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Filosofia
Montesquieu: a divisão dos três poderes
Resumo
Montesquieu e a divisão dos três poderes
Montesquieu (1689 – 1755), filósofo francês e filho de nobres, crítico feroz da
monarquia absolutista e do clero, escreveu um importante livro para a Política
denominado “O espírito das leis”. Nesta obra ele trata das leis e das instituições
a partir de um vasto estudo sobre as legislações existentes em diversos lugares
do mundo e em diferentes momentos do tempo. Ele desenvolveu uma teoria de
governo em que, seguindo as ideias do constitucionalismo, a autoridade é
conferida por meios legais, o que seria fundamental para impedir decisões
políticas violentas e arbitrárias.
Assim como os pensadores das ciências naturais observavam as normas gerais que regem o funcionamento
da natureza Montesquieu buscou observar as sociedades para compreender seu funcionamento. Para ele, as
leis que regiam as sociedades eram também uma expressão da realidade em que foram estipuladas, sendo
um fenômeno histórico relacionado a vida e não o puro arbítrio dos legisladores. Por isso, para ele, as leis
tinham um espírito.
Montesquieu afirmava que há dois tipos de leis, as da natureza e as leis positivas. Leis da natureza são
perfeitas porque foram criadas por Deus e essas leis regem o funcionamento do universo. Já as leis positivas
são criadas pelos homens e, por isso, são leis imperfeitas, sujeitas ao erro.
Deve-se a Montesquieu a ideia da separação e da harmonia dos poderes, o que hoje é ainda vigente nas
democracias contemporâneas. Sua ideia se deve ao fato de o pensador dedicar seus estudos às
possibilidades de abuso de poder nas monarquias. Segundo Montesquieu: “todo homem que tem o poder é
tentado a abusar dele [...] é preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder”. Ele parte da ideia de
que apenas o poder pode frear o poder e, portanto, é necessário que cada um dos três poderes (Executivo -
responsável pela administração do território; Legislativo - responsável pela elaboração das leis; Judiciário -
responsável pela fiscalização do cumprimento das leis) permaneça autônomo, não podendo ser constituído
pelas mesmas pessoas. É importante notar que o artigo 16 da Declaração dos direitos do homem e do cidadão,
de 1789, que afirma que “Toda sociedade em que não for assegurada a garantia dos direitos e determinada a
separação dos poderes não tem Constituição”.
No entanto, é notável o fato de que a separação dos poderes, pela qual o filósofo francês é mais conhecido,
não é tão clara quanto pode parecer se levarmos a sério o conjunto da sua principal obra, “O espírito das leis”.
Há passagens que sugerem que a separação que ele propunha não era tão rígida assim. A questão principal
era haver equilíbrio, harmonia entre esses poderes.
Além da influência dos contratualistas, outra grande influência no pensamento de Montesquieu é o
pensamento político da Antiguidade. Assim como Aristóteles, Montesquieu define formas de governo,
entretanto, há diferenças notórias. Enquanto em Aristóteles são estipulados a monarquia, a aristocracia e a
democracia, Montesquieu estipula a república, a monarquia e o despotismo. Para determinar essas novas
formas, Montesquieu relaciona o governo às leis. Regimes republicanos (que incluem aristocracias e
democracias) se definem pelo estabelecimento de cidadania. Já o regime monarca é um regime liderado por
um rei com leis que limitam a autoridade do governante. Um regime despótico é um regime em que os poderes
do líder não são limitados por leis.
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Exercícios
1. (Enem 2013) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja
contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos
nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas
e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta
não existe se uma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver
liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.
2. (Uff 2012) De acordo com o filósofo iluminista Montesquieu, no livro clássico O Espírito das Leis,
quando as mesmas pessoas concentram o poder de legislar, de executar e de julgar, instaura-se o
despotismo, pois, para que os cidadãos estejam livres do abuso de poder, é preciso que “o poder freie
o poder”.
Identifique a sentença que melhor resume esse pensamento de Montesquieu.
a) Para que a sociedade seja bem governada é necessário que uma só pessoa disponha do poder de
legislar, agir e julgar.
b) A separação dos poderes enfraquece o Estado e toma a sociedade vulnerável aos ataques de seus
inimigos.
c) A separação e independência entre os poderes é uma das condições fundamentais para que os
cidadãos possam exercer sua liberdade.
d) A sociedade melhor organizada é aquela em que o executivo goza de poder absoluto.
e) As mesmas pessoas podem concentrar o poder, desde que sejam bem intencionadas.
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3. (Enem 2012) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política
não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade.
A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que
elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder. MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).
A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito
a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo.
b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis.
c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências.
e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais.
4. Do nascimento do Estado moderno até a Revolução Francesa, ou seja, do século XVI aos fins do século
XVIII, a filosofia política foi obrigada a reformular grande parte de suas teses, devido às mudanças
ocorridas naquele período. O que se buscou na modernidade iluminista foi fortalecer a filosofia em uma
configuração contrária aos dogmas políticos que reforçavam a crença em uma autoridade divina. (Thiago Rodrigo Nappi. “Tradição e inovação na teoria das formas de governo:Montesquieu e a ideia
de despotismo”. In: Historiæ, vol. 3, no 3, 2012. Adaptado.)
O filósofo iluminista Montesquieu, autor de Do espírito das leis, criticou o absolutismo e propôs
a) a divisão dos poderes em executivo, legislativo e judiciário.
b) a restauração de critérios metafísicos para a escolha de governantes.
c) a justificativa do despotismo em nome da paz social.
d) a obediência às leis costumeiras de origem feudal.
e) a retirada do poder político do povo.
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5. Quando na mesma pessoa, ou no mesmo órgão de governo, o poder Legislativo está unido ao poder
Executivo, não existe liberdade […] E também não existe liberdade se o poder Judiciário (poder de julgar)
não estiver separado do poder Legislativo (poder de fazer as leis) e do poder Executivo (poder de
executar, de por em prática as leis.) Montesquieu, O espírito das leis, 1748. In: FREITAS, G. de; 900 textos e documentos de História.
Lisboa: Plátano, 1978. V. III, p.24
Político, filósofo e escritor, o Barão de Montesquieu (1689–1755) se notabilizou por sua teoria sobre a
separação dos poderes, que organiza o funcionamento de muitos dos Estados modernos até a
atualidade. Ao formular sua teoria, Montesquieu criticou o regime absolutista e defendeu a divisão do
governo em três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – como forma de
a) garantir a centralização do poder monárquico e a vontade absoluta dos reis, bem como defender
os interesses das classes dominantes.
b) desestabilizar o governo e enfraquecer o Judiciário, bem como garantir a impunidade dos crimes
cometidos pelos mais pobres.
c) evitar a concentração de poder e os abusos dos governantes, bem como proteger as liberdades
individuais dos cidadãos.
d) estabilizar o governo e fortalecer o Executivo, bem como liberar as camadas subalternas da
cobrança de impostos.
e) fortalecer o povo e eliminar os governos, bem como eliminar as formas de punição consideradas
abusivas.
6. (Ufsj 2007) Leia o trecho abaixo.
“Ninguém deverá se espantar se votos forem comprados a dinheiro. Não se pode dar muito ao povo
sem retirar dele ainda mais, porém para retirar dele é necessário subverter o Estado. Quanto mais o
povo pensa aproveitar de sua liberdade, mais se aproximará do momento em que deve perdê-la. Cria
pequenos tiranos que possuem todos os vícios de um só. Em breve, o que resta da liberdade torna-se
insuportável: surge um único tirano; o povo perde tudo, até mesmo as vantagens de sua corrupção”. MONTESQUIEU. Livro 8º: “Da corrupção dos princípios nos três governos”. Cap. II, p. 113. Rio de Janeiro: Pensadores, 1979.
Conforme Montesquieu,
a) vendendo seus votos o povo terá um governo com liberdade plena e governo digno.
b) o povo conseguirá a sua liberdade vendendo os seus votos.
c) é comum corruptores da democracia comprarem votos.
d) com um governo tirano o povo também ganha vantagens de sua corrupção.
e) É típico de regimes liberais permitir a mercantilização de votos.
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7. (Ufsj 2007) Leia o seguinte trecho.
