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Revista Capital 1

Nº1

7 .

Ano

02

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Maio de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

The energic woman

Miquelina Menezes

A mulher enérgica

OPINIÃOA propriedade privada da terra:

Um direito do cidadão

PWCPriceWaterhouseCoopers Consultoria em fiscalidade

MAPUTOA alavanca do Turismo

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OPINÃO

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Editorial

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda. Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Tel./Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas –[email protected] – Directora Edito-rial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Sérgio Mabombo – Sé[email protected]; Stélvio Mate – [email protected] ; Xandro Jorge – [email protected]; Secretariado Administrativo: Sílvia Dias – [email protected] ; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers – Colaboradores: Ednilson Jorge; Fátima Mimbire; Filipe Ribas; Leonardo Júnior; Luís Muianga – Colunistas: E. Vasques; Edgar Baloi; Federico Vignati; Hermes Sueia; José V. Claro; Levi Muthemba; Nelson Saúte; Rolando Wane; Samuel Zita – Fotografia: Luís Muianga; Sara Diva – Ilustrações: SA Media Holding; Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Design e Grafismo: SA Media Holding – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected] ; Ana Cláudia Machava – [email protected] ; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – - Registo: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

Ficha Técnica

Ricardo [email protected]

Os altos e os baixos

No curto espaço de alguns dias Maputo regurgitou de eventos ligados à livre ini-ciativa e que, de uma forma ou de outra, movimentaram gestores, empresários e outros actores do panorama económico nacional, assim como bom número de

convidados estrangeiros.Vejam-se, por exemplo, o IV Festival Internacional de Publicidade, a segunda reunião

da Rede Regional da África Austral sobre Governação Corporativa, a 8ª edição da Bolsa de Turismo de Moçambique e, porque não, o almoço do Senhor Presidente da República com empresários, integrado na Presidência Aberta na Província de Maputo.

Quando o estigma da crise económica parece acentuar a teoria do sobe e desce, é bom constatar que existe capacidade de resposta para a tentação do imobilismo.

Ainda no sentido ascendente dos indicadores económicos deste último mês podem in-cluir-se a inflação negativa, na cidade de Maputo, do índice de preços no consumidor, menos 1,29 pontos percentuais que em igual período do ano transacto, assim como a resistência do Metical face ao Dólar.

Embora o Continente Africano não enferme dos mesmos males que flagelam a Europa e a América do Norte – créditos desenfreados, especulação financeira, fundos mal parados e outras pérolas no género – razões principais na origem da actual recessão, a verdade é que as preocupações nacionais também não podem considerar-se de pouca monta.

À cabeça das más notícias a informação tornada pública no final da reunião do Fórum Económico Mundial que decorreu na África do Sul, na Cidade de Cabo, que Moçambique, ocupa a 130ª posição em termos de atractivos para negócios, num total de 135 países ana-lisados. Atrás de nós e como países ainda menos competitivos para atrair investimentos, classificaram-se apenas as economias da Mauritânia, Burundi, Zimbabwe e Chade.

E a classificação pouco melhora noutras áreas. 98º na eficiência da força de trabalho; 107º em tamanho de mercado; 116º na tecnologia; 122º na sofisticação do mercado finan-ceiro; 127º na eficiência do mercado de bens e 129º na qualidade de formação e educação superior.

Como se não bastasse, também o Grupo dos 19 países e entidades que constitui o prin-cipal núcleo de doadores no auxílio económico a Moçambique, emitiu pareceres apreen-sivos em relação aos avanços verificados em diversas áreas.

Frank Sheridan, Embaixador da Irlanda e presidente em exercício do G19, referiu mes-mo que alguns membros salientaram que o auxílio poderia ter sido mais elevado se os resultados obtidos tivessem sido mais animadores.

Apesar disso o apoio total ao orçamento de 2010 será decerca de 472 milhões de Dólares USA, contra os 445 verificados em 2009.

À beira do final do primeiro semestre de 2009, pode dizer-se que o nosso país tem uma enorme margem de progressão quanto à melhoria dos objectivos a atingir até Dezembro. A análise dos aspectos menos conseguidos e a sua célere rectificação parece ser uma das melhores vias.

Cabe aqui uma palavra de apreço e agradecimento à Dr.ª Helga Nunes. Durante mais de ano e meio esteve ao leme da edição da Revista CAPITAL e bastante contribuiu para a situação em que hoje nos encontramos. Por razões profissionais que se prendem com a sua carreira académica e a manifesta falta de tempo para se dedicar a este “seu” projecto, diminui a sua colaboração enquanto Directora Editorial mas mantém-se na equipa, com o mesmo entusiasmo do primeiro dia.

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Sumário

10BREVES

26 OPINIÃO

12FOCO

37 RESENHA JURÍDICA

14ENTREVISTA

Turismo

Crise e biocombustíveis constituem a actualidade que do-mina as notícias breves desta edição da Revista CAPITAL.

O despertar dos monstros

Existe uma perspectiva de criação de cem mil postos de trabalho na Indústria Têxtil.Ednilson Jorge fez as contas aos projectos e às implicações.

Miquelina Menezes

A mulher enérgica

Uma vida ligada à energia deixará marcas no comportamen-to do indivíduo? A resposta é dada na entrevista conduzida por Ricardo Botas com fotografia de Luís Muianga, que também marca a continuidade da comunicação em inglês na revista CAPITAL.

Capital Social

Mais uma parceria da Revista CAPITAL, esta com o Gabinete de Advogados Ferreira Rocha e Associados, rasga horizontes jurídicos no âmbito do direito empresarial.O Dr. Rodrigo Ferreira Rocha debruça-se sobre o capital social das empresas.

Imagem: uma nova forma de estar e fazer negócio

A sociedade, os consumidores, as organizações, quem sai beneficiado?A análise e as dúvidas de Dário de Samuel.

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38 ESTILOS DE VIDA

24TURISMO

34OPINIÃO

32PWC

Será que o turismo em Maputo pode alavancar a economia da cidade?

As belezas naturais, a oferta hoteleira e os esforços do mu-nicípio serão suficientes para o salto qualitativo do turismo na capital?Federico Vignati e Luís Sarmento investigaram, Hega Nunes fotografou.

O novel regime de benefícios fiscais da hotelaria e turismo.

O início da parceria com a PriceWaterHouseCoopers é as-sinalado com a análise do novo regime de incentivos fiscais, aplicáveis ao sector da hotelaria e turismo.A análise é do Dr. João Martins, Partner da PWC.

A propriedade privada da terraUm direito do cidadão

A eterna problemática da posse da terra, desta vez na perspec-tiva do colunista Mehboob Azadi.As tradições e o direito constitucional nem sempre andam de mãos dadas.

Jazz com Chet Baker, o filme “O leitor”, o livro “A chave do sucesso” e o restaurante Caipirinha, juntam-se a uma promoção muito especial para preencher mais estes Estilos de Vida. Na Pena Capital, José V. Claro troca o seu reino por um “Four by four”.

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BOLSA DE VALORES

Capitoon

Coisas que se dizemEis mais um Ilumminati…«James Shikwati, um dos poucos bons economistas africanos, disse, numa das suas mais famosas entrevistas à revista alemã Der Spiegel, intitulada “Pelo amor de Deus, parem de ajudar a África”, que a “ajuda a África é mais prejudicial do que benéfica”. E diz, com certza, que “se os países industria-lizados realmente querem ajudar os africanos deveriam finalmente cance-lar essa terrível ajuda. Os países que receberam mais ajuda ao desenvolvi-mento (nos últimos 40 anos) são os que estão em pior situação. Apesar dos biliões que foram despejados em África, o continente continua pobre.»Lázaro Mabunda, in Exame de Consciência

Desde que não haja um camarãocídio, tudo bem!«(…) em termos daquilo que é a nossa gestão, não prevemos que o camarão acabe. O que pode acontecer é não haver crescimento e acredito que jamais haverá muito mais camarão do que o que há, actualmente. Temos que ir para outras soluções como a aquacultura.»Cadmiel Muthemba, ministro das Pescas de Moçambique

Obama, escravo do teleponto«Quer se utilizem fichas com notas ou o teleponto, o povo americano está muito mais preocupado com o conteúdo dos planos do que com o método de transmissão. Isto nem sempre é assim para os média.»Bill Clinton, secretário de imprensa adjunto, a propósito da pretensa de-pendência de Obama em relação ao teleponto

Nouvelle Piraterie?«É tempo de o mundo dar aos somalis garantias de que estas actividades ocidentais ilegais cessarão quando os nossos piratas puserem termo às suas operações. Não queremos que a EU e a NATO protejam os bandidos que se desembaraçam dos desperdícios nucleares para cima de nós. Esta crise é uma questão de justiça. Os piratas de uns são a guarda-costeira de outros».K’Naan, poeta e cantor somali dissertando sobre a pirataria ao largo da Somália

EM ALTABIOCOMBUSTÍVEIS. O senado brasileiro aprovou uma parceria com o governo moçam-bicano para a produção de biocombustíveis, le-vando a que Moçambique venha a ganhar uma particular relevância em termos produtivos.

AGRITERRA. A organização Agriterra abriu o seu segundo estabelecimento agrícola de com-pra e processamento em Moçambique. O em-preendimento encontra-se localizado em Tete e foi implementado de acordo com a estratégia da bem sucedida companhia DECA no Chi-moio, que tem vindo a operar no mercado des-de 2005. As actividades em Tete encontram-se orientadas para a aquisição de milho.

GAPI. O Gapi e os Institutos Superiores Po-litécnicos reuniram-se com o objectivo de de-bater o modelo de incubação de empresas, que se espera vir a incrementar o autoemprego de jovens no país. Os estudantes são assim convi-dados a olhar para as zonas rurais como pólos de desenvolvimento, seguindo as estratégias de combate à pobreza.

SOMA E SEGUEDOADORES. Os 19 doadores e agências, que contribuem directamente para apoiar o Orça-mento de Estado moçambicano, prometeram um budget total no valor de 471.8 milhões de dólares para 2010. O valor representa um au-mento de seis por cento em relação aos 445.2

milhões de dólares de 2009.

EM BAIXA

TURISMO. A indústria do turismo é um dos sectores onde os efeitos da crise financeira in-ternacional têm sido evidentes. Em Moçambi-que, e segundo dados revelados pelo Governo, o fluxo de passageiros (por via aérea) que visi-tam o país para a prática do turismo registou uma queda de 25%.

PIB NA OCDE. A recessão económica no pri-meiro trimestre de 2009 foi particularmente intensa nos 30 países da OCDE. O PIB daque-les países regrediu 2,1% face ao trimestre pre-cedente, facto que representa a maior queda desde que a OCDE iniciou o registo destes da-dos em 1960. Por seu turno, a queda, face ao primeiro trimestre de 2008, registou-se na or-dem dos 4,2%.

PREÇOS. Dados recolhidos nas cidades de Ma-puto, Beira e Nampula, durante Abril de 2009, quando comparados com os do mês anterior, indicam que o país registou uma queda do nível geral de preços na ordem de 0,69%, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

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OPINÃO

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BREVES

Criado em Moçambique Conselho Nacional de Biocombustíveis

Com o objectivo de coordenar, supervisio-nar, monitorar e avaliar as políticas e as es-tratégias para a produção e a distribuição por sectores (público e privado) dos bio-combustíveis, com especial destaque para a produção do etanol e do biodiesel, foi criado durante a sexta sessão ordinária do Conselho de Ministros de Moçambique o Conselho Nacional dos Biocombustíveis. A entidade estabeleceu três etapas para a produção dos biocombustíveis, prevendo até 2015 o término da primeira fase piloto, já em curso; a segunda etapa, que é a ope-racional, vai até 2020 e a terceira e última fase, a de expansão da cultura, decorrerá de 2020 em diante.

Energia eléctrica com mais consumidores em Moçambique

O governo moçambicano aprovou uma estratégia para o sector energético que

permitirá o acesso anual de 90 mil novos consumidores à rede eléctrica no país.A estratégia visa passar a ter cerca de 3,5 milhões de utentes da EDM, o que signi-ficaria uma acentuada subida para mais 17% no número de beneficiados com a energia eléctrica no país.

Soluções para a Crise

Num momento de crise e à procura de en-tender como a Europa pode dar respostas e perspectivar soluções para a mesma, or-ganizou-se na cidade francesa de La Baule a Sétima Conferência Mundial de Investi-mento. A ocasião serviu para algumas em-presas apresentarem os seus relatórios de investimento para a Europa nos últimos tempos e demonstrarem que ainda é o ve-lho continente a parte do mundo que mais dinheiro atrai. Nesta conferência ficou também patente que os mercados emergentes – China, Ín-dia e América Latina serão os mais bene-ficiados nos projectos de longo prazo para acabar com a crise na Europa.

Turismo cresce 14% em Moçambique

O sector do turismo cresceu, nos últimos três anos 46,6 %, um ritmo dinamizado por um maior fluxo de turistas que vem cres-cendo rapidamente ao longo dos anos. 1,5 milhões no ano passado contra os 945 mil em 2005.O Governo moçambicano arrecadou 60,4 milhões de dólares de receitas de turismo internacional entre 2005 e 2008, o que cor-responde nesse período a um crescimento de 14 % em relação aos anos anteriores.

LAM agora governa na IATA Como resultado do bom desempenho e do enorme prestígio internacional que a transportadora aérea moçambicana tem ganho ao longo dos anos, a LAM, Linhas Aéreas de Moçambique, foi eleita pela IATA, Associação Internacional de Trans-portadores Aéreos, para fazer parte do seu Conselho de Governadores. O mandato tem a duração de dois anos (até 2011) e a LAM far-se-á representar pelo seu Presidente do Conselho de Adminis-tração, Eng. José Viegas, que com mais 30 individualidades do ramo, tem a função de definir práticas para a indústria aeronáu-tica e salvaguardar os interesses das 226 companhias afiliadas à associação.

