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Espiritismo estudado

semeando conhecimento iluminativo; estimulando a prática incondicional do bem; enaltecendo Jesus

descortinando novos horizontesàs criaturas humanas

especialmente ao principiante espírita

EspíritasResenha de Estudos

SÉRIEo celesteroteiro6

janeiro de 2014

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Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais?

Afinal, o que estamos buscando em nosso dia a dia, que tem consumido nossas forças, nosso ânimo, nosso tempo?

Somos nós os que seguimos Jesus desde há mais de dois mil anos e é chegado o momento de respondermos ao celeste questionamento.

Naturalmente que essa resposta exige de nós, profunda e amadurecida refle-xão sobre a vida, suas razões e nossos objetivos no curso dela. Sobre o que já sabemos e o que fazemos em nosso benefício espiritual e em prol do próximo.

O CELESTERoteiroResenha de Estudos Espíritas

nº67 de janeiro de 2014

Unidade em estudo: Eu Sou o Caminho

tema:

abordagem:

parte única

título desta edição:

Jesus, nosso modelo e guia

objetivo do tema abordado:

observação:

A Celeste Indagação

A Celestre Indagação

A Celeste Indagação

O objetivo do tema é enaltecer a figura de Jesus e sua presença em nossas vidas, como expressão

de esperança e consolo, relacionando o Espiritismo com a Sua mensagem, por ser ela a essência da

Doutrina Espírita.

Além das Notas de Referência para as citações contidas no texto de abordagem do assunto,

ao final seguem referências bibliográficas, que recomendamos sejam lidas e estudadas, pois

ali se encontra conhecimento que irá dar maior substância ao que ora nos dispomos aprender.

A CELESTE INDAGAÇÃO“Que buscais? (João 1 : 38)“A quem buscais?” (João 18 : 4)

QUEuscais?B

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cundários se originam das circunstâncias e da força mesma das coisas. Previstos só são os fatos principais, os que influem no destino. Se tomares uma estrada cheia de sulcos profundos, sabes que terás de andar cautelosamente, porque há muitas probabilidades de caíres; ignoras, contudo, em que ponto cairás e bem pode suceder que não caias, se fores bastante prudente. Se, ao percorreres uma rua, uma telha te cair na cabeça, não creias que estava escrito, segundo vulgarmente se diz.”

Sobre nossa relação conosco mesmo, com o próximo e com Deus.

As circunstâncias de cada dia ope-ram no sentido de despertar nosso en-tendimento sobre as razões do existir. Acontece que nem sempre nos faze-mos suficientemente atentos para me-lhor aproveitarmos as lições da vida. E esse nosso despertar se faz tardio.

No entanto, como o Criador estabe-leceu como nosso fanal o Bem e a feli-cidade, pelo que, reconheçamos, pouco temos feito por perseguir, as Leis Divi-nas nos facultam sacudidelas (provas expiações) a fim de tirar-nos do entor-pecimento e inação espiritual.

Aprendemos em O Livro dos Espíri-tos, conforme resposta das Vozes dos Céus à questão 259:

Do fato de pertencer ao Espírito a escolha do gênero de provas que deva sofrer, seguir-se-á que todas as tribula-ções que experimentamos na vida nós as previmos e buscamos?

“Todas, não, porque não escolhes-tes e previstes tudo o que vos suce-de no mundo, até às mínimas coisas. Escolhestes apenas o gênero das pro-vações. As particularidades correm por conta da posição em que vos achais; são, muitas vezes, consequências das vossas próprias ações. Escolhendo, por exemplo, nascer entre malfeitores, sa-bia o Espírito a que arrastamentos se expunha; ignorava, porém, quais os atos que viria a praticar. Esses atos resultam do exercício da sua vontade, ou do seu livre-arbítrio. Sabe o Espíri-to que, escolhendo tal caminho, terá que sustentar lutas de determinada es-pécie; sabe, portanto, de que natureza serão as vicissitudes que se lhe depa-rarão, mas ignora se se verificará este ou aquele êxito. Os acontecimentos se-

A Benfeitora Espiritual, Joanna de Ângelis, também nos fala a esse res-peito, no livro Vida Feliz1:

Ninguém colhe em seara alheia, que não haja semeado, no que diz respeito aos valores morais.

Cada um é herdeiro de si mesmo.

Espírito imortal que é, evolui de eta-pa em etapa, como aluno em educan-dário de amor, repetindo a lição quando erra e sendo promovido quando acerta.

Assim, numa existência dá prosse-guimento ao que deixou interrompido na outra, corrige o que fez errado ou inicia uma experiência nova.

O que, porém, não realiza por amor, a dor o convocará a executar.

É inadiável o momento de agora para trabalharmos pelo despertar do Espírito, pelo despertar da nossa consciência.

Esse “abrir dos olhos do Espírito” é que nos facultará saber, de antemão, qual caminho a seguir, sabendo distin-guir o bem do mal.

Como se pode distinguir o bem do mal?2

O bem é tudo o que é conforme a lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é con-trário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.

Lemos na Introdução de o livro Mo-mentos de Consciência:3

A criatura agoniada, todavia, busca outros rumos de afirmação.

1 FRANCO, Divaldo P. Vida Feliz. Ditado pelo Espí-rito Joanna de Ângelis. 4ed. Salvador, BA: Leal. 1994. Cap.: 70, p. 83.2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 80ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1998. Perg. 630, p. 310.3 FRANCO, Divaldo P. Momentos de Consciência. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Leal. 1992. Cap.: Momentos de consciência, p. 11.

Imagem de Joanna de Ângelis. Extraída de tela pintada por Cláudio Urpia. Foto de Jorge Moehlecke

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profundos como bem e o mal, o certo e o errado, o dever e a irresponsabili-dade, a honra e o desar, o nobre e o vulgar, o lícito e o irregular, a liberdade e a libertinagem.

Trabalhando dados não palpáveis, saberás selecionar os fenômenos exis-tenciais e as ocorrências, tornando tuas diretrizes de segurança aquelas que proporcionam bem-estar, harmo-nia, progresso moral, tranquilidade.

Essa consciência não é de natureza intelectual, atividade dos mecanismos cerebrais. É a força que os propele, porque nascidas nas experiências evo-lutivas, a exteriorizar-se em forma de ações.

Encontramo-la em pessoas incultas intelectualmente, e ausente em outras, portadoras de conhecimentos acadêmi-cos.

Se analisarmos a conduta de um es-pecialista em problemas respiratórios, que conhece intelectualmente os danos provocados pelo tabagismo, pelo alco-olismo e por outras drogas adictivas, e que, apesar disso, usa, ele próprio, qualquer um desses flagelos, eis que ainda não logrou a conquista da consci-ência. Os seus dados culturais são frá-geis de tal forma, que não dispõem de valor para fomentar uma conduta sau-dável.

Por extensão, a pessoa que se per-mite o crime do aborto, sob falsos ar-gumentos legais ou de direitos que se faculta, assim como todos aqueles que o estimulam ou o executam, incidem na mesma ausência de consciência, com-portando-se sob a ação do instinto e, às vezes, da astúcia, da acomodação, mascaradas de inteligência.

Outros indivíduos, não obstante sem conhecimento intelectual, possuem lu-

Está, porém, em a natureza humana, a necessidade da paz e o anelo pelo bem--estar.

Essa busca surge nos momentos de consciência, quando descobre as necessi-dades legítimas e sabe distingui-las no meio dos despautérios, do supérfluo e da desilusão.

(...)

O amadurecimento intelecto-moral faculta a consciência e esta propele para a verdade e a vida.

