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De acordo?Língua Portuguesa entra em nova fase e celebra acordo ortográfico unificado. Mas e os alunos?

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Revista laboratório dos alunos de Jornalismo da FPM / Ano II - Nº 3

De acordo?Língua Portuguesa entra em nova fase e celebra acordo ortográfico unificado. Mas e os alunos?

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editorial

Vinte e oito de abril é o Dia Internacional da Educação. Ainda que esta não seja uma das datas celebradas e circuladas nos calen-dários comuns como dias importantes, ela valhe como oportuni-dade de sucitar a discussão sobre a educação no nosso país. Muito têm sido dito sobre nossas falhas educacionais. Sobre os desvios de verba pública destinadas, em tese, para este setor. Volta e meia somos comparados com países do exterior, no que diz respeito às questões educacionais. Os avaliadores, com todos os números disponíves, afirmam que na Finlândia sim, existe um excelente sistema de ensino. Que na China sim, sabem o que é formação docente! Somos comparados com Canadá, Japão, Nova Zelândia, Austrália, exemplos distantes que deveríamos seguir de perto! Somos os perdedores internacionais. Os retardatários. E nos sentimos humilhados, enfim, quando nos dizem que no Uruguai e no Chile os alunos têm melhor desempenho na leitura e na matemática do que os nossos. Somos líderes na economia dentro da América Latina, mas deficitários no campo educacional.Ainda carregamos a sensação dos colonizados. Trazemos na alma a marca dos que estão sempre em desenvolvimento, sempre na metade do caminho. Ainda ficamos fascinados com os parâmetros que vêm de fora. Com as pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa. Os critérios baseados em experiências e sucessos estrangeiros nos parecem decisivos e inquestionáveis.Para verificar esse complexo de colonizados persistente entre nós, vejas as listas dos livros mais vendidos (de ficção e não ficção) que têm recebido destaque entre nós recentemente. Há um Querido John, e não um Querido João. Parece que a leitura preferida da maioria daqueles que têm dinheiro e tempo para ler gira em torno de nomes como Nicholas Sparks, Elizabeth Gilbert, James Hun-ter, Sherry Argov... A leitura colonizada é reflexo de nosso hábito de valorizar o conhecimento sobre o não-brasileiro. O prestígio que dá estudar outros idiomas suplanta o dever de termos maior intimidade com nosso próprio idioma. Há quem torça o nariz quando ouve a provocação de Nelson Rodrigues, dizendo-se linguisticamente monogâmico por só conhecer e praticar a língua portuguesa.Leitura colonizada, visão de mundo colonizada, não é de surpreeender que nos sintamos diminuídos quando percebe-mos sobre nós os olhos dos avaliadores externos. Complexados, estamos sempre correndo “atrás do prejuízo”, triste objetivo esse (o prejuízo) que nos restou perseguir, frase associada a outra, bem própria dos subalternos, “desculpe qualquer coisa!”, proferida antes que o açoite nos atinja.E acabamos esquecendo que existe, sim, uma educação, uma razão (ainda que informal) tipicamente tupiniquim.Como pensar de modo brasileiro? Como educar de modo brasi-leiro? Trata-se apenas de encontrar nossos próprios atalhos. Nosso pró-prio jeito de fazer, escrever, ensinar... e avaliar.Uma educação tupi-niquim será uma educação marginal. Estará atenta ao avesso das coisas. E saberá valorizar o que permite diálogo e encontro com

Educação à brasileira

a nossa própria realidade.Sem tanta preocupação em “assimilar” o que vem de fora. O que vem de fora será tratado com respeito. Com hospitalidade. Mas por que não virar do avesso o velho provérbio e afirmar que quem faz milagre, e milagre dos bons, é o santo de casa?Estas palavras de Roberto Gomes podem estimular uma reflexão mais nossa, mais tupiniquim:[...] Do ponto de vista de um pensar brasileiro, Noel Rosa tem mais a nos ensinar do que o senhor Immanuel Kant, uma vez que a Filo-sofia, como o samba, não se aprende no colégio.E o que poderia a escola brasileira ensinar? Qual a contribuição da faculdade brasileira?Em primeiro lugar, aprender a ser brasileiros. A razão tupiniquim não é xenófoba. Aliás, gosta muito de alimentar-se antropofagica-mente de novos colonizadores. Nosso modo de educar deverá largar a mão da Mãe-Europa e do Tio-EUA. Andar com as próprias pernas e pensar por conta própria (e como poderíamos pensar por “conta alheia”?).Educar à brasileira será tão legítimo quanto educar ao estilo coreano ou canadense ou finlandês etc., contanto que cada estilo se realize dentro de suas circunstâncias concretas. A condição necessária para que haja bons resultados educacionais em qualquer país é que em cada país as pessoas se deem conta de suas peculiaridades.Além de aprender a ser brasileiros, precisamos inventar uma peda-gogia que converse com o não pedagógico, com as nossas referências, com as nossas imagens e saberes: a música, a culinária, o futebol, a dança, a nossa farmacopeia, a roupa, a arquitetura, a rede (a de deitar, mas também a nossa internet!), a nossa tecnologia, a nossa ciência, o jeitinho, as gírias, a literatura, a telenovela...Se não aceitarmos o desafio da originalidade, da autovalorização sem ilusões, estaremos condenados a dependência da aprovação alheia. Na periferia envergonhada do mundo.

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Expediente

Revista SaberRevista laboratório dos alunosdo 4º ano do curso de Jornalismo da FPM

Editor: Paulo StucchiEditor assistente: Renata Guido

JornalistasRenata GuidoThalita MarchioriRenan PereiraMurilo RooschAndré RicciJoão SartiTalita VieiraBruna ArmelinBruna LígiaRodrigo CamargoAparecida Suzana

ArticulistasRenata Guido e André Ricci

Revista SaberAno II - Edição 3

Matérias

Aprendendo a mudar o mundoRedes sociais na educaçãoLeitura na educação infantilDo barro à vidaUm investimento que pode mudar muitas vidasMúsica nas escolasCursinho comunitárioIntercâmbioDeficiente e o ensino público brasileiro

CAPA: Novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa

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Renata Guido

João Felipe Scapellini, viajando o mundo com um único objetivo: ajudar pessoas

Aprendendo a mudar o mundo

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Já não me lembro direito como resolver uma função matemática, nem da diferença entre briófitas e pteridófitas, e espero que minha

vida nunca dependa de explicar o que é um ob-jeto direto pleonástico. Foram 11 anos de escola, cinco horas por dia, cinco dias por semana, 300 dias por ano. Isso, sem contar as tarefas de casas, trabalhos, provas, aulas extracurriculares. E a verdade é que me esqueci de quase tudo o que me ensinaram.Mas me lembro do uniforme que pinicava, todos nós iguais (mas uns tentando ser menos iguais que os outros). Do frio na barriga no primeiro dia de aula, da dúvida sobre o qual melhor lugar para se sentar, dos professores incríveis e dos te-nebrosos. Dos trabalhos em grupo, feitos à mão com con-sultas a Barsa, sem xerox nem Google.Lembro de ter aprendido a amarrar os sapatos, a fazer amigos, falar em público, escrever histórias. A defender o que acho certo, a me virar sozinha, a pedir ajuda e reconhecer meus erros. Tudo bem se algumas coisas se perderam no caminho. As mais importantes que a escola me ensinou não estavam nos livros, e dessas coisas a gente nunca se esquece. É na escola que lapidamos os con-ceitos aprendidos em casa, que vamos ganhando a “cara” que teremos anos depois, já adultos. E é nesse processo que muita gente decide “fazer diferença”.Quando a escola em que João Felipe Scapellini estudava, em Santos (SP), organizou uma cam-panha para arrecadar brinquedos para uma casa de apoio a crianças com Aids, ele foi o aluno que mais se animou. Mas no grande dia da entrega, veio a frustração. “Ficamos só 15 minutos e não podíamos brincar com os internos. Eu me senti numa espécie de zoológico”, conta João.Desse dia em diante, o menino de 11 anos pas-sou a questionar as estranhezas do mundo em que vivemos. Por que as pessoas fecham os vi-dros no semáforo quando um criança se apro-xima? Por que tanta gente passa fome? Por que uns moram em casas imensas, e tanta gente vive debaixo de pontes? Quando pedia explicações, ouvia que era muito novo para entender, e mais ainda, para mudar a realidade.Dois anos mais tarde, aos 13 anos, João Felipe

mandou cartas a centenas de ONG`s pedindo ajuda para mudar o mundo. Ninguém o levou a sério. Já que os adultos não ajudariam, procu-rou jovens que faziam trabalhos inspiradores e os convidou a contar suas experiências à sua turma de colégio. O projeto deu certo, e se expandiu pelas escolas da região. E João descobriu sua vo-cação: mobilizar pessoas, apostando no poder de articulação dos mais novos.Hoje, aos 24 anos, é consultor da ONU e da UNICEF. E leva a jovens do mundo inteiro a mensagem que sempre quis ouvir: “Você é sim, capaz de mudar o mudar o mundo!”

