ReconhecimentoPatrimônio culturalProgramaçãoAtrações para todosPatrono dos Gaúchos Paixão Côrtes
A mAior feirA do livro A céu Aberto dAs AméricAs
revista da
feira livro
do
PublicAção oficiAl dA 56a feirA do livro de Porto Alegre •29 de outubro A 15 de novembro de 2010
2 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
3REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Notas e Letras12
pESqUISA: pERFIL do visitaNte10
a feira empáginas
08feira do livro: um bem de Porto Alegre
todos os espaços do eveNto04
o eNcoNtro da BIBLIODIVERSIDADE06
JorNada de pASSO FUNDO14
eNtrevistacARLOS URBIm20
Leis de iNceNtivo32
16A multiplicação dos resultados
18O patronodos gaúchos
22Programação Infantil e Juvenil
26Caminhosdo livro
30feira inclusiva
qUADRINhOS Em mUTAçãO25
editorialO patrimônio é seu
cada ano, em meio à primavera, o Centro
Histórico de Porto Alegre vê nascerem as
estruturas da maior feira de livros a céu
aberto das Américas. Neste momento,
surgem as barracas e as coberturas de lona na Praça
da Alfândega, na avenida Sepúlveda e no Cais do
porto, estruturas que dão a concretude para este
bem imaterial que é a Feira do Livro de Porto Alegre.
Desde abril de 2010, aquilo que já era sentimento,
tornou-se oficial: a nossa Feira do Livro foi declarada
patrimônio imaterial da cidade. Esta honraria se soma
à medalha da Ordem do Mérito Cultural, outorgada
pela Presidência da República no ano de 2006, que
reconheceu o evento cultural como um dos mais
importantes do País. Mas a Feira de livros mais antiga,
em tempo contínuo do Brasil, não vive de colecionar
títulos. Ela se renova a cada ano e se adapta aos
tempos e espaços.
Quando, em 1955, um grupo de livreiros e editores
decidiu colocar os livros onde o povo estava, iniciou
um movimento de afirmação da leitura como
uma política pública, portanto uma necessidade e
um direito de todos. De lá para cá, muito tem sido
alcançado e muito ainda falta concluir. Além do
estímulo constante à leitura nos lares, escolas, locais
de trabalho e na mídia, é necessário revalorizar toda
magia, riqueza, descoberta e partilha que o ato de ler
oferece. Promover mesmo a leitura! Por isso, há três
anos criamos a Feira Fora da Feira, modalidade que,
nas periferias da Capital, compartilha atrações do
evento com as comunidades. Por isso, também temos
estabelecido parcerias com secretarias de Educação
e Cultura, com universidades e escolas, para durante
todo o ano fomentar a leitura e o encontro entre
escritores e leitores.
E, para possibilitar ao público um verdadeiro
direito de escolha, a Feira do Livro de Porto Alegre
expõe a cada ano uma mostra maior de acervos,
dando acesso à mais ampla bibliodiversidade
presencial. De obras raras aos mais recentes
lançamentos, dos livros religiosos aos técnicos e
científicos, dos infantis aos acadêmicos, dos sérios
aos caricatos, dos regionais aos universais. Enfim,
um mundo de opções que só aumentam com a
qualificada programação cultural. Palestras, debates,
seminários, oficinas, exposições, shows, saraus, teatro,
música, dança, gastronomia... como não participar
de algo tão intenso? Tudo acontece livremente,
sem custo algum ao visitante. Diante disso tudo,
impossível não ressaltar nesse espaço o recado mais
evidente: aproveite! A Feira do Livro é de todos!
A
João Manoel MalDaneR CaRneiRoPresidente da Câmara Rio-Grandense do Livro
34mini-crônicas
Paixão Côrtes
Teatro de Mamulengo do Senado
SEGURANçA33
4 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
CâMaRa Rio-GRanDense Do livRoPraça Osvaldo Cruz, 15 Conj. 1708 / 1709
Centro Histórico - Porto Alegre, RS – BrasilCEP 90030-160 - Fone/FAX (51) 3286. 4517
E-mail: [email protected] www.camaradolivro.com.br
DiRetoRia - Gestão 2010/2011Presidente: João Manoel Maldaner Carneiro
Vice-Presidente: Osvaldo Santucci JuniorSecretária: Marisa Maria Carmo Bof
Tesoureiro: Walter Erwin GressRepresentante dos Creditistas: Mariana Silveira
PatrícioDistribuidores: Isatir Antonio Bottin Filho
Editores: Paulo Flavio LedurLivreiros: Vitor Mário Zandomeneghi
Conselho FisCal:Titulares: Jurema Andreolla,
Leonardo Molinari da Silveira eTuchaua Rodrigues
Suplentes:João Cláudio Cervo,
Télcio Brezolin eJosé Roberto Hickmann
56ª FeiRa Do livRo De PoRto aleGRe
CoMissão oRGanizaDoRaPresidente: João Manoel Maldaner Carneiro
CooRDenaçõesGeral: João Manoel Maldaner Carneiro e Osvaldo
Santucci JuniorComunicação, Informações e Pesquisa: Vitor Mário Zandomeneghi e Leonardo Molinari da
SilveiraDisciplina: Osvaldo Santucci Junior, Marisa Maria
Carmo Bof e Isatir Antonio Bottin FilhoFinanceiro: Walter Erwin Gress
Operacional: Tuchaua Rodrigues e Osvaldo Santucci Junior
Prêmios: Marisa Maria Carmo Bof Programação: João Claudio Cervo e
Mariana Silveira Patrício Xerife: Júlio La Porta
CoMissão exeCutivaÁrea Infantil e Juvenil e Área Internacional: Sônia
Maria ZanchettaComunicação e Pesquisa: Gabriela Saenger Silva
Engenheiro Responsável: Eduardo Milano Bergallo - CREA 65276
Operacional: Gisele LonghiProgramação para Adultos e Balcões de Informação:
Jussara Haubert Rodrigues
PRoDuçãoAdministração: Gérson Silva de Souza
Apresentações Artísticas da Área Infantil e Juvenil: Rose Paz
Programações para público adulto: Sandra La Porta (Encontros com o Livro), Luciana Leão
(apresentações artísticas e oficinas para adultos) e Leonardo Scott
Autógrafos: Gérson Silva de Souza e Natalie Machado
Centrais de Informações: Bea RoratoFinanceiro: Maria Christina Rhoden Bley
Infraestrutura: Tamara MancusoReceptivo: Ilson Fonseca
assistentes De PRoDuçãoProgramas e Projetos de Leitura e ciclo A Hora do
Educador: Ana Paula CecatoSala dos Autores: Rafael Rocha Cardozo e
Glauco AraújoAgendamento Escolar: Fernanda Klafke
Biblioteca do Cais: Maria da Graça ArtioliArena das Histórias: Bárbara Camargo
Logística do Transporte Escolar: Alexandre PeixotoProjeto Asteroide: Cíntia Marques
Imprensa: Vinicius DuarteInformações: Joaquim Pedro Ramos Pereira e
Cléa Motti (voz do poste)Infraestrutura: Márcio NegriniProgramação público adulto:
Adelino Costa , Jussara Carvalho, Simone Perla,
Vika Schabbach eMaria de Lourdes Tessardi Dus (Divulgação)
Receptivo: Patrícia SavarisAcompanhamento Patrono: Ricardo
Rocha Shuck
assessoRia De CoMuniCaçãoMilim Comunicação
FotóGRaFo Luis Ventura Fotografia
aGênCia De PRoPaGanDa Agência Matriz
PRoJeto aRquitetôniCo e De PRoGRaMação visual
Troyano Arquitetura
ÁRea De aliMentação André Kovalski
CobeRtuRa Eventec
MontaDoRas oFiCiaisExposul Stands / Inovart Stands / Tedesco
Locações
instalações elétRiCas AB Elétrica
hotel oFiCial Master Hotéis
tRansPoRtaDoRa oFiCialGiulian Mudanças
estaCionaMento Garagem Andrade Neves
RealizaçãoCâmara Rio-Grandense do Livro
Revista Da FeiRa Do livRoEditoras: Sheila Meyer (MTB 8190)
e Tatiana CsordasMilim Comunicação
www.milim.com.br (51 33118850)Projeto Gráfico e Edição de Arte:
Clarissa San Pedro – www.clarissasanpedro.comRedação: Simone Fernandes, Simone Lima,
Paulo Cesar Teixeira e Daniele GhidiniImagens: Luís Ventura, acervo
Câmara Rio-Grandense do Livro e diversos Revisão: Simone Lima
Impressão: Gráfica e Editora Pallotti
56ª Feira do Livro de Porto AlegreEvento que reúne livreiros, editores, escritores e leitores deverá concentrar mais de 1,5 milhão de pessoas
em-vindo, visitante da 56ª Feira do Livro de Porto
Alegre. Este é o maior evento do gênero realizado a
céu aberto nas Américas. Toda a programação cultural
oferecida e relatada nesta Revista é democrática e
aberta, gratuita. Observe as informações de seu interesse e
para tirar dúvidas ou se necessitar de auxílio para localizar a
programação de que deseja participar, procure os Balcões de
Informação localizados na Área Geral – no eixo Central, na
Área Internacional, no Cais do Porto – Área Infantil e Juvenil, e
no Memorial do Rio Grande do Sul.
Também por meio do site www.feiradolivro-poa.com.br você
encontra a programação completa de eventos para os públicos
adulto e infantil e juvenil. A Feira do Livro de Porto Alegre está
presente nas redes sociais, como Facebook, Twitter e Orkut.
Participe e interaja. Deixe o seu comentário, colabore para
melhorar ainda mais nosso evento. Esperamos que você se
divirta, se informe, se encante. A Feira do Livro de Porto Alegre
é feita para você.
B
5REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
patrociNadores e apoiadores
BARRAcAS de Livros
praça de ALImENTAçãO
áreas de pROGRAmAçãO
saNitários
área iNterNacioNaL
praças de AUTóGRAFOS
áREAS INSTITUcIONAIS E DE INFRA ESTRUTURA
InformaçõesO Balcão de Informações é um serviço de atendimento direto ao visitante. Há postos localizados no centro da Praça da Alfândega, na entrada da Área Infantil e Juvenil (Cais do Porto), na Área Internacional e no Memorial do RS.
i
Voz do PosteSistema de som com alto-falantes instalados em toda a extensão da Feira para a divulgação da programação diária.
AlimentaçãoHá uma praça de alimentação central localizada na avenida Sepúlveda com diferentes tipos de lanches. No Cais do Porto há outra operação semelhante. Próximo ao Santander Cultural, neste ano, a novidade é o Bistrô da Feira.
HoráriosA 56ª Feira do Livro de Porto Alegre ocorre de 29 de outubro a 15 de novembro de 2010. A Feira funciona das 12h30 às 21h30 em toda a Área Geral e Área Internacional. A Área Infantil e Juvenil funciona a partir das 9h30.
Como chegarA Praça da Alfândega está a 500 metros de distância do Mercado Público e da Estação inicial do Trensurb. Os terminais de ônibus da Praça XV e arredores atendem a maioria dos bairros da Capital e região metropolitana. Na avenida Mauá, existem diversos prédios-garagem, assim como nas avenidas Siqueira Campos e Sete de Setembro. O estacionamento oficial do evento é a Garagem Andrade Neves. Para quem deseja chegar de bicicleta a Feira dispõem de bicicletários espalhados pela Praça da Alfândega e Cais do Porto.
OndeNo Centro Histórico da capital gaúcha, tendo como principal referência a Praça da Alfândega e os armazéns do Cais do Porto. Os espaços ocupados pelo evento somam 24 mil metros quadrados.
Centros Culturais Centro Cultural CEEE Erico Verissimo: R. dos Andradas, 1.223 / Memorial do Rio Grande do Sul: R. Sete de Setembro 1020 / Santander Cultural: R. Sete de Setembro 1028.
SegurançaOs espaços da Feira do Livro d é garantida pelo 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM) e por seguranças privadas. de qualquer forma, tome cuidado com bolsas, celulares e outros pertences.
ond&?
RUA
DOS
aNdra
das
saNtaNdercULTURAL
memoriaLdo rs
marGs
caiXa ecoNÔmica FederaL
BANRISUL
secretaria da FazeNda
rio GUAíBA
RUA
SIq
UEIRA
cAm
pOS
RUA
SETE
DE
SETE
mBR
O
AVEN
IDA
mAU
á
cais
do
po
rto
aLFÂNdeGa
praçada aLFÂNdeGa
i
i
i
impr
eNsa
ceNtro cULTURAL ceee erico verissimo
6 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
e tem algo que não falta
na Feira do Livro de Porto
Alegre é diversidade. Editoras
universitárias, técnicas e
científicas, especializadas em livros de
bolso, grandes livrarias e sebos estão
entre as bancas da praça. A pluralidade
de títulos também caracteriza o evento.
Os visitantes poderão encontrar obras
clássicas, títulos científicos, literatura
infantil, publicações universitárias e
livros internacionais, entre outros.
A Feira também é espaço para as
obras mais vendidas – e para todos
os outros livros. “É fundamental que
não se ofereça apenas os best sellers”,
defende Vitor Mário Zandomeneghi,
diretor de Comunicação da Câmara Rio-
Grandense do Livro. Segundo dados da
Associação Nacional de Livrarias (ANL),
metade das vendas de uma grande
livraria são de títulos com um ou dois
exemplares comercializados ao ano.
Para ele, a teoria da cauda longa, que
prega que o mercado de massa está se
transformando em mercado de nichos,
também se aplica aos livros.