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FOCO

Ednilson Jorge

As metas são ambiciosas, mas já foram aprovadas, e agora só resta mesmo esperar para ver. Até 2012 preten-

de-se recuperar o sector têxtil nacional, o qual deverá empregar à volta de cem mil trabalhadores efectivos, e especializar-se de forma a incentivar o ressurgimento da pro-dução artesanal de confecções tipicamente moçambicanas, fazendo com que o país dei-xe de ser apenas fonte de matéria-prima e passe igualmente a manufacturar.

Para atingir essa meta, o Governo fez con-cessões generosas. Contudo, reinam entra-ves como a proliferação da venda de roupa usada, negócio este que assassina a indús-tria têxtil. Entretanto, há indicações de que estão em curso medidas que vão inverter o actual curso deste negócio (tudo em nome do interesse da economia nacional), no que tange à abertura de mais postos de trabalho e ao tão almejado crescimento económico.

O reconhecimento de que a roupa usada, vulga calamidades, tem prejudicado o res-surgimento da indústria têxtil muito embo-ra seja divulgada a ideia de que, no sector informal, a venda de calamidades é uma oportunidade de negócio para diversas fa-mílias que vivem com rendimentos inferio-res a um dólar por dia.

“A venda de roupa usada resolve o pro-

blema individual, mas constitui um entrave para o desenvolvimento do sector. Teremos que encontrar formas de fazer funcionar a indústria têxtil, de modo a competir no mercado internacional”, reconhece o porta-voz do Conselho de Ministros, Luís Covane.

Entre as concessões oferecidas aos inves-tidores do sector têxtil, a mais requintada relaciona-se com a colecta de impostos. O Governo ofereceu 10 anos de operação sem o pagamento de impostos. A par desta me-dida, estão a ser criadas facilidades para a importação dos meios de trabalho deste sector.

Deste modo, o Governo espera que ocorra a integração vertical dos sectores de algo-dão, têxteis e de confecções, baseando-se no incremento da produção do algodão, na me-lhoria do ambiente de negócios e na amplia-ção da disponibilidade de energia eléctrica para a atracção de investidores.

Calcula-se que com tão grande espaço de tempo, monstros da indústria téxtil, tais como a Texlom, sediada em Maputo, e a Te-xmoque, em Nampula, se possam soerguer dos escombros e atrair um grande exército de jovens, actualmente, votados ao desem-prego. Aliás, depois de inúmeras demar-ches, a Texlom acabou por ficar a cargo do Grupo Agha Khan para o Desenvolvimento,

As empresas Texlom e Texmoque irão criar cerca de mil postos de trabalho e vão operar livres de impostos durante dez anos. Por outro lado, estima-se que possam ser criadas indústrias capazes de absorver 40 mil trabalhadores, em Beluluane, 30 mil em Nacala e outros 30 mil em Dondo.

grupo este que passou a denominar aquela empresa de Moztec, denominação esta que vai levar o seu tempo para se tornar famosa. Enquanto o tempo resolve o problema do nome, a Texlom, ou Moztec, está passar por um período de instalação de equipamento e de licenciamento da actividade, ao mesmo tempo em que se avaliam as capacidades das 600 mulheres que vão integrar o pri-meiro grupo de trabalho naquela unidade fabril.

Enquanto isso, outro grande monstro da indústria têxtil nacional, a Texmoque, adop-ta o nome de Nova Texmoque que lhe foi atribuída pelo grupo Mohamed Enterprises, da Tânzania. O complexo fabril da Nova Te-xmoque está a ser reabilitado e, no decurso deste ano, vai iniciar a produção de capulanas recorrendo a uma mão-de-obra estimada em 130 trabalhadores. Para o efeito, estão a ser publicitados espaços ideiais para a materia-lização de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), sendo de destacar as Zonas Econó-micas Especiais de Beluluane, na província de Maputo; Nacala, em Nampula; e Dondo, na província de Sofala. Para estes três locais, há indicações de que poderão ser criadas in-dústrias capazes de absorver 40 mil traba-lhadores, em Beluluane, 30 mil em Nacala e outros 30 mil em Dondo.

O despertar dos monstros

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ENTREVISTA

Miquelina Menezes

A mulher enérgica

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O Fundo de Energia é a menina dos seus olhos, o FUNAE de muitas es-peranças e alguns “combates” no

país interior, longe da macrocefalia de Ma-puto e das tecnocracias dos gabinetes. Mas o seu coração também bate pela AMECON, Associação Moçambicana de Economistas. E que dizer da sua ligação à Faculdade de Economia da UEM?

Tem uma vida e um percurso ligados à energia e é esta que ressalta da sua figu-ra, magra e seca. Um olhar perscrutador e um sorriso fácil personalizam-lhe o rosto onde as rugas da sabedoria acumulada já rasgaram sulcos, emoldurados agora pelos cabelos curtos que se enriquecem de mati-zes grisalhos.

A Dr.ª Miquelina Menezes é uma mulher de paixões e de desafios.

A independência de Moçambique apa-

nhou-a com 21 anos, uma carreira a ini-ciar, os estudos a avançar, uma família em perspectiva.

Viveu intensamente aqueles tempos, aju-dou a construir um país novo, lutou pela mudança de mentalidades, mas nunca se deixou contagiar pelo feminismo. “Não me considero feminista porque eu acho que as mulheres devem ser res-peitadas e valorizadas pelas suas ca-pacidades. Aquilo a que eu me sinto com direito tenho de lutar por isso, acho que não o devo merecer por ser mulher, mas sim por aquilo que sou capaz de fazer.”

Com tantas actividades e envolvendo-se nelas profundamente poder-se-ia pensar que o tempo lhe escasseia e lhe falta para se encontrar consigo própria e com a fa-mília. “Sobra-me tempo para mim,

não muito mas eu tento organizá-lo. Quero ter tempo para a minha fa-mília, não é uma coisa muito fácil, principalmente porque eu gosto das coisas que estou a fazer.

Gosto de dar aulas, gosto do traba-lho que faço no FUNAE e também gosto de estar na AMECON, embo-ra o associativismo seja uma coisa muito complicada. Mas acho que por gostar de fazer isto, consigo organi-zar o tempo, apesar de o fim-de-se-mana, para mim, ser sagrado.

Procuro dedicá-lo a mim, à minha família e procuro, sempre que pos-sível não marcar trabalho para essa altura da semana.”

Nota-se-lhe a preocupação permanente com a unidade familiar. É como que um lamento em relação às inúmeras vezes em

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que o seu trabalho a forçou a ausentar-se, a afastar-se desse núcleo de onde parece tirar a sua força interior. “Os meus filhos agora já estão crescidos, já compre-endem melhor as minhas obrigações, mas na verdade, principalmente os mais velhos, sofreram muito porque muitas vezes não suportavam bem a ausência da mãe.

Mas eu penso que eles conseguiram compreender, entender que era im-portante.

Hoje em dia, apesar de já estarem crescidos, ainda me dão aquele ca-rinho que é necessário para eu fazer tudo o que faço.”

Quando lhe perguntamos se pensa que eles têm muito orgulho na mãe emoldura o rosto com um sorriso tímido e responde num fio de voz “acho que sim, não sei, mas acho que sim”

E passa ao assunto anterior, disfarça a emoção. “Eu faço o que gosto e gosto do que estou a fazer, e faço-o de cor-po e alma, como se costuma dizer.

Quando me é dada uma responsabi-lidade, é-me também dada uma certa confiança e eu faço, pelo menos, por merecer essa confiança e isso impli-ca que vá de corpo e alma.”

Sempre assim fez desde que se conhece. Empenha-se a fundo em tudo o que faz e

procura fazê-lo da melhor maneira.Não vira a cara aos desafios por maiores

que sejam.Já era assim no quase longínquo ano de

1975.“Os tempos da independência cons-

tituíram um grande desafio, princi-palmente no lugar onde eu trabalha-va, o Entreposto Comercial, e ainda porque era estudante trabalhadora, foi um desafio porque” ressalva que há coisas que se dizem e não são politicamen-te correctas, mas di-las na mesma “naque-le lugar era um pouco complicado, mesmo em relação à independência de Moçambique.

Eu na época fiz parte dos grupos dinamizadores, o que não era tare-fa fácil nessa altura e naquele lugar, mas digo-lhe que foi uma experiên-cia excepcional.

Aprendi muito como profissional no Entreposto porque, apesar dos pesares, havia muito profissionalis-mo. O Entreposto era uma empresa de referência nessa altura e ainda o é actualmente.”

No Entreposto trabalhou na Carbonífe-ra e, após a independência, passou para a empresa de carvão do Estado, a Carbomoc. Nessa altura foi criada uma Secretaria de Estado do Carvão e dos Hidrocarbonetos , ficaram juntos e separados do resto dos recursos minerais, então deixou a empresa e passou a trabalhar para o Estado.

Revive a época que classifica como con-turbada e exigente, as pessoas tinham de desdobrar-se, tais eram as solicitações.

A chegada da província, as dificuldades de comunicação, o novo tecido social que a envolvia.

“Vivia-se um período muito tumul-tuoso, havia movimento, não era fácil ter tempo para tudo, tinha de namo-rar, tinha de fazer todas essas coisas que toda a gente faz naturalmente e, para mais, andava a estudar.

Realmente foi um momento dife-rente da minha vida. Eu venho de Inhambane, de uma província, e ve-nho para a capital, venho estudar,

chego a um local completamente diferente, onde as pessoas não se conhecem, é muito mais complica-do arranjar amizades. Eu consegui arranjar amigos nessa altura, e as minhas amizades consolidaram-se com o tempo, exactamente com pes-soas que também vinham de outras províncias. Os desenraizados junta-ram-se e acabámos por nos tornar amigos, lembro-me que no Instituto Comercial eu até jogava futebol, fa-zia parte do grupo e partilhávamos tudo isso.”

Manteve uma actividade ligada ao car-vão e aos hidrocarbonetos durante quase 20 anos e é presidente do FUNAE desde 1998. Não será difícil concluir que gosta do que faz e se mantém por muito tempo nos postos de trabalho que ocupa. “Sou uma mulher de ligações duradouras. Mas sabe que quando vim para o FU-NAE chorei muito, gostava do sítio onde estava a trabalhar, gostava do relacionamento que já tinha criado, achava que era um grande desafio entrar num sector novo, completa-mente novo, mas no dia em me tira-rem daqui também vou chorar, pelas mesmas razões.”

Os olhos ficam brilhantes quando abor-da este assunto. Não procura louros para si, encarrega-se de distribuí-los pelos que consigo contracenam. “Sinto-me feliz porque no início o FUNAE era eu e hoje é esta instituição. Eu sinto um certo orgulho por isso, comecei do nada, com muitas dificuldades e con-segui formar esta realidade.

Esta equipa que criámos no FUNAE é uma equipa de jovens, eu acho que são eles que fazem crescer a institui-ção.”

Mas como terá sido o início? Como terá nascido o Fundo de Energia? Não necessi-ta de muito tempo para responder, é como se tivesse repetido milhares de vezes a ex-plicação. “Fez-se um decreto e depois disseram-me: olha, está aqui no de-creto e agora, desenrasca-te.

Por isso é que eu também chorei muito. Como é que vou fazer, como é que se faz?

Não tinha instalações, nem lugar, nada. Mas tive a ajuda dos meus che-fes, apoiaram-me, aconselharam-me e lá consegui levar o barco a bom porto.”

Hoje prossegue o caminho traçado há mais de uma década. Conhece de cor os projectos e sabe que está a contribuir na luta contra a pobreza, no combate à deser-tificação do Interior.

“O objectivo principal do FUNAE é levar a energia às zonas rurais de molde a contribuir para o desenvol-vimento social e económico do país,

ENTREVISTA

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Fazemos apelo à energia eólica para irrigação, fotovoltaica, geradores e vamos agora iniciar a criação de mini hídricas para aproveitar os recur-sos naturais de determi-nadas regiões. ”

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ENTREVISTA

e também encontrar formas de obter energia a baixo custo de molde a que as pessoas das zonas rurais possam ter acesso à escola nocturna, a ou-tros benefícios, tendo em conta que a rede eléctrica tradicional, em cer-tos locais, não vai chegar tão cedo.

Fazemos apelo à energia eólica para irrigação, fotovoltaica, gerado-res e vamos agora iniciar a criação de mini hídricas para aproveitar os recursos naturais de determinadas regiões. ”

As compensações para tanto esforço des-pendido, encontra-as nos frutos do traba-

lho realizado, na observação das modifica-ções estruturais dos lugares e aldeias por onde passa o FUNAE. “Um dos nossos objectivos é fazer muito trabalho, mas em pequenas coisas e em peque-nas comunidades.

Quando vamos a locais que já fo-ram electrificados, aqueles em que o FUNAE já passou por lá, sentimos uma diferença enorme.

As pessoas começam a ter acesso a pequenas coisas como carregar o celular, como a bomba de água eléc-trica, criar regadio, ter aulas à noite, ter um centro de saúde onde as mu-lheres possam ter um parto mais se-guro e ser tratadas à noite.

Todas estas diferenças são senti-das pelas pessoas que lá vivem e nós

também sentimos que há um certo desenvolvimento.

Por exemplo, os professores que não tinham forma de preparar as suas aulas à noite e podem agora fazê-lo, ver televisão, ouvir rádio, tudo isto.”

Mas para chegar a esse estádio é neces-sário construir um “dossier” sólido, os re-sidentes locais terão de envolver-se, assim como as estruturas comunitárias. Mique-lina Meneses explica a génese de todo o processo.

“É condição, para haver projecto de electrificação, que as populações também participem financeiramen-te. Por isso no início nós vamos lá e dizemos: nós queremos fazer isto mas vocês têm de participar.

Doutra forma as pessoas não sen-tem como se lhes pertencesse. É a estória do peixe, em vez de lhes dar-mos o peixe ensinamo-los a pescar.

Quando lá vamos fazemos um le-vantamento, reunimos com as po-pulações, mostramos o que se pode fazer, o que queremos fazer e aí já está a iniciar-se o projecto.

