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Brasília-DF.

Políticas sociais e Promoção da igualdade

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Elaboração

Juliandrey Oliveira MouraRogério de Moraes Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração

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Sumário

APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7

UNIDADE I

POLÍTICAS SOCIAIS E PROMOÇÃO DA IGUALDADE ................................................................................ 9

CAPÍTULO 1

OBJETIVOS DA POLÍTICA PÚBLICA ............................................................................................. 9

CAPÍTULO 2

DIVERSIDADE VERSUS DESIGUALDADES .................................................................................. 21

CAPÍTULO 3

UNIVERSIDADE VERSUS AÇÕES AFIRMATIVAS .......................................................................... 29

CAPÍTULO 4

RELAÇÃO RACIAL NA CONTEMPORANEIDADE ........................................................................ 32

PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 44

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Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes

mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor

conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita

sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante

que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As

reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,

discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer

o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a

síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões

sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o

entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/

conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não

há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,

que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única

atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber

se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem

ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

Atualmente, quando falamos em políticas sociais e promoção da igualdade, ligamos à concepção de que a sociedade de modo geral enfrenta várias barreiras para alcance da verdadeira felicidade, mas que são oportunidades para um gestor social colocar em prática seu conhecimento e experiências.

Este caderno, portanto, tem o objetivo de proporcionar informações acerca das Políticas Sociais e Promoção da Igualdade, com o compromisso de orientar os profissionais da área de Serviço Social, para que possam desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia.

Objetivos

» Levantar os objetivos da política pública;

» Conhecer as noções sobre diversidade versus desigualdades;

» Conhecer noções relevantes universidade versus ações afirmativas;

» Identificar aspectos relevantes sobre a relação racial na contemporaneidade.

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UNIDADE IPOLÍTICAS SOCIAIS E PROMOÇÃO DA

IGUALDADE

CAPÍTULO 1Objetivos da política pública

Uma definição de políticas públicas indica alguns elementos como conceito, delimitar sua abrangência em termos de esfera de poder político (níveis federal, estadual, municipal) e de conteúdo temático (política econômica, social – saúde, educação, assistência social etc.).

O trâmite vai de sua formulação à avaliação dos resultados e como os movimentos populares podem dele participar, seja para tentar influir nas políticas já em vigor, seja para apresentar alternativas que possam atender aos interesses da maioria da população.

Dessa forma, para interferir diretamente nesse processo, sobretudo no nível local, busca identificar as possibilidades e espaços existentes, as dificuldades e os limites da atual prática, as contradições do projeto de municipalização e de descentralização e as indicações de caminhos para construírem-se propostas articuladas de políticas de desenvolvimento integrado e sustentável.

Compreendendo as “políticas públicas”

“Políticas públicas” são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado.

As políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos, nem sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas, pois, devem ser consideradas também as “não ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos.

Envolvendo a distribuição e a redistribuição de poder, o papel do conflito social nos processos de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais, faz com que as políticas públicas traduzam, no seu processo de elaboração e implantação e, sobretudo, em seus resultados, formas de exercício do poder político.

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Para que se possa obter um mínimo de consenso e, assim, as políticas públicas possam ser legitimadas e obter eficácia, podem ser envolvidos vários atores com projetos e interesses diferenciados e até contraditórios, há necessidade de mediações sociais e institucionais.

Nesse sentido, cabe distinguir “políticas públicas” de “políticas governamentais”. Nem sempre “políticas governamentais” são públicas, embora sejam estatais. Para serem “públicas”, é preciso considerar a quem se destinam os resultados ou benefícios, e se o seu processo de elaboração é submetido ao debate público. Uma política pública significa definir quem decide o quê, quando, com que consequências e para quem. São definições relacionadas com a natureza do regime político em que se vive, com o grau de organização da sociedade civil e com a cultura política vigente.

As políticas públicas tratam de recursos públicos diretamente ou por meio de renúncia fiscal (isenções), ou de regular relações que envolvem interesses públicos. Daí a necessidade do debate público, da transparência, da sua elaboração em espaços públicos e não nos gabinetes governamentais. Elas se realizam num campo extremamente contraditório onde se entrecruzam interesses e visões de mundo conflitantes e onde os limites entre público e privado são de difícil demarcação.

Objetivos

Essas demandas são interpretadas por aqueles que ocupam o poder, mas influenciadas por uma agenda que se cria na sociedade civil por meio da pressão e mobilização social. As políticas públicas visam responder a demandas, principalmente dos setores marginalizados pela sociedade, considerados como vulneráveis.

Para criar alternativas de geração de emprego e renda como forma compensatória dos ajustes criados por outras políticas de cunho mais estratégico, outras formas de políticas objetivam promover o desenvolvimento.

Entre os diversos atores sociais que, mesmo hegemônicos, ainda são necessários para regular conflitos, há contradições de interesses que não se resolvem por si mesmas ou pelo mercado e necessitam de mediação.

Mesmo que, para sua legitimação, necessitem contemplar certos interesses de segmentos sociais dominados, dependendo, assim, da sua capacidade de organização e negociação, os objetivos das políticas têm uma referência valorativa e exprimem as opções e visões de mundo daqueles que controlam o poder.

É importante ressaltar alguns tipos de políticas, para que se possa definir o tipo de atuação que se pode ter frente a sua formulação e implementação. Vários critérios podem ser utilizados.

Quanto à natureza ou grau da intervenção:

» estruturais: buscam interferir em relações estruturais como renda, emprego, propriedade etc.;

» conjunturais ou emergenciais: objetivam amainar uma situação temporária, imediata.

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Quanto à abrangência dos possíveis benefícios:

» universais: para todos os cidadãos;

» segmentais: para um segmento da população, caracterizado por fator determinado (idade, condição física, gênero etc.)

» fragmentadas: destinadas a grupos sociais dentro de cada segmento.

Quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários, ou ao seu papel nas relações sociais:

» distributivas: visam distribuir benefícios individuais; costumam ser instrumentalizadas pelo clientelismo;

» redistributivas: visam redistribuir recursos entre os grupos sociais: buscando certa equidade, retiram recursos de um grupo para beneficiar outros, o que provoca conflitos;

» regulatórias: visam definir regras e procedimentos que regulem comportamento dos atores para atender a interesses gerais da sociedade; não visariam a benefícios imediatos para qualquer grupo.

O equilíbrio social é resultante do livre funcionamento do mercado, com um mínimo de ação do Estado, pois uma política pública requer a intervenção do Estado em várias áreas de atuação dos indivíduos como para o neoliberalismo.

As políticas redistributivas não são toleradas porque atentam contra a liberdade do mercado e podem incentivar o parasitismo social, devendo existir o mínimo de regulamentação possível. As políticas distributivas devem compensar desequilíbrios mais graves e, portanto, passam a ter o caráter cada vez mais seletivo e não universalizante.

Dessas políticas, que definem fontes de recursos, decorrem outras, o que exige sua democratização. Normalmente, as políticas estratégicas estão sob controle total dos tecnocratas, sem espaços de participação da sociedade, como ocorre com a política econômica, tributária etc.

Formas diferentes de encarar as políticas públicas

As desigualdades sociais são resultado de decisões individuais, cabendo à política social um papel residual no ajuste de seus efeitos. A ideia das políticas públicas varia conforme a orientação política. A ótica liberal opõe-se à universalidade dos benefícios de uma política social.

As políticas públicas têm o papel regulador das relações econômico-sociais, são constituídos fundos públicos para serem utilizados em investimentos em áreas estratégicas para o desenvolvimento e em programas sociais. Na visão socialdemocrata, concebem-se os benefícios sociais como proteção aos mais fracos, como compensação aos desajustes da supremacia do capital, o que, ao mesmo tempo, garante sua reprodução e sua legitimação.

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Essa ideia foi traduzida no sistema do chamado Estado de Bem-Estar Social, cujo aparato cresceu muito, levando a uma relativa distribuição de renda e ao reconhecimento de uma série de direitos sociais, mas, também, a um controle político-burocrático da vida dos cidadãos, considerados como objetos, como meros consumidores de bens públicos.

Na década de 1970, esse modelo entra em crise devido às mudanças no processo de acumulação, com novas tecnologias, novos padrões de relações de trabalho, provocando o esgotamento das possibilidades de atendimento às necessidades crescentes da população, o burocratismo, a ineficiência do aparelho governamental.

Com a falência do Estado protetor e o agravamento da crise social, o neoliberalismo, responsabilizando a política de intervencionismo pela estagnação econômica e pelo parasitismo social, propõe um ajuste estrutural, visando, principalmente, ao equilíbrio financeiro, com uma drástica redução dos gastos sociais, uma política social seletiva e emergencial.

A globalização torna mais complexo o processo de formulação de políticas públicas, por estarem em jogo, agora, em cada país, interesses internacionais representados por forças sociais com um forte poder de interferência nas decisões quando essas não são diretamente ditadas por organismos multilaterais.

Dimensões atuais das políticas públicas

Alguns aspectos precisam ser considerados no processo de formulação de políticas públicas, no momento em que a sociedade civil é chamada a dele participar. Como exemplo, identidade – iniciativas de proposições para responder a questões constituem um elemento importante no processo de formação de identidade coletiva dos atores sociais.

As políticas públicas expressam o sentido do desenvolvimento histórico-social dos atores sociais na disputa para construir a hegemonia; refletem, pois, as concepções que têm do papel do Estado e da sociedade civil, constituindo programas de ações que respondem às suas carências e demandas, sendo identificadas como plataformas políticas.

As políticas públicas traduzem mediações entre interesses e valores dos diversos atores que se defrontam em espaços públicos para negociar soluções para o conjunto da sociedade ou determinados grupos sociais, sendo conhecidas como mediações institucionais.

Já a dimensão estratégica pode ser conceituada como as políticas públicas diretamente ligadas ao modelo econômico e à constituição de fundos públicos assumem aspecto estratégico, quando se constituem referência e base para a definição de outras políticas ou programas em determinadas áreas.

