PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DACOMARCA DE NATAL
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA CRIMINAL DACOMARCA DE NATAL
Procedimento Investigatório Criminal nº 06.2014.00000872-4
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pelaPromotoria de Investigação Criminal da Comarca de Natal, no uso de suas atribuiçõesconstitucionais e legais, com fulcro nos arts. 129, inciso I, da Constituição Federal, e24, caput, do Código de Processo Penal, vem perante Vossa Excelência, com arrimo noprocedimento investigatório criminal, oferecer DENÚNCIA em desfavor de
IRIANO SERAFIM FEITOSA, brasileiro, casado, agente da polícia civil,portador da cédula nº 1.494.269 SSP/RN, inscrito no CPF sob o nº019.522.524-40, com endereço para intimações na Rua HenriqueCastriciano, s/n, Setor de Transporte da Polícia Civil, Ribeira, Natal/RN,LAYANE DE ASSIS FELÍCIO, brasileira, solteira, assistente de escritório,natural de Natal/RN, nascida em 01/12/1995, com 18 anos de idade na datados fatos, filha de Aldenor Felício e Antônia Luciene de Assis Felício,portadora da cédula de identidade nº 003.246.406 SSP/RN, inscrita no CPFsob o nº 017.769.984-13, residente na Rua Dr. Júlio Mesquita, nº 116,Pajuçara I, Natal/RN,FRANCISCO DE ASSIS SOUZA DA SILVA, brasileiro, casado, operador decâmera, portador da cédula de identidade nº 1.862.084 SSP/RN, inscrito noCPF sob o nº 012.590.894-60, residente na Avenida Romualdo Galvão, nº1600, Lagoa Seca, Natal/RN, e deRANULFO ALVES DE MELO FILHO, brasileiro, casado, agente da políciacivil, portador da cédula nº 425.265 SSP/RN, inscrito no CPF sob o nº342.048.224-87, com endereço para intimações na Rua HenriqueCastriciano, s/n, Setor de Transporte da Polícia Civil, Ribeira, Natal/RN.
1
1- DOS FATOS
No dia 21.01.2014 foi veiculada, em cadeia nacional, através do
Sistema Brasileiro de Televisão – SBT (Programa SBT BRASIL), uma reportagem
jornalística abordando a situação caótica da polícia civil do Estado do Rio Grande do
Norte e trazendo uma denúncia gravíssima: o Delegado Odilon Teodósio dos
Santos Filho estava “fazendo uso indevido (para fins pessoais) de viaturas policiais”,
um FORD/FIESTA SEDAN 1.6, cor branca, placas NNY-0273.
As imagens demonstravam o Delegado de Polícia Civil-DPC Odilon
Teodósio do Santos, utilizando-se de uma viatura da polícia civil descaracterizada
(FORD/FIESTA SEDAN 1.6, cor branca, placas NNY-0273), no período da noite, indo a
um restaurante com uma adolescente e, em seguida, levando-a ao MOTEL L'AMORE,
situado na Praia do Meio, conforme narração do repórter do SBT: “... e de viatura
entram num motel. O delegado pega a chave da quarto, a funcionária não
exige o documento do casal e o policial com a viatura paga com o dinheiro
público vai entrando no motel para se divertir, a tarefa de fechar a porta é da
adolescente.”
As imagens exibidas causaram indignação na comunidade jurídica e na
população: primeiro por se tratar de uma adolescente sendo levada a um motel por
um delegado de polícia; segundo, face a utilização de um bem público para interesses
particulares e escusos. Além disso, os fatos trazidos à tona trouxeram perplexidade
diante da pessoa exposta, por se tratar de delegado tido como honesto.
Diante do ocorrido, foi instaurado inquérito civil na 46.ª Promotoria de
Justiça do Patrimônio Público com o objetivo de “investigar o uso indevido de viatura”
e tendo como investigado os delegados da polícia civil “Odilon Teodósio dos Santos” e
“Alexandro Gomes dos Santos”.
Inesperada e voluntariamente, no dia 23 de janeiro de 2014, a Sra.
LAYANE DE ASSIS FELÍCIO apresentou-se na sede das Promotorias de Defesa do
Patrimônio Público da capital, já acompanhada de advogado, informando ser a
adolescente que aparecia com o Delegado ODILON TEODÓSIO supostamente entrando
no motel.
2
Antes de se iniciar a oitiva da depoente, ela recebeu um estranho
telefonema do agente de polícia civil IRIANO SERAFIM FEITOSA, ora denunciado,
que pediu para falar com um promotor, alegando que tinha uma equipe da polícia civil
comandada pelo Delegado “ROLIM”, na frente da casa da mãe de LAYANE, e que
estava querendo levá-la, à força, para ser ouvida, tendo IRIANO pedido que o
promotor de justiça solicitasse uma equipe da polícia militar para ir à referida casa
intervir, conforme certidão que consta no procedimento investigatório criminal.
Iniciada a oitiva, a declarante afirmou que a reportagem transmitida
pelo SBT é inteiramente verdadeira e que, de fato, teve um “affair” com o
investigado. Disse “inexistir qualquer tipo de montagem, tendo ido com o
delegado Odilon para o motel L’Amore, após o jantar no restaurante Tábua
de Carne”.
LAYANE falou, ainda, em depoimento gravado em vídeo no dia 23 de
janeiro de 2014 que: a) foi com Odilon ao restaurante Tábua de Carne e depois para o
motel, após o que pediu que ele a deixasse na Av. Itapetinga na Zone Norte; b) a
conta do Tábua de Carne foi paga com cartão de crédito do Odilon, mas não sabe
dizer como foi pago o motel; c) nunca mais se encontrou com Odilon, após o dia do
motel; d) conhece IRIANO, pois ele namorou uma amiga dela de nome BRUNA; e)
conheceu IRIANO no final do ano passado, depois que saiu com Odilon (19min10s); f)
só manteve contato com IRIANO, após a exibição da reportagem no SBT (20min15s);
g) usava o telefone da OI, número 8842-9316, em novembro de 2013 (20min48s); h)
o telefone de IRIANO era 8747-1525 (24min08s); i) nega que IRIANO procurou a
depoente para ir até Odilon e que IRIANO tenha se aproximado dela quando ele soube
do envolvimento dela com Odilon; j) diz que procurou a delegacia do bairro para
comunicar a existência de uma boca de fumo perto de sua casa e como a delegacia
não fez nada, foi até a delegacia que ficava na Av. Mor Gouveia (DEGEPOL) por
orientação de seu irmão que trabalhava perto da DEGEPOL e não foi orientada por
IRIANO a ir até a DEGEPOL (38min50s); l) perguntado se de dezembro para o dia do
depoimento no MP (23/1/14), ela tinha falado com IRIANO por telefone, ela falou que
só falou com ele , por telefone, após a exibição da reportagem no SBT (39min19s).
