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  • ResumoO objectivo destas recomendaes internacionais sobre a

    abordagem das demncia foi apresentar uma orientaobaseada na evidncia, revista, para a prtica de neurologistasclnicos, geriatras, psiquiatras e outros especialistas respons-veis pelo seguimento de doentes com demncia. Contemplaos aspectos essenciais da abordagem diagnstica e teraputi-ca, com particular nfase no tipo de doente que habitualmen-te referenciado aos mdicos especialistas em demncias.Foca maioritariamente a doena de Alzeimer, mas muitas dasrecomendaes so aplicveis s demncias em geral. Ogrupo de trabalho considerou e classificou a evidncia dosestudos de investigao originais, meta-anlises e revises sis-temticas publicadas antes de Janeiro de 2006. A evidncia foiclassificada e as recomendaes de consenso graduadas deacordo com as normas da EFNS. Quando se verificou umafalta de evidncia, mas com consenso claro, foram dadas nor-mas de boa prtica. As recomendaes para o diagnstico cl-nico, anlises laboratoriais, neuroimagem, electroencefalo-grafia (EEG), anlise do lquido cefalorraquidiano (LCR), tes-tes genticos, bipsias de tecidos, comunicao do diagnsti-co, tratamento da doena de Alzheimer, aconselhamento eapoio para os cuidadores foram revistas e comparadas comrecomendaes prvias da EFNS. Foram adicionadas as novasrecomendaes para o tratamento da demncia vascular,demncia associada doena de Parkinson e demncia decorpos de Lewy, para a monitorizao do tratamento, trata-mento dos sintomas comportamentais e psicolgicos dademncia, e para os aspectos legais. O mdico especialista emdemncias, juntamente com o mdico de famlia, tm umpapel importante nas equipas multidisciplinares de demnciaque funcionam em diversos locais eurospeus. Estas normaspodem contribuir para a definio do papel do clnico espe-cialista no contexto dos cuidados de sade em demncias.

    Recomendaes para o diagnstico e tratamentoda doena de Alzheimer e de outras doenasassociadas a demncia: orientaes da EFNS

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    G. Waldemar(a), B. Dubois (b), M. Emre (c), J. Georges (d), I. G. McKeith (e), M. Rossor (f ), P. Scheltens (g), P. Tariska (h) e B. Winblad (i)

    a-Memory Disorders Research Group, Department of Neurology, Rigshospitalet, Copenhagen University Hospital, Denmark; b-Department of Neurology and Dementia Research Center, Hopital de la Salpetriere, Paris, France; c-Department of Neurology, IstanbulFaculty of Medicine, Istanbul University, Istanbul, Turkey; d-Alzheimer Europe, Luxembourg; e-Institute for Ageing and Health, NewcastleGeneral Hospital, Newcastle upon Tyne, UK; f-Dementia Research Centre, Institute of Neurology, University College London, London, UK;g-Department of Neurology and Alzheimer Center, VU University Medical Center, Amsterdam, The Netherlands; h-Department ofNeurology, National Institute of Psychiatry and Neurology, Budapest, Hungary; and i-Department of Geriatric Medicine, KarolinskaUniversity Hospital, Huddinge, Sweden.

    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 168

  • IntroduoAs demncias afectam pelo menos 5 milhes de pes-

    soas na Europa (Andlin-Sobocki et al., 2005) e esto asso-

    ciadas a uma significativa incapacidade fsica, social e psi-

    quitrica nos doentes e a um marcado desgaste e sobre-

    carga nos cuidadores dos doentes. Adicionalmente, a

    doena de Alzheimer (DA) e outras demncias so a

    segunda maior causa (de entre as patologias cerebrais) de

    sobrecarga na Europa Ocidental, quando contabilizados

    os anos de vida vividos com incapacidade (Olesen e

    Leonardi, 2003). O custo total da sade na Europa com a

    demncia chega a pelo menos 55 bilies de euros por ano,

    sem incluir os custos indirectos e os custos com doentes

    jovens com demncia (Andlin-Sobocki et al., 2005;

    Jnsson e Berr, 2005). A maior parte da despesa efectua-

    da nos cuidados prestados em instituies.

    Apesar da evidncia significativa do benefcio do diag-

    nstico precoce, da teraputica e do apoio social, a pro-

    poro de diagnsticos e tratamento dos doentes com

    demncia varia consideravelmente na Europa (Waldemar

    et al., 2006). Os mdicos de famlia tm um papel funda-

    mental na identificao, diagnstico e abordagem tera-

    putica dos doentes com demncia. Em muitos centros

    foram criadas equipas multidisciplinares para facilitar a

    abordagem das necessidades complexas de doentes e seus

    cuidadores ao longo da evoluo da doena. O neurologis-

    ta e outros mdicos especialistas tm um papel funda-

    mental nestas equipas e em centros especializados, junta-

    mente com outros profissionais com especial treino em

    demncia.

    Em 2003 foi implementado um grupo de trabalho para

    desenvolver uma reviso das normas da EFNS para a

    demncia que tinham sido publicadas em 2000

    (Waldemar et al., 2000), com o objectivo de desenvolver

    normas baseadas na evidncia revistas por peritos, desti-

    nadas a neurologistas, geriatras e psiquiatras dedicados

    ao envelhecimento e outros especialistas responsveis

    por cuidar de doentes com demncia. Estas normas abor-

    dam os maiores problemas no diagnstico e teraputica

    da doena de Alzheimer e de outras doenas que se

    manifestam com demncia. Desde a publicao das nor-

    mas de 2000, houve um considervel acrscimo de dados,

    e a disponibilizao de novos mtodos de diagnstico e

    tratamento.

    O grupo de trabalho nomeado pela Comisso Cientfica

    da EFNS constitudo por neurologistas, representantes

    de geriatras e de geronto-psiquiatras, com especial inves-

    tigao em demncias, e representantes da associao de

    doentes (Alzheimer Europe). As recomendaes so apli-

    cveis a doentes com suspeita ou diagnstico de demn-

    cia, e abrangem o procedimento para efectuar o diagns-

    tico assim como o tratamento, com particular nfase no

    tipo de doente que frequentemente referenciado ao

    especialista em demncias. No inclui, no entanto, o tra-

    tamento do defeito cognitivo ligeiro (DCLig/MCI: Mild

    Cognitive Impairment). As recomendaes focam sobretu-

    do a DA, mas h outras patologias, apesar de terem menor

    prevalncia, que requerem avaliao e tratamento espec-

    ficos, e muitas das recomendaes so aplicveis s

    demncias em geral. Estas recomendaes representam as

    normas mnimas desejveis para a orientao da prtica

    clnica, mas no incluem uma anlise custo-efectividade

    das intervenes diagnsticas e das teraputicas reco-

    mendadas.

    A evidncia para estas normas foi obtida das revises

    efectuadas pela Cochrane, de outras meta-anlises e revi-

    ses sistemticas publicadas, outras normas de aborda-

    gem de demncias baseadas na evidncia, inclundo os

    aspectos prticos da Academia Americana de Neurologia

    (AAN, Petersen et al., 2001; Knopman et al., 2001; Doody et

    al., 2001) e de artigos cientficos originais publicados (aps

    reviso) antes de Janeiro de 2006. A evidncia foi procura-

    da no MEDLINE para cada tpico, de acordo com os pro-

    tocolos de procura pr-definidos. A evidncia cientfica

    para os procedimentos diagnstico e teraputico foi ava-

    liada de acordo com graus de certeza pr-definidos (classe

    I, II, III e IV), e as recomendaes foram classificados de

    acordo com o poder da evidncia (Nvel A, B ou C), usan-

    do as definies dadas pelas orientaes da EFNS (Brainin

    et al., 2004). Quando se abordaram questes clnicas rele-

    vantes para as quais no existe evidncia cientfica dispo-

    nvel, o grupo de trabalho recomendou Normas de Boa

    Prtica, baseado na experincia e consenso do grupo de

    trabalho. O consenso foi obtido aps as propostas do

    documento terem circulado pelos membros do grupo de

    trabalho e pela discusso da evidncia das recomenda-

    es em 4 reunies do grupo de trabalho que ocorreram

    em 2004 e 2005.

    Estas normas podem no ser adequadas a todas as cir-

    cunstncias e a deciso de recorrer s recomendaes tem

    de ser tomada face apresentao clnica particular de

    cada doente e aos recursos disponveis.

    Avaliao para obter o diagnsticoDiagnstico clnico

    Com a notvel excepo das demncias de causa autos-

    smica dominante, no h biomarcadores especficos para

    as demncias degenerativas. Como tal, e na ausncia de

    confirmao neuropatolgica, o diagstico etiolgico de um

    sndrome demencial pode ser feito apenas em termos de

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  • probabilidade. O diagnstico clnico deve basear-se nos cri-

    trios que tm sido propostos para aumentar a fiabilidade e

    preciso do diagnstico. A exactido destes critrios diag-

    nstico varia de acordo com o tipo de demncia. Para a

    doena de Alzheimer, quer os critrios do Diagnostic and

    Statistical Manual, 3 edio revista (DSM IIIR) (American

    Psychiatric Association, 1993) quer os do NINDCDS-ADRDA

    (National Institute of Neurologic, Communicative disorders

    and StrokeAlzheimers Disease and Related Disorders

    Association, MacKhann et al., 1984) tm uma boa sensibili-

    dade (at 100%, 81% em mdia considerando os vrios estu-

    dos), mas uma baixa especificidade (70% de mdia entre os

    estudos) para o diagnstico de DA provvel, baseado em

    estudos classe I-II com confirmao em autpsia (Knopman

    et al., 2001). Para a demncia de corpos de Lewy (DCLewy),

    o Consortium para os critrios diagnstico da DCLewy de

    1996 (McKeith et al., 1996), mostrou sensibilidade bastante

    mais baixa em estudos classe I e II (Knopman et al., 2001).

    Para a demncia fronto-temporal (DFT) (Neary et al., 1998;

    McKhann et al., 2001), os progressos na compreenso da

    patofisiologia e dos mecanismos genticos subjacentes tm

    indicado que os sndromes clnicos se associam a diversas

    entidades neuropatolgicas, apesar de que, de forma geral,

    tipos especficos de achados neuropatolgicos no se tm

    associado a sndromes clnicos especficos. Para a demncia

    vascular (DV), os critrios de NINDS-AIREN (National

    Institute of Neurological Disorders and Stroke e a Association

    Internationale pour la Recherche et lEnseignement en

    Neuroscience (Roman et al, 1993) obtiveram uma baixa sen-

    sibilidade (43%), com boa especificidade (95%) no nico

    estudo publicado de classe I (Holmes et al. 1999). A co-exis-

    tncia de mltiplas patologias e a elevada prevalncia de

    leses vasculares nos doentes com demncia aumentam a

    complexidade do diagnstico de demncia vascular.

