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Economia8 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 19 de julho de 2015

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EEddiittoorr:: Vicente [email protected]

3214-1148

Salário de idoso bancaaté quatro gerações

BRASIL REAL/Mais de 17milhões de famílias no país têm como provedor alguém acima de 60 anos, o que representa quase25% dos lares. E o contingente de pessoas da terceira idade nomercado de trabalho não para de crescer

» ANTONIO TEMÓTEO» SIMONE KAFRUNI

E nvelhecer no Brasil setransformou em um fardopara milhões de pessoasque esperavam ter tran-

quilidade após a aposentadoria.O aumento da expectativa de vidaao nascer — hoje em 74,9 anos —contribuiu para uma existênciamais longa, mas impôs desafiospara a sociedade. Com a criseeconômica e o aumento do de-semprego entre os jovens, os ido-sos se veem obrigados a dar abri-go aos parentes que foram alija-dos do mercado ou não têm qua-lificação para conseguir um tra-balho bem remunerado.

Em muitos casos, aqueles quedeveriam receber os cuidados dafamília são obrigados a sustentaros bisnetos, que são sua quartageração, com os benefícios querecebem da Previdência Social.São comuns os casos em que pes-soas com mais de 60 anos têm defazer bicos para complementar arenda e conseguir bancar as des-pesas de uma casa cheia.

Assim vive a aposentada Gesí-lia Santos da Silva, 70 anos. Natu-ral de Correntes (PI), a idosa foiuma das pioneiras de Brasília.Migrou para a capital do país aos10anos,duranteasobrasdecons-trução do Distrito Federal. Ela secasou na cidade e deu à luz qua-tro filhos: Leandro, 44 anos; Lai-me, 38; Sebastião, 34; e Gabriel,24. Os homens saíram de casa econstituíram a própria família,mas a filha ainda vive com a mãena Estrutural para que as cri-anças possam ir à escola.

Laime tem dois filhos: Raisa,19, e José Carlos, de 4. A neta deGesília também é mãe, e a apo-sentadoria de um salário mínimoda idosa ajuda no sustento da bis-neta. Gesília reclama que o bene-fício mal dá para pagar o aluguel eas contas de água e luz. Para com-plementar a renda, ela precisatrabalhar como costureira em umprograma de capacitação profis-sional do Governo do Distrito Fe-deral (GDF), onde consegue umextra de apenas R$ 500.

A vida sofrida de Gesília é com-partilhada por milhões de brasi-leiros. Dados do Instituto Brasilei-rodeGeografiaeEstatística(IBGE)mostram que mais de 17 milhõesde famílias no Brasil têm um idosocomo provedor. Significa dizerque 24,89% do lares, ou quase umquarto, têm como responsável pe-lo sustento uma pessoa com maisde 60 anos. E o contingente deidosos no mercado de trabalhonão para de crescer.

InformalidadeNo primeiro trimestre de 2014,

eles formavam um contingentede 6 milhões de trabalhadores.No mesmo período de 2015, 6,5milhões de idosos estavam nomercado, dos quais 137 mil de-sempregados, mas em busca deuma vaga. Levantamento da Pre-vidência aponta que pelo menos480 mil aposentados se mantêmativos e ainda fazem contribui-ções ao Instituto Nacional do Se-guro Social (INSS). Especialistas,entretanto, avaliam que o núme-ro deve ser bem maior, já quemuitos estão na informalidade.E, com o rápido aumento do de-semprego, a tendência é que

mais pessoas busquem abrigo nacasa de pais e avós.

O presidente do Centro Inter-nacional de Longevidade Brasil(ILC-BR), Alexandre Kalache,avalia que o sistema de proteçãosocial brasileiro possui algumascontradições. Se, por um lado, ogoverno criou uma PrevidênciaSocial universal, que garanteuma renda mínima para todos ostrabalhadores, o valor do benefí-cio é insuficiente para bancar asdespesas, que só aumentam navelhice. Segundo ele, o custo devida no país é muito alto e a maio-ria da população é penalizadaporque tem renda baixa.

Para Kalache, o Brasil passa porum momento de transição demo-gráfica acelerada. O número depessoas com mais de 60 anos au-mentará muito nos próximos anose os problemas estruturais conti-nuarão sem solução. “O país enve-lheceu antes de enriquecer. A edu-cação pública de péssima qualida-de forma legiões de jovens sempreparo. A saúde também é precá-ria e as cidades não estão prepara-das para atender às necessidadesdos idosos”, resume.

