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Fonoaudiologia:curso nota “A”

2 10 a 16 de junho de 2002

Newton Luís Mamede

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba

As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Supervisão de Edição: Celi Camargo ([email protected]) • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) • • •Diretor do Curso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenadora da habilitação em Jornalismo: Alzira Borges da Silva ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle ([email protected]) • • • Professores Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]),Vicente Higino de Moura ([email protected]) e Edmundo Heráclito ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Suporte de Informática: CláudioMaia Leopoldo ([email protected]) • • • Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • •Impressão: Jornal da Manhã • • • Fale conosco: Universidade de Uberaba - Comunicação Social - Bloco L - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • Tel: (34)3319-8952 • http:/www.revelacaoonline.uniube.br

No meio escolar, incluindo ouniversitário, é comum a associação depoder ou autoridade com cultura ousabedoria. Ou a relação de causa e efeitoentre posição de poder ou de mando econhecimento ou erudição cultural. Essepoder ou sentimento de autoridade começa,já, na sala de aula, com a simples função deprofessor, ou seja, de ministrar aulas. Omestre acha-se um polivalente cultural eemite conceitos e opiniões sobre qualquerassunto ou tema, muitas vezes sem nenhumfundamento de verdade e de realidade. Maso fato de ser professor confere-lhe umaespécie de superioridade cultural em relaçãoaos alunos, e ele, então, deita cultura eerudição. E, como fala com segurança, éouvido e seguido pelos discípulos, que vêemnele um sábio. E quantas inverdadesocorrem nesses casos! Até mesmo deconteúdo da própria disciplina ministrada.Quantos conceitos falsos, quantasinformações erradas, quantas heresias!

A situação se agrava quando o professorassume qualquer cargo de chefia. Se fordiretor de escola de ensino fundamental emédio, ele encarna a função e passaimediatamente por uma metamorfosecultural, acreditando que o poder lheimprime, automaticamente, o dom dasabedoria universal. E, então, o diretor“ensina” português aos demais professorese aos alunos, mesmo que seus conceitossejam violentas agressões ao vernáculo,ridículas aberrações gramaticais. E se atreveaté a “corrigir” frases certas escritas emcartazes ou avisos. Como é o caso de umadiretora de escola pública que reuniu osprofessores de português e deu-lhes um rápidoe ríspido sermão, ordenando-lhes queretificassem os cartazes afixados nas paredes,retirando o acento circunflexo da palavra você,pois essa palavra “perdeu o acento”... E nãoadiantaram os protestos dos verdadeirosconhecedores do assunto. A autoridade dadiretora autoensinou-lhe gramática...

Atualmente, a coisa se complica eacontece em universidades, em empresas de

O podere o saber

grande porte, em bancos, em repartiçõespúblicas. Surge uma dúvida e logo “alguém”sugere que se consulte o chefe, ou o diretor.Ou o patrão. Este, sim, acha-se um legítimoSócrates... Isto é, consultar o chefe significaelegê-lo um sábio. Ele, então, para se impor,responde com segurança e todos acreditamnele, mesmo que tenha expelido umaasneira.

Há episódios folclóricos, pitorescos,humorísticos sobre esse fenômeno. Asaberrações culturais praticadas porestudantes, em provas e redações, edivulgadas por todos os meios,principalmente pela internet e pelosapresentadores de programas de televisão,podem muito bem rivalizar-se com ascometidas e praticadas por chefes, patrões,diretores, magistrados, ou seja, por quemexerce qualquer forma de poder e de mando.Para citar apenas uma, lembro o gerente deum banco que ensinou a um subordinadoconsulente a pronúncia de uma palavralatina. O “manda-chuva” não sabia nemportuguês, mas arvorou-se em conhecedordo clássico e complexo idioma de Ovídio ede Horácio, de Cícero e de Sêneca, epronunciou a palavra latina com umafonética inglesa... Trata-se de sonsabsolutamente distintos, mas o “sábio”financista inglesou o latim e ostentou seusaber emanado da autoridade que eleexercia.

A solidez de conhecimento, a segurançade conceitos, a erudição cultural, o saberintelectual não decorrem de promoções eascensões momentâneas e efêmeras, mas deárduo, longo e persistente exercício dainteligência na prática diuturna de estudoexaustivo, de verdadeiro cultivo dointelecto. O poder e o saber são distintos eautônomos. E, é claro, a autoridade do saberé incomensuravelmente superior àautoridade do poder. Einstein éinfinitamente superior a Hitler.

Newton Luís Mamede é Ombudsmanda Universidade de Uberaba

Júneo Reis *

Quando se trata da Fonoaudiologia,podemos dizer que é um curso relativamentenovo no âmbito nacional, porém com vastocampo de atuação. A Fonoaudiologia, talcomo outras profissões consideradasnobres, surgiu e consolidou-se a partir deuma enorme necessidade social ligadaprincipalmente às áreas da saúde e daeducação. Essas demandas não eramatendidas de forma específica pelasprofissões mais tradicionais, como amedicina, por nãoestarem dentro doperfil de suas forma-ções e atuações. Em-bora as primeirasnotícias relatadas daspráticas fonoaudio-lógicas tenham sidorealizadas entre asdécadas de 20 e 40,eram fundamentadaspela medicina preventiva.

A partir dessa importante necessidade,começa na década de 60 a surgir cursos paraformar profissionais com o objetivo de atuarno campo dos chamados “Distúrbios daComunicação”. Eis que nasce o“conhecimento fonoaudiológico”, e a partirdesse, o profissional tão almejado, que terácomo objetivo atuar em pesquisas,prevenção, avaliação e terapia, nas áreas dalinguagem oral e escrita, voz, motricidadeoral e audição, bem como o apefeiçoamentodos padrões de fala e voz.

Já na década de 80, mais precisamenteem 9 de dezembro de 1981, é aprovada alei de nº 6965, possibilitando aofonoaudiólogo, legais direitos de atuaçãoneste mercado. Desde então, e de maneiraformal, o fonoaudiólogo tornou-seresponsável pela saúde da comunição, item

que vem a ser uma característicadiferenciadora do ser humano.

A Fonoaudiologia possui profundoembasamento teórico-tecnico e científico,mantendo uma íntima relação com outrasáreas de conhecimento, ampliando os seushorizontes através de uma interface comoutras ciências, tais como: Lingüística,Psicologia, Psicolingüística, Educação,Biologia, Física, Odontologia, Medicina,entre outros.