    Histria clnica

    A histria clnica crucial na prtica mdica, e orienta

    a observao e investigao. A histria deve incluir os

    domnios cognitivos envolvidos, o tipo de incio, o padro

    de progresso e o impacto nas actividades de vida diria

    (AVD). A histria mdica pregressa, as patologias conco-

    mitantes existentes, a histria familiar e nvel educacional

    so importantes. Dada a presena de defeito cognitivo,

    assim como a possibilidade de anosognosia para esse

    defeito, importante obter tambm a histria dada por

    um familiar/cuidador. Vrios estudos de classe I-II confir-

    maram o valor dos questionrios realizados com o cuida-

    dor, tais como o IQCODE (Informant Questionnaire on

    CognitiveDecline in the Elderly) ou a BRDS (Blessed Roth

    Dementia Scale), na deteco de demncia (Jorm and

    Jacomb, 1989; Fuh et al., 1995; Jorm 1997; Lam et al., 1997;

    MacKinnon and Mulligen 1998; MacKinnon et al., 2003).

    Observao geral e neurolgica

    O exame neurolgico na DA em fase inicial geralmen-

    te normal, com excepo do defeito cognitivo. Pelo con-

    trrio, para a maior parte das outras demncias, como por

    exemplo a DCLewy e a doena por pries, a presena de

    sinais neurolgicos como sndrome extrapiramidal ou

    mioclonias um componente chave para os critrios de

    diagnstico. Em muitas doenas nas quais a demncia

    parte de mltiplas disfunes neurolgicas (sndromes

    demncia-plus), ou nas quais ocorrem alteraes do

    exame geral como por exemplo organomeglia, o exame

    fsico geral crucial no diagnstico. Alm disso, o exame

    geral fsico pode evidenciar patologias concomitantes.

    Apesar de no haver estudos que tenham abordado o valor

    adicional do exame fsico e neurolgico geral, esta uma

    parte importante do diagnstico diferencial da demncia.

    Avaliao das funes cognitivas

    A avaliao das funes cognitivas importante por

    vrias razes: (1) o diagnstico de demncia baseia-se

    fundamentalmente na evidncia de defeitos cognitivos

    (memria episdica, funes instrumentais e executivas);

    (2) a maior parte das etiologias da demncia (p. ex. DA,

    DFT, DCLewy) pode ser identificada pelo padro de alte-

    raes cognitivas e comportamentais; (3) como os espe-

    cialistas em demncias vem cada vez mais precocemen-

    te os doentes em fases iniciais da doena, cada vez mais

    importante ser capaz de identificar uma doena degene-

    rativa especfica na fase prodrmica, antes que os sinto-

    mas adquiram caractersticas de demncia. Como tal, a

    avaliao cognitiva por mdico e neuropsiclogo neces-

    sria para o manejo de doentes em fases iniciais, ligeiras

    ou moderadas de demncia, enquanto que menos rele-

    vante em doentes com demncia severa. A bateria neu-

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    Recomendaes: Histria clnica

    A Histria clnica deve ser complementada, sempre

    que possvel, pela informao de um familiar/cuida-

    dor (Nvel A)

    Recomendaes: Exame geral e neurolgico

    O exame mdico geral e neurolgico deve ser efec-

    tuado em todos os doentes com demncia (Norma

    de Boa Prtica)

  • ropsicolgica deve investigar os seguintes domnios:

    Avaliao cognitiva global. O Mini-Mental State

    Examination (MMSE) de Folstein et al. (1975) pode aju-

    dar na deteco de defeito cognitivo (I), e a sua sensibili-

    dade aumenta se se tomar em considerao um declnio

    na pontuao ao longo do tempo. O teste de 7 minutos

    (7-minute screen) e a Avaliao Clnica da Demncia

    (Clinical Dementia Rating) (CDR) (pontuao=1) tm uma

    especificidade de 96% e 94%, e sensibilidade de 92% para

    o diagnstico de demncia (Juva et al., 1995 (II); Solomon

    et al., 1998 (IV)) e podem ser teis na deteco de demn-

    cia. Estes dois testes podem ser utilizados como instru-

    mentos de rastreio para a avaliao do funcionamento

    cognitivo global. A Escala de Avaliao de Demncia de

    Mattis (Mattis Dementia Rating Scale) (Mattis, 1976) exige

    maior tempor de aplicao e testa adicionalmente diver-

    sas reas relacionadas com as funes executivas. por

    isso mais adequada avaliao e seguimento da demncia

    fronto-temporal e das demncias sub-corticais.

    Avaliao da memria. A memria tem de ser avaliada

    sistematicamente. Para preencher critrio diagnstico de

    demncia necessrio existir defeito na memria episdi-

    ca de longo termo. A evocao de palavras, tal como no

    teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey (Rey

    Auditory Verbal Learning Test) (RAVLT), pode distinguir

    entre doentes com DA e doentes sem demncia (I) (Incalzi

    et al., 1995). No entanto, necessrio controlar a eficcia

    do registo/codificao da informao, para excluir a

    influncia da depresso, da ansiedade e de outros estados

    emocionais no desempenho cognitivo. As chaves de ajuda

    semnticas podem tambm auxiliar na distino entre um

    defeito na recuperao e um defeito no armazenamento

    (Pillon et al., 1996). Por esta razo, a escala de defeito de

    memria (MIS) (Memory Impairment Scale) (sensibilidade

    de 60% e especificidade de 96% para a identificao de

    demncia; Buschke et al., 1999) e o teste de 5 palavras

    (5 word test) (sensibilidade de 91% e especificidade de

    87% para a identificao de DA; Dubois et al., 2002) so

    testes de memria curtos e simples que podem ser teis

    como instrumentos de primeira avaliao para os clnicos.

    A memria semntica deve ser avaliada (teste de fluncia

    semntica, tarefa de nomeao de figuras, definio de

    palavras e figuras), uma vez que o seu defeito pode ser

    encontrado na DA e proeminente na demncia semnti-

    ca (DS) (Hodges et al., 1992).

    Avaliao das funes executivas. A disfuno executi-

    va encontrada em diversos tipos de demncia. Esta alte-

    rao traduz-se em diminuio da fluncia verbal e redu-

    o do dbito do discurso, estereotipos verbais e ecollia;

    preserverao do contedo mental; defeito de recupera-

    o, defeito de ateno; alterao do pensamento concreto

    e em alguns casos desinibio, alterao da adaptao e do

    comportamento. Estes defeitos so geralmente avaliados

    com o teste de Wisconsin (Wisconsin card sorting test)

    (Nelson, 1976), o Trail Making (Reitan, 1958), o teste de

    Stroop (Stroop, 1935), os testes de fluncia verbal (Benton,

    1968) e o teste de ordenao de dgitos (Cooper et al., 1992),

    os quais envolvem os processos cognitivos necessrios s

    funes executivas. Em algumas demncias a disfuno

    executiva apenas um epifenmeno, parte de um quadro

    difuso e mais global. Pelo contrrio, pode ser um aspecto

    proeminente e essencial para o diagnstico de outras

    demncias como a DFT (Bozeat et al., 2000) e a paralisia

    supranuclear progressiva (PSP) (Pillon et al., 1996).

    Avaliao das funes instrumentais. A linguagem

    (compreenso e expresso), a leitura e a escrita, as praxias

    (execuo e reconhecimento), as capacidades visuoespa-

    ciais e visuoconstructivas podem tambm ser mais ou

    menos afectadas, dependendo do tipo de demncia. Estes

    domnios cognitivos, frequentemente designados como

    funes instrumentais, esto particularmente alteradas

    em doenas com envolvimento proeminentemente corti-

    cal, tal como DA e DCLewy e podem ser o domnio cogni-

    tivo inicialmente afectado na atrofia lobar (sndromes de

    afasia progressiva, apraxia progressiva, degenerescncia

    cortico-basal (DCB) ou atrofia cortical posterior).

    Avaliao dos sintomas comportamentais e

    psicolgicos

    Vrias designaes inclundo sintomas comportamen-

    tais e psicolgicos de demncia (SCPD/BPSD: Behavioural

    and psychological symptoms of dementia), aspectos neu-

    ropsiquitricos, e sintomas no cognitivos, so usadas

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    Recomendaes:

    Avaliao das funes cognitivas

    A avaliao do estado cognitivo crucial para o diag-

    nstico e orientao das demncias e deve ser efec-

    tuada em todos os doentes (Nvel A). A realizao de

    testes neuropsicolgicos quantitativos, que idealmen-

    te deve ser efectuada por tcnicos treinados em neu-

    ropsicologia, deve ser considerada em doentes com

    demncia na fase inicial, ligeira ou moderada, ou

    quando o diagnstico questionvel (Nvel C). Nesta

    avaliao deve ser includa uma medida cognitiva glo-

    bal e adicionalmente testes especficos dos principais

    domnios cognitivos, inclundo a memria, as funes

    executivas e as funes instrumentais (Nvel C).

  • para descrever um conjunto de sintomas que so frequen-

    tes em doentes com demncia e que contribuem conside-

    ravelmente para o stress do doente e para a sobrecarga do

    cuidador (McKeith and Cummings, 2005). So frequente-

    mente o factor que determina o incio de prescrio de

    medicao psicotrpica e de institucionalizao (Finkel e

    Burns, 2000) (III). A sua presena pode contribuir para o

    diagnstico diferencial. Por exemplo, as alucinaes visuais

    so um aspecto proeminente na DCLewy (Mc Keith et al

    1996) (II), enquanto que a desinibio e a perda de percep-

    o pessoal so caractersticos da DFT (Neary e Snowden,

    1996) (II). A evoluo no tempo varivel. Por exemplo, a

    apatia, a depresso e a ansiedade tendem a ocorrer na fase

    inicial da DA e os pensamentos delirantes, alucinaes e a

    agitao surgem na fases moderada e severa. Os SCPD

    podem-se agravar ou ser causados por patologia concomi-

    tante somtica. Os doentes com sintomas psicticos tm

    declnio cognitivo mais rpido do que os doentes sem sin-

    tomas psicticos. Os sintomas neuropsiquitricos podem

    predizer uma maior taxa de converso para demncia dos

    doentes com diagnstico de defeito cognitivo ligeiro

    (DCLig) (Hwang e Cummings, 2004) (II).

    A identificao correcta de SCPD essencial no diag-

    nstico e teraputica dos doentes com demncia, mas fre-

    quentemente no so referidos pelos doentes nem pelos

    cuidadores at que se tornam intolerveis ou que precipi-

    tam uma crise (Gustavson e Cummings, 2004). A deteco

    precoce pode ser conseguida com inquritos de rotina,

    efectuados repetidamente. Vrios instrumentos de cotao

    foram desenhados com este objectivo, inquirindo no s

    sobre a presena ou ausncia de diversos sintomas mas

    tambm sobre a frequncia, gravidade e impacto no cuida-

    dor. Geralmente baseiam-se na descrio do cuidador, que

    deve ter contacto regular com o doente. A repetio destas

    escalas pode tambm ser til na monitorizao do efeito

    das intervenes teraputicas. Escalas adequadas incluem

    o Inventrio Neuropsiquitrico (NPI: Neuropsychiatric

    Inventory) (Cummings et al 1994), BEHAVE-AD (Reisberg et

    al., 1987) e a escala das Universidades de Manchester e

    Oxford para a avaliao psicopatolgica da demncia

    (MOUSEPAD: Manchester and Oxford Universities Scale for

    the Psychopathological Assessment of Dementia) (Allen et

    al., 1996).

    A manifestao neuropsiquitrica mais frequente da

    AD a apatia (72%), seguida da agresso/agitao (60%),

    ansiedade (48%) e depresso (48%) (Mega et al., 1996) (II).