E as pessoas participam, quando voltamos mais tarde encontramos uma lista enorme de pessoas que também já querem entrar no pro-cesso.”

Mostra orgulho no que diz, fala com facili-dade das diversas fases dos projectos e vê-se que é no terreno que se sente feliz, no con-tacto directo com as populações, no aquilatar do trabalho realizado. “Porque ali vê-se o resultado. Quando lá voltamos após o arranque dos projectos o sentimento de satisfação é enorme, é gratificante.

E este sentimento de satisfação é multiplicado pelo número de projec-tos em que o FUNAE se envolve, até hoje foram mais de 400 que viram a luz do dia e melhoraram as condições sociais e económicas das populações envolvidas.”

Apesar de ter uma estrutura aligeirada existem representantes de vários Minis-térios no Conselho de Administração do FUNAE, Recursos Minerais e Energia, Pla-no e Finanças, Indústria, Comércio e Tu-rismo, além de Agricultura e Pescas. Será que nesta miscelânea de interesses não haverá quem puxe a brasa à sua sardinha? “É evidente que isso acontece mas devo dizer que tenho muita sorte. De facto este CA funciona bem, as pes-soas entendem-se muito bem, fazem um esforço muito grande para estar presentes, porque apesar de serem membros indicados têm as suas ta-refas nos seus locais e trabalho e nós fazemos reuniões semanais para

A economista Há um crescimento na economia

moçambicana, há mudanças que se vêem na nossa economia. Claro que este ano nós não teremos um cresci-mento como era desejável, derivado de alguns problemas que vão aconte-cendo e originados pelo agudizar da crise económica e financeira.

Não poderemos dizer que a economia moçambicana não esteja bem, está de boa saúde. Mas claro que ela é influen-ciada por factores externos em relação aos quais é necessário que se tomem algumas medidas para continuarmos a ter um crescimento razoável.

Quando se fala de crescimento há pessoas que podem dizer “ok, mas esse crescimento nós não o sen-timos nos nossos bolsos, onde está esse crescimento?”

É verdade que não se vê o aumen-to directo dos nossos salários, mas sente-se que aumentam outras con-dições que melhoram a qualidade de vida dos moçambicanos. Temos mais escolas, mais centros de saúde, mais universidades, mais frequência do ensino superior, são medidas de crescimento mais abrangentes em termos colectivos e que, às vezes, as pessoas não sentem imediata nem di-rectamente.

A AMECON (Associação Moçambi-cana de Economistas) prepara uma reflexão sobre a crise actual e sobre os efeitos que terá em Moçambique, a curto, médio e longo prazos.

Os economistas moçambicanos pre-ocupam-se com essa realidade pois ela poderá ditar um abrandamento do crescimento económico, um au-mento do desemprego. Isso significa que o desenvolvimento económico pode não se verificar com a velocida-de que se pretende.

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ENTREVISTA

vermos todas as actividades, e eles acompanham.

Sou uma mulher satisfeita nesse sentido, em que a participação dos membros do CA é efectiva.”

No decreto de criação prevê-se que o FUNAE cative receitas provenientes de sete actividades diferentes, além dos em-préstimos, investimentos, doações e dos subsídios inscritos no Orçamento Geral do Estado (OGE). Apesar de tantas fontes, a presidente do Fundo de Energia não reco-nhece que exista desafogo económico no seu organismo. “As receitas do FUNAE podem de facto vir de muitos lados diferentes mas são sempre poucas, as percentagens incidem sobre pe-quenas verbas.

O orçamento não é assim tão desafo-gado, dá para sobreviver. Felizmente temos outros recursos, o OGE, re-cursos dos doadores que financiam alguns projectos, ainda do Banco Mundial, recursos dinamarqueses, da Noruega, são eles que financiam também a nossa actividade.”

Um dos instrumentos de planificação do FUNAE é o Plano Estratégico (PE). O que está em curso iniciou-se em 2008 e irá até 2010, mas será assim tão simples passar da teoria à prática? E será fácil atingir metas e objectivos propostos?

“Em termos de beneficiários, con-seguimos atingir aquele número que estava previsto. Aprendemos muitas lições, uma das coisas importantes que aprendemos com a implementa-ção do PE foi como devemos planifi-car para termos resultados objecti-vos em cada momento.

Com o anterior nós só víamos os re-sultados no ano seguinte, agora des-cobrimos que devemos acompanhar o desenvolvimento em tempo quase real e corrigir de imediato o que tem de ser corrigido.

Descobrimos também que devemos partilhar a informação com outras instituições. É o exemplo concreto do órgão de consulta criado no FU-NAE. Trata-se dum organismo que engloba várias instituições que têm oportunidade, através do nosso pla-no estratégico, de emitir pareceres sobre as actividades previstas. Quer propondo a sua supressão ou me-lhoria, quer avançando com outras propostas e sugestões.

Para a elaboração do actual PE fun-cionou em pleno a colaboração com instituições exteriores ao FUNAE e integrantes do órgão de consulta. Recebemos colaborações preciosas que nos ajudaram a melhorar a nos-sa oferta, até como melhorar a nos-

BiografiaMiquelina de Menezes Lopes de Carvalho

Julien tem 55 anos, é casada, tem três filhos, nasceu em Inhambane mas adoptou Mapu-to como lugar para viver.

É licenciada em gestão de empresas desde 1989, com uma pós-graduação em direito de empresas, concluída em 2002.

É presidente do Fundo de Energia (FU-NAE) desde 1998, presidente do Conselho de Gestão da AMECON (Associação Mo-çambicana de Economistas) e docente a tempo parcial na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane.

Entre 1998 e 2000, foi responsável pela Unidade de Implementação do Impos-to sobre o Valor Acrescentado (IVA) num projecto comum ao FMI e Ministério das Finanças.

Foi ainda, entre outros cargos de direcção, Presidente do Conselho de Administração da Companhia de Desenvolvimento Minei-ro, Directora Nacional Adjunta dos Hidro-carbonetos e Chefe do Departamento e For-mação de Quadros na Secretaria de Estado do Carvão e Hidrocarbonetos.

Concluiu um curso de geologia e de pe-tróleos para economistas e outro de plani-ficação e direcções de empresas, na UEM. Participou em seminários sobre energia e trabalhou em análise e financiamento de projectos de investimentos em Portugal.

Movimenta-se com facilidade no campo das novas tecnologias e não dispensa o com-putador como instrumento de trabalho.

A família ocupa uma parte importante dos seus tempos livres, gosta de cozinhar.

A professoraO ensino é uma paixão. É uma coisa que

faço com muito prazer e muito gosto.Gosto de ensinar, gosto de corrigir os

testes, gosto de falar com os alunos.Isso exige de mim um certo sacrifício e

uma grande disciplina que nem sempre consigo respeitar.

Gostaria de ter uma participação mais activa na Universidade Eduardo Mon-dlane, mas infelizmente não tenho tem-po para fazer isso.

Quando estou na universidade tudo o resto está esquecido, estou ali de corpo e alma, de facto, e faço-o com muito pra-zer.

Sempre fiz muitas coisas na vida e quando tenho tempo livre, por exemplo nas férias da universidade, ando sempre à procura de algo para fazer.

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sa relação com outras instituições.”Tudo parece correr de feição nas esferas

do FUNAE. Até a actual crise económica e financeira passa ao lado, como se qui-sesse evitar imiscuir-se em assuntos tão importantes como o combate à pobreza absoluta. “Não estamos a sentir que haja alguma redução dos doadores. Pelo contrário, tem havido muito interesse em olhar para os nossos programas e projectos.”

E como a confirmar esta constatação da Drª Miquelina Meneses, não resistimos, para finalizar, a transcrever uma das frases proferidas durante a grande entrevista que concedeu à Revista CAPITAL: “Acho que tive muita sorte na vida. Tive oportu-nidades e agarrei essas oportunida-des.”

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ENTERVIEW

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The Energy Fund is the apple of her eye, FUNAE of many hopes and in-land struggles, away from Maputo’s

macrocephaly and technocracies of the cabinet. Nevertheless, her heart also beats for AMECON, Mozambican Association of Economists. What about her connection to the Economics Faculty at UEM?

She has both her life and pathway con-nected to energy, standing out as a cut and dry picture. A profound look and easy

smile personalizes the face where wrinkles of accumulated wisdom have already torn ridges, framed by short hair that’s enriched with grayish shades.

Dr. Miquelina Menezes is a passionate and challenging woman.

The independence of Mozambique took place when she was 21 years, with a career to commence, studies to advance, a family in sight.

She lived those times with intensity,

helped to build a new country, fought for a new mindset, but never allowed herself to be tainted by feminism. “I’m not consid-ered a feminist because I think that women must be respected and val-ued for their capacities. That which I rightly feel I will fight for, I think I shouldn’t deserve it because of being a woman, but rather for what I am able to do. ”

With many activities and involvements one would think that she lacks time for herself and family. “I have enough time for me, although not much, but I try to organizing it, I want to have fam-ily time, it’s very difficult, mainly be-cause I like what I am doing.

I enjoy teaching, the work which I do at FUNAE and also like being at AMECON, though this association is very complicated. Since I enjoy doing this, I manage to organize my time, the weekends being sacred to me.

I try to give time to myself and fam-ily, and whenever possible, avoid booking work for that time of the week. ”

Constantly concerned with family union. Almost lamenting the countless times in which her work took her away, removing her from the core where seemingly she draws her inner strength. “My children are now adults, and understand my obligations better, in fact, the eldest suffered most because they did not cope well with my absence.

I suppose what’s important is that they managed to understand.

Nowadays, in spite of being adults, they still give me the affection I need to handle everything I do. ”

When we ask if she thinks that they are proud of their mother, a shy smile frames her face and she answers in a shallow voice “I think so, I don’t know, but I think they do.”

She changes the subject, disguising her emotion. “I enjoy what I do, doing so with mind, body and soul, as it’s said.

When I am given responsibilities, I am also granted certain trust, and minimally to deserve this also im-plies the giving of my all. ”

She has done so since she has been known.

She throws herself in the deep end of ev-erything, doing it the best possible way.

She never shies away from challenges, no

Miquelina Menezes

The energic woman

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matter how big.This was already so in the almost distant

year of 1975.“The time of independence was

challenging, particularly at Entre-posto Comercial where I worked, and because I was a working student it was challenging, safeguarding the po-litically incorrect things which are said all the same, ”that place was very com-plicated, even in relation to the inde-pendence of Mozambique.

During that time and place I was involved with dynamic groups which weren’t an easy task, but I tell you, it was an exceptional experience.

I learnt a great deal as a profession-al at Entreposto because, despite everything, there was much profes-sionalism. Entreposto was then rep-utable, just as it is now. ”

She worked at Entreposto on the Car-boniferous side and, after independence, moved onto Carbomoc the State coal en-terprise. At that time the General office of State was created for coal and hydrocar-bons, where these were amalgamated apart from the rest of the mineral resources, thus leaving the company commencing work for the State.

She recalls the time which is classified as troubled and demanding, when people had to bend over backwards.

With her arrival from the province, diffi-culties with communications, a new social structure was enveloping her.

“A very tumultuous period was sur-vived, there was movement, it wasn’t easy to make time for everything, had to date my partner, and do all the things that everyone naturally does and, furthermore, was studying.

It was a really different time in my life. I came from the province of In-hambane, to study in the capital, in a completely different place, where people don’t know each other; more complicated to establish friendships. I managed to make friends, which were consolidated with time, pre-cisely with people from other prov-inces. The uprooted gathered and we ended friends, I recall playing football at the Commercial Institute, I was part of the group and we were shared everything. ” Maintaining her activity connected with coal and hydrocar-bons for almost 20 years and as the presi-dent of FUNAE since 1998. It’s not difficult to conclude that she likes what she does and has occupied her posts for lengthy pe-riods of time. “I am a woman of lasting connections. But when I came to FU-NAE I cried considerably , I enjoyed

where I was working, and the rela-tionships created, although it was a great challenge to enter a completely new sector, yet the day I’m taken away from here, I’m going to cry, for the same reasons. ”

Her eyes light-up when she discusses this subject. She doesn’t seek laurels, rather dis-tributing these amongst the co-workers. “I feel happy because in the beginning I was FUNAE today it’s an institution. I feel proud; I began from nothing, with difficulties and managed to cre-ate this reality.

We created FUNAE with a team of young people; whom I believe to be the evolution of this institution.”

How was the beginning? How was the Energy Fund born? She doesn’t need much time to answer; it’s as if this explanation has been repeated a thousand times. “A decree was drawn up and then they told me: look, its here in the decree, now take it on.

This is also the reason I cried con-siderably. How am I going to do it? How is it done?

I had no basis, nor premises, noth-ing at all. I had help from my supe-riors, whom supported and advised me, and I managed to take the boat to a good port. ”

She proceeds the way paved for more than a decade. She knows the color of the projects and its contribution in the strug-gle against poverty, in the battle against inland desertion.

“FUNAE’S main objective is to take energy to the rural areas adding to the contribution of social and eco-nomical development of the country, and also finding means of obtaining low cost energy for people in the ru-ral areas whom could have access to nocturnal schooling, as well as other benefits. I take into account the fact that traditional electricity, in certain places, is not going to happen soon enough.

We resort to Aeolic energy for irri-gation, photovoltaic, generators and now about to begin the creation of mini hydro’s for use with the natural resources of determined regions.”

The compensation for the effort is found in the fruit of accomplishments and in ob-served structural changes of the places and villages where FUNAE has been. “One of our objectives is to do much work, in small things and in small communi-ties.

When we go to places that are al-ready electrified, in which FUNAE has already been we feel an enor-mous difference.

People now have access to small things such as being able to charge cell phones, have electrical water pumps, irrigation systems, have noc-turnal classes, a health centre where

“We resort to Aeolic energy for irrigation, photovoltaic, genera-tors and now about to begin the creation of mini hydro’s for use with the natural re-sources of determined regions.”