Em épocas contemporâneas, aFonoaudiologia é uma carreira universitária

plena, com gradua-ção em nível supe-rior, especializações,mestrado, doutoradoe atualmente livre-docentes. Com suaalta produção aca-dêmica-científica,que pode ser facil-mente medida peloenorme volume de

monografias, teses, dissertações, capítulosde livros, livros e publicações em revistasespecializadas nacionais e internacionais,tem constituído um campo de saberespecífico.

Na Universidade de Uberaba o curso deFonoaudiologia foi implantado em 1997, ereconhecido pelo MEC no ano de 2000,com o conceito A, tornando se referêncianacional.

A formação do fonoaudiólogo naUniversidade de Uberaba contempla não sóo aspecto técnico-científico, mas tambémo enfoque humanístico e social destaatuação, capacitando esse profissional aatuar sobre a realidade sócio-economico ecultural da população, enquanto promotorde saúde.

Aluno do 2˚ período de Fonoaudiologia

A formação do fonoaudiólogona Universidade de Uberabacontempla não só o aspectotécnico-científico, mas tam-bém o enfoque humanístico esocial desta atuação

Profissionais cuidam dos “Distúrbios da Comunicação”

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Júlio César Domingos2º período de Jornalismo

Antônio Carlos Marques saiu de SãoPaulo, Capital, aos seis anos de idade. Opaulistano veio com toda família paraUberaba onde mora até hoje. Filho decomerciantes, desde de muito cedo mostrouque não tinha jeito para a profissão do pai.Garoto de personalidade e apurado sensode pesquisa preferiu enveredar-se por outroscaminhos. Na adolescência descobriu a suaverdadeira vocação através do médico,dentista e historiador aposentado EdelvairTeixeira, que com suas histórias do folclorebrasileiro despertou a curiosidade do jovemque posteriormente se tornaria o Assessorde Cultura Popular da cidade de Uberaba ediretor da Fundação Cultural. AntônioCarlos não esconde o orgulho de trabalharcom o folclore e a cultura brasileira. Ao falardas origens das festas do nosso país seexalta, mas se irrita com a descaracterizaçãodos nossos costumes e com a invasão defestas estrangeiras. O professor de literaturae redação, que tem no seu escritóriobandeiras dos três clubes do seu coração,Galo, Vasco e Santos, fala sobre ascaracterísticas da festa junina.

Revelação: Qual a origem da festajunina?

Antônio Carlos Marques: Pelo que nóssabemos ela é de origem européia, maisprecisamente francesa. Foi trazida eradicada no sul do paísmantendo ascaracterísticas euro-péias, e posteriormenteespalhou-se para outrasregiões brasileiras. Emalgumas regiões a festajunina recebia umaadaptação brasileira, como no norte enordeste; em outras como centro oeste eregião sul foram presevadas algumascaracterísticas, principalmente nacoreografia. Alguns nomes que fazem amarcação da quadrilha, como “anavan”,“anarriê”, são de origem francesa. A gentesabe também que na França eram comunsaqueles vestidos longos e rodadosque aindapredominam no Sul. Já na nossa região, aquino sudeste, aconteceu uma descarac-terização a partir do personagem Jeca Tatu,criado por Monteiro Lobato para ser o

garoto propaganda do Biotônico Fontoura,então houve uma descaracterização no

figurino das quadrilhas.Aqui o pessoal usa, porexemplo, uma camisaxadrez, calça remendadaum sapato ou uma botinafurada, fugindo um poucode suas origens. Essamudança só aconteceu por

causa do personagem do Monteiro Lobato.

Revelação: As escolas contribuíramtambém para a descaracterização dafesta junina?

Marques: Sim, claro. Eu entendo que opessoal da zona rural quando vai a uma festausa o melhor traje que tem e não com roupasrasgadas e velhas como foi propagado nocomercial idealizado por Monteiro Lobatono personagem Jeca Tatu. As escolas ao invésde corrigir essa falha contribuem na suacontinuidade. Sem dúvida alguma é um erro

que deveria ser corrigido por nossas escolaspara podermos manter nossas tradições semdenegri-las. Essasescolas que deveriamfazer um trabalho parapreservar estão contri-buindo para desca-racterizar essa festatão bonita e popularque é a festa junina. Osprofessores deveriam incentivar os alunos afazerem pesquisas para saberem asverdadeiras origens da festa. Eu já deipalestras em escolas e os professores ediretores até acham ruim quando a gente fazesse tipo de correção, mas essa é a função dohistoriador, resgatar as nossas tradições comoelas realmente são e não como algumaspessoas acha que é.

Revelação - As comidas das festasjuninas também foram adaptadas aoregionalismo brasileiro?

Marques: Houve uma adaptação noBrasil, pois a festa está diretamente ligadaao ciclo do milho. E é por causa desse cicloque temos nesse período comidas derivadasdo milho, como o bolo de fubá, a canjicada,o próprio milho cozido. Temos também oamendoim torrado, muito apreciado pelaspessoas mais idosas que creditam a ele umcerto poder afrodisíaco. Mas, as maispopulares são essas que eu citei.

Revelação - Existe alguma domunicípio, específica para incentivara promoção festas juninas?

Marques: Não, não tem. Lembro queaté bem pouco tempo havia umamanifestação muito grande dos própriosmoradores de determinas ruas de Uberabaque organizavam de forma independentesuas festas juninas, às vezes o bairro inteirose mobilizava, haviam barracas quearrecadavam dinheiro e posteriormenterepassavam para entidades assistenciais.Tenho notado que isso tem diminuído emUberaba, mas sinceramente eu não sei seisso vem acontecendo por falta de verba dopoder público Uberabense o que eu sei epude constatar é que a festa junina emUberaba já não tem a mesma força e brilhode alguns anos atrás.

Revelação: É verdade que a fundaçãocultural tem um projeto para arrecadarfundos através das festas juninas pararepassar a entidades assistenciais?

Marques: Sim éverdade. Vamos fazeruma reunião comvárias casas assis-tenciais no sentido defazermos uma grandefesta junina, durantedois dias, em uma

avenida central de Uberaba, para o povãoe toda renda seria revertida para as própriasentidades de assistência social. Nos estamospensando em criar vários prêmios emdinheiro para a melhor barraca, ou seja amais ornamentada tipicamente, fazer umaespécie de competição entre várias e premia-las. Seria uma festa muito interessante, poisalém de resgatar a essência da festa juninaestaríamos ajudando várias entidades etambém integrando e familiarizando acomunidade uberabense com sua culturaque é tão rica.