“Não há palavra que tenha recebido as mais diferentes significações e que, de tantas maneiras, tenha
impressionado os espíritos como a palavra liberdade. Uns tomaram-na pela facilidade em depor aquele
a quem outorgaram um poder tirânico; outros, pela faculdade de eleger aquele a quem deveriam
obedecer; outros, pelo direito de se armar, e de exercer a violência: estes, pelo privilégio de só serem
governados por um homem de sua nação, ou por suas próprias leis”. MONTESQUIEU. Livro 11º. Das leis que formam a liberdade política em sua relação com a constituição, cap. II, p. 147, Rio de
Janeiro: Pensadores, 1979
De acordo com esse trecho, a palavra “Liberdade”
a) significa proibir o armamento a fim de promover segurança ao povo e aos governantes da nação.
b) significa deixar o tirano governar e eleger a quem se deve obedecer.
c) está sendo usada conforme adequação de costumes e inclinação de cada povo.
d) é o mesmo que ser governado por leis elaboradas por homens que têm ideal político igual ao do
povo.
e) É um direito natural e absoluto, não podendo ser condicionada por nenhuma conjuntura histórica
8. “Quando os poderes Legislativo e Executivo ficam reunidos, numa mesma pessoa ou instituição do
Estado, a liberdade desaparece (...). Não haverá também liberdade se o poder Judiciário não estiver
separado do Legislativo e do Executivo. Se o Judiciário se unisse ao Executivo, o juiz poderia ter a força
de um opressor. E tudo estaria perdido se uma mesma pessoa ou uma mesma instituição do Estado –
exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de ordenar a sua execução e o de julgar os conflitos
entre os cidadãos” (MONTESQUIEU. O espírito das leis. SP: Martins Fontes, 1996, p. 168).
O texto acima, escrito por Montesquieu, compõe sua famosa obra O espírito das leis, produzida em
1748. Tendo em vista o contexto em que foi escrito, Montesquieu criticava:
a) O avanço industrial e tecnológico.
b) A Monarquia Parlamentarista.
c) A República Liberal.
d) A Revolução Francesa.
e) A Monarquia Absolutista.
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9. O Princípio de Separação dos Poderes, embora tenha sido positivado por meio da revolução
constitucionalista do final do século XVIII, tem raízes muito mais profundas, tendo em vista que a
preocupação de atribuir as funções fundamentais do estado a órgãos distintos é objeto de reflexão e
discussão desde os primórdios da organização estatal. A separação dos poderes do Estado tem suas
bases definidas por meio de uma teoria, que se desenvolveu ao longo do tempo, mediante a reflexão
de filósofos que remontam à Antiguidade, consagrando-se efetivamente após a análise de
Montesquieu, no século XVIII. BARBOSA, Marília Costa. Revisão da Teoria da Separação dos Poderes do Estado.
Escola Superior do Ministério Público do Ceará. (Adaptado)
Diante do contexto explicado, qual a principal característica da separação dos poderes no pensamento
de Montesquieu?
a) Combater a expansão dos ideais socialistas.
b) Possibilitar a exploração dos trabalhadores.
c) Garantir a manutenção do Antigo Regime.
d) Propiciar a expansão da industrialização.
e) Assegurar a liberdade dos indivíduos.
10. José Bonifácio de Andrada e Silva, homem público e cientista respeitado na Europa, desempenhou
papel decisivo no processo de emancipação do Brasil. De ideias avançadas, defendeu a extinção do
escravismo, a valorização da pequena e da média propriedade, o uso racional dos recursos naturais e
a tese pioneira da preservação do meio ambiente. Ele achava que a finalidade última da ciência é
contribuir para o bem da humanidade de modo racional e eficiente. As ideias que influenciaram
diretamente a formação intelectual e política de José Bonifácio estão contidas no
a) Naturalismo.
b) Iluminismo.
c) Renascimento.
d) Socialismo.
e) Jacobinismo.
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Gabarito
1. D
A liberdade não pode ser definida como a permissão de fazer tudo, mas sim apenas aquilo que se
instituiu permitido através da Lei formulada por um legislador capaz. Ora, se todos pudessem fazer tudo
que desejassem, pensa Montesquieu, então não haveria liberdade, pois todos abusariam
constantemente dessa permissão de fazer tudo. “A liberdade política, num cidadão, é esta tranquilidade
de espírito que provém da opinião que cada um possui de sua segurança; e, para que se tenha esta
liberdade, cumpre que o governo seja de tal modo, que um cidadão não possa temer outro cidadão”. B. Montesquieu. Do espírito das Leis. In Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 169.
De modo que devemos considerar necessário um equilíbrio do poder para que não ocorra algum abuso
dele, e a disposição das instituições deve se dar de tal maneira que os poderes se balanceiem. São livres,
apenas os estados moderados, pois neles os poderes Legislativo, Executivo, Judiciário se contrapõem
garantindo a integridade e autonomia de cada um, e a liberdade de todos os cidadãos.
2. C
Montesquieu é considerado como o teórico da separação dos poderes. É sua a ideia da necessidade de
divisão entre poder judiciário, legislativo e executivo, ideia esta que, ainda hoje, é defendida e vigora na
Constituição da grande maioria dos países democráticos.
3. B
É certo que a liberdade da sociedade democrática é justificada pela sua limitação designada pela
constituição da lei, porém a grande questão passa, então, a ser: qual é o conteúdo da lei? Se a democracia
é um regime fundado sobre o valor da liberdade, então como a própria lei poderia livrar-se desse
condicionamento primordial? O que Montesquieu estabelece é a necessidade de a lei ser a limitação da
licença de se fazer tudo aquilo que não esteja de acordo com a racionalidade do espírito da lei.
4. A
Montesquieu é um dos mais ferozes críticos do absolutismo. Para ele, qualquer homem ficará tentado a
exercer o poder de maneira despótica quando possível, fato pelo qual o governo deve ser exercido de
forma controlada. Além das leis que restringirão o poder do governante, seu poder deve ser dividido em
instituições autônomas e interdependentes. Essas instituições são chamadas de Três Poderes e
inspiram até hoje a organização política ocidental. Esses poderes são o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário.
5. C
para Montesquieu "todo homem que tem o poder é tentado a abusar dele [...] é preciso que, pela
disposição das coisas, o poder freie o poder". Dessa forma, o exercício do poder do Estado deve ser
realizado separadamente e autonomamente, garantindo que as leis sejam seguidas inclusive pelos
governantes e que o Estado alcance seu objetivo que é garantir os direitos dos indivíduos.
6. C
A valorização monetária do voto não é algo espantoso. Os exemplos são tantos que não podemos
considerar estranho o abuso do poder e da liberdade. Mesmo sabendo que desta corrupção surge a
tirania, o ato ingênuo de trocar o voto por dinheiro ocorre. A dignidade do governo e a plenitude da
liberdade dependem da confiança que o cidadão possui, da segurança que o cidadão sente. O povo não
adquire liberdade vendendo os votos, evidentemente, o povo adquire liberdade ao sobreviver sob a
regulação de uma Lei protetora.
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7. C
A obra “O Espírito das Leis” (1748) de Montesquieu (1689-1755) é muito conhecida, entre vários outros
motivos, pela sua teoria sobre as relações entre condições climáticas e geográficas para a produção de
certa cultura e o espírito das pessoas. Deste modo, as noções de liberdade dependeriam de fatores
locais e culturais – evidentemente, se as populações de acordo com fatores externos determinam
noções específicas de liberdade, então também estes fatores tornam a população inclinada a tipos
específicos de regime político.
8. E
Como vemos no texto, Montesquieu critica a centralização do poder governamental numa mesma
instituição ou figura, principalmente na mesma pessoa. Para ele, quanto mais centrado o poder, mais
fácil o governante agir como tirano. Esse cenário é exatamente o cenário do governo absolutista, que foi
profundamente atacado por Montesquieu.
9. E
A separação dos poderes tem como objetivo conter o poder do governante, impedindo que haja o
exercício despótico do poder de liderança e fazendo com que o Estado cumpra seu objetivo de proteger
os direitos dos membros da sociedade.
10. B
Antes de atuar no processo de Independência, José Bonifácio estudou por cerca de 30 anos na Europa,
do fim do século XVII ao início do século XVIII. Ali, assistiu ao processo da Revolução Francesa e assim,
assimilou muitos dos ideais iluministas do período.
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Adam Smith
Resumo
Adam Smith foi um importante filósofo e economista escocês que nasceu em
1723 e faleceu em 1790, sendo considerado o pai da economia moderna e o
teórico mais importante do liberalismo econômico. Smith vivenciou o século
XVIII, mais conhecido como o século das luzes. Nesse período a economia ainda
não tinha se tornado uma área do conhecimento autônoma e era considerada
uma parte da “Filosofia Moral”. A grande inovação de Adam Smith foi reconhecer
a importância dessa área da atividade humana e dedicar seu pensamento a
desenvolver uma análise minuciosa dela.
Adam Smith criticou a política econômica mercantilista, típica dos reinos europeus absolutistas, defendendo
a livre circulação econômica. Nesse sentido, Smith considerava que a iniciativa privada deveria estar livre
da interferência do Estado, o que aumentaria a concorrência, diminuiria preços, facilitaria as inovações
tecnológicas, bem como contribuiria para uma melhor qualidade dos produtos e para aumentar o ritmo de
produção. Além de atuar na expansão territorial e na exploração de bens externos, a Nação deveria incentivar
o desenvolvimento de um mercado interno deixando que os indivíduos atuassem livres nas trocas internas
e externas.
Em 1776, Adam Smith escreveu sua obra mais importante, “A riqueza das nações”. Uma das frases que
melhor resume o pensamento de Smith é a de que "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do
cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto interesse”.
Isso significa que, do seu ponto de vista, a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma
interferência governamental. A sua tese, portanto, era contrária ao mercantilismo e aos direitos feudais,
tendo exercido uma influência muito grande na burguesia da época (comerciantes, industriais e financistas).
