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Valores, Prticas Sociais e Espao: Henri Lefebvre e o Advento daSociedade Urbana
Rainer Randolph Prof. Titular no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional,
IPPUR / UFRJ
RESUMO:
Nosso pequeno ensaio procura apresentar argumentos, por meio do exerccio da
refletividade acerca da produo (social) do espao social, que podem demonstrar que e
como mesmo as classes e segmentos mdios e altos da sociedade brasileira poderiam
assumir suas responsabilidades na transformao social em direo a uma sociedade mais
livre, justa e fraterna na medida em que possuem, hipoteticamente, tais potencialidades. No
trabalho procura-se identificar esse potencial de determinadas prticas sociais e espaciais
dessas classes em relao ao atual processo de expanso das metrpoles para alm das suas
tradicionais fronteiras regionais. Se, na hiptese de Lefebvre, o abandono da metrpole por
esses grupos sociais indicaria sua conscincia e tentativa de real superao das
contradies desse espao, as prticas espaciais desses grupos poderiam apontar em
direo transformao da sociedade. Mas, h fortes indcios que isto no o caso e que a
fuga meramente expresso de uma atitude egosta e individual que apenas tende areproduzir ou aumentar o atual quadro das desigualdades e injustias sociais.
1. Urbanizao fechada e seus possveis futuros: entre a utopiaburguesa e a revoluo urbana
O fenmeno dos condomnios fechados est hoje presente em muitas cidades no
mundo inteiro. Por uma parte da bibliografia em lngua espanhola nomeado de
urbanizacin cerrada para o caso de reas maiores que renem um conjunto de prdios
residenciais com vrios apartamentos e concentram um elevado nmero de moradores.
Esse termo descreve bem o fato que esses condomnios no se caracterizam apenas pela
restrio ao acesso atravs de muros e entradas vigiadas, mas contam, em parte, com toda
uma infra-estrutura interna de circulao, lazer, servios e at comrcio na sua rea
(RANDOLPH, LOPES, 2006). No cabe aqui aprofundar o debate a esse respeito; h uma
vasta bibliografia que procura dar conta tanto das caractersticas mais gerais dessa forma
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de urbanizao como de suas particularidades locais (veja particularmente o trabalho de
CALDEIRA, 2000).
No Brasil, inicialmente, esses condomnios foram implantados preponderantemente
em zonas urbanas ou no interior das grandes metrpoles, mantendo uma certa distncia aos
seus centros metropolitanos tradicionais numa primeira periferia ainda relativamente
prxima, ou eventualmente em municpios vizinhos ao ncleo metropolitano; o caso de
Alphaville na Grande So Paulo emblemtico neste sentido e foi copiado em outras
metrpoles brasileiras. Uma primeira onda de difuso dessa forma de urbanizao alcanou
todas as reas metropolitanas maiores como So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Salvador e outras mais.
As mencionadas investigaes dos fenmenos da urbanizao fechada associaram
sua proliferao, geralmente, ao desejo de uma parte de classes sociais mais abastadas a
usufruir uma melhor qualidade de vida longe dos engarrafamentos e da poluio e de obter
proteo contra o real ou suposto aumento da violncia e insegurana nessas cidades.
Aponta-se como principal resultado desse processo um aprofundamento cada vez maior da
segregao scio-espacial no apenas ao nvel local (municipal), mas mesmo ao nvel
regional na medida em que o processo envolveu toda a regio metropolitana em torno do
municpio-ncleo. Inclusive, em municpios perifricos surgem esses condomnios no
apenas para os segmentos de alta renda da metrpole, mas tambm para a classe mdia
local que parece ver, nessa forma de urbanizao atrs de muros, um incremento da
qualidade de sua vida e da sua segurana.
No abordaremos, no presente trabalho, essas formas j mais tradicionais da
implantao de condomnios fechados ou enclaves fortificados (CALDEIRA, 2000, p.
211) no interior das metrpoles do pas. O que nos interessa e preocupa a difuso
dessa forma de moradia e urbanizao para alm das fronteiras das regies metropolitanas.
Pois, os condomnios fechados esto presentes tambm quando, desde a dcada de 1980,ocorre um maior espraiamento da distribuio populacional (MARTINE, 1994) que leva
substituio do padro espacial concentrador do crescimento da populao urbana no
perodo inicial da urbanizao brasileira (SANTOS, 1993).
Aparentemente h uma certa semelhana entre as formas de ocupao urbana e a
implementao de empreendimentos imobilirios as da urbanizao fechada nos dois
lugares distintos que acabamos de mencionar: entre aquelas no ncleo da metrpole e as
outras em rea peri-metropolitana onde o tecido urbano ainda apresenta traos rurais maisfortes.
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Num quarto momento, sero interpretadas as formas de expanso da metrpole e
especialmente aquelas que nos observamos no caso do Rio de Janeiro - como expresso do
esgotamento de uma apropriao do espao urbano que chega aos limites de uma
contradio entre espao do consumo e consumo do espao, como colocado por
Lefebvre. Coloca-se a pergunta se a apropriao do espao pelas classes mdias e altas
cariocas em reas peri-metropolitana pode ser um sinal para o surgimento de um novo
padro espacial fora da metrpole. Como hiptese, essa possibilidade no pode ser de toda
excluda quando se segue a concepo do espao social de Lefebvre. Ou seja, vlido
perguntar se assistimos, hoje, ao surgimento de alguma nova forma de urbanizao que
talvez possa sinalizar o advento da sociedade urbana (LEFEBVRE, 1999) ou de uma
sociedade do lazer (KRIPPENDORF, 1989, p. 151 ss.)?
Ou, enquanto hiptese contrria, a mencionada ocupao de reas peri-
metropolitanas apenas significa a extenso das formas de segregao scio-espacial que j
se observa no bojo da prpria regio metropolitana? Portanto, na quinta parte do trabalho,
ser discutida a atuao das classes mdias e altas no contexto de um determinado quadro
de valores subjacente s suas prticas que sugerem essas prticas propiciarem apenas
mera reproduo social da sociedade e do espao contemporneos.
bvio que esse exerccio de reflexo se reportou, durante o processo de sua
elaborao (RANDOLPH, 2004a; RANDOLPH, 2005; RANDOLPH, LOPES, 2006;
RANDOLPH, LOPES, 2007; RANDOLPH, GOMES, 2007), a determinadas referncias
empricas que foram mencionadas antes, mas que no vo poder ser explicitadas aqui.