Jeca Tatu descaracterizou festa juninaPersonagem de Monteiro Lobato é “responsável” pela introdução de calça remendada e botina furada

Em algumas regiões a festa junina recebeu adaptações

Jeca Tatu foi criado porMonteiro Lobato para sero garoto propaganda doBiotônico Fontoura

Os professores deveriamincentivar os alunos a fazerempesquisas para saberem asverdadeiras origens da festa

reprodução

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Adriana Amaral7º período de Jornalismo

Futebol é o assunto do mês. Ninguémfala em outra coisa a não ser na Copa doMundo. Mas, você sabe como surgiu esteesporte? Algumas provas encontradas naAntigüidade por arqueólogos permitiramque eles afirmassem que um jogo de bola jáera conhecido há mais de 30 séculos noEgito e na Babilônia.

E x i s t e mreferências de que, porvolta do ano 206 a 220d.C., um tipo de jogo,chamado tsu-chu, erapraticado por todo oimpério chinês. Oescritor Yang-tse relataque oito participantes tentavam passar a bola(feita de couro, cheia de cabelo ou crina),através de uma demarcação, que eram duasestacas fixadas no chão e ligadas por umfio de seda.

No Japão, um jogo idêntico era praticadocom o nome de kemari, o qual era um passa-tempo da realeza. Os romanos usavam umabexiga de boi como bola. O campo eraretangular, com uma linha divisória,devendo as duas equipes lutar pela possede bola e tentar levá-la até a meta adversária.Os romanos difundiram este jogo,denominado harpastum, pelos locais ondepassava o seu exército.

Na Idade Média, foirealizado um jogo debola na Inglaterra. Estepode ter sido oprecursor do futebolmoderno. Um númeroilimitado de participantes, às vezes 400 a500 de cada lado, corriam atrás de uma bolade couro fabricada pelo sapateiro local, como mesmo objetivo de hoje. Cada equipedefendia um lado da cidade (norte e sul).Os participantes podiam usar tanto os péscomo as mãos. Esses jogos eram muitoviolentos e sofreram críticas em toda aInglaterra, principalmente depois quesurgiram vítimas.

Futebol modernoO futebol moderno surgiu no dia 26 de

outubro de 1863, através de reuniões doscolégios londrinos, que disputavam entre si.

O objetivo era estabelecer regras e criarama The Football Association (F.A.), o órgãomáximo do futebol inglês, que funciona atéhoje.Treze normas foram firmadas, em quetornaram o jogo menos violento e proibiramo contato corporal, por exemplo.

Com a aprovação das regras, os torneiosforam acontecendo, resultando, em 1883,no primeiro campeonato britânico defutebol. Na opinião de Luiz Antônio

C a m p o s ,coordenador do cursode Educação Físicada Universidade deUberaba, o futebolpassou a serintegrante do sistemaeducacional. “Avontade de vencer

poderia formar líderes e heróis”, disse.Em 1902, o holandês Hirschmann

enviou uma carta ao inglês Frederick Wall,propondo a criação de um órgão capaz decuidar do futebol a nível mundial. O inglêsnão gostou muito, pois poderiacomprometer a soberania inglesa dentrodesse esporte, mas não foi contrário àiniciativa do holandês.

Assim, em 13 de janeiro de 1904, foicriada a FIFA (Federation International ofFootball Association), fundada por setepaíses da Europa, como Suécia, França,Holanda, Dinamarca, Espanha e Suíça. A

sede provisória foiinstalada em Paris.

A primeira Copa doMundo aconteceu em1930, no Uruguai. De1930 a 1998 foramdezesseis copas,

realizadas de quatro em quatro anos. Em1942 e 1946, não foram realizadas em razãoda Segunda Guerra Mundial.

BrasilO futebol foi introduzido no Brasil por

Charles Miiller, paulista, nascido em 1874.Ele concluiu seus estudos e foi se especi-alizar na Inglaterra, onde conheceu o fute-bol e aprendeu a jogá-lo. De volta ao Bra-sil, organizou e praticou este esporte. Em1910, parou de jogar, passando a apitar jo-gos até 1914.

O primeiro órgão paulista para organizarfutebol foi criado em 1901, pelos clubes

Futebol passou por diversasmodificações na históriaTimes já chegaram a ter mais de 400 pessoas

pioneiros. Um ano depois, aconteceu oprimeiro campeonato oficial brasileiro, coma participação do São Paulo Athletic Club,Sport Club Internacional, Club AtléticoPaulistano e Associação Atlética MackenzieCollege.

Oscar Cox fez o mesmo caminho deMiiller. Estudou na Suíça e trouxe umagrande quantidade de material esportivoquando regressou. Organizou as primeirasequipes e disputas no Rio de Janeiro. É umdos fundadores do Fluminense FutebolClube. O primeiro campeonato carioca foidisputado em 1906, com o Fluminensecampeão.

Vicente Higino, professor do curso deComunicação Social da Universidade de

Uberaba e afirmou que o esporte evoluiumuito, em relação ao material esportivo etáticas de jogo. Além disso, ele completoudizendo que o futebol deu certo no Brasilpor causa da falta de lazer no país, naquelaépoca. “Na Inglaterra, tinham teatro,musicais, e aqui não. Só a elite podia jogar.E a parte mais pobre se dispôs e jogavamuito bem. Hoje, acredito muito no Brasil.Não só porque é o único país a participarde todas as copas ou o único a ser tetra, masporque o time cresce durante a competição.Demos sorte no sorteio e pegamos um grupofraco para começar o campeonato. Isso vaiservir como um treino para os jogadores.Acho que cada fase é um momento e euacredito muito no nosso país”, concluiu.

Existem referências de que,por volta do ano 206 a 220d.C., um tipo de jogo, chamadotsu-chu, era praticado portodo o império chinês

O futebol foi introduzido noBrasil pelo paulistaCharles Miiller

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Você acha importante preservar opatrimônio histórico de Uberaba?