    A apatia e a inrcia podem ocorrer independentemente

    do humor deprimido e podem ser particularmente frus-

    tantes para os cuidadores, especialmente em estdios ini-

    ciais. A agitao e a agresso podem ser muito persistentes

    e so causas frequentes da institucionalizao. A ansiedade

    pode-se manifestar fisicamente por tenso, insnia, palpi-

    taes e hiperpneia mas tambm por excessiva preocupa-

    o e sensao de medo, sobretudo se separado do cnju-

    ge ou cuidador habitual. O humor deprimido deve ser ava-

    liado de forma independente da perda ponderal, altera-

    es do apetite, perturbaes do sono e lentificao, que

    podem ocorrer como manifestaes de demncia. Devem

    ser procuradas manifestaes psicolgicas cardinais da

    depresso, como tristeza, pensamentos de desvalorizao

    e desnimo, afirmaes de morte e ideao suicida. Os

    pensamentos delirantes so frequentes na demncia,

    geralmente de roubo, ou com impostores, geralmente

    definidos vagamente e de forma transitria. So tipica-

    mente originados nos esquecimentos e nas alteraes per-

    ceptivas. As alucinaes, alteraes da percepo e iluses

    so geralmente visuais nas demncias, particularmente na

    DCLewy, mas as alteraes perceptivas tambm podem ser

    auditivas, olfativas e tcteis. So mais frequentes nos doen-

    tes com alterao visual e auditiva. As actividades sem

    objectivo, como a deambulao e as arrumaes sem sen-

    tido (rummaging) so caractersticas da AD. As compul-

    ses e os comportamentos estereotipados so mais fre-

    quentes na DFT, tal como a desinibio e a euforia, que se

    exibem como impulsividade, hiperoralidade, comporta-

    mentos socialmente desadequados e labilidade emocional.

    As perturbaes do sono podem ser secundrias a outras

    perturbaes psiquitricas, podem-se associar a sonoln-

    cia diurna e so particularmente difceis para os cuidado-

    res, que se tm de se manter igualmente despertos. As alte-

    raes comportamentais do sono da fase REM so caracte-

    rsticas da DCLewy (Boeve et al 2001) (II).

    Avaliao das actividades de vida diria

    O declnio nas capacidades funcionais um compo-

    nente essencial no sndrome demencial. Tem uma grande

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 172

    Recomendaes:

    Avaliao dos sintomas comportamentais

    e psicolgicos

    A avaliao dos sintomas comportamentais e psico-

    lgicos da demncia essencial para o diagnstico e

    tratamento, e deve ser efectuada em todos os doen-

    tes (Nvel A). Os sintomas devem ser inquiridos acti-

    vamente junto do doente e do cuidador directamen-

    te envolvido nos cuidados, usando escalas adequa-

    das. (Norma de Boa Prtica). A patologia concomi-

    tante deve ser sempre considerada como uma causa

    possvel destes sintomas (Nvel C).

  • influncia na quantidade e qualidade dos cuidados e

    extremamente importante para o cuidador. A avaliao do

    estado funcional na vida diria faz parte do procedimento

    diagnstico e permite que o clnico avalie a necessidade

    de cuidados pessoais ou institucionais. So usadas dife-

    rentes escalas para medir objectivamente estas capacida-

    des e baseiam-se sobretudo na entrevista com o doente e

    cuidador. Dois tipos de actividade so medidas habitual-

    mente: as bsicas, ou gerais (como alimentar-se, vestir-se,

    etc) e as actividades instrumentais (como utilizao de

    aparelhos, fazer compras). As escalas usadas com maior

    frequncia so a escala de actividades de vida diria do

    Estudo Cooperativo na Doena de Alzheimer (Alzheimer

    Disease Cooperative Study (ADCS)ADL Scale, Galasko et al.,

    1997), o questionrio de actividades funcionais (FAQ)

    (Functional Activities Questionnaire, Pfeffer et al., 1982); a

    escala de deteriorao progressiva (PDS) (Progressive

    Deterioration Scale, DeJong et al., 1989) e a escala de ava-

    liao da incapacidade funcional na demncia (DAD,

    Disability Assessment for Dementia, Glinas et al., 1999).

    Avaliao da patologia concomitante

    A existncia de patologia concomitante frequente,

    particularmente no doente idoso (IV), e pode agravar rapi-

    damente o estado funcional e cognitivo do doente. H

    uma forte associao entre a co-morbilidade mdica e o

    estado cognitivo na DA (IV), e o tratamento optimizado da

    patologia mdica pode potencialmente melhorar a capa-

    cidade cognitiva (Doraiswamy et al., 2002). A depresso, a

    patologia cardiovascular, as infeces, o efeito adverso das

    drogas, os pensamentos delirantes, as quedas, a inconti-

    nncia e a anorexia so patologias concomitantes obser-

    vadas frequentemente, ou surgem como complicaes.

    Algumas das patologias concomitantes que so identifica-

    das nos grandes estudos ps-mortem de doentes com

    demncia poderiam alterar a abordagem clnica do doente se

    tivessem sido conhecidas previamente. (IV, Fu et al., 2004).

    Testes laboratoriais

    A avaliao laboratorial integra de forma importante a

    avaliao geral do doente que se apresenta com defeito cog-

    nitivo. Os objectivos dos testes analticos incluem: 1. identi-

    ficar patologias concomitantes e/ou complicaes, 2. iden-

    tificar potenciais factores de risco, 3. investigar a base de

    potencial sndrome confusional associado, e 4. mais rara-

    mente, identificar a causa da demncia. As alteraes cog-

    nitivas podem-se associar a uma diversidade de perturba-

    es metablicas, infecciosas e txicas, que devem ser iden-

    tificadas e tratadas. Para a maior parte destas patologias no

    h evidncia cientfica, por estudos randomizados e contro-

    lados, que o tratamento reverta os sintomas cognitivos. No

    entanto, em doentes com sndrome confusional, progres-

    so rpida ou apresentao atpica, a avaliao analtica

    pode ter frequentemente valor diagnstico.

    NeuroimagemA imagem era considerada tradicionalmente importante

    apenas para excluir causas tratveis de demncia. Estas

    patologias constituem uma pequena proporo de todas as

    causas de demncia, sendo a DA, a DV, a DCLewy, e a DFT de

    longe mais frequentes (Ott et al., 1995). A neuroimagem

    actualmente a investigao mais importante para ajudar no

    diagnstico diferencial das demncias e nas decises tera-

    puticas.

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    SUPLEMENTO 1 | Volume 8 | N. 2 | Novembro de 2008 Sinapse 73

    Recomendaes:

    Avaliao das actividades de vida diria

    A incapacidade nas actividades de vida diria causa-

    das pelo defeito cognitivo so um critrio essencial

    para o diagnstico de demncia e deve ser sistemati-

    camente questionado na investigao diagnstica

    (Nvel A). A forma mais prtica de obter a informa-

    o necessria a realizao de uma entrevista semi

    estruturada com o cuidador, existindo para o efeito

    vrias escalas j validadas (Norma de Boa Prtica).

    Recomendaes:

    Avaliao da patologia concomitante

    A avaliao da patologia concomitante importante

    na avaliao do doente com demncia, e deve ser

    efectuado no s no momento do diagnstico, mas

    ao longo da evoluo da doena, com particular

    ateno em episdios de sbito agravamento cogni-

    tivo ou do comportamento (Norma de Boa Prtica).

    Recomendaes:

    Avaliao laboratorial

    Os seguintes testes so geralmente propostos como

    obrigatrios para todos os doentes na primeira avalia-

    o, tanto como potenciais causas de defeito cognitivo

    como co-morbilidade: velocidade de sedimentao,

    hemograma com plaquetas, electrlitos, clcio, glico-

    se, funo renal e heptica, funo tiroideia. Uma ava-

    liao mais exaustiva pode ser pedida em casos indivi-

    duais, por exemplo, vitamina B12 e serologias de sfi-

    lis, HIV e Borrelia (Norma de Boa Prtica).

  • TAC

    A TAC sobretudo usada para excluir outras patologias

    que so potencialmente tratveis com teraputica cirrgi-

    ca, como por exemplo tumores, hematomas e hidrocefa-

    lia. A vantagem de tal procedimento tem sido debatida,

    mas provavelmente fica entre 1% e 10%, ou pode at ser

    menor (Hejl et al., 2002,; Clarfield, 2003) (II). Farina et al.

    realizou TAC em 513 doentes referenciados a uma clnica

    de memria dos quais 362 estavam dementes (Farina et

    al., 1999) (II). Em 26 deles (7.2%) foi detectada uma causa

    potencialmente reversvel de demncia. No entanto, em

    nenhum dos casos a TAC revelou alteraes que no

    tenham sido descobertas clinicamente. Foster el al. efec-

    tuaram uma reviso sistemtica sobre a utilizao da TAC

    na demncia (Foster et al., 1999). Comparando custos e

    parmetros de avaliao (outcome) concluram que a

    abordagem com melhor relao custo-efectividade era

    fazer a TAC a doentes com menos de 65 anos e tratar s os

    hematomas sub-durais. Recentemente, Condefer et al.

    (2004) mostrou que, numa clnica de memria, a TAC de

    rotina tinha impacto no diagnstico em 12% dos casos e

    na abordagem teraputica em 11% (II), sobretudo devido

    identificao de alteraes vasculares. Gifford et al.

    (2000) mostraram que existe uma considervel incerteza

    na evidncia que sustenta orientaes de predio clnica

    para identificar doentes com demncia que devem efec-

    tuar neuroimagem. Adicionalmente, a aplicao dessas

    orientaes pode no incluir doentes com causas poten-

    cialmente reversveis de demncia. Como tal, aceite de

    forma geral que deve ser feita por rotina investigao ima-

    giolgica estrutural no doente com suspeita de demncia.

    RMN

    A RMN (Ressonncia Magntica Nuclear) pode ser

    usada pelas mesmas razes da TAC mas aumenta a espe-

    cificidade do j muito sensvel diagnstico clnico.

    Atrofia do hipocampo na DA

    A atrofia do hipocampo um marcador precoce e espe-

    cfico da DA (de Leon et al., 1989, 1997; Jack et al., 1992;

    Killiany et al., 1993: De Carli et al., 1995) (II-IV). Esta estru-

    tura tem sido medida usando uma variedade de tcnicas

    de delineao e de limites anatmicos. Alguns estudo tm

    usado medidas lineares ou visuais (Scheltens et al., 1992,

    1995; de Leon et al., 1996; OBrien et al., 1997; Frisoni et al.,

    2002). Outros estudos tm usado medidas volumtricas

    das estruturas do lobo temporal interno, dada a sua supos-

    ta (se bem que questionvel) maior preciso e fiabilidade.

    Os estudos que tm comparado estas tcnicas de avaliao

    tm encontrado boa correlao entre elas (Desmond et al.,

    1994; Whalund et al., 2000). Vrios estudos usaram um

    mtodo qualitativo que envolve uma escala de avaliao

    visual, geralmente uma escala de 4 ou 5 pontos, variando

    de atrofia ausente a atrofia grave (Scheltens et al., 1992;

    Erkinjuntti et al., 1993). Frisoni et al. utilizaram uma medi-

    da composta de medies lineares que incluiram o corno

    temporal (Frisoni et al., 1996). Pucci et al. encontraram a

    altura do hipocampo esquerdo como o parmetro melhor

    discriminador (Pucci et al., 1998). Numa abordagem inova-

    dora, Frisoni e colaboradores usaram a distncia radial do

    corno temporal do ventrculo lateral nas sequncias axiais

    de RMN medida nas pelculas impressas (Frisoni et al.,

    2002). A avaliao visual consideravelmente mais rpida

    do que a volumetria e facilmente aplicvel na prtica clni-

    ca (Wahlund et al., 1999). A desvantagem pode ser uma

    maior variabilidade inter-avaliador (Scheltens et al., 1995).

