UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
PROPOSTA DE APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA PARA REDUÇÃO DE
CONSUMO DE ÁGUA EM SHOPPING CENTERS
VINÍCIUS MELO GIFFONI DE ALMEIDA
2019
PROPOSTA DE APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA PARA REDUÇÃO DE
CONSUMO DE ÁGUA EM SHOPPING CENTERS
VINÍCIUS MELO GIFFONI DE ALMEIDA
Projeto de Graduação apresentado ao
curso de Engenharia Civil da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Engenheiro.
Orientadora: Elaine Garrido Vazquez
RIO DE JANEIRO
Setembro de 2019
PROPOSTA DE APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA PARA REDUÇÃO DE
CONSUMO DE ÁGUA EM SHOPPING CENTERS
VINÍCIUS MELO GIFFONI DE ALMEIDA
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE
ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.
Examinado por:
______________________________________________
Profa. Elaine Garrido Vazquez, D.Sc.
______________________________________________
Prof. Renan Finamore, D.Sc.
______________________________________________
Prof. Luis Otávio Cocito, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
SETEMBRO de 2019
FICHA CATALOGRÁFICA
de Almeida, Vinícius Melo Giffoni
Proposta de aplicação do método PURA para
redução de consumo de água em shopping centers /
Vinícius Melo Giffoni de Almeida – Rio de Janeiro:
UFRJ/Escola Politécnica, 2019.
XII, 102 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Elaine Garrido Vazquez
Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /
Curso de Engenharia Civil, 2019.
Referências Bibliográficas: p. 99-102
1. Introdução 2. Revisão bibliográfica 3. Método
PURA para redução de consumo de água 4. Estudo prático
– aplicação do método PURA 5. Considerações finais
I. Vazquez, Elaine Garrido et al. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de
Engenharia Civil. III. Proposta de aplicação do método
PURA para redução de consumo de água em shopping
centers.
Dedico este trabalho à minha mãe, Loraine Melo Giffoni de Almeida, a mulher mais
guerreira que eu já conheci na vida
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
PROPOSTA DE APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA PARA REDUÇÃO DE
CONSUMO DE ÁGUA EM SHOPPING CENTERS
Vinícius Melo Giffoni de Almeida
Setembro de 2019
Orientadora: Elaine Garrido Vazquez
A água é considerada um dos pilares do desenvolvimento sustentável já que é um insumo
fundamental para proporcionar a manutenção das condições básicas de vida dos seres
vivos. Com o objetivo de atender todas as necessidades humanas, de maneira perene,
foram criados, internacionalmente, os “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”.
Assim, em um horizonte de quinze anos, todos os países do globo, nas esferas nacionais,
regionais e locais, devem se mobilizar para tornar o consumo de água acessível e
sustentável. Dentre os desafios existentes quanto ao gerenciamento do insumo hídrico, as
esferas regionais e locais brasileiras encontram-se suportadas pelo Programa de
Conservação de Água (PCA), com metodologias claras e bem definidas visando a redução
do consumo, estando assim alinhada com o princípio do desenvolvimento sustentável e
consequentemente com as proposições dos ODS. O trabalho em questão tem como foco
a aplicação do Programa de Uso Racional da Água (PURA), desenvolvido a partir do
PCA, para redução de demanda de água em um shopping center de grande relevância na
indústria do varejo pelo seu porte, localizado na cidade do Rio de Janeiro. No
desenvolvimento deste trabalho, será feito um estudo prático na tipologia de edificação
citada anteriormente, aplicando-se as quatro etapas do PURA: auditoria de consumo de
água, diagnóstico, plano de intervenção e avaliação do impacto de redução. Ao final da
aplicação do método, propõe-se um fluxograma estabelecido para a tipologia estudada,
criado a partir das necessidades e limitações enfrentadas ao longo do estudo.
Palavras – chave: sustentabilidade; demanda; shopping center; desperdício; PURA
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Civil Engineer.
PURA’S METHOD APPLICATION TOWARDS WATER REDUCTION AT
SHOPPING CENTERS
Vinícius Melo Giffoni de Almeida
September/2019
Advisor: Elaine Garrido Vazquez
Course: Civil Engineering
Water is at the core of the world’s sustainable development since its importance
underpinning the vital needs of all kind of lives in the planet. On this behalf, the
Sustainable Development Goals was created by the international community to reinforce
the national, regional and local action towards water accessibility and sustainability in a
15 years range based on the 2030 Agenda. Despite the challenges faced by the Brazilian
society, the national government is providing the decision makers with good and reliable
sources of information, like the PCA, when it comes to water sustainability preconized
by the SDG’s. The aim of this work is to show in a local level at a shopping center based
in Rio de Janeiro, the application of PURA’s method towards water reduction. The first
step of the method consists in water auditing, which means better acknowledgement of
how water is used and consumed in the building. The second step is water diagnosis,
which represents the issues involving water consumption and systems building quality.
The third step is marked by the action plan built to solve the issues pointed in the step
before. The fourth step is the evaluation of the changes caused by the plan’s
implementation. By the end of this practical study, a new flow chart is design for shopping
centers, specifically.
Keywords: sustainability; shopping center; water reduction.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – NÍVEL DE ESTRESSE HÍDRICO GLOBAL (WWAP, 2019) ........................................................................... 16
FIGURA 2 – TOTAL DE ÁGUA CONSUMIDA NO BRASIL (ANA, 2018) .......................................................................... 18
FIGURA 3 - ESCALA DE ESTRESSE HÍDRICO POR REGIÃO DO BRASIL. (ANA, 2018) ........................................................ 19
FIGURA 4 – FLUXOGRAMA DA PRIMEIRA FASE DOS DTA (PNCDA, 1999) ................................................................. 20
FIGURA 5– INTERCONEXÕES DAS CRISES HÍDRICAS (THE GLOBAL RISKS REPORT, 2018) .......................................... 26
FIGURA 6 – ESTRESSE HÍDRICO GLOBAL (WWAP, 2015) ........................................................................................ 28
FIGURA 7 – CONFLITOS GERADOS PELA ÁGUA (OCHA, 2018) ................................................................................. 29
FIGURA 8 – PREVISÃO DE DEMANDA DE ÁGUA (WWAP, 2012) .............................................................................. 31
FIGURA 9 – CLASSIFICAÇÃO QUANTO À QUANTIDADE DE ÁGUA DE CHUVA EM 2017 (ANA, 2018) ................................. 37
FIGURA 10 – EVOLUÇÃO DAS RETIRADAS DE ÁGUA NO BRASIL, POR SETOR USUÁRIO (PNSH, 2019) ............................... 38
FIGURA 11 – ÍNDICE DE SEGURANÇA HÍDRICA POR REGIÕES NO BRASIL (PNSH, 2019) ................................................. 39
FIGURA 12 – DIMENSÃO HUMANA DO ÍNDICE DE SEGURANÇA HÍDRICA DO BRASIL – 2035 (PNSH, 2019) ..................... 40
FIGURA 13 – DIMENSÃO ECONÔMICA DO ÍNDICE DE SEGURANÇA HÍDRICA DO BRASIL – 2035 (PNSH, 2019) ................. 41
FIGURA 14 – DIMENSÃO ECOSSISTÊMICA DO ÍNDICE DE SEGURANÇA HÍDRICA DO BRASIL – 2035 (PNSH, 2019) ............. 42
FIGURA 15 – DIMENSÃO RESILIÊNCIA DO ÍNDICE DE SEGURANÇA HÍDRICA DO BRASIL – 2035 (PNSH, 2019) .................. 43
FIGURA 16 – CONCEITO DE SEGURANÇA HÍDRICA (PNSH, 2019) ............................................................................. 47
FIGURA 17 – FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DA PURA. PARTE 1 (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 1999) .................................. 52
FIGURA 18– FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DA PURA. PARTE 2 (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 1999) ................................... 52
FIGURA 19– FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DA PURA. PARTE 3 (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 1999) ................................... 53
FIGURA 20– FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DA PURA. PARTE 4 (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 1999) ................................... 53
FIGURA 21 – QUANTIDADE DE SHOPPING POR REGIÃO DO BRASIL (ADAPTADO DE ABRASCE, 2019) ............................. 64
FIGURA 22 – HIDRÔMETROS DE MONITORAMENTO DE ÁGUA DA CEDAE ................................................................... 66
FIGURA 23 – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES (ETE) DO SHOPPING ............................................................. 68
FIGURA 24 – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA POR OSMOSE REVERSA .................................................................. 69
FIGURA 25 – ESQUEMA ILUSTRATIVO DA OFERTA E DA DEMANDA DO SHOPPING .......................................................... 70
FIGURA 26 – (A) CONSUMO DE ÁGUA MENSAL DAS CATEGORIAS DO SHOPPING; (B) PERCENTUAL DO CONSUMO TOTAL DE
CADA CATEGORIA ................................................................................................................................... 71
FIGURA 27 – REPRESENTATIVIDADE PERCENTUAL DO CUSTO POR CATEGORIA .............................................................. 73
FIGURA 28 – CONSUMO ANUAL DA CATEGORIA ALIMENTAÇÃO EM METROS CÚBICOS (M³) ............................................ 74
FIGURA 29 - CONSUMO ANUAL DA CATEGORIA SERVIÇO EM METROS CÚBICOS (M³) ..................................................... 75
FIGURA 30 - CONSUMO ANUAL DE TODAS AS LOJAS CONSUMIDORAS DO SHOPPING EM METROS CÚBICOS (M³) ................. 76
FIGURA 31 – PROPORÇÃO DO CONSUMO ANUAL DA ACADEMIA EM RELAÇÃO AO SEGUNDO MAIOR CONSUMIDOR .............. 76
FIGURA 32 – AVALIAÇÃO DOS MAIORES PONTOS CONSUMIDORES DE ÁGUA DA ACADEMIA ............................................. 80
FIGURA 33 – QUESTIONÁRIO ............................................................................................................................. 83
FIGURA 34 – HISTÓRICO DO CONSUMO DE ÁGUA NO PERÍODO DE AGOSTO DE 2014 A JULHO DE 2019 ........................... 83
FIGURA 35 – CONSUMO POR FAIXA HORÁRIA NA ACADEMIA PELO SISTEMA DE TELEMETRIA............................................ 87
FIGURA 36 – CONSUMO MÉDIO MENSAL DA ACADEMIA SEM/COM REDUTOR DE VAZÃO (M³) ......................................... 90
FIGURA 37 – CUSTO MÉDIO MENSAL DA ACADEMIA SEM/COM REDUTOR DE VAZÃO (M³) .............................................. 90
FIGURA 38 – CONSUMO MENSAL COMPARATIVO ENTRE OS ANOS DE 2018 E 2019 ..................................................... 91
FIGURA 39 – FLUXOGRAMA DA AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA DO SHOPPING ....................................................... 94
FIGURA 40 – FLUXOGRAMA DA AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA DA ACADEMIA ....................................................... 94
FIGURA 41 – FLUXOGRAMA DO DIAGNÓSTICO ...................................................................................................... 95
FIGURA 42 – FLUXOGRAMA DO PLANO DE INTERVENÇÃO ........................................................................................ 95
FIGURA 43 – FLUXOGRAMA DA AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE REDUÇÃO DO CONSUMO ................................................... 96
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – CUSTO ACUMULADO POR FONTE; VOLUME ACUMULADO POR FONTE; KPI POR FONTE EM 2018 .................... 72
TABELA 2 – VOLUME ACUMULADO POR CATEGORIA; CUSTO ACUMULADO POR CATEGORIA EM 2018 .............................. 73
TABELA 3 – QUANTIDADE DE PONTOS HIDRÁULICOS POR PAVIMENTO NA ACADEMIA .................................................... 78
TABELA 4 – QUANTIDADE E VAZÃO MÉDIA DOS PRINCIPAIS PONTOS HIDRÁULICOS DA ACADEMIA ..................................... 80
TABELA 5 – PADRÃO HORÁRIO DE CONSUMO DE ÁGUA NA ACADEMIA ........................................................................ 82
TABELA 6 – PORCENTAGEM DE ÁGUA CONSUMIDA POR FAIXA HORÁRIA ..................................................................... 82
TABELA 7 – QUANTIDADE DE ENTREVISTAS NECESSÁRIAS POR FAIXA HORÁRIA .............................................................. 82
TABELA 8 – FLUXO MENSAL DE AGENTES CONSUMIDORES DA ACADEMIA .................................................................... 84
TABELA 9 – ÍNDICE DE CONSUMO ....................................................................................................................... 85
TABELA 10 – PREMISSAS PARA A ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA NOS CHUVEIROS ................................................. 86
TABELA 11 – TABELA DE PRIORIZAÇÃO ................................................................................................................ 89
TABELA 12 – ÍNDICE DE CONSUMO COMPARATIVO NOS ANOS DE 2018 E 2019 .......................................................... 92
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – SETORES PRINCIPAIS DA DEMANDA POR ÁGUA (ADAPTADO DE UN – WATER, 2012) ................................ 25
QUADRO 2 - OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ITAMARATY, 2014) ................................................. 33
QUADRO 3 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO PNCDA (ADAPTADO DO PNCDA, 1999) .................................................... 45
QUADRO 4 – AGENTE PRINCIPAIS DA ARTICULAÇÃO DE PLANOS REGIONAIS OU LOCAIS DE COMBATE AO DESPERDÍCIO DE ÁGUA
(ADAPTADO DO PNCDA, 1999) .............................................................................................................. 46
QUADRO 5 – DIRETRIZES GERAIS DO PNSH (PNSH, 2019) .................................................................................... 49
QUADRO 6 – MACRO ETAPAS DO PURA ............................................................................................................. 54
QUADRO 7 – CASOS DOS INDICADORES DE CONSUMO (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 1999) ............................................ 57
QUADRO 8 – AÇÕES SUGERIDAS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE INTERVENÇÃO (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 2019) .... 59
QUADRO 9 – PROCEDIMENTO DE CÁLCULO PARA AVALIAÇÃO ECONÔMICA (ADAPTADO DE OLIVEIRA, 1999) .................. 61
QUADRO 10 – DISTRIBUIÇÃO DOS ESPAÇOS DA ACADEMIA ...................................................................................... 77
QUADRO 11 – ITENS DO FLUXOGRAMA ADAPTADOS/CRIADOS.................................................................................. 93
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 14
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................................... 14
1.1.1 SITUAÇÃO DA ÁGUA NO MUNDO E DESDOBRAMENTOS INTERNACIONAIS ............................ 14
1.1.2 SITUAÇÃO DA ÁGUA NO BRASIL E DESDOBRAMENTOS NACIONAIS, REGIONAIS E LOCAIS ..... 17
1.2 MOTIVAÇÃO ................................................................................................................................. 21
1.3 OBJETIVO ...................................................................................................................................... 21
1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 22
1.5 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS ......................................................................................................... 23
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................ 24
2.1 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA E SUAS ZONAS DE INFLUÊNCIA ............................................................. 24
2.2 ÁGUA NO MUNDO ........................................................................................................................ 25
2.3 CONFERÊNCIAS CRIADAS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM REFORÇO AOS DIREITOS
HUMANOS ............................................................................................................................................. 32
2.4 INTERVENÇÕES NECESSÁRIAS ...................................................................................................... 35
2.5 ÁGUA NO BRASIL - AMBITO NACIONAL E REGIONAL .................................................................... 37
2.5.1 APOIO NACIONAL AO OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NÚMERO 6............. 43
3. MÉTODO PURA PARA REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA .......................................................... 50
3.1 AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA............................................................................................ 54
3.1.1 HISTÓRICO DO INDICADOR DE CONSUMO DE ÁGUA ............................................................... 55
3.1.1.1 HISTÓRICO DO CONSUMO DE ÁGUA DOS ÚLTIMOS DOZE MESES ...................................... 55
3.1.1.2 HISTÓRICO DO NÚMERO DE AGENTES CONSUMIDORES .................................................... 55
3.1.1.3 CÁLCULO DO INDICADOR DE CONSUMO DE ÁGUA ............................................................. 56
3.1.2 DIAGNÓSTICO PRELIMINAR ..................................................................................................... 57
3.1.3 LEVANTAMENTO DO EDIFÍCIO ................................................................................................. 58
3.2 DIAGNÓSTICO DO CONSUMO DE ÁGUA NO EDIFÍCIO .................................................................. 58
3.3 PLANO DE INTERVENÇÃO ............................................................................................................. 59
3.4 AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA ............................................... 62
4. ESTUDO PRÁTICO - APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA .................................................................... 64
4.1 ETAPA 1 - AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA ............................................................................ 65
4.1.1 AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA DO SHOPPING ............................................................... 65
4.1.1.1 OFERTA DE ÁGUA ................................................................................................................ 65
4.1.1.1.1 CEDAE ................................................................................................................................. 66
4.1.1.1.2 ÁGUA DE REUSO GERADA PELA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES – ETE............. 67
4.1.1.1.3 ÁGUA DE POÇOS PROFUNDOS ............................................................................................ 68
4.1.1.2 AVALIAÇÃO DO HISTÓRICO DO VOLUME DE ÁGUA DEMANDADA ...................................... 70
4.1.1.3 REPRESENTATIVIDADE DOS CUSTOS POR ÁREAS DE CONSUMO ........................................ 71
4.1.1.4 AVALIAÇÃO DA DEMANDA DA ÁREA DE MAIOR CONSUMO - “LOJISTA” ............................ 74
4.1.2 AUDITORIA DE CONSUMO DE ÁGUA DA ACADEMIA................................................................ 76
4.1.2.1 LEVANTAMENTO DO EDIFÍCIO ............................................................................................ 77
4.1.2.2 TESTE DE VAZÃO EM CAMPO DOS PONTOS HIDRÁULICOS ................................................. 79
4.1.2.3 ANÁLISE DOS PONTOS HIDRÁULICOS DE MAIOR CONSUMO .............................................. 80
4.1.2.4 PROCEDIMENTO DOS USUÁRIOS ........................................................................................ 81
4.1.2.4.1 HISTÓRICO DO CONSUMO DE ÁGUA DOS ÚLTIMOS 12 MESES ........................................... 83
4.2 ETAPA 2 - DIAGNÓSTICO ............................................................................................................... 86
4.3 ETAPA 3 - PLANO DE INTERVENÇÃO ............................................................................................. 87
4.3.1 ESTIMATIVA DE REDUÇÃO DE CONSUMO E IMPACTO FINANCEIRO ........................................ 89
4.4 ETAPA 4 - AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE REDUÇÃO DO CONSUMO ............................................... 91
4.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA ......................................................... 92
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 99
14
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A água é um elemento essencial e indispensável à manutenção da vida, já que todos os
processos metabólicos necessitam da sua presença, direta ou indiretamente. A sua
distribuição ao longo de 70% da crosta terrestre do planeta, requer então, dada sua
relevância, que sua qualidade e quantidade estejam apropriadas para utilização, seja ela
qual for. (ESTEVES, 1998; BRAGA et al., 2002; REBOUÇAS, 2002)
Em especial, o recurso hídrico é de grande relevância por ser essencial não só aos
negócios, mas à vida. O recurso hídrico é o pilar principal do desenvolvimento
sustentável. A gama de atividades que ele suporta conduz à crescimento econômico,
erradicação da pobreza e sustentabilidade ambiental. De segurança alimentar e energética
até a saúde humana e ambiental, a água contribui para uma melhora no bem-estar social,
afetando a vida de milhões de pessoas. (UNESCO, 2019)
A água é um recurso escasso, imprescindível à vida e que está em risco em âmbito global
(UN - WATER, 2012). Problemas graves ocorrem à população humana quando este
insumo não é gerido adequadamente. A questão é global, mas para se atingir resultados
gerais melhores, cada indivíduo que compõe o todo deve fazer a sua parte, tomando
consciência e exercendo a o seu livre arbítrio de poupar, racionalizar e administrar melhor
esse bem tão precioso.