Saber - João, como é o seu trabalho?João - Sou um articulador da juventude, freelan-cer do mundo. Meu papel é motivar e conectar as pessoas para que transformem o local em que vivem. Eu chego a uma comunidade, sento-me como os jovens e juntos identificamos os sonhos deles. Conto histórias que os inspiram e pensa-mos em parceiros para ajudar. Depois as pessoas seguem por si. Elas próprias se responsabilizam por melhorar sua qualidade de vida.

Saber - Você pode nos dar um exemplo de so-nho que você ajudou a realizar?

Quando pedia explicações, ouvia que era muito novo para entender, e mais ainda, para mudar a realidade.

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João - A história de Djamila é uma boa. Ela é de uma comunidade do Níger, na África – onde ser mulher já é um problema. Aos 21 anos, ela en-trou em contato com a Peace Child Internatio-nal, a organização na qual eu trabalhava, para pe-dir ajuda para comprar uma máquina de costura. Pessoalmente, eu havia achado o pedido meio fútil, mas o grupo resolveu ajudar. Então mobi-lizamos estudantes na Inglaterra para arrecadar fundos, e ela conseguiu comprar o equipamento, Então passou a ensinar outras mulheres a costu-rar, e elas montaram uma cooperativa, que hoje, dois anos depois, emprega 46 pessoas. Além disso, o local virou um centro onde as mulheres discutem questões como higiene, violência, sexu-alidade e preconceito.

Como foi sua trajetória profissional?João - Terminei o colegial em Santos, e fiquei dois anos trabalhando em projetos sociais. En-tão, entrei na faculdade de relações internacio-nais. Depois larguei tudo no Brasil e fui traba-lhar na Organização Peace Child International, na Inglaterra. Esta ONG atua para ajudar os jo-vens a se tornarem líderes em suas comunidades. Em oito anos, participei das iniciativas em mais

de 40 países. Hoje trabalho para a ONU, aju-dando a melhorar as estratégias de mobilização de jovens. E desde 2010, também sou consultor da UNICEF. No momento moro na Zâmbia (África) ajudando a implantar um programa que ajuda os jovens a combaterem localmente efeitos das mudanças climáticas. Saber - Como você vê a juventude de hoje?João - Muita gente diz que o jovem de hoje não quer nada com nada. Não é verdade. Estamos fa-zendo uma revolução silenciosa, usando as novas tecnologias, celular, computador, redes sociais. Por exemplo: há pouco tempo eu passei 15 dias na Grécia para fazer um projeto de reciclagem. Postei no Facebook: “Galera estou em tal cida-de, com tal problema, alguém tem ideia de como solucionar?”. Em meia hora, gente do mundo inteiro começou a mandar sugestões e contatos de pessoas que poderiam ajudar localmente. Em uma semana, conseguimos montar um projeto com a comunidade local, com a ajuda de jovens que nem conhecíamos. A questão é que muitas vezes o jovem não sabe como ajudar, e os adultos não sabem orientar. Então, as tentativas acabam sendo traumáticas.

Atualmente, João mora na Zâmbia, país do sul da África, onde se dedica a causas sociais

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André Moraes Ricci

REDES SOCIAISna educaçãoRecurso ou estorvo?

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De forma similar ao que ocorreu em 2004, com a popularidade repentina do Orkut, as comunidades virtuais volta-

ram à voga recentemente devido à explosão de popularidade de portais de relacionamento e co-municação como Twitter e Facebook. Esse as-sunto ganha nova importância pelo impacto que têm causado no dia-a-dia dos usuários de inter-net – principalmente o público jovem. Segun-do a fundação de pesquisas comScore, o Orkut ainda é o líder em acessos dos sites sociais com quase 80% atualmente. No entanto, o Facebook – que apesar de seu pequeno crescimento de 28% de dezembro de 2009 em relação ao mesmo mês de 2010 – teve um aumento de visitas de mais de 250%. E isso afeta, positiva e negativamente, as aulas.Rafaela Proença, analista de sistemas, afirma que as comunidades eram muito úteis na época em que estudava devido a recursos como divulga-ção de materiais. “Nós usávamos os grupos do Yahoo! e contatos das comunidades para ficar-mos atualizados sobre o que era necessários nas aulas”, diz Rafaela. Segundo ela, é preciso um bom-senso para não ocorrer o abuso de visitar essas páginas em momentos de estudo ou mes-mo durante as próprias aulas.Mas nem todos têm a visão positiva do uso des-ses sites ou mesmo do acesso deles. Como diz o professor de ensino superior da Faculdade Pru-dente de Moraes, Élcio Mota, “creio que seja mais ou menos o que acontece no ambiente de trabalho. Se o conteúdo acessado não for nada relacionado à aula em questão, minha opinião é que atrapalha muito, pois tira o foco do aluno no que realmente deveria ser focado”. Mota apon-ta que a atenção deve estar voltada 100% para o conteúdo, e o uso das comunidades não pode servir de interferência.Há aqueles que veem a questão com indiferen-ça. Célio Silva, professor de Tecnologia da In-formação, acredita que os problemas devem ser pensados de acordo com a consciência do pró-prio aluno. “Na verdade, o que atrapalha a aula não são os alunos entrando no Orkut ou outras comunidades, mas os alunos conversando. Se o aluno entra no Orkut, ele atrapalha a si mesmo, e somente a ele. Então, eu realmente não ligo, mas

vou lembrar disso enquanto estiver avaliando as provas”, comenta.Rafaela também diz que, apesar de um bom re-curso como apoio, o acesso a comunidades ou qualquer site paralelo, em detrimento da atenção na aula, é ruim. “Eu não entrava em sites assim, eu era aplicada. Quando ia pra aula prestava bas-tante atenção. Mas via outras pessoas acessando a internet, principalmente lendo notícias. Acho que não via as redes sociais mais porque era blo-queado na minha faculdade”, afirma.O número de usos aumentou no mundo intei-ro. Segundo o departamento de pesquisas do Facebook (que hoje é a terceira maior empresa de internet), as mídias sociais e blogs consomem quase 25% do tempo online das pessoas; isso sig-nifica um crescimento de 66% nas horas gastas, em comparativo entre abril de 2009 a abril de 2010.

O Facebook – que apesar de seu pequeno crescimento de 28% de dezembro de 2009 em re-lação ao mesmo mês de 2010 – teve um aumen-to de visitas de mais de 250%.

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A leitura na educação infantil

Sabemos que as gerações mais recentes têm demonstrado não apenas o desinteresse pela lei-

tura, mas também a incapacidade de ler de forma correta e coerente, o que limita a criança no acesso à cultura e conhecimento. O que vem ao caso é a falta de incentivo por parte das es-colas e mesmo dos pais. Atualmente, considera-se a educação um dos seto-res mais importantes para o desenvol-vimento de uma nação. É através da produção de conhecimentos que um país cresce, aumentando sua renda e