Henrique Kiperman, diretor do
Grupo A (Artmed), conta que sua
empresa aposta nas obras científicas
e profissionais, os long sellers – que
vendem sempre, mas em pequenas
quantidades. “Quanto mais
bibliodiversidade, mais informação
circula. Há muita coisa boa que não
está em evidência”, reflete Gilmar Vieira,
supervisor da editora Vozes.
As editoras universitárias também
marcam presença e algumas apostam
em obras literárias, jornalísticas e até
de culinária. “A gente tenta contemplar
todas as áreas”, salienta Helga Haas,
editora da Edunisc, da Universidade de
Santa Cruz do Sul.
Livros à mão cheia
Alguns expositores oferecem tanto
material, que fazem a sua contagem
por peso – e não por exemplares. “No
ano passado, foram 2.500 quilos”, conta
o livreiro Antonio Carlos Barreto, que
representa a Paisagem Distribuidora.
Como as publicações comercializadas
são principalmente livros de arte com
ilustrações, Barreto acredita que é uma
oportunidade para o público manusear
as obras, mesmo sem adquiri-las. “Mais
do que um evento comercial, a Feira é
um evento da comunidade”, defende.
“Quem não participa se sente excluído”,
concorda Kiperman.
Oferecer livros não tão conhecidos
exige mais preparo. Os atendentes
precisam conhecer as obras que estão
sendo comercializadas. Para isso, cada
livreiro usa uma estratégia. Alguns
mantêm os mesmos colaboradores
por vários anos, pois vão acumulando
grande quantidade de informações.
Outras, como as editoras técnicas,
enviam resenhas sobre os livros para
os vendedores. Preocupada com
a qualificação do atendimento ao
visitante, a Câmara oferece cursos
para os livreiros sobre como atender
melhor. “Com bibliodiversidade e
bom atendimento, não há como não
alcançar bons resultados”, sentencia
Zandomeneghi.
SA praça de todos os títulos
Os números da variedade
biblioDiversidade Fo
to: L
uis
Vent
ura
155 exPositoRes eM toDa a FeiRa 15 banCas
na ÁRea inteRnaCional 30 baRRaCas
na ÁRea inFantil e Juvenil
8 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Patrimôniovivo
espaçosda cultura
onforme os dicionários, intangível é o que não se pode
perceber pelos cinco sentidos. Também é algo que, por
seu valor e dignidade, não pode ser atacado e, portanto,
é indestrutível. Mas não existem apenas patrimônios
materiais, como edifícios, praças ou objetos. Existem também
bens imateriais, que estruturam identidades e reforçam os laços
culturais e afetivos de sociedades, povos e nações. Esses bens
são tão imprescindíveis quanto o patrimônio físico.
Desde 23 de abril de 2010 – não por acaso, o Dia do Livro –,
a Feira do Livro de Porto Alegre está registrada como bem de
natureza imaterial da capital gaúcha. “É o primeiro evento
cultural que assume essa condição na cidade”, lembra Luiz
Custódio, coordenador da Memória Cultural da Secretaria
Municipal de Cultura, responsável pela proposta. Em fevereiro,
a Festa de Navegantes, uma manifestação de cunho religioso,
também havia sido declarada patrimônio imaterial.
Antes de ser anunciada oficialmente, em cerimônia
promovida pela Câmara Rio-Grandense do Livro, a proposta foi
aprovada pelo Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural e
sancionada pelo prefeito José Fortunati. “É o reconhecimento
formal de algo que a cidadania já sabia. Agora, todos –
organizadores, poder público, apoiadores e participantes do
evento – temos a responsabilidade de preservar o espírito e a
qualidade da Feira para que ela continue vinculada ao tecido
social da cidade”, afirma João Manoel Carneiro, presidente da
C Câmara Rio-Grandense do Livro.
Não se conhece bem imaterial que não tenha relação
física com algum espaço. A história da Feira do Livro, desde
sua origem, está vinculada à Praça da Alfândega, que passa
pelas restaurações do Projeto Monumenta – um programa de
recuperação do patrimônio histórico brasileiro, do Governo
Federal, em conjunto com as prefeituras, financiado pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio
da Unesco. Apesar das obras, a Feira continuará ocupando o
espaço com algumas adequações (veja mapa na página 5). “A
gente não consegue imaginar a Feira em outro local. Praça
e Feira estão intrinsecamente ligadas. Há uma unicidade
entre elas, que constituem um só organismo”, ressalta Briane
Bicca, coordenadora do Projeto Monumenta Porto Alegre, da
Secretaria Municipal de Cultura.
Maior em 2010 Em função das obras de restauração da Praça da Alfândega,
que ainda estarão em andamento durante a realização da Feira,
a área entre as Ruas dos Andradas e Sete de Setembro ficará
isolada com tapumes. Contudo, será mantido intacto o eixo da
Rua dos Andradas, um dos espaços importantes do evento. Este
Feição original
a recuperação paisagística vai devolver à praça da alfândega a feição que possuía quando inaugurada em 1924. oitenta e seis luminárias antigas serão reparadas e 42 novos lampiões (similares aos originais) deverão ser adotados. as obras incluem a restauração do chafariz em volta do monumento ao General osório e dos canteiros e caminhos internos, severamente alterados nos anos 70 com a implantação de um banheiro público. Um novo sanitário está sendo construído junto ao muro da agência da caixa econômica Federal, na lateral da praça. ali, será instalado um módulo de serviços, com um café e duas bancas de revistas.
a restauração do espaço inclui ainda a poda ou a remoção da vegetação exótica Fícus Benjamina, uma espécie de cerca viva que se transforma em árvore gigantesca quando não é contida. “por falta de reparo, essa vegetação estava abafando os jacarandás, estes sim, originais da praça. alguns jacarandás, em busca de sol, chegaram a ficar inclinados”, informa Luiz merino Xavier, arquiteto do monumenta. o transplante de algumas árvores permitiu a recomposição da linha reta das palmeiras imperiais da avenida sepúlveda, resgatando um diferencial da praça.
Feira do Livro é o primeiro evento cultural declarado bem de natureza imaterial da cidade
9REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Patrimôniotrecho será interligado ao restante da Feira por meio de duas
vias de acesso laterais que circundam a praça e também por
uma passarela construída especialmente para a ocasião.
Ao mesmo tempo, o espaço da Feira vai se alargar na Avenida
Sepúlveda, que faz a ligação da Praça da Alfândega com o Cais
do Porto. Neste local, serão instaladas duas novas fileiras de
barracas. É importante ressaltar que as áreas de Autógrafos,
Infantil e Juvenil e Internacional seguirão com a mesma
estrutura de edições passadas. Outra boa notícia é que, com
os novos espaços do eixo central, a Feira terá mais de 24 mil
metros quadrados de área. Dessa forma, esta edição será ainda
maior do que a realizada em 2009.
Feira fica no Cais A Feira do Livro também está no Cais do Porto desde 2005
com a Área Infantil e Juvenil e continuará lá, mesmo depois da
recuperação do espaço. Em outubro, serão abertos os envelopes
com as propostas das empresas que participam do edital para
a revitalização do Cais Mauá. A área que passará por processo
de modernização tem 3,3 quilômetros de extensão, abrangendo
desde a Usina do Gasômetro até o trecho na altura da Rua
Coronel Vicente esquina com Avenida Mauá, nas proximidades
da Estação Rodoviária.
Conforme Edemar Tutikian, diretor de Desenvolvimento
e Marketing da Caixa RS, que preside a Comissão Técnica
de Avaliação da Revitalização do Cais Mauá, a permanência
da Feira do Livro no local é um dos critérios já definidos. O
mesmo ocorre com a Bienal do Mercosul e o Museu de Arte
Contemporânea. “São eventos que fazem parte da vida da
cidade”, acentua Tutikian, também presidente da Comissão
Especial de Licitação, que terá a missão de escolher a melhor
proposta para a revitalização do cais. João Carneiro, presidente
da CRL, lembra que a Feira foi uma das responsáveis por
reaproximar as pessoas das margens do Guaíba. “Antes de
ocupar aquele espaço, poucas pessoas tinham possibilidade de
contato com o Cais do Porto”, observa.
Em dezembro de 2009, quando o projeto que estabelece o
regime urbanístico para o Cais Mauá foi aprovado na Câmara
Municipal de Porto Alegre, os vereadores aprovaram também
uma emenda da Frente Parlamentar Municipal de Incentivo
à Leitura que garante a continuidade da utilização da área
pela Feira. “Essa aprovação é uma vitória. Entretanto, não
foi aprovada a emenda que assegurava especificamente a
continuidade da ocupação dos armazéns. Por essa razão,
temos que estar atentos e continuar lutando para garantir
também esse espaço para a Feira do Livro”, defende a vereadora
Fernanda Melchionna.
Ocupação do Cais do Porto: além da praça
Durante as escavações, os técnicos localizaram a escadaria do antigo porto, além das pedras do próprio cais. Também encontraram as fundações do prédio da Alfândega, demolido para a instalação da praça em 1924. As pedras poderão ficar expostas ao público sem risco de dano, ao passo que a escadaria precisará de proteção, já que corre o risco de desmoronar. “Ela será revestida com areia para que não a percamos até que o avanço da tecnologia permita expô-la sem causar danos. Um painel com informações sobre ela será implantado no local”, afirma Xavier. Conforme o arquiteto, a previsão é entregar a praça restaurada em junho de 2011.
Foto
s: L
uis
Vent
ura
:: Ilu
stra
ções
: Tro
yano
Arq
uite
tura
10 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Qual o perfil dos visitantes? Estatísticana praça
56ª Feira do Livro de Porto
Alegre tem uma novidade
nesta edição. A Câmara Rio-
Grandense do Livro (CRL),
organizadora do evento, em parceria
com a Equilíbrio Assessoria Econômica
Solidária, empresa júnior do curso de
Ciências Econômicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, vai realizar
uma grande pesquisa para avaliar os
impactos econômicos e o perfil dos
visitantes e potenciais visitantes do
evento. “A pesquisa é um importante
instrumento para mostrar o que a
Feira representa para Porto Alegre”,
avalia João Carneiro, presidente da
Câmara Rio-Grandense do Livro. O
levantamento é bastante abrangente e
envolve espaços além da Feira do Livro.
“É um grande desafio para a Equilíbrio.
Estamos preparando uma equipe
multidisciplinar que envolve as áreas
de ciências econômicas, sociologia e
estatística para efetuar um bom trabalho
que sirva não só para a Câmara, mas para
toda sociedade”, conta Leonardo Castro
Barros, presidente da empresa.
Durante os 18 dias do evento, de 29
de outubro a 15 de novembro, cerca
de 30 pessoas estarão diretamente
envolvidas no projeto. O trabalho
compreende a aplicação de questionários
e o levantamento de informações
relacionadas a diferentes públicos da
Feira. Para obter dados sobre geração
de empregos e renda, aumento de
faturamento e volume de vendas,
serão ouvidos representantes de
empresas fornecedoras da Feira do
Livro; associados da CRL, além de
hotéis, bares e restaurantes localizados
no Centro Histórico de Porto Alegre.
Outro questionário será aplicado aos
visitantes, para avaliar o perfil destes e os
gêneros de livros adquiridos. A pesquisa
também vai além dos espaços da feira
e chega a áreas como outras praças e
shopping centers, para analisar quem
são os possíveis visitantes da Feira do
Livro e o perfil das pessoas que não vão
ao maior evento do gênero que ocorre a
céu aberto e totalmente gratuito. Outra
fonte de coleta de dados será o website
www.feiradolivro-poa.com.br, onde
haverá um questionário on-line para que
os próprios internautas forneçam suas
informações.
Para realizar a pesquisa, serão ouvidas
aproximadamente 800 pessoas. “A
Equilíbrio é uma empresa nova. Tem
um ano de existência e é formada
por alunos da Faculdade de Ciências
Econômicas da UFRGS. Até agora,
realizamos pesquisas mais voltadas
para o mercado privado, fechado e de
pequenas empresas. Trabalhar com a
Feira do Livro é uma oportunidade de
operar com o social e disponibilizar a
informação à comunidade. É o primeiro
projeto alinhado aos valores da empresa:
de trabalhar pelo benefício da sociedade”,
explica Barros. De acordo com ele,
respostas vão ajudar a aprimorar ainda
mais o evento. Para o questionário
via site, “questões como e-book serão
importantes”, completa. As informações
serão sigilosas individualmente e
divulgadas apenas estatísticas em
conjunto. A análise completa do
levantamento será divulgada alguns dias
após a Feira.
A
A amostra
visitantesda Feira do Livro
Pessoas em shoppings e outras praças600 100 72 assoCiaDos,
restaurantes, hotéis e fornecedores
Foto
: Lui
s Ve
ntur
a
11REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
12 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
notase letras
A 56ª Feira do Livro de Porto
Alegre também pode ser acom-
panhada pela internet. Os canais
eletrônicos podem ser acessados
pelo site oficial do evento, incluin-
do as redes sociais como Twitter@
feiradolivropoa, Orkut e Facebook.
Para quem é navegador rotineiro
da www, é possível acompanhar as
notícias e fotos dos principais fatos
que ocorrem a partir da maior feira
do livro a céu aberto das Américas.
E como não poderia deixar de ser,
graças aos recursos que a internet
permite, a interatividade está pre-
sente. Deixe o seu recado, faça a sua
pergunta. Siga, adicione, comente.
Entre os dias 29 de outubro e 15 de
novembro, a cobertura online da
Feira vai atualizar você sobre
a programação adulta e
infantil, lançamentos e
destaques.
