UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA
Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira
Planejamento e Gestão Territorial: Uma Análise Sobre as Estratégias de Desenvolvimento Urbano e Ambiental do
Município de Maricá/RJ
Rio de Janeiro 2015
Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira
Planejamento e Gestão Territorial: Uma Análise Sobre as Estratégias de Desenvolvimento Urbano e Ambiental do
Município de Maricá/RJ
Monografia de Conclusão apresentada ao Curso de Especialização em Engenharia Urbana, Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Engenharia Urbana.
Orientadora: Profª. Gisele Silva Barbosa, D.Sc. UFRJ.
Rio de Janeiro 2015
Ficha Catalográfica
Referência Bibliográfica NOGUEIRA, Amanda da Conceição Rocha de Melo. Planejamento e Gestão Territorial: Uma Análise Sobre as Estratégias de Desenvolvimento Urbano e Ambiental do Município de Maricá/RJ. 2015. 166f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia Urbana) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Rio de Janeiro.
Nogueira, Amanda da Conceição Rocha de Melo. Planejamento e Gestão Territorial: Uma Análise Sobre as Estratégias de Desenvolvimento Urbano e Ambiental do Município de Maricá/RJ / Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira. Rio de Janeiro, 2015. 166 f., 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia Urbana) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, 2015. Orientadora: Prof. Gisele Silva Barbosa 1. Planejamento e Gestão do Território. 2. Desenvolvimento Sustentável. 3. Ambiente Construído. 4. Maricá (Rio de Janeiro, RJ). I. Barbosa, Gisele Silva. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola Politécnica. III. Título.
Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira
Planejamento e Gestão Territorial: Uma Análise Sobre as Estratégias de Desenvolvimento Urbano e Ambiental do
Município de Maricá/RJ
Monografia de Conclusão apresentada ao Curso de Especialização em Engenharia Urbana, Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Engenharia Urbana.
Rio de Janeiro, 10 de abril de 2015.
Aprovada por:
_______________________________________________ Profª Orientadora, Gisele Silva Barbosa, D.Sc. PEU/UFRJ
_________________________________________________ Coordenadora, Profª. Rosane Martins Alves, D.Sc. PEU/UFRJ
DECLARAÇÃO
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, representada neste documento pela Srª. Rosane Martins Alves, autoriza a divulgação de informações e dados coletados em sua organização, na elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado: PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL: UMA ANÁLISE SOBRE AS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO E AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE MARICÁ/RJ, realizado pela aluna Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira do Curso de Especialização em Engenharia Urbana, da Escola Politécnica, com objetivos de publicação e/ou divulgação em veículos acadêmicos.
Rio de Janeiro, 10 de abril de 2015.
_________________________________________________ Rosane Martins Alves
TERMO DE COMPROMISSO
A aluna Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira, do Curso de Especialização em Engenharia Urbana, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Escola Politécnica (POLI), no período de maio de 2013 a dezembro de 2014, declara que o conteúdo desta monografia é autêntico e de autoria exclusiva.
Rio de Janeiro, 10 de abril de 2015.
_________________________________________________ Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira
Aos meus pais e ao meu marido, pela confiança e apoio incondicional na realização dos meus objetivos. À Professora Gisele Barbosa, minha orientadora, por todo o conhecimento transmitido, sua inestimável atenção, incentivo e constante disponibilidade.
RESUMO
No último século, o Brasil recebeu uma urbanização intensa e em grande parte
desordenada. As cidades brasileiras atuais são o reflexo de uma sociedade antagônica. O
desenvolvimento urbano demonstra esse antagonismo social e revela os conflitos vividos no
meio intra-urbano. Durante muitas décadas, poucas foram as cidades que receberam um
planejamento e uma infraestrutura adequada. Neste sentido, um possível caminho para a
continuidade da expansão urbana e a remodelação de cidades já consolidadas pode ser
pautado pelo planejamento urbano sustentável, onde prima-se pela qualidade de vida da
população, através de políticas públicas bem formuladas, que cumpram determinados
objetivos sociais, ambientais, econômicos, políticos e culturais.
De modo a entender a dinâmica das cidades, apresenta-se o munícipio de Maricá para
o estudo em questão. Localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro, é um território
que vem sofrendo transformações diversas nos últimos anos, desde sua espontânea expansão à
chegada de grandes empreendimentos. Neste sentido, o estudo será uma análise sobre as
estratégias que serão adotadas pelo município, de modo a apoiar o crescimento do mesmo,
procurando entender se estão realmente incluídas dentro dos preceitos de desenvolvimento
sustentável de longo prazo, sendo eficaz socialmente, ambientalmente e economicamente.
Palavras-chave: Planejamento Urbano; Desenvolvimento sustentável; Ambiente Construído;
Maricá – RJ.
ABSTRACT
In the last century, Brazil received an intense urbanization and, in large part,
disordered. Current Brazilian cities are a reflection of an antagonistic society. Urban
development demonstrates that social antagonism and reveals the conflicts experienced in
intra-urban areas. For many decades, there were few cities that received a planning and an
adequate infrastructure. In this regard, a possible way for continued urban expansion and
remodeling of already established cities can be guided by sustainable urban planning, where
material by the population's quality of life through well formulated policies that meet certain
social objectives environmental, economic, political and cultural.
In order to understand the dynamics of cities, it shows the municipality of Marica
for the study. Located in the metropolitan area of Rio de Janeiro, it is a territory that has
undergone several changes in recent years, since its spontaneous expansion to large projects.
In this sense, the study will be an analysis of the strategies to be adopted by the municipality
in order to support the growth of it, trying to understand whether they are actually included
within the long-term sustainable development principles and effective socially,
environmentally and economically.
Keywords: Urban Planning; Sustainable Development; Built Environment; Maricá – RJ.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Desenho esquemático representando a integração de três dimensões ..................... 23
Figura 2 - Cidades com metabolismo linear ............................................................................. 40
Figura 3 - Cidades com metabolismo circular ......................................................................... 40
Figura 4 - Diagrama da Cidade Jardim – Distrito e Centro da Cidade .................................... 45
Figura 5 - Mapa de localização de Maricá – Região Metropolitana do Rio de Janeiro .......... 64
Figura 6 - Mapa de delimitação distrital do município de Maricá ........................................... 65
Figura 7 - Estação Ferroviária de Inoã, anos 40 ....................................................................... 71
Figura 8 - Praça Orlando de Barros Pimentel .......................................................................... 73
Figura 9 - Largo em frente à Igreja Matriz de N.S. do Amparo ............................................... 73
Figura 10 - Mapa da Fazenda de São Bento da Lagoa ............................................................. 74
Figura 11 - Rodovia Amaral Peixoto - década de 60 ............................................................... 75
Figura 12 - Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro ......................................... 77
Figura 13 - Casa de Cultura - antiga Câmara Municipal - Centro de Maricá .......................... 82
Figura 14 - Casa Digital no Centro de Maricá ......................................................................... 82
Figura 15 - Anfiteatro municipal - Centro de Maricá .............................................................. 83
Figura 16 - Previsão Porto de Jaconé ....................................................................................... 84
Figura 17 - Riquezas naturais - topografia peculiar, praias oceânicas e lagoas ....................... 87
Figura 18 - Praia de Ponta Negra ............................................................................................. 87
Figura 19 - Farol da Ponta da Galeta – Ponta Negra ................................................................ 89
Figura 20 - Vila de pescadores de Barra de Zacarias ............................................................... 94
Figura 21 - Sede da Cedae no Centro de Maricá .................................................................... 100
Figura 22 - Vista parcial do antigo Aterro Sanitário Municipal, localizado no Caxito ......... 103
Figura 23 - Sede da Ampla no Centro de Maricá ................................................................... 105
Figura 24 - Sede de operadora de telefonia Oi no Centro de Maricá ..................................... 106
Figura 25 - Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106) ...................................................................... 107
Figura 26 - Mapa que demonstra as principais rodovias de Maricá ....................................... 107
Figura 27 - Ponte da Barra ..................................................................................................... 108
Figura 28 - Sede da Viação Nossa Senhora do Amparo no Centro de Maricá ...................... 109
Figura 29 - Terminal Rodoviário do Povo de Maricá, Centro de Maricá .............................. 109
Figura 30 - Programa tarifa zero nos transportes ................................................................... 111
Figura 31 - Previsão Bonde - Centro x Barra de Maricá ........................................................ 112
Figura 32 - Previsão Trem - Ponta Negra x Niterói ............................................................... 112
Figura 33 - Previsão Ligação Aquaviária - Ponta Negra x Centro ......................................... 113
Figura 34 - Aeródromo municipal, localizado em Araçatiba ................................................. 113
Figura 35 - Projeto de ampliação do Aeroporto Municipal ................................................... 114
Figura 36 - Mapa de vetores de ocupação e mancha urbana .................................................. 116
Figura 37 - Tipos de ocupação e localização das praças ........................................................ 118
Figura 38 - Creche de Bosque Fundo - Inoã .......................................................................... 151
Figura 39 - Campus avançado da Universidade Severino Sombra ........................................ 151
Figura 40 - Hospital Municipal Conde Modesto Leal ........................................................... 154
Figura 41 - UPA de Inoã ........................................................................................................ 155
Figura 42 - Hospital Municipal Doutor Ernesto Che Guevara - Previsão ............................. 156
Figura 43 - SAREM é referência para a região à pessoa com deficiência ............................. 158
Figura 44 - 82a Delegacia de Polícia Civil no Centro de Maricá ........................................... 160
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
Tabela 1 - População residente - 1940/1980 ............................................................................ 66
Tabela 2 - Evolução populacional 1991/2010 .......................................................................... 66
Tabela 3 - Dados sobre a população do município de Maricá ................................................. 67
Tabela 4 - Retrospectiva – População residente por situação de domicílio - 1940/2000 ......... 68
Tabela 5 - Resultados dos índices em 1991, 2000 e 2010 - Maricá/RJ .................................... 79
Tabela 6 - Características gerais das Lagoas de Maricá/RJ ..................................................... 93
Tabela 7 - Características gerais das Unidades de Conservação da Natureza de Maricá/RJ ... 96
Tabela 8 - Demonstrativo de rotas e dias de coleta de resíduos sólidos no município .......... 104
Tabela 9 - Frota municipal de veículos .................................................................................. 110
Tabela 10 - Previsão do aumento de demanda, 2012 - 2017 .................................................. 114
Tabela 11 - Docentes por nível .............................................................................................. 149
Tabela 12 - Número de escolas por nível ............................................................................... 150
Tabela 13 - Matrículas por nível ............................................................................................ 150
Tabela 14 - Estabelecimentos de saúde .................................................................................. 153
Tabela 15 - PIB - Produto Interno Bruto 2012 ....................................................................... 161
Tabela 16 - Número de estabelecimentos por porte e setor no município de Maricá/RJ ....... 162
Tabela 17 - Receitas e despesas orçamentárias – Maricá, Rio de Janeiro, Brasil. ................. 163
Tabela 18 - IDHM Renda e Renda per capita - em reais ....................................................... 164
Tabela 19 - Renda, Pobreza e Desigualdade - Maricá/RJ ...................................................... 165
Tabela 20 - Composição da população com 18 anos ou mais de idade – 2010 – Maricá/RJ 165
Tabela 21 - Ocupação da população com 18 anos ou mais de idade – Maricá/RJ ................. 166
Gráfico 1 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - Maricá/RJ .......... 80
Gráfico 2 - Fluxo escolar por faixa etária - Maricá/RJ – anos 1991/ 2000/ 2010. ................. 148
Gráfico 3 - Gráficos que demonstram a escolaridade da população de 25 anos ou mais ...... 148
Gráfico 4 - Representação do PIB .......................................................................................... 162
Gráfico 5 - Representação de receitas e despesas orçamentárias ........................................... 163
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
COMPERJ – Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro
CMMAD – Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento
PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente
ECO92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CIDE – Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro
RMRJ – Região Metropolitana do Rio de Janeiro
APA – Área de Proteção Ambiental
COVIBRA – Companhia Vidreira do Brasil
SEAI – Sociedade de Exploradores Agrícolas e Industriais
FUNDREM – Fundação para o desenvolvimento da Região Metropolitana do RJ
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
STN – Secretaria do Tesouro Nacional
PIB – Produto Interno Bruto
PMM – Prefeitura Municipal de Maricá
RBMA – Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
DMA – Domínio Mata Atlântica
CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos
INEA – Instituto Estadual do Ambiente
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
DER – RJ - Departamento de Estradas de Rodagem
DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito
EPT – Empresa Pública de Transportes
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
SAREM – Serviço de Atendimento e Reabilitação Especial de Maricá
CAPS – Ambulatório Geral e Coordenação de Saúde Mental
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 16
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................. 16
1.1.1 Objetivo ................................................................................................................. 18
1.1.2 Justificativa e relevância do tema ......................................................................... 18
1.2 METODOLOGIA ............................................................................................................. 19
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................................... 20
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 21
2.1 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA E URBANISMO BIOCLIMÁTICO ..................... 21
2.2 MEIO AMBIENTE NATURAL E AMBIENTE CONSTRUÍDO .................................................. 32
2.3 PLANEJAMENTO URBANO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL - URBANO ............................. 42
2.4 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO URBANA - AMBIENTAL .......................... 54
3 ESTUDO DE CASO: MARICÁ ..................................................................................... 63
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO ................................................................................. 63
3.1.1 Aspectos territoriais .............................................................................................. 63
3.1.2 Aspectos demográficos ......................................................................................... 66
3.2 HISTÓRICO .................................................................................................................... 69
3.2.1 Ocupação do território .......................................................................................... 69
3.2.2 A evolução urbana no município .......................................................................... 71
3.3 CENÁRIO SOCIOECONÔMICO ATUAL ............................................................................. 78
3.3.1 Aspectos sociais .................................................................................................... 78
3.3.2 Aspectos culturais ................................................................................................. 81
3.3.3 Aspectos econômicos ............................................................................................ 83
3.3.4 Aspectos turísticos ................................................................................................ 86
3.4 ASPECTOS AMBIENTAIS E CARACTERIZAÇÃO URBANÍSTICA .......................................... 90
3.4.1 Aspectos ambientais .............................................................................................. 91
3.4.2 Caracterização urbanística .................................................................................... 97
3.4.3 Morfologias e tipologias urbanas ........................................................................ 115
4 DISCUSSÕES E RESULTADOS ................................................................................. 121
4.1 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO: A EXPERIÊNCIA DE MARICÁ E O IMPACTO DA
IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS .................................................................... 121
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 133
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 136
7 ANEXOS ......................................................................................................................... 146
16
1 Introdução
1.1 Considerações iniciais
Nas últimas décadas, é crescente o número de habitantes que residem nas cidades.
Tendo as cidades surgido como um paradigma da especialização das funções humanas, elas
representam uma mais-valia para a vida humana, no entanto também podem representar uma
grande ameaça quando mal planejadas e geridas. Segundo Richard Rogers (2000) apesar da
cidade ser o habitat atual da humanidade, esta também se caracteriza como o maior agente
destruidor do ecossistema e consequentemente, a maior ameaça à sobrevivência da vida
humana (ROGERS, 2000).
Observa-se que as cidades contemporâneas, sobretudo de países em desenvolvimento,
crescem espontaneamente e são palco de inúmeros problemas sociais, econômicos e
ambientais, onde as desigualdades sociais e a carência de investimentos nas questões de
infraestrutura urbana e de gestão ambiental são as mais evidentes. Além disso, o modelo de
produção e consumo atual empregados, sem o cuidado com o reaproveitamento de recursos
ou a limitação do meio ambiente natural, tem sido a causa de muitas degradações. Pode-se
dizer que a preocupação com os distúrbios ambientais, veio evoluindo, a partir dos
movimentos e conferências mundiais sobre o meio ambiente que foram promovidos desde a
década de 60. Tem-se assim o início de uma consciência ecológica a partir dos diversos
problemas ambientais recorrentes.
Neste sentido, acredita-se na premência da implantação de novas formas de
ordenamento e regulação do crescimento das cidades. Reflexões atuais, conduzem-nos à
necessidade de adicionar sustentabilidade ao desenvolvimento, de forma a regular o ritmo do
crescimento socioeconômico, além da busca por um equilíbrio ambiental. Sendo assim, o
planejamento urbano se insere como possível solução, no sentido da promoção de um meio
urbano e ambiental sustentável, capaz de preservar os recursos naturais, além de promover
melhorias na qualidade de vida dos cidadãos, tendo por base políticas públicas bem
formuladas capazes de cumprir determinados objetivos sociais, ambientais, econômicos,
políticos e culturais.
17
Segundo Richard Rogers (2000), uma cidade sustentável é uma cidade justa, onde há
igualdade de direitos e os cidadãos sentem-se parte de seu governo; é uma cidade bela,
criativa e verde, que promove uma relação equilibrada entre o ambiente construído e a
paisagem, além de ser uma cidade onde as infraestruturas utilizam os recursos de maneira
segura e eficiente, minimizando seu impacto ecológico, e por fim, é uma cidade diversa, que
valoriza o espaço público como meio de promoção da vida em comunidade e a diversidade de
atividades, para uma comunidade humana dinâmica e viva. (ROGERS, 2000)
O presente estudo tem por objetivo apresentar conceitos relevantes relacionados ao
planejamento urbano sustentável e realizar uma análise sobre o município de Maricá, a partir
da discussão destes conceitos. Maricá localiza-se na região metropolitana do Rio de Janeiro e
é um território que vem sofrendo aceleradas transformações decorrentes do processo de
urbanização nos últimos anos, desde sua espontânea expansão à chegada de grandes
empreendimentos. Segundo dados do IBGE, o município apresentou o quarto maior
crescimento populacional projetado do país, entre os anos de 2003 e 2013.
Pode-se dizer que o município de Maricá tem vivenciado um momento de grande
desenvolvimento econômico, fomentado pela exploração petrolífera na bacia de Campos e a
descoberta dos depósitos do pré-sal na Bacia de Santos, a 200 km da costa. A construção do
Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro - Comperj, no município vizinho de
Itaboraí, ampliou também a participação estratégica e a visibilidade de Maricá.
Estando o desenvolvimento diretamente relacionado à vida das cidades, é
fundamental, conforme dito, que um plano de ações sejam tomadas no sentido da
sustentabilidade no ambiente urbano. Para isto, além de um Plano Diretor Urbano capaz de
orientar o desenvolvimento da cidade, fora elaborado pela prefeitura de Maricá um Master
Plan com previsão de atuação de trinta anos, com grandes projetos de infraestrutura, incluindo
a construção de um porto em Jaconé, a ampliação do aeroporto municipal e a instalação de um
corredor de logística, que poderão atender a nova atividade econômica do município, a
indústria petrolífera. Também estão previstas construções de grandes e luxuosos
empreendimentos imobiliários, como condomínios residenciais e um Resort. Algumas ações
foram previstas também no sentido social, como políticas educacionais de qualificação
profissional e inclusão social.
Sendo assim, o estudo será uma análise sobre as estratégias que serão adotadas pelo
município de modo a apoiar o seu crescimento, procurando entender se estão realmente
incluídas dentro dos preceitos de desenvolvimento sustentável de longo prazo, sendo eficaz
socialmente, ambientalmente e economicamente.
18
1.1.1 Objetivo
Este trabalho tem por objetivo a análise e discussão das estratégias de desenvolvimento
do município de Maricá, a partir do aporte do planejamento urbano e ambiental sustentável.
Dentre as particularidades deste município de médio porte ainda em desenvolvimento,
encontra-se o discurso político destacando questões relacionadas à sustentabilidade.
Neste estudo, inicialmente serão apresentados conceitos relativos à sustentabilidade
ambiental, ao planejamento e gestão urbana, além dos instrumentos que regulamentam este
processo de forma legal, e posteriormente serão realizadas discussões tendo como meta
evidenciar como o processo de urbanização pode interferir fortemente na qualidade
socioeconômica e ambiental de um município.
1.1.2 Justificativa e relevância do tema
Em decorrência da falta de um planejamento prévio, investimentos e uma gestão
eficaz, pode-se dizer que o município de Maricá, já enfrenta hoje, problemas urbanos comuns
a outros municípios brasileiros, como a ocupação desordenada de seu território, a consequente
segregação sócio-espacial, o aumento do número de favelas devido a falta de acesso à
moradia, a degradação de seu ecossistema de mata atlântica e a poluição e degradação dos
lençóis freáticos, rios e sobretudo, as lagoas, pela falta de redes de abastecimento e
saneamento. Além disso, é notável que os investimentos no município, nunca foram na
mesma proporção ao aumento da população e isto, gera hoje problemas de ordem social e
ambiental.
Segundo Richard Rogers (2000), as cidades modernas podem ser a causa de um
impacto potencialmente negativo sobre o meio ambiente. Portanto, apenas através do
planejamento e gestão urbana sustentável é possível garantir a proteção do meio ambiente
natural e cumprir com nossas responsabilidades perante as gerações futuras (ROGERS, 2000).
Abordando esta temática como assunto principal, evidencia-se a relevância da
realização deste trabalho de análise crítica sobre as ações adotadas pelo município de Maricá.
Vê-se que a solução dos problemas enfrentados pelo município, bem como o incentivo a seu
desenvolvimento sustentável, não podem estar somente baseados no planejamento, mas sim,
encontram-se na prática de uma gestão eficaz e equilibrada.
19
Atualmente, Maricá ainda apresenta um modelo ineficiente de gestão, onde ainda há a
falta de integração entre uma visão setorial e holística, ou seja, uma visão que considera ao
mesmo tempo, o todo, as partes e suas inter-relações. Desta forma, entende-se que o
urbanismo deve ser aplicado de forma integrada à preservação ambiental.
É necessário e premente a introdução de uma abordagem sistêmica, como um modelo
eficiente de gestão. Neste sentido, a cidade passa ser reconhecida como parte do ecossistema,
e é tratada a partir de uma visão transdisciplinar de conjunto. Isto permite a ampliação da
consciência do indivíduo e o entendimento que as necessidades próprias, na verdade, são as
do meio onde habita, pois passa a compreender seu papel como parte de um todo, necessário a
sua própria sobrevivência.
1.2 Metodologia
Tendo como norteador o objetivo proposto para este trabalho, a metodologia baseia-se
primeiramente em uma pesquisa bibliográfica sobre conceitos relativos à temática de
planejamento e sustentabilidade. Posteriormente, fora realizado um levantamento dos
principais indicadores socioeconômicos do município de Maricá, incluindo informações
iconográficas e históricas, buscando evidenciar ao longo dos anos os investimentos em
infraestrutura realizados. Além disso, uma pequena coleta e interpretação de informações
contidas nos principais planos de ação propostos para o município foram realizados.
Ressalta-se que os dados foram obtidos através de consultas bibliográficas e a órgãos
governamentais para o desenvolvimento da caracterização do município de estudo.
A seguir tem-se os dados relevantes à pesquisa que foram levantados e/ou avaliados:
- Utilização de informações contidas nos principais instrumentos de atuação no
município: Plano Diretor, Master Plan e Agenda 21;
- Interpretação e avaliação de características econômicas, sociais e ambientais;
- Identificação dos principais problemas ambientais e urbanos;
- Identificação das potencialidades e vocações socioeconômicas municipais.
- Exposição das principais ações a serem concretizadas a longo prazo (implantação de
novos empreendimentos e etc)
20
1.3 Estrutura do trabalho
A monografia divide-se em cinco capítulos. O primeiro capítulo, contém as
considerações iniciais, objetivando delinear o tema e o problema em questão, que serão
abordados por este trabalho de pesquisa. Também foram especificados o objetivo e a
justificativa pela escolha do tema, e a relevância deste estudo, além de apresentar a
metodologia e as fontes de pesquisa a serem utilizadas.
O segundo capítulo, apresenta um embasamento teórico conceitual, importante para o
posterior desenvolvimento da pesquisa e das discussões em relação ao estudo de caso, o
município de Maricá. Realizou-se assim uma revisão bibliográfica onde foram abordados
conceitos relativos à sustentabilidade urbana. Neste sentido, foram evidenciadas as questões
mais relevantes para a compreensão do assunto, através da inserção dos conceitos de
urbanismo bioclimático, meio ambiente natural e construído, planejamento urbano e
ambiental e instrumentos de planejamento e gestão urbana-ambiental.
O terceiro capítulo, contém a pesquisa referente ao município de Maricá. Este capítulo
apresenta a caracterização do município, reunindo aspectos territoriais, demográficos,
históricos, sociais, econômicos, urbanos e ambientais, que demonstram as condições do
município a partir de suas principais características atuais.
No quarto capítulo, fora realizada discussão em relação ao plano de desenvolvimento
municipal, a partir de uma análise crítica sobre os principais investimentos e intervenções já
realizadas no município e em relação às perspectivas futuras de atuação por parte do poder
público.
Por fim, o quinto capítulo apresenta as considerações finais e conclusões, retomando
aspectos centrais da pesquisa e ressaltando os desafios que se colocam para o futuro das
cidades, além de permitir a continuidade posterior da discussão de temas tão relevantes
quanto a sustentabilidade e o desenvolvimento contínuo de estratégias que possam delinear o
desenvolvimento das cidades de forma mais equilibrada.
21
2 Revisão bibliográfica
2.1 Sustentabilidade ambiental urbana e urbanismo bioclimático
De modo a embasar o conceito de sustentabilidade ambiental urbana, é necessário a
compreensão dos conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade e suas relações
em meio às questões urbanas e ambientais na qual estão inseridos. Estes conceitos surgiram a
partir dos questionamentos de movimentos ambientalistas, perante a percepção dos impactos
negativos causados ao meio ambiente e à sociedade, pelo modelo de desenvolvimento
adotado, fortalecendo uma crítica a este modelo e apontando a necessidade da busca por um
novo modelo de desenvolvimento, o sustentável. Atualmente, estes conceitos são amplamente
discutidos por diferentes teóricos e estudiosos, que buscam uma solução global necessária ao
equilíbrio ambiental urbano. Por apresentarem inúmeros aspectos a serem analisados, estes
conceitos ainda encontram-se em construção.
A preocupação com as questões ambientais se intensificou no final da década de 60,
quando movimentos e conferências mundiais sobre o meio ambiente, colocaram este assunto
em pauta para discussão. A concepção de um meio ambiente fragmentado e separado do
homem, amplificado pelo modo de produção e consumo capitalista, refletiu uma série de
alterações na paisagem natural, através da degradação do meio ambiente e a consequente
diminuição em relação à qualidade de vida da sociedade. O modelo de produção
implementado pelo homem moderno, baseia-se em um sistema linear, a partir da extração de
recursos naturais e a disposição dos mesmos após sua utilização, sem qualquer preocupação
com o reaproveitamento ou a limitação do meio ambiente natural.
Após a ocorrência de inúmeros eventos destrutivos, relacionados com o atual modelo
predatório de produção e consumo, a sociedade começou a perceber que este modelo não é
sustentável. Inúmeros problemas de caráter ambientais-urbanos, como a erosão e
contaminação dos solos, os desmatamentos, a poluição, a contaminação dos recursos hídricos,
mudanças climáticas, e a extinção de espécies da fauna e flora, etc, levaram à sociedade a
repensar a maneira como vivem.
A partir disso, o conceito de “desenvolvimento sustentável” surge na segunda metade
do século XX e vem ganhando cada vez mais destaque na sociedade, sendo visto como uma
alternativa possível no sentido de minimizar os problemas ambientais atuais, incluindo
também as questões sociais. Segundo Barbosa (2008), “este conceito surge como um termo
22
que expressa os anseios coletivos muitas vezes colocados como uma utopia” (BARBOSA,
2008, p.24), pois infelizmente, por ironia, o que dificulta a implementação deste modelo de
desenvolvimento está justamente relacionado ao modo atual de produção capitalista, onde o
aspecto econômico prevalece sobre os aspectos sociais e ambientais. O desenvolvimento atual
está baseado no lucro e privilegia uma pequena parcela da sociedade. O consumo exacerbado
e a degradação ambiental proveniente da extração de recursos naturais se colocam como
alguns dos empecilhos à mudança.
Atualmente, um dos maiores desafios da sociedade está na transformação das
estratégias ligadas ao desenvolvimento econômico, em um modelo de sustentabilidade que
visa o bem-estar do ser humano e promove a equidade social. Um novo modelo de
desenvolvimento, deve ser encarado como um processo de mudanças, na qual devem ser
compatibilizadas a exploração dos recursos, os investimentos tecnológicos e as mudanças
institucionais com o presente e o futuro (CANEPA, 2007).
Para Bezerra e Bursztyn (2000), o desenvolvimento sustentável é um processo de
aprendizagem social de longo prazo, devendo ser direcionado através de um plano nacional de
desenvolvimento, porém, a pluralidade de atores sociais e interesses envolvidos na sociedade
colocam-se como um entrave às políticas públicas de desenvolvimento sustentável
(BEZERRA; BURSZTYN, 2000). Neste sentido, é necessário o reconhecimento de que o
desenvolvimento sustentável possivelmente será alcançado quando os interesses de todos os
cidadãos estiverem representados, visando o bem-estar e o equilíbrio da vida em sociedade.
Neste contexto, os cidadãos encontram-se unidos em prol de objetivos comuns como: a
equidade social e a busca por soluções para as insustentabilidades geradas no meio ambiente
urbano.
O princípio de uma sociedade sustentável implica o desenvolvimento de valores
sistêmicos fundamentais à manutenção da vida, através da compreensão da concepção de um
mundo em que todos fazem parte, em uma rede de inter-relações, onde mutuamente, um
depende do outro. A partir disso, devem ser cultivados valores sociais e ecológicos, como a
colaboração, cooperação, participação democrática, o não desperdício e não consumismo,
agregados aos valores de autonomia, solidariedade e responsabilidade, em um novo modelo
de desenvolvimento (VITAL, 2012). A introdução de uma abordagem e visão ecológica é
necessária ao equacionamento da relação homem-natureza, em que ficam evidenciadas as
relações de interdependência entre cada ser vivo, sendo assim, o homem começa a se destituir
da ideia de sua pseudo-supremacia sobre a natureza e integra-se no seu próprio cosmo
(MCHARG, 1969).
23
De acordo com a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento -
CMMAD (1988, 1991) os objetivos que descendem do conceito de desenvolvimento
sustentável estão associados ao processo de crescimento da cidade e tem como finalidade a
conservação e uso racional dos recursos naturais incorporados às atividades produtivas. Entre
os objetivos estão: o crescimento renovável; mudança na qualidade de crescimento e garantia
de um número sustentável de habitantes; satisfação das necessidades essenciais por emprego,
água, energia, alimento e saneamento básico; conservação e proteção dos recursos;
reorientação da tecnologia e do gerenciamento de risco, bem como a reorientação das relações
econômicas internacionais (CMMAD, 1988, 1991).
Para além de um controle do crescimento urbano, as questões socioambientais devem
ser revisadas, no que se refere ao uso da terra e a ocupação, incentivo a técnicas menos
invasivas de utilização dos recursos naturais e o reaproveitamento dos mesmos. Os direitos
básicos devem ser garantidos ao ser humano: o suprimento de água, a moradia e serviços
sociais, alimentação, saúde, educação, saneamento, são alguns deles.
Barbieri (2009) indica que o diferencial para um desenvolvimento sustentável está na
incorporação dos valores sociais, políticos e culturais, para o alcance de soluções a problemas
globais que não se encerram na degradação do meio ambiente, proporcionando um meio
socialmente justo e ambientalmente sustentável (BARBIERI, 2009).
Sendo o desenvolvimento sustentável considerado como “aquele que atende às
necessidades humanas do presente sem limitar o potencial para atendimento das necessidades
das gerações futuras” (CMMAD, 1988), faz-se necessária uma ampliação da consciência
humana, no que diz respeito aos diversos aspectos inerentes à vida, através da implementação
de um desenvolvimento que possa promover os princípios básicos de equidade social e
desenvolvimento econômico, levando em consideração sobretudo a questão ambiental.
Figura 1 - Desenho esquemático representando a integração de três dimensões
do triple bottom line, pilares inerentes ao desenvolvimento sustentável
24
O desenvolvimento sustentável deve promover, então, um equilíbrio entre a relação da
vida em sociedade, a utilização sustentável dos recursos naturais disponíveis na base material
do território e o crescimento econômico.
Alguns estudiosos abordam o conceito de sustentabilidade levando em consideração a
relação dos aspectos ecológicos aos econômicos e consideram sua relevância para qualidade
de vida no contexto urbano, contribuindo com as discussões por diferentes abordagens de
configuração do território, tratando do sentido da sustentabilidade para a arquitetura e o
urbanismo, são eles: Sachs (1993), McHarg (1969), Rogers (2000), Maricato (2001), Rolnik
(1997), Barbosa (2008), Romero (2000), dentre outros.
Nas últimas décadas, tem se intensificado a discussão entre a relação das cidades e das
sociedades com o meio ambiente natural, perante à degradação ambiental quase sempre
atribuída à crescente urbanização. Pode-se dizer que as cidades tem se tornado cada vez mais
o foco principal na definição de estratégias e políticas de desenvolvimento, a partir das
perspectivas de crescimento urbano.
No cerne do desenvolvimento, o conceito de sustentabilidade deve inserir-se como
referência a todas as atividades humanas, porém estando ligado de forma intrínseca à
concepção urbanística, novas alternativas sustentáveis de planejamento são fundamentais na
garantia do equilíbrio da relação entre a cidade, as atividades humanas e o meio ambiente.
Sendo assim, os mais diversos setores sociais procuram entender e buscam uma referência
sobre o que seria a sustentabilidade ambiental urbana no processo de planejamento das
cidades. É necessária e premente a busca por novas formas de atuação no ambiente urbano,
através de novas alternativas sustentáveis que possam atribuir qualidade de vida à sociedade,
consolidando uma referência ao processo de planejamento urbano, através de soluções
técnicas pertinentes frente às necessidades urbanas atuais e a formulação de novas leis e
políticas públicas que visem garantir a sustentabilidade do ambiente urbano.
Henri Acselrad (1999), destaca a importância do papel das políticas urbanas, onde a
sustentabilidade ambiental urbana somente poderá ser alcançada através de um modelo de
eficiência política juntamente com um modelo de equidade de cidade, ou seja, uma cidade
para todos os cidadãos. Para Acselrad, a cidade é o espaço de legitimação das políticas
urbanas (ACSELRAD, 1999).
O conceito de sustentabilidade urbana é então, definido por Acselrad como a
capacidade das políticas urbanas se adaptarem a oferta de serviços, à quantidade e qualidade
das demandas sociais, buscando um equilíbrio entre as demandas de serviços urbanos e
investimentos em estrutura (ACSELRAD, 1999). É necessário lembrar, que o conceito de
25
sustentabilidade urbana ainda está em construção, mas sua definição tem como base diversos
aspectos descritos por Acselrad (1999), sendo eles:
1 – A representação tecno-material da cidade. Esta abordagem se dá através de um
modelo de racionalidade ecoenergética e o equilíbrio metabólico, que adota uma
representação ecossistêmica da cidade, onde o consumo do espaço, energia e matérias-primas
devem ser equilibrados, visando o mínimo de transferência de dejetos e rejeitos.
2 – A visão de cidade sustentável como um espaço de qualidade de vida. Deste modo,
Acselrad, exalta os valores de pureza, cidadania e patrimônio, não mais somente os valores
mercantis. A pureza representa os direitos básicos às condições saudáveis de existência, a
cidadania remete a participação da sociedade na construção de políticas urbanas que garantam
a qualidade de vida e o patrimônio se refere aos valores de identidade e heranças históricas e
não somente à materialidade.
3 – A reconstituição da legitimidade das políticas urbanas, através de modelos de
eficiência e equidade. (ACSELRAD, 1999).