Ao ter acesso aos dados telefônicos do número 8842-9316 pertencente
a LAYANE, foram constatadas sessenta e uma ligações entre LAYANE e IRIANO,
3
entre 06 de novembro de 2013 e 30/01/14, sendo que cinquenta e seis ligações
foram efetuadas antes da exibição da reportagem do SBT (21/01/2014), fato diversos
do relatado em depoimento, conforme planilha abaixo:
Logo após, foi inquirida a mãe de LAYANE, a Sra. ANTÔNIA LUCIENE
DE ASSIS FELÍCIO, esta informou que sua filha havia ido à DPGRAN com sua amiga
chamada “BRUNA” (vide a partir dos 17mins40s do depoimento) e que esta havia
4
apresentado o Delegado Odilon à LAYANE. Além disso, pasmem, disse DESCONHECER
QUALQUER PESSOA CHAMADA POR “IRIANO” (vide a partir dos 11min05s):
Promotor: Hoje de manhã, antes de começar o depoimento
de sua filha, uma pessoa ligou exatamente para relatar o
que estava acontecendo e pedir que eu encaminhasse uma
viatura da Polícia Militar para retirar a senhora de lá (sua
residência).
Antônia Luciene: Não... não precisava disso não senhor.
Promotor: O nome dessa pessoa é iriano. A senhora
conhece ele?
Antônia Luciene: Iriano é o que? É polícia?
Promotor: Eh... ele que ligou pra dizer que a senhora
estava lá constrangida...
Antônia Luciene: Não.. se eu conheço ele não é por nome.
Ele tem apelido?
Promotor: Não sei se tem apelido.
Antônia Luciene: Não conheço Iriano. (trecho inaudível).
Eu não pedi ajuda de ninguém de polícia não na minha casa.
Eu digo porque eu estava com o senhor (referência ao
delegado Rolim, que participou da inquirição da Sra. Antônia
Luciene) pedindo pra mim vim (sic). Eu fiz dois telefonemas,
mas não foi pra polícia. Porque até mesmo quando eu vi que
eu vinha numa viatura, eu fiquei constrangida, porque como
eu falei pro senhor (nova referência ao Delegado Rolim)
porque meus vizinhos lá fica (sic) tudo de olho... já vai (sic)
pensar que é alguma coisa. Eu entrei até rindo na viatura. E
eu só vim com ele, na qualidade de Delegado que ele é,
porque eu conheço pela TV... e meu filho.. ele aceitou meu
filho vim (sic).
Promotor: Certo. Eh...
Antônia Luciene: Mas em momento algum, por esse aqui,
eu não fui nem tive medo não senhor, de vir, de acompanhar
ele aqui (...)
5
Inquirida na Promotoria, BRUNA JESSIANE BORGES DA SILVA afirmou
que teve um breve relacionamento de dois meses com o APC IRIANO e que neste
período, o apresentou para sua amiga LAYANE. Também relatou que não conhecia
o DPC Odilon e que nunca foi com LAYANE ao prédio da DPGRAN.
A partir dessas contradições, passou-se à reanálise das imagens
exibidas pelo SBT, especificamente no que tange à viatura estacionada na garagem do
motel. Alguns fatos chamam a atenção: 1. O veículo não foi desligado até que a
adolescente baixasse o toldo; 2. O condutor pisava o tempo todo no freio, mesmo
quando a adolescente baixava o toldo; 3. Foi a adolescente quem abaixou o toldo; 4.
Não se vê o DPC Odilon saindo do veículo em nenhum momento, mesmo quando o
toldo está sendo abaixado; 5. A forma mais fácil da captar a imagem do DPC Odilon
seria filmá-lo na saída do motel, mas isto não aconteceu; 6. Um veículo acompanha a
viatura e fica parado em frente à garagem em que a viatura se encontrava
estacionada, filmando a senhora LAYANE – o que só podia ser feito a pouca distância,
sem passar despercebido.
O DPC Odilon foi ouvido e forneceu o extrato da fatura do seu cartão
de crédito informando o dia exato em que jantou no referido restaurante
(12.11.2013), negando veementemente que tenha ido ao motel após o jantar, além
de afirmar que a ida ao restaurante fazia parte de uma investigação de tráfico.
Uma equipe do MP capitaneada pelo promotor de Justiça em exercício
na 46ª Promotoria de justiça dirigiu-se ao Motel L’Amore para realizar uma inspeção
no local. A partir de alguns detalhes visualizados na imagem “congelada” da viatura
no quarto do motel, como por exemplo a caixa do ar-condicionado e detalhes nas
paredes, chegou-se à conclusão de que o único quarto compatível com a
referida imagem seria o de número “105”.
De posse da data exata que o fato teria ocorrido – 12.11.2013, foram
requisitadas à direção do motel informações de clientes que teriam utilizado o quarto
105 no referido dia. O motel informou que não possuía o controle das placas dos
veículos, mas anotava se o cliente ingressou no estabelecimento de carro ou de moto,
tendo sido verificado que, na noite do dia 12.11.2013, somente adentrou a
garagem do quarto 105 um veículo do tipo motocicleta (entrada : 18:41:09 e
6
saída : 20:31:08). Ainda assim, em período ANTERIOR às 20:09:15 – horário no
qual o DPC ODILON efetuou o pagamento no Restaurante Tábua de Carne, conforme
cópia do cupom do seu cartão de crédito.
Ao ser ouvido na Promotoria, em 22/05/2014, o proprietário do Motel L
´Amore afirmou que: a) o registro da utilização do quarto é feito por meio de
computador, após a entrega chave, o funcionário insere o número do quarto no
computador e após este registro, a energia elétrica do quarto é liberada,
possibilitando que o cliente ligue o ar-condicionado; b) nenhum cliente vai utilizar o
quarto sem que o ar-condicionado esteja ligado; c) os dados que constam na planilha
entregues ao MP não foram adulterados; d) os dados foram apenas impressos do
programa e entregue ao Promotor.