Seriam duas diferentes reas dentro e fora da regio metropolitana do Rio de Janeiro: por
um lado, os fenmenos dos condomnios fechados num bairro no Rio de Janeiro que pode
ser considerado como o paradigma metropolitano dessa forma de urbanizao fechada:
a Barra da Tijuca. Por outro lado, fora dessa regio, em situao peri-metropolitana, os
bairros mais distantes do centro histrico do municpio de Petrpolis que esto sofrendonos ltimos vinte anos as conseqncias da implantao deste tipo de empreendimento
imobilirio.
2. A transio da sociedade industrial para a sociedade urbana
Por meio da investigao da proliferao dos condomnios fechados ou da
urbanizao cerrada dentro e fora das regies metropolitanas do nosso pas manifesta-se
nossa preocupao profunda com o destino dessas metrpoles, ou melhor, com seus
habitantes. O estudo aqui apresentado toma como referncia emprica de fundo a Regio
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Metropolitana do Rio de Janeiro como j mencionado anteriormente. Essa delimitao
ainda bastante genrica pode ser mais bem especificada por meio de uma hiptese bsica
que permeia todo o trabalho: estamos querendo entender em que medida esses fenmenos
dos condomnios fechados apontam (ou no) para uma transio de uma forma de
sociedade (mais ou menos sob hegemonia da indstria e do capital) para uma outra que
ainda est em vias de nascer.
Essa transio ultrapassa o mero mbito das grandes cidades e metrpoles e
envolve toda a sociedade (e territrio) na medida em que indica o declnio da sociedade
industrial e o advento de uma sociedade urbana como Lefebvre (1999) j chamava
ateno h 50 anos. Nas palavras de Krippendorf (1989) seria possvel imaginar que a
transformao parte de uma sociedade do consumo e se dirige a uma sociedade do lazer
(interessante ver aqui a idia da cidade ldica em LEFEBVRE, 2001). nossa convico
que, em ambos os casos, a identificao dos primeiros indcios de uma nova sociedade
exigiria a delimitao de uma rea especfica (espao-tempo determinado) onde, talvez,
pudessem ser encontrados primeiros sinais dessa transformao.Expressa-se a, obviamente, uma opo metodolgica que parte da compreenso de
uma dialtica entre o universal e o especfico (LEFEBVRE, 1979). As mudanas
universais no existiriam sem sua manifestao no singular; e essas manifestaes apenas
sero compreendidas como particulares em relao aos movimentos universais dos quais
fazem parte. Mais ainda, antes de arriscar qualquer observao sobre o futuro, precisamos
investigar os campos dos possveis de certos grupos ou classes sociais enquanto
objetivo em direo ao qual o agente supera sua situao objetiva (SARTRE, 1967).
Portanto, diante da hiptese do advento de uma sociedade urbana ou de lazer necessrio
estudar em que direo as cidades esto sendo transformadas pelos agentes responsveis
por sua produo. Aps a identificao desses campos de possveis dos principais
agentes que se anunciam objetivamente no presente poderiam ser, talvez, apreciadas aspossibilidades de ocorrerem transformaes que possam dar origem sociedade urbana.
Essa tarefa de reconhecer a transio no espao torna-se particularmente mais
difcil - e isto provavelmente por bastante tempo se pensarmos nas escalas temporais das
grandes transformaes que ocorreram na histria da humanidade diante do poder de
perpetuao do prprio espao como nos alerta Milton SANTOS:
O fato, porm, que cada estrutura do todo reproduz o todo. Assim, em uma
fase de transio, as estruturas vindas do passado, ainda que parcialmente
renovadas, tendero a continuar reproduzindo o todo tal com era na fase
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precedente. Todavia, se cada estrutura conhece o seu prprio ritmo de mudana,
a estrutura do espao a instncia social de mais lenta metamorfose e
adaptao. Por isto, ela poder continuar, por muito tempo, a reproduzir o todo
anterior, a situao que se deseja eliminar.(SANTOS, 2004, p. 75, 76, destaque
nosso)Por essas razes, no a prpria metrpole do Rio de Janeiro que oferece melhores
condies como objeto para nossa reflexo, mas sua periferia metropolitana expandida
que tem caractersticas nicas em relao a periferias de muitas outras mega-cidades. Pois,
em boa parte ela parece surgir como rea de residncia fixa de uma ocupao anterior que
teve uma outra funcionalidade: a de ser lugar de lazer, de descanso e recreio de uma
parcela da populao carioca de mdia a alta renda. nossa hiptese (vide tambm
RANDOLPH 2004a) que suas qualidades que a capacitaram para um uso turstico local
podem dar origem a uma forma de urbanizao que no seja meramente uma extenso
territorial da forma metropolitana tradicional (TASCHNER, BOGUS, 2000). E, com isto
apontar para o surgimento daquilo que acima foi chamada de sociedade urbana.
No atual trabalho no pretendemos aprofundar a discusso acerca dos mltiplos
processos que podem estar ligados transio para a sociedade urbana e ocorrendo numa
rea em torno da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. Referimo-nos, no nosso debate,
a determinados segmentes das classes mdias e mdias-altas que se tornam protagonistas
nessa rea peri-metropolitana (RANDOLPH 2005; RANDOLPH, GOMES 2007) no
apenas do prprio processo da expanso na medida em que constroem suas casas de
veraneio nas praias, nos lagos ou na serra; mas tambm so os responsveis pela difuso de
condomnios fechados como uma determinada forma de ocupao do solo.
Particularmente observaremos as mudanas que esto ocorrendo em lugares tanto
peri-metropolitanas (fora da metrpole) como peri-urbanas (fora do tecido urbano) no
alto da Serra de Petrpolis. nossa hiptese de que a ocupao de veraneio e segunda
residncia, concentrada em determinados distritos do municpio de Petrpolis, no
apenas um caso ilustrativo para nosso estudo, mas que representa elementos que a tornam
paradigmtica para estudar aqueles campos dos possveis das prticas sociais e espaciais
dessas classes sociais..