    A sensibilidade e especificidade global para a deteco de

    DA ligeiro a moderado vs. controlos foi de 85% e 88% numa

    meta-anlise (Scheltens et al., 2002), e a preciso da atrofia

    do hipocampo na DA ligeira variou entre 67% e 100% numa

    reviso sistemtica (Chetelat et al., 2003) (I-II).

    Degenerescncia lobar fronto-temporal

    A atrofia peri-slvica assimtrica, predominantemente

    esquerda, caracteriza a afasia no fluente progressiva, e a

    atrofia do lobo temporal, anterior e assimtrica, diag-

    nstica de DS. Em ambas as patologias, com o tempo, a

    atrofia torna-se mais difusa mas geralmente mantm-se

    assimtrica. O padro de atrofia pode ser mais til do que

    a atrofia em regies isoladas para o diagnstico diferencial

    de DFT vs DA (II) (Galton et al., 2001; Chan et al., 2001;

    Varma et al., 2002; Boccardi et al., 2003).

    Demncia vascular

    A neuroimagem essencial para o diagnstico, de acor-

    do com os critrios do grupo de trabalho internacional

    NINDS-AIREN, um dos mais frequentemente usados, e sem

    ela, o diagnstico de DV ser quando muito possvel

    (Roman et al., 1993). Adicionalmente, os critrios especifi-

    cam que territrios vasculares so relevantes para a DV.

    Estes incluem enfartes de grandes vasos, tal como enfartes

    bilaterais na artria cerebral anterior ou posterior, nas

    regies de associao, ou em zonas de barragem. Usando as

    normas operacionais de como classificar aspectos radiol-

    gicos por forma a cumprir os critrios NINDS-AIREN, a fia-

    bilidade inter-observador do diagnstico subiu significati-

    vamente de 40% para 60% (vanStraaten et al., 2003) (II).

    A identificao da doena vascular na demncia

    A prevalncia da doena vascular cerebral (DVC),

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 174

  • quer sintomtica como assintomtica, tal como a da DA,

    aumenta drasticamente com a idade. Os estudos neuro-

    patolgicos encontram, com frequncia, enfartes cere-

    brais em doentes com critrios de DA definitiva

    (Snowdon et al., 1997). Os enfartes, mesmo que peque-

    nos, aumentam significativamente a probabilidade de

    expressar demncia, sugerindo um efeito sinergstico.

    Dado que a doena vascular concomitante pode ser

    objecto de intervenes teraputicas para potencial-

    mente melhorar a progresso da doena, a imagem cere-

    bral pode ser importante para o manejo clnico do doen-

    te demente com DVC co-existente. A evidncia prelimi-

    nar dos ensaios com tratamento anti-hipertensor de

    indivduos idosos apoia esta noo, apesar de serem

    necessrios ensaios clnicos prospectivos com estudo

    imagiolgico.

    Miscelnea

    Em acrscimo ao j descrito, outros sinais imagiolgi-

    cos podem incluir: atrofia do caudado bilateral na doen-

    a de Huntington, sinal hipertenso no putamen na doen-

    a de Creutzfeldt Jakob (DCJ) espordica e sinal hiperten-

    so no pulvinar na nova variante da DCJ (Schroter et al.,

    2000) (II). A RMN de difuso mostra (na fase inicial) alte-

    raes focais na DCJ ainda no aparentes nas imagens de

    FLAIR, e podem envolver difusamente o cortex (Collie et

    al., 2001) (II). A degenerescncia cortico-basal mostra um

    padro tpico de RMN, com atrofia parietal (peri-

    Rolndica) assimtrica e atrofia frontal, poupando a zona

    temporal interna (Kitagaki et al., 2000) (II). A hidrocefalia

    de presso normal uma entidade clnica questionvel,

    sendo difcil decidir se um doente poder beneficiar da

    colocao de uma derivao (shunt). A adeso rigorosa

    aos critrios clnicos e de MRI importante, com infor-

    mao adicional de puno lombar com presso de aber-

    tura do lquido cefalo-raquidiano, e a ocorrncia de

    ondas B (Vanneste, 2000) (II). Estes critrios de MRI

    incluem o alargamento ventricular com sulcos normais e

    sem patologia da substncia branca. Na DCLewy tem sido

    descrita atrofia do lobo temporal interno em MRI em

    menor frequncia do que na DA, e como tal, a ausncia de

    atrofia do lobo temporal interno pode ser sugestiva de

    DCLewy (Barber et al., 1999) (II).

    SPECT e PET

    O SPECT e o PET so frequentemente usados como

    parte da investigao, sobretudo em clnicas da memria

    e como complemento imagem estrutural em diagnsti-

    cos diferenciais difceis. Uma vez mais, o objectivo dever

    ser aumentar a especificidade dos critrios de diagnsti-

    co clnicos e de imagem estrutural. Os estudos de imagem

    funcional mais frequentes incluem os que medem o fluxo

    sanguneo regional com SPECT (99mTc-HMPAO ou 133Xe) e

    os que medem o metabolismo da glicose com 18F-FDG-

    PET. A reduo do fluxo sanguneo ou do metabolismo da

    glicose nas reas parieto-temporais o critrio diagnsti-

    co mais frequentemente descrito para a DA. Numa meta-

    anlise recente comparando doentes com DA e controlos,

    as imagens funcionais com SPECT originaram sensibili-

    dades ponderadas entre 65% e 71% com especificidade de

    79% (Dougall et al., 2004). Poucos estudos usando o

    SPECT avaliaram de forma adequada a comparao entre

    DA e outras demncias. Os poucos que o fizeram encon-

    traram uma sensibilidade e especificidade ponderada

    para DA vs DFT de 71% e 78% respectivamente, e para DA

    vs DV de 71% e 75% respectivamente (Dougall et al.,

    2004). Numa meta-anlise recente, a sensibilidade global

    do diagnstico de DA por PET, vs controlos, foi de 86%, e

    a especificidade global foi de 86% (Patwardhan et al.,

    2004). A maior parte dos estudos de SPECT e PET foram

    de classe II, apesar de muitos deles no terem tido avali-

    o dos resultados em ocultao (IV). O facto de todos as

    razes de probabilidade (likelihood ratios) positivas

    terem sido

  • Electroencefalografia (EEG)

    O EEG um exame facilmente acessvel, no invasivo e

    passvel de ser repetido. A lentificao difusa do ritmo de

    base um aspecto da DA e da DCLewy. O EEG pode ser

    completamente normal na degenerescncia lobar frontal

    avanada, apesar das alteraes serem relativamente fre-

    quentes em todo o grupo de DFT (Chan et al., 2004). H

    uma relao global entre a gravidade da demncia e as

    alteraes de EEG na DA e na DCLewy. Tem havido mlti-

    plos estudos a demonstrar a capacidade do EEG para dis-

    tinguir clinicamente DA de controlos, com uma sensibili-

    dade que comparvel de outras tcnicas tais como a

    neuroimagem (Claus et al., 1998, 1999; Jelic et al., 1999,

    2000). No entanto, h uma escassez de estudos que explo-

    ram o diagnstico diferencial das demncias com confir-

    mao neuropatolgica. Robinson et al. descreveram uma

    srie de doentes com confirmao neuropatolgica de DA

    (86 doentes) e DV e mista (17 doentes), com avaliao de

    EEG em ocultao (II) (Robinson et al., 1994). As altera-

    es de EEG foram frequentes na DA no complicada,

    com uma sensibilidade de 87%. De realar que um EEG

    normal teve um valor preditivo negativo de 82% para diag-

    nstico de DA. Tem havido poucos estudos que investiga-

    ram o valor adicional do EEG a uma investigao comple-

    ta clnica e imagiolgica. Claus et al. investigaram o valor

    adicional do EEG num estudo comparando 49 indivduos

    controlos com e sem alteraes cognitivas mnimas e 86

    doentes com DA provvel (II) (Claus et al., 1999). O ganho

    diagnstico mximo de 38% para um EEG anormal foi

    encontrado quando a probabilidade prvia era baixa,

    cerca de 30-40%. Quando a probabilidade pr-teste foi ele-

    vada (80-90%), ento o ganho diagnstico de um EEG

    anormal foi muito mais baixo, entre 7 e 14%.

    Em algumas demncias especficas, o EEG tem uma

    contribuio elevada. A actividade peridica parte dos

    citrios clnicos para o diagnstico de DCJ, particularmen-

    te na variante espordica. Zerr et al. descreveram 805

    doentes com DCJ confirmada neuropatologicamente nos

    quais o EEG foi efectuado (I) (Zerr et al, 2000). A presena

    de complexos ponta-onda lenta peridicos proporcionou

    66% de sensibilidade e 74% de especificidade, dados com-

    parveis s pequenas sries de Steinhoff et al. (I) (1996). O

    aparecimento de actividade perdica , no entanto, vari-

    vel, e pode desaparecer durante a evoluo da doena, tor-

    nando til a realizao repetida de EEG.

    A amnsia transitria epilptica devido a crises focais do

    lobo temporal pode simular DA (Zeman et al., 1998; Hogh et

    al., 2002). O EEG pode ser diagnstico nesta patologia.

    Anlise do LCR

    A anlise do LCR (com contagem de clulas, protenas,

    glucose e eletroforese das protenas) mandatria quando

    h suspeita de doena inflamatria, vasculite ou desmieli-

    nizao, e em casos de demncia de incio precoce, decl-

    nio rpido, flutuaes marcadas ou patologia extensa da

    substncia branca cerebral na TAC ou RMN. Um vasto

    conjunto de investigaes tm sido publicadas sobre o

    valor acrescentado de marcadores especficos no LCR,

    tais como o amilide (1-42) (A 42), a tau total (tau), afosfo-tau e a protena 14-3-3. A A42 est diminuda noLCR de doentes com DA, provavelmente como resultado

    do depsito da A42 fibrilhar nas placas senis. A tau estaumentada no LCR dos doentes com DA, como reflexo da

    libertao de tau no LCR com perda neuronal. A fosfo-tau

    deve-se ao depsito neurofibrilhar. A presena de protena

    14-3-3 no LCR uma medida de perda neuronal (aguda) e

    de leso cerebral e associa-se a DCJ.

