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Page 1: Revista Urbano

belo horizonte - 2010

Revista do Curso de Comunicação Social do Instituto Metodista Izabela Hendrix

Número 1

Page 2: Revista Urbano

EditorialExpediente

Uma revista nem tão mitológica assim

Eu adoro mitos urbanos. O homem do saco, a loira do banheiro, as músicas

da Xuxa e dos Menudos com mensagens bizarras quando tocam ao contrário

na vitrola. Tudo isso sempre foi muito divertido. E essa diversão passou de

brincadeira e norteou parte da minha vida profissional. Eu estudei jornalis-

mo cultural, literatura fantástica, mitos mineiros, falei Candyman três vezes

na frente do espelho, quebrei o boneco do Fofão para ver se havia uma faca

dentro, tentei mexer as coisas com poder Jedi da mente. Muitas vezes, pro-

curei essa direção, outras vezes, ela simplesmente me encontrou. Percebam:

quem sabe seja mais que coincidência o fato de hoje eu ser professor respon-

sável por esta publicação, talvez, se você lê-la cem vezes começando da últi-

ma para a primeira reportagem, ela se transforme em outra mídia, ou talvez

você apenas se sinta bobo. Será que sou outro mito, ou será que sou apenas

Urbano, porque ser Urbano não é, exatamente, acreditar em nada “disso”,

mas é compreender, ainda que por osmose, a força que sustenta “isso”.

A aproximação que faço entre as mídias e os mitos é menos forçada que

se pode imaginar. Não é apenas uma mídia impressa que muda conforme

muda a sociedade. Não há espaço para a noiva abandonada na estrada hoje,

a não ser que ela tenha fugido de skate, ou, ao contrário de usar seu choro

lamuriante para chamar atenção dos motoristas, faça uma batalha de DJ’s.

É provável que os mitos atuais sejam menos insólitos, mas não são menos

mutantes. O cotidiano Urbano é envolto em mitos, porque é, epistemologi-

camente, uma maneira de darmos conta da vida. Ser Urbano é muito mais

que morar na cidade, é mais que escrever para esta publicação. Mas não se

zangue comigo, nem se frustre, eu também não tenho a resposta.

Gostamos de pensar que o exercício de confecção desta revista fez mais que

treinar nossas habilidades jornalísticas, ela exercitou nossa cidadania. Dedi-

camos cada linha, cada ilustração, cada grafismo desta nossa primeira edição

aos alunos que tanto se esforçaram para que pudéssemos chegar onde es-

tamos. Fazemos votos que a Urbano seja vindoura, frutífera e, por que não,

mitológica. Pois, ainda que quiséssemos, não haverá nenhum Chupa Cabra

nesta primeira edição. Mas é melhor não nos dar muita ideia.

Luiz Lana

Instituto Universitário Metodista Izabela HendrixCurso de Comunicação Social

ReitorProf. Dr. DAVI FERREIRA BARROS

Pró-Reitora AcadêmicaProfa. Msc. MÁRCIA NOGUEIRA AMORIM

Pró-Reitor AdministrativoProf. Ms. FABIANO DAL FORNO TEIXEIRA

Coordenador do Núcleo de Artes e TecnologiaProf. Ms. MARCELO REIS MAIA

CoordenadoraJOSANA MATEDI PRATES DIAS

ProfessoresALEMAR RENA DANIEL RAMOSEDILEIDE BAUSENFABRÍCIO MARQUES FILIPE FREITASIVAN SATUFLEONOR CAMPOSLUÍZ LANAPEDRO MARRA

SANDER NEVES

Alunos envolvidos nesta ediçãoALCIONE INÁCIOARIEL JUNIO OLIVEIRA SOUZABELCHIOR QUINTINO DA ROCHABRUNA GABRIELA SANTOSFABIANA BRAZ FARIAFABRICIO SANTOS JORDAOFERNANDA DA SILVA RIBEIRO GOVEIAGABRIELA PÁSCOA DE SOUZAISLANO SANTOS DE LIMAJAQUELINE KARIS QUINTAL SOUSAJOSÉ ARY STAMBASSI JUNIOR KATHIANE FRANCELINA DIASKÁTIA REJANE GRACIANO BARROSLEONARDO DANIEL GUERRAMARCOS AURÉLIO MARTINS DOS SANTOS MARILIA SOLDATELLI BRITTORACHEL DE OLIVEIRA SILVATHIAGO MUNIZ ROCHA

Projeto Gráfico e Diagramação: JUNIOR STAMBASSI, LUIZ LANA, GLAUBER MOISES E EMANUELLE DINIZTiragem: 1000 exemplaresImpressão: Lastro Editora Gráfica Ltda.

Editor: LUIZ LANAJornalista responsável: Edileide de Souza Bausen MG 10449 JP

Agência Experimental Conceitoagenciaconceito.metodistademinas.edu.brwww.metodistademinas.edu.br

Page 3: Revista Urbano

O lado

boêmio de BHPágina 22

Estrangeiros em BH Página 20

Um Retrato da

Fotografia

Página 11

Uma Relação de Sucesso Página 6

História, Sociedade

e Mudança Página 17

Os 4 ps da Praça Página 8

Page 4: Revista Urbano

A cidade de Belo Horizonte, povoada por diversi-

dades de canto a canto, de bairro a bairro, com

inúmeras ruas, vilas, becos, largas avenidas,

como toda grande cidade, nos leva ao refúgio

de um parque. Assim como existe o Ibirapuera em São Pau-

lo, o Jardim Botânico no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte

se encontra o Parque Municipal Américo Renné Giannetti,

chamado apenas de Parque Municipal pela população. Um

local para se respirar, em meio a todo agito da capital mi-

neira, barulho, trânsito intenso, um fluxo grande de pessoas

que passam pelo centro da cidade, o parque consegue ser

um lugar fresco e sossegado.