Ainda a Veneranda Benfeitora, Joanna de Ângelis, é quem nos traz impor-tante texto a respeito do despertar da consciência, denominado: Aquisição da Consciência:4

4 FRANCO, Divaldo P. Momentos de Consciência. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Leal. 1992. Cap.: 1 p. 14-18.

cidez para agir diante dos desafios da existência, elegendo o comportamento não agressivo e digno, mesmo que a contributo de sacrifício.

A consciência pode ser treinada me-diante o exercício dos valores morais elevados, que objetivam o bem do pró-ximo, por consequência, o próprio bem.

O esforço para adquirir hábitos sau-dáveis conduz à conscientização dos deveres e às responsabilidades perti-nentes à vida.

Herdeiro de si mesmo, das experiên-cias transatas, o ser evolui por etapas, adquirindo novos recursos, corrigindo erros anteriores, somando conquistas. Jamais retrocede nesse processo, mes-mo quando, aparentemente, reencarna dentro das paredes de enfermidades limitadoras, que bloqueiam o corpo, a mente ou a emoção, gerando tormen-tos. Os logros evolutivos permanecem adormecidos para futuros cometimen-tos, quando assomarão, lúcidos.

A aquisição da consciência é desafio da vida, que merece exame, considera-ção e trabalho.

*

A tua existência terrena pode ser considerada uma empresa que deves dirigir de forma segura, a mais cuidado-sa possível.

Terás que trabalhar dados concre-tos e outros mais abstratos, na área da programação das atividades, a fim de conseguires êxito. Todo empenho e de-votamento se transformarão em meca-nismos de lucro, a que sempre poderás recorrer durante as situações difíceis.

Algumas breves regras ajudar-te-ão no desempenho do empreendimento, tais:

- administra os teus conflitos. O con-

aquisição daCONSCIÊNCIANo momento da conscientização, isto é, no instante a partir do qual consegues

discernir com acerto, usando como parâmetro o equilíbrio, alcanças o ponto ele-vado na condição de ser humano.

Efeito natural do processo evolutivo, essa conquista te permitirá avaliar fatores

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flito psicológico é inerente à natureza humana e todos o sofrem;

- evita eleger homens-modelos para seguires. Eles também são vulnerá-veis às injunções que experimentas e, às vezes, comprometem-se, o que, de maneira alguma deve constituir deses-tímulo;

- concede-te maior dose de confian-ça nos teus valores, honrando- te com o esforço para melhorar sempre e sem desânimo. Se erras, repete a ação, e se acertas, segue adiante;

- não te evadas ao enfrentamento de problemas usando expedientes falsos, comprometedores, que te surpreende-rão mais tarde com dependências infe-lizes;

- reage à depressão, trabalhando sem autopiedade nem acomodação pregui-çosa;

- tem em mente que os teus não são os piores problemas, eles pesam o vo-lume que lhes emprestas;

- libera-te da queixa pessimista e me-dita mais nas fórmulas para perseverar e produzir;

- nunca cedas espaço à hora vazia, que se preenche de tédio, mal-estar ou perturbação;

- o que faças, faze-o bem, com dedi-cação;

- lembra-te que és humano e o pro-cesso de conscientização é lento, que adquirirás segurança e lucidez através da ação contínua.

Interessado em decifrar os enigmas do comportamento humano, Allan Kar-dec indagou aos benfeitores e guias da Humanidade, conforme se lê em “O Li-vro dos Espíritos”, na questão número 621:

– Onde está escrita a lei de Deus ?

– Na consciência. - Responderam com sabedoria.

A consciência é o estágio elevado que deves adquirir, a fim de seguires no rumo da angelitude.

Se não conseguimos visualizar a vida em seu amplo conjunto existencial e sua multiplicidade de manifestações, bem como nosso entrosamento ou não nesse contexto, de modo útil, produ-tivo, renovador, como responder com seriedade, com compromisso, ao ques-tionamento feito por Jesus, o Cristo?

Quem não tem objetivos a serem al-cançados, não tem rumo a tomar, não tem estímulo para lutar e vencer a inér-cia.

Se você se sente desmotivado para conquistar valores Espirituais, valores morais, valores comportamentais sau-dáveis, é porque você ou está plena-mente satisfeito com você mesmo e a vida, mesmo que padecendo muito, ou não se deu conta de que a superação dos seus problemas e da mesmice que você sente e sofre, está pedindo exata-mente a busca desse reencontro com Deus.

Importante destacar que a motiva-ção nasce somente das necessidades humanas identificadas e não daquelas coisas que satisfazem estas necessida-des.

Explico melhor. Quando dizemos: - “Eu tenho sede”, estamos identifican-do uma necessidade. Essa necessidade impulsiona-nos, motiva-nos a buscar aquilo que satisfaça essa necessidade. No caso, a água. Caso se colocassem vários litros de água diante de uma pes-soa que não está com sede, isto não a

motivaria a beber, simplesmente porque sua sede já está saciada. Logo, é a ne-cessidade que está motivando e não aquilo que satisfaz a necessidade.

Enquanto não sentirmos necessidade de Deus, de paz, de esperança, de âni-mo, de coragem, de fé, de consolo, não nos moveremos para essas buscas. E quanto maior a necessidade, maior a satisfação correspondente que estaremos buscando.

É o caso da mulher samaritana, que, diante de suas buscas espirituais e res-postas para vida, rompe todos os preconceitos e acolhe a mensagem de Jesus que ali estava lhe oferecendo a água viva, que viria a lhe saciar essa “sede do coração” para sempre.

Leiamos a narrativa dessa passagem, conforme vem escrita pelo Espírito Amé-lia Rodrigues5:5 FRANCO, Divaldo P. Primícias do Reino. Ditado pelo Espírito Amélia Rodrigues. 3a ed. Salvador, BA: Leal. 1975. Cap.: A mulher da Samaria p. 100-107.

A Samaria já não desfrutava as glórias do passado, ao tempo do esplendor e da impiedade de Acabe e Jezabel. Destruída em 722 (a.C.) por Sargão II, irmão e sucessor de Salmanasar V, ali instalaram os assírios povos exilados de toda parte do Império que se estabeleceram numa amálgama de raças e crenças ge-neralizadas.6

Ao tempo de Esdras, como perdurasse a profunda cisão que tivera desfecho 6 Jo. 4:1-42

A mulher

da

Samaria

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Do cimo dos montes via-se o mar de longe, àquela hora, por entre colinas esguias.

O solo anfractuoso coleia e se con-torce entre as montanhas até aplainar--se no vale viridente.

Nuvens brancas e esgarçadas desli-zavam pela amplidão do céu azul.

A jornada do Mestre e seus discípu-los fora longa: cerca de cinquenta qui-lômetros.

A garganta ressequida, o corpo can-sado e coberto de pó pedem linfa cris-talina e refrescante.

Ao chegarem às cercanias da cidade, o Rabi assentou-se junto ao tradicional “poço de Jacó”, nos terrenos que per-tenceram a esse venerando ancião e foram legados ao seu filho José, onde ficara sepultado.

Os discípulos subiram à cidade para aquisição de víveres e frutas, enquanto Jesus aquietou-se em profundo cismar perdido na paisagem colorida.

*

Cântaro ao ombro, mergulhada em íntimas inquietações, uma mulher des-ce ao poço sob o Sol queimante e a pino.

Surpreende-se com o estranho olhar que lhe dirige o forasteiro judeu, que ali parece aguardá-la.

Atira, porém, o vaso sobre a água e recolhe o precioso liquido na bilha que repousa sobre o paiol.

Sente-se intranquila, como se algo estivesse para suceder-lhe.

Emoções desconhecidas tumultuam--lhe o espírito.

Quando se dispõe a tomar o vasilha-me e retornar ao lar, ouve:

- Dá-me de beber!

Volta-se, surpresa, dominada por es-tranhos e profundos ressentimentos.