A França levou de 1865 a 1980para que a proporção de idososna população passasse de 7% pa-ra 14%. No Brasil, essa transiçãoserá mais rápida. Se em 2015 o to-tal de brasileiros com mais de 60anos corresponde a 12% da popu-lação, em 17 anos aumentará pa-ra 24%. “O Canadá possui 24% dapopulação idosa e em 2050 terá

29,5%. Nesse mesmo período, oBrasil terá 31% dos habitantescom mais de 60 anos. Não temostempo a perder”, alerta Kalache.

DificuldadesA pesquisadora do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea) Ana Amélia Camarano ex-plica que, em momentos de criseeconômica, a família é chamadaa cuidar de filhos, netos e bisne-tos. Como 80% da população deidosos recebem um benefício daPrevidência e têm garantia derenda, são eles que passam a pro-ver o sustento de muitas gera-ções, apesar de o valor do benefí-cio, muitas vezes, ser insuficientepara custear as despesas de casa.

Ana Amélia destaca que dois fa-tores impediram os brasileiros depoupar e se preparar para enfren-tar momentos de dificuldades. Oprimeiro é que a renda da popula-ção é baixa, a inflação no país é altae isso impede que muitos façamqualquer economia. Além disso, ogoverno, que deveria ser o princi-pal incentivador do controle degastos e da educação financeira,motivou os brasileiros a consumirpara estimular a atividade. “De fa-to, a capacidade de poupança dobrasileiro é insuficiente. Não po-demos esquecer que mais de 30%das pessoas não contribuem parao INSS e isso será um problemanos próximos anos”, assinala.

Márcia Tavares, mestra e dou-toranda em engenharia de pro-dução pela Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), explicaque ter idosos no mercado não éum problema, porque os maisvelhos têm facilidade em agregarconhecimento e experiência aequipes de jovens. Entretanto, elaressalta que, no Brasil, faltamcondições para que as pessoascom mais de 60 anos se mante-nham ativas. Não há programasde educação continuada paraatualização dos trabalhadores, eo sistema de saúde precário im-pede a prevenção de doenças pa-ra que os idosos permaneçamaptos a trabalhar.

BolsasNasexta-feira

0,19%Nova York

1,37%SãoPaulo

InflaçãoDólar EuroSaláriomínimoBovespa CDB

13,15%R$3,463

Índice Bovespa nos últimos dias (em pontos) Na sexta-feira Últimas cotações (emR$)Comercial, vendana sexta-feira Na sexta-feira Prefixado

30dias (aoano)

IPCAdo IBGE (em%)Capitaldegiro

53.239

14/7 15/7 16/7 17/7

52.341 R$3,194R$788Fevereiro/2015 1,22Março/2015 1,32Abril/2015 0,71Maio/2015 0,74Junho/2015 0,79

10/julho 3,16113/julho 3,13114/julho 3,13915/julho 3,13616/julho 3,158

17,65%

Fotos: Rodrigo Nunes/Esp. CB/D.A. Press

Aaposentadoriamal dá para pagaras contas da casa.Preciso trabalharpara ajudara família”

Gesília Santos da Silva,aposentada

Fui dispensado (do emprego).Estou fazendoumbico aqui,outro ali.Mas está difícil.E, comaminha idade,ninguémquer contratar”

Valdir Pereira, vendedor aposentado

Pensãodistribuída

Sozinho,numbarracoaper-tado na Cidade Estrutural,com o mínimo para sobrevi-vência, o vendedorValdir Perei-ra,68anos,aposentadohápou-co mais de dois, poderia vivermelhor com os R$ 1.436 do be-nefício que recebe do INSS.Mas quase não vê a cor do di-nheiro. Se não continuar tra-balhando, falta para ele. É que,apesar da solidão na capital fe-deral, o mineiro de Governa-dor Valadares, que chegou comsete anos a Brasília, distribui opouco que ganha para quatrogerações da família. Com trêsfilhos biológicos e um adotivodo primeiro casamento, Valdirprecisa ajudar dois deles.

“Marcelo, o mais velho, tem42 anos, mas desde cedo teveproblemas com drogas. Boteipara morar comigo e ele meroubou. Já sumiu por váriosanos. Até morador de rua foi.Hoje, está na Bahia. Pareceque se ajeitou. Mas eu precisomandar dinheiro toda hora.Da última vez, foram R$ 400para pagar os documentos dacamioneta, que eu ajudei acomprar e que ele usa paratrabalhar”,diz,enquantoaten-de o celular. É o filho, ligandode longe. Marcelo tem duas fi-lhas que já deram dois bisne-tos a Valdir. A ex-mulher não odeixa conviver com a família.“Isso é triste. Mas a gente aju-da.Vai fazer o quê?”, lamenta.