Bruna Lígia

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qualidade de vida das pessoas. Embora o Brasil tenha avançado nesse campo da leitura nas últimas décadas, ainda há muito a se fazer. Pensando nisso, são criados projetos que incentivam a leitura na educação das crianças como, por exemplo, o grupo “Ler é uma viagem”, criado pela atriz Élida Marques, e composto por atores e músicos que encenam, leem, cantam, dançam, atuam e contam histórias dos clássicos livros de Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, entre outros. O grupo realiza apresentações em escolas de todo o Brasil e dissemina a cultura e o prazer da leitura pública pelo país. Há alguns meses estão com um escritório em Itu.Élida conta que o projeto foi criado em 2003 e, desde então, já teve sete programas patrocinados, com cerca de 25 mil crianças incentivadas, 20 mil livretos distribuídos, 400 sessões de leitura realizadas e 135 escolas visitadas.Parte da família de Elida é de Itu, por isso, ela optou por instalar seu escritório na cidade, mais precisamente, na Fábrica São Luís.A atriz pretende fazer uma nova programação sobre Monteiro Lobato nas escolas de Itu e da região. Esse projeto já está aprovado e já tem o orçamento previsto, porém, ela conta que o que falta é patrocínio. “O projeto pode ser realizado em qualquer ci-dade de São Paulo, mas seria muito bom se as empresas apoiassem o incentivo à leitura”.A cidade de Salto também conta com uma ONG (Organização não-governamental) que faz muita diferença para a população infantil. Trata-se da Afim, uma associação beneficente de apoio educacional e cultural voltada a crianças, adolescentes e adultos de famílias de baixa renda, com o objetivo de oferecer cursos semi-profis-sionalizantes e palestras de apoio sócio-familiar--educativo. Porém, o que nos chama a atenção é o incentivo à leitura que a entidade traz às crian-ças. A professora Simone Podadera Gouvêa, for-mada em pedagogia, trabalha na Afim há pouco mais de três anos e realiza o trabalho de conta-dora de história para crianças da Escola Muni-cipal Cemus IV. “Essas aulas consistem em des-pertar nas crianças o hábito e, principalmente, o prazer da leitura. Conto histórias e peço para que elas contem também; fazemos teatrinhos em

cima das histórias e elas adoram”.A Afim foi criada há 12 anos pelo empresário Cleófano Leão juntamente com mais três em-presários da cidade, e, hoje, tem um convênio com a Secretaria da Criança de Salto. Em 1999, a Prefeitura de Salto declarou a associação como sendo utilidade pública através da lei 2172/99 e está registrada e certificada como entidade bene-ficente de assistência social, processo nº 001/02, deferido em 27 de fevereiro de 2002.Para Cleófano, a associação é um ponto de cul-tura e, claro, um sonho realizado. “Eu espero um destino grandioso para nossas crianças e que a existência da Afim não se resuma simplesmente em estar aqui na terra, mas sim em fazer a dife-rença”, afirma.Segundo o Secretário da Educação de Salto, Wilson Roberto Caveden, a cidade vive um mo-mento de crescimento significativo na qualidade do ensino. “Já que muito se investiu em sua es-truturação, podemos dizer que o futuro da cida-de está sendo bem preparado”, disse.Ao ser questionado sobre as necessidades da po-pulação infantil para um maior conhecimento cultural, o secretário diz que o que precisa ser feito é garantir a proximidade da criança de to-das as manifestações culturais existentes, e que a escola precisa contribuir com isso, garantindo espaços e trocas das diferentes expressões. “Além disso, a cidade precisa garantir que as questões culturais populares sejam preservadas e repassadas para todas as gerações”, afirmou. Wilson também disse que ainda faltam em Salto estes espaços de manifestações culturais popula-res e concluiu: “É preciso valorizar o que o povo construiu, a partir dele mesmo, os bairros, suas histórias, personagens, manifestações devem ser valorizadas”.É admirável os trabalhos que envolvem a leitu-ra na educação infantil, porém, ainda assim, sa-bemos que são poucos esses trabalhos perto do grande problema da falta de leitura que nosso país enfrenta. Em todo o Brasil há a necessidade de associa-ções e projetos como esses já citados, só assim é possível construir um país cada vez melhor, com mais educação e cultura, e obter os resultados e as competências de que necessitamos.

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Pedro Cunha Leite

DO BARROÀ VIDA

Como funciona o projeto que ensina escultura a garotos pobres em Iperó

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Uma mesa, um punhado de terra úmida, água, varetas e instrumentos simples, de uso delica-do e preciso. Mãos habilidosas para lidar com argila, que também pode ser classificada como nada mais que um pedaço de barro. Mas, como se brincassem de Deus, jovens de Iperó (distante 60 km de Itu) conseguem dar um sopro de vida ao material inerte. Bustos imponentes, Virgens Maria de feições dramáticas, uma réplica da mão humana, São Jorge poderoso em seu cavalo. E muitos desses novos criadores não tinham a me-nor noção do poder da vida que tinham dentro de si até entrar no Poas (Projeto Oficina de Ar-tes Sacras), um projeto que ensina a arte da es-cultura a garotos da cidade.O projeto é mantido pela Fundação Educacio-nal Ipanema em parceria com a Prefeitura local. Atualmente são 92 alunos de 11 a 18 anos aten-didos pela iniciativa. A seleção é feita pela Secre-taria de Assistência e Desenvolvimento Social de Iperó e avalia renda familiar, a vulnerabilidade social do aluno e família. Além da escultura, os alunos aprendem desenho, história da arte, co-municação, ética e têm reforço em português e matemática.“Um dos objetivos é dar oportunidade de profis-sionalização aos participantes. A cada ano con-vidamos os alunos que se desenvolveram melhor a dar continuidade e aprofundar seus conheci-mentos, dessa vez como instrutores. Queremos oferecer a jovens de baixa renda a chance de

aprender a arte da escultura num processo de aperfeiçoamento de 4 a 6 anos e se tornar profis-sionais autônomos ou empreendedores”, explica Laís de Campos, coordenadora do projeto.Entre as maiores obras dos alunos está o presé-pio em tamanho natural que traz as tradicionais figuras natalinas e alguns animais como uma vaca e uma ovelha. Algumas peças pesam mais de 200kg. O projeto guarda histórias inusitadas como a dos instrutores Bruno Soares e Jaimara Santos. Ambos começaram como alunos e se conhece-ram no ateliê de escultura. Com o tempo foram promovidos a instrutores e começaram a namo-rar. Hoje são casados. Bruno explica que não ti-nha a menor experiência antes de entrar no Poas. “Nem sabia que escultura existia. Eu achava que argila só servia para fazer tijolo”. Se antes achava que só servia para tijolo, Bruno descobriu que é capaz de fazer esculturas belís-simas. Junto com Jaimara ele comanda os outros alunos no aprendizado da arte. Enquanto participam do projeto, os alunos recebem a Bolsa Artesão, uma ajuda de custo. Alunos iniciantes recebem R$ 50 e os avança-dos R$70. O projeto começos há 5 anos com um convite ao escultor Murilo Sá Toledo a de-senvolver em Iperó uma trabalho parecido com o que conduzia na cidade de Pirapora do Bom Jesus (SP). O projeto foi tornando corpo e os primeiros alunos hoje são escultores. Em 2009 o Poas foi o único projeto da região de Sorocaba a receber apoio do Criança esperança. A parceria possibilitou a compra de dois fornos para a quei-ma das peças, o que as torna mais resisitentes. “Com a digulgação, surgiram propostas de en-comendas de obras de arte e convites para uma exposição na capital, numa Galeria de Arte”, ex-plica Laís. Atualmente o projeto tem três núcle-os na cidade, com aulas no Centro e bairros de Bacaetava e George Oetterer. “Para este ano, o principal projeto do Poas é a construção de um monumento para Iperó. “A idéia é retratar personagens importantes na his-tória da cidade e temáticas como educação, cul-tura, trabalho e meio ambiente. Vamos consultar a população para que a sociedade iperoense par-ticipe da construção”, conclui Laís

Mão na massa: crianças aprendem artesanato em Iperó como parte do processo educacional

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Artigo

André Ricci

Há alguns anos atrás, os vigilantes dos bons cos-tumes, no mundo inteiro, perseguiam as mídias que cresciam rápido demais como atenção entre os jovens. Na música, o surgimento do rock’n roll; na literatura, os quadrinhos; e na tela, a te-levisão - esses meios têm em comum o problema de estarem em determinado momento da histó-ria no foco da juventude de forma marcante. O sucesso que desses veículos de entretenimento pintaram neles um gigantesco alvo na saga da comunicação como objetos de censura da im-prensa conservadora e de pais superprotetores. Como tudo na história, esse medo se repetiu quando a apreciação popular nos videogames cresceu. Por muito tempo chamados de culpados por comportamentos violentos e deturpadores de valores, os games começaram a ser aproveita-dos como ricos mecanismos de ensino e exercí-cio de inteligência para todos os públicos.Essa visão mais progressista, de aproveitar as

Videogames e seu potencial na educação

tecnologias populares como veículos para fins benignos, está em crescimento já conhecido em países como Japão. O console portátil Nintendo DS - que possui re-cursos como tela de toque, câmera e microfone – é muito mais que apenas diversão para os alunos de inglês da escola feminina Joshi Gakuen, em Tóquio. O aparelho, imaginado com um apelo acessível para todos os públicos, possui diversos jogos e programas completamente focados no ensino, como aprendizados de idiomas e exercícios de lógica. As estudantes do colégio nipônico usam a tela de toque para aprender e escrever palavras do idioma inglês em uma espécie de aula virtual. A escola começou a promover, a partir de 2008, um plano de aplicação desse tipo de tecnologia com o propósito de educação. A produtora Paon Corp, criadora do curso de inglês para o Ninten-do DS, revelou, através de seu gerente Yasuhiro