Os resultados na esfera global vêm apenas se as esferas nacionais cumprirem seus
deveres. E para erguer os bons resultados nacionais, as esferas regionais e locais com
ações pontuais devem estar munidas de informações e de apoio para executar os planos e
diretrizes internacionais de redução de consumo de água para manutenção à vida.
1.1.1 SITUAÇÃO DA ÁGUA NO MUNDO E DESDOBRAMENTOS
INTERNACIONAIS
A questão da utilização sustentável dos recursos hídricos no mundo está em pauta desde
o início do século XIX, e se confirma a partir de grandes mobilizações mundiais de
15
preservação, como a Conferência das Nações Unidas sobre a Água (1977), Conferência
Internacional de Água e Meio ambiente (1992), Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), ECO -92, Fóruns Mundiais da Água (1997),
etc., que propuseram uma visão mais crítica acerca da disponibilidade de água no mundo
e como a situação desse bem finito deve ser encarada para suprir as necessidades da
geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações
futuras.
A água se insere também nos cenários globais de conflitos, já que desde 3000 a.C tem-se
registros de grandes disputas pelo recurso, totalizando 655 até 2018. (WORLD WATER,
2018). Em 2017, a água foi o fator central de conflitos em no mínimo 45 países (WORLD
ECONOMIC FORUM, 2019). O relatório de riscos globais gerados pelo World Economic
Forum (WEF), posicionou as crises hídricas entre os 5 maiores potenciais de riscos em
termos de impacto relacionado por oito anos consecutivos (WEF 2019, apud UNESCO,
2019).
De acordo com o World Water Assessment Programme – (WWAP, 2019), mais de dois
bilhões de pessoas vivem em regiões de alto estresse hídrico. A figura a seguir mostra a
situação global dos países do globo enfrentando diferentes níveis de estresse hídrico, os
quais os mais alarmantes e preocupantes se inserem no contexto da Ásia, região populosa
e com alta densidade demográfica; e no norte e nordeste da África, locais com limitações
de disponibilidade e acessibilidade do recurso hídrico para abastecimento da população.
A média mundial de estresse hídrico é de apenas 11%. No entanto, 31 países têm mais de
25% das suas fontes de água sobre forte pressão, percentagem mínima aceitável para se
manter as necessidades básicas da região. Além disso, 22 países ultrapassam os 70% de
estresse hídrico, e estão, consequentemente sobre grave situação. O aumento do indicador
evidencia uso expressivo da água, com grandes impactos negativos na sustentabilidade
do planeta, e no risco de potenciais conflitos entre usuários:
16
Figura 1 – Nível de estresse hídrico global (WWAP, 2019)
Visando amenizar os impactos sofridos pela população mundial com as problemáticas
que envolvem o recurso hídrico, foram divulgados nos anos 2000, em convenção mundial
“Os Objetivos Sustentáveis do Milênio (OSM)”, que têm como um dos pilares principais
a sustentabilidade ambiental, sendo a segurança hídrica parte desse núcleo. Traduzido
como o objetivo número 7 dos OSM, reforça-se, como diretriz internacional, a
importância do uso racional da água no atingimento de todos os objetivos que garantem
uma melhor qualidade de vida ao ser humano. (UNITED NATIONS, 2015)
As diretrizes foram aplicadas e monitoradas ao longo de 15 anos, vida útil designada para
o projeto e ao final, o relatório de resultados indicou que, com o esforço conjunto dos
países signatários, 147 países atingiram a meta de consumo de água potável do programa,
95 a de saneamento e 77 atingiram ambos. Das 2,6 bilhões de pessoas que ganharam
acesso a melhoria de água potável desde 1990, 1,9 bilhões ganharam acesso a água
canalizada. Mais da metade da população, o equivalente à 58% que já desfruta dessa
melhoria no serviço. (UNESCO, 2015)
Apesar dos bons resultados, ainda há muito o que se alcançar, já que os cenários mundiais
permanecem desfavoráveis quando se trata de disponibilidade hídrica, qualidade da água,
população abastecida de forma satisfatória e gestão do recurso. Por isso, aproveitando o
momento para dar continuidade às ações dos OSM e garantir a perenidade de melhoria
dos resultados na criação também de novas ações para os novos desafios correntes, a
UNESCO, ainda em 2015, divulgou “Os Objetivos Sustentáveis ao Desenvolvimento”,
(tradução livre de sustainable development goals – SDG). Estes, em apoio integrado aos
17
países do globo, auxiliando por meio de monitoramento e conscientização pela
divulgação de dados, a criação de planos de ação para garantir a disponibilidade e
sustentabilidade da gestão de água e esgoto sanitário para todos, que devem ser
executados por um período de mais 15 anos, como preconiza a Agenda 2030 de diretrizes
internacionais para o atingimento das metas propostas.
1.1.2 SITUAÇÃO DA ÁGUA NO BRASIL E DESDOBRAMENTOS NACIONAIS,
REGIONAIS E LOCAIS
Em escala nacional, o Brasil se mostra como um dos países que mais possuem
disponibilidade de água doce no mundo. No entanto, a distribuição desigual do recurso
no território espacial e temporal potencializa o surgimento de conflitos que se não
encarados de maneira sistêmica e continuada, comprometerão o abastecimento nacional.
(ANA, 2018)
A demanda por uso de água no Brasil é crescente, com o histórico de evolução associado
diretamente ao desenvolvimento econômico e ao processo de urbanização do país.
Registrou-se um aumento estimado de aproximadamente 80% no total retirado de água
nas últimas duas décadas. Ainda, a previsão até 2030 é que esse número aumente 24%.
(ANA, 2018).
Acompanhando a média mundial, nota-se pela divisão esquemática de consumo da figura
a seguir, que 68,4% da água consumida no Brasil é destinada à irrigação, 10,8% para o
abastecimento animal, 8,8% para a indústria, 8,6% para o abastecimento urbano, 2,4%
para o abastecimento rural, 0,8% para a mineração e 0,2% para as termelétricas: (ANA,
2018)
18
Figura 2 – Total de água consumida no Brasil (ANA, 2018)
Comparando-se a demanda dos usos de água, em termos qualitativos e quantitativos em
relação à quantidade de água disponível, obtém-se o indicador de balanço hídrico para
suporte às políticas nacionais de gestão. Assim, a alta vulnerabilidade decorrente de um
balanço hídrico desfavorável, associada a baixos investimentos em infraestrutura e
período de precipitação abaixo da média ocasionado por mudanças climáticas, conduz ao
estresse hídrico com potencial agravamento da escassez e crises de água em diversas
regiões do país, de acordo com as bacias hidrográficas do território nacional.
A figura a seguir mostra que as regiões mais críticas são a região hidrográfica Atlântico
Nordeste Oriental, com boa parte de sua área inserida no Semiárido brasileiro, e a região
hidrográfica Atlântico Sul, em que é expressiva a retirada de água para irrigação de
grandes lavouras de arroz pelo método de inundação. Chama atenção também a situação
das regiões Atlântico Leste e São Francisco, que apresentam demandas consideráveis em
relação às suas disponibilidades hídricas: (ANA, 2018)
19
Figura 3 – Escala percentual de estresse hídrico por região do Brasil. (ANA, 2018)
A análise da situação hídrica brasileira reforça a necessidade de existência de uma gestão
dos recursos mais eficaz e inovadora, que se torna fundamental para prevenir e minimizar
os problemas relacionados ao acesso à água, em esferas nacionais, regionais e locais. Para
isso, em consonância com os OSM, se disponibilizaram nacionalmente, desde 1999, os
Documentos Técnicos de Apoio (DTA), aliada ao método aplicado de redução de
consumo de água do Programa de Uso Racional de Água – PURA. Ambos do Programa
Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA), alinhados com a visão nacional
Legenda
Sigla Bacia hidrográfica
AMZ Amazônica
AOC Atlântico Nordeste Ocidental
AOR Atlântico Nordeste Oriental
PNB Parnaíba
TOC Tocantins-Araguaia
SFO São Francisco
ALT Atlântico Leste
PRG Paraguai
PRN Paraná
ASD Atlântico Sudeste
URU Uruguai
ASU Atlântico Sul
20
de desenvolvimento sustentável e com propostas arrojadas e bem definidas para promover
mudanças perenes na situação hídrica do território brasileiro.
O PNCDA, da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério do
Desenvolvimento Regional, tem com o objetivo geral de “promover o uso racional da
água de abastecimento público nas cidades brasileiras, em benefício da saúde pública, do
saneamento ambiental e da eficiência dos serviços, propiciando a melhor produtividade
dos ativos existentes e a postergação de parte dos investimentos para a ampliação dos
sistemas”. (PNCDA, 1999) Tem por objetivos específicos “definir e implementar um
conjunto de ações e instrumentos tecnológicos, normativos, econômicos e institucionais,
concorrentes para uma efetiva economia dos volumes de água demandados para consumo
nas áreas urbanas, consolidados em publicações técnicas e cursos de capacitação. Dentre
as publicações, o programa possui a série Documentos Técnicos de Apoio (DTA), com
produção original realizada em 1999 e revisões de alguns dos documentos em 2003.”
(GOVERNO DO BRASIL, 2015)
Os objetivos acima são personificados nos DTAs, e estes e se tornam primordiais para o
atingimento da universalização do acesso aos serviços de abastecimento de água, a
manutenção da saúde pública, a preservação do meio ambiente e o atingimento adequado
aos direitos dos consumidores. A figura a seguir mostra, na primeira fase do PNCDA para
combate ao desperdício, os textos base para se diminuir o desperdício, separados em
“Planejamento e Gestão – Gerenciamento da Demanda”, “Conservação nos Sistemas
Públicos” e “Conservação nos Sistemas Prediais”: (PNCDA, 1999)
Figura 4 – Fluxograma da primeira fase dos DTA (PNCDA, 1999)
21
Ainda, como marco da política pública nacional, cria-se o Plano Nacional de Segurança
Hídrica (2019), instrumento fundamental de tomada de decisões sobre o tema. Associado
às atribuições do Ministério do Desenvolvimento Regional – MDR, sendo este vinculado
à ANA, atua em prol do fortalecimento institucional para planejamento, execução,
operação e manutenção da infraestrutura hídrica estratégica para o país, que é elemento
essencial na garantia da oferta de água para o atendimento às necessidades humanas e
atividades econômicas. (ANA, 2019)
1.2 MOTIVAÇÃO
O cenário hídrico mundial é preocupante e muito deve ser feito para melhorar a situação
de desigualdade a qual as sociedades mais carentes se encontram. Ainda assim, observa-
se, a partir da contextualização apresentada anteriormente, que o governo brasileiro está
alinhado com as expectativas internacionais em relação ao avanço positivo dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável.
Suportado pelos relatórios da ANA, que tem o objetivo principal de fornecer as principais
informações sobre as condições hídricas nacionais e estaduais, pela PNCDA com os seus
respectivos DTAs, com o PCA e suas derivações como o PURA, a criação de planos de
intervenção visando a redução de demanda hídrica em todas as potenciais localidades se
torna facilitada.
Basta então, a mobilização dos setores públicos e privados para se colocar em prática as
metodologias e instruções preconizadas pelos órgãos e documentos acima. A ação
conjunta e integrada garante um passo à frente rumo ao desenvolvimento sustentável da
humanidade.
1.3 OBJETIVO
Desenvolvido a partir do Programa de Conservação de Água, o método PURA contém
instruções específicas, com embasamento cientifico para a redução do consumo de água
em edificações. Dessa forma, aplica-se este método em um shopping center localizado na
cidade do Rio de Janeiro, empreendimento capaz de atrair um fluxo de milhões de pessoas
22
ao mês. Consequentemente, a demanda pelo recurso hídrico neste estabelecimento exerce
uma pressão relevante no meio ambiente que se insere.
Busca-se então, reduzir a pressão de água sobre os corpos hídricos, advinda de uma
tipologia de edificação robusta em termos gerais. Esta ação visa o grande impacto local,
que corrobora para a melhoria do cenário hídrico regional, que instiga e propulsiona a
implementação de ações do ramo do varejo. Em conjunto, estas ações são capazes de
promover a melhoria da conjuntura hídrica nacional em concordância com os ODS.
1.4 METODOLOGIA
Como fase inicial desta pesquisa, realizou-se então, um amadurecimento teórico sobre a
questão da importância da água para a manutenção da vida, em relação às atividades socio
econômicas e ambientais que ela suporta para o atendimento das necessidades de
sobrevivência humana e de toda a vida no planeta. Este amadurecimento também
contemplou o estudo da situação atual da água no mundo, e em como ela é inserida no
contexto de grandes conflitos e no impedimento ao desenvolvimento sustentável dos
principais setores relacionados. Estas informações foram adquiridas através da leitura e
análise de publicações oficiais de órgãos de grande relevância no contexto, como
UNESCO, ANA, WEF, OCHA, GOVERNO DO BRASIL, dentre outros.
Buscou-se então, a partir deste contexto, indicativos de que as grandes instituições
internacionais estão agindo de forma estruturada (através de relatórios, instrutivos
técnicos, fóruns, debates, regulamentações através de leis, empoderamento de órgãos
reguladores, conscientização) para se reduzir, ou até mesmo acabar com os desafios
gerados pelo uso insustentável do recurso hídrico no planeta.
Ciente então das ações estruturadas, implementadas e monitoradas de forma sistemática,
abrangendo todos os países do globo, busca-se os desdobramentos regionais e locais no
território brasileiro. Com isso, confirma-se o alinhamento das políticas e das ações
nacionais em prol do objetivo maior, comum à toda a humanidade no que se refere ao uso
sustentável do recurso hídrico.
23
Planos de intervenções estruturados têm alto potencial de mudança positiva no cenário da
demanda pelo recurso hídrico. Assim, busca-se métodos para efetivamente realizar tais
mudanças, como as originadas pelo programa brasileiro de conservação de água (PCA),
que são referências ao contexto e atendem bem aos propósitos instrutivos ao uso
sustentável do recurso.
Para corroborar a utilidade, eficiência e eficácia destes métodos, no âmbito local, aplicou-
se o método PURA para redução de demanda em um grande shopping center a partir de
um estudo prático em uma academia localizada no interior deste empreendimento. Esta
edificação representa a tipologia da indústria do varejo com grande impacto para a
sociedade, dada as suas características infraestruturais e econômicas.
1.5 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS
Esta monografia será dividida em cinco capítulos. O primeiro é este, a introdução,
referente à situação da água no mundo e como a sociedade está desdobrando a
necessidade de se ter um consumo racional de água nas esferas internacionais, nacionais,
regionais e locais visando a manutenção da vida no planeta. Segue-se então com a
apresentação da motivação que levou a existência deste trabalho, do objetivo principal
visado, com a metodologia utilizada para a realização de medidas de redução de demanda
hídrica e finalmente com a descrição dos capítulos. O segundo capítulo é dedicado à
revisão bibliográfica, perante à exposição da situação hídrica no Brasil e no mundo, assim
como tópicos referentes ao demonstrativo de sua disponibilidade, distribuição e escassez.
Ainda, evidencia-se em detalhes os desdobramentos dos objetivos internacionais em
cascata para as esferas nacionais, regionais e locais na busca conjunta pelo atingimento
dos objetivos sustentáveis do século, com pilares dependentes do uso consciente do
recurso hídrico. No terceiro capítulo, evidencia-se o método PURA, advindo das
diretrizes do Programa de Conservação de Água (PCA), para redução da demanda de
água de forma perene em edificações. No quarto capítulo apresenta-se o estudo prático
realizado a partir da implementação do método anterior em um grande shopping center
localizado na cidade do Rio de Janeiro. O quinto capítulo dispõe das considerações finais
do trabalho, com as sugestões para trabalhos futuros e, por fim, apresentam-se as
referências bibliográficas e anexos.
24
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA E SUAS ZONAS DE INFLUÊNCIA
A água é essencial à vida. Ela tem uma conexão primordial nos três pilares do
desenvolvimento sustentável – econômico, social e ambiental. Os recursos hídricos e os
serviços que eles provêm estão entre os principais meios de se erradicar a pobreza,
promover o crescimento inclusivo, melhorar a saúde pública, sustentar a segurança
alimentar além de instituir uma vida digna a todos os cidadãos em conjunto com uma
harmonia duradoura entre os ecossistemas essenciais ao planeta. (WWAP, 2015).
O desenvolvimento de todas as sociedades e culturas depende, de forma imprescindível,
da água. Esse fenômeno aumenta ainda mais a pressão sobre os recursos hídricos a medida
que se gera o aumento do consumo de alimentos, de energia e de produtos
industrializados, provocado pelo crescimento populacional, aumento do poder de compra,
mudança dos hábitos alimentares e pela crescente urbanização. Assim, o desenvolvimento
sustentável requer que haja um gerenciamento adequado dos recursos, além de uma
distribuição igualitária dos benefícios que seu uso garante. (WWAP, 2015).
Assim, de acordo com a UN – WATER (2012), o progresso nas três dimensões do
desenvolvimento sustentável citadas anteriormente é retardado pelos limites impostos
pela característica finita e vulnerável dos recursos hídricos e de como estes são usados e
geridos para suportar serviços necessários à sobrevivência humana. A demanda humana
por água pode ser destrinchada em 5 grandes setores, e serão tratadas com maior
perspectiva do desenvolver do capítulo:
25
Quadro 1 – Setores principais da demanda por água (adaptado de UN – WATER, 2012)
Setores Descrição
Agricultura e
Alimentação Setor responsável pela maior retirada de água globalmente
Energia Setor em que a quantidade de água usada de forma consuntiva em
não consuntiva é raramente conhecida e informada
Indústria
Detém uma geração de capital relevante, porém com atividades
que causam também um relevante impacto na qualidade e na
quantidade de água disponível no meio ambiente.