Felipe AugustoAntônio Marcos1º período de Jornalismo

Reportagens veiculadas noRevelação denunciando o abandono dopatrimônio histórico e cultural emUberaba despertaram maior interessepela preservação. Veja o que osuniversitários pensam sobre essaquestão

Marina Fróes3º período de Turismo“Toda cidade tem seu valor histórico,e Uberaba não é diferente. Oproblema está na falta de interesse –não só do povo, mas também daprefeitura da cidade – em dar ênfaseneste aspecto tão importante, ondealém de ter uma influênciaeconômica, estaria ressaltando ahistória da cidade – tão esquecidahoje pelo povo uberabense”

Michelle Marques, Lisa Gonçalves2º período de Biomedicina“Deve preservar sim, porque é umamarca da história que as geraçõesfuturas devem conhecer. E alémdisso a preservação deixa umamarca concreta”

Lílian sousa, Kátia Lemos,Lorena Sousa, Lisandra Costa“Acho que Uberaba é muitoconhecida e muito visitada,e ainda têm os alunos de fora quepodem falar bem daquiem sua cidade. Por issodeve ser preservado”

Cleonice Corrêa3º período de Arquitetura“Acho que deve ser preservado,pois mantém uma tradição e umahistória viva”

Pollyana Lopes1º período de Ciências Biológicas“Acho importante, porqueé um patrimônio históricoonde cada tijolo daconstrução representa umpedaço do nosso passado”

Ubirajara NetoProfessor de Direito ConstitucionalAcho que deve se lutar pela preservaçãoreal e não fictícia. No sentido que existemleis que obrigam a preservação, mas osrepresentantes do povo não injetam dinheiroe acaba o patrimônio caindo por si só”

Mona Lisa Bevilacqua,Laura Machado5º e 6º período de Farmácia Industrial“Sim porque é a história que faz parteda vida do povo”Laurene Tavares

2º período de fonoaudiologia“Mantendo estacaracterização, as marcastambém são mantidase podem reconstituir umaspecto social e econômico”

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Wesley Jacinto7º período de Jornalismo

Quem poderia imaginar que uma pessoaportadora de diabetes teria no doce a sua fontede vida? Pode parecer antagônico, mas estaé a realidade vividapor dona IdalmaMárquez da Silva.Moradora emPeirópolis, distritode Uberaba, nacio-nalmente conhecidopor ser um dos maiores sítios paleontológicosdo país, há seis anos ela organizou um grupode mulheres para tornar mais lucrativa a ati-vidade que faziam em casa somente para oconsumo interno: a produção de doces ca-seiros. Tendo em vista o turismo crescentena região, elas aproveitaram este filão paraescoar a produção e aumentar a fonte de ren-

da. “Fazer doce é a minha vida”, garante ela.Assim, com a ajuda de dona Zilda Fran-

ça, que na época era funcionária da Emater,as mulheres se uniram para aprender comoaproveitar melhor as frutas existentes na re-gião e como o dom de cada uma poderia re-

verter em dinheiro.Além de trocarem re-ceitas nos mini-cur-sos ministrados porZilda França, elasaprenderam a mani-pular as frutas visan-

do um melhor aproveitamento e acondicio-namento das popas, para que mesmo em pe-ríodo de entressafra a produção não fiqueprejudicada. Até a apresentação dos docespara o consumidor as doceiras aprenderam.Doces cristalizados, em barra, compotas,além de licores, pimentas e conservas de pro-dutos são fabricados por elas.

A era do doceem PeirópolisHá milhões de anos a terra era dos dinossauros. Hoje é dos doces caseiros

O negócio foi ganhando corpo e o grupode mulheres cada vez mais ia aumentando.As dores nas colunas e nas pernas, proveni-entes da diabete, para dona Idalma não fo-ram suficientes para barrar a garra e a vonatdede vencer. Além de cuidar dos doces ela éresponsável pelos afazeres domésticos e ain-da cuida de um vasto pomar onde tem plan-tado pés de carambola, laranja, goiaba, cidra,limão e acerola cujos frutos se transformamem saborosos doces. Além dessas qualida-des, ela e as colegas produzem ainda docesde banana, côco e figo, cujas frutas são com-pradas na região.

Para facilitar e centralizar as vendas, asdoceiras conseguiram montar um ponto de-nominado de Casinha de doces. O períodode férias e feriado é o melhor momento paraa comercialização. O grupo de doceiras, quejá somam em 13 mulheres, chegam a faturaralto no fim do mês. Como cada doce contém

no rótulo o nome de cada doceira, a partilhado lucro fica fácil, 5% da renda é destinado àloja e o restante vai para as donas dos docesvendidos. Segundo dona Idalma, ela já che-gou a faturar R$ 400 por semana. O dinheirofica em casa, contribuindo para melhorar aqualidade de vida da família e também in-vestindo na melhoriado empreendimento.

Idalma conta quecomprou um fogãonovo e um freezerpara congelar as po-pas e garantir a pro-dução de determina-dos doces no período de entressafra. Por tudoisso, a família dela trabalha unida. Quando omovimento aperta, filhas e genros vão para abeirada do fogão ajudar. O retorno também égarantido. Com o dinheiro que ganha, Idalmagarantiu o carrinho de bebê da netinha, deapenas dois meses de idade. “Ela também vaicair no doce”, brinca a vó orgulhoso, não dis-farçando a corujice estampada no rosto.

“Eu ainda tô pagando a prestação do meuguarda-roupa, da cama, da mesa e do sofá”,conta sorridente. A filha de Idalma, SheilaMessias da Silva, conseguiu concluir o cur-so de pedagogia com a renda proveniente dosdoces. Ela também integra o grupo. O públi-co consumidor é fiel, as doceiras atestam quequem prova dos doces de Peirópolis voltapara comprar mais. Assim foi com o senhorRaimundo Pereira da Silva Júnior. Ele traba-lha em Ponte Alta e sempre que pode vai àPeirópolis saborear as diversas qualidades dedoces. “Os produtos são bem saborosos, deboa qualidade, o preço é bem acessivel equem passa pelo local quer voltar sempre”,destacou.

O sonhoHoje as doceiras vendem para o mercado

de Uberaba. Mas seus produtos vão além das

Quem poderia imaginar que umapessoa portadora de diabetesteria no doce a sua fonte de vida?

