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FACULDADE DE BALSAS
CURSO DE DIREITO
ASPECTOS LEGAIS DA “LEI DA FICHA LIMPA” – LEI
COMPLEMENTAR N 135/2010.
Wagner Silva Rocha
Balsas(MA)
2012
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FACULDADE DE BALSAS
CURSO DE DIREITO
ASPECTOS LEGAIS DA “LEI DA FICHA LIMA” – LEI
COMPLEMENTA Nº 135/2010.
Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como exigência para a obtenção
de nota parcial do Curso de Bacharel em
Direito da Unibalsas - Faculdade de Balsas.
Balsas(MA)
2012
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RESUMO
O presente projeto de Trabalho de Conclusão de Curso propõe-se a analisar os
elementos legais e jurisprudenciais pertinentes ao fenômeno jurídico da “Lei da Ficha Lima”
– Lei Complementar nº 135 de 2010, instrumento este de cunho democrático que busca barrar
cidadãos que se encontram processados e julgados pelos mais variados motivos, improbidade
administrativa, prestação de contas, atos anti-éticos, bem como vários crimes constantes do
ordenamento jurídico e que tenham sido condenados com transito em julgado ou tenham em
seu desfavor decisão de órgão colegiado (Tribunais de contas, tribunais de justiça dos estados,
Tribunais Regionais e Tribunais Superiores).
Sua aplicabilidade, no entanto, torna-se objeto de constante debate em relação a
princípios, como o da não culpabilidade, na decisão de colegiado, não gerando trânsito em
julgado, controvérsia existe ainda em relação a fatos pretéritos tipificados como crime, onde
os autores já possuíam sentença definitiva na data da vigência da lei da ficha limpa, onde estes
como efeitos da sentença transitada em julgado tiveram seus direitos políticos suspensos
(inelegibilidade ativa e passiva), se com a incidência da novel lei não feriria o princípio “ne
bis in idem”.
Palavras-chave: Ficha limpa, Inelegibilidade, aplicabilidade, constitucionalidade.
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1 INTRODUÇÃO
A moralização e a ética a ser buscada na representatividade popular têm uma
longa história, baseada sempre no anseio de ver os dirigentes políticos perpetrados por uma
vida pregressa limpa, sem obscuridades, foi na Emenda Constitucional nº 4 de 07 de Junho de
1994, que enalteceu a vida pregressa como causa de inelegibilidade, alternando o §9º do Art.
14 da CF/88.
A alteração trazida por esta EC 4/94, deixou o Tribunal Superior Eleitoral,
dividido quanto a aplicabilidade, considerando-a como norma de eficácia limitada, conforme
entendimento de que tal dispositivo não é auto-aplicável.
Em 2006 o tema inelegibilidade baseada na vida pregressa, voltou ao debate
jurídico, após o TRE do Rio de Janeiro indeferir o registro de candidatura a deputado federal
de Eurico Miranda com fulcro em sua vida pregressa. Ao julgar o recurso, o TSE reformou a
decisão proferida pelo tribunal fluminense, mas não por unanimidade, entendendo que o
dispositivo alterado não tem aplicação automática.
Diante das diversas tentativas de aplicação da vida pregressa como requisitos de
elegibilidade e o descrédito que a sociedade impregnou quanto a seus representantes, ainda
em 2006 o MCCE1 juntamente com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e
outros organizações da sociedade passaram a divulgar a necessidade de mudança na
legislação pátria em relação a elegibilidade, iniciando a coleta de assinaturas para
apresentação do Projeto de Lei nº 519, de iniciativa popular, com base no Art. 61,§2º, CF.
Após vários debates o referido PLP foi aprovado e sancionado pelo presidente
Luis Inácio Lula da Silva em 10 de junho de 2010.
A vigência da Lei quatro meses antes das eleições trouxe inúmeros debates quanto
a sua aplicabilidade fática, primeiramente a possibilidade de serem aplicadas nas eleições do
ano de 2010, pois o Art. 16, CF/88 é claro ao afirmar que “A lei que alterar o processo
eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até
um ano da data de sua vigência.”
O Tribunal Superior Eleitoral, decidiu pela aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa
nas eleições de 2010, vindo o Supremo Tribunal Federal a apreciar a Decisão em Recurso
extraordinário, obtendo no pleno empate de cinco a cinco (fato este inusitado ocorrido em
1 “O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) é composto por 46 entidades cuja atuação se estende por todo o país. Com sede em Brasília (DF), acompanha de perto a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mantém contato com os responsáveis pela adoção de medidas que favoreçam a lisura do processo eleitoral em todo o Brasil.”