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the women can have safe childbirth and be treated at night.

All these differences are felt by the people living in these areas; just as we do. For example, teachers had no means of preparing for nocturnal classes, can now do so, watch televi-sion, listen to the radio, and more.”

To reach this stage it’s necessary to build a foundation, and the local residents will have to become involved, as well as the communitarian structures. Miquelina Meneses explains the origin of the whole process. “There’s a condition, that in order for the project of electrifica-tion to happen, the population also participates financially. Therefore in the beginning we go there and say: we want to do this but you will have to participate.

In another words people will not feel that this belongs to them. It’s the

fish story, instead of giving them the fish; we teach them how to fish.

When we go there, we join the popu-lation, show what can be done, what we want to do, and project begins.

People participate, and when we return we find an enormous list of people wanting to get involved in the process. ”

Showing pride in what she says, speaking easily of the several phases of the projects and it’s noticeable that she feels happiest in the field, in contact with the population, evaluating the fulfilled work. “Results are seen. When returning after project start-up there’s feeling of tremen-dous satisfaction, it’s gratifying.

This feeling of satisfaction is multi-plied by the number of projects FU-NAE is involved in, until today there are more than 400 who saw the light of day and improved their social and economical conditions of the enfold-ed population. ”

In spite of having a growing structure there are representatives from several Ministries on the board of directors of FUNAE, Mineral Resources and Energy, Planning and Finances, Industry, Com-merce and Tourism, as well as, Agriculture and Fisheries. Is it not in this miscellany of interests that there will be one who pulls the hot coal to his sardine? “It’s obvious that this happens, but I must say that I am very lucky. In fact this BD works well, the members understand one other, endeavor to be present, be-cause in spite of being suitable mem-bers they have their own tasks at their work place, meeting weekly to view all the activities, and they fol-low up.

I am a pleased woman in the sense, that the participation of the BD mem-bers is effective. ”

In the concept decree it’s predicted that the FUNAE will captivate income originat-ing from seven different activities, besides

The economist

There’s growth in the Mozambican economy; there are noticeable changes in our economy. It’s clear that this year we will not see the desired growth, due to certain problems originating from the economical and financial crisis that oc-cur.

We cannot say that the Mozambican economy is unwell, it’s sound. Clearly influenced by external factors against which it’s necessary that we take steps to maintain reasonable growth.

When one talks about growth people can say “Ok, but we don’t feel any increase in our pockets, where’s this growth?”

It’s true that we don’t see a direct sal-ary increase, rather noticing growth in other conditions which improve the Mo-zambican quality of life. We have more schools, more health centers, more uni-versities, increased attendance in higher education, noticeable measured growth in collective terms, which sometimes; people don’t have immediate nor direct impact.

The AMECON (Mozambican Associa-tion of Economists) prepares a reflec-tion on the current crisis and its effect on Mozambique, in short, middle and long term.

The Mozambican economists are con-cerned about this fact since they will be able to dictate a slowing of the eco-nomical growth, and increased unem-ployment. That means that economical development cannot occur at the pre-tended speed.

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loans, investments, donations and subsi-dies registered with the General Budget of the State (OGE). In spite of so many sources the president of the Energy Fund does not acknowledge the existence eco-nomic relief in this body. “The income of FUNAE can, in fact, come from many different sources but barely enough, the percentages occur on small al-lowances.

The budget is unsteady, allowing survival. Fortunately we have other resources, the OGE, resources of the donors who finance some projects, also the World Bank, Dane resourc-es, from Norway, whom also finance our activity. ”

One of the instruments of planning of the FUNAE is the Strategic Plan (PE). Which currently runs began in 2008 going onto 2010, will it be simple to move from theory to practical? And will it be easy to reach your proposed objectives?

“In terms of beneficiaries we man-age to reach the number that was predicted. We’ve learnt a lot, one of the important things learnt with the implementation of PE was how we should plan out to have objective re-sults with each passing moment.

Previously we were only seeing the results the following year, now dis-covering that we should’ve accompa-nied the development and immedi-ately corrected all needed.

We discovered also that we should share information with other insti-tutions. It is the concrete example of the consulting body created at FUNAE. This is a body that includes several institutions that have oppor-tunity, through our strategic plan, of giving out advice regarding the pre-dicted activities. Either proposing abolition or improvement, or just advancing with other proposals and suggestions.

To elaborate on the present PE, it’s fully functioning in collaboration with external institutions to FUNAE and integral to the consulting body. We receive precious cooperation that helps us to improve our service, as well as how to improve our rela-tionship with other institutions. ”

It seems that everything runs methodical-ly in the spheres of FUNAE. Even the cur-rent economical and financial crisis passes on the wayside, as if it wants to avoid in-terfering in subjects as important as the struggle against absolute poverty. “We do not feel that there’s a reduction of donors. On the contrary, there has been great interest in looking at our programs and projects. ”

Confirming this observation of Dr.

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Miquelina Meneses, we don’t resist, in finalizing, by transcribing one of the sentences uttered during the great in-terview that was granted to CAPITAL magazine “I think that I was very lucky in life. I had opportunities and seized them. ”

The teacher

Teaching is a passion. It’s something that I do with pleasure and enjoy-ment.

I like teaching, correcting tests, and speaking to students.

This demands certain sacrifice and great discipline which I do not always respect.

I’d like to have active participation at the University Eduardo Mondale but unfortunately I have no time to do that.

When I am at the university all else is completely forgotten, I’m there in body and soul, in fact, and do so with much pleasure.

I’ve always done many things in life and when I have free time, for example during university holidays, I search for something to do.

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BiographyMiquelina de Menezes Lopes de Carv-

alho Julien is 55 years old, married, with three children, born in Inhambane but ad-opted Maputo to live.

She has a degree in business manage-ment since 1989, with post graduation in company law, concluded in 2002.

She is president of the of Energy Fund (FUNAE) since 1998, president of the Board of Directors of AMECON (Mo-zambican Association of Economists) and part-time teacher at the Faculty of Eco-nomics of the University Eduardo Mond-lane.

Between 1998 and 2000 she was respon-sible for the Tax Implementation Unit on Added Value (IVA) in a joint project for the IMF and Ministry of the Finance.

She was, in other management positions, President of the Board of Directors of the Mining Development Company, Assistant National Director of Hydrocarbons and Head of the Department and Staff Train-ing in the General State office for Coal and Hydrocarbons.

She finished a course of geology and petroleum for economists and another of company planning and management, in the UEM. She participated in seminars on energy and worked in project analysis and financing of investments in Portugal.

Moves easily in the field of the new tech-nologies and doesn’t dispense the com-puter as a working tool.

The family occupies an important part of her free time, enjoys cooking.

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Federico Vignati* e Luís Sarmento** (texto) . Helga Nunes (foto)

Nos últimos anos, a cidade de Mapu-to tem mostrado uma forte capaci-dade para se posicionar no sector

do Turismo de maneira competitiva. Isto manifesta-se de maneira evidente pelo facto de Maputo ser responsável por 40% do volume total das receitas derivadas do turismo em Moçambique.

O dinamismo do sector constata-se pelo aumento progressivo da oferta de bares, restaurantes e diversos tipos de acomoda-ção. Por outro lado, verifica-se um aumen-to sensível na qualidade e quantidade de eventos culturais de entretenimento, entre demais actividades associadas ao sector turístico. Tudo isto num período de tem-po relativamente curto, o que manifesta a criatividade, vitalidade e vocação da cida-de para o turismo.

Quem visita Maputo facilmente se aper-cebe de que a cidade se está a tornar numa capital multicultural. Um conjunto de fac-tores corrobora isto, podendo destacar-se a forte presença de agências de cooperação, de ONG´s estrangeiras, além da presença de importantes empresas multinacionais que possuem os seus escritórios regionais sediados na capital moçambicana.

A multiculturalidade de Maputo resulta e se sustenta, sobretudo, pela sua base de identificações constituída por uma diver-sidade étnica e sóciocultural que confere à cidade a vibração de uma urbe jovem, em expansão e com uma forte capacidade para atrair e desenvolver talentos. Evidente-mente que tudo tal cenário agrega valor à imagem da cidade e à experiência turística, tornando-a mais rica e multidimensional.

Tendo como pano de fundo a organização do Campeonato Mundial de Futebol a de-correr na África do Sul em 2010, e de acor-do com o ciclo de crescimento económico vivenciado, a cidade está a receber inves-timentos importantes para a revitalização das acomodações. São estes os casos do Hotel Polana, Hotel Cardoso, Indy Village, entre outros actualmente em estado de re-forma para além de outros novos investi-mentos em curso.

De acordo com o Ministério do Turismo, entre 2008 a 2009, 40 milhões de dólares norte-americanos estão a ser investidos no sector do turismo na Cidade de Maputo. Os projectos apresentados pelos investidores indicam que este capital irá gerar direc-tamente 3.240 empregos novos e outros 9.720 postos de trabalho de forma indirec-ta, a nível local.

Ao mesmo tempo, outras actividades importantes ligadas ao sector do turismo estão a ser objecto de apoio adicional do Governo e instituições locais e internacio-nais de desenvolvimento, com particular destaque para as áreas de cultura e forma-ção vocacional.

Na área cultural, é possível identificar iniciativas marcadas através de eventos

teatrais, musicais, espectáculos de dança e manifestações culturais tradicionais re-sultantes de esforços levados a cabo por promotores culturais privados e do sector público. Aqui se pode destacar nas artes e no artesanato a CEDARTE, a ANARTE, o Cantinho dos Artesãos e o Programa de In-dústrias Criativas da UNESCO.

Na área de formação vocacional, a SNV tem realizado um importante trabalho de assessoria técnica com os órgãos compe-tentes, contribuindo para uma unificação dos critérios de formação. Assim mesmo, está sendo desenvolvida uma iniciativa em parceria com o governo brasileiro, e com o SENAC em particular, no sentido de for-talecer a capacidade institucional nacional para a capacitação dos profissionais do sector.

O ciclo de desenvolvimento do turismo na Cidade de Maputo deve ser estimulado como forma de minimizar e superar os im-pactos da crise financeira internacional e tirar vantagem da actual situação.

Nesse sentido, surgem vários desafios como meio de capitalizar a presente estabi-lidade social e política; a forma particular de ser e de estar dos citadinos de Maputo e o ambiente vibrante de que a cidade goza. De igual modo, é importante tirar parti-do do ambiente de negócios inovadores e criativos que se desenvolvem na cidade, principalmente pela forte entrada de capi-tal financeiro e humano (nacional e estran-geiro), além da localização excepcional da cidade do ponto de vista logístico.

Neste âmbito, levantam-se diversas ques-tões no sentido de identificar as interven-ções prioritárias nas actividades-chave ligadas ao sector do turismo, particular-mente aquelas que podem resultar num forte impacto em termos de benefício para as pessoas de baixa renda e em particular para os empreendedores nacionais, sem descurar os empresários e as empresas estrangeiras que trazem consigo fortes e interessantes sinergias com os mercados regionais e internacionais de longa dis-

Será que o turismo em Maputo pode alavancar a economia da cidade?

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TURISMO

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tância, além de experiências e práticas que muito podem contribuir para fazer evoluir o cenário geral do turismo no espaço de Maputo.

Este cenário traz à luz importantes ques-tões que devem ser objecto de reflexão dos governos local e central, e que podem aju-dar a perceber formas apropriadas e efica-zes de intervenção a partir da perspectiva de dinâmicas propostas pela aplicação da actual política económica.

Primeiro, temos de pensar se devemos abordar a economia do turismo a partir da perspectiva da oferta, ou seja, através da visão de quem oferece produtos e serviços, ou por via de uma perspectiva territorial ou de destino turístico.

Enquanto diversos economistas continu-am a defender a idéia de uma abordagem sob o ponto de vista da oferta nas inter-venções da política económica desde que se consolide a economia do turismo, ad-mite-se cada vez mais que o lado da oferta é, embora eficaz para certas análises, uma

perspectiva restrita que não considera a natureza transversal do turismo e os fe-nómenos sociais e não económicos que ocorrem num território considerado como um destino turístico, uma questão central quando se planifica e se desenham políti-cas de turismo eficazes.

Neste sentido, uma abordagem territorial ao desenvolvimento do turismo, não só deve incluir a cadeia produtiva tradicional de turismo (hotéis, transportes, agências de viagens, bares e restaurantes), mas ain-da integrar outros elementos que influem na qualidade do ambiente público, como a segurança e a saúde públicas, o clima de hospitalidade e a receptividade da popula-ção, além de outros factores sócioculturais e ambientais.

Esta perspectiva de desenvolvimento do turismo leva-nos a uma outra etapa na análise sobre como uma política econó-mica de turismo pode contribuir para o desenvolvimento dinâmico e criativo da cidade de Maputo. Este termo “criativo”

que se aponta ao longo deste artigo não vem por acaso. Precisamos ser verdadeira-mente ousados e criativos para a cidade se afirmar como uma das capitais criativas de África. Este é um dos maiores e mais im-portantes capitais de um país, o capital da criatividade. Saber explorá-lo é uma arte que a maior parte das cidades mais compe-titivas e atractivas do mundo estão a com-preender e a aproveitar cada vez mais.

Desde meados da década de 70 do século XX, foram desenvolvidos muitos modelos de intervenção, e os mesmos foram aplica-dos em diversos países em desenvolvimen-to para efeitos de planificação turística e políticas económicas.

Actualmente, é quase consensual a ideia de que o desenvolvimento do turismo deve ser planeado através de uma abordagem sistémica ou holística, onde por conceito ocorre uma natural interdependência en-tre os aspectos económicos e actividades não económicas como as infraestruturas, os serviços públicos e qualidade ambiental, estabilidade e inclusão social, sendo este o princípio fundamental do conceito de Tu-rismo Sustentável.