Com arrobas e www...Uma banca de revistas no centro da praça da
alfândega esconde uma das figuras que fazem parte da história de porto alegre. Não fosse pela história que José Júlio La porta, aquela banca de cor amarela, cheia de revistas e livros, seria apenas mais uma na capital dos gaúchos. o senhor sentado atrás do balcão é reconhecido todos os anos por seu papel na Feira do Livro de porto Alegre: tocando sua sineta pelos corredores da praça, o xerife abre caminhos para as atividades de leitores, escritores e expositores. La porta, hoje com 77 anos, participa do evento desde 1976, quando o então presidente da câmara rio-Grandense do Livro, maurício rosenblatt, resolveu propor um desafio. “depois de uma viagem pelo interior do estado, o presidente me contava
Há 34 anos, José Júlio La Porta e sua sineta abrem a Feira do Livro de Porto Alegre
Xerife das Letras
pão quente. difícil encontrar alguém que não goste. pois em tempos de academicismo da literatura, no final do século XiX, o pão quente foi o grande trunfo para a transgressão da ordem estabelecida. a padaria espiritual e todos os detalhes de uma produção artesanal de pão foi um dos movimentos mais interessantes da literatura brasileira. Fundada em Fortaleza (ce) por escritores, pintores e músicos, a gostosura da
ideia foi o paralelo entre alimento para o corpo e alimento para o espírito. o primeiro padeiro-mór foi antônio salles, junto com seus companheiros padeiros, que assinava os textos, publicados no periódico do grupo o pão. o que isso tem a ver com a 56ª Feira do Livro de porto alegre? inspire-se, pois o cheirinho do forno quente será sentido com uma programação mais do que saborosa. os cardápios serão servidos entre os dias 30
Quem quer pão?
Ilust
raçã
o: A
lexa
ndre
Ber
aldo
&tc
13REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
de uma atividade que tinha lhe chamado atenção. Nas estações de trem, homens tocavam uma sineta enquanto gritavam as manchetes dos jornais que vendiam. era uma forma eficaz de atrair o público. então, ele me desafiou a fazer a mesma coisa na Feira daquele ano”, recorda. com um falar sereno, o xerife ressalta o crescimento do espaço físico da Feira do Livro como a principal evolução histórica. por conta disso, o aumento na circulação do público, e uma consequente prosperidade nas vendas também foram observadas por seu olhar atento.
durante o ano, La porta cuida da Banca da Alfândega e é reconhecido por populares que frequentam os arredores da praça. o fato de ter dois filhos, seis netos e um bisneto, revela La porta como um encantado pelas crianças. dono de uma banca de livros infantis por muito tempo, ele credita aos pequenos leitores o futuro da Feira. “elas dão alegria ao evento, ajudam no crescimento e são a garantia da manutenção de novos leitores”, salienta.
o xerife está ansioso para ver as novidades da 56ª edição Feira do Livro. como nos últimos 34 anos, estará tocando a sineta para marcar presença no evento que já é parte de sua vida. “minha vida e a Feira são histórias que se cruzam”, exalta. “a Feira do Livro é tudo para mim, é uma satisfação enorme participar mais um ano”, conclui em tom emocionado o xerife das letras.
Vitrine das ilustraçõesA principal mostra de ilustrações da
Literatura Infantil e Juvenil do País está
confirmada. A 7ª Traçando Histórias acontece
durante a 56ª Feira do Livro de Porto Alegre,
de 29 de outubro a 15 de novembro. O evento
bienal vai trazer produções de 37 ilustradores
selecionados, com originais de obras
publicadas entre 2009 e 2010. Cada artista
contribuirá com duas imagens. No evento,
Eva Furnari, Angela Lago e Ana Raquel, que
completam 30 anos de carreira este ano, vão
receber homenagem especial.
A mostra também vai apresentar obras de
outros nomes da ilustração infantil e juvenil
como Ana Terra, Andrés Sandoval, Alê Abreu,
Ângela Abu, Cárcamo, Cris Eich, Cristina
Biazetto, Daniel Bueno, Elma, Ellen Pestilli,
Elvira Vigna, Elisabeth Teixeira,
Fernando Vilela, Flávio Fargas,
Graça Lima, Guazzelli, Guto Lins,
Ionit Zilbermann, Jean Claude,
Janaina Tokitaka, Jô Oliveira, Laura
Castilhos, Lélis, Luiz Maia, Lúcia
Hiratsuka, Maria Eugênia, Marília
Pirillo, Maurício Negro, Marcelo
Cipis, Mateus Rios, Mario Bag, Roger
Mello, Rubens Matuck, Salmo Dansa,
Simone Matias e Suppa.
Mais do que uma mostra, a
Traçando Histórias também é
uma oportunidade de trocar ideias
e aprender com os destaques da
ilustração no Brasil. Nos dias 3 e 4
de novembro, ocorre a tradicional
programação paralela do evento,
com caráter de curso de extensão da
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Para encerrar o primeiro
dia do evento, Daniel Bueno, Guazzelli e
Salmo Dansa vão falar sobre ilustração e
diferentes expressões através da imagem,
como cinema, publicidade e novas tecnologias.
No dia 4, as homenageadas Ana Raquel,
Angela Lago e Eva Furnari vão relatar suas
experiências com ilustrações em um encontro
mediado por Roger Mello.
Desde 2009, a edição anterior da mostra está
itinerando, em versão digital, pelo interior do
Rio Grande do Sul, com apoio do Serviço Social
do Comércio (Sesc), e por 25 países com os
quais o Brasil mantém relações diplomáticas,
por intermédio do Ministério de Relações
Exteriores.
d&bates3/1118h30Daniel Bueno,Guazzelli e SalmoDansa falam sobre ilustração ediferentes expressõesatravés da imagem:cinema, publicidade,novas tecnologias 4/1118h30Ana Raquel, Angela Lago e Eva Furnari: 30 anos de ilustrações Mediação de Roger Mello
de outubro e 6 de novembro com atrações pra lá de especiais: de Adoniran à ópera, do Jornal vaia à alegre homenagem a Noel rosa. Luis augusto Fischer, arthur de Faria, cristiano hanssen, Antonio carlos pires, zelig Libermann, Fernando ramos, Guto Leite, paulo Seben, marô Barbieri, Adão pinheiro, Luis paulo Faccioli, valesca de assis, cíntia moscovich, rodrigo Lacerda, decio andriotti e christina dias serão os padeiros dessa edição.
Foto
: Lui
s Ve
ntur
a
Ilust
raçõ
es: D
anie
l Bue
no
14 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
cada dois anos, um grandioso espetáculo é montado
em Passo Fundo. Realizada há 29 anos, a Jornada
Nacional de Literatura reúne, na cidade, professores,
artistas, escritores e leitores de todas as idades para
um intenso encontro com as letras. O evento é reconhecido
como o maior espaço de debate da literatura na América
Latina, feito que reservou ao município gaúcho o título de
Capital Nacional da Literatura em 2006. Na 56a Feira do Livro o
evento recebe a “Ordem dos Jacarandás” marcando o início das
homenagens aos 30 anos da Jornada e suas 15 edições.
“A Jornada Nacional do Livro merece permanente
reconhecimento por ser exemplo e fonte de inspiração para
quem trabalha de forma efetiva pela construção de uma
sociedade leitora no País”, destaca João Carneiro, presidente da
Câmara Rio-Grandense do Livro.
Realizada pela Universidade de Passo Fundo e pela
Prefeitura Municipal, a Jornada Nacional de Literatura
promove encontros entre leitores e escritores. No Circo da
Cultura, onde acontece, estimula a sintonia entre educação
e artes. Sob coloridas lonas circenses, possibilita vibrante e
alegre diálogo entre literatura, teatro, pintura, música, dança,
escultura, arquitetura, fotografia e cinema. No encontro, a
leitura é tomada em sentido amplo por uma diversificada e
numerosa plateia.
Em 2009, o evento atraiu mais de 30 mil pessoas em uma
semana de atividades. Só a Jornadinha, que completou
cinco edições, contou com 17 mil participantes. Uma intensa
programação integra a Jornada, com a realização de seminários
e encontros e a presença de convidados internacionais. No ano
passado, 11 países foram representados por escritores.
Outro ponto alto são os prêmios literários: Concurso de
Contos Josué Guimarães e Prêmio Passo Fundo Zaffari &
Bourbon de Literatura. Esse último premiou com R$ 100 mil o
escritor Cristóvão Tezza pela obra “Filho Eterno”. Em edições
anteriores, foram reconhecidos o
moçambicano Mia Couto, com “O
outro pé da sereia”, em 2007; e Chico Buarque de Holanda, com
“Budapeste”, em 2005.
Muitos foram os escritores, críticos, estudiosos da literatura
brasileira e de outros países que já circularam pela Jornada.
Entre consagrados e iniciantes, a cidade já recebeu Antônio
Callado, Fernando Sabino, Orígenes Lessa, Otto Lara Resende,
Luís Fernando Verissimo, Luiz Antônio de Assis Brasil, Lya
Luft, Millôr Fernandes, Ignácio de Loyola Brandão, Eric
Nepomuceno, Zuenir Ventura, João Ubaldo Ribeiro, Guilherme
Fiúza, Pedro Bandeira, João Guilherme Estrella, Jorge Furtado,
Ricardo Silvestrin e Alcione Araújo.
A vibração, característica da cidade em tempo de Jornada,
inspira cada vez mais a leitura em Passo Fundo. O município
de 185 mil habitantes, na região Norte do Rio Grande do Sul,
apresenta um dos maiores índices de leitura do Brasil. Com 6,5
livros por habitante/ano, o número supera a média brasileira de
4,7 ao ano e se aproxima de países de primeiro mundo, como a
França, onde cada habitante lê a média anual de 7 livros.
A façanha de multiplicar leitores e livros explica-se. O
hábito de ler resulta do trabalho ininterrupto desenvolvido
por uma equipe interinstitucional que organiza as Jornadas
e seus desdobramentos, vinculados a profissionais da
Universidade de Passo Fundo, da Prefeitura Municipal e de
empresas privadas. “Todo esforço despendido ao longo dos
anos pela formação de leitores tem valido a pena. Não apenas
os passo-fundenses, mas a população da região Norte do Rio
Grande do Sul está contagiada pelo desejo de formar leitores.
Estamos felizes com o destaque e desafiados a ampliar esse
índice. A leitura é uma questão de cidadania”, destaca a
professora Tania Rösing, pesquisadora de leitura e formação
do leitor da Universidade de Passo Fundo, idealizadora e
coordenadora do evento.
Adedicação à leitura
ordem dosjacarandás
tânia RösinG,ideaLizadora e coordeNadora da JORNADA DE pASSO FUNDO
a população está contagiada pelo desejo de formar leitores.
Arqu
ivo/
UPF
16 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Benefícios em cadeiaImpacto positivo sobre comércio e serviços é imediato, mas valor da Feira para a economia da cidade ultrapassa período de realização do evento
comerciante Beatriz Castoldi decidiu há pouco mais
de um ano ingressar em um novo ramo de atividade
econômica. Ela cuidava de lojas de eletroeletrônicos
da família e passou a administrar o Café da Alfândega,
localizado em um dos corredores laterais da tradicional praça
do centro de Porto Alegre. Durante a realização da 55ª Feira do
Livro, em 2009, teve a certeza de que havia feito um excelente
negócio. “Normalmente, servimos 30 almoços por dia. Durante
a Feira, a quantidade de refeições servidas aumenta para 60. É
o melhor movimento do ano, sem a menor dúvida”, afirma Bia,
como é conhecida a dona do Café da Alfândega.
“A Feira do Livro é uma propulsora de programas culturais
que podem ser feitos aqui no centro, como visitar o Museu de
Artes do Rio Grande do Sul (Margs), o Memorial do Rio Grande
do Sul e o Santander Cultural. Ela traz para cá, inclusive,
pessoas que, embora morem na cidade, ainda não têm o hábito
de frequentar a área central. Além disso, vem gente de fora
da Grande Porto Alegre”, anota Eleonora Rizzo, que cuida das
operações do Moeda Bar e Restaurante, localizado na sede do
Santander Cultural, na rua Sete de Setembro, um dos locais que
recebe programação da feira. Durante os 15 dias de realização
do evento, a movimentação de clientes cresce até 30% no
estabelecimento. “Não bastassem as atrações da Feira, a praça
fica mais segura nesse período, o que permite que as pessoas
circulem sem preocupação”, acrescenta Eleonora.
O impulso dado pela Feira na economia de Porto Alegre não
se resume a bares, cafés e restaurantes. A circulação de um
contingente superior a 1,6 milhão de pessoas a cada ano – média
de público entre 1999 e 2009 – beneficia outros segmentos
econômicos. O incremento de vendas na Banca Veracruz, por
exemplo, é de 40%, conforme o dono do ponto, Maickel dos
Santos. “Aqui no shopping, o aumento de receitas dos lojistas
em função da Feira é significativo – algo em torno de 20%.
Para se ter ideia, as vendas durante a Feira superam as que são
A
economiada leitura
17REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
verificadas no período de Natal”,
informa Ana Paula Rosa, gerente
de marketing do Shopping Rua
da Praia, na Praça da Alfândega,
empresa que faz parte do Grupo
Isdra.
Instalado no interior do
shopping Rua da Praia, o Master
Express Grande Hotel (também do
Grupo Isdra) registra igualmente
um aumento expressivo de seus
níveis de ocupação – entre 30%
e 35%. “Normalmente, temos
70% de nossos apartamentos
ocupados. Durante a Feira do
Livro, esse percentual sobe para
95%, podendo alcançar até 100%,
com a vinda de autores, editores,
palestrantes e do público em geral.