As opções estratégicas devem considerar, ao mesmo tempo, as inovações tecnológicas e a reestruturação produtiva e os seus efeitos sobre o emprego e o agravamento das desigualdades sociais, buscando-se alternativas que redirecionem o emprego não apenas da forma compensatória

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que torna seus beneficiários meros objetos da assistência, mas que os tornem cidadãos ativos, contribuindo, por meio de novas formas de inserção social, para o desenvolvimento da sociedade.

Políticas públicas como processo

É preciso entender composição de classe, mecanismos internos de decisão dos diversos aparelhos, seus conflitos e alianças internas da estrutura de poder, que não é monolítica ou impermeável às pressões sociais, já que nela se refletem os conflitos da sociedade. As políticas públicas são um processo dinâmico, com negociações, pressões, mobilizações, alianças ou coalizões de interesses.

Na sociedade civil também há uma diversidade de interesses e de visões que precisa ser debatidas, confrontadas, negociadas, buscando-se consenso mínimo. Essa formulação hoje se torna complexa devido à fragmentação das organizações, apesar de algumas iniciativas de articulação em alguns setores.

Alguns elementos de conteúdo e de processo na estruturação das políticas públicas já estão claros, tais como:

» sustentabilidade;

» democratização;

» eficácia;

» transparência;

» participação;

» qualidade de vida.

Esses elementos precisam ser traduzidos, contudo, em parâmetros objetivos, para que possam nortear a elaboração, a implementação e a avaliação das políticas propostas.

Para a participação efetiva e eficaz da sociedade civil, alguns momentos podem ser identificados e precisam ser devidamente acompanhados:

» elaboração e formulação de um diagnóstico participativo e estratégico com os principais atores envolvidos, no qual se possam identificar os obstáculos ao desenvolvimento, fatores restritivos, oportunidades e potencialidades; negociação entre os diferentes atores;

» identificação de experiências bem-sucedidas nos vários campos, sua sistematização e análise de custos e resultados, tendo em vista possibilidades de ampliação de escalas e criação de novas alternativas;

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» debate público e mobilização da sociedade civil; decisão e definição em torno de alternativas; competências das diversas esferas públicas envolvidas, dos recursos e estratégias de implementação, cronogramas, parâmetros de avaliação;

» detalhamento de modelos e projetos, diretrizes e estratégias; identificação das fontes de recursos de políticas públicas; orçamento; mobilização dos meios disponíveis e a providenciar; mapeamento de possíveis parcerias, para a implementação;

» na execução, mobilização e definição de papéis dos atores, suas responsabilidades e atribuições, acionamento dos instrumentos e meios de articulação, e

» na avaliação, acompanhamento do processo e resultados conforme indicadores; redefinição das ações e projetos.

A participação da sociedade civil

É certo que mudanças mais substantivas só podem ocorrer quando efetivamente se muda a composição do poder, mas se podem obter conquistas sociais por meio da mobilização social, da ação coletiva, sobretudo quando esta passa a ter um conteúdo de proposição, de debate público de alternativas e não de mera crítica.

Essa é a realidade do atual processo social em que a sociedade civil, articulada em suas organizações representativas em espaços públicos, passa a exercer um papel político amplo de construir alternativas nos vários campos de atuação do Estado e de oferecê-las ao debate público, coparticipando, inclusive, na sua implementação e na sua gestão.

Na atualidade, em nosso país, uma série de experiências desenvolvidas por ONGs e organizações de base que pode servir de referência para a elaboração de propostas e alternativas de políticas públicas.

Deve-se também usar alguns mecanismos, de natureza administrativa, judicial ou parlamentar, criados a partir da Carta Maior de 1988, para exercer, junto ao Estado, um papel mais ativo e propositivo, inclusive de controle e de avaliação de ações negociadas.

Vários canais institucionais podem ser utilizados para esse debate, desde os Conselhos de Gestão, até espaços autônomos já em funcionamento ou a serem criados em áreas específicas.

A realidade dos municípios

Com o advento da Constituição de 1988, os municípios adquirem a autonomia política por meio da elaboração de sua própria lei orgânica e demais leis e da escolha direta de seus governantes.

Apesar do aumento de sua capacidade financeira, a participação dos municípios na receita tributária global não supera os 18% ou 20%. No entanto, eles assumem vários encargos e responsabilidades

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das outras esferas, o que os obriga a negociar recursos nos diversos programas federais ou estaduais. Dessa forma, a autonomia de realizar políticas próprias sem vinculação aos programas federais e estaduais é mínima.

Nem assim eles se decidiram a qualquer iniciativa na questão agrícola ou rural, apesar de a maioria deles ter sua sustentação econômica nesse setor. Os municípios, até então alheios às questões econômicas, veem-se pressionados a realizar programas de geração de renda e emprego.

A política econômica neoliberal acentua os impactos sobre o emprego, a renda e as condições de vida nos municípios. Os prefeitos, na maioria dos municípios com base político-eleitoral nas elites proprietárias, não assumem os riscos de uma política tributária mais realista.

Competências municipais

Competências são responsabilidades e encargos atribuídos a cada esfera governamental para realizar sua gestão. São definidas na Constituição Federal e, no caso dos municípios, detalhadas nas Leis Orgânicas. Há competências privativas de cada esfera governamental e as comuns e concorrentes. O município tem ampla autonomia para definir suas políticas e aplicar seus recursos, no caso das competências privativas ou exclusivas.

Elas são definidas no art. 30 da Constituição Federal:

» legislar sobre assuntos de interesse local, expressão bastante abrangente, detalhada na Lei Orgânica;

» instituir e arrecadar impostos sobre serviços, predial urbano, transmissão intervivos de bens imóveis, varejo de combustíveis líquidos.

O município pode, ainda, regular matérias conforme peculiaridades locais, ou, em caso de omissão de outra esfera, não sendo competência exclusiva, preencher a lacuna.

Nas áreas tradicionalmente objeto de políticas públicas, como assistência social, meio ambiente, habitação, saneamento, produção agropecuária, abastecimento alimentar, educação e saúde, o município tem competência comum com a União e o Estado, a ser exercida com a cooperação dessas esferas de poder, pela transferência de recursos, ou pela cooperação técnica.

Até hoje não regulamentadas, as fronteiras entre as esferas de poder permanecem indefinidas, resultando na superposição de atividades.

Em um processo de descentralização desordenado, muitos encargos estão sendo transferidos sem os recursos. Esses dependem das chamadas transferências negociadas, que consideram a posição política, o prestígio e a vinculação partidária dos prefeitos e parlamentares, cujas alianças pautam-se, em grande parte, pelos interesses eleitoreiros e clientelistas. Oportuno recordar que o capítulo da Ordem Social da Constituição assegura, de forma clara, a participação da comunidade e a gestão democrática.

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As parcelas transferidas diminuem com a recessão que reduz os recursos e com as políticas de ajuste fiscal que repassam parte dos recursos para fundos como o de Estabilização Fiscal. As receitas dos fundos de participação são distribuídas com critérios que concentram a renda tributária em poucos municípios, os de maior desenvolvimento econômico.

A administração dos municípios fica ainda mais precária com o desmonte, nos últimos anos, de agências técnicas federais e estaduais que lhe prestavam assistência. Na política neoliberal, a descentralização é, principalmente, a transferência da responsabilidade da execução e custeio de políticas para a família e a sociedade.

Em paralelo, mantém-se a transferência de subvenções sociais para entidades indicadas, com critérios político-eleitorais, por parlamentares ou outras instâncias do poder, pulverizando recursos sem priorizar as necessidades da população.

Assim, propor, formular e participar da gestão de alternativas de políticas públicas é enorme desafio para a sociedade civil. E só é possível tratando da distribuição e alocação dos recursos públicos e da composição do poder público.

A prática da descentralização em algumas áreas: avanços e desafios na saúde

Na área da saúde ocorreu a maior descentralização, em uma política deliberada, resultado de um processo social dinâmico, partindo de experiências concretas, que propiciaram as diretrizes básicas para o modelo implantado em todo o País – o SUS.

A burocracia central mantém grande parcela de poder, permanecendo a influência clientelista no repasse de recursos. Apesar de todo o processo de participação, permanecem alguns elementos centralizadores:

» a aprovação e análise técnica de programas e projetos para repasse de recursos; fixação e centralização de fiscalização de tarifas no Ministério.

O SUS vive, hoje, sérios impasses. Não tem uma coordenação que garanta equidade no atendimento a municípios tão heterogêneos.

Na prática, prevalece a lógica privada: O sistema de remuneração dos serviços à base de fatura permite a corrupção e o descaso com custo e qualidade de serviços.

Apesar de sua fragilidade, a existência de mais de 3 mil Conselhos Municipais de Saúde indica a possibilidade de uma ação mais ofensiva e consequente diante da situação. A política de redução dos gastos leva à deterioração cada vez maior do atendimento à população carente.

Quanto à educação, a descentralização não andou muito. Houve algum avanço, a exemplo da gestão da merenda escolar, mesmo que sem repasse automático de recursos, transferência da rede de escolas técnicas e algumas experiências de descentralização em municípios.

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A indefinição de competências entre os Poderes tem levado os municípios a atuarem nos vários níveis, embora a permanência da centralização de recursos contribua para a oferta de ensino inadequado ou de baixa qualidade.

Os movimentos sociais precisam retomar a mobilização no setor, devido à importância estratégica que tem a educação, inclusive para a concretização de outros direitos e para atingir um mínimo de equidade social.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) garante a instalação de Conselhos, além de assegurar ao cidadão e entidades representativas o direito de acionar, por negligência, a autoridade que não garantir o ensino obrigatório. É preciso garantir e efetivar as conquistas da Constituinte, sobretudo a gratuidade do ensino, a valorização do profissional do ensino, a garantia do padrão de qualidade, gestão democrática e vinculação de recursos.