Sonho é uma cozipara profissionalo empreendimento selo de qualidad

Se doce lembra festa, alegria, sua fabricação não é diferente. As doceiras cantam e brincam enquanto cortam a fruta e mexem o tacho

Hoje os doces são vendidos exclusivamente

captura de tela (imagens: Renê Vieira)

Doceiras

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fronteiras levados pelas mãos dos turistas. Osonho delas é conseguir construir uma cozi-nha comunitária, para que possamprofissionalizar ainda mais o empreendimen-to e conseguir o selo de qualidade. Elas pre-tendem alcançar o mercado externo, já que aprocura de outros estados é grande.

Para alcança-rem este objetivo asdoceiras sonhamem construir a cozi-nha comunitária,nos moldes exigi-dos pela VigilânciaSanitária. De acor-

do com Sheila Messias o grupo poderia tercrescido ainda mais se elas tivessem conse-guido o terreno prometido. Ela destacou quea contrução desta cozinha, ou de umaagroindústria seria necessária para a associ-ação trabalhar unida.

O terreno até que foi doado, mas nada decozinha. Lia Peiró moradora de Peirópolis feza doação, mas segundo ela o vereador JãoGilberto Ripposati está com o papel de doa-ção sob o pretesto de elaborar o projeto deconstrução desta cozinha. “Só que até hojeesse projeto não apareceu”, acrescentou.

O vereador Ripposati disse que o proje-to foi elaborado, junto a uma equipe de ar-quitetos e está na mão da Secretaria de Ciên-cia e Tecnologia. Ele informou ainda que estáno Ministério da Cultura, em Brasília, a es-pera de recursos, o projeto chamado“Revitalização de Peirópolis”.

A FestaSe o doce lembra festa, alegria, a sua fa-

bricação entre as doceiras de Peirópolis nãoé diferente. Durante a lida, elas cantam, brin-cam enquanto cortam a fruta e mexem o ta-cho quente. O trabalho consome apenas par-te do dia, o que possibilita a algumas mulhe-res manterem outras atividades profissionais.

A doceira Maria Aparecida Nunes écantineira da escola pública de Peirópolis. Elaentrou no grupo depois que a casinha de docefoi construida e destacou o apoio obtido porparte das outras doceiras que já estavam nogrupo. Ela achava que não iria dar conta defabricar seus doces. Foi a partir dos cursosoferecidos pelas Emater, que MariaAparecida se animou.

Solange Maria Corrêa Silva divide o tem-po entre a fabricação de doces e as ativida-des na Fundação Peirópolis. Ela é funcioná-ria pública há dez anos. O dinheiro que ob-tém vendendo doces e o salário na Funda-ção reforça a renda familiar.

o que declara Solange Maria Corrêa Silva.“Estou emocionada, é uma oportunidademuito boa que vocês deram pra gente, e agente sente mais valorizada e com mais von-tade de trabalhar”, declarou.

As doceiras falam como se este traba-lho fosse uma porta de saída do anonimatopara o maior reconhecimento de suas ativi-dades. “Depois de ter assistido a fita, vimoso valor do trabalho da gente. a gente come-ça a dar valor a si próprio, ver que isso podeir além do que vimos hoje. Achei muito bomter colocado as dificuldade que temos e ou-vir o que os responsáveis tem a dizer” co-menta Sheila Messias da Silva.

Idalma, outra exímia doceira, disse queespera com este vídeo, adquirir a cozinhacomunitária, e conseqüentemente aumen-tar a produção dos doces. O mesmo é pro-nunciado por Maria Aparecida Nunes, quealém de doceira trabalha na escola da co-munidade. O brilho nos seus olhos mistu-rado com as lágrimas, falavam de esperan-ça, de vontade de vencer os obstáculos, eapostar num futuro promissor. Suas expres-sões confessavam naquele salão que elasacreditam que a organização e a luta trans-formam realidades, e que o sonho de ampli-ar a comercialização que tanto almejam, nãoé algo inviável, mas possível.

Essas senhoras dão o exemplo, que aconstrução de uma sociedade alternativa emdetrimento da atual conjuntura, dá-se coma organização e com a consciência de que,podemos ocupar uma posição melhor na so-ciedade. O desenvolvimento é direito detodos, não se limita apenas a quem tiveramgrandes oportunidades, mas também àque-les que estão dispostos a trabalhar para quea realidade seja mais branda.

Vídeo documentárioemociona doceiras

nha comunitáriaizar ainda maisto e conseguirde

para o mercado de Uberaba...

... mas as doceiras pretendem alcançar outros mercados,já que a procura pelos doces é grande

Leonardo Boloni

Dona Idalma não esconde a emoção ao ver o vídeo

Margarida Ribeiro7º período de Jornalismo

Numa noite fria, mas de clima prazeroso,típico de Peirópolis, moradores chegavam aoauditório da Fundação que leva o nome dolocal, trazendo consigo uma expectativa queera demonstrada na aflição e no burburinhoda conversa em tom baixo entre uma pessoa eoutra. Uns chegava a pé, outros de bicicleta;traziam cachorro, crianças, enfim, era umanoite diferente para a pacata população do lo-cal, mas preservando o caráter familiar queimpera entre os moradores.

A reunião era para apresentar um vídeo-documentário intitulado “O doce e a fera”,produzido pelos alunos do sétimo período dejornalismo da Universidade de Uberaba, so-bre as doceiras de Peirópolis. O ambiente seassemelhava a um cinema dos anos antigos,como demonstram os filmes de época. O lo-cal era bem simples, mas aconchegante. Aspessoas se acomodavam nas cadeiras distri-buídas na grande sala, tendo em sua frenteos objetos que julgamos ser os protagonistasda noite: a televisão e o vídeo. No rosto decada pessoa podia-se contemplar uma expec-tativa, que se revestia de alegria e orgulhopelas senhoras doceiras prestes a aparecer natelinha.

“O doce e a fera” mostra as facetas dassenhoras que dividem seu tempo com os com-promissos familiares, trabalhos e a atividadeque a tornaram conhecidas como habilido-sas doceiras de Peirópolis. Entre sorrisos elágrimas, elas demonstravam felicidade ao severem no vídeo. Porém, a alegria maior foipor motivos superiores a este. Para as obsti-nadas doceiras o documentário significa, in-centivo e credibilidade no que elas fazem. É

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Adriana Amaral7º período de Jornalismo

A idéia de fazer um vídeo mostrando aforça e o poder de politização de um grupode mulheres que deixaram de ser meramentedonas de casa para trilhar no ramo comer-cial, começou quando a professora da dis-ciplina de Telejornalismo, SimoneBortoliero, resolveu aplicar aos seus alunosuma atividade, para que eles colocassem emprática toda a teoria aprendida. O objetivo,então, era produzirmos um vídeo-documentário. Para isso, precisávamos deum tema. Algo que fosse diferente do quejá haviam feito até hoje e que tivesse umefeito especial quando fosse apresentadopara a sociedade. Assim, já com a turmadividida em dois grupos, o nosso decidiufazer sobre as doceiras de Peirópolis. Sãomulheres que fazem doces caseiros evendem para os turistas, que visitam o localcom o objetivo de conhecer os fósseis dedinossauros descobertos na região.