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Yamamoto, que essa proposta revoluciona o rit-mo das aulas japonesas.Aqui no Brasil, no entanto, o uso dos games ainda é visto apenas como forma de diversão infanto-juvenil e sofre como alvo de críticas dos olhares mais conservadores. Isso é ajudado pelo fraquíssimo mercado nacional de empresas desenvolvedoras de jogos. A Abragames, Asso-ciação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos, tem como participantes um pouco mais que sessenta companhias, a grande maioria pequenas produtoras de aplicativos casuais para celulares. Isso deixa a competitividade com as gi-gantes estadunidenses e japonesas muito difícil. No entanto, um cenário promissor pode mudar essa visão e torná-los algo além de um vício in-fantil – transformá-lo em uma mídia de entrete-nimento para várias faixas etárias e toda a família - já que, há cinco anos, menos de vinte empresas brasileiras do ramo existiam.Os videogames são parte integrante da cultura jovem atual – um fato inegável – e como tal, de-vem ser aproveitados. As novas gerações nascem e crescem com a tecnologia, e como afirma Lynn Alves, professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e autora do livro Game Over: Jogos Eletrônicos e Violência, o público geral das mídias, pais e formadores de opinião devem entender a importância de todas as tecnologias presentes na vida dos alunos, para não gerar aversão dos mesmos com metodologias ultra-passadas e antigas que causam apenas estranha-mentos na nova geração. Desde o computador e celular até os games, as escolas devem seguir uma visão aberta, aplicada ao ensino em conjun-to com o mundo conhecido pelos jovens.No mundo inteiro, estudiosos procuram a res-posta para a insistente pergunta sobre a influ-ência maléfica dos jogos violentos. Da mesma forma que mídias como televisão e cinema já passaram por isso, essas pesquisas trazem re-sultados díspares. Em um paradoxo que parece nunca trazer um acordo comum entre os con-servadores e aqueles com a mente aberta, vários games chegam a ser rotulados como benéficos para o raciocínio, reação e coordenação motora, mesmo sendo violentos.Uma coisa é certa em todo esse cenário crescen-

temente – e permanentemente – popular na di-versão de todas as faixas etárias: o fascínio gerado pelos jogos interativos eletrônicos é muito gran-de e cativa com facilidade. Isso ficou ainda mais forte com o sucesso de consoles voltados para o público casual – ou seja, pessoas que não cos-tumam ter games como forma de diversão fre-quente. O Nintendo Wii é uma dessas criações e possui dispositivos como balança para jogos de exercício físico, sensores de movimento para criar uma jogabilidade mais física e menos se-dentária e títulos muito mais voltados para o pú-blico geral, como exercícios, esportes e diversões de caráter acessível e familiar. Esse estrondoso sucesso fez com que as produtoras mais volta-das para o público tradicional desenvolvessem seus próprios mecanismos de detecção de mo-vimento para jogos mais saudáveis. O Kinect, da Microsoft, para o videogame Xbox 360, tem um sensor de movimento que não necessita de con-trole nenhum nas mãos do usuário e está sendo usado inclusive por cientistas que reconheceram a tecnologia como algo avançado e benéfico para outras áreas.A busca por esse entretenimento causa uma in-tegração do público. Nisso, a grande luta pela atenção dos alunos nos assuntos a serem ensi-nados precisa andar de mãos dadas com o prazer em aprender algo novo. Como diz Lynn Alves em seu livro, “infelizmente, a escola hoje em dia é um espaço de desprazer e, se não há prazer, não há aprendizagem”. E como todos sabem de sua própria experiência como estudantes - o que não gostamos, não guardamos para a vida.

Os videogames são parte integrante da cultura jovem atual e, como tal, devem ser aproveitados

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Artigo

Renata Guido

Historicamente, o Movimento Estudantil par-ticipou e muitas vezes foi o principal articulador de muitas reivindicações em nosso país. O auge de sua trilha revolucionária se deu no final dos anos 60, quando a ditadura militar abateu e esma-gou o desenvolvimento que o movimento vinha construindo ao longo de muitos anos.Em 1937 os estudantes conseguiram a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), a entidade brasileira que representa os estudantes universitários. Anos depois o movimento dos secundaristas também penetrou e passou a par-ticipar ativamente no programa da entidade. Sob a intervenção do Partido Comunista Brasileiro, que organizou e politizou os estudantes, o movi-mento estudantil adquiriu um caráter político es-tudantil onde na década de 1950 principalmente, mostrou-se como uma organização de funda-

mental importância no combate as políticas pri-vatistas da época, quando os jovens saíram as ruas na campanha antiimperialista pela nacionalização do petróleo.No entanto, em 1964 diante da ditadura militar, o país se viu esmagado pela repressão e censura dos militares. Nessa época muitos líderes de movi-mentos estudantis foram assassinados, fato que serviu de combustível para a explosão de inten-sas manifestações contra o regime e suas práticas de opressão. Em junho ocorre a histórica mani-festação dos cem mil, cuja principal reivindicação era “ABAIXO A DITADURA!” Com grande repercussão, esse episódio possibilitou a acelera-ção da decadência do regime ditatorial no Brasil. Durante a campanha das “DIRETAS JÁ!” mais uma vez o movimento estudantil mostrou sua força, envolvendo toda a população na exigência

Movimentos EstudantisConscientizadores Políticos ou Massa de Manobra?

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para a volta das eleições diretas para presidente no Brasil. Logo depois mais um grito saiu da garganta dos estudantes e fez tremer as estrutu-ras corruptíveis do governo do Brasil, o “FORA COLLOR!” foi gritado com tom alto pela so-ciedade brasileira, exigindo um país mais justo e sem corrupção, resultado impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo.Contudo, é importante salientar que tais mobili-zações contavam com um conjunto de movimen-tos, grupos e partidos políticos articulados. As ações não foram promovidas exclusivamente por um comportamento autônomo e independente das entidades e instituições. Em um momento histórico marcado pelos antagonismos entre o bloco americano e soviético, os contrastes sociais na realidade local e nacional eram mais visíveis e mais questionados. Assim, a possibilidade de is-enção dos grupos populares e da própria mídia diante dos diversos problemas do país era nula. Interesses políticos e econômicos ou os interesses de classes eram fundamentais no engajamento das diversas expressões da sociedade civil organizada nas diferentes mobilizações que ocorriam como é o caso do exemplo mais recente, onde os canais de televisão, principalmente a Rede Globo, tiveram uma participação fundamental no impeachment do presidente e atual senador Fernando Collor de Melo, que “curiosamente” hoje é membro da aliança governista composta pelos partidos que no passado exigiram sua própria cassação (PT, PC do B, PMDB, PDT, PR, PRB, PSB, PSC, PTC e PTN).O Movimento Estudantil esteve ligado a muitos dos principais momentos de nossa história recen-te. E justamente por isso, durante muito tempo foi sinônimo de credibilidade e de respeito, gra-ças às inúmeras pessoas que lutaram ao longo do tempo para que os estudantes tivessem melhores condições de estudo e liberdade de expressão, além de defender os direitos de todos os cidadãos.Várias siglas ficaram conhecidas como: UNE, UBES, USES e tantas outras que se tornaram marcas na história brasileira. Contudo, hoje es-sas marcas se transformaram em produtos políti-cos partidários que são disputadas a tapa para vê quem vai dominar tal sigla e através do prestigio usá-la como trampolim político.