Por se tratar de um conceito recente e sem definições precisas, a sustentabilidade
urbana, ainda é pouco considerada nas intervenções urbanas. Ademais, as poucas cidades que
tem a preocupação e o interesse de implementar projetos urbanos ditos sustentáveis, muitas
vezes demonstram divergências quanto ao que vem sendo discutido, por diversos estudiosos,
como base ao projeto urbano sustentável. Sachs (1993), estudioso do conceito de
sustentabilidade, salienta que “o planejamento físico territorial raramente tem-se integrado ao
planejamento econômico e social” (SACHS, 1993), no âmbito do desenvolvimento, sendo
necessário reconsiderar de modo global os padrões de assentamentos e os processos de
urbanização.
Sachs (1993) descreve o que devem ser as cinco dimensões de sustentabilidade a
serem consideradas no planejamento do desenvolvimento: a sustentabilidade social,
econômica, ecológica, espacial e cultural. Sachs entende que a sustentabilidade é possível
através da preservação do meio biótico, limitando o uso dos recursos naturais em equilíbrio
com as atividades socioculturais. De modo a se alcançar a sustentabilidade espacial, Sachs,
aponta a necessidade de uma configuração rural-urbana equilibrada, em conjunto com a
distribuição de assentamentos humanos e atividades econômicas (SACHS,1993). Este modelo
de desenvolvimento, remete ao projeto de cidade-jardim, proposto há mais de um século, por
Ebenezer Howard, onde uma comunidade equilibrada, autossuficiente e politicamente
autônoma, usufruiria das vantagens do campo e da cidade, já sinalizando um princípio para o
conceito de sustentabilidade ambiental urbana, desde aquela época. Entende-se a “importância
26
da relação do campo e da cidade na vida da sociedade, pois ambos são fontes de diferentes
estímulos e emoções essenciais ao homem” (MCHARG, 1969)
Richard Rogers (2000), observa que nos países desenvolvidos, a migração de pessoas
provenientes dos centros urbanos para os subúrbios mais afastados que oferecem um ambiente
natural mais próspero, levou ao aumento dos congestionamentos e da poluição do ar, pelo
aumento do uso dos automóveis. Nos países em desenvolvimento, um dos principais
problemas está na crescente urbanização, sem o acompanhamento de infraestruturas que
suportem tal crescimento.
No Brasil, sobretudo nas grandes metrópoles, são inúmeros os problemas causados
pela crescente e espontânea expansão urbana sem o acompanhamento do poder público, que
traduz-se em uma desorganização do território, com cortiços e favelas. Para Ermínia Maricato
(2001), a imagem das cidades brasileiras atualmente, está relacionada aos problemas atrelados
a este crescimento intenso, sendo eles: a violência, poluição, trafego caótico, enchentes e
desigualdade social, dentre outros (MARICATO, 2001).
Maricato (2001), observa que não é pela falta de planos diretores e nem pela qualidade
técnica, que muitas cidades brasileiras apresentam estes graves problemas, mas pelo fato dos
planos existirem desvinculados da gestão urbana, sendo carregados de um discurso de boas
intenções mas distantes da prática de implementação, onde as leis são aplicadas
circunstancialmente. Sendo assim, é válido refletir sobre o que representa a sustentabilidade
urbana para as cidades brasileiras, pois o país vivencia hoje problemas básicos inerentes às
carências do processo de urbanização: problemas associados à habitação, saneamento básico,
problemas sanitários, uso e ocupação do solo e mobilidade.
Maricato (2001) e Rolnik (1997), acreditam que os problemas ambientais urbanos nas
grandes cidades brasileiras, estão fundamentalmente relacionados aos problemas sociais, e
eles se agravam mutuamente, acentuados pela desigualdade e má distribuição de renda.
Maricato (2001) afirma a importância da expansão da infraestrutura para a diminuição dos
problemas ambientais, pois enquanto a infraestrutura é concentrada, o mercado especulativo e
a exclusão se consolidam ainda mais. As áreas urbanas degradadas ocupadas pela população
de baixa renda, são frágeis e apresentam inúmeros problemas de infraestrutura. Para Rolnik
(1997), é impossível se pensar em uma política ambiental urbana no Brasil sem que esteja
relacionada à uma política social, pois nas cidades brasileiras, a equação urbano-ambiental é
conectada ao tema da exclusão social (ROLNIK, 1997).
A partir da compreensão, de um modo geral, sobre o que significa os desafios da
sustentabilidade, colocam-se alguns dos aspectos a serem considerados no planejamento
27
sustentável, sobretudo de países em desenvolvimento, como o Brasil, que é o foco da
discussão, de forma a garantir a possível sustentabilidade ambiental urbana. Conforme dito,
algumas das principais dimensões a serem consideradas são: a social, ambiental, cultural,
econômica e política e os principais desafios colocados são: a eliminação da pobreza, criação
de um novo modelo de produção, diminuição do consumo, reaproveitamento dos recursos,
controle da poluição, criação e implementação de novas alternativas energéticas, controle da
taxa de natalidade e do crescimento urbano, recuperação ambiental, dentre outros.
Especificamente para as cidades, os desafios se constituem em promover uma política de
gestão urbana eficaz, prover os serviços sociais e infraestrutura necessária, conter a
degradação ambiental, suprir carências sociais, promover a inclusão social e garantir a
qualidade de vida.
Para Leonelli (2008), o conceito de sustentabilidade ambiental urbana pode ser
classificado em duas vertentes: a sócio-urbanista ambiental e a técnica idealista, onde cada
uma aborda o aspecto ambiental de forma particular. A primeira vertente, acredita que os
problemas ambientas são primordialmente de natureza sócio-política, tendenciosa ao
antropocentrismo no discurso da sustentabilidade. Já a segunda vertente, é bastante positivista
quanto à mensuração dos impactos sobre o meio físico e biológico, através de análise
ambiental precisa, elaborando diagnósticos e caracterizações de seus ecossistemas, através de
medidas corretivas, de prevenção, metodologias e instrumentalização, renegando a segundo
plano o entendimento da ação do homem sobre o seu meio, abordando a ação antrópica como
fato dado, passível de correção e mitigação por meio da aplicação do conhecimento técnico
(LEONELLI, 2008, p.18,19).
O planejamento do espaço urbano deve trazer a responsabilidade de aperfeiçoar e dar
alternativas que melhor se adequem às necessidades humanas. Nesta perspectiva, a
sustentabilidade ambiental urbana encontra amplo campo de desenvolvimento, na prática de
um projeto sustentável. O projeto sustentável deve estabelecer um plano de ação que vise a
qualidade ambiental urbana, iniciando no planejamento do uso e ocupação de um território,
através de estratégias que possam promover ainda mais a interação dos elementos naturais
com o meio urbano, considerando a cidade como parte de um ecossistema.
A partir da contextualização entorno do conceito de sustentabilidade ambiental urbana,
apresenta-se o conceito de urbanismo bioclimático, como proposta de atuação no meio
urbano, visando a mitigação de grande parte dos problemas ambientais e urbanos atuais e a
economia nos gastos desnecessários de energia. Coloca-se a possibilidade da inserção dos
princípios bioclimáticos na concepção de novos projetos e também na adequação do meio
28
ambiente construído. Pode-se considerar que a otimização da arquitetura e do urbanismo
dependem do conhecimento e da interação entre o meio urbano e os diversos elementos
ambientais, como o clima, o vento, a radiação solar e outros. Tendências atuais tem apontado
uma maior participação do urbanismo bioclimático nos projetos urbanos, focados no
desenvolvimento sustentável das cidades. Portanto, considera-se que o urbanismo
bioclimático é chave para a gestão eficaz dos recursos, beneficiando e trazendo a melhoria da
qualidade de vida à sociedade.
A cidade pode ser considerada como o meio onde se mesclam as condições naturais e
artificiais, criadas pelo homem, em um movimento de inter-relação e interdependência.
Segundo Ester Higueras (1998), é necessário entender a relação entre o meio ambiente e o
meio urbano, para a compreensão da filosofia do urbanismo bioclimático, determinando e
isolando as variáveis interativas. Sendo assim, pode-se pensar o futuro planejamento urbano a
partir dos critérios bioclimáticos, que visa a economia energética, o aproveitamento dos
recursos ambientais de cada localidade e o equilíbrio do desenho urbano com as variáveis
climáticas, topográficas e específicas de cada munícipio, e assim conseguir uma adequação
em todos os aspectos no processo da concepção dos espaços urbanos (HIGUERAS, 1998, p.5).
Uma definição prevista para o conceito de Urbanismo Bioclimático é a que o
considera como sendo um planejamento integrado de um território, através da união de
projetos de infraestruturas urbanas e edificações de alto desempenho. O urbanismo
bioclimático trata a questão do planejamento sustentável de um ponto de vista técnico e se
utiliza do conhecimento dos sistemas naturais para projetar espaços e edifícios, que garantam
um ambiente confortável para a vida em comunidade e um estilo de vida saudável. O
urbanismo bioclimático tem por objetivo, utilizar as energias disponíveis de modo eficiente,
reduzindo a pegada ecológica dos assentamentos e minimizando os impactos negativos sobre
o ar, a água e o solo e etc. Trata-se de conhecer com profundidade a relação do meio ambiente
natural e seus sistemas com o meio ambiente construído e os impactos e consequências
ambientais e climáticas provenientes desta relação, de modo a nortear as decisões de
planejamento a cerca do uso e ocupação do solo, compreendendo o traçado das redes viárias,
os sistemas de áreas verdes e espaços livres e outros.
Para Ester Higueras (1998), “o sucesso do urbanismo bioclimático está na estreita
relação entre a arquitetura e o urbanismo”. (HIGUERAS, 1998, p.10) Quando uma nova
edificação ou reabilitação, é orientada aos princípios bioclimáticos, através da proposição de
sistemas de ventilação cruzada, brises e paredes térmicas e com relação às questões
urbanísticas de localização, orientação e volumes máximos edificáveis, é capaz de
29
proporcionar um ambiente adequado, onde se tem pleno aproveitamento dos recursos naturais,
como luminosidade e ventilação natural, traduzindo-se em grande economia de energia e
conforto à população.
Douglas Farr (2013) coloca, que uma edificação sustentável certificada, não é positiva
para o meio ambiente quando se encontra cercada por um imenso estacionamento
pavimentado. O mesmo vale para um bairro onde se pode caminhar, ele se torna insustentável
no momento em que suas edificações são construídas com desperdício de materiais e gastos
de energia. Fica evidente que a edificação e o bairro fazem parte do todo, que deve configurar
uma filosofia única para o desenvolvimento sustentável, permitindo a criação de ambientes
humanos focados no bem-estar urbano ambiental (FARR, 2013).
Para Marta Romero (2000), o conceito de arquitetura bioclimática deve ser aplicado
aos ambientes urbanos. A utilização dos elementos climáticos tem relação com fatores de
conforto térmico e condições de saúde do homem. Portanto, deve-se criar ou recriar, no
projeto, ambientes urbanos que possam controlar os elementos climáticos, a partir da análise
das características ecossistêmicas locais, buscando a harmonia das edificações com o clima,
no espaço urbano.
Ao se pensar a concepção de novos espaços urbanos pelo ponto de vista da
sustentabilidade, leva, inevitavelmente, à aplicação dos princípios bioclimáticos no seu
processo, considerando a qualidade do contexto climático no meio urbano, as exigências do
conforto ambiental e o bem-estar social de acordo com as condições do clima em cada região,
estado ou país (VITAL, 2012). Uma vez que todos os climas são diferentes, é necessário que
cada cidade encontre o seu próprio caminho para alcançar a sustentabilidade (CORBELLA,
1998). Sendo assim, os projetos urbanos devem ser adequados às condições particulares de
clima e situação geográfica, onde cada território deve estabelecer um urbanismo característico
e diferenciado em relação a outro território.
É interessante observar como atualmente, diversas cidades tropicais, tem copiado e
implementado modelos de projeto arquitetônicos e urbanos, que não são condizentes com as
suas características climáticas e topográficas. Algumas cidades apresentam edifícios
totalmente envidraçados e sem nenhum tratamento térmico, ou ainda, revestidos com
materiais de cor escura, que facilitam a absorção do calor, aumentando a temperatura externa
e interna, gerando a necessidade da opção por um resfriamento artificial, com gastos e perda
desnecessária de energia (CORBELLA, 2003).
É necessário entender que a urbanização provoca mudanças ambientais, portanto,
compete aos planejadores a ordenação deste processo, para que a interação dos fatores
30
climáticos com a cidade, seja feita de forma equilibrada, repercutindo em mudanças e
alterações mínimas. Ao se aplicar os princípios bioclimáticos na produção e adequação dos
espaços urbanos, fatores como, a qualidade do ar, a conservação de energia, o equilíbrio
térmico e o conforto ambiental são garantidos mediante a relação harmônica entre o ambiente
natural e o construído.
Algumas estratégias gerais, que seguem os princípios do urbanismo bioclimático,
devem ser adotadas na concepção de novos espaços urbanos, como por exemplo: ruas
adaptadas à topografia, que se adequem aos critérios de insolação e ventilação natural; áreas
verdes compostas por espécies vegetais apropriadas e adequadas às características climáticas;
morfologia urbana adequada, através de um parcelamento que promova fachadas e pátios de
edificações bem orientados; diferentes tipologias de edificações que se adequem às condições
de insolação e ventilação, dentre outras.
É válido ressaltar que deve-se considerar a adaptação do território e dos volumes a
serem construídos ao clima local, considerando as variações climáticas sazonais (verão e
inverno), as variações climáticas diárias e os fatores ambientais, como a temperatura e
umidade do ar, o vento e, especialmente a luz solar (VITORIA-GASTEIZ, 2012). Aplicando
esses conhecimentos na produção do espaço, é possível garantir o equilíbrio térmico entre o
homem e o ambiente e a melhoria do conforto ambiental, correspondente à expectativa do
usuário.
Ester Higueras (1998), relata uma proposta de ordenança para as cidades baseada em
critérios ambientais, tendo em conta o clima local. A ordenança bioclimática considera
aspectos tais como: melhoria do microclima em espaços abertos, o aproveitamento da
radiação solar, sistemas de redução de consumo energético da habitação, incorporação
obrigatória de sistemas de captação de energia solar, controle do uso do automóvel, cujo
domínio sofrem cada vez mais as cidades pequenas e médias e a promoção da diversidade de
usos na urbe, que permite aumentar a complexidade funcional da cidade e gerar maior
interação social (HIGUERAS, 1998).
Ester Higueras (1998) ainda propõe uma série de recomendações e estratégias gerais a
serem adotadas no planejamento, de modo a proporcionar o equilíbrio urbano e ambiental e a
qualidade de vida na cidade. Seguindo os preceitos do urbanismo bioclimático, deve-se:
reconsiderar os assentamentos em todo o mundo, e especificar as linhas de atuação de maneira
totalmente particular a cada situação, não cabendo soluções mestras; abandonar a filosofia de
zoneamento, promovendo usos mistos e a diversidade de atividades e incentivando os
percursos a pé, de forma a reduzir as viagens e os consumos de energia para o transporte;
31
integrar a rede de espaços abertos urbanos, de forma a promover a diversidade de usos
recreativos e a interação social; planejar com densidades moderadas a altas, para obter
economia nos custos de implantação de infraestrutura e energia; aproveitar os recursos
naturais, como: sol, vento, água de chuva e controlar e reaproveitar os resíduos sólidos;
incentivar novas técnicas de reaproveitamento e economia de energia e a implementação de
telhados verdes; privilegiar o pedestre em detrimento do carro, sobretudo em áreas centrais
com altas densidades edificatórias; (HIGUERAS, 1998, p.67, 68)
As estratégias colocadas por Ester Higueras, configuram de forma global, a
possibilidade de um projeto sustentável para as cidades, tendo como base os princípios
bioclimáticos. Vale ressaltar que, além da aplicação destes princípios à concepção e
adequação de espaços urbanos, outros aspectos devem ser considerados. Para além da
interação climática, novamente se coloca a interação dos aspectos ecológicos, sociais e
culturais. No entanto, considerando que a cidade é complexa e se encontra em constante
transição, entende-se que a visão de sustentabilidade não esgota o estudo da cidade. As
diversas discussões e questões em torno desta temática, não permitem um conceito único, pois
sempre estaria incompleto.
Por fim, entende-se que ambos os processos naturais e urbanos são necessários ao
equilíbrio da vida do homem contemporâneo. A chave para o planejamento e a concepção de
um projeto de cidade sustentável está na relação entre os princípios teóricos que embasam o
conceito de sustentabilidade ambiental urbana e o conhecimento das condições bioclimáticas
e físico-ambientais de um território (relevo, clima, topografia, hidrografia, solos, vegetação),
que vão possibilitar um projeto completo, onde os processos naturais são minimamente
alterados e impactados e a dinâmica urbana como parte de um ecossistema, proporcionará
qualidade de vida e bem-estar social.
32
2.2 Meio ambiente natural e ambiente construído
Este tópico visa discutir a influência do ambiente construído, na vida da sociedade
contemporânea, bem como as consequências decorrentes deste ambiente, que muitas vezes é
criado de forma pouco planejada. Também serão evidenciadas as mudanças infringidas ao
meio ambiente natural e os efeitos e impactos provenientes das intervenções humanas. Para
isto, é necessária uma abordagem sobre os diferentes conceitos que permeiam este assunto,
incluindo também, novas possibilidades de atuação, através de um enfoque interdisciplinar,
que seja capaz de promover o equilíbrio necessário à sustentabilidade da vida urbana.
Primeiramente, de forma a entender sobre o que se constitui como o meio ambiente
natural e o ambiente construído, é necessário conceituar e definir o termo “ambiente”. Sendo
assim, o ambiente pode ser entendido como aquele “que cerca ou envolve os seres vivos ou as
coisas, por todos os lados; envolvente: meio ambiente”1 (FERREIRA, 1975).
Embora a ideia de ambiente, muitas vezes, nos remeta diretamente à natureza, sendo o
espaço onde existem diversos elementos, como por exemplo, as vegetações, animais, micro-
organismos, o solo, as rochas, a água, o ar, etc, pertencentes ao meio ambiente natural, é
necessário lembrar que o ambiente também contém os diversos elementos construídos pelo
homem, como: casas, pontes e infraestruturas diversas, neste caso, o ambiente construído.
Sendo assim, o ambiente pode ser caracterizado como um conjunto de elementos que
pertencem a um mesmo sistema.
No Brasil, o termo ambiente é definido pela Política Nacional do Meio Ambiente,
como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”2 (PNMA – Lei
n.6.938/1981). No entanto, o conceito de ambiente pode ser ainda mais abrangente e estando
baseado no conceito gerado pela Conferência de Estocolmo3, precursora do sentido de
preservação ambiental, entende-se o ambiente como o “conjunto dos sistemas físicos,
químicos, biológicos e suas relações e dos factores económicos, sociais e culturais com efeito
directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do
1 Conceito de ambiente definido pelo Dicionário Aurélio. 2 Conceito de ambiente estabelecido pela Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) - Lei n.6.938 de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto n.99.274 de 6 de junho de 1990. 3 Conferência organizada pelas Nações Unidas em 1972.
33
homem” 4 (Lei de Bases do Ambiente – Lei n. 11/87). Observa-se que este é um amplo
conceito, que aplica e considera outros valores agregados ao termo ambiente, além de
ressaltar as atividades e interações do homem e os processos e interações naturais. Através
deste conceito, observa-se que as considerações acerca do meio ambiente natural e do
ambiente construído, estão além da simples interação entre estes, mas também estão
associadas à outras questões, como sociais, econômicas e políticas.
O ambiente construído pode ser definido como aquele gerado a partir da intervenção
humana sobre o meio ambiente natural, sendo as cidades o mais completo exemplo neste
sentido. O ambiente urbano é o espaço que o ser humano cria artificialmente para desenvolver
suas atividades. Sendo assim, as cidades são consideradas o espaço primordial do homem,
local onde ele realiza todas as suas atividades e relações, podendo ser então compreendidas,
como a máxima representação do desenvolvimento técnico, econômico e social das
sociedades humanas.
O ser humano tem aumentado gradativamente sua atuação sobre o meio ambiente
natural, especialmente após a revolução industrial e acentuadamente nas últimas décadas.
Desde muitos anos, é possível observar os efeitos devido à transformação por meio de ações
na mudança física do ambiente natural em ambiente construído (ROSSI, 2003), que tem sido a
causa de degradação e insustentabilidades. Visto isso, entende-se que atualmente, para as
cidades, o diferencial consiste na introdução de uma abordagem distinta em se tratar os
conflitos e os dilemas sociais, ambientais e urbanos. Uma abordagem que os trate de forma
conjunta e inter-relacionada, conhecendo e diagnosticando as causas e revertendo a dinâmica
de produção das insustentabilidades geradas no meio urbano (LEONELLI, 2008). Sendo
assim, coloca-se a importância de um enfoque interdisciplinar no planejamento das cidades,
fortalecedor de uma visão global, favorecendo uma integração total e possibilitando um
desenvolvimento sustentável.
Em dado momento, o distanciamento do ser humano em relação à natureza, tornou-o
indiferente às questões de preservação do meio ambiente natural, onde muitas vezes à
natureza foi atribuído um valor instrumental, somente de uso, acarretando muitos danos e
degradações ao planeta. A sociedade de consumo atual, explora os recursos naturais a uma
taxa em que o planeta não é capaz de sustentar. Douglas Farr (2013) considera que a metáfora
da “pegada ecológica” dá-nos uma visão clara sobre as demandas do estilo de vida
contemporâneo, através de categorias como: alimentação, bens e serviços, transporte, 4 Conceito de ambiente, adotado em Portugal, pela Lei de Bases do Ambiente – Lei n. 11/87, de 07 de Abril. Referência: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=752&tabela=leis Acesso: 8 abril 2015.
34
moradia, consumo de energia e etc e nos mostra o limite de capacidade que o meio ambiente
natural tem para suportar as demandas por este estilo de vida. Seriam necessários quase 5
planetas para suprir todo este consumo (FARR, 2013).
A partir do reconhecimento da natureza e seus elementos, como suporte e condição
fundamental à vida, ampliaram-se as discussões em torno do conceito de sustentabilidade.
Sendo assim, a questão fundamental está na busca por um equilíbrio entre as demandas do
estilo de vida do cidadão contemporâneo e sua atuação sobre o meio ambiente natural.
O conceito de sustentabilidade pode ser entendido através das variáveis de tempo e
espaço. Sendo assim, observa-se que para a possível obtenção da sustentabilidade ambiental
deve-se promover o encontro de um ponto compatível entre a ação humana ao meio ambiente
(espaço) através do tempo (CONSTANZA, 1991 apud LEONELLI, 2008). O tempo está
atribuído à constante transição, onde é necessária uma atenção especial às consequências de
iniciativas que possam colocar em risco as condições de vida das futuras gerações. Através da
valorização da natureza, pelo entendimento de que esta é o sistema responsável pela
existência da vida humana, novas estratégias de intervenção devem ser elaboradas, visando
um desenvolvimento sustentável.
Estas estratégias devem estar baseadas nas potencialidades dos ecossistemas, quanto
ao manejo sustentável de seus recursos naturais, onde as intervenções no meio se reflitam em
impactos mínimos. É necessária a compreensão do planeta, como um sistema com recursos
finitos (ROGERS, 2000).
Através do processo de intervenção humana sobre o meio ambiente natural, pela
construção das cidades, Richard Rogers (2000) sugere que as cidades devem conceber-se
como verdadeiros sistemas ecológicos, desta forma, poderá ser obtida uma otimização da
exploração e utilização dos recursos naturais, reduzindo assim os impactos provenientes da
construção das cidades sobre o meio ambiente natural (ROGERS, 2000). Neste contexto,
pode-se dizer que as cidades devem ser consideradas como ecossistemas abertos, uma vez que
necessitam de recursos naturais e energia ao seu funcionamento e por conseguinte produzem
resíduos a quantidades que o planeta não tem conseguido assimilar, gerando danos e
degradação. Sendo assim, o planejamento e a gestão das demandas urbanas, como moradia,
transporte, alimentação, formas de trabalho, lazer, etc, acabam por determinar a extensão dos
impactos provocados pelas intervenções ao meio ambiente natural, sobretudo nos processos
de urbanização. Por este motivo, defende-se a ideia da concepção da cidade como um
“sistema ecológico”.
35
Um exemplo bastante recorrente em grandes cidades, que evidencia a atual disfunção
do ambiente construído sobre o ambiente natural, são os transbordamentos dos rios urbanos.
Sendo as várzeas dos rios, tomadas no decorrer do processo de urbanização, sua característica
de sistema drenante se torna extremamente prejudicada. Na tentativa de minimizar estas
inundações, algumas medidas como a construção de piscinões e paliativos, são adotadas, no
entanto, estas medidas muitas vezes interferem no ciclo hidrológico (GORSKI, 2010). Neste
sentido, fica mais do que evidente que a atuação humana sobre o meio ambiente natural deve
ser reformulada. Percebe-se que qualquer alteração no meio ambiente natural não pode ter
somente um caráter pontual, pois isto muitas vezes causa uma desordem nos processos e
interações naturais. Vê-se que a partir da concepção de um planejamento que busque a
integração e um equilíbrio na relação entre o ambiente construído e o meio ambiente natural,
considerando uma visão do todo abrangente, como o contexto onde a vida acontece, a
minimização dos impactos ao meio ambiente estará garantida.
Sendo assim, coloca-se que o desenho urbano das cidades deve ser pensado a partir de
uma visão global, de conjunto, onde são consideradas as inter-relações entre todos os
elementos, em uma concepção de conectividade, onde o todo está na parte e a parte está no
todo. Além disso, é necessário a introdução de valores, a partir do reconhecimento da função
vital da natureza, como a sua preservação, conservação e recuperação. Esta prática constrói
novas possibilidades de reconciliação e reconexão do homem com a natureza e permite uma
ampliação de sua consciência.
A partir da compreensão de que as cidades são complexas e estão em constante
transição, entende-se que os estudos em torno de proposições e soluções nos seus diversos
aspectos devem ser constantes. O planejamento de cidades mais sustentáveis requer um amplo
entendimento e a consideração de diversos aspectos, como a relação entre os cidadãos,
serviços, políticas de transporte e geração de energia, assim como seu impacto total tanto
sobre o seu entorno imediato, quanto sobre uma esfera geográfica mais ampla. De forma a se
alcançar cidades autenticamente mais sustentáveis é necessária a consideração de diversos
fatores ambientais, urbanos, econômicos e sociais, onde estes estejam integrados no
planejamento urbano. Neste sentido, deve-se refletir como as cidades devem projetar-se de
forma a absorver o crescimento populacional e serem ao mesmo tempo sustentáveis, onde
possam oferecer oportunidades, sem hipotecar seu futuro e nem o de futuras gerações
(ROGERS, 2000).
Conforme dito, através de perspectivas sustentáveis, ao se considerar a inserção do
ambiente construído no ambiente natural, deve-se prementemente planejar com uma visão do
36
todo, de forma a garantir além do bem-estar humano, a minimização dos impactos ambientais
provenientes das intervenções humanas em meio à natureza e também garantir uma eficácia
maior no processo de gestão da cidade (ROSSI, 2003)
Para a realização dos objetivos propostos, por esta visão de sustentabilidade colocada,
entende-se que isto depende muito da motivação dos cidadãos, que devem estar
comprometidos a mudar seus padrões de vida, como por exemplo, estimular mudanças
profundas nos hábitos de consumo. Esta nova postura advém do questionamento sobre o
entendimento da vida e a posição do ser humano no mundo. Sendo assim, a sociedade será
capaz de agregar valores, como o respeito mútuo e o respeito à natureza, através da
valorização da diversidade natural existente no planeta e a valorização da vida em todas as
suas formas de manifestação. O ser humano passa então, a reconhecer a natureza como
fundamental à vida e portanto, age de forma à preservá-la.
É visto que para que haja uma verdadeira minimização dos danos provocados ao meio
ambiente, através de novas estratégias, há que se modificar muitos hábitos de vida e de
trabalho da sociedade, além das condições conjunturais do desenvolvimento das cidades
(ROSSI, 2003). Os princípios de uma sociedade sustentável, se dá a partir de uma mudança
comportamental, onde é necessária a compreensão de que tudo e todos pertencem a um
mundo, no qual as interações são feitas a partir de redes de inter-relação e interdependência,
ou seja, onde mutuamente, um depende do outro.
Na busca por um caminho mais sustentável para as cidades, a concepção e a adaptação
dos espaços urbanos deve promover a interação social entre os indivíduos e fortalecer o
aspecto de pertencimento, onde o indivíduo sinta-se integrado e responsável pelo ambiente em
que se encontra. Sendo assim, valores sociais e ecológicos devem ser cultivados, como a
colaboração, a cooperação, a solidariedade e a responsabilidade, em um novo modelo de
desenvolvimento sustentável.
Para McHarg (1969), uma visão ecológica é necessária à relação da vida do homem
com a natureza, onde ficam evidentes as relações de interdependência entre cada ser vivo.
Neste sentido, o homem começa a se desfazer da ideia de dominação sobre a natureza e volta
a se integrar em seu próprio cosmo. McHarg enfatiza a importância do projeto dos ambientes
humanos em conjunto com a natureza, considerando a cidade como parte do ecossistema
(MCHARG, 1969). Ele expressa:
“É preciso produzir as análises dos impactos ambientais, para assim formular um planejamento ecológico, baseado no relacionamento saudável entre o homem e o meio ambiente, e aliados à tecnologia
37
contemporânea e o conhecimento científico, criar uma estratégia que favoreça a ambos.” (MCHARG, 1969)
Fritjof Capra (1982; 1996) 5, físico e filósofo, também é adepto da concepção das
cidades através de uma visão ecológica. Ele considera que todas as ações do ser humano, se
revertem diretamente à ele, quando coloca:
“Tudo o que acontece com a Terra, acontece com os filhos e filhas da Terra. O homem não tece a teia da vida; ele é apenas um fio. Tudo o que faz à teia, ele faz a si mesmo.” (CAPRA, 1996, p.7)
Considerando que o ambiente natural e o ambiente construído se constituem como
partes de um todo maior, em uma visão ecossistêmica, Capra (1982; 1996) confronta os
paradigmas mecanicistas e darwinistas, aceitos atualmente e propõe uma nova base para
políticas ecológicas. Neste sentido, Capra (1982; 1996) propõe uma mudança de uma visão
reducionista à uma visão sistêmica e complexa. Um novo paradigma ecológico é introduzido
por Capra, onde poderá permitir a construção e a sustentabilidade das cidades, sem colocar
em risco as oportunidades para futuras gerações. Neste sentido, são colocadas novas
perspectivas de atuação sobre a natureza, ampliando e estimulando uma autêntica
interdisciplinaridade. A partir da consideração sobre uma visão abrangente e sistêmica, Capra
(1982) introduz:
“A Terra é, pois, um sistema vivo; ela funciona não apenas como um organismo, mas, na realidade, parece ser um organismo Gaia6, um ser planetário vivo. Suas propriedades e atividades não podem ser previstas com base na soma de suas partes; cada um de seus tecidos está ligado aos demais, todos eles interdependentes; suas muitas vias de comunicação são altamente complexas e não-lineares; [...] Essas observações foram feitas num contexto científico, porém transcendem largamente o âmbito da ciência.” (CAPRA, 1982, p.278)
A questão central, de uma visão e abordagem sistêmica, colocada por Capra (1982), é
a noção de um sistema como uma unidade complexa, onde tudo está inter-relacionado. Porém,
não se pode esquecer de considerar a totalidade, que constitui estas redes de inter-relações.
Para Capra (1996), todas as formas de vida estão em conexão. Sendo assim, ele 5 Autor dos livros: “O Ponto de Mutação” (1982) e “A Teia da Vida” (1996). 6 Lovelock (1991) apud Capra (1996), é um cientista que desenvolveu a teoria de Gaia, considerando a Terra, como um único organismo vivo que se autorregula. Ele também insere questões em sua pesquisa, como a busca por respostas ligadas à existência da vida.
38
descreve alguns dos princípios básicos da ecologia, que norteiam as ligações de um sistema
complexo e possibilitam a garantia da viabilidade e sustentabilidade da vida. É necessário
“entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar
esses princípios para criar comunidades humanas sustentáveis” (CAPRA, 1996, p.230). Para
Capra (1996), “a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica,
da nossa capacidade para entender esses princípios da ecologia e viver em conformidade com
eles.” (CAPRA, 1996, p.234) Sendo assim, estes princípios devem ser compreendidos e
incorporados na vida urbana, de forma a trazer de volta o equilíbrio do ecossistema em que
vivemos. Neste sentido, ressalta-se que os princípios da concepção da arquitetura e o do
urbanismo, devem considerar a complexidade do sistema, como um instrumento fundamental
à proposição de novas estratégias.
Os princípios básicos da ecologia, expostos por Capra (1996), que podem ser
utilizados como diretrizes rumo à construção de comunidades humanas mais sustentáveis, são
os seguintes:
- Interdependência: onde todos os membros da comunidade ecológica estão
conectados em uma ampla e complexa rede de relações, entendida como a teia da vida;
- Reciclagem: sendo os sistemas abertos, todos os resíduos produzidos, são tidos
como nutrientes e por isso, são continuamente reciclados, portanto o ecossistema como um
todo, permanece isento de resíduos;
- Parceria: é uma característica essencial das comunidades sustentáveis. Num
ecossistema, os intercâmbios cíclicos de energia e de recursos são sustentados por uma
cooperação generalizada. Nas comunidades humanas, parceria significa democracia e poder
pessoal, pois cada membro da comunidade desempenha um papel importante.
- Cooperação: estabelecimento de vínculos. É importante reconhecer a cooperação
contínua e a dependência mútua entre todas as formas de vida como aspectos centrais da
evolução;
- Flexibilidade: está relacionada à capacidade de adaptação e sobrevivência. O
princípio da flexibilidade também sugere uma estratégia correspondente para a resolução de
conflitos.
- Diversidade: uma comunidade diversificada é uma comunidade elástica, capaz de se
adaptar a situações mutáveis; (CAPRA, 1996).
O princípio da diversidade também pode estar relacionado a uma variedade de usos,
trazendo dinâmica aos espaços urbanos. Além disso, também pode estar relacionada à
diversidade visual e cultural dos espaços, oferecendo mais opções e experiências aos
39
habitantes (BENTLEY, 1999 apud BARBOSA, 2013 p.152).
Dentro de uma visão ecológica e através de uma abordagem que reconhece o todo, o
pensamento sistêmico se insere, como forma de integração, cooperação e equilíbrio entre as
mais diversas áreas e funções, determinando a maneira como o ser humano deve inserir-se no
mundo. Pode-se dizer que a ecologia permeia a vida, dentro desta perspectiva, é necessário
desenvolver novas ideias que correspondam às reais necessidades da cidade, como o habitat
humano e do meio ambiente natural, pois estão interconectados. Para isto, é necessária e
premente o emprego de estratégias sustentáveis, o incentivo a busca por novas tecnologias e
projetos que contemplem práticas ambientais regenerativas, capazes de devolver ao meio
ambiente natural a maior parte dos recursos que foram utilizados, restabelecendo o meio.
Neste contexto, é necessário reconhecer que “a natureza cíclica dos processos ecológicos é
um importante princípio da ecologia” (CAPRA, 1996, p.231) e este processo natural é
fundamental ao equilíbrio do ecossistema. O ser humano, deve ser capaz de reconhecer este
princípio e empregá-lo em sua atuação, considerando a vital importância do aspecto cíclico,
na manutenção deste sistema natural.
Capra (1996) considera que um processo cíclico, como a reciclagem, é um princípio-
chave da ecologia, que pode ser transportado para a realidade do ambiente construído. Através
de uma visão ecológica, a reciclagem pode ser explicada por meio do termo “equilíbrio
fluente”, que expressa a coexistência de equilíbrio e de fluxo, de estrutura e de mudança, em
todas as formas de vida. Sendo assim, todas as estruturas vivas pertencem a sistemas abertos,
onde dependem de contínuos fluxos de energia e de recursos. Todos os organismos vivos de
um ecossistema produzem resíduos, porém o que é resíduo para uma espécie é alimento para
outra. Neste sentido, os resíduos são continuamente reciclados e o ecossistema como um todo
pode permanecer isento de resíduos (CAPRA, 1996) Neste caso, pode-se evidenciar que o
conceito de reciclagem, é expresso em um processo cíclico/circular, onde os resíduos gerados
retornam ao meio ambiente em um constante fluxo.