Tendo isto em conta, é possível perceber a importância de um marco normativo e orientador eficaz para o desenvolvimen-to do turismo na cidade de Maputo. Os decisores políticos da Cidade de Maputo poderiam, neste caso, promover um ma-peamento dos pequenos pólos de turismo e cultura que se vêem desenvolvendo na cidade, podendo inclusive tematizá-los e organizá-los num ranking de prioridades de investimento.

Seria importante o seguimento deste ma-peamento dos micro-pólos de turismo em Maputo com incentivos para investimen-tos comprometidos eticamente e economi-camente com os 7 Mecanismos do Turismo Pro-pobre como expressos pela Organiza-ção Mundial do Turismo.

Estas ideias levam-nos à conclusão de que a actividade turística na cidade de Ma-puto, se entendida numa perspectiva mais ampla e abrangente, pode ser um elemen-to fundamental para induzir a geração de trabalho e rendimentos no âmbito local e nacional.

Contudo, este patamar só pode ser alcan-çado se a Cidade (governo, iniciativa pri-vada e população) trabalharem juntos para capitalizar o seus activos culturais, huma-nos, ambientais e territoriais estimulando novos negócios e trazendo e retendo na cidade talentos, idéias criativas e capitais dos mais diversos.

* Consultor Sénior de Desenvolvimento Económico

- Turismo (SNV) Autor do livro – Gestão de Destinos Turísticos, distri-buído em Moçambique pela Livraria Escolar Editora.

* * Consultor Sénior de Desenvolvimento Económico

- Turismo (SNV)

Será que o turismo em Maputo pode alavancar a economia da cidade?

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TURISMO

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A crise financeira que se tem observa-do ao nível mundial, faz com que as organizações ligadas a diversos ra-

mos de actividade, nomeadamente o sector bancário, telecomunicações, comércio e até certas instituições governamentais, refor-cem as preocupações sobre a sua imagem e identidade perante a sociedade.

Tal facto prende-se única e exclusiva-mente com a vontade de se posicionarem perante a concorrência, segmentarem os seus serviços e produtos e fidelizar o clien-te.

A este propósito foi intessante constatar que o “diálogo de marcas” das empresas de telecomunicações no mercado moçam-bicano teve o seu reflexo e impacto além fronteiras, inclusivamente em revistas de cariz técnico (vide, revista Exame) e sites de referência como o www.youtube.com. Isto quando se faz referência ao impacto económico - social que uma tal luta pela conquista de cota de market share pode signifiacar. No caso em apreço, a Munici-palidade bem como a Unesco tiveram que intervir pois a guerra das ditas marcas está a fazer com que as paredes passem a ser azuis ou amarelas dependendo de quem chegue primeiro e ofereça melhores pren-das e brindes aos donos das paredes e mu-ros.

A grande questão é a de saber se esta luta desenfreada na busca duma pequena aten-çao do cliente, acarreta efectivos benefícios e melhoramentos na qualidade dos servi-ços prestados, dos bens colocados à dispo-sição do cliente e melhorias no serviço pós - venda?

Quanto mais cedo as estruturas organiza-cionais se aperceberem da importãncia do cliente , maiores serão os retornos a médio e longo prazo. Num mercado cada vez mais competitivo e com mais e maior oferta de bens e servicos, a estratégia de fidelização do cliente deverá ser tida como um dos in-dicadores de gestão pelas empresas e orga-nizações.

Tem sido normal assistir-se à oferta por parte dos institutos politécnicos e univer-sidades de cursos nas áreas de marketing e publicidade, aliados a anuncíos que ofe-recem oportunidades de emprego com ali-ciantes condições aos licenciados nesses ramos. Há confusão geral entre os conte-údos que deverão ser considerados como publicidade e aqueles que deverão ser con-siderados como marketing, a confusão é evidente, e tão evidente que poucos sabem realmente qual é o papel dos profissionais de marketing, os tão falados marketeers.

Fruto desta confusão assiste-se, com do-lorosa pena, a certas organizações e empre-sas que, em atitude de desespero de causa, atraem os seus clientes através de supostas campanhas de mudança de imagem corpo-rativa/institucional em que se limitam a oferecer prémios, brindes etc.

Estão normalmente associados a estas mudanças elevados gastos, sendo díficil de

justificar qual a percentagem do retorno do investimento que dai advém. Será esta a melhor maneira de se chegar ao cliente?

Estarão os profissionais de marketing a aconcelhar e a acessorar da melhor for-ma as empresas e organizações? Será que estes profissionais têm a preocupação de identificar a real causa da perca de clientes e consequente decréscimo no volume de vendas?

Esta problemática encontrará o seu des-fecho feliz a partir do momento em que as empresas comecem a trabalhar, a respeita-rem os seus clientes e a orientarem a sua actuação para a satisfação dos mesmos.

As empresas por si só não serão sufi-cientes para que se altere o status quo, é importante que as estruturas governamen-tais, criem condições para que o consumi-dor confie que os seus direitos estão garan-tidos e salvaguardados.

Ainda que de uma forma ténue, começam a verificar-se, por parte das organizações intervenientes, cuidados nas suas mais va-riadas vertentes. Existe ainda um longo ca-mingo a percorrer, mas é importante que as empresas, os gestores de marketing e as agências de publicidade, tenham a exacta noção que o sucesso das organizações e empresas está directa ou indirectamente associado ao serviço e à forma como se lida com o consumidor.

Este é nos dias de hoje mais informado, tem mais opções à sua escolha com a con-sequência de uma maior panóplia de fer-ramentas e de termos de comparação. As empresas, para alcançarem o sucesso de-verão ter a noção exacta de alguns aspectos na relação com o consumidor, tais como conquistar a fidelidade do cliente, como transformar os canais de contacto numa ferramenta importante para o sucesso das empresas, como não defraudar as expec-tativas dos clientes e, quais as vantagens do C.R.M (customer relation manager) na actual conjuntura e qual a melhor forma de usá-lo.

Imagem: uma nova forma de estar e de fazer negócioA sociedade, os consumidores , as organizações, quem sai beneficiado?

26 Revista Capital

Dário de SamuelMarketeer

OPINIÃO

Num mercado cada vez mais competitivo e com mais e maior ofer-ta de bens e servicos, a estratégia de fideliza-ção do cliente deverá ser tida como um dos indicadores de gestão pelas empresas e orga-nizações.

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28 Revista Capital

MUNDO FORA

ANGOLADescoberto mais um poço petrolífero

A Companhia Petrolífera Angolana descobriu na parte sul do bloco 31 das águas ultra profundas do “offshore” angolano, aproximadamente a 335 quilómetros a noroeste de Luanda, um novo poço com a capacidade de produção de cinco mil barris diários, denominado “Oberon 1” que foi perfu-rado a 1.624 metros de profundidade de água, atingindo a profundidade to-tal de 3.622 metros abaixo do nível do mar.De referir que esta constitui a décima oitava descoberta da BP neste bloco.

CHINAPequim, 10 - Washington, 9

Pequim investe milhões de dólares para estimular o mercado de pequenos utilitários com motores não poluentes, o que agrada aos construtores locais e assusta a concorrência internacional.De há três meses a esta parte, a China ultrapassou mesmo os Estados Unidos quanto ao volume de vendas de viatu-ras novas.No Salão Internacional de Xangai que terminou em finais de Abril, os constru-tores chineses apresentaram as suas

novidades sob o lema: mais pequeno e mais “limpo” e talvez seja essa uma das razões que justificam a previsão de vendas de 10 milhões de novas viaturas na China, em 2009, contra apenas 9 milhões nos Estados Unidos, no mes-mo período.

MUNDOConfiança em alta

A confiança na economia mundial subiu, pelo terceiro mês consecutivo, assinalando que o pior da crise já terá passado, revela uma sondagem da Bloomberg recentemente divulgada.O índice de confiança global calculado através de um inquérito a 2.400 profis-sionais em todo o mundo, aumentou para 43,57 pontos, em Junho, contra 38,72 pontos, em Maio, atingindo o nível mais alto desde que começou a ser calculado em Novembro de 2007.O aumento da confiança é mais um sinal de que o pior da crise pode já ter passado. Nos últimos meses foram divulgados dados animadores sobre a conjuntura económica. Nos EUA, a economia perdeu menos empregos em Maio, a produção da China e no Japão aumentou e, na Europa, as quedas da produção industrial e da indústria de serviços foram menos acentuadas.

ZIMBABWE FMI diz que confia

O Fundo Monetário Internacional, FMI, diz estar confiante na recuperação económica do Zimbabwe, a curto prazo, numa observação manifestada recente-mente por funcionários desta organiza-ção aquando da sua visita efectuada re-centemente àquele país.Apesar do optimismo, a delegação téc-nica, alertou que o Zimbabwe deverá enfrentar alguns desafios no sector bancário.A mesma comitiva destaca que o Zim-babwe necessita de apoio nas áreas da política e administração fiscal, sistema de pagamentos, operações e supervisão bancária e ainda, gestão da contabili-dade do Banco Central.

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Revista Capital30

A província de Tete, passou a ter uma nova agência do BCI. A cerimónia de inau-guração contou com a presença da figura ilustre do Governador da Província de Tete, Ildefonso Ramos Domingos Muanantatha, que cortou a fita da nova Agência do BCI.

A cerimónia de inaguração teve dois mo-

mentos culturais e os primei-ros clientes do balcão foram presenteados com t-shirts, ca-netas e blocos. O novo balcão tem um espaço de 100 metros quadrados e criou cinco novos postos de trabalho. A agên-cia tem três caixas de aten-dimento no interior e duas caixas automáticas (ATM) no exterior que estarão em fun-cionamento todos os dias, 24 horas, ininterruptamente.

A inaguração da Agência do Songo está de acordo com a nova estratégia de descen-

tralização concebida pela administração do BCI no sentido de ir ao encontro de todos os moçambicanos, em todas as regiões do país.

O Songo é uma Vila da província de Tete que se desenvolveu devido à proximidade com a barragem de Cahora Bassa, o maior

empreendimento da província de Tete e um dos maiores do país.

A maioria dos moçambicanos residentes nesta região dedica-se à pesca e à agri-cultura. A Hidroeléctrica de Cahora Bassa é outro importante foco de emprego com cerca de 800 trabalhadores, 86% dos quais nacionais.

O BCI chegou à Vila do Songo

BCI com balcão em Moatize A Província de Tete, dispõe de mais um

balcão do BCI. A inauguração foi dirigida pelo Presidente da Comissão Executiva do BCI, Ibraimo Ibraimo, e contou com a presença de vários quadros superiores do banco, autoridades nacionais e locais e re-presentantes comunitários.

O novo balcão possui um espaço de 100 metros quadrados e criou cinco novos pos-tos de trabalho. A agência tem três caixas de atendimento no interior e duas caixas automáticas (ATM) no exterior que estarão em funcionamento todos os dias, 24 horas.

A cerimónia de inaguração teve dois mo-mentos culturais, um antes e outro depois do corte da fita pelo Governador da Pro-

víncia de Tete, Ildefonso Ramos Domingos Muanantatha.

A inaguração contou, além disso, com as intervenções do Presidente da Comissão Executiva do BCI, Ibraimo Ibraimo, e do Administrador do Distrito de Moatize, para além da Presidente do Município da Vila de Moatize.

Os primeiros clientes do balcão de Mo-atize foram presenteados com ofertas da instituição bancária.

Moatize é um localidade da Província de

Tete com uma superfície de quase 8.455 km² e cerca de 145 mil habitantes. Moatize é rica em carvão, ferro e titânio. As maiores jazidas de carvão localizam-se na Bacia Car-bonífera de Moatize-Minjova, a maior fonte de riqueza da região. O carvão de Moatize é considerado um dos melhores do mundo e ideal para a produção de coque, produ-to fundamental para a alta metalurgia. A maioria dos moçambicanos residentes na região ocupa-se, no entanto, de actividades agrícolas.

O novo balcão tem um espa-ço de 100 metros quadrados e criou cinco novos postos de trabalho.A agência tem três caixas de atendimen-to no interior e duas caixas automáticas (ATM) no exte-rior que estarão em funcio-namento todos os dias, 24 horas.

A inauguração desta agência está

de acordo com a nova estratégia de

descentralização concebida pela ad-ministração do BCI no sentido de ir ao encontro de todos os moçambicanos

em qualquer região do país.

EMPRESAS

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Revista Capital 31

Foi inaugurado balcão do BCIem Inhassoro

Inhassoro, Província de Inham-bane, passou a ter a primeira Agência bancária: um balcão do BCI. A inauguração foi dirigi-da pelo Presidente da Comissão Executiva do BCI, Ibraimo Ibrai-mo, e contou com a presença de vários quadros superiores do ban-co, autoridades nacionais e locais e representantes comunitários.

A cerimónia de inaguração teve espaços culturais, a cargo de um grupo cultural de Inhas-soro, antes e depois do corte da fita pelo Governador da Província de Inhambane, Francisco Itai Me-que.

A inaguração contou, além disso, com as intervenções de Guilherme Augusto de Menezes Petersburgo, Administrador do Distrito de Inhassoro, Joana Da-vid, Administradora do Banco de Moçambique, Francisco Itai Me-

que, Governador da Província de Inhambane, e Ibraimo Ibraimo, Presidente da Comissão Executi-va do BCI.

Inhassoro é uma vila piscató-ria, capital do Distrito com mes-mo nome, com uma superficie de cerca de 4750 km² e pouco mais de 50 mil habitantes. Além da pesca e da agricultura, o turismo é a grande fonte de receitas da região devido à proximidade do arquipélago de Bazaruto.

Os recifes de coral da zona são considerados entre os me-lhores do mundo para a prática de pesca de alto mar e mergu-lho. Entre as espécies que mais atraem os turistas a esta costa contam-se os golfinhos, as tar-tarugas, os tubarões baleia, as mantas gigantes e os WEdugon-gos, que enfrentam a ameaça de extinção.