A conclusão óbvia é de que a filmagem da parte do motel não foi feita
no dia do jantar, reforçando a tese de que esse trecho teria se tratado de uma
armação.
Algumas situações estranhas trouxeram o APC IRIANO SERAFIM
FEITOSA à condição de investigado, como sendo umas das pessoas que produziu o
vídeo e fez a montagem da parte referente ao motel:
a) IRIANO conhece LAYANE, a jovem que aparece na filmagem no
restaurante e no motel;
b) IRIANO transformou-se em inimigo pessoal do DPC ODILON, pelo
fato de este haver determinado a imediata instauração de inquérito policial,
procedimento administrativo na Corregedoria da Policia Civil e encaminhado
cópias de apuração ao Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial e à Promotoria
de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, gerando o ajuizamento da ação de
improbidade administrativa n.º 0817110-90.2013.8.20.0001, em função da atuação
do agente IRIANO, ao largo de suas atribuições funcionais e ao arrepio de qualquer
autorização judicial ou administrativa, que fora “passear” indevidamente com os
presos de justiça Fernando Braga Serrão (Fernando da Gata) e Andreia Argemiro
de Macedo Braga para efetuar saques em agências bancárias dessa capital e retirar
em uma concessionária um veículo de luxo e de alto preço, apesar de estes se
encontrarem presos preventivamente em Natal pela Polícia Civil do Rio Grande do
Norte, em decorrência da Operação Apocalipse, deflagrada por autoridades policiais da
7
Polícia Civil de Rondônia;
c) IRIANO em seu depoimento no inquérito civil que gerou o
ajuizamento da ação de improbidade administrativa n.º 0817110-90.2013.8.20.0001,
demonstrou ter um acesso fácil a pessoas da imprensa, conforme ficou consignado:
QUE um dia antes da OPERAÇÃO APOCALIPSE, o repórterMAURICIO FERRAZ ligou para o depoente informando de umaOperação da Polícia Civil de Rondônia e que iria ocorrer umasprisões em Natal; QUE conheceu o repórter MAURICIO FERRAZpor ocasião da Operação Outras Faces da PC/RN; QUE eleperguntou se o depoente iria participar e o depoente disse quenão e ele pediu para o depoente fazer algumas imagens, pois aOperação iria sair no Fantástico; QUE já sabia que ia participar deuma Operação da PC/RN, mas não disse ao repórter e tambémnão sabia de que se tratava esta Operação; QUE recebeu umaligação da PC/RN confirmando o local do encontro às 4 da manhãna DEGEPOL; QUE foi para a residência do assessor de imprensada DEGEPOL do nome GUSTAVO MARIANO para pedir emprestadouma câmera para realizar a filmagem e comunicou a GUSTAVOMARIANO que o repórter MAURICIO FERRAZ tinha ligado para odepoente pedindo para fazer algumas imagens; QUE no horáriodo “briefing”, o DPC Odilon informou que iriam cumprir mandadosde prisão de Rondônia; QUE falou para o DPC Odilon que orepórter MAURICIO FERRAZ tinha ligado para o depoente pedindopara fazer umas imagens e o DPC Odilon concordou e disse quedepois remetesse a filmagem para GUSTAVO MARIANO; QUE ointuito da filmagem era mostrar o trabalho da PC/RN; QUEinclusive foi remanejado de equipe para ir cumprir o mandado dosalvos principais (Fernando da Gata e esposa); QUE no momentodo “briefing”, o APC ANDRÉ que trabalha no NIP (Núcleo deInteligência) informou todo o teor da investigação e que setratava de lavagem de dinheiro e que a quadrilha teria váriosveículos em Natal e inclusive uma locadora de veículos; QUE umdos policiais perguntou se era para apreender os carros e o DPCODILON deu a ordem para não apreender, pois não tinha lugarpara guardar e que o pátio da DEGEPOL estava lotado; QUE foramcumprir os mandados e o depoente foi filmando; QUE nomomento da prisão, tentou filmar/entrevistar o depoente, masmuitos policiais interrompiam, mas o preso queria falar, masprecisava de uma garantia, pois temia pela vida dele; QUE ospresos foram para a DEICOR e quando foi tentar gravar odepoimento do preso, foi impedido pelos advogados; QUE osadvogados eram uma mulher e um homem; QUE o homem era oadvogado de nome TITO; QUE passou as filmagens e a filmadorapara Gustavo Mariano que foi até a DEICOR para pegá-las; QUE anoite saiu a entrevista do Delegado Geral e do DPC Odilon noRNTV 2 edição sobre as prisões; QUE acredita que foi utilizado afilmagem que o depoente fez nesta matéria; QUE passou umacópia da filmagem para o repórter MAURICIO FERRAZ; QUE orepórter MAURICIO FERRAZ disse que não gostou da entrevista
8
dos delegados da PC/RN, pois parecia que os delegados nãosabiam muito do caso; QUE ligou para o DPC Benhur e comunicouo fato e o DPC Benhur pediu para melhorar a entrevista do presoe falar para MAURICIO FERRAZ colocá-las, pois o novo DelegadoGeral teria entrado recentemente e precisava enaltecer o nomedele; QUE teve a ideia de levar o preso para a DECAP para tentarconvencê-lo a delatar como ocorreram os crimes em Rondônia;QUE a ideia de buscar o preso não foi do DPC Benhur; QUEMAURICIO FERRAZ disse que se conseguisse algo novo(entrevista) com relação ao preso, ele iria tentar mandar um novorepórter para entrevistar novamente os delegados; QUE pediupara uma equipe da DECAP formada por ANACLETO, DIOCLECIO enão se lembra o nome do outro ir buscar o preso (FERNANDO DAGATA); QUE eram três policias; QUE falou para a equipe que iriatentar uma gravação com o preso;
d) Após o fato ocorrido com os presos acima, IRIANO foi afastado da
função de chefe de investigação da DECAP, tendo sido colocado em um setor
meramente administrativo – Setor de Transportes;
e) IRIANO aparece de perfil, na segunda matéria exibida pelo Sistema
Brasileiro de Televisão – SBT (Programa SBT BRASIL), sobre o caos da polícia civil,
aos 1min24s, quando é feita uma imagem panorâmica da Praia de Pipa, o que
demonstra a ligação deste com a equipe de reportagem;
f) Ao ser ouvido no inquérito civil, Ênio Ricardo Macedo, gerente do
Restaurante Tábua de Carne, relatou que em um determinado dia no mês de
dezembro de 2013, um homem, que não se recorda o nome, compareceu ao
restaurante se apresentando como policial civil e exibiu-lhe uma carteira de
identificação policial de cor preta, alegando que estava investigando tráfico
internacional de mulheres e precisava de imagens de um homem que teria jantado
com uma adolescente naquele restaurante, no dia 12.11.2013, vez que não havia
conseguido captar imagem frontal da pessoa investigada, motivo pelo qual precisava
consultar o sistema de circuito interno do Restaurante.