Esta é também uma visão colocada por Rogers (2000) e Herbert Girardet (1993),
urbanista e ecólogo. Girardet (1993) aponta que o diferencial de cidades que aspiram a um
desenvolvimento sustentável, está na consideração de um “metabolismo circular”, onde é
possível reduzir o consumo de recursos, melhorando o rendimento e aumentando sua
reutilização. Sendo assim, deve-se promover a reciclagem dos materiais e o reaproveitamento
dos recursos, bem como, incentivar a redução do consumo, a conservação de energias
esgotáveis e a utilização de energias renováveis.
40
Os atuais processos lineares de produção e consumo, adotados por muitas cidades, que
são causas de degradação e poluição do meio ambiente, devem ser substituídos por processos
circulares, que promovam o uso e a reutilização dos recursos e materiais, onde diminuam
drasticamente a produção de resíduos e a contaminação. Estes processos aumentam o
rendimento geral da cidade e reduzem seu impacto sobre o meio ambiente. Para se alcançar
esta meta, é necessário planejar as cidades para que possam gerir eficazmente a utilização dos
recursos, segundo novas formas de planejamento “globalizadoras” (ROGERS, 2000). Partindo
desta ideia e considerando que tudo se inter-relaciona, é necessária a inclusão dos princípios
dos “3Rs” no âmbito das cidades, como forma de redução, reutilização e reciclagem de
recursos e materiais, promovendo um equilíbrio necessário ao ecossistema e garantido
qualidade de vida.
Figura 2 - Cidades com metabolismo linear
Fonte: Adaptado de Rogers (2000)
Figura 3 - Cidades com metabolismo circular Fonte: Adaptado de Rogers (2000)
41
Estas imagens, demonstram as cidades de metabolismo linear (Figura 2), que
consomem e contaminam em grandes proporções e as cidades de metabolismo circular
(Figura 3), que reduzem ao máximo o consumo de matérias-primas e incluem a reciclagem
como um processo, (ROGERS, 2000) que gera inúmeros benefícios, conforme citado.
Alguns autores, como Ian McHarg (1969), Rogers (2000) e Girardet (2001),
consideram que a tecnologia pode ajudar nas soluções dos problemas ambientais provenientes
das degradações pelas intervenções humanas pelo processo intenso de urbanização e das
explorações pelos padrões de consumo atuais.
O emprego de novas tecnologias tem fundamental valor nas soluções que visam a
mitigação dos impactos ao meio ambiente, porém faz-se necessário ressaltar que além disto
outras ações sociais e políticas também devem ser adotadas, ao se tratar os problemas
ambientais e urbanos, afetando mais diretamente as causas de produção das
insustentabilidades no meio urbano. Sem dúvida, isto repercutirá em resultados mais
satisfatórios e duradouros e se reverterá na ampliação dos interesses quanto às questões
ambientais e impactará positivamente, trazendo bem-estar social e qualidade de vida, na busca
pela sustentabilidade.
Por fim, a visão abordada neste tópico, compreende a sustentabilidade como uma meta
a ser alcançada em um processo de longo prazo e entende que “os diferentes posicionamentos
políticos quanto às questões ambientais mais abrangentes, assim como as atitudes individuais,
podem influenciar no processo para a sustentabilidade” (BARBOSA, 2013, p.62).
Ressalta-se que é fundamental que as sociedades busquem novas possibilidades, em
modelos mais eficientes de planejamento e gestão de suas cidades, possibilitando um
desenvolvimento sustentável. Neste sentido, é necessária a integração entre uma visão setorial
e holística, onde considera-se o todo, suas partes e as inter-relações.
Vê-se que uma abordagem sistêmica é urgente e necessária ao processo de
planejamento e gestão da cidade, como ampla forma de análise e consequente integração entre
os diversos elementos existentes, a serem considerados, no meio ambiental e urbano. Desta
forma, a cidade é reconhecida como parte do ecossistema e é tratada a partir de uma visão
transdisciplinar, de conjunto, incluindo o ser humano e suas necessidades, como escopo
principal, no processo de planejamento e ordenação da cidade. Esta abordagem permite
também a ampliação da consciência do ser humano, pois ele passa a compreender seu papel
como parte do todo, na relação homem/mundo.
42
2.3 Planejamento urbano e planejamento ambiental - urbano
As cidades podem ser consideradas como o principal habitat da humanidade.
Atualmente, estima-se que 50% da população mundial vive em cidades e este crescimento só
tende a aumentar, podendo chegar a 70% no ano de 2050 (ROGERS, 2000). Neste contexto,
entende-se que planejar e ocupar criteriosamente o uso do solo urbano, coloca-se como uma
medida urgente e necessária, pois o aumento da população e a consequente expansão urbana,
sem um planejamento que a oriente, se configura na perda de qualidade de vida, pelos
impactos negativos causados ao meio natural e ao meio urbano, pelo aumento das demandas
por recursos em todas as áreas da vida urbana, provenientes deste processo de crescimento.
Os aspectos que configuram esta problemática são: a insuficiência de abastecimento
de água e energia, a ineficácia de gestão dos resíduos domésticos e do esgotamento sanitário;
a ausência e a precariedade de espaços públicos, sobretudo, os de lazer; a ineficiência do
sistema de mobilidade; o aumento do número de automóveis; o sistema de circulação
subdimensionado; a formação de ilhas de calor e as frequentes inundações; dentre outros
(VITAL, 2012). Observa-se que estes aspectos, decorrentes da falta de planejamento, geram
impactos negativos também ao meio ambiente, como a contaminação e poluição de recursos
hídricos e do solo, a poluição do ar, desperdícios de energia e recursos naturais, a degradação
de áreas com cobertura vegetal, etc. Neste sentido, a cidade é vista também como uma das
principais causas de impactos negativos e degradação nos ecossistemas naturais, por isso, é
importante a inserção da questão ambiental no âmbito do planejamento urbano, incluindo
valores ecológicos de conservação, preservação e recuperação, na concepção e na adequação
das cidades. Coloca-se como fundamental a inserção do conceito de sustentabilidade, na
criação e implementação de novas estratégias de planejamento e gestão urbana e ambiental.
Entendendo que as diretrizes de crescimento e desenvolvimento das cidades, devem
ser expressas no planejamento, a escala local, parece a priori, como a mais adequada para
tratar e compreender os problemas ambientais recorrentes no meio urbano, relacionados aos
recursos hídricos, aos processos de degradação do solo e às áreas de proteção da vegetação,
dentre outros. Tem-se visto hoje, a importância da criação e implementação de novas
unidades de planejamento e gestão ambiental, onde os problemas ambientais possam ser
tratados de forma mais integrada, sendo a gestão por bacias hidrográficas, um exemplo neste
sentido.
43
Uma possível definição para o conceito de planejamento urbano é a que o configura
como sendo um conjunto de ações propostas pelo Estado, tendo em vista o interesse coletivo,
envolvendo a organização e o controle do uso do solo aplicado ao território de um município
individualmente (DÉAK, 1999; LEME, 1999). Considerando a cidade como um sistema
complexo, no âmbito do planejamento, ela está sujeita a diversas influências e decisões por
diferentes pontos de vistas: sociais, econômicos, políticos e administrativos. Vale ressaltar,
que atualmente, no processo de planejamento, também são inseridas novas questões, como a
sustentabilidade ambiental e a participação social.
Slocombe (1993) refere-se ao planejamento como tradicional ou ambiental. O
planejamento tradicional é o planejamento urbano ou regional, que enfoca a sociedade, o uso
da terra, a economia e a infraestrutura, através de um processo apoiado por metas, planos e
regulamentos. Já o planejamento ambiental também engloba o ambiente biofísico onde vivem
as comunidades e analisa os efeitos de atividades de desenvolvimento e de outros
planejamentos (SLOCOMBE, 1993 apud BARBOSA, 2008). Neste sentido, é possível perceber
que os aspectos ambientais e urbanos são indissociáveis e portanto, devem ser tratados de
forma integrada no processo de planejamento, uma vez que é no meio ambiente natural que o
homem atua, por meio de ações na mudança física do ambiente natural, transformando-o em
um ambiente construído. Não considerar a unicidade dos aspectos urbanos e ambientais,
agrava os problemas oriundos da ocupação do solo urbano.
Ignacy Sachs (1993) entende o planejamento como um instrumento capaz de
harmonizar a equidade social, a sustentabilidade ecológica, a eficácia econômica, a
acessibilidade cultural e a distribuição espacial equilibrada das atividades e dos assentamentos
humanos (SACHS, 1993). Neste sentido, vê-se que o autor agrega outros valores ao
planejamento e ressalta a importância da implementação da questão ambiental no processo.
Esther Higueras (1998) também salienta a necessidade de se considerar no
planejamento urbano, os aspectos ambientais, através do adequado aproveitamento dos
recursos naturais locais e também da adoção de critérios de economia de energia no
planejamento, de modo a equilibrar o desenho urbano com as variáveis climáticas,
topográficas e territoriais de cada município e assim, alcançar a otimização em todas as áreas
urbanas (HIGUERAS, 1998, p.5). Esta autora acredita que somente um planejamento urbano e
ambiental sustentável é capaz de promover a integração necessária entre os elementos do
meio ambiente construído (edificações e infraestrutura) e os elementos do ambiente natural
(clima, geomorfologia, flora e fauna), visando a minimização dos impactos negativos,
44
decorrentes do processo de urbanização, como a contaminação do meio e a excessiva
produção de resíduos (HIGUERAS, 2006)
Atualmente, alguns progressos podem ser observados na prática do planejamento
urbano, que encontra-se cada vez mais integrado e ligado aos aspectos ambientais,
evidenciando de uma vez por todas a importância da ampliação do termo de planejamento
urbano ao planejamento ambiental-urbano, configurando-se assim, como um instrumento
fundamental no equilíbrio desta relação.
É válido relembrar que a preocupação com a questão ambiental no planejamento, deu-
se a partir da crise ambiental, iniciada ainda no século passado. Com o reconhecimento de
diversos problemas socioambientais enfrentados no meio urbano, diversos autores e
estudiosos, passaram a refletir sobre a relação das cidades e sociedades com o meio ambiente
natural, buscando novas perspectivas de atuação no meio urbano.
Alguns estudiosos merecem destaque, por terem influenciado fortemente o
planejamento e o projeto urbano de novas cidades e também nas intervenções de cidades já
consolidadas. Pode-se destacar, por exemplo, a participação de Howard e a concepção da
Cidade Jardim. A repercussão de suas ideias de projeto, muito influenciaram o planejamento
das cidades do século XX. Na tentativa de solucionar os problemas que as grandes cidades
londrinas estavam vivenciando, provenientes da instalação das indústrias, como o crescimento
populacional desmedido e as precárias condições urbanas, Howard (1996), propôs uma
comunidade ideal, equilibrada, autossuficiente e politicamente autônoma, que usufruiria das
vantagens do campo e da cidade, a Cidade Jardim. Vê-se que este era um modelo de ideias
promissoras, onde já se exaltava o valor da consideração dos aspectos ambientais no
planejamento urbano.
Algumas das ideias propostas no modelo de Cidade Jardim (Figura 4) foram: a
limitação do crescimento da urbe através de um cinturão verde, que garantia além da
produção agrícola, a contenção da expansão urbana; a proposição de um modelo
radioconcêntrico, com a limitação de um número máximo de cerca de 30 mil habitantes por
cidade; a consideração de uma rede de cidades e de um sistema viário eficiente que pudesse
interligar estas cidades; a incorporação de grandes áreas verdes remetendo às lembranças do
campo; a implementação de uma gestão administrativa para todo o ambiente urbano, evitando
a especulação imobiliária e o adensamento exagerado; e além disso, a consideração no
projeto, de aspectos como: a topografia, a incidência solar e a ventilação, de modo a
proporcionar conforto ambiental e bem-estar à vida urbana (HOWARD, 1996).
45
Figura 4 - Diagrama da Cidade Jardim – Distrito e Centro da Cidade
Ebenezer H. 1902. Fonte: Howard, 1996
As propostas urbanas modernistas, desenvolvidas como modelo por estudiosos e
planejadores da época, onde estão incluídas também as ideias de Howard, tiveram
fundamental importância na conformação do pensamento urbanístico. A partir da análise
crítica feita posteriormente, à algumas das ideias propostas, é possível observar atualmente,
tanto problemas, quanto soluções urbanas, vivenciadas pelas cidades que foram planejadas a
partir da influência destas ideias.
Dentre os autores que criticaram estes modelos de planejamento, destaca-se Jane
Jacobs. A análise crítica de Jacobs (2000) sobre o planejamento urbano moderno, evidencia os
efeitos produzidos pela organização da cidade neste modelo, onde muitas vezes os valores de
diversidade e complexidade são eliminados do contexto social (JACOBS, 2000). Jacobs
critica, sobretudo, o modelo proposto por Howard, de Cidade Jardim, que foi muito utilizado
como referência no planejamento das cidades modernas. Para a autora, este modelo propicia a
formação de subúrbios-jardins segregadores e elitistas. Ela também considera que este modelo
é propulsor de uma ausência de vida nas cidades, pois separa os usos e as funções do todo e
cria um status de independência para cada um deles (JACOBS, 2000, p.18).
Neste sentido, observa-se que o zoneamento é uma das principais características
provenientes dos modelos de planejamento modernistas. Desta forma, a cidade é dividida por
zonas de atividades e usos, onde a área de moradia é distante da área de trabalho. Sabe-se
hoje, que este modelo de planejamento é prejudicial à vitalidade e à diversidade das cidades
(ROGERS, 2000). Jacobs critica este modelo de zoneamento adotado por algumas cidades
norte-americanas, onde a separação do centro comercial das áreas de moradia, agrava a
poluição do ar, pelo aumento do uso de veículos automotores nos deslocamentos. Jacobs
ressalta a importância de o planejamento urbano favorecer o convívio social e o uso das ruas
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por pedestres, minimizando a necessidade do uso de automóveis para locomoção (JACOBS,
2000).
A partir da análise crítica feita por Jacobs (2000), às ideias modernistas e ao modelo
de Cidade Jardim, vale ressaltar que as questões colocadas pela autora, são pertinentes, no
sentido do resgate da diversidade e complexidade das cidades atuais, compreendendo que as
práticas urbanas atuais, advindas deste modelo, como a promoção da descentralização, o
zoneamento de funções e além disso, a redução populacional nos centros, se configuram na
perda de qualidade de vida.
Apesar das críticas negativas feitas por Jacobs, cabe colocar que o modelo de Cidade
Jardim, contribuiu significativamente, através das diversas propostas introduzidas, como: a
limitação da urbe, a proposição de um modelo radioconcêntrico que permitia a integração de
toda a cidade e o incentivo às áreas verdes junto ao espaço urbano numa proporção
equilibrada, o que ampliou o acervo herdado de grandes áreas arborizadas, valorizando as
áreas urbanas das cidades que adotaram este conceito como influência no seu planejamento
(VITAL, 2012). Pode-se dizer, que estas ideias consistiram na centelha inicial rumo à
sustentabilidade.
Observa-se hoje, que diversas sociedades, tem como um ideal, a sustentabilidade de
suas cidades, mesmo que este conceito, ainda não esteja completamente definido. Para tanto,
buscam-se novas possibilidades, onde o planejamento urbano seja capaz de nortear e moldar o
futuro das cidades contemporâneas, garantindo a qualidade de vida, suprindo todas as
necessidades da vida urbana, sem que haja a degradação do meio ambiente natural.
Atualmente, um grande movimento em prol da sustentabilidade vem ganhando espaço nas
discussões. Busca-se hoje, novos modelos de planejamento que sejam capazes de influenciar
na concepção e adequação das cidades aos princípios da sustentabilidade.
Antes de abordar a temática do planejamento urbano sustentável, é necessário lembrar
que nos países em desenvolvimento, as questões sociais são as mais relevantes no processo de
planejamento, configurando-se como prioridade, pois é fácil identificar problemas básicos,
provenientes da falta de um planejamento adequado que orientasse o crescimento dessas
cidades durante muitos anos, resultando em uma expansão quase que espontânea. Alguns dos
problemas que podem ser citados como exemplo são: a poluição, os congestionamentos, as
enchentes, problemas relacionados à saúde e a desigualdade social, a segregação sócio-
territorial e além disso, carências diversas por habitação, saneamento básico e transporte
coletivo, dentre outros.
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É possível observar também, que o modelo de planejamento adotado por muitas
cidades, consiste naquele onde os princípios econômicos e os benefícios de curto prazo
prevalecem, em detrimento de uma relação equilibrada, onde encontra-se também questões
sociais e ambientais envolvidas no processo de planejamento. Observa-se que as cidades que
baseiam seu planejamento pautado somente em princípios econômicos, refletem muitas vezes,
maus exemplos de urbanismo, configurando um declínio na qualidade de vida da população.
Além da grande poluição proveniente do incentivo aos automóveis, vê-se edifícios mal
orientados, onde muitas vezes projetam sombras sobre regiões e edifícios adjacentes e
também passeios intransitáveis pelo superaquecimento no verão, pela falta de cobertura
vegetal, tendo o pedestre que enfrentar uma alta exposição a radiação solar.
A partir das perspectivas de crescimento urbano, colocam-se, então, novas
possibilidades para as cidades contemporâneas, através do entendimento que a relação entre o
desenvolvimento econômico e social, e as cidades, está em transição. Atualmente, grande
parte das motivações na intervenção das cidades são de caráter econômico, mas motivações
de caráter ambiental também passam a ser vistas no processo de planejamento, mesmo que
para a adequação das cidades, proveniente de alguns problemas ambientais recorrentes, como
enchentes ou furacões. De qualquer forma, a questão ambiental, tem ganhado espaço e a cada
dia é possível ver o interesse da sociedade em incorporar alternativas sustentáveis nos projetos
e planejamentos das cidades. Há que se ter o cuidado, para que estas propostas sejam de fato
implementadas, pois senão fazem parte apenas dos discursos e não agregam o valor devido.
No processo de planejamento de cidades mais sustentáveis, há que se considerar, além
dos parâmetros sociais, econômicos e ambientais, mas também as variáveis bioclimáticas e as
características do lugar, no desenvolvimento do desenho urbano. Marta Romero (2001)
considera que o espaço público pode ser entendido como um objeto arquitetônico, com forma
definida que deve ser pensada e constituída como a arquitetura, considerando os elementos
ambientais, climáticos, históricos, culturais e tecnológicos na sua concepção. Além disso, ela
considera que o desenho urbano deve estar “condicionado e adaptado às características do
meio, tais como a topografia, a cobertura do solo, a ecologia, a latitude e os impactos
negativos da massa construída” (ROMERO, 2001). Vê-se que a partir da consideração dos
critérios bioclimáticos e das características particulares de um espaço a ser concebido ou
adaptado, resulta em um planejamento efetivo, capaz de propiciar um ambiente adequado aos
princípios da sustentabilidade ambiental urbana, onde além de menores impactos à natureza,
serão garantidos menores gastos de consumo energético, proporcionando conforto ambiental e
bem-estar à população.
48
Diante desta nova possibilidade, destaca-se o conceito de Desenho Ambiental Urbano,
no cerne do planejamento sustentável, como uma ferramenta de formulação projetual, capaz
de equilibrar desde as demandas da vida urbana à sustentabilidade ambiental. Para Vital
(2012), o Desenho Ambiental Urbano, em um projeto sustentável, além de responder às
necessidades básicas da cidade (habitação, locomoção, trabalho e recreação), promove
também uma conexão sociocultural com a natureza, possibilitando o desenvolvimento da
consciência e da identidade cultural de um lugar e de um povo. Além disso, Vital considera
que a água é o elemento-chave estruturador do desenho da cidade (VITAL, 2012, p. 28).
O conceito de Desenho Ambiental, surgiu por volta da segunda metade do século XX,
considerando uma mudança de valores na prática de projetos da paisagem em que o interesse
passou a incluir a importância ambiental, além dos valores estéticos e funcionais. Neste
contexto, destaca-se o trabalho de Ian McHarg (1969), que caracterizou o Desenho Ambiental
como “planos ambientais de nível regional, baseados no conceito de desenvolvimento
sustentado e na minimização de impactos sobre os recursos naturais e culturais” (MCHARG,
1969).
McHarg (1969) indica que é necessário se produzir as análises de impactos
ambientais, para assim formular o planejamento, baseado em princípios ecológicos e no
relacionamento saudável entre o homem e o meio ambiente, e aliados à tecnologia
contemporânea e ao conhecimento científico, criar uma estratégia que favoreça a ambos.
Neste contexto, destaca-se uma premissa básica de metodologia, proposta por McHarg, que
vem sendo cada vez mais utilizada no processo de planejamento das cidades atualmente, o
conceito de overlays (camadas). McHarg acredita que o planejamento do uso do solo, deve ser
feito em função do valor e da potencialidade de uso de cada parte da paisagem, que é
identificada no processo, através de sobreposições de mapas temáticos, representando em
cada um, uma característica natural. Desta forma, o resultado pretendido não é uma
otimização de um zoneamento funcional, mas sim a valorização da diversidade, da
complementaridade dos usos e a garantia de uma expansão urbana em áreas apropriadas, sem
riscos para a população (MCHARG, 1969).
Vital (2012) considera que o Desenho Ambiental se configura, então, como inovador,
onde a abordagem ecológica que introduz os pensamentos ambientalistas no exercício do
projeto da paisagem urbana, exalta a importância do desenvolvimento sustentável para o
crescimento futuro das cidades (VITAL, 2012). Portanto, une-se ao aspecto ambiental, o
urbano, configurando o Desenho Ambiental Urbano, como uma ferramenta integradora.
49
Outro estudioso que merece destaque a partir do desenvolvimento de projetos de
caráter integrador é Lawrence Halprin. Este paisagista atribuiu aos seus projetos de espaços
públicos, a preocupação com a qualidade ambiental urbana, a partir do ponto de vista da
totalidade do Desenho Ambiental, através de uma abordagem holística (FRANCO, 1997) Esta
abordagem é muito atual e configura-se como fundamental no desenvolvimento do
planejamento ambiental urbano sustentável, pois visa a integração entre todas as disciplinas,
expressas nas redes de inter-relações que devem ser consideradas no processo de
planejamento, onde tudo se relaciona entre si, considerando o todo na parte e a parte no todo.
A partir dos estudos sobre a configuração dos princípios do planejamento sustentável,
algumas características foram levantadas por diversos estudiosos. Uma nova característica que
tem sido bastante discutida no processo de planejamento das cidades é o adensamento. Esta
alternativa se insere como um princípio dito sustentável, mas é necessário entender os prós e
os contras deste modelo de ocupação.
Para Richard Rogers (2000), a densificação urbana é capaz de trazer vantagens
ecológicas, como a redução da poluição do ar, pelo incentivo aos percursos pedonais ao invés
da utilização dos automóveis; também proporciona uma maior segurança nos centros urbanos,
pela promoção da utilização do espaço por múltiplos usos e em diversos horários, e além
disso, configura na redução da expansão urbana sobre a paisagem natural e em um
planejamento integrado que possa aproveitar da melhor maneira os recursos energéticos
(ROGERS, 2000). Por outro lado, a densificação urbana, também pode causar alguns
problemas, como por exemplo, a verticalização intensa das cidades e assim, prejudicar na
iluminação natural da cidade e na circulação do ar, concentrando maior poluição atmosférica.
Entende-se a importância do conceito de densificação urbana, podendo trazer
benefícios reais à cidade e à população, porém coloca-se que esta alternativa deve ser
conduzida de maneira equilibrada, através da implementação de um limite de crescimento das
cidades, para que estas não sofram com os transtornos provenientes do aumento populacional.
Sendo assim, deve-se promover o adensamento em cidades de pequenos e médios portes,
onde estas poderão usufruir de todas as vantagens propostas por esta alternativa e ainda
facilitar a participação da sociedade nos processos de tomadas de decisões com relação à
cidade.
A partir da explanação sobre o conceito de densificação urbana, coloca-se um novo
princípio sustentável, o modelo de cidades-célula. Esta estratégia de planejamento urbano
sustentável, consiste na concepção de núcleos urbanos densificados, de tamanho pequeno ou
médio porte, afim de garantir maior sustentabilidade em relação à cidades maiores. Este
50
modelo é constituído por núcleos, onde são incentivados usos mistos e diversas atividades,
como morar, trabalhar e o lazer, em um mesmo espaço urbano reduzido. Nestes núcleos os
serviços e equipamentos urbanos, são distribuídos, de forma a descentralizá-los, criando uma
rede de atividades e diminuindo a necessidade do uso de veículos para o deslocamento. A
partir disso, os pequenos núcleos são capazes de suprir todas as necessidades da vida urbana,
com a vantagem de causar menores impactos ao meio natural, por sua implantação
(BARBOSA, 2008).
Na busca por cidades mais sustentáveis, algumas alternativas desenvolvidas por
diversos autores da atualidade, se inserem como possível garantia de se alcançar este ideal,
tanto na concepção de novas cidades, quanto nas cidades existentes, alguns exemplos são:
- A densificação urbana - conforme dito, esta alternativa é capaz de minimizar a
utilização de automóveis e a infraestrutura de serviços, pode atender um número maior de
habitantes. A limitação da urbe reduz a expansão da cidade para áreas periféricas,
minimizando os impactos ao meio ambiente e aproximando o campo da cidade;
- O incentivo aos usos mistos - através da distribuição das atividades e serviços pela
urbe, é capaz de minimizar as distancias percorridas. Esta alternativa também influencia as
relações humanas, uma vez que promove a interação social a partir do incentivo aos
deslocamentos à pé, aproximando os indivíduos;
- A implementação de sistemas de transporte de massa com maior capacidade e
periodicidade, desincentivando o uso de automóveis que transportam poucos indivíduos.
Além destas alternativas, tidas como base, também considera-se: a criação de redes de
cidades de menor porte; o incentivo a meios mais sustentáveis de locomoção, como as
bicicletas, por exemplo; o incentivo a utilização de energias renováveis, reuso e reciclagem de
recursos e a utilização de critérios bioclimáticos no desenho dos projetos; dentre outros.
Richard Rogers (2000) considera que o planejamento urbano sustentável se configura
como uma oportunidade real de criar cidades dinâmicas ideais, que sejam ao mesmo tempo,
respeitosas com os cidadãos e com o meio ambiente. Ele ressalta que somente através do
planejamento sustentável é possível proteger a ecologia do planeta e assim, cumprir com
nossas responsabilidades perante as gerações futuras. Rogers (2000) exprime as diferentes
qualidades que devem estar presentes nas cidades sustentáveis de hoje, considerando que as
cidades possuem múltiplas facetas. Para ele, a cidade sustentável deve ser: Justa, onde as
necessidades básicas são garantidas aos cidadãos, sendo estes participantes ativos da
administração da cidade; Bela, onde a arte, a arquitetura e a paisagem provocam emoções e
alimentam a imaginação; Criativa, onde a ampla visão, permite uma rápida resposta às
51
mudanças; Ecológica, onde são minimizados os impactos ao meio natural, e onde a área
construída e a paisagem estão em uma relação harmônica e equilibrada e a infraestrutura
urbana é eficiente em termo de recursos; Fácil, promovendo interação social e meios
alternativos de mobilidade; Compacta e policêntrica, protegendo a área rural, a partir da
integração e concentração das comunidades em bairros, promovendo a relação de
proximidade; Diversificada, onde uma ampla gama de atividades diferentes gera a vitalidade e
promove à vida urbana (ROGERS, 2000, p.169).
É importante ressaltar que os princípios que embasam o conceito de sustentabilidade
ambiental-urbana, podem servir como modelo e parâmetro no processo de planejamento das
cidades, porém vale lembrar, que cada cidade apresenta características peculiares que irão
influenciar em seus próprios projetos, adequando as soluções e estratégias de ação à sua
realidade. Para o planejamento de cidades sustentáveis, reconhece-se que as mesmas,
necessitam considerar e cumprir determinados objetivos sociais, ambientais, políticos e
culturais, bem como físicos e econômicos.
Analisando sobre o que representa o processo de planejamento e a gestão urbana no
cenário brasileiro é possível levar à discussão os avanços e também os retrocessos neste
sentido, a partir da constatação dos conflitos e contínuos embates, provenientes de interesses
divergentes, onde muitas vezes os interesses privados prevalecem em relação aos interesses
públicos coletivos.
Motta (1999) afirma que o planejamento urbano brasileiro era pautado somente em
aspectos sociais, culturais e econômicos, tendo como premissa a adequação do ambiente
físico a tais prioridades. A partir da crise ambiental, ocorrida por volta dos anos 60,
representada pelo colapso dos recursos ambientais no meio urbano, viu-se que o uso e a
ocupação do solo urbano deve necessariamente ser planejado a partir das características
geológicas, geomorfológicas, climáticas, hidrológicas e de um ecossistema de uma dada bacia
hidrográfica (MOTTA, 1999) ou seja, a questão ambiental deve estar incluída no processo.
O planejamento urbano e o plano diretor, que é o instrumento que o regulamenta em
forma de diretrizes e objetivos, estiveram por anos desacreditados (MARICATO, 2001). Vê-se
que atualmente, muitas cidades brasileiras, tem resgatado e adotado o planejamento
novamente como forma primordial de organização do território. Porém, não são poucos os
conflitos que estão relacionados ao planejamento urbano no Brasil, provocando vários
embates que envolvem em grande parte pensamentos divergentes. Com relação à questão
ambiental, pode-se dizer que esta veio adquirindo cada vez mais importância, desde o início
das reflexões acerca das perspectivas de futuro, que se apresentava incerto, em meados dos
52
anos 60, enquanto o país experimentava um período de crise. Souza (2000) afirma que o
respaldo dado à temática ambiental, através do aprimoramento da legislação brasileira neste
sentido, demarca claramente um novo paradigma no planejamento urbano do Brasil (SOUZA,
2000) Observa-se que, teoricamente, as gestões locais estão potencialmente
instrumentalizadas técnica e juridicamente para ordenarem o uso do solo de suas cidades de
forma ambientalmente sustentável (LEONELLI, 2008), porém isto ainda se constitui em um
grande desafio.
Apesar de diversos gestores e políticos, que planejam o desenvolvimento das cidades,
atualmente, utilizarem-se do discurso sobre a proteção ambiental e a sustentabilidade urbana,
pode-se perceber que a questão ambiental, ainda é fruto de muitos embates e conflitos nas
discussões sobre o planejamento urbano. Para a maioria das cidades brasileiras, a inserção da
questão ambiental integrada ao planejamento urbano é ainda recente e encontra-se em fase de
discussão. Esta ainda é uma relação complexa, apresentando em muitos casos, dificuldade de
integração e diversas lacunas a serem melhor compreendidas. A presente divergência entre as
questões ambientais e urbanas, se dá pelo fato que a política ambiental e a política urbana
sempre tiveram trajetórias distintas, separadas e interesses diversos (PERES, 2012).
A experiência brasileira no sentido do planejamento de ações no campo ambiental
mostra-se insatisfatória, pois as ações adotadas, são na maioria das vezes superficiais,
pontuais e pouco compromissadas em entender a verdadeira causa dos impactos ocorridos
sobre os recursos naturais devido a inadequação do processo de ocupação urbana e rural.
Além disso, as ações são pensadas a curto prazo e tem caráter emergencial, dentro de um
mandato de gestão pública. Raras são as iniciativas que propõem programas de ações de longo
prazo, independente das trocas de gestão, visando a garantia de um resultado final satisfatório
(PERES, 2012).
Observa-se que os modelos atuais de planejamento, adotado por muitas cidades
brasileiras, que visam os aspectos econômicos, tem levado o ambiente urbano a um intenso
processo de degradação e insustentabilidade. Além disso, a partir do crescimento das cidades
e os incentivos econômicos neste sentido, é possível observar o aumento da especulação
imobiliária. Neste caso, é necessário que o poder público incentive diferentes áreas, de modo
que os recursos econômicos sejam distribuídos entre os diversos municípios, e não se
concentrem em alguns poucos apenas.
Com relação à participação social no processo de planejamento urbano, vê-se que esta
é a melhor maneira de garantir o direito à cidade para todos os cidadãos, pois a sociedade
pode e deve contribuir neste processo de forma a atender aos interesses de todos. Apesar
53
disso, infelizmente, muitas vezes o que vemos hoje, são planos que não refletem os interesses
da sociedade, mas sim os interesses de poucos. A questão da participação social, para muitas
cidades brasileiras, ainda encontra muitos desafios, pois apesar de haver esforços neste
sentido, ainda existe pouca representatividade por parte da sociedade que pouco se organizou
politicamente.
Vale ressaltar, que atualmente, dentro de alguns dos desafios que se colocam aos
planejadores e gestores urbanos, está a inclusão de uma abordagem sistêmica no âmbito de
suas funções, onde é necessária a integração entre uma visão setorial e uma visão holística.
Além disso, as soluções técnicas a serem adotadas no planejamento, devem representar a
vontade de todos os cidadãos, o bem comum. Neste sentido, o planejamento deve promover a
equidade social e o desenvolvimento do meio ambiente natural e urbano de forma sustentável,
garantindo a preservação e conservação dos recursos naturais e a consequente promoção da
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, onde a estes estejam asseguradas todas as
demandas básicas de direito, sendo a saúde, a habitação e a alimentação, exemplos neste
sentido.
Apesar da existência de leis e estratégias que visam no planejamento o equilíbrio da
relação urbana-ambiental, muitas vezes estas não são respeitadas ou são pouco consideradas
nos processos de gestão, não garantindo a efetividade das mesmas. Maricato (2001) explica
que o Brasil já possui um aparato legal satisfatório para garantir um destino regulado para
suas cidades, porém, ele nunca pareceu ser suficiente para que os municípios iniciassem uma
nova fase de gestão urbana (MARICATO, 2001, p.95). Neste sentido, entende-se que as
soluções dos problemas urbanos expressas somente no planejamento, não é suficiente. O
Brasil necessita de um enfoque na gestão, onde as soluções propostas no âmbito do
planejamento encontram o respaldo prático da sua implementação efetiva. O sucesso do
planejamento, não está na garantia de novas conquistas formais legais, mas sim em uma
gestão urbana eficaz, que possa garantir o cumprimento das leis e a implementação das
estratégias de planejamento.
Por fim, a partir do reconhecimento dos inúmeros problemas socioambientais
enfrentados no meio urbano, entende-se que uma reestruturação do processo de urbanização
de nossas cidades é urgente e necessário. Através da compreensão de que qualquer
intervenção urbana afeta diretamente o meio natural, é necessário uma análise interdisciplinar
sobre o meio ambiente e o meio urbano, de forma a propor, a partir de uma visão abrangente e
sistêmica, estratégias sustentáveis que irão compor um planejamento urbano e ambiental
54
integrado. Este plano deverá apontar os problemas relativos à localidade, de forma particular e
expor as possíveis soluções.
Ressalta-se ainda, a importância da participação social nas decisões políticas do
processo de planejamento, onde cada cidadão deve ter a responsabilidade de controlar e
direcionar a administração e a regulamentação do ambiente, que é comum a todos. Neste
sentido, evidencia-se também a importância de uma gestão eficaz que seja capaz de
implementar as ideias concebidas no processo de planejamento urbano.
2.4 Instrumentos de planejamento e gestão urbana - ambiental
A partir da caracterização sobre o que se constitui como planejamento urbano e
ambiental, expõe-se os instrumentos normativos que tem como propósito traçar objetivos e
metas de controle e gerenciamento do meio ambiente urbano e regulamentar este processo, no
âmbito da administração pública brasileira.