Além do aspecto propriamente educacional, merecem atenção:

» efetivo cumprimento da vinculação constitucional de verbas;

» redistribuição de recursos do salário-educação;

» fixação de critérios para alocação de recursos para material escolar, alimentação e transporte;

» maior participação dos Conselhos na gestão e formulação de políticas;

» efetiva implementação do Plano de Valorização do Magistério, cujos recursos devem ser controlados por um Conselho específico.

A esfera federal permanece alheia à habitação e à questão urbana. Há algumas iniciativas localizadas.

A Constituição Federal cria alguns instrumentos para viabilizar a definição explícita da competência municipal:

» obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com população superior a 20 mil habitantes;

» exigência de adequada utilização e aproveitamento do solo urbano;

» concessão do uso de terrenos;

» usucapião urbano.

Nos últimos anos, os movimentos em torno da questão urbana têm se fortalecido. A maioria desses direitos não foi ainda regulamentada. Os municípios não podem investir em programas de maior alcance, por falta de recursos e de apoio técnico.

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Assistência Social

A Constituição reconhece como direito a seguridade social, que inclui a assistência social, a saúde e a previdência social, com iguais diretrizes de universalidade, equidade e gestão democrática.

Na prática, este compromisso entre o Estado e a sociedade para a criação de condições dignas de vida não vem se efetivando e a cultura da elite que tutela o carente ainda se mantém.

A formulação de assistência social conseguiu superar a tradição de benemerência e caridade, suportes do fisiologismo e de clientelismo, embora essas práticas ainda dominem. O grande salto foi conceber a assistência como direito de cidadania, política pública, prevendo ações de combate à pobreza e promoção do bem-estar social, articulada às outras políticas, inclusive a econômica.

O entendimento constitucional é definido na Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), envolvendo ações destinadas à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice, aos portadores de deficiências, inserção no mercado de trabalho. Seus princípios são da universalização, respeito à cidadania, igualdade de acesso aos serviços, transparência, descentralização, participação de organizações da sociedade civil na formulação das políticas e no controle das ações e a primazia da responsabilidade do Estado na condução das políticas.

Os recursos previstos são do orçamento da seguridade social, já muito comprometido com saúde e previdência, ambas deficitárias.

Tudo isso esbarra na precariedade e na indefinição de recursos. Os municípios recebem a responsabilidade pelas ações, mas dependem de negociações para liberação de recursos, apesar da previsão de fundos especiais.

Previdência Social

O governo tenta resolver a questão do déficit da Previdência, resultado de sonegação e fraudes, com o aumento do tempo de contribuição e revisão de aposentadorias. A Previdência é uma política universal: estende-se a todos, indistintamente, desde que seus contribuintes.

Na área rural, há dois problemas fundamentais:

» inexistência de regulamentação da forma de contribuição;

» crescente burocratização do processo de comprovação de atividade rural para fins de aposentadoria. O trabalhador excluído do seu direito de aposentadoria amplia a necessidade da assistência social, já caótica.

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Política agrícola

A Lei de Política Agrícola (nº 8.171, de 17/1/1991), do ponto de vista formal, define os princípios fundamentais, objetivos e competências institucionais, prevê recursos, estabelece ações e instrumentos.

A lei enfatiza a questão econômica (produtividade, incremento à produção, regularidade de abastecimento), enquanto a Constituição tem por referência a função social da propriedade.

A lei descentraliza a execução dos serviços de apoio ao setor rural, mas centraliza a elaboração da política de desenvolvimento rural, prevendo ações de abrangência ampla, como planejamento, crédito, mecanização ou infraestrutura. Apesar da existência de um Conselho Nacional, as ações são da responsabilidade do Ministério, com diminuta interferência do Conselho.

Quanto aos recursos, prevê-se um Fundo Nacional de Desenvolvimento Rural, sem nenhuma determinação de repasse a municípios ou controle do Conselho.

A agenda da questão agrícola e agrária impõe, além da reivindicação pela posse da terra, as questões de habitação, transporte e alimentação. Torna-se urgente, então, diante das especificidades locais e regionais, uma política agrícola de base municipal, que se desenharia a partir de alguns eixos:

» apoio à reforma agrária: dotar os assentamentos de infraestrutura social e produtiva, mediar o escoamento da produção;

» desenvolvimento da agricultura familiar;

» alimentação e abastecimento;

» meio ambiente;

» melhoria de condições de vida da população rural;

» adequação do currículo escolar.

Uma importante conquista foi o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que possibilita:

» maior democratização do crédito rural para parte dos agricultores familiares;

» recursos para infraestrutura no município;

» capacitação de técnicos e agricultores familiares;

» recursos para assistência técnica e extensão rural de infraestrutura.

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Reforma agrária

A função social da propriedade é definida muito mais em termos econômicos – produtividade e eficiência, do que em termos sociais e ambientais, tratados de maneira genérica.

Apesar dos avanços, frutos da luta do trabalhador rural, persistem obstáculos burocráticos, jurídicos, econômicos e políticos, inclusive constitucionais, à efetivação da reforma agrária. A Lei Agrária regulamentou dispositivos constitucionais. As pequenas e médias propriedades estão excluídas de desapropriação para esse fim, mas o trabalho escravo, ainda uma realidade, não é punido com confisco de terra.

A questão do crédito fundiário para a agricultura familiar levou o Governo a lançar o Banco da Terra, que apresenta sérios problemas, como:

» a proposta de substituir as desapropriações para reforma agrária pela compra;

» o alto custo do financiamento;

» a ausência da participação da sociedade na elaboração e gestão.

Na construção de um projeto de desenvolvimento local integrado, merece atenção especial:

» formação profissional;

» existência de trabalho escravo;

» existência do trabalho infantil;

» informalidade das relações trabalhistas (direitos trabalhistas assegurados);

» analfabetismo;

» discriminação da mulher no mercado de trabalho;

» ausência de novas oportunidades de trabalho.

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CAPÍTULO 2Diversidade versus desigualdades

Nos últimos anos, para reverter a estrutura excludente e discriminatória ainda efetiva e operante na sociedade, as políticas públicas têm avançado, especialmente com relação à desigualdade de gênero e de raça/etnia.

Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam a necessidade de políticas universais fortes para todos e um conjunto de políticas complementares e temporárias de ações afirmativas.

O estudo das desigualdades raciais, racismo e políticas públicas, realizado pelo Ipea, nos diz que 120 anos após a abolição, a falta de oportunidades educacionais, de políticas de proteção social e de qualquer política de inclusão no mercado de trabalho formal da população mais pobre foi tão eficaz para impedir a ascensão social da maioria da população negra quanto à permanência do racismo.

Para se combater as desigualdades raciais e sociais no País são necessárias políticas universais fortes e um conjunto de ações afirmativas complementares e temporárias. Dada a existência de racismo pessoal e institucional, as ações afirmativas transformam-se no único meio de reduzir grandemente as desigualdades, conclui o estudo.

Na avaliação do diretor de Cooperação e Desenvolvimento do Ipea, Mário Lisboa Theodoro, não existe país nenhum no mundo que tenha acabado com essas mazelas sem um forte investimento em políticas universais e de qualidade. “Educação, saúde, política habitacional, enfim, direitos básicos que todo mundo deveria ter acesso para uma vida minimamente digna”, diz.

Inconsciência

Na medida em que a desigualdade social vá se dirimindo, a partir de políticas universais, ainda podemos nos deparar com uma questão racial cada vez mais explicitada. “Existe até hoje uma ideia de hierarquia em função do estereótipo, do fenótipo da pessoa.”

Para alguns pesquisadores existem outros problemas que não são só essas mazelas sociais, e devem ser tratados como políticas específicas, como a questão racial no Brasil. Observa-se casos de professores, advogados ou de médicos negros que reclamam de situações de racismo e isso não está ligado propriamente ao quesito social, e sim a uma ideologia racista que está presente no inconsciente das pessoas.

Ele diz que muitas vezes a pessoa é preterida para um cargo pelo empregador por ser negra. “Era aquilo que até as décadas de 1960 e 1970 era explicitado pela expressão ‘exige-se boa aparência’”.

O Ministério Público tem feito uma grande campanha junto a alguns setores

do empresariado para acabar com isso. “Por exemplo, na orla de Salvador, e

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na Bahia como um todo, está fazendo um trabalho com os empregadores de

bares, restaurantes e hotéis, porque percebeu que esses negócios empregam

majoritariamente funcionários brancos. Isto em um estado onde a população

negra é majoritária – mais de 90%.

O Ministério Público também está fazendo esse tipo de trabalho junto a outras áreas, como, por exemplo, em shoppings centers.

O Ministério Público fez um termo de ajustamento de conduta, em que explica a importância de não se fazer nenhum tipo de discriminação por conta da raça, e adotou o mesmo pacto com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), “para que todos percebam que têm condições de empregar mais negros”.

Bancos

O projeto é voltado para o combate ao preconceito e à discriminação com base em cor, raça, etnia, origem, sexo, deficiências físicas, idade, credo religioso e orientação sexual. O segmento financeiro emprega cerca de 2% de toda a força de trabalho do País. Para consolidar, gradualmente, uma política inclusiva no setor, a Febraban lançou um censo com 400 mil bancários do País para identificar as relações entre ascensão profissional e as diversidades específicas.

Um relatório global da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado no ano passado, apontou desigualdades profundas, sérias e difíceis nas relações institucionais, onde se verifica que mulheres e negros estão em desvantagem em qualquer indicador de mercado.

Nem sempre as pessoas são racistas no sentido de estereótipos, ofensas, mas exercem um papel de seleção que opera em determinados espaços sociais carregados de valores que privilegiam a beleza, como, por exemplo, nos shoppings centers. Sobre o tema, Luciana Jaccoud, pesquisadora do Ipea, diz que o racismo institucional tem uma forma mais sutil na sociedade, “que é a reprodução de valores sociais que ocorre talvez até de uma forma inconsciente”.