Assim, diante da existência de fundados indícios da existência de um
conluio entre o APC IRIANO e LAYANE com finalidade de forjar uma situação que não
existiu para desmoralizar o DPC ODILON, as investigações foram aprofundadas.
Ao ser ouvido na Promotoria, em 11/02/2014, IRIANO SERAFIM
9
FEITOSA afirmou que: a) participou de toda a investigação determinada pelo Chefe do
setor de Transporte (Ranulfo), através de ordens de serviço, para verificar o uso
indevido de viaturas por parte dos delegados de polícia; b) não sabe dizer se o chefe
do setor de transporte tem atribuição para investigar delegado, mas ele pode mandar
apurar o desvio de viatura; c) não sabe dizer se a investigação tinha previsão legal,
mas que apenas cumpriu a ordem do chefe do setor de transporte; d) na ordem de
serviço constava a placa das viaturas e que fizesse as diligências para verificar se
aqueles carros estavam sendo utilizados para uso particular; e) a primeira ordem de
serviço foi para o caso do delegado Alexandro Gomes que utilizava a viatura para ir
para a FARN e foi com o câmera do SBT (Francisco) fazer as imagens; f) depois que
fez as imagens, entregou um relatório para Ranulfo; g) depois teve a denúncia do
delegado Jodelci que utilizava a viatura para deixar o filho na escola; h) veio a
denúncia de Odilon e soube da utilização indevida da viatura pelo delegado Ridário; i)
colocou um rastreador na caminhonete de Odilon, por cinco dias, após a denúncia que
recebeu do delegado Ridário e não tinha ordem de serviço de Ranulfo para colocar o
rastreador, mas era um rastreador particular e o colocou e o retirou da caminhonete
na própria DPGRAN; j) certo dia, uma menina (LAYANE) ligou para fazer uma
denúncia de tráfico de drogas e orientou que ela fosse até a delegacia do bairro e ela
disse que tinha ido e ninguém tinha feito nada; l) conheceu esta menina (LAYANE)
através de um ex-namorada dele de nome BRUNA; m) orientou (LAYANE) a procurar a
DPGRAN e o delegado Odilon para fazer a denúncia e falou para ela o endereço; n) à
noite, ligou para LAYANE e perguntou se tinha dado certo e ela falou que Odilon,
pessoalmente, junto com sua equipe, iria resolver o problema; o) foi filmar o encontro
de Odilon e LAYANE com um câmera, pois sabia que ele utilizava o carro para fins
particulares, mas perdeu o carro enquanto filmava, mas Ranulfo passou um whatsapp
para ele dizendo que tinha uma viatura no Tábua de Carne; p) foi até o restaurante
junto com o câmera do SBT e fez as imagens do delegado na mesa e depois desceu
para filmá-lo no estacionamento e ficou esperando eles descerem e que quando eles
saíram, saiu correndo e entrou no carro que ficou do lado de fora do Tábua de Carne
junto com o câmera do SBT, passou a dirigir o carro enquanto o câmera do SBT
filmava; q) Odilon entrou no motel, aproximadamente umas oito horas e entrou com o
seu carro, logo em seguida, após pegar uma chave de quarto; r) vinha saindo um
carro de ré e eles pararam em frente ao quarto que Odilon parou e fizeram a imagem;
s) tentou fazer a imagem do veículo dirigido por Odilon saindo do motel, mas tinham
vários travestis no local e decidiram sair; t) a imagem do veículo entrando no motel
10
aconteceu no dia 12/11; u) foi um mês após o dia da gravação pegar as imagens no
Tábua de Carne, pois a imagem que fez de Odilon era de costa, mas não conseguiu;
v) Ranulfo emitiu três ordens de serviço para ele; x) procede a informação de que o
sindicato (SINPOL) tem imagens de outros delegados e que DJAIR as mostrou para
ele e que são mais de vinte relacionadas a viatura e que estão montando um dossiê;
z) o intuito do SBT era pegar o Delegado Geral, pois ele utilizava o carro em proveito
próprio.
Ao ser ouvido na Promotoria, em 20/02/2014, FRANCISCO DE
ASSIS SOUZA DA SILVA, o cinegrafista da TV PONTA NEGRA, afirmou que: a)
participou das filmagens dos três delegados; b) conhece IRIANO há bastante tempo e
ele sabe que trabalha na TV Ponta Negra; c) Iriano pediu uma câmera que filmasse de
longe e disse que era uma investigação que ele estava fazendo; d) disse que não
tinha, mas a TV liberava se ele fosse junto e a TV liberou várias câmeras; e) começou
a filmar Alexandro (delegado) e depois filmaram Jodelci (delegado); f) as imagens
foram enviadas por FTP para a matriz em São Paulo (SBT) e eles pediram para liberá-
lo para ficar a disposição da investigação; g) não deu nenhuma imagem (filmagem)
para Iriano; h) Iriano ligou dizendo que tinha um negócio para fazer com ele à noite e
ficaram parados em um lugar na Zona Norte, pois Iriano disse que o delegado iria
pegar uma menina; i) viram chegar duas viaturas, uma Ranger e um Fiesta, e
seguiram a Ranger, mas se perderam; j) Iriano recebeu uma mensagem ou whatsapp
dizendo que tinha uma viatura na Tábua de Carne e foram para lá; l) Iriano falou para
colocar o carro fora do Tábua de Carne e pediu uma câmera para entrar no
restaurante; m) Iriano ligou dizendo que daqui a pouco ia ligar para ele pegar a
câmera grande e filmar a saída do carro; n) depois Iriano ligou e foi para a frente do
restaurante e fez que estava filmando do outro lado da rua e que quando o carro
subiu, fez a imagem, mas não fez a imagem do delegado entrando no carro
(estacionamento), pois foi feita por Iriano.