Como ousa aquele estrangeiro diri-gir-lhe a palavra, atentando contra os costumes vigentes? – interroga men-talmente. Que homem é este que se atreve a dirigir a palavra a uma mulher, sabendo-se que ninguém ousava fazê--lo na rua, mesmo que fosse à esposa, filha ou irmã? Ignorará ele essa regra comezinha, parte integrante dos de-veres sociais? E, solerte, retruca, com proposital ironia na voz, com que extra-vasa a própria amargura:

- Como sendo tu judeu me pedes de beber a mim, que sou mulher samarita-na?

No vale, maio cantava através de mil cigarras no trigal; a estrada deserta e silenciosa perde-se montanha a dentro.

Jesus conhece as dimensões que se-param os dois povos: judeus e samari-tanos.

Não seria esta a única vez que Ele provocaria escândalo, afrontando cos-tumes odientos e convencionais.

Tem uma mensagem a dar – mensa-gem de conciliação e consoladora.

Para isto deixara propositalmente a estrada do Jordão e subira as serras. Programara aquele encontro, desde an-tes...

Aquela mulher, Ele a escolhera para ser a condutora do seu aviso a Siquém.

Responde-lhe, então, sem aspereza nem revide, por conhecê-la, talvez, in-timamente.

Sua voz é cantante, compadecida:

- Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é o que te diz: dá-me de beber,

tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva.

Vibrações incomparáveis estrugem no coração da mulher.

Guardava ânsias de paz e não sabia como ou onde encontrá-la.

Uma dúvida, porém, a inquieta.

O espanto dá-lhe à voz uma tonalida-de de respeito.

- Senhor! – exclama – tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois tem a água viva? És tu maior que nosso pai Jacó que nos deu o poço, dele bebendo, ele próprio, seus filhos e o seu gado?

Os olhos do estranho fulguram com fascínio desconhecido.

A revelação não tarda; a mensagem espraiar-se-á no ar, embalando o mun-do, quando Ele a enunciar.

- Qualquer que beber desta água tor-nará a ter sede; - foi explícito – mas aquele que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede, porque a água que eu lhe oferecer se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.

- Dá-me dessa água – disse, pressu-rosa, - para que não mais tenha sede, e aqui não venha tirá-la.

Penetrara a mulher o sentido das pa-lavras do Rabi? Desejava libertar-se da exaustiva tarefa ou buscava mais clare-za no ensino?

Os meigos olhos d`Ele incendeiam--se e se fixam nos olhos dela, penetran-do-lhe o recôndito do espírito.

- Vai chamar o teu marido e vem cá – ordena-lhe com brandura e segurança.

Ela se perturba.

Era uma pecadora, e Ele o sabia, - conjectura...

em 935 (a.C.) depois da morte de Salo-mão, um sacerdote de Sião, desligado do Templo, erigira sobre o monte Gari-zim m santuário opulento para rivalizar com o de Jerusalém.

Arrasada pelos macabeus comanda-dos por João Hircano, em 128 (a.C.) fora, no entanto, reedificada por Hero-des, que a denominou Sebaste ou Au-gusta.

Num desfiladeiro de quase 600 me-tros de altitude entre Hebal e Garizim, havia velha aldeia denominada Siquém, mas conhecida, todavia, por Sicar.

A cidadezinha histórica conhecera Patriarcas e Juízes e vira Josué reunir “o povo eleito” para ali jurar fidelidade à Aliança...

*

Saindo de Jerusalém, no dia anterior, demandando à Galiléia, Jesus abando-nara a estrada real cujo traçado leva-va de Jericó a Batanéia, seguindo o tranquilo curso do suave Jordão, para galgar as montanhas de Efraim, pene-trando os limites da Samaria, evitados pelos nascidos em Judá.

A vereda áspera e cheia de pedregu-lhos coloria-se de súbito com loendros ondulantes que se alternavam com sicô-moros desgalhados por entre os quais, ao entardecer, ventos alísios refrescam o próprio Yahweh em seu jardim, como nos mostra a linguagem bíblica.

As espigas douradas ondulavam ao vento morno da hora sexta (meio-dia), no imenso trigal esparramado pelo vale de Macneh.

O pó, acumulado ao longo da estra-da serpenteante entre cortes abruptos, macio como um dossel, levantava leves nuvens ao sopro do ar que desce do es-pigão de montanhas abrasadas.

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Esse era o seu tormento íntimo.

Quanto sentia ferida, humilhada no seu amor, receosa!...

As lágrimas afloraram e escorrem abundantes; a palavra empalidece o vi-gor nos seus lábios e, quase sem fôle-go, esclarece:

- Não tenho marido...

A vergonha estampa no seu rosto moreno a própria dor.

- Disseste bem: não tenho marido; - confirmou Jesus – pois que cinco ma-ridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.

Surpreendida, a samaritana não mais oculta a alegria, a felicidade.

Grita, quase:

- Senhor, vejo que és Profeta!

A mente está em desalinho.

Quantas dúvidas a atormentaram a vida toda!... Agora está diante de um Profeta de Deus. Deve aproveitar cada instante, reabilitar-se, encontrar a paz, por fim.

Comovida, interroga com docilidade.

- Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.

- Mulher, acredita-me – elucida o En-viado Divino – que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.

A mulher, perplexa, enche-se de ven-tura.

Tão indigna se considera, e, no en-tanto, fora chamada à Verdade, ouvin-do o que nenhum ouvido jamais escu-tara antes.

No vale, as espigas continuam osci-lando e os loendros cantam ao sopro do vento.

O Desconhecido olha em derredor, e continua com música harmoniosa nas palavras.

- Deus é o Espírito, e importa que os que O adoram, O adorem, em espírito e em verdade.

A humilde “aguadeira” terá compre-endido a grandeza universal do ensino?

Transfigurada pela revelação, deseja informar-se com segurança e indaga:

- Eu sei que o Messias (que se chama

o Cristo) vem; quando ele vier – nos anunciará tudo...

A sinfonia imponente irrompe do co-ração do Mestre, e, ante a Natureza em silêncio e expectação, Ele conclui:

- Eu o sou; eu que falo contigo! Por isso digo que a salvação vem dos ju-deus.

O suor escorre-lhe pelo rosto rubro e másculo.

Já não há segredo.

Despedaçam-se as comportas do mistério e a verdade esparze alegria e consolo.

Não há mais silêncios.

A mulher está conquistada.

O Reino amplia fronteiras entre os

“desgarrados”...

*

Os discípulos retornam e “maravi-lham-se de que estivesse falando com uma mulher”, mas nada disseram.

Tomando o cântaro, a samaritana demanda a cidade e, aos gritos, procla-ma:

- Vinde, vede um homem que me dis-se tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?

Indagações explodem, espontâneas, em todos, admirados ante a natural de-claração da informante.

Em grupos compactos os moradores de Sicar descem à fonte, onde o Rabi se demora com os discípulos, que ins-tam para que se alimente.

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Sem e perturbar com a multidão que O fita aturdida, explica aos companhei-ros, de modo a fazer-se ouvir por todos:

- Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra...

“Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os olhos, e vede as terras que já estão brancas para a sega. O que ceifa recebe o galardão, e ajunta fruto, para a vida eterna, para que assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem”.

“Porque nisso é verdadeiro o ditado: que um é o que semeia, e outro o que ceifa”.

“Eu vos enviei a ceifar, onde não tra-balhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho”.

A terra se vestia de escarlate e as nuvens ficavam tintas com o ouro do entardecer que se avizinha.

A mensagem é um brado de desper-tamento aos aprendizes inseguros e displicentes.

Ele semeia, o futuro colherá.

Ali está uma gleba humana referta de corações para a semeação da Era Nova.