Progressos

De toda maneira, “isso está relacionado a atitudes intelectuais e políticas voltadas positivamente à questão do negro no País”, analisa Sergei Suarez Dillon Soares, pesquisador do Ipea. “A desigualdade tem mais ou menos a mesma idade do país.” No ano de 2001, segundo os estudos do Ipea, o Brasil começou a apresentar redução na desigualdade racial.

Assim, a razão de renda entre negros e brancos, destaca o pesquisador, começou a diminuir pela primeira vez nos últimos cinco anos, ainda que lentamente, depois de passar 30 anos basicamente sem nenhuma tendência. “Isso mostra o resultado das políticas públicas, como a expansão da aposentadoria rural, o aumento do salário mínimo e o Programa Bolsa-Família – todas políticas que atingem principalmente parcelas da população predominantemente negras.”

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Isso teve início com uma ou duas décadas de atraso, diz ele, “quando essas políticas começaram a ser pensadas e implementadas. Ao mesmo tempo, começamos a ter uma política especificamente para os negros, como as cotas, por exemplo”.

Embora exista clara tendência de queda, o levantamento mostra que a redução será muito lenta. A se manter o ritmo de queda inalterado, passariam 32 anos até que brancos e negros tivessem, em média, a mesma renda para justificar as políticas temporárias, como o regime de cotas, ele diz que

dada a lentidão das políticas universais e o fato de a população negra estar

mais concentrada nos piores nichos socioeconômicos, não geográfica, mas

socialmente falando, é necessário termos algo mais urgente. Precisamos

também de políticas de inserção alternativas.

De acordo com o estudo de Soares, “não há dúvida de que os programas de transferência de renda reduzem a diferença no rendimento entre brancos e negros, beneficiando imensamente a população negra”.

Estudantes

O antropólogo Waldemir Rosa, consultor do Ipea, ressalta que, dentro do sistema educacional, a escola, a universidade ou qualquer outra instituição, ao silenciar ou até “mascarar” uma situação de discriminação racial e social vivenciada por muitos de seus alunos, acaba reforçando, e até reproduzindo, as desigualdades.

“Por um lado”, comenta Waldemir, “existe um sistema educacional que, de certa forma, “expulsa” o estudante negro ou dificulta bastante a presença dele e, por outro lado, existe o mercado de trabalho que não incorpora esse estudante.”

Em outras esferas, a realidade é a mesma, como a dificuldade de acesso da população negra ao sistema de saúde, por exemplo. Quando o País se nega a reconhecer que existe desigualdade racial e que o preconceito é um fator determinante nas possibilidades sociais, está deixando de enfrentar o problema de frente.

Na verdade, o sistema funciona tanto para excluir o negro do processo

de qualificação no sistema educacional como do processo de inserção e

permanência no mercado de trabalho.

Hiato maior

Em 1976, cerca de 5% da população branca tinha um diploma de educação superior aos 30 anos, ante uma porcentagem essencialmente residual para os negros. Já em 2006, algo em torno de 5% dos negros tinham curso superior aos 30 anos. O problema é que a desigualdade racial se manteve: quase 18% dos brancos, nesse mesmo ano, tinham completado um curso superior até os 30 anos.

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O hiato racial, que era de 4,3 pontos percentuais em 1976, quase que triplicou, para 13 pontos percentuais, em 2006, revela o estudo do Ipea, elaborado com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

No que concerne à discreta melhora, ainda é extremamente alta a desigualdade de gênero e de raça e etnia no mercado de trabalho brasileiro. As mulheres e os negros representam 70% dos brasileiros, de acordo com os estudos do Ipea. E as mulheres negras são as que mais sofrem com a discriminação. Embora a situação deste grupo – o mais marginalizado no País – tenha melhorado significativamente, as mulheres negras apresentam a menor taxa de participação no mercado de trabalho, menor taxa de ocupação, maior taxa de desemprego e menor rendimento.

Pobreza

Rafael Guerreiro Osório, pesquisador do Centro Internacional de Pobreza (International Poverty Centre), diz acreditar que mesmo com os 120 anos da abolição da escravatura, o Brasil continua com muita desigualdade de raças. Ele explica que, embora a discriminação racial não seja o principal determinante, ela existe e atrasa a integração, mas ressalta que o principal problema brasileiro é de origem social.

“No Brasil, a mobilidade social é de curta distância, ou seja, as pessoas sobem e descem na estrutura social, mas elas não vão muito longe do lugar onde estavam na origem. Isto quer dizer o seguinte: se pensarmos no caso de um negro que, no momento da abolição, o tataravô dele estava lá por baixo, o avô dele subiu um pouquinho, o pai dele desceu um pouquinho em relação ao avô, e ele subiu um pouco em relação ao pai, então, ele não está muito longe ainda da posição da estrutura social equivalente à contemporaneidade à posição que o tataravô dele ocupava.”

O pesquisador acrescenta que o problema da discriminação atrasa muito o processo de redução da pobreza porque “se você não é uma pessoa racista, não acredita na superioridade racial dos brancos sobre os negros, você tem que endossar a ideia de que a distribuição das competências é igual nos dois grupos, ou seja, tanto entre os negros existem pessoas muito competentes e pessoas nem tão competentes como entre os brancos”, diz Osório.

A taxa de desempregados é maior entre o grupo negro, que corresponde a 9,3% (4,5 milhões de trabalhadores). No grupo branco, essa taxa se reduz para 7,5% (3,7 milhões). Há quase um milhão a mais de negros sem emprego em todo o País. Em média, os negros na ativa recebem R$ 578,24 ao mês – valor que corresponde a apenas 53,2% do recebido pelos brancos, que é de R$ 1.087,14.

O estudo foi feito pelo Ipea com base em dados primários do IBGE, levando em consideração variáveis agregadas para todo o País sobre população, escolaridade e renda, além das faixas etárias. Não por acaso, os negros que estão empregados correspondem a 60,4% dos que ganham até um salário mínimo e a somente 21,7% dos que ganham mais de dez salários mínimos. Entre brancos que estão empregados esses percentuais equivalem a 39,0% e 76,2%, respectivamente.

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Mulheres

A estrutura excludente também afeta a população feminina, que é a maioria no País, diz Luana Soares Pinheiro, pesquisadora da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM).

Segundo ela, quando se fala na questão da desigualdade de gênero, “em alguns campos conseguimos verificar a discriminação mais forte do que em outros, como, por exemplo, nas relações de mercado de trabalho, na participação das mulheres nos espaços de poder de decisão, como o Parlamento, e também em postos de poder dentro das empresas, e nas esferas dos governos federal, estaduais e municipais”.

Ainda que as mulheres tenham tido crescimento no aspecto educacional, isto não se reflete no mercado de trabalho, onde continuam a enfrentar diversos entraves, analisa Luana. Ela diz ainda que a primeira dificuldade está na possibilidade de a mulher ser economicamente ativa ou não.

As taxas de atividades das mulheres quando comparadas às dos homens ainda são muito inferiores. Em dados da PNAD de 2006, quase 73% dos homens estavam economicamente ativos (empregados ou procurando emprego), enquanto as mulheres eram 51,6%. Segundo a pesquisadora, “se esta mulher consegue, então, se colocar à disposição do mercado de trabalho, ela vai enfrentar outra dificuldade, que é conseguir um emprego, e aí a taxa de desemprego mostra uma diferença também”.

Interseção

As mulheres sofrem dupla discriminação. Para se ter ideia, a taxa de desemprego para as mulheres negras é de 12,5%, enquanto para as mulheres brancas é de 9,7%, ressalta Luana.

Por aí dá para ver uma interseção de discriminações. Por exemplo, uma mulher tem dificuldade de entrar em alguns postos de trabalho “de perfil mais masculino”, então geralmente ela vai procurar emprego em lugares com o perfil mais feminino. Agora, se essa mulher é negra, ela vai ter muito mais dificuldade. Ao se observar em hotéis, por exemplo, essas pessoas não estão em contato direto com o público.

Os dados também mostram que aproximadamente 16% das mulheres que estão ocupadas no mercado de trabalho são empregadas domésticas, ou seja, são mais de 6 milhões de mulheres trabalhando numa profissão precária, com pouca segurança, além de ser extremamente alta a taxa de mulheres que trabalham sem carteira assinada, na informalidade. Essa profissão explora muito e concentra quase um quinto das mulheres que estão ocupadas, enquanto a taxa para os homens é de menos de 1%. Em geral, os homens que trabalham num emprego doméstico são jardineiros ou caseiros. “É outro tipo de trato de atividade”, explica a pesquisadora.

Lourdes Bandeira, subsecretária de planejamento da SPM e professora da Universidade de Brasília (UnB), diz que uma das preocupações gerais da política governamental desenvolvida para as mulheres é conjugar todos esses estigmas – racial e de gênero, principalmente – como forma de inclusão das mulheres.

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A SPM está trabalhando em parceira com o Ministério da Educação (MEC) para proporcionar uma política educacional que não seja discriminatória à condição de gênero e todos os outros elementos que são agregados a essa condição.

Segundo Lourdes Bandeira, a política oficial é a de que todas essas dimensões de gênero – não sexista, não racista, não homofóbica e não lesbofóbica – sejam tratadas no sentido de eliminar todas as formas de não inclusão no mundo do trabalho.

Plano nacional

Ainda para Lordes, nas escolas, é fundamental o acesso às políticas afirmativas não só para as crianças e os jovens, mas em especial para os profissionais que já atuam na área para que tenham essa consciência, porque nem sempre os professores têm essa clareza em relação a não discriminar; acrescentando que uma das prioridades do Segundo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, no período de 2008 a 2011, é formar 120 mil profissionais de educação básica nas temáticas de gênero, de relações étnico-raciais e orientação sexual, e processos executados e apoiados pelo governo federal como uma meta para todo o Brasil.