Adam Smith afirmava que, mesmo sendo acidentalmente, o egoísmo humano redundaria no bem comum se
os indivíduos fossem livres para atuar no mercado.
De acordo com Adam Smith, a divisão do trabalho era um fator importantíssimo para o liberalismo
econômico. O trabalho deveria ser executado por etapas, para que cada trabalhador se aperfeiçoe e melhore
seu empenho. Smith também acredita que as nações deveriam se especializar, ocupando com excelência
um lugar no processo de produção e no mercado internacional, impedindo que essa nação seja superada.
Nesse sentido, o comerciante ou mercador seria levado por uma “mão invisível” a promover o bem-estar da
sociedade na medida em que estaria contribuindo para o avanço econômico. Assim, Smith rechaça a ideia
de que a riqueza de uma nação estaria relacionada com a quantidade de ouro e prata existente em seu cofre.
Ao contrário, a riqueza de uma nação está relacionada, do seu ponto de vista liberal, com a habilidade de
produzir bens. Seu ponto de vista foi fundamental para a economia política na medida em que ele estava
combatendo o mercantilismo que era vigente no século XVIII.
Ainda sobre a “mão invisível”, conceito estabelecido na sua principal obra, trata-se de um termo para
descrever como, numa economia de mercado, apesar de não haver uma entidade coordenadora do interesse
comum, é como se houvesse uma força invisível que orienta e regula a economia. Em grande medida,
podemos compreender a “mão invisível” da economia, a que Smith faz menção, como aquilo que chamamos
hoje da lei da oferta e da procura. Trata-se, portanto, de uma ordem econômica que regula a economia sem
a interferência do Estado.
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Filosofia
Exercícios
1. (Fuvest) "Um comerciante está acostumado a empregar o seu dinheiro principalmente em projetos
lucrativos, ao passo que um simples cavalheiro rural costuma empregar o seu em despesas. Um
frequentemente vê seu dinheiro afastar-se e voltar às suas mãos com lucro; o outro, quando se separa
do dinheiro, raramente espera vê-lo de novo. Esses hábitos diferentes afetam naturalmente os seus
temperamentos e disposições em toda espécie de atividade. O comerciante é, em geral, um
empreendedor audacioso; o cavalheiro rural, um tímido em seus empreendimentos..." (Adam Smith, A RIQUEZA DAS NAÇÕES, Livro III, capítulo 4)
Neste pequeno trecho, Adam Smith:
a) contrapõe lucro à renda, pois geram racionalidades e modos de vida distintos.
b) mostra as vantagens do capitalismo comercial em face da estagnação medieval.
c) defende a lucratividade do comércio contra os baixos rendimentos do campo.
d) critica a preocupação dos comerciantes com seus lucros e dos cavalheiros com a ostentação de
riquezas.
e) expõe as causas da estagnação da agricultura no final do século XVIII.
2. Adam Smith é considerado o pai da economia moderna, demonstrando que a riqueza das nações
advém de atuações de indivíduos para seus próprios interesses, os quais, através da competição e da
concorrência, promoveriam o desenvolvimento do comércio e as inovações tecnológicas.
Quanto a suas ideias sobre a administração governamental nesse processo, assinale a alternativa
CORRETA:
a) Em sua obra A Riqueza das Nações defende o uso do mercantilismo como uma forma de
fortalecer a relação entre o Estado e o indivíduo, ao favorecer o crescimento do comércio e a
acumulação de capital.
b) A sua teoria da mão invisível do mercado era favorável à intervenção do governo na economia,
visto que o mercado teria mecanismos de regulação que funcionariam sob a supervisão e a
intercessão do governo, para garantir o bom funcionamento econômico.
c) Entre suas frases mais famosas está a expressão “Laissez faire, laissez passer, le monde va de
lui même” (“Deixem fazer, deixem passar, o mundo vai por si mesmo”), em que fica clara a sua
posição a favor da não intervenção do Estado na economia.
d) Pregava que o Estado deveria limitar-se a suas funções de guardião da segurança pública, da
ordem e da propriedade privada, pois a Lei da Oferta e da Procura, criada pelo governo inglês, já
regularia o mercado.
e) Teórico importante do liberalismo econômico, atraiu a burguesia ao defender que a iniciativa
privada deve agir livremente, com pouca ou nenhuma interferência estatal.
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Filosofia
3. O país que não tem minas próprias deve, sem dúvida, obter seu ouro e prata dos países estrangeiros, tal como o país que não tem vinhas precisa obter o seu vinho. Não parece necessário, porém, que a atenção do governo se deva voltar mais para um problema do que para outro. O país que tiver meios para comprar vinhos terá sempre o vinho que desejar; e o país que tiver meios de comprar ouro e prata terá sempre abundância desses metais. Eles são comprados por determinado preço, como todas as outras mercadorias. [...] O monopólio do comércio da colônia, portanto, com todos os outros expedientes mesquinhos e malignos do sistema mercantilista, deprime a indústria de todos os outros países, mas principalmente a das colônias, sem que aumente em nada – pelo contrário, diminui – a indústria do país em cujo benefício é adotado.
(Adam Smith, A riqueza das nações)
Adam Smith
a) entende que o sistema mercantilista enriquece a Metrópole e a colônia na medida em que controla
tanto a produção como a venda no mercado internacional, transferindo toda a riqueza colonial
para a economia metropolitana, incentivando a produção colonial e o afastamento da
concorrência.
b) critica o metalismo e o monopólio comercial da Metrópole em relação à colônia, duas práticas
mercantilistas adotadas pelo Estado absolutista, mostrando que o ouro e a prata são simples
mercadorias e que as restrições ao mercado da colônia prejudicam tanto esta como a Metrópole.
c) discorda das práticas mercantilistas e considera que o vinho e o ouro são mercadorias e, como
tais, produzidas e vendidas no mercado, mas que cabe ao Estado liberal promover práticas de
controle econômico para garantir os lucros da nação por meio da criação de empresas estatais.
d) afirma que o empobrecimento da Metrópole e da colônia é fruto das práticas mercantilistas
porque elas ampliam o mercado e dificultam o controle por parte do Estado absolutista, que utiliza
o metalismo e o monopólio colonial como fontes efetivas de lucro no concorrido jogo de
exportação e de importação.
e) trata as duas práticas mercantilistas como essenciais para a sobrevivência econômica do Estado
liberal pois, ao ampliar o mercado, garantem a diversificação da produção, evitam a concorrência
entre os Estados e permitem à Metrópole impor condições no comércio internacional.
4. Leia o texto a seguir:
“Nos séculos XVIII e XIX, o termo liberalismo geralmente se referia a uma filosofia de vida pública que
afirmava o seguinte princípio: sociedades e todas as suas partes não necessitam de um controle
central administrador porque as sociedades normalmente se administram através da interação
voluntária de seus membros para seus benefícios mútuos. Hoje não podemos chamar de liberalismo
essa filosofia porque esse termo foi apropriado por democratas totalitários. Em uma tentativa de
recuperar essa filosofia ainda em nosso tempo, damos a ela um novo nome: liberalismo clássico.” (Rockwell, Lew. O que é o Liberalismo Clássico. IBM.)
O autor do texto argumenta que o termo “liberalismo clássico” reabilita a tradição de ideias políticas e econômicas dos séculos XVIII e XIX. Entre os representantes dessa tradição, estão:
a) Lenin, Mikhail Bakunin e Voltaire
b) Karl Marx, Vilfredo Pareto e John M. Keynes
c) Adam Smith, David Ricardo e John Locke
d) Rousseau, Louis Blanqui e Diderot
e) Edmund Burke, Max Weber e Trotsky
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5. (UFRS) Na sua obra clássica, publicada em 1776, “A riqueza das Nações”, o escocês Adam Smith descrevia o funcionamento de uma forma de produção de alfinetes:
“um puxa o arame, o outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto o afia, um quinto o esmerilha na outra extremidade para a colocação da cabeça; para se fabricar a cabeça são necessárias duas ou três operações distintas; a colocação da cabeça é muito interessante, e o polimento final dos alfinetes também; até a sua colocação no papel constitui, em si mesma, uma atividade...” Smith dizia que 10 homens, dividindo o trabalho, produziam ao fim de um dia 48 mil alfinetes. Se a produção fosse artesanal, um homem produziria apenas 20 alfinetes por dia e os 10 homens juntos somente 200 alfinetes. Com base nas afirmações acima, assinale a alternativa que responde corretamente às questões a seguir.
Que forma histórica do trabalho está sendo descrita por Adam Smith? Quais as principais
consequências econômicas dessa nova forma de produção, defendida por Smith como real avanço
para a sociedade?
a) A divisão manufatureira do trabalho – o aumento da produção e a liberdade do comércio.
b) A produção artesanal – a industrialização e a liberdade de comércio.
c) A divisão manufatureira do trabalho – o aumento da produção e o monopólio do comércio.
d) A produção artesanal – o aumento da produção e a liberdade de comércio.
e) A cooperação fabril – a industrialização e o monopólio do comércio.