A cerimónia de inau-guração contou com a

presença de Ibraimo Ibraimo, Presidente da Comissão Execu-

tiva do BCI e Carvalho Muária, Governador da Província da ZambéziaA abertura desta nova

agência inscreve-se na estratégia de descen-tralização e ruraliza-

ção da banca, definida pela administração

do BCI no sentido de aproximar cada vez

mais o banco de todos os moçambicanos

O distrito de Morrumbala, província da Zambézia, inaugurou a sua primeira agên-cia do BCI. A cerimónia contou com a pre-sença de Ibraimo Ibraimo, Presidente da Comissão Executiva do BCI e de S.Exª Dr. Carvalho Muária, Governador da Província da Zambézia, que cortou a fita de inagura-ção da nova agência.

O PCE do BCI foi um dos oradores da manhã salientando a importância da aber-tura deste novo balcão na Zambézia como mais um passo para a consolidação da es-tratégia de descentralização e ruralização do BCI. O objectivo desta nova abordagem é aproximar cada vez mais o BCI não só dos seus clientes como de todos os mo-çambicanos.

A cerimónia de inaguração contou ain-da com as intervenções do Governador da Província da Zambézia e com dois momen-tos culturais de boas vindas ao novo bal-cão do BCI.

A nova agência tem um espaço de 100 m2 e vai criar cinco novos postos de tra-balho. A agência tem três caixas de aten-

dimento no interior e duas caixas automá-ticas (ATM) no exterior que estarão em funcionamento todos os dias, 24 horas. Os primeiros clientes do novo balcão de Mor-rumbala também terão gratas recordações da inauguração pois foram presenteados com diversas lembranças.

O distrito de Morrumbala, que se locali-za na região do Baixo Zambeze, tem uma superfície de quase12.850 km2 e uma população estimada em cerca de 305 mil habitantes. 46% dos seus habitantes têm menos de 15 anos.

A maioria da população dedica-se à agricultura, nomeadamente ao cultivo de mandioca, feijão, milho e, em menor es-cala, de amendoim, arroz e batata doce. O distrito possui a maior área de resereva florestal da província, a floresta de Der-re, onde além de espécies de árvores e plantas como o pau preto, o pau rosa e o pau ferro, existe uma fauna rica que inclui pala-palas, hipópotamos, gazelas, javalis, macacos, veados, crocodilos e diversas es-pécies de roedores e de aves.

Distrito de Morrumbala já possui uma agência bancária

A inauguração contou com as intervenções de Guilherme Augusto de Menezes Petersburgo, Administrador do Distrito de Inhassoro, Joana David, Administradora do Banco de Moçambi-que, Francisco Itai Meque, Governador da Pro-víncia de Inhambane, e Ibraimo Ibraimo, Presi-dente da Comissão Executiva do BCI.

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O Novel regime de benefícios fiscais da Hotelaria e Turismo

Com o presente texto iniciamos uma série de arti-gos sobre a fiscalidade em Moçambique, esperando que esta nossa experiência permita uma partilha efectiva de conhecimentos, incentive debate sobre a matéria e, acima de tudo, permita a sua maior di-vulgação.O nosso artigo desta edição aborda o novel regime de incentivos fiscais aplicáveis ao sector do turismo e hotelaria. Este sector, estratégico para o país, tem vindo a expandir a níveis acentuados e a contribuir para o crescimento da economia nacional, quer através da receita fiscal gerada, quer através dos re-sultantes “spin offs” sociais e económicos. Reconhecendo e materializando a sua vital impor-tância, a Lei n.º 4/2009 de 12 de Janeiro (B.R. n.º 1, 3.º Suplemento, Iª Série, de 12 de Janeiro), que aprovou o novo Código de Benefícios Fiscais (de ora em diante designado “CBF”), estabeleceu um regime específico para os investimentos nas áreas de hotelaria e turismo. Desde logo deve afirmar-se que o actual regime supera o que anteriormente se achava em vigor, e fá-lo de modo substancial. Porém, se é certo que o legislador foi benevolente relativamente aos benefícios concedidos, enten-demos, ainda assim, que poder-se-ia ter ido mais longe, como melhor expenderemos ao longo da presente dissertação. Assim,

Que projectos são elegíveis?

Nos termos do Artigo 30 do CBF, o novel regime de incentivos fiscais aplica-se aos projectos de inves-timento nas áreas da indústria hoteleira e de turis-mo, definindo-os taxativamente como os projectos que consistam: a) Na construção, reabilitação, expansão ou mo-

dernização de unidades hoteleiras e respectivas partes complementares ou conexas, cuja fina-lidade principal seja a prestação de serviços de turismo,

b) No desenvolvimento de infra-estruturas para o estabelecimento de parques de campismo e de caravanas com classificação de 3 e 4 estrelas;

c) No equipamento para desenvolvimento e explo-ração de marinas;

d) No desenvolvimento de reservas, parques nacio-nais e fazendas de fauna bravia com finalidade turística.

Por opção do legislador foram excluídos deste re-gime de incentivos fiscais, os projectos de investi-mento envolvendo: a) Restaurantes, bares, botequins, casa de pasto,

discotecas e outras unidades similares quando não agregados a nenhuma das unidades referi-das acima;

b) Aluguer de viaturas; ec) A actividade das agências de viagens, operadores

turísticos e afins. Note-se, porém, que os projectos de investimento acima referenciados gozam, igualmente, de elegibi-lidade a incentivos. Ou seja, não se tratou de uma exclusão “tout court” da possibilidade de obtenção de incentivos fiscais. Com efeito, apesar dos projectos acima elencados estarem expressa e legalmente excluídos dos bene-fícios específicos do sector de hotelaria e turismo, os mesmos podem obter os benefícios genéricos constantes do CBF.

O Leque de incentivos fiscais

O Leque de incentivos fiscais aplicáveis aos projec-tos de investimento elegíveis contempla:

a) Isenções em sede de Direitos Aduaneiros e do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)

b) Crédito Fiscal por Investimento, em sede dos Impostos sobre os Rendimentos de Pessoas Co-lectivas ou Singulares (CIRPC/CIRPS)

c) A aceitação, em regime mais benéfico em termos fiscais, de certos custos e despesas decorrentes do investimento e da sua operacionalização.

Note-se que os incentivos se aplicam tanto às pesso-as singulares, como colectivas. Por uma questão de metodologia, iremos cingir-nos apenas ao CIRPC.

As Isenções de Direitos Aduaneiros e IVA

Neste capítulo haverá que reconhecer todo o méri-to ao legislador, ao definir um conjunto de isenções que, há muito, se exigiam como condição “sine qua non” à promoção de uma indústria hoteleira de ele-vada qualidade.

Os projectos de investimento elegíveis beneficiam de isenção do pagamento de Direitos de Importa-ção e de IVA, sobre os bens de equipamento classifi-cados na classe “K” da Pauta Aduaneira, bem como sobre um conjunto de bens considerados indispen-sáveis para a construção e apetrechamento dos em-preendimentos. Estes benefícios podem, de facto, vir a constituir uma alavanca decisiva na promoção de projectos de investimento no sector, visto que desoneram os investidores dos encargos inerentes aos processos de importação.

João MartinsPartner

Tax and Legal ServicesPricewaterhouseCoopers,Lda

[email protected]

32 Revista Capital

FISCALIDADE

Page 33: Revista Capital 17

Outros argumentos se levantam, certamen-te, alegando que o IVA suportado na fase de investimento é dedutível e, portanto, não deveria ter impacto. Entende-se, pois, que o IVA em causa é susceptível de reembolso pelo Estado através do mecanismo de re-embolso do IVA previsto no Código do IVA (CIVA). Alternativamente, entende-se que o IVA incorrido na fase de arranque deve-ria ser reportado até ao momento de início de actividades, sendo depois deduzido ao consequente IVA liquidado nas vendas.

Não concordamos com esta perspecti-va. Com efeito, qualquer das duas opções mencionadas tem efeitos financeiros ne-fastos, quer pelos atrasos nos processos de reembolso do IVA por parte da autoridade competente, quer porque os custos finan-ceiros de semelhante imobilização se de-monstram nefastos à viabilidade económi-ca e financeira dos projectos de hotelaria e turismo.

Assim, ao aprovar este leque de isenções e nos moldes em que o mesmo opera, re-lativamente a esta matéria em concreto o legislador andou bem, e melhor não seria de exigir!

O Crédito Fiscal

No que respeita ao IRPC, manteve-se o re-gime que prevê um Crédito Fiscal por in-vestimento (CFI), uniformizando-se em 10 por cento (10%) a taxa aplicável aos projec-tos que se localizem fora da Cidade de Ma-puto, onde continua a ser de cinco por cen-to (5%) do total de investimento realizado em activo imobilizado corpóreo adquirido em estado novo para as actividades do Pro-jecto, a deduzir na colecta do IRPC.Relativamente aos benefícios fiscais em sede de impostos directos, julgamos que se poderia ter ido mais longe. Com efeito, propusemos em sede e momento próprios o retorno às fórmulas que vigoravam, an-tes da reforma dos benefícios fiscais, ence-tada em 2002. Ou seja, ao invés da opção dos créditos fis-cais, seria importante apurar a viabilidade de se voltar a conceder reduções efectivas das taxas de IRPC e, igualmente, da tribu-tação sobre os juros e sobre a distribuição de dividendos. Fazemos notar que, a redução de taxas foi, aliás, usada no actual CBF, se atendermos às reduções de taxas do IRPC concedidas a certos e determinados tipos de projectos (neste sentido, vide o regime aplicável às infra-estruturas básicas, regulado nos Ar-tigos 20 e seguintes). A manter-se a opção do crédito fiscal, jul-gamos fundamental que os níveis máximos dos créditos fiscais deveriam: i. Ser incrementados relativamente aos li-mites actuais (5 ou 10%); ii. Objecto de um período de tempo mais

extenso de benefício, uma vez que regra geral os primeiros cinco exercícios apenas cobrem os investimentos iniciais (cinco anos).

As amortizações e reintegrações aceleradas

O novo regime vem permitir a amortização acelerada dos imóveis novos e reabilita-dos, máquinas e equipamentos utilizados na prossecução do empreendimento, que consiste em incrementar em 50% as taxas normais, legalmente fixadas para o cálculo das amortizações e reintegrações conside-radas como custos imputáveis ao exercício na determinação da matéria colectável.

Concordamos com a presente formulação, sem contudo, deixar de questionar: qual a “ratio legis” e os fundamentos económicos e financeiros que levaram à alteração do regime anteriormente em vigor, que con-sistia em incrementar em 100% as taxas normais das amortizações e reintegrações? Haveria verdadeiramente necessidade de racionalizar este benefício?

Outros benefícios em sede de IRPC

O novo código manteve, igualmente, a aceitação, em regime mais benéfico em termos fiscais, de certos custos e despesas decorrentes do investimento e da sua ope-racionalização, no geral reduzindo as taxas e o período:

a) Modernização e introdução de novas tecnologias

A permissão de dedução à matéria colec-tável do valor investido em equipamento especializado considerado tecnologia de ponta foi reduzido de 15 para um máximo

de dez por cento (10%) da matéria colec-tável.

b) Formação profissional

Manteve-se o regime anterior.

c) Despesas realizadas nas obras de utilidade pública

No que respeita a este tipo de despesas, que por vezes estão relacionadas com o plano de actividades de Responsabilida-de Social Empresarial dos promotores dos projectos, o legislador reduziu de 120 para 110 (Cidade de Maputo) e de 150 para 120% (resto do país) a ponderação do valor despendido com todas as despe-sas realizadas em obras consideradas de utilidade pública pelas entidades com-petentes. O prazo também reduziu de 10 para 5 anos.

d) Despesas na aquisição de obras de arte

Este benefício visando a promoção da arte Moçambicana também não foi alterado.

Entendemos que estes incentivos adicio-nais são relevantes, nomeadamente se atendermos às especificidades da indús-tria de hotelaria e turismo e ao potencial associado à mesma.

Por um lado, assentam no pressuposto de existência de infra-estruturas bási-cas e, caso essas não existam e o Estado não tenha a capacidade para o efeito, cabe ao promotor do projecto assegurar a sua construção e manutenção comple-mentando, assim, até as suas políticas de responsabilidade social. Por outro lado, o Turismo propicia a divulgação da cultura do País e deve funcionar como um factor propulsionador da mesma.

Mas, não podemos deixar de anotar que estes incentivos, designados na Lei de genéricos, sofreram uma redução subs-tancial. Julgamos que tal se deve à racio-nalização dos incentivos fiscais, que cons-tituiu um dos temas basilares da reforma do CBF. Aliás, encontramos tal funda-mento no preâmbulo da Lei n.º 4/2009 de 12 de Janeiro.

Assim, e concluindo tal como iniciamos, entendemos que apesar das evidentes vantagens atribuídas aos projectos de ho-telaria e turismo, poder-se-ia e dever-se-ia ir bem mais longe, em nome da capital relevância deste sector económico no de-senvolvimento sustentável do País. Esta-mos certos e convictos que tal ficará para segundas núpcias!

Relativamente aos benefícios fiscais em sede de impostos di-rectos, julgamos que se poderia ter ido mais longe. Com efeito, Propusemos em sede e momento próprios o retorno às fórmulas que vigoravam, antes da reforma dos bene-fícios fiscais, encetada em 2002.

FISCALIDADE

Revista Capital 33

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Revista Capital34

“Se vais dizer algo que o Rei do País onde vives não gosta, tens que ter a certeza que já és habitante dum outro país”

Mehboob Azadi

A introdução faz alusão a um velho provérbio changana ou ronga. Não sei bem ao certo. Mas desde muito

cedo que o ouvi, fazendo parte da minha in-fância. O meu amigo Judas, mais conhecido por Jotasse, também não sei por quê, tinha de, regularmente, pagar alguma coisa ao Hossy por algo que o tinham acusado mas que não correspondia à verdade. A acusação girava em torno de ter roubado a mulher do dono, engrossar-se com o canhu já maduro, ou qualquer outra coisa.