Valdir também paga o alu-guel e as contas de água e luzda casa da filha Gabriela, de32 anos, mãe de Bruna, 13anos, e Alef, 7. “Faço as com-pras também. Os meninos es-tavam magrinhos, magrinhos.Não consigo ver isso”, diz Val-dir. Ele ressalta que, recente-mente, conseguiu um empre-go para a filha, mas fica ago-niado porque ela deixa ascrianças sozinhas e trancadas.“A maior cuida do pequeno,mas, se deixar a porta aberta,ela some no mundo.”

O aposentado não deixoude trabalhar, mas perdeu o úl-timo emprego. “Fui dispensa-do. Estou fazendo um bicoaqui, outro ali. Mas sou ven-dedor, sabe, e as vendas caí-ram muito com esta recessão.Está difícil. E, com a minhaidade, ninguém quer contra-tar”, reclama.

Valdir casou-se de novo,mas a esposa, Risoleta, 40anos, mora em Uberlândia,Minas Gerais, há cinco. Comela,Valdir tem mais dois filhos,Amanda, 7 anos, e Bruno, 16.“Eu ia visitá-los uma vez pormês, mas desde janeiro nãofui mais, porque estou ficandosem dinheiro com a dispensado trabalho”, diz. O aposenta-do sustenta mais essa casa, adistância. “A Risoleta ganhaR$ 400 para cuidar de um be-bê, mas eu tenho que mandardinheiro todos os meses paraas crianças. Eles sentem a mi-nha falta. Estou pensando emme mudar para lá para ver se asituação melhora.”.

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D e menina abandonadapela mãe alcoólatra, emCarolina, no Maranhão,criada desde a infância

por desconhecidos, trabalhandoem troca de abrigo e comida, amatriarca de uma família enor-me, e provedora de quatro gera-ções na capital federal. Essa é atrajetória de Conceição Ferreirada Silva, uma guerreira que nun-ca deixou a labuta e ainda hoje,aos 73 anos, costura numa fábri-ca social e vende dindim pelasquadras da Cidade Estrutural pa-ra engrossar a parca pensão e as-segurar que nada falte aos seus.Conceição é mais uma brasileirasem direito a descanso entre os6,5 milhões de idosos que perma-necem no mercado de trabalhosegundo o Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE).

Sem guardar rancor pela in-fância perdida, Conceição, umasenhorinha miúda, com uma gar-ra gigante, traz do passado a forçade quem não desiste nunca e adisposição para ajudar quem pre-cisa. Não teve sorte no casamentoe deixou o marido, com quem te-ve oito filhos, no Maranhão. Em

1994, mudou-se para Brasília, pa-ra a casa da filha Juraci, que já ti-nha se estabelecido na capital,onde trabalhava como emprega-da doméstica e, hoje, tem umponto de venda de caldos.“Quan-do cheguei, fiz de tudo. Trabalheina cozinha, como faxineira, saco-leira, vendendo bolo no mercado.Eu já vendi de tudo um pouconessa vida — comida, roupa, oque aparecia eu vendia para ga-rantir o sustento”, conta.

Dos sete filhos ainda vivos,apenas um permaneceu no Ma-ranhão. Todos os outros vieramaos poucos para o Distrito Fede-ral. Genilson, que ficou na terranatal, é caminhoneiro, e numadas viagens deixou na casa deConceição o filho Gustavo, hojecom 9 anos. “Garoto difícil de co-mer que só vendo”, diz a avó, queo cria com muito gosto. O filhoErson, 52 anos, casou-se com Al-derina,com qum teve as filhasTaís, hoje com 25 anos, e Tainara,22. Mas Erson, por causa de umacidente que quase lhe custou aamputação de um braço, perdeuos movimentos, a ponto de com-prometer seu trabalho.

Taís e Tainara também têmfilhos. Heitor, 5 anos, e Taila, 3,são de Taís; e a pequena Taiane,

de 11 meses, é o bebê de Tainara,que está grávida novamente. “Elaé uma mãe para nós todos. Ondeela está, a gente está junto”, dizAlderina, referindo-se à sogra.