6. (UERJ) Livre-se desta indiferença estúpida, sonolenta e preguiçosa [...]. Em que caminho da vida pode
estar um homem que não se sinta estimulado ao ver a máquina a vapor de Watt? YOUNG, Arthur. Viagens na Inglaterra e no País de Gales. Apud Hobsbawm, Eric J. A era das revoluções. Rio de janeiro: Paz e
Terra, 1981.
Apesar do otimismo do autor do texto acima, o processo da Revolução Industrial, que se iniciou por
volta da década de 1760, na Inglaterra, promoveu uma série de transformações na sociedade inglesa,
tais como:
a) mudança no significado da palavra trabalho, passando a expressar dor e desprestígio social.
b) ampliação da divisão do trabalho, buscando maior produtividade e controle sobre os operários.
c) declínio das atividades agrícolas, provocando arrendamento das propriedades rurais e
desvalorização da terra.
d) aumento das exigências tecnológicas, levando à capitalização industrial e ao abandono das
técnicas artesanais.
7. (FAAP) Os pensadores do liberalismo econômico, como Adam Smith, Malthus e outros, defendiam:
a) intervenção do Estado na economia
b) o mercantilismo como política econômica nacional
c) socialização dos meios de produção
d) liberdade para as atividades econômicas
e) implantação do capitalismo de Estado
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8. (UFV-MG) Exalta o direito de propriedade individual e da riqueza; opondo-se, consequentemente, à intervenção do estado na economia. Defende intransigentemente que deve haver total liberdade de produção, circulação e venda. Considera que o homem, enquanto indivíduo, deve desfrutar de todas as satisfações, não se submetendo senão aos limites da Razão. Crê no Progresso como sendo resultado de um fenômeno natural e decorrente da livre concorrência que, ao estimular as atividades econômicas, é a única forma aceitável de proporcionar liberdade, felicidade, prosperidade e igualdade entre todos os homens.
O trecho acima pode ser considerado uma síntese dos valores constitutivos da ideologia política
intitulada:
a) Catolicismo social.
b) Socialismo utópico.
c) Socialismo científico.
d) Liberalismo.
e) Anarquismo.
9. A origem do capitalismo remonta a um longo processo de transformações sociais iniciado em fins da Idade Média, principalmente com a expansão comercial marítima e o renascimento urbano, que passou a ser hegemônico na Europa Ocidental apenas em fins do século XVIII e início do XIX. Sobre as características do desenvolvimento capitalista neste período, indique qual das alternativas sobre o tema, expostas abaixo, está incorreta.
a) Nos séculos finais da Idade Média houve uma transformação no caráter autossuficiente das
propriedades feudais, em que as terras começaram a ser arrendadas e a mão de obra começou a
ser remunerada com um salário.
b) A burguesia medieval implantou uma nova configuração à economia europeia, na qual a busca
pelo lucro e a circulação de bens a serem comercializados em diferentes regiões ganharam maior
espaço.
c) A prática comercial experimentada imprimiu uma nova lógica econômica em que o comerciante
substituiu o valor de uso das mercadorias pelo seu valor de troca.
d) Além de possibilitar uma impressionante acumulação de riquezas, o capitalismo mercantil criou
uma economia de aspecto monopolista, na qual as potências econômicas se recusavam a
realizar acordos, implantavam tarifas e promoviam guerras com o objetivo de manter seus
domínios comerciais.
e) A experiência da Revolução Industrial imprimiu um novo ritmo de progresso tecnológico e
integração da economia em que percebemos as feições mais próximas da economia
experimentada no mundo contemporâneo.
10. No processo de desintegração das relações sociais de produção feudal, passou a ocupar lugar central
a organização de manufaturas, ampliando com a divisão do trabalho a produtividade dos agentes
envolvidos na fabricação das mercadorias. As duas principais classes que surgiram dessa
desintegração foram:
a) aristocracia e escravos
b) aristocracia e servos
c) burguesia e trabalhadores assalariados.
d) burguesia e servos.
e) aristocracia e trabalhadores assalariados.
6
Filosofia
Gabarito
1. A Adam Smith foi um dos principais expoentes da moderna ciência econômica, nascida em meados do século XVIII. Um dos mais importantes componentes de sua análise econômica foi a relação entre lucro e renda, isto é, entre aquilo que pode ser feito com o excedente produzido para que possa gerar mais riqueza. Nesse sentido, a letra A está correta.
2. E
A proposta de Adam Smith era totalmente compatível com o ethos burguês, trocas econômicas sem a interferência do Estado. O pensador atraiu os burgueses ao defender que a riqueza é medida pela produção de bens e não pela acumulação de metais e defender que é o interesse dos indivíduos que leva ao bem comum e torna uma nação grande.
3. B
Como observamos, Smith aponta a prática do mercantilismo como um erro. Isso porque, na interpretação do autor, a riqueza de uma nação se mede pela quantidade de bens que ela é capaz de produzir, sendo a produção advinda do mercantilismo muito limitada em comparação com o potencial dos mercados interno e externo de uma nação que garanta liberdade econômica e incentive os indivíduo a atuar nas trocas.
4. C
Adam Smith, David Ricardo e John Locke estão entre os principais representantes do liberalismo clássico. Portanto, a letra C está correta, já que nas outras há a presença de vários autores de outras correntes de pensamento, como o socialismo, o comunismo e o anarquismo.
5. A
Essa forma de divisão manufatureira do trabalho precedeu a cooperação fabril necessária à industrialização. Uma das consequências demonstradas pelo próprio trecho do livro de Smith é o aumento da produção, a outra é a liberdade de comércio necessária ao escoamento dessa produção.
6. B
A principal alteração da Revolução Industrial foi a divisão do trabalho e o aumento da produtividade, que passou a influenciar diversos outros âmbitos da vida social.
7. D
Todas as alternativas, com exceção da letra D, vão em total desencontro com as propostas desses pensadores. O ideal de todos eles era a liberdade nas atividades econômicas, e isso representava nenhuma intervenção estatal. A economia se regularia sozinha.
8. D
O liberalismo defendido por Adam Smith considerava que a iniciativa privada deveria estar livre da interferência do Estado, o que aumentaria a concorrência, diminuiria preços, facilitaria as inovações tecnológicas, bem como contribuiria para uma melhor qualidade dos produtos e para aumentar o ritmo de produção.
9. D O capitalismo mercantil criou inicialmente uma forma comercial mais aberta à concorrência, pautando nestes princípios as políticas nacionais.
10. C
As principais classes que surgiram foram a burguesia e os trabalhadores assalariados, sendo que os primeiros eram proprietários privados dos meios de produção e os segundos vendiam sua força e capacidade de trabalho em troca de um salário.
1
Filosofia
Hegel e a dialética
Resumo
Nascido em 1770 e morto em 1831, o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel é sem dúvida alguma o mais
importante filósofo da primeira metade do século XIX. Dedicado às mais diversas áreas do conhecimento
filosófico, Hegel tornou-se particularmente famoso por ser o fundador de uma nova área da filosofia: a
filosofia da história
Como seu próprio nome indica, a filosofia da história é a reflexão filosófica a respeito do sentido da história
humana. Pois bem, apesar de outros autores antes de Hegel, como Santo Agostinho, já terem sinalizado algo
neste sentido, o pensador alemão foi o primeiro a estabelecer com clareza tal disciplina. Cabe aqui, porém,
uma observação importante: a filosofia da história não se confunde com a ciência histórica que estudamos
no colégio. Enquanto o historiador busca entender os fatos do passado e descrevê-los detalhadamente, cada
um no seu respectivo período, o filósofo da história olha a história como um todo e busca avaliar se há, em
meio a todas as transformações e mudanças dos tempos, um sentido geral e permanente. Em síntese, a
pergunta central da filosofia da história não é “o que aconteceu?”, mas sim “a história humana é uma sucessão
de eventos fortuitos e casuais ou há, em tudo isto, um propósito, uma lógica, um destino?”
Ora, de acordo com Hegel, mediante uma rigorosa análise filosófica, é possível ver que a historicidade humana
tem sim um sentido. Isto acontece porque ela não se dá pelo acaso ou pelo simples conjunto das ações
humanas, mas é antes movida por uma força, por um princípio que a sustenta e orienta, o qual Hegel chamava
de Espírito ou Absoluto.
Conduzindo a história humana, o Espírito a leva gradualmente para ao seu télos, sua finalidade, seu propósito:
a maximização da liberdade, ou seja, tornar os homens sempre mais livres. Aliás, diz Hegel, se parece difícil
perceber esse propósito de imediato, é porque a história não se encaminha para ele de modo simples e direito.
Ao contrário, criticando nisto duramente os pensadores iluministas, que viam o progresso histórico como algo
linear e cumulativo, Hegel salienta que história progride sim, mas por meio de contradições, de idas e vindas,
de conflitos e concessões. Em suma, não é por uma linha reta e contínua, mas por meio de sinuosas
contradições que o Espírito move a história.