O castigo, que se convertia quase sempre numa multa em dinheiro, parecia-me de alguma forma injusto. O canhu já estava maduro e se ele não o bebesse comiam-no certamente os bichos do mato. Por outro lado, as lindas eram mais conquistadoras

do que conquistadas. Para que tinha o che-fe de se meter na vida sexual e privada das pessoas?

O Hossi que é rei - e não régulo ou che-fe - mandava no seu ‘tiko’ de país. Não sei se mandava com mão-de-ferro, mas sei

sim que recolhia com extrema precisão o dinheiro dos que vinham das minas ou de outros empreendimentos.

Andava eu a ler o Zamora e o seu processo histórico, os papéis que me passavam cole-gas e amigos mais velhos sobre como pôr fim à Ditadura e ao Colonialismo. O Mundo tinha de ser mudado...

Trinta e tal anos depois, lembro-me do

velho e de outros residentes do sítio onde o meu pai detinha a sua machamba. Os ou-tros também eram machambeiros. Alguns tinham mais vacas que o meu pai, e mais terra. Ao longo da vida fui-me aborrecen-do regularmente com as designações que davam aos agricultores: camponeses, po-bres, médios e ricos. Agricultores indígenas, agricultores de subsistência, agricultores

Propriedade privada da terra

Um direito do cidadão?

“Às sexta-feiras é tudo muçulmano e no do-mingo é tudo cristão porque caso contrário não és contado quan-do chegam as festas, as ajudas, o empre-go - mesmo que mal pago…”

OPINIÃO

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Revista Capital 35

Propriedade privada da terra

Um direito do cidadão?

pequenos, médios, grandes. Agricultores de subsistência, em promoção, evoluídos e europeus. Eu e o meu pai de europeus nada tínhamos. A terminologia mudou ao longo do tempo. Depois da Independência já ha-via o sector privado, o estatal, o cooperativo e o familiar. Agora, já ninguém fala em indí-genas e alienígenas, agricultores modernos, tradicionais, em promoção, machambas do

estado, evoluídos. Tudo é colocado em duas caixas: os privados e as comunidades. E to-dos falam de comunidades.

O Hossy é comunidade, mesmo que cobre impostos, o xiinha homu é comunidade. Uma grande caixa preta onde tudo se mis-tura. Mas ‘os comunidades’ não têm papéis na maior parte das vezes: bilhete de iden-tidade, certidão de nascimento, nem DUAT nem posse da terra. A terra é do Estado.

Não será que mudaram os nomes mas que algo ficou igual? As pessoas adquiriam a terra por herança, por ocupação – tinham sido os primeiros a abrir o mato num sítio onde não havia rei para cortar a terra. Mas a propriedade da terra não está garantida.

A propriedade privada da terra é um direi-to de qualquer cidadão tal como tem o di-reito de ter a sua casa, o seu carro, ou mes-mo a sua escova de dentes. A Constituição garante ao cidadão a propriedade privada dos seus bens. Mas o bem terra é do Estado. Para mim existe aí uma contradição. Tem-se o direito a possuir tudo e depois não se tem o direito de possuir a terra? Qual é a lógica?

Cada jurista conta-me uma lenga-lenga. Os meus amigos que eram do reviralho – e agora fazem milionadas – lá me explicam que a lei de terras garante a posse de terra, protege os agricultores (eles dizem familia-res, camponeses e quase sempre agora co-munidades). O meu amigo Jotasse não gos-tava lá muito de comunidades, pois tinha que ser como boi na manada. Não sei onde ele tinha apreendido isso – se em Timor, em Macau ou lá no Norte, onde fora soldado nos anos 40 do século XX. Só há comuni-dade quando há liberdade de pertencer ou não. Ser vizinho não implica ser membro da comunidade quando o que vive na casa ao lado tem quatro carros, dez casas, chapas, lojas de candonga e cunhas, amigos que re-solvem tudo sem ter que ir para a ‘bicha’ ou esperar tanto como qualquer vivente. E nas comunidades há os que pertencem, os origi-nários, os viventes e os que não são ninguém – o pai não pagou lobolo, o pai era daqui e trouxe a mãe do Niassa, é escravo, macho-co, mulato, epotha…

Parece que somos todos iguais perante a lei, mas há uns mais iguais do que outros . Há gente de primeira, de segunda e de ter-ceira. E agora são todos pobres mesmo os que têm força para trabalhar, muitas mu-lheres, casa de zinco, etc…. Às sexta-feiras é tudo muçulmano e no domingo é tudo cristão porque caso contrário não és con-tado quando chegam as festas, as ajudas, o emprego - mesmo que ma pago…

O tiko Moçambique já não é o tiko Mam-bacheque. Biguana já é rei. O Manuel não é o Biguana que nunca morre. A terra con-tinua a não ser usada. Quando aparece al-guém para trabalhá-la, aparece imediata-mente um dono – “sou neto do Biguana, o novo Hossi pede vino tinto e um caneiro

para a ceremonia”. O homem da agrimen-sura marca, pela décima vez consecutiva, o terreno que já havia sido marcado. Aliás, os marcos ainda se encontram agarrados à terra.

A terra vende-se, compra-se, ocupa-se, rouba-se… A Constituição refere que a ter-ra é propriedade do Estado. Mas não será a terra propriedade dos detentores do poder de Estado? Ela é colateral para os denten-tores do poder do Estado e não para os do-nos. Claro que as pessoas acabam vendendo e trespassando a terra, como faziam antes. E no meio, aparecem os que inventam justi-ficações, mesmo aquela de que não sabiam que a terra possuía um dono quando deitam abaixo uma casa, um armazém, ou não dei-xam o próprio dono ocupá-la...

Glossário:

Tiko – TerraMachamba – Herdade agrícolaXiinha homu – Representante da comunidadeMilionadas - FortunaCandonga – ContrabandoLobolo – Cerimónia tradicional de compromisso de casamento

“A propriedade privada da terra é um direito de qualquer cidadão tal como tem o direito de ter a sua casa, o seu carro, ou mesmo a sua escova de dentes. A Constitui-ção garante ao cidadão a propriedade privada dos seus bens. Mas o bem terra é do Estado. Para mim existe aí uma con-tradição. Tem-se o direito a possuir tudo e depois não se tem o direito de possuir a terra? Qual é a lógica?”

OPINIÃO

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Revista Capital 37

Num mundo em que cada vez mais toda e qualquer transac-ção comercial concretiza-se

em função da responsabilidade e risco que cada Parte tem por oportuno assumir, pesa em larga medida a confiança que se depo-sita nos diversos agentes intervenientes. Quando se trate de transacções que en-volvam pessoas colectivas societárias, tal responsabilidade afere-se, num primeiro plano, em função do capital social afecto à sociedade.

O tema tem a sua actualidade em função da recente alteração legislativa, introdu-zida pelo Decreto-Lei n.º 2/2009, de 24 de Abril, na qual, o Artigo 289 do Código Comercial (tal como aprovado pela Lei n.º 10/2005, de 23 de Dezembro) eliminou a referência ao capital social mínimo para a constituição de Sociedades em Moçam-bique, deixando tal montante para a livre decisão dos sócios.

O que é, então, o capital social de uma Sociedade Comercial, e quais as suas funções?

Em primeiro lugar, o Capital Social é um dos elementos de identificação da Socie-dade Comercial que nos termos do Artigo 250, número 2 é de menção obrigatória em todos os actos praticados pela sociedade.

A definição de capital social não é, em termos jurídicos, tida de forma alguma pa-cífica. Basta analisar a doutrina que mais se debruça sobre a matéria para verificar que não raras vezes, existe uma confusão entre o Capital Social e o próprio patrimó-nio da Sociedade. Tal erro, cremos, vem do tratamento contabilístico que é dado ao Capital Social.

Em nosso entendimento, a definição de Capital Social advém da sua própria fun-ção, que, em virtude da dinâmica da vida da Sociedade, vai tendo significados dife-rentes.

Desde logo, ao determinarem um valor para o Capital Social de uma sociedade aquando da sua constituição, os sócios

pretendem assegurar a viabilidade do pro-jecto que pretendem prosseguir. Então, nesta primeira fase, e sem que tal entre em contradição com o que foi referido supra, o Capital Inicial pretende assegurar a ob-tenção do património inicial da Sociedade, para que esta possa desencadear o seu ob-jecto social.

Num momento posterior, já tendo a so-ciedade o seu património inicial e estando apta a desenvolver o seu propósito, a fun-ção do capital social passa, em nosso en-tender, a determinar, em primeira linha, a medida da responsabilidade que a socieda-de assume perante quem consigo negoceia e pelos actos que a mesma pratica.

Qual o impacto da alteração legislativa?

Poderá pensar-se que, com a recente al-teração ao Código Comercial, o legislador

pretendeu interferir na função de garantia do Capital Social. Em nosso entender tal pensamento é errado: “retirar a imposição de capital social mínimo não implica ne-cessariamente que o legislador pretenda interferir na garantia de primeira linha, que as Sociedades Comerciais apresen-tam.’’

Pelo contrário, a existência de um mon-tante mínimo, esse sim, nivela, por baixo, o padrão das garantias a serem prestadas pe-las sociedades comerciais. Por outro lado, estabelecer montantes elevados para o padrão da economia nacional implica obs-truir e bloquear a iniciativa empresarial.

Um dos motivos que nos leva a crer desta iniciativa do legislador, pode passar pela necessidade de uniformização dos princí-pios que nortearam outras recentes alte-rações legislativas. Podemos pensar, por exemplo, no recentemente aprovado “Im-posto Simplificado para Pequenos Contri-buintes”. Numa tentativa de tributar certos agentes informais, há que permitir que tais agentes possam, num futuro em que o ne-gócio por si levado a cabo, evoluir de acor-do com as suas necessidades, formalizan-do-se em pequenas sociedades comerciais (tributadas ainda no regime simplificado).

Em nosso entendimento, a recente altera-ção legislativa (no que toca à eliminação de Capital Social Mínimo) não tem qualquer impacto na responsabilização das Socieda-des Comerciais. Compete aos agentes eco-nómicos, não só verificarem outros meios de garantia prestada pelas sociedades com quem negoceiam, mas também negociar com entidades que venham a nivelar-se pela mesma bitola.

Em breve, debruçar-nos-emos sobre ou-tros elementos fundamentais que os Agen-tes económicos deverão ter em conta, no que toca à dinâmica do Capital Social das Sociedades Comerciais.

* Advogado e sócio da Ferreira Rocha & Associados – Sociedade de Advogados, Limitada

[email protected]

RESENHA JURÍDICA

Capital Social

* Por Rodrigo Ferreira Rocha

“(...) retirar a im-posição de capital social mínimo não implica necessaria-mente que o legis-lador pretenda in-terferir na garantia de primeira linha, que as Sociedades Comerciais apresen-tam.’’

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Revista Capital38

ESTILOS DE VIDA

Não conheço admirador de Jazz que não goste de Chet Baker. Não conheço melhor maneira de fa-

lar de Chet Baker do que ouvi-lo a cantar. E como cantava! E tocava, atenção, e tocava. Se é bem possível que Baker tenha bebido influências na forma de tocar trom-pete de Miles Davis, diga-se que teve bom gosto. Ao passo que a nível vocal... a sua voz não teve paralelo. Teve uma rara imagi-nação melódica e é apontado como o trompetista mais lírico da história do Jazz. É cool, muito cool mas no intervalo de 1950 a 1955 deu-se o nome de west coast porque derivando da introspecção cool, era feito na Califórnia e ser- via de alter-nativa a quem procurava para o bop. Em 1952, quando Gerry Mulligan o convi-dou para o seu quarteto, que ficaria para a história como o mais famoso quarteto de jazz sem piano, Baker alcançaria prestígio e ficaria famoso desde muito cedo. Chet Baker, com pinta de James Dean, passou por tempestades e épocas sombrias: vicia-do, tratou as drogas por tu, foi preso várias

Os fotógrafos sul-africanos Chris Van Rooyen e Koos Van der Lende foram superiormente recomendados para a 44.ª edi-ção da competição anual Wildlife Photographer of the Year,

encarado como o evento mais expressivo do género. A importância é de tal modo grandiosa que, em 2008, a iniciativa registou 32.351

votos, provenientes de 82 pa-íses do mundo. Desta feita, as fo-

tografias de Van Rooyen e Van der Lende são apenas duas de um grupo de

83 imagens eleitas para a exibição que começou, no Museu de História Natural de

Lon- dres, a partir de Abril.A competição é considerada a líder nata da representação artística do mundo natural e a foto do bee-eater (ave caçadora de insectos) é da autoria de Van Rooyen, e foi captada num barco em Zambezi, na Namíbia.

O que há de novo

vezes, internado… são cenas de um filme que certamente o marcou profundamente. E ele… e à sua voz, e, consequentemente a nós.Se “My Funny Valentine” é apon-

tado como o “som Baker”, apetece-me destacar os maravilhosos temas “Just Friends” e “Let’s Get Lost”, registados a 7 de Março de 1955, (talvez um dos seus melhores anos). São diversos os registos que produziu mas abundantemente irregulares, e apenas com o objectivo de ganhar dinheiro. Está-se mesmo a ver para que fim. Ainda assim, são de destacar os dis-

cos que fez com o pianista Russ Freeman.

Nunca se chegou a saber se realmente caiu, atirado por alguém a quem devia dinheiro ou se se atirou pela janela naquele quarto na cidade de Amesterdão, em 1988. Deixou-nos a voz, a dele, doce, etérea, transbordan-te e arrepiante e, a nossa, triste pela ida.Se há quem não goste de Chet Baker é por-que certamente não o conhece.

Fernando Ferreira [email protected]

Bem vindo aos seus ouvidos

O sentimento de quem toca e canta como quem fala

«O Leitor» Stephen Daldry

O terceiro filme de Stephen Daldry (realizador do famoso «As Ho-ras»), que conta com a produção

de Anthony Minghela e as ‘acordes’ do romance de Bernhard Schlink, é no míni-mo intrigante. À semelhança da obra lite-rária, a película move-se por entre temas tão espinhosos como o trauma decorrido do holocausto e as intensas relações amo-rosas que se estabelecem entre adultos e menores.