Portanto, essa delimitao espao-temporal, no deve ser vista como restrio para
nossas reflexes na medida em que pode permitir uma comparao em diferentes nveis e a
respeito de diversos critrios entre as mesmas formas de ocupao em diferentes reas:
entre, por um lado, aqueles empreendimentos que se encontram dentro do ncleo
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metropolitano com, por outro lado, aqueles construdos fora de sua (quase) imediata
influncia (vide RANDOLPH, LOPES 2006; RANDOLPH, LOPES 2007). No obstante,
no atual trabalho no vamos enredar nesse caminho.
3. A produo (social) do espao social
Como acabamos de mencionar, a demarche da nossa reflexo no procurar
confrontar duas realidades diferentes para apreciar se h ou no diferentes lgicas
presentes na estruturao do espao por meio de condomnios fechados. O que se pretende
aqui uma apreciao das prticas sociais (e espaciais), dos valores que nelas se
expressam e das suas possveis conseqncias em relao quelas classes ou segmentos
sociais que so responsveis pela implantao desses empreendimentos fora das regies
metropolitanas. Trabalhamos, desde o princpio, com duas possveis interpretaes: que
essa ao pode ser simplesmente a expresso de uma utopia burguesa ou, quem sabe
surpreendentemente, contribuir para a revoluo urbana (RANDOLPH, 2005).
A resposta a essa dvida depender, ao nosso ver, da compreenso dos significados
dos mencionados empreendimentos para a estruturao do espao (social). Para avanar,
ento, na compreenso lanamos mo de um referencial conceitual bastante geral como se
apresenta na teoria da produo social do espao social de Henri Lefebvre (1991). Alm
disto e em decorrncia, sero aqui apresentadas as reflexes do mesmo autor acerca dasuperao (no sentido dialtico) da cidade industrial, do advento da sociedade urbana
(LEFEBVRE 1999), da gnese do espao abstrato do (neo-) capitalismo e da passagem das
contradies desse espao abstrato para um espao diferencial (LEFEBVRE 1991).
Portanto, iniciaremos nossa reflexo com a discusso do conceito do espao (social)
como produo social, elaborado por Lefebvre (1991). Essa teoria permite superar a
segmentao analtica do espao (e dos movimentos) que encontrada em uma grande
parte das abordagens espaciais tanto nas disciplinas mais voltadas para a temtica doespao (geografia, arquitetura, urbanismo, planejamento etc.) como ainda em maior
proporo naquelas que investigam meras dimenses espaciais de fenmenos
sociolgicas, econmicas, polticas ou culturais (vide para o prximo tambm
RANDOLPH 2003).
Sem nomear essas diversas perspectivas e abordagens, seguimos imediatamente a
afirmao de Lefebvre que necessrio descobrir ou construir uma unidade terica entre
campos que so apreendidos separadamente, como o so as foras moleculares,
eletromagnticas e gravitacionais na fsica (LEFEBVRE 1991, p. 11). A partir da, o autor
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inicia a procura por uma teoria unitria baseada na proposio de que o espao (social)
um produto (social) (LEFEBVRE, 1991, p. 26). A importncia dessa teoria elaborada
particularmente no seu livro Produo do Espao (LEFEBVRE 1991) fica bem
explicitada pelas seguintes observaes de Stuart Elden (2001). Esse autor constata que
Lefebvre no procura apenas corrigir uma caracterstica dos tempos modernos expressa na
falta de equilbrio entre tempo e espao, mas quer enfatizar a historicidade da experincia
tanto temporal como espacial, opondo-se assim a Kant. Segundo Elden, Lefebvre defende
que
.. sem serem mais vazias recipientes Kantianas formais, nem mais categorias daexperincia, tempo e espao podem ser experimentados enquanto tais, e suaexperincia foi relacionada diretamente s condies histricas dentro as quaisforam experimentadas. Para Lefebvre, obviamente, essas condies histricasso diretamente ligadas ao modo de produo: conseqentemente tambm a
produo do espao. Lefebvre pretendia realizar dois movimentos principais noseu trabalho.Primeiro pr o espao para cima com e ao lado do tempo em consideraes dateoria social, e, ao fazer isto, corrigir a vacuidade dos recipientes Kantianos deexperincia. A espacialidade to importante quanto a temporalidade e ahistria, mas no deve obscurecer consideraes a respeito delas: espao etempo aparecem e se manifestam como diferentes, contudo no separveis.(LEFEBVRE, 1991)Secundariamente ele desejou usar esta nova compreenso crtica para examinaro mundo (moderno) no qual ele estava escrevendo. Isto realizado por umaanlise de como o espao produzido, e como experimentado. O espao produzido em dois modos, como uma formao social (modo de produo), ecomo uma construo mental (concepo) (ELDEN, 2001, traduo nossa).
O que significa, ento, o espao? O prprio livro de Lefebvre, ao qual nos
referimos, apresenta, em seu primeiro captulo, uma extensa discusso a este respeito, ao
recuperar os diferentes significados desde a antigidade grega at concepes mais
contemporneas. Constata que, at recentemente, dominou a viso cartesiana baseada
numa diviso entre res cogitans e res extensa. O espao, res extensa, foi pensado em
termos geomtricos de coordenadas, linhas e planos.
O espao geomtrico abstrato, da mesma forma como o tempo cronolgico em
sua abstrao do concreto. Elden relaciona essa perspectiva da crtica ao espao
geomtrico com Heidegger. S se experimenta o espao enquanto geomtrico, por
exemplo, ao se usar um martelo (prtica espacial) para pensar; quando, este ento ser
conceituado. A j encontramos um dos momentos chave para a compreenso do espao
com base numa trade; e, exatamente essa trade que constitui a base para a compreenso
da produo do espao.
Mas, vejamos mais uma vez Elden e como apresenta o raciocnio de Lefebvre:
Nosso modo de reao em relao ao espao no geomtrico, apenas nossomodo de abstrao o . H uma oposio estabelecida entre nossa concepo de
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espao - abstrata, mental e geomtrico - e nossa percepo de espao - concreta,material e fsico. .. [A percepo] toma como seu ponto de partida inicial ocorpo que Lefebvre v como o local de resistncia dentro do discurso do poderno espao. Espao abstrato, descorporalizado, , como ele sugere, ainda umoutro aspecto de alienao.Para progredir no entendimento do espao, precisamos apreender o concreto e o
abstrato juntos. Como foi discutido em "Le materialisme dialectique", se apenasum considerado e tornado absoluto, uma verdade parcial torna-se um erro:"Rejeitando uma parte do contedo, sanciona-se e agrava-se a disperso doselementos da realidade." Da mesma maneira que Lefebvre descreveu o Estadocomo uma "abstrao realizada (percebida)", tambm o espao percebido (emambos os sensos da palavra) como abstrao. Obviamente, aqui h um uso deidealismo e materialismo conjuntamente. Espao um construto mental ematerial. Isto nos proporciona um terceiro termo entre os plos da concepo epercepo, a noo da vivncia. Lefebvre argumenta que espao humano e otempo humano acontecem metade na natureza, e metade na abstrao (ELDEN2001; traduo nossa).