A localização muito próxima à
praça facilita a hospedagem”,
detalha o gerente Ricardo
Herborn.
Valoração simbólicaPara o pesquisador Leandro
Valiati, do curso de Economia
da Cultura da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,
os impactos positivos da Feira
sobre a economia urbana não
se limitam à quantidade de
livros comercializados a cada
ano (média superior a 442 mil
exemplares por ano, entre 1999 e
2009) ou ao incremento imediato
do comércio localizado na região
central da cidade. “Seguramente,
os benefícios que o evento
produz ultrapassam o período
de 18 dias de ocupação da Praça
da Alfândega.” De acordo com
Valiati, um valor simbólico é
agregado à cidade na medida
em que a população cria uma
identidade consistente com a
Feira, que é referência nacional
e internacional. “Na verdade, há
um sentimento de pertencimento
à Feira, uma vez que as pessoas
se sentem como parte do evento
por serem porto-alegrenses
ou viverem aqui”, assinala o
pesquisador.
Embora não seja uma tarefa
fácil, mensurar o valor que a
população de Porto Alegre atribui
à Feira do Livro a partir desse
sentimento de pertencimento
se impõe como uma prioridade.
Conforme Valiati, as dimensões
não quantitativas acerca dos
impactos de um evento cultural
sobre a economia são relevantes
para que se possa avaliar, inclusive,
variáveis objetivas como emprego,
renda, produto, entre outras.
“Em via de regra, atividades
com grande relevância e que se
reproduzem anualmente há mais
de meio século, como a Feira do
Livro, migram da condição de
fluxo econômico para a de estoque
de cultura. É como uma peça de
teatro que vira um clássico da
dramaturgia universal e passa a
representar um valor simbólico
significativo para a humanidade.”
Há dois anos, o professor
coordenou uma pesquisa da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul com o objetivo de
captar o valor da Feira do Livro
para os habitantes de Porto Alegre.
Os pesquisadores utilizaram o
método de valoração contingente
aplicado sobre um evento que é
gratuito e de livre acesso. A partir
dessa metodologia, tentaram
descobrir quantas pessoas
estariam dispostas a pagar para
ter acesso ao bem, caso ele fosse
cobrado. Da mesma forma,
queriam saber quantas pagariam
para que o bem não existisse e
quantas gostariam de receber
algum retorno financeiro para que
ele deixasse de existir.
O resultado surpreendeu
aos pesquisadores: “A sociedade
sinalizou que está disposta a
pagar pela realização do evento.
Chegamos a um valor atribuído
pela população que é maior
do que o dobro dos recursos
captados na época pela Feira
por meio de mecanismos de
isenção fiscal. Mais do que isso,
os dados indicaram que ela é
valorada, inclusive, por pessoas
que não a frequentam, mas que
compreendem sua importância
para o desenvolvimento da
cidade”, conclui o professor
da Ufrgs.
a FeiRa eM núMeRosO movimento muito além dos livros
a agência da caixa econômica Federal situada junto à praça da alfândega toma algumas providências para beneficiar o público e também quem trabalha na Feira. Uma delas é a extensão do horário de funcionamento das máquinas de autoatendimento até as dez horas da noite. outra medida adotada é a fixação de um caixa específico dentro da agência para atender à Feira, facilitando transações como saques, depósitos e troco para as empresas expositoras.
“a caixa apoia a Feira desde 2004 e, a partir de 2007, tornou-se o banco oficial do evento. o apoio à cultura não é casual, uma vez que consta no estatuto da instituição”, afirma valdemir colla, superintendente da caixa econômica Federal em porto alegre. conforme ele, o movimento físico na agência não sofre grande alteração durante a Feira, porque hoje as pessoas pouco utilizam dinheiro ou cheque para a efetivação de suas compras. “o que predomina atualmente é o uso de cartões.”
Facilidades no atendimento
*Média anual registrada nos últimos 10 anos
400 Mais de
mil exemplares vendidos*
Rua da Praia Shoppingvende mais na época da Feira que no Natal
100% de aumento de pratos servidos no Café da Alfândega
1,6 milhão de pessoas*
18 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
perfil dopatrono
Um símbolo para o Rio Grande, Paixão Côrtes assume seu posto com a missão de popularizar ainda mais a Feira do Livro
o embaixadordos gaúchos
Foto
: Lui
s Ve
ntur
a
19REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
o embaixadordos gaúchos
esde que foi escolhido o patrono
da 56ª Feira do Livro, o folclorista
Paixão Côrtes faz questão de
repetir que não é escritor, que
sua obra não é de ficção. Seu trabalho é,
há mais de 60 anos, “registrar as coisas
do povo para devolvê-las ao povo”. “O
que eu vejo, o que me contam, o que
eu analiso, eu coloco na forma escrita
para que o povo possa ler, entender
e multiplicar, revitalizando a própria
cultura popular”, detalha. Na verdade,
não só na forma escrita, mas também
de fotografias, desenhos e partituras.
Paixão se preocupa com a pesquisa das
danças, das músicas, das vestimentas, das
comidas, das bebidas e dos rituais que
se tornaram folclóricos no Rio Grande
do Sul. Em seus livros, procura esmiuçar
didaticamente esses hábitos para que
eles sejam adequadamente preservados.
Para ele, a descoberta e a popularização
desses costumes tradicionais ajuda os
gaúchos a se conhecerem e a projetarem
essa identidade perante os outros povos.
“Os outros povos querem saber como nós
vivemos, o que nós dançamos, o que nós
comemos, assim como nós
também temos curiosidade
de conhecer os outros”,
afirma.
Para chegar a esses
costumes folclóricos,
porém, o caminho
é longo. O patrono
gosta de enfatizar que
o que ele procura são as
manifestações genuínas,
originais, e também
coletivas. Não importam para
ele, por exemplo, as expressões artísticas
individuais. “Para registrar um elemento,
tu tens que ter um comprovante de que
ele realmente é de abrangência coletiva”,
diz. Para isso, o folclorista precisa ter
mais de um informante. “Às vezes eu levo
30, 40 anos atrás de uma dança”, revela.
Suas fontes não são apenas pessoas, mas
também documentos pesquisados em
bibliotecas e arquivos. “O pessoal diz: ‘o que
é que o Paixão está inventando?’ ‘Inventou
outra moda’. Eu não invento moda. É que
eu demoro muito tempo para conseguir
esses comprovantes”, justifica. Moda, aliás,
é justamente o contrário do que Paixão
procura. Incansável, está sempre atrás de
novas descobertas. Além de um livro de
aproximadamente 700 páginas que está
em produção, já planeja uma outra obra
sobre as diferentes formas de laçar que já
existiram no Rio Grande do Sul.
Um multiplicador culturalO autor não é apenas um pesquisador
dos hábitos gaúchos, mas também um
intérprete deles. Dançou com grupos
típicos, gravou LPs de músicas folclóricas,
vestiu as pilchas. Viveu no campo durante
a infância e conviveu com o homem
do campo por causa de sua profissão,
engenheiro agrônomo.
Suas publicações seguem duas
vertentes. Uma são os livros volumosos,
mais duradouros, para guardar na
biblioteca. A outra são livros curtos,
folders e revistas sobre algum tema,
que distribui gratuitamente durante as
palestras em entidades para popularizar
o assunto. Essas publicações menores,
de consumo mais imediato, mantêm o
movimento tradicionalista continuamente
alimentado e, segundo Paixão, de uma
forma mais eficiente do que se recebesse
um tijolão de uma única vez.
De 1980 para cá, doou mais
de 350 mil publicações
desse tipo. São obras
patrocinadas por
empresas, pessoas
físicas ou órgãos
públicos, que ficam
com uma parcela dos
exemplares e deixam o
restante com o folclorista.
Embora alegue “não ser
rico em expressões vernáculas”
e não esperar que um dia fosse patrono
da Feira do Livro, Paixão se sentiu à
vontade com a indicação para ser um dos
patronáveis. “Pareceu-me uma maneira
simpática de ver que a literatura do povo
merece ter espaço ao lado da erudição
das grandes obras”, explica. Uma de suas
preocupações será a de aproximar o povo
da Feira. E adicionar ao evento alguns
símbolos da tradição gaúcha. Lembra
que a abertura é feita com uma sineta
para chamar a atenção dos transeuntes.
Porém, faz parte do folclore gaúcho outro
objeto que tem esse mesmo objetivo, a
matraca. “Por que não se matraqueia
e revive uma tradição?”, propõe. Essa
Feira vai entrar no folclore. Ou melhor, a
Feira também já faz parte do folclore do
gaúcho.
D 56o
patronoAlguns títulos
FolCloRe GaúCho 2006O livro de 1987 foi reeditado em versão ampliada pela Corag. Descreve práticas populares ligadas à religiosidade
the GauCho,1978A obra sobre danças, trajes e artesanato do gaúcho foi traduzida para o inglês e integra o acervo do Victoria and Albert Museum em Londres
oRiGeM Da seMana FaRRouPilha1994Mostra como surgiram os rituais da semana do 20 de setembro, como a Chama Crioula e o Desfile de Cavalarianos
o Rio GRanDe Do sul – Canta e Dança CoM Paixão CôRtes 2006Faz um apanhado das canções que compõem parte dos LPs e CDs lançados pelo folclorista
Paixão CôRtespatroNo da Feira do Livro de porto aLeGre
(ser indicado) pareceu-me uma maneira simpática de ver que a literatura do povo merece ter espaço ao lado da erudição das grandes obras.
20 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Ping Pong carlosurbim
o que RePResentou PaRa voCê seR PatRono Da FeiRa Do livRo De PoRto aleGRe?Passar a fazer parte da História da Feira é a maior homenagem
a que poderia aspirar, como escritor em atividade. Significa
também a máxima honraria a um representante da literatura
feita para crianças. Ser patrono torna-se uma imensa vitrine
para a obra do autor. Pelo fato de estar representando a Feira
recebi homenagens importantes, como a Medalha do Mérito
Farroupilha, da Assembleia Legislativa. O Gabinete Português
de Leitura me deu o troféu Fernando Pessoa. A Prefeitura e a
Câmara de Vereadores de Santana do Livramento, minha terra,
me entregaram troféu e diploma. Ganhei ainda a Medalha de
Porto Alegre, concedida em 2010 por indicação da Secretaria
Municipal de Cultura e entregue pelo prefeito da Capital.
qual Foi a MelhoR Coisa que aConteCeu CoMo PatRono?Ter um espaço, a Casinha do Patrono, bem na entrada do Cais
do Porto, junto à área infantil. Passou a ser uma excelente
oportunidade de troca e aproximação. A maior parte do tempo
não consegui, por causa da quantidade de compromissos. Fiquei
“fora da Casinha”, mas sempre querendo voltar.
teve que enFRentaR alGuMa situação DiFíCil? O que acontece com o patrono na Feira é tudo de bom. Não
posso me queixar de nada. O mais difícil era caminhar entre os
frequentadores. As pessoas querem atenção, um abraço, uma foto.
A Feira do Livro é o maior evento cultural do povo de Porto Alegre.
CoM as anDanças Gastou Muitos saPatos? PeRDeu uns quilos DuRante o evento?Bem que gostaria de perder uns quilinhos e reduzir a barriga,
como recomendam meus médicos. Não cheguei a tanto, mas
ganhei agilidade e resistência durante a maratona de duas
semanas. Usei tênis, que resistiram bem. Sei que deveria
adquirir os hábitos saudáveis do João Carneiro, o esbelto
presidente da CRL. Mas, para o bom e para o mau colesterol, sou
da Fronteira, adoro picanha.
que Conselhos voCê DÁ ao Paixão CôRtes, PatRono Desta eDição?Estou trifeliz com a escolha de João Carlos Ávila Paixão Côrtes,
um símbolo da cultura rio-grandense. Além de nascidos em
Santana do Livramento, somos da mesma raiz familiar, os
Ávila do Cerro Chato. O melhor conselho que posso dar é o de
ele estar sempre ao lado do Anjo da Guarda, pessoa designada
para monitorar a agenda do patrono. Na minha vez, o Anjo foi a
Fernanda Tonezer, bela menina de olhos azuis, que me tirou de
muito aperto e cuidou de mim o tempo inteiro.
CoMo seRÁ sua PaRtiCiPação na FeiRa Deste ano?Vou participar de várias atividades, além de entregar o “cargo”
para Paixão Côrtes. Terei encontro com estudantes no Teatro
Sancho Pança, dentro do projeto Autor no Palco. Em outros dois
eventos programados, vou falar sobre o dramaturgo gaúcho
Qorpo Santo e sobre o livro “As Viagens de Gulliver” e mais
algumas programações...
voCê Dizia que seR PatRono Da FeiRa Do livRo eRa uM sonho. aGoRa que esse sonho JÁ se Realizou, qual é seu GRanDe DeseJo?
Contar em livro para crianças a história da Feira, de maneira
bem simples, acessível a todas as idades, do jeito como eu gosto.
Com muita ilustração, uma mistura de almanaque com álbum
de figurinhas. Dá para descrever a trajetória desde as primeiras
barraquinhas, em 1955, até a superestrutura de agora. E cada
patrono rende capítulos riquíssimos. Estou à inteira disposição
de quem quiser bancar esse projeto.