    DA vs controlos

    A A42 est diminuda e a tau est aumentada no LCRde doentes com DA comparando com controlos no

    dementes, doentes com depresso, e doentes com queixas

    de defeito de memria associadas a abuso alcolico

    (Sunderland et al., 2003; Blennow et al., 2003a,b). A sensi-

    bilidade ponderada e especificidade da A42 na DA vscontrolos obtida em 13 estudos foi 86% e 90%. A tau teve

    sensibilidade de 81% e especificidade de 90% acumulada

    em 36 estudos (II-III) (Blennow et al., 2003a). Uma meta-

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 176

    Recomendaes: Neuro-imagem

    Qualquer doentes com suspeita de demncia deve

    ter estudo de imagem estrutural: a TAC sem contras-

    te pode ser usada para identificar leses tratveis

    cirurgicamente e doena vascular (Nvel A). Para

    aumentar a especificidade deve ser usada a RMN

    (com um protocolo inclundo sequncias T1, T2 e

    FLAIR) (Nvel A). O SPECT e PET pode ser til nos

    casos em que h incerteza diagnstica aps realiza-

    o de avaliao clnica e estrutural, e no deve ser

    usada como nico mtodo imagiolgico (Nvel B).

    Recomendaes: EEG

    O EEG pode ser um mtodo auxiliar til, e deve ser

    includo na investigao de doentes com suspeita de

    doena de Creutzfeldt-Jakob ou com amnsia epilp-

    tica transitria. (Nvel B).

  • anlise recente mostrou diferenas considerveis nas con-

    centraes absolutas da A42 e da tau entre laboratrios,mesmo quando foi usado o mesmo kit de teste (Sjogren et

    al., 2001). Usando a combinao entre os dois marcadores

    para DA versus controlos, pode-se atingir uma elevada

    sensibilidade (85-94%) e especificidade (83-100%) (II)

    (Verbeek et al., 2003). Em doentes com DA de incio pre-

    coce, comparando com controlos, foi encontrada uma

    sensibilidade de 81% com especificidade de 100% (III)

    (Schoonenboom et al., 2004). Para teste de refernca

    usado o diagnstico clnico, por vezes com um tempo de

    seguimento, durante o qual no houve mudana de diag-

    nstico (Schoonenboom et al., 2004; Pijnenburg et al.,

    2004). Apenas dois estudos tiveram validao neuropato-

    lgica do diagnstico (Tapiola et al., 2000; Clark et al.,

    2003). Nestes estudos foi encontrada a mesma alta sensi-

    bilidade e especificidade para a distino entre DA e con-

    trolos (I). Um estudo investigou e encontrou uma associa-

    o entre o nmero de placas senis e a concentrao de

    A42 no LCR (Strozyk et al., 2003).

    DA vs outras demncias

    Foi encontrada diminuio de A42 no LCR na DFT(Riemenschneider et al., 2002; Schoonenboom et al.,

    2004), DCLewy (Kanemaru et al., 2000), DV (Hulstaert et

    al., 1999; Nagga et al., 2002), e DCJ (Van Everbroeck et al.,

    1999), comparando com controlos (para DA vs DFT: espe-

    cificidade 59-81% (I) (Riemenschneider et al., 2002;

    Schoonenboom et al., 2004; Pijnenburg et al., 2004); para

    DA vs DV: especificidade 71% (II) (Kapaki et al., 2003). A

    tau est aumentada em muitas outras demncias, tais

    como na DFT (II) (Green et al., 1999; Fabre et al., 2001;

    Riemenschneider et al., 2002; Schoonenboom et al., 2004),

    e na DCJ (I) (Otto et al., 2002). Na VD tm sido descritos

    resultados controversos: a especificidade variou entre 14%

    e 83% (II-III) (Blennow et al., 1995; Andreasen et al., 1998;

    Kapaki et al., 2003) comparando com DA. Na DFT variou

    entre 26% e 75% (II-III) (Riemenschneider et al., 2002;

    Schoonenboom et al., 2004; Pijnenburg et al., 2004). Na

    DCLewy a tau habitualmente normal (II) (Kanemaru et

    al., 2000). A combinao da A42 com a tau total aumentaespecificidade e o valor preditivo negativo (II): DA vs

    grupo total de outras demncias: 58-85% (Verbeek et al.,

    2003); DA vs DFT: 85% (Riemenschneider et al., 2002): DA

    vs DCLewy e DV: especificidade 67% e 48%, respectiva-

    mente, com um valor preditivo negativo de 95% (I)

    (Andreasen et al., 2001).

    Estudando doentes com DA comparados com um

    grupo emparelhado para a idade de doentes com DFT,

    encontrou-se uma boa sensibilidade (72%) e elevada espe-

    cificidade (89%) e uma muito baixa razo de probabilida-

    de negativa (-LR=0.03) (Schoonenboom et al., 2004). Em

    geral, para estudos em que se juntou a fosfo-tau, a especi-

    ficidade foi ainda maior (II-III) (Blennow et al., 2003).

    DCJ

    Na DCJ foram descritos valores muito elevados de tau,

    maiores que na DA, originando uma elevada sensibilidade

    e especificidade, 93% e 90-100% (I) (Kapaki et al., 2001,

    Otto et al., 2002). A avaliao da protena 14-3-3 na forma

    espordica da DCJ tem uma sensibilidade de 90-100% e

    especificidade de 84-96% (i-II) (Zerr et al., 1998, 2000;

    Lemstra et al., 2000; Otto et al., 2002; Van Eveerbroeck et

    al., 2003). Foram encontrados resultados falsos positivos

    em enfartes cerebrais, encefalites, tumores e DA rapida-

    mente progressiva (I-II) (Zerr et al., 1998; Poser et al., 1999;

    Lemstra et al., 2000). Quando a suspeita clnica de DCJ

    elevada, a combinao de EEG (Poser et al., 1999), RMN e

    avaliao da protena 14-3-3 tem a preciso mxima (I-II)

    (Lemstra et al., 2001).

    Estudo gentico

    Muitas demncias degenerativas podem ocorrer como

    doenas autossmicas dominantes com fenotipos seme-

    lhantes doena espordica, exceptuando na idade de in-

    cio precoce. A prevalncia de doena autossmica domi-

    nante varia de menos de 1% na DA a quase 50% em algu-

    mas sries de DFT. Foram identificados trs genes que

    causam DA familiar, o gene da protena percursora do

    amilide (APP) e o genes das presenilinas 1 e 2. Em alguns

    casos de DFT familiar foram encontradas mutaes da

    tau. Na DCJ familiar foram encontradas mutaes no gene

    da protena prinica. H um crescente nmero de genes

    raros sobretudo nos sindromes demncia plus.O benef-

    cio de rastreio de mutaes em populaes no seleccio-

    nadas baixo, por exemplo, no foi encontrada nenhuma

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    SUPLEMENTO 1 | Volume 8 | N. 2 | Novembro de 2008 Sinapse 77

    Recomendaes: LCR

    Recomenda-se a anlise do LCR com contagem de

    clulas, protenas, glicose e electroforese das prote-

    nas em doente com suspeita clnica de certas patolo-

    gias e em doentes com apresentaes clnicas atpi-

    cas (Norma de Boa Prtica). A tau total, a fosfo-tau e

    a A42 no LCR podem ser usadas como adjuvantesem casos de diagnstico duvidoso (Nvel B). A avalia-

    o da protena 14-3-3 recomendada para a identi-

    ficao de DCJ em doentes com demncias rapida-

    mente progressivas (Nvel B).

  • mutao da protena tau numa grande srie de doentes

    com diagnstico clnico de demncia no DA (Houden et

    al., 1999). No entanto, num doente com fenotipo apro-

    priado e histria familiar autossmica dominante, o estu-

    do gentico das mutaes descritas pode dar um diagns-

    tico especfico. Esta avaliao deve ser efectuada apenas

    em centros especializados com consentimento e aconse-

    lhamento gentico adequados. A identificao de uma

    mutao patognica conhecida num membro da famlia

    com doena pode permitir o estudo pr-sintomtico nos

    restantes, e o protocolo de doena de Huntington para tes-

    tes preditivos e aconselhamento deve ser seguido (Harper

    et al., 1990). O diagnstico por autpsia em demncias

    familiares pode ser valorizado para estabelecer o significa-

    do de uma variao na sequncia gentica numa famlia

    para subsequente diagnstico e aconselhamento.

    Foram identificados um conjunto de genes que aumen-

    tam o risco, sendo o polimorfismo da Apolipoprotena

    (Apo) E4 o melhor estudado. Adicionar o teste da ApoE

    aumenta o valor preditivo positivo do diagnstico de DA de

    90 para 94% em sries com confirmao neuropatolgica

    (Mayeuex et al., 1998). Nos doentes com diagnstico clnico

    de demncia no Alzheimer, a ausncia do alelo 4 da Apo

    E4 aumentou o valor preditivo negativo de 64% para 72%.

    Outras investigaes

    Investigao adicional pode dar informao essencial

    no diagnstico diferencial de demncias, como por exem-

    plo, o estudo metablico da cultura de fibroblastos, estu-

    do enzimtico dos leuccitos, estudos dos aminocidos

    urinrios, e similares. Exames de imagem exaustivos

    podem dar informao na suspeita de sndromes para-

    neoplsicos. A bipsia de tecidos especficos pode ter o

    seu valor. Por exemplo, a bipsia heptica na suspeita de

    doena de Wilson e bipsia de pele e msculo em doenas

    como arteriopatia cerebral autossmica dominante com

    enfartes sub-corticais e leucoencefalopatia (CADASIL)

    (100% de espcificidade e 45% de sensibilidade) (Markus et

    al., 2002), doena de corpos de Lafora e citopatias mito-

    condriais. A bipsia da amgdala pode demonstrar a pre-

    sena da protena prinica na variante DCJ.

    A bipsia cerebral pode dar histologia diagnstica espe-

    cfica, mas deve ser apenas efectuada quando se suspeita

    de uma doena tratvel, tal como vasculite cerebral. Em

    geral, deve ser feita uma bipsia de toda a espessura do

    lobo temporal ou frontal no dominante, para incluir as

    leptomeninges e a substncia branca. Em muitos casos, a

    doena por pries no pode ser excluda do diagnstico

    diferencial, e devem usar-se instrumentos de craniectomia

    descartveis ou instrumentos que possam ficar de qua-

    rentena at que seja efectuado um diagnstico especfico.

    Comunicao do diagnstico

    Tm particular interesse para o mdico especialista as

    leis relacionadas com a informao do diagnstico pr-

    pria pessoa, mais do que sua famlia. A maior parte dos

    pases europeus no transformaram o direito ao diagns-

    tico num direito absoluto sem nenhuma excepo.

    A maior parte das legislaes permitem que o mdico

    limite a informao do diagnstico, se se considera ser no

    melhor interesse do doente, ou se esta informao puder

    causar grave perturbao da sade mental ou fsica do

    doente (Alzheimer Europe, 2000). No entanto tem surgido

    um crescente consenso (Alzheimer Europe, 2001) a favore-

    cer a informao do diagnstico ao doente, num momen-

    to em que a pessoa esteja capaz de o compreender. Tem

    sido demonstrado que essa informao alivia a ansiedade

    da incerteza e maximiza a autonomia individual e de esco-

    lha ao fornecer a informao necessria para a tomada de

    deciso e planeamento antecipado (IV) (Fearnley et al.,

    1997) incluindo a deciso de dar consentimento informa-

    do para projectos de investigao e de autpsia.