Doméstico Inclui água potável para consumo humano, preparação de
alimentos, limpeza, higiene e alguns aspectos de saneamento.
Ecossistema Em que a demanda de água é determinada pela necessidade de se
sustentar ou restaurar os benefícios dos serviços da sociedade.
2.2 ÁGUA NO MUNDO
O papel da água, fundamental ao sustendo da vida no mundo, pode ser observado através
da sua conexão com os grandes desafios que permeiam a sociedade. As crises hídricas
estão intrinsicamente ligadas aos fatores causais como crescimento populacional,
urbanização acelerada, aumento da demanda por alimentos, desenvolvimento econômico
e tecnológico, mudança de hábitos alimentares e de consumo, falta de governança,
regulamentação e controle dos recursos hídricos, desmatamento, poluição, mudanças
climáticas, uso ineficiente, dentre outros. Tais causas geram efeitos inestimáveis e com
grandes consequências para a sociedade, o que coloca em risco o desenvolvimento
sustentável e a manutenção à vida digna, como: aumento da pressão sobre os recursos
hídricos, com a consequente dificuldade deste em sustentar os 3 pilares do
desenvolvimento sustentável – social, econômico e ambiental; o aumento da pobreza e da
desigualdade; estagnação econômica; degradação do solo; proliferação de doenças;
escassez hídrica; crises alimentares e energéticas; conflitos; processos migratórios e etc,
conexões estas apresentadas na figura a seguir: (WWAP, 2012; WWAP, 2015; WWAP,
2019)
26
Figura 5– Interconexões das crises hídricas (THE GLOBAL RISKS REPORT, 2018)
O aumento populacional aliado à praticas não sustentáveis precedem consequências
relevantes à vida humana. A demanda por água cresce, e a não ser que o balanço entre
oferta e demanda seja restaurado, o mundo enfrentará uma rigorosa escassez hídrica. A
demanda global por água é amplamente influenciada pelo crescimento populacional,
urbanização, pelas políticas de segurança energética e alimentar e por processos como
mudanças de dieta e dos hábitos de consumo da população. Ainda, demandas conflitantes
impõem dificuldades de expansão dos setores que são críticos ao desenvolvimento
sustentável, em particular os da produção de alimentos e geração de energia. A
competição por água - entre usos e usuários, aumenta o risco de conflitos localizados
seguidos de desigualdades nos acessos aos serviços com impactos significantes nas
economias locais e no bem-estar social.
27
Há uma estimativa de que 20% dos lençóis freáticos existentes no globo são utilizados de
forma excessiva, sendo este indicador relacionado geralmente à modelos antigos de uso
e governança, onde o uso dos recursos em suporte ao crescimento econômico é
precariamente regulado e controlado. (WWAP, 2015)
A perturbação do ecossistema através da urbanização e de práticas inapropriadas para
agricultura, o desmatamento e a poluição estão entre os fatores que comprometem a
capacidade do meio ambiente de prover sustento das atividades humanas. A pobreza, a
desigualdade ao acesso a água, a falta de recursos financeiros, o déficit de informações
sobre o estado dos recursos hídricos, seus usos e sua gestão, em conjunto, impõem uma
barreira ao atingimento do desenvolvimento sustentável.
O PIB global subiu de uma média de 3,5% ao ano de 1960 até 2012, (WORLD
ECONOMICS, apud WWAP, 2015), e grande parte deste crescimento veio através um
significante passivo social e ambiental. Durante o mesmo período, o crescimento
populacional, a urbanização, os processos migratórios e a industrialização, aliados ao
aumento de produção e consumo, geraram uma demanda inestimável aos recursos
hídricos. O mesmo processo contribuiu para a poluição das águas, reduzindo
consequentemente a acessibilidade imediata ao recurso, e comprometendo a capacidade
dos ecossistemas e do ciclo natural da água de satisfazerem as crescentes demandas
mundiais pelo insumo.
A demanda global crescente preocupa, e até 2030, projeta-se um cenário mundial em que
40% dos recursos hídricos estarão em déficit. A população mundial aumenta em 80
milhões de pessoas a cada ano, e o crescimento populacional é um fator importante a ser
considerado, mas a relação não é linear. A taxa de demanda por água, nas últimas duas
décadas, superou em duas vezes a taxa de crescimento populacional. (WWAP, 2015)
Globalmente, a escassez per capita da região Árabe a escassez continuará a aumentar
devido ao crescimento populacional e às mudanças climáticas (WWAP, 2019). O desafio
de assegurar acesso aos serviços hídricos básicos para todos os que estão em condições
extremas se intensificará devido a conflitos existentes, onde a infraestrutura hídrica é alvo
de constantes ataques, sendo danificadas e destruídas.
28
De acordo com a WWAP (2019), a região da Ásia e do Pacífico, em 2016, 29 dos 48
países da região foram classificados com insegurança hídrica devido à baixa
disponibilidade do recurso agravada pela extração excessivas dos lençóis freáticos. A
escassez é acentuada devido às mudanças climáticas da região. Os desastres naturais se
tornam mais frequentes e intensos, ao passo que os riscos de desastres estão superando a
resiliência do local.
Na Europa e na América do Norte, o acesso ao saneamento básico ainda é um desafio
para muitos países, especialmente os localizados em áreas rurais. A falta de água e
saneamento, assim como a desigualdade nessa região é acentuada pelas diferenças
socioeconômicas, socioculturais e geográficas.
Na América Latina e no Caribe, milhões de pessoas ainda não fazem uso de fonte
adequada de água potável, enquanto mais pessoas ainda sofrem com falta de saneamento
básico. A população mais afetada se encontra nas zonas periféricas de grande pobreza e
miséria, onde o acesso e a melhoria dos serviços se mostram bastante comprometidos.
Na África subsaariana, a grande pobreza nesta região se dá pela falta de infraestrutura de
gestão do recurso hídrico, sendo em outras palavras, uma questão de escassez econômica
da água, ambos em termos de estoque e fornecimento, com foco em qualidade e
potabilidade dos serviços. A figura a seguir mostra as zonas mais críticas em relação à
escassez do recurso hídrico no mundo:
Figura 6 – Estresse hídrico global em escala indicativa de quantidade total, em m³, de recursos
hídricos renováveis per capita por ano. (WWAP, 2015).
29
De acordo com The Office for the Coordination of Humanitarian Affairs (OCHA, 2018),
da ONU, a água vem apresentando potencial aumento no motivo de conflitos no mundo,
com efeitos colaterais de bastante relevância para a humanidade. Tradicionalmente, este
insumo não é considerado o fator principal de conflitos globais, apesar de ser visto como
uma variável catalizadora de tensões sociais, políticas e econômicas preexistentes. No
entanto, estas crenças e normas passadas que envolvem a problemática do recurso hídrico
estão sendo desfeitas a medida que mudanças climáticas se tornam mais frequentes e
severas, e o crescimento populacional se torna relevante e acelerado. As mudanças
climáticas impactam o fornecimento de água nos âmbitos locais, regionais e globais. A
figura a seguir mostra que o número de conflitos relacionados ao insumo hídrico vem
aumentando consideravelmente, desde 2013 até o ano de 2017. Em 2017, este recurso foi
pioneiro em conflitos em no mínimo 45 países do globo, os principais são localizados no
Iêmen foco de 28 conflitos e eventos, na Síria, 17, no Afeganistão, 5, Gana, 2, e no
México, 1:
Figura 7 – Conflitos gerados pela água (OCHA, 2018)
30
Ainda, a retirada excessiva de água para a agricultura e energia podem acelerar a escassez
de água no planeta. A água utilizada para geração de energia corresponde à 15% do total
utilizado mundialmente, e esse número tende a aumentar para 20% até 2035. O setor
agrícola já é o maior na escala de uso dos recursos hídricos, com participação de cerca de
70% da água retirada mundialmente, e 90% na maioria dos países menos desenvolvidos.
(WWAP, 2015)
A intensificação da degradação ambiental, as mudanças climáticas, o crescimento
populacional e a rápida urbanização, também acarretam desafios consideráveis na questão
da segurança hídrica. Ainda, em um mundo constantemente globalizado, o impacto das
decisões sobre os recursos hídricos ultrapassa barreiras e afeta toda a humanidade.
Se a degradação do ambiente natural e a pressão insustentável sobre os recursos hídricos
continuarem às mesmas das taxas atuais, 45% do PIB mundial e 40% da produção de
grãos mundiais estarão em risco até 2050. Com isso, as populações pobres e
marginalizadas serão desproporcionalmente afetadas, acelerando ainda mais as já
crescentes desigualdades. Mais de dois bilhões de pessoas vivem em países sofrendo com
alto estresse hídrico, e aproximadamente quatro bilhões passam por no mínimo um mês
de escassez hídrica no ano. (WWAP, 2019). Os recursos hídricos sofrem um constante e
crescente estresse. O seu uso vem crescendo mundialmente à uma escala de
aproximadamente 1% ao ano desde a década de 1980, impulsionado pela combinação do
crescimento populacional, desenvolvimento socioeconômico e mudança nos padrões de
consumo.
Espera-se que a demanda global de água continue crescendo a uma taxa similar até 2050,
o que geraria um aumento de 20% a 30% sobre o uso atual dos recursos hídricos,
principalmente por causa da demanda dos setores industriais e domésticos, como
apresentado na figura a seguir:
31
Figura 8 – Previsão de demanda de água (WWAP, 2012)
A população atingiu a marca de 7,6 bilhões de pessoas em junho de 2017. Espera-se que
em 2030, esse número seja de 8,6 bilhões e de 9,8 bilhões até 2050. Praticamente toda a
rede de crescimento populacional está ocorrendo nas cidades e o mundo está se tornando
cada vez mais urbanizado, o que confere mais desafios ao gerenciamento da água nestes
centros. 54%, mais da metade da população mundial mora em cidades. Espera-se que a
proporção entre a população urbana e rural aumente em dois terços (66,4%) até 2050. Os
desafios ao desenvolvimento sustentável serão ainda mais agudos nas cidades,
particularmente entre os países de média e baixa renda onde o crescimento populacional
e o ritmo da urbanização são os maiores. (WWAP, 2019)
Água e energia estão intimamente ligados. Mais de um bilhão de pessoas carecem de
acesso à eletricidade ou qualquer outra fonte limpa de energia (WWAP, 2012). Existem
diferentes tipos de fontes energéticas e de eletricidade, mas todas elas requerem água para
vários processos de produção, incluindo a extração de materiais in natura, resfriamento
térmico, limpeza de materiais, cultivo de plantações para biocombustíveis e
movimentação de turbinas. Controversamente, energia é necessária para tornar os
recursos hídricos disponíveis para consumo humano através de bombeamento, transporte,
tratamento, dessalinização e águas marinhas e irrigação.
32
O fato é que há água suficiente para prover as necessidades crescentes do planeta, mas
apenas se houver uma drástica mudança em como ela é vista, usada e gerida. As crises
hídricas globais são devidas principalmente por falta ou má governança, e não por
disponibilidade, e este é o setor onde a maior parte do esforço deve ser concentrado para
se atingir a segurança hídrica mundial.
2.3 CONFERÊNCIAS CRIADAS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM
REFORÇO AOS DIREITOS HUMANOS
A comissão mundial das nações unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento –
Comissão de Brundland, em seu relatório “Nosso Futuro Comum” de 1987, sustenta a
ideia de que desenvolvimento sustentável requer a utilização de recursos para suprir as
necessidades presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de fazerem
o mesmo. (WWAP, 2015)
Os oito “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM), promulgados a partir da
declaração do milênio na Cúpula do Milênio das Nações Unidas em 2000, integraram o
desenvolvimento sustentável ao sistema da ONU como um princípio organizacional para
a manutenção dos recursos finitos necessários para suprir as necessidades de futuras
gerações de vida no planeta. E em um horizonte de 15 anos, guiou-se os países signatários,
incluindo o Brasil, com informações sobre a realidade dos recursos hídricos a fim de
estimular intervenções visando o desenvolvimento sustentável da nação. (WWAP, 2015)
Em seguida, o documento criado a partir da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) – “O Futuro Que Queremos”, reconheceu que a
água está entre os pilares principais do desenvolvimento sustentável, reforçando a
importância do insumo na sociedade. (WWAP, 2015)
O ano de 2015 representa um outro marco histórico ao passo que os ODM se encerram.
Com um novo ciclo de 15 anos (2015 a 2030), se inicia com os “Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável” (ODS), preparado para guiar a comunidade internacional
e consequentemente os governos nacionais na missão compartilhada de se atingir um
mundo sustentável. (WWAP, 2015)
33
Este suporte vem através da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que
define uma série de desafios para a comunidade global, incluindo metas de acesso à água
potável, saneamento e melhor gerenciamento dos recursos hídricos. (WWAP, 2019)
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com os seus ODS, marca uma nova
era de universalidade. Os 193 países da Assembleia Geral das Nações Unidas se
comprometeram a erradicar a pobreza e alcançar o desenvolvimento sustentável em todas
as suas dimensões de modo justo, igualitário, transparente e inclusivo, garantindo que as
necessidades relacionadas à água e ao saneamento são satisfeitas em sua total amplitude,
inclusive aos que se encontram em situações vulneráveis. (WWAP, 2019)
Os 17 ODS com as suas 169 metas são respostas a este compromisso. Os objetivos não
são isolados, e sim pré-requisitos para se atingirem todos os outros 16. O ODS número 9
sobre água e saneamento é considerado um dos principais pilares por sustentar todas as
funções vitais relacionadas a saúde humana, dignidade, integridade ambiental e
prosperidade, assim como o suporte à sobrevivência do planeta. (WWAP, 2019). As
metas do ODS 9 são mostradas no quadro a seguir:
Quadro 2 - Objetivos do desenvolvimento sustentável (ITAMARATY, 2014)
Descrição das metas do ODS 9
Até 2030, garantir a todos o acesso universal, a preços acessíveis, à água potável e
segura, ao saneamento adequado e à higiene
Aumentar a cobertura da drenagem de águas pluviais nas cidades e o seu uso, em
substituição às águas tratadas, assim como promover a captação de água de chuva nos
domicílios urbanos e rurais, com o mesmo fim.
Aumentar a reciclagem de resíduos, por meio de "logística reversa", inclusive com
participação de catadores de materiais recicláveis
Melhorar a eficiência e reduzir o desperdício na adução, distribuição, uso e reuso de
água em todos os setores
Aumentar a capacidade de reservação de água para o enfrentamento de eventos de
secas, o controle de inundações e a regularização da geração de hidroenergia e da
navegação
34
Promover a captação, o armazenamento e o uso racional e eficiente dos recursos
hídricos na agricultura, inclusive com o tratamento e "re-uso" de águas cinzas e outras
fontes de água armazenada
Melhorar a qualidade da água por meio da redução da poluição e da ampliação do
tratamento dos efluentes, da reciclagem e do reuso
Fortalecer os mecanismos e as iniciativas de cooperação para a gestão da água em
bacias e corpos d’água nos âmbitos infranacionais e transfronteiriços
Evitar a contaminação de águas subterrâneas por agrotóxicos e fertilizantes
Promover a institucionalização da política de saneamento e de seus instrumentos
(planejamento, fiscalização, regulação, controle social e participação)
Promover tecnologias que aproveitem de forma racional e eficiente o potencial de
ganho econômico, social e ambiental dos processos de reciclagem de resíduos sólidos
urbanos e eletrodomésticos ou de sistemas de tratamento de esgoto e de efluentes
Assegurar a realização progressiva do direito humano à água e ao saneamento para
todos, de forma não-discriminatória, especialmente para indivíduos pertencentes a
grupos vulneráveis e marginalizados com base em questões de raça, gênero, idade,
deficiência, etnia, cultura, religião e origem nacional ou social ou com base em
quaisquer outras características
Promover a segurança hídrica, priorizados o abastecimento público de águas e a
manutenção dos ecossistemas
Proporcionar instalações e infraestruturas adequadas, tanto construídas quanto naturais,
para água potável e sistemas de saneamentos seguros, para usos produtivos de recursos
hídricos e para a mitigação dos impactos dos desastres relacionados com
a água
Desenvolver infraestrutura de águas e saneamento confiável, sustentável e resiliente,
com foco no acesso equitativo e a preços acessíveis para todos
O atingimento das metas do ODS 9 relacionado especificamente aos serviços que este
suporta requererão melhorias nos níveis de planejamento, capacidade construída,
governança e investimento nas esferas nacionais e locais. Os direitos humanos ao acesso
à água e ao saneamento estão intrinsicamente ligados ao gerenciamento dos recursos
hídricos e ao meio ambiente como um todo. E é por meio do exercício do direito que
35
haverá o respeito ao atendimento das necessidades da sociedade perante à segurança
hídrica e ao meio ambiente sustentável. (WWAP, 2019)
O acesso seguro à água potável e saneamento são reconhecidos como direitos humanos
básicos pois são indispensáveis ao sustento da saúde vital e fundamental na garantia da
dignidade de todos os seres humanos. A lei internacional sobre os direitos humanos, sob
o Artigo 11 (1) do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(PIDES, 1967), obriga os estados a trabalharem frente à universalização destes serviços,
sem discriminação, ainda priorizando os que se encontram em situações mais
desfavoráveis. (WWAP, 2019). No dia 28 de julho de 2010, a Assembleia das Nações
Unidas adotou a resolução histórica, reconhecendo que “o direito ao acesso seguro e
limpo à água potável e ao saneamento como direitos humanos é essencial ao total
aproveitamento da vida e de todos os direitos humanos”.
2.4 INTERVENÇÕES NECESSÁRIAS
Munir os tomadores de decisão com ferramentas que mostram as consequências amplas
das decisões tomadas em relação aos recursos hídricos, assim como sua inércia, pode
contribuir substancialmente para um melhor gerenciamento do recurso em geral,
reduzindo assim as ameaças e os impactos adversos. (WWAP, 2012)
Políticas hídricas e energéticas que são geralmente criadas por diferentes departamentos
ou ministérios deverão ser, o quanto antes, integradas, estruturadas e coordenadas. Uma
operação industrial eficiente requer uso racional e sustentável da água na quantidade e
quantidades certas, no lugar, tempo e preço corretos. A indústria deve exercer papel
importante no endereçamento eficiente das extrações excessivas dos recursos hídricos,
refletindo primeiro suas prioridades e valores. (WWAP, 2012)
Valorizar os múltiplos benefícios socioeconômicos que a água traz é essencial para
melhorar a tomada de decisões governamentais, organizações internacionais, a sociedade
civil, a comunidade doadora, e outros envolvidos. Controversamente, o fracasso em se
valorizar completamente os benefícios gerados pela água em seus diferentes usos é a
causa raiz da negligencia política e seu gerenciamento ineficaz. A distribuição da água
36
escassa para usos variados é o coração do planejamento e gerenciamento do recurso.