Inaugurado no dia 26 de setembro de 1897,

antes mesmo da capital mineira, o Parque Municipal é

o patrimônio ambiental e o jardim público mais anti-

go da cidade. Abriga histórias interessantes como a do

lambe-lambe Roberto Marcos da Silva, de 51 anos, que

trabalha há 35 anos fotografando famílias, casais de na-

morados e crianças de todas as classes e lugares, que

o procuram para registrar momentos junto à natureza.

Hoje Roberto faz as fotos digitalmente e as

entrega em apenas três minutos aos clientes, mas nem

sempre foi assim. “Antigamente demorava de 15 a 20

minutos para entregar um retrato em preto e branco

para os clientes. Quando surgiu a foto colorida, o tem-

po de revelação aumentou para 1 hora”, relembra. Para

Roberto, a agilidade com a nova tecnologia digital me-

lhorou muito e facilitou o seu trabalho para os dias de

maior movimento, como sábados, domingos e feriados.

O Parque Municipal tem atrações de lazer gra-

tuitas como brinquedos, equipamentos de ginástica,

pista de caminhada, quadra poliesportiva, pista para

skate e quadra de tênis, além dos tradicionais trenzi-

nho e burrinhos, também o Teatro Francisco Nunes, o

Mercado das Flores, o Palácio das Artes e um Orquidá-

rio. Em meio a essa diversidade, as pessoas praticam

esportes, namoram, descansam, fazem excursões

escolares ou apenas passam para ter contato com a

natureza e respirar ar puro.

Dentre os frequentadores do parque está Ro-

lando Antônio Elvir, de 56 anos. Há mais de 23 anos,

durante os finais de semana e feriados, ele pratica ati-

vidades físicas enquanto desfruta da beleza do lugar.

Contador e administrador de empresas, Rolando veio

de Honduras e mora há 28 anos em Belo Horizonte.

Como foi militar em seu país, diz que encontrou no

Parque Municipal um meio de continuar mantendo

o bom condicionamento físico. “Venho com minha

filha, corro, caminho e alongo. Como trabalho a sema-

na inteira, encontro no parque um lugar fresco e are-

jado para praticar meus exercícios”, afirma Rolando.

Hoje, o Parque Municipal tem uma área de

mais de 182 mil metros quadrados e é um comple-

mento ambiental da cidade, pois contém diversas

nascentes que abastecem três lagoas e cerca de 280

espécies de árvores exóticas e nativas como figueiras,

jaqueiras, cipreste calvo, flamboyant, eucalipto, sapu-

caia, pau mulato e pau rei. É também um refúgio para

a fauna silvestre, abrigando aproximadamente 50 es-

pécies de animais.

O Parque Municipal foi construído baseado

nos conceitos da Belle Époque - termo em francês

para definir Bela Época. Tempos esses em que as pes-

soas costumavam acreditar no florescimento do belo

e nos avanços da paz.

Cravado na cidade

Localizado no centro da cidade, o Parque Renné

Giannetti fica entre pela Avenida Afonso Pena, o Bulevar

Arrudas, a Rua da Bahia, e a Alameda Ezequiel Dias. Muitas

pessoas fazem seus trajetos por dentro do parque ou con-

templam sua beleza através das grades de ferro que o cer-

cam. Os turistas que se hospedam no Othon Palace contem-

plam uma vista maravilhosa do parque do alto das janelas.

Outro parque

Muitos problemas ameaçam a paz e a beleza

do parque. Ao seu redor vendedores ambulantes ocu-

pam o espaço com mercadorias diversas. As árvores

que o embelezam também tornam as passagens mais

escuras e facilitam a ação de bandidos. Dentro do Par-

que Municipal podemos encontrar pessoas fazendo

uso de drogas, jogando lixo no chão e nos pequenos

lagos. Outro problema é o descuido da administração

com os jardins, que nem sempre estão bem cuidados.

O parque e a cidade têm uma relação dura-

doura. Atravessaram o século XX juntos. Participaram

de grandes transformações no cenário político, social,

econômico e cultural, como o período de ditadura, a

campanha das Diretas Já, o restabelecimento da de-

mocracia no Brasil, a evolução dos meios de transporte

do bonde ao metrô, a estabilização da moeda nacional,

além de participações especiais como palco das grava-

ções do famoso seriado Hilda Furacão. As duas guerras

mundiais e suas consequências foram tempos turbu-

lentos superados por Belo Horizonte e o parque.

A população de Belo Horizonte é acolhida

pela cidade e pelo parque todos os dias. Os anfitriões,

em tempos de democracia e consciência ecológica,

esperam ações do poder público e do cidadão para o

combate à violência e preservação do meio ambiente.