Pode-se levantar dvidas em relao a algumas formulaes de Elden: por exemplo,
o uso da oposio concreto abstrato est, em boa parte, mais prximo discusso dopensamento em movimento de Lefebvre na Lgica Formal / Lgica Dialtica (1979)
do que na Produo do Espao (1991) onde trabalha com a diferenciao absoluto -
abstrato diferencial, como antes mencionado; quando fala do espao abstrato como
alienao refere-se ao contrrio do espao absoluto (e no do concreto).
Mesmo assim, essa breve passagem introduz, de uma forma simplificada, a trade
de momentos, em ltima instncia inseparveis, s vezes contraditrios e conflitantes, que
representa o ncleo da teoria nica do espao que o autor procurava: o percebido, queLefebvre identifica depois com as prticas espaciais; o concebido que est ligado s
representaes do espao; e o vivido que est relacionado aos espaos de representao; em
suas prprias palavras descreve esses trs momentos da seguinte forma:
(i) Prtica espacial que abrange tanto a produo como a reproduo, comotambm os locais particulares e conjuntos espaciais caractersticos de cadaformao social. (LEFEBVRE, 1991, p. 33) .. A prtica espacial de umasociedade secreta o espao da sociedade; o prope e pressupe, numa interaodialtica;... Do ponto de vista analtico, a prtica espacial de uma sociedade revelada pela decifrao de seu espao. ... [Sob o neo-capitalismo, a prtica
espacial].. incorpora uma associao ntima, dentro do espao percebido, entrerealidade diria (..) e realidade urbana (..) (LEFEBVRE, 1991, p. 38; traduonossa).(ii) Representaes do espao vinculadas s relaes de produo e ordem queessas relaes impem, e consequentemente ao conhecimento, sinais, cdigos, erelaes frontais (LEFEBVRE, 1991, p. 33) [So].. espaos conceptualizados, oespao de cientistas, planejadores, tecnocratas e engenheiros sociais... - todosidentificam o que vivido e percebido com o que concebido. ... Este oespao dominante em qualquer sociedade (ou modo de produo). Concepesdo espao tendem,.., para um sistema de sinais verbais (e ento intelectualmentetrabalhados). (LEFEBVRE, 1991, p. 38 s.; traduo nossa)(iii) Espaos de representao, incorporando simbolismos complexos, s vezescodificados, s vezes no, relacionados ao lado clandestino ou subterrneo da
vida social, como tambm arte (..). (LEFEBVRE, 1991, p. 33) Espao comodiretamente vivido atravs de suas imagens associadas e smbolos, e
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consequentemente o espao de "habitantes" e "usurios", mas tambm de algunsartistas e talvez daqueles.. , que descrevem e no aspiram fazer mais do quedescrever. Este o espao dominado .. que a imaginao busca mudar eapropriar. Ele se sobrepe ao espao fsico, na medida em que faz uso simblicode seu objeto. Assim, pode ser dito que espaos de representao .. tendem parasistemas de smbolos no-verbais e sinais mais ou menos coerentes
(LEFEBVRE, 1991, p. 39 - traduo nossa).Elden (2001) apresenta num esquema a unidade do espao fsico, mental e social da
seguinte maneira:
prticaespacial
espaopercebido
percebido fsico materialismo
representaesdo espao
espaoconcebido
concebido mental idealismo
espaos derepresentao
espaovivido
vivido social materialismo
Na opinio de Elden, a contribuio central de Lefebvre a noo do espao
vivido. Como procura mostrar, essa noo deve-se influncia de Heidegger em muitas
partes da obra de Lefebvre; Lefebvre aproximou Heidegger a Marx.
Atravs de seu trabalho a respeito de Nietzsche e Hlderlin, Heideggerincorporou uma compreenso do potico em sua obra, que foi crucial para anoo espacial da habitao potica, uma noo da experincia vivida da vidacotidiana. O uso de Lefebvre de habitar uma traduo direta do wohnen deHeidegger. Realmente, em vrios lugares, Lefebvre cita o poema de Hlderlin "ohomen habita poeticamente", e menciona a discusso de Heidegger
positivamente. A sugesto de Lefebvre que habitar [habiter] foi reduzido noo de habitat acontece paralelamente constatao de Heidegger de umacrise no habitar [wohnen]. Como nota Lefebvre, explicitamente seguindoHeidegger, esta crise resulta de um tipo estranho de excesso: uma obsesso paramedio e clculo (ELDEN, 2001, traduo nossa).
Entretanto, a noo do espao como vivido no por si s suficiente, continua Elden um
pouco depois. Conforme esse autor, Lefebvre critica Heidegger que falhou em
compreender a noo da produo na sua profundidade e abrangncia. Como, ento,
poderia proceder a uma anlise do espao? Prossegue Elden:
Da mesma maneira que o social formado historicamente, da mesma forma moldado espacialmente. Igualmente o espao historicamente e socialmenteconfigurado. Os trs elementos do social, espacial e temporal moldam e somoldados um pelo outro. "Relaes sociais que so abstraes concretas no tmnenhuma real existncia salve dentro e atravs do espao. Seu suporte espacial" e, ns deveramos acrescentar, histrico. E ainda o espao no somente o lugar passivo [lieu] de relaes sociais. (Lefebvre, 1991) (ELDEN,2001, traduo nossa).