(WWAP, 2012)
A água é vital para a produção de bens e comodities, particularmente comida, que é
incluso nos bens de consumo. A globalização das transações de mercado significa que
todos os países e empresas, conscientemente ou não, estão envolvidas na relação virtual
de importação e exportação de água através de bens de consumo e por isso dividem a
responsabilidade dos impactos em níveis locais e regionais associadas às transações
internacionais, incluindo poluição e escassez, e no investimento estrangeiro à proteção
dos sistemas que envolvem os recursos hídricos. Com a demanda de água e sua
disponibilidade se tornando cada vez mais incerta, todas as sociedades do mundo se
tornam mais suscetíveis a uma gama maior de riscos associados ao suprimento
inadequado de água, incluindo a fome a sede, acompanhadas de altas taxas de doenças e
mortes, perda em produtividade e crises econômicas, além da degradação dos
ecossistemas. Estes impactos elevam a crise hídrica a uma problemática de preocupação
global. As futuras demandas hídricas não serão função somente da quantidade de comida,
de energia e de atividade industrial que as populações urbanas e rurais necessitarão para
suprir seus serviços e atividades básicas em uma situação de crescimento populacional e
mudanças na situação socioeconômica, mas sim, como que os limitados e escassos
recursos hídricos são utilizados de maneira eficiente para atender todas essas
necessidades. (WWAP, 2012)
Sob a lei internacional dos direitos humanos, os estados são obrigados a respeitar o
usufruto dos direitos humanos à água e ao saneamento básico em seus países, se abstendo
de ações que interfiram nestes direitos e prevenindo que seus próprios cidadãos e
companhias violem esses direitos. Além disso, os estados devem facilitar a realização do
direito à água nos seus países, através da provisão de fontes de água, investimento e
assistência técnica, e suporte medico quando necessário, alinhados com o pacto
internacional dos direitos humanos. (WWAP, 2019)
37
2.5 ÁGUA NO BRASIL - AMBITO NACIONAL E REGIONAL
O Brasil é um dos países que possuem a maior disponibilidade de água doce do mundo.
Apesar da abundância, os recursos hídricos estão distribuídos de forma desigual no
território, espacial e temporalmente. Cerca de 80% desse total encontra-se na região
Amazônica, onde vive a menor parte da população e a demanda de água é menor. Os
baixos índices de precipitação, a irregularidade dos regimes de seca e cheia, temperaturas
elevadas durante todo ano, contribuem para os reduzidos valores de disponibilidade
hídrica observados no Nordeste Brasileiro, em particular na região Semiárida e no
Nordeste Setentrional (estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco),
como pode-se observar na figura a seguir:
Figura 9 – Classificação quanto à quantidade de água de chuva em 2017 (ANA, 2018)
Segundo projeções, as demandas hídricas de retirada para suprimento de água a diversos
setores usuários, incluindo a população e as atividades econômicas podem aumentar cerca
de 2000% no período entre 1931 e 2030. Esse aumento está ligado a fenômenos como a
urbanização, o uso e a ocupação do solo desordenados, aumento populacional, deficiência
em investimentos em infraestrutura hídrica e mudanças climáticas. Tal condição resulta
em riscos de ocorrência de balanço hídrico entre oferta e demanda de água negativo em
38
diversas regiões do País. (ANA 2017, apud PNSH, 2019). As projeções citadas, separadas
por setor, é evidenciada a seguir:
Figura 10 – Evolução das retiradas de água no Brasil, por setor usuário (PNSH, 2019)
No que se refere aos efeitos dos grandes aglomerados populacionais nos recursos
hídricos, observa-se um rápido crescimento da taxa de urbanização do Brasil entre as
décadas de 60 e 80. Em 2010, ela era de 84% e as previsões estimam um crescimento
para aproximadamente 90% em 2020, contribuindo para ampliar conflitos pelo uso dos
recursos hídricos nas áreas urbanas e para piora da qualidade das águas. (PNSH, 2019)
O conceito de segurança hídrica, de acordo com o Programa Nacional de Segurança
Hídrica (PNSH), considera quatro dimensões (humana, econômica, ecossistêmica e de
resiliência), que quando agregadas, retratam as dificuldades de cada região do território
nacional através do Índice de Segurança Hídrica (ISH). A partir da realidade que este
índice retrata, os esforços públicos e privados vinculados infraestrutura e gestão de água
são melhor direcionados. (PNSH, 2019)
O cenário previsto para 2035, mostra um maior impacto no clima semiárido, onde a
disponibilidade hídrica escassa na região Nordeste é causada pela intermitência dos
cursos d’água, pela variabilidade pluviométrica inter e intra anual e pela alta demanda do
insumo para irrigação.
39
O baixo índice de segurança hídrica na metade sul do Rio Grande do Sul é devido à
elevada pressão sobre os recursos hídricos pela técnica de irrigação por inundação nas
lavouras de arroz, aliada à grande amplitude pluviométrica da região.
Em contrapartida, as regiões metropolitanas apresentam baixa segurança hídrica em
virtude do aumento da demanda dos grandes centros urbanos com maior dinamismo
econômico e produtivo. O índice também é influenciado pela: má qualidade das águas,
poluídas principalmente por esgotos domésticos sem tratamento adequado; utilização de
fontes hídricas interdependentes, caracterizadas por transferências de água entre bacias,
recaindo em conflitos de uso.
Nas regiões com maior segurança hídrica, o resultado do ISH se deve à maior
disponibilidade hídrica natural combinada com pequena pressão de demandas. O
compilado nacional do índica é apresentado na figura a seguir:
Figura 11 – Índice de segurança hídrica por regiões no Brasil (PNSH, 2019)
40
A dimensão humana do ISH avalia a garantia da oferta de água para o abastecimento de
todas as cidades do País. Além disso, ela busca quantificar a população exposta a maiores
riscos de não atendimento e identificar regiões críticas. Neste contexto, identificou-se que
60,9 milhões de pessoas, 34% da população urbana em 2017, vivem em cidades com
menor garantia de abastecimento de água. No horizonte de 2035, a figura a seguir mostra
que a população total em risco sobe para 73,7 milhões de pessoas. (PNSH, 2019). Esses
resultados refletem, predominantemente, a pressão sobre os recursos hídricos devido à
demanda das grandes concentrações populacionais urbanas, à escassez de água e ao
aumento progressivo da taxa de urbanização do país.
Figura 12 – Dimensão Humana do Índice de Segurança Hídrica do Brasil – 2035 (PNSH, 2019)
A dimensão econômica do ISH foi representada pelos setores agropecuários e industrial,
por serem os que representam o uso mais expressivo dos recursos hídricos no território
nacional. Assim, foi verificado que o risco total da produção econômica desses setores,
num cenário de crise hídrica severa era de R$ 228,4 bilhões em 2017, correspondente a
cerca de 13% do PIB dos mesmos setores naquele ano. Desse total, o risco pós-déficit é
estimado em R$ 164,0 bilhões e o risco iminente de R$ 64,4 bilhões. Para 2035, projeta-
se um aumento do risco total para R$ 518,2 bilhões, maior do que o dobro do valor
41
estimado para 2017. (PNSH, 2019), como mostra a figura adiante. Segundo os critérios
adotados pelo PNSH (2019), a atividade produtiva que se mostra em maior risco é a
indústria, em ambos os horizontes temporais, devido aos seus maiores valores agregados
em relação aos da irrigação e aos da pecuária.
Figura 13 – Dimensão Econômica do Índice de Segurança Hídrica do Brasil – 2035 (PNSH,
2019)
De acordo com a dimensão ecossistêmica do ISH, cerca de 2% da área do País se encontra
com nível de segurança mínimo, devido, principalmente, às elevadas concentrações de
DBO nos cursos d’água, poluídos predominantemente por esgotos domésticos sem
tratamento adequado. Essa dimensão identifica áreas críticas que possuem limitação na
oferta hídrica e no suprimento de demandas em função da baixa qualidade da água e de
questões ambientais (PNSH, 2019), como evidenciado a seguir:
42
Figura 14 – Dimensão Ecossistêmica do Índice de Segurança Hídrica do Brasil – 2035 (PNSH,
2019)
A dimensão de resiliência do ISH expressa o potencial dos estoques de água naturais e
artificiais do Brasil para suprimento de demandas a múltiplos usuários em situações de
estiagem severa e seca, eventos que podem ser agravados pelas mudanças climáticas. A
figura a seguir indica a região semiárida como a mais vulnerável. A análise dessa
dimensão permite identificar as áreas com menor grau de resiliência, em que um balanço
hídrico deficitário é mais crítico devido à alta variabilidade pluviométrica somada à
ausência de reservatórios ou de águas subterrâneas.
43
Figura 15 – Dimensão Resiliência do Índice de Segurança Hídrica do Brasil – 2035 (PNSH,
2019)
2.5.1 APOIO NACIONAL AO OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL NÚMERO 6
A criação do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA), na
esfera federal, vem ao encontro de uma antiga demanda do Setor Saneamento, delineada
desde o início da década de 1980, e sistematizada no “Seminário Internacional sobre
Economia de Água de Abastecimento Público” (anais publicados em 1986). O evento foi
promovido pela então Secretaria de Saneamento, em articulação com o Banco Nacional
da Habitação (BNH) e executado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em
colaboração com a Universidade de São Paulo (USP), apoiados pela Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), pela Associação Brasileira dos
Fabricantes de Materiais para Saneamento (ASFAMAS) e outras entidades do Setor.
Na ocasião foram firmados protocolos de cooperação com entidades civis alinhadas com
os objetivos do Programa e, em setembro do mesmo ano, foi celebrado um primeiro
convênio com a Fundação para Pesquisa Ambiental (FUPAM), vinculada à Faculdade de
44
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. O convênio teve como escopo a
realização de estudos especializados e a organização de um conjunto de Documentos
Técnicos de Apoio (DTA) às atividades do Programa, nas áreas de planejamento das
ações de conservação, de tecnologia dos sistemas públicos de abastecimento de água e de
tecnologia dos sistemas prediais de água e esgoto.
O Programa tem por objetivo geral promover o uso racional da água de abastecimento
público nas cidades brasileiras, em benefício da saúde pública, do saneamento ambiental
e da eficiência dos serviços, propiciando a melhor produtividade dos ativos existentes e a
postergação de parte dos investimentos para a ampliação dos sistemas. Este objetivo será
perseguido a partir de um conhecimento aprofundado das reais capacidades de oferta de
água em diferentes regiões do país, cotejadas com os custos das medidas voltadas ao
controle dos desperdícios. Tem por objetivos específicos definir e implementar um
conjunto de ações e instrumentos tecnológicos, normativos, econômicos e institucionais,
concorrentes para uma efetiva economia dos volumes de água demandados para consumo
nas áreas urbanas, auxiliando a elaboração de planos regionais e locais de conservação e
uso racional da água.
Na estruturação institucional das ações abrangidas pelo PNCDA são trabalhados os
pontos de vista do interesse público, da concessionária e do consumidor, destacando-se
suas linhas de convergência e de divergência. É proposta uma estrutura organizacional
suficientemente flexível para dar conta das especificidades e dos conflitos que
inevitavelmente emergem das ações de conservação em geral, com ênfase no papel dos
planos regionais e dos códigos de prática como instrumentos preferenciais de
planejamento de ações integradas e de normalização técnica, esta última em articulação
com programas de qualidade que incluam produtos e processos poupadores de água. São
definidas áreas de competência normativa e ações prioritárias no âmbito da Coordenação
Nacional do Programa, para apoio à execução de planos regionais e locais de conservação
e uso racional da água. (PNCDA, 1999)
45
São objetivos específicos do Programa:
Quadro 3 – Objetivos específicos do PNCDA (Adaptado do PNCDA, 1999)
Objetivos
específicos Descrição
1 promover a produção de informações técnicas confiáveis para o conhecimento
da oferta, da demanda e da eficiência no uso da água de abastecimento urbano
2
apoiar o planejamento de ações integradas de conservação e uso racional da
água em sistemas municipais, metropolitanos e regionais de abastecimento,
incluindo componentes de gestão de demanda (residencial e não residencial), de
melhoria operacional no abastecimento e de uso racional da água nos sistemas
prediais;
3 apoiar os serviços de saneamento básico no manejo de cadastros técnicos e
operacionais com vistas à redução nos volumes de águas não faturadas
4
apoiar os serviços de saneamento básico na melhoria operacional voltada à
redução de perdas físicas e não físicas, notadamente em macromedição,
micromedição, controle de pressão na rede e redução de consumos operacionais
na produção e distribuição de água
5
promover o desenvolvimento tecnológico de componentes e equipamentos de
baixo consumo de água para uso predial, inclusive normalização técnica,
códigos de prática e capacitação laboratorial
6
apoiar os programas de gestão da qualidade aplicados a produtos e processos
que envolvam conservação e uso racional da água nos sistemas público e
prediais
Enquanto programa nacional, coordenado no âmbito da administração pública federal, o
PNCDA centra as suas principais ações em linhas de capacitação, assistência técnica e
desenvolvimento institucional. As ações diretas de gestão da oferta e da demanda de água
são de competência das esferas estadual e municipal, em articulação com entidades
públicas e privadas envolvidas no abastecimento de água, desde a captação até o consumo
final. Não existe uma hierarquia rígida segundo a qual as ações devam ser empreendidas.
Qualquer dos agentes, relacionados no quadro a seguir, poderá ser parte independente na
execução de ações de conservação da água atinentes a suas finalidades. No entanto,
sempre que possível os planos regionais ou locais deverão ser integrados por múltiplos
agentes de maneira que cada um responda por uma parte definida das ações coordenadas
sob o objetivo comum da conservação de água. (PNCDA, 1999):
46
Quadro 4 – Agente principais da articulação de planos regionais ou locais de combate ao
desperdício de água (Adaptado do PNCDA, 1999)
Agentes
principais Descrição
1
os governos estaduais, as prefeituras municipais e as entidades regionais (região
metropolitana, aglomeração urbana, microrregião), dependendo da abrangência
geográfica do plano
2 as entidades reguladoras - estaduais ou municipais - dos serviços de saneamento
básico, de acordo com a abrangência do plano
3 as entidades de gestão de recursos hídricos, compreendendo as unidades incluídas
no plano
4 as entidades prestadoras de serviço de saneamento básico na região ou localidades
abrangidas
5
as organizações não governamentais com objetivos de interesse social e ambiental
envolvidas em ações regionais ou locais afins com os planos de conservação da
água
6 a indústria de componentes e equipamentos de saneamento, para os sistemas
públicos e prediais
7 as entidades de normalização técnica e gestão da qualidade
8 as entidades de defesa do consumidor
9 as entidades que congregam os prestadores de serviços e os profissionais da área
de saneamento básico, tais como ABES, AESBE e ASSEMAE
A segurança hídrica é condição indispensável para o desenvolvimento social e
econômico, especialmente quando se verificam os impactos causados pelos eventos
hidrológicos extremos ocorridos na atual década no Brasil. Em boa medida, a inserção
do tema segurança hídrica entre as atribuições do Ministério do Desenvolvimento
Regional (MDR) e a vinculação da Agência Nacional de Águas (ANA) ao MDR
fortalecem o arcabouço institucional para planejamento, execução, operação e
manutenção da infraestrutura hídrica estratégica para o País, que é elemento essencial na
garantia da oferta de água para atendimento às necessidades humanas e às atividades
econômicas, bem como para redução dos riscos associados às secas e cheias.
O Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH) passa a ser o instrumento fundamental
de tomada de decisões nesse tema. Materializado por meio de um programa de
investimentos, as intervenções selecionadas foram objeto de análise criteriosa quanto à
sua relevância, prioridade e efeito sobre os principais problemas de segurança hídrica do
País. O MDR e a ANA almejam que o caminho para a segurança hídrica no Brasil,
47
detalhado no PNSH, resulte em marco na política pública e na forma como são concebidos
e realizados os investimentos em infraestrutura hídrica. Para tanto, é necessário o
engajamento das demais esferas de governo e da parceria fundamental dos Estados no
direcionamento dos esforços requeridos para a sua implementação.
A Segurança Hídrica, de acordo com o conceito da Organização das Nações Unidas
(ONU), existe quando há disponibilidade de água em quantidade e qualidade suficientes
para o atendimento às necessidades humanas, à prática das atividades econômicas e à
conservação dos ecossistemas aquáticos, acompanhada de um nível aceitável de risco
relacionado a secas e cheias, devendo ser consideradas as suas quatro dimensões,
mostradas na figura a seguir, como balizadoras do planejamento da oferta e do uso da
água em um país:
Figura 16 – Conceito de segurança hídrica (PNSH, 2019)
De acordo com o PNSH (2019), para reverter um quadro de Insegurança Hídrica, é
possível atuar de modo tradicional mediante a implantação de infraestrutura hídrica e o
aperfeiçoamento da gestão de recursos hídricos, como planejamento, controle do uso da
água, monitoramento, operação e manutenção de sistemas hídricos, etc. Adicionalmente,
é importante incorporar medidas para gestão de riscos, em detrimento da resposta a crises,
o que envolve um conhecimento aprofundado da vulnerabilidade e da exposição do
ambiente diante de algum evento, visando à proposição de ações dirigidas ao aumento da
resiliência da área envolvida. Deve-se buscar, em síntese, um cenário ideal de segurança
48
hídrica, em que a infraestrutura esteja planejada, dimensionada, implantada e gerida
adequadamente, atendendo tanto ao equilíbrio entre a oferta e a demanda de água quanto
a situações contingenciais, fruto da vulnerabilidade a eventos climáticos extremos
Historicamente, o Brasil carece de planejamento em escala nacional com essa abordagem,
que reúna ações tradicionais e gestão de riscos, de forma a balizar a tomada de decisões
sobre os investimentos estratégicos em infraestrutura hídrica. Em que pese muitas
intervenções terem sido executadas ao longo das últimas décadas, é fundamental a
existência de um roteiro comum que oriente os investimentos, construído a partir de uma
base única de diagnóstico e metodologia de análise integrada dos déficits hídricos e das
soluções requeridas em todo o território nacional. A partir de diretrizes e critérios
advindos do conceito de segurança hídrica, o PNSH assegura ao Brasil um planejamento
integrado e consistente de infraestrutura hídrica com natureza estratégica e relevância
regional, até o horizonte de 2035, para redução dos impactos de secas e cheias. (PNSH,
2019)
Ao nível global, as preocupações com segurança hídrica passaram a se manifestar com
maior veemência neste século XXI. As quatro dimensões – humana, econômica,
ecossistêmica e de resiliência – do conceito de segurança hídrica definido pela ONU
balizaram a elaboração do PNSH (2019) e representam um grande desafio a ser vencido
pelo Brasil, país com características continentais e grandes diferenças inter-regionais, que
se evidenciam em um território que abrange 8,5 milhões de km² e abriga uma população
de mais de 200 milhões de habitantes. (PNSH, 2019). O plano apresenta um conjunto de
intervenções estruturantes e estratégicas para garantia da oferta de água e controle de
cheias no território nacional, bem como o roteiro para que essa infraestrutura hídrica
possa ser viabilizada ao longo dos próximos 16 anos. As intervenções para oferta de água
recomendadas no portfólio do PNSH observaram as seguintes diretrizes gerais:
49
Quadro 5 – Diretrizes gerais do PNSH (PNSH, 2019)
Diretrizes Descrição
1
Atendimento de unidades territoriais que concentram a maior parte dos
problemas
estratégicos do País (por Unidade da Federação), caracterizadas pelos maiores
déficits e riscos ao abastecimento humano e às atividades produtivas, medidos
pela população beneficiada e pelo valor da produção agropecuária e industrial
2
Foco no suprimento a déficits existentes e projetados a partir de demandas
efetivas, resultados de estimativas dos cenários atuais e tendenciais de usos da
água.