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 178

    Recomendaes: Teste gentico

    O rastreio de mutaes patognicas conhecidas pode

    ser efectuado em doentes com o fenotipo adequado

    ou perante histria familiar de uma demncia com

    carcter autossmico dominante, e s deve ser efec-

    tuado em centros especializados com aconselha-

    mento adequado dos doentes e dos seus familiares, e

    com consentimento (Norma de Boa Prtica). O estu-

    do gentico pr-sintomtico pode ser realizado em

    adultos em que h clara histria familiar, e quando

    h uma mutao conhecida num indivduo afectado,

    para assegurar que um resultado negativo clinica-

    mente significativo. Recomenda-se que seja seguido

    o protocolo da doena de Huntington (Norma de

    Boa Prtica). A avaliao do gene da Apo E por rotina

    no recomendada (Nvel B).

    Recomendaes: Bipsias

    As bipsias de tecidos podem proporcionar diagns-

    ticos especficos em algumas demncias raras. Este

    procedimento deve s ser realizado em centros espe-

    ciaizados em casos seleccionados criteriosamente.

    (Norma de Boa Prtica).

  • Tratamento da doena de Alzheimer e de

    outras patologias associadas a demncia

    Para abordar as necessidades complexas do doente

    com demncia e do seu cuidador ao longo da doena, o

    mdico especialista em demncias deve colaborar com

    outros profissionais de sade com especial treino em

    demncias. O especialista deve marcar visitas regulares

    para o seguimento, com objectivos que incluem: 1. avalia-

    o cognitiva, emocional, dos sintomas comportamentais,

    conjuntamente com o estado funcional; 2. avaliar indica-

    es de teraputica e monitorizar o efeito do tratamento

    farmacolgico e no farmacolgico; 3. assegurar a identi-

    ficao e teraputica adequada das patologias concomi-

    tantes e das complicaes da prpria demncia; 4. avaliar

    a sobrecarga do cuidador e as suas necessidades; 5. avaliar

    as redes de cuidados e de suporte; 6. proporcionar acon-

    selhamento continuado e orientao para o doente e para

    o cuidador nas questes de sade e psicolgicas, em

    medidas de segurana como a conduo, e assuntos legais

    e financeiros; e 7. fazer as intervenes apropriadas ao

    doente e ao cuidador. O cuidador principal, quando poss-

    vel, deve acompanhar o doente com demncia s visitas

    de seguimento e aos exames.

    Nestas recomendaes dada maior nfase s reco-

    mendaes do tratamento farmacolgico. Muitos aspec-

    tos relevantes nos cuidados do doente com demncia no

    so abordados, como por exemplo, meio em que vive, rea-

    bilitao cognitiva, cuidados de enfermagem, e cuidados

    de fim de vida. Para o tratamento da demncia, esta revi-

    so limita-se demncia (e no defeito cognitivo ligeiro) e

    aos frmacos que tm sido clinicamente testados na

    demncia e que esto disponveis no mercado, apesar de

    poderem no estar registados em todos os pases. Tambm

    so includos resultados negativos, se publicados,

    enquanto que substncias em fase experimental no

    foram includas. Tem que se enfatizar que a classe de evi-

    dncia no reflecte necessariamente a dimenso do efeito

    e e a potencial relevncia clnica, o que tem se tomar em

    considerao quando se fazem recomendaes.

    Tratamento da doena de Alzheimer

    Inibidores da colinesterase

    Os inibidores da colinesterase (ChEIs) representam a

    primeira classe de frmacos aprovada para o tratamento

    especfico sintomtico da DA. Seguindo a introduo da

    tacrina, o primeiro ChEI a ser aprovado, surgiram o done-

    pezilo, a rivastigmina e a galantamina. H mltiplos

    ensaios clnicos randomizados, controlados com placebo,

    de grande dimenso, com estas substncias, que estabele-

    cem a eficcia nas funes cognitivas, na avaliao global,

    nas AVD em doentes com DA ligeiro a moderado, com

    dimenses do efeito modestas (Rogers et al., 1996, 1998;

    Rsler et al., 1999; Raskind et al., 2000; Tariot et al., 2000;

    Brodaty et al., 2005) (I). Os ChEIs so geralmente bem tole-

    rados. No entanto, os efeitos adversos mais frequentes so

    gastrointestinais, tais como nusea, diarreia e vmitos, e

    podem levar ao abandono da teraputica em alguns doen-

    tes. A utilizao dos ChEIs na DA ligeira a moderada tem

    sido analisada em revises sistemticas e meta-anlises, e

    a sua eficcia foi confirmada (Birks et al., 2000; Birks e

    Harvey, 2006; Loy e Schneider, 2006). Da mesma forma,

    recomendaes como as que so proporcionadas pela

    AAN, recomendam que os ChEIs devem ser considerados

    em doentes com DA ligeira a moderada (Doody et al.,

    2001). Apesar de estar a ser revisto, o documento de reco-

    mendaes do National Institute for Clinical Excellence

    (NICE) no Reino Unido para a orientao da tecnologia da

    sade de 2001 recomenda que os ChEIs devem ser consi-

    derados na DA ligeira a moderada (NICE, 2001).

    Em relao durao da eficcia, o estudo com trata-

    mento continuado mais longo foi com donepezilo, efec-

    tuado durante 1 ano. Este estudo mostrou que a eficcia se

    manteve pelo menos 1 ano e que houve uma reduo de

    38% de risco de declnio cognitivo entre doentes sob trata-

    mento quando comparados com doentes sob placebo

    (Winblad et al., 2001; Mohs et al., 2001) (I). Um estudo

    recente controlado com placebo, efectuado em 3 anos,

    nos quais houve mltiplas fases de descontinuao, mos-

    trou que as pontuaes cognitivas e o estado funcional

    eram significativamente melhores com donepezilo em

    2 anos, mas que as diferenas eram pequenas e no tradu-

    ziam benefcios nas medidas de parmetros de avaliao

    primrios definidos como institucionalizao ou progres-

    so para a incapacidade em 3 anos (AD 2000 Collaborative

    Group, 2004) (II). Tem havido extenses dos estudos con-

    trolados com placebo, com seguimento at aos 5 anos, em

    que os dados histricos ou predio baseada no modelo

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    SUPLEMENTO 1 | Volume 8 | N. 2 | Novembro de 2008 Sinapse 79

    Recomendaes:

    Comunicao do diagnstico

    A informao sobre o diagnstico deve ser efectuada

    com tacto e deve ser acompanhada da informao

    sobre as consequncias e a progresso da doena,

    assim como de contactos teis tais como de

    Associaes de Alzheimer locais ou nacionais. Em

    pases onde seja possvel, o clnico pode tambm

    encorajar o doente a delinear indicaes do seu futu-

    ro tratamento e preferncias nos cuidados (Norma

    de Boa Prtica).

  • para o ramo no tratado foi usado como controlo. Estes

    estudos sugerem uma lenta progresso dos sintomas nos

    doentes tratados. A perda dos controlos nestes estudos, e

    os enviesamentos devido aos abandonos limitam, no

    entanto, as suas concluses (Rogers et al., 2000; Pirttala et

    al., 2004; Winblad et al., 2006) (III).

    A avaliao inicial da eficcia dos ChEIs tem sido foca-

    da nas funes cognitivas, em escalas de mudana global

    e AVD. Subsequentemente foi mostrado pequeno efeito

    benfico dos ChEIs nos sintomas comportamentais da DA

    (Tariot et al., 2000; Feldman et al., 2001; Trinh et al., 2003).

    Em relao ao estdio da doena, os ensaios randomiza-

    dos controlados com placebo estudando o donepezilo

    confirmaram a eficcia em doentes com DA ligeira, em

    fase inicial, assim como em doentes com DA moderada a

    moderadamente severa (Feldman et al., 2001; Seltzer et al.,

    2004)(I). Houve apenas um nico ensaio randomizado, de

    grande dimenso, controlado e em dupla ocultao, com

    comparao directa da eficcia de ChEIs: a comparao da

    rivastigmina com o donepezilo num ensaio randomizado,

    controlado, de grande dimenso, em 2 anos, mostrou que

    a eficcia foi comparvel na medida de objectivo primrio.

    Algumas das medidas de eficcia secundrias favoreceram

    a rivastigmina e a tolerncia ao frmaco foi melhor com o

    donepezilo (Bullock et al., 2005) (II). H alguma evidncia

    (de estudos abertos) que doentes que no toleram ou que

    no parecem beneficiar de um dos ChEIs, podem tolerar

    ou esboar benefcio com outro (III) (Auriacombe et al.,

    2002; Bartorelli et al., 2005). Foram efectuadas vrias ten-

    tativas para quantificar a utilidade clnica dos ChEIs. Os

    ChEIs no tm sido considerados frmacos modificadores

    da doena (Livingston and Katona,2000; Clegg et al., 2001;

    Trinh et al., 2003). Uma meta-anlise do custo-efectivida-

    de dos ChEIs concluiu que, com base na actual evidncia,

    as implicaes da utilizao do donepezilo, rivastigmina

    ou galantamina para tratar doentes com DA so pouco

    claras (Clegg et al., 2001). Outra meta-anlise de 29 estu-

    dos controlados com ChEIs mostrou um impacto, mas

    com benefcio modesto nos parmetros de avaliao neu-

    ropsiquitricos e funcionais, mas pareceu no haver dife-

    rena entre os diferentes frmacos nestes parmetros

    (Trinh et al., 2003) (I).

    Memantina

    A memantina, um antagonista no competitivo do recep-

    tor N-Metil-D-Aspartato (NMDA), representa a segunda

    classe de frmacos aprovada para o tratamento sintomtico

    especfico da DA. O composto bloqueia a hiper-activao

    crnica dos receptores NMDA que se pensa contribuir para

    a sintomatologia e patognese da DA. Esto publicados

    ensaios com memantina em doentes com demncia, de

    larga escala, randomizados e controlados com placebo. Dois

    estudos foram efectuados em doentes com DA moderada a

    severa (I) (Reisberg et al., 2003; Tariot et al., 2004), um dos

    quais em doentes sob teraputica estvel com donepezilo

    (Tariot et al., 2004). Outro estudo randomizado, controlado

    com placebo, foi efectuado numa populao mista de doen-

    tes com AD severa e DV severa (Winblad and Poritis, 1999)

    (I). At data nenhum estudo com DA ligeira foi publicado

    em revistas com reviso. Recentemente, os dados dispon-

    veis publicados foram revistos numa meta-anlise do

    Cochrane e os autores concluram que a memantina causa-

    va uma reduo clinicamente relevante da deteriorao em

    doentes com DA moderada a severa aos 6 meses (I) (Areosa

    SA et al., 2005). Este resultado traduziu-se em menor dete-

    riorao funcional e cognitiva (I). A memantina foi bem tole-

    rada, quer dada sozinha, quer tambm no estudo em que foi

    combinada com o donepezilo (I) (Tariot et al., 2004). Os

    doentes a tomar memantina pareceram ser menos suscept-

    veis a ter agitao. No se sabe se a memantina tem ou no

    um efeito na DA ligeira a moderada (Areosa SA., et al, 2005).

    Com a excepo do estudo de Winblad e Poritis (1999),

    em que a capacidade de desempenho no se baseou na

    avaliao cognitiva, todos os outros estudos mostraram

    superioridade estatisticamente significativa no desempe-

    nho cognitivo dos doentes tratados com memantina com-

    parando com placebo, usando a bateria de incapacidade

    grave (Severe Impairment Battery) (SIB) (I). No estudo de

    Winblad e Poritis, os efeitos estatisticamente significativos

    foram demonstrados para a avaliao funcional e global

    (I). Um dos ensaios na DA moderada a severa incluiu um

    questionrio frmaco-econmico e demonstrou reduo

    no tempo dispendido pelo cuidador e nos custos sociais

    totais (Wimo et al., 2003). No estudo de Tariot et al., (2004),

    a memantina teve um efeito positivo nas perturbaes do

    comportamento avaliadas pelo NPI (I).