Fazia-se necessário estender a todos os prelúdios da paz, numa antevisão do Reino.

Aqueles eram pastores, agricultores e pescadores...

Entendiam a linguagem, conheciam o tempo e as circunstâncias.

Os louvores a Deus não mais se en-toarão neste ou naquele recinto.

Erigido um altar no coração, o agri-cultor exalta-O na vérgea recamada

de sementes germinadas, o artista na obra rica de contornos, os sábios nos poemas das estrelas, os rudes no trato com os deveres humílimos.

A luz vem do alto e alarga-se pela planície...

Todos os ódios se apagam ante a Mensagem Nova.

Rompem-se barreiras, aplainam-se abismos.

Quebram-se os elos da escravidão e a desídia não medra.

Irrompe a paz nos corações.

Onde o homem se levanta para a vida, o Pai é adorado.

Deus já não pertence a um povo, a uma casta. É imanente em tudo e to-dos, e transcendente.

“Um só Deus é o Pai de todos, o qual é sobre todos, por todos e em todos”7.

Não importa o agora da vida, no que diz respeito a fruir gozo.

A abominação ao crime, à levianda-de, à insensatez que a todos convida larga e facilmente, em titânica batalha íntima pelo equilíbrio; a perseverança do bem; a renúncia ao “eu” enfermiço e ambicioso são as primícias de felici-dade... àquele que se doe à Causa.

O galardão é a paz consigo mesmo e a inefável ventura depois, além das sombras...

*

Por dois dias Ele ficou na Samaria a pregar, a curar, espalhando a certeza da Vida além da vida.

E todos diziam a Fotina:

- Já não é pelo teu dito que nós cre-mos; porque nós mesmos o temos ou-

7 Efésios 4;6

grande que ele desafiará suas capaci-dades para serem as melhores e poder alcançá-lo.

Entusiasme-se pelas coisas boas da vida, pelos valores reais do Espírito, pela conquista das virtudes.

O entusiasmo é o melhor salário. O entusiasmo, no entanto, é fruto de al-guma outra coisa: a motivação. A mo-tivação gera o que podemos chamar de força de vontade para satisfazer nossas necessidades essenciais. Vontade que nasce do desejo de vencer, vencendo--se, de resolver, resolvendo-se, de fa-zer bem-feito, melhorando-se.

Göthe disse: a lei é poderosa, toda-via mais poderosa é a necessidade.

O Livro dos Espíritos nos ensina:

909. Poderia sempre o homem, pe-los seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!”

No geral, deixamos para depois mes-mo as questões mais importantes para o dia.

Segundo as narrativas de Marcos (10:17-31), Lucas (18:18-30) e Ma-teus 19:16-30, eis a história do man-cebo rico conforme escrito por Amélia Rodrigues, Espírito, pela mediunidade de Divaldo Franco10:

10 FRANCO, Divaldo P. Primícias do Reino. Ditado pelo Espírito Amélia Rodrigues. 3a ed. Salvador, BA: Leal. 1975. Cap.: O cebo Rico, p. 67-73.

vido, e sabemos que este é verdadeira-mente o Cristo. O Salvador do mundo.

O céu diáfano diluía-se com os sal-picos de flóculos de nuvens, quando, depois, Ele e os discípulos seguiram à Galiléia.

*

Pela afeição com que se ligou a Je-sus, primitivos cristãos, que se alenta-ram na sua coragem de proclamar as imperfeições, denominaram a Samari-tana, “A Iluminadora”, que a tradição oral acatou e conservou, até os nossos dias.

Há duas formas de enfrentar dificul-dades: alterá-las ou alterar a maneira de enfrentá-las, como diz Phyllis Bottome.

Diante de nossos problemas e a necessidade de resolvê-los, vale a re-comendação de buscarmos outros caminhos e alternativas para poder so-lucioná-los.

E não há melhor lembrança, do que de Jesus: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo te-reis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”8

Hoje estamos apresentando-lhes Jesus, como aquele Amigo Celeste, único capaz de nos ofertar plenitude. Tão comentado, tão conhecido através dos tempos, mas pouco vivido mesmo no presente. Ele é a vereda da verda-deira vida, e nos disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.”9

Encontre um propósito na vida tão

8 Jo. 16:339 Jo. 10:10

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O momento era de profunda signi-ficação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora.

O apelo pairava vibrando em derre-dor: - “Vende tudo quanto tens, repar-te-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”.

Aquela voz penetrava como um pu-nhal afiado e impregnava qual perfume de nardo.

Havia um magnetismo inconfundí-vel naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer.

Tinha sede de paz.

Embora repousasse em leito de ma-deiras preciosas incrustados de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repas-tos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e unguentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia--se infeliz. Faltava-lhe algo que não se consegue facilmente.

Hesitava, no entanto.

Sua vivenda era luxuosa, seus per-tences valiosos e vazio o seu coração.

Conquanto a juventude cantasse ale-grias e festas em convites constantes ao prazer no corpo ágil e vigoroso, aca-lentava melhores aspirações, se dispu-tava a posse total da paz. Era mais do que tormento essa necessidade. Não que desejasse a tranquilidade aparato-sa dos fariseus ou o repouso entorpe-cente dos mercadores opulentos, nem a serenidade enganosa dos cambistas abastecidos ou a senectude vitoriosa dos conquistadores em aposentadoria compulsória. Buscava integração har-moniosa, mas não sabia em quê.

Confragia-se e angustiava-se igno-rando as nascentes da melancolia re-nitente que lhe dissipava sonhos e es-peranças sob guante de inenarrável amargura. Buscava as competições em Cesaréia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou fuga.

Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado.

A meiguice e a ordem daquela vez, enunciada por aquele Homem, ecoa-vam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito.

Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas...”

Hesitava, sim, e a hora não compor-tava dubiedades.

Uma roseiras de flores rubras, que abraçava os ramos do arvoredo próxi-mo, sacudida pelo vento, desgarrou-se e as pétalas da cor de sangue caíram--lhe aos pés, junto d’Ele, no alpendre, como sinais...

Donde O conhecia? – indagava, a medo, procurando recordar-se, com in-divizível esforço mental.

Todo àquela hora era importante; mais do que isso: vital!

Ao vê-lO, de longe, era como se re-encontrasse um amigo, um Celeste amigo.

Quando os seus descansaram nos olhos d’Ele, sentiu-se desnudado, o co-

ração em descontrole sob violenta pul-sação. Emoções inusitadas vibravam no seu ser, como jamais acontecera an-teriormente. Desejou arrojar-se ao solo, esmagado por indômita constrição no peito.

Percebeu que o Estranho sorriu, como se o esperasse, como se o amas-se, poderia afirmá-lo...

O tempo corria célere galopante as horas fugidias.

Seus lábios se afiguravam selados, e frio impertinente gelava-lhe as mãos.

Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava.

Retalhos de luar tímido prateavam

ORico

mancebo

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nuvens soltas no firmamento, bordan-do de luz oliveiras altivas e loendros em flor.

- Permite-me primeiro – conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava – competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos...

-Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu espírito. Não há tempo a perder.

- Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições... Exercitei-me, con-tratei escravos que me adestraram... aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogosos cavalos... os jogos estão próximos...

- Renuncia, e segue-me!

Quem era Ele, que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade? Por qual sortilégio o dominava?!... Gos-taria de fugi ou deixar-se arrastar, esta-va perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava...

A horizontalidade das aflições huma-nas contemplava a verticalidade da su-blimação divina: o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão.

O homem e o Filho do Homem se de-frontavam.

O diálogo parecia impossível, redu-zindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem.

Vencendo irresistível temor, conti-nuou o príncipe afortunado:

- Não receio dar o que possuo: di-nheiro, ouro, gemas, títulos, se possí-vel, pois sei que estes se gastam mui facilmente, mas...

