PROJETO DE LEI: Determina que os supermercados, lojas de
departamentos, padarias, e drogarias e outros estabelecimentos
comerciais sejam vedados de disponibilizar alimentos e bebidas
ultraprocessados com distância mínima de dez metros das caixas
registradoras.
A _____________DECRETA
Artigo 1º- Os alimentos ultraprocessados não deverão ser expostos ou disponibilizados em gôndolas próximas das caixas registradoras em qualquer estabelecimento comercial em todo território nacional.
Artigo 2º- Os alimentos ultraprocessados não deverão estar disponibilizados no mínimo 10 metros das caixas registradoras, ou da entrada ou da saída dos estabelecimentos.
Artigo 2º- O não cumprimento do disposto nos artigos anteriores implicará em multa de ________ ao fabricante do alimento ou da bebida, dobrando na reincidência.
Parágrafo único - A pena de multa será revertida para os órgãos de proteção ao Consumidor.
Artigo 3º- O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de até 3 meses contados a partir da data de sua publicação.
Artigo 4º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
I – FUNDAMENTAÇÃO TECNICA
1.1 – Obesidade no Brasil e suas consequências
O aumento da prevalência de excesso de peso e da obesidade no Brasil vem sendo
intenso nos últimos anos. Pesquisa nacional revelou que 49% da população adulta em 2008
(POF2008/2009) apresentava peso, sendo que 14,8% obesidade (16,9% mulheres e 12,4%
dos homens). Em 2003 a porcentagem de excesso de peso era 42%. Pesquisa nacional mais
recente, com dados coletados em 2013 mostrou que o excesso de peso já atinge 56,9% da
população adulta, isto é, 82 milhões de brasileiros (Pesquisa Nacional de Saúde,2015). A
obesidade é o principal fator de risco da doenças crônicas não transmissíveis, como doenças
cardiovasculares, hipertensão e diabetes. No Brasil, essas doenças são responsáveis por 72%
das mortes ocorridas na população em 2007. As doenças cardiovasculares constituem a
principal causas de mortalidades, representando 34,2% das mortes no País. O custo estimado
para tratamento de doenças relacionado ao sobrepeso/obesidade para o Sistema Único de
Saúde (SUS) de nível hospitalar chega a US$ 20.152.102.171 e em procedimentos
ambulatoriais US$ 679.353.348 por ano (Bahia et al, 2011).
1.2- Padrão alimentar no Brasil
A população brasileira sofreu enorme mudança nos hábitos alimentares, substituindo
dietas tradicionais à base de frutas, legumes e vegetais foram substituídas por dietas com
elevada densidade energética, ricas em açúcar e sódio, com aumento do consumo de
gorduras, especialmente saturadas e trans, carboidratos refinados e alimentos de origem
animal (WHO, 2003; Piernas & Popkin, 2010; Levy et al., 2012). Estudos populacionais
mostraram aumento da participação dos produtos ultraprocessados na alimentação dos
brasileiros nas últimas décadas e evidências indicam aumento mundial na produção e
consumo desses alimentos em substituição às dietas tradicionais compostas pelos alimentos
processados e ultraprocessados (Levy e cols., 2005; Monteiro e cols., 2010; Monteiro e cols.,
2011; Levy e cols., 2012; Moubarac e cols., 2012; Stuckler e cols., 2012). Estudos
populacionais conduzidos em diferentes países evidenciam a participação crescente na
produção e consumo de produtos ultraprocessados. Recente relatório da Organização Pan
Americana da Saúde (PAHO, 2015) revelou o aumento de 48% nas vendas de produtos
ultraprocessados no período de 2000 a 2013 em 13 países latino-americanos e que o aumento
no consumo de alimentos ultraprocessados está fortemente associado ao aumento do peso
corporal (R² = 0.86) na população dos países estudados. A definição de alimentos
ultraprocessados está no anexo I.
1.3- Supermercados e disposição de alimentos ultraprocessados nas prateleiras e
caixas registradoras.