O modo contraditório pelo qual o Espírito conduz a história humana é chamado por Hegel de dialética. Tal
dialética aqui, porém, não se trata de um mero debate de ideias, como em Platão, mas sim de um movimento
da própria realidade, através do qual, por meio de momentos sucessivos e aparentemente opostos, a história
se desenrola e progride.
Dito de maneira mais ou menos sistemática, poderíamos afirmar que a dialética do real compõe-se para Hegel
sempre de três momentos: a tese (ou afirmação), quando uma determinada ideia ou perspectiva se põe na
história; a antítese (ou negação), momento em que a tese original é substituída por uma que lhe é inteiramente
contrária; e a síntese (ou superação), em que surge uma terceira perspectiva, a qual soluciona o problema em
questão de um ponto de vista mais alto, integrando aspectos tanto da tese quanto da antítese.
Para ficar mais claro, usemos um exemplo do próprio Hegel. Segundo o autor alemão, o processo dialético é
facilmente perceptível na história das religiões. De fato, o primeiro modelo religioso a se manifestar na história,
ainda nas sociedades primitivas, foi o politeísmo - ele é, portanto, a tese ou afirmação. Posteriormente, ao
longo do desenvolvimento histórico da humanidade, tal modelo foi questionado por um outro que é o seu
exato oposto: o monoteísmo - que é, portanto, antítese ou negação. Por fim, com o surgimento do cristianismo,
surgiu a síntese ou superação, que é o dogma da Santíssima Trindade.
2
Filosofia
Com efeito, ao crer em um único Deus, dotado de uma única essência, mas composto de três pessoas (Pai,
Filho e Espírito Santo), o cristianismo supera a contradição entre monoteísmo e politeísmo, pois integra
elementos de ambos numa síntese maior. Esta síntese revela, pois, que aquela contradição entre politeístas
e monoteístas não era uma oposição real, mas apenas uma preparação para um maior aperfeiçoamento da
humanidade.
Outros exemplos dados por Hegel dizem respeito à história da filosofia. Por exemplo, entre os pré-socráticos,
o primeiro filósofo, Tales de Mileto, propôs que a arché, o princípio de tudo, era a água, algo material (tese);
por sua vez, o segundo filósofo, Anaximandro, negou isto e afirmou que a arché era algo imaterial: o ápeiron,
o infinito, o ilimitado (antítese). Por fim, Anaxímenes, o terceiro filósofo, operou a síntese ao escolher como
arché o ar, que é um elemento material, mas, dos materiais, o menos material de todos, uma vez que é volátil
e não pode ser visto, nem tocado, nem apreciado pelo paladar - e ouvido apenas quando está em movimento.
No mesmo sentido, diz Hegel, pode-se dizer que o racionalismo de Descartes é tese, o empirismo de Hume é
antítese e o criticismo de Kant síntese.
Perceba-se em todos esses exemplos que há um progresso, uma melhora, um aperfeiçoamento histórico,
mas que este não se dá de modo linear e contínuo, mas sim dialeticamente, isto é, por meio de contradições.
É necessário, aliás, salientar, que tal processo é infinito, uma vez que, tão logo se estabelece, a síntese
transforma-se em uma tese, que será negada por uma nova antítese e assim por diante. Não à toa, o dogma
da Trindade encontrou seus críticos, bem como o as teses de Anaxímenes e de Kant. A história, assim,
progride de maneira espiralada, num ciclo sem fim, que se encaminha sempre para o aperfeiçoamento do
homem e a maximização de sua liberdade.
Convencido não apenas de que a história é importante, mas que ela é o próprio eixo da experiência humana,
Hegel criticava duramente certos autores, como Kant, Descartes e os contratualistas, que sempre falavam do
homem de maneira abstrata e geral, como se a condição humana fosse universal e imutável. Indo
precisamente na direção contrária, o pensador alemão dizia que “todo homem é filho de seu tempo”, isto é,
que todo homem é profundamente moldado pela sociedade e pelo período histórico em que vive, de modo
que, para se compreender verdadeiramente um ser humano, é preciso olhar para ele não de maneira genérica
e abstrata, mas de modo concreto, atento às condições históricas específicas nas quais aquele homem vive.
O próprio pensamento filosófico, dizia Hegel, é profundamente condicionado pelo seu período histórico de
elaboração.
3
Filosofia
Exercícios
1. A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da
autoconsciência. No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a
lâmpada do pensamento que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo se
reconheça livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção
do nosso ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é a sua condição fundamental, e de que
nós, por conseguinte, não podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não constitui o nosso ser
essencial, mas sim o não ser escravo. Assim, no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria
filosofia. (Hegel. Estética, 2000. Adaptado.)
De acordo com o texto de Hegel, a filosofia
a) visa ao estabelecimento de consciências servis e representações homogêneas.
b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e na opressão.
c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da racionalidade.
d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão e de liberdade.
e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de julgamento.
2. O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que
o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas
formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si [...]. HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1988.
Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto acima, assinale a alternativa correta segundo
a filosofia de Hegel.
a) A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque permanente dos contrários.
b) As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos
são igualmente necessários.
c) O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por isso, a possibilidade
de uma vida ética.
d) Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí-la de qualquer finalidade benevolente.
3. Para Hegel, a razão é a relação interna e necessária entre as leis do pensamento e as leis do real. Assim,
ela é a unidade entre a razão subjetiva e a razão objetiva. Hegel denominou essa unidade de espírito
absoluto. Dessa forma, um evento real pode expressar e ser resultado das ideias que o precedem. Um
exemplo da objetivação dessas ideias é o seguinte evento:
a) a subida de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, representando os ideais sionistas germânicos.
b) a Queda de Dom Pedro I do trono brasileiro, representando a crise do sistema colonial português.
c) a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, representando o ideal iluminista de igualdade social.
d) a coroação de Dom Pedro II no trono brasileiro, representando a vitória dos ideais puritanos de
moral.
4
Filosofia
4. Hegel, prosseguindo na árdua tarefa de unificar o dualismo de Kant, substituiu o eu de Fichte e o
absoluto de Schelling por outra entidade: a ideia. A ideia, para Hegel, deve ser submetida
necessariamente a um processo de evolução dialética, regido pela marcha triádica da
a) experiência, juízo e raciocínio.
b) realidade, crítica e conclusão.
c) matéria, forma e reflexão.
d) tese, antítese e síntese.
5. No início do século dezenove, mais precisamente com Hegel, a arte é concebida no interior do domínio
do absoluto, isto é, da verdade enquanto tal e dos elementos que a expõem. Tendo em vista essa
concepção, é correto afirmar:
a) O absoluto não se expressa, de uma vez por todas, no domínio artístico.
b) Ao apresentar o absoluto sob forma sensível, isto é, concreta e singular, a obra de arte não efetiva
a transfiguração da realidade.
c) Na atividade artística, apenas alguns de seus traços essenciais estão ligados ao ser verdadeiro.
d) A beleza é, enquanto produto da arte, manifestação sensível do absoluto.
e) Na arte, a totalidade que se torna aparição cumpre suficientemente suas determinações.
6. Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a. C. e sua doutrina, apesar de criticada pela filosofia
clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou sua importante contribuição para a Dialética. Os dois
fragmentos a seguir nos apresentam este pensamento.
— “Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, é e será
um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida.” (fragmento 30).
— “Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a água, morrer é transformar-se em terra. Da
terra, contudo, forma-se a água, e da água a alma.” (fragmento 36).
De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a alternativa incorreta.
a) As doutrinas de Heráclito e de Parmênides estão em perfeito acordo sobre a imutabilidade do ser.
b) Para Heráclito, a ideia de que “tudo flui” significa que nada permanece fixo e imóvel.
c) Heráclito desenvolve a ideia da harmonia dos contrários, isto é, a permanente conciliação dos
opostos.
d) A expressão “devir” é adequada para compreendermos a doutrina de Heráclito.
5
Filosofia
7. Qual é a diferença entre o conceito de movimento histórico, em Hegel, e o de processo histórico, em
Marx?
a) Para Hegel, através do trabalho, os homens vão construindo o movimento da produção da vida
material e, assim, o movimento histórico. Para Marx, a consciência determina cada época histórica,
desenvolvendo o processo histórico.
b) Para Hegel, a História pode sofrer rupturas e ter retrocessos, por isso utiliza-se do conceito de
movimento da base econômica da sociedade. Marx acredita que o modo de produção encaminhe
para um objetivo final, que é a concretização da Razão.
c) Para Hegel, a História tem uma circularidade que não permite a continuidade. Para Marx, a História
é construída pelo progresso da consciência dos homens que formam o processo histórico.
d) Para Hegel, a História é teleológica, a Razão caminha para o conceito de si mesma, em si mesma.
Marx não tem uma visão linear e progressiva da História, sendo que, para ele, ela é processo,
depende da organização dos homens para a superação das contradições geradas na produção da
vida material, para transformar ou retroceder historicamente.
