UFSC – CED – Curso de Biblioteconomia – 2008-1 CIN 5026 – Ética Profissional - Francisco das Chagas de Souza Florianópolis, 3 de abril de 2008. RESENHA/REVIEW ARANALDE, Michel Maya. A questão ética na atuação do profissional bibliotecário. Em Questão, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 337-368, jul./dez. 2005.
Resenhado por Isadora dos Santos Garrido (Universidade Federal de Santa Catarina)
Palavras-chave: Sociedade de informação. Ética. Profissional bibliotecário. Keywords: Information Society. Ethics. Librarians. Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003) e Graduado
no Curso de Biblioteconomia pela mesma Universidade (2007), Michel Maya Aranalde buscou
contextualizar a questão ética nos dias atuais, de acordo com as mudanças tecnológicas e sociais
que a profissão bibliotecária vem enfrentando. O texto é voltado para profissionais da área de
Ciência da Informação e biblioteconomia em geral, que têm um maior interesse na filosofia da
biblioteconomia e em compreender como as relações entre a modernidade e o caráter humano se
dão, e quais implicações surgem a partir disso.
Por ter primariamente uma forte base filosófica, o autor sentiu a necessidade de não apenas
contextualizar o presente, mas também refletir sobre o caráter humano da profissão. O artigo tem
dois objetivos principais muito claros: 1. Questionar e refletir sobre como poderia a ética
bibliotecária se encaixar num novo contexto tecnológico e moderno e 2. Diferenciar o significado
entre Código de Ética e Código de Conduta, sugerindo como ideal ao final de sua argumentação a
criação de uma Comissão de Ética, para avaliação do comportamento de profissionais, de acordo
com cada situação em específico. Em outras palavras: o conteúdo ético das ações não pode ser materialmente determinado através de um código. Da mesma forma, a possibilidade de coerção decorrente das penalidades prescritas dilui o sentido da ética, pois a possibilidade de coerção está relacionada a uma legislação jurídica e não a uma tomada de decisão referente a como agir da melhor maneira possível. A legislação jurídica admite um elemento que é incompatível com a autolegislação exigida por uma postura ética: a possibilidade de coerção externa. (Aranalde, 2005, p. 362)
Importante notar que em suas reflexões sobre a ética profissional o autor diferencia
reiteradamente uma característica pessoal (Ética) e um comportamento derivado a partir de uma
ordem prevista por lei (Código de Conduta). A diferença é que as más ações denominadas pelas
leis, tem punições já previstas, mas as más ações provenientes da falta de ética, podem ter más
conseqüências, mas não existem punições exatas para tal. Essa questão aprofunda-se ainda mais
quando é devidamente contextualizada num cenário de “vida digital”, ou seja, sociedades e
comportamentos formados a partir das tecnologias novas e em constante desenvolvimento. A era da
“rapidez e flexibilidade” não é boa, nem má, apenas é.
Mesmo tendo consciência da imutabilidade dos avanços tecnológicos e de seus aspectos
positivos e negativos, faz-se necessária a reflexão que nos leva à algumas perguntas que ainda não
têm respostas muito concretas tais quais “Como buscar uma estabilidade proporcionada pelo saber-
fazer num mundo em que o saber é provisório e o fazer é indeterminado? Como interagir com o
fluxo de informações sem ser tragado por ele?” (ARANALDE, 1995, p.343). A rapidez e a
flexibilidade, o conteúdo digital e a forma que ele é disponibilizado, a forma que as pessoas
socializam-se nesse ambiente e a atuação do próprio profissional bibliotecário perante essas novas
tecnologias e ferramentas precisam de uma funtamentação sólida e perene, mas que também esteja
de acordo com a atualidade.
Uma das soluções que o autor discretamente sugere para esse dilema contemporâneo é
adaptarmo-nos ao novo, mas sem deixarmos de nos ater ao que é essencialmente tradicional e
confiável. Pois “as exigências por rapidez e flexibilidade, que estão por trás do estabelecimento de
uma cultura de aprendizagem nos moldes da sociedade de informação, não podem ser ignoradas,
mas também não podem ser colocadas como fins em si mesmas” (ARANALDE, 1995, p.352). Ou
seja, os princípios mundanos podem ser renovados de tempos em tempos, mas as práticas e a
essência das ações humanas, a ética estando inclusa nessas ações, permanecem as mesmas.
[...] a lição é não tentar adequar a realidade a uma teoria: isso pode ter conseqüências desastrosas. O importante é que a teoria dê conta da realidade, explicando-a e suprindo as necessidades geradas com competência e habilidade. Entretanto, com os imperativos de rapidez e de flexibilidade corre-se o risco de ser seduzido por uma cultura do esquecimento, onde o novo deve, necessariamente, substituir o antigo. Assim, muitos conhecimentos básicos e relevantes tendem a dar lugar a concepções diluídas e superficiais que podem acabar comprometendo a adoção de uma postura ética. (Aranalde, 2005, p. 351)
É possível concluir então que no segundo capítulo “Novas tecnologias e reconfiguração
social” é feita uma abordagem mais ampla e reflexiva sobre os impactos diretos dos avanços
tecnológicos na ética profissional em biblioteconomia. Percebemos que ao mesmo tempo que a
tecnologia da informação, levou a uma melhoria na comunicação e a um aumento do nível da
produção acadêmica e profissional, é possível sentir um certo niilismo quando o autor afirma que
“se as ações são descartáveis, então os fins que as movem também o são. Portanto, a própria
formação humana com vistas a objetivos duradouros também se torna descartável” (ARANALDE,
1995, p.345). No terceiro capítulo “Reflexões sobre a Ética” a diferenciação entre ética e conduta
foi feita tendo como base filosófica textos de Aristóteles, Kant e Hegel. Todos os autores citados no
artigo completo puderam ser encontrados nas referências ao final do texto.
REFERÊNCIAS ARANALDE, Michel Maya. A questão ética na atuação do profissional bibliotecário. Em Questão, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 337-368, jul./dez. 2005.