Ao ter acesso aos dados telefônicos do número 8876-6287 pertencente
a FRANCISCO, foram constatadas duzentas e dezessete ligações entre FRANCISCO
e IRIANO, entre 06/11/2013 e 30/01/14, conforme planilha abaixo:
11
Foram registradas quatro ligações do terminal de número 8876-62871
pertencente a FRANCISCO para o terminal de número 8747-1525 pertencente a
IRIANO entre 20:03 e 20:17 do dia 12/11/2013 da ERB localizada na Rua Doutor José
Augusto de Medeiros, 14, Areia Preta, Natal-RN, conforme planilha abaixo:
Efetuada
Recebida
Recebida
1 Em depoimento prestado no dia 23/5/2014, Francisco de Assis Souza da Silva informou queutiliza o terminal telefônico de número (84) 8876-6287.
12
12/11/2013 20:03:44.000 00:00:3512/11/2013 20:09:47.000 00:00:5012/11/2013 20:17:18.000 00:00:23
12/11/2013 20:15:46.000 00:00:06
Os dados telefônicos atreladas as informações prestadas no
depoimento de FRANCISCO em que este menciona que as filmagens foram feitas
utilizando-se um único veículo e que os dois se comunicavam por telefone, no
momento da filmagem do Tábua de carne, levam a conclusão que IRIANO avisou
FRANCISCO as 20:17:18 que o veículo do delegado Odilon estava saindo do
estacionamento do Tábua de Carne, para que FRANCISCO filmasse a saída do veículo,
tal como consta no depoimento, visto que a conta foi paga as 20:09:15.
Ao ser ouvido na Promotoria, em 19/02/2014, RANULFO ALVES DE
MELO FILHO, o Chefe do Setor de Transporte da Polícia Civil, afirmou que: a) tem
informações de uso irregular de veículos desde 2004; b) afastaram Iriano da DECAP e
mandaram para o setor de transporte; c) tinham denúncias no setor de transporte e
fez uma ordem de serviço para Iriano e perguntou se Iriano tinha uma câmera; d) o
modelo de ordem de serviço foi entregue por Iriano, sendo o mesmo utilizado na
DECAP e ele adaptou para o setor de transporte; e) estava no setor de transporte
desde 2004, mas nunca emitiu uma ordem de serviço igual a dada para Iriano, pois
era ele que fazia a averiguação; f) não sabe dizer como Iriano fez as filmagens,
apenas pediu para ele fazer; g) no dia 12 de novembro (2013), estava em casa à
noite, quando recebeu uma informação por telefone (whatsapp) que Odilon estava no
restaurante Tábua de Carne e entrou em contato com Iriano para verificar quem era a
pessoas que estava com um carro da polícia no Tábua de Carne; h) não tinha
expedido ordem de serviço antes de Iriano ir até o restaurante Tábua de Carne; i)
Iriano foi ao restaurante e no dia seguinte falou que foi Odilon que estava lá e no
neste dia fez a ordem de serviço, com data retroativa para o dia 12/11.
Segundo a Lei Complementar n.º 270, de 13 de fevereiro de 2004 que
dispõe sobre a Lei Orgânica e o Estatuto da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do
Norte e dá outras providências, são atribuições do Cargo de Delegado da Polícia Civil
(Art. 32. XIV – fornecer aos seus subordinados ordem de serviço, por escrito, das
ações que a eles determinar). Assim, não existe previsão normativa que possibilite
que o Chefe de Setor de Transporte da Polícia Civil (setor administrativo) emita uma
ordem de serviço para investigar a utilização irregular de viatura por parte de um
Delegado da Polícia Civil. Aliás, de acordo com o artigo 6º, II, da referida lei, a
hierarquia constitui princípio básico da Polícia Civil.
13
Ao ser questionado sobre esta prática, a ex-Corregadora da Polícia
Civil, Kalina Leite Gonçalves afirmou que: a) o setor de transporte é um setor
meramente administrativo, não é investigatório; b) o setor administrativo não tem
natureza investigativa, sendo obrigação de ao tomar conhecimento de qualquer fato
ilícito ou disciplinar de comunicar, mas a expedição de ordem de missão é específico
da autoridade policial que é o delegado de polícia; c) pela lei da polícia civil só quem
pode emitir ordem de serviço policial é o delegado de polícia; d) os próprios sindicatos
e os agentes exigem que o agente saia para cumprir diligências com ordem de serviço
emitida pelo delegado; e) trabalhou na corregedoria por dois anos e nunca viu um
chefe do setor administrativo dar ordem de serviço para investigar delegado ou
agente.
Ao analisar os dados provenientes da quebra de dados telefônicos,
constatou-se que LAYANE DE ASSIS FELÍCIO recebe uma ligação de IRIANO SERAFIM
FEITOSA às 20 horas, 34 minutos e 49 segundos, do dia 12/11/2013. Ocorre
que LAYANE DE ASSIS FELÍCIO, na ocasião, se encontrava na ERB situada no bairro
do Potengi, Zona Norte de Natal-RN, conforme dados fornecidos pela Oi.
Assim, entre a hora em que ocorreu o pagamento da conta no
restaurante, 20:09:15 2 , e a ligação em que LAYANE se encontrava no bairro do
Potengi transcorreram 25 minutos e 34 segundos !!
2 O Restaurante Tábua de Carne forneceu o comprovante do pagamento da conta, paga com
cartão de crédito às 21:09:15, ou seja, 20:09:15 com o desconto do horário de verão.
14
12/11/2013 20:34:49 558487471525 00:03:06 3,565441E+014 8224 60401
Rua Serra do Araguaia 1129 Potengi NATAL RN IRIANO SERAFIM FEITOZA
A pergunta que precisa ser respondida é: 25 minutos e 34 segundos
seriam tempo suficientes para: a) sair do restaurante após pagar a conta e entrar no
carro; b) deslocar-se do restaurante até o motel; c) passar um período no motel; d)
pedir e pagar a conta no motel; e) deslocar-se e chegar até a zona norte ??