Através das perspectivas de crescimento populacional e expansão urbana, colocam-se
novas possibilidades de organização e ocupação do território de forma ordenada, buscando
maneiras de contribuir para que as cidades ofereçam qualidade de vida às presentes e futuras
gerações, consistindo na garantia do direito à moradia digna em um ambiente saudável e
equilibrado. Esta possibilidade, configura-se no planejamento urbano, onde um conjunto de
ações consideradas adequadas são descritas com o objetivo de conduzir de forma satisfatória o
crescimento das cidades. Neste sentido, o planejamento urbano coloca-se como uma política
pública urgente e vital, devendo ser estabelecido, entre outras ações, pela implantação de um
Plano Diretor.
Braga (2001) conceitua o Plano Diretor como “instrumento básico da política
municipal de desenvolvimento e expansão urbana, que tem como objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”
(BRAGA, 2001, p.96). O Plano Diretor estabelece, através de um documento de cunho
teórico, diretrizes e objetivos de ocupação criteriosa e organização do espaço urbano, além de
prever o desenvolvimento socioeconômico e do setor político administrativo, com o objetivo
de melhoria das condições de vida da população (MOTA, 1999).
55
O processo de planejamento e ordenamento do uso do solo urbano, descrito no Plano
Diretor, encontra-se vinculado às demandas estruturais municipais, por lei, devendo ser
elaborado por urbanistas e planejadores no âmbito da administração pública. A execução dos
objetivos propostos expressos no Plano Diretor, fica a cargo dos gestores públicos, que
possuem a incumbência de realizá-los. Sendo assim, entende-se que a gestão e o planejamento
são complementares, uma vez que um expressa e regulamenta as diretrizes de
desenvolvimento urbano e o outro tem a função de colocar em prática tais diretrizes.
O Plano Diretor, como um instrumento legal relevante ao processo de planejamento
territorial, encontra-se representado pelas oportunidades geradas pelo Estatuto da Cidade (Lei
10.257/2001)7. Este Estatuto, aprovado em forma de lei em 2001, regulamentou os artigos
182 e 183 da Constituição Federal de 19888, traçando diretrizes gerais9 para a execução da
política urbana, destacando, de forma central, a função social da cidade e da propriedade. Tais
diretrizes expressas, visam de forma geral, promover o controle do uso do solo, garantindo o
direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao
transporte e serviços públicos, bem como o trabalho e o lazer às presentes e futuras gerações
que habitam e habitarão as cidades brasileiras (Estatuto da Cidade, 2001). Sendo assim,
através das diretrizes estabelecidas pelo Estatuto é possível considerar que estas representam
um conteúdo legal necessário capaz de implementar o direito à cidades mais sustentáveis.
O Estatuto da Cidade apresenta mais de trinta opções de instrumentos, capazes de
induzir o desenvolvimento, a inclusão territorial e a gestão democrática de um município.
Neste sentido, cabe colocar que os instrumentos previstos no Estatuto são ferramentas que
viabilizam as intenções expressas no Plano Diretor (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005,
p.30). Sendo assim, ressalta-se que a aplicação dos instrumentos está condicionada à
existência do Plano Diretor10, sendo este capaz de estabelecer as normas que regulamentam o
7 O Estatuto da Cidade, Lei Federal n° 10.257 de 10 de julho de 2001, regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e estabelece parâmetros e diretrizes da política urbana no Brasil. Oferece instrumentos para que o município possa intervir nos processos de planejamento e gestão urbana e territorial, e garantir a realização do direito à cidade. 8 O Capítulo II – Da Política Urbana, da Constituição Federal, artigos 182 e 183, estabelece os instrumentos para garantia, no âmbito de cada município, do direito à cidade, do cumprimento da função social da cidade e da propriedade. 9 O Estatuto da Cidade é a primeira norma de âmbito federal que contém diretrizes para a política urbana no Brasil. 10 Os princípios que norteiam o Plano Diretor estão contidos no Estatuto da Cidade. Nos termos do Estatuto, o Plano Diretor é definido como “instrumento básico de orientação da política de desenvolvimento e de ordenamento da expansão urbana de um município” (PDPGEMC, 2004, p.12). Neste sentido, evidencia-se o papel do Plano Diretor como articulador das políticas urbanas.
56
território, bem como as atividades socioeconômicas de um município, contribuindo para a
efetiva qualificação de um desenvolvimento sustentável a longo prazo.
Neste contexto, ainda é possível dizer que a aplicação dos instrumentos previstos no
Estatuto, pode contribuir significativamente para a otimização dos investimentos públicos aos
objetivos do desenvolvimento urbano, privilegiando os investimentos geradores de bem-estar
geral, onde todos os segmentos sociais possam usufruir das vantagens alcançadas por estes
investimentos (Estatuto da Cidade, 2001).
Segundo Bernardy (2013), a partir de um viés socioeconômico, a aplicação dos
instrumentos constitui-se elemento catalisador promotor de um desenvolvimento qualitativo
para as cidades, pois está atrelado à otimização dos investimentos públicos e a relação de
parceria entre o poder Executivo, investidores, empreendedores e a sociedade, além da
abertura para a canalização de recursos externos, tudo isto, com base na organização interna
do território (BERNARDY, 2013, p.7). Neste sentido, evidencia-se a importância do Plano
Diretor como um instrumento fundamental capaz de equalizar a relação entre os
investimentos públicos e a promoção da melhoria da qualidade de vida da população.
É valido lembrar que somente há poucas décadas, os municípios brasileiros
conseguiram uma autonomia administrativa, onde conferiu a estes, diversas atribuições legais
no campo social, na saúde, na educação, no desenvolvimento econômico, na infraestrutura, no
meio ambiente e enfim, no planejamento e na organização do próprio território (BERNARDY,
2013). Com a maior autonomia dos municípios, novos instrumentos políticos foram
incorporados nas administrações públicas municipais, ampliando as possiblidades de soluções
dos problemas urbanos e rurais dos municípios, uma vez que estes problemas foram
colocados em pauta para discussão. A partir da inserção destes instrumentos, como o Plano
Diretor e a Lei Orgânica dos municípios, todas as esferas do poder público puderam promover
então, um desenvolvimento qualitativo para suas cidades.
Também vale lembrar que o Plano Diretor passou por diferentes momentos políticos e
sociais no país, tendo sido resgatado, conforme dito, a partir da Constituição Federal de 1988
e do Estatuto da Cidade (2001), depois de décadas de crise, descrédito e crítica por suas
antigas experiências entre os anos 60 e 70, no Brasil (ROLNIK, 1997; MARICATO, 2001) A
partir deste resgate, o Plano Diretor foi, então, apresentado como instrumento central de
planejamento das cidades e aos municípios foram atribuídas as responsabilidades do processo
de ordenamento do uso e ocupação do solo urbano.
Antigamente, os Planos Diretores já foram denominados de Planos Urbanos, Planos de
Desenvolvimento Integrado e Planos de Ação. Além das mudanças de nomenclatura, estes
57
planos também mudaram suas formas, conteúdos e metodologias, passando de grandes
volumes com centenas de páginas e inúmeros mapas, pesquisas e estatísticas, abordando um
enorme leque de problemas e sendo elaborados por equipes multidisciplinares, aos planos
como vemos hoje, implementando projetos de leis, contendo princípios, políticas e diretrizes
gerais, não contendo mapas ou com poucos mapas (PERES, 2012, p.90). Ainda sim, os Planos
Diretores vem abordando os mais diversos aspectos e problemáticas, apontando possíveis
soluções, que muito influenciarão no desenvolvimento das cidades.
O Plano Diretor é então considerado um instrumento de indução do desenvolvimento
municipal e dentre suas principais características, deve prever: o adequado uso do solo
urbano, garantindo múltiplos usos e evitando uma funcionalidade única; a implementação de
redes de infraestrutura e de serviços públicos, tendo em vista o crescimento das demandas
provenientes do aumento populacional; metas de desenvolvimento econômico para o
município; limitações urbanísticas para a construção de novas edificações; a preservação e
conservação ambiental; habitações de interesse social; a regularização fundiária; a otimização
da mobilidade e da acessibilidade; bem como permitir uma gestão democrática e participativa.
Todas estas características estão em conformidade com a aplicação dos instrumentos previstos
no Estatuto da Cidade (BERNARDY, 2013).
A partir da aprovação do Estatuto da Cidade, o Plano Diretor passou a ser obrigatório,
não só para municípios que apresentam mais de 20 mil habitantes, mas também à municípios
que fazem parte de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, municípios localizados
em áreas de especial interesse turístico ou que façam parte de áreas de influência de
empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental na região ou no país
(PDPGEMC, 2004) Mesmo em pequenos municípios, onde a implantação de um Plano
Diretor não é obrigatória, este instrumento pode auxiliar significativamente no
desenvolvimento de seus territórios.
Atualmente, os Planos Diretores, cada vez mais, vêm buscando contemplar questões
até então pouco abordadas no processo de planejamento urbano, um bom exemplo neste
sentido é a questão ambiental. Embora no planejamento das cidades, o aspecto econômico
ainda seja o mais relevante em relação aos planos de uso e ocupação do solo urbano, pode-se
ver cada vez mais, a adoção dos aspectos ambientais, pelo menos em caráter normativo. Neste
sentido, vale dizer que o Estatuto da Cidade (2001) visando corresponder às expectativas da
população com relação à qualidade ambiental urbana, trouxe algumas inovações quanto a
incorporação da questão ambiental e perspectivas de sustentabilidade, no processo de
planejamento.
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A quarta diretriz, do artigo segundo, estabelecida pelo Estatuto da Cidade, relaciona a
questão do crescimento urbano com a proteção ambiental, ao expressar que o “planejamento
do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades
econômicas do município, deve evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus
efeitos negativos sobre o meio ambiente” (Estatuto da Cidade, 2001) Neste sentido, vê-se que
o crescimento e o desenvolvimento urbano, como um processo, podem influenciar no
equilíbrio social e ambiental da cidade. Pode-se ver que a questão do crescimento urbano em
conflito com o meio ambiente natural foi, ainda, timidamente introduzida pelo Estatuto.
Diversos autores relatam que a temática ambiental foi somente abordada por novos
Planos Diretores, elaborados após a implementação do Estatuto da Cidade. Para Peres (2012),
“com a aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001, a postura sobre a incorporação da
dimensão ambiental começou a ser transformada e percebida como elemento importante ao
planejamento urbano, a partir de uma dimensão menos setorial e cada vez mais abrangente
das políticas públicas e da produção do conhecimento em termos mais amplos.” (PERES,
2012, p.125) Pode-se ver o progresso que as pesquisas provenientes desta abordagem oferece,
fornecendo informações no que diz respeito à relação entre a qualidade de vida, a sociedade e
o meio ambiente, tudo isto na direção da sustentabilidade ambiental urbana. “A produção do
conhecimento em diversas áreas científicas e de normatização legislativa é consistente”
(VITAL, 2012, p.85) Os esforços neste sentido configuram-se como exemplos para planos
futuros. Entretanto, observa-se que, embora muitas vezes a questão ambiental esteja
incorporada nos Planos Diretores, estas não passam de diretrizes gerais, pois vê-se que ações
neste sentido quase não são implementadas efetivamente. “Muito do que se produz permanece
desarticulado e não cumpre o papel ao qual se objetiva, ou seja, do intuito de sustentabilidade
pouco é alcançado” (VITAL, 2012, p.85)
Além disso, nos Planos Diretores, as questões relacionadas ao meio ambiente
especificam quase sempre somente aspectos básicos e comuns, como o saneamento, os
resíduos sólidos e a implantação de áreas verdes, (PERES, 2012) não tratando a questão do
meio ambiente de forma global como um aspecto fundamental ao processo de planejamento
territorial, considerando que a dimensão ambiental e a ocupação do solo urbano devem ser
tratados como aspectos indissociáveis, uma vez que o processo de urbanização é capaz de
causar desequilíbrios ao meio ambiente.
Neste contexto, coloca-se um outro instrumento fundamental, relacionado diretamente
com as questões de sustentabilidade e a preocupação ambiental, a Agenda 21. De forma a
entender o significado deste instrumento é necessário uma síntese de sua trajetória.
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É interessante relembrar, que desde a crise ambiental iniciada em meados do século
XX, diversas Conferências foram realizadas, dando continuidade às discussões sobre os
problemas ambientais enfrentados no meio urbano, buscando soluções neste sentido.
Dentre as conferências realizadas, destaca-se a ECO9211, considerada um marco na
concretização do conceito de sustentabilidade. Nesta conferência, foram “assinados cinco
documentos12, que firmam o compromisso entre diversas nações preocupadas em resguardar e
salvaguardar a vida no planeta” (VITAL, 2012, p.81) Dentre estes documentos, encontra-se a
Agenda 21, que “estabelece um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global
para o próximo século” (CSSEAB, 2000). Neste sentido, a Agenda 21, expressa o anseio dos
países pelas mudanças em seus padrões de vida e em obter um desenvolvimento que seja
pautado no equilíbrio ambiental e na justiça social. Sendo assim, a Agenda 21 pode ser
considerada como um programa que tem por finalidade a inclusão dos princípios de
sustentabilidade no desenvolvimento.
Para que as ações propostas na Agenda 21 possam ser concretizadas, é necessário
implementar novas agendas em escala nacional, regional e local. Isto se configura em uma
grande oportunidade de elaborar estratégias específicas, de acordo com cada região
estipulada, levando a resultados mais satisfatórios.
A Agenda 21 não é obrigatória, porém constitui-se como um instrumento importante,
uma vez que estabelece princípios capazes de nortear o desenvolvimento em prol da
sustentabilidade. Neste sentido, é proposto pela Agenda que os governos elaborem estratégias
para um desenvolvimento sustentável por meio de Planos Diretores Estratégicos, tendo como
princípio a Participação Social, neste processo. Vale ressaltar que a implementação das ações
propostas, depende da vontade política dos governantes e gestores públicos e além disso,
também depende dos esforços da sociedade, como um todo, que necessariamente precisa
rever seu padrão de vida, sendo capaz então de promover o desenvolvimento sustentável.
A partir do documento “Cidades Sustentáveis: Subsídios à Elaboração da Agenda 21
Brasileira”, produzido pelo Ministério do Meio Ambiente, destaca-se duas estratégias
relacionadas à sustentabilidade, que estão diretamente ligadas ao Plano Diretor, a primeira é:
aperfeiçoar a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do
território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a
promoção da equidade, a eficiência e a qualidade ambiental; e a segunda: promover o 11 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, 1992. 12 Documentos: Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Agenda 21, Princípio para Administração Sustentável das Florestas, Convenção da Biodiversidade, Convenção sobre Mudança do clima.
60
desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão
democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando
a efetiva participação da sociedade (CSSEAB, 2000). Vê-se que não somente os instrumentos
previstos no Estatuto da Cidade devem ser utilizados, mas também a Agenda 21 configura-se
como um importante norteador de princípios e estratégias ao Plano Diretor.
Vale ressaltar que com base neste documento “Cidades Sustentáveis” e também em
outros, a Agenda 21 brasileira foi formulada e assim, iniciou-se uma campanha para que as
instâncias locais também produzissem suas agendas. A metodologia de elaboração deveria
partir de seis temas prioritários: cidades sustentáveis; agricultura sustentável; infraestrutura e
integração regional; gestão dos recursos naturais; redução das desigualdades sociais e ciência
e tecnologia para o desenvolvimento sustentável (PERES, 2012, p.125).
Segundo Barbieri, “a agenda 21 brasileira ainda não decolou, no sentido que ainda não
ganhou destaque na imprensa, nas ruas e sequer na comunidade científica e tecnológica
amplamente considerada... não se poderia esperar outra coisa, pois não se observa um
comprometimento forte por parte dos sucessivos governos em levar avante os projetos de
desenvolvimento sustentável’’ (Barbieri, 2009, p.62). Neste sentido, vê-se como é vital que os
governos tenham não só a vontade política de formular as estratégias mas também de
implementar tais ações.
Um bom exemplo neste sentido é que a Agenda 21 colaborou por décadas com as
discussões sobre o meio ambiente, porém, ainda sim, o Brasil não efetivou o compromisso de
implementar o que se produziu. Além disso, viu-se que nas tentativas de elaboração de
agendas locais, estas demonstraram fragilidade e uma limitada capacidade de atuação em
diversos níveis, sendo consideradas mecanismos legais pouco eficazes e portanto, ficaram à
margem dos instrumentos de gestão local (PERES, 2012, p. 125) É necessário um resgate
deste instrumento, com relação a efetiva implementação das ações propostas por ele.
Infelizmente, observa-se que as estratégias e propostas expressas nos diferentes
instrumentos apresentados, seja o Plano Diretor ou a Agenda 21, ainda estão distantes de
serem implementadas na prática, muitas vezes pela falta de uma gestão pública eficaz e
comprometida com os objetivos propostos. Portanto, evidencia-se a importância fundamental
de outro instrumento considerado no Estatuto da Cidade (2001), a Gestão Democrática da
cidade. Neste sentido, o cidadão é ativo nos processos decisórios junto à administração
pública, participando e fiscalizando, em conjunto com instituições e os gestores públicos.
Neste sentido, a Gestão Democrática constitui-se como um instrumento regulamentador dos
anseios da sociedade, promovendo o interesse de todos.
61
Para Acioly (1998) a gestão urbana pode ser definida como um conjunto de
instrumentos, atividades, tarefas e funções que objetivam a assegurar o bom funcionamento
de uma cidade. Ela visa a garantir não somente a administração da cidade, como também a
oferta dos serviços urbanos básicos e necessários para que a população e os vários agentes
privados, públicos e comunitários, muitas vezes com interesses diametralmente opostos,
possam desenvolver e maximizar suas vocações de forma harmoniosa (ACIOLY, 1998).
Sendo assim, percebe-se que a inserção da participação social nos processos de gestão urbana,
constitui-se como fundamental na promoção da qualidade de vida urbana e na busca por um
senso comum nos processos decisórios, que beneficiará a todos.
Ainda neste contexto, ressalta-se que a participação social deve ser incentivada em
todos as etapas do processo de planejamento urbano, desde a formulação das estratégias até a
implementação das ações, desta forma garante-se a democratização do processo de tomada de
decisões e os interesses de todos estarão seguramente representados.
Por fim, entende-se que mesmo diante das diversas transformações introduzidas pelo
Estatuto da Cidade (2001), não são simples e nem poucos os desafios a serem enfrentados no
processo de elaboração e nas aplicações dos Planos Diretores no Brasil.
É necessário relembrar que o Estatuto da Cidade coloca como um desafio à sociedade,
a implementação de novas formas de planejamento e controle do território municipal,
utilizando os potenciais e limites do meio físico, de forma que os impactos de seu crescimento
e desenvolvimento não se configurem em desequilíbrios e deseconomias, como tem-se visto
nas experiências recentes de urbanização no país (PDPGEMC, 2004, p.8).
Ainda é importante ressaltar que o processo de formulação das estratégias de cada
município, deve respeitar as suas especificidades, entendendo que cada local apresenta
problemas particulares e as soluções devem ser encontradas respeitando tal diversidade. Isto
certamente, se configura em resultados mais satisfatórios. Sendo assim, entende-se que as
propostas expressas nos Planos Diretores não podem ser padronizadas, pois é necessário
considerar diversos aspectos como a realidade social, política e territorial de cada município.
Desta forma, “os Planos Diretores atenderão sempre mais diretamente aos seus objetivos,
quanto mais forem abertos à inovação e à criatividade, e quanto mais estimularem a
participação dos cidadãos e a produção coletiva” (PDPGEMC, 2004, p.13)
Por fim, o Estatuto da Cidade propõe uma aliança entre os cidadãos e o governo, na
busca por um planejamento que favoreça e inclua a todos, adequando os fatores sociais,
econômicos, políticos e ambientais. No contexto da participação cidadã, é importante e
necessário, acima de tudo, uma reflexão sobre como devemos planejar e gerir nossas cidades,
62
que é nosso habitat, considerando as demandas da vida urbana, produzindo espaços mais
humanizados, que respeitem e promovam a identidade e a diversidade cultural de nossas
cidades e o mais importante, promovendo o equilíbrio e a integração com o meio ambiente
natural, que é onde o ambiente construído se insere.
63
3 Estudo de Caso: Maricá
Neste capítulo será apresentado o estudo de caso do município de Maricá, onde serão
abordados o seu histórico de ocupação, bem como os diferentes aspectos territoriais,
demográficos, sociais, econômicos, ambientais e urbanos, que compõem sua caracterização. O
município está localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e é um território que
vem sofrendo aceleradas transformações decorrentes do processo de urbanização nos últimos
anos, desde sua espontânea expansão à chegada de grandes empreendimentos.
3.1 Caracterização do município
3.1.1 Aspectos territoriais
O município brasileiro de Maricá está situado na região litorânea do Estado do Rio de
Janeiro, ocupando uma área de 362,5 km2. Localiza-se a 60 km da cidade do Rio de Janeiro,
nas seguintes coordenadas geográficas: 22° 55’ 10” de latitude Sul e 42° 49’ 07” de longitude
Oeste (Figura 5) (MARICÁ, 2013). O município tem seu limite a oeste com Niterói, ao norte
com São Gonçalo, Itaboraí e Tanguá, a leste com Saquarema e ao sul com o Oceano
Atlântico.
A principal via de acesso à Maricá é a Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106), que
atravessa o município longitudinalmente e liga-o às cidades de Niterói e São Gonçalo, a oeste
e Saquarema, a leste. Outras vias de acesso também são comumente utilizadas, como a estrada
de Itaipuaçu e a RJ-114, que faz a conexão com o município de Itaboraí e as rodovias RJ-104
e BR-101 (MARICÁ, 2013).
Vale ressaltar, que a RJ-114 constitui papel importante ao se considerar a implantação
do Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, no município vizinho de Itaboraí,
que se configura no maior complexo petroquímico do país no seu segmento produtivo.
Também vale destacar a RJ-102, via litorânea, com pequena parte de asfalto e grande parte
em leito natural, que segue por uma área de restinga, desde Itaipuaçu à Ponta Negra
(EPMSBM, 2013).
64
Figura 5 - Mapa de localização de Maricá – Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Mapa - Estado do Rio de Janeiro (Mapa Oficial) Fonte: CEPERJ Dados. Disponível em: http://www.ceperj.rj.gov.br/ceep/info_territorios/RMRJ2013.pdf
Atualmente, o município divide-se em quatro distritos, sendo estes: 1º Distrito -
Maricá (sede), 2º Distrito - Ponta Negra, 3º Distrito - Inoã e 4º Distrito - Itaipuaçu (Lei
Orgânica Municipal de Maricá, 1990, p.83). Esta delimitação existe desde a promulgação da
Lei Orgânica Municipal, em 5 de abril de 1990. Cada um destes distritos, também dividem-se
em subdistritos, equivalentes a uma divisão em bairros (Figura 6).
O 1º Distrito de Maricá (sede) divide-se em dezesseis subdistritos, sendo estes: São
Bento da Lagoa, São José de Imbassaí, Barra de Maricá, Zacarias, Retiro, Camburi, Caxito,
Itapeba, Ubatiba, Centro, Araçatiba, Jacaroá, Caju, Condado, Pilar, Silvado.
O 2º Distrito de Ponta Negra divide-se em onze subdistritos: Manoel Ribeiro,
Pindobal, Jardim Interlagos, Guarapina, Bambuí, Cordeirinho, Ponta Negra, Vila do Bananal,
Engenho Velho, Espraiado, Jaconé.
O 3º Distrito de Inoã divide-se em seis subdistritos: Bambu, Nossa Senhora da
Conceição, Cassorotiba, Itaitindiba, Vila de Inoã, Pedra de Inoã.
E, por fim, o 4º Distrito de Itaipuaçu divide-se em cinco subdistritos: Vila de
Itaipuaçu, Itaocaia, Jardim Atlântico, Lagoa Brava, Cajueiros. Ressalta-se que o 4º Distrito
existe, oficialmente, apenas no âmbito municipal, não sendo reconhecido pelas esferas de
poder Estadual e Federal (MONTEIRO, 2006).
65
Figura 6 - Mapa de delimitação distrital do município de Maricá
Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente
Outros aspectos do município também devem ser evidenciados e merecem
considerações mais amplas nos próximos tópicos deste capítulo.
Maricá possui uma topografia privilegiada, reunindo grandes áreas montanhosas, onde
o ponto mais alto encontra-se a 890 metros de altitude, sendo denominado Pico da Lagoinha.
Em toda a região, o bioma de Mata Atlântica é um dos mais preservados, somando extensas
áreas de vegetação intocadas. Além disso, Maricá apresenta nove praias oceânicas que
constituem seus 46 quilômetros de costa, sendo estas: Itaipuaçu, Recanto, Francês, Zacarias,
Barra de Maricá, Guaratiba, Ponta Negra, Sacristia e Jaconé. Possui também um grande
complexo lagunar composto por seis lagoas e áreas de restinga. (MARICÁ, 2013)13.
Esta diversidade revela o potencial turístico do município, que se destaca por reunir
belas paisagens e ecossistemas variados e ainda é uma região de clima tropical, possuindo
temperaturas amenas durante todo o ano. Neste sentido, as opções turísticas e a prática de
diversos esportes são ampliadas no município a partir do aproveitamento de suas praias e
também da topografia peculiar de que dispõe. São praticadas atividades das mais variadas,
como o surf, a navegação esportiva à vela nas lagoas, e além disso, o voo livre e mountain
bike nas montanhas.
Maricá ainda apresenta uma Área de Proteção Ambiental, a APA de Maricá,
localizada entorno de seu complexo lagunar, correspondente a uma área de restinga. Esta é
uma região valorizada, com um significativo potencial natural com relação ao contexto 13 MARICÁ: Céu, Sol e Mar. Cartilha de Apresentação Institucional. Maricá: Prefeitura Municipal de Maricá, 2013.
66
urbano do município, onde há alguns anos, tem sido vista como principal local para a
expansão da malha urbana. Considerações mais amplas a este respeito serão abordadas no
capítulo 4 desta monografia.
3.1.2 Aspectos demográficos
Realizando um retrospecto, com relação às características demográficas do município
de Maricá, é possível observar, com base nos dados estatísticos do IBGE - Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, que entre os anos de 1940 e 1970, o número de habitantes com
residência fixa no município pouco foi alterado. (Tabela 1) No entanto, é possível observar
um grande crescimento populacional, a partir da década de 1990, onde a população residente
no município cresceu 42,69% em relação à década anterior, 1980. Recentes contagens
evidenciam um crescimento de 164% de 1990 a 2000, e de mais 166% de 2000 a 2010
(Tabela 2) (IBGE, 2010)
O Censo Demográfico realizado em 2010 pelo IBGE, contém os indicadores de
migração ao município, sendo assim, o IBGE, informa, que 24.358 “pessoas de 5 anos ou
mais de idade que não residiam no município em 31/07/2005”, passaram a residir (IBGE,
2010).
Tabela 1 - População residente - 1940/1980
Fonte: IBGE: Censos Demográficos
Tabela 2 - Evolução populacional 1991/2010
Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacional 2007 e Censo Demográfico 2010.
67
Ainda, segundo o Censo Demográfico realizado pelo IBGE, é possível constatar que
entre 2000 e 2010, a população cresceu a uma taxa média anual de 5,21%. Representando,
mais especificamente, entre os anos de 2003 e 2013, o quarto maior crescimento populacional
projetado do país, segundo o IBGE. (IBGE, 20013) Os dados demonstram um grande
aumento do incremento populacional na última década, sobretudo em decorrência das obras
de ampliação de acessibilidade ao município.
A população total residente em 2010 no município foi de 127.461 pessoas. Sendo o
número de residentes na área rural em 2010 de 1.970 pessoas e o número de residentes na área
urbana de 125.491 pessoas. Além disso, a população residente feminina corresponde à
50,85% (64.812 mulheres) e masculina corresponde à 49,15% (62.649 homens), o que
demonstra um percentual equilibrado entre os gêneros (IBGE, 2010). Também é possível
observar que 42,38% da população apresenta faixa de idade de até 30 anos e 25,48%
apresenta 50 anos ou mais de idade (Tabela 3)(IBGE, 2010).
Tabela 3 - Dados sobre a população do município de Maricá
Fonte: Elaborado com base nos dados do IBGE – Censo Demográfico 2010.
Observa-se que a tendência de densidade populacional de Maricá é ampliada, devido
ao seu crescimento. Em 2000, Maricá obteve a quarta maior densidade demográfica da região
das Baixadas Litorâneas, representando 210,40 habitantes por km2. Atualmente, segundo o
Censo Demográfico de 2010, este número já é de 351,55 habitantes por km2 (IBGE, 2010).
68
Além disso, o IBGE estimou que a população residente no ano de 2014 no município é de
aproximadamente 143.111 pessoas (IBGE, 2014).
De acordo com o último censo, a taxa de urbanização do município atingiu 98,45% em
2010, contra 82,62% no ano 2000 (IBGE, 2010). Com base nos indicadores de domicílios, é
possível constatar que o número de “domicílios particulares permanentes” registrados no
município é de 42.831 domicílios, sendo 640 domicílios rurais (1,49%) e 42.192 domicílios
urbanos (98,50%). Estes dados, evidenciam o processo intenso de urbanização ocorrido no
município ao longo dos anos, onde a população rural, tornou-se urbana. Pode-se verificar esta
evolução na tabela abaixo (Tabela 4).
Tabela 4 - Retrospectiva – População residente por situação de domicílio - 1940/2000
Demonstrativo da mudança de um município rural à urbano. Fonte: IBGE, Censos Demográficos.
Ainda com relação à população e aos domicílios, verifica-se que no Centro de Maricá
e nas localidades mais antigas, a maior parte dos domicílios são de uso permanente, no
entanto, na região litorânea e nas margens das lagoas, a maior parte dos domicílios é de
propriedade de uma população flutuante, estando na cidade somente no período de férias e
feriados.
Neste sentido, a partir do Censo Demográfico de 2010, o IBGE expressa que
“domicílios particulares não ocupados” correspondem à 24.503 domicílios e “domicílios
particulares não ocupados de uso ocasional” correspondem à 17.558 domicílios (IBGE, 2010).
Sendo assim, constata-se que o total de domicílios particulares não ocupados de uso ocasional
representam 26% do total de “domicílios particulares permanentes”, conforme dito antes,
42.831 domicílios.
69
Pode-se dizer que o aumento da população ocasional, nos períodos do verão, férias e
feriados, demanda uma quantidade de serviços, que representa uma dificuldade extra nas
questões de planejamento e gestão do município, como por exemplo, serviços de coleta de
lixo, abastecimento de água e fornecimento de energia elétrica.
3.2 Histórico
3.2.1 Ocupação do território
A história do município de Maricá, remonta ao final do século XVI, quando começou
a ser povoado, dada a necessidade de a Coroa Portuguesa defender o litoral pertencente à
então colônia, de ataques de corsários franceses. Sendo assim, as terras foram doadas à
colonizadores portugueses, divididas em sesmarias14. As terras concedidas, localizavam-se na
faixa litorânea, entre Itaipuaçu e as margens da lagoa, onde mais tarde surgiu a cidade
(MARICÁ, 2013).
Em 1584, chegaram à lagoa de Maricá os padres José de Anchieta e Leitão com
numeroso grupo de índios, tendo ali encontrado sinais da colonização e exploração das terras.
Os primeiros núcleos de povoação em Maricá, surgiram no local onde hoje se encontram o
povoado de São José de Imbassaí e a Fazenda de São Bento, fundada em 1635 por frades
beneditinos. Nesta localidade foi erguida a primeira capela do território, dedicada à Nossa
Senhora do Amparo15 (MARICÁ, 2013). Inicialmente, os novos habitantes dedicaram-se à
agricultura de subsistência, no entanto, diante de condições propícias do mercado, e a fim de
consolidar a ocupação, a Coroa Portuguesa promoveu um rápido desenvolvimento da
indústria açucareira no Brasil, determinando o cultivo da cana-de açúcar, que se estabeleceu
de maneira tímida em Maricá, mas predominante, se tornando a base da economia. Pode-se
dizer que o plantio dos canaviais e a criação de gado foram as atividades que permitiram a
formação e a fixação dos novos núcleos de povoação no território (MARTINS, 1986).
14 Entre os anos de 1574 a 1830, as terras que compreendem hoje o município foram doadas profusamente aos colonizadores portugueses, dividas em sesmarias – terras virgens cedidas a quem se dispusesse à cultivá-la. A primeira distribuição aconteceu onde hoje fica Itaipuaçu, beneficiando Antônio Mariz, em 8 de janeiro de 1574. Deste ano até 1750 foram feitas as 35 cessões mais importantes de sesmarias em Maricá (MARICÁ, 2013). 15 Reconhecida como paróquia perpétua somente em 12 de Janeiro de 1755, a capela existe até hoje e é tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional (MARICÁ, 2013).
70
Devido as febres palustres na região, a população não conseguia desenvolver suas
lavouras, sendo assim, foram aos poucos se deslocando para a outra margem da lagoa, que
possuía terrenos menos insalubres e um clima mais saudável. Assim teve origem o povoado
de Santa Maria de Maricá, elevando-se à categoria de vila em 1814 16 (MARICÁ, 2013).
A efetiva instalação da vila, somente ocorreu em 27 de agosto de 1815, devido à
exigências da coroa portuguesa17 (MARICÁ, 2013).
No ano de 1817, Dom João VI, inaugurou a Estrada Real em Maricá, visando o
atendimento das demandas oriundas da Corte, instalada na cidade do Rio de Janeiro. Com a
introdução do cultivo do café 18, junto à produção de cítricos e outros gêneros agrícolas de
pequena lavoura, Maricá inseriu-se fortemente na zona de influência do Rio de Janeiro, da
qual dependia para a venda da produção e o escoamento portuário, gerando a demanda por
melhorias das condições de acessibilidade ao município (MARTINS, 1986). Sendo assim, a
implantação da Estrada Real de Maricá, permitiu o transporte, feito por carroças, das
mercadorias e também da população. Durante muitos anos, esta foi a única via de acesso e
comunicação com outras localidades vizinhas (MONTEIRO, 2006).
Em 1887, levantou-se a necessidade da implantação de uma ferrovia, para isto uma
comissão de membros atuantes da comunidade, entre estes o Barão de Inoã19, empregaram
seus capitais, inaugurando o primeiro trecho da Estrada de Ferro de Maricá, interligando as
estações de Alcântara e Rio do Ouro, em 1888 (Figura 7). No ano de 1889, com o impulso
econômico outrora gerado pelo café20 e a intensificação comercial proporcionada pela Estrada
de Ferro de Maricá, a Vila de Santa Maria de Maricá que se encontrava em franco progresso,
tornou-se a cidade de Maricá 21 (SOCHACZEWSKI, 2004).
16 A nova povoação tornou-se Vila por Alvará de 26 de maio de 1814 e foi chamada de Santa Maria de Maricá em homenagem à rainha de Portugal. O reconhecimento como vila, levou à independência em relação às terras de Rio de Janeiro, Cabo Frio, e da Vila de Santo Antônio de Sá, as quais pertencia (MARICÁ, 2013). 17 A mudança de status de freguesia para vila, deveria incluir uma igreja matriz e uma Casa de Câmara e Cadeia. 18 Em 1815, café passou a ser a cultura principal, coexistindo com produções menores de cana, frutas e legumes. 19 Barão de Inoã, título do Sr. José Antônio Soares Ribeiro (MONTEIRO, 2006). 20 Com o fim da escravidão, oficializada pela Lei Áurea em 1888, houve uma crise na agricultura nacional. O cultivo do café mudou-se para o Vale do Paraíba, cujo solo apresentava melhores condições e para São Paulo, onde a imigração reduziu a dependência ao trabalho escravo. A cultura da cana também tornou-se inacessível pois exigia grande número de trabalhadores, sendo assim, houve a reconversão do cultivo da cana para os cítricos e pequenas lavouras, passando a abastecer de frutas e legumes a metrópole, pela via ferroviária (SOCHACZEWSKI, 2004). 21 A partir do Decreto Estadual nº 18, de 27 de dezembro de 1889.