Várias evidências ao redor do Mundo mostram que a disposição de alimentos não
saudáveis nas prateleiras dos supermercados, especialmente próximos às caixas registradoras
é um fato concreto na Austrália (Cameron, 2006, Dixon & Parkinson, 2016, ), Nova Zelândia
(Vandvijvere et al, 2017), Dinamarca (Winkler et al, 2016), Estados Unidos (Foster, 2014),
Holanda (Kleef et al, 2012), Canadá, Suécia e Inglaterra (Thornton et al, 2013, Horsley et al,
2015). Infelizmente não há no Brasil, de acordo com nosso conhecimento, estudos
específicos sobre esse tema. Mas não é necessário uma pesquisa científica para provar o que
é visível aos olhos: os supermercados e estabelecimentos comerciais entulham prateleiras de
alimentos não saudáveis como doces, chocolates, refrigerantes próximos às caixas
registradoras. Em muitos estabelecimentos que têm fila única, as prateleiras cheias de
alimentos ultraprocessados formam imensos corredores. Fatores ambientais que aumentam
a oportunidade de comprar determinados alimentos influenciam nos hábitos alimentares (
Brug, 2008).Pesquisa de mercado mostrou que que quase dois terços das decisões de compra
de alimentos em mercados não são planejadas ( Inman & Winer, 1998), o que faz a estratégia
de dispor os alimentos bem visíveis ser altamente efetiva para a compra (Thornton et al, 2013,
Thornton et al, 2012), já que se demonstrou compras impulsivas tanto para alimentos
saudáveis como para alimentos não saudáveis quando estes são dispostos visivelmente ou
promovidos nos estabelecimentos( Crawford et al, 2007, Nederkoom et al, 2009).
Uma pesquisa no google com palavras chaves em português não surgiu absolutamente
nada que instigasse essa preocupação ou tema, entretanto, ao colocar palavras chaves em
inglês como “supermarket” “junk food” and “checkout” surgiram vários resultados
mostrando que em outros países como Suécia e Dinamarca já há leis que proíbem a
disposição de doces nas filas das caixas registradoras. Na Holanda, Inglaterra e Bélgica a
iniciativa foi da própria rede de supermercados, apesar que na Inglaterra a Associação de
Dietistas está promovendo campanhas contra a disposição desses alimentos na hora do
pagamento. Nos Estados Unidos uma mãe entrou com uma petição para banir esses alimentos
nas filas dos caixas. Os links para essas notícias estão disponíveis a seguir:
http://nltimes.nl/2014/08/29/supermarkets-stop-selling-candy-checkout
http://www.bbc.com/news/uk-27514077
https://www.bda.uk.com/regionsgroups/groups/obesity/junk_free_checkouts
http://abcnews.go.com/Lifestyle/mom-creates-petition-grocery-store-chain-remove-
candy/story?id=44523480
II- JUSTIFICATIVA
Há evidência que os alimentos ultraprocessados interferem nos mecanismos de apetite
endógeno, devido à sua alta palatabilidade e assim promovendo o consumo excessivo de
energia, que está associado à obesidade (Fortuna, 2012). É indiscutível que a praticidade
dos produtos ultraprocessados associados às estratégias de publicidade persuasivas e
agressivas os tornam irresistíveis e preferíveis aos alimentos in natura e minimamente
processados. Além disso, sua acessibilidade e facilidade de transporte facilitam o hábito de
substituir e comer entre refeições, pois estão prontos para o consumo. (Monteiro, 2010). O
governo Brasileiro vai se engajar no pioneirismo em estabelecer uma lei que tem ação direta
no bem na estar das pessoas e às protegerem de um ambiente obesogênico, e atendendo à lei
do consumidor, além disso colocará em prática a implementação do Guia Alimentar
Brasileiro na forma de legislação, pois essa política pública foi elogiada internacionalmente
como sendo o melhor guia alimentar do mundo
(http://www.vox.com/2015/2/20/8076961/brazil-food-guide). Entretanto, o mesmo precisa
receber apoio de leis que comuniquem diretamente com a população. A implementação do
projeto de lei vai dar visibilidade e ampliar o conhecimento da população sobre os malefícios
do consumo dos alimentos ultraprocessados, permitindo que os conhecimentos técnicos e a
ciência tenham realmente o papel que lhe são atribuídos, beneficiar à sociedade.