Em diferentes perodos histricos podemos, ento, encontrar diferentes espaos,
expresso e condio histricas de um modo de produo e de uma formao social
(especfica): Desde que, ex hipothesis, cada modo de produo tem seu prprio espao
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particular, a passagem de um modo para um outro precisa encaminhar a produo de um
novo espao. ... o exame de transies entre modos de produo vai revelar, realmente, que
um espao fresco [fresh] est sendo gerado durante essas mudanas, .. (LEFEBVRE,
1991, p. 46-47, traduo nossa)
Portanto, tomando como base essa conceituao podemos investigar (discutir) o
espao que surge com capitalismo e industrializao (modo de produo capitalista) que,
talvez, j esteja condenado a dar lugar a um novo espao de uma sociedade diferente eis,
alis, nosso problema formulado deste o princpio do atual texto.
Portanto, nossa preocupao refere-se histria do espao que, como diz
Lefebvre (1991, p. 48), no pode ser limitada a um estudo dos momentos especficos que
foram constitudos atravs da formao, estabelecimento, declnio e dissoluo de um
determinado cdigo espacial (este cdigo rene sinais verbais palavras e frases e no
verbais msica, sons, construes arquitetnicas). H aspectos globais a serem
considerados (modos de produo e outras generalidades). Alm disto, pode-se esperar da
histria do espao periodizaes do processo de produo que no correspondem quelas
amplamente aceitas.
3. O espao abstrato e suas contradies
Lefebvre mesmo apresenta, na base da conceituao acima indicada, umadiferenciao do espao em absoluto e abstrato que importante para ns porque explicita
origens e caractersticas do espao social da sociedade (cidade) industrial capitalista.
O espao absoluto foi constitudo por fragmentos da natureza localizados em
lugares que foram escolhidos por causa de sua qualidade intrnseca. Logo perde seu carter
natural apesar de manter alguns de seus aspectos - na medida em que foi apropriado por
foras polticas ou religiosas. Ao mesmo tempo civil e religioso, o espao absoluto
preserva e incorpora linhas de sangue, famlia, relacionamentos sem mediao mas ostranspe para a cidade, o estado poltico fundado na cidade (LEFEBVRE, 1991, p. 48).
Com o carter religioso e poltico, esse espao foi um produto da estreitas relaes de
consanginidade, solo e linguagem.
deste espao, passando por uma fase do espao histrico, que surge o espao
abstrato na medida em que a atividade produtiva (trabalho) deixou de estar unida ao
processo de reproduo que perpetuou a vida social. Tornando-se independente desse
processo, o trabalho tornou-se preso abstrao enquanto trabalho social abstrato. O
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espao abstrato funciona como objeto: como um conjunto de coisas/sinais e seus
relacionamentos formais: vidro e pedra, concreto e ao, ngulos e curvas, cheio e vazio.
O espao abstrato no definido na base do percebido com o desaparecimento de
rvores ou retrocesso da natureza; os espaos grandes e vazios do Estado e dos militares,
ou os centros comerciais cheios de mercadorias. Ele relaciona-se negativamente com tudo
que est na sua base: as esferas histricas e religioso-polticas. Positivamente funciona
frente s suas prprias implicaes: tecnologia, cincia aplicada e conhecimento
comprometido com o poder. Pergunta Lefebvre: Isto significa que esse espao pode ser
definido em termos de uma alienao reificadora, na suposio que o meio (ambiente,
milieu) da mercadoria tornou-se em si uma mercadoria? (LEFEBVRE, 1991, p. 50)
Talvez, responde, mas a negatividade do espao abstrato no pode ser negligenciada, e
sua abstrao no pode ser reduzida a uma coisa absoluta. De qualquer forma, ele
dissolve e incorpora tais sujeitos anteriores como aldeias e cidades e tende para a
homogeneidade, a eliminao de diferenas e peculiaridades a segregao social e
espacial nas grandes cidades de hoje apenas aparentemente depe contra essa afirmao.
Uma outra caractersticas do espao abstrato a de que seu nico ponto de
referncia a genitalidade apesar de negar o sensorial, o sensual e o sexual (LEFEBVRE,
1991, p. 49 s.). A reproduo das relaes sociais compreendida de uma forma simplista
como mera reproduo biolgica. Para este espao abstrato do neo-capitalismo a trade das
prticas espaciais, representao do espao e espaos de representao se apresenta da
seguinte forma:
- a prtica espacial est sendo exercida sob predomnio da reproduo de relaes
sociais;
- as representaes do espao se tornam escravos de conhecimento e poder o que
leva aos
- espaos de representao a limitao ao trabalho, imagem e a memrias cujo
contedo nem sensorial, nem sensual e nem sexual e que so to deslocados que o
corpo aparece apenas como fora simblica. (LEFEBVRE, 1991, p. 50)
Pergunta o autor: este espao durar para sempre? E responde que provavelmente
no, porque ele mesmo comporta contradies especficas que podem virar sementes para
um novo tipo de espao: o espao diferencial, o espao da sociedade urbana (de um novo
modo de produo).
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Assim, em relao ao espao abstrato das sociedades contemporneas (industriais),
Lefebvre identifica diferentes contradies que so intrnsecas a esse espao (vide
RANDOLPH, 2004). Como uma entre vrias contradies, chama a ateno para aquela
entre quantidade e qualidade (LEFEBVRE, 1991, p. 352, traduo nossa). Espao
abstrato mensurvel. Ele no apenas quantificvel com espao geomtrico, mas, como
espao social, ele sujeito a manipulaes quantitativas: estatsticas, programao,
projeo todas so operacionalmente efetivos aqui. A tendncia dominante, portanto,
em direo ao desaparecimento do qualitativo, assimilao abaixo de um tal tratamento
brutal ou sedutor (seductive).
Mas, no final, diz ele, o qualitativo resiste com sucesso absoro pelo
quantitativo, da mesma forma como o uso resiste subordinao ao valor. Chega o
momento quando as pessoas em geral abandonam o espao do consumo que coincide com
a histrica localizao da acumulao do capital, com o espao da produo e com o
espao que produzido. Este ltimo, continua Lefebvre (1991, p. 352), o espao do
mercado, o espao atravs do qual os fluxos seguem seus passos, o espao controlado pelo
Estado. Por isto, um espao rigidamente quantificado.
Quando as pessoas saiam desse espao elas se movem em direo ao consumo do
espao (uma forma improdutiva do consumo). Este momento o momento da partida: o
momento dasfrias das pessoas (LEFEBVRE ,1991, p. 353).