Kate Winslet lidera um elenco de mão cheia, do qual ainda fazem parte Ralph Fiennes e o jovem David Cross. E torna-se, no mínimo, interessante observar o desen-volvimento de uma trama levada a cabo por actores europeus, na Alemanha da II Guer-ra Mundial, e através de uma impressionan-te fotografia da época.

De acordo com Daldry, The Reader retrata, sobretudo, a forma como a geração a seguir à Guerra enfrentou os pecados cometidos pelos seus antepassados. Contudo, o filme não é apenas simbólico daquela catarse ge-nocida. Os seus 123 minutos de puro êxtase - pois a história desenrola-se em torno de um segredo muito bem guardado - revelam igualmente a relação fora do vulgar entre uma trintona e um adolescente. Um idílio que dura meses, ainda que perduráveis na memória, e que ao invés de resvalar no cli-ché do «fruto proíbido» se esquiva, de for-ma magistral, apresentando personagens com a consistência natural das pessoas que nos rodeiam no quotidiano.

A intriga adensa-se à medida que Hanna Schmitz (Kate Winslet) se vicia nas artes de leitura do seu jovem companheiro. «O Lei-tor» é um drama sem dúvida perturbante, que nos faz reflectir sobre a vulnerabilidade humana e até que ponto somos capazes de ir para proteger um segredo.

HNN

Galeria

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Revista Capital 39

Lugares para estar e não estar

ESTILOS DE VIDA

Por que é que a criminalidade em Nova Iorque caiu de re-pente em meados da década de 90? Como é que um escritor desconhecido acaba por se tornar um recorde de vendas?

Por que é que o tabaco entre os adolescentes está fora de controlo, quando toda a gente sabe que fumar mata? O que é que faz com que programas de televisão como Rua Sésamo sejam tão eficazes a ensinar as crianças a ler?

Agora que o mundo enfrenta sérios momentos de crise e recessão, torna-se um tudo ou nada difícil encontrar histórias de sucesso. Não obstante, A Chave de Sucesso de Gladwell examina o por quê de alguns homens de negócios e artistas serem tão bem sucedidos. No longo rol de exemplos surgem nomes incontornáveis como o de Bill Gates, entre outros empreendedores para quem qualquer cirs-cuntância por mais difícil que pareça, representa uma boa oportu-nidade para prosperar.

Nesta obra inovadora e criativa, Malcolm Gladwell investiga a ra-zão pela qual as grandes mudanças na sociedade acontecem ines-peradamente. A forma como ideias, comportamentos, mensagens e produtos, na maior parte das vezes, espalham- se como surtos duma doença contagiosa, sob a perspectiva analítica da Gestão.

Assim como uma única pessoa pode estar na origem de uma epi-demia de gripe, também um cliente satisfeito consegue encher as mesas de um novo restaurante. Trata-se de epidemias sociais e o momento em que arrancam, quando atingem a massa crítica, se-gundo o autor, é o «Ponto de Viragem».

A Chave do Sucesso é uma aventura intelectual escrita, ao longo de 272 páginas, com um entusiasmo contagioso. Mas, acima de tudo, é um mapa rodoviário para a mudança, com uma mensagem profundamente esperançosa, pois a crença de que uma pessoa ima-ginativa que coloca a alavanca no sítio certo pode mudar o mundo é uma constante.

Leituras Capitais

A Chave do Sucesso, de Malcolm Gladwell

Entre a natureza e os devaneios gastronómicos do ‘Caipirinha’

Se num belo dia de domingo lhe apetecer levar a família a almoçar fora, e está na cidade de Maputo, então o res-taurante Caipirinha poderá vir a ser uma excelente opção

gastronómica. Além de gozar do privilégio de se situar junto à marginal, bem próxima das ondas do Índico, o estabelecimento apresenta uma esplanada - por onde se estendem diversas mesas e cadeiras - extretamamente agradável.

Nesse sentido, o convite pode-se dividir em dois ambientes distintos. Um, interior, através de uma ampla sala decorada com motivos em madeira e outro, ao ar livre, semelhante a um grande quintal bem ajardinado, ao qual não falta a graça do verde lu-xuriante, a viva cor das pétalas das flores, a sombra das árvores frondosas abraçadas por filodendros e o grasnar de um grupo de corvos alba.

A sensação de quem se senta no exterior é de pura liberdade, pois além da estreita ligação à natureza, as mesas distam uma das outras respeitando o espaço necessário a uma boa privacidade.

Caipirinha , por quê? Porque, de facto, o seu staff confecciona uma caipirinha de fazer água na boca. Contudo, e convém realçar, uma qualidade inerente ao menú das bebidas é, sem dúvida, a frescura com que sempre servem as cervejas. Bravo!

Quanto aos pratos propriamente ditos, dirijo uma nota menos vibrante, uma vez que, no mesmo dia, duas das suas opções não se encontravam disponíveis (mais concretamente, a sopa de peixe e a salada de polvo). Mas, justiça seja feita… O ‘Caipirinha’ não deixa os seus créditos por mãos alheias com o Polvo à Lagareiro e com os devaneios culinários feitos em torno do Rei Bacalhau.

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Revista Capital40

Onde ficar

Em vésperas do tão aguardado jogo de futebol, a contar para o Mundial 2010, entre a selecção nacional moçambicana e a do Quénia, ocorre sugerir um hotel e um restaurante de

renome em Nairobi.

Se já comprou o seu bilhete de avião e ainda não sabe onde ficará hospedado, tente reservar um quarto no Fairmont The Norfolk Hotel. Trata-se de um empreendimento hoteleiro de encher o olho, dado que reúne o requinte de tempos idos (remontando a 1904) e a modernidade própria de quem passou por um facelifting em termos de construção e decoração.

É inegável a atmosfera luxuosa do seu lobby inteiramente em már-more e o Lord Delamere Terrace, um extenso varandão ao estilo colonial que faz recordar as saudosas épocas em que os dandys inclinavam seus chapéus de caqui às madames. Que sublime cor-tesia!... Uma vez lá, o visitante poderá usufruir de um jantar bem apaladado. Aliás, sugiro vivamente as costeletas de borrego rega-das com molho pululado de ervas.

Mas se preferir uma refeição menos gourmet, então apanhe um táxi e vá até ao famoso Carnivor. Como o próprio nome indica, trata-se de um local nada apropriado a vegetarianos ou dignos adeptos da dieta. Ali só se come carne, num festival ao bom estilo do rodízio brasileiro, mas com os regalos próprios da cozinha afri-cana. Atreva-se e prove os nacos de crocodilo, se for capaz, e não se esqueça de torcer pelos Mambas.

Instantâneo

Mas ali estou eu.Eu a revolver bagagens.Eu a rasgar mistérios históricos.Eu a esventrar o passadoE a espalhar o espólio das pilhagens.

Que seria de mim sem o “Elogio da Loucura”?

ESTILOS DE VIDA

Não será antes: pague 1, leve3? É que na promoção de «pague 3, leve 1» torna-se mais do que óbvio que o cliente sai sempre a perder. Pessoalmente, não estou a ver ninguém no seu perfeito juízo a levar um pacote de bolachas Lexus debaixo do braço para no fim pagar o preço de três na caixa registadora, nem que o mesmo seja vendido à módica quantia de 20 meticais!Aliás, 10 minutos depois de estar em frente à prateleira em questão, não houve cliente que se atrevesse a levar as ditas cujas bolachas e o caso não era para menos.« Levar um pacote por 60 meticais? Nem pensar!». E nem todo o apelo do merchandising funcionou…O conteúdo do cartaz era, pura e simplesmente, caricato e revela na sua essência uma ou duas coisas: Falta de formação do repositor ou falta de atenção do seu chefe que nem se dá ao trabalho de fiscalizar o que se passa. Como tal, tomo a liberdade de fazer um sério aviso à navegação: O consumidor não espera ficar a perder com as estratégias de market-ing definidas pelos senhores dos templos comerciais, em Maputo ou em qualquer outra parte do mundo, nem que a situação envolva erro humano, pois errar é humano mas perseverar no erro não.

Fairmont + Carnivor = Nairobi

Fotolegenda

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Revista Capital42

PENA CAPITAL

José V. Claro

Eu conheço-os.Vejo-os nas ruas e passeios desta cidade. Desta e de muitas ou-

tras, deste continente e dos outros.Dizem-me que estão na moda, será.A alguns até nem tiram os plásticos que lhes cobrem os bancos de

tecido anti-nódoas, napa vinílica ou couro tratado, principalmente quando se trata dum zero quilómetros. Os plásticos transparentes e protectores por lá se quedam, gastam-se pelo uso, dilaceram-se com a transpiração dos ocupantes, tornam desconfortável o con-tacto mas representam um “status”, um “modus vivendi“ que não estará ao alcance de todos.

A outros, cuidam-lhes do brilho até à exaustão, é ver os donos a dar gorjetas regateadas aos “lim-padores” de ocasião ou encarta-dos que pululam nas zonas de maior concentração de máqui-nas reluzentes e a abarrotar de extras.

Quase todas têm uma marca, “prado” ou algo semelhante. Tal-vez “special”, ou “diplomat”, ou “majestic”, ou qualquer outra coisa que da lei da indiferença as vá libertando.

Se nos virmos forçados a atra-vessar a rua perto duma destas amálgamas de alta “cavalagem” forçoso se torna que nos muna-mos de óculos de sol ou, na sua ausência, que nos socorramos da mão em pala ou dum jornal dobrado. Em última análise desvie-se o rosto para o lado e evite-se o brilho resplandecente da caterva de “monstros” que se nos depara.

Normalmente os vidros laterais e o traseiro (falo do vidro, claro) são fumados e escondem o rosto dos ocupantes. Nunca percebi bem porquê. Então se cada um destes preciosos “brinquedos” está mesmo a dizer: Olhem para mim, contemplem-me, admirem-me, invejem-me! Porque será que os vidros são artificialmente escure-cidos e não se vê logo o fácies do proprietário?

Ó mistério angustiante e insolúvel que me impede de conciliar o sono, de comer a sopa tranquilamente, sem sobressaltos que a façam cair sobre as vestes com que cubro a nudez impudica.

Mas, agora me lembro, a prosa já vai longa e ainda não falei de algo que não se vê. Infelizmente ouve-se.

Exactamente, refiro-me ao “Night Club” ambulante que enrique-ce cada um destes preciosos símbolos de ostentação de estar bem na vida.

São toneladas de decibéis à rédea solta, notas de arremedo mu-sical à “fartazana”, ritmos estonteantes e, quase sempre, de gos-to duvidoso – há quem tire a roupa, há quem ponha a roupa, há quem conte infidelidades, há quem fale de posições controversas – mas rigorosamente adaptado à personalidade de quem se ocupa destes corcéis dos tempos modernos.

Destes “Rocinantes”, destes “Trovões”, destes “Pégasos” de trac-ção às quatro rodas e que atestam da qualidade de vida de quem os arvora.

Aqueles relinchavam, estes não, estes roncam e soltam aos qua-tro ventos os ruídos da moda, saídos de “subwoofers”, “kitados” ou não, mas sempre estridentes, tonitruantes e ensurdecedores.

Quem estiver por perto e não for surdo, fica-o, quem já o for tor-na a ouvir.

E nesta feira das vaidades falta-nos ainda olhar o frontispício dos bólides do “off road”. Faróis e farolins são tantos que fazem corar de inveja a Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Alguns até os instalam por cima do tejadilho, assim a modos que em bateria, para aumentarem o poder de “fogo”, quer dizer, de iluminação.

A condizer com o aparato luminotécnico, e até como suporte do mesmo, também se pode optar pela instalação de mata búfa-

los, mata cães ou, porque não e devido à sua imponência, mata dinossauros. Desde que sejam cromados e brilhem, são sem-pre bem-vindos.

No vidro detrás assenta que nem uma luva um autocolante com o dedo do meio bem esti-cado ou uma frase curta, mas grosseira e alarve.

Ah! É verdade. Termine-se com os pneus.

Quanto mais largos, melhor. Montados em jantes brilhan-tes e que espantem os pacatos transeuntes, de preferência da-quelas que ameaçam partir-se a

cada instante mas que ostentem a sobranceria dos “iluminados”.Resta-me falar-vos dos “reizinhos “e “rainhazitas” que se alcan-

doram aos píncaros do absurdo e da sua idiossincrasia e que per-mutaram seus reinos de “faz-de-conta”.

Gostam de aparentar que estão bem na vida, mas alguns “ates-tam” os depósitos com 200 paus, nas noites de sexta-feira.

Um certo número arreia-se com as últimas novidades da moda, saídas directamente das “pomposas boutiques” do Shopping “Ca-lamidades”.

A eles nunca lhes falta a meia branca a despontar no sapato bem lustroso e com biqueira chata e espalmada.

A elas sobram-lhes os refegos das carnudas nádegas na cintura descaída das jeans deslavadas.

A eles vêem-se-lhes os pelos do peito por entre os colarinhos abertos, ofuscados pelo brilho do fio de ouro que mais parece uma corrente de prender o cão.

A elas abundam-lhes anéis por todos os dedos das mãos, e até dos pezinhos.

A eles reluz-lhes a cabeça rapada e empertiga-se-lhes o ventre proeminente.

A elas soltam-se ao vento as mal-amanhadas extensões louras e vermelhas que enxotam amiúde com um gesto displicente.

A ambos cresce-lhes pose e artifício em contraponto à carência de “chá” e de “berço”.

Chegam de reinos artificiais e imaginários, os seus períodos de “poder” serão efémeros e sem história.

Como as borboletas, em breve se metamorfosearão em larvas ar-trópodes, emparedadas no casulo estreito dos dias parados.

O meu reino por um “four by four”

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OPINÃO

Revista Capital 43

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