Em depoimento prestado no dia 12/02/2014 pela Sra. LAYANE DE ASSIS
FELÍCIO acompanhada do Dr. ARSENIO CELESTINO PIMENTEL NETO, OAB/RN nº
4959, ajuda a esclarecer esta pergunta. No transcorrer da oitiva, a declarante
respondeu a seguinte pergunta (11 min e 30 ss) :
“Promotor : Mais ou menos quanto tempo vocês ficaram no motel
15
?
Layane : Uns 40 minutos, mais ou menos, nesta faixa.”
Se já seria impossível fazer todas as atividades mencionadas acima em
25 minutos e 34 segundos, a resposta de Layane impede qualquer tipo de explicação
sobre a “possível” ida ao motel. Com efeito, todos os dados colhidos no presente
procedimento revelam a existência de um conluio entre o APC IRIANO e LAYANE com
fins de forjar um fato que não existiu.
Deste modo, baseado em provas técnicas, o Ministério Público pode
afirmar que a cena que mostra o Delegado Odilon entrando no Motel L´Amore
acompanhado de Layane, no dia 12/11/2013, não existiu. Neste caso, são esses os
motivos que embasam esta afirmação: a) a conta no restaurante Tábua de Carne foi
pedida às 20:08:04, conforme “relatório de consumo em movimentos encerrados” e
paga com cartão de crédito por Odilon às 20:09:15; b) entre 20:15:46 e 20:17:18,
Francisco e Iriano trocam telefonemas para ajustar o posicionamento da câmera fora
do Restaurante Tábua de Carne para captar as imagens da saída do veículo dirigido
por Odilon3 , ou seja, por volta de 20:17, Odilon saiu do Restaurante Tábua de Carne;
c) LAYANE recebe uma ligação de IRIANO às 20:34:49, quando ela estava na ERB
localizada na Rua Serra do Araguaia, 1129, Potengi; d) não existe nenhum registro no
Motel L´Amore da utilização do quarto 105, o que aparece nas imagens do SBT, no dia
12/11/2013, no horário compreendido entre a saída do Restaurante Tábua de Carne e
a ligação que LAYANE recebe de IRIANO às 20:34:49.
3 Em depoimento prestado na Promotoria, Odilon afirmou que seguiu em direção a Ponte de
Igapó pela Avenida Presidente Café Filho e viu que tinha um carro que, possivelmente, estava
o seguindo, então resolve dobrar a esquerda (Rua Capitão Mor Gouveia) e pegar a Rua 25 de
dezembro, rua em que está localizada o Motel L´Amore e, logo em seguida, dobra a esquerda
e sai na Praça dos Heróis na Praia do Meio, onde tem um posto da PM e seguiu pela Avenida
Presidente Café Filho e segue pela Ponte Newton Navarro, Avenida João Medeiros Filho até a
Avenida Itapetinga, quando LAYANE pediu para descer em frente a João Chaves, depois segue
pela Km 6 para retornar a até a sua residência;
16
2 – DA TIPIFICAÇÃO DAS CONDUTAS.
Diante deste panorama fático, o que se sobressai é a fabricação de um
conjunto de acontecimentos maquinado no claro desiderato de atingir a honra do
Delegado de Polícia Civil Odilon Teodósio, levada a cabo por IRIANO SERAFIM
FEITOSA, com a indispensável ajuda do cinegrafista da emissora televisiva.
Com efeito, emerge da narrativa esboçada, a indisfarçada intenção de
IRIANO SERAFIM FEITOSA em imputar, falsamente e com vistas a deflagrar
procedimento investigativo em desfavor de Odilon Teodósio, fato criminoso do qual
o sabia inocente.
Deste modo, IRIANO SERAFIM FEITOSA deu causa à instauração de
17
investigação administrativa (PIC nº 001/2014 – 65º PmJN), imputando a prática do
crime à vítima Odilon Teodósio dos Santos Filho. Trata-se de uma imputação indireta,
em que o denunciado após produzir filmagens, a partir de montagens, cria um fato
criminoso inexistente, atribuindo-o falsamente a determinada pessoa, repassando o
material produzido a órgão de imprensa, com o objetivo de publicizá-lo e de dar
ensejo à instauração de investigações por parte das autoridades competentes.
Infere-se do PIC em apenso que IRIANO SERAFIM FEITOSA, no segundo
semestre do ano de 2013, fez produzir filmagens que, supostamente, registravam o
ofendido Odilon Teodósio dos Santos Filho, então Diretor de Polícia da Grande Natal,
na noite de 12 de novembro de 2013, após um jantar no restaurante Tábua de
Carnes, da Via Costeira, adentrando o Motel L' Amore, localizado na 25 de dezembro,
nº 514, Praia do Meio, nesta Capital, utilizando uma viatura descaracterizada da
polícia civil e em companhia da adolescente Layane de Assis Felício, que prestaria
favores sexuais ao Delegado.
Noticiam, os autos que as imagens que supostamente registravam a
vítima Odilon Teodósio dos Santos Filho ingressando em um estabelecimento
destinado a encontros amorosos e sexuais em companhia de uma adolescente foram
veiculadas, em cadeia nacional, pelo canal televisivo SBT – Sistema Brasileiro de
Televisão, notadamente no programa jornalístico denominado SBT Brasil. A
bombástica divulgação de fatos estarrecedores, como a utilização de uma viatura da
polícia civil para levar uma adolescente ao motel, tiveram grande repercussão na
sociedade potiguar, motivando a exoneração do ofendido Odilon Teodósio do
cargo/função comissionado que ocupava na cúpula da polícia civil do estado do Rio
Grande do Norte e impulsionaram o Ministério Público, em especial a 65ª Promotoria
de Justiça, a instaurar um procedimento investigatório criminal para investigar a
conduta do então DPGRAN Odilon Teodósio que, além de cometer ato de improbidade
administrativa, teria, em tese, segundo o vídeo, adredemente produzido pelo acusado
IRIANO SERAFIM FEITOSA, cometido o crime previsto no art. 218-B, § 2º, I do Código
Penal.
As investigações levadas a efeito no bojo do PIC que embasa esta peça
acusatória revelam que as imagens do então DPGRAN Odilon Teodósio adentrando o
motel L´Amore, utilizando uma viatura da polícia civil e em companhia da adolescente
Layane de Assis Felício são falsas, uma montagem, uma “estória”, urdida por IRIANO
18
SERAFIM com o fim de dar causa, ainda que indiretamente a instauração de
investigação contra o delegado Odilon Teodósio e, efetivamente, conseguiu já que,
repise-se, foi instaurado procedimento investigatório criminal para apurar o suposto
crime que Odilon Teodósio de exploração sexual de adolescente que o indigitado
IRIANO SERAFIM FEITOSA imputou ao Delegado, mesmo sabendo que ele era
inocente, já que o fato não existiu.