Cores e letras
Jornalista de formação, o autor atuou em várias editorias e veículos de comunicação, mas foi na literatura infantil que encontrou sua maior realização. “Um Guri Daltônico”, “Uma graça de traça”, “Bolacha Maria” e “Na noite Estrelada”, são alguns dos destaques de sua bibliografia. Em 2009, enquanto desempenhava o papel de patrono, Urbim brindou os leitores com o relançamento de “Um Guri Daltônico”,
Na despedida da função de patrono, o guri daltônico reconhece que foi um período de alegrias intensas. Agora, pretende homenagear a Feira do Livro de Porto Alegre com uma obra que mistura almanaque com álbum de figurinhas. Confira a entrevista do ex-patrono que conquistou ainda mais leitores
da casinha”“Fiquei fora
que é de 1984. Na nova edição, produzida pela editora Edelbra, a história do menino que confunde as cores teve uma proposta visual utilizando a técnica do mosaico, com ilustrações de Cláudia Sperb. No ano em que foi Patrono completou 25 anos de trajetória como escritor infantil. Para Carlos Urbim, agora falta realizar um sonho: o de se tornar avô para contar suas histórias para seu neto, ou neta.
Foto
: Lui
s Ve
ntur
a
21REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
22 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
A feira que nunca acaba
Feira do Livro de Porto Alegre é uma festa para
crianças e jovens – e não só entre 29 de outubro e 15
de novembro. Um dos mais tradicionais eventos da
cultura do Estado ultrapassa o período da feira, os
limites da Praça da Alfândega e até de Porto Alegre. “A feira
não é um fato isolado. É o momento culminante de programas
e projetos de leitura desenvolvidos em diferentes regiões do
Estado, muitos em parceria com a Câmara Rio-Grandense do
Livro”, conta Sônia Zanchetta, responsável pela programação
infantil e juvenil do evento.
Levar escritores para ficar frente a frente com crianças e
jovens é uma das estratégias mais bem sucedidas. Antes dos
encontros, os alunos são estimulados a ler obras dos autores
para tornar as visitas mais ricas. A história começou em 2002,
com o programa Adote um Escritor, desenvolvido pela Câmara
com a Secretaria de Educação de Porto Alegre. Só este ano,
são 131 encontros em 96 escolas. A Região Metropolitana e o
interior também têm essa oportunidade. Criado em 2003, o
Programa Fome de Ler, promovido pela Câmara, com a Ulbra
(Guaíba, Canoas e Rede Ulbra de Escolas) e as prefeituras
de Canoas e de onze municípios do Centro-Sul do Estado, já
beneficiou cerca de 30 mil alunos. O caçula dos projetos é o
Lendo pra Valer, iniciado em 2007, em parceria com a Secretaria
de Estado da Educação, que disponibiliza os livros para leitura
prévia. Funciona em 21 municípios, articulado com o Fome
de Ler. Neste ano, 56 instituições de ensino vão receber os
A escritores. Os muros da escola não são limite para a leitura.
Desde 2002, a Feira do Livro também vai à Biblioteca Dona
Margarida do Centro de Internação Provisória Carlos Santos,
da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), de Porto
Alegre, e reúne escritores e internos da instituição em uma
iniciativa exemplar de inclusão.
O benefício dessas iniciativas vai além da aula de Literatura
ou Língua Portuguesa e inspira aprendizados interdisciplinares.
Essas ações foram reunidas no Tessituras, um curso de extensão
para formar mediadores de programas de leitura, realizado em
parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com
120 educadores de 23 cidades. Com a troca de experiências, os
projetos devem se multiplicar pelo Estado.
Se o período que antecede a Feira é de intensa efervescência
literária, o Cais do Porto se transforma em território das
crianças, dos jovens e dos livros durante os 18 dias do evento.
O público pode conferir as novidades de 32 expositores e
participar de mais de 400 atividades. Mais de 170 mil pessoas
são esperadas só para os eventos da Área Infantil e Juvenil. Há
atração para todo mundo. Os pequeninhos podem se divertir no
QG dos Pitocos; a criançada participa de contações de histórias
e até autografa seus próprios livros e os jovens interagem com
seus escritores favoritos. Os aficcionados por quadrinhos têm
vez no Mutação (leia mais na página 25). Para ficar por dentro
de um pouco de tudo que ocorre no universo infantil e juvenil
da Feira do Livro de Porto Alegre, confira as próximas páginas.
Além do evento, estudantes participam de ações de incentivo à leitura durante o ano todo
infantile juvenilil Ilu
stra
ção:
Ale
xand
re B
eral
do
23REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
aRena Das históRias
4/11 – 19habertura do seminário a arte de contar histórias6/11 – 14hcontação de histórias com chico dos Bonecos 7/11 – 14hcontação de histórias com Jiddu saldanha
DuCha Das letRas
1º/11 – 19h encontro com o escritor rodrigo Lacerda 5/11 – 14hexibição do filme antes que o mundo acabe, com audiodescrição 8/11 - 18hencontro da confraria reinações
laRGo Da esCRita (sessões de autógrafos)
5/11 – 14hLivro crianças do rio Grande escrevendo histórias*7/11 – 9hcolégio israelita, de porto alegre12/11 – 14hcolégio Luterano são paulo, de porto alegre*Secretaria Estadual da Educação
qG Dos PitoCos
30/10 -10h30histórias para contar em casa, oficina para pais 2/11 – 17h30minteatro de mamulengo do senado Federal 7/11 – 16h30min Bonecos de pau, com o grupo a divina comédia
Um dos espaços para aprender e trocar ideias na Feira é o Ducha das Letras, onde ocorrem, entre outras atividades, oficinas do 2º Seminário Redes de Leitura. A iniciativa parte de um projeto da ONG Cirandar, de Porto Alegre, com parceiros como o Instituto C&A. O objetivo é promover a leitura a partir do fortalecimento das bibliotecas comunitárias nas comunidades em ações articuladas com empresas. A Ducha das Letras também recebe oficinas do 2º Seminário por um Espaço Especial para a Literatura na Escola, com a participação de professores, bibliotecários e outros mediadores de leitura. A abordagem de temas polêmicos na escola, na família e nas narrativas está entre os assuntos do encontro.
Ducha das Letras
Na Feira do Livro crianças e jovens também são estrelas da festa e têm um espaço especialmente dedicado às suas sessões de autógrafos e lançamentos. É o Largo da Escrita, uma área com capacidade para 700 pessoas, destinada à apresentação de projetos de produção literária das escolas. São iniciativas como a do Colégio Israelita, de Porto Alegre, que anualmente mobilizam centenas de pessoas, entre alunos, professores, pais e outros representantes da comunidade. Instituições de outras cidades também levarão seus alunos para lançar suas obras no espaço.
Largo da Escrita
Antes de aprender a ler, a turminha de 0 a 6 anos já encontra muitas atrações e diversão na Feira. O reino da criançada pequena é o QG dos Pitocos. Apresentações de escritores e ilustradores, contações de histórias e teatro de bonecos estão entre as atividades desenvolvidas no espaço. Tem até oficina para os pais. Na Histórias para Contar em Casa são os familiares que vão aprender formas e técnicas de contação de histórias, além de exercícios e brincadeiras. O QG dos Pitocos também vai receber o Teatro de Mamulengo do Senado (foto), o Mamulengo Alegria. O espetáculo é obra do brasiliense Josias Wanzeller da Silva, que há mais de dez anos escreve, dirige os textos, manipula os bonecos e controla a trilha sonora com os pés.
QG dos Pitocos
Um teatro onde escritores, contadores de histórias e ilustradores encontram alunos da escola infantil e do ensino fundamental. Assim é a Arena das Histórias, com atrações como o Chico do Bonecos (foto), arte-educador mineiro que vem à Feirapara encantar crianças de todas as idades. Ele traz sua maleta repleta de objetos insólitos e utiliza-os para construir brinquedos falantes e resgatar brincadeiras antigas. Na Arena também acontece a abertura do 3º Seminário A Arte de Contar Histórias, com sete contadores gaúchos. O evento mostra de que forma diferentes linguagens, como teatro, dança e mágica, podem tornar a contação ainda mais interessante.
Arena das Histórias
Arqu
ivo
Pass
oal
d&staques
24 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Foto
: Mar
celo
Nun
es
A comunidade se encontra e se apresenta no Território das Escolas, um teatro com capacidade para 300 pessoas, onde são promovidos espetáculos artísticos das escolas e de outras instituições e grupos. Um dos destaques são as Meninas Cantoras de Nova Petrópolis e o Coro Infanto-Juvenil de Veranópolis, com uma apresentação que encanta o público. O Grupo Cataventus, que reúne voluntários em um projeto de inclusão social por meio da contação de histórias, também vai estar presente no Território em duas datas. Outra atração é o sarau “120 anos, 120 tomates depois”, promovido pelo Jornal Vaia, com Marcelo Noah e Guto Leite, em homenagem ao escritor Oswald de Andrade.
Território das Escolas
O espaço do público jovem e de alguns dos grandes seminários e debates da Feira é a Casa do Pensamento. É lá que acontece a programação da 7ª Traçando Histórias, um curso de extensão da UFRGS, que integra a mais importante mostra de ilustrações de livros infanto-juvenis do País. O espaço também recebe o 5º Mutação na Feira, com quadrinhistas e especialistas em quadrinhos; e o 3º Seminário A Arte de Contar Histórias. A casa ainda é palco do 11º Encontro dos Organizadores de Feiras de Livros do Rio Grande do Sul, com a participação de boa parte dos mais de 110 municípios que promovem feiras de livros no Estado, assim como de escolas, clubes e entidades.
Casa do Pensamento
Criada em 2005, quando a Área Infantil e Juvenil da feira passou a funcionar no Cais do Porto, a Biblioteca do Cais leva muito mais que um acervo de qualidade ao público. Além de obras para crianças, jovens e educadores, o espaço abriga a Vitrina da Leitura, onde são exibidos projetos de destaque na área de leitura no Estado. A biblioteca também é um ponto de encontro e troca de experiências para os professores. No Recanto dos Educadores acontecem eventos como a Hora de ler Clarice, debate sobre obras da escritora com as professoras Zilá Mesquita e Anderson Hackenhoar. O local contempla ainda a Estação Multimídia, com terminais de computador com um programa especial para cegos e obras cedidas pela Confraria das Letras em Braile.
Biblioteca do Cais
O palco dos grandes espetáculos é o Teatro Sancho Pança. Entre os destaques está uma peça que evoca um tema atual e de forte impacto para muitas crianças: o bullying. Filhote de Cruz Credo (foto), a história autobiográfica do escritor Fabrício Carpinejar adaptada pelo diretor Bob Bahlis, ganha a cena no dia 2 de novembro, às 17 horas. O espaço também recebe o tradicional concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. E é ainda o cenário onde ocorre a Programação do ciclo O Autor no Palco, em que alunos do ensino fundamental encontram importantes autores, como Roger Mello, Lúcia Fidalgo, Fábio Sombra e Ilan Brenman.
Teatrosancho pança
teRRitóRio Das esColas 31/10 - 17h projeto alvorada Fazendo arte, secretaria da cultura de alvorada 5/11 – 9h Bela Adormecida, espetáculo do instituto de educação de ivoti 12/11 – 1030min e 15h30min projeto música, ação, inclusão – smed cachoeirinha
Casa Do PensaMento
2/11 – 9 às 21h 5º mutação na Feira – histórias em Quadrinhos, zines e outras histórias 4/11 – 9hrock’n roll, literatura e outras coisas mais, com Frank Jorge 10/11 – 9hencontro com cláudio Levitan
d&staques
?
Foto
: Mau
ríci
o C
onca
tto
vitRina Da leituRa *
29/10, das 9 às 21hFórum Gaúcho pela melhoria das Bibliotecas escolares2/11, das 9 às 21h projeto a Feira vai à Fase 11/11, das 9 às 21h projeto cidadão Leitor, de osório * Na Biblioteca do Cais
teatRo sanCho Pança 2/11 – 17hFilhote de cruz credo, espetáculo teatral 7/11 – 11hconcerto da orquestra sinfônica de porto alegre8/11 – 20hdona Gorda, espetáculo teatral13/11 – 19h30programa da rádio Buzina do Gasômetro
25REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
A ante-sala da leituraMutação aproxima interessados e educadores do universo dos quadrinhos e destaca o Cavaleiro das Trevas, Batman, e o Mocinho do Brasil, Tex
mundo dosquadrinhos
D
(MG), Sônia foi quem introduziu a discussão sobre HQs nas
universidades brasileiras. Especialista em cultura do mangá, ela
também lecionou no Japão, Holanda e França.
As oficinas preparadas pelo Núcleo de Ilustração e
Quadrinhos (NIQ) da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul constituem outra atração imperdível. No dia 2 de
novembro, serão promovidas oficinas-relâmpago para crianças
e adolescentes, das 15h às 21h. No dia seguinte, as atividades
serão dirigidas aos professores, a partir das 9h. “A ideia é que os
próprios educadores presentes criem suas histórias para que
possamos juntar a teoria com a prática”, antecipa o coordenador
Romir Rodrigues.
O ciclo Mutação na Feira – HQs, zines e outras histórias
surgiu em 2006, no Cais do Porto, reunindo fãs das HQs, jovens
quadrinistas, cosplayers, professores, estudantes e público em
geral. Desde então, a cada ano, conta com a participação de
artistas de primeira linha e especialistas em quadrinhos. Em
2010, o evento será encerrado com a participação do cineasta
André Kleinert e do jornalista Goida, crítico de cinema,
estudioso e colecionador de HQs, autor da Enciclopédia dos
Quadrinhos, editado pela L&PM e também André Alves, um dos
idealizadores do evento.
ois mundos se fundem na 56ª Feira do Livro de Porto
Alegre. Um dos eventos mais aguardados, a 5ª edição
do ciclo Mutação na Feira – HQs, zines e outras
histórias, vai unir quadrinhos e educação. “Queremos
ampliar o debate com os educadores sobre a relação
entre HQs e o processo educativo”, afirma Romir Rodrigues,
coordenador do evento. As palestras sobre o tema estarão
concentradas nas atividades de 3 de novembro. No primeiro
dia do ciclo, 2 de novembro, o público-alvo serão quadrinistas,
colecionadores, criadores e produtores de HQs.