Segundo ela, nessa fase já há uma possibilidade de mobilidade educacional, ou seja, de ter acesso ao ensino mais profissional, mais qualificado, acesso ao ensino de 2º grau, mas alfabetizar 3 milhões de mulheres em conjunto com o MEC, a fim de reduzir a taxa de analfabetismo feminino, que é hoje de 9,5%, para 8%.

Isso envolve três segmentos sociais em que se concentram as condições de gênero, cujas mulheres são as mais excluídas, especificamente as mulheres do meio rural, as das periferias urbanas, geralmente mulheres afrodescendentes, e as mulheres indígenas, que também estão incluídas nesse processo de erradicação do analfabetismo. A meta é não só formar profissionais na área de educação básica, que é a área fundamental.

O combate ao analfabetismo nesse grupo de mulheres tende necessariamente a se conjugar com outras ações, em busca de uma autonomia econômica, porque outro elemento agravante é que, da totalidade das famílias brasileiras, 25% são monoparentais, e 90% dessas famílias no Brasil são chefiadas por uma mulher. Então, significa que essas mulheres são as responsáveis pela renda familiar.

Discussões antropológicas

Há diversos estudos e discussões antropológicas sobre o conceito de cultura, podemos considerá-la, grosso modo

A cultura diz respeito a um conjunto de hábitos, comportamentos, valores

morais, crenças e símbolos, dentre outros aspectos mais gerais, como forma

de organização social, política e econômica que caracterizam uma sociedade.

(www.brasilescola.com/.../cultura-brasileira-diversidade)

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Cabe ressaltar que os processos históricos são, em grande parte, responsáveis pelas diferenças culturais, embora não sejam os únicos fatores a se considerar. Isso nos permite afirmar que não existem culturas superiores ou inferiores, mas, sim, diferentes, com processos históricos também diversos, os quais proporcionaram organizações sociais com determinadas peculiaridades. Dessa forma, podemos pensar na seguinte questão: o que caracteriza a cultura brasileira? Certamente, ela possui suas particularidades quando comparada ao restante do mundo, principalmente quando nos debruçamos sobre um passado marcado pela miscigenação racial entre índios, europeus e africanos.

A cultura brasileira em sua essência seria composta por uma diversidade cultural, fruto dessa aproximação que se desenvolveu desde os tempos de colonização, a qual, como sabemos, não foi, necessariamente, um processo amistoso entre colonizadores e colonizados, entre brancos e índios, entre brancos e negros. Porém, ao retomarmos a ideia de cultura, adotada no início do texto, podemos afirmar que, apesar desse contato hostil num primeiro momento entre as etnias, o processo de mestiçagem contribuiu para a diversidade da cultura brasileira no que diz respeito aos costumes, práticas, valores, entre outros aspectos que poderiam compor o que alguns autores chamam de caráter nacional.

A culinária africana misturou-se à indígena e à europeia; os valores do catolicismo europeu fundiram-se às religiões e aos símbolos africanos, configurando o chamado sincretismo religioso; as linguagens e vocabulários afro e indígenas somaram-se ao idioma oficial da coroa portuguesa, ampliando as formas possíveis para denominarmos as coisas do dia a dia; o gosto pela dança, assim como um forte erotismo e apelo sexual juntaram-se ao pudor de um conservadorismo europeu. Assim, do vatapá ao chimarrão, do frevo à moda de viola caipira, da forte religiosidade ao carnaval e ao samba, tudo isso, a seu modo, compõe aquilo que conhecemos como cultura brasileira. Ela seria resultado de um Brasil-cadinho (aqui se fazendo referência àquele recipiente, geralmente de porcelana, utilizado em laboratório para fundir substâncias) no qual as características das três “raças” teriam se fundido e criado algo novo: o brasileiro. Além disso, do ponto de vista moral e comportamental, acredita-se que o brasileiro consiga reunir, ao mesmo tempo, características contraditórias: se, por um lado, haveria um tipo de homem simples acostumado a lutar por sua sobrevivência contra as hostilidades da vida (como a pobreza), valorizando o mérito das conquistas pessoais pelo trabalho duro, por outro lado este mesmo homem seria conhecido pelo seu “jeitinho brasileiro”, o qual encurta distâncias, aproxima diferenças, reúne o público e o privado.

Ainda hoje há quem possa acreditar que nossa mistura étnica tenha promovido uma democracia racial ao longo dos séculos, com maior liberdade, respeito e harmonia entre as pessoas de origens, etnias e cores diferentes. Contudo, essa visão pode esconder algumas armadilhas. Nas ciências sociais brasileiras não são poucos os autores que já apontaram a questão da falsidade dessa democracia racial, apontando para a existência de um racismo velado, implícito, muitas vezes, nas relações sociais.

Dessa forma, o discurso da diversidade (em todos os seus aspectos, como em relação à cultura), do convívio harmônico e da tolerância entre brancos e negros, pobres e ricos, acaba por encobrir ou sufocar a realidade da desigualdade, tanto do ponto de vista racial como de classe social. Ainda hoje, mesmo com leis claras contra atos racistas, é possível afirmarmos a existência do preconceito de raça na sociedade brasileira, no transporte coletivo, na escola, até no ambiente de trabalho. Isso

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não significa que vivamos numa sociedade racista e preconceituosa em sua essência, mas, sim, que esta carrega ainda muito de um juízo de valor dos tempos do Brasil colonial, de forte preconceito e discriminação. Além disso, se a diversidade cultural não apagou os preconceitos raciais, também não diminuiu outro ainda muito presente, dado pela situação econômica-social do indivíduo.

É preciso considerar que a escravidão trouxe consequências gravíssimas de ordem econômica para a formação da sociedade brasileira, uma vez que os negros (pobres e marginalizados em sua maioria) até hoje não possuem as mesmas oportunidades, criando-se uma enorme distância entre as estratificações sociais.

De acordo com Darcy Ribeiro, mais do que preconceitos de raça ou de cor, têm os brasileiros um forte preconceito de classe social.

Dessa forma, o Brasil da diversidade é, ao mesmo tempo, o país da desigualdade. Por isso tudo é importante que, ao iniciarmos uma leitura sobre a cultura brasileira, possamos ter um senso crítico mais aguçado, tentando compreender o processo histórico da formação social do Brasil e seus desdobramentos no presente para além das versões oficiais da história.

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CAPÍTULO 3Universidade versus ações afirmativas

Segundo Cashmore (2000, p. 31, apud FONSECA, 2009, p. 11), as ações afirmativas são, “políticas públicas destinadas a atender grupos sociais que se encontram em condições de desvantagem ou vulnerabilidade social em decorrência de fatores históricos, culturais e econômicos”.

O objetivo desta política é “garantir igualdade de oportunidades individuais ao tornar crime a discriminação, e têm como principais beneficiários os membros de grupos que enfrentam preconceitos” (p.11).

Observa-se que a política de doação de terras foi a primeira política social e pública em solo brasileiro. Mas a adoção da política de capitanias hereditárias não levou em conta o fato de que a população nativa tinha direitos sobre a terra.

O mesmo ocorreu com outras políticas implantadas pelo Estado português nas primeiras décadas do século XVI, quando o indígena não era considerado sujeito, mas objeto do processo da conquista e da empresa escravista.

As políticas, os decretos e as ordenações foram pautados pela presença ativa e majoritária da população negra que foi protagonista de parte considerável da legislação vigente entre os séculos XVI e XIX.

No entanto, conforme afirma o autor, tal legislação não foi elaborada pela população negra; ao contrário, as leis visavam alijar os negros política e juridicamente dos benefícios sociais construídos com seu esforço.

Alguns pesquisadores fazem uma breve análise das leis abolicionistas no Brasil imperial: a lei do fim do tráfico, a lei dos sexagenários, a lei do ventre livre e a lei da abolição da escravatura. Essas leis não “eram apenas favoráveis aos negros escravizados, elas também favoreciam paradoxalmente aos barões do café e a outros escravistas que, inclusive, participaram da elaboração de certas leis” (p. 57).

Nessa lógica, aponta alguns doutrinadores sobre o assunto que a legislação do império não foi elaborada, votada e promulgada sem a participação de escravistas.

Em relação ao período pós-abolição, o autor afirma que a princesa Isabel, em uma carta ao Visconde de Santa Rita em 11 de agosto de 1889, chegou a tratar da reforma agrária para os ex-escravos. Mas logo se deu o golpe republicano, e as propostas feitas pela Princesa não foram aprovadas.

Na opinião de pesquisadores, se elas tivessem sido aprovadas, não teria ocorrido o imenso êxodo rural que atingiu as principais cidades do País na virada do século XX. “A reforma agrária teria assegurado à população livre e recém - liberta as condições efetivas para sua subsistência em terra própria, sem que precisassem sofrer os infortúnios do racismo no dia a dia das cidades brasileiras” (p. 74).

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Tratando sobre a República Velha, segundo o autor, ela manteve todo o “ranço escravista e racista do período anterior, não enxergando no então cidadão negro um potencial trabalhador que pudesse contribuir com o desenvolvimento do país” (p. 75). Os dirigentes e intelectuais da época incentivaram a imigração no intuito de elevar o índice de população branca. “Boa parte dos intelectuais acreditava que o caminho natural da sociedade brasileira era o branqueamento” (p. 77).

Entretanto, esse projeto miscigenador não obteve os resultados esperados; além disso, havia outro problema, “uma população que não se via branca, mas também não se queria preta ou negra” (p. 84). A população mestiça buscava o diálogo com brancos e negros, isso porque não queriam viver sob a égide da exclusão.

Dessa forma teria surgido a flexibilização do branqueamento, por meio de outras terminologias (DIEGUES JR., 1977, apud FONSECA, 2009, p. 84) – como pardo, moreno, mulato, sarará, preto-aço, terceirão etc. Para Fonseca, essa “lógica de cores tem contribuído para mascarar a origem africana da população, minimizando seu potencial político na esfera social ao subtrair paulatinamente o sentido de pertencimento etnorracial desses homens e mulheres” (p. 84).