4. A superao do espao abstrato atravs da produo do espaodiferencial
A anteriormente apontada, suposta potencialidade das classes mdias e altas em
contriburem para uma revoluo urbana se baseia numa anlise de certas de suas
prticas espaciais e de determinados de seus espaos de representao. Aquelas formas de
ocupao de reas peri-metropolitanas que foram apresentadas no incio do presente
trabalho podem ser interpretadas como condies e expresses de mudanas de prticas
dessas classes ou segmentos sociais nestes momentos da trade espacial.
Essa potencialidade est relacionada contradio do espao abstrato vivenciado
basicamente pelos segmentos sociais aqui sob observao e tentativa de escapar dele
ao procurar o uso qualitativo do espao em lugares onde a moradia pode ser articulada
tranqilidade, ao lazer e descanso ou , em uma palavra, onde o espao do consumo pode
ser trocado pelo consumo do espao.
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Essas condies podem estar disponveis, hipoteticamente, nas reas peri-
metropolitanas das metrpoles que contam com um acesso relativamente fcil ao ncleo
metropolitano. Quando se fala de reas com essas qualidades, pensa-se, normalmente, em
reas de vocao turstica. Pois, as qualidades para recreao e lazer; a presena de ar
puro, da beleza natural, gua cristalina, aventura (trekking, rafting etc.), sade e segurana
so exatamente os elementos chave para compreender o sentido ou significado do
abandono das classes abastadas da metrpole.
Ou seja, pergunta-se, ser que a instalao de segmentos das classes mdias e altas
nestes espaos de lazeres (KRIPPENDORF, 1989) reproduzem ou no as relaes de
produo e contribuem portanto para sua manuteno e para sua consolidao
(LEFEBVRE, 1973, p. 96).
Num primeiro momento, pensando em compreender as prticas espaciais
relacionadas a essa forma de ocupao de reas peri-metropolitanas, ser preciso refletir
sobre o significado das relaes destes espaos com a produo e reproduo social e sua
potencialidade de oferecer uma certa qualidade para aqueles que esto vivendo no (e
querendo fugir do) espao quantitativo das grandes cidades e regies metropolitanas
(RANDOLPH, 2005)
Em princpio quando se pensa mesmo na indstria do turismo, esses espaos de
lazer reproduzem as relaes de produo e contribuem portanto para sua manuteno e
para sua consolidao (LEFEBVRE, 1973, p. 96),. Isto fica explcito quando o autor se
refere ocupao da costa mediterrnea da Frana na dcada de 70 do sculo XX (e, quem
sabe, isto valeria tambm para as costas brasileiras nos sculo XXI): Os espaos de lazer
constituem objeto de especulao gigantesca, mal controlada e freqentemente auxiliada
pelo Estado (construtor de estradas e comunicaes, aval direto ou indireto das operaes
financeiras etc.). O espao vendido a alto preo aos citadinos expulsos da cidade pelo
tdio e pelo bulcio. ... Os lazeres entram assim na diviso do trabalho social, no sporque o lazer permite uma recuperao da fora de trabalho, mas tambm ... uma vasta
comercializao dos espaos especializados, e que entra na planificao global
(LEFEBVRE, 1973, p. 96).
Normalmente nas frias o momento quando as pessoas demandam um espao
qualitativo. Essas qualidades, como diz o autor, tem nomes que, obviamente, dependem do
lugar onde essas pessoas vivem; na Europa seriam sol, neve, mar (sun, snow, sea). Pouco
diferena faz se so naturais ou simulados. O que est desejado a materialidade e a
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naturalidade enquanto tais, redescobertas na sua (aparente ou real) imediaticidade
(LEFEBVRE, 1991, p.353).
Nestes termos de Lefebvre, acreditamos que a referncia emprica da nossa reflexo
a ocupao da rea peri-metropolitana do Rio de Janeiro por casas uni-familiares e
empreendimentos imobilirios de pequeno porte - pode ser compreendida como uma das
possveis expresses de uma contradio entre o espao abstrato (dominante) e um espao
qualitativo cujo usufruto est, geralmente, relegado a um tempo especfico das pessoas: s
ferias que antigamente eram contingentes, mas hoje se tornaram um momento necessrio
ao menos nos pases industrializados.
Pois, so os j mencionados segmentos sociais mdios e altos que, facilitado pelas
circunstncias de sua vida (profissional, pessoal), que tm a possibilidade de vivenciar essa
contradio de uma forma mais prxima, imediata e simultnea, quando constroem suas
casas ou mesmo compram seus apartamentos de campo na Serra que podem ser
alcanados em uma hora ou uma hora e meia a partir do centro da metrpole tempo que
tambm podem ficar no engarrafamento quando percorrem o caminho entre lugar de
moradia e lugar de trabalho dentro da cidade. O desejo, por exemplo, das pessoas de
escapar do domnio do espao abstrato teria, ento, um sentido de resistncia e de
contestao das formas abstratas da vida e do espao fetichizado (LEFEBVRE, 1991, p.
355). Provavelmente no se trata aqui da nica expresso social de revolta contra esse
espao abstrato que observamos hoje me dia mas, de qualquer forma, poderia ser
compreendido assim. Portanto, no podemos negar totalmente a possibilidade de um certo
potencial deste grupo (classe mdia) em tornar-se protagonista de maiores mudanas
sociais na medida em que suas prticas espaciais, representaes do espao e espaos de
representao (valores, hbitos) se opem forma dominante da organizao espacial da
sociedade; ainda mais se no s sentissem essa e outras contradies e oposies, mas
transformassem esse sentimento em projeto (RANDOLPH, 2004). Talvez a cabe ummaior ceticismo quando se observa o comportamento histrico dessas classes.
Uma transformao neste sentido poderia transformar ao menos parcelas do espao
abstrato da sociedade industrial em um espao diferencial da sociedade urbana por meio
da mobilizao de diferenas num nico movimento (incluindo diferenas de origem
natural, cada uma delas a ecologia tende a enfatizar isoladamente): diferenas de regime,
pas, localizao, grupo tnico, insumos naturais etc. (LEFEBVRE, 1991, p. 64).
Esse direito de ser diferente s pode fazer sentido, continua Lefebvre, quando sebaseia numa luta prpria de estabelecer diferenas que garante que as diferenas assim
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geradas se distinguem tanto de caractersticas naturais distintivas (espao absoluto) como
daquelas diferenciaes induzidas dentro do espao abstrato existente. Novamente, a
questo se coloca com relao ao potencial do deslocamento dos segmentos sociais mdios
e altos da metrpole de estabelecer essas novas diferenas e no, como demonstra a
histria, serem as principais foras conservadoras de reproduo social e espacial
(RANDOLPH, 2004b).