3
Aproveitamento dos recursos hídricos locais e da infraestrutura hídrica existente
e em obras. Nesse caso, a efetividade da obra não se dá apenas pelo aumento da
oferta hídrica, mas pelo efetivo suprimento da demanda em centros de consumo,
o que pode exigir ações complementares para as devidas interligações.
4
Abastecimento humano realizado por meio de fontes com garantia de quantidade
e qualidade de água, preferencialmente por adução direta de reservatórios
evitando-se a dependência de trechos de rios perenizados
Em síntese, os resultados apresentados no PNSH buscam traçar o caminho para a
segurança hídrica do Brasil priorizando a resolução dos problemas mais latentes, os
passos necessários e indispensáveis para a efetividade das intervenções recomendadas e
o acesso à água como condição essencial à manutenção da vida e das atividades
produtivas. Nesse sentido, a premissa básica do PNSH está coerente com a meta global
do acesso à água da Agenda 2030 ao priorizar o atendimento a demandas efetivas como
condição essencial ao desenvolvimento sustentável. Ao se ampliar o conceito de
Segurança Hídrica para além das quatro dimensões observadas no ISH, conforme
concepção original da ONU, observa-se que a lógica estabelecida ao nível global também
pode ser aplicada ao Brasil, dada a sua ampla dimensão territorial e diversidade regional.
De fato, a boa governança, a cooperação transfronteiriça entre unidades federativas e
bacias hidrográficas, a paz e a estabilidade política, que pode ser medida pela
minimização dos conflitos pelo uso da água, e a disponibilidade de fontes de
financiamento, são aspectos complementares a serem observados para que o PNSH se
materialize e se mantenha dinâmico e atualizado. (PNSH, 2019)
50
3. MÉTODO PURA PARA REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA
De acordo com Oliveira (1999), o gerenciamento da utilização da água com o objetivo de
preservar os recursos ambientais, principalmente, os recursos hídricos, visando a redução
do desperdício, deve ser realizado nos 3 níveis sistêmicos: nível macro, referente aos
sistemas hidrográficos; nível meso, referente aos sistemas públicos urbanos de
abastecimento de água e coleta de esgoto sanitário; nível micro, referente aos sistemas
prediais.
O programa PURA, criado em 1995, foi concebido por meio de um convênio entre a
Escola Politécnica da USP, através do laboratório de sistemas prediais, a Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT). Esta criação buscou resultados perenes de economia de água com a
redução de desperdícios, em congruência com o Programa Nacional de Combate ao
Desperdício de água (PNCDA, 1999).
Em suma, o desperdício é configurado quando há perdas e uso excessivo na utilização do
sistema hidráulico. É caracterizada como perda, a água que escapa do sistema antes de
ser utilizada para uma atividade fim. Em geral, as perdas ocorrem devido a fatores como
vazamento, mau desempenho do sistema e negligência do usuário.
O uso excessivo é configurado quando a água é utilizada para uma atividade fim de forma
perdulária, ou seja, através de um procedimento inadequado, ou por mau desempenho do
sistema, como banhos prolongados com vazões projetadas superiores a necessidade da
atividade.
Entende-se por uso racional da água a otimização de seu uso considerando-se duas ações
operacionais no sistema: atuação, configurada como ação que influencia a redução do
consumo de água, como instalação de componentes economizadores de água; e controle,
prevendo ações que auxiliam a estabilização do consumo de água nos níveis mínimos
alcançados, como o monitoramento sistemático.
51
Para a redução de água utilizada e de desperdícios nos edifícios pode-se implementar
ações econômicas pela volatilidade das tarifas; ações sociais por meio de campanhas
educativas; e ações tecnológicas, pela implementação de dispositivos economizadores,
medição setorizada, telemetria, detecção e correção de vazamentos, reaproveitamento de
água, dentro outros.
A metodologia proposta possibilita a implantação do PURA com ênfase para as ações
tecnológicas. Essa metodologia apresenta diretrizes para a realização de um diagnóstico
do sistema. Em função deste, elabora-se um plano de intervenção para a redução de
consumo de água e para a determinação do impacto proporcionado pelas ações
implementadas.
A ênfase dada às ações tecnológicas deve-se ao fato destas apresentarem uma perspectiva
de maior eficiência na redução de usos e de desperdícios de água pois, em geral, a
concepção de sistemas e componentes economizadores de água preconiza um menor
consumo, maior desempenho e menor influência da ação do usuário na economia de água.
Dentre as opções tecnológicas que contribuem para a redução e o controle de consumo
da água, citam-se os sistemas de medição setorizada do consumo de água; os sistemas e
componentes economizadores de água; a detecção e correção de vazamentos; o reuso ou
reaproveitamento da água; e a reciclagem de água servida.
Considera-se que é necessária uma contribuição metodológica que permita a implantação
de PURAs em edifícios, através de um plano de intervenção exclusivo, elaborado em
função das características físicas e funcionais do sistema e que contemple todas as ações
possíveis, com ênfase para aquelas com maior potencial de redução de consumo, de tal
forma a proporcionar maior ganho para os níveis dos sistemas prediais, dos sistemas
públicos e dos sistemas hidrográficos.
A metodologia proposta sistematiza as intervenções a serem realizadas em uma
edificação de tal forma que as possíveis ações para redução de consumo de água sejam
resultantes de um conhecimento amplo do sistema e, dessa forma, garantindo os níveis
mínimos desejáveis de uso e de desperdícios de água.
52
A metodologia PURA é estruturada em 4 etapas, conforme o fluxograma apresentado a
seguir:
Figura 17 – Fluxograma das etapas da PURA. Parte 1 (Adaptado de OLIVEIRA, 1999)
Figura 18– Fluxograma das etapas da PURA. Parte 2 (Adaptado de OLIVEIRA, 1999)
53
Figura 19– Fluxograma das etapas da PURA. Parte 3 (Adaptado de OLIVEIRA, 1999)
Figura 20– Fluxograma das etapas da PURA. Parte 4 (Adaptado de OLIVEIRA, 1999)
54
O método para implantação do PURA em edifícios é estruturada em quatro etapas,
descritas a seguir:
Quadro 6 – Macro etapas do PURA. (Adaptado de OLIVEIRA, 1999)
Etapas Descrição
Auditoria do
consumo de
água
é a etapa que permite o conhecimento da utilização da água no sistema através
de planejamento adequado para a realização de levantamento documental, das
características físicas e funcionais do edifício e, em particular, do sistema
hidráulico e das solicitações dos usuários ao sistema.
Diagnóstico
do consumo
de água no
edifício
síntese organizada das informações, obtidas na auditoria do consumo de água,
que identifica as condições de operação, os problemas e os pontos frágeis do
sistema de forma quantitativa e qualitativa. Logo, esta etapa torna-se
ferramenta indispensável para o planejamento de ações compatíveis com as
condições de operação do sistema.
Plano de
intervenção
é o conjunto de ações, definidas em função do diagnóstico e das condições
técnico econômicas, com o objetivo de reduzir usos e desperdícios de água no
sistema predial, sem, contudo, diminuir o nível de conforto e de higiene e,
principalmente, colocar em risco a saúde do usuário, através do menor volume
de água a ser utilizado no sistema.
Avaliação do
impacto de
redução do
consumo de
água
consiste em verificar o efeito de cada uma das ações implementadas no
sistema, através do monitoramento diário, semanal ou mensal do volume de
água medido, cujo valor é confrontado com o volume médio medido no
período anterior à implementação do PURA, considerando-se a influência das
variáveis e eventos nos dois períodos.
3.1 AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA
Considera-se auditoria do consumo de água o conjunto de informações e observações
preliminares do sistema hidráulico e dos procedimentos dos usuários nas atividades que
utilizam a água. Antes de implementar quaisquer ações que promovam a redução de
desperdícios e de volumes utilizados em um sistema é essencial verificar como a água é
consumida e, se possível, levantar as áreas grandes consumidores do sistema, que variam
em função da tipologia do edifício.
A realização da auditoria do consumo de água possibilita um melhor conhecimento dos
valores de consumo diário e de consumo por agente consumidor. Estas informações
contribuem para um diagnóstico mais preciso do sistema, o que facilita a elaboração de
um plano de intervenção mais adequado, com ações especificas para o sistema em função
de suas necessidades e características físico-funcionais.
55
Esta etapa é imprescindível quando se deseja avaliar o impacto da redução do consumo
de água em função das ações implementadas, uma vez que os dados levantados serão
referência para a avaliação. Dessa forma, propõe-se que a auditoria do consumo de água
seja realizada fazendo-se o levantamento do histórico do indicador de consumo de água
e do levantamento do edifício.
3.1.1 HISTÓRICO DO INDICADOR DE CONSUMO DE ÁGUA
O histórico do consumo de água constitui-se do levantamento dos valores de consumos
mensais de água, relativos aos últimos doze meses, para os edifícios com sistema de
medição antes do PURA ou dos consumos diários dos últimos trinta dias, para edifícios
que receberam sistema de medição após o PURA.
3.1.1.1 HISTÓRICO DO CONSUMO DE ÁGUA DOS ÚLTIMOS DOZE MESES
Tais valores são obtidos da administração ou do proprietário do edifício, conforme a
tipologia em estudo ou podem ser solicitados à companhia de saneamento básico que
presta serviços ao município onde está localizado o edifício ou, ainda, adquiridos através
de leituras diárias do hidrômetro.
Ressalta-se que para a obtenção desses dados, através de uma companhia de saneamento
básico, são necessários o fornecimento do número do hidrômetro ou do número da conta
e do endereço completo do edifício no qual está sendo implantado o PURA. Caso o
edifício tenha mais de um hidrômetro, obter o consumo total, ou seja, referente à soma
dos consumos de todos os hidrômetros. (OLIVEIRA, 1999).
3.1.1.2 HISTÓRICO DO NÚMERO DE AGENTES CONSUMIDORES
Denomina-se agente consumidor a variável mais representativa do consumo de água em
um sistema, a qual depende não só da tipologia do edifício, mas, também das
características funcionais do sistema e suas atividades envolvidas.
Considerando-se que para várias tipologias de edifício os agentes consumidores são
representados pela população, deve-se observar a existência de dois tipos de população:
56
fixa e flutuante. Denomina-se “população fixa” aquela que é usuária do sistema com
frequência e permanência contínua, portanto sem a consideração dos usuários que estão
de férias ou afastados. Entende-se “por população flutuante” aquela que utiliza o sistema
eventualmente, sem frequência ou horários fixos.
O histórico do número de agentes consumidores é, geralmente, obtido da área responsável
pelo controle populacional do edifício: recursos humanos, estatística, administração de
condomínio ou outra, conforme a tipologia do edifício. Os valores obtidos devem ser
relativos ao período equivalente ao histórico do consumo de água. É indispensável o
cadastro do número de agentes consumidores, não só durante a realização da auditoria,
mas também, durante a implementação das ações do plano de intervenção. (OLIVEIRA,
1999).
3.1.1.3 CÁLCULO DO INDICADOR DE CONSUMO DE ÁGUA
O período de atividades utilizado no cálculo do indicador de consumo varia em função
da tipologia do edifício. Assim, no caso de edifícios hospitalares e de edifícios
residenciais o período considerado deve ser o número total de dias do mês em questão,
pois estão em atividade permanente. O cálculo do indicador de consumo para edifícios
em que há interrupção de atividades em finais de semana, feriados e férias, é realizado
através da equação 1:
𝐼𝐶 =𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜
𝑛º 𝑑𝑒 𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 × 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠
(1)
Equação 1 – Indicador de consumo
A determinação dos valores de indicadores de consumo para o período histórico é de
máxima importância, pois eles constituem-se em valores de referência para a análise do
impacto de redução do consumo de água, após cada uma das ações implementadas no
decorrer do PURA, ou seja, para sua.
Somente a análise do histórico do indicador de consumo de água mostra se houve
aumento ou decréscimo real do consumo, pois quando há aumento do número de agentes
consumidores a tendência é o acréscimo do consumo de água. Caso o consumo permaneça
57
o mesmo após o aumento do número de agentes consumidores, o indicador de consumo
apresenta valores menores, mostrando redução real do consumo. Assim, uma análise
somente do histórico do consumo mensal de água pode conduzir a uma avaliação errônea.
(OLIVEIRA, 1999)
3.1.2 DIAGNÓSTICO PRELIMINAR
Ao analisar os indicadores de consumo de água do período histórico (ICh), podem ser
verificados dois casos, sendo que no primeiro, deve-se obter o valor médio dos
indicadores de consumo nos dois grupos e analisar suas respectivas situações:
Quadro 7 – Casos dos indicadores de consumo (Adaptado de OLIVEIRA, 1999)
Cenários Descrição
Caso 1 Heterogeneidade dos valores de indicador de consumo de água do
período histórico, formando dois grupos: ICh1 e ICh2
Caso 2 Homogeneidade dos valores de indicador de consumo de água do
período histórico, não denotando anomalia no sistema.
ICh1 < ICh2
Indica que o sistema estava operando em condições normais e tenha
ocorrido desperdício de água, influenciando o aumento do valor do
indicador de consumo
ICh1 > ICh2 indica que o sistema estava com desperdício, foi corrigido e voltou a
operar em condições normais
No segundo caso, o sistema pode apresentar as seguintes configurações: condições
adequadas de operação; consumo excessivo já existente; o indicador apresentou aumento
antes do período histórico e, por essa razão, a falha no sistema tornou-se imperceptível
no período em análise.
Assim, para a realização de um diagnóstico preliminar do sistema, o qual possibilita a
previsão de um impacto de redução de consumo de água, recomenda-se estimar o valor
de consumo mensal de água através de equações propostas por Berenhauser; Pulici (1983)
apud Oliveira (1999), e seu posterior potencial desperdício.
58
Oliveira (1999) ainda ressalta que, quando não for possível a determinação do desperdício
estimado, deve-se diagnosticar o desperdício no sistema considerando-se somente
eventos indicativos.
3.1.3 LEVANTAMENTO DO EDIFÍCIO
De acordo com Oliveira (1999), para o conhecimento das características físicas e
funcionais do sistema hidráulico e das atividades desenvolvidas no edifício, é necessária
a realização de um levantamento geral. Assim, essa etapa deve ser iniciada pelo
levantamento documental do sistema, ou seja, a aquisição de cópia dos projetos
arquitetônico e hidráulico predial.
Através do projeto arquitetônico pode-se visualizar melhor a distribuição dos ambientes
com os respectivos aparelhos sanitários, pois geralmente é um projeto mais “limpo” em
relação ao projeto hidráulico predial, o que facilita o trabalho de levantamento. Esse
projeto é utilizado como guia durante a vistoria de cada um dos ambientes sanitários, ou
seja, aqueles que tenham no mínimo um ponto de utilização.
Tais informações contribuem para facilitar o entendimento do perfil de consumo de água
do sistema. Caso não seja possível a aquisição desses projetos, obter informações do
sistema através de funcionários mais antigos do edifício e que acompanham os serviços
de manutenção.
3.2 DIAGNÓSTICO DO CONSUMO DE ÁGUA NO EDIFÍCIO
O diagnóstico possibilita a elaboração de um plano de intervenção com ações especificas
para cada tipologia de edifício, assim como a consideração das características próprias de
cada sistema.
Após a conclusão do levantamento do edifício e do processamento dos dados, elabora-se
o diagnóstico de consumo de água apresentando as condições de operação do sistema
hidráulico, como a água é utilizada e as perdas provenientes de vazamentos, inclusiva nos
sistemas especiais.
59
O consumo diário de água no período histórico é calculado pela média aritmética dos
valores de consumo médio diário obtidos a partir do produto dos valores de indicador de
consumo e dos números de agentes consumidores do período histórico.
O número de agentes consumidores, definidos conforme a tipologia do edifício, deve ser
relacionado mês a mês no período histórico.
O valor do indicador de consumo de água no período histórico é calculado a partir da
equação 1, determinando seu valor médio posteriormente. Caso sejam verificados dois
grupos de valores durante o período histórico, calcular os valores médios dos indicadores
de consumo para cada um desses grupos.
O valor de desperdício diário estimado deve ser apresentado no diagnóstico, porque em
muitos casos não é possível determinar quantitativamente o desperdício de água em
algumas partes do sistema.
Deve-se listar os procedimentos inadequados dos usuários observados durante a
realização do levantamento do edifício e que mais contribuem para o desperdício de água.
3.3 PLANO DE INTERVENÇÃO
Oliveira (1999), propõe que o plano de intervenção seja implementado com cinco ações:
Quadro 8 – Ações sugeridas para a implantação do plano de intervenção (Adaptado de
OLIVEIRA, 2019)
Ações Descrição
1 Campanha de conscientização
2 Correção de vazamentos
3 Substituição de sistemas e componentes convencionais por
economizadores de água
4 Redução de perdas e indicativos de reaproveitamento de água em
sistemas hidráulicos especiais
5 Campanha educativa para usuários específicos
60
Com base no diagnóstico realizado, elaborar o plano de intervenção, cujas ações devem
ser iniciadas pelo ponto crítico do sistema.