71
Figura 7 - Estação Ferroviária de Inoã, anos 40
Fonte: Arquivo da Cidade - Cartilha Institucional Maricá, 2013
A Estrada de Ferro de Maricá se constitui como um marco importante na história do
município, por sua força como eixo de desenvolvimento. A posição privilegiada de Maricá,
permitia a ligação entre as áreas vizinhas produtoras e o centro de exportação de produtos
agrícolas, abastecendo os mercados de Niterói e Rio de Janeiro, com estes produtos e
sobretudo com pescado, que durante muitos anos constituiu-se como fonte principal de renda
no município (MARICÁ, 2013).
Entre os anos de 1911 e 1940, a Estrada de Ferro viveu seu auge, registrando grande
número de passageiros e volumes transportados. Através de ações do Governo Federal, a
ferrovia se estendeu nas duas direções. Por um lado, foram interligados os trechos a partir da
estação de Neves, em São Gonçalo, até o ramal da Leopoldina e por outro lado, foi
prolongada até Iguaba Grande. Posteriormente, o traçado da ferrovia chegou até Cabo Frio,
permitindo o escoamento da produção local de sal, café, fumo, milho, açúcar, aipim, abacaxi,
laranja, farinha de ostra e pescado, dentre outros. A partir de 1950, com o declínio da
atividade agrícola de toda a região, os trechos da ferrovia foram sendo desativados e teve seu
encerramento definitivo decretado em 1966 (MARICÁ, 2013).
3.2.2 A evolução urbana no município
A ocupação do território e a utilização do solo no município de Maricá, historicamente
tem correspondido aos diferentes ciclos econômicos vivenciados pela região, com suas
respectivas levas de ocupação e desocupação. Neste sentido, é possível relacionar os
principais marcos que permitem remontar o histórico da evolução urbana de Maricá, a partir
da sua consolidação como cidade.
72
Em 1889, a partir da construção da Estrada de Ferro, iniciou-se a urbanização do
núcleo central e o parcelamento da Vila de Santa Maria de Maricá, elevada na ocasião à
categoria de cidade. Isto permitiu a migração de moradores de Niterói e do Rio de Janeiro,
que se direcionaram para a atividade agrícola em Maricá (COYUNGI, 2009) Com o fim do
ciclo do café, houve maior desenvolvimento da produção de cítricos, sendo assim Maricá teve
a laranja e outros cítricos como importantes produtos de exportação até o final da década de
30, período este em que ocorreu uma forte ocupação urbana no município (SOCHACZEWSKI,
2004).
Na década de 1940, houve o declínio da atividade agrícola no município, que perdeu
mercado em decorrência da Segunda Guerra Mundial 22, levando ao abandono das lavouras e
gerando desemprego a toda a região, isto provocou um movimento migratório em direção às
favelas do Rio de Janeiro, Niterói e de bairros populares de São Gonçalo e da Baixada
Fluminense. A população que permaneceu no município incorporou-se ao mercado da
construção civil e da indústria extrativista mineral, além de haver uma intensificação da
atividade pesqueira (SOCHACZEWSKI, 2004).
A partir desta época23, tem-se o início de um processo de urbanização através do
parcelamento de terras, que levou a uma rápida transformação da Maricá rural em um
município periurbano. Os primeiros loteamentos estabelecidos, destinaram-se à venda para
classes mais populares (COYUNGI, 2009). Esta atividade já prenunciava a especulação
imobiliária no município. Observa-se então que o solo adquiriu um novo uso, adaptando-se a
um novo contexto de desenvolvimento urbano-industrial que fora adotado a partir do governo
Vargas (SOCHACZEWSKI, 2004).
É possível destacar, ainda neste período, que associadamente ao parcelamento de
terras, houve também a promoção do desenvolvimento do setor de transportes, por Jacinto
Caetano24, sendo um meio vital para tornar viável a ocupação dos novos espaços. Além disso,
Lúcio Tomé Feteira, influenciado por Jacinto, seu amigo e sócio, adquiriu extensas faixas de
22 A exportação incentivou novos produtores e elevou a quantidade de empregos e de renda na região até 1940, quando as dificuldades da Segunda Guerra alteraram as relações comerciais entre Brasil e Europa. A exportação de laranjas terminou em 1940 (SOCHACZEWSKI, 2004). 23 Segundo Martins (1986), o processo de urbanização via parcelamento de terras foi iniciado entre 1943 e 1949. 24 Jacinto Caetano, figura proeminente na cidade, fundou a empresa de ônibus Viação Nossa Senhora do Amparo, em 1950, para servir a trajetos intermunicipais. Durante muitos anos esta empresa foi a maior geradora de empregos no município. Jacinto, um empreendedor, estimulou o crescimento no município, a partir de loteamentos residenciais populares, para que a população pudesse residir, além de utilizar sua frota de ônibus para o deslocamento e comprar em suas vendas, tudo isto estimularia a circulação monetária dentro do município (SOCHACZEWSKI, 2004).
73
terra no município. Juntos estabeleceram uma política de loteamentos em Maricá, vinculando
o desenvolvimento da cidade ao parcelamento da terra (SOCHACZEWSKI, 2004).
Também vale destacar, neste período, a atuação do Prefeito Dr. Orlando de Barros
Pimentel 25, que realizou obras de alargamento nas travessas, ruas e avenidas, bem como a
construção de um reservatório de água potável no bairro da Boa Vista, em 1937, que abastecia
grande parte da população do centro da cidade, além da instalação de um gerador movido a
diesel em 1939, com a colaboração de Jacinto Caetano, que fornecia energia elétrica ao centro
da cidade a noite (Figuras 8 e 9). Estas intervenções contribuíram para a urbanização no
município (MONTEIRO, 2006).
Figura 8 - Praça Orlando de Barros Pimentel
Centro de Maricá – década de 40 Fonte: Monteiro, 2006
Figura 9 - Largo em frente à Igreja Matriz de N.S. do Amparo
Centro de Maricá – década de 40 Fonte : Monteiro, 2006
25 O Prefeito Dr. Orlando de Barros Pimentel se estabeleceu por três mandatos, entre 1937 e 1958, tendo sido quem por mais tempo governou o município (MONTEIRO, 2006).
74
Em 1943, a Fazenda de São Bento (Figura 10) foi adquirida pela Companhia Vidreira
do Brasil, a COVIBRA26. Esta empresa extraía grandes quantidades de areia da restinga, que
eram transportadas pela Estrada de Ferro de Maricá para abastecer a sede da vidreira em
Neves, em São Gonçalo. Além disso, madeiras extraídas da antiga fazenda eram utilizadas
como lenha para os fornos da companhia. Estas medidas vieram a causar graves degradações
ambientais. Outras quinze empresas de atividades diversas, também utilizavam areia da
restinga até a proibição de sua retirada. Somente em 1984, foi criada a Área de Proteção
Ambiental – APA de Maricá, pelo Decreto n.7230, abrangendo 496 hectares de vegetação da
restinga, tendo por finalidade a preservação das espécies endêmicas da fauna e a flora
(SOCHACZEWSKI, 2004).
Figura 10 - Mapa da Fazenda de São Bento da Lagoa
Fonte: Siqueira, 2007 apud Coyungi, 2009
A implantação da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106) (Figura 11), na década de 1950,
atraiu a população para o município, levando ao aumento do parcelamento e do preço das
terras em Maricá. Sendo assim, até 1955, houve um parcelamento intenso das terras,
configurando o primeiro “boom” imobiliário no município, entre os anos de 1950 a 1955
(COYUNGI, 2009). Neste mesmo período foram realizadas obras de saneamento, de forma a
combater a malária e outras epidemias, incluindo a drenagem das terras do município e a
abertura dos canais de Itaipuaçu, e de Ponta Negra, em 1951 (GOMES, 2002 apud COYUNGI,
2009). Estas medidas sanitaristas, vieram por alterar o processo de cheias e inundações,
permitindo o loteamento das áreas drenadas, que serviram em um primeiro momento ao uso
agrícola e posteriormente foram urbanizadas. Maricá tornou-se um local de veraneio atraindo
26 Em 1970, a COVIBRA foi vendida para a SEAI - Sociedade de Exploradores Agrícolas e Industriais. Em 1972, a SEAI foi comprada por Lucio Tomé Feteira. Em 1976, com a ideia de urbanizar e lotear as áreas de restinga remanescentes da fazenda, Feteira hipotecou a área à São Bento Urbanização e Turismo Ltda, que nela construiria a Cidade São Bento da Lagoa, o que foi evitado com a transformação da restinga em APA. A partir de 2003, houve o interesse da implementação de um plano diretor que permitisse a exploração da área, sendo assim, representantes da sociedade civil foram convidados a uma série de oficinas para contribuir na criação de um plano diretor para a APA (SOCHACZEWSKI, 2004 p.34).
75
uma população vinda das cidades de Niterói e do Rio de Janeiro (MARTINS, 1986). Sendo
assim, houve um desenvolvimento da indústria da construção civil no município (COYUNGI,
2009).
Figura 11 - Rodovia Amaral Peixoto - década de 60
Fonte: Prefeitura Municipal de Maricá apud Coyungi, 2009
Em 1960, devido à crise econômica que predominava no contexto nacional, houve um
declínio do processo de parcelamento de terras, tendo Maricá sofrido uma forte retração no
mercado imobiliário (SOCHACZEWSKI, 2004).
Em 197027, com a recuperação da economia no município, devido a um novo ciclo
desenvolvimentista, é possível identificar um segundo “boom” imobiliário28 em Maricá,
configurando um alto índice de parcelamento de terras. Este índice só pode ser comparado à
1974, ano de inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva (Ponte Rio-Niterói) e o início de
uma nova organização da Região dos Lagos, consistindo na base para a criação da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro (MARTINS, 1986). A Ponte Rio-Niterói, que uniu
efetivamente os dois lados da Baía de Guanabara, junto à Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106),
permitiu uma acessibilidade rápida ao município de Maricá por meio rodoviário. Isto facilitou
o deslocamento ao município, levando à consolidação do mercado imobiliário e concedendo à
Maricá a característica de cidade-dormitório29. Pode-se dizer que a Ponte Rio-Niterói,
consolidou o processo de especulação imobiliária não só em Maricá, como em toda a Região
dos Lagos (SOCHACZEWSKI, 2004). 27 A partir de 1970, o município de Maricá deixa de ser predominantemente rural. Outro fato que merece destaque é a alteração definitiva do perfil econômico do município, onde metade da população economicamente ativa atuava no setor primário. 28 Nesta época houve o aumento da migração ao município, a partir da fixação de famílias que já possuíam casas de veraneio, estas se estabeleceram em definitivo no território. O crescente aumento demográfico foi o responsável pelo início de degradações ao meio ambiente, com o lançamento de esgotos nas lagoas, o desmatamento, extração de terra e areia e etc. Além disto, o poder público não estava preparado para as novas demandas urbanas, por novas escolas, redes de abastecimento de água e energia elétrica, coleta de resíduos sólidos e etc. 29 A partir de 1974, a área central de Maricá, assumiu definitivamente o papel de núcleo dormitório entre a Região Metropolitana e a Região dos Lagos.
76
No ano de 1977, um Plano Diretor Urbano foi elaborado para Maricá, pela
FUNDREM, fundação criada para a gestão do desenvolvimento da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro, e aprovado na Câmara Municipal. Em 1979, foi inaugurada a Ponte do
Boqueirão, que promoveu a ligação rodoviária do município com suas praias, aumentando o
interesse por estas áreas e impulsionando definitivamente o loteamento na região das
restingas30 (SOCHACZEWSKI, 2004). Nesta época, todas as áreas junto à orla marítima
passaram por um processo de valorização, sendo estas: Itaipuaçu, Barra, Jaconé e Ponta
Negra. Todas estas obras que permitiram a ampliação da acessibilidade no município,
aceleraram o processo de urbanização (MARTINS, 1986).
No ano de 1980, uma nova crise econômica no contexto nacional, resultou em nova
retração do processo de parcelamento de terras no município, levando a uma estagnação no
setor imobiliário. No entanto, a partir da década de 1980 até final da década de 1990, é
possível observar um substancial aumento demográfico no município, pois as terras outrora
vendidas, começaram a ser efetivamente ocupadas 31 . A ocupação deu-se a partir da
possibilidade da construção, a um custo menor, de casas próprias e também a facilidade de
acesso ao município que se encontrava situado próximo aos centros de oferta de emprego.
No início da década de 2000, com a duplicação e ampliação da Rodovia Amaral
Peixoto, houve um incremento populacional em Maricá, que se configurou em um terceiro
“boom” populacional, a partir da fixação de residência por veranistas e a atração de novos
investidores, estimulando mais uma vez a especulação imobiliária (SOCHACZEWSKI, 2004).
Em 2006, foi implementado um novo Plano Diretor Urbano no município, sendo este
elaborado a partir de discussões com diversos setores da sociedade e particulares, cumprindo
a determinação da Constituição Federal quanto à participação popular na gestão territorial.
Neste mesmo ano, foi anunciada a implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro,
o Comperj32 (Figura 12), no município vizinho de Itaboraí, determinando um novo momento
30 Na década de 80, quase todas as áreas de restinga foram loteadas. Apenas uma parte da região encontra-se relativamente preservada, tornando-se a APA de Maricá, desde 1984. Nesta época, todas as atividades econômicas tradicionais do município, incluindo a pesca, já haviam entrado em declínio. 31 A partir da década de 1980, os loteamentos adquiridos entre os anos de 1940 e 1950, que representaram um novo uso dado à terra, mas não representaram ocupação imediata significativa na época, passaram a ser maciçamente ocupados (SOCHACZEWSKI, 2004). 32 O Comperj está sendo construído pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal em uma área de 45 km² e terá como objetivo estratégico expandir a capacidade de refino da Petrobras para atender ao crescimento da demanda de derivados no Brasil, como óleo diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação, coque e GLP (gás de cozinha). A previsão de entrada em operação da primeira refinaria é agosto de 2016, com capacidade para refino de 165 mil barris de petróleo por dia. Acesso em: 06 jul. 2015. Fonte: http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes/ refinarias/complexo-petroquimico-do-rio-de-janeiro.htm
77
socioeconômico ao município de Maricá. Em 2007, Maricá passou a receber os royalties
provenientes do petróleo e desde então, vem experimentando um crescimento acelerado, não
mais vinculado apenas aos setores de comércio e serviços, mas sim a um perfil industrial,
voltado para a logística de apoio às operações offshore de petróleo, como propulsor do
desenvolvimento do município (MARICÁ, 2013)
Figura 12 - Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
Fonte: PETROBRÁS, 2015
Outra grande obra de infraestrutura que vem sendo realizada no entorno é a construção
do Arco Metropolitano. Esta é uma autoestrada que interligará as cidades da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, como: Itaboraí, Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova
Iguaçu, Japeri, Seropédica e Itaguaí. O Arco Metropolitano deverá chegar até Maricá na
segunda fase da obra, sendo fundamental ao desenvolvimento do município.
Por fim, pode-se dizer que o município atualmente, vive um novo momento de
especulação imobiliária e migração, impulsionados pela instalação do Comperj e a promessa
da chegada de grandes empreendimentos na cidade, o que tende a elevar o valor do solo. É
possível observar que novos condomínios e loteamentos residenciais estão sendo construídos
especialmente para atender a uma população de nível de renda média à alta. Estes grandes
empreendimentos imobiliários surgem em áreas ainda não urbanizadas e que ainda conservam
características rurais. Sendo assim, o município que já fora considerado cidade-dormitório de
Niterói e do Rio de Janeiro, pode vir a receber um grande incremento populacional, vindo a se
tornar cidade-dormitório deste novo complexo. Vale ressaltar, que novos empreendimentos
sempre geram demandas para as quais o poder público municipal precisa preparar a cidade.
Além disso, é necessário um plano efetivo para a mitigação de impactos ambientais e o
controle da ocupação do solo.
78
3.3 Cenário socioeconômico atual
3.3.1 Aspectos sociais
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM, permite medir o
desenvolvimento de uma população em determinado município, indo além da dimensão
econômica. Esta é uma medida composta de indicadores de três dimensões do
desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O valor obtido pelos três
indicadores são agrupados por meio de uma média geométrica, resultando no valor do IDHM.
Sendo assim, o índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento
humano (IDHM Atlas Brasil, 2013).
É válido ressaltar, que o IDHM brasileiro, segue as mesmas três dimensões do IDH
Global - longevidade, educação e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao
contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos
fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para avaliar o
desenvolvimento dos municípios brasileiros. Sendo assim, os componentes que compõem o
IDHM, permitem contar um pouco da história dos municípios em três importantes dimensões
do desenvolvimento humano durante duas décadas da história brasileira (IDHM Atlas Brasil,
2013). Calculado com base no Censo do IBGE, o IDHM inclui três componentes:
- IDHM Longevidade: significa a oportunidade de viver uma vida longa e saudável.
Este índice é calculado com base na expectativa de vida ao nascer.
- IDHM Educação: visa o acesso ao conhecimento. Este índice é medido pela
composição de indicadores de escolaridade da população adulta e do fluxo escolar da
população jovem.
- IDHM Renda: busca um padrão de vida que garanta as necessidades básicas,
representadas pela saúde, educação e renda. Este índice é medido com base na soma da renda
de todos os residentes no município e dividida pelo número de pessoas que moram no
município, inclusive crianças e pessoas sem registro de renda (IDHM Atlas Brasil, 2013).
79
Segundo os dados informados no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
201333, o município de Maricá apresentou os índices de: 0,520 em 1991; índice de 0,637 em
2000 e índice de 0,765 em 2010 (Tabela 5). Isto representa um aumento e um salto qualitativo
no desenvolvimento humano do município. Com base no índice de 2010, Maricá situa-se na
faixa de Desenvolvimento Humano Alto (IDHM entre 0,700 e 0,799). A dimensão que mais
contribui para o IDHM do município é Longevidade, com índice de 0,850, seguida de Renda,
com índice de 0,761, e de Educação, com índice de 0,692 (IDHM Atlas Brasil, 2013).
Tabela 5 - Resultados dos índices em 1991, 2000 e 2010 - Maricá/RJ
Fonte: PNUD, Ipea e FJP
A título de comparação, o IDHM de Maricá, no período que compreende os anos de
1991 a 2010, duas décadas, obteve uma taxa de crescimento total de 47,12%. Enquanto o
IDHM da Unidade Federativa (UF) cresceu 47% no total (Gráfico 1). O índice que mais
cresceu em termos absolutos, tanto no município, quanto na Unidade Federativa, ao longo
destes anos, foi Educação (IDHM Atlas Brasil, 2013).
Sendo assim, Maricá ocupa a 289a posição entre 5.565 municípios brasileiros segundo
o IDHM (IDHM Atlas Brasil, 2013).
33 O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 - parceria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Fundação João Pinheiro (FJP).
80
Gráfico 1 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - Maricá/RJ
Fonte: PNUD, Ipea e FJP
Outro indicador que merece ser citado em relação aos aspectos sociais é a segurança
pública.
Com base nos dados oficiais obtidos do Instituto de Segurança Pública do Rio de
Janeiro, Maricá aumentou gradualmente o registro de ocorrências criminais no município,
comparando os primeiros semestres entre 2008 e 2012, apresentando assim um crescimento
contínuo das incidências ao longo do tempo. O município apresentou uma alta média de 9,5%
de ocorrências criminais em geral durante estes anos. No entanto, as ocorrências que mais
sobressaíram em Maricá foram os estelionatos34, que cresceram no município, nos primeiros
semestres de 2008 a 2012, a uma média de 11,9% (LEISECAMARICA, 2014).
Comparando as ocorrências de crimes violentos e de crimes contra o patrimônio,
cometidos entre janeiro e agosto de 2013, às mesmas ocorrências neste período, em 2014,
relatadas na 12ª Área Integrada de Segurança (AISP 12), que inclui Niterói e Maricá, é
possível notar queda nos índices de violência. Na AISP 12, comparando os trimestres de
junho, julho e agosto de 2013 em relação à 2014, observa-se que os delitos que tiveram maior
redução foram: roubos de veículos (com menos 111 casos ou 25% menos), roubo em
coletivos (com menos 54 casos ou 43,5% menos casos) e roubo à residências (com menos 17
34 Enquanto que em municípios como Itaboraí houve aumento nos casos de vítimas de ameaças, já em São Gonçalo exibiu evidência em vítimas de estupros e Niterói, não revelou um crime em permanente elevação, destacando-se apenas os roubos a residências no comparativo do último semestre (LEISECAMARICA, 2014)
81
casos). No entanto, roubos à transeuntes, ameaças e estelionato, apresentaram maior aumento
(LEISECAMARICA, 2014).
Vale ressaltar, que no mês de abril de 2015, o número de homicídios dolosos no
estado do Rio de Janeiro, apresentou o menor índice para o mês de abril, desde 1991, quando
os dados passaram a ser disponibilizados pela Polícia Civil. Segundo o Instituto de Segurança
Pública, isto representou uma redução de 22% no número de homicídios em comparação com
abril de 2014. Dentre as cidades que ocorreram as maiores reduções, destaca-se Maricá, com
36% de queda em relação à 2014 (EBC, 2015).
Outros dados mais específicos sobre as questões sociais encontram-se no Anexo 1 desta
monografia.
3.3.2 Aspectos culturais
Com relação aos aspectos culturais, observa-se que o município de Maricá apresenta
alguns equipamentos neste sentido, no entanto, os investimentos em Cultura ainda não
acompanham o aumento populacional, que demandam ao município novos museus, casas de
espetáculo, cinema e teatro.
O município dispõe de uma Casa de Cultura35. O histórico prédio36, situado na Praça
Orlando de Barros Pimentel e construído no século XIX, onde funcionava a Câmara
Municipal, foi reformado em 2001 e passou a abrigar a nova Casa de Cultura do município e
sede atual da Secretaria Municipal de Cultura (Figura 13). A Casa de Cultura apresenta
exposições de arte, cinema e eventos culturais, além de ministrar cursos e palestras, e
patrocinar prêmios através do reconhecimento aos trabalhos de todos os tipos de atividades do
gênero cultural. Algumas das atividades atuais mais importantes deste espaço é o Cineclube
Henfil e o Curso Livre de Cinema.
35 Inaugurada em 21 de maio de 2001, com uma exposição coletiva de vários artistas maricaenses. 36 O histórico prédio já abrigou a Prefeitura, a Câmara Municipal, a Cadeia Pública, o Banco do Brasil, e atualmente, deu lugar a Casa de Cultura de Maricá, a Academia de Letras de Maricá e também a Casa do Artesão. Seu projeto é assinado por Júlio Frederico Koeler, engenheiro responsável por diversas construções em Petrópolis, incluindo o prédio do Museu Imperial de Petrópolis.
82
Figura 13 - Casa de Cultura - antiga Câmara Municipal - Centro de Maricá
Fonte: MARICÁ, 2013
Outro importante equipamento cultural e social da cidade é a Casa Digital de Maricá37
(Figura 14). Também localizada na Praça Orlando de Barros Pimentel, no Centro de Maricá,
este espaço oferece por exemplo, cursos de informática, sobretudo para idosos, que buscam
uma atualização frente as novas tecnologias. A partir dos diversos ambientes disponíveis, de
acesso livre e gratuito ao público, destaca-se a sala de leitura, TV e vídeo, como um espaço
que estimula a comunicação e a interação social, propiciando um ambiente de trocas e
informações. Este é um aspecto muito importante, que deve ser sempre estimulado,
permitindo a construção de relações entre os moradores da cidade.
A Casa Digital também possui um auditório para eventos e um laboratório de
tecnologia educacional, ambos com aparelhos de TV e acesso à internet.
Figura 14 - Casa Digital no Centro de Maricá
Alunos da turma de informática para a Terceira Idade, na Casa Digital. Fonte: Google images
37 Casa Digital, antiga Casa do Futuro.
83
Também incorporado ao conjunto arquitetônico da Praça Orlando de Barros Pimentel,
encontra-se o Anfiteatro Municipal de Maricá, sendo este o principal espaço para a realização
de espetáculos no município (Figura 15). Esta arena possui capacidade para 500 pessoas e
abriga ainda, um palco em forma de concha acústica, camarins e banheiros. Além disso, este
local abriga a Biblioteca Municipal e o Centro de Informações Turísticas (MONTEIRO, 2006).
Figura 15 - Anfiteatro municipal - Centro de Maricá
Fonte: MONTEIRO, 2006.
3.3.3 Aspectos econômicos
A partir da substituição da atividade agrícola pela exploração petrolífera na Bacia de
Campos, toda a região do leste fluminense foi beneficiada economicamente com esta nova
atividade que foi capaz de alavancar o crescimento da região. Pode-se dizer que desde então o
município de Maricá vem experimentando um crescimento acelerado.
Neste sentido, atualmente o município vivencia um novo ciclo, atravessando um
momento de grande desenvolvimento, a partir da descoberta dos depósitos do pré-sal na Bacia
de Santos, a 200 km da costa e de sua localização vizinha ao Complexo Petroquímico do
Estado do Rio de Janeiro - Comperj, ampliando a participação estratégica do município em
relação à indústria do petróleo. Estes fatores tem proporcionado benefícios diretos ao
município pela entrada de novos investimentos.
Com a demarcação das áreas petrolíferas do pré-sal, em 2009, onde foi estabelecido
para Maricá uma cota de 49% sobre a principal reserva da região, o campo Lula, o município
vem recebendo novos subsídios que tem sido aplicados na provisão de infraestruturas que
atendam às novas demandas geradas pelo seu repentino crescimento.
84
Um amplo pacote de verbas foram também destinadas ao desenvolvimento do
município pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. Os
recursos que somam quase 500 milhões de reais, vem sendo aplicados prioritariamente na
expansão das redes de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto, sobretudo na
pavimentação de ruas e avenidas. Além disso, o município construiu cerca de 3 mil moradias
para famílias com nível de renda baixa, através do programa federal Minha Casa Minha Vida.
Entre os projetos aprovados e contemplados com os novos recursos, também inclui-se a
construção do novo hospital municipal e novas creches, escolas e postos de saúde.
Conforme dito, segundo dados do IBGE, o município apresentou o quarto maior
crescimento populacional do país entre os anos de 2003 e 2013. Sendo assim, tendo em vista,
além do crescimento populacional, mas a importante atribuição do município como um pólo
petrolífero, foi realizado pela Prefeitura municipal, um Master Plan de trinta anos, que prevê a
instalação de grandes equipamentos e infraestruturas na cidade. O Master Plan tem por
objetivo orientar o crescimento e promover um desenvolvimento sustentável a longo prazo,
que seja socialmente, ambientalmente e economicamente viável.
Dentre os grandes projetos previstos ao município para os próximos anos estão: a
construção de um pólo naval em Jaconé, incluindo a construção de um porto (Figura 16), a
ampliação do aeroporto municipal a fim de suprir as novas demandas do pólo petrolífero, bem
como a instalação de um corredor de logística também para atender a indústria do petróleo.
Figura 16 - Previsão Porto de Jaconé
Fonte: MARICÁ, 2013
O Master Plan já se encontra em execução e os investimentos e recursos disponíveis
ao uso. Neste sentido, a administração municipal explicita que: “Nos últimos cinco anos, a
criteriosa aplicação, pela atual gestão, dos recursos oriundos tanto de impostos quanto de
85
repasses governamentais vem garantindo o cumprimento do plano e destacando a cidade”
(MARICÁ, 2013).
Com relação aos resultados dos investimentos aplicados, é válido ressaltar um
levantamento realizado em 2011, pela FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro, que qualifica a gestão fiscal no âmbito nacional. O Índice FIRJAN de Gestão
Fiscal (IFGF)38, visa contribuir com uma gestão pública eficiente e democrática, estimulando
a cultura da responsabilidade administrativa e possibilitando maior aprimoramento da gestão
fiscal dos municípios, a partir do aperfeiçoamento das decisões dos gestores públicos quanto à
utilização dos recursos. O levantamento feito com base nos dados obtidos pela Secretaria do
Tesouro Nacional (STN), mostrou que Maricá ocupava a 13a posição no ranking estadual,
entre 92 municípios e a 285a posição entre 5.164 municípios brasileiros, este resultado em
comparação com o ano anterior de 2010, é muito significativo e representou um grande salto
qualitativo, uma vez que Maricá ocupava a 72a posição no ranking estadual e a 2346a posição
no ranking nacional (MARICÁ, 2013).39
A grande melhora na gestão municipal pode ser confirmada pelo resultado deste
levantamento. Em 2010, Maricá obteve o índice IFGF de 0,5684 pontos, que corresponde a
um conceito C, relativo a uma Gestão com Dificuldade (0,4 a 0,6 pontos). Já em 2011, Maricá
obteve o índice IFGF de 0,7476 pontos, correspondente a um conceito B, relativo a uma Boa
Gestão (0,6 a 0,8 pontos). Caso o município mantenha este padrão, facilmente poderá chegar
a uma Gestão de Excelência (superior a 0,8 pontos) (FIRJAN, 2015).
Outro dado importante a ser mencionado é o PIB – Produto Interno Bruto. O
município obteve em 2012, segundo dados do IBGE, um valor total de R$5.332.833,
representando a soma da produção da agropecuária, indústria e serviços. Tendo sido a
indústria a categoria que mais contribuiu. O valor do PIB per capita foi de R$39.467,09.
O levantamento de informações e dados econômicos mais específicos podem ser
encontrados no Anexo 1 desta monografia.
38 O IFGF é um índice composto por cinco indicadores – Receita Própria, Gastos com Pessoal, Investimentos, Liquidez e Custo da Dívida. 39 Fonte: http://www.firjan.org.br/ifgf/ Acesso em: 21 abril 2015.
86
3.3.4 Aspectos turísticos
O município de Maricá apresenta um grande potencial turístico, com inúmeras
vocações, seja ao turismo ecológico, cultural ou religioso. Sendo assim, é necessário que o
turismo seja incentivado no município, como uma importante estratégia sustentável, geradora
de renda e empregos na região. Neste sentido, é fundamental que o município invista em
novos equipamentos e infraestruturas capazes de atender as novas demandas turísticas para os
próximos anos.
Com relação aos atrativos naturais, conforme dito anteriormente, Maricá possui uma
posição privilegiada, onde encontra-se cercada por uma topografia montanhosa com grandes
áreas preservadas de Mata Atlântica e belas paisagens marinhas e de restingas oceânicas. O
município contém um vasto litoral com 46 km de praias e mais seis lagoas, rios e cachoeiras
que compõem sua hidrografia. As condições climáticas são as mais favoráveis,
proporcionando temperaturas agradáveis durante todo o ano. Com relação aos atrativos
materiais, a cidade apresenta um significativo acervo histórico, que além de auxiliar na
preservação da história do município, se constitui como uma importante atração cultural e
turística. Todos estes pontos positivos ampliam o interesse pela cidade.
Através do reconhecimento destes valores, reforça-se a vocação turística do
município, sendo necessário um planejamento a longo prazo, que contemple as questões
turísticas de maneira inteligente, consolidando-o como um município de interesse turístico,
através do provimento de todas as infraestruturas básicas necessárias. Observa-se que a cidade
já tem passado por uma transformação na busca de um planejamento mais focado em um
turismo de qualidade, onde é essencial oferecer uma infraestrutura adequada que compreende
os serviços de hospedagem, gastronomia e opções variadas de lazer, de forma a atender a
demanda turística.
Neste sentido, um inventário turístico foi realizado pela Prefeitura, de modo a
oficializar o mapeamento das atrações presentes no município, auxiliando no planejamento de
eventos e projetos para a cidade e facilitando o acesso aos recursos federais para os
investimentos neste setor. Foram identificadas as demandas e vocações do município e
propostas ferramentas que pudessem promover o crescimento do turismo. Sendo assim, para
que o município desfrute então, dos benefícios proporcionados pelo turismo, ainda é
necessário formatar e potencializar os atrativos existentes, capacitar sua mão-de-obra,
incentivar os empreendedores da região, divulgar a história, a cultura e as belezas naturais do
município.
87
Figura 17 - Riquezas naturais - topografia peculiar, praias oceânicas e lagoas
Fonte: MARICÁ, 2013.
Toda a diversidade natural presente no município, agrega um valor turístico
inestimável, pois permite a prática de diversas atividades, como o surf nas praias, esportes
náuticos nas lagoas e o voo livre, o mountain bike e o trekking, nas montanhas, além de
esportes equestres e golf na região.
Quanto à diversidade cultural, esta é representada por seu passado colonial,
contemplando alguns prédios e monumentos preservados, que podem ser visitados,
permitindo lembrar a história do município. Maricá apresenta muitas propriedades rurais,
como grandes chácaras e fazendas, muitas delas ricas em conteúdo histórico. Destacam-se
como atrativos culturais: a Casa de Cultura, já citada anteriormente, que abrigou a antiga
Câmara e Cadeia Pública, hoje um importante pólo cultural da cidade; a Fazenda Itaocaia, em
Itaipuaçu, uma fazenda cafeeira que hospedou D. Pedro I e Charles Darwin; e a Igreja Matriz
de Nossa Senhora do Amparo, construída no final do século XVIII, em estilo tradicional da
arquitetura colonial brasileira.
Dentre os roteiros turísticos do município, as praias e lagoas são as principais atrações,
recebendo milhares de visitantes durante todo o ano, sobretudo nas férias e feriados. Alguns
dos locais mais visitados são as praias da Barra de Maricá, Ponta Negra (Figura 18) e
Itaipuaçu, e as lagoas de Maricá, Guarapina e Jaconé.
Figura 18 - Praia de Ponta Negra
Fonte: MARICÁ, 2013
88
Quanto às opções do turismo de aventura, vale destacar a Pedra do Elefante, a Gruta
do Spar, a Pedra do Macaco, a Pedra do Silvado e a Cachoeira do Espraiado. O município já
integra o roteiro estadual do trekking, com várias trilhas de diferentes graus de dificuldade
sendo aproveitadas em um circuito organizado pela Prefeitura, que tem atraído cada vez mais
turistas. Inclui-se também aos roteiros turísticos, uma visita à aldeia indígena Tekoa Ka’aguy
Hovy Porã, que significa Mata Verde Bonita, em São José do Imbassaí, onde são realizadas
apresentações de danças e músicas com trajes típicos, além da venda de comidas, bebidas e
artesanato local.
Como uma opção de destaque no roteiro de turismo rural, tem-se o Espraiado, que
reúne maravilhas naturais, como cachoeiras e florestas, além de um patrimônio cultural
inestimável, representado por suas antigas fazendas. No Espraiado é realizado um evento
mensal denominado “Espraiado de Portas Abertas”, que constitui-se como um importante
evento cultural e turístico na região, reunindo artesanato, culinária, música e história local.
Conforme dito, a Prefeitura Municipal, tem a intenção de aumentar a visibilidade de
Maricá, não somente como uma cidade de veraneio, mas busca a promoção para um status de
cidade turística. Sendo assim, observa-se que Maricá, atualmente, já contempla vários
projetos, que configurarão um enorme atrativo.
Dentre os projetos previstos, um dos maiores é a construção do Aquário Niemeyer, em
Barra de Maricá. Este é um dos últimos projetos assinados pelo renomado arquiteto Oscar
Niemeyer, falecido em 2012. O complexo prevê um aquário marinho, uma torre de 70 metros
de altura com mirante e restaurante panorâmico, um anfiteatro com capacidade para 800
pessoas e uma escola de capacitação para a pesca artesanal, uma atividade tradicional do
município (MARICÁ, 2013).
Outro equipamento voltado à potencialização do turismo é implantação de plataformas
móveis que criarão um recife artificial em dois pontos da costa no município, proporcionando
a prática do surf em ondas perfeitas e também a melhora das condições de balneabilidade das
praias de Maricá. Este projeto foi encomendado pela Prefeitura, junto à Coppe-UFRJ40 que
desenvolve um estudo há quase dez anos para a criação das estruturas móveis, baseadas em
modelos matemáticos precisos, que aproveitarão a própria energia das ondas para gerar ondas
perfeitas. Este projeto inovador, permitirá competições de surf de alto nível, tornando-se um
grande atrativo esportivo e turístico para o município (PMM, 2014).