III- IMPACTO SOCIAL
O método mais efetivo para combater um problema de saúde pública como obesidade
e doenças crônicas não transmissíveis na população é a promoção de práticas alimentares
saudáveis. Mudar comportamentos que estão ligados fortemente à cultura de uma população
requer estratégias massivas que alcancem vários âmbitos da comunidade. Para serem
efetivas, devem ser objetivas e focadas num aspecto específico para que o impacto seja
medido. Esse projeto de Lei não tem custos para ser implementado. A única ação é que os
supermercados troquem os alimentos e bebidas que estão próximos às caixas registradoras
por outros produtos que não estejam na categoria de alimentos e bebidas ultraprocessados.
Quais são os riscos de implementar esse Projeto de Lei? Nenhum. Quais são os prejuízos
para os estabelecimentos comerciais? Nenhum. Pois podem utilizar outros produtos que não
vão influenciar negativamente na saúde das pessoas, as vendas vão ser promovidas e
portanto não significa que vão perder economicamente. Quais são os impedimentos em
termos de indústria de alimentos? Nenhum. Quais são os benefícios para a população?
Muitos, já que há evidências que as pessoas consideram a disposição de alimentos não
saudáveis próximos às caixas registradoras tentador para serem adquiridos e que muitas
famílias vivenciam seus filhos pedindo os doces, chocolates e outras guloseimas enquanto
esperam em filas de supermercados (Winkler et al, 2016).
Desta forma, a ideia de legislar sobre a disposição de alimentos ultraprocessados nas
caixas registradoras é uma medida em favor da população, vai ao encontro do código do
consumidor e é um passo importante no combate à obesidade no Brasil. O Departamento de
Saúde de Nova York legislou sobre o que os mercados disponibilizam para os clientes, em
questão de porcentagem de alimentos saudáveis.
(http://www.nyc.gov/html/misc/html/2009/fresh.shtml). O Brasil pode fazer melhor, pois
tem um Guia alimentar que ajudará na implementação dessa lei em relação à definição de
quais alimentos não devem ser dispostos próximos aos caixas de pagamento.
IV- PROJETO DE LEI
Que todos os estabelecimentos comerciais (supermercados, lojas de departamentos,
drogarias, padarias) sejam vedados de disponibilizar alimentos e bebidas ultraprocessados
(conforme classificação do Guia Alimentar para a população Brasileira) próximo às caixas
registradoras.
V – REFERÊNCIAS
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ANEXO
1. Guia Alimentar para a População Brasileira
Em 2014 o Ministério da Saúde lançou o Guia alimentar para a população Brasileira
com o propósito de disseminar o conhecimento sobre os alimentos e seu processamento
(Quadro 1). A mensagem é simples e acessível à toda população brasileira, que se constitui
em uma das estratégias para implementação da diretriz de promoção da alimentação
adequada e saudável. A nova publicação tem como princípios básicos a orientação para
redução do consumo de alimentos processados e ultraprocessados, baseados de acordo com
a classificação proposta, ressaltando a importância do processamento industrial dos
alimentos e seu impacto na saúde. O novo guia brasileiro é um marco internacional, pois
adota a classificação dos alimentos como base para as diretrizes de saúde pública e nutrição
para a população do país. Recente revisão sistemática mostrou que os sistemas de
classificação de alimentos que definem e distinguem diferentes tipos de processamento
industrial de alimentos – como a classificação de alimentos proposta por Monteiro e cols.−
podem auxiliar na compreensão de como prevenir e controlar o excesso de peso, a obesidade
e as doenças crônicas relacionadas, além de auxiliar na avaliação e monitoramento dos
padrões alimentares da população (MOUBARAC et al., 2014b)
Quadro 1. Classificação de alimentos de acordo com o grau de processamento a
Classificação Exemplos
Grupo 1 – Alimentos in natura ou minimamente
processados.