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virtude da aposentadoria voluntária do ex-Ministro Eros Grau), onde neste RE os Ministro
decidiram pela aplicação por analogia do Art. 205, parágrafo único, inciso II, do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal, para manter a decisão do Tribunal Superior Eleitoral,
sendo barrados assim vários candidatos “ficha suja.” Em 2011, com o já empossado Ministro
Luiz Fux, o assunto voltou a pauta, sendo o voto de “minerva” decidido no sentido de não
aplicabilidade nas eleições de 2010, por contrariar mandamento constitucional, previsto no
citado Art. 16 da CF/88, sendo que esta deveria ser aplicada nas eleições posteriores,
aplicando o Princípio da anterioridade da lei eleitora.
No Trabalho de Conclusão de Curso será discutido a aplicação posterior a esta
historicidade da democracia brasileira, analisando primordialmente o conflito ou não com
princípios constitucionais, como o Princípio da inocência, Princípio do “ne bis in idem”, e
ainda o Princípio implícito da Razoabilidade e Proporcionalidade, visto que a todos
independentemente do grau de reprovação da conduta é aplicada uma pena fixa de 08 (oito)
anos.
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Pretende-se, como objetivo geral, além de demonstrar a grande importância do
novel diploma jurídico na busca da moralização da política o revés social provocado pelo
movimento em torno da criação de novas condições/requisitos para elegibilidade de quem
pleiteia Mandado eletivo. Buscando analisar as implicações jurídicas concretas que irão gerar
a partir da diplomação dos candidatos eleitos nas eleições de 2012, por ser estas as primeiras
afetadas de fato pela Lei da Ficha Limpa.
O presente estudo pretende ainda, como objetivo geral, trazer a revolução
legislativa, trazida com os Projetos de Lei de iniciativa popular, buscando demonstrar a
necessidade cada vez mais premente de interferência do povo, agindo diretamente, sem
esperar somente seus representantes eleitos na direção de seus interesses.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Demonstrar a importância dos Projetos de Lei de iniciativa popular, como
medidas eficazes na busca do Estado Democrático de Direito;
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Evidenciar a pressão da sociedade por meio dos meios de comunicação e das
Organizações não governamentais junto aos legisladores no intuito de criação
de normas de interesse popular;
Demonstra as implicações da aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa em
confronto com princípios constitucionais;
Demonstrar como a representatividade eleitoral ganhou credibilidade perante a
sociedade com as novas barreiras impostas aos pretenços candidatos com vida
pregressa desabonadora.
3 PROBLEMATIZAÇÃO
A Lei da Ficha Limpa, instrumento de cunho altamente democrático,destina-se ao
cenário político, buscando uma melhor representatividade do povo que é titular do poder,
conforme lecionado no Art. 1º, parágrafo único, CF/88. Este novo panorama encontra debates
acalorados sobre a segurança das normas (Regras e Princípios) regentes no País, notamente:
1. O Princípio da não culpabilidade ou inocência: Nesta viga os debates
doutrinários opostos, implicam se este é aplicado somente no Direito Penal ou se é aplicável a
todos os processos em que haja um julgamento de Mérito.
Caso seja aplicável a todo processo que haja julgamento de mérito, o que é
defendido por este trabalho, como ficaria a situação do indivíduo que julgado por um
colegiado, tendo decisão desfavorável – com implicação de negativa a elegibilidade – como
ficaria sua situação se no processo criminal em seu trâmite regular fosse absolvido no
Supremo Tribunal Federal – ficaria este vítima de um dano irreparável.
2. O Princípio do “ne bis in idem”, princípio este que veda que o individuo tenha
contra si um duplicidade de processo, sentença e execução sobre um mesmo fato.
Este princípio deve ser analisado, sobre o prospecto de que uma condenação penal
transitado em julgado já tenha em si uma suspensão do direitos políticos (inelegibilidade ativa
e passiva), conforme Art. 15, CF/88.
“Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
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V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.” (grifamos)
De acordo com o exposto estariam criando uma nova suspensão de direitos
políticos (inelegibilidade passiva), contrariando a Constituição Federal que criou um rol
taxativo. Sobre este aspecto concordamos com os defensores do novel diploma legal, posto
que este não trata-se na realidade de um julgamento pela prática de um ato ou fato, sendo
aplicado somente a quem pleiteia mandado eleitoral, portanto ninguém estar obrigado a passar
por tal crivo, utilizando um critério objetivo para (in)deferimento da elegibilidade.
3. Outro princípio relevante é a forma deste critério objetivo, não levando em
consideração o grau de reprovabilidade da conduta do desfavorecido, não possuindo
razoabilidade e proporcionalidade quando aplica indistintamente a pena de 08 (oito) anos de
suspensão de Direitos Políticos a fatos divergentes, visto que utilizam crimes relacionados a
probidade administrativa com outros em que a própria doutrina reconhece como dependente
de situações específicas, como o infanticídio em que a mãe deve estar em estado puerperal,
logo após o parto.
4 JUSTIFICATIVA
O Trabalho de Conclusão de Curso sobre a Lei da Ficha Limpa tem grande
relevância, posto analisar mudanças do ordenamento jurídico de caráter altamente
democrático, pois foi o povo que fez criar o anseio de mudança no Direito Eleitoral.
