Professor: Elson Junior
Santo Antônio de Pádua, junho de 2018
Raimundo
Nina
Rodrigues
(1862-1906) e a
Antropologia
no Brasil dos
século XIX.
Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906)
• Nasceu em Vargem Grande, no Maranhão.
Filho de um coronel, cursou a Faculdade de Medicina
da Bahia, sendo incorporado como catedrático da
mesma em1891.
• Defendeu a introdução da área de Medicina Criminal
nas faculdades de Direito e a instituição de
manicômios judiciários no Brasil.
Principais obras e ensaios etnográficos:
• “Os mestiços brasileiros” (1890)
• “Antropologia patológica: os mestiços” (1890)
• “As raças humanas e a responsabilidade penal no
Brasil” (1894)
• “Negros criminosos no Brasil” (1895)
• “A Medicina Legal no Brasil” (1895)
• “Animismo fetichista dos negros baianos” (1896)
• “A loucura epidêmica de Canudos” (1897)
• “Antonio Conselheiro e os jagunços” (1897)
• “Mestiçagem, degenerescência e crime” (1899)
• “Atavismo psíquico e paranóia” (1902)
• “Os africanos no Brasil” (1890-1906); publicado em
1933.
“Quando vemos homens, como Bleek, refugiarem-se
dezenas e dezenas de anos nos centros da África
somente para estudar uma língua e coligir uns mitos,
nós que temos o material em casa, que temos a
África em nossas cozinhas, como a América em
nossas selvas, e a Europa em nossos salões, nada
havemos produzido neste sentido! É uma
desgraça.(...) O negro não é só uma máquina
econômica; ele é antes de tudo, malgrado sua
ignorância, um objeto de ciência” (Silvio Romero,
1888 apud Rodrigues, 2004:12).
SIGNIFICADO DA OBRA:
• Nina Rodrigues empreendeu um esforço etnográfico
inédito. Descreveu uma série de práticas culturais de
populações negras no Brasil, reunindo dados retirados
de fontes escritas e orais sobre “os últimos africanos
no Brasil”.
• Foi um dos primeiros autores brasileiros a colocar o
“problema do negro” como uma questão fundamental
para a compreensão da sociedade brasileira.
Perspectivas teóricas do autor
• Seu parâmetro de análise científica baseava-se na
ciência positivista: “observação documentada,
minuciosa e severa”, realizada com “isenção e
imparcialidade” (Rodrigues, 1935).
• Contudo, seu enfoque nos valores culturais, folclore,
línguas, religiões, festas populares e mitologia
orientava-se pelo determinismo biológico presente nas
teorias raciais do final do século XIX.
• Desta forma, a natureza e forma do sentimento
religioso dos negros baianos, a persistência do
fetichismo africano e da liturgia (feitiço, estado de
possessão, oráculos, sacrifícios, ritos funerários) é
concebida como produto da “incapacidade psíquica
das raças inferiores para as elevadas abstrações do
monoteísmo” (Rodrigues,1935:13) – propensos à
sugestão, sonambulismo e histeria.
• Adepto da antropologia criminal de Cesare Lombroso
(1876: “L’UomoDelinquente”).
• Determinismo biológico (indivíduos vistos como a
soma do seu grupo racio-cultural, eugenia) >>
darwinismo social.
• Raça: conceito não questionado.
• Influenciado pelas teorias raciais (Gobineau):
inferioridade das raças negras seria o produto da
marcha desigual do desenvolvimento filogenético da
humanidade - momentos diferentes de civilização:
“Para a ciência a inferioridade da raça negra nada mais
é do que um fenômeno de ordem perfeitamente natural,
produto da marcha desigual do desenvolvimento
filogenético da humanidade nas suas diversas divisões
ou seções” – outra fase de desenvolvimento intelectual
e moral.
• “A igualdade é falsa, só existe na mão dos
juristas, porque sem ela não existiria a lei”.
• Proposta de um Código Criminal diferente
para negros e brancos – capacidades diversas
exigiriam leis diversas.
Desigualdade na capacidade evolutiva e
civilizadora de negros e brancos:
“O negro, principalmente, é inferior ao branco, a
começar da massa encefálica, que pesa menos, e do
aparelho mastigatório que possui caracteres
animalescos, até as faculdades de abstração, que
nele é tão pobre e fraca. Quaisquer que sejam as
condições sociais em que se coloque o negro, está
ele condenado pela sua própria morfologia e fisiologia
a jamais poder igualar o branco”
Qual é o “problema negro?”
Clima tropical que espanta o branco
+
mestiçagem irrestrita
+
português improgressista.
OBS: Aquele que, nas cerimônias da igreja, leva o turíbulo.
[Figurado] Adulador: os turiferários do poder.
Objetivo
• Identificar “possíveis germes de precoce
decadência, que merecem ser sabidos e estudados,
em busca de reparação e profilaxia” – questão de
“higiene social”.
• Para Nina Rodrigues, resolver o “problema negro”,
significava responder as seguintes questões:
• Qual a capacidade cultural dos negros brasileiros?
Quais os meios de promovê-la ou compensá-la?
• Qual a conveniência de diluí-los ou compensá-los
por um excedente de população branca que assuma a
direção do país?
• Crítica à benevolência com indígena, negros e
mestiços: “fantasia-se dotes e exalta-se qualidades
comuns ou medíocres”.
• Não questiona a mestiçagem. Quer ver o que fazer a
partir desse dado constitutivo da nossa sociedade
para alcançar o desenvolvimento.
• Necessidade de medir a capacidade cultural da
população negra e estudar os meios de promovê-la.
• Defende o branqueamento com ressalvas: “produtos
imprevistos dos antagonismos e afinidades de raças
diversas que se fundem”, “influência que o
caldeamento étnico pode exercer sobre a
característica de uma nacionalidade em formação”.
O que importava ao Brasil determinar é o “(...) quanto
de inferioridade lhe advém da dificuldade de civilizar-
se por parte da população negra que possui e se de
todo fica essa inferioridade compensada pelo
mestiçamento, processo natural porque os negros se
estão integrando no povo brasileiro.”
• Como avalia as possibilidades de “evolução e
“civilização” dos negros?
Diz que eles podem evoluir, mas são mais lentos e
nunca vão chegar ao patamar dos brancos.
• O que propõe?
Branqueamento progressivo pela imigração
europeia >> Mestiçagem como processo
civilizatório.
• Considera “a supremacia imediata ou mediata da
raça negra nociva à nossa nacionalidade, prejudicial
em todo caso a sua influência não sofreada aos
progressos e à cultura de nosso povo”.
• Possibilidade de oposição futura entre Norte
(mestiço, indolente e subserviente) e Sul (onde o
clima e civilização eliminarão a raça negra, restando
uma “nação branca, forte e poderosa de origem
teutônica”) no Brasil.