Portanto, a passagem da sociedade industrial para a sociedade urbana estar
vinculada superao (tanto no pensamento linguagem - como na prtica) de oposies
e separaes que sero transformadas, nesta passagem, em diferenas imanentes. E, essa
sociedade urbana com seu espao diferencial caracterizar-se-ia por uma nova forma de
mobilidade que supera os diferentes aspectos entre festa e cotidiano, trabalho e consumo
etc..
A prpria contradio entre quantidade (valor) e qualidade (uso) dentro do espao
abstrato no est fundado numa oposio binria, mas numa interao entre trs pontos
(LEFEBVRE, 1991, p. 354): um movimento do espao de consumo para o consumo do
espao atravs do lazer. Ou em outras palavras, do cotidiano para o no-cotidiano atravs
da festa seja fingida ou no, simulada ou autentica. Ou do trabalho ao no-trabalho
atravs do questionamento (meio imaginado, meio real) da fadiga. Na verdade, essa
contradio est articulada a uma oposio entre produo e consumo (LEFEBVRE, 1991,
p. 354) e uma contradio entre diferentes escalas e carter ao mesmo tempo homogneo e
fragmentado do espao (LEFEBVRE, 1991, p. 355). O possvel projeto para um novo
espao chamado por Lefebvre de diferencial superaria essas contradies do espao
abstrato onde as mediaes acima mencionadas se tornariam imediatas (RANDOLPH,
2005).
Enfim, as classes ou segmentos mdios e altos poderiam contribuir para essa
revoluo urbana se suas prticas contribussem para a construo deste espaodiferencial; como falamos inicialmente, no pode-se excluir totalmente essa possibilidade
de certos segmentos (vanguarda) dessas classes agirem neste sentido. Continua, claro,
uma forte desconfiana que a maioria no segue exatamente esse caminho.
5. A reproduo da lgica do espao abstrato fora da metrpole
J a partir da reflexo do prprio Lefebvre possvel levantar dvidas a respeito
desse potencial de resistncia ou mesmo contestao ou subverso da ordem vigente pelas
classes mdias e altas no seu esforo de se deslocar para condomnios fechados fora das
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regies metropolitanas de resistir a ou mesmo contestar ou subverter as lgicas dominantes
de produo da espao abstrato metropolitano. Essa subverso passaria, na nossa
compreenso do autor, pela construo de um novo cdigo espacial, diferente daquele que
caracteriza o espao abstrato.
difcil de imaginar como esses segmentos ou classes sociais podem realmente
produzir um cdigo espacial diferente - ou seja numa linguagem comum para prtica e
teoria e tambm para moradores, arquitetos e cientistas que consegue expressar essas
diferenas no espao. Pois, o primeiro passo para construir um cdigo assim, seria
recapturar a unidade de elementos dissociados, ao derrubar barreiras como aquelas entre
pblico e privado e identificar tanto oposies como confluncias no espao que
atualmente no podem ser discernidas.
Isto juntaria nveis e termos que esto separados por causa de prticas espaciais
existentes e suas subjacentes ideologias: a escala micro ou arquitetnica e a escala
macro correntemente tratada como provncia de urbanistas, polticos e planejadores. O
mesmo valeria para o reino do cotidiano e o do urbano; dentro e fora; trabalho e no-
trabalho (festa); o durvel e o efmero etc. (Lefebvre 1991, p. 64).
O cdigo incluiria ento oposies significantes (por exemplo elementosparadigmticos) a serem achadas entre condies aparentemente discrepantes, eligaes (elementos sintagmticos) recobradas da aparentemente homognea
massa de espao politicamente controlado. Neste sentido, poderia ser dito que ocdigo contribui reverso da tendncia dominante e assim fazer um papel noprojeto global. Porm, vital que o prprio cdigo no seja tomadoequivocadamente como uma prtica. No deve ser permitida ento que a procurapor um idioma, sob nenhuma circunstncia, seja separada de prtica ou dasmudanas forjadas atravs de prticas (por exemplo do processo mundial detransformao).Um cdigo deste tipo deve ser correlato a um sistema de conhecimento. Reneum alfabeto, um lxico e uma gramtica dentro de um quadro global; e se situa -entretanto no de tal modo de exclu-lo - frente ao no-conhecimento(ignorncia e mal-entendido); em outros palavras, frente o vivido e percebido.Tal conhecimento est consciente de seu prprio carter aproximativo; imediatamente certo e no-certo. Anuncia sua prpria relatividade a cada
passo,... Este conhecimento precisa achar um caminho no meio entre por umlado o dogmatismo e a abdicao ao entendimento, por outro (LEFEBVRE,1991, p. 64-65).
O que mais provavelmente se encontrar nos levantamos essa hiptese aqui na
base da vivncia desses supostamente novos espaos e de alguma leitura de relatos dessas
experincias mesmo um movimento de mera fuga individual e de pequenos coletivos
(famlias, grupos de amigos etc.) um escapismo do incomodo das restries de
liberdades do prprio corpo que o espao abstrato impe vida na metrpole. A
proximidade natureza, o espao supostamente absoluto, vira, assim, justificativa para alivre expresso e vivncia de suas preferncias e iderios sem estar submetido s restries
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impostas pela vigilncia social (e policial) da metrpole que caracteriza seu espao
abstrato.
O que prevalece um individualismo (mesmo de grupos primrios como a famlia e
seus agregados) que encontra seu espao de realizao longe das limitaes e restries
inevitveis num espao abstrato que densamente povoado e intensamente aproveitado.
Como dizem WORTMAN e ARIZAGA (s.a.) a respeito das pessoas que vivem em
condomnios fechados: Detrs de esta eleccin de vida en apariencia sencilla, casi
automtica se despliega una teora del placer: aquella que enunciara Epicuro - otro
pragmtico - para ensear a los hombres un camino a la felicidad.Atravs desse vnculo doutrina do filsofo grego EPICURO, as autoras discutem
determinados valores que identificam na vida dos moradores desses condomnios.