No ano de 1930, a sociedade brasileira presenciou mudanças, uma série de restrições à imigração foi aprovada, favorecendo o surgimento de ações para proteger, legalizar e legitimar a mão de obra nacional. Essa ação permitiu a constituição de uma massa de trabalhadores nacionais que antes não eram admitidos no mundo formal do trabalho” (p. 85), especialmente, formação de uma massa de negros, que sempre eram preteridos pelos brancos nacionais e estrangeiros, bem como pelos asiáticos.

Fonseca questiona o papel das universidades como instituições do Estado brasileiro. Para o autor, há que se perguntar qual a relação delas com a base da pirâmide escolar, negra e empobrecida.

O renomado autor acima citado ainda alerta que atualmente diversos trabalhos clássicos vêm alimentando a sociedade civil com informações importantes. Concomitantemente, é imensa a produção de obras governamentais e a criação de departamentos, assessorias, coordenadorias, conselhos, delegacias, fundações e secretarias para atender a essas demandas históricas. Mas se, por um lado, “as publicações denunciam a situação de vulnerabilidade social a que os negros estão submetidos em decorrência da atuação do próprio Estado”, por outro, elas “não têm conseguido traduzir tal realidade em políticas públicas e ações coletivas concretas” (p. 101).

Para o autor, a criação de órgãos governamentais não dá conta da realidade social a ser transformada. Esses órgãos não têm condições políticas de diminuir a vulnerabilidade dos negros. O autor ainda acrescenta que a criação desses órgãos não são políticas de Estado, mas de um governo. Por isso, eles não têm a continuidade esperada, nem quando o presidente é o mesmo, pois os acordos são outros e devem atender a múltiplos e novos interesses.

Diante disso, para o autor, as políticas públicas de ações afirmativas “continuam a ser apenas um debate midiático na sociedade brasileira e uma grande vitrine para os governantes, militantes e movimentos sociais e partidos” (p. 104). Isso porque a quantidade de políticas públicas empreendidas no País é irrisória.

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O autor chama a atenção para a necessidade de orçamento para a implantação de políticas sociais focadas e universais que atendam à maioria da população vulnerável do Brasil, inclusive porque “não se faz política sem recursos. Só demagogia e populismo de ocasião” (p. 106). Além disso, há que se ter em conta o debate sobre as cotas e sobre o Estatuto de Igualdade Racial, assinalando suas contradições, seu alcance e seus limites.

Diante do exposto, o autor constata que a história das políticas públicas e das ações afirmativas no Brasil permeia a luta para diminuir as desigualdades e combater o racismo.

Na eliminação do racismo, desempenham papel importante a escola, a mídia, o governo, movimentos sociais e outras instâncias da sociedade civil.

Esperamos, despertar no leitor o interesse por aprofundar os seus conhecimentos a respeito das dinâmicas sociais em curso na nossa sociedade, em especial as relacionadas às políticas públicas e ações afirmativas. A situação do negro no Brasil não pode ser encarada como algo naturalizado, imutável, mas como algo passível de mudanças. E as políticas e ações afirmativas são um dos mecanismos promotores da transformação da realidade da população negra no Brasil.

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CAPÍTULO 4Relação racial na contemporaneidade

Para estudarmos sobre a relação racial na contemporaneidade, precisamos superar desafios e pensar na conceituação ao tratar de políticas públicas. “A exteriorização da política está muito distante de um padrão jurídico uniforme e claramente apreensível pelo sistema jurídico”, todavia, como já estudamos este conceito anteriormente, buscaremos abordar o tema pertinente a este capítulo.

Seguindo para Bucci, estudiosa que tem se debruçado sobre o tema, trata-se de uma tarefa extremamente difícil sintetizar em um conceito “a realidade multiforme das políticas públicas em relação à questão racial na atualidade; “visto que o termo ‘política’ carrega elementos estranhos às ferramentas conceituais jurídicas, tais como os dados econômicos, históricos e sociais de determinada realidade que o Poder Público visa a atingir por meio de um programa de ação, mas passa a formular seu conceito como segue abaixo transcrito:

Política pública com foco na questão racial pode ser definida como um

programa de ação governamental que resulta de um processo ou conjunto

de processos juridicamente regulados – processo eleitoral, processo de

planejamento orçamentário, processo legislativo, processo administrativo,

processo judicial – visando coordenar os meios à disposição do Estado e as

atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e

politicamente determinados.

Deve, portanto, a política pública ter como meta a realização de objetivos definidos, expressando a seleção de prioridades, a reserva de meios necessários à sua consecução e o intervalo de tempo em que se espera e sejam atingidos os resultados.

Pensar em política pública significa buscar uma ação coordenada, seja na atuação dos poderes públicos, seja no interior do governo ou na interação entre organismos da sociedade civil e o Estado – eis que, surge a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Como já se sabe, o Estado brasileiro, ao longo de sua história, não somente estimulou a escravidão durante o período colonial, como concedeu privilégios aos imigrantes, impedindo, assim, a integração do negro na sociedade brasileira republicana.

Sobre isso, doutrinadores denunciam que as primeiras legislações do governo republicano acabaram “proibindo a entrada de africanos como imigrantes e o incêndio da documentação referente aos registros de escravos bem expressam o descaso republicano para com as condições dos negros”.

Não resta dúvida, pois, de que o Estado brasileiro, em toda sua trajetória, criou e institucionalizou o racismo e a exclusão de importante contingente humano – os negros.

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E que agora terá que reparar isso. A partir da evolução histórica acerca do negro no Brasil verifica-se que o movimento negro vem buscando, dia após dia, ano após ano, século após século, o reconhecimento da ancestralidade africana como um valor positivo.

Nota-se, assim, que a sua luta histórica é para garantir a dignidade – uma brava luta de resistência contra a exclusão social.

Cumpre lembrar que, no final do século XX, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, os movimentos sociais – principalmente de mulheres e de negros – ganharam certo fôlego nas demandas por direitos humanos, e, como consequência, a luta por cidadania ganhou outra conotação na agenda governamental.

A partir disso, tornam-se cada vez mais substanciais as políticas públicas de ação afirmativa de gênero e socioracial, entre outras, e, segundo alguns pesquisadores, o cenário dessas políticas está recortado por dois marcos temporais:

a Quarta Conferência sobre a Mulher (Beijing, China, 1995) e a I Conferência

Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância

Correlatas (Durban, África do Sul, 2001).

Surge, nesse contexto, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), criada pelo Governo Federal no dia 21 de março de 2003 – dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, por meio da Medida Provisória no 111, de 21 de março de 2003, e convertida na Lei no 10.678, de 23 de maio de 2003.

Segundo informação contida no site oficial dessa Secretaria, “a criação da Secretaria é o reconhecimento das lutas históricas do Movimento Negro Brasileiro. A missão da Seppir é estabelecer iniciativas contra as desigualdades raciais no País” e seus principais objetivos são:

» promover a igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação e demais formas de intolerância, com ênfase na população negra;

» acompanhar e coordenar políticas de diferentes ministérios e outros órgãos do governo brasileiro para a promoção da igualdade racial;

» articular, promover e acompanhar a execução de diversos programas de cooperação com organismos públicos e privados, nacionais e internacionais;

» promover e acompanhar o cumprimento de acordos e convenções internacionais assinados pelo Brasil que digam respeito à promoção da igualdade e combate à discriminação racial ou étnica;

» auxiliar o Ministério das Relações Exteriores nas políticas internacionais, no que se refere à aproximação de nações do Continente Africano.

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Além disso, a estrutura da Presidência da República está composta por inúmeras repartições, entre elas a Seppir, que foi agraciada com status de Ministério, de acordo com a Medida Provisória no 419, de 20 de fevereiro de 2008 – que alterou as Leis no 10.683, de 28 de maio de 2003, e no 10.678, de 23 de maio de 2003 – convertida na Lei no 11.693, de 11 de junho de 2008, e transformou o cargo de Secretário Especial de Políticas de Promoção da igualdade Racial em Ministro de Estado Chefe da Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

O Decreto no 7.261, de 17 de agosto de 2010, por meio dos seus artigos, determina qual será a natureza e a competência da Seppir (art. 1o e incisos), como se dará sua estrutura organizacional (art. 2o), quais serão as competências do responsável pelo Gabinete e pela Secretaria Executiva (arts. 3o e 4o, respectivamente). Os arts. 5o ao 7o tratam da competência dos órgãos específicos singulares da Seppir, entre eles: a Secretaria de Planejamento e Formulação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; a Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas; e a Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais.

Por fim, o art. 8o regulamenta o órgão colegiado da Seppir, que utiliza como referência política o programa “Brasil sem Racismo”, que abrange a implantação de políticas públicas nas áreas do trabalho, do emprego e da renda, da cultura e da comunicação, da educação, da saúde, das terras de quilombos, das mulheres negras, da juventude, da segurança e das relações internacionais.

Nesse sentido, vale a pena citar alguns de seus projetos: a Cor da Cultura (projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira por meio de programas audiovisuais); Programa Brasil Quilombola (esse programa reúne ações do Governo Federal para as comunidades remanescentes de quilombos); Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (essa política visa superar os fatores que determinam as expressões de maior vulnerabilidade da população negra como, por exemplo, a anemia falciforme);

Ainda focando a desigualdade e a promoção da igualdade, cabe explanar que ao contrário daqueles que defendiam a existência de uma democracia racial brasileira e da igualdade de oportunidades, o estudo denominado “Síntese de Indicadores Sociais – uma análise das condições de vida da população brasileira”, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicado em 2010, que confronta os dados coletados entre a década de 1999-2009 comprovou que a desigualdade entre brancos e negros persiste.