Tinha razão o repórter Carlos Marchi quando es-creveu no Estado de São Paulo que a invasão da Reitoria da USP, em 3 de maio de 2010, foi uma ação planejada por partidos de extrema esquerda - o PCO, o PSTU e o PSOL, além do Sindicato dos trabalhadores da USP (Sintusp) e a central Conlutas. Segundo ele, os estudantes foram in-struídos por Claudionor Brandão, ex-diretor do Sintusp e que os líderes do Sintusp comandam as ações diretas, fornecendo logística para a ocupa-ção, além de orientação política. Ainda, segundo o repórter, “dentro da reitoria ocupada a operação é conduzida por um grupo de 30 líderes estudan-tis que controlam centros acadêmicos, a maioria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Hu-manas (FFLCH). Praticamente todos são dissi-dentes do PT; muitos militam nos três partidos e alguns integram também o primeiro grupo”. E este é apenas um dos muitos exemplos corre-latos.Nos sobra, portanto, a questão: será a já incipi-ente mobilização estudantil brasileira dos dias de hoje terminará como um fantoche nas mãos de políticos tarimbados, se valendo de alienação política e disposição para a luta? Essa pergunta, por enquanto, fica sem resposta, pois felizmente ainda sobram exemplos de esforço e mobilizações genuínas.Apesar da partidarização excessiva e das con-testações à liderança da União Nacional dos Es-tudantes, há coisas novas no front. As cotas, por exemplo, levaram à universidade um público que se mobiliza por medidas práticas, não slogans dis-tantes. Mesmo a militância tradicional modificou seu modelo de atuação, com as redes sociais. Segundo o pesquisador Breno Bringel, do Grupo de Estu-dos Contemporâneos da América Latina da Uni-versidade Complutense de Madri, os estudantes utilizam intensivamente as novas tecnologias de informação e comunicação, que também funcio-nam como instrumentos de participação, mobi-lização e criação de identidade. Para ele, a nova militância pode ser chamada de “geração Fórum Social Mundial” - jovens que acreditam num outro mundo possível, embora não saibam ao certo como chegar lá. Talvez essa seja sua maior riqueza, ter diálogos diferentes da esquerda.

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educação

Murilo Roosch

EducaçãoUm investimento que pode mudar muitas vidas

Na cidade de Itu, um novo projeto foi implantado com a intenção de aprimorar a educação na cidade e recuperar aqueles que não tiveram oportunidade de serem educados

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Educação é uma das principais virtudes que o ser humano precisa ter hoje em dia para viver uma vida digna e bem sucedi-

da. Ela não deveria ser apenas usada e interpre-tada pelas pessoas com um simples “obrigado” ou um “por favor”, mas sim praticada de uma ma-neira pela qual algo possa ser acrescentado em suas vidas. A educação engloba os processos de ensinar e aprender. Segundo o educador e escritor bra-sileiro Rubem Ales, “o sujeito da educação é o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”. É preciso investir na educação, incentivar as crianças, os jovens, os adolescentes, até mesmo os adultos. Em Itu, um projeto interessante com intenção de aprimorar a educação na cidade, tem como objetivo recuperar pessoas perdidas que não tiveram oportunidade de ter uma formação educacional e até mesmo profissional, chama-do “Projeto Oficina Escola de Artes e Ofícios” (POEAO).

O Projeto pretende incluir socialmente jovens carentes em situação de risco dando-lhes a se-guir uma profissão na arte do restauro, da recu-peração, da revitalização e da manutenção do Patrimônio Histórico - Cultural. Esse Projeto, certificado pelo SENAI de Minas Gerais, é de âmbito nacional e tem como parceiros diversos institutos de restauro, pesquisa, arqueologia, ar-quitetura e engenharia, de Portugal e da Alema-nha. A sua criação, hoje gerida pela Associação Proje-to Oficina Escola de Artes e Ofícios de Itu, tem por objetivos: recuperar e incluir socialmente jo-vens, na faixa etária de 14 a 24 anos incompletos, em perigo de entrarem para a prostituição, trá-fico e consumo de drogas, e criminalidade; dar a esses jovens uma formação profissional na área da construção civil (carpintaria, marcenaria, pin-tura e alvenaria), nas especialidades de restauro, preservação e revitalização do Patrimônio His-tórico-Cultural de Itu, ensinado-lhes técnicas antigas e tradicionais; incluí-los no mercado de trabalho representado pelas atividades da cons-trução civil voltadas para o restauro, preservação

Visita dos alunos ao laboratório de informática

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educação

e revitalização dos imóveis históricos de Itu in-ventariados e/ou tombados pelos órgãos de pre-servação do Patrimônio Histórico; e promover o turismo na cidade histórica de Itu, fomentando seu desenvolvimento econômico e social.

Pontapé inicial

O Projeto teve sua aula inaugural no dia 28 de março, na sede da Associação, que fica na Rua Madre Maria Basília, 64, Bloco 1, 2º Andar, e foi marcada por um ato simbólico de doação de ma-terial e serviços ao projeto. Além de apresentações dos participantes sobre as-suntos pertinentes à oficina, tais como o convênio feito entre Santana de Parnaíba e Itu, as parcerias feitas com a Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Itu, com o Ceunsp (Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio) e as perspectivas futu-ras para a iniciativa, o Prefeito de Itu, Herculano Passos Júnior, e a Deputada Estadual, Rita Passos participaram do evento a convite do Presidente da associação, professor Raul de Souza Almeida. Também participaram do evento a arquiteta Giuliana Damaceno Fenocchi; o engenheiro Fá-bio Augusto de Oliveira e Silva (Colégio Cidade de Itu/Anglo); a empresária Rose Stábile (MJ3/Imperial Turismo); a professora Maria da Gló-ria Ramalho de Vecchi; o professor e restaurador

Turinã Alves Inácio; a professora doutora Juliana Augusta Verona; e o engenheiro Claudinei No-velli.Com a renovação do convênio entre Santana de Parnaíba e Itu, a cidade poderá utilizar a técnica usada pelo POEAO para restaurar os seus imó-veis históricos. Itu possui um patrimônio de 235 imóveis tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHATT), sendo alguns deles também tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Além disso, o município conta com 32 fazendas histó-ricas, datadas do século 18 e 19. Segundo o presidente do Conselho Municipal de Itu e diretor do POEAO, Raul de Souza Almeida, a assinatura do convênio com Santana de Parnaí-ba trará um grande ganho para o projeto. “As duas cidades vão se ajudar. Santana de Parnaíba nos oferecerá a tecnologia para utilizarmos em nossa cidade e Itu, como associação poderá contribuir com a captação de verbas para serem usadas em outros municípios que venham firmar convênio com o POEAO”, garantiu Raul Almeida.As formas de educar as pessoas são diversas, e essa é uma delas. Ajudar um povo que não pôde, em sua infância, e não teve oportunidade, de participar de algo como esse. Adquirir conhecimentos que talvez possam ser praticados para o resto de suas vidas.

Autoridades participam de cerimônia sobre o laboratório

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Música nas escolas

A importância e os desafios da lei que garante

a educação mu-sical no ensino

básico brasileiro

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João Sarti

fica de professores na área musical para ministrar a disciplina. A justificativa é que a música é uma prá-tica social e, no Brasil, há diversos profissionais sem formação acadêmica específica ou oficial na área e que são reconhecidos nacionalmente. No entanto, segundo Martinelli, esse artigo não deveria ter sido vetado. “Qualquer um que conviva cotidianamen-te com a música entenderá que nem sempre for-mação musical significa ‘qualificação’. Não é raro encontrarmos talentos quase sobrenaturais total-mente desprovidos de diploma, bem como pessoas supertituladas sem uma real proficiência musical. Entretanto, quando se trata de uma empreitada dessa envergadura, isto é, iniciar o processo de alfa-betização musical de um país de proporções conti-nentais, uma qualificação formal mínima é mais do que bem-vinda, é fundamental”, afirma.“Apesar de em um primeiro momento o ‘amadoris-mo músico-pedagógico’ que o tal veto pode acarre-tar mostrar-se o principal problema do início desta empreitada, muitos outros já surgem num horizon-te não muito distante, tais como a infraestrutura pedagógica – é preciso ter instrumentos musicais, lousas de música, equipamentos, etc. – metodolo-gias e métodos”, comenta Martinelli.Como o projeto de lei também não regulamenta o formato ou conteúdos das aulas, as escolas estão li-vres para escolher quais atividades serão oferecidas, tais como coro, grupos instrumentais, orquestras, ensino de instrumento, entre outros. O importante é que a escola considere a demanda dos alunos e as características culturais da região em que está inserida.“Se o Brasil é um país musical por natureza, o grande desafio de nossos futuros educadores será como formalizar seu ensino numa sociedade na qual a educação como um todo passa bem longe das prioridades do Estado e, de certa forma, do próprio povo. A arte é frequentemente entendida como um capricho supérfluo, e não por sua real im-portância, isto é, como algo essencial à vida”, com-pleta o professor.