40 Coordenação de Projetos de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
89
Outro projeto previsto é a construção de um teleférico na praia de Ponta Negra, que
levará os visitantes a um passeio até o farol. O antigo Farol da Ponta da Galeta (Figura 19), é
um ponto de afluência turística, muito visitado, possui um mirante que permite avistar boa
parte da região litorânea, principalmente, as praias de Ponta Negra e Jaconé e a Lagoa de
Guarapina (MARICÁ, 2013).
Figura 19 - Farol da Ponta da Galeta – Ponta Negra
Fonte: MARICÁ, 2013
Estão previstos também, investimentos no turismo náutico, com a construção de uma
marina para embarcações de até 56 pés na Lagoa de Guarapina, em Ponta Negra, e de canais
urbanizados que farão a interligação de todo o complexo lagunar, permitindo a navegação de
pequenos barcos. Sendo assim, será possível cruzar todo o município por via de navegação.
Como forma de suprir parte da demanda turística por hospedagem e promover um
desenvolvimento econômico na região, estão previstos a construção de hotéis e resorts de alto
padrão internacional. Dentre os projetos, merece destaque um resort que estará situado em
uma área de preservação, a restinga da Barra de Maricá (APA de Maricá). Este complexo, que
será realizado com capital espanhol, prevê a construção do primeiro campo de golfe público
no país e ações sociais voltadas à comunidade de pescadores tradicionais existentes no local,
para que possam participar do empreendimento. Este é um empreendimento polêmico,
justamente por estar situado em uma área de preservação ambiental 41.
41 A discussão sobre este empreendimento e seus impactos estará no capítulo 4 desta monografia.
90
Por fim, vale ressaltar, que apesar da grande abundância de atrativos turísticos em
Maricá, vê-se que o município ainda carece de uma infraestrutura que possa atender as
demandas turísticas, portanto, é necessário ainda, muitos investimentos 42.
Entende-se que o turismo encontra-se entre as atividades econômicas que mais
necessitam da valorização e conservação do meio ambiente natural e construído, uma vez que
os destinos de destaque são atrativos relativos à cultura e às belezas naturais. Portanto, o
turismo em Maricá, deve privilegiar a proteção e a conservação de suas riquezas naturais, a
biodiversidade existente e manter o patrimônio cultural, além da promoção do
desenvolvimento das comunidades locais, traduzindo-se na obtenção de retornos econômicos
e a garantia enfim, de uma atividade sustentável.
3.4 Aspectos ambientais e caracterização urbanística
A compreensão da dinâmica de interação entre o meio ambiente natural e o ambiente
construído, em que vive o homem, é necessária. Este entendimento, conforme visto, parte da
consideração de um todo abrangente, e do conhecimento das partes e da forma como estas se
inter-relacionam. Sendo assim, um diagnóstico ambiental e urbano é primordial como a base
da proposição de estratégias para um planejamento sustentável. Através de um diagnóstico, é
possível identificar as peculiaridades de uma determinada região, quanto às questões
ambientais e urbanas, considerando a base de recursos naturais, identificando características
climáticas, e diagnosticando os vetores de crescimento dos núcleos urbanos, auxiliando na
adoção de estratégias que possam garantir o seu controle.
Neste tópico, será realizado um estudo das especificidades do meio natural e do meio
urbano de Maricá, permitindo relacionar as demandas da dinâmica de vida urbana à base de
recursos naturais disponíveis. O levantamento dos dados, aqui expostos, nortearão as
discussões43 quanto aos processos futuros de atuação no município.
42 Segundo dados do IBGE, com base nos serviços de hospedagem, em 2011, Maricá apresentou um total de 129 apartamentos para hospedagem, sendo 19 apartamentos em albergues, 28 apartamentos em hotéis e 82 apartamentos em pousadas, onde somente 3 apartamentos de pousadas são adaptados (IBGE, 2011). O IBGE (2011), não informou o número total de estabelecimentos de hospedagem, no entanto, com base em anos anteriores, calcula-se que o município possui cerca de 20 estabelecimentos. Estes números representam o pouco investimento na indústria hoteleira no município, que ainda não está estabelecido como uma potência turística. 43 No capítulo 4, Discussões e Resultados.
91
3.4.1 Aspectos ambientais
Clima
Maricá encontra-se a uma altitude inicial de 5m acima do nível do mar. O município
possui clima tropical úmido, apresentando um regime térmico típico com duas estações
marcantes: úmida, entre os meses de setembro e abril e seca, entre os meses de maio e agosto.
Sendo assim, o município possui verões quentes e chuvosos e invernos sub-secos.
(COYUNGI, 2009) Ressalta-se que apesar de o município se constituir como um núcleo
urbano principal (sede) e incorporar outros aglomerados urbanos menores, as condições
climáticas entre estes são bastante semelhantes44.
A média anual de temperatura é de 23ºC e o nível médio pluviométrico varia entre
1100mm a 1500mm ao ano (SIMERJ, 2015). O município é influenciado por ventos, dentre
os quais predominam o vento sentido Ponta Negra-Maricá, que representa um “vento de
tempo bom”, sentido Itaipuaçu-Maricá que tem grande influência na precipitação e no sentido
serra-mar, representa um “vento de forte temporal” (SOCHACZEWSKI, 2004).
Solo
De acordo com Bahiense (2003), os solos na bacia das Lagoas de Maricá, são
divididos em dois grandes domínios: os solos da baixada e os solos das encostas. Nas colinas
que apresentam pouca ondulação e nos tabuleiros junto às lagoas, o solo característico é o
Argissolo Amarelo, sendo um solo de baixa fertilidade. Nas encostas, o solo predominante é o
Argissolo Vermelho-Amarelo. Este tipo de solo pode ser encontrado em áreas de relevo
montanhoso a suavemente ondulado (BAHIENSE, 2003, p.17-18).
São três os principais tipos de solo encontrados no domínio da baixada: Espodossolos,
Gleissolos e Neossolos. No decorrer da área de restinga, desenvolve-se o Espodossolo
Cárbico, derivado de sedimentos areno-quartzosos. Nos vales das sub-bacias dos rios Vigário
44 Maricá é composto por 5 núcleos urbanos principais que apresentam maiores ofertas de serviços e infraestrutura, são estes: Maricá (sede), Ponta Negra, São José de Imbassaí, Inoã e Itaipuaçu.
92
e Ubatiba, há predominância de Gleissolo Háplico. Já o Neossolo Flúvico é um solo aluvial
em formação, que é encontrado sobretudo no fundo dos vales do Rio Caranguejo e Córrego
do Padreco (BAHIENSE, 2003, p.18).
Geomorfologia e relevo
O relevo no município de Maricá caracteriza-se, por uma extensa planície, formada
por uma faixa de restinga ao sul, estendendo-se por toda a orla. Ao norte, leste e oeste,
apresentam-se diversos maciços e colinas. Os maciços gnáissicos, de origem tectônica,
apresentam altitudes que variam entre 100 a 600 metros, no entanto, as maiores elevações do
município estão localizadas na Serra do Mato Grosso, na divisa com Saquarema, onde a
altitude ultrapassa 800 metros. O relevo é constituído por vales, que encontram-se próximo às
lagoas. A baixada litorânea, que compreende o complexo lagunar de Maricá, foi formada a
partir da erosão sobre os maciços, após sucessivas oscilações do nível do mar. A última
regressão marinha, gerou um extenso cordão arenoso, fechando antigas enseadas e formando
as lagoas atuais e a restinga de Maricá (BAHIENSE, 2003, p.17).
Hidrografia
O município apresenta um grande complexo lagunar, composto por cinco lagoas,
sendo quatro delas interligadas: Lagoa de Maricá, Lagoa da Barra, Lagoa de Guarapina,
Lagoa do Padre e a Lagoa de Jaconé (Tabela 6), que não tem ligação com as demais.
A rede hidrográfica de Maricá é formada por três sub-bacias principais: a do Rio
Vigário, do Rio Caranguejo e do Rio Ubatiba. Todos os rios que contribuem para a formação
do complexo lagunar local, estão contidos no território municipal. Estes apresentam regimes
irregulares, com rápidas elevações nos seus níveis e lento escoamento (BAHIENSE, 2003,
p.19) O município detém praticamente toda a sua bacia hidrográfica, pois os limites
municipais coincidem com a bacia do complexo lagunar, com exceção da lagoa de Jaconé.
93
Tabela 6 - Características gerais das Lagoas de Maricá/RJ
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados COHIDRO, 2010.
A Lagoa de Maricá é a maior do complexo lagunar, possuindo uma área de 18,74 km2.
A Lagoa de Guarapina apresenta um canal de ligação com o oceano, em Ponta Negra. A
segunda maior lagoa é a Lagoa da Barra, que está situada entre a Restinga e a Serra do Caju,
possui uma área de 6,52 km2, sendo esta lagoa subdividida em duas, pelas Ponta da Preguiça e
do Fundão.
Vegetação
Com relação à cobertura vegetal, a floresta ombrófila densa, correspondente à
vegetação de mata atlântica, configura-se como a vegetação original remanescente, que
recobria a maior parte do município. Atualmente, esta se concentra nas Serras da Tiririca, do
Macaco, do Caju, do Silvado, do Espraiado, do Mato Grosso e de Jaconé, na Ponta do
Fundão, Ilha Cardosa e Morro do Mololô. Através da ocupação do território, pela expansão
urbana e a prática de atividades agrícolas e agropecuárias, a área de cobertura vegetal foi
reduzida a 30% (BAHIENSE, 2003, p.22), ampliando a proporção de áreas de campo e
pastagem.
A vegetação característica da restinga, ainda encontra-se preservada no município,
estando situada na APA de Maricá - Área de Proteção Ambiental de Maricá. A APA abrange
toda a faixa marginal de proteção do sistema lagunar do município, integrado pelas lagoas: de
Guarapina, do Padre, da Barra e de Maricá e pelos canais de São Bento, Cordeirinho e Ponta
Negra, que faz a ligação das lagoas com o mar. Esta área foi delimitada pela antiga SERLA –
Superintendência Estadual de Rios e Lagoas45, e localiza-se na costa, compreendendo a área
da antiga fazenda São Bento da Lagoa, a Ponta do Fundão e a Ilha Cardosa. Esta região abriga
45 Através da Portaria n.2, de 6 de fevereiro de 1984.
94
a tradicional comunidade pesqueira de Zacarias (Figura 20), que ali se fixou desde o século
XVIII, além de sítios arqueológicos importantes e o ecossistema de restinga, que é composto
por tabuleiros costeiros e um duplo cordão arenoso coberto por dunas, brejos, vegetações e
sua fauna característica (EPMSBM, 2013).
Figura 20 - Vila de pescadores de Barra de Zacarias
Fonte: MARICÁ, 2013
Unidades de conservação
O município é rodeado por maciços costeiros, a maioria bens tombados ao patrimônio
natural, histórico, cultural e paisagístico do Estado do Rio de Janeiro. Representados pelas
serras: da Tiririca, do Caju, do Calaboca, de Itaitindiba, do Macaco, Grande da Cachoeira, do
Lagarto, do Silvado, do Engenho Novo, da Chuva, do Espraiado, do Mato Grosso (onde se
localiza o ponto mais alto do Município), do Padre e de Jaconé, este completo patrimônio é
digno de preservação e conservação.
Maricá apresenta algumas Unidades de Conservação da Natureza. Sendo assim, possui
uma Unidade de Proteção Integral (áreas acima da cota 100 metros e ilhas marítimas),
referente ao Parque Estadual da Serra da Tiririca e três Unidades de Uso Sustentável (entre a
cota 50 e 100 metros), representadas pela APA de Maricá46, a ARIE do Espraiado47 e o
Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia48 (EPMSBM, 2013).
46 A Área de Proteção Ambiental de Maricá foi estabelecida pelo Decreto no 7.230 de 23 de abril de 1984. 47 ARIE do Espraiado foi estabelecida pela Lei Municipal no 2.122, de 23 de junho de 2005. 48 Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia. Unidade criada através da Lei Municipal no 2.326, de 16 de abril de 2011, abrangendo área de 109,39 hectares e zona de amortecimento com 79,11 hectares.
95
A Serra da Tiririca, localizada entre Maricá e Niterói, é um Parque Estadual com um
valioso trecho de Mata Atlântica. Este parque foi criado por iniciativa popular49, tendo por
finalidade a proteção dos recursos naturais existentes e sua biodiversidade, e além disso,
preservar este sítio, quanto à erosão existente na região na qual está inserido e também
garantir a amenização climática no município, bem como a recarga do lençol freático e dos
corpos hídricos (COHIDRO, 2010). O perímetro definitivo do Parque, foi estabelecido em
200750, e abrange uma área de aproximadamente 2.400 hectares, ocupando áreas da região
leste e oceânica de Niterói e parte do bairro de Itaipuaçu, em Maricá e também se estende em
direção ao mar por 1.700 metros (IEF, 2006).
A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – RBMA, primeira unidade da rede mundial
de reservas da biosfera declarada no Brasil, abrange quase a totalidade do município, onde
inclui todos os tipos de formações florestais e outros ecossistemas terrestres e marinhos, que
compõem o Domínio Mata Atlântica – DMA. Sendo assim, estão inseridos na RBMA: o
Parque Estadual da Serra da Tiririca, a APA de Maricá, áreas urbanas, rurais e grande parte
das serras que delimitam a bacia hidrográfica do município (BAHIENSE, 2003, p. 24).
A seguir, expõe-se um quadro que demonstra as principais características das
Unidades de Conservação da Natureza existentes no município, incluindo além das
características físicas destas áreas, mas os principais problemas relacionados.
49 Lei Estadual n.1.901, de 29 de novembro de 1991. 50 Lei n.5.079, de 3 de setembro de 2007.
96
Tabela 7 - Características gerais das Unidades de Conservação da Natureza de Maricá/RJ
Fonte: COHIDRO, 2010 e Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Maricá
A partir da identificação dos principais problemas relacionados às áreas de proteção
no município, considera-se imprescindível uma gestão mais efetiva para estas áreas, que
inclua um processo mais rigoroso de fiscalizações e planeje ações de conservação e
recuperação mais eficazes para estas áreas.
97
3.4.2 Caracterização urbanística
3.4.2.1 Infraestrutura urbana
Pode-se dizer que o município de Maricá ainda apresenta um limitado sistema de
infraestruturas urbanas. No entanto, muitos esforços relacionados ao provimento de
infraestruturas essenciais à cidade, tem sido empreendidos, recentemente impulsionados pela
construção do Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, no município de
Itaboraí, configurando Maricá como um importante suporte para a indústria offshore. Desta
forma, para atender às necessidades relacionadas às atividades costeiras, faz-se necessário,
primeiramente, a provisão da infraestrutura básica de que necessita o município.
A seguir, serão expostos os dados mais recentes que configuram o atual cenário do
município quanto à sua infraestrutura básica.
3.4.2.1.1 Saneamento básico É possível observar, que em relação ao planejamento, gestão e controle dos serviços
de saneamento básico prestados em Maricá, historicamente a administração municipal não
teve um envolvimento efetivo no tratamento destas questões. Neste sentido, o município teve
um papel de mero espectador, deixando a cargo da CEDAE (concessionária estadual) o
processo. A CEDAE absorveu de forma limitada a incumbência dos serviços de
abastecimento de água e tratamento de esgoto. Além disso, o manejo de resíduos sólidos
urbanos, também ficaram a cargo de uma concessionária terceirizada pela Prefeitura, que
coletava e dispunha os resíduos em um “lixão”.
Seja pela falta de investimentos ou uma gestão mais eficaz, muitas insustentabilidades
podem ser observadas hoje no município, ao se considerar que a população demanda por
abastecimento, ao mesmo passo que polui. Sendo assim, é urgente e necessário o provimento
dos serviços e infraestruturas básicas de saneamento. Vale destacar, que atualmente, em
decorrência dos diversos problemas ambientais e urbanos observados no município, além do
incentivo pela implementação do Complexo Petroquímico em Itaboraí e outros investimentos
de grande porte, como a construção de um Porto que atenderá a indústria do pré-sal,
configurando o município de Maricá como um importante pólo petrolífero, a Prefeitura
98
Municipal encontra-se animada em implementar estratégias de ação que possam solucionar
tais insustentabilidades. Neste sentindo, sabe-se que uma gestão eficaz que possa garantir o
cumprimento das estratégias, a começar pela implementação das infraestruturas básicas do
município, é fundamental.
A seguir, serão apresentados alguns dados informados pelo IBGE, que configura a
atual situação municipal quanto à estas questões.
Em relação ao saneamento básico, segundo dados do IBGE, o censo demográfico
realizado em 2010, que contém os indicadores sociais municipais, informa que dentre os
domicílios particulares permanentes rurais, que possuem saneamento adequado, contabilizam
2,3% de atendimento, os que possuem um saneamento inadequado contabilizam 13,5% e os
que possuem saneamento semi-adequado somam 84,2%. Sendo assim, são contabilizados 622
domicílios particulares permanentes rurais que possuem saneamento. Dentre os domicílios
particulares permanentes urbanos, estes somam 42.188 unidades que possuem saneamento,
sendo adequado 13,1%, inadequado 2,2% e semi-adequado 84,8% (IBGE, 2010).
O IBGE informa ainda, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
realizada em 2008, que Maricá possui uma Gestão Municipal de Saneamento Básico, em que
trata as questões como o manejo de águas pluviais, resíduos sólidos e das redes coletoras de
esgoto e abastecimento de água. Com relação ao abastecimento de água, esgotamento
sanitário e o manejo de resíduos sólidos, outras entidades realizam a execução destes serviços,
ou seja, não está atribuído à Prefeitura Municipal de Maricá. Somente a execução do serviço
de manejo de águas pluviais urbanas está atribuído à responsabilidade da Prefeitura (IBGE,
2008).
Pelos dados, também verifica-se que o município dispõe de redes coletoras
subterrâneas, do tipo separadoras absolutas, para os serviços de drenagem urbana e
esgotamento sanitário. É possível ainda destacar que o município dispõe de dois pontos de
lançamento de efluentes com relação ao manejo de águas pluviais, sendo estes: cursos d`água
permanentes e as lagoas. Sendo assim, o município não utiliza o mar como ponto de efluência
advindo da coleta de águas pluviais (IBGE, 2008).
Através desta pesquisa nacional, realizada em 2008, o IBGE informa ainda, que o
município de Maricá possui algumas áreas de risco em seu perímetro urbano que demandam
uma drenagem especial, como áreas em taludes e encostas sujeitas a deslizamentos, e ainda,
áreas que estão sujeitas à inundações e/ou a proliferação de vetores (IBGE, 2008).
Nesta mesma pesquisa, o IBGE constatou que o município não possuía ainda diversos
instrumentos legais reguladores de serviços, como planos diretores específicos de
99
abastecimento de água, recursos hídricos, manejo de águas pluviais, esgotamento sanitário e
mesmo, um plano diretor integrado de saneamento básico (IBGE, 2008). Porém, é visto que
atualmente, o município tem realizado diversos seminários de discussão com relação à
implementação do primeiro Plano Municipal de Saneamento Básico. Vale ressaltar, que desde
2013, o termo de referência para sua elaboração foi implementado (EPMSBM, 2013).
Felizmente, a atual administração pública do município, reconhece a importância da
implementação do Plano de Saneamento Básico, como instrumento de proposição de
mudanças e norteador de ações no sentido da implementação das infraestruturas básicas.
Sendo assim, a Prefeitura expõe no termo de referência para a elaboração do primeiro Plano
Municipal de Saneamento Básico:
“A proposta de elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico,
objeto deste Termo de Referência, vem proporcionar uma perspectiva
de assunção, por parte da administração municipal, da condição de
principal agente responsável pelo saneamento básico em seu território.
[...] O princípio da universalização do atendimento em quantidade e
qualidade adequadas aponta, portanto, para uma grande
responsabilidade do Poder Público, no sentido da eliminação desse
déficit.” (EPMSBM, 2013)
3.4.2.1.2 Esgotamento sanitário
Com relação às questões referentes ao sistema de coleta e tratamento de esgoto do
município, segundo estatística estabelecida pela Fundação CIDE (Centro de Informações e
Dados do Rio de Janeiro), realizada em 2010, o percentual total de população beneficiada
com esgoto tratado é de somente 3% (CEPERJ, 2010). Isto significa que apesar dos esforços
recentes realizados e discussões, ao longo dos anos, em torno da garantia à população de um
saneamento básico, sobretudo com ênfase no esgotamento sanitário, vê-se que muito pouco
foi realizado.
Na atual conjuntura, vê-se que às questões relativas à coleta e tratamento de esgoto,
ainda está em um patamar mais precário do que em relação ao abastecimento de água no
município. Apesar de possuir uma estação de tratamento de efluentes, no bairro de Araçatiba
(Figura 21), como ainda não há redes de esgotamento em grande parte do município, a
100
maioria da população precisa adotar outros métodos de esgotamento sanitário, determinados
pela Prefeitura, como a utilização de um sistema composto por fossa séptica, filtro anaeróbio
e sumidouro, segundo padrão estabelecido pelo INEA- Instituto Estadual do Ambiente.
Porém, observa-se que grande parte da população dispõe o esgoto diretamente em sumidouros
ou os lança diretamente em córregos, sem um tratamento prévio, configurando-se na poluição
dos corpos hídricos, como as lagoas e os lençóis freáticos. Infelizmente, não há ainda uma
fiscalização efetiva, como forma de controle do lançamento dos efluentes.
Figura 21 - Sede da Cedae no Centro de Maricá
e Estação de tratamento de efluentes da CEDAE, em Araçatiba. Fonte: Google Images
3.4.2.1.3 Abastecimento de água
Quanto à rede de abastecimento de água, segundo informações da Fundação CIDE, no
ano de 2003, pouco mais de 8% dos estabelecimentos (residenciais, comerciais, industriais e
públicos) de Maricá eram abastecidos por água canalizada, isto representava um total de 6.090
unidades abastecidas (CEPERJ, 2004). Segundo dados do IBGE, fornecidos a partir da
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em 2008, o número de “economias
abastecidas, de economias ativas abastecidas e de domicílios”, passaram a um total de 9.252
unidades abastecidas. Sendo 7.593 unidades, o número de “economias residenciais ativas
abastecidas” (IBGE, 2008).
O IBGE indica ainda, por esta pesquisa, que o município é abastecido por redes de
distribuição, sendo que sua condição de atendimento não é totalmente com água tratada e sim,
parcialmente com água tratada (IBGE, 2008). O abastecimento é realizado pela CEDAE –
Companhia Estadual de Águas e Esgotos e é feito a partir da estação de tratamento situada no
101
Rio Ubatiba, mas pode-se considerar que não é regular a sua distribuição.
Por estimativa do IBGE, o volume de água tratada por métodos convencionais e
distribuída por dia é de 6.476 metros cúbicos. O volume de água tratada pelo método de
simples desinfecção (cloração e outros) é de 585 metros cúbicos. Contabiliza-se então, um
total de 7.061 metros cúbicos de volume de água com tratamento, distribuída por dia (IBGE,
2008).
Ainda hoje, é possível observar que o abastecimento de água canalizada e tratada, se
dá em maior parte, nos bairros do Centro (Maricá – sede) e na orla marítima, sobretudo a que
compreende a região da Barra de Maricá, ou seja, vê-se que a região litorânea ainda é pouco
favorecida.
A solução para a ausência da rede de abastecimento de água, acaba por ser individual,
onde muitos moradores se utilizam de poços artesianos para o seu abastecimento. Esta é
considerada uma medida provisória e foi adotada pela Prefeitura, como forma de atender parte
da população do município, sobretudo a população de baixa renda.
Alguns poços já foram executados através de convênios com a Fundação Nacional de
Saúde – FUNASA, (PMM, 2014)51 porém a maioria dos poços são construídos pelos próprios
moradores, que muitas vezes não buscam a obtenção de uma licença especial junto à
Prefeitura. Além disso, outras medidas também são adotadas, como forma de superar a falta
de abastecimento de água, sendo estas: a captação de água pluviais, utilizada em fins não-
potáveis e sendo empregada em usos gerais; o consumo de água mineral como fonte de água
potável e a compra de água através de carros-pipa, para o armazenamento em cisternas.
A falta de perspectivas concretas quanto à solução do abastecimento de água do
município, se configura na desmotivação de seus habitantes. Vê-se que não há possibilidades
de alcançar a sustentabilidade do desenvolvimento local, expresso no discurso da gestão
municipal, sem que a oferta de água canalizada, como um serviço básico de saneamento e
demanda populacional, esteja solucionada. Esta deve ser uma prioridade.
3.4.2.1.4 Drenagem e manejo de águas pluviais urbanas
Conforme dito, o sistema de drenagem de águas pluviais urbanas está entre as
atribuições da Prefeitura Municipal. Neste caso, sob responsabilidade da Secretaria de Obras
51 PMM. Prefeitura Municipal de Maricá – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo e Secretaria de Obras. Dados sobre abastecimento de água (Informação verbal). Maricá, 2014.
102
do município.
Em 2013, foi feito um levantamento das áreas que sofreram intervenção pela
Secretaria Municipal de Obras, através da construção de manilhas a fim de realizar a
drenagem das águas pluviais. O levantamento, aponta algumas localidades e a soma de cerca
de 2.000 m construídos de rede de drenagem de águas pluviais.
Observa-se que, muito ainda, há que se implementar no município, no entanto, o
manejo de águas pluviais é um dos aspectos mais preteridos pela Prefeitura, uma vez que
outras prioridades de abastecimento se fazem necessárias. No entanto, vale ressaltar, que
recentemente, diversas novas localidades receberam pavimentação asfáltica, sem a provisão
das redes de abastecimento, porém algumas vezes com a construção de valetas que
encaminham a água diretamente às lagoas e córregos. Certamente, esta ação colabora ainda
mais com a poluição dos corpos hídricos.
3.4.2.1.5 Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos
O serviço de coleta de lixo em Maricá contempla a maior parte dos domicílios.
Conforme dito, este serviço não está entre as atribuições da Prefeitura Municipal, sendo este
realizado por uma empresa terceirizada (IBGE, 2008).
Segundo o IBGE, com base na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em
2008, alguns dados são expostos com relação ao manejo de resíduos sólidos no município.
Informa-se, por exemplo, na pesquisa, que não existem catadores autônomos, que auxiliam no
processo de coleta e aproveitamento, na zona urbana e nem nas unidades de disposição de
resíduos no solo (IBGE, 2008). Além disso, também foi informado pelo IBGE (2008), que os
resíduos sólidos de serviços de saúde sépticos eram coletados e recebidos pelo município, que
disponibilizava um local para a disposição dos resíduos no solo. A disposição destes resíduos,
eram feitas sob controle, em aterro convencional, em conjunto com os demais resíduos. Além
disso, segundo o IBGE, em 2008, o município ainda não dispunha de um serviço de coleta
seletiva (IBGE, 2008). No entanto, há alguns anos, o município tem a intenção de dispor deste
serviço.
Com relação à disposição dos resíduos, todo o resíduo sólido do munícipio era
encaminhando ao Aterro Sanitário Municipal, localizado no bairro do Caxito (Figura 22),
onde cerca de 50 mil toneladas de lixo, geradas anualmente, eram dispostas. Porém, após 16
anos operando, a Prefeitura de Maricá, encerrou no dia 14 de março de 2013, as atividades do
103
aterro municipal. Os resíduos sólidos do município, cerca de 100 toneladas recolhidas
diariamente, passaram então, a ser levados para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR)
em Itaboraí (PMM, 2013).
A partir de uma parceria com o governo do Estado, a proposta colocada pela Prefeitura
é a de recuperar a área pertencente ao antigo aterro e transformá-la em um parque ambiental,
destinado especialmente à prática de esportes radicais, como o motocross, por exemplo
(PMM, 2013).
Figura 22 - Vista parcial do antigo Aterro Sanitário Municipal, localizado no Caxito
Fonte: MONTEIRO, 2006
Este foi o último aterro fechado na cidade, o que poderá impactar positivamente, caso
medidas efetivas de recuperação ambiental sejam tomadas, representando a conservação do
sistema lagunar de Maricá, uma vez que o chorume, líquido proveniente da decomposição do
lixo, vinha contaminando o lençol freático. É válido lembrar, que a extinção dos aterros, ou
também chamados “lixões” é uma determinação da Lei Federal 2.305 de 2010, por meio do
Plano Nacional de Resíduos Sólidos, estabelecendo a substituição, até agosto de 2014, por
aterros sanitários controlados. Estes aterros contemplam um preparo especial ao solo, através
do selamento da base do solo com argila e mantas de PVC extremamente resistentes, que
captam o chorume e evitam a contaminação do solo e dos lençóis freáticos.
Com relação à recuperação do terreno do antigo aterro municipal de Maricá, a
Prefeitura estuda junto ao INEA, a criação de um Plano de Controle e Remediação, que tratará
do solo através de uma cobertura de argila e grama. Porém, ainda é necessário saber a
dimensão a ser remediada. Antes disso, será necessário o tratamento do chorume, líquido
altamente tóxico e contaminante. O custo deste plano de recuperação será dividido entre o
Estado e a Prefeitura (PMM, 2013).
104
Neste sentido, outros subsídios também são fornecidos pelo governo do Estado, cerca
de vinte reais por tonelada de lixo, a fim de custear as despesas com o tratamento dos resíduos
em Itaboraí, sendo assim, a Prefeitura se comprometeu, em contrapartida, a implementar
ações de coleta seletiva e reciclagem na cidade, já tendo um projeto em andamento. Neste
caso, estas ações se reverterão em geração de emprego e renda (PMM, 2013).
Desde o fechamento do aterro, em 2013, a Prefeitura anunciou a intenção de criar um
centro de triagem e reciclagem de lixo ao lado do terreno onde funcionava o aterro do Caxito.
Este projeto contempla a instalação de esteiras, separadores e compactadores, a fim de separar
o lixo reciclável do orgânico, em um trabalho que envolve catadores e cooperativas de
reciclagem. No entanto, é possível observar, atualmente, que estas ações e planos ainda não
foram executados, tanto com relação à criação do centro de reciclagem, como em relação à
recuperação do solo do antigo aterro municipal. Vê-se que o antigo aterro foi apenas fechado
e continua através do chorume a contaminar o solo e os corpos hídricos da região
(MARICAINFO, 2014).
Com relação aos dias e horários, disponibilizados, pela firma coletora dos resíduos
sólidos do município, estes estão divididos por regiões em dias alternados, segundo a tabela 8,
abaixo:
Tabela 8 - Demonstrativo de rotas e dias de coleta de resíduos sólidos no município Fonte: Secretaria Municipal de Obras, Maricá, 2014
105
É estimulado pela Prefeitura, uma campanha educacional quanto à disposição do lixo,
sugerindo recomendações básicas, como: colocar o lixo fora do estabelecimento, somente nos
dias de coleta; Ensacar o lixo, para evitar a poluição e o mau cheiro; Não jogar o lixo em
canteiros ou terrenos baldios, pois pode acumular água e facilitar a proliferação de doenças,
como a dengue; Embalar bem os vidros quebrados e materiais cortantes, evitando que o
trabalhador que coleta o lixo se machuque; E por fim, o entendimento que o serviço de coleta
somente retira resíduos sólidos de atividades residenciais, não retirando entulhos, galhos e
nem móveis.
3.4.2.1.6 Energia elétrica
Pode-se dizer que o município de Maricá é bem abastecido de energia elétrica, pois o
consumo acompanha, em boa parte, as demandas. A empresa responsável pelo fornecimento
de energia elétrica no município é a Ampla Energia e Serviços S.A (Figura 23).
Vale dizer, que algumas vezes o fornecimento é prejudicado, apresentando falhas em
períodos de maior movimento, provenientes das demandas da população flutuante do
município, que integra a cidade em períodos de verão, férias e feriados.
Segundo os dados expostos pela Fundação CIDE (CEPERJ Dados), o município de
Maricá consumiu em 2012, 203.477 MWh através de 69.668 consumidores. Já em 2013,
consumiu 221.351 MWh, através de 77.400 consumidores (CEPERJ, 2012; 2013).
Figura 23 - Sede da Ampla no Centro de Maricá
Fonte: MONTEIRO, 2006
106
Segundo dados da Secretaria Municipal de Energia, mais da metade do território de
Maricá possui iluminação pública. Tem-se uma previsão da instalação de até 20 mil pontos de
iluminação pública para os próximos anos. Pode-se dizer que a iluminação pública concentra-
se mais no Centro de Maricá e ao longo da RJ-106 (Rodovia Amaral Peixoto), do que nos
subdistritos de toda região.
3.4.2.1.7 Telecomunicações
No período que compreende 1994 a 2001, houve um aumento considerável no número
de telefones particulares instalados em Maricá (MONTEIRO, 2006). A partir desse período, é
notável um aumento crescente no uso de aparelhos de telefonia móvel. Neste sentido, vale
ressaltar que atualmente, o sinal de telefonia celular, abrange praticamente todo o território
municipal (Figura 24).
Figura 24 - Sede de operadora de telefonia Oi no Centro de Maricá
Fonte: MONTEIRO, 2006.
Atualmente, diversos provedores de internet e sistemas de TV à cabo, são fornecidos
ao município, por diferentes prestadoras de serviço.
3.4.2.1.8 Sistema Viário e Transportes
Conforme dito, a Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106) (Figura 25) é a via principal que
permite um acesso direto ao município de Maricá. Esta rodovia liga o município à Niterói,
São Gonçalo e Saquarema.
107
Figura 25 - Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106)
Fonte: Google images
Além disso, outras rodovias estaduais passam pelo território municipal, como a RJ-
114, a RJ-108 (Estrada de Ponta Negra até Jaconé) e a RJ-102 (Avenida Central, atualmente
Avenida Maysa52) (Figura 26). A RJ-102 localiza-se na região litorânea, sendo uma via de
domínio estadual. No entanto, em 2014, a Prefeitura Municipal enviou um ofício ao DER - RJ
– Departamento de Estradas de Rodagem, requerendo a municipalização da via ou uma gestão
compartilhada com o Estado, do trecho que compreende a Barra de Maricá até Ponta Negra.
Uma licença foi concedida em julho de 2015 à Prefeitura Municipal, autorizando-a a realizar
reparos na via, que encontra-se em situação precária, enquanto aguarda o processo de
transferência definitiva da avenida para a responsabilidade do município. O projeto de
recuperação da via, deverá incluir obras de pavimentação e urbanização53, devendo ser
aprovado pelo DER-RJ. (PMM, 2015).
Figura 26 - Mapa que demonstra as principais rodovias de Maricá
Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.
52 A Avenida Central, recebeu o nome de Avenida Maysa, em homenagem à falecida cantora Maysa, que possuía uma residência nesta avenida. Atualmente, a residência ainda pertence à família da cantora. 53 O projeto inclui asfaltamento, sinalização vertical e horizontal, além de uma ciclofaixa. Após as obras, a avenida deverá integrar o sistema binário de trânsito da orla, com o tráfego de veículos em sentido único (sentido Maricá-Ponta Negra) e o sentido oposto será feito por outra via, recém-inaugurada, Av. Reginaldo Zeidan (antiga Estrada Beira da Lagoa).
108
Outras vias de circulação no município podem ser citadas. Dentre as estradas
municipais, destacam-se as estradas de Cassorotiba (estabelecida durante do Império), de
Itaipuaçu, dos Cajueiros, do Camburi, do Caxito (onde fica a Secretaria Municipal de Obras),
de Jacaroá, do Caju, de Bambuí e do Espraiado. Além dessas, a Avenida Francisco Sabino da
Costa e a Avenida Litorânea, que faz a comunicação beira-mar entre Maricá e Saquarema.
Para permitir acessibilidade direta aos moradores dos bairros de Guaratiba,
Cordeirinho, Bambuí e Ponta Negra à região central do município (Maricá sede), foi
construída a Ponte da Barra (Figura 27). Inaugurada em 2014, esta ponte tem como função
principal, permitir a abertura periódica de canais para a oxigenação da água e a renovação dos
cardumes do sistema lagunar do município. Esta foi a solução encontrada para evitar também
as enchentes, que deixou estes bairros praticamente isolados, em 2010 por exemplo, quando a
precipitação intensa contribuiu para elevar ainda mais o nível das lagoas, que naturalmente se
encontram acima do nível do mar (LEISECAMARICA, 2014).