    Outros frmacos e intervenes

    H diversas medida teraputicas que tm sido sugeridas

    para o tratamento da DA, incluindo a gingko biloba, os anti-

    inflamatrios no esterides (NSAIDs), os estrogneos e as

    estatinas. Foram descritos trs estudos randomizados con-

    trolados na DA com o extracto Egb 761 da gingko biloba.

    Todos estes estudos envolveram populaes mistas de

    doentes, inclundo DA, demncia multi-enfartes e ainda

    um estudo com doentes com DCLig. A durao do trata-

    mento foi de cerca de 1 ano. Em dois estudos, alguns par-

    metros medidores da cognio e do comportamento

    melhoraram significativamente (Kanowski et al., 1996; Le

    Bars et al., 1997), apesar dos mtodos, em um, e a anlise

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 180

  • dos resultados, no outro, no terem sido os habituais (II); no

    terceiro estudo no houve diferenas significativas entre a

    gingko biloba e o placebo (II) (van Dongen et al., 2003).

    Uma meta-anlise dos resultados publicados em doentes

    com demncia concluiu que apesar de, globalmente, pare-

    cer sugerir evidncia de melhoria na cognio e no estado

    funcional, os trs ensaios mais recentes mostrarem resulta-

    dos inconsistentes. necessrio um ensaio alargado utili-

    zando metologia mais adequada (Birks et al., 2002) (I).

    Os anti-oxidantes, tais como a vitamina E, tm sido

    estudados para avaliar se atrasam a progresso no doentes

    com DA. Num ensaio de grande dimenso, randomizado,

    controlado com placebo (Sano et al., 1997) em doentes

    com DA moderado, a vitamina E (dada na dose de 1000 UI,

    duas vezes por dia, durante 2 anos) atrasou significativa-

    mente o tempo para atingir um parmetro de avaliao

    composto de medidas primrias, indicando agravamento

    clnico, e menos doentes a receber vitamina E foram insti-

    tucionalizados comparando com aqueles que fizeram pla-

    cebo (I). Houve uma tentativa de meta-anlise com estu-

    dos randomizados e controlados com vitamina E, que s

    conseguiu encontrar o estudo mencionado anteriomente,

    e concluiu que no h suficiente evidncia para a eficcia

    da vitamina E no tratamento da DA. H, no entanto, sufi-

    ciente evidncia para um possvel benefcio, de forma a

    justificar estudos subsequentes (I) (Tabet et al., 2004).

    Adicionalmente, uma meta-anlise de grande dimenso

    de estudos com vitamina E mostrou que as doses elevadas

    dos suplementos de vitamina E (> ou = 400 UI/d) podem

    aumentar a mortalidade total (I) (Miller et al., 2004).

    Uma anlise retrospectiva de dados epidemiolgicos

    sugeriu que a exposio crnica a anti-inflamatrios no

    esterides foi protectora de DA (McGeer et al., 1996). Em

    estudos prospectivos, contudo, s a indometacina pare-

    ceu estabilizar a cognio num ensaio de 6 meses, com

    elevada taxa de abandonos (I) (Rogers et al., 1993; Scharf

    et al., 1999; Aisen et al., 2000; Van Gool et al., 2001; Aisen et

    al., 2003). De forma similar, num estudo de grande dimen-

    so randomizado, em dupla ocultao, controlado com

    placebo, o inibidor da ciclo-oxigenase-2, o rofecoxib, dado

    durante um ano, no foi eficaz na reduo da progresso

    da DA (Reines et al., 2004) (I).

    Em dois estudos com anlise retrospectiva ou transver-

    sal, as estatinas usadas no tratamento da hipercolesterol-

    mia diminuram a prevalncia da DA (Jick et al., 2000;

    Wlozin et al., 2000). Este efeito foi independente do vis de

    seleco (efeito de coorte mais saudvel), mas confinado

    aos que tinham menos de 80 anos de idade (Rockwood et

    al., 2002), e pareceu ser modificado pela presena de cer-

    tas patologias mdicas crnicas: a reduo do risco de DA

    foi observada nos doentes com doenas como hiperten-

    so e doena coronria (Zamrini et al., 2004). A pravastati-

    na no mostrou efeito significativo na funo cognitiva ou

    incapacidade (Shepherd et al., 2002); a atorvastatina mos-

    trou efeito significativo no efeito cognitivo a 6 meses mas

    no a 12 meses (III) (Sparks et al., 2005). Uma meta-anli-

    se dos dados disponveis concluiu que no h evidncia

    suficiente para recomendar as estatinas para a reduo do

    risco de DA (Scott e Laake, 2003) (II).

    Em anlises retrospectivas ou transversais ps-meno-

    pausa, foi sugerido que o uso de estrogneos originaria

    benefcio sintomtico ou reduziria o risco de DA. Estudos

    prospectivos, randomizados, controlados com placebo

    no conseguiram, no entanto, demonstrar benefcio sinto-

    mtico dos estrogneos, dados at 1 ano, em mulheres

    com DA ligeira a moderada, com ou sem histerectomia

    (III) (Wang et al., 2000; Henderson et al., 2000; Mulnard et

    al., 2000). Apesar do tratamento com estrogneos elevar o

    nvel de estradiol e estrognios naturais, no houve asso-

    ciao entre o nvel de hormonas e o funcionamento cog-

    nitivo aps 1 ano de tratamento (Thal et al., 2003). Uma

    meta-anlise concluiu que a teraputica de substituio

    com estrogneos no est indicada para melhoria ou per-

    servao cognitiva em mulheres com DA (I) (Hogervorst et

    al., 2002). Da mesma forma, o resultado do estudo pros-

    pectivo Womens Health Initiative Memory Study, contro-

    lado com placebo, de grande dimenso, mostrou que a

    utilizao dos estrogneos e de progesterona em mulheres

    ps-menopausa, aps um tempo mdio de seguimento de

    4 anos, se associou a um significativo aumento do risco de

    demncia (Shumaker et al., 2003) (I). Meta-anlises para

    outros frmacos, inclundo a selegilina (Birks e Flicker,

    2003), nicergolina (Fioravanti e Flicker, 2001), nimodipina

    (Lopez-Arrieta, 2002) e o piracetam (Flicker e Grimley

    Evans, 2004) concluram que no h suficiente evidncia

    para recomendar a sua utilizao na DA (II).R

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    SUPLEMENTO 1 | Volume 8 | N. 2 | Novembro de 2008 Sinapse 81

    Recomendaes:

    Tratamento da doena de Alzheimer

    O tratamento com ChEIs (donepezilo, galantamina,

    ou rivastigmina) deve ser considerado no momento

    do diagnstico de DA, tomando em considerao o

    benefcio teraputico esperado e as potenciais ques-

    tes de segurana (Nvel A). Uma expectativa realista

    dos efeitos teraputicos e dos potenciais efeitos

    secundrios deve ser discutida com o doente e os

    cuidadores (Norma de Boa Prtica).

    Em doentes com AD moderada a severa, o tratamen-

  • Tratamento da demncia vascular

    Inibidores das colinesterases

    Aps se ter tornado evidente que a DV tambm se asso-

    cia a defeitos colinrgicos, os ChEIs foram investigados em

    doentes com DV. Para alm de existirem doentes com

    demncia devido a DVC pura ou predominante, a doena

    vascular pode tambm co-existir com a patologia de DA,

    constituindo a demncia mista. Houve dois estudos de

    grande dimenso, randomizados, controlados com place-

    bo, com donepezilo em doentes com DV possvel ou pro-

    vvel, e um estudo de grande dimenso, randomizado,

    controlado com placebo, com galantamina, em doentes

    com DV ou DA combinada com DVC. Nos dois estudos

    com donepezilo houve um significativa melhoria nos dois

    parmetros de avaliao principais (funo cognitiva e

    escalas globais); o ADL melhorou significativamente em

    um estudo e mostrou uma tendncia para melhoria no

    segundo estudo, no fim do perodo de tratamento (Black

    et al., 2003; Wilkinson et al., 2003) (I). Os resultados com a

    galantamina foram similares: os doentes sob o produto

    activo tiveram significativa melhoria quer em ambos os

    objectivos (end-points) primrios quer nas ADL e nas

    escalas do comportamento, comparando com placebo (I)

    (Erkinjuntti et al., 2002). Apesar do estudo no ter poder

    para detectar mudanas nos dois sub-grupos de diagns-

    tico (i.e. VD provvel e AD com DVC), as escalas cognitivas

    e globais mostraram melhoria significativa no grupo de

    DA com DVC, enquanto que as diferenas no sub-grupo

    de DV provvel, quando comparado com placebo, no

    foram to significativas (Erkinjuntti et al., 2002). Uma

    extenso por 6 meses sem ocultao deste estudo sugeriu

    que os benefcios poderiam ser mantidos at 1 ano (III)

    (Erkinjuntti et al., 2003). Uma meta-anlise do Cochrane

    concluiu que h fraca indicao de que a galantamina seja

    til na demncia secundria a doena vascular, mas que

    se associa a elevada percentagem de efeitos adversos e

    abandonos (I) (Craig e Birks, 2006). Dos dados extrados

    dos ensaios clnicos (III-IV), a maior parte dos quais de

    estudos em aberto ou anlises post-hoc, h alguma evi-

    dncia do benefcio da rivastigmina no defeito cognitivo

    vascular, mas so necessrios ensaios clnicos randomiza-

    dos, controlados, em dupla ocultao, de larga dimenso

    (Craig e Birks, 2004). Uma meta-anlise de dois estudos

    com donepezilo concluiu que a evidncia indica que o

    donepezilo bem tolerado e pode melhorar os sintomas

    cognitivos e as capacidades funcionais em doentes com

    defeito cognitivo vascular (Malouf e Birks, 2004). (I).

    Memantina

    Foram efectuados dois ensaios randomizados usando 20

    mg/d de memantina controlados com placebo, de 6 meses

    de durao, em doentes com DV ligeira a moderada

    (Wilcock et al., 2002; Orgogozo et al., 2002). Estes estudos

    incluram perto de 900 doentes e foram desenhados de acor-

    do com mtodos actuais, usando o ADAS-Cog e uma escala

    de avaliao global da mudana como medida primria de

    eficcia. Foram resumidos pela meta-anlise recente do

    Cochrane (Areosa et al., 2005): nos dois estudos a memanti-

    na melhorou a cognio e o comportamento, mas este resul-

    tado no foi suportado por medidas clnicas globais (I). A

    memantina foi bem tolerada (I). Numa anlise de sub-grupo

    destes estudos (Mbius e Stffler, 2003) o benefcio cogniti-

    vo pareceu ser mais marcado no sub-grupo de doentes com

    doena de pequenos vasos, que est ligado mais estreita-

    mente DA (III). Adicionalmente, foram publicados e revis-

    tos alguns estudos de curta durao pelo Grupo Cochrane,

    em populaes de demncia menos bem definidas, incluin-

    do estudos em doentes com DV e com demncia de tipo no

    especificado. Em resumo, houve efeito benfico na cognio

    (Ditzler, 1991), AVD (Ditzler, 1991), comportamento e esca-

    las globais (Ditzler, 1991; Grtelmeyer, 1992) e na impresso

    global de mudana (Ditzler, 1991; Grtelmeyer, 1992) (III-

    IV). A meta-anlise concluiu que doentes com demncia

    vascular ligeira a moderada a receber memantina tiveram

    menor deteriorao cognitiva aps 28 semanas, mas que os

    efeitos no eram clinicamente perceptveis. O frmaco foi

    bem tolerado em geral e a incidncia de efeitos adversos foi

    baixa (Areosa SA et al., 2005).