Buscando a melhor forma de colocar na sua representatividade pessoas dignas de
confiança, sem passado obscuro, obstando assim o candidato condenado a crimes ou situações
ímprobas a inelegibilidade, situação esta com postura doutrinárias divergentes, no entanto
salutar na busca da ética política
Alexandre de Moraes, conceitua esta inelegibilidade buscada na Lei complementa
135/2010, como “A inelegibilidade consiste na ausência de capacidade eleitoral passiva, ou
seja, da condição de ser candidato e, consequentemente, poder ser votado, constituindo-se,
portanto, em condição obstativa ao exercício passivo da cidadania.
Com esta inelegibilidade a pessoas incapacitadas de representar a sociedade, quem
ganha é a democracia, pois enaltece-a, principalmente quando deriva
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5 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico tem como finalidade apresentar os diversos posicionamentos
doutrinários e jurisprudenciais quanto a constitucionalidade ou não da Lei Complementa nº
135/2010 (Lei da Ficha Limpa). Evidenciando o progresso da democracia diretamente
exercida pelo cidadão como forma de buscar a moralização na administração pública, as
implicações jurídicas trazidas pelo novel diploma legislativo quanto em confronto com
princípios basilares do Direito posto, notadamente a (in)segurança jurídica advinda de leis que
abrangem fatos anteriores, como os definidos como crime, em que são utilizados os efeitos da
condenação penal – maus antecedentes – para sua aplicabilidade.
6 METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a obtenção dos objetivos da presente pesquisa será o
método de procedimento dissertativo, desenvolvido com base na literatura jurídica,
principalmente livros, no entanto, para a elaboração do trabalho de conclusão de curso,
pretende-se aprofundar a pesquisa bibliográfica e documental em artigos científicos e
jurisprudências de tribunais com estudos dirigidos contidos na internet em sites jurídicos.
Utilizaremos, como suporte doutrinário, livros de direito eleitoral e de direito
constitucional. A internet, porque disponibiliza ao mundo, diariamente, uma riqueza de
informações, será também, bastante utilizada, seja para demonstrar os fatos citados ao longo
da monografia, seja pelos artigos sobre as alterações na Lei das Inelegibilidades divulgados
por doutrinadores especializados e acompanhamento dos tramites de processos em curso
perante os Tribunais Superiores.
7 CRONOGRAMA
Atividades
2012/2013
Out
2012
Nov
2012
Dez
2012
Jan
2013
Fev
2013
Mar
2013
Abr
2013
Mai
2013
Escolha do tema X
Pesquisa bibliográfica
e leitura do material X X X X X X
Elaboração do projeto
de TCC X X
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Defesa e entrega do
projeto de TCC
X
Pesquisas e leituras
para elaboração do
TCC
X X X X X X
Elaboração e entrega
dos 1º e 2º capítulos
X X
Finalização do TCC X
Revisão e defesa do
TCC
X
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23ª Edição. São Paulo, SP: Atlas.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 2001.
RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. Rio de Janeiro, RJ: Impetus, 2011.
CAVALCANTE JÚNIOR, Ophir. Ficha limpa: a vitória da sociedade. OAB – Conselho Federal,
2010.
REIS, Márlon Jacinto; CASTRO, Edson Resende de e OLIVEIRA, Marcelo Roseno de (orgs). Ficha Limpa interpretada por juristas e responsáveis pela iniciativa popular. Bauru, SP: Edipro.
9. BIBLIOGRAFIA. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª Edição.
São Paulo, SP: Malheiros.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª ed. Portugal:
Edições Almedina, 2003.
EMERICIANO, Francisco. Direito Eleitoral Brasileiro – Teoria e Prática. São Paulo:
Conceito Editorial, 2011.
MENDES, Marcos. A Lei de Inelegibilidade e a Redução da Corrupção. Disponível em http://www.conamp.org.br/Estudos/A%20lei%20de%20inelegibilidade%20e%20a%20redu%C3%A7%C3%A3o%20da%20corrup%C3%A7%C3%A3o.pdf Acesso em 09/11/2012.
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BRAGA, Flávio. Quando a Inelegibilidade Não é Pena. Disponível em
http://www.jornalpequeno.com.br/2010/7/4/quando-a-inelegibilidade-nao-e-pena-123280.htm ANGELIM, August Sampaio. Ficha Limpa e a Garantia Constitucional da Irretroatividade da Lei Penal em Face dos Casos de Inelegibilidade Sanção. Disponível em http://www.augustonsampaioangelim.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=2438658 Acesso em 10/10/2011. ACTIS, Kelton. Projeto Ficha Limpa vs Presunção de Inocência. Disponível em
http://blog.viasdefato.com/2010/04/projeto-ficha-limpa-vs-presuncao-de.html Acesso em 09/10/2011.