Tal estudo comparativo demonstra que em 1999 entre os 10% mais pobres, o porcentual de brancos era de 28,7% e de 70,9% para negros e pardos. Já em 2009, depois de 10 anos, as diferenças ainda existem e podem ser expressas por meio dos seguintes números: entre os 10% mais pobres, o porcentual era de 25,4% para os brancos e de 74,2% para os negros.

Note-se que mesmo tendo aumentado o número de negros/pardos entre os mais ricos, é verdade também que a quantidade de negros/pardos inseridos entre os mais pobres também aumentou.

No campo internacional, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), foi revelado, no 4o Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos do Milênio, que as políticas afirmativas surtiram efeito, tendo em vista que as desigualdades raciais e de gênero diminuíram, mas elas ainda persistem.

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Tais indicativos claramente apontam quão desigual é a distribuição de renda no País quando demonstram que a proporção de pessoas muito pobres entre os negros é mais do que o dobro do que entre os brancos e que há muito a ser feito. Como informa o texto extraído do site do PNUD e aqui transcrito: “apesar dos avanços, o objetivo da igualdade racial requereria uma queda mais acelerada da pobreza extrema entre pretos e pardos.”

Embora sejam nítidos os avanços na agenda política, incluindo a atuação da Seppir, a verdade é que eles não foram suficientes para destruir as mazelas deixadas pela escravidão e pela forjada abolição. Por exemplo, o Estatuto da Igualdade Racial (no 12.288, de 20 de julho de 2010) e toda a polêmica instaurada ao seu redor.

Não resta dúvida de que o Estatuto da Igualdade Racial representa avanço histórico na luta pela promoção da igualdade racial, mas sua tramitação no Congresso Nacional (para transformar o projeto de lei em lei) ocorreu de maneira polêmica, mas finalmente, o Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado em 2010.

Logo após sua aprovação, vozes como a da socióloga Guacira César de Oliveira surgiram tecendo duras críticas ao Estatuto. Duas delas serão aqui elencadas:

» Não foi aprovada a criação de um fundo público destinado à promoção das medidas previstas no Estatuto.

» Não foi aprovada a implantação do regime de cotas. Outro assunto presente na agenda das políticas públicas dos negros será agora abordado: a questão das cotas na área de educação. No Brasil, grande é a polêmica acerca da política de cotas nas universidades, mas sua implementação torna-se necessária e urgente como mecanismo de discriminação positiva, de integração de grupos excluídos. Isso porque, o rompimento das barreiras que impedem a escolarização dos negros no Brasil tornará possível formar mão de obra especializada capaz de abrir novos espaços no mercado de trabalho. Todavia, parte significativa da sociedade civil, incluindo alguns intelectuais, mostra-se contrária à implantação do sistema de cotas, por acreditarem ser mais justo o critério da meritocracia.

Deve-se lembrar de que aqueles que se opõem à aplicação das ações afirmativas o fazem porque tributam a desigualdade social a uma instância que não se relaciona em nada com a raça ou a cor dos brasileiros, muito embora a implantação de políticas públicas em nada prejudique o mérito daqueles que pleiteiam uma vaga no ensino público superior.

Vários pesquisadores defendem que o ensino superior é um fator importantíssimo para a ascensão social dos negros e denunciam que a diferença no acesso ao nível superior entre brancos e negros é escancarada. Com dados fornecidos pelo Ipea, ele demonstra como ocorrem as diferenças, conforme será apresentado a seguir.

Ainda no que diz respeito ao acesso ao ensino superior pelos negros, o pesquisador Pereira aponta que, segundo pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB), nas maiores universidades públicas o número de professores negros não passa de 1%.

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Dessa forma, temos que uma solução para mudar essa realidade tão discrepante, sem dúvida, é a implantação do regime de cotas, pois, nos últimos quinze anos os indicadores educacionais melhoraram em todos os grupos sociais, mas se feita uma análise considerando-se a categoria de análise raça, verifica-se que as desigualdades ainda existem, principalmente nas séries mais adiantadas. Todavia, esse caminho pode ser melhorado por meio da inserção nas escolas, atividades destinadas ao conhecimento mais aprofundado da cultura negra e suas origens, principalmente sobre o que as pessoas fizeram pelo Brasil; visando, desta forma, a um futuro onde as próprias crianças de hoje tornem-se adultos amanhã sem ter resquícios deixados por seus pais, avós e outros, no que concerne a discriminação racial.

Por isso, a defesa da política de cotas juntamente com outro programa do governo são necessários para alterar esse perverso quadro de exclusão que ainda se perpetua no Brasil.

Para que a luta por igualdade seja bem-sucedida também, é necessário, aprioristicamente, admitir que o racismo existe e continua a ser um problema bastante sério no Brasil, uma barreira ainda não transposta.

Por isso, é oportuno dizer que a conscientização, por parte dos indivíduos e das instituições, das estereotipias que acriticamente são reproduzidas nos campos social, jurídico e cultural, pois somente afastando ideologias discriminatórias é que se dará a efetiva realização de direitos.

Superados esses obstáculos, tem-se que não basta normatizar intenções, criar leis pautadas com o objetivo de promover a igualdade para se combater a discriminação. Cabe ao Estado, principalmente, propor medidas que contribuam efetivamente para a construção de espaços sociais mais democráticos.

Cabe, também, à sociedade, lutar para a efetivação de seus direitos e nesse sentido, há de ser destacada a ação do movimento negro.

Pensando agora no Brasil contemporâneo, será que a criação da Seppir está interferindo na realidade da população negra? Ela realmente vem conseguindo promover a igualdade racial? Os programas são eficazes? As dotações orçamentárias são suficientes? A não garantia de dotação orçamentária para tais projetos não os tornam vulneráveis às garantias até aqui conquistadas? Qual é o impacto para o movimento negro do desenvolvimento de uma agenda racial pelo Estado brasileiro?

Sobre as perguntas já sabemos que são inúmeras e as respostas ainda estão em processo de construção. Isso porque não se pode esperar que após séculos de desigualdades e de exclusão elas tenham sido totalmente erradicadas em virtude de políticas públicas instituídas tão recentemente. Também se faz urgente tornar pública a necessidade de continuar o aperfeiçoamento de tais políticas.

Certo é que o Brasil tem passado por inúmeras e importantes transformações, que reformulam as agendas políticas sobre as desigualdades raciais.

Essas transformações relacionam-se com as mudanças de caráter estrutural, assim como as formas de enfrentamento das desigualdades viram políticas de inclusão.

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Por tudo o que foi dito aqui e também demonstrado, parece não existir mais dúvidas de que o Brasil é um país marcado pela flagrante desigualdade de oportunidades entre negros e brancos, seja no mercado de trabalho, seja na esfera educacional, seja na vida pública etc., vários indicadores econômicos sinalizam isso.

No entanto, é possível promover a mudança do cenário de exclusão pintado, desde que ela seja impulsionada por ações voltadas à superação do modelo aqui trazido.

Em que pese à existência das inúmeras dificuldades aponta das ao longo deste estudo, uma boa dose de otimismo sinaliza que um futuro promissor, mais inclusivo, vem despontando no horizonte.

AMARO (2005, p; 59) leciona que “pratica-se no Brasil um exclusão pela cor, pela etnia do sujeito, pela atribuição de valor diminuído e depreciativo ao indivíduo portador de determinada cor de pele. Esse processo de estigmatização e de biopoder denomina-se racismo.”

O racismo no Brasil é “mascarado”, porém é expresso nas diversas instâncias da vida destes sujeitos, como podemos verificar as desigualdades sociorraciais em todos os setores, o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos traz que “nos últimos dez anos, a estrutura da população mudou em termos de cor ou raça, com destaque para uma maior proporção das pessoas que se declaram como negras e pardas, de 44,7% da população em 2000 para 50,7% em 2010.” (IBGE, 2010), para termos um a dimensão desse preconceito e discriminação sofrida pela população afrodescendentes em nosso país, basta analisarmos dados do censo deste mesmo ano quando nos traz o quesito do rendimento médio da população.

Os rendimentos médios mensais dos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574)

se aproximam do dobro do valor relativo aos grupos de negros (R$ 834),

pardos (R$ 845) ou indígenas (R$ 735). (IBGE 2010).

O preconceito sofrido por este segmento populacional dá-se em diversos contextos, nas escolas, universidades, em postos de trabalhos onde negros, como podemos verificar com os dados acima, têm salário significativamente inferiores em relação à população branca, dentre outros.

Esse preconceito não é fruto da contemporaneidade, mas, sim, histórico, construído desde os primórdios da sociedade brasileira, desde os tempos da escravidão quando a cor negra sempre foi sinônimo de inferioridade e, concomitante a isto, estigma sofrido por esta população.

Segundo AMARO (2005; p. 67) ”nem sempre o trajeto de discriminação e exclusão que arrasta os negros à assistência é conhecido pelos atores institucionais, responsáveis pelo seu atendimento”.

Mais do que tudo isso, a questão racial revela, de forma particularmente evidente, (...) como funciona a fábrica da sociedade, compreendendo identidade e alteridade, diversidade e desigualdade, cooperação e hierarquização, dominação e alienação. (IANINI, 2003). Ou seja, reflete a sociedade dividida em classes, onde a desigualdade è “quase” que inerente da população negra, onde se concentram grandes níveis de pobreza humana, sendo esta em seu sentido ampliado não apenas o econômico, mas a falta de acessos a serviços, programas, projetos, ou mesmo o acesso fragmentado, o qual não oportuniza a emancipação humana tampouco o exercício da cidadania.

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Vivemos em uma sociedade que prevê a exclusão social e a desigualdade, que exclui para incluir precariamente de forma focalizada, assim, como são constituídas as políticas afirmativas as quais buscam “superar” as “desvantagens” instituídas historicamente para que a população negra e outros grupos de pessoas discriminadas possam alcançar a igualdade constituída em lei.