    Anti-agregantes e outros frmacos

    Houve um pequeno estudo com aspirina em doentes

    com DV. Neste estudo os doentes tratados com aspirina

    tiveram uma melhor cotao na escala cognitiva ao tercei-

    ro ano e tambm uma significativa melhoria na perfuso

    cerebral nos primeiros 2 anos, comparando com o grupo

    controlo no tratado (Meyer et al., 1989) (III). Uma meta-

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 182

    to com memantina pode ser considerado, sozinho ou

    em combinao com ChEIs, tomando em considera-

    o a expectativa dos efeitos benficos e as questes

    de segurana (Nvel A). Expectativas realistas do efei-

    to teraputico e dos potenciais efeitos adversos

    devem ser discutidas com o doente e os cuidadores

    (Norma de Boa Prtica).

    Actualmente no h evidncia suficiente para consi-

    derar a utilizao da gingko biloba, frmacos anti-

    inflamatios, nootrpicos, selegilina, estrogneos,

    vitamina E e estatinas no tratamento ou preveno

    de DA (Nvel A-C).

  • anlise dos dados disponveis mostrou que, apesar do seu

    vasto uso, no h ainda evidncia de que a aspirina seja efi-

    caz no tratamento de doentes com diagnstico de DV

    (Rands et al., 2004). Numa reviso sistemtica dos ensaios

    clnicos efectuados com pentoxifilina na DV, foram identi-

    ficados quatro estudos preenchendo os critrios (serem

    randomizados, em dupla ocultao, controlados com pla-

    cebo). Mostraram uma tendncia para a melhoria da fun-

    o cognitiva, mas sem diferenas com significado estats-

    tico comparando com o placebo (Sha e Callahan, 2003) (I).

    Quando o bloqueador dos canais do clcio, nifedipina, foi

    testado em doentes com demncia multi-enfartes, num

    ensaio randomizado, controlado com placebo, de grande

    dimenso, no houve benefcio significativo da teraputica

    com nimodipina sobre o placebo na avaliao cognitiva,

    funcional e global (Pantoni et al., 2000)(I). Adicionalmente,

    num ensaio recente randomizado controlado com placebo

    em pacientes com demncia vascular sub-cortical, no

    houve significativo efeito da nimodipina no parmetro de

    avaliao primrio, uma escala de avaliao clnica global

    (Pantoni et al., 2005). Os estudos com gingko biloba foram

    mencionados anteriormente.

    Tratamento da demncia associada a doena

    de Parkinson (D-DP) e Demncia com corpos

    de Lewy (DCLewy)

    Tanto na D-DP como na DCLewy existem considerveis

    defeitos colinrgicos, e os ChEIs tm sido testados em

    ambas as situaes. No total, houve 12 estudos com 4 fr-

    macos (tacrina, donepezilo, rivastigmina e galantamina),

    descrevendo a utilizao dos ChEIs em doentes com D-DP.

    Todos estes estudos foram pequenos (incluram menos de

    30 doentes), trs deles foram controlados com placebo,

    oito foram em aberto e dois foram sries de casos. Foi des-

    crita melhoria na cognio e nos sintomas neuropsiqui-

    tricos na maioria desses estudos, especialmente nas aluci-

    naes. O agravamento do parkinsonismo foi pouco fre-

    quente e sendo sobretudo descrito tremor (Aarsland et al.,

    2004; Ravina et al., 2004). Um estudo recente com rivastig-

    mina, de grande dimenso, controlado com placebo, mos-

    trou que h melhoria estatisticamente significativa a favor

    da rivastigmina em ambos os objectivos primrios, com

    dimenso de efeito modesto (ADAS-Cog para as funes

    cognitivas e Clinical Global Impression of Change (CGIC)

    da ADCS para avaliao global) assim como nas medidas

    secundrias. O perfil dos efeitos adversos foi comparvel

    ao observado nos doentes com DA, sendo as nuseas e os

    vmitos o efeito adverso mais frequente. No grupo da

    rivastigmina, 10% dos doentes referiu agravamento subjec-

    tivo do tremor e 1.7% abandonaram o tratamento por essa

    razo. No houve, no entanto, diferenas significativas

    entre a rivastigmina e o placebo nas pontuaes motoras

    medidas objectivamente (Emre et al., 2004) (I).

    Houve oito estudos a descrever a utilizao dos ChEIs

    na DCLewy, envolvendo a tacrina, o donepezilo e a rivas-

    tigmina. Um destes estudos foi controlado com placebo,

    trs foram controlados mas no randomizados e outros

    foram sries de casos. Todos os estudos, com excepo de

    um, descreveram a melhoria nas funes cognitivas, e

    metade deles melhoria nos sintomas neuropsiquitricos,

    geralmente apatia e alucinaes. O agravamento do par-

    kinsonismo foi raro (Aarsland et al., 2004). Num estudo

    randomizado de grandes dimenses, prospectivo, contro-

    lado com placebo, a rivastigmina foi significativamente

    melhor que o placebo em um dos dois parmetros de ava-

    liao: a velocidade de processamento mental. Tambm

    houve melhoria no grupo da rivastigmina para o outro

    parmetro: a cotao de sintomas neuropsiquitricos, na

    anlise da ltima observao transportada (LOCF: last

    observation carried forward) e na anlise de casos observa-

    dos, mas no considerando a inteno de tratar (ITT). Uma

    anlise da resposta mostrou significativa reduo na cota-

    o do NPI dos 3 grupos. A rivastigmina no causou agra-

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    SUPLEMENTO 1 | Volume 8 | N. 2 | Novembro de 2008 Sinapse 83

    Recomendaes:

    Tratamento da demncia vascular

    Os ChEIs (existe evidncia actual para o donepezilo)

    devem ser considerados em doentes preenchendo

    critrios diagnstico de DV de severidade ligeira a

    moderada (Nvel B). As expectativas para o efeito do

    tratamento e os potenciais efeitos adversos devem

    ser discutidos com o doente e os cuidadores (Norma

    de Boa Prtica). Na presena de defeito neurolgico

    focal severo a preciso diagnstica e os benefcios

    teraputicos esperados devem ser cuidadosamente

    considerados, ponderando a contribuio que resul-

    ta do defeito sensitivo-motor versus a que resulta do

    defeito cognitivo para incapacidade global do doente

    (Norma de Boa Prtica). No h evidncia suficiente

    para considerar o uso de memantina em doentes

    com demncia vascular (Nvel B). No h evidncia

    suficiente para sustentar a utilizao de aspirina,

    gingko biloba, antagonistas do clcio ou pentoxifili-

    na no tratamento da DV (Nvel A-C). O tratamento

    ptimo dos factores de risco vasculares, inclundo

    frmacos anti-plaquetrios, deve ser assegurado, no

    s na demncia vascular, mas tambm em doentes

    com outras demncias ou doena vascular co-exis-

    tente (Norma de Boa Prtica).

  • vamento dos sintomas motores (McKeith e tal., 2000) (I).

    A eficcia da memantina no tem sido formalmente

    avaliada na DCLewy. Os dados (muito limitados) dos casos

    descritos, sugerem que cerca de dois teros dos doentes

    com DCLewy conseguem tolerar memantina, mas os efei-

    tos sintomticos so variveis. Uma minoria teve agrava-

    mento da agitao, pensamento delirante de tipo parani-

    de e alucinaes visuais quando expostos memantina

    (Sabbagh et al., 2005; Ridha e tal., 2005) (IV).

    Monitorizao do tratamento com ChEIs e

    memantina em doentes com demncia

    A vigilncia do tratamento com ChEIs e memantina

    deve ser orientada pelo perfil de efeitos adversos e pelas

    condies clnicas do doente. A monitorizao deve

    incluir avaliao regular da adeso ao tratamento, da efi-

    ccia (funes cognitivas, AVD, e sintomas comportamen-

    tais) e dos efeitos adversos. Em doentes com doena car-

    daca ou factores de risco cardiovasculares significativos

    pode ser til fazer um ECG para a vigilncia subsequente.

    No h evidncia, determinada por estudos desenhados

    adequadamente, que possa ajudar o clnico a determinar

    quando se pra o tratamento.

    Tratamento de outras demncias

    No houve estudos controlados, randomizados, de

    dimenso adequada em outros tipos de demncias degene-

    rativas, tais como DFT, PSP ou DCB. Num pequeno estudo

    aberto, e em outro pequeno estudo randomizado, em dupla

    ocultao, controlado com placebo e cruzado, o donepezilo

    no foi eficaz em doentes com PSP: houve quando muito

    efeitos modestos na cognio, e efeitos prejudiciais nas AVD

    e na mobilidade (Fabbrini e tal., 2001; Litvan e tal., 2001)

    (III). Os inibidores selectivos da recaptao da serotonina,

    particularmente a paroxetina, foram usados em dois estu-

    dos abertos e num pequeno estudo cruzado, controlado

    com placebo, em doentes com DFT. Enquanto que os estu-

    dos abertos sugeriram alguns benefcios, sobretudo no

    comportamento, o estudo controlado com placebo no

    teve benefcios, mas sim deteriorao cognitiva (Swartz e

    tal., 1997; Moretti e tal., 2003; Deakin e tal., 2004) (III).

    Tratamento dos sintomas comportamentais e

    psicolgicos da demncia

    Os sintomas comportamentais e psicolgicos da demn-

    cia (SCPD) so os sintomas que mais contribuem para a

    sobrecarga do cuidador e stress do doente, necessitando

    frequentemente de tratamento, por vezes com necessidade

    de interveno urgente (McKeith e Cumming, 2005). O in-

    cio sbito ou o agravamento de sintomas como alucina-

    es, insnia, agitao ou agressividade podem ser indica-

    dores de delirium intercorrente, assim como a apatia ou os

    sintomas depressivos. Como tal a re-avaliao fsica deve

    ser sempre o primeiro passo da abordagem dos SCPD, com

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    Sinapse Novembro de 2008 | N. 2 | Volume 8 | SUPLEMENTO 184

    Recomendaes:

    Tratamento da demncia associada a doena

    de Parkinson e demncia de corpos de Lewy

    O tratamento com ChEIs (existe evidncia actual

    para a rivastigmina) pode ser considerado em doen-

    tes com D-DP ou DCLewy (Nvel A), tendo em consi-

    derao os benefcios esperados pelo tratamento e as

    questes de segurana. A expectativa realista do efei-

    to do tratamento e os efeitos secundrios potenciais

    devem ser discutidos com o doente e seus cuidado-

    res (Norma de Boa Prtica).

    No h evidncia suficiente para a utilizao da

    memantina na D-DP ou na DCLewy (Nvel C),

    pode


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