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Por Bruna Santos, Belchior Quintino da Rocha e Jaqueline Karis Quintal Sousa

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Page 5: Revista Urbano

4Ps da PraçaA

Praça da Estação é um cenário de Belo Horizonte realmente muito inusitado. De dia ou à noite,

sempre promove encontros entre o público e verdadeiras “feras artísticas”, cada qual com sua

especialidade. Diversas tribos disputam espaço. Skatistas, góticos, emos, roqueiros, hippies, en-

fim, todos encontram nela um lugar para exercitar sua criatividade. Para alguns também serve

como um “quartinho de reflexão”, só que ao ar livre e um pouco mais amplo. A fonte central é uma atração

à parte e auxilia nessa tarefa zen. Suas águas explodem do solo como os gêiseres do Atacama. Mas não se

enganem, não é uma fonte termal, muitos acabam mesmo é se refrescando por ali. Mesmo sendo contra

as regras.

A questão é que ultimamente ninguém liga para isso. Mesmo sendo um lugar para clarear as ideias,

a praça nunca foi um espaço tranquilo. As performances artísticas representam a inspiração desses poetas

sem rumo. É a respiração do ambiente. Márcio Lacerda, prefeito de BH, parece discordar disso. Ele decidiu que

eventos de qualquer natureza estão proibidos por lá desde 1º de janeiro de 2010 alegando evitar danos ao

patrimônio. A depredação de monumentos e a transformação do local em banheiro público são os principais

motivos salientados pela prefeitura .

Mas o fato é que sem essas manifes-

tações a praça perde o fôlego. Atualmente,

um grupo faz um protesto bem humorado

contra o fim dos eventos. A Praça da Esta-

ção dá lugar à Praia da Estação e o número

de adeptos à causa é cada vez maior. Mesmo

com esses percalços, o local continua atrain-

do representantes de várias tribos urbanas.

Alguns artistas não arredam o pé de lá e

continuam se aventurando com sua “magia”.

São apresentações versáteis e curiosas. Não

tão perfeccionistas, mas ainda assim belas.

E quem diria afinal, que em Minas tem uma

Praça que é Praia e uma Praia que é circo? Ou

um circo que é palco no picadeiro da Praça?

Ou seria uma Praça que é palco de picadeiro

de circo? Se alguém quiser ver o circo pegar

fogo, é só ir à Praça pegar uma corzinha, en-

quanto os verdadeiros artistas se apresen-

tam no palco da vida.

Equilibrando na Praça

Quando se ouve a palavra circo alguns

rostos espontaneamente esboçam largos sorri-

sos. É automático gargalhar com a presença de

um palhaço canastrão, seja ao vivo ou à distân-

cia. Algumas pessoas dizem que isso é coisa de

menino arteiro, mas o fato é que sempre existirá

um moleque levado dentro de cada persona-

gem do cotidiano. Mesmo de cara limpa. E de

preferência de alma lavada.

Na praça se apresenta a Trupe-Monocir-

co. Fundada em 8 de fevereiro de 2008, a trupe

desenvolveu um projeto social em Belo Hori-

zonte denominado Projeto A.S.A (Ação Social

Artística), que durou dois anos sustentado com

a renda extraída da reciclagem de materiais. Po-

rém, pela falta de recursos e patrocínio, não so-

breviveu, apesar de ter cumprido o seu papel no

período em que esteve vigente.

Derick Carvalho Martins, de 19 anos,

Francisco Tabolaro, de 25, e Suany Gomes Calix-

to, de 21, são os três integrantes da Monocirco.

O trio se apresenta às terças-feiras na Praça da

Estação quando o sol ainda está se pondo, por

volta das 18 horas. No entanto, eles não são os

únicos presentes na praça da capital mineira,

também recebem o apoio de outros represen-

tantes circenses. Com claves, bolas, diábolos,

monociclos, pinos e narizes de palhaço, a trupe

e seus amigos fazem uma breve demonstração

de habilidade, equilíbrio e destreza em suas per-

formances.

Derick, o caçula, é o mais animado da

turma. Além disso, é o mais articulado. A todo

instante frisa a importância das artes circenses

em sua vida. O jovem manuseia os pinos com

enorme facilidade, ora equilibrando os objetos

nas mãos, ora na ponta do nariz. Ele confiden-

cia que além de malabarista também é palha-

ço, mesmo sem nunca ter trabalhado em circo

e conta que em 2007 foi convidado para se

apresentar em um circo profissional.

Francisco, o mais velho da tríade, é o mais

tímido. No entanto, tem um estilo único com dre-

ads no cabelo, piercings no rosto e alargadores de

orelha. Seu instrumento é uma bola de contato,

feita de resina sintética que escorre pelo corpo do

artista com agilidade. Às vezes a esfera até parece

formar espirais no ar.

Suany é a moça dos bastões. Ela faz o ma-

labares parecer brincadeira de criança. A acrobata

consegue passar segurança e domínio a todo ins-

tante. Os integrantes da trupe são de classe mé-

dia e cada um deles mora com suas respectivas

famílias.

Outras trupes também participaram da

grande “bagunça”. Alguns fazem malabarismo,

outros equilibram objetos esféricos no corpo ou

se arriscam no monociclo.