O enfrentamento da questão racial na atualidade

Como podemos verificar no cenário brasileiro, a questão social e a racial estão diretamente conectadas. Como uma maneira de enfrentamento desta questão racial na atualidade, verificamos a utilização de políticas afirmativas, que, segundo Amaro é qualquer política que, operando com o critério de discriminação positiva, vise favorecer grupos socialmente discriminados por motivo de sua raça, religião, sexo e etnia e que, em decorrência disto, experimentam uma situação desfavorável em relação a outros segmentos sociais (2005, p. 74).

O governo em suas três esferas, municipal, estadual e federal, tem implementado ações afirmativas em diferentes áreas, usando como exemplo a área da educação, temos a criação de cursos preparatórios para vestibulares para negros, bem como cotas para estudantes afrodescendentes entrarem nas universidades.

As políticas de ações afirmativas e as cotas raciais precisam ser pensadas a partir do que representa o racismo na sociedade brasileira, este é o grande desafio para os profissionais.

Percebe-se que as ações e políticas afirmativas são as únicas políticas desenvolvidas na contemporaneidade para minimizar a desigualdade racial, que deve ser defendida pelos profissionais de Serviço Social, visto que, mesmo que sejam paliativas, e algumas temporárias, são as únicas políticas para este segmento populacional que temos na atualidade.

Estas políticas possuem um viés de sanar dívidas sociais adquiridas com a sociedade, corroborando que não devem ser vistas como um “favor”, e sim como um direito adquirido (PEREIRA; RODRIGUES; GUILHERME, 2010).

Uma vez que as ações afirmativas têm guarida no texto constitucional vigente, como se depreende do art. 3o, inciso IV. É um objetivo/princípio fundamental do Brasil a promoção do bem geral, que deve passar necessariamente pela superação de preconceitos discriminatórios (CRUZ, 2005, p. 143).

Mas pelo próprio caráter da política social constituída na sociedade neoliberal, a política de ações afirmativas é estruturada conforme os princípios do sistema econômico vigente, sendo ele que pressupõe a focalização, a privatização e a fragmentação, as políticas sociais refletem este contexto, assim, ao serem implementadas não são universalizantes, pois não atendem a toda a demanda na qual foram inseridas, por exemplo, a “Lei de Cotas”, prevê a inclusão de parte da população que conseguiu chegar ao ensino superior, e a outra grande parte que não tem nem acesso à educação fundamental, tampouco, ensino que lhes proporciona o exercício de sua cidadania.

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A educação, desde seus primórdios, instituída como direito social, foi pensada no propósito de ser um instrumento de desenvolvimento humano e exercício da cidadania. E na história da educação com a população negra desde seus primórdios vamos verificar uma educação incompleta que abriu espaços para a profissionalização ou mesmo para ocupação de mão de obra barata (antigos escravos após a Abolição da escravatura), que viviam na linha de pobreza, onde a desigualdade, fome, exclusão social, a vulnerabilidade e situações de risco social, e o não acesso aos direitos, eram, e continuam para grande parte da população negra no Brasil.

O assistente social neste contexto

A realidade atual em que vivemos aponta uma contradição para a formação profissional em Serviço Social, que defende desde o processo de ruptura, a criticidade dos fenômenos sociais, bem como a leitura dos processos sociais a partir da perspectiva de totalidade social.

Conforme Veloso (2007, p. 13), as relações sociais são construídas a partir de três eixos básicos:

As relações de classe, de gênero e étnico raciais. Essas categorias constituem

um conjunto de relações fundamentais que se entrelaçam, que se imbricam

potencializando-se reciprocamente.

Nesse sentido, a partir de uma perspectiva crítica e comprometida com um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação e exploração de classe, etnia e gênero, é premente a incorporação da temática étnico-racial pelo Serviço Social em consonância com as diretrizes curriculares e com os princípios norteadores do seu projeto ético-político.

A partir da perspectiva da totalidade, há de se romper com o pensamento histórico e com a superficialidade da apreensão do real. Na contramão da lógica que aprofunda as mazelas sociais, negando os conflitos oriundos das contradições de classe, o pensamento crítico oferece elementos de análise que permitem o desvelamento do real com vistas à supressão de todas as formas de opressão e exploração próprias da ordem capitalista.

Dessa maneira, buscando garantir o exercício profissional crítico e competente frente a violações de direitos por razões de preconceito e discriminação racial, trazer para o campo profissional o aprofundamento dessa discussão, pois possibilitará a construção de práticas mais efetivas de enfrentamento do racismo e que transcendam as fronteiras da ordem capitalista de exploração e opressão dos sujeitos. Sob a perspectiva da totalidade social, questões relacionadas à classe, gênero, etnia, raça, orientação sexual, entre tantas outras dimensões da formação e relação humana, devem ser consideradas imprescindíveis para a consolidação dos princípios que norteiam o projeto ético-político do Serviço Social.

O conhecimento sobre a questão racial e o seu enfrentamento por meio de políticas afirmativas, faz-se pela leitura de realidade na qual elas estão inseridas, e o processo desencadeador de tal situação, por meio de processos de abstração e aproximação às suas determinações e relações históricas para

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a compreensão da totalidade da questão e, assim, com o método dialético crítico desvelar a realidade sem a pretensão de esgotar a dinamicidade dessa expressão da questão social.

Na educação, embora os dados retratem um pequeno aumento no acesso da população negra aos espaços de ensino no País, essa inserção ainda não tem revelado uma diminuição dos níveis de desigualdades construídas historicamente. Por maiores que sejam os investimentos na inserção dos negros nas instituições de ensino, ou no mercado de trabalho, a discriminação persiste. Percebe-se que a discriminação que teve início na escravidão, persiste na contemporaneidade.

É diante dessa realidade que o profissional assistente social irá intervir, trabalhando com esta complexidade de questões inerentes ao Serviço Social. Embasado pelo código de ética profissional e lutando pelo direito de acesso às políticas públicas, na defesa dos direitos humanos destas minorias.

As políticas de ações afirmativas, tendo o critério de discriminação positiva são capazes de realizar a inclusão de afrodescendentes na sociedade; é por meio dessas que podemos nos direcionar e promover a igualdade, porém devem ser vistas como um direito e não como um favor. É preciso fazer a articulação da assistência social com outras políticas de ações afirmativas.

Por fim, vale dizer que buscamos direcionar este estudo à análise da importância da discussão das desigualdades raciais no contexto das políticas de ações afirmativas, conhecendo seus desafios e tecendo críticas para compreensão do assunto. Conclui-se que a temática aqui apresentada representa um grande desafio para os assistentes sociais; desafio que deve ser encarado de forma crítica e consciente.

Dessa forma, compreendemos que a questão racial é de grande relevância e atual quando se está trabalhando na elaboração e execução das políticas públicas.

Finalizamos com as palavras de Mandela “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.

(Nelson Mandela)

Atualidades

Conforme decreto publicado no Diário Oficial da União de 17 de abril de 2013, foi convocado a III Conapir para o período de 5 a 7 de novembro de 2013, em Brasília, com o tema Democracia e Desenvolvimento por um Brasil Afirmativo.

A III Conapir será realizada no período de 5 a 7 de novembro de 2013, em Brasília, Distrito Federal, com o tema “Democracia e Desenvolvimento por um Brasil Afirmativo”.

A III Conapir será presidida pela ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir-PR), Luiza Bairros. Aos Estados e ao Distrito Federal cabe a convocação das etapas estaduais e distrital da III Conferência Nacional de Promoção da

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Igualdade Racial, que ocorrerão até 30 de agosto de 2013 e poderão ser precedidas de conferências municipais ou regionais.

O regimento interno da III Conapir será aprovado pelo Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e editado por portaria da ministrada Seppir. As despesas com a organização e a realização da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial correrão por conta de recursos orçamentários da Seppir.

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Para (não) Finalizar

Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional

No primeiro dia de aula, nosso professor se apresentou aos alunos e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser. Ela disse: – Hei, bonitão! Meu nome é Rosa. Tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço? Eu ri e respondi entusiasticamente: – É claro que pode! – Ela me deu um gigantesco apertão. Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade? - perguntei. Ela respondeu brincalhona: – Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter casal de filhos e então me aposentar e viajar. – Está brincando – eu disse. Eu estava curioso em saber o que havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade e ela disse: – Eu sempre sonhei em ter estudo universitário e agora estou tendo um! Após a aula nós caminhamos para o prédio da União dos Estudantes e dividimos um milkshake de chocolate. Nos tornamos amigos instantaneamente. Todos os dias, nos próximos três meses, nós teríamos aula juntos e falaríamos sem parar. Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela “máquina do tempo” compartilhar sua experiência e sabedoria comigo. No decurso de um ano, Rosa tornou-se um ícone no Campus Universitário e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse. Ela adorava vestir-se bem e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Ela estava curtindo a vida! No fim do semestre, nós convidamos Rosa para falar no banquete do futebol. Jamais esquecerei do que ela nos ensinou. Ela foi apresentada e se aproximou do pódio. Quando ela começou a ler a sua fala preparada, deixou cair três das cinco folhas o chão. Frustrada e um pouco embaraçada, ela pegou o microfone e disse simplesmente: – Desculpa-me, estou tão nervosa! Eu nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixe apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei. Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou: – Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de amar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso. Você precisa rir e encontrar humor em cada dia. Você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Há uma enorme diferença entre ficar velho e crescer. Se você tem dezenove anos de idade e ficar deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos de idade. Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos. Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento nem habilidade. A ideia é crescer através de sempre encontrar oportunidade na novidade. Isto não precisa nenhum talento ou habilidade. A ideia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar. Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não se arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que têm medo da morte são aquelas que têm remorsos. Ela concluiu seu discurso cantando corajosamente “A Rosa”.

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Ela desafiou a cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. No fim do ano, Rosa terminou o último ano da faculdade que começou todos aqueles anos atrás. Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranquilamente em seu sono. Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através do exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode ser.”

(autor desconhecido)

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