadoRosário.100 -Centro CFP20041-ool Uma arte-mundo que resiste à noção de cultura, conformada com oTels./Fax:2509-3148/2509-7395

CampO distinto resultante das ações do homem, e à noção de cultivoSão Paulo: Senador Paulo Egidio, 72 - sli sala 6- Centro CEP01006 010

Tels./Fax:3104-2005/3104-0396/3107-0842 do espírito, dirigida ao bem como um juízo de valor e um fim. Tra-e-mail: editora forenseuniversitaria.com.brhttp://www.forenseuniversitaria.com.br

i Deleuze, Gilles;. Guattari, Félix. O que é a filosofia '. São Paulo: Ed. 34, 1996. p. 248.Inipresso no Brasii "Os afectos são precisamente estes devires não humanos do homem, como os perceptos são asPrimat in an,-il

paisagens não humanas da natureza." Ibidem. p. 220.

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