Interferência artística

Em um determinado momento, um

dos estudantes de Jornalismo do Centro Uni-

versitário Metodista Izabela Hendrix, Islano

Santos, participa da brincadeira. Ele só não

sabia que seria uma espécie de cobaia. Mes-

mo assim, se arriscou, ficando entre Suany e

Derick, que resolveram jogar os pinos de um

lado para o outro. Felizmente, o aspirante a

artista saiu ileso.

O circo

O circo é um lugar onde se eterniza a es-

perança, onde as pessoas se esquecem dos pro-

blemas e entram num mundo paralelo em que a

tristeza não tem voz nem vez. Entretenimento,

alegria e satisfação não perdem lugar no pica-

deiro. Mas nem sempre o circo se encontra na ci-

dade. E quase nunca conseguimos nos lembrar

da sua representatividade e significância. Um

excesso de urbanização e trabalho impede as

pessoas de fugirem de suas rotinas conturbadas.

O asfalto preenche todos os campos para todos

os lados que a vista alcança. O sentido passa a

ser unilateral. Como se nada mais importasse, o

coração gela e o sol se esconde. As crianças dei-

xam de ser crianças e de existir dentro de qual-

quer ser humano. Por isso mesmo, o show tem

que continuar.

Por Thiago Muniz Rocha, Islano Santos e Gabriela Páscoa

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“Mas é inevitável que de cada procedimento técnico, exercido com amor e rigor, se desprenda uma poesia específica. Mais ainda no caso da fotografia, cujo vocabulário já participa da magia poética - a gelatina, a imagem latente, o pancromático - e cujas operações se assimilam naturalmente às da criação poética - a sensibilização pela luz, o banho revelador, o mistério da claridade implícita no opaco, da sombra representada pelo translúcido. “

Carlos Drummond de Andrade

Um retrato da fotografia

Por Rachel Oliveira, Marília Soldatelli e Junior Stambassi

FOTOS: Júnior Stambassi e Luiz Lana

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O que se mostra na janela por inteiro é preto, branco e acinzentado. É car-

ta que diz e imagem que vem, são cores de sorriso. Pode ter cheiro de mar e de perfume, pode ser ilusória como a Alice no País da Maravilhas ou surpre-endente como o Super-Homem.

É um close de memória e de signos, é mais que a reunião de pixels ou do ponto a ponto de uma “Pinhole”. É figura, imagem, mas, também é pensamento.

É agora aproximação entre o real e o surreal, do palpável e do imaginável, do vivido e do fotografado.

Mais do que espelho da reali-dade, as vistas urbanas se consti-

tuíram em veículos propagadores de um imaginário de moderni-dade, de acordo com o olhar dos produtores visuais da cidade.

Concebida como espelho do real, a fotografia foi revesti-da de um caráter documental, sendo chamada a dar conta das profundas e rápidas trans-formações pelas quais passa-vam as grandes cidades. Era comum a administração muni-cipal contratar fotógrafos a fim de registrar bairros inteiros que sofreriam reformas urbanas.

Desde a invenção da foto-grafia, a cidade continua sen-do um dos objetos preferidos pelos fotógrafos. Por ser con-siderada capaz de registrar a realidade, à fotografia foi

dada a tarefa de documentar as transformações urbanas ocorridas ao longo do tempo.

Desde o surgimento da fo-tografia, em meados do século XIX, as cidades vêm sendo trata-das como objetos privilegiados pelos fotógrafos. A partir do Re-nascimento, a câmara obscura, cujos experimentos são conside-rados como os primórdios da fo-tografia, foi utilizada pelo artista como forma de possibilitar vistas panorâmicas dos espaços ur-banos. Quando foi oficialmente comunicada a invenção da foto-grafia em 1839, esta surgiu como advento e como quadro das me-trópoles europeias. A cidade, as-sim, foi um tema de predileção já nos primeiros anos.

História da Fotografia

1826O físico francês Joseph Nicéphore Niépce conseguiu fixar a primeira imagem fotográfica conhecida, uma paisagem campestre vista da janela de sua casa. Ele colocou uma placa sensibilizada quimicamente dentro de uma câmara escura com orifício para exposição à luz, processo que demorava, na época, oito horas. Daguerre – Boulevard du Temple, Paris, 1838

1839-1840O físico britânico William Henry Fox Talbot cria uma base de papel com sais de prata que registra uma matriz

1880Foi publicada a primeira fotografia pela imprensa, na capa do jornal Daily Herald, de Nova York (EUA). Mas somente no início do século XX o uso de fotografias nos jornais e revistas tornou-se comum.

1835O pintor francês Louis Daguerre descobriu que placas de cobre cobertas com sais de prata expostas ao vapor de mercúrio, conseguiam captar imagens. Isso o levou a desenvolver, posteriormente em 1939, o daguerreótipo, um aparelho capaz de fixar a imagem com um tempo menor de exposição.

Como surgiu o seu interesse por fotografia? É hobby ou trabalho?A fotografia está presente direta e diariamente em minha profis-são, mas apesar disso fotografo por hobby. Tenho interesse es-pecial em direção de fotogra-fia em audiovisual e trabalhei profissionalmente em algumas produtoras de vídeo dirigindo a produção de comerciais.

Há quanto tempo fotografa?Não existe uma data certa. Sem-pre fotografei, mas me especiali-zei em fotografia durante o curso de Comunicação Social, na disci-plina de fotojornalismo.