O cotejo dos dados telefônicos da denunciada LAYANE DE ASSIS FELÍCIO
com o comprovante do cartão de crédito registrando o pagamento realizado pelo
Delegado Odlion Teodósio, no dia 12 de novembro de 2013, no restaurante Tábua de
Carnes, e com o registro de entrada de veículos no Motel L' Amore, naquele mesmo
dia 12 de novembro de 2013, demonstra que a ida do Delegado Odilon Teodósio a
este estabelecimento inexistiu, sendo fruto de uma “armação”, montagem, perpetrada
pelo acusado IRIANO SERAFIM FEITOSA com a participação da então adolescente
LAYANE DE ASSIS FELÍCIO e do denunciado FRANCISCO DE ASSIS SOUZA DA SILVA.
Com efeito, a acusada LAYANE DE ASSIS FELÍCIO, na época com 17 anos de idade,
protagonizou a encenação, ao passo que o increpado FRANCISCO DE ASSIS SOUZA
DA SILVA concorreu para a farsa filmando a cena que supostamente registrava a
entrada do Sr. Odilon Teodósio no motel em companhia da adolescente.
Visando conferir ares de veracidade e legalidade à cena que produziu,
que supostamente flagravam o delegado Odílio Teodósio adentrando o motel junto
com a adolescente Layane de Assis, o denunciado IRIANO SERAFIM FEITOSA fez
inserir, no relatório 003/2013 – Setor de Investigações , com cabeçalho da
Delegacia Especializada em Polinter e Capturas – DECAP, documento público
que repousa às fl. 224/228 216, declaração falsa, com o fim de alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante (exploração sexual de uma adolescente) ao gizar
que “Por volta das 19:45 minutos o delegado Odilon juntamente com amoça que
estava em sua companhia se dirigiram até o estacionamento entraram na viatura e
saíram do restaurante, com destino ignorado. Começamos a acompanhar o trajeto da
viatura e por nossa surpresa a mesma parou em frente ao LAMORE MOTEL, localizado
na Avenida 25 de dezembro, Praia do meio e adentrou ao motel estacionado em um
dos quartos.”
Praticou o increpado IRIANO SERAFIM FEITOSA o crime de falsidade
19
ideológica, pois, conforme restou demonstrado linhas acima, o delegado Odilon
Teodósio não adentrou o Motel L´Amore, logo após jantar no restaurante Tábua de
Carnes, em companhia da acusada Layane de Assis Felício, sendo essa declaração a
toda evidência falsa incluída em um documento público com a finalidade de alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante.
O relatório 003/2013, mencionado linhas atrás, contendo a declaração
falsa foi juntado em um procedimento administrativo, instaurado no âmbito do setor
de transporte da polícia civil do Rio Grande do Norte, cujo objeto era investigar o uso
de viaturas da polícia civil para fins particulares por parte de policiais, notadamente
delegados, e foi elaborado em cumprimento à ordem de serviço policial nº 003/2013
(fl. 229), expedida pelo Sr. Ranulfo Alves de Melo Filho. Note-se que a ordem de
serviço em referência foi expedida em 12 de novembro de 2013, justamente na noite
desse mesmo dia teria ocorrido a ida do delegado Odilon Teodósio ao motel junto com
a adolescente Layane Felício, e contém determinação vazada nos seguintes termos:
“1. Diligenciar no sentido de localizar e identificar se no estacionamento do
Restaurante Tábua de Carne da Via Costeira, no horário da noite, existia uma viaturas
da Polícia Civil, tipo FIESTA de placa reservada NNY-0273 estacionada no referido
estacionamento.”
Já a denunciada LAYANE DE ASSIS FELÍCIO, além de ter protagonizado a
encenação da ida ao motel, por ocasião de depoimento prestado, no dia 23 de janeiro
de 2014, na condição de testemunha, perante a 46ª Promotoria de Justiça de Natal,
no bojo do procedimento administrativo 23/14D, fez afirmação falsa ao asseverar que
tinha ido ao motel com o delegado Odilon, logo após o jantar no Tábua de Carnes, e
de ter permanecido no estabelecimento até por volta das 21 horas, a afirmação falsa
foi proferida nos seguintes termos, aos 03 minutos e 41 segundos da gravação
audiovisual em diante:
Layane de Assis Felício: Fumos nessa mesma noite pro
Tábua de Carnes jantar, não fui pra aula, fui pra lá, pro
motel, saindo de lá ele disse que ia me deixar em casa, eu
disse que não precisava, que eu ia de ônibus, que minha
mãe sempre ficava me esperando na calçada.
Promotor: Isso era que horas?
20
Layane de Assis Felício: Eu sai de casa de 07 horas, mas
tudo aconteceu de 07 até 09 e alguma coisa, agente ficou
um bom tempo no restaurante, depois fomos para lá, ele ia
me deixar em casa só que ele não foi, eu pedi pra ele não ir,
para me deixar na Itapetinga, na zona norte, e eu fui de
ônibus para casa.
Outrossim, o increpado FRANCISCO DE ASSIS SOUZA DA SILVA , afora
ter colaborado com a produção da falsa cena da então adolescente Layane de Assis
Felício entrando no motel com o delegado Odilon Teodósio, filmando o embuste,
também fez afirmação falsa ao depor, no dia 20 de fevereiro de 2014, como
testemunha no inquérito civil nº 13/14, na 46ª Promotoria de Natal, ao dizer, aos 22
minutos 39 segundos do registro audiovisual, que:
Francisco de Assis Souza da Silva: Eu imaginei que ele ia
subir a ponte e deixar a menina em casa pra gente pegar a
imagem dele deixando a menina em casa. Aí, quando a
gente pensa que não, tava ali, passou, aí ele foi e entro,
ligou o pisca e entrou e a gente entrou atrás. Aí eu disse
Iriano segure aí, Iriano segurou, a rua passa aqui, ficou
nessa esquina aqui e ele meteu o carro lá na entrada. (uma
moça interrompe oferecendo café). Quando ele encostou pra
entrar, aí eu disse segura aqui que eu vou fazer essa imagem
de longe, fiz a imagem de longe e próximo do carro, aí eu
disse agora eu vou encostar no carro, aí ele encosta perto do
carro, ele entrou, dê uma chave aí também, qualquer quarto
aí, a menina deu e a gente sai seguindo, ele entrou, acho
que foi o terceiro ou foi o quarto quarto depois ele entrou,
entendeu? Aí eu, ele foi passando, vinha saindo acho que era
o quarto ou quinto quarto, vinha saindo um carro de ré.