Partituras musicais e instrumentos já podem fazer parte da lista de material escolar do seu filho. E não estranhe se ele estiver pratican-

do percussão e argumentar que é lição de casa. O ensino de música, tão importante para o estímulo da criatividade infantil, tornou-se novamente obri-gatório nas escolas. Sancionada no dia 18 de agosto de 2008 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a lei nº 11.769 passou a valer para o ensino funda-mental e médio de todas as escolas brasileiras, que têm até este ano para adaptar seu currículo na área de artes. Essa lei altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que determina o aprendizado de arte, mas não especifica o conteúdo.De acordo com o compositor e professor da Esco-la Municipal de Música de São Paulo, Leonardo Martinelli, é evidente que o ensino amplo e demo-crático de música é uma excelente ideia, mas ainda é preciso pensar em muitas coisas. “Desde a anti-guidade, se confere à educação musical um fator relevante na formação do cidadão. Mas, se por um lado o simples acesso à música que a tal lei pode propiciar é algo em si importante e animador, pelo outro, é preocupante a forma como este acesso será realizado, e principalmente, quem irá fazê-lo”, co-menta o músico.O ensino de música já fez parte dos currículos es-colares, mas foi retirado na década de 1970. O pro-jeto de lei para o retorno dessa disciplina foi pro-posto pela senadora Roseana Sarney e surgiu com a mobilização do Grupo de Articulação Parlamentar Pró-Música (GAP), formado por 86 entidades, como universidades, associações e cooperativas de músicos. O objetivo não é formar músicos profis-sionais, mas sim, reconhecer os benefícios que esse ensino pode trazer para o desenvolvimento e a so-ciabilidade das crianças. Lula vetou o artigo que previa a formação especí-

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acordo ortográfico

Renan Pereira

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Dezembro de 2012. Este é o prazo que os países lusófonos têm para se adap-tar ao novo Acordo Ortográfico - pacto

selado entre as oito nações do globo que têm a língua portuguesa como idioma oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. De acordo com o documento - assinado pelos líderes no início de 2009 - o objetivo do trata-do é reunificar a cultura de forma que haja uma padronização gramatical do idioma de Camões.Só para citar alguns exemplos, palavras como idéia, lingüiça e infra-estrutura passam agora a se escrever assim: ideia, linguiça e infraestrutura. “E isso poderá afetar diretamente o meu coti-diano?”, indagaria o mais quixotesco dos leitores. A resposta é: sim. Quer um exemplo? Um professor de vestibular não estará errado se descontar pontos da sua nota por você não ter levado a sério as novas regras ortográficas na sua redação. Apesar do exemplo restrito, re-latos de estudantes de todo o país mostraram, em diversas ocasiões, que as mudanças têm dado o que falar. Ou melhor, o que escrever.  Em 2010, por exemplo, um estudante de uma famosa universidade carioca entrou com uma ação contra um dos professores: ele jura ter sido reprovado por desrespeito às normas gramaticais em um teste. Por essas e outras mais, uma per-gunta tem perdurado na mente de acadêmicos, doutores, professores e estudantes: será que a re-forma veio para ajudar ou dificultar ainda mais o nosso já complexo idioma? Conversamos com alunos e educadores da rede de ensino para saber como  estão sendo desen-volvidas  as novas aplicações dentro das escolas instituições de ensino. O resultado você confere nos próximos parágrafos desta reportagem.Processo - Em 2008, antes mesmo de o Acor-do entrar em vigor, professores de todo o país passaram a fazer um treinamento de capacita-ção visando a nova ortografia. O objetivo do

Novo acordo ortográficoVocê já se habituou com as novas regras?

projeto, de acordo com o Ministério da Edu-cação, era empregar uma nova cultura para que os educadores soubessem estabelecer a transição imediata da linguagem aos alunos. O que se viu nas escolas, no entanto, pouco tempo depois, foi uma série de alunos confusos e professores afoitos. Embora não sejam em grande número, as mudanças confundiram até mesmo especia-listas, por conta do excesso de regras e exceções.  “A população demora até conseguir se habituar às mudanças. A princípio muitas palavras apare-ceram escritas de várias formas, fator que acabou confundindo ainda mais pessoas que não tinham contato cotidiano com a leitura”, destaca o dou-tor em linguística Alfredo Andeolli. “Sou a favor de tudo o que muda para melhor. Portanto, sou sim favorável à reforma. Resta-nos saber agora se isso não irá causar ainda mais impasses do que já temos. Afinal, creio que o Brasil ainda não te-nha suporte para encarar tal mudança”, conclui.  Para entender a importância da língua portu-guesa no mundo de hoje, vale abrir aqui um pa-rêntese histórico: o português já é uma das cinco mais faladas no mundo. Aproximadamente 180 milhões de pessoas uti-lizam-na como dialeto materno. A sua origem teve início no latim falado, levado à Península Ibérica por volta do século II a.C., devido às conquistas políticas do Império Romano. Mes-mo tendo adotado o idioma de seu coloniza-dor, o Brasil possui modos de escrever e de fa-lar que foram surgindo com o passar dos anos. Apesar de ser a mesma língua, o nosso português é diferente da que encontramos em Portugal, por exemplo. Só no Brasil, podemos encontrar cen-tenas de dialetos, fato que ressalta a miscigena-ção de culturas do nosso país. De acordo com a professora de línguas da rede de ensino público, Maria José, os alunos se mostram interessados com as mudanças, mas o descaso do poder públi-co faz com que o projeto de reunificação não seja levado tão a sério. “Eles estão sempre atentos às

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transformações e, normalmente, questionam as novas regras. Por outro lado, não existe nenhum tipo de fiscalização por parte da rede de ensi-no e, portanto, o investimento no assunto fica a critério dos próprios professores”, esclarece. A estudante do 3º ano do ensino médio, Lucia-na Maeda, questiona a eficácia das regras. “Será que essa transformação realmente ajuda a tornar o nosso idioma universal? Será que as novas re-gras não confundem ainda mais os estrangeiros? Além disso, os professores de Língua Portuguesa ainda não adotaram um método de ensino reno-vador para os alunos que foram educados com a antiga forma, o que é bem preocupante - já que muitos estão prestes a concluir o ensino médio e prestar vestibulares e concursos”, diz. Em contraponto, existem alunos que também são a favor das mudanças. “Na escola em que eu estudo somos obrigados a fazer provas men-sais com base na nova ortografia. Todos estão se saindo bem”, garante o jovem Ricardo Diego. 

Ensino superior

Para o jornalista e professor de comunicações so-ciais, Ulisses Velasco, a reforma ainda está longe de ser levada à risca nas instituições do ensino superior.  “Não  exijo as novas regras dos meus alunos e eles não as utilizam. Para ser sincero, imagino que a maioria não conseguiria dar mais do que dois exemplos das modificações. Não peço porque a norma ‘antiga’ ainda é válida por um certo tempo. Infelizmente, o trabalho atual na faculdade é fa-zer o aluno trabalhar bem com a Língua Por-tuguesa de maneira  bem simplória mesmo”.  Resta-nos saber agora o que acontecerá nos pró-ximos anos até que a lei entre integralmente em vigor. “Os professores, principalmente de língua portuguesa, terão que bater firme nas modifica-ções para que os alunos não errem tanto quando a norma for a única. E os professores de outras matérias terão que ficar atentos para não permi-tir uma ‘salada’ por parte dos alunos. Só assim chegaremos à forma plena da escrita”, arrisca Velasco.

Principais mudanças As principais mudanças do Acordo Ortográfico dizem respeito à acentua-ção. Confira: > O trema deixa de existir nas síla-bas “gue”, “gui” e “que”, qui. Exemplos: Anhanguera e sequestro.  > O acento agudo será extinto nos diton-gos abertos “ei” e “oi”. Exemplos: ideia, assembleia, jiboia e androide.  > O acento circunflexo não será mais usado nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do substantivo dos verbos dar, ler, ver, crer e derivados. Exemplos: deem, leem, veem e creem. > O uso do hífen também muda em vários casos. Palavras como “manda-chuvas” e “pára-quedas” passam a ser grafadas “mandachuvas” e “paraquedas”. Outras, além de perderem o hífen, terão as letras dobradas. Exemplos: antirrábica, antir-rugas, cardiorrespiratória, contrassenso e minissaia. > As letras k, w e y passam a integrar ofi-cialmente o abecedário, que terá 26 letras. 

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artigo

CursinhocomunitárioUma esperança para alunos de baixa renda

Acontece com milhares de brasileiros to-dos os anos. Pode ter acontecido com você!

Após três anos no ensino médio você se inscreve para o vestibular de uma conceituada faculdade. Paga a taxa de inscrição; recorre a alguns livros, anotações; e usa a internet sem preocupação. Estuda um pouco sozinho, e vai fazer a prova para conquistar uma vaga. Então, ao encarar o caderno de questões, se assusta com a complexi-dade dos exercícios e com o nível e abordagem dos temas solicitados na prova. Só então você percebe que precisa de uma preparação maior, não somente com as matérias, mas em como es-tudar para a prova.