- ... Dá-me a ti próprio e eu te ofere-

cerei a ventura sem limite.

Que alto prêmio! Que pesado tributo! – pensou desanimado.

Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorava, poder que no momento se destituída de qualquer valor.

Os bens, poderia ofertá-los, sim. Porém a fortuna da juventude, os te-souros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! seria necessário renunciar-se a isso tudo? – interrogava-se, inquieto.

- Sim! – respondeu-lhe, sem pala-vras, com os olhos fulgurantes.

Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda.

O ar cantava leves murmúrios en-quanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas.

O Rabi, em silêncio, aguardava. E ele, em perplexidade, lancinava-se.

O diálogo tornara-se realmente im-possível.

Subitamente, o príncipe de qualida-de, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corri-da na grande festa da semana entrante.

Acionado por estranho vigor, que dele se apossou repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada:

- Não posso. Não posso seguir-Te agora... Perdoa-me, se me amas!

E saiu quase a correr.

*

Sopravam os ventos frios que chega-vam de longe, musicados pelo bulício das estrelas balouçantes.

A terra estuava sob a gramínea or-

valhada.

O Mestre sentou-se e se encheu de profundo sofrimento.

Era assim, sempre assim que Ele fi-cava após a deserção dos convidados ao Banquete da Luz. A expressão de

Ruínas de Cesaréia

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mansuetude e perdão que lhe brilha-va nos olhos mergulhava em lágrimas, agasalhada em leves tons de amargura.

Assim O encontraram os discípulos. Interrogado, respondeu:

- “Quão dificilmente entrarão no rei-no de Deus os que têm riquezas”!

*

Uma semana depois Cesaréia era a capital do ócio, do prazer.

Situada ao norte da planície de Sa-rom e a 30 quilômetros ao sul do Mon-te Carnelo, foi embelezada por Herodes que, no local, mandou erguer grande porto de mar, caracterizado por colos-sal quebra-mar enriquecendo-a com im-ponente Templo onde se levantava es-tátua do imperador.

Esse porto valioso sobre o Mediter-râneo era importante escoadouro de Is-rael e porta de entrada marítima onde atracavam embarcações de toda parte.

As vilas ajardinadas debruçavam-se sobre as encostas pardacentas da cida-de, exibindo estilos arquitetônicos va-riados.

Pelo seu clima agradável, tornara-se residência oficial dos procuradores ro-manos, em Israel.

Tamareiras onduladas pelo vento adornavam as ruas e odores exóticos misturavam-se no ar varrido pela ma-resia.

As anêmonas escarlates ou “lírios do vale” e o narciso branco ou “rosa do Sarom” misturavam-se na planície.

Os festins de Cesaréia pretendiam rivalizar com os de Roma, atraindo afi-cionados até mesmo da Metrópole lon-gínqua.

Ao som alegre de trompas e fanfar-

ras começavam as festas públicas.

As competições de bigas abrem as corridas ante a aflição de judeus, roma-nos e gentios que deixaram sobre as mesas dos cambistas pesadas apostas nos seus ases.

Gladiadores em combates simulados, tocadores de pífanos e flautas, alaúdes e címbalos, enchem os intervalos de som e cor.

As quadrigas estão na linha de parti-da. Os fogosos corcéis, adquiridos aos

os peitos.

A expectativa fala sem voz na pulsa-ção da tarde ardente e empoeirada.

Numa manobra menos feliz, um car-ro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes, em disparada.

O moço rico sente as entranhas aber-tas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração estertorada...

Enquanto escravos precípites arras- - Amigo!...

Dois braços o envolvem, veludosos e transparentes.

Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, o suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir.

Por ser amanhã um dia ainda tão dis-tante, vale a recomendação evangélica: “...Vai trabalhar hoje na minha vinha”11.

Hoje é o dia. Não amanhã.

Enquanto é hoje, no dizer de Emma-nuel, Espírito12:

Encarecer a oportunidade de rege-neração espiritual na vida física nunca será argumento fastidioso nos círculos de educação religiosa.

O corpo denso, de alguma forma, re-presenta o molde utilizado pela compai-xão divina, em nosso favor, em grande número de reencarnações, para reajus-tar nossos hábitos e aprimora-los.

A carne, sob muitos aspectos, é bar-ro vivo de sublime cerâmica, onde o Oleiro Celeste nos conduz muitas ve-11 Mt. 21:2812 XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1971. Cap.: 169, p. 353-354.

partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia, empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal disparam, sob es-trondosa ovação.

Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A cele-bridade prende a respiração em todos

tam-no na pista, foge mentalmente a cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos pa-rece vê-Lo.

Silenciando os gritos na concha acús-tica tem a impressão de escutá-Lo.

- Renuncia a ti mesmo, vem, e se-gue-Me.

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zes, à mesma forma, ao calor da luta, a fim de aperfeiçoarnos o veículo sutil de manifestação do espírito eterno; en-tretanto, quase sempre, estragamos a oportunidade, encaminhando-nos para a inutilidade ou para a ruína.

Dentro do assunto, porém, a palavra de Paulo é valiosa e oportuna.

Enquanto puderes escutar ou perce-ber a palavra Hoje, com a audição ou com a reflexão, no campo fisiológico, vale-te do tempo para registrar as su-gestões divinas e concretizá-las em tua marcha.

Para o homem brutalizado a morte não traz grandes diferenças. A ignorân-cia passa o dia na impulsividade e a noi-te na inconsciência, até que o tempo e o esforço individual operem o desgaste das sombras, clareando-lhe o caminho.

Aqui, todavia, nos referimos à criatu-ra medianamente esclarecida.

Todos os pequenos maus hábitos, aparentemente inexpressivos, devem ser muito bem extirpados pelos seus portadores que, desde a Terra, já dispo-nham de algum conhecimento da vida espiritual, porque um dos maiores tor-mentos para a alma desencarnada, de algum modo instruída sobre os cami-nhos que se desdobram além da morte, é sentir, nos círculos de matéria subli-mada, flores e trevas, luz e lama dentro de si mesma.

Esse aturdimento que, de certo modo, se assenhoreia de nós, qual prolongada letargia, amolentamento, sono inimigo, e que nos impede maior atenção e inte-resse para com as graves questões da vida, vem assim tratada pelo Espírito Benfeitor Camilo13, em mensagem de

13 TEIXEIRA, Raul. Quem é o Cristo? Ditado pelo Espírito Francisco de Paula Vitor. Niterói, RJ: Fráter. 1997. Cap.: O Mestre, p. 11-12.

apresentação do livro Quem é o Cristo?, ditado pelo Espírito Francisco de Paula Vitor, através da mediunidade de Raul Teixeira:

Pedrotu dormes?

O sono do Apóstolo é um vigoroso símbolo, imortalizado nos textos da Boa Nova, transmitindo importante e despertadora mensagem a todos quan-tos se afirmam estudiosos interessados na personalidade de Jesus, o Cristo.

Pedro, na convivência mais do que próxima com Ele, uma vez instado a permanecer vígil, no momento dema-siadamente especial da vida do seu Mestre, pareceu não estar atento à gra-vidade daquela hora, no Getsêmani, e, assaltado pelo sono, deixou-se por ele embalar, despertando comovedor la-mento do Amigo em profunda solidão.

Pelo mundo afora, não são poucos os que adormecem nas ocasiões mais graves, nos momentos mais sérios, quando se lhes solicita aguçada aten-ção. Seja por espírito de fuga, seja por má vontade, seja por medo, qualquer que seja o motivo, o fato é que não é pequeno o número dos que dormem pe-rante o chamado do Cristo.