Como Erson perdeu o benefíciode invalidez, está sem renda e fazapenas bicos para sobreviver,Conceição ajuda na casa do filho,paga as contas que precisa, faz

rancho quando falta a comida, eainda ajuda na criação e no sus-tento de netas e bisnetos. “Foi elaque me arrumou o emprego nafábrica”, diz a nora.

Conceição é aposentada poridade, ganha R$ 788 de pensão.“Mas isso não dá. Eu não parei detrabalhar porque sempre tive queajudar a família. Eu nunca deixeide vender minhas coisas. Hoje eufaço dindim e açaí. Dá para ga-nhar de R$ 30 a R$ 60 por dia ca-minhando pela Estrutural”, afir-ma. Além disso, ela trabalha naFábrica Social do Governo doDistrito Federal, onde aprimora oofício de costureira, aprende no-vas técnicas e ganha até R$ 500,dependendo da frequência, paraconfeccionar camisetas para a re-de pública de ensino.

Dos 18 netos, a avó tambémcria desde pequeno Mateus, hojecom 17 anos. “Esse deu trabalho,mas agora está lá no Buriti, no Jo-vem Candango (programa deaprendiz)”, conta, orgulhosa.Com tantos filhos, ressalta Con-ceição, sempre tem um, às vezesdois ou três, precisando dela, oupara criar netos ou necessitandode uma ajuda financeira. Masquando dá para reunir todos emalguma data especial, a festa é dasboas. “Dá uma penca de gente.Bisneto, eu já não consigo maiscontar. Tem nome que eu nemlembro. Mas eu ajudo mesmo as-sim. É o que me faz feliz.”

Uma vida dedicada a ajudarBRASIL REAL/ Aposentadas são arrimo de família, mas, com benefícios de apenas um salário mínimo, precisam encontrar

novas fontes de renda e seguir no mercado de trabalho para garantir o sustento de todos os dependentes

Rodrigo Nunes/Esp. CB/D.A. Press

Rodrigo Nunes/Esp. CB/D.A. Press

Aos 73 anos, Conceição Ferreira da Silva (centro) ainda assegura que nada falte aos filhos, netos e bisnetos

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Perspectiva artística meramente ilustrativa

L A N Ç A M E N T O S - N O R O E S T E

Luta e resistênciaA cicatriz enorme no peito

não deixa dúvidas de que o cora-ção de Francisca Lima de Jesus,65 anos, já sofreu bastante. Parai-bana de Catolé do Rocha, elachegou a Brasília há mais de qua-tro décadas. Casada, teve quatrofilhos, mas o marido a deixoumuito cedo, com as crianças ain-da pequenas. “Foi embora comoutra”, desconversa.

Dois filhos se organizaram e sesustentam. Mas Francisca aindaé responsável pela caçula de 25anos, Ana Lúcia, que faz faculda-de e não trabalha. “Ela conseguiupassar nessas escolas em que agente paga muito pouco. Achoque são R$ 50. Está construindo ofuturo. Eu sustento com muitogosto”, defende.

A idosa também precisou as-sumir o primogênito, Lucrécio, eos três netos que ele lhe deu.“Coitado. Esse teve a mesma sor-te que eu. A mulher se apaixo-nou por outro e foi embora. Elecaiu em depressão. Eu tenho queajudar ele a se reerguer. E a cui-dar dos netos, o Ezequiel, a Ága-ta e o Ismael”, diz.

Só com um salário mínimo depensão, renda comprometidapor empréstimos consignadosque fez em seu nome para aju-dar os filhos, não sobra quasenada para Francisca, que depen-de de remédios. A saída foi vol-tar ao mercado de trabalho. “Fi-quei na fila esperando vaga”, as-sinala. Hoje, trabalha na linhade produção da fábrica social egarante vales alimentação,transporte e um salário mensal.

“Estou aprendendo um ofício. SeDeus quiser, saio daqui emprega-da. Já sei fazer camiseta”, afirma.

Aaposentadasempretevepro-blemas de saúde. “Coração fraco,sabe. Trabalhava, perdia o ar, asforças iam embora, desmaiava. Omédico dava atestado. Eu guar-dava em casa para seguir traba-lhando. A gente não pode se darao luxo de ficar de licença”, la-menta. Há dois anos, o coraçãofalhou. Francisca teve duas para-das cardíacas. “Mas fui bem rece-bida no hospital, graças a Deus.Eles me trataram. Entrei comomorta e saí melhor do que antes”,diz ela, apontando a cicatriz. Ho-je, ostenta um marca-passo e aesperança de permanecer nomercado de trabalho.