Com o tema escolhido, fomos atéPeirópolis fazer o primeiro contato com aorganizadora do grupo, a dona IdalmaMárquez. A primeira dúvida que nos vinhaa cabeça eram: será que elas vão aceitar afilmagem? Será que vai dar tudo certo? Oque elas vão achar da nossa idéia? Aquelelocal desconhecido nos exigia muita cautelapara pisar onde quer que fossemos, pois nãoera somente um trabalho de faculdade, masum teste para sabermos se conseguíamostrabalhar em equipe.

Chegando em Peirópolis, após sermosinformados onde era a casa de dona Idalma,partimos para o nosso desafio. Enquanto ía-mos numa pequena estrada de terra, ia su-bindo um “friozinho” na barriga e a expec-tativa aumentava. Encontramos, então, acasa e, lá dentro, algumas pessoas: donaIdalma, sua filha Sheila, e a outra filha como namorado que estavam deitados no sofá,recuperando-se do acidente de moto sofridono dia anterior.

Logo nos apresentamos para donaIdalma e dissemos o que queríamos ali. Elanos contou sobre o trabalho das doceiras,as histórias de algumas delas, as frutas queusavam, qual era a renda mensal e quantogastavam com materiais. Quando colhemosas informações principais, e necessárias, in-

formamos que voltaríamos na próximasemana para começar o trabalho. Marcamosa data e a hora. Ao atravessarmos suacozinha, ela nos ofereceu um doce debolinha de queijo que estava dentro de umpote de vidro. “Já que o trabalho é sobredoce, experimentem”,disse.

Saboreando aqueladelícia que desmancha-va e se misturava emnossa saliva, que escorria antes de ocolocarmos na boca, saímos matutando oque iríamos fazer a partir de então. Durantea semana pesquisamos sobre Peirópolis,para colocarmos no vídeo uma referênciado local. Chegando novamente na casa dedona Idalma, tivemos uma surpresa: todasas mulheres que faziam parte do grupoestavam reunidas e nos esperando. Comonos atrasamos alguns minutos, elas já

tinham começado a fazer um doce de goiabaem compota. Aproveitamos a oportunidadepara iniciar as filmagens. Ainda estava nocomeço da receita. Assim, pudemos filmartodo o processo. Enquanto mexiam o doce,a vermelhidão da fruta, embebido numa

calda de açúcar, faziacom que nossas bocas,mais uma vez, seenchessem de água.Estávamos quase

devorando com os olhos quando as mulhe-res terminaram e nos ofereceram um poucodaquela maravilha.

Solange Silva, uma das doceiras quetambém é funcionária pública disse que estetrabalho é um complemento da minha rendamensal. “Mas, para algumas aqui, o dinheiroda venda dos doces é todo o dinheiro domês”, confessou.

Assim se passaram dois meses, e nós vi-

Documentário mostra a força deum grupo de mulheresRepercussão pode fortalecer a luta pela cozinha comunitária

sitamos o local seis vezes, conhecendo a fun-do o trabalho dessas mulheres e seus sonhos.Entre as aspirações do grupo está a constru-ção de uma cozinha comunitária, pois, hoje,cada uma faz o doce em sua própria casa. Oterreno para esta construção foi doado, em-bora a escritura ainda não esteja na mão dogrupo. Na tentativa de ajudar as doceiras achegar perto da realização desse sonho, ti-vemos que entrevistar políticos que prome-teram ajuda e, que asseguraram que o casoestá sendo estudado.

Depois de todas as entrevistas captadas,partimos para a edição do material. A re-compensa maior de tudo isto não foi determos conseguido cumprir a tarefadeterminada pela professora, mas sim de vera satisfação das mulheres que acreditam quede posse do vídeo elas poderão cobrar commais respaldo à construção da cozinhacomunitária.

“Já que o trabalho é sobredoce, experimentem”

Para algumas mulheres, o dinheiro da venda dos doces é toda a renda do mês

captura de tela (imagens: Renê Vieira)

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Wagner Fonseca6º período de Jornalismo

A primeira participação do Brasil emmundiais foi no ano de 1930, no Uruguai,justamente na versão inaugural docampeonato. Na década de 30, o futebol eraconsiderado pelo escritor Lima Barreto umaoportunidade de supremacia da elite brancasobre os negros. Fatos do século passado.Não existe mais a discriminaçãofutebolística.

O mundial do Uruguai não foi lá essascoisas para a nação verde-amarela. Já no jogode estréia os Iugoslavos venceram por 2 a 1.Na partida seguinte, mesmo depois de goleara Bolívia por 4 a 0, a seleção arrumou asmalas mais cedo e voltou para casa com a 6ªcolocação. Os uruguaios venceram omundial. Mesmo desclassificado aquele anofoi especial para o atacante Preguinho. Filhodo escritor Coelho Neto, ele entrou para ahistória como autor do primeiro gol brasileiroem Copas do Mundo.

Em 1950, o mundial pós-guerra foidisputado no Brasil. Foi a primeira grandedecepção nacional em todas as copas. Noúltimo jogo a seleção Uruguaia venceu por2 a 1 em pleno Maracanã, o episódio foibatizado de “Maracanazo”.

Oito anos mais tarde, foi a vez deassumirmos o posto de melhor futebol emtodo mundo. A Suécia pôde conhecerjogadores como Didi, Garrincha, Zito,Djalma Santos e Pelé. Na partida final oBrasil venceu os anfitriões por 5 a 2.

A hegemonia brasileira perdurou pormuitos anos. Em 62, no Chile, lá estava maisuma vez os jogadores brasileiroscomemorando o bicampeonato: Brasil 3 a1 sobre a Tchecoslováquia. Depois do bi aseleção nacional venceu em 70 no México(na final 4 a 1 sobre a Itália), e em 94 nosEstados Unidos ( 3 a 2 sobre a Itália nascobranças de pênaltis, após empate sem golsno tempo normal e na prorrogação).