O encontro com esse fotógrafo não poderia ser em outro lugar senão na mesa de bar. Ele incorpora tanto a “mineirice” de BH que não abre mão de um happy hour. “O crepúsculo é o mais bonito horário do dia, tem uma iluminação única”, comenta Manel se referindo ao horário que prefere fotografar.

Todos os dias passamos pelos mesmos lugares e na maioria das vezes não reparamos as mudanças que acontecem à nossa volta. Existem pessoas que têm um olhar diferente sobre a vida, sobre o mundo, e de uma forma menos generalizada, sobre a cidade onde vivem, ou por onde passam. Essas pessoas são fotógrafos, sejam eles amadores ou profissionais, que procuram por aquilo que ninguém vê e fazem o que podemos chamar de obra de arte.

Qual tipo de câmera/equipamentos você usa?

Tenho uma máquina Pentax Mz-M (analógica) com lente

objetiva Pentax 35-80, uma tele objetiva Tamron 80-210 que

uso para fotografias em preto e branco e uma Sony Cyber-Shot

H20 (digital) para uso cotidiano.

Manoel Assad Espíndola, 26 anos. É publicitário, jornalista e prefere

ser chamado de Manel.é o Manel

O que você entende por fotografia?Como disse o fotografo francês Henri Cartier-Bresson: “Fotografar é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração”. Ou seja, pra mim, a fotogra-fia é a expressão de um sentimento, é captar a alma de um momento que mistura visual, ideal e sentimental.

Qual é o tipo de fotografia que mais o atrai?Gosto muito do céu, principalmente do crepúsculo. Gosto muito da natureza.

Qual o sentimento que você tem ao tirar uma foto?Gosto de pensar que estou pegando aquele momento para mim. Estou guardando aquilo para além da memória.

Que dica você dá pra quem quer começar a fotografar?Compre uma câmera e comece imediatamente.

em negativo a partir da qual é possível fazer cópias positivas. Esse processo, chamado de calótipo e patenteado em 1841, era mais barato do que o de Daguerre, tornando a fotografia mais acessível e mais presente na vida das pessoas.

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Como surgiu o seu interesse por fotografia?Sempre fui fascinado por fotogra-fia, não importa o gênero. Quando novo adorava passar horas apre-ciando os álbuns de família, mas não só: qualquer imagem me in-teressava, seja fotográfica ou pic-tórica, desde que materializada em algum tipo de suporte. Já o interesse em investir e trabalhar com fotografia surgiu na facul-dade, ainda no segundo período, quando fui monitor do laboratório de fotografia. Fiz estágio com a Márcia Charnizon, importante fo-tógrafa social de BH, e a partir daí passei a conseguir trabalhos pró-prio, nas áreas de fotojornalismo social e fotografia editorial. Atu-almente mais estudo a fotografia e desvio toda minha prática para propostas autorais relativamen-te despretensiosas, já que acabei desviando o meu foco profissional da fotografia após o mestrado.

De que modo a sua bagagem cultural e a for-ma como enxerga o mundo influenciam na hora de captar as imagens?

O tempo todo acessamos nosso ar-quivo mental, nosso repertório ima-gético visto e mentalmente apropria-do, composto de imagens anônimas ou famosas. Qualquer imagem pos-sui um tipo de tópica fotográfica, e, com o passar do tempo, mesmo que instintivamente, nós passamos a reconhecê-las nos diversos tipos de situações – mesmo sem portar uma câmera nas mãos.

Fotografia é arte? Claro! Mas é uma discussão que dá pano pra manga. Não podemos des-cartar o valor de registro, o valor do-cumental que possui a fotografia – ela já nasceu com isso. Mas, ora, não consideramos como arte retratos en-comendados por grandes nomes da história a pintores famosos? E a capa-cidade de favorecer a abstração que é inerente ao dispositivo fotográfico?

Qual foto que você ainda não fez

Belorizontino da gema, percorreu o país atrás de uma formação carregada de culturas variadas. Sua ocupação principal é como webdesigner, e mantém uma banda de rock e, há 8 anos, um apreço imenso pela fotografia. Faz o que ama.

Thiago Nogueira Martins, 29 anos. É graduado em Produção Editorial, e mestre em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia.

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Qual é o tipo de fotografia que mais o atrai? Retratos de desconhecidos e landscapes.

e gostaria de tirar? De várias pessoas que não conhe-ço e que nem sei que existem. Mas tem mais uma também. Duas, para ser mais específico: desertos de sal e geleiras.

1906Os irmão August e Louis Lumière já consagrados como os inventores do cinema apresentaram os primeiros filmes para revelação a cores.

1925Chega ao mercado a primeira câmerafotográfica 35 mm, a Leica, inventada pelo engenheiro Oscar Barnack. Foi um grande

1946O professor da Universidade de Missouri, nos EUA, Cliff Edom, organiza o primeiro workshop de fotojornalismo.

1948O físico norte-americano Edwin Land inventa a Polaroid, primeira câmera instantânea.

1990A Kodak lança a DCS 100, primeira câmera digital a ser comercializada.

Fotografia é tomar por empréstimo um pedaço do tempo.

impulso ao fotojornalismo por ser uma máquina silenciosa e rápida.