Francisca, assim como a maio-ria dos idosos, terá que vencer vá-rios obstáculos. Isso porque, naavaliação de MárciaTavares, mes-tre e doutoranda em engenhariade produção pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ),ainda há preconceito em rela-ção ao potencial produtivo deuma pessoa com mais de 60anos. “São comuns os casos emque os idosos aceitam uma re-muneração menor para com-plementar a renda para susten-tar até sua quarta geração. Elespodem ser muito eficientes pela

experiência que possuem, e issoé desconsiderado”, comenta.

Márcia ressalta que muitosidosos não pouparam durante afase ativa e, após se aposentarem,precisam se continuar trabalhan-do para ter uma renda adequada.“Também não estamos preparan-do os mais novos para a velhice. Aexpectativa de vida em 2060 seráde 85 anos e não sabemos quemcuidará dessas pessoas. Não te-mos mão de obra especializadapara isso, nem locais adequadospara cuidar dos mais velhos. Osdesafios são enormes”, afirma.

Desafio redobradoCom um marido que sempre

cuidou de tudo, Francinete La-cerda Gomes de Oliveira, 63anos, se viu desamparada háum ano, quando ele morreu.Apesar de ter trabalhado a vidainteira, como copeira e balco-nista, teve que aprender a vivercom o salário mínimo da pen-são e ainda ajudar a família. “Fi-cou tudo na minha mão”, conta.

Piauiense de Teresina, Franci-nete chegou a Brasília em 1975.Não conseguiu o lote na Ceilân-dia, como os irmãos, e hoje moraem Samambaia com Júlio, de 39anos, um dos dois filhos. “Numacasa simples, mas ajeitadinha”,descreve. Júlio deu dois netos pa-ra Francinete: Giulio, 10 anos, eLucas, 4. “O pequeno tem pro-blema de doença”, lamenta.

Separado da esposa, Júlio fi-cou desempregado e precisa damãe. E os netos, da avó. “Eu aju-do os pequenos. Eles precisam.Quando o Júlio consegue, ele pa-ga alguma coisa. Meu outro filhotem mulher que trabalha e ajudaa sustentar a casa e os outros doisnetos. Esses eu não preciso aju-dar não”, conta. Para engrossar arenda e conseguir alimentos pa-ra a família, Francinete trabalhana feira aos domingos. “Se a ven-da é boa, eu ganho verduras elegumes para toda a semana, eum troco”, conta.

Ainda assim, ela precisouvoltar ao mercado de trabalho.Como várias idosas na mesmasituação, conseguiu uma vagana fábrica social, onde ganhaaté R$ 550, mais os benefícios.“Eu não falto nunca. Em março

do ano que vem, eu me formo.Já estou costurando bonés”,afirma. Francinete só reclamado tempo que perde do traba-lho até em casa. “Demora maisde uma hora. Saio no frete atéCeilândia e de lá tenho que pe-gar outro ônibus para Samam-baia. Mas não me atraso nunca.Eu ainda quero fazer faculda-de”, diz, de olho no futuro.

O trabalho realizado na Fá-brica Social pela Subscretariade Integração das Ações Sociaisdo Governo do Distrito Federalatende centenas de pessoas ne-cessitadas. O objetivo, além deproduzir o material utilizadopelas redes públicas de saúde eeducação, como camisetas,bandeiras, bonés e lençóis, é ge-rar potencial de empregabilida-de para os trabalhadores.

O subsecretário Célio Silva ex-plica que o desafio é transformara fábrica em um centro de for-mação educacional, que permitao aprimoramento profissional.“O pessoal fica quatro horas nochão de fábrica e outras duas ho-ras em sala de aula, aprendendohabilidades de gestão, com in-clusão digital”, pontua.

Os benefícios aos trabalha-dores são pagos por produtivi-dade, dependendo da assidui-dade e do desempenho. “Emmédia, a renda fica em R$ 550”,comenta Silva. A primeira tur-ma se forma no fim do ano e296 pessoas terão garantia decolocação no mercado traba-lho, recebendo R$ 936 de rendi-mento mensal, mais vales trans-porte e alimentação.

Comocoraçãofraco, desmaiavano emprego.Omédico davaatestado, euguardava emcasa para seguirtrabalhando.A gente não podese dar ao luxo deficar de licença”

Francisca Lima de Jesus,costureira


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