Além disso, a campanha de conscientização tem o objetivo de informar aos usuários do
sistema o início, o porquê e os objetivos do PURA. É realizada utilizando-se uma forma
de comunicação mais abrangente tanto do ponto de vista da informação quanto ao tipo de
usuário do edifício.
A correção de vazamentos é uma das ações de maior impacto na redução de desperdícios
de água no sistema. É de fundamental importância a manutenção do sistema através da
correção dos vazamentos antes da substituição de componentes convencionais por
economizadores de água. Caso isto não ocorra, pode-se ter o falso resultado da não
redução de consumo de água esperada pelo componente economizador, principalmente
se o vazamento se encontra no sistema hidráulico externo.
O objetivo de substituir os sistemas e componentes convencionais por economizadores
de água é reduzir o consumo de água independentemente da ação do usuário ou de sua
disposição em mudar de comportamento para reduzir o consumo de água. Ela deve ser
implementada quando o sistema estiver totalmente estável, ou seja, sem nenhum
vazamento.
A vantagem econômica da adequação do sistema, realizada pela substituição de
componentes convencionais por economizadores de água depende das condições locais.
Por essa razão, antes da implementação dessa ação, recomenda-se uma avaliação
econômica das atividades necessárias para a alteração do sistema, que tem por objetivo
reduzir o consumo de água. Assim, verificar com antecedência, os sistemas e
componentes a serem especificados, seus respectivos custos, como: mão de obra e obras
civis.
Por Oliveira (1999), as avaliações econômicas citada anteriormente, serão apresentadas
em aspectos quantitativos de redução de consumo, economia financeira e payback. cujo
indicador resultado desse critério é o número de períodos – anos, meses, dias ou outro
período de tempo definido – necessários para recuperar o investimento nominal
despendido de um projeto, que nesse caso trata-se da adequação de sistemas hidráulicos
61
com o objetivo de reduzir o consumo de água. O procedimento de cálculo é mostrado a
seguir:
Quadro 9 – Procedimento de cálculo para avaliação econômica (Adaptado de OLIVEIRA,
1999)
Procedimento Descrição
1
Orçar analiticamente todos os componentes economizadores de água,
tubos, conexões, materiais e mão de obra, necessários para a
adequação do sistema hidráulico com o objetivo de economizar água,
obtendo-se o valor total – VT
2 Estimar um valor de redução do consumo mensal de água após a
intervenção.
3
Calcular o fluxo de benefício – B, ou seja, o valor mensal
economizado de água com base nas tarifas da concessionária local. O
fluxo benefício – B é obtido através da diferença do valor médio da
conta de água antes da intervenção (C1) e o valor esperado da conta
de água após a intervenção (C2).
4 Calcular os fluxos atualizados e o payback esperado.
A especificação de componentes economizadores de água deve ser realizada em função
das necessidades dos usuários, obtidas através de observações de suas atividades e em
função da avaliação técnico econômica levando em consideração as condições físicas de
cada sistema.
As especificações técnicas dos componentes economizadores de água devem ser
realizadas considerando-se questões como: pressão hidráulica disponível no ponto de
utilização; conforto do usuário; higiene; atividade do usuário; risco de contaminação;
facilidade de manutenção; facilidade de instalação, considerando-se a adequação do
sistema; vandalismo; avaliação técnico-econômica.
Em geral, a redução de perdas em sistemas hidráulicos especiais é obtida por meio de
manutenção adequada evitando-se as perdas por vazamento, mau desempenho do sistema
62
ou por negligência do usuário. No entanto, o maior potencial para a redução de consumo
de água nesses sistemas encontra-se na implementação de ações que visem o
reaproveitamento de água.
A campanha educativa tem o objetivo de alterar os procedimentos dos usuários visando
a redução do consumo de água em suas respectivas atividades. É realizada utilizando-se
uma forma de comunicação destinada a diferentes grupos de usuários específicos por
palestras informativas quanto ao procedimento correto.
3.4 AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA
Ao implementar um plano de intervenção para reduzir o consumo de água de um edifício,
propõe-se que o impacto da redução seja calculado considerando-se, no mínimo, 15 dias
de avaliação. Esta deve ser iniciada, no mínimo, 15 dias após a implementação de cada
ação, tendo-se em vista a obtenção de resultados sem a influência da adaptação dos
usuários ao novo sistema.
A avaliação da redução do consumo de água deve ser feita após a implementação de cada
uma das ações fazendo-se a leitura no hidrômetro diária, semanal ou mensalmente e
observando-se a redução do consumo de água nos respectivos períodos. É importante
conferir o valor do consumo indicado na conta de água que, em geral, apresenta alguma
diferença em relação ao consumo levantado no sistema em função das datas de leituras.
Na avaliação é fundamental a consideração do indicador de consumo. Caso a análise seja
realizada somente através do valor de consumo, corre-se o risco de obter resultados
enganosos, exceto quando o número de agentes consumidores seja o mesmo antes e
durante a implantação do PURA. O impacto de redução do consumo é calculado confirme
a equação 2:
𝐼𝑅 = (𝐼𝐶𝐴𝑃 − 𝐼𝐶𝐷𝑃
𝐼𝐶𝐴𝑃) × 100(%)
(2)
Equação 2 – Impacto de redução
63
onde:
IR = impacto de redução.
ICAP = indicador de consumo antes do PURA – ICh1 ou ICh2.
ICDP = indicador de consumo depois do PURA.
A informação de redução do consumo de água deve ser sempre repassada aos usuários do
sistema, através da campanha de conscientização, que tem função de informar e incentivar
os usuários a economizarem água. (OLIVEIRA, 1999)
64
4. ESTUDO PRÁTICO - APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA
Hoje vistos como minicidades, os shopping centers conseguem disponibilizar em sua
estrutura física uma diversidade abrangente de serviços e atividades, potencializando
assim, a atração de milhões de pessoas ao mês. Com o aumento deste fluxo, aumenta-se
a utilização de água que é primordial para manutenção da maioria das atividades dentro
deste tipo de empreendimento. A tendência de ampliação da rede de shopping centers no
Brasil, confirmada pela Associação Brasileira de Shopping Centers – ABRASCE, agrava
ainda mais o cenário de consumo do insumo citado e coloca uma responsabilidade nas
administrações dos shoppings na verificação pontual dos consumos de água das lojas
existentes. Esses então, devem garantir por meio de incentivos ou mesmo execução de
metodologias estruturadas de redução de consumo, que suas atividades estejam com seu
consumo de operação adequado, como forma de alavancar o desenvolvimento sustentável
mundial.
Ainda de acordo com a ABRASCE, no Brasil, o ano de 2018 se encerrou com um total
de 563 empreendimentos em plena utilização, contando com 27 inaugurações. A previsão
para 2019 é de 21 novos lançamentos. (ABRASCE, 2019) O agravamento do uso
excessivo de água se confirma por se observar, a seguir, que 289 shoppings (mais de 50%
dos empreendimentos deste tipo) se encontram na região Sudeste, a mais populosa do
Brasil, de acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE (2018)
Figura 21 – Quantidade de shoppings por região do Brasil (Adaptado de ABRASCE, 2019)
65
O método será aplicado em um grande shopping center do estado do Rio de Janeiro, cujo
nome não pôde ser divulgado por questões internas à companhia que o administra.
4.1 ETAPA 1 - AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA
A realização da auditoria do consumo de água no shopping possibilita um melhor
conhecimento dos valores de consumo diário e de consumo por agente consumidor. Estas
informações contribuem para um diagnóstico mais preciso do sistema, o que facilita a
elaboração de um plano de intervenção mais adequado, com ações especificas para o
sistema em função de suas necessidades e características físico-funcionais.
Esta etapa será iniciada pelo shopping como um todo, avaliando suas fontes de
abastecimento, as categorias de consumidores nele existente e suas proporções de custo
financeiro e de volume de água consumida.
Por fim, será feita a auditoria da academia inserida dentro deste empreendimento,
tipologia analisada e elencada como maior consumidora.
4.1.1 AUDITORIA DO CONSUMO DE ÁGUA DO SHOPPING
Neste item, a auditoria do consumo de água proporcionou o conhecimento do
empreendimento, apresentando sua matriz hídrica a partir das suas principais fontes de
demanda e oferta. Conclui-se, ao final, qual é a loja existente que oferece o maior impacto
no consumo e no custo geral, sendo esta o alvo principal para a implantação do método
PURA para redução de consumo.
4.1.1.1 OFERTA DE ÁGUA
O shopping center em questão apresenta três modos de abastecimento de água:
66
4.1.1.1.1 CEDAE
Um dos modos de abastecimentos de água do shopping, e o mais relevante em termos
financeiros por conta do alto preço da tarifa por metro cúbico consumido, é o da
concessionária CEDAE. Este fato é corroborado pela lei nº 3239/1999 (ALERJ, 1999)
que proíbe a utilização de água para consumo humano providas por fontes alternativas.
Como as atividades realizadas são basicamente para prover a utilização humana, como
higiene pessoal em pias e lavatórios, e preparação de alimentos, este tipo de água acaba
sendo o mais impactante na edificação. Por fim, a busca por alternativas para substituição
de água potável em fins não nobres como irrigação, lavagem, e descargas de bacias
sanitárias, são relevantes em meio ao cenário de conservação ambiental e redução de
custos.
A água da concessionária é utilizada para abastecer dois reservatórios – o denominado
caixa “PA” e caixa “S”, ambos monitorados por hidrômetros mostrados a seguir. Ambos
os reservatórios são responsáveis pelo abastecimento das praças de alimentação e lojas
adjacentes, além de alguns escritórios localizados na cobertura. Além disso, há ainda uma
ramificação para atender, de maneira emergencial, as torres de água gelada destinadas ao
condicionamento de ar do empreendimento.
Figura 22 – Hidrômetros de monitoramento de água da CEDAE. Fonte: própria
67
4.1.1.1.2 ÁGUA DE REUSO GERADA PELA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE
EFLUENTES – ETE
Em busca de alternativas tecnológicas de redução de consumo de água, o shopping
referido conta com uma estação de tratamento de efluentes que distribui água para fins
não potáveis. Parte do esgoto gerado pelas praças de alimentação e pelos banheiros são
destinadas à estação elevatória da estação de tratamento de efluentes. Após tratada, esta
água é direcionada para fins não potáveis como bacias sanitárias, lavagem, irrigação e
rede de sprinklers para combate ao incêndio. O excedente tratado, se houver, é destinado
à rede pública coletora de efluentes.
O tratamento realizado na estação é aeróbico, ou seja, faz uso de aeração para proliferação
das bactérias responsáveis por efetuar o processo químico nos efluentes, com uma
operação de vinte de quatro horas diárias. O esgoto in natura cai na estação elevatória e,
em seguida, é bombeada para a peneira estática, uma barreira física, onde se retiram os
resíduos sólidos como comida e detritos mais grosseiros. Depois, o esgoto passa para a
equalização, cujo objetivo é diminuir a quantidade de nitrogênio presente. A redução de
nitrogênio acarreta a redução de amônia, ambiente ideal para a proliferação das bactérias
que fazem parte do processo. Em seguida, o esgoto vai para o reator biológico com uma
solução de barrilha a 10%, onde acontece a reação das bactérias com o esgoto, gerando o
lodo ativado. Em forma de lodo, o esgoto passa por uma membrana com velocidade
constante onde ocorre a filtração e a divisão entre clarificado – parte líquida que passa
para o tanque pulmão, e reciclo – parte sólida que vai para o reator novamente. O
clarificado passa para o tanque pulmão de 10 metros cúbicos de capacidade, onde é
tratado com cloro a 3ppm e depois vai para as cisternas do shopping para posterior
distribuição da água nos pontos de utilização. O sistema ainda conta com um tanque de
descarte de iodo para manter a reação ativa, e com um tanque denominado CIP para
limpeza da membra e da linha. O reciclo, quando saturado, tem destino apropriado para
a rede de esgoto. A ETE pode ser visualizada na figura a seguir:
68
Figura 23 – Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do shopping. Fonte: própria
4.1.1.1.3 ÁGUA DE POÇOS PROFUNDOS
O shopping conta, também, com uma estação de tratamento de água captada por 6 poços
artesianos, através de um processo de osmose reversa. A captação de água do lençol
freático é legalizada e os poços possuem autorização de perfuração e extração, outorgada
pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA).
A água advinda dos poços artesianos, são separadas pelo tratamento de osmose reversa
em duas: permeado e rejeito. O volume de água de permeado, em sua maioria, é destinado
ao abastecimento das 9 torres de resfriamento e ao tanque de água gelada, com capacidade
de seis milhões de litros. Em ocasiões excepcionais por demanda excessiva, ela é utilizada
também para abastecimento dos pontos de utilização não potáveis. O volume de rejeito é
exclusivamente destinado a estes pontos.
69
A água dos poços é coletada a partir de bombeamento, e quando chega à um determinado
volume no reservatório, denominado de caixa bruta com 15 m³ de capacidade, o sistema
é acionado, que dá início ao tratamento. Nesta caixa, aplica-se hipoclorito para matar
micro-organismos. Em seguida, a água vai para um filtro de ferro e manganês para serem
retiradas as impurezas mais grosseiras. Depois, adiciona-se metabissulfito para
neutralizar o hipoclorito, prejudicial à membrana da osmose. O processo continua pela
passagem da água por dois filtros de inox que fazem a retenção de partículas menores
presentes na água. Um pré-filtro é colocado antes da membrana da osmose para serem
retiradas ainda mais partículas finas. Após a passagem da água pela membrana, que retém
as impurezas da água, têm-se ao final dois tipos de água: permeado – água tratada com
praticamente zero impurezas, e rejeito – considerada água mais impura. Ambas, ao final
do processo recebem dosagem de cloro. A estação de tratamento de água por osmose
reversa pode ser observada na figura a seguir:
Figura 24 – Estação de tratamento de água por osmose reversa. Fonte: própria
70
O esquema ilustrativo da oferta e demanda é mostrada a seguir:
Figura 25 – Esquema ilustrativo da oferta e da demanda do shopping. Fonte: Elaboração própria
4.1.1.2 AVALIAÇÃO DO HISTÓRICO DO VOLUME DE ÁGUA DEMANDADA
As principais demandas de água provêm principalmente do consumo das lojas instaladas
de acordo com a sua categoria, da Central de Água Gelada (CAG), responsável pelo
fornecimento de ar condicionado para todo o shopping, e da área comum, basicamente
com atividades de suporte aos clientes na utilização de banheiros e lavatórios, lavagens
de pisos de mall e estacionamento e irrigação.
As figuras a seguir, mostram respectivamente, o consumo de água mensal das divisões
citadas anteriormente ao longo do ano de 2018 e o seu percentual do consumo total do
mesmo ano, indicando que o maior consumidor é referente à base de lojistas, seguido da
área comum e por último, da CAG:
71
(a)
(b)
Figura 26 – (a) Consumo de água mensal das categorias do shopping; (b) Percentual do
consumo total de cada categoria. Fonte: Elaboração própria
4.1.1.3 REPRESENTATIVIDADE DOS CUSTOS POR ÁREAS DE CONSUMO
Apesar de não haver uma grande disparidade entre as três categorias acima em termos de
consumo, o custo das fontes que provém cada uma variam. Por isso, nota-se a seguir, que
os custos do consumo de água utilizada por lojistas apresentam a maior relevância na
conta de água do shopping, seguido pela área comum e depois pela central de água gelada.
Por essa razão, decide-se então, explorar mais a fundo a estratificação dos consumos de
lojistas da base a fim de estudar alternativas de redução de consumo nos pontos mais
72
críticos da rede, onde haverá maior impacto pós implantação. Os resultados abaixo foram
obtidos através da relação entre custo por metro cúbico de cada tipo de água utilizada
(CEDAE, reuso e poço), e volume distribuído para abastecer lojistas, área comum e CAG.
Esta relação é denominada de key performance indicador (KPI).
O custo médio por metro cúbico proveniente da concessionaria é obtido através da divisão
entre o custo total das faturas de água e do volume consumido no ano de 2018. O custo
de operação da ETE é fixo e independe do volume de água de reuso gerado, sendo
acordado em contrato de prestação de serviço. Logo, o seu custo médio anual por metro
cúbico advém da divisão do valor anual do contrato pelo volume anual gerado no ano de
2018. O custo por metro cúbico da água de poço é fixo e tem seu valor acordado em
contrato de prestação de serviços:
Tabela 1 – Custo acumulado por fonte; Volume acumulado por fonte; KPI por fonte em 2018
Custo acumulado por fonte 2018
CEDAE R$ 7.746.518,19
Poço R$ 649.917,99
ETE - Reuso R$ 462.000,00
Total R$ 8.858.436,18
Volume (m³) acumulado por fonte 2018
CEDAE 193.543
Poço 127.435
ETE - Reuso 46.191
Total 367.169
KPI (R$/m³) por fonte
CEDAE R$ 40,00
Poço R$ 5,10
ETE - Reuso R$ 10,00
Fonte: Elaboração própria
Através de medição setorizada por medidores de água com tecnologia de telemetria
embutidas, controla-se o volume de cada tipo de água que é destinada para lojistas, área
comum e CAG. A multiplicação do determinado tipo de água pelo seu KPI gera o custo
total anual do consumo por categoria no ano de 2018:
73
Tabela 2 – Volume acumulado por categoria; Custo acumulado por categoria em 2018.
Volume (m³) acumulado por categoria 2018
CEDAE Lojistas 151.806
CEDAE CAG 3.980
CEDAE Área comum 37.757
REUSO Área comum 46.191
POÇO Área comum 46.346
POÇO CAG 81.089
Total 367.169
Custo acumulado por categoria 2018
Lojista R$ 6.062.828,44
CAG R$ 572.681,80
Área comum R$ 2.222.925,95
Total R$ 8.858.436,18
Fonte: Elaboração própria
Figura 27 – Representatividade percentual do custo por categoria. Fonte: Elaboração própria
74
4.1.1.4 AVALIAÇÃO DA DEMANDA DA ÁREA DE MAIOR CONSUMO -
“LOJISTA”
As lojas consomem exclusivamente água da concessionária CEDAE, com um custo por
metro cúbico oito vezes maior que a operação de extração de água de poço e quatro vezes
que a operação de água de reuso. Logo, é substancial o impacto gerado pelos lojistas no
custo condominial com o insumo hídrico. Revela-se então, a necessidade de implantação
de planos de intervenção na base de lojistas visto pelo item 3.2 que estes são os maiores
consumidores do shopping com o maior impacto nas contas de água do empreendimento.
Das 477 lojas existentes, há um total de 111 lojas consumidoras de água no
empreendimento, sendo que estas foram divididas em duas categorias: alimentação (A) e
serviços (S). Aprofunda-se, então, a partir de análises de dados de consumo, o estudo
destas categorias na verificação de quais são os maiores ofensores dos recursos hídricos.