Desde os indivíduos mais incapazes, intelectualmente, aos cérebros mais eminentes das academias, encontram--se enormes contingentes de adorme-

cidos, gastando o tempo abençoado para as ingentes conquistas do espírito eterno em despropositada anulação das horas, desper-diçando felizes oportunidades, pelas quais la-mentarão mais adiante.

Quando são almas de poucos recursos do intelecto, costumam queimar o tempo nos episódios de crença, aceitando tudo que lhes apareça, conquanto suponham obter vantagens materiais para a vida do espíri-to, deixando-se embair, aqui e ali, em razão do próprio espírito interesseiro e imediatis-ta. Quando são mentalidades buriladas pe-los exercícios intelectuais das academias, é comum encontrá-las em inacabáveis discus-sões, muitas vezes ocas, muitas vezes ingê-nuas, outras vezes disparatadas, verdadeiras nonadas, sem lograr a lucidez devida para o mergulho indispensável no cerne de palpitan-tes quão importantes questões.

O mundo carece de almas sérias, com posturas comprometidas com a melho-ria da qualidade de vida dos indivíduos, não somente no que se refere à quali-dade de vida material, mas, fundamen-talmente, no que diz respeito à quali-dade de vida interior, espiritual, moral, do gênero humano. Atacado, contudo, pelos vírus de aturdente materialismo, um grande número de grandiosas men-tes perde-se nos cipoais das coisas ras-teiras, sem conseguir servir à Causa da imortalidade, perdendo a grande ensan-cha que lhe foi oferecida pelo Governo Espiritual da Terra, por Jesus Cristo.

O livre-arbítrio se desenvolve à medi-da que o Espírito adquire a consciência de si mesmo.

E é essa crescente liberdade de pen-sar e de agir que deve ser norteadora de bons caminhos conducentes à ver-dade e à vida.

Emmanuel, Espírito Benfeitor, nos propõe reflexões a esse respeito, em mensagem denominada: Que fazeis de especial?14, baseada em idêntico ques-tionamento feito por Jesus: “Que fa-zeis de especial?”, conforme se lê em Mateus 5:47.

Iniciados na luz da Revelação Nova, os espiritistas cristãos possuem patri-mônios de entendimento muito acima da compreensão normal dos homens encarnados.

Em verdade, sabem que a vida pros-segue vitoriosa, além da morte; que se encontram na escola temporária da Terra, em favor da iluminação espiritual que lhes é necessária; que o corpo car-14 XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1971. Cap.: 60, p. 133-134.

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nal é simples vestimenta a desgastar-se cada dia; que os trabalhos e desgostos do mundo são recursos educativos; que a dor é o estímulo às mais altas realiza-ções; que a nossa colheita futura se ve-rificará, de acordo com a sementeira de agora; que a luz do Senhor clarear-nos--á os caminhos, sempre que estivermos a serviço do bem; que toda oportuni-dade de trabalho no presente é uma bênção dos Poderes Divinos; que nin-guém se acha na Crosta do Planeta em excursão de prazeres fáceis, mas, sim, em missão de aperfeiçoamento; que a justiça não é uma ilusão e que a ver-dade surpreenderá toda a gente; que a existência na esfera física é abençoada oficina de trabalho, resgate e redenção e que os atos, palavras e pensamentos da criatura produzirão sempre os frutos que lhes dizem respeito, no campo infi-nito da vida.

Efetivamente, sabemos tudo isto.

Em face, pois, de tantos conheci-mentos e informações dos planos mais altos, a beneficiarem nossos círculos felizes de trabalho espiritual, é justo ou-çamos a interrogação do Divino Mestre:

- Que fazeis mais que os outros?

A nossa liberdade se ligitima como tal, desde que acompanhada da corres-pondente responsabilidade pelos atos. Saibamos, pois, dela nos utilizarmos a partir de hoje, onde estivermos.

Para os que permanecem na carne, a morte significa o fim do corpo denso; para os que vivem na esfera espiritual, representa o reinicio da experiência.

De qualquer modo, porém, o término cheio de dor ou a recapitulação repleta de dificuldades constituem o salário do

erro.

Quanta vez temos voltado aos círcu-los carnais em obrigações expiatórias, sentindo, de novo, a sufocação dentro dos veículos fisiológicos para tornar à vida verdadeira?

Muitos aprendizes estimam as lon-gas repetições, entretanto, pelo que temos aprendido, somos obrigados a considerar que vale mais um dia bem vivido com o Senhor que cem anos de rebeldia em nossas criações inferiores.

Infelizmente, porém, tantos laços grosseiros inventamos para nossas al-mas que o nosso viver, na maioria das ocasiões, na condição de encarnados ou desencarnados, ainda é o cativeiro a milenárias paixões.

Concedeu-nos o Senhor a Vida Eter-na, mas não temos sabido vivê-la, trans-formando-a em enfermiça experimenta-ção. Daí procede a nossa paisagem de sombra, em desencarnando na Terra ou regressando aos seus umbrais.

A provação complicada é consequ-ência do erro, a perturbação é o fruto do esquecimento do dever.

Renovemo-nos, pois, no dia de Hoje, onde estivermos. Olvidemos as linhas curvas de nossas indecisões e façamos de nosso esforço a linha reta para o bem com a Vontade do Senhor.

Os pontos minúsculos formam as fi-guras gigantescas.

As coisas mínimas constroem as grandiosas edificações. Retiremo-nos das regiões escuras da morte na prática do mal, para que nos tornemos dignos da vida eterna, que é dom gratuito de Deus.15

15 XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1971. Cap.: 122, p. 257-258.

Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no umbral de todos os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que buscais?”

a quemuscais?BTeólogos festejados, de várias cor-

rentes e escolas de pensamento, fala-ram sobre o Mestre; uns contra, outros a favor; uns com a tranquilidade das suas convicções, outros exacerbados e violentos no visco do seu fanatismo - como se o Cristo pudesse ser enquadra-do nos limites da percepção humana. Nada obstante, o que se percebe são os carregados vapores da presunção, os tóxicos de vaidades academicistas, que se fazem responsáveis por muita parvoíce que se espalha pelos arraiais do mundo intelectual.

Incontáveis foram os teólogos e ou-tros pensadores da filosofia que se pro-

nunciaram a respeito da figura do Cris-to. Homens da estatura intelectual de Voltaire de Napoleão viram-se envolvi-dos nas reflexões sobre o Mestre.

Desde os trabalhos de Reimarus, na Alemanha, aos escritos de Renan, na França, multiplicaram-se os discutido-res da trajetória terrena de Jesus Cris-to. Entre eles estiveram Herder e Davi Strauss, Bruno Bauer e Henrique Pau-lus, engolfados nessas notáveis discus-sões, sem que conseguissem deixar de pensar Nele, estivessem em posições contrárias ou favoráveis a esse Homem Excepcional.

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Notícias mais longínquas apontam referências sobre o Cristo nos escritos de Josefo e de Pápias, nos séculos I e II, respectivamente, ao lado de incon-táveis outros que O analisaram através dos textos dos Seus Discípulos, dese-josos de classificar e determinar a res-peito Dele, imaginando-se senhores de toda a capacidade, de toda a lucidez; como se, em questões espirituais, o macro coubesse no micro, ou como se o homem tipicamente terreno pudesse assimilar toda a realidade Daquele que era, antes que Abraão o fosse. Coisas da estultícia humana, bem se vê...

(...)

Sem embargo, onde encontramos re-ferências mais abundantes acerca des-sa existência luminosa é nos textos dos Evangelistas. Cada um deles em suas épocas, com sua sensibilidade e senso crítico, legou-nos ricas evocações da sua convivência com esse Ser de luz ou das formosas narrativas que lhes foram feitas por quem com Ele conviveu ou que mais próximo a Ele esteve.