Figura 27 - Ponte da Barra
Fonte: Google Images
Com relação às vias de circulação internas do município, na região central de Maricá
(sede) 1º distrito, todas as vias são pavimentadas. Até recentemente, diversas localidades
ainda apresentavam vias não-pavimentadas, no entanto, em 2014, ampliou-se muito a
quantidade de vias pavimentadas no município, sobretudo na região litorânea.
Com base no sistema viário municipal, observa-se que nos subdistritos, a capacidade
de circulação das vias permite a divisão de seu espaço entre a circulação de veículos,
pedestres e ciclistas. A utilização de bicicletas por parte dos moradores é intensa, neste
sentido, algumas faixas cicloviárias tem sido pintadas no asfalto, como forma de compartilhar
a via. Com relação à utilização de automóveis, a demanda por vagas de estacionamento,
sobretudo no Centro de Maricá, vem aumentando, apresentando problemas quanto à
capacidade das ruas em absorver as demandas em relação ao número de veículos que circulam
nos períodos de maior movimento.
109
Neste sentido, é possível ressaltar que a rede viária considerada como uma das mais
significativas e importantes estruturas urbanas, deve incentivar a mobilidade como um
importante ponto para a sustentabilidade. As atuações na rede viária municipal devem ser
pensadas privilegiando o pedestre, o uso de bicicletas e o transporte coletivo público.
Com base nas questões referentes aos transportes coletivos, observa-se que durante
muitos anos, o transporte na região foi explorado somente por duas empresas de ônibus, a
Viação Nossa Senhora do Amparo Ltda (Figura 29), que possui linhas de ônibus municipais e
intermunicipais e a Costa Leste Maricá Transportadora Turística, que faz o transporte somente
dentro do município. Ambas empresas utilizam o Terminal Rodoviário do Povo de Maricá 54
(Figura 28), localizado no Centro.
Figura 28 - Sede da Viação Nossa Senhora do Amparo no Centro de Maricá
Fonte: Google Images
Figura 29 - Terminal Rodoviário do Povo de Maricá, Centro de Maricá
Fonte Google Images
54 Em 2014, a Prefeitura de Maricá, aprovou uma lei tratando da alteração do nome da rodoviária
municipal. O Terminal Rodoviário Jacintho Luiz Caetano, nome em referência ao fundador da Viação Nossa Senhora do Amparo, foi renomeado para Terminal Rodoviário do Povo de Maricá. É possível notar uma atuação mais efetiva da atual administração municipal, na gestão e no cuidado com as infraestruturas urbanas. Neste caso, um bom exemplo é notado pela retomada da administração do terminal rodoviário do Centro, proveniente do reconhecimento por parte da Prefeitura, de que o terminal faz parte do patrimônio público do município e portanto, deve ser administrado pela mesma. Neste sentido, a Prefeitura tem o objetivo de “garantir mais conforto e segurança aos usuários da rodoviária, além de restabelecer a relação econômica adequada entre o poder público e as empresas usuárias do terminal rodoviário, que futuramente passarão a pagar pela utilização, como ocorre em qualquer outra cidade.” (PMM, 2014)
110
Com base no censo realizado pelo IBGE em 2014, que demonstra a frota de veículos
na região, o município apresentou 50.147 veículos no total, sendo 404 ônibus e 345 micro-
ônibus que atendem diretamente à população (Tabela 9)(IBGE, 2014). Segundo a Fundação
CIDE, em 2013, o crescimento anual do número de automóveis foi de 8% e de motocicletas,
também aumentou em 8% (CEPERJ, 2013).
Vale ressaltar, que entre Janeiro e Março de 2014, a Viação Nossa Senhora do
Amparo, adquiriu 71 novos veículos, entre ônibus rodoviários e urbanos, reforçando a frota
durante o período de férias e Carnaval e ampliando as rotas Maricá x Rio do Ouro, Centro x
Itaipuaçu e algumas linhas até Niterói.
Tabela 9 - Frota municipal de veículos
Fonte: Ministério das Cidades, Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN – 2014
Sistemas alternativos de transporte também foram adotados pela população nos
trajetos Niterói- Maricá x Centro do Rio de Janeiro, como a utilização de vans particulares.
Este transporte alternativo, foi limitado em 2003 por meio de um Decreto Municipal,
que impedia o acesso das vans às vias do Centro de Maricá (MONTEIRO, 2006). Observa-se
que mesmo com uma demanda crescente de população ao acesso de todas as formas de
transporte, sem que nenhuma fique prejudicada, mesmo assim, é clara a disputa entre o
transporte alternativo e à viação Nossa Senhora do Amparo.
Ainda com relação à infraestrutura de transporte, a Prefeitura de Maricá inovou com
um projeto, que enfrentou os empresários do ramo de transportes no município,
111
implementando um programa de ônibus com tarifa zero (Figura 30). A Prefeitura de Maricá
fundou a Empresa Pública de Transportes (EPT) e instituiu o passe livre para todos. Este
sistema de transportes, entrou em funcionamento no dia 18 de dezembro de 2014 e tem como
objetivo, beneficiar à população, derrubando o monopólio das empresas de ônibus, que detêm
este serviço há mais de 25 anos no município. Este é o primeiro município brasileiro com
mais de cem mil habitantes a oferecer um sistema de transporte gratuito. Neste programa,
foram investidos 5 milhões de reais, na compra de 10 ônibus, que possuem acessibilidade à
cadeirantes e ar condicionado. A EPT possui 90 funcionários, sendo 29 motoristas contratados
por meio de um concurso público. Ao todo, são quatro as linhas de ônibus, que atendem do
bairro Recanto até Ponta Negra, 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana. Em relação
à ações sustentáveis, é intenção do programa a compra de mais 20 ônibus, sendo estes
elétricos, com funcionamento à base de energia solar, evitando assim, a emissão de carbono.
Os investimentos financeiros que mantém este programa, são provenientes dos recursos que o
município tem direito em função dos royalties do petróleo (CARTACAPITAL, 2015).
Figura 30 - Programa tarifa zero nos transportes
Fonte: Google Images
É possível observar como a nova gestão do município, a partir de 2013, tem investido
em infraestruturas diversas e neste caso, no sistema de transporte coletivo, importante e
fundamental à uma boa mobilidade e deslocamentos no município. A nova gestão municipal
tem investido em alternativas à mobilidade urbana, incluindo projetos de transporte de
passageiros em veículos de alta capacidade, como trens, bondes ou por meio aquaviário.
A Prefeitura prevê, dentre seus projetos de transporte público, a ligação entre
mobilidade e o turismo, neste caso para a implementação de um projeto de ligação das praias
do município ao Centro, através de bondes. O projeto conhecido como Tramway (Figura 31),
112
foi desenvolvido por técnicos especializados e prevê a implantação de três linhas de bondes
por 8km de extensão em média. Outro projeto previsto é a implantação de um trem de alta-
velocidade (Figura 32) fazendo a ligação entre Ponta Negra, no extremo norte do município,
até Itaipuaçu, ao sul do município. A Prefeitura ainda prevê sua integração com um projeto da
Prefeitura de Niterói, a ligação ferroviária entre Itaipu e Charitas. (PMM, 2015)55
Figura 31 - Previsão Bonde - Centro x Barra de Maricá
Figura 32 - Previsão Trem - Ponta Negra x Niterói
O aproveitamento do complexo lagunar do município para fins de mobilidade urbana,
também integra a lista de ações a serem implementadas pela Prefeitura. Para isto, foi
viabilizado um projeto básico de um sistema modal de transporte aquaviário, que ligará os
distritos ao Centro, através das lagoas, com a utilização de barcos que poderão transportar de
45 a 60 passageiros, além disso é prevista a drenagem dos canais de ligação entre Itaipuaçu e
Maricá, onde haverão as linhas para o transporte de passageiros.
55 Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Econômico. Prefeitura Municipal de Maricá, 2015. Formas de atuação: http://www.marica.rj.gov.br/desenvolvimento/?de=atuacao
113
Figura 33 - Previsão Ligação Aquaviária - Ponta Negra x Centro
Pode-se dizer que estas alternativas para a mobilidade são as mais sustentáveis, pois
além de reduzir a demanda por transportes rodoviários, estas podem ser consideradas
ferramentas de atração turística. (PMM, 2015)
Outra forma de acesso ao município é por via aérea. Maricá possui um Aeródromo
Municipal (Figura 31). Tendo sido inaugurado em Maio de 1976, sempre foi administrado
pela Prefeitura. O aeródromo ocupa uma área de 316.000m2 e possui uma pista para pousos e
decolagens com 50 metros de largura e 1.200 metros de comprimento. Apesar destas
dimensões serem compatíveis com aeroportos de grande fluxo, sua estrutura, incluindo a
qualidade do asfalto utilizado, suporta apenas o tráfego de aeronaves de pequeno e médio
portes (SOARES, 2006). No entanto, uma ampliação é prevista para o aeródromo,
transformando-o em aeroporto de grande capacidade.
Figura 34 - Aeródromo municipal, localizado em Araçatiba
Fonte: MONTEIRO, 2006
114
Levando-se em conta o grande e repentino aumento da demanda logística do
município como um importante pólo petrolífero, em que a região se tornará um grande
suporte para a indústria offshore, foi necessário um projeto de remodelação do aeródromo a
fim de suprir as novas demandas (Figura 32). A pista de decolagens, que atualmente possui
1200 metros, será ampliada para 1800 metros, capacitando-a a receber aviões de grande porte.
Voos regionais e executivos internacionais poderão ser operados, sendo possível transportar
cerca de 60 mil passageiros por ano, além de movimentar em torno de 4.300t de carga por ano
(Tabela 10).
O projeto de ampliação também contempla a construção de um heliponto no local,
além da implementação de uma alfândega própria. Tais obras de melhorias implementadas no
aeroporto, facilitarão não somente o transporte da demanda petrolífera, mas também turística
(MARICÁ, 2013).
Tabela 10 - Previsão do aumento de demanda, 2012 - 2017
Fonte: MARICÁ, 2013
Figura 35 - Projeto de ampliação do Aeroporto Municipal
Fonte: MARICÁ, 2013
115
3.4.3 Morfologias e tipologias urbanas
A morfologia urbana trata do estudo das estruturas, formas e transformações da
cidade, estuda aspectos exteriores do meio urbano e as suas relações recíprocas, definindo e
explicando a paisagem urbana e sua estrutura. Neste sentido, faz-se uma análise em relação
aos objetos arquitetônicos e urbanos, como: edifícios, praças, ruas, cheios e vazios (LYNCH,
2001). A morfologia urbana é entendida como a estrutura determinada pela implantação das
construções, e cuja ordenação dá origem à malha viária, podendo assumir diversas formas:
ortogonal, radiocêntrica, linear ou orgânica (DGOT, 1991).
É necessário o conhecimento da morfologia urbana da área de estudo, o município de
Maricá, de forma a identificar a estrutura de espaços livres e compreender os padrões de uso
dos espaços e sua centralidade real ou potencial, a partir da identificação da estrutura viária,
das funções predominantes e das formas de parcelamento do solo. Tudo isto contribui para a
formulação de proposições no planejamento de ocupação e uso do solo. Vale ressaltar, que
Maricá necessita de atenção especial, em relação ao seu estudo morfológico, uma vez que
vem sofrendo influência pela instalação do Comperj no município vizinho de Itaboraí, o que
poderá transformar a região em uma cidade-dormitório deste novo complexo.
Maricá é um município que apresenta uma grande área urbana de ocupação rarefeita,
constituída por dezenas de bairros (subdistritos) e condomínios. A maioria das residências é
de uso permanente, sobretudo no Centro da cidade e nas localidades mais antigas. No entanto,
na área litorânea e nas margens das lagoas, as residências são, em grande maioria, utilizadas
para veraneio (AGENDA 21 COMPERJ, 2011).
É possível observar que quanto ao aspecto morfológico, o município se caracteriza por
seu plano de ocupação principal, que ocorreu de forma linear ao longo da rodovia Amaral
Peixoto (RJ-106). Observa-se o predomínio da tipologia residencial, de caráter horizontal,
uma vez que o gabarito máximo permitido é de até quatro pavimentos.
Conforme dito, Maricá apresenta quatro distritos principais: Maricá (sede),
correspondente ao centro principal da cidade; Ponta Negra; Inõa e Itaipuaçu. Cada um destes
distritos são considerados centralidades, pois apresentam uma ocupação mais densa. Nestas
regiões predominam a tipologia residencial, no entanto há comércios e pequenas indústrias.
Com relação à tipologia de usos comerciais e de serviços, estas são encontradas nas
áreas centrais dos subdistritos e também ao longo da Rodovia Amaral Peixoto, que possui
116
diversas lojas de materiais de construção, evidenciando a vocação do município em relação à
construção civil.
Vetores de ocupação urbana
Segundo Aliprandi et al (2013), através do processo evolutivo de Maricá podem ser
identificados sete vetores de ocupação e mancha urbana (Figura 33).
Figura 36 - Mapa de vetores de ocupação e mancha urbana
Fonte: Elaborado com base nos dados de Aliprandi et al (2013) Legenda: 1o. Vetor - 1º povoado: São José do Imbassaí (1584) / Vila de Santa Maria de Maricá (1814) /
Ocupação Agropastoril;
2o. Vetor - Estação Central São José do Imbassaí (1894-1964) / Agricultura: laranja;
3o. Vetor - Rodovia Amaral Peixoto;
4o. Vetor - Ponte Rio-Niterói;
5o. Vetor – Centro / Primeira moradia;
6o. Vetor – Praia de Ponta Negra;
7o. Vetor - Comperj;
Estação Ferroviária de Rio do Ouro (1888 – 1964);
Estação Ferroviária de Manoel Ribeiro (1901 – 1964);
Estação Ferroviária de Sampaio Correia (1913 – 1964).
117
O primeiro vetor surgiu em época de atividade agropastoril, é proveniente do fluxo
de deslocamento de ocupação de São José de Imbassaí (região onde surgiram os primeiros
núcleos de povoação em Maricá, em 1584), para a outra margem da lagoa, originando a Vila
de Santa Maria de Maricá (1814), que atualmente, corresponde ao centro de Maricá.
O segundo vetor de ocupação deu-se no entorno das estações ferroviárias e ao longo
da ferrovia. Este é considerado o fluxo mais antigo do município.
O terceiro vetor é representado pela ocupação ao longo da Rodovia Amaral Peixoto,
sendo este um fluxo mais recente, a partir da década de 1950.
O quarto vetor é constituído pela inauguração da ponte Presidente Costa e Silva, a
ponte Rio-Niterói, em 1974, influenciando o aumento do uso da rodovia Amaral Peixoto pela
facilidade de acesso à região dos lagos, o que permitiu um aumento nos fluxos para as
atividades econômicas.
O quinto vetor foi a intensificação da ocupação do centro, pela diminuição do tempo
de percurso entre Maricá e Rio de Janeiro, após a construção da ponte Rio-Niterói, ampliando
a possibilidade de ocupação do tipo primeira moradia.
O sexto vetor é representado pelo início da ocupação litorânea, sobretudo para
veraneio. A partir da década de 1980, houve a ocupação do distrito de Ponta Negra,
influenciada por seu mar de águas calmas, diferente da maioria da orla de Maricá, que
apresenta mar aberto e de difícil acesso aos banhistas.
O sétimo vetor de ocupação se constitui pelo fluxo originado pela influência de dois
grandes empreendimentos, a implantação do Comperj e do Arco Metropolitano. Ambos
influenciam em uma ocupação de primeira moradia (ALIPRANDI et al, 2013).
Tipologias
De acordo com Aliprandi et al (2013), o município pode ser classificado em seis
tipologias diferentes de ocupação, conforme indicado na Figura 34. Neste sentido, também
serão identificadas algumas características do conjunto de espaços livres das mesmas.
118
Figura 37 - Tipos de ocupação e localização das praças
Fonte: Elaborado com base nos dados de Aliprandi et al (2013) Legenda:
Localização de praças
Padrões de ocupação:
Tipo 1 – Predomínio de uso misto. Adensamento nos lotes. Ocupação consolidada e valorização da região, posterior à ocupação. Terrenos de 300 a 400m2.
Tipo 2 – Condomínios residenciais. Lotes e traçado regular. Respeito do recúo, uso de cobertura ou piscina nos fundos. Ocupação consolidada. Terrenos de aproximadamente 350 m2
Tipo 3 – rosa escuro (3a) e rosa claro (3b). Região com população de nível de renda mais baixa. Uso misto. Adensamento nos lotes. Poucos casos de jardim ao fundo ou frontal. 3a – consolidado e 3b – não consolidado.
Tipo 4 – laranja (4a) e amarelo (4b). Região com população de nível de renda média. Ocupação semelhante ao tipo 2. 4a – consolidado e 4b – não consolidado.
Tipo 5 – verde escuro (5a) e verde claro (5b). Área para condomínio ou loteamentos
residenciais implantados, em projeto ou potencial. Renda média a alta. Ocupação ainda esparsa. 5a – relacionado ao Comperj e 5b – sem relação com grandes projetos urbanos. Terrenos de aproxidamente 300m2. Ocupação semelhante ao tipo 2.
Tipo 6 – Caráter rural. Lotes com cerca de 1000 a 2000m2. Unidades de conservação e preservação ambiental
Área do Espariado Serra da Tiririca APA de Maricá
119
O Tipo 1 é referente à área central do município, que apresenta uma ocupação já
consolidada, com predomínio de uso misto. Esta região constitui-se como o principal centro
comercial e de serviço no município, portanto é uma região valorizada, possuindo terrenos
densamente ocupados, uma vez que o custo da terra é alto. Há predominância de edificações
com um ou dois pavimentos, no entanto também são encontradas nesta região algumas poucas
edificações com três pavimentos. As áreas livres privadas, constituem-se como jardins
frontais ou nos fundos dos lotes, decorrentes dos afastamentos mínimos. Quanto ao espaço
público, as ruas possuem pavimentação, passeios com diferentes larguras e pouca arborização.
O Tipo 2 é caracterizado por condomínios residenciais, apresentando lotes e traçados
regulares, onde predominam edificações unifamiliares, de um ou dois pavimentos. Os lotes
apresentam pequenos jardins frontais ou nos fundos e também cobertura, piscina ou área de
lazer nos fundos. Por se tratar de condomínios não apresenta área livre pública, apenas
privada, sendo assim, as áreas de circulação são padronizadas e apresentam alguma
arborização.
O Tipo 3 é referente a uma região com população com nível de renda mais baixo.
Observa-se o predomínio de uso misto e grande adensamento nos lotes, que reduz as áreas
livres privadas, apresentando poucos casos com jardins de fundos ou frontais. Com relação ao
espaço público, os passeios são reduzidos ou inexistem e também apresenta pouca
arborização.
O Tipo 4 caracteriza-se por uma ocupação semelhante ao tipo 2, no entanto não são
condomínios e sim loteamentos. Constituída por uma população com nível de renda média,
este tipo de ocupação situa-se predominantemente próximo às lagoas e à praia. É
caracterizado por edificações unifamiliares, com um ou dois pavimentos, e área particular
livre, onde a grande maioria utiliza ao lazer, construindo piscinas e jardins. Com relação à
área pública, apenas as vias principais possuíam pavimentação, no entanto, a partir de 2013,
diversas vias secundárias receberam cobertura asfáltica. Quanto aos passeios, estes foram
delimitados informalmente, e apresentam cerca de 80cm a 1m.
O Tipo 5 corresponde ao tipo de ocupação, que vem recebendo influência pela
implantação do Comperj. São novas áreas de ocupação esparsa, próximas à RJ-114, via de
ligação com Itaboraí, onde estão sendo implementados condomínios e loteamentos
residenciais de forma a atender a população com nível de renda média a alta.
120
O Tipo 6 apresenta um modelo de ocupação de caráter rural, com grandes áreas com
cerca de 1000 a 2000m2, utilizadas principalmente para pasto. Não é um modelo típico de
ocupação. O espaço público do entorno é bastante precário e irregular, não havendo
pavimentação, passeio ou arborização (ALIPRANDI et al, 2013).
As áreas ainda não ocupadas no município representam grandes possibilidades de
expansão da malha urbana. É necessário identificar os potenciais vetores de crescimento,
evitando a linearidade já existente e também as áreas de interesse ambiental. Este estudo
facilita a orientação para novas políticas de expansão urbana e da construção de novos
empreendimentos, uma vez que determinadas características influenciam no clima local, na
ventilação e na iluminação.
O mapa também demonstra a localização das praças no município. Observa-se que há
maior concentração de praças na região central e também nas regiões de ocupação do tipo 4.
Vale ressaltar, que todas as regiões de ocupação citadas, conforme dito, apresentam um
caráter horizontal, com predomínio de edificações de um ou dois pavimentos.
121
4 Discussões e resultados
4.1 Estratégias de desenvolvimento: a experiência de Maricá e o
impacto da implantação de novos empreendimentos
Este capítulo visa a discussão sobre as transformações ocorridas no município de
Maricá ao longo de seu processo de crescimento, onde serão evidenciadas, sobretudo, a inter-
relação entre as questões sociais e ambientais fortemente influenciadas no processo de
ocupação do território. Entende-se que a trajetória histórica do município influenciou
diretamente o modelo de desenvolvimento atual e a sua estrutura demográfica.
A ocupação do território e a utilização do solo em Maricá, conforme dito, vem
correspondendo historicamente aos diferentes ciclos econômicos que foram orientados pelas
conjunturas políticas vivenciadas ao longo dos anos. Sendo assim, é possível realizar
brevemente uma retrospectiva de como se deu o desenvolvimento no município. Desde a sua
efetiva ocupação, onde primeiramente fora introduzido um cultivo para subsistência,
posteriormente houve uma forte fase agrícola baseada no plantio de cítricos, e a partir de
1940, com o declínio da produção agrícola houve o início dos loteamentos de terra, onde fora
promovido um processo de urbanização através do parcelamento do solo. É possível dizer que
a política de parcelamento do solo gerou profundas alterações sociais, econômicas e espaciais
ao município. Esta atividade que desde o início já prenunciava a prática da especulação
imobiliária, tornou o município, durante muitos anos, dependente economicamente deste
modelo de parcelamento.
Desde então, Maricá vem experimentando um acelerado processo de ocupação ao longo
das últimas décadas. Obras de infraestrutura como a construção da Ponte Rio-Niterói e a
duplicação da Rodovia Amaral Peixoto, que permitiram uma rápida acessibilidade viária ao
município, foram importantes influências ao incremento populacional e por consequência as
rápidas transformações socioambientais e a crescente demanda por serviços básicos de
saneamento, saúde, educação, dentre outros.
O incremento de uma nova população de origem urbana, que na grande maioria das
vezes trabalha nos municípios vizinhos, agregou ao município de Maricá a característica de
cidade-dormitório. Neste sentido, o município passou a se constituir como um local de
residência para apoio, sobretudo à metrópole do Rio de Janeiro, a partir das obras que
122
garantiram a conexão com a mesma. Vale lembrar que neste período houve um aumento da
população residente a partir da migração e da fixação de famílias que já possuíam casas no
município e no entanto as utilizavam apenas para veraneio.
Ressalta-se ainda que o município ao longo dos anos recebeu também um incremento
de uma população ocasional constituída por veranistas e turistas, sobretudo no período de
verão e em feriados, conforme dito, isto demanda uma quantidade de serviços que representa
uma dificuldade extra nas questões de planejamento e gestão do município, no provimento de
serviços e infraestruturas necessárias, como a coleta regular de lixo, o abastecimento de água
e o fornecimento de energia elétrica.
É possível observar ainda, um aumento da ocupação urbana irregular e a concentração
de uma população com nível de renda baixa nas áreas periféricas, áreas que em geral são
ambientalmente frágeis. Esta ocupação dispersa e fragmentada, compromete os solos frágeis e
as áreas próximas aos principais mananciais do município. Estas regiões sofrem com
carências diversas em infraestruturas, redes de abastecimento, além de transporte, saúde e
educação. Além disso, esta situação revela significativo impasse, no processo de urbanização,
com relação à proteção ambiental e o direito à moradia.
Dados fornecidos pelo IBGE demonstram o crescimento populacional no município ao
longo dos anos, onde houve um aumento de 164% entre os anos de 1990 a 2000 e de mais
166% entre 2000 e 2010. O ultimo censo, realizado em 2010, demonstra que a taxa de
urbanização atingiu 98,45%, sendo que no ano 2000 o município apresentou uma taxa de
82,62% (IBGE, 2000; 2010), o que já representava uma alta taxa de urbanização. O
considerável aumento da densidade demográfica no município não é tão evidente, pois esta
ocupação deu-se de forma dispersa, uma vez que o município apresenta uma área de grande
extensão. Por este motivo, foram geradas situações peculiares de gestão e da concessão dos
serviços demandados, encontrando-se em maior concentração no centro de Maricá. Neste
sentido, nota-se também que no município existem localidades com diferentes estágios de
urbanização por apresentarem características distintas. Sendo assim, algumas áreas já
encontram-se saturadas e estão iniciando um processo de adensamento, enquanto outras
localidades apesar de já estarem parceladas, por não terem sido dotadas de infraestrutura,
permanecem vazias.
Observa-se que durante muitos anos houve a falta de um planejamento urbano e
ambiental que orientasse o desenvolvimento do município. Isto se reflete diretamente nas
transformações do território, que assim como em muitas cidades brasileiras, veio expandindo-
se de forma desordenada, acarretando problemas sociais e ambientais. Neste sentido, um
123
planejamento deve promover, desde o início, o ordenamento da ocupação do solo e a provisão
de infraestruturas e habitações adequadas à população, que influenciarão à posteriori
diretamente na qualidade de vida no meio urbano (MARICATO, 2001).
Com relação aos serviços e infraestruturas do município, pode-se dizer que estes foram
sendo implementados de acordo com as necessidades e as possibilidades, cabendo muitas
vezes ao cidadão encontrar soluções individuais56, uma vez que a administração pública não
fora capaz de suprir as demandas.
Segundo Rogers (2000), esta é também a realidade de muitos municípios de países em
desenvolvimento, que ao aderirem a um crescimento não planejado, não obtiveram o
acompanhamento de infraestruturas necessárias que suportassem as demandas decorrentes da
crescente urbanização. (ROGERS, 2000) Entende-se assim, que o processo de
desenvolvimento está diretamente relacionado com as questões sociais, a começar pela
carência no provimento de infraestruturas básicas de saneamento por exemplo, inerentes à
saúde da sociedade, que necessitam ser supridas com urgência. A falta de infraestruturas gera
as diversas insustentabilidades encontradas atualmente, como a poluição, a degradação
ambiental e as carências por serviços assistenciais. (MARICATO, 2001)
Ressalta-se que a maior parte das áreas já urbanizadas no município são desprovidas de
redes de água e esgotamento sanitário. Conforme dito, um serviço básico, a água, captada e
tratada no próprio município é restrita aos bairros do centro e algumas localidades próximas à
orla. Somente 16% da população residente possui este serviço. Neste sentido, entende-se que
este é um dos fatos que mais agrava e compromete a sustentabilidade do desenvolvimento
local, pois o município continua a receber novos habitantes urbanos sem a oferta de água
canalizada, serviço básico e primordial. Além disso, a situação do esgotamento sanitário é
ainda mais grave no município, sendo somente 3% da população contemplada, segundo dados
da Fundação CIDE em 2010. Neste sentido, nota-se o desmazelo da administração pública
durante muitos anos quanto a este serviço. Em muitas localidades, moradores construíram
apenas sumidouros para solucionar o esgotamento. Sem um tratamento prévio os esgotos são
dispostos inadequadamente no meio ambiente, sendo lançados diretamente ao solo ou nos
corpos hídricos do entorno, incluindo o sistema lagunar, provocando a contaminação das
águas superficiais e também dos lençóis freáticos. 56 Nota-se que muitos investimentos em infraestrutura no município foram realizados com capital privado. Em determinadas situações a população residente arcou com despesas na implantação de serviços de drenagem, pavimentação e até mesmo iluminação das ruas nos loteamentos onde vivem. Devido a falta dos serviços públicos, a população tem arcado com os custos sociais, como maiores gastos de energia elétrica devido às bombas hidráulicas para extrair água de poços, a colocação de lâmpadas próprias para a iluminação da rua, a contratação de caminhões pipa para o fornecimento de água, entre outros.
124
Também é possível notar que historicamente a administração pública não teve uma
participação efetiva no tratamento das questões ambientais. A poluição das águas, do solo e a
derrubada de diversas árvores para ocupação do território, foram durante muitos anos
negligenciados como problemas de impactos mínimos, no entanto, a repercussão da herança
de uma exploração sem controle e gestão, são evidenciadas pelas insustentabilidades que o
município vivencia atualmente. Um exemplo neste sentido é a escassez de peixes pela
poluição do seu sistema lagunar.
Nota-se então, que a aceleração do crescimento populacional urbano no município, sem
planejamento, intensificou os impactos causados ao meio ambiente. Dentre as ações que
configuram os problemas ambientais provenientes da ocupação urbana, por vezes
desordenada e sobretudo nas áreas litorâneas e de restinga do município, é possível observar
aterros e drenagem em áreas de manguezais, a abertura ou fechamento de canais pertencentes
ao complexo lagunar e a poluição dos mesmos. Conforme dito, tais ações predatórias
configuram grandes prejuízos ambientais ao município ainda hoje.
Atualmente, pode-se dizer que o município vivencia uma nova fase. Observa-se que a
atual administração pública municipal, encontra-se mais focada, compromissada e preocupada
em relação as questões sociais e ambientais, que decorrem do processo de desenvolvimento
do município. Por este motivo, nos últimos anos, foram promovidas diversas ações, a partir do
entendimento da importância do planejamento na orientação do crescimento urbano. Nota-se
o incremento de novas infraestruturas, ações em relação à proteção ambiental e do controle e
ordenamento da ocupação do solo.
Em consonância com o Estatuto da Cidade, que apresenta as diretrizes para a
formulação de políticas urbanas no Brasil, Maricá instituiu um novo Plano Diretor Urbano em
2006, o que representou um novo paradigma ao planejamento e à gestão territorial do
município, sendo este elaborado através da cooperação e participação social, incluindo todos
os setores da sociedade. Este instrumento constitui-se atualmente na principal norma
urbanística do município, responsável pela regulamentação do parcelamento, uso e ocupação
do solo.
Outro importante instrumento que fora elaborado em conjunto com a sociedade, nos
últimos anos, a Agenda 2157, inclui estratégias que buscam adicionar sustentabilidade ao
desenvolvimento local, considerando um estilo de vida integrado e equilibrado com o meio
57 A decisão de elaboração da Agenda 21 do município de Maricá, deu-se com o anúncio da implantação do Comperj em Itaboraí. Foram elaboradas agendas para os municípios localizados no entorno do empreendimento, a partir da preocupação com a sustentabilidade socioambiental dos municípios.
125
ambiente, além da inclusão dos aspectos básicos inerentes à vida como saúde, alimentação,
educação, transporte, habitação e outros. A Agenda 21 de Maricá assume então um
compromisso em relação à proteção, preservação e a um acesso equilibrado aos bens comuns
naturais. Neste sentido, fica clara a intenção do município, em promover a harmonia na
relação entre as atividades do homem no meio ambiente, do consumo e da utilização dos
recursos naturais de forma equilibrada, o que poderá proporcionar ao município um
desenvolvimento sustentável.
Um aspecto de especial relevância refere-se à preservação e utilização adequada dos
recursos hídricos e da biodiversidade. Neste sentido, as políticas públicas municipais
necessitam promover o equilíbrio entre as intervenções humanas e a preservação ambiental
dos recursos naturais das bacias hidrográficas. Uma peculiaridade que vale ressaltar no
município é que este comporta dentro de seus limites quase que inteiramente sua bacia
hidrográfica, o que é muito favorável à gestão do território, tendo a água como elemento
chave e estruturante. Neste sentido, recomenda-se a adoção da bacia hidrográfica, como
espaço social e unidade para a gestão integrada do planejamento urbano, ambiental e de
recursos hídricos. Desta maneira, é necessário o fortalecimento de um comitê gestor da bacia
hidrográfica que possa objetivamente tratar da ocupação urbana, na prática do planejamento e
da gestão integrada. O Plano Diretor municipal determina a garantia de preservação dos
mananciais que abastecem o município, a partir do sistema por gestão de bacias hidrográficas,
viabilizando um desenvolvimento sustentável.
Outro importante fator que pode ser citado é a inclusão do conceito de urbanismo
bioclimático como uma estratégia possível para alcançar a sustentabilidade almejada.
Verifica-se que no município nunca houve uma intenção clara da utilização dos preceitos do
urbanismo bioclimático. No entanto, nota-se que em relação às edificações existentes, por
possuírem um gabarito baixo ainda são capazes de proporcionar certo conforto ambiental. A
inserção do conceito de urbanismo bioclimático, pode ser uma solução possível no sentido da
mitigação de grande parte dos problemas ambientais e urbanos atuais. Esta estratégia
promove, por exemplo, a redução dos gastos desnecessários de energia, a partir da otimização
da arquitetura e do urbanismo e da sua interação com os sistemas naturais, o que favorece a
economia, importante quesito à sustentabilidade. Segundo Esther Higueras (1998), utilizar as
energias disponíveis de modo eficiente, reduz a pegada ecológica dos assentamentos e
minimiza os impactos negativos sobre o meio ambiente (HIGUERAS, 1998).
Atualmente, o município está passando por grandes transformações urbanas
impulsionadas não somente por seu potencial turístico, mas sobretudo por novos
126
empreendimentos que potencializam o desenvolvimento econômico atual da região a partir da
exploração de petróleo e da implantação do Complexo Petroquímico (Comperj) no município
vizinho de Itaboraí.
O contexto econômico atual prioriza os investimentos públicos voltados à nova área
estratégica de desenvolvimento, o setor petrolífero. Algumas obras de infraestrutura serão
realizadas para atender a indústria do petróleo, como a expansão do aeródromo municipal
configurando-o como um aeroporto de maior porte, a construção de um porto em Jaconé 58 a
fim de possibilitar o escoamento da produção e insumos do petróleo e gás natural
provenientes dos poços do pré-sal na Bacia de Santos, além de um corredor de logística que
interligará o Comperj ao município de Maricá.
Ressalta-se, neste sentido que, para que Maricá agora inserida em processos de
desenvolvimento como o Comperj, possa ter um desenvolvimento sustentável, é necessário
que o planejamento destes empreendimentos considerem a infraestrutura do município, que
não é suficiente nem para a situação atual. Sendo assim, ações para a provisão de toda a
infraestrutura necessária são imprescindíveis.
Vale destacar, que dentro das estratégias atuais de desenvolvimento, a fim de viabilizar
a implementação dos novos empreendimentos no município previstos em um Master Plan que
fora elaborado com prospecções para trinta anos, foram realizadas alterações na Lei de Uso do
Solo contida no Plano Diretor, em setembro de 2013. A principal alteração foi a criação de
cinco Zonas de Especial Interesse Industrial, que somadas correspondem a aproximadamente
30km2 de áreas, localizadas sobretudo próximas à Rodovia Amaral Peixoto. Tais alterações
foram necessárias para permitir a adequação do município ao desenvolvimento do setor
industrial voltado para a logística de apoio às operações offshore de petróleo, neste caso
permitindo a fixação de novas indústrias de apoio.
Nota-se que o desenvolvimento do município passa a não ser mais vinculado somente
aos setores de comércio e serviços, mas passa a basear-se economicamente nas novas
oportunidades que a indústria do petróleo promete agregar ao município. Além disso, a
Prefeitura também vem realizando ações para a promoção do município e a busca por novos
investimentos também com países estrangeiros, visando a qualificação de novos
empreendimentos imobiliários e o fomento à criação de um parque industrial voltado à área
58 O Polo Naval de Jaconé é um empreendimento privado que promete a geração de 13 mil empregos durante sua construção. Possuindo uma área de 5,6 milhões de m2, servirá como principal ponto de escoamento da produção do Campo Lula, movimentando cerca de 850 mil barris de petróleo por dia. Inclui-se também a instalação de um gasoduto da Petrobrás, para o escoamento da produção de Gás Natural Liquefeito (GNL) gerado em alto-mar.