Foram quatro mundiais inesquecíveis.Mas talvez, um dos melhores momentos dofutebol brasileiro foi a copa da Espanha, em82, copa que o Brasil não venceu. A seleçãobrasileira tinha naquele ano alguns dosmelhores jogadores do mundo. O técnicoTelê Santana armou um time que, boa parteda crítica esportiva, considerava o melhorde todos os tempos. Dos jogadores do time-base, dez estavam no Brasil. Apenas o meio-

Paolo Rossi: o algoz de 82O atacante italiano foi o protagonista da decepção brasileiraao derrotar uma das melhores equipes que atuou na copa

Time-base da seleção brasileira de 1982

1- Waldir Perez ( São Paulo )2- Leandro ( Flamengo )3- Oscar ( São Paulo )4- Luizinho ( Atlético-MG )5- Toninho Cerezo ( Atlético-MG )6- Júnior ( Flamengo )7- Falcão ( Roma – Itália )8- Sócrates ( Corinthians )9- Serginho ( São Paulo )10- Zico ( Flamengo )11- Éder ( Atlético-MG )

campista Falcão defendia um timeestrangeiro (ver quadro ). Quem podeacompanhar os jogos pela TV viu umaequipe preparada e séria candidata ao título.Até hoje se fala sobre a seleção de 82.

O jornalista e professor do Curso deComunicação Social da Universidade deUberaba, Vicente Higino, era um dosbrasileiros que dava como certo o títulomundial para o Brasil. Para ele, o time dotreinador Telê Santana vinha de uma boapreparação, com craques consagrados eobjetivos definidos. “O Telê Santana, omelhor treinador de todos os tempos, deuàquela seleção um conjunto melhor do quese esperava”, relembra.

Na rodada das oitavas de final a Argentinaprostou-se diante da força brasileira. Era opassaporte para às quartas de final. “Depoisda nossa vitória sobre a Argentina, 3 a 1, opovo brasileiro lotou as ruas. A confiança quejá existia desde o primeiro jogo aumentou eos torcedores já viam o Brasil campeão naEspanha”, conta Higino.

Na partida que levaria o vencedor àssemifinais aconteceu outra decepção. Pelafrente a fraca Itália; o time era desacreditadoaté pela imprensa italiana. Na primeira fasejogou um futebol fraco e precisou contarcom o apoio do juiz diante da seleção deCamarões. Vicente Higino relata que ositalianos, ao saber que jogariam contra osbrasileiros, “arrumaram as malas” e já seviam voltando para a Itália.

O que os torcedores brasileiros nãoesperavam era que um tal Paolo Rossi,marcasse os 3 gols da vitória italiana sobreo Brasil. Foi uma tarde triste para o futebolnacional. O país todo caiu em lágrimas. Nofinal do jogo, Itália 3 a 2.

A grande curiosidade do mundial foi ofato do atacante Paolo Rossi ter sido escaladodiante de muitos problemas. O protagonistada decepção brasileira estava em péssimasituação com a justiça italiana depois deenvolvimento com a loteria esportiva. Oartilheiro quase foi cortado da seleção, maso destino fez dele campeão mundial.

O dia 5 de julho de 1982 foi uma tardenegra para o futebol do Brasil. Se Deus érealmente brasileiro, naquele dia ele deviaestar com olhos voltados para a seleçãoitaliana. “O Brasil de 82 foi o melhor timede todos os tempos. Foi uma pena aquelaseleção não conquistar o mundial”, lamentaVicente Higino.

Primeiro jogoBrasil 2 a 1 URSS

Segundo jogoBrasil 4 a 1 Escócia

Terceiro jogoBrasil 4 a 0 Nova Zelândia

Oitavas-de-finalBrasil 3 a 1 Argentina

Quartas-de-finalBrasil 2 a 3 Itália

reprodução

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André Teixeira Nunes6º período de Jornalismo

Tudo começou na Portuguesa deDesportos de São Paulo, onde jogou poruma década. Depois, durante dez anos,defendeu as cores e honrou as tradiçõesPalmeirenses. No Atlético Paranaense,permaneceu por mais três anos e meio, ondeencerrou a carreira com mais de quarentaanos de idade. Um profissional, umvencedor, um campeão!

Estamos falando de Djalma Santos, ummaestro na arte de jogar futebol. Ele erasimplesmente, uma mu-ralha. Dono de umatécnica primorosa, muitasvezes enfeitava as jogadascom toques de calcanhar,bicicletas e dribles geniaisque desconsertavam osadverssários. Apesar dofísico privilegiado, ele não era violento enunca foi expulso de uma partida de futebol.

Foi o primeiro jogador do mundo autilizar o lateral como arma letal no ataque.As bolas chegavam nas áreas adversáriascom força e precisão. Disputando a copade 1954, foi considerado o melhor lateraldireito do mundo. Em 1958 foi campeão, eem 1962 foi bicampeão e melhor lateral.Disputou também a copa de 1966. Ídolo emtodos os clubes por onde passou, era grandemarcador e ainda encontrava fôlego para

subir ao ataque, realizando jogadas dígnasde um verdadeiro atacante.

Jogou futebol profissional durante vintee três anos e meio quando conquistou váriostítulos. Dentre eles, o campeonato paulistade 1959, 63 e 66 pelo Palmeiras e ocampeonato paranaense, em 1970, peloAtlético. Considerado um dos melhoreslaterais direitos do mundo, Djalma Santos,um jogador que era incrivelmente técnico epossuía excelente preparo físico, honrou asnossas tradições no Brasil e também emgramados internacionais, numa época emque o futebol empolgava e era sinônimo de

raça, garra e amor.Com uma carreira

invejável, Djalma ainda foicampeão pan-americanoem 1952 pela SeleçãoBrasileira, em 1960 e 1967foi campeão da Taça Brasildefendendo o Palmeiras e

em 1965, campeão do Rio-São Paulo. PelaPortuguesa foi também campeão do Rio-São Paulo em 1952 e 1955.

Com três gols marcados pela SeleçãoBrasileira, o craque se emociona ao recordaro passado. Defensor dos direitos dosjogadores, sempre lutou e continua lutandopela moralização e organização do futebole pela profissionalização dos dirigentes.