São fascinantes os textos atribuí-dos a Mateus Levi e a João Marcos, a Lucas e a João. Deles extraímos pre-ciosos elementos para melhor pensar sobre o Cristo, mergulhando mais pro-fundamente nessas cristalinas águas do Evangelho do Reino.

Cada um a seu modo, são os Evan-gelistas os que melhor nos dão indica-ções para o entendimento, ainda que diminuto, desse fulgente Astro, que, um dia, esteve na atmosfera do mundo terrestre, valorizando a nossa morada sideral com as pegadas da Sua celeste assistência, com o aroma do Seu subli-mado amor.16

16 TEIXEIRA, Raul. Quem é o Cristo? Ditado pelo Espírito Francisco de Paula Vitor. Niterói, RJ: Fráter. 1997. Cap.: O Mestre, p. 12-13.

Essa pulsante Alma que faz movi-mentar todo o nosso sistema solar é o Cristo, a quem devemos buscar.

No entanto, que fazemos do Mestre?

Em dado momento crucial da Histó-ria, Pilatos perguntou: “Que farei então de Jesus, chamado o Cristo?”, como consta em Mateus 17:22.

Nos círculos do Cristianismo, a per-gunta de Pilatos reveste-se de singular importância.

Que fazem os homens do Mestre Di-vino, no campo das lições diárias?

Os ociosos tentam convertê-lo em oráculo que lhes satisfaça as aspira-ções de menor esforço.

Os vaidosos procuram transformá-lo em galeria de exibição, através da qual façam mostruário permanente de per-sonalismo inferior.

Os insensatos chamam-no indebita-mente à aprovação dos desvarios a que se entregam, a distância do trabalho digno.

Grandes fileiras seguem-lhe os pas-sos, qual a multidão que o acompanha-va, no monte, apenas interessada na multiplicação de pães para o estômago.

Outros se acercam dEle, buscando atormentá-lo, à maneira dos fariseus arguciosos, rogando “sinais do céu”.

Numerosas pessoas visitam-no, imi-tando o gesto de Jairo, suplicando bên-çãos, crendo e descrendo ao mesmo tempo.

Diversos aprendizes ouvem-lhe os ensinamentos, ao modo de Judas, exa-minando o melhor caminho de estabe-lecerem a própria dominação.

Vários corações observam-no, com simpatia, mas, na primeira oportunida-de, indagam, como a esposa de Zebe-

deu, sobre a distribuição dos lugares celestes.

Outros muitos o acompanham, es-trada a fora, iguais a inúmeros admira-dores de Galiléia, que lhe estimavam os benefícios e as consolações, detestan-do-lhe as verdades cristalinas.

Alguns imitam os beneficiários da Judéia, a levantarem mãos-postas no instante das vantagens, e a fugirem, espavoridos, do sacrifício e do teste-munho.

Grande maioria procede à moda de Pilatos que pergunta solenemente quanto ao que fará de Jesus e acaba crucificando-o, com despreocupação do dever e da responsabilidade.

Poucos imitam Simão Pedro que, após a iluminação no Pentecostes, se-gue-o sem condições até à morte.

Raros copiam Paulo de Tarso que se ergue, na estrada do erro, colocando--se a caminho da redenção, através de impedimentos e pedradas, até ao fim da luta.

Não basta fazer do Cristo Jesus o benfeitor que cura e protege. É indis-pensável transformá-lo em padrão per-manente da vida, por exemplo e mode-lo de cada dia.17

Com muita constância nos dirigimos à Ele rogando mil coisas. No entanto, quando Ele se nos dirige ao coração, pe-dindo-nos auxiliemos o próximo doando remédio a quem está doente, cobertor à quem padece de frio, pão à quem tem fome, como o atendemos? Será que O atendemos? Permitimos que Ele aden-tre nosso coração?

Se faz muito atual a firmativa evan-gélica: Ninguém pode servir a dois se-17 XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1971. Cap.: 100, p. 213-214.

nhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e despre-zará o outro. Não podeis servir simul-taneamente a Deus e a Mamon. Como consta em Lucas 14:13.

Sobre isso, um Espírito Protetor co-menta, em O Evangelho segundo o Es-piritismo, Cap. XVI, item 12:

Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade. Dir-se-ia, diante da ativida-de que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos por-des em condições de satisfazer a ne-cessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Que de penas, de amofinações, de tormentos cada um se impõe; que de noites de insônia, para aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Por cúmulo de cegueira, frequentemente se encon-tram pessoas, escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da ri-queza e dos gozos que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existên-cia dita de sacrifício e de mérito - como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas!

Insensatos! Credes, então, realmen-te, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deve-res que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social? Unicamente no vosso

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corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística.

Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor tão animado e acariciado se tornou o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou?

nós, uma luz inextinguível.

Permaneces no campo da experiên-cia humana, em plena atividade trans-formadora.

Todas as situações de que te envai-deces, comumente, são apenas ângulos necessários mas instáveis de tua luta.

A fortuna material, se não a funda-mentas no trabalho edificante e conti-nuo, é patrimônio inseguro.

A opção por Jesus é opção por vi-venciar o amor, a caridade.

Não basta reconhecê-lO como o Ce-leste Amigo. Precisa ser vivenciado, conforme seus ensinos.

Foi Paulo de Tarso, apóstolo, que criou a palavra: caridade, configurando neste termo a ideia de amor em ação, amor dinâmico, amor vivenciado.

E foi ele, o Apóstolo Paulo que tam-bém nos disse: “A caridade jamais se acaba.”, como se lê em I Coríntios, 13:8.

Alcançar a capacidade amar é para

A família humana, sem laços de ver-dadeira afinidade espiritual, é ajunta-mento de almas, em experimentação de fraternidade, da qual te afastarás, um dia, com extremas desilusões.

A eminência diretiva, quando não solidificada em alicerces robustos de justiça e sabedoria, de trabalho e con-sagração ao bem, é antecâmara do de-sencanto.

A posição social é sempre um jogo transitório.

As emoções da esfera física, em sua maior parte, apagam-se como a chama duma vela.

A mocidade do corpo denso é floração passageira.

A fama e a popularidade costumam ser processos de tortura incessante.

A tranquilidade mentirosa é introdução a tormentos morais.

A festa desequilibrante é véspera de laborioso reparo.

O abuso de qualquer natureza compele ao reajustamento apressado.

Tudo, ao redor de teus passos, na vida exterior, é obscuro e problemático.

O amor, porém, é a luz inextinguível.

A caridade jamais se acaba.

O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado em toda parte.

Através do amor que nos eleva, o mundo se aprimora.

Ama, pois, em Cristo, e alcançarás a glória eterna.18

Acompanhemos Douglas Maloch em seu poema:

18 XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 4a ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1971. Cap.: 162, p. 339-340.

Se não puderes ser um pinheiro no topo da colina

Sê um arbusto no vale – mas o melhor arbusto na encosta do monte.

Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.

inheiroP se não puderesser um

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Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva

e dá alegria a um caminho.

Se não puderes ser almíscar, sê então apenas uma tília,

Mas a tília mais viva do lago.

Não podemos ser todos capitães, temos de ser tripulação.

Há alguma coisa para todos nós aqui.

Há grandes obras e outras menores a realizar,

E é a próxima tarefa que devemos empreender.

Se não puderes ser uma estrada, sê apenas uma senda.

Se não puderes ser o sol, sê uma estrela.

Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso.

Sê o melhor de o que quer que sejas!

É sabido que muitos de nós deixam de assumir compromisso com valores reais da vida, com a reforma moral ínti-ma, por terem receio das mudanças de-correntes, que venham a ser impostas pela própria consciência. Hábitos irão mudar. Os interesses serão guindados para outros rumos.