8. Para Caio Prado Jr., a observação de Engels: “O núcleo que encerra as verdadeiras descobertas de
Hegel... o método dialético na sua forma simples em que é a única forma justa do desenvolvimento do
pensamento”, revela
a) a herança da dialética hegeliana assumida por Karl Marx.
b) a filosofia de Marx com sua herança escolástica partilhada por Hegel.
c) a perspectiva dialética do Homem, que permite considerá-lo capaz de conceituar termos
científicos no aspecto ou feição do Universo.
d) o tema central da filosofia, a saber, o desenvolvimento da dialética do ser humano, fator
determinante do existencialismo contemporâneo.
9. Conforme Arruda e Aranha, o materialismo de Karl Marx diferencia-se do materialismo mecanicista.
Analisando estas diferenças as autoras concluem:
[...] segundo o materialismo dialético, o espírito não é consequência passiva da ação da matéria,
podendo reagir sobre aquilo que determina. Ou seja, o conhecimento do determinismo liberta o homem
por meio da ação deste sobre o mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. São Paulo, Ed. Moderna, 2000, p. 241.
Com base em seus conhecimentos e nas informações acima, assinale a alternativa correta.
a) Diferentemente dos idealistas, Marx considera que as manifestações espirituais humanas derivam
da estrutura material ou econômica da sociedade, mas não de modo absoluto, pois o espírito pode
se libertar.
b) Como em Marx, a estrutura material ou econômica determina as manifestações do espírito, que
será, em consequência, sempre passivo diante desta estrutura.
c) Marx entende que o espírito é resultado da estrutura material ou econômica da sociedade, por isso
jamais pode modificá-la.
d) A dialética materialista de Marx sintetiza os momentos da realização da razão na história e não o
agir histórico que realiza os conteúdos da razão.
6
Filosofia
10. Hegel, em seus cursos universitários de Filosofia da História, fez a seguinte afirmação sobre a relação
entre a filosofia e a história: “O único pensamento que a filosofia aporta é a contemplação da história”. HEGEL, G. W. F. Filosofia da História. 2 ed. Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 17.
De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que:
I. a razão governa o mundo e, portanto, a história universal é um processo racional.
II. a ação dos homens obedece a vontade divina que pré estabelece o curso da história.
III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao real existente.
IV. a ideia ou a razão se originam da força material de produção e reprodução da história.
Assinale a alternativa que contém somente assertivas corretas.
a) III e IV.
b) I e II.
c) II e III.
d) I e III.
7
Filosofia
Gabarito
1. D
No texto, o autor relaciona o surgimento do conhecimento filosófico ao desenvolvimento, historicamente
determinado e localizado, da consciência individual vinculada à razão e à essência humana de liberdade,
que permite aos indivíduos exercer seus potenciais.
2. B
A estrutura da lógica hegeliana é triádica, que reflete a organização de um sistema filosófico mais amplo
e da lógica sobre sua variedade de motivos internos e externos. A divisão da lógica é esta: 1) a doutrina
do ser, 2) a doutrina da essência e 3) a doutrina da noção (ou do conceito). Na doutrina do ser, por
exemplo, Hegel explica o conceito de "ser-por-si" como uma autorrelação que resolve a oposição entre o
próprio e o outro na "idealidade do finito". Na doutrina da essência, Hegel explica as categorias de ato e
liberdade. Ele diz que ato é a unidade de "essência e existência" e argumenta que isso não descarta a
atualidade de ideias que se tornam atualizadas, realizando-se na existência externa. Também define a
liberdade como a "verdade da necessidade", ou seja, a liberdade pressupõe a necessidade no sentido de
que a própria ação e a reação providenciam uma estrutura da ação livre. Na doutrina do conceito
trabalha-se o conceito em função da subjetividade, da objetividade e da articulação entre subjetividade e
objetividade. O conceito subjetivo contém três funcionalidades: universalidade, particularidade e
individualidade. Essas três funções operam de acordo com um movimento "dialético" progressivo do
primeiro para o terceiro e na totalidade expressam o conceito de individualidade. As funções relacionam
logicamente os juízos, porém não dizem respeito apenas às operações mentais, mas também explicam
as próprias relações reais.
3. C
O historicismo hegeliano se baseia em uma relação dialética. Sendo a razão uma unidade histórica, em
cada momento a razão produz uma tese, uma antítese e por último uma síntese. No caso das alternativas,
a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder corresponderia à síntese das ideias anteriores e
representaria justamente a vitória do ideal iluminista de igualdade social.
4. D
Somente a alternativa D é correta. A dialética de Hegel é representada no processo dialético que se dá a
partir do conflito entre tese e antítese, que gera um novo um estágio chamado de síntese. É ao interno
deste processo que a ideia se desenvolve.
5. D
Somente a alternativa D é correta. O idealismo hegeliano enxerga no absoluto a totalidade da realidade.
Já a concepção estética do filósofo relaciona a beleza como sendo a máxima expressão sensível dessa
totalidade.
6. A
Somente a alternativa [A] está incorreta. A filosofia de Heráclito se opunha à de Parmênides. Enquanto
Heráclito pensava a vida como um devir, em constante transformação, Parmênides defendia a
imutabilidade do ser.
8
Filosofia
7. D
Em linhas gerais, pode-se dizer que o materialismo marxista opõe-se ao idealismo hegeliano. Isso se
percebe na forma como cada um concebe o processo histórico. Na dialética hegeliana, a ideia caminha
para sua síntese, em um processo que, em certa medida, pode ser chamado de teleológico. Para Marx, a
História é determinada pela produção da vida material dos homens, em um processo de luta de classes.
A única alternativa que contempla de forma correta essas duas perspectivas é a [D].
8. A
O enunciado da questão pressupõe que o aluno perceba que a citação faz referência a Karl Marx. Tendo
isso em conta, a citação leva a crer que Engels enfatiza a herança hegeliana assumida por Marx. Sendo
assim, somente a alternativa [A] está correta.
9. A
Materialismo, porque somos o que as condições materiais (as relações sociais de produção) nos
determinam a ser e pensar. Histórico, porque a sociedade e a política não surgem de decretos divinos,
nem nascem da ordem natural cujos interesses antagônicos serão conciliados pelo contrato social, mas
dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo, garantindo assim, a legitimidade da ação
revolucionária. A história não é um progresso linear e contínuo, uma sequência de causas e efeitos, mas
um processo de transformações sociais determinadas pelas contradições entre os meios de produção
(a forma da propriedade) e as forças produtivas (o trabalho, seus instrumentos, sua técnica). A luta de
classes exprime tais contradições e é o motor da história. Por afirmar que o materialismo histórico é
movido por contradições sociais, o materialismo histórico é dialético. O Estado não é uma imposição
divina aos homens nem é o resultado de um pacto ou contrato social, mas é a maneira pela qual a classe
dominante de uma época e de uma sociedade determinadas garante seus interesses e sua dominação
sobre o todo social.
10. D
Nas alternativas I e III, Hegel mostra a importância da racionalidade clássica grega como maneira de
entender e relacionar filosofia e história.
1
Filosofia
O utilitarismo de Bentham Resumo
O utilitarismo de Jeremy Bentham
O filósofo, jurista e um dos últimos dos pensadores iluministas, Jeremy Bentham (1748 -1832) foi,
juntamente com Stuart Mill e James Mill, um importante representante da corrente ética contemporânea
conhecida como utilitarismo. De acordo com o utilitarismo as consequências das ações morais devem ser
compreendidas como essenciais na tomada de decisão de como o indivíduo deve agir. Inspirado nas éticas
hedonistas (que associam a moral ao prazer), o utilitarismo defende que o agir ético deve visar garantir a
felicidade do maior número de pessoas possíveis (princípio de utilidade), mesmo que para isso tenha que
sacrificar a minoria. Desta forma, outras correntes éticas contemporâneas, como o comunitarismo e o
liberalismo igualitário de John Rawls, criticaram fortemente a visão utilitária acerca dos conceitos de bem e
de justiça. Afinal, buscando escolher a ação que leva o maior número de pessoas felizes, eu estou difundindo
um princípio igualitário de justiça? E a noção de bem, é igual para todos? Os oponentes do utilitarismo
responderam de forma negativa as duas perguntas. De grande impacto do pensamento econômico, o
utilitarismo também alcança a política, sendo caracterizada como uma corrente ética profundamente
pragmática.
Segundo o utilitarismo, devemos fazer um procedimento chamado cálculo utilitário: o agente moral deve
sempre realizar um cálculo buscando prever as consequências de suas atitudes. O resultado deve expor
algumas possibilidades e, dentre elas, o agente deve escolher a que venha a proporcionar a maior quantidade
de prazer para o maior número de pessoas possível pela maior quantidade de tempo. Esse cálculo também
leva em conta o sofrimento dos envolvidos, caso haja uma opção em que nenhum sofrimento seja causado
essa opção é prioritária. Essa proposta quantitativa é característica de Bentham e seu utilitarismo
quantitativo.
Já Mill acrescenta camadas ao utilitarismo proposto um aspecto qualitativo. Assim essa corrente ética
passou a ser vista como mais equilibrada já que oferecia mais recursos para análise das situações e ações.