Uma das principais atrações do Mutação deste ano, o
jornalista Sílvio Ribas, autor do Dicionário do Morcego,
defende o uso das HQs como recurso pedagógico para
envolver desde cedo as crianças e os jovens com a leitura.
“Não tenho dúvida de que os quadrinhos representam a
ante-sala da leitura para eles”, sustenta. O autor entende
que estão superados muitos dos preconceitos históricos que
atingiram os quadrinhos. “Hoje já existe uma abertura maior,
principalmente na Europa”, diz Ribas, radicado em Brasília e
atuando no jornal Brasil Econômico.
Lançado pela Editora Flama, em 2005, o Dicionário do
Morcego é o mais completo guia sobre o fenômeno Batman
publicado no Brasil. Fã e colecionador – ele tem mais de três
mil gibis do Cavaleiro das Trevas – levou 17 anos para publicar
a obra. “É um sonho que acalentava desde os tempos da
faculdade.” Na palestra “A saga do morcego”, Ribas vai falar
sobre o ícone universal que “saiu da indústria cultural e passou
a fazer parte do cotidiano das pessoas”.
Um fenômeno editorialO Mutação na Feira vai abrir com o “Encontro Bonelli”, em 2
de novembro, às 9h, no Armazém A do Cais do Porto. A Sergio
Bonelli Editore, de Milão, é uma das mais conceituadas editoras
da Europa, responsável por publicações como Tex, personagem
de western criado em 1948. Desde 1971, a revista em quadrinhos
do herói é publicada ininterruptamente. O debate estará a cargo
do jornalista baiano Gonçalo Júnior, autor de “O mocinho do
Brasil – A história de um fenômeno editorial chamado Tex”, e
Gervásio Santana de Freitas, há dez anos editor do Portal Tex
Brasil, que tem autorização da editora para usar o personagem.
“Tex encarna o desejo de que o mundo pode e deve ser melhor
se tivermos pessoas de caráter que defendam os valores corretos
da sociedade”, analisa Freitas.
Os laços entre HQs e cultura serão debatidos em mesa-
redonda com a participação de Sônia Luyten e de Gonçalo
Júnior. Professora do Programa de Pós Graduação da
Universidade Presidente Antonio Carlos, em Juiz de Fora
GeRvÁsio FReitas, editor do portaL TEx BRASIL
tex encarna o desejo de que o mundo pode e deve ser melhor.
26 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
As muitas
caminhos daprogramação
faces do livroTodos os gostos e interesses se encontram na maior feira de livros a céu aberto das Américas
Da
esqu
erda
par
a a
dire
ita:
(1ª l
inha
) Aug
usto
Cur
y e
Edua
rdo
Buen
o; (2
ª lin
ha) F
abia
no D
alla
Bon
a e
Benj
amin
Mos
er; (
3ª li
nha)
Mar
cel S
outo
Mai
or, F
erna
ndo
Rein
ach
e G
ilber
to F
iuza
. Fo
tos:
Lui
z Al
onso
(Aug
usto
Cur
y), T
essa
Pos
thum
a de
Boe
r (Be
njam
in M
oser
), Be
l Ped
rosa
(Mar
cel S
outo
Mai
or),
Rena
to P
arad
a (F
erna
ndo
Rein
ach)
, dem
ais
(Dilv
ulga
ção/
Edito
ra).
27REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
ma das mais talentosas escritoras portuguesas da
atualidade, Inês Pedrosa estará na 56ª Feira do Livro
de Porto Alegre. E ela não é a única grande atração
do evento. Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura
participam da Feira e abrem o I Seminário Nacional de Crítica
e Literatura. O cantor Lobão também vem e fala sobre sua
biografia recentemente lançada.
A multiplicidade desta que é uma das principais feiras
literárias do Brasil impressiona. Durante os 18 dias, mais
de 250 eventos, como palestras, mesas-redondas, oficinas e
apresentações artísticas integram a programação. A diversidade
vai muito além da literatura. Ciências, filosofia, jornalismo,
questões ligadas à saúde e culinária são alguns dos temas
tratados nos muitos espaços da feira.
Para ajudar o visitante a localizar as atrações de seu interesse,
o roteiro foi distribuído em caminhos. “Na feira, todos os
tipos de livro e programações a ele ligados estão inseridas.
Procuramos facilitar a vida do participante, estabelecendo
diferentes caminhos, que são roteiros a partir de áreas do
conhecimento”, conta Jussara Haubert Rodrigues,
Coordenadora de Programação para o Público
Adulto da Feira do Livro de Porto Alegre.
São quatro eixos. Pela via da literatura
vão passar nomes como Carlos Heitor Cony,
Guilherme Fiuza e Benjamin Moser, o autor
norte-americano que escreveu a biografia de
Clarice Lispector. No caminho das Ciências
Exatas – Aprendendo através dos livros é a vez
de aproximar a ciência do público em geral, com
debates como “Estamos sós no Universo?” e a “Arte
de Esquecer”, com o pesquisador Ivan Izquierdo.
Para as Ciências Humanas – Aprendendo com os Livros, há
atrações como o psicanalista Flávio Gikovate e Leonardo Boff. E
o roteiro do Bem Viver traz temas deliciosos como a cozinha dos
monastérios e bate-papos instigantes como “Desenvolvendo a
Inteligência no Século XXI”, com o psiquiatra Augusto Cury.
A Feira também transforma a Tenda de Pasárgada, localizada
entre o Memorial do Rio Grande do Sul e o Santander Cultural,
ambos na rua Sete de Setembro, em palco das artes. O espaço
se transforma em um cinema para a programação conhecida
como Tenda.doc, com exibição de documentários, diariamente,
às 14h30. No local, o Cordão da Saideira une literatura, música e
teatro em programações diárias e variadas, às 20h30. Os grandes
nomes da música brasileira, como Adoniran Barbosa e Cartola,
serão homenageados. E não só da brasileira. O filho do argentino
Atahualpa Yupanqui, um dos ícones da música folclórica daquele
país, Roberto “Kolla” Chavero, apresenta um espetáculo em
celebração ao pai. Em outra vertente, abre-se um momento para
a contação de histórias, como as narradas pelo próprio patrono
da Feira, Paixão Côrtes.
U universalidadePela primeira vez, a renomada escritora portuguesa
Inês Pedrosa (foto) encontrará o público da Feira do
Livro de Porto Alegre. Identificada com o feminismo
sutil, Inês penetra na crueza do universo masculino em
sua mais recente obra “Os Íntimos”. Um dos livros mais
polêmicos da humanidade também estará em debate,
com uma abordagem crítica do francês Antoine Vitkine
sobre “Mein Kampf”, a obra na qual Hitler lançou as
bases do Nazismo. Os quadrinistas Jens Harder e Atak
vêm da Alemanha para debater a ficção e a não-ficção
nos quadrinhos. A Feira traz ainda a premiada escritora
Judith Katzir, traduzida em 11 línguas, para falar sobre
Literatura Israelense.
O biógrafo de Clarice Lispector, o norte-americano
Benjamin Moser, vai tecer relações entre a vida e a
obra dessa que é um dos ícones da literatura
brasileira. O universo das biografias terá
espaço ainda com os autores da história
do humorista Bussunda, Guilherme
Fiuza, que também escreveu “Meu
nome não é Johnny”; e de Padre Cícero,
o biógrafo Lira Neto, da obra sobre a
cantora Maysa. Outro destaque é o
autor de um dos livros mais célebres
da atualidade, Luiz Eduardo Soares, fala
sobre Elite da Tropa 2, que trata das milícias
do Rio de Janeiro.
Carlos Heitor Cony também estará na Feira. Sua
participação é autobiográfica. Cony vai narrar fatos
engraçados e confusões que provocou em suas viagens
pelo mundo e homenagear amigos e personalidades. Os
aficcionados por literatura policial não podem perder o
encontro com Gustavo Machado e Paulo Wainberg, que
vão falar sobre personagens do
mundo do crime de ficção.
A feira contará ainda com
o internacional Milton
Hatoum, entrevistado por
Ruy Carlos Ostermann,
e com o jornalista
Paulo Markun,
em um bate-papo
mediado pela
apresentadora
Ivete Brandalise.
!
bioGRaFias encontro reúne os escritores Lira Neto e Guilherme Fiuza em um bate-papo sobre os livros que narram as trajetórias de padre cícero e Bussunda
bRasilO ciclo história do Brasil ocorrerá em dois dias, 10 e 2 de novembro, no memorial do rio Grande do sul, às 18h.
FaMíliaGrupo de terceira idade que se reuniu na Feira do Livro há dois anos resgata histórias de família em obra que será autografada nesta edição
JussaRa RoDRiGuescoordeNadora de proGrama-çãO pARA O púBLIcO ADULTO
procuramos ajudar os participantes, estabelecendo diferentes caminhos, que são roteiros a partir de áreas do conhecimento.
Div
ulga
ção
&tc
28 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Contatos imediatos com a Ciência
A realidade na literatura
A Feira do Livro de Porto Alegre vai ajudar a desmitificar as
ciências. Para mostrar que esse universo não é só para sábios
sisudos, o biólogo e empresário Fernando
Reinach encontra leitores no dia 30 de
outubro, às 17 horas, no Auditório Barbosa
Lessa, localizado no Centro Cultural CEEE
Érico Verissimo. “A longa marcha dos grilos
canibais”, sua mais recente obra e também
título do evento, traz crônicas publicadas no
jornal O Estado de São Paulo. Reinach foi
um dos coordenadores do projeto genoma
brasileiro e consegue desvendar para os
leigos as principais descobertas e avanços da
pesquisa mundial.
Um debate que intriga a humanidade
também faz parte da programação. “Estamos
sós no Universo?” reúne astrônomos,
ufologistas e físicos em busca de respostas para um dos
questionamentos essenciais da civilização. A Feira traz ainda
uma das maiores autoridades em astronomia do Brasil, Ronaldo
Rogério Mourão, que descobriu um asteróide em 1980, batizado
com seu sobrenome “Mourão”. O cientista também conquistou
o Prêmio Jabuti em 2001 com o livro “Astronomia da Época dos
Descobrimentos”. Mourão vai falar sobre a diversidade cósmica,
tão rica quanto a fauna e a flora terrestres.
Se o futuro aponta novos paradigmas e descobertas
na própria Terra e fora do planeta, a Feira também
abre espaço para um debate em uma era longínqua. Os
dinossauros são o tema de dois encontros na Feira. Em
um deles, uma espécie de reptéis voadores estarão em
destaque: os pterossauros, ou dragões alados no céu do
Brasil, serão abordados pelo autor Alexander Kellner.
Para desvendar o passado pré-histórico do Rio Grande
do Sul, outro debate traz paleontólogos que vão
analisar a origem dos dinossauros e dos mamíferos a
partir dos fósseis descobertos em solo gaúcho.
Recordar o passado nem sempre é recomendável.
O pesquisador da fisiologia da memória Ivan
Izquierdo trata da Arte de Esquecer sobre a
necessidade de inibir lembranças muito traumáticas
para tornar a vida mais amena. O evento acontece no dia 5 de
novembro, às 17 horas, no Auditório Barbosa Lessa. Memórias
reiteradas associadas a eventos negativos caracterizam o
estresse pós-traumático. Para Izquierdo, é preciso ensinar
o cérebro a acionar o esquecimento, quando essa função
normalmente automática, falha.
A história do Brasil que virou best seller ganha destaque
na feira. O assunto, antes relegado nas prateleiras de livrarias,
ganhou destaque com autores como Laurentino Gomes, autor
de 1808 e 1822, que vai debater, no dia primeiro de novembro, a
História do Brasil em uma mesa redonda com a historiadora
Mary del Priore e com o escritor Renato Venâncio. José Roberto
Torero e Eduardo Bueno, o Peninha, também estarão juntos na
Feira do Livro. Torero conquistou os leitores e a crítica literária
com um romance histórico, vencedor do Prêmio Jabuti em 1995:
“O Chalaça”, que narra as supostas memórias do conselheiro
Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, secretário particular de D.
Pedro I. Peninha, Eduardo Bueno, tem o mérito de despertar os
leitores para a História do Brasil. O autor conseguiu a proeza de
ter quatro títulos simultaneamente na lista dos mais vendidos
durante várias semanas. Sua mais
recente obra “Brasil: uma história
– cinco séculos de um país em
construção” será autografada na
Feira. Os dois vão protagonizar
um debate sobre as histórias
da História do Brasil em 2 de
novembro, às 18 horas, na Sala dos
Jacarandás, no Memorial do Rio
Grande do Sul.
O filósofo canadense Sébastien
Charles estará na feira. Ele vai
debater a hipermodernidade e seus conceitos, em um encontro
com leitores mediado por Juremir Machado. Um dos principais
representantes do jornalismo brasileiro, Ricardo Kotscho,
também participa da programação. O tema não poderia ser
outro: Lugar de repórter é na rua. Ele vai contar sua história
permeada pela própria história do jornalismo. O debate sobre
a garimpagem de informações até a publicação será ilustrado
pelos bastidores da notícia, gafes e momentos históricos. O
bate-papo do agora blogueiro Kotscho será mediado por Mauro
Júnior, autor do livro sobre o experiente jornalista.