É evidente que todos sentimos medo em algum momento ou circunstância da existência física, o que é perfeita-mente natural.

No caso em tela, existe um temor in-terno que procede, quase sempre, por nos sentirmos incapazes de enfrentar situações inesperadas, novas, até en-tão desconhecidas, por não terem sido ainda vivenciadas por nós. Temor por ter que renunciar a algumas práticas, tidas como comuns, mas que se irá descobrir não serem normais. E por aí vamos.

Porém, cuidemos, pois o medo pode ser comparado à sombra que altera e dificulta a visão real.

Disse-nos Joanna de Ângelis, Espíri-to: “Todos os que fizeram libações pe-

rigosas na taça do medo, encontram-se narcotizados, sem força para reagirem contra o mal, para seguirem intimora-tos na direção da verdade”.

Jesus, profundo conhecedor dos sentimentos humanos, sabendo dessa faceta dos homens, recomendou: “Ten-de bom ânimo, sou eu, não temais.”19

“Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.”20

“Vinde a mim, todos os que es-tais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.”21

O que estamos esperando para to-marmos essa decisão feliz?

A quem buscamos?

- A Jesus, digamos nós.

Sem titubear mais, com determina-ção e coragem, atendamos o Seu suave convite: “Vinde a mim...”

Coragem é essa energia que susten-ta, essa força moral que induz ao êxito.

19 Mt. 14:2720 Jo. 12:4621 Mt. 11:28

São palavras da Veneranda Benfeito-ra Espiritual Joanna de Ângelis:

A coragem é consequência natural e legítima da fé. Abastecida pela resis-tência do amor, consubstancia os valo-res do ideal e eleva o homem às culmi-nância do triunfo.

A coragem de vencer-se antes que pretender vencer o próximo, de descul-par antes que esperar ser desculpado

e de amar não obstante desaires e de-sencantos, revela o cristão, o legítimo homem de valor.

E o Nazareno dizia a todos: “Se al-guém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.”22

22 Lc. 9:23

A postura de Jesus primava pelo bom senso, em cada atitude, em cada palavra, em cada recomendação marcada por extrema lucidez.

Por mais que a alma se decida por usar sua liberdade para o gozo das fantasias dissolventes, um dia chega em que o cansaço a dobra.

Por mais que a criatura se dedique ao armazenamento das coisas pere-cíveis, que será compelida a deixar, junto com o casulo carnal esgotado, vem o momento da reflexão que lhe permite a mudança.

Por mais que a pessoa se rebele contra a vida, crendo que a culpa dos seus fracassos e torturas interiores está nas leis de Deus, advém o ins-

enhorSo aconchego do

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tante no qual eclode a claridade do bom senso, que a dor propicia, e tudo começa a se refazer.

Em qualquer situação que esteja, guarde a certeza de que você per-tence ao grande rebanho do Bom Pastor, mesmo quando se ache na posição de ovelha desgarrada ou travestido de lobo devorador, mais carente, inseguro e amedrontado do que propriamente lobo rapace.

Ao considerar isso, não dê mais ouvido ao orgulho insensato, tam-pouco à acomodação paralisante. Venha ao encontro Dele e deixe-se aconchegar nos Seus braços de ter-nura, sempre abertos para os que O buscam.

Não acredite em castigos do Céu para os equívocos humanos. Para o Pai que ama perfeitamente, você será sempre um plano de amor a desenvolver-se, passo a passo, em plena vida cósmica. Erros e acer-tos, quedas e levantares fazem parte desse importante movimento evolutivo, em que todos nos encon-tramos, até superarmos as conjun-turas inferiores.

Jamais creia que você é uma in-defesa vítima de demônios cruéis. Para quem procura o Senhor, dis-posto a transformar as próprias sombras em estuante luminosida-de, cada insinuação perturbadora ou cada tentação no caminho re-presenta importante desafio a sua capacidade de lutar e lutar para vencer.

Nunca se admita esquecido pela

sustentá-lo continuadamente.

Perante todo situação da vida em que você esteja necessitando de um braço ou de um abraço que aga-salhe o seu coração, busque Jesus. É certo que Ele poderá chegar ao

Divindade, assemelhando-se à criança que se afirma não amada pelos genitores cada vez que esses não lhe atendem a vontade infantil.

O formidável fato da sua presen-ça no mundo, tendo ensejo de viver

como pode ou como gosta, de tra-balhar onde pode ou quer, de viver nos lugares e com as pessoas que prefere ou precisa, num perfeito en-caixe de causas e efeitos, próximos ou distantes, é a demonstração pal-pável do amor divino a envolvê-lo e

seu caminho através de um familiar atencioso ou de um amigo compre-ensivo. No entanto, se essas almas não surgirem na sua trilha, não se entristeça, nem desanime. Abra a janela e sorva o hálito do dia ou os aromas da noite; recolha-se, por um

momento, em oração; comungue com as vibrações felizes do além, registrando os murmúrios da paz.

Tão logo lhe seja possível, vai você mesmo ao encontro de algum coração, seja uma criança ou um idoso; seja um afeto sadio ou algum enfermo; um familiar ou algum vizi-nho. Enfim, procure alguém com a sua vibração de alegria e agradeci-mento a Deus, e porque você a nin-guém despreza e a todos envolve com o melhor que tem, já se acha envolvido pelo Sublime Amigo, com possibilidades de superar seus pró-prios dramas.

Sim, quando saímos ao encontro dos irmãos da nossa via evolutiva, dispostos a amá-los e a servi-los, mais próximos ficamos de Jesus, usufruindo da Sua aura de harmo-nia.

Jesus Cristo, dessa forma, é aquele Amigo que sempre espera a nossa decisão de buscá-Lo, de ir até Ele, abrindo mão de tudo o que nos agrilhoa no mundo a fim de nos aconchegarmos em Seus braços. Ele nunca nos indagará por que de-moramos tanto. Esse dia da busca é também o dia da maturidade nos-sa e da aceitação do Senhor.

Francisco de Paula Vítor23

23 TEIXEIRA, Raul. Quem é o Cristo? Ditado pelo Espírito Francisco de Paula Vitor. Niterói, RJ: Fráter. 1997. Cap.: O aconchego do Senhor, p. 91-94.

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Sugestões bibliográficas

• KARDEC,Allan.O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XVI

• XAVIER,FranciscoC.Fonte viva. Emmanuel. Cap.: 121, 79• ________.Vinha de luz. Emmanuel. Cap.: 60, 100, 110, 121, 122, 162, 167, 169• ________.Caminho, verdade e vida. Emmanuel. Cap.: Introdução, 22, 87, 144, 159, 180

• FRANCO,DivaldoO.Momentos de consciência. Joanna de Ângelis. Cap.: 1• ________.Jesus e atualidade. Joanna de Ângelis. Cap.: 10, 11• ________.Momentos de saúde. Joanna de Ângelis. Cap.: 20• ________.Legado Kardequiano. Marco Prisco. Cap.: 48, 49, 54• ________.Otimismo. Joanna de Ângelis. Cap.: 20, 33, 56• ________.Lições para a felicidade. Joanna de Ângelis. Cap.: 28• ________.Reflexões espíritas. Vianna de Carvalho. Cap.: 17, 27

• TEIXEIRA,Raul.Quem é o Cristo?. Francisco de Paula Vitor. Cap.: 8, 14, 22, 27, 29

Busca o entusiasmo, e a alegria te vestirá novamente com o alento.

Joanna de Ângelis

Em qualquer posição e em qualque tempo, estamos cerca-dos de possibilidades de serviço com o Salvador. E, para todos nós, que recebemos as dádivas divinas, de mil modos diversos, foi pronunciado o sublime desafio: “E agora por que te deténs?”

Emmanuel

Lembretes oportunos:


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