Além de visar o benefício do maior número de pessoas, o utilitarismo passa a se adaptar a noções de tipos
de qualidade do prazer e, principalmente, da dor infligida em nome do bem comum.
O cálculo utilitário sofre uma pequena mudança, já que o agente deve ter em perspectiva o tipo de sofrimento
que é causado em comparação com os benefícios obtidos. Pense, por exemplo na doação de sangue.
Baseada na lógica essencial do utilitarismo, mas invertendo a lógica de quantidade, podemos afirmar que a
doação de sangue é uma ação útil, e, por isso, boa e ética, porque causa um sofrimento irrisório em
comparação ao benefício que traz: salvar vidas. A quantidade de pessoas que sofrem a dor não transforma
a ação menos ética, na verdade, é a quantidade de pessoas que permite a realização da ação. Quanto mais
pessoas doando sangue melhor.
Para compreender a filosofia utilitarista uma das ferramentas mais eficazes é o experimento do dilema do
bonde. Ele consiste no seguinte: Um bonde está em movimento por trilhos e está fora de controle em alta
velocidade. Continuando assim ele passará por cima de cinco pessoas que foram amarradas aos trilhos.
Você está próximo a uma alavanca que muda a rota do bonde. Entretanto, ao desviar o bonde, você o
direciona para uma rota onde uma pessoa está parada por acaso. O que fazer?
O utilitarismo, a princípio responderia que, sob o cálculo utilitário, deveríamos puxar a alavanca. Entretanto,
variações do mesmo dilema podem complicar as coisas. E se, em vez de puxar uma alavanca, você pudesse
empurrar uma pessoa no trilho para impedir a morte das outras cinco. E se, no segundo trilho, a pessoa
desavisada fosse sua mãe? O cálculo utilitário não é tão simples quanto parece.
2
Filosofia
Exercícios
1. Tradição de pensamento ético fundada pelos ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill, o
utilitarismo almeja muito simplesmente o bem comum, procurando eficiência: servirá aos propósitos
morais a decisão que diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral da sociedade. No caso da
situação dos povos nativos brasileiros, já se destinou às reservas indígenas uma extensão de terra
equivalente a 13% do território nacional, quase o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%. Mas
a mortalidade infantil entre a população indígena é o dobro da média nacional e, em algumas etnias,
90% dos integrantes dependem de cestas básicas para sobreviver. Este é um ponto em que o cômputo
utilitarista de prejuízos e benefícios viria a calhar: a felicidade dos índios não é proporcional à extensão
de terra que lhes é dado ocupar. (Veja, 25.10.2013. Adaptado.)
A aplicação sugerida da ética utilitarista para a população indígena brasileira é baseada em
a) uma ética de fundamentos universalistas que deprecia fatores conjunturais e históricos.
b) critérios pragmáticos fundamentados em uma relação entre custos e benefícios.
c) princípios de natureza teológica que reconhecem o direito inalienável do respeito à vida humana.
d) uma análise dialética das condições econômicas geradoras de desigualdades sociais.
e) critérios antropológicos que enfatizam o respeito absoluto às diferenças de natureza étnica.
2. A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a Deus, muito menos de fidelidade a
regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a maior quantidade de felicidade possível neste
mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos, portanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a
maior quantidade de felicidade para todos aqueles que serão afetados.
RACHELS. J. Os elementos da filosofia moral, Barueri-SP; Manole. 2006.
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade com uma
a) fundamentação científica de viés positivista.
b) convenção social de orientação normativa.
c) transgressão comportamental religiosa.
d) racionalidade de caráter pragmático.
e) inclinação de natureza passional.
3
Filosofia
3. Diferente de uma ética baseada no dever, como a kantiana, o utilitarismo é consequencialista. Quanto
ao conceito de consequencialismo, é correto afirmar que
a) pressupõe a ideia de que as consequências e as intenções do agente são importantes para avaliar
o valor de sua ação.
b) se uma pessoa mentir para alguém, essa sempre será uma ação errada, independente de suas
consequências.
c) se uma pessoa tinha uma boa intenção ao realizar uma ação, mas acabou dando errado, sua ação
ainda assim está correta.
d) implica a ideia de que apenas as consequências de uma ação são relevantes para avaliar seu
valor moral.
e) boas ações precisam ser ações completas, com intenção, boa vontade, resultados positivos e
dever moral.
4. Texto 1: “Por princípio da utilidade entende-se aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer
ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência de promover ou comprometer a referida felicidade. Digo qualquer ação, com o que tenciono dizer que isto vale não somente para qualquer ação de um indivíduo particular, mas também de qualquer ato ou medida de governo. [...] A comunidade constitui um corpo fictício, composto de pessoas individuais que se consideram como constituindo os seus membros. Qual é, nesse caso, o interesse da comunidade? A soma dos interesses dos diversos membros que integram a referida comunidade”.
(BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 10)
Texto 2: “Para compreendermos o valor que Mill atribui à democracia, é necessário observar com mais atenção a sua concepção de sociedade e indivíduo [...]. O governo democrático é melhor porque nele encontramos as condições que favorecem o desenvolvimento das capacidades de cada cidadão”.
(WEFFORT, F. (org.). Os clássicos da política 2. 3 ed. São Paulo: Ática, 1991. p. 197-98).
Sobre o utilitarismo e o pensamento de Bentham e Stuart Mill, é INCORRETO afirmar.
a) Para o utilitarismo clássico, o principal critério para a moralidade é o princípio da utilidade, que
defende como morais as ações que promovem a felicidade e o bem-estar para o maior número
de pessoas envolvidas.
b) Para os utilitaristas Bentham e Stuart Mill, uma ação é considerada moralmente correta se
promove a felicidade e o bem-estar para o indivíduo, não importando suas consequências em
relação ao conjunto da sociedade.
c) Utilitaristas como Bentham defendem que o papel do legislador é o de produzir leis que sejam do
interesse dos indivíduos que constituem uma comunidade e que resultem na maior felicidade
para o maior número deles.
d) O pensamento de Stuart Mill propõe mudanças importantes à agenda política, na medida em que
reconhece que a participação política não pode ser tomada como privilégio de poucos. O Estado
deverá, portanto, adotar mecanismos que garantam a institucionalização da participação mais
ampliada dos cidadãos.
e) Enquanto Bentham defendia a democracia representativa como sendo uma forma de impedir que
os governos imponham seus interesses aos do povo, Stuart Mill defende tal forma de governo
como a melhor forma para se controlar os governantes e ao mesmo tempo aumentar a riqueza
total da sociedade.
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Filosofia
5. O filósofo inglês Jeremy Bentham, em seu livro Uma introdução aos princípios da moral e da legislação,
defendeu o princípio da utilidade como fundamento para a Moral e para o Direito. Para esse autor, o
princípio da utilidade é aquele que:
a) estabelece que a moral e a lei devem ser obedecidas porque são úteis à coexistência humana na
vida em sociedade.
b) aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou diminuir a
felicidade das pessoas cujos interesses estão em jogo.
c) demonstra que o direito natural é superior ao direito positivo, pois, ao longo do tempo, revelou-se
mais útil à tarefa de regular a convivência humana.
d) afirma que a liberdade humana é o bem maior a ser protegido tanto pela moral quanto pelo direito,
pois são a liberdade de pensamento e a ação que permitem às pessoas tornarem algo útil.
6. Sobre a ética utilitarista, marque a alternativa CORRETA.
a) O utilitarismo é uma ética conceitualmente voltada para o egocentrismo, uma vez que toma como
critério definidor do agir moral aquilo que resulta ser o mais útil para o indivíduo dentre os cursos
de ação possíveis.
b) Segundo o utilitarismo, o conteúdo do agir correto se define pela maior quantidade de prazer ou
utilidade para o indivíduo produzido pelo curso de ação indicado.
c) A ética utilitarista é uma ética do tipo deontológico, uma vez que não raciocina com a ideia de um
fim último para o agir humano.
d) A ética utilitarista opera da perspectiva de um agir com consequências coletivas, ou seja, o valor
moral da ação se define pela maior quantidade de bem-estar ou utilidade para o maior número
de pessoas dentre os cursos de ação possíveis.
e) A ética utilitarista se reduz, ao final, a um hedonismo individual, uma vez que opera com o
conceito central de prazer em sua estrutura teórica.
7. “O utilitarismo é um tipo de teoria teleológica (de télos que, em grego, significa “fim”) ou
consequencialista porque sustenta que a qualidade de um ato/regra de ação é função das
consequências produzidas pelo ato/regra em questão. O utilitarismo de atos estatui que uma ação é
correta se sua realização dá origem a estados de coisas pelo menos tão bons quanto aqueles que
teriam resultados de cursos alternativos de ação. O utilitarismo de regras ensina que são corretas as
ações que se conformam a regras de cuja observância geral resulta um estado de coisas pelo menos
tão bom quanto o resultante de regras alternativas. (...) Para o consequencialismo, o bem é
logicamente anterior ao correto, no sentido de que nenhum critério de correção pode ser estabelecido
antes que uma concepção de bem tenha sido delineada. (...) Para o utilitarismo, o bem é a utilidade ...” M. C. M. de Carvalho.
Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas:
I. Na concepção moral utilitarista, é necessário, nos juízos morais, levar em consideração as
consequências resultantes das ações praticadas.
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Filosofia
II. Para o utilitarismo de regras, são consideradas boas as ações conforme a regras cuja
observância resulta num estado de coisas tão bom, ou melhor, do que o estado de coisas
resultante de regras alternativas.
III. Na concepção ética utilitarista, o princípio fundamental é o princípio da utilidade.
IV. Na concepção ética utilitarista, nenhum critério de correção no agir moral pode ser estabelecido
com base numa determinada concepção de bem.
V. Há, em termos morais, apenas, uma única concepção utilitarista, por esta ser uma concepção
moral deontológica.
Assinale a alternativa correta
a) Apenas I e IV estão corretas.
b) Apenas II e IV estão corretas.
c) Apenas I, II e III estão corretas.
d) Apenas III e IV estão corretas.
e) Nenhuma alternativa está correta.
8. Nem sempre há consenso em uma sociedade plural, diversificada, sobre se uma ação é certa ou errada,
moral ou imoral. Um bom exemplo disso é o caso do aborto. Tirar a vida de um feto com menos de 3
meses de idade, num caso em que a gravidez ocorreu por descuido, é visto por algumas pessoas como
uma ação imoral, mas ao mesmo tempo outras pessoas pensam que se trata de uma ação moral. Mas,
afinal, o aborto, nesse caso, é moral ou imoral? Diante dessa questão, o que diria um utilitarista?
a) Que o aborto é uma ação moral, porque a mulher é dona de seu próprio corpo e pode fazer o que
desejar com ele.
b) Que existe apenas uma resposta correta para a questão e é necessário apenas, para descobrir
essa resposta, calcular o quanto de prazer ou sofrimento cada uma das possibilidades de ação irá
provocar.
c) Que ambas as respostas estão corretas, dependendo da perspectiva da pessoa.
d) Que o aborto é uma ação imoral porque está tirando a vida de uma pessoa em formação e tirar
uma vida humana é incorreto.
e) Que a resposta depende da cultura. Em algumas sociedades isso pode ser correto, mas em outras
não.
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Filosofia
9.
A abordagem utilitarista à ética aparece no cartum considerando
a) defender o ato moral por suas consequências.
b) reverter o tratamento nocivo aos não humanos.
c) estabelecer a imoralidade da exploração animal.
d) combater o status moral dos animais sencientes.
e) proteger os animais como condição de bem-estar.
10. Na contramão das previsões que anunciaram a morte da filosofia moral utilitarista, essa doutrina
continua sendo um tema privilegiado no campo de estudos sobre a Ética. A que se deve atribuir a vitalidade atual dos estudos sobre o Utilitarismo?
a) É possível afirmar que, se o Utilitarismo continua fecundando a reflexão ética em nossos dias, é
porque, à luz dessa doutrina, os direitos têm prioridade sobre o bem. Por isso, na "era dos direitos",
para falar com Norberto Bobbio, é compreensível que as éticas dos direitos busquem inspiração
no Utilitarismo.
b) Os utilitaristas chegaram a um consenso na interpretação do conceito de utilidade. Um conceito
que privilegia o interesse individual em detrimento do interesse geral e que leva a sério a pessoa
humana.
c) Não se pode ignorar que justiça e equidade estão suficientemente asseguradas na teoria
utilitarista. Daí a importância que essa teoria adquire no cenário atual. O Utilitarismo não admite
que minorias sejam oprimidas e direitos humanos violados.
d) Qualquer sistema ético deve promover o bem-estar e preocupar-se com a minimização do
sofrimento. Daí a pertinência do Utilitarismo, uma doutrina sensível às preocupações distributivas,
que não opõe princípio de utilidade e princípio de equidade.
e) O Utilitarismo é um modelo ético desafiante que nos leva a pensar sobre importantes questões da
ética normativa, da metaética e da teoria da ação. A doutrina tem o mérito de considerar e ao
mesmo tempo avaliar a importância das consequências da ação humana, como também de
colocar em primeiro plano a satisfação das necessidades e dos interesses humanos da maioria.
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Filosofia
Gabarito
1. B Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia Somente a afirmativa [B] está correta. A utilização da concepção utilitarista para criticar a posse de terra por parte dos índios brasileiros se dá por uma opção ideológica, que simplifica questões subjetivas e históricas (como a noção de felicidade) em índices estatísticos (como o de mortalidade infantil), de forma a tentar mensurar os custos e os benefícios de determinado direito social. Resposta do ponto de vista da disciplina de Filosofia A alternativa [B] é a correta, pois a questão central abordada, esta centrada no utilitarismo. Esta corrente de pensamento desconsidera, em sua análise, as consequências “menores”, ou em outras palavras a “menor porção de felicidade” gerada pelas escolhas em comparação com a eficiência daquilo que se propõe. No caso do problema indígena, a justificativa para rever a questão do assentamento destas populações, tendo como base a ética utilitarista, verifica-se que esta ética utiliza um comparativo entre a proporção de terras cedidas aos indígenas, utilizando a agricultura como referencial e a elevação dos casos de mortalidade, havendo ainda assim, a necessidade de mais intervenção do Estado para garantir condições de vida aos índios. As demais alternativas não abordam o tema central do utilitarismo que é o aumento felicidade da população em relação a um menor sofrimento. Desta maneira, pode-se justificar ideologicamente a revisão dos assentamentos, com base de que isto não esta proporcionando melhoria na qualidade de vida dos índios.
2. D O texto faz referência à filosofia de Jeremy Bentham, um dos maiores filósofos da corrente chamada de utilitarismo. Segundo esse estilo de pensamento filosófico, as ações devem ser orientadas pela maximização da felicidade e da utilidade prática dos indivíduos. Tal raciocínio está vinculado a uma racionalidade pragmática, ou seja, que avalia as ações de acordo com determinado critério de aumento geral de bem-estar.
3. D
Para o utilitarismo, uma corrente filosófica consequencialista e pragmática, o que carrega o sentido da ação em relação ao seu valor moral é o resultado da ação e seus desdobramentos.
4. B
Claramente a resposta se baseia no contrário daquilo que se pensa do utilitarismo, visto que afirma que este é promover felicidade e bem estar para O INDIVÍDUO não importando as consequências do bem estar da sociedade (um grupo maior).
5. B
O utilitarismo é um movimento fortemente influenciado pelo lluminismo francês e que teve em Bentham o seu grande expoente. É uma doutrina consequencialista. Assim, a ética utilitarista defende que com o aumento do prazer e a diminuição da dor (chegando a sua eliminação), a felicidade humana estaria garantida. E o principio da utilidade é o parâmetro para julgamento da conduta individual e coletiva, permitindo, dessa forma, encontrar a fórmula que proporcione a maior quantidade de felicidade ao maior número, de integrantes da sociedade. Gabarito "B".
6. D
O utilitarista acredita que a felicidade é, tal como na Ética das Virtudes, o maior bem humano porque as pessoas guiam suas ações visando alcançá-la. Por conta disso, a ética utilitarista é chamada de teleológica, ou seja, é uma ética que visa a um objetivo, uma finalidade que é, justamente, a vida feliz.
7. C IV errada: A interpretação do princípio de utilidade implica a coincidência entre o prazer particular e o bem público. Nesse sentido, a felicidade alheia é desejada porque está associada com a própria
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felicidade do sujeito moral. Com base no efeito, ou consequência, de uma ação sob o bem comum é possível compreender quais critérios de correção são aplicáveis e quais não.
V errada: A ética utilitarista não se baseia na noção de dever (deontologia) onde a ação é baseada numa moral universal e necessária independente da consequência desta ação, mas sim no que essa ação resulta, intentando alcançar a maior felicidade, ou bem, para o maior número de pessoas.
8. B Para a ética utilitarista o objetivo é o bem-estar do maior número de pessoas. Desse ponto, cabe analisar o impacto ou consequência das ações expostas para saber qual deve ser escolhida. Mesmo que venha causar sofrimento a alguns, uma ação é moralmente adequada em comparação a outra se causar menos sofrimento.
9. A Para os utilitaristas, Bentham e Mill, a felicidade estaria condicionada à coletividade, o bem-estar coletivo, onde as nossas ações deveriam produzir a massificação dos prazeres, ou seja, a utilidade deveria estar pautada no agir moral, a partir da responsabilidade das nossas atitudes e de suas consequências na busca do maior bem possível para o maior número de seres sencientes.
10. E Longe de se basear numa concepção universalista de bem, o utilitarismo propõe apresentar um modelo de ação baseado na nas condições dos atores envolvidos nas diversas situações possíveis, sempre apontando para a felicidade e bem-estar geral, nunca ignorando o efeito e os desdobramentos das ações realizadas. Dessa maneira o utilitarismo se posiciona como um modelo ético vinculado à pratica humana desde o início da ação (na consideração das consequências destas) até a experimentação das consequências das ações.