Para ele, a grande maioria dos dirigentese treinadores se portam como amadores. “Onosso futebol passa por uma fase difícil, antigamente a gente olhava as equipes do

Rio, São Paulo, Minas, Porto Alegre, e vianaqueles clubes, quatro cinco jogadores emnível de seleção. Então era difícil até paraescolher. Hoje não. Hoje nós temos poucosídolos”, disse.

Futebol de ontemA grande maioria

insiste em dizer, quenas décadas de 50, 60 e70, o futebol era maisfácil de se jogar.Djalma Santos dis-corda. Para ele isso é desculpa pela falta detalentos que temos hoje. “Antigamente erabem mais difícil de jogar do que hoje,porque antigamente você encontrava nasequipes muitos craques, por exemplo oBotafogo tinha um Garrincha, um NiltonSantos, Zagalo, Quarentinha. No Santosvocê pegava um Pelé, um Coutinho, um

Pepe, um Gilmar, um Mauro. Por isso eupenso que hoje é mais fácil devidoprincipalmente a falta de talentos. Mas onosso futebol piorou mesmo foi a partir dadécada de 90, pois até a década de 80, nós

ainda tínhamos grandescraques, por exemplo,no Atlético Mineirovocê pegava um ÉderAleixo, um Reinaldo,Toninho Cerezo, PauloIzidoro, Luizinho,Nelinho. No Flamengotinha um Zico, Júnior,

Leandro; no São Paulo, um Careca, Muller,Silas, Pita, todos no auge. E nós tínhamosvários outros jogadores como, RenatoGaúcho, Bebeto e Romário, todos em plenaforma e por aí vai”, concluiu.

Para Djalma o Brasil trouxe doexterior filosofias que não condizem comas tradições brasileiras. “O Brasil copiou

Memórias de umbicampeão brasileiroO Brasil descobriu a potência do lateral direito nos pés do craque que disputou três Copas

Foi o primeiro jogadordo mundo a utilizar olateral como armaletal no ataque

Para Djalma, o Brasil trouxedo exterior filosofias quenão condizem com astradições brasileiras

Djalma Santos foi considerado o melhor lateral direito do mundo na copa de 1954

fotos: André Teixeira Nunes

Atualmente, o craque é coordenador do Projeto “Bem de Rua, Bom de Bola”,em Uberaba

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o futebol europeu que joga mais notradicional futebol força, você pega aestatíst ica dos jogos por exemplo,quantas faltas acontecem numa partida?Quantos cartões amarelos e vermelhos?Então tudo isso o Brasil copiouerradamente” lamentou.

Outro problema que afeta e justifica aqueda de qualidade do futebol brasileiro,segundo ele, é a falta de laterais direitos noBrasil. “A partir domomento que come-çaram a inventar essacoisa de ala, que é olateral, tudo mudou”.

A falta de bonstreinadores tanto nascategorias de basescomo nas de profis-sionais também foi outro problemaapontado pelo craque. Ele cita como umbom exemplo de profissionalismo, a Itália,onde ficou por quatro anos e meio. “Lá, seum garoto fosse expulso, o culpado não seriao garoto, mas sim, o treinador que não soubediscipliná-lo”, exemplificou.

Djalma lembra que antigamente, osjogadores de futebol, apesar de não

ganharem tanto dinheiro, tinham amor pelosclubes que defendiam. “Hoje os jogadoresjogam seis meses num clube e beijam acamisa e daqui a pouco estão em outrosclubes fazendo a mesma coisa”, lamentou.

Apesar de todos esses problemasenfrentados pelo futebol brasileiro, eleacredita no Brasil. “O Brasil tem condiçõesde conquistar o penta campeonato, se ogrupo estiver unido durante toda a

competição. Teremosgrandes chances”,concluiu.

Lances mágicosMuitos insistem

em cri t icar joga-dores que em lancesmágicos e descon-

sertantes mostram-se ousados. Para eles,este tipo de jogada é um desrespeito paracom o adversário. No entanto, para agrande maioria, inclusive na opinião deDjalma, estes são momentos mágicos donosso futebol. São lances em que overdadeiro futebol brasileiro entra emcampo.

“O futebol brasileiro sempre foi

considerado como futebol arte, de artistas,de grandes astros, então, não é que a genteenfeitava, as coisas, os lances, vinhamespontaneamente, naturalmente. Então, agente fazia estas jogadas sem querermenosprezar ninguém, tanto é que eujoguei vinte e três anos de futebol e nuncafui expulso. Se fosse alguma coisa quedesagradasse alguém, obviamente queaconteceria o revide e eu também iriarevidar, então são lancesque vinham natural-mente, não era só eu,mas também Guar-rincha, Pelé. Isso sãocoisas que hoje nós nãovemos, e é justamenteisso que o povo gosta dever”, lembrou.

“Bem de Rua, Bom de Bola”O Mestre Djalma é Coordenador do

Projeto “Bem de Rua, Bom de Bola”,desenvolvido pela administração municipalde Uberaba. Ele trabalha neste projeto commais de quatro mil crianças. Desde 1971,que o trabalho com os jovens se tornou

rotina na vida deste craque.A trajetória de Djalma Santos com os

garotos, começou com as equipes juvenis.Durante quatro anos e meio, trabalhou comgarotos na Itália. Na Arábia Saudita foramquatro meses. “Antes fui treinador doAtlético Paranaense e de um time naBolívia. Mas eu sempre preferi trabalharcom os jovens, pois eles são maisdisciplinados. Há vários garotos que têm a

ambição que eu tivetambém, então euprocuro dar o que eu fiz,ensinar a eles o que eupassei na vida, logi-camente que foi umavida dura como é adestes moleques”,lembrou.

No Bem de Rua, Bom de Bola oobjeto principal não é só formar futuroscraques, conforme explica DjalmaSantos. “A mensagem que nós pregamosneste projeto, é a disciplina e o garotona escola, para que mais tarde, se essenão for um grande jogador de futebol,que pelo menos seja um grande homem”,concluiu.

“O Brasil tem condições deconquistar o penta campeonato,se o grupo estiver unidodurante toda a competição”

Desde 1971, que otrabalho com os jovensse tornou rotina navida deste craque

Projeto Bem de Rrua, bom de bola : “O objetivo é que, se o garoto não for um grande jogador de futebol, que pelo menos seja um grande homem”, explica Djalma

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André Teixeira Nunes

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