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Page 9: Revista Urbano

História, Sociedade e Mudança

erra, poeira, mato. Esse é sempre o começo da

história de uma localidade. O homem trans-

forma terra em chão, poeira em asfalto, mata

espessa em bairros, cidades. Mudanças

constantes que se tornam impossíveis de se-

rem reconhecidas por aqueles que alguma vez

estiveram ali. Terra que era a grande fazenda de

Altamiro Corrêa. Terreno que esconde história

em cada pedaço do bairro Sagrada Família, um

dos mais famosos de Belo Horizonte. Lugar de

grande acomodação animal e vegetal, que em

1930 recebeu grande impulso de imigrantes e

se transformou em lotes durante a administra-

ção do prefeito Otacílio Negrão de Lima e mais

adiante se tornou bairro de proletariados.

Trabalhadores que passaram a cons-

tituir famílias e à medida que elas iam se multi-

plicando, proliferavam-se diversos barracões,

em sua maioria moradias de fundo. O desenvol-

vimento inevitável causou a criação de ruas tais

como João Gualberto Filho, Stela de Souza e Vi-

centina de Souza, que receberam esses nomes

em homenagem aos primeiros moradores do

bairro.

O crescimento desordenado do Sa-

grada Família deu origem às primeiras vilas da

capital, uma vez que estava fora do perímetro da

avenida do Contorno, via urbana que significava

no projeto da cidade, o ponto onde deveriam

parar as construções.

Desbravando terra e sonhos, ocupan-

do espaços, criando vínculos, plantando raízes,

construindo ou reformando, assim se faz histó-

ria, seja ela de uma pessoa, de um bairro, de um

clube de futebol, de uma rua. Foi assim que sur-

giu no seio do bairro Sagrada Família o estádio

Sete de Setembro, o popular estádio Indepen-

dência.

Uma grande preocupação minha é como vai ficar a vida das pessoas que moram aqui?

Arquivo do Jornal Nossa História

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Ronaro de Andrade Ferreira

Por: Fabiana Braz, Kathiane Dias e Fabrício Jordão

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Page 10: Revista Urbano

O estádio e a história

Construído em 1950 para abrigar os jo-

gos da Copa do Mundo de futebol realizados

pela FIFA, o Independência foi palco de gran-

des jogos durante longos quinze anos, desde

a primeira partida realizada em 25 de junho de

1950. Sua primeira administração pertencia ao

Clube Sete de Setembro, que, sem condições

de administrá-lo, deixou o estádio por muito

tempo sem sediar nenhum tipo de atividade.

Foi então que o Governo do Estado,em 1985

realizou uma grande reforma no estádio dando

nova vida a ele. O Sete encerrou suas atividades

em 1986 e foi extinto no ano de 1989, deixan-

do para o Governo de Minas a administração

Independência, que no mesmo ano arrendou-o

para o América Futebol Clube.

Palco de grandes histórias, o Indepen-

dência completa 60 anos, e neste mesmo ano

passou por uma segunda reforma perdendo toda

a sua estrutura original. Atualmente, o estádio é

um imenso canteiro de obras. Sua demolição faz

parte do projeto de construção de um novo está-

dio, que irá receber os jogos que atualmente são

realizados no estádio Mineirão- até o término da

reforma pela qual o Mineirão está passando para

sediar os jogos da Copa de 2014.

O bairro e o estádioO estádio no bairro

Os habitantes dos bairros Sagrada Família

e Horto, os mais próximos do estádio se questio-

nam como e quando, a reforma e a rotina de jogos

vai afetar suas vidas.

O antropólogo Ronaro de Andrade Fer-

da série A e B, teremos três ou quatro noites por

semana em que não dá pra fazer uma festa, ficar

na rua, chegar nem sair de casa. Algumas datas

deixarão de ser comemoradas...” Após uma pau-

sa, Ferreira complementa: “isso é quebrar a socia-

bilidade”.

Segundo a presidente da Associação de

Moradores e Empresários do Bairro Sagrada Fa-

mília, Luciene Conceição Pedrosa, algumas medi-

das cabíveis já estão sendo tomadas por meio de

reuniões com a Prefeitura de Belo Horizonte para

discutir os problemas causados pela obra, o futuro

após a inauguração e a segurança das famílias. A

mobilização já obteve vitórias, como a retirada dos

mega-shows do projeto. Porém, suspira Ferreira,

“eu me pergunto até quando vai vigorar, porque é

muito estranho você construir [o estádio] para ser

uma arena multiuso e não usá-la como uma arena

multiuso”.

São muitos os pontos fracos que Ferreira

afirma surgir com a obra, mas que não aparecem

no discurso da presidente da Associação quando

é questionada sobre esses possíveis problemas.

“Estamos tentando construir um projeto juntos,

que atenda a demanda do futebol e da comuni-

dade, apesar dos grandes impactos no trânsito

e na segurança. É uma questão que está sendo

trabalhada e só vamos ver o resultado após os

eventos começarem a ser realizados novamente

no Independência”.

Ainda segundo Ferreira, foram agenda-

das diversas reuniões com a Prefeitura, BHTrans e

Polícia Militar, a fim de construir alternativas para

solucionar possíveis problemas e garantir mais

segurança e conforto aos moradores. Embora isso

não garanta que o projeto atenderá as necessida-

des reais da população, mesmo porque ela ainda

convive com problemas antigos que não foram

solucionados.