Na categoria alimentação (A), tem-se a contabilização de 67 lojas e nela observa-se que
10 lojas (A1 a A10) – 15% do total, representam 51% do consumo total da categoria, 15
lojas (A11 a A25) – 22%, com 29% de representatividade do consumo total e 42 lojas
(A26 a A67) – 63%, com 20% de representatividade no consumo total. Esse resultado
mostra que o maior consumo advém de poucas, mas grandes lojas consumidoras:
Figura 28 – Consumo anual da categoria alimentação em metros cúbicos (m³). Fonte:
Elaboração própria
75
Já em lojas definidas como “serviços”, observa-se que somente a academia detém quase
50% de representatividade em relação ao consumo total desta categoria. Em seguida, duas
lojas somadas, S2 e S3, representam 21% do consumo, S4 à S8 com 16% de
representatividade e S9 à S44, ou 75% destas lojas, com apenas 14% no consumo total.
Esse fato mostra a tamanha relevância da academia no consumo de água em “serviços”,
o que reforça a necessidade de se implementar planos de redução para uso racional e
sustentável no recurso:
Figura 29 - Consumo anual da categoria serviço em metros cúbicos (m³). Fonte: Elaboração
própria
Em relação ao consumo total de água utilizada pelas duas categorias somadas,
alimentação e serviços, a academia, sozinha, detém uma representatividade de 18%,
ficando ainda com um consumo anual total – 27.262 m³, três vezes superior ao segundo
maior consumidor da base de lojistas, 9.084 m³:
76
Figura 30 - Consumo anual de todas as lojas consumidoras do shopping em metros cúbicos
(m³). Fonte: Elaboração própria
Figura 31 – Proporção do consumo anual da academia em relação ao segundo maior
consumidor. Fonte: Elaboração própria
A partir das análises expostas anteriormente, conclui-se que a academia apresenta uma
grande oportunidade para a aplicação do método PURA para redução do consumo de água
na categoria de lojistas, dado a quantidade de consumo e o quanto esta loja representa em
termos de custos com o recurso. Essa escolha foi pautada, ainda, na complexidade e tempo
demandado para se implementar um plano de redução eficaz.
4.1.2 AUDITORIA DE CONSUMO DE ÁGUA DA ACADEMIA
Com o objetivo de avaliar a interação dos usuários e das atividades com o consumo de
água, realizou-se investigações em campo para determinação dos potenciais maiores
77
ofensores. Para isso, alguns testes simplificados, porém eficazes, foram executados para
determinação de parâmetros que auxiliariam na identificação do ponto crítico que deve
ser priorizado no plano de intervenção. A intenção inicial é ter uma estimativa assertiva
deste ponto e o quanto ele representa no consumo global da academia para gerar previsões
de redução de custo, tempo de retorno do investimento, etc.
4.1.2.1 LEVANTAMENTO DO EDIFÍCIO
O levantamento do edifício consiste no cadastramento de suas características físicas e
funcionais relacionadas ao consumo de água. Nessa etapa, são levantadas as áreas que
compõem a loja, a quantidade de pontos hidráulicos e sua localização de acordo com os
pavimentos existentes. A tipologia do edifício é uma academia, que representa a categoria
de serviços.
Considerada a maior área bruta locável e construída do shopping, a academia do estudo
apresenta 6.780,89 m² de construção, o que representa aproximadamente 10% da área
bruta locável (ABL) entre lojas tipo âncora, satélites, lazer e megaloja, e que não sejam
terceiras do shopping. Inserindo na conta lojas do tipo antena, comodatos, depósitos,
merchandising, quiosque, sala comercial, stand, temporários e não cadastrados e que não
sejam terceiras, que compõem a ABL total do shopping, essa proporção cai para pouco
mais de 7% de representatividade. Em relação à distribuição dos espaços, estes se dividem
em 3 pavimentos, como mostrados a seguir:
Quadro 10 – Distribuição dos espaços da academia
Pavimentos Locais
Subsolo
Casa de máquinas, vestiário masculino e feminino para clientes, vestiário
masculino e feminino para funcionários, vestiário infantil, rouparia e 3
salas.
Térreo
Recepção, lanchonete, salas de musculação 1 e 2, piscina infantil, piscina
de hidroginástica, piscina de natação, quadra de vôlei e futebol de areia,
piscina externa, banheiro masculino, banheiro feminino e sauna.
Primeiro
andar
Gerência, sala de professores, banheiro infantil, baby care, sala de judô,
sala de ballet, arena olímpica, quadra poliesportiva, casa de máquinas,
banheiro masculino e feminino, sala 1, 2, 3 e 4.
Fonte: Elaboração própria
78
A academia conta com um expediente que vai de 06:00 às 23:00 de segunda à sexta e de
09:00 as 22:00 aos finais de semana. Em termos de rotatividade, apresenta em média
3.600 matrículas ativas, e um utilização diária média de aproximadamente 1.200 pessoas.
Tamanho fluxo combinado com a robustez da infraestrutura do empreendimento com
todas as atividades que fazem parte do seu core business, o consumo de água se torna
extremamente relevante. Este, então, deve ser cuidadosamente avaliado para garantir que
está sendo utilizado racionalmente, de modo a equilibrar as contas condominiais, mas
principalmente, promover um planeta mais sustentável pelo incentivo ao uso racional da
água.
A academia á abastecida única e exclusivamente pela água da concessionária –
Companhia Estadual das Águas e Esgoto (CEDAE), e conta com a utilização do sistema
de telemetria – medição remota do consumo de água nos hidrômetros, para garantir sua
setorização e acompanhamento do consumo na identificação de anormalidades. O projeto
contemplou visitas à academia para identificação e levantamento de todos os pontos de
consumo de água. Os três pavimentos que compõe a estrutura física do local são divididos
da seguinte forma com os seus respectivos locais, itens de consumo e quantidades destes:
Tabela 3 – Quantidade de pontos hidráulicos por pavimento na academia
Pavimentos Cômodos Chuveiro Bacia
Sanitária Torneira Mictório
Baby
Wash
Subsolo
Vestiário M clientes 14 6 7 6 -
Vestiário F clientes 14 9 7 - -
Banheiro infantil 11 8 4 - 3
Vestiário M
funcionários 2 2 1 - -
Vestiário F
funcionários 2 2 3 - -
Térreo
Área externa 8 - 2 - 4
Lanchonete - - 2 - -
Banheiro M - 2 3 - -
Banheiro F - 2 3 - -
Primeiro
andar
Banheiro M - 2 2 2 -
Banheiro F - 2 2 - -
Banheiro infantil - 4 2 - -
Total 51 39 38 8 7
Fonte: Elaboração própria
79
4.1.2.2 TESTE DE VAZÃO EM CAMPO DOS PONTOS HIDRÁULICOS
Este item foi adicionado pois o projeto hidráulico da academia continha algumas
limitações que impediam a aplicação completa do PURA. Logo, decidiu-se estimar as
vazões dos pontos de utilização para posteriormente registrar quais são os maiores
consumidores, sendo que se estes forem configurados como prioridades na execução,
serão os que darão resultados mais rápidos e com menor esforço aplicado.
Em posse da quantidade dos pontos principais de consumo de água, foram realizados
testes de vazão para estabelecer, posteriormente, a quantidade de água utilizada na
academia. As vazões dos pontos hidráulicos levantados, em unidades de volume por
tempo, são definidas enchendo-se um recipiente de volume conhecido em determinado
tempo pré-estabelecido. Para se chegar à escolha do ponto de maior impacto, objeto de
foco da primeira etapa do projeto, seguiram-se as seguintes premissas:
Para a verificação de vazões dos chuveiros e das mangueiras baby washes, mediu-se o
tempo em que um balde de formato de tronco de cone de 20 cm de base menor, 28 cm de
base maior e 28 cm de altura, o que equivale a 12 litros, foi completado.
A vazão dos chuveiros variou entre 35 l/min à 48 l/min. No entanto, buscando o critério
mais conservador em termos de cálculos, foi adotado como padrão o menor valor
encontrado.
Para as torneiras da lanchonete, a mesma metodologia foi utilizada, porém utilizando uma
garrafa de 500 ml.
Para as torneiras de acionamento mecânico dos banheiros e vestiários, tampou-se o ralo
da pia de 35x35 cm e mediu-se a altura da lâmina d’água gerada pelo acionamento do
dispositivo, para posterior cálculo do volume de água gasto.
As bacias sanitárias e os mictórios tiveram suas vazões verificadas pelo fabricante e não
por teste em campo como os itens anteriores pela complexidade avaliada.
80
Através de observação pós teste de vazão, os 11 chuveiros do banheiro infantil,
localizados no subsolo, foram retirados da base pois apresentaram resultados
considerados padrão para consumo. Com essas considerações, chegou-se ao seguinte
levantamento com suas respectivas vazões:
Tabela 4 – Quantidade e vazão média dos principais pontos hidráulicos da academia
Pontos Quantidade Vazão média
Chuveiro 39 35 (litros/minuto)
Torneiras 38 2,4 (litros/minuto)
Bacias sanitárias 39 6,0 (litros/acionamento)
Mictórios 9 0,4 (litros/acionamento)
Baby washes 7 24 (litros/minuto)
Torneiras lanchonete 2 30 (litros/minuto)
Total 134 -
Fonte: Elaboração própria
4.1.2.3 ANÁLISE DOS PONTOS HIDRÁULICOS DE MAIOR CONSUMO
Das vazões registradas no item anterior, e com a quantidade dos pontos hidráulicos
levantada, faz-se necessário elencar quais são os principais consumidores e potenciais
causadores do desperdício de água. Utilizando a ferramenta gráfica de priorização dos
maiores consumidores a seguir, conclui-se que o maior resultado para redução de
consumo se daria focando-se inicialmente nos chuveiros, com 71% de representatividade
em relação ao total de vazão dos pontos de utilização:
Figura 32 – Avaliação dos maiores pontos consumidores de água da academia. Fonte:
Elaboração própria
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
-
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
1.600
Chuveiro Bacias
sanitárias
Baby
washes
Torneiras Torneiras
lanchonete
Mictórios
Rep
rese
nta
tivi
dad
e p
erce
ntu
al e
m
rela
ção
ao
to
tal
Vaz
ão t
ota
l em
l/m
in
Título do Eixo
Vazão média l/min % do total
81
Portanto, o projeto que foi desenvolvido posteriormente, foi baseado única e
exclusivamente na tentativa de se reduzir o consumo de água em utilização nos 39
chuveiros. Reforçando ainda que essa escolha foi mantida pela velocidade em que as
ações de redução deveriam ser implantadas dado o impacto do consumo da academia nas
contas condominiais, no lençol freático e consequentemente em toda a população ao redor
do empreendimento, ficando os pontos como torneiras, bacias sanitárias, mictórios, baby
washes e torneiras da lanchonete, para uma segunda fase, visto que ao todo, demandariam
um esforço maior para implantação do programa.
4.1.2.4 PROCEDIMENTO DOS USUÁRIOS
O procedimento dos usuários será monitorado e estimado não para elaboração de
campanhas educativas, mas sim para se ter uma estimativa do consumo de determinado
ponto potencial de maior utilização de água. Primordialmente, deve-se realizar entrevistas
com uma amostra da população, definida com bases em ferramentas probabilísticas e
estatísticas, de acordo com o histórico do número de agentes consumidores do local
definido. A ferramenta indicada para o cálculo da amostra é a calculadora Solvis (2019).
Pelos dados informados pela gerência da academia, havia mais de 3.600 matrículas ativas
no sistema, e de acordo com o seu mapa de calor originado pelas rotações das catracas
como controle de entrada e saída, estimava-se um fluxo médio de 1.200 pessoas por dia,
no referido estabelecimento. Como é uma população consideravelmente grande, seria
inviável fazer entrevistas com essa quantidade de clientes, visto que demandaria um
tempo considerável para coleta de dados.
Para tanto, utilizou-se estudos probabilísticos e estatísticos para que se determinasse a
amostra ou quantidade de entrevistas necessárias que representariam a população com
uma confiabilidade de 95% e com margem de erro de 10% na estimativa do consumo de
água com chuveiro. Pela calculadora de tamanho de amostra para os parâmetros
anteriores, chegou-se a uma amostra de 90 pessoas.
Inicia-se então a divisão da quantidade de entrevistas em horários congruentes com os de
consumo de água na academia, para que a amostra calculada anteriormente seja
considerada representativa. De acordo com o sistema de monitoramento remoto de
82
consumo de água, levantou-se o padrão horário de consumo em intervalos de quatro
horas, em dias distintos:
Tabela 5 – Padrão horário de consumo de água na academia
03/jul 05/jul 09/jul 09/ago 13/ago 14/ago 20/ago 22/ago
Intervalos Consumos (m³)
05:00 - 09:00 11 20 19 8 9 10 20 18
09:00 - 13:00 21 16 16 23 14 17 28 26
13:00 - 17:00 11 12 11 10 13 14 16 19
17:00 - 21:00 18 15 20 20 15 19 19 20
21:00 - 24:00 2 4 2 2 2 3 3 2
Total diário 63 67 68 63 53 63 86 85
Elaboração própria
A partir da divisão acima, calculou-se a porcentagem de água que é consumida em cada
faixa horária, em relação ao total do dia:
Tabela 6 – Porcentagem de água consumida por faixa horária
03/jul 05/jul 09/jul 09/ago 13/ago 14/ago 20/ago 22/ago
Intervalos Porcentagem
05:00 - 09:00 17% 30% 28% 13% 17% 16% 23% 21%
09:00 - 13:00 33% 24% 24% 37% 26% 27% 33% 31%
13:00 - 17:00 17% 18% 16% 16% 25% 22% 19% 22%
17:00 - 21:00 29% 22% 29% 32% 28% 30% 22% 24%
21:00 - 24:00 3% 6% 3% 3% 4% 5% 3% 2%
Fonte: Elaboração própria
Em seguida, estas porcentagens foram aplicadas ao tamanho da amostra, que resulta então
na quantidade de entrevistas que se realizariam em determinada faixa horário para
garantir a confiabilidade dos resultados:
Tabela 7 – Quantidade de entrevistas necessárias por faixa horária
Intervalos Quantidade de entrevistas Média
05:00 - 09:00
16
27
26
12
16
15
21
20
18
09:00 - 13:00
30
22
22
33
24
25
30
28
25
13:00 - 17:00
16
17
15
15
23
20
17
21
18
17:00 - 21:00
26
21
27
29
26
28
20
22
25
21:00 - 24:00
3
6
3
3
4
5
4
3
4 Fonte: Elaboração própria
83
Separou-se em 50% do público feminino e masculino e foram realizadas as entrevistas
em campo nas faixas de horário determinadas pelo sistema de telemetria:
Questionário
Intervalo Usa algum chuveiro para tomar
banho? Quantas vezes na semana?
Sim Não
05:00 - 09:00
09:00 - 13:00
13:00 - 17:00
17:00 - 21:00
21:00 - 24:00
Figura 33 – Questionário. Fonte: Elaboração própria
4.1.2.5 LEVANTAMENTO DO INDICADOR DO HISTÓRICO DE CONSUMO DE
ÁGUA
Denomina-se indicador de consumo (IC), a relação entre o volume de água consumido
em um determinado período e o número de agentes consumidores desse mesmo período.
4.1.2.4.1 HISTÓRICO DO CONSUMO DE ÁGUA DOS ÚLTIMOS 12 MESES
A tecnologia de telemetria, auxiliar na medição remota de consumo de água, foi instalada
no shopping a partir de julho de 2014, porém sua plena utilização começou a partir do
mês de agosto do mesmo ano. Com isso, tem-se o histórico de consumo da academia até
o final de julho de 2019, que pode ser contemplado a seguir:
Figura 34 – Histórico do consumo de água no período de agosto de 2014 a julho de 2019. Eixo
vertical em metros cúbicos (m³). Fonte: Elaboração própria
84
4.1.2.5.2 HISTÓRICO DO NÚMERO DE AGENTES CONSUMIDORES DOS
ÚLTIMOS 12 MESES
Os agentes consumidores da academia englobam todo o quadro de clientes externos e
funcionários, já que ambos são liberados para usufruto de todas as atividades existentes
na edificação. Portanto, são considerados “população fixa” pela denominação de Oliveira
(1999).
A gerência da academia mantém o registro do fluxo de usuários no empreendimento com
o auxílio das catracas existentes na entrada. Com isso, é gerado um mapa de calor –
gráfico quantitativo de usuários que entraram diariamente na academia, sendo que este
também informa os valores médios diários de fluxo diário mensal. Multiplicando-se este
número pelo número de dias do mês, tem-se a quantidade total de agentes consumidores
em cada mês. A seguir, evidencia-se o histórico dos agentes consumidores do ano de 2018
e os de 2019, contabilizados até julho deste ano:
Tabela 8 – Fluxo mensal de agentes consumidores da academia
Fluxo mensal de agentes consumidores 2018 2019
Janeiro 33.604 41.788
Fevereiro 28.000 36.680
Março 36.704 33.480
Abril 34.110 34.200
Maio 38.285 37.293
Junho 34.770 32.880
Julho 35.836 35.743
Agosto 39.339 -
Setembro 35.790 -
Outubro 39.525 -
Novembro 34.980 -
Dezembro 34.317 -
Fonte: Elaboração própria
4.1.2.5.3 CÁLCULO DO INDICADOR DE CONSUMO DE ÁGUA DOS ÚLTIMOS 12
MESES
A academia em questão, mantém seu funcionamento ao longo de todo o ano, inclusive
em feriados, datas comemorativas, recessos, dentre outros. Logo, não há interrupção das
85
suas atividades, tampouco no seu consumo de água. Então, nenhuma consideração
específica deve ser feita para calcular o indicador de consumo de água. A equação 3.1
nos leva aos seguintes valores:
Tabela 9 – Índice de consumo
Índice de consumo - IC
litros por pessoa por dia 2018
Janeiro 106
Fevereiro 108
Março 110
Abril 93
Maio 42
Junho 42
Julho 41
Agosto 48
Setembro 45
Outubro 45
Novembro 40
Dezembro 42
Fonte: Elaboração própria
4.1.2.5.4 REPRESENTATIVIDADE DO MAIOR CONSUMIDOR NO CONSUMO
GLOBAL
Dos resultados finais das entrevistas realizadas extraem-se dois indicadores
imprescindíveis para a estimativa do consumo de água com banhos na academia: a
proporção de clientes que fazem uso dos chuveiros (52%), obtido dividindo o número
total de respostas “sim” pelo número total de entrevistados; e a utilização média do
chuveiro por pessoa por semana (1,6 vezes), obtido através da média da coluna “quantas
vezes na semana?”, considerando o total de entrevistados.