O psicanalista Jurandir Freire da Costa debate sua mais
recente obra “O ponto de vista do outro, Ética em Graham
Greene e Philip K. Dick”, com os também psicanalistas Mário
Corso e Robson Pereira. Um nome que ajudou a romper
com vários tabus da sexualidade e acompanhou os fatos que
transformaram o tema no Brasil e no mundo também fará parte
da programação. É o psiquiatra Flávio Gikovate, que questiona
a exacerbação do desejo e propõe um debate: a revolução
sexual da década de 70 tornou as pessoas mais livres, felizes e
realizadas?
O evento contará ainda com o teólogo Leonardo Boff, que
vai falar sobre seu mais recente livro “Cuidar da vida – proteger
a Terra: como evitar o fim do mundo”. A obra aborda aspectos
paradigmáticos, ecológicos, éticos, políticos e espirituais das
transformações necessárias para construirmos uma nova
relação com a natureza.
%
:
29REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
oficinasNasce um escritor, uma peça, um livro
Nem só de leitura vive a Feira do Livro de porto alegre. alguns dos autores que vão autografar suas obras nas próximas feiras podem estar surgindo nas oficinas. É a oportunidade de aprender com ilustres e premiados mestres na arte da escrita, como moacyr scliar e Fabrício carpinejar.
os grandes nomes da crônica e seus textos serão analisados por moacyr scliar na oficina de introdução à crônica, que acontece em 9 de novembro, a partir das 13h30 na Biblioteca do centro cultural ceee Érico verissimo. o escritor também vai discutir as crônicas produzidas pelos participantes.
Um dos principais nomes da literatura da atualidade também vai coordenar uma das oficinas. com o tema amar é, Fabrício carpinejar vai mostrar o quanto uma carta de amor pode gerar um fato literário ao apresentar correspondências de escritores e obras epistolares como ponto de partida para a discussão. a ideia é fugir dos clichês e expressões convencionais de afeto.
a criação literária também ganha vida em outras oficinas. Luis augusto Fischer comandará o grupo de crítica literária. Walter Galvani vai trabalhar o tema da biografia e autobiografia. os passos do haikai serão orientados por Gabriela silva e altair martins será o tutor do conto na feira.
as expressões teatrais também poderão ser desenvolvidas. os trânsitos e intercâmbios entre teatro e literatura serão tema da oficina de patricia Fagundes. os caminhos do Fumproarte e dos projetos culturais serão apoiados por alexandre silva e a oficina de adaptação literária para o audiovisual será ministrada por Beto Souza.
a grande estrela da feira também será atração das oficinas. os livros inspiram diversos cursos que tratam desde sua origem às referências bibliográficas, design, encadernação e conservação. o passo a passo da produção do livro também tem destaque. o público terá ainda três possibilidades para desenvolver a arte de ler e contar histórias nas oficinas: “contando histórias para crianças hospitalizadas”, “Brincando com a Imaginação” e “contando sabores”. até as palavras silenciosas ganham voz em grupos de libras e de con(ta)to com os livros, em que portadores de deficiência visual vão estar mais próximos do universo da leitura com a produção de um livro em cerâmica.
as oficinas têm vagas limitadas e as inscrições podem ser feitas a partir de 19 de outubro no memorial do rio Grande do sul.
Um olhar sobre o passado*Chico Xavier, médium que completaria 100 anos em 2010 e
psicografou mais de 400 títulos, com vendas que superaram os
50 milhões de exemplares será tema de bate-papo no dia 2 de
novembro, às 19h30, no Teatro Sancho Pança. O filme, inspirado
na obra, foi o longa brasileiro mais visto nos últimos 20 anos. Só a
estreia foi assistida por 585 mil pessoas.
A comida dos céus integra um dos caminhos da feira. Em “O
céu na boca”, o chef Fabiano Dalla Bona revela como a despensa
de conventos, abadias, e monastérios inspiraram receitas. Do blog
Rainhas do Lar, Faby Zanelati mostra que cozinhar é um modo de
amar os outros.
O público da melhor idade também participa com atrações
especiais, entre elas, o lançamento do livro Histórias de Família.
A obra, coordenada pela jornalista Izabel Ibias, foi escrita pelos
próprios participantes do grupo formado há dois anos, na 54ª
Feira do Livro de Porto Alegre. A publicação resgata a história
da família por um de seus integrantes e serve como referência
para as gerações futuras. “É escrevendo que nos perpetuamos”,
resume Izabel. Outros temas que estarão em pauta na feira são a
importância dos exercícios físicos regulares para prevenir doença
e do cuidado que o cuidador de idosos deve ter consigo mesmo.
Os roteiros da praça também levam a viagens fascinantes.
Entre os temas que vão transportar os leitores a novos destinos
estão os Parques Nacionais do Sul, com seus cânions e cataratas,
relatados pelo autor da obra, Roberto Linsker. As peculiaridades
turísticas da região também vão ser reveladas por Zizo Asnis
em uma palestra-fotográfica sobre as viagens que originaram
os roteiros O Viajante – Guias do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina. Os caminhos da praça levam ainda à capital de Cuba,
Havana, em um relato do escritor Aírton Ortiz.
Foto
: Lui
s Ve
ntur
a
Foto
: Bet
o Sc
liar
Scliar: introdução à crônica
qu&m
30 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Cultura para todosPessoas normalmente alijadas de iniciativas culturais, como os meninos de rua, ganham oportunidade de inclusão com a Feira
feirainclusiva
A Feira na fase
Neste ano, o escritor gaúcho Caio Riter já compartilhou suas histórias com os jovens da Fundação de Assistência Sócio-Educativa do Rio Grande do Sul (Fase). O contato, que transforma autores e leitores, ainda será experimentado, pelos escritores Júlio Emílio Braz e Daniel Munduruku, entre outros, que também vão participar do projeto A Feira vai à Fase. Será momento para os
adolescentes da fundação conhecerem obras como Crianças na Escuridão e Pretinha, Eu?, do mineiro Júlio Emílio Braz, cujos temas remetem ao cotidiano dos jovens. Com o escritor indígena Daniel Munduruku, os jovens terão a oportunidade de ouvir histórias da cultura dos índios brasileiros com o autor de mais de 30 obras sobre os povos nativos.
esde sua criação, há mais de cinco décadas, a Feira do
Livro de Porto Alegre conquista cada vez mais espaço
físico e simbólico na capital gaúcha. Sua expansão,
contudo, não ocorre apenas no centro da cidade,
tampouco seu significado restringe-se aos já afeitos ao prazer
da leitura. A celebração dedicada aos livros estende-se, também,
a apreciadores de histórias e de conhecimentos que pouco
contato têm ou menor sentido encontram em páginas escritas.
Como isso acontece? “Como espaço democrático e inclusivo,
a Feira do Livro deve atender a todos os públicos, acolhendo
também aqueles que tradicionalmente não são vistos
como leitores”, explica Sônia Zanchetta, coordenadora da
Programação Infantil e Juvenil da Feira do Livro. Ela se refere
aos participantes de projetos como o Asteroide, destinado a
abrigados e moradores de rua e também A Feira vai à Fase,
com atividades de leitura promovidas em uma das unidades
da Fundação de Assistência Sócio-Educativa do Rio Grande do
Sul (Fase). Outro destaque é o Feira Fora da Feira, realizado em
comunidades da periferia.
DEnquanto milhares de leitores aguardam pelas bancas da
Praça, um grupo de adolescentes recebe a visita de escritores no
local onde cumprem medidas socioeducativas. Com o projeto A
Feira vai à Fase, a literatura alcança unidades da instituição. Há
oito anos, na 48ª Feira do Livro, um trabalho feito pelos jovens, no
projeto Compartilhando Livros e Sonhos, foi exposto na Vitrina
da Leitura da Feira. Com a experiência, os internos da fundação,
que não podem ir à Praça, passaram a receber escritores,
ilustradores e contadores de histórias. O poeta Ricardo Silvestrin
inaugurou o projeto, que também enriquece, com doações de
livros, a Biblioteca Dona Margarida, do Centro de Internação
Provisória, em Porto Alegre.
Normalmente distanciados da Praça, leitores da periferia
são anfitriões e convidados do projeto Feira Fora da Feira.
Há três anos, o programa leva autores a três comunidades da
cidade. Em cada um dos três finais de semana da Feira, são
O escritor Caio Riter conversa com jovens no projeto A Feira vai à Fase
Sem a praça, com os livros
Meninos de rua participam da
programação com o Projeto Asteroide
31REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
de autógrafos, jogos literários e conversas com escritores. A Associação Jovem Leitor, idealizada pelo escritor Charles Kiefer, apoia a iniciativa, e participa com nove escritores. Nos domingos da Feira, um ônibus será colocado à disposição das comunidades para que seus moradores desfrutem do evento na Praça da Alfândega.
Movendo montanhas
Nos três finais de semana da 56ª Feira do Livro, como vem ocorrendo há nove anos, as obras sairão da Praça em busca de seus leitores. Desta vez, o projeto Feira Fora da Feira estará nas comunidades da Lomba do Pinheiro, Assunção e Morro da Cruz. Serão promovidas narrações de histórias para crianças e adultos, vivência em biblioteca, leituras compartilhadas e sessões
Novos protagonistas realizadas atividades de leitura
e promovidas oportunidades de
contato com dezenas de obras.
Em 2010, a iniciativa segue com o
apoio dos escritores que integram
a Associação Jovem Leitor, com a
Biblioteca Itinerante da Secretaria
Municipal de Cultura, com a Frente
Parlamentar do Livro e Leitura de
Porto Alegre e representantes da
comunidade.
Leituras adaptadasCom atividades como a Oficina
Con(ta)to com os livros, com
produção de livros em cerâmica,
são oferecidas diversas atrações
para portadores de deficiência
visual, deficientes auditivos,
além de voltados à terceira idade,
como oficinas e palestras (ver
programação na página 26).
O acesso à literatura em braille
e à programação destinada
aos deficientes visuais ocorre
na Estação Multimídia, na
Biblioteca do Cais. No espaço, são
disponibilizados computadores
com recursos especiais. Parceiros
da Estação, a Associação de Cegos
do Rio Grande do Sul distribui
obras às escolas gaúchas que
trabalham com deficientes visuais
e a Confraria das Letras em Braile
divulga os livros que produz. Entre
as atividades concebidas para esse
público destacam-se espetáculos
de radioteatro, oficina e exibição
de filme com audiodescrição.
A inclusão dos deficientes
auditivos à programação também
está contemplada a partir de
parcerias com diversas instituições.
Na Arena das Histórias, são
realizadas sessões de contação de
histórias na Língua Brasileira de
Sinais (Libras) com tradução para
o português falado e vice-versa.
No Território das Escolas, ocorrem
apresentações de grupos artísticos
integrados por alunos surdos.
Atividades para o grande público
também são traduzidas em Libras.
Desde 2009, o evento passou a
contar ainda com o Portal Libras,
no Pórtico do Cais do Porto, onde
monitores fornecem informações
e auxílio ao público, utilizando a
linguagem de sinais.
aos 22 anos, Éverton marquez nunca havia ouvido falar sobre Feira do Livro. o porto-alegrense conhece a cidade, trabalha na rua e nela morou desde criança. a descoberta aconteceu em 2010, quando participou do projeto asteroide. “Gostei das oficinas de máscara, do teatro, da música e aprendi com as histórias”, lembra o guardador de carros e estudante da escola municipal porto alegre (epa). com ajuda da única instituição da capital destinada a moradores de rua, que frequenta há sete anos, everton descobre novas possibilidades, assim como outros moradores de rua, abrigados e vítimas de violência e exclusão.
se fossem ficção, as histórias do jovem e da Feira talvez nunca tivessem se cruzado se a câmara rio-Grandense do Livro não destinasse ao evento a missão de humanizar, com livros, narrativas marcadas por dramas. a proposta nasceu há uma década, da ideia de dar aos moradores de rua, que antes perambulavam pela Feira, a oportunidade de participar da programação, com o apoio de uma rede de apoiadores. . em 2009, foram 71 beneficiados.
márcia Gil, diretora da epa, e coordenadora, há um ano do Asteroide, explica: “Trabalhamos pela inclusão desses jovens, ao longo do ano, e as atrações da feira têm promovido, além de sua integração ao evento, a aproximação da sociedade ao projeto”.os benefícios vão mesmo além da praça. a assistente social cíntia marques conta que, durante a Feira, consegue identificar novos moradores de rua e encaminhá-los à escola e a instituições de apoio.
proj&to
Ações de inclusão digital integram a Feira do Livro
Foto
s: L
uis
Vent
ura
32 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Brasil é o oitavo maior produtor de
livros do mundo, mas o brasileiro
ainda lê pouco – 4,7 livros por ano,
segundo a pesquisa Retratos da
Leitura, do Instituto Pró-Livro, de 2007. O
indicador considera a leitura obrigatória nas
escolas públicas. Sem os livros exigidos em
sala de aula, o índice seria de 1,8 livro por
ano, em pesquisa de 2000. A passos lentos,
iniciativas da sociedade civil e de governos
buscam modificar os números nacionais.
Há quase uma década, o Rio Grande do
Sul foi o primeiro Estado a possuir uma lei
que estabelece a política estadual do livro.
Contudo, a façanha, que poderia servir de
modelo, ainda não saiu do papel. O que falta
para a lei ser colocada em prática?
Como integrante de grupos que
assessoram as frentes parlamentares da
Capital e do Estado dedicadas a projetos
para o livro e a leitura, a Câmara Rio-
Grandense do Livro é taxativa: precisamos
de maior vontade política. “É fundamental
que o poder público cumpra o seu papel”,
salienta o presidente da Câmara, João
Carneiro.