O antropólogo esclarece a quem a obra

interessa e deixa uma pergunta no ar: “Tenho bem

claro que esta é uma obra do Governo do Estado,

que interessa ao Governo do Estado e principal-

mente ao ex-governador, por isso a obra conse-

guiu todas as aprovações muito rápido dentro da

Prefeitura, sem ter os projetos complementares

definidos... minha preocupação é depois que o

estádio estiver funcionando como que vai ficar a

convivência aqui no bairro?

reira, morador da comunidade há 13 anos, um dos

agentes mobilizadores para discutir os impactos da

obra na vida das famílias ali residentes, conta como

iniciou o processo de participação da comunidade

na construção. “Sempre havia o boato que iam fa-

zer outro estádio, mas quem realmente veio fazer a

obra não nos consultou. Falaram que foi feita uma

reunião em janeiro com os moradores, porém, antes

da obra começar organizei uma reunião com 37 pes-

soas, das quais só três sabiam”.

Mesmo antes desses grandes jogos passa-

rem a serem realizados no Independência, a comu-

nidade sofria com as consequências que os gran-

des eventos realizados no estádio traziam. Desde

o forte barulho das caixas de som, até a sujeira

deixada pelos participantes, tudo era ignorado

pelos organizadores. “Uma grande preocupação

minha é: como vai ficar a vida das pessoas que mo-

ram aqui?”, se interroga Ronaro. “Se a gente for ter

toda semana dois jogos do Campeonato Brasileiro

FOTOS: Fabiana Braz e Kathiane Dias

ESTAMOS TENTANDO CONSTRUIR UM PROJETO JUNTOS, QUE ATENDA A DEMANDA DO FUTEBOL E DA COMUNIDADE, APESAR DOS GRANDES IMPACTOS NO TRÂNSITO E NA SEGURANÇA.

Luciene Conceição Pedrosa, Presidente da Associação de Moradores e Empresários do bairro Sagrada Família

18 19

Page 11: Revista Urbano

Estrangeiros emImagine você em um país dis-

tante, longe de sua família, sem

conhecer o idioma e, além do

mais, com aspectos culturais

completamente diferentes.

Imaginou? Como você se senti-

ria diante de tamanha diferença? Isso é

o que acontece com qualquer pessoa

que se disponha a visitar outro país e co-

nhecer uma nova cultura. Às vezes, não

é preciso ir muito longe para perceber-

-se estrangeiro. Em um país continental

como o Brasil, sentimos isso na pele.

Quem nunca estranhou o fato de

que a mesma coisa tem nomes diferen-

tes em outros lugares. Se você pedir em

uma padaria belo-horizontina um “cace-

tinho”, com certeza a atendente olhará

para você com cara de espanto. Mas em

Porto Alegre é comum pedir um caceti-

nho com manteiga e um café com leite

para o desjejum. Cacetinho é o mesmo

que o nosso pão francês.

Se nós, que somos todos brasilei-

ros temos diferenças culturais, imagine

o susto de um imigrante, criado em ou-

tra cultura, com outros valores e sofren-

do outras influências.

É caso dos dois personagens que

vamos retratar nesta reportagem. Um

vindo do Haiti e a outra da Sérvia, mas

uma coisa os unifica: ambos vieram para

o Brasil estudar.

O primeiro é o Jonathan Olivier

Dorvélus, um haitiano de 20 anos. Ele

veio para fazer o curso de Nutrição. A

segunda é Dragana Denic, sérvia de 22

anos que veio cursar Marketing.

Embora de países tão distantes,

um da América Central e a outra do su-

deste da Europa, eles sofrem do mesmo

estranhamento diante da forma de ser e

viver dos brasileiros.

Jonathan chegou ao Brasil de-

sembarcando no Rio de Janeiro. Veio

para Belo Horizonte de ônibus e foi

surpreendido por um tiroteio ao iniciar

sua viagem. Apesar de não ser novidade

para ele, convenhamos, não foi a melhor

das recepções.

Dragana, por sua vez, tem uma

impressão diferente, “A imprensa lá fora

mostra o Brasil como um país extreman-

te violento, coisa que não é verdade.

Nossa, meu sonho era - e continua sen-

do - conhecer o Cristo Redentor, conhe-

cer o Rio de janeiro”, diz a jovem entre

suspiros. Ambos têm a mesma sensação

em Belo Horizonte, o caos do trânsito os

impressiona.

“É assustador! Aqui em Belo Hori-

zonte o trânsito é uma loucura, ao firmar

um compromisso, é necessário sair de

casa com muitas horas de antecedência

para que se chegue no horário marca-

do. Lá no Haiti temos como transporte

público o ônibus, a perua e o táxi. Nem

por isso a cidade fica tão cheia”, explica

Jonathan.

Morador do bairro São Gabriel,

para se locomover na capital mineira, o

transporte que mais utiliza é o metrô,

uma novidade para ele, pois em seu

país não existe esse tipo de transporte.

Ele diz que passa por bons bocados to-

dos os dias. “Foi andando de metrô que

descobri o que a sardinha sente quando

está enlatada”, brinca o haitiano.

A percepção de Dragana não é

muito diferente. Moradora do bairro Ci-

dade Nova, a sorridente Dragana, con-

sidera um desafio transitar na capital

mineira utilizando o transporte público.