Em posse destes indicadores, da vazão média dos chuveiros medidos em campo e do fluxo
diário de pessoas determinado pelo mapa de calor, tem-se a o alicerce para a estimativa
do consumo mensal de água com chuveiros por mês dentro da academia, comparado com
a realidade de consumo de água global no ano de 2016.
86
Esta comparação foi realizada de acordo com os seguintes dados, em seguida se obteve a
representatividade estimada do consumo de água em chuveiros na academia e quanto este
número representa em termos financeiros para o lojista:
Tabela 10 – Premissas para a estimativa do consumo de água nos chuveiros
Premissas
Duração média do banho por pessoa 4 minutos
População diária que utiliza o chuveiro 627 pessoas
Vazão média dos chuveiros relacionados 35 litros /minuto
Custo médio do metro cúbico de água cobrado em
2018 R$ 24,05
Índices Global 39 chuveiros Consumo
chuveiros/total
Média de consumo mensal (m³) 1.692 561
Consumo anual (m³) 20.306 6.727
Despesa mensal R$ 40.696,61 R$ 13.481,47 33%
Despesa anual R$
488.359,30 R$ 161.777,62
Fonte: Elaboração própria
4.2 ETAPA 2 - DIAGNÓSTICO
Pelos números da tabela 9, em 2018, ano de referência para os cálculos do programa,
observa-se heterogeneidade de indicadores em dois períodos claramente distintos: o
período que vai de janeiro à abril, com ICh1 médio de 104 litros por pessoa por dia, em
que o consumo mostra-se claramente excessivo por possíveis razões externas; e o período
restante, de maio a dezembro, com ICh2 médio de 43 litros por pessoa por dia, onde
apresenta estabilidade e provável condição adequada de operação.
Como ICh1 > ICh2, conclui-se que o sistema apresentou aparente desperdício e voltou à
sua condição normal. O desperdício ainda pode ser avaliado como grande vazamento, já
que as proporções entre ICh1 e ICh2 mais que dobram. Assim, verifica-se pelo sistema
de telemetria, a possível causa do aumento do indicador, com as posteriores
consequências financeiras.
87
Pelo gráfico de histórico de consumo apresentado no item 5.2.4, observa-se que o
consumo da academia cresceu além da média a partir de dezembro de 2017, tendo
retornado à sua normalidade apenas em maio de 2018. A ferramenta de telemetria
permitiu a confirmação de um vazamento na rede hidráulica interna da academia, visto
que, mesmo com a academia fechada, havia indícios de consumo de madrugada:
Figura 35 – Consumo por faixa horária na academia pelo sistema de telemetria. Eixo vertical em
metros cúbicos (m³). Fonte: Elaboração própria
O problema do vazamento foi sanado aproximadamente 4 meses depois que se iniciou.
Estima-se que foram perdidos mais de 7.300 m³ de água, o que equivale à um consumo
de quase um ano em um apartamento com 4 pessoas. Os prejuízos financeiros foram
calculados em mais de R$ 170.000,00 para a gerência da academia, o que equivale a um
estouro de 35% em relação ao seu gasto total anual com água.
Esta etapa consta a estimativa do índice de desperdício, porém ela foi desenvolvida de
maneira parcial pela falta de pesquisa para obtenção de indicadores de consumo de
tipologia do tipo academia, através de metodologia adequada e aplicada, de tal forma que
possa fornecer valores com maior confiabilidade quando utilizados. Por isso, o
desperdício estimado foi diagnosticado somente observando os eventos indicativos, como
recomendado por Oliveira (1999).
4.3 ETAPA 3 - PLANO DE INTERVENÇÃO
O diagnóstico anterior mostrava um grande vazamento na linha hidráulica da edificação,
porém este foi corrigido pelas equipes de manutenção envolvidas e o indicador de
88
consumo se estabilizou. Após essa correção, buscou-se reduzir o consumo das condições
de operação que já não eram adequadas com base nos levantamentos dos pontos e suas
respectivas vazões verificadas.
Foi necessário buscar metodologias e tecnologias economizadoras existentes no mercado
para tornar o projeto de redução de consumo viável. Levantou-se então, três opções
existentes, com a análise de seus respectivos custos, riscos, complexidade de
implementação, desconforto do usuário e vandalismo para então se definir a alternativa
com melhor custo-benefício. A metodologia aplicada para o processo decisório foi uma
adaptação da matriz de gravidade, urgência, e tendência – GUT, proposta por Kepner
(1981). Faz-se uma análise individual de cada alternativa e aplica-se uma nota dentre 1
(baixo), 3 (médio) e 5 (alto) para os critérios definidos, e o item com o total mais baixo -
multiplicação dos números escolhidos dos 5 critérios, será o definido para a utilização no
escopo do projeto.
O redutor de pressão trabalha com a alteração da pressão da linha hidráulica da academia.
Para uma implementação segura, deve-se fazer uma análise criteriosa do projeto de
instalações hidráulicas do empreendimento, com um parecer técnico de que a
implementação não oferecerá risco algum para a rede. Analisando o projeto hidráulico da
academia, não havia pontos em que se reduzia apenas as pressões dos chuveiros, pois
estes também, em sua grande parte estavam ligados ao sistema de bacias sanitárias. Além
disso, não havia memorial descritivo com os cálculos de pressão realizados, levando em
conta também a chance de que tenham havido inúmeras modificações ao projeto devido
às manutenções recorrentes que alteram o conceito hidráulico da rede uma vez concebido.
O risco de se reduzir a pressão do trecho e gerar entupimento de linha, aliado ao custo do
material e da implementação deste, fez com que seu valor total fosse considerado o mais
alto dentre as opções em pauta, tornando-o uma opção remota para a redução de água da
loja.
O chuveiro não apresenta grande complexidade na troca e não oferece grandes riscos ao
sistema hidráulico por ser uma mudança pontual. No entanto, os clientes da academia são
de classe econômica mais elevada, sendo que prezam por materiais de boa qualidade e
aparência. Esse fator implicaria adquirir chuveiros mais modernos e com menor vazão, o
89
que resultaria em um custo elevado, tornando a execução do projeto inviável em termos
financeiros.
Por fim, buscou-se o redutor de vazão para chuveiros, solução também pontual que não
coloca em risco o sistema hídrico da academia. Considerada a opção com o melhor custo-
benefício, que oferece o menor risco e com a menor complexidade de implementação.
A tabela comparativa pode ser observada a seguir:
Tabela 11 – Tabela de priorização
Item Custo Risco
Complexidade
de
implementação
Desconforto
do usuário Vandalismo
Pontuação
total
Redutor de
pressão 3 5 5 3 1 225
Chuveiro 5 1 3 1 3 45
Redutor de
vazão 1 3 1 1 3 9
Fonte: Elaboração própria
4.3.1 ESTIMATIVA DE REDUÇÃO DE CONSUMO E IMPACTO FINANCEIRO
Assim, o redutor de vazão para chuveiros foi escolhido como o centro de todas as análises
de potenciais reduções de consumo, economias financeiras, payback, etc. Foi considerada
uma peça regulável, capaz de reduzir o gasto médio do chuveiro de 35 litros por minuto
para 20 litros por minuto. Dessa forma, projeta-se então, qual seria o percentual de
redução de consumo com banho, a economia mensal e anual com base no custo por metro
cúbico de água no shopping e o payback estimado do investimento realizado.
A figura a seguir mostra que a utilização do redutor de vazão com as especificações
citadas anteriormente, garantiria uma redução de aproximadamente 43% no consumo
médio mensal de água nos chuveiros:
90
Figura 36 – Consumo médio mensal da academia sem/com redutor de vazão (m³). Fonte:
Elaboração própria
Esta redução do consumo com a instalação do dispositivo economizador equivaleria,
financeiramente, a um decréscimo de aproximadamente R$ 6.000,00 na conta mensal da
academia e R$ 70.000,00 na conta anual:
Figura 37 – Custo médio mensal da academia sem/com redutor de vazão (m³). Fonte:
Elaboração própria
O preço unitário dos dispositivos de redução de vazão foi de R$ 25,11. As 39 unidades
foram adquiridas por R$ 979,16. Assim, a partir do cálculo do payback simples, o tempo
561
320
-
100
200
300
400
500
600
Consumo médio mensal (m³)
Sem redutor de vazão Com redutor de vazão
R$13.481,47
R$7.703,70
R$-
R$2.000,00
R$4.000,00
R$6.000,00
R$8.000,00
R$10.000,00
R$12.000,00
R$14.000,00
R$16.000,00
Custo médio mensal com consumo de água nos chuveiros
Sem redutor de vazão Com redutor de vazão
91
de retorno sobre o investimento, a partir da redução implementada, foi estimado em cinco
dias.
4.4 ETAPA 4 - AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE REDUÇÃO DO CONSUMO
A implementação dos redutores de vazão para chuveiros foi concluída no dia 14/03/2019.
Assim, as comparações e análises do funcionamento do dispositivo economizador
instalado tornam-se válidas a partir do mês de maio de 2019, respeitando os 30 dias de
intervalo para adaptação do usuário desde a instalação. Sendo assim, verifica-se o
consumo de água global de 2019 com a utilização dos redutores de vazão, em comparação
ao ano de 2018 nos meses de maio, junho e julho. Pelo sistema de telemetria, temos
registros de quedas sucessivas e bastante expressivas no consumo de água da academia:
Figura 38 – Consumo mensal comparativo entre os anos de 2018 e 2019. Fonte: Elaboração
própria
Comprova-se então, que após a instalação dos redutores de vazão, a economia de água
global atingiu índices de 19%, 29% e 35% nos meses de maio, junho e julho
respectivamente, sendo o payback, atingido em 4 dias, um dia a menos do que o previsto
na fase de planejamento.
1619
1444 1461
1305
1027949
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
maio junho julho
Consumo mensal (m³)
2018 2019
92
Em termos financeiros reais, gerou-se uma economia para a academia no valor de R$
7.551,70 no mês de maio, R$ 10.028,85 no mês de julho e R$ 12.313,60 no mês de julho,
que somados, superam em mais de 72% o planejado para os 3 referidos meses.
Confirmando que de fato a redução de consumo ocorreu após a implementação do plano
de intervenção, compara-se os indicadores de impacto de redução, que tem como base o
número de agentes consumidores do período, calculados pela equação 4.1:
Tabela 12 – Índice de consumo comparativo nos anos de 2018 e 2019
Índice de consumo - IC
litros por pessoa 2018 2019 Redução
Maio 42 35 17%
Junho 42 31 25%
Julho 41 30 25%
Fonte: Elaboração própria
Adotando uma premissa conservadora de redução mensal de 25% nos valores globais de
água para a academia, a tendência é que se encerre o ano com uma economia de R$
50.000. Considerando o dia de implantação do projeto até o final do ano, a economia
estimada será de R$ 80.000, valor 15% acima do projetado na etapa de planejamento do
projeto.
4.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A APLICAÇÃO DO MÉTODO PURA
O método utilizado neste capítulo é bastante completo, e munido de sistemática teórica
bem fundamentada e por isso, bastante confiável. Ao longo deste trabalho, buscou-se a
aplicação do método PURA em um dos maiores consumidores de água do shopping. Para
serem aplicadas ações relevantes para redução de consumo de água do PURA, necessita-
se previamente de um grande planejamento, análise em campo e investigações de extrema
complexidade, que em sua grande parte exigem a atuação de profissionais específicos e
bastante qualificados, recursos indisponíveis no momento do estudo prático. Além disso,
neste estudo, houve a necessidade de se convencer, com argumentos técnicos e
financeiros, a gerência da academia para poder se aplicar o método na edificação. Este
contexto condicionou a escolha, adaptação e inclusão de etapas do PURA elencadas como
93
primordiais para o sucesso do projeto, resultando em uma adaptação ao método
apresentado por Oliveira (1999), para a tipologia de shopping center. As etapas foram
implementadas e criadas de visando a maior confiabilidade dos resultados, a máxima
redução de custos e a maior facilidade de implementação e manutenção.
Apesar disso, apresentou-se resultados obtidos bastante satisfatórios e que mostraram que
os níveis de consumo de água atuais podem ser diminuídos mantendo o desempenho do
sistema e o grau de satisfação dos usuários, reduzindo os valores das contas de água e,
além disso, contribuindo para a conservação dos recursos hídricos.
As etapas criadas ou adaptadas estão dispostas no quadro a seguir, assim como o
fluxograma adaptado, sugerido para a tipologia shopping center:
Quadro 11 – Itens do fluxograma adaptados/criados
Item do capítulo Descrição
4.1.1.3 Representatividade dos custos
por área de consumo
Etapa necessária para analisar qual é a área
consumidora de maior relevância em termos de
custos com o recurso hídrico no shopping
4.1.1.4 Avaliação da demanda da área
de maior consumo - "Lojista"
Etapa necessária para estratificar e verificar
qual é o ponto de consumo mais relevante
dentro da categoria definida acima
4.1.2.2 Teste de vazão em campo dos
pontos hidráulicos
Etapa necessária para basear todas as
estimativas de redução, com base nas vazões
reais dos pontos hidráulicos
4.1.2.3 Análise dos pontos hidráulicos
de maior consumo
Etapa necessária para definir qual o ponto
hidráulico crítico de todo o sistema, o qual será
definido como ponto focal de todo o estudo de
redução de consumo
4.1.2.4 Procedimento dos usuários
Etapa necessária para estimar o consumo, de
forma analítica por probabilidade e estatística,
qual o consumo do ponto crítico definido
anteriormente
4.1.2.5.1 Histórico do consumo de
água dos últimos 12 meses
Acrescentou-se a verificação deste histórico
utilizando a ferramenta de telemetria, medição
remota online em hidrômetros transmissores
de rádio frequência.
4.1.2.5.4 Representatividade do maior
consumidor no consumo global
Etapa necessária para analisar qual é o impacto
do ponto crítico, a fim de verificar a sua
relevância em relação ao consumo global. Fonte: Elaboração própria
94
Figura 39 – Fluxograma da auditoria do consumo de água do shopping. Fonte: Elaboração
própria
Figura 40 – Fluxograma da auditoria do consumo de água da academia. Fonte: Elaboração
própria
95
Figura 41 – Fluxograma do diagnóstico. Fonte: Elaboração própria
Figura 42 – Fluxograma do plano de intervenção. Fonte: Elaboração própria
96
Figura 43 – Fluxograma da avaliação do impacto de redução do consumo. Fonte: Elaboração
própria
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste trabalho, destacou-se como o recurso hídrico é importante frente aos
três pilares do desenvolvimento sustentável. Sua relevância, que está ligada à manutenção
de todas as funções vitais existentes no planeta, é afirmada por sustentar o
desenvolvimento econômico e cultural de sociedades através da viabilização de todo o
tipo de atividade de subsistência necessária para uma vida digna.
O contexto mundial do recurso hídrico é preocupante pois as dificuldades caracterizadas
pela desigualdade, fome, pobreza, doença, dentre outros, ainda assolam bilhões de
pessoas, ao passo que a população continua crescendo. Esse crescimento traz consigo um
passivo ambiental e social, além de gerar mais pressão nas fontes de água, a medida que
a exploração se dá de maneira desenfreada.
Para evitar um colapso de proporções inimagináveis, as grandes organizações
internacionais, por meio de conferências e debates, promulgaram um calendário de ação
frente ao desenvolvimento sustentável, primeiro a partir da Agenda 2015 com os
97
Objetivos Sustentáveis do Milênio, e em sequência, com os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, pela Agenda 2030. No contexto água, estão inseridas
metas relacionadas a este insumo, que devem ser atingidas em um horizonte de 15 anos,
de 2015 a 2030, a partir da ação conjunta de todos os 193 países do globo, incluindo o
Brasil.
A partir do conhecimento sobre os aspectos peculiares e intrínsecos à realidade hídrica
brasileira, observa-se que o governo brasileiro, desde 1999, se mantém alinhado com as
diretrizes internacionais frente aos ODS, sustentando a tomada decisões dos setores
público e privado nas esferas regionais e locais, munindo-os com informações primordiais
contidas nos DTAs, PCAs, nos relatórios da ANA e do PNSH.
No âmbito local então, dá-se enfoque à redução de consumo de água de grandes
empreendimentos como shoppings centers, a partir da aplicação do método PURA
derivado do PCA. Essa ação promove o uso racional do recurso hídrico em uma
edificação que tem a capacidade de atrair milhões de pessoas ao mês. Isso possibilita um
aumento de visibilidade das novas práticas sustentáveis no ramo do varejo e permite o
efeito em cascata, potencializando a redução de consumo local, regional e
consequentemente nacional.
Procurou-se seguir fielmente as quatro etapas do método PURA: auditoria do consumo
de água, diagnóstico, plano de intervenção e avaliação do impacto de redução. No entanto,
as tipologias de edificação “shopping center”, e mais especificamente, “academia”, não
estavam contempladas no método por falta de estudos disponíveis. Dessa forma, ao final
do estudo, foi proposto um fluxograma próprio do método utilizado para redução de
consumo de água na tipologia faltante comentada anteriormente. Da mesma forma,
conclui-se que o método proposto resultou em reduções expressivas em termos de
consumo e custos financeiros para o empreendimento, sem afetar a experiencia do usuário
final.
O estudo prático não contemplou a implantação de campanhas educativas. Logo, como
proposta para trabalhos futuros, identifica-se a necessidade de análise da implantação
dessa ação aliada à utilização de dispositivos economizadores na mudança de hábitos dos
usuários e possível redução de consumo de água.
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Ao estudar-se a tipologia shopping center, observou-se que os maiores custos
condominiais estão atrelados aos contratos com empresas terceiras. Se o empreendimento
for muito grande em seus aspectos físicos, gasta-se um enorme montante com a realização
de leituras manuais diárias em hidrômetros convencionais. Como sugestão para trabalhos
futuros, pode-se analisar os benefícios da substituição de medidores de água
convencionais por medidores com tecnologia de telemetria, em aspectos como: redução
de custos com pessoal, aumento de produtividade, confiabilidade dos dados, detecção de
vazamentos, monitoramento horário, dentre outros.
No mesmo contexto, a gestão proativa do recurso hídrico de um shopping se faz
necessária caso se queira reduzir o consumo de água em todas as categorias consumidoras
dentro do empreendimento, potencializando o impacto das ações de redução do consumo
em larga escala. Propõe-se então, estudar qual o método de gestão é o ideal para se
gerenciar o consumo das categorias consumidoras, com processo bem definido de
identificação de vazamentos, anomalias, desvios e etc., a partir do uso do sistema de
medição remota dos hidrômetros.
99
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