O Plano Nacional do Livro e Leitura
(PNLL), instituído em 2006 pelos Ministérios
da Cultura e da Educação, sinaliza
disposição política para democratizar o
acesso ao livro e fortalecer a sua cadeia
produtiva. Em 2009, o PNLL estabeleceu
como meta acelerar a criação de planos
similares em estados e municípios. “Um
número cada vez maior de pessoas precisa
ter acesso ao livro”, resume o deputado Miki
Breier, que faz parte da Frente Parlamentar
Estadual de Incentivo à Leitura.
Na prática, porém, nem o Rio Grande
do Sul, nem sua capital, seguem o que
sugere o Plano Nacional, tampouco o
que determina a Lei Estadual do Livro.
Criada em 2007, a comissão encarregada de
elaborar o Plano Anual de Difusão do Livro,
já enviado para a Assembléia Legislativa,
ainda não teve seu orçamento aprovado.
Este ano, os representantes da Câmara,
das secretarias de Cultura e Educação do
Estado, das bibliotecas públicas, do Instituto
Estadual do Livro e do Clube dos Editores já
encaminharam ao Legislativo as prioridades
para 2011.
Morgana Marcon, diretora do Sistema de
Bibliotecas Públicas do Estado e do Instituto
Estadual do Livro, informa que estão
entre as propostas a renovação de acervos
das bibliotecas, a implantação de acervos
circulantes em bairros sem acesso à leitura
e a oferta de cursos de criação literária e de
contação de histórias.
Em Porto Alegre, o debate está sendo
conduzido por um grupo formado a partir de
audiência pública na Câmara de Vereadores,
em 1º de julho. São representantes da
Câmara Rio-Grandense do Livro, além das
secretarias de Educação e Cultura de Porto
Alegre, Fórum de Bibliotecas Comunitárias,
Conselho Estadual de Biblioteconomia
do Rio Grande do Sul, Associação Rio-
Grandense de Bibliotecários, entre outras
entidades. “O que se pretende é definir
uma política de estado, e não de governo,
para que as ações sejam permanentes”,
diz a vereadora Fernanda Melchionna, da
Frente Parlamentar Municipal de Incentivo
à Leitura.
OPor um Estado de leitores
Os números da leitura e dos livros
luGaR é a Posição oCuPaDa PeloBrasil no ranking mundial de produção de livros1
incentivoà leitura
8º
é o núMeRo De livRos que CaDabrasileiro lê, em média, por ano1
4,7
Das esColas PúbliCas brasileiras possuem bibliotecas2
18%
Das 96 esColas Da ReDe MuniCiPalde ensino fundamental de Porto Alegre têm bibliotecas3
100%
Das instituições De ensinoinfantil da capital gaúcha contam com bibliotecas3
50%
Fontes: 1 Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro (2007), 2Movimento Todos pela Educação, 3 Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, 4 Conselho Regional de Biblioteconomia.
Das esColas PúbliCas e PRivaDasdo RS não possuem bibliotecários4
90%
Das biblioteCas PúbliCas Do Rsnão contam com bibliotecários4
80%
SegurançaPública
O 9º BPM garante a segurança e bem-estar dos visitantes
Parceiros antigos arceiro da Feira do Livro
de Porto Alegre desde
sua primeira edição, o
9º Batalhão da Polícia
Militar da Capital pode
ser chamado de guardião do
evento sem exageros. São os
servidores desta corporação que
garantem a tranquilidade e a
segurança necessárias para que
mais de 1,5 milhão de pessoas
circulem no Centro Histórico
da cidade ao longo de 18 dias
de Feira. “Desde a primeira
edição da feira, o 9° Batalhão é
apoiador incondicional a favor
da segurança e do bem-estar,
tanto dos visitantes, quanto dos
expositores que ocupam a praça e
cercanias”, destaca o conselheiro
fiscal da Câmara Rio-Grandense
do Livro (CRL), Tuchaua
Rodrigues.
O Comandante da 1ª
companhia do 9º BPM, Major
André Luiz Córdova, estará
responsável pelo planejamento
da atuação da companhia
na Feira deste ano. Além do
patrulhamento, Córdova
observa a importância das
outras atividades do efetivo
durante o evento. “Pretendemos
reforçar a interação com a
sociedade. Em um estande que é
montado na Praça da Alfândega,
apresentamos nossos projetos
para o público. A BM vê a Feira
do Livro como um evento para o
mundo”, exemplifica. Deverão ser
efetuadas apresentações da tropa
abertas ao público.
A história de sucesso dessa
parceria entre soldados, livreiros e
editores, é amparada pelo fato de
não se ter registro de incidentes
graves. João Cervo, membro do
conselho fiscal da CRL, comenta
que, no período da Feira do Livro,
“a Praça da Alfândega torna-se o
lugar mais seguro de Porto Alegre.
O planejamento realizado pela
BM, e seu esforço de logística,
proporcionam a tranquilidade
que os visitantes precisam para se
sentirem à vontade”, finaliza.
P
34 REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
Praça democrática
A FEIRA QUE VÊ O CÉU
O céu que vê a Feira
O livro ao povo
PoR aiRton oRtiz
PoR Jane tutiKian
PoR JuReMiR MaChaDo
PoR Paixão CôRtes
Porto Alegre é uma cidade vaidosa.Com toda razão.Tem a Feira do Livro mais sensual
do mundo.Uma Feira a céu aberto.Uma Feira aberta para o céu.Fico imaginando a populacão do céu
olhando a Feira.A turma vê gente passando, sonhando,
rebolando, coçando o nariz, gingando, olhando e comprando livros, mostrando braços, pernas, seios e outros fragmentos de obras que dão água na boca: um parágrafo, uma estrofe, uma frase assassina, uma descrição perfeita, um beijo apaixonado, uma cena de adeus, uma tatuagem caindo para dentro de zonas indescritíveis, um pedaço de ilusão, uma página de fantasia, um volume estourando a roupa.
A Feira vê o céu, que vê a Feira.A população da Feira anda com a
cabeça nas nuvens.A população do céu só falta cair
das nuvens.Deve ser por isso que, certos dias,
na Feira de Porto Alegre, não dá para caminhar de tanta gente e todo mundo olhar para cima.
Engana quem pensa que é medo da chuva.
É que lá em cima está passando uma gata com um livro de Baudelaire.
Ser jovem nos anos 70 e não escrever poemas era uma contradição genética. Livro na mão, procurei o presidente da Câmara do Livro; queria saber o que seria necessário para autografar na Feira. Ele disse que o autor deveria estar vivo e ter escrito um livro. Simples assim. Fiquei chocado.
Eu militava no Movimento Estudantil, fazíamos oposição à ditadura militar, que censurava livros à mão cheia. O Leopoldo Beck, ali no balcão da Sulina, veio me dizer que para lançar meus poemas na praça bastaria que eu os tivesse escrito.
Então havia uma praça onde os livros eram livres? Mesmo naquela ditadura havia uma Praça Democrática em Porto Alegre? Cheia de livros? E ninguém os censurava? Não havia controle? Qualquer um podia escrever o que desejasse, publicar e lançar na feira? Assim?
Sim, havia, e eu a descobrira. Que viagem! Tornei-me livreiro, editor e escritor. Desde os 21 anos minha vida profissional gravita em torno da Feira do Livro na Praça da Alfândega.
Ao ar livre. Sob o céu e a sombra dos jacarandás.
Um olhar. Primeiro, os jacarandás floridos, depois, os prédios de janelas que aninham vidas, depois do depois, as nuvens que desenham infâncias, depois do depois, ainda, nesgas de céus recebem pedidos de olhos tristes ou transbordantes de expectativa. Mas o giro da terra sobrepõe realidades. Onde as prostitutas e os ladrões? Onde os abandonados e os abandonos? Definitivos, na praça,
apenas Drummond tecendo conversas de bronze com Quintana. Na primavera, as nesgas de céu abandonam o óbvio de toda a cidade grande e refletem barracas e pessoas coloridas e formiguentas, burburinhos de livros e palavras gritantes. O sino do xerife é o mensageiro de um outro tempo, e o velho Paixão Cortes, nos enlaça num sorriso pací fico de quem tudo viveu: assim deve ser, assim é que é.
A Feira do Livro deve representar um momento de renovação permanente da cultura do indivíduo. Um hábito que o tempo não apagará.
A espontaneidade do bem viver cultural é um enriquecimento para toda a sociedade coletiva, que tem sede de ampliar o seu saber.
Se eventualmente, aqueles que não têm o costume de substanciar os seus conhecimentos indo às livrarias, então vamos levar o LIVRO ao POVO como meio de evolução cultural a céu aberto valorizando e prestigiando ainda mais os autores e editores.
Reflexões a céu abertoIndicados a patrono escrevem sobre a Feira do Livro de Porto Alege
minicrônicas
Foto
s: L
uis
Vent
ura
56ºpatrono
35REVISTA DA FEIRA DO LIVRO • OUTUBRO / NOVEmBRO 2010
• Agência da Palavra• Aori Produções Culturais• Artes e Ofícios• Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - Ajuris• Associação de Cegos do RS - Acergs• Associação de Ciclistas da Zona Sul – ACZS• Associação de Escritores e Ilustradores de Livros Infantis e Juvenis – AEILIJ• Associação Gaúcha de Escritores• Associação Gaúcha de Intérpretes de Libras – Agils• Associação Gaúcha de Pais e Amigos de Surdocegos e Multideficientes – Agapasm• Associação Jovem Leitor - AJR• Associação Nacional de Livrarias – ANL• Associação Nacional de História / Seção RS - Anpuhrs• Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do RS• Associação Viva e Deixe Viver• Barco Cisne Branco• Blog Palavra e Cor• Bureau du Livre de L’Ambassade de France au Brésil• Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre• Centro Ecumênico da Cultura Negra – Cecune• Centro Universitário Ipa• Centro Universitário La Salle• Centro Universitário Ritter dos Reis• Clube dos Editores do RS• Colégio de Aplicação da UFRGS• Companhia das Letras• Companhia Riograndense de Artes Gráficas – Corag• Companhia Riograndense de Saneamento – Corsan• Confraria dos Livros em Braille• Conselho Regional de Biblioteconomia - CRB-10 • Conselho Regional de Enfermagem – RS – Coren-RS• Coordenação do Livro e Leitura da Secretaria Municipal de Cultura• Delegacia da Receita Federal do Brasil em Porto Alegre• Departamento de Águas e Esgotos de Porto Alegre – Dmae• Distribuidora Água Pura• Edelbra Editora• Edições Ar do Tempo• Edições Besourobox• Edições SM• Ediouro• Editora 8INVERSO• Editora Abacatte• Editora AGE• Editora Ática• Editora Barcarolla• Editora Cosac Naify• Editora DCL• Editora Dublinense• Editora FTD• Editora Garamond• Editora Globo• Editora H• Editora Iluminuras• Editora Imprensa Livre• Editora La Rousse• Editora Leya• Editora Literalis• Editora Luz da Serra• Editora Mazza• Editora Movimento• Editora O Viajante• Editora Objetiva• Editora Paulinas• Editora Peirópolis• Editora Planeta• Editora Projeto• Editora Record• Editora Saraiva• Editora Sulina• Editora Terceiro Nome
• Editora Terra Virgem• Editora Território das Artes• Editora Universitária da PUCRS• Editora Vieira Lent• Embaixada de Israel• Envolverde• Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre - EPA• Estúdio Nômade• Fábrica de Leitura• Faculdade de Física da PUCRS• Federação de Velas do RS – Fevers• Federação dos Municípios do RS - Famurs• Federação Espírita do RS – Fergs• Frente Parlamentar do Livro e Leitura• Fundação Biblioteca Nacional• Fundação de Articulação e Desenvolvimento das Políticas Públicas para PPDS e PPAHs do RS – Faders• Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre – Fumproarte• Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE • Garagem Andrade Neves• Globo News• Grupo Editorial Record• Grupo Editorial Summus• Grupo Somos• GT de História Cultural - ANPUHRS• Instituto Brasileiro de Ação Popular - Ibrap• Instituto Curicaca• Instituto de Arquitetos do Brasil• Instituto de Física - Depto de Astronomia UFRGS• Instituto de Geriatria e Gerontologia PUCRS• Instituto de Pesquisa em Acessibilidade/Ulbra • Instituto Fernando Pessoa• Instituto Goethe• Instituto Princípio Único• Justiça do Trabalho do Rio Grande do Sul• L&PM Editores• Lavanderias Chuá• Libretos• Livraria e Editora Bodigaya• Livraria Paulinas• Memorial do Judiciário do RS• Núcleo de Ilustração e Quadrinhos da Ufrgs - NIQ • Nueva Editorial Universitaria de Argentina• ONG Cirandar • Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-RS • Orvil Livros• Panvel Farmácias• Paulus Editora• Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade - PGQP• Pradense Editora• Programa de Pós-Graduação em Letras/UFRGS• Reinações Confraria• Restaurante Moeda• Restaurante Troppo Bene• Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae/RS• Secretaria Especial de Acessibilidade e Inclusão Social• Secretaria Estadual da Saúde• Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac• Sesc TV• Sindicato dos Estabelecimentos do Ensino Privado no Estado do RS – Sinepe• Sociedade de Psicologia do RS• Sociedade Ginástica de Porto Alegre - Sogipa• Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre - SPPA• Tinta Nega Bazar Editorial• Tomo Editorial• TV Cultura• Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS• Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos• Universidade para a Terceira Idade – Uniti/UFRGS• Vier Indústria e Comércio de Mate
apoiadores56a feira do livro