“Quando peguei pela primeira vez um

ônibus aqui em Belo Horizonte fiquei

espantada, por ter tantas pessoas den-

tro do mesmo coletivo. Os ônibus aqui

ficam tão cheios que sempre sobra lu-

gar para mim nas portas, fico espremi-

da. Pelo visto, a experiência deles não

e muito diferente da maioria dos belo-

-horizontinos.

Durante as correrias cotidianas

volta e meia Jonathan e Dragana se cru-

zam pelos corredores da faculdade. Ela,

estarrecida, não se cansa de admirar a

beleza da Praça da Liberdade. Diferen-

temente de Jonathan, a sérvia é apaixo-

nada pelas praças, pelos parques e pelos

estilos arquitetônicos dos prédios de

Belo Horizonte.

Jonathan e Dragana são dois jo-

vens universitários que vivem a dor e a

delícia de se viver longe de casa. “Se vi-

ram” como podem. Ela faz estágio e dá

oficina de inglês no “Izabela Hendrix”,

campus da Praça da Liberdade. Ele par-

ticipa de um projeto, também na facul-

dade e nas horas de folga gosta de jogar

basquete.

NOME OFICIAl:

República do Haiti

DATA NACIONAl:

1º de janeiro

CAPITAl:

Porto Príncipe

lOCAlIzAçãO:

América Central, mar do Caribe

NOME OFICIAl:

República da Sérvia

NACIONAlIDADE:

Sérvio

POPUlAçãO:

7,5 milhões de habitantes

lOCAlIzAçãO:

Sudeste da Europa,

na Península dos Bálcãs

Por: Alcione Inácio, Fernanda Goveia e Marcos Martins

2120

Page 12: Revista Urbano

O lAdO bOêMIO

dE bHQuem é boêmio ou um dia já foi, entende os versos de Ade-

lino Moreira, compositor luso-brasileiro, que em “A volta do boêmio”

sente saudades dos velhos tempos e dos amigos velhos.

Boemia em Belo Horizonte já foi Colônia Américo Werneck,

Bairro da Imigração, Alto do Matadouro, Bairro do Quartel e Fundos

da Floresta. Todos esses nomes podem parecer estranhos. Mais estra-

nho ainda é dizer que todos esses nomes, simbolizam um só lugar em

Belo Horizonte. O sexto e atual nome do lugar que tem Bolão, Salão

Grena e Sobradão da Seresta é o bairro Santa Tereza, localizado na

região leste da capital.

O bairro transpira cultura. Lá tem história, praças, bares de to-

dos os tipos para todos os gostos e é considerado o melhor fim de

noite de Belo Horizonte.

A vida boemia que através dos anos sofreu várias mudanças e

ganhou novos adeptos sucumbiu à nova geração, o que nem sempre

é algo positivo.

A região que outrora era marcada pelas belas e aconchegan-

tes noites, mesmo que recheada a bebedeiras, considerada respeitosa

e de ambiente familiar, se transformou num lugar em que os antigos

moradores buscam o resgate do que estava esquecido: a curtição, a

alegria de poder dançar, curtir, cantar, músicas da época.

Moradora do bairro há muitos anos, Faride Serafim, se diz uma

eterna apaixonada pela boemia, revela suas mágoas e saudades dos

velhos tempos. Com um profundo e longo suspiro, a antiga morado-

ra, conta como eram seus dias de sua juventude, “O bairro era repleto

de belos rapazes e moças elegantes, homens de terno de linho e mu-

lheres com seus vestidos godê” conta.

Essa discussão não é apenas entre os mais velhos. Jovens

como Alessandro Marques, 23 anos, discorda da forma como a velha

guarda boemia vê os dias de hoje. Ele vê a semelhança na forma de

expressão de ambas as gerações. Hoje o local ainda possui pontos de

dança, mas com estilos de música diferenciados comparados aos da

época.

Quem passa pelo bairro ainda pode encontrar belos lugares

que preservam a integridade e a boa fama da região. Botecos tradi-

cionais e casas de eventos que tentam preservar a ideologia boemia,

resistem bravamente à invasão deste público que não entende o ver-

dadeiro sentido da palavra boemia.

B o e m i a , a q u i m e t e n s d e r e g r e s s o

E s u p l i c a n t e t e p e ç o a m i n h a n o v a

i n s c r i ç ã o .

V o l t e i p r a r e v e r o s a m i g o s q u e u m

d i aE u d e i x e i a c h o r a r d e a l e g r i a ; m e

a c o m p a n h a o m e u v i o l ã o .

B o e m i a , s a b e n d o q u e a n d e i d i s t a n t e ,

S e i q u e e s s a g e n t e f a l a n t e v a i a g o r a

i r o n i z a r :

“ E l e v o l t o u ! O b o ê m i o v o l t o u

n o v a m e n t e .

P a r t i u d a q u i t ã o c o n t e n t e . P o r q u e

r a z ã o q u e r v o l t a r ? ”

A volta do boêmio - Adelino Moreira

FOTO

: Arie

l Jun

io

23

=Ariel Junio, Kátia Graciano e Leonardo Guerra

22

Page 13: Revista Urbano

Sou um veículo de comunicaçãoe devo circular.

Não me guarde na gaveta e nemme jogue no lixo.

Me entregue para

alguém que queira ler.

PASSE

ADIANTE

OBRIGADO!


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