Promotor: Mas, aí naquela cena, que é a cena em que a
menina vai baixar o toldo, esse carro ficou parado pelos
menos uns cinco ou seis segundos pra fazer aquela imagem,
e ela não desconfiou de nada?
Francisco de Assis Souza da Silva: Não, o carro é todo
21
escuro, doutor, fechado na película, ninguém ver ninguém
dentro, só se for um cara que é policial, um cara que é mais
malicioso eu creio que desconfie, e ali foi uns cinco, seis
segundos mesmo, e ali a gente ia passar só gravando a placa
do carro, foi quando a menina desceu, aí eu fiz a imagem da
menina ali e disse vai, vai, vai...
Promotor: O senhor sabia que ele já conhecia ela?
Francisco de Assis Souza da Silva: Quem conhecia ela?
Promotor: Iriano.
Francisco de Assis Souza da Silva: Não, em nenhum
momento não.
Promotor: Certo, aí vocês gravaram a menina saindo,
fechando lá o toldo e colocaram o carro em uma das
garagens, foi isso, do carro que vinha saindo?
Francisco de Assis Souza da Silva: Não, o outro carro que
saiu?
Já o denunciado RANULFO ALVES DE MELO FILHO assinou três ordens
de serviço para determinar que IRIANO investigasse três delegados da Polícia Civil,
usurpando atribuições do delegado de polícia civil, conforme expresso no art. 35, XIV
da Lei Complementar n.º 270, de 13 de fevereiro de 2004.
3. DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer o Ministério Público do Rio Grande do
Norte:
a) o recebimento da presente denúncia, sem oitiva prévia, em relação aos
denunciados que não são servidores públicos, com a citação dos mesmos para
oferecer resposta, nos termos do art. 396, do Código de Processo Penal;
b) a intimação dos denunciados IRIANO SERAFIM FEITOSA e RANULFO ALVES DE
MELO FILHO antes do recebimento da denúncia, para os fins do artigo 514 do CPP;
c) após as suas manifestações, o recebimento da denúncia em relação aos servidores
públicos denunciados;
d) recebida a denúncia, seja oficiado, ao Instituto Nacional de Identificação Criminal
(INIC), através da Superintendência da Polícia Federal neste Estado, Setor Técnico
Científico, Núcleo de Identificação na Rua Lauro Pinto, S/N, Lagoa Nova, Natal, RN,
22
informando os dados do processo, para fins de registro no INFOSEG/MJ;
e) a autorização judicial para que o Ministério Público do Estado do Rio Grande do
Norte possa dar publicidade, através da sua assessoria de comunicação, do conteúdo
da presente petição e das provas nela citadas, especialmente, os registros de dados
telefônicos.
f) a citação dos denunciados para apresentação das defesas e para os demais atos do
processo;
g) ao final do processo, a condenação dos denunciados pela prática dos seguintes
delitos:
- IRIANO SERAFIM FEITOSA: Artigos 299 e 339, caput, do Código Penal; sendo os
dois delitos na forma do artigo 69 do Código Penal (concurso material);
- LAYANE DE ASSIS FELÍCIO : Artigo 342, caput, do Código Penal.
- FRANCISCO DE ASSIS SOUZA DA SILVA : Artigos 342, caput, e 339 do Código
Penal sendo os dois delitos na forma do artigo 69 do Código Penal (concurso
material);
- RANULFO ALVES DE MELO FILHO : Artigo 328 (três vezes), na forma do artigo 71
do Código Penal (crime continuado);
Requer, ainda, o apensamento do processo 0105062-09.2014.8.20.0001
nesta denúncia, o compartilhamento de toda prova colhida com o inquérito civil
013/14 da 46.ª PJ/Natal e a intimação das testemunhas e dos declarantes abaixo
arrolados, na forma e sob as cominações legais, para que prestem informações sobre
os fatos.
Natal/RN, 03 de junho de 2014.
FERNANDO BATISTA DE VASCONCELOS
PROMOTOR DE JUSTIÇA
THIBÉRIO CÉSAR DO NASCIMENTO
FERNANDES
PROMOTOR DE JUSTIÇA
MÁRCIO CARDOSO SANTOS
PROMOTOR DE JUSTIÇA
EMANUEL DHAYAN BEZERRA DE ALMEIDA
PROMOTOR DE JUSTIÇA
23
TESTEMUNHAS/DECLARANTES:
1) ODILON TEODÓSIO DOS SANTOS FILHO (vítima), brasileiro, Delegado de polícia
civil, com endereço para intimações na avenida Interventor Mário Câmara, nº 1535,
Cidade da Esperança, Natal/RN;
2) ÊNIO RICARDO M MACEDO, brasileiro, gerente, com endereço para intimações no
Restaurante Tábua de Carnes da Via Costeira, localizado na avenida Senador Dinarte
Mariz, nº 229, Parque das Dunas, Natal/RN;
3) KALINA LEITE GONÇALVES, brasileiro, Delegada de polícia civil, atual interventora
da FUNDAC;
4) IDERVAL DUARTE MEDEIROS JÚNIOR, brasileiro, casado, comerciante, proprietário
do Motel L'amore, residente na Rua 29 de dezembro, 514, Praia do Meio, Natal/RN.
5) BRUNA JESSIANE BORGES DA SILVA, brasileira, solteira, residente na Travessa
Dom Bosco, s/n, Bairro Nossa Senhora da Apresentação, Natal, RN.
Natal/RN, 03 de junho de 2014.
FERNANDO BATISTA DE VASCONCELOS
PROMOTOR DE JUSTIÇA
THIBÉRIO CÉSAR DO NASCIMENTO
FERNANDES
PROMOTOR DE JUSTIÇA
MÁRCIO CARDOSO SANTOS
PROMOTOR DE JUSTIÇA
EMANUEL DHAYAN BEZERRA DE ALMEIDA
PROMOTOR DE JUSTIÇA
24