Rodrigo Camargo

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Para ser ter uma ideia, nos últimos dois anos, mais de 100 mil brasileiros se inscreveram no vestibu-lar da Fuvest. Desse número, só 28% estudaram em escolas estaduais e municipais, e menos da metade desta percentagem fizeram algum curso preparatório - a não ser a própria escola. Mesmo assim, eles enfrentam provas de igual dificuldade que ex-alunos de colégios pagos.Não é por falta de vontade ou interesse, mas muitos recém-formados do ensino médio pú-blico optam em não fazer faculdade, preferindo dedicar-se ao trabalho antes de pensar num fu-turo universitário. O grande “xis da questão” é a capacidade de concorrer com alunos de escolas privadas pelas mesmas vagas, mesmo em desvantagem perante a qualidade de seu aprendizado nos anos em que frequentaram a escola.Preparação - Os cursinhos pré-vestibulares au-mentam ainda mais as chances dos jovens de classe média e alta a entrarem nas universidades. Esses cursos focam as matérias e as principais características dos atuais vestibulares para ajudá--los na preparação dos testes. No entanto, os estudantes com renda familiar in-ferior a três salários mínimos continuam prejudi-cados, pois, na maioria das instituições, é cobra-do um alto preço por esse serviço preparatório, o que acaba sendo inviável para esse contingente de pessoas.Foi pensando nesse público que algumas facul-dades do país criaram o cursinho comunitário. Trata-se de um curso preparatório nos mesmos moldes dos cursos pagos existentes no mercado, mas com aulas ministradas por alunos e ex-alu-nos de grandes faculdades com um intuito social: garantir a entrada de pessoas com baixa renda em boas universidades.Na região de Itu, o destaque vai para o cursinho comunitário Gerabixo da Unesp (Universida-de Estadual Paulista) no campus de Sorocaba. Criado em 2006, o curso já atendeu mais de 500 alunos de várias cidades do estado, e garantiu a entrada de muitos alunos em excelentes faculda-des do país.Atualmente coordenado pelo aluno de eletrôni-ca industrial e automação, Luciano Semenssato de Oliveira, o curso foca o preparo de alunos ca-

rentes no alcance do nível requisitado para essas provas. “Alguns alunos chegam aqui muito limitados. As primeiras semanas do curso começam com as matérias em nível básico e recapitulamos concei-tos simples de todas as disciplinas”, conta.Criado para atender toda a população, o projeto é oferecido para todas as idades, sem exceção, mas possui processo de seleção - por conta do limita-do número de vagas.Neste ano, foram preenchidas cem vagas, sendo quarenta no período diurno e sessenta no perío-do noturno. A avaliação para o curso é feita através de um processo que consiste em duas etapas: uma pro-

Tiago Leite, lecionando Geografia Geral

Na região de Itu, o destaque vai para o cursinho comunitá-rio Gerabixo da Unesp (Univer-sidade Estadual Paulista) no campus de Sorocaba. Criado em 2006, o curso já atendeu mais de 500 alunos de várias cidades do estado, e garantiu a entrada de muitos alunos em excelentes faculdades do país.

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cursinho comunitário

va de 63 questões divididas entre as disciplinas português, matemática, geografia, história, inglês, biologia, química e física; e um processo de ava-liação socioeconômica, no qual sete equipes da Unesp se dirigem à residência dos interessados e avaliam as condições financeiras dos candidatos. Quanto maior a nota da prova e menor as condi-ções, maior a chance de entrar no cursinho.Muitos ex-alunos do projeto reconhecem a oportunidade e a qualidade do ensino realizado. Como Patrícia Cunha, que atualmente é bolsista na FPM (Faculdade Prudente de Moraes) e con-seguiu estudar graças a seu bom desempenho no vestibular. “O cursinho é muito bom. Eu viajava de Iperó para Sorocaba só para participar. Quem sabe aproveitar pode conseguir vaga em qualquer fa-culdade”, explica a estudante.Para boa parte dos beneficiados, a defasagem do ensino público fica clara ao se depararem com as provas de admissão mesmo em faculdades parti-culares. “O cursinho não ajuda somente a entrar em uma universidade federal, mas cria também bons resultados na prova do Enem, que podem

ser fundamentais para conseguir uma bolsa in-tegral em uma faculdade privada”, afirma a estu-dante do cursinho Jéssica Soares. Os alunos que têm mais dificuldade podem re-fazer o cursinho quantas vezes desejarem, desde que passem novamente pelo processo de seleção anual. “Muitos alunos, chegam a fazer o curso três vezes antes de passarem na prova desejada. Isso acon-tece porque o ensino público não dá o mesmo suporte para esses alunos”, informa Demenssato.Mas é necessário correr atrás. Quando chega um determinado estágio do curso, os alunos são in-centivados a fazerem novamente a inscrição se pretendem continuar nas aulas. Para todos eles é uma verdadeira oportunidade, visto que um cur-sinho pago chega a custar até 600 reais, o que, para boa parte desses alunos, representa a própria renda familiar.Solução - A ideia, então, é conseguir apoio de outras entidades e prefeituras para expandir o número de vagas. Como alguns professores rece-bem bolsas para dar aula, o custo é um pouco ele-vado. Todo material didático é distribuído gra-tuitamente e os espaços são cedidos pela Unesp para que as aulas aconteçam.Para os professores, mais do que uma experiên-cia, é gratificante conhecer pessoas e ajudá-las a traçar um caminho próspero. Além disso, existem matérias em que existem lis-tas de suplentes para professor. O que demonstra a quantidade de estudantes que pretendem dar aulas. “Participar desse projeto só aumenta nosso co-nhecimento, além de ser empolgante”, afirma o professor de Geografia geral Tiago Leite.A forma com que o curso é ministrado traz in-centivo tanto aos alunos, como os professores, que adquirem experiência e aperfeiçoam seus co-nhecimentos. Para os interessados, o cursinho abre as inscri-ções sempre no começo de janeiro.

Mais informações pelo telefone: (15) 8122-8967 ou pelo e-mail: [email protected]

Luciano Semenssato, coordenador do curso Gera Bixo

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Há alguns anos as empresas começaram a dar mais preferência a candidatos que possuíam o conhecimento em outra língua, o inglês

principalmente, e nos dias de hoje essa exigência vem aumentando mais e mais. Em algumas empre-sas o inglês tornou-se imprescindível e, além disso, se o candidato possuir uma experiência no exterior, suas chances crescem em até 100%. Por esse motivo é que a procura de cursos no exterior tem aumentado. Segundo Luciano Novas, da Belta (Brazilian Edu-cational and Language Travel Association), cerca de 170 mil brasileiros participaram de algum curso no exterior (high school, cursos de férias, cursos de idio-mas, programas de trabalho, pós graduação). Durante o ano de 2010 e para o ano de 2011, a expectativa é de um aumento de 20% a 25%, ou seja, cerca de 210 mil brasileiros sairão do País para aprender algum idioma.Luciano afirmou também que os programas de idio-mas ainda são os mais procurados, “porém, tem havi-do um forte crescimento na busca de programas de graduação e pós-graduação”, disse. O Brasil é um dos maiores exportadores de intercam-bistas do mundo, segundo o relatório de 2009 da As-sociation of Language Travel Organisations (ALTO), ocupando a sétima posição. A expectativa para este ano é de que o País chegue à terceira posição, um re-flexo de um mercado que tem movimentado 8 bilhões de dólares no mundo, ou seja, quase 7% do mercado

global de turismo jovem.Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atualmente três milhões de estudantes realizam estudos no exte-rior, e esse número vem aumentando 14,5% ao ano, com previsão de alcançar 10 milhões de estudantes até 2025. Esses dados representam um crescimento de 233% em apenas 16 anos.De acordo com a Belta, os países que mais recebem brasileiros em programas de intercâmbio são: Cana-dá, EUA, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Um desses países foi o escolhido pela estudante Ma-rília Andréa, que passou dois anos na cidade de Char-les Town, em West Virginia.Marília optou pelo programa de Au Pair; morava em uma casa de família e cuidava das crianças de lá, e estudava inglês por quatro horas por dia, três dias por semana. Durante o programa, Marília morou em uma casa com a mãe e seus três filhos com idades de cinco, 11 e 13 anos.“Fui tratada muito bem nos dois anos que morei com eles, como parte da família mesmo”, conta.Porém, a adaptação não foi tão simples. “No começo o problema foi a comida mesmo, o gosto. O clima também, porque, onde estava, no inverno a tempera-tura chegava a -15º. E a saudade, claro, principalmen-te dos meus amigos e familiares”, afirmou.Mas, apesar de tudo, Marília deseja voltar ao país. “É um plano entre muitos”.