Alimentos in natura incluem todos os alimentos na sua
forma animal ou vegetal de origem. Os alimentos
minimamente processados são aqueles que foram
alterados, mas sem que nenhum ingrediente fosse
adicionado.
Frutas, verduras, legumes e cereais frescos ou
congelados; leguminosas, raízes e tubérculos
frescos, congelados ou secos; castanhas, nozes,
amendoim sem sal; carnes, aves e peixes frescos ou
congelados; leite e iogurte natural; ovos; café, chás.
Grupo 2 - Ingredientes culinários processados
São constituintes dos alimentos in natura. Os métodos
de processamentos incluem: prensagem, moagem,
refinação, pulverização, entre outros.
Óleos vegetais, gorduras animais, açúcar, sal,
farinhas, amido.
Grupo 3 - Alimentos processados
Formados pela adição de substâncias (sal, açúcar ou
óleo) a alimentos in natura.
Verduras ou legumes preservados em água salgada;
frutas em calda; peixe conservado em óleo; e
queijos.
Grupo 4 - Alimentos ultraprocessados
Formados a partir de ingredientes industriais, com
pouco ou nenhum alimento in natura. São alimentos
prontos ou quase prontos para consumo que imitam a
aparência e qualidade sensorial dos alimentos. São
duráveis, convenientes, hiperpalatáveis e rentáveis.
Cereais matinais, misturas para bolo, barras de
cereais; sopas e massas instantâneas; pães e
produtos panificados, como bolos, doces e
sobremesas; salgadinhos “de pacote”, biscoitos,
sorvetes, chocolates; achocolatados e bebidas
lácteas, refresco em pó, refrigerantes e outras
bebidas adoçadas; carnes processadas como
embutidos, nuggets; preparações prontas ou pré-
prontas para consumo; margarinas.
a Adaptado de Pan American Health Organization. Ultra-processed food and drink products in Latin America: Trends, impact on
obesity, policy implications. Washington, DC : PAHO, 2015.
1.4. Alimentos ultraprocessados. Os alimentos ultraprocessados são produzidos de modo
predominante ou unicamente a partir de ingredientes industriais, com pouco ou nenhum
alimento integral em sua composição, com a proposta de serem produtos duráveis, acessíveis
e convenientes, palatáveis, atraentes e rentáveis. São alimentos prontos ou quase prontos para
serem consumidos por si só ou em combinação com outro produto ultraprocessado (por
exemplo, biscoito recheado e refrigerante). Os componentes dos produtos ultraprocessados
são, em grande maioria, aditivos como conservantes, estabilizantes, emulsionantes,
solventes, agentes de ligação, adoçantes, além de realçadores sensoriais, de sabores e cores.
O processamento inclui a hidrólise, a hidrogenação, a extrusão, a moldagem, a fritura e o
cozimento prévios, além da adição de micronutrientes para fortificação do alimento.
Os alimentos ultraprocessados, pela sua composição, promove o consumo excessivo
e são caracterizados por apresentarem concentrações excessivas de açúcar, sal e gorduras,
incluindo as saturadas e trans, e contém pouca ou nenhuma fibra alimentar e água em sua
composição (MONTEIRO et al., 2012; MOODIE et al., 2013). Um estudo realizado com
escolares no Sul do Brasil mostrou que o consumo dos produtos ultraprocessados na
alimentação das crianças foi associado a dietas ricas em energia, gorduras e sódio e menor
teor de proteínas e fibras (BARCELOS et al., 2014). Estudo mostrou associação positiva
entre a disponibilidade domiciliar de produtos ultraprocessados e obesidade ( CANELLA et
al., 2014). Outro estudo no município do Rio de Janeiro mostrou associação entre o consumo
produtos ultraprocessados e síndrome metabólica ((TAVARES et al., 2012). Recentemente
RAUBER et al. (2015), em estudo longitudinal com crianças de baixa condição
socioeconômica no sul do país revelaram que o consumo de produtos ultraprocessados na
idade pré-escolar é um preditor do aumento das concentrações de colesterol total e LDL-
colesterol na idade escolar.