Explicam as autoras:
La doctrina del filsofo griego Epicuro tiene un objeto exclusivamente prctico:est destinada a procurar la vida feliz a una minora, aislada del resto del mundo.Epicuro consideraba el placer como la felicidad. Esta felicidad eraesencialmente una evasin o liberacin del sufrimiento, un estado interior deignorancia del dolor y del temor.Se trataba, pues, de vivir experimentando el menor dolor posible, a la vez que elmximo placer. Todos deseamos el placer - sostiene Epicuro -; todo ser vivientese esfuerza por huir del dolor. La presencia del dolor nos hace desgraciados.Previamente a todo placer positivo, necesitamos liberarnos del dolor.El estado de perfecta ausencia de inquietud, la ausencia de toda clase de temores considerado por Epicuro y sus seguidores como cumplimiento supremo de lavida humana. El epicuresmo, lejos de cualquier ostentacin de virtud, era unsistema centrado sobre el propio individuo; una tica de la pura felicidadsubjetiva cuyo surgimiento se vincula con el quiebre del marco de la ciudad, queconstitua el punto de referencia para el griego. (WORTMAN, ARIZAGA s.a.)
Epicuro nunca insinuou que o interesse dos outros precisava ser preferido ou
valorizado independentemente do interesse do sujeito. Este no possui tendncias
naturais para uma vida em comunidade e seu conceito de justia no apresenta nem
obrigaes morais, nem sociais. A justia em Epicuro s requer que respeitemos os
direitos dos outros quando isto tem resultados vantajosos para todas as partes.
Los seguidores de Epicuro fueron conocidos como los "filsofos del jardn"(SIC!) ya que vivan en jardines de los cuales, segn la leyenda, colgaba unainscripcin con las palabras: "Forastero, aqu estars bien. Aqu el placer es elbien primero". Los refugios epicreos se asemejaban al encierro monstico perosin su componente fundamental: la mstica, la caridad o la preocupacin por elotro. Los adeptos buscaban a su lado el olvido de las preocupaciones de la vidacotidiana, un retiro seguro para huir de las desdichas de la existencia, ante cuyoslmites se detenan los males del exterior. (WORTMAN, ARIZAGA s.a.)
Quando se relaciona esses preceitos do Epicuro experincia da vida em
condomnios fechados, pode-se levantar a hiptese de que as pessoas que procuram por
esse estilo de vida esto orientados por valores profundamente egostas que buscam apenas
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o benefcio prprio, seu prprio prazer, ao mesmo tempo em que procuram fugir da dor
social. A forma fechada de urbanizao justifica-se, assim, pelo temor da violncia mesmo
no sentido mais amplo de um temor das demais pessoas, da dor e at da morte. Produz um
espao que permite ignorar as desigualdades e a dor alheia. E, como concluem as autoras,
como os desesperados seguidores do Epicuro, trata-se de buscar uma sada individual a
um mal-estar fundado no temor e encontrar um jardim longe dos olhares speros dos
outros (WORTMAN, ARIZAGA s.a.).
Na base dessa interpretao das prticas sociais e espaciais, chegaramos, ento,
concluso que essas classes e segmentos mdios e altos no s reproduzem o status quo,
mas ajudam a aprofundar as desigualdades scio-espaciais que caracterizam hoje o espao
metropolitano no nosso pas.
6. Breves consideraes finais
A convico que estamos diante ou prximo a uma transformao profunda da
sociedade capitalista contempornea encontra-se na bibliografia em diversas pocas em
diferentes autores. O advento da sociedade urbana foi a aposta de Lefebvre j em fins da
dcada de 1960; a idia de surgir uma sociedade de lazer de Krippendorf na dcada de
1980, como explicita no trecho seguinte:
Dentro de um ou dois decnios, tudo ter mudado, nada mais ser como hoje. Astransformaes so grandes. Est em vias de nascer uma sociedadefundamentalista diferente, capaz do melhor como do pior. Encontramo-nos nolimiar de uma nova era, sentimento to encorajador como inquietante, do qualcompartilham inmeros seres humanos. Muitos so aqueles que se voltam hojecontra um sistema de valores e ideais que foram aceitos durantes geraes pelasociedade industrial orientada para o trabalho. O sentido, o objetivo, a qualidadede vida so novamente questionados e exigem outra definio (KRIPPENDORF,1989, p. 148).
E, mais recentemente, na dcada de 1990, postulou Castells (1996) que estvamos
vivendo, j, na sociedade em rede.
No foi nosso propsito de tomar posio a respeito desses futuros possveis;nem nossa inteno de laurear, legitimar ou defender a atuao de determinados agentes
sociais como protagonistas progressistas e revolucionarios de uma possvel transio a uma
sociedade nova. Mas, tambm, no queramos denunci-los como simples foras
retrogradas e conservadores cujo nico interesse o de reproduzir ou aumentar seus
privilgios sociais.
Queramos, sim, chamar a ateno que h uma alternativa para esses segmentos
sociais de seguir um ou o outro caminho; h, mesmo talvez de forma reduzida, umpotencial para contribuir revoluo no sentido de Lefebvre. No nos parece haver
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nenhum determinismo histrico que os obriga a agir de uma determinada maneira. H,
certamente, valores, costumes e hbitos sociais destes segmentos que, talvez, tornem sua
ao em uma direo mais provvel do que a oposta.
A concepo do espao social como produto social de Lefebvre permite, ao nosso
ver, um debate acerca dessas duas alternativas que pode dar origem a investigaes e
proposies que, com relao a realidades concretas, podem indicar onde, at onde e em
que sentido essas novas ou velhas - formas de expanso metropolitana podem dar sua,
talvez modesta, contribuio para o surgimento de uma sociedade urbana e um espao
diferencial com menos injustias, desigualdades, pobreza, autoritarismo etc. Pode haver
experincias, tambm aqui, que no deveriam ser desperdiadas (vide a respeito do
desperdcio da experincia SANTOS, 2000) por causa de pr-conceitos referentes a
determinados grupos sociais.
neste sentido que o exerccio da nossa refletividade quer contribuir para que esses
segmentos mdios e altos da sociedade brasileira sejam chamados a assumir suas
responsabilidades na transformao social em direo a uma sociedade mais livre, justa e
fraterna na medida em que possuem potencialidades para tal como procuramos argumentar
nesse pequeno ensaio.
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