Talita Vieira

IntercâmbioPor que mais e mais jovens têm procurado fazer cursos fora do país.

E então? Pra onde vai?

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deficiência e educação

Bruna Armelin

O deficiente e o Ensino Público brasileiroSer diferente num país como o Brasil não é fácil. Imagine, então, quando se tratam de deficiências físicas que limitam o acesso a um direito de todo o cidadão: a Educação. Tem jeito?

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Em 1989, foi sancionada a Lei Nº 7.853, que se refere à inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Especificamen-

te na área da educação destaco os seguintes tópi-cos:

a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1o e 2o graus, a supletiva, a habilitação e reabilitação profissiona-is, com currículos, etapas e exigências de diplomação própria;

b) a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e públicas;

c) a oferta, obrigatória e gratuita, da educação espe-cial em estabelecimento público de ensino;Brasília, 24 de outubro de 1989; 168o da Independência e 101o da República, JOSÉ SAR-NEY.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística) em 2000, cerca de 24,6 milhões de pessoas se declararam portadoras de alguma deficiência. Este número correspon-de a 14,5% da população total. Em relação à instrução, as diferenças são mar-cantes: 32,9% da população sem instrução ou com menos de três anos de estudo é portadora de alguma deficiência. As proporções de portadores de deficiência caem quando aumenta o nível de instrução, chegando a 10% de portadores de deficiência entre as pessoas com mais de 11 anos de es-tudo.O número de pessoas com algum tipo de deficiência matriculadas no ensino público ainda é muito pequeno. Isso ocorre por vários fatores, como inadequação de espaço físico, ne-cessidade de adequação do material de estudo e habilitação dos profissionais de ensino.Cintia Cristina Lima é estudante de Pedago-gia e cursa Libras por conta própria. Ao ser questionada sobre a especialização, ela diz que sentiu a necessidade por acreditar que libras é o meio de comunicação que dá ao surdo auto-nomia para viver em sociedade. No ano 2000

eram cerca de 5,7 milhões de surdos no Brasil e, em 2002, cerca de 25 milhões com proble-mas auditivos, que não a surdez total. Além disso, ela acredita que o curso deveria se tornar parte do ensino público do nosso país.A professora de língua portuguesa e inglesa

Daniele Miranda, professora de Língua Portuguesa em escola pública: bancou o curso de libras para atender ao público deficiente

Falta de adequação do espaço fisíco às necessi-dades especiais faz com o número de deficientes matriculados no ensino público brasileiro seja pequeno.

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Daniele Natalia Miranda começou a fazer o curso de Libras por conta própria também, mas, devido à falta de tempo, foi obrigada a parar. Ela afirma que é necessária uma política de educação real-mente eficiente, que, de fato, atue nos setores que mais precisam. O principal problema, segundo Daniele, é a inadequação do espaço físico.

O ensino público deve estar preparado para todos os tipos de deficiência

Triste constatação: Na escola pública é prati-camente impossível tra-balhar com alunos por-tadores de necessidade especial. São alunos que requerem muito mais atenção por parte dos professores e, hoje, com a realidade com que li-dam, isso é inviável.

Na escola em que leciona estão matriculados dois alunos que necessitam de cadeiras de rodas para se locomoverem; a diretora entrou com o pedido de adequação do prédio, sendo o mesmo negado pela FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação). Não se pode negar que existem escolas especiais, que são adaptadas a pessoas com deficiência. Mas, mesmo assim, o número de deficientes com algum tipo de instrução ainda é pequeno. E as escolas especiais oferecem poucas vagas se comparado à procura.Segundo o IBGE, 94% das escolas de ensino do país, incluindo públicas e particulares, não pos-suem dependências e vias adequadas para alunos com deficiência.Daniele acredita que o número de matriculados ainda é pequeno justamente por falta de preparo dos profissionais. Na escola pública é praticamente impossível tra-balhar com alunos portadores de necessidade es-pecial por vários motivos. São alunos que reque-rem muito mais atenção por parte dos professores e hoje com a realidade que lidam isso é inviável, uma vez que trabalham em média com 40 alunos por sala e essa é apenas uma das dificuldades que enfrentam. Qual seria a solução? Cintia fala que o ensino po-deria melhorar primeiramente com a capacitação de todos os professores, e só então com a inclusão em salas de aulas, também incluindo o ensino de Libras e Braile como parte curricular de todas as faculdades de licenciatura, com ensino de verdade, não o que se vê hoje em dia em quase todas as faculdades.“Desde o ano passado temos ouvido que o Go-verno do Estado tem um projeto de inclusão de portadores de necessidades especiais, tais como autismo e leve deficiência mental. Ainda não re-cebemos nenhum aluno com essas necessidades e, caso recebamos, não estamos capacitados para trabalhar nessas condições. O governo do estado nunca ministrou cursos ou palestras para os pro-fessores”, diz Daniele.O processo de inclusão na educação deve ser feito por pais, educadores, psicólogos e o governo gra-dualmente deve excluir o preconceito que existe com alunos deficientes.

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financiamento estudantil

Thalita Marchiori

FINANCIAMENTO ESTUDANTIL

Um empréstimopela educaçãoUm empréstimopela educação

Neste ano temos novidade quando o assunto é financiamento estu-dantil.

Antes, era necessário ter um fiador para se conseguir o Fies – Fundo de Financia-mento ao Estudante do Ensino Superior – mas, em 15 de fevereiro de 2011, uma medida provisória foi aprovada criando o Fgeduc, o Fundo de Garantia de Opera-ções de Crédito Educativo. Nem todos têm acesso à essa oportuni-dade; quem pode descartar o fiador são os beneficiados pelo ProUni – Programa Universidade para Todos -, estudantes matriculados em cursos de licenciatura ou com renda per capita familiar de, no má-ximo, um salário mínimo e meio. O Fun-do paga 7% do curso de cada estudante, o que garante que não precise mais de fiador para assegurar que a dívida seja paga em caso de inadimplência.

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Aliás, e que dívida hein?! No período da faculda-de, tudo vai bem, pagando R$50,00 trimestrais, mas, depois, uma faculdade de quatro anos po-derá ser paga em até 13 anos! A conta é assim: o saldo devedor é dividido em até três vezes o tempo do curso mais 12 meses. Para Breno Gibin, que é estudante e pretende ser médico, esse financiamento só compensa se o curso que se pretende tiver retorno certo, como Direito, Medicina, Medicina Veterinária ou En-genharia, por exemplo, pois sempre há o risco de se chegar ao fim da carência e estar despreparado para o pagamento. Ele mesmo pretende tentar o Fies caso não passe em uma universidade gratuita e passar em uma particular muito cara. Um dos critérios desse fi-nanciamento é que o valor da mensalidade não seja menor do que 20% da renda total da família.Não é só em caso de graduação que é possível fi-nanciar até 100% do valor do curso. Muitos pro-fissionais que estão em busca de especializações e atualizações no mercado de trabalho recorrem a essa ajuda na falta de dinheiro. Mas há aqueles, ainda, que preferem juntar di-nheiro para pagar à vista e receber desconto, mesmo sabendo que pode ser mais demorado e admitindo que compensa financiar quando falta escolha. Isso é o que pensa o analista de siste-

mas Nicholas Silva, que, ainda, acrescenta sobre as vantagens que “sem dúvida vale a pena, tem juros bem baixos”.É bom lembrar que não é apenas o Fies que presta esse serviço, mas, também, alguns bancos e o Crédito Pra Valer, por exemplo. Em todas as opções, é muito importante observar as condi-ções de pagamentos e as taxas de juros para não ser pego de surpresa. Adriana Aparecida, que é assessoria de impren-sa, conseguiu terminar a faculdade de Jornalis-mo, mas não teve tanto sucesso ao tentar pagar seu curso particular em juízo. Segundo ela, formada há mais de 10 anos, não havia formas de financiamento na época - ou, pelo menos, não eram de seu conhecimento.

Não é só em caso de gradua-ção que é possível financiar até 100% do valor do curso. Muitos profissionais que estão em bus-ca de especializações e atuali-zações no mercado de trabalho recorrem a essa ajuda na falta de dinheiro.

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