127
tecnológica. Observa-se que o município apoia-se em uma nova dependência ao capital
externo. Ressalta-se que as parcerias são importantes e precisam ser encontradas, no entanto
deve-se ter o cuidado para que estas não signifiquem uma nova forma de dependência
econômica.
Vale ressaltar também a preocupação dos moradores locais quanto a implementação
destes empreendimentos de tão grande porte, que poderão trazer ao município novos
problemas ambientais e urbanos. Pescadores e moradores mostram-se apreensivos quanto aos
riscos de poluição, não só da costa marítima, quanto de ecossistemas importantes como as
Ilhas Maricás. Neste sentido, a administração pública municipal promoveu uma reunião com a
empresa petrolífera a fim de entender os impactos ambientais, econômicos e sociais que as
operações do pré-sal poderão trazer ao município.
A partir da promessa da implantação dos novos empreendimentos, observa-se um
crescente aumento de interesse pelo município. Desde então, Maricá tem sido vista como
potencial local para a construção de novas residências que visem suprir a expansão
demográfica crescente na região.
Pode-se dizer que atualmente o município vive um novo momento de grande expansão
imobiliária e vem recebendo um novo incremento populacional. Segundo dados do IBGE, o
município apresentou o segundo maior crescimento populacional do Estado e teve uma
população estimada em 143.111 habitantes no ano de 2014 (IBGE, 2014) e a expectativa é
que 400 mil pessoas passem a residir no município nos próximos cinco anos. São inúmeros os
fatores que contribuem para o crescimento populacional em Maricá, desde os efeitos
decorrentes da implantação do Comperj e da fortificação da atividade petrolífera que promete
a geração de empregos e renda, além das qualidades já observadas durante muitos anos, como
a proximidade de grandes cidades como Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo, além dos
atrativos naturais e a oportunidade de uma vida qualitativa, com mais segurança e
tranquilidade.
Conforme dito, o município apresenta um Plano Diretor que é considerado como um
instrumento básico de atuação para o desenvolvimento e expansão urbana. No entanto, cabe
ressaltar que apesar do plano citar como objetivo principal um desenvolvimento econômico
sustentável e integrado ao meio ambiente, por vezes algumas atuações da administração
pública municipal não condizem com tal objetivo.
Vale lembrar que historicamente os setores imobiliários e de transporte atuaram com
interesses comuns no município. Ressalta-se que a economia local segue vinculada à política
de loteamentos e especulação imobiliária, onde ao solo fora atribuído um valor e vendido
128
como mercadoria. A comercialização e valorização da terra urbana como mercadoria cada vez
mais diferenciada e voltada a um público consumidor com faixas de renda média a alta,
passam a ser vendidos a partir de slogans de “condomínios fechados”, “resort”, entre outros.
Na produção do espaço urbano, a administração pública continua a agir visando a garantia da
obtenção de lucros, ou seja, da reprodução do capital imobiliário. Neste sentido, o município
se beneficia com a arrecadação de impostos prediais e territoriais, provenientes do aumento da
população residente e do turismo de veraneio, que ainda hoje constituem grande parte da
renda municipal, evidenciando a dependência econômica desta atividade.
A Prefeitura vem estimulando a implantação de novos condomínios residenciais, em
geral destinados a população de renda média a alta. Esta ação visa atender à demanda por
habitação por parte do contingente profissional proveniente das novas indústrias que vem se
instalando na região. É possível observar que os novos condomínios residenciais tem sido
planejados buscando a inserção de conceitos como a promoção da sustentabilidade ambiental,
o conforto e a qualidade urbana, no entanto, vê-se que algumas destas ações muitas vezes
fazem parte mais de uma estratégia de marketing. Nota-se, por exemplo, que ainda não há a
intenção de uma utilização verdadeira dos preceitos do urbanismo bioclimático, conceito que
alia as condições climáticas e ambientais ao projeto de arquitetura e urbanismo, promovendo
a qualidade da habitação e o conforto ambiental, uma prática considerada fundamental quando
se fala em sustentabilidade. Observa-se também que estes grandes condomínios apresentam
uma visão de sustentabilidade voltada muito mais para a dimensão econômica, ignorando por
vezes a dimensão social, pois apenas reproduzem um formato de pouca variabilidade social e
adotam o conceito de sustentabilidade a fim de cumprir algumas exigências da Prefeitura ou
somente como uma estratégia de marketing, conforme dito.
Novos empreendimentos sempre geram demandas para as quais o poder público precisa
preparar a cidade. Neste sentido, para serem aprovados, a Prefeitura tem exigido, que os
projetos de novos condomínios contemplem todas as infraestruturas básicas necessárias. Além
disso, devem prever áreas destinadas aos sistemas de circulação, equipamentos urbanos e
comunitários e espaços livres para o uso público, incluindo faixas não-edificantes. Segundo a
Prefeitura, através deste processo de aprovação, procura-se evitar a favelização no município
em decorrência do aumento migratório. Nota-se também que a Prefeitura somente tem
relegado a concessão de infraestruturas à responsabilidade de incorporadores, enquanto
continuam a promover o parcelamento do solo.
129
A atividade econômica voltada ao parcelamento especulativo do solo, conforme dito,
um processo estimulado até hoje pela administração pública local59, é uma atividade que por
ironia coloca em risco justamente a maior qualidade do município, que motiva a migração da
população para o mesmo, as belezas naturais. Ou seja, compromete a sustentabilidade
ambiental. Além disso, esta atividade também gera inúmeros problemas sociais a partir do seu
caráter segregador e de exclusão social. Enquanto o desenvolvimento no município continuar
a ser baseado nos interesses de um mercado imobiliário especulativo, o bem-estar coletivo e
os interesses básicos e primordiais da população, continuarão a ser uma questão renegada a
segundo plano. Por fim, fica evidente que a produção do espaço urbano por meio de
loteamentos não só compromete à proteção ambiental, como também a qualidade das
moradias.
Outro assunto de especial relevância a ser tratado é com relação à APA de Maricá.
Conforme dito, as áreas de restinga60 em Maricá, encontravam-se quase totalmente loteadas
na década de 80. No entanto, uma região fora mantida preservada através de um decreto, que
a transformou em 1984, na APA de Maricá. Infelizmente, esta região encontra-se ameaçada
com a implementação de um grande empreendimento imobiliário, um resort de luxo. O
projeto promete a geração de renda e empregos na região e a inclusão da comunidade
pesqueira tradicional de Zacarias que habita parte da restinga.
No entanto, é necessário refletir a viabilidade deste empreendimento, que poderá trazer
grandes prejuízos ambientais e desequilíbrios à paisagem natural. Esta é uma questão
controversa e muito discutida pelo município nos últimos anos. São divergentes as opiniões
entre os diversos setores sociais: habitantes do município, pesquisadores61, ambientalistas e
empresários locais. Alguns acreditam que o projeto trará benefícios como o crescimento
59 A Prefeitura aprovou nos últimos anos a implantação de vários condomínios voltados a classes de renda média a alta. Cerca de 18 condomínios de luxo foram aprovados nos últimos quatro anos. Em 2013, foram analisados cerca de 300 a 320 processos de licenciamentos urbanos por semana, contra 20 a 25 processos avaliados no mesmo período em 2010. Nesta mesma época, o mercado imobiliário realizou empreendimentos com até 400 lotes, que foram comercializados e vendidos em poucas horas. Pode-se dizer então, que Prefeitura vem aprovando a implantação de grandes empreendimentos imobiliários, aparentemente sem perceber a demanda que estes gerarão ou impactos sobre os recursos naturais que poderão causar. 60 A formação da área de restinga no município, data de cerca de 5.100 anos. Esta se configura como uma formação geológica precária, que caso não estivesse associada à vegetação, que serviu para a fixação do seu solo arenoso, poderia facilmente sofrer alterações pela ação do mar. Por este motivo, qualquer intervenção urbana na área, deve prioritariamente consistir de um estudo aprofundado da região. A região das restingas necessita de um estudo que considere sua conservação, conjugada aos valores ecológicos, paisagísticos e turísticos. 61 O Movimento Pró-Restinga, baseado em pesquisas de profissionais de instituições conceituadas, como as universidades públicas UFRJ, UFF, UERJ e UFRRJ (Rural), defende que o ecossistema da região da restinga é incompatível com qualquer empreendimento de uso urbano, mesmo os sustentáveis permitidos por uma APA. As dunas e o ecossistema da restinga, verdadeiros sítios arqueológicos da região, são protegidos por lei, inviabilizando a área para qualquer que seja o empreendimento (GUICHARD).
130
econômico para o município62, no entanto, outros lutam pela preservação da APA e se opõem
ao empreendimento, com o argumento de que a implantação deste poderá acarretar diversos
problemas socioambientais, como exemplo, o aumento do preço do solo e em consequência a
especulação imobiliária, a favelização de áreas do entorno e a degradação ambiental da área
da restinga e dos manguezais colocando em risco espécies endêmicas, aves migratórias, dunas
raras e sítios históricos e arqueológicos, além da perda do vínculo com o espaço e da
identidade local para com a comunidade de pescadores fixada ali durante tantos anos, que
com a implantação do empreendimento teria de ser removida.
Sendo as áreas remanescentes de restinga reconhecidamente um fator essencial para a
sustentabilidade de Maricá, pode-se dizer que o ideal é a sua preservação, onde estas áreas
possam ser transformadas em reserva, permitindo sua conservação e um extrativismo com uso
controlado, como o caso da pesca.
Vale citar também, a atual conjuntura do município em relação à provisão de
infraestruturas e do tratamento de questões socioambientais. Destaca-se algumas boas
condutas da atual administração pública municipal, que encontra-se empenhada em solucionar
algumas destas questões. De forma a acompanhar o crescimento da cidade novos
investimentos em urbanização e mobilidade urbana tem sido feitos, tendo o município obtido
um empréstimo adiantado de 200 milhões de reais em verbas provenientes dos royalties de
petróleo para os investimentos em urbanização.
Em relação às questões sociais, mais especificamente a educação, o município tem a
intenção de investir em nova escola de ensino técnico e profissionalizante. Atualmente,
grande parte dos jovens residentes no município permanecem com sua formação profissional
limitada, caso não possuam condições para estudar nos municípios vizinhos como Niterói e
Rio de Janeiro, pois conforme visto, Maricá apresenta apenas uma instituição particular de
ensino superior. Quanto à saúde, o município que dispõe apenas de um hospital público
municipal, aguarda a construção de mais um hospital, que possa atender as carências e
demandas da população. Além disso, conforme dito, a Prefeitura também promove ações que
visam minimizar a discrepância econômica em relação aos habitantes que apresentam uma
renda baixa no município. Uma ação importante que vale ressaltar foi a implantação da moeda
social Mumbuca, como uma ação inovadora, que visa a complementação de renda para as
famílias mais carentes e ainda fortalece o comércio local.
62 A Prefeitura de Maricá tem se manifestado a favor do complexo em audiências públicas. Em nota, informou que o empreendimento trará “desenvolvimento econômico com sustentabilidade, proteção ambiental e inclusão social”, mas não especifica as vantagens diretas.
131
Com relação à questão ambiental, pode-se dizer que esta ainda é pouco considerada. É
necessário intensificar o controle e a fiscalização ambiental, sobretudo em áreas próximas aos
mananciais que abastecem o município, evitando a redução do potencial hídrico e a poluição,
causadas por construções e desmatamentos nas margens dos rios e em áreas de encostas.
Além disso, é necessário implementar também ações para a coleta seletiva no município, por
exemplo.
Com relação aos investimentos em mobilidade urbana, estes também tem sido feitos,
começando por uma restruturação da malha urbana a fim de garantir a melhoria do trânsito na
cidade. Além disso, a Empresa Pública de Transportes, implementada pela Prefeitura,
beneficia inúmeros moradores do município com o deslocamento gratuito feito por ônibus63.
Nota-se que o aspecto rodoviário ainda é bastante estimulado pelo poder público, no entanto
novos estudos tem sido realizados a fim de viabilizar a reativação da antiga estrada de ferro de
Maricá, que poderá realizar o transporte de mercadorias e de passageiros.
Conforme dito, é possível notar que a promoção do automóvel como um meio principal
de deslocamento no município ainda é fortemente influenciado no planejamento urbano, onde
ruas e avenidas são muitas vezes projetadas para atender as necessidades dos automóveis e
não dos pedestres. Segundo Maricato (2011), historicamente há uma lógica que une a política
baseada no rodoviarismo sobretudo no uso de automóveis, a especulação imobiliária e o
financiamento de campanhas eleitorais, em muitos municípios brasileiros (MARICATO,
2011).
Uma das principais ações da Prefeitura no âmbito urbano nos últimos anos, foi a
realização do asfaltamento das vias urbanas. Com relação às vias de circulação internas do
município, na região central de Maricá, todas as vias já são pavimentadas. Até recentemente,
diversas localidades ainda apresentavam vias não-pavimentadas, no entanto, em 2014,
ampliou-se muito a quantidade de vias pavimentadas, sobretudo na região litorânea. Além
disso, foram implementadas ciclofaixas que permitem o deslocamento dos cidadãos por meio
de bicicletas.
Vale ressaltar que a implantação de redes coletoras de esgoto, redes de abastecimento
de água e drenagem urbana, não foram contemplados nos projetos de asfaltamento das vias
urbanas. Além disso, boa parte das vias asfaltadas não apresentam meio fio, não havendo
também uma preocupação com o dimensionamento ideal das calçadas. Além disso, também
63 Há a intenção de se adquirir novos ônibus, sendo estes elétricos que funcionam à base de energia solar. Esta será uma ação sustentável que possibilitará a redução da emissão de carbono pelo transporte público.
132
não fora estipulada a padronização dos passeios, cabendo aos proprietários de terrenos, a
responsabilidade pelos mesmos, assim como na maioria das cidades brasileiras.
Neste sentido, ressalta-se que pela inexistência de calçadas em vários bairros do
município, durante muitos anos ou por não haver uma padronização efetiva que
proporcionasse conforto aos percursos a pé, acabou por influenciar em um aspecto “cultural”
do cidadão que vive em Maricá, que passou a caminhar pelo meio das ruas, mesmo que em
determinadas localidades existam calçadas.
Em relação à drenagem urbana, é necessário ainda a proposição de um sistema de
pavimentação permeável que possa colaborar com a infiltração das águas pluviais no solo, a
fim de reduzir os impactos ao ciclo hidrológico em relação à impermeabilização do solo,
permitindo a recarga dos lençóis freáticos e reduzindo o risco de enchentes e inundações.
Outro aspecto de importante relevância, que merece ser citado é com relação ao
turismo. Conforme dito, o conjunto de atributos naturais e geográficos do município de
Maricá, corrobora para sua promoção como um município eminentemente turístico. Sendo
assim, é necessário o incentivo às diversas modalidades do turismo, através da valorização e
da divulgação do município pelo seu grande potencial neste setor. Esta importante atividade
econômica é promotora de sustentabilidade, pois é considerada uma atividade de baixo
impacto ambiental, além de promover a inclusão social. Ressalta-se que é necessário prover o
município de toda a infraestrutura adequada a esta atividade, pois nota-se a pouca estrutura
que o município dispõe para atender aos turistas atualmente. Novas atuações da Prefeitura,
demonstram que o município encontra-se mais focado em um planejamento que possa
oferecer infraestrutura adequada a um turismo de qualidade.
Conforme dito, as riquezas naturais são para o município um patrimônio inestimável, o
maior atrativo ao turismo na região. Neste contexto, vê-se que Maricá, com seu enorme
potencial turístico em meio às suas belezas naturais, carece também de parques ecológicos,
onde, além da prática esportiva e de lazer, os moradores e visitantes poderão desfrutar de uma
estrutura planejada, com opções de alimentação e hospedagem, potencializando assim, as
características locais, e impulsionando o desenvolvimento do ecoturismo, que poderia ser a
grande base econômica no município, assim como acontece em outros destinos turísticos. O
turismo em si, é uma indústria limpa e sustentável, capaz de gerar empregos e renda e ainda
auxiliar na conservação dos patrimônios do município, sejam estes naturais ou construídos.
133
5 Considerações finais
A experiência de urbanização nas últimas décadas nas cidades brasileiras nos indica a
necessidade e premência de se encontrar novas possibilidades de gestão do território. Sendo
assim, é necessária uma mudança de atitude a partir da compreensão dos desafios da nossa
atualidade.
A sustentabilidade ambiental e urbana devem ser priorizadas no processo de
planejamento e ordenamento do território. Este ideal tem fundamental importância e não pode
estar apenas contido em slogans políticos ou empresariais.
É necessária a utilização consciente dos recursos naturais e a compreensão dos limites
do meio físico. Neste sentido, devem ser adotados limites à expansão urbana a fim de garantir
áreas diversificadas das quais depende a sustentabilidade da vida urbana. Além disso, é
necessária uma otimização das infraestruturas no projeto dos espaços urbanos, com base nas
reais necessidades locais e no bem-estar coletivo.
Após a revisão teórica dos diversos conceitos aqui expostos, como o planejamento
urbano e ambiental, o urbanismo bioclimático como um caminho para a sustentabilidade
ambiental e urbana e os instrumentos de planejamento e gestão que consistem em parâmetros
teóricos legais que viabilizam a inclusão de estratégias sustentáveis, conclui-se que esta
abordagem fora fundamental para a revelação de novas perspectivas sobre um
desenvolvimento equilibrado e qualitativo para as cidades. Sendo assim, constata-se como
fundamental uma atenção plena quanto à ocupação do território, atividade esta que transforma
o meio ambiente e com as questões sociais que derivam deste processo.
A conclusão desta pesquisa não pretende englobar toda a complexidade
socioambiental do município de Maricá, objeto de estudo, mas sim incluir a temática da
sustentabilidade como uma medida possível ao crescimento e desenvolvimento
socioeconômico municipal, objetivando novas perspectivas de solução das insustentabilidades
atuais que por si só se tornam evidentes, em relação à descrição dos problemas, outrora
realizada.
É evidente que um modelo de desenvolvimento baseado primordialmente nas questões
econômicas, voltado ao lucro e na obtenção de benefícios de curto prazo, além de estar
baseado nos interesses de um pequeno setor social, não constitui uma fórmula de sucesso. Os
aspectos econômicos não devem prevalecer sobre questões sociais e ambientais, a todos
134
devem ser atribuídas igual importância, a fim de equilibrar estas variáveis, visando um
desenvolvimento sustentável.
Atualmente, o município de Maricá encontra-se em uma nova fase de crescimento
demográfico e especulação imobiliária, incluindo tentativas para a provisão de novas
infraestruturas, ações em relação à proteção ambiental e a organização e controle da ocupação
do solo. A partir de uma análise sobre o contexto de desenvolvimento adotado pelo
município, conclui-se que somente sob a ótica da sustentabilidade serão possíveis novas
perspectivas de desenvolvimento, que poderão ser capazes de promover um futuro
equilibrado, quanto às questões sociais, econômicas e ambientais.
A pesquisa de dados históricos foi muito relevante a fim de enriquecer a reconstituição
da vida no município, em relação à sua ocupação e desenvolvimento econômico. Este estudo
foi necessário para avaliar e identificar as características adquiridas e herdadas no presente,
reflexos da adoção de ações no passado remoto e ainda, possibilitar a projeção de um futuro,
com base nos investimentos e ações adotadas no presente. O levantamento dos dados aqui
expostos, possibilitou a discussão sobre as causas históricas que levaram às
insustentabilidades no município, a partir do crescimento econômico apoiado na política de
parcelamento do solo e especulação imobiliária que, conforme visto, é a causa de problemas
socioambientais.
É notável a intenção do município de Maricá em realizar o Plano Diretor Urbano e a
Agenda 21 municipal com viés ambiental. Diversas ações da Prefeitura demonstram uma
melhoria da qualidade de vida da população, como por exemplo um aumento nos índices de
educação e os novos incentivos econômicos em infraestruturas, entre outros. No entanto, é
possível notar que a grande maioria destas ações não estão considerando princípios de
sustentabilidade urbana. Um exemplo neste sentido, é a pavimentação de vias sem as devidas
instalações de infraestruturas básicas de saneamento. Além disso, projetos de expansão
imobiliária estão em desacordo com indicações do próprio município, como a não ocupação
de áreas de preservação e áreas limítrofes à mananciais. Nota-se que apesar de conter no
Plano Diretor o objetivo de realizar um desenvolvimento econômico sustentável e em
harmonia com o meio ambiente, algumas atuações públicas ainda estão aquém dos ideais dos
conceitos de sustentabilidade e planejamento ambiental.
Neste sentido, entende-se que somente através de uma gestão eficaz, podem ser
garantidos o cumprimento das estratégias sustentáveis de desenvolvimento orientadas pelo
plano diretor. e assim obter a qualidade de vida aos cidadãos e o equilíbrio ambiental tão
almejados. Atualmente, os maiores desafios municipais, se constituem na solução dos
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problemas básicos inerentes às carências do processo de urbanização, como o provimento de
infraestruturas necessárias, redes de abastecimento e saneamento, serviços sociais, além de
conter a degradação ambiental e promover a inclusão social. A partir do cumprimento destes
objetivos, certamente encontra-se o princípio de uma sociedade e cidade mais sustentável,
pois ao mesmo tempo em que se baseia no enfoque ambiental, promove a consciência social e
um desenvolvimento econômico qualitativo, objetivos potencialmente alcançáveis.
Na perspectiva de um novo olhar sobre o desenvolvimento das cidades, a qualidade
ambiental e urbana almejadas, compreende uma abordagem sistêmica e estratégica sobre os
desafios e obstáculos que se apresentam atualmente. É essencial a busca pela inserção do
conceito da sustentabilidade ao desenvolvimento, que poderá garantir um planejamento
qualitativo do espaço urbano, trazer melhorias e qualidade de vida, desde que sejam
implementadas por uma boa gestão municipal. Além disso, poderá contribuir com a discussão
dos princípios sustentáveis e parâmetros básicos, em um intercâmbio de experiências que
subsidiam metodologias pertinentes a projetos sustentáveis para outras cidades.
136
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SOUZA, Marcelo. Instrumentos de Gestão Ambiental: fundamentos e prática. São Carlos: Ed. Riani Costa, 2000. UOLNOTICIAS. Entenda o que é o IDHM. (2015) Disponível: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/07/29/entenda-o-que-e-o-idh.htm Acesso em: 18 abril 2015. VITAL, Giovanna. Projeto Sustentável para a Cidade.: o caso de Uberlândia. 2012. 538f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012. VITÓRIA-GASTEIZ. Capital Verde Europeia, 2012. Manuales de urbanismo bioclimático. Disponível em: < http://www.vitoria-gasteiz.org/we001/was/we001Action.do? idioma=es&aplicacion=wb021&tabla=contenido&uid=u6fa2fee7_14273f1b7eb__7fb5 Acesso em: 8 mar. 2015.
146
7 Anexos
A seguir serão apresentados outros dados pesquisados referentes à caracterização do
município quanto aos aspectos socioeconômicos. Estes dados permitem conhecer mais
profundamente a realidade socioeconômica a qual vivencia o município hoje.
Cenário socioeconômico atual Aspectos sociais
- Educação
Com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, conforme dito, a
Educação foi a dimensão cujo índice mais cresceu em termos absolutos, no período que
compreende o ano de 1991 a 2010. Entre os anos de 1991 e 2000, o IDHM Educação, cresceu
0,181. Entre 2000 e 2010, IDHM Educação teve um crescimento de 0,198. Por fim, nestas
duas décadas, o período que compreende 1991 e 2010, o IDHM Educação teve um
crescimento total de 0,379 (IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
O IDHM Educação demonstra o percentual de acesso ao conhecimento e é medido
através das seguintes variáveis: percentual de população com 18 anos ou mais com ensino
fundamental completo; percentual de população de 5 a 6 anos frequentando a escola;
percentual de população de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental;
percentual de população de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo; percentual de
população de 18 a 20 anos com ensino médio completo (UOLNOTICIAS, 2015). Abaixo, a
tabela demonstra os índices que compõem o IDHM Educação, nos levantamentos realizados
nos anos de 1991, 2000 e 2010 (Tabela 3) (IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
147
Tabela 3 – IDHM Educação e índices ao longo dos anos – Maricá/RJ Fonte: PNUD, Ipea e FJP.
É válido ressaltar, que no IDHM 2013, o indicador de educação foi calculado com
uma nova metodologia. No IDHM anterior, de 2003, eram levadas em conta a taxa de
alfabetização dos adultos e a taxa bruta de frequência à escola. No entanto, no IDHM 2013,
esse indicador ficou mais exigente e passou a considerar os adultos com ensino fundamental
completo e até que ponto as crianças e os jovens estão frequentando e completando
determinados ciclos da escola com a idade adequada (UOLNOTICIAS, 2015).
No município de Maricá, a proporção de crianças de 5 a 6 anos na escola é de 95,73%,
em 2010. No mesmo ano, a proporção de crianças de 11 a 13 anos frequentando os anos finais
do ensino fundamental é de 81,23%; a proporção de jovens de 15 a 17 anos com ensino
fundamental completo é de 60,06%; e a proporção de jovens de 18 a 20 anos com ensino
médio completo é de 47,79%. Vê-se que entre 1991 e 2010, essas proporções aumentaram,
respectivamente, em 36,17 pontos percentuais, 46,57 pontos percentuais, 38,94 pontos
percentuais e 34,28 pontos percentuais (IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
Além disso, em 2010, 77,48% da população de 6 a 17 anos do município estava
cursando o ensino básico regular com até dois anos de defasagem idade-série. Em 2000 eram
74,42% e, em 1991, 69,42% (IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
O percentual de jovens adultos de 18 a 24 anos, que estavam cursando o ensino
superior em 2010, foi de 13,35%. Em 2000 eram 4,98% e, em 1991, 2,70% (Gráfico 2)
(IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
O aumento considerável de jovens e crianças nas escolas nos últimos dez anos pode
ser associado à programas governamentais como o Bolsa Família, que exige a matrícula e a
presença dos filhos nas escolas.
148
Gráfico 2 - Fluxo escolar por faixa etária - Maricá/RJ – anos 1991/ 2000/ 2010.
Fonte: PNUD, Ipea e FJP. Outro importante indicador que compõe o IDHM Educação é o indicador de
escolaridade da população adulta, sendo este com base no percentual da população de 18 anos
ou mais com o ensino fundamental completo. Em 2010, considerando-se a população
municipal de 25 anos ou mais de idade, 5,30% eram analfabetos, 63,20% tinham o ensino
fundamental completo, 46,60% possuíam o ensino médio completo e 13,28%, o superior
completo (Gráfico 3) (IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
Gráfico 3 - Gráficos que demonstram a escolaridade da população de 25 anos ou mais
Fonte: PNUD, Ipea e FJP
149
Com base no IDHM Educação, apresenta-se ainda o indicador de Expectativa de Anos
de Estudo, que indica o número de anos de estudo, que uma criança que inicia a vida escolar
no ano de referência, deverá completar ao atingir a idade de 18 anos. Em 1991, a expectativa
de anos de estudo era de 7,87 anos, no município. Já entre os anos 2000 e 2010, ela passou de
8,68 anos para 9,03 anos, no município (IDHM Educação - Atlas Brasil, 2013).
Através dos dados disponibilizados pelo IBGE em 2012, sobre Ensino – Matrículas,
Docentes e Rede Escolar, constatou-se que o município de Maricá apresenta 711 docentes da
rede pública municipal, sendo: 113 docentes do pré-escolar, 557 docentes do ensino
fundamental e 41 docentes do ensino médio. Quanto à rede pública estadual, apresenta 457
docentes, 216 docentes do ensino fundamental e 241 docentes do ensino médio. Quanto à rede
privada de ensino, apresenta 500 docentes, sendo 74 docentes do pré-escolar, 302 docentes
do ensino fundamental e 124 docentes do ensino médio.
Por fim, isto representa um total de 1668 docentes, sendo: 42,62% docentes da rede
pública municipal, 27,40% docentes da rede pública estadual e 29,98% docentes da rede
privada de ensino (Tabela 11)(IBGE, 2012).
Tabela 11 - Docentes por nível
Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP – Censo Educacional 2012.
Com relação ao número de escolas, o município de Maricá, apresenta um total de 61
escolas que possuem ensino pré-escolar, 72 escolas que possuem ensino fundamental e 20
escolas que possuem ensino médio. Quanto à rede pública municipal, apresenta: 37 escolas
com ensino do pré-escolar, 40 escolas com ensino fundamental e 1 escola com ensino médio.
Quanto à rede pública estadual, apresenta: 10 escolas com ensino fundamental e 9 escolas
com ensino médio. Quanto à rede privada de ensino, apresenta: 24 escolas com ensino do
150
pré-escolar, 22 escolas com ensino fundamental e 10 escolas com ensino médio (Tabela
12)(IBGE, 2012).
Tabela 12 - Número de escolas por nível
Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP – Censo Educacional 2012.
Quanto ao número de matrículas, realizadas no município, ainda segundo dados do
IBGE (2012)(Tabela 13), Maricá apresentou um total de 24.553 matrículas. Foram 2.748
matrículas no Ensino Pré-escolar, sendo: 1.905 matrículas na rede pública municipal e 843
matrículas na rede privada de ensino. Ainda, 17.802 matrículas no Ensino Fundamental,
sendo: 10.940 matrículas na rede pública municipal, 2.746 matrículas na rede pública
estadual, 4.116 matrículas na rede privada de ensino.
E, por fim, 4.003 matrículas no Ensino Médio, sendo: 358 matrículas na rede pública
municipal, 2.863 matrículas na rede pública estadual, 782 matrículas na rede privada de
ensino (IBGE, 2012).
Tabela 13 - Matrículas por nível
Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP – Censo Educacional 2012.
Com base nos dados expostos pela Fundação CIDE, em 2013, o corpo docente,
incluindo escolas das redes municipais, estaduais e privadas, está composto por 1610
professores, sendo: 334 professores do ensino pré-escolar, 940 professores do ensino
fundamental e 336 professores do ensino médio. O número de instituições de ensino,
151
incluindo escolas municipais, estaduais e particulares, que possuem ensino de pré-escolar é de
65, que possui ensino fundamental é de 74 e que possui ensino médio é de 19. Não foi
informado o número de instituições de ensino superior. Com relação ao número de matrículas,
foram feitas um total de 26.590 matrículas, sendo: 4.679 no pré-escolar, 17.812 no ensino
fundamental e 4.099 no ensino médio (CEPERJ, 2013).
Figura 38 - Creche de Bosque Fundo - Inoã
Fonte: MARICÁ, 2013
Com relação às instituições de Ensino Superior, o município apresenta desde 2009, um
Campus Avançado da Universidade Severino Sombra (Figura 36), localizado no bairro do
Flamengo em Maricá, sendo esta a primeira instituição de ensino superior do município.
Nesta Universidade particular, são oferecidos Cursos Superiores em: Letras Licenciatura:
Português–Inglês, Português–Literatura, Português–Espanhol; Administração e Pedagogia.
Cursos Superiores de Tecnologia, nas áreas de: Gestão Ambiental, Negócios Imobiliários,
Tecnologia da Informação e Sistema de Informação – Bacharelado. Além disso, a
Universidade oferece cursos técnicos em Enfermagem e Segurança do Trabalho e cursos de
pós-graduação.
Figura 39 - Campus avançado da Universidade Severino Sombra
Fonte: Google Images
152
Por fim, vale ressalta-se que a atual gestão do município demonstra preocupação com
as questões relativas à educação e neste sentido pretende adotar ações de longo prazo. Uma
iniciativa que merece destaque é que a partir das recentes perspectivas de desenvolvimento
econômico com base na exploração petrolífera e a entrada de novos investimentos no
município, a Prefeitura pretende implementar novas políticas educacionais, visando a
qualificação profissional de jovens, para sua inserção no mercado de trabalho, sobretudo de
petróleo e gás. Sendo assim, pretende construir para os próximos anos, um campus da Escola
Técnica Federal vinculado ao Instituto Federal Fluminense (IFF).
- Saúde
Com base nos dados informados pelo IBGE, denominados Serviços de Saúde, tendo
sido realizado em 200964, informa-se que o município de Maricá apresenta um total de 39
estabelecimentos de saúde, sendo estes 17 estabelecimentos privados, 1 estabelecimento
terceirizado privado e 21 estabelecimentos públicos. Dentre estes, 5 estabelecimentos que
atendem privado/SUS (IBGE, 2009).
No entanto, outros dados explicitam melhor a situação destes
hospitais/estabelecimentos de saúde, em relação aos atendimentos ambulatoriais,
emergenciais, de especialidades e se possuem ou não internação.
Sendo assim, constata-se que:
- São 14 os “estabelecimentos de saúde com apoio à diagnose e terapia total”, sendo
13 estabelecimentos privados e 1 estabelecimento público.
- “Estabelecimentos de Saúde com atendimento ambulatorial com atendimento médico
em especialidades básicas”, somam um total de 25 estabelecimentos, sendo 5
estabelecimentos que atendem outras especialidades e 8 com atendimento odontológico com
dentista.
- “Estabelecimentos de Saúde com atendimento de emergência”, nas seguintes
especialidades: cirurgia, cirurgia buco-maxilofacial, clínica, neurocirurgia, obstetrícia,
pediatria, psiquiatria, traumato-ortopedia, somente 1 estabelecimento atende cada uma destas
especialidades em caráter de emergência.
64 Fonte: IBGE, Assistência Médica Sanitária 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
153
- “Estabelecimentos de Saúde com internação privado” somente 1 estabelecimento e
“Estabelecimento de Saúde com internação público”, também representa somente 1
estabelecimento.
- Conforme dito, “Estabelecimentos de Saúde público municipal” são 21
estabelecimentos, sendo 20 “estabelecimentos de saúde que prestam serviço ao SUS
ambulatorial” e somente, 1 estabelecimento de saúde que presta serviço ao SUS Emergência e
Internação. (IBGE, 2009)
Estes dados evidenciam, uma carência da cidade em relação aos serviços básicos de
saúde, necessitando sobretudo de mais hospitais com especialidades e internações. Através
destes dados, constata-se que Maricá apresenta apenas 20 estabelecimentos de saúde públicos
municipais, sendo estes: postos de saúde e unidades de atendimento ambulatoriais, como a
UPA e além disso, somente 1 hospital municipal em funcionamento, o Hospital Municipal
Conde Modesto Leal (Tabela 14).
Tabela 14 - Estabelecimentos de saúde
Fonte: IBGE, Assistência Médica Sanitária 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
Ainda segundo dados do IBGE (2009), o município dispõe de 89 leitos para internação
em estabelecimentos de saúde, sendo estes 14 leitos em estabelecimentos privados de saúde e
75 leitos em estabelecimento público municipal.
Segundo dados da Secretaria Municipal Adjunta de Saúde, em 2014, foram investidos
entre setembro-dezembro, 16,51% da arrecadação total do município, sendo o valor mínimo
estipulado de 15%. Os números de atendimentos realizados nas unidades de saúde de Maricá
também foram informados, sendo 283.020 atendimentos na rede básica de saúde. Também foi
informado, de que o município conta com “42% de cobertura populacional com a estratégia
de Saúde da Família através de 18 postos, um Centro de Diagnóstico e Tratamento, e o
Ambulatório Central.” Também estavam em construção 9 unidades básicas de saúde. Através
desta ampliação é pretendido pelo município alcançar um patamar de 80% de cobertura
154
populacional (PMM, 2015). No entanto, vale ressaltar que, apesar de recente, ainda esta meta
não foi atingida.
Também é válido ressaltar o número de atendimentos realizados no município, entre
setembro-dezembro de 2014, uma vez que foi informado pela Secretaria Municipal Adjunta
de Saúde. Os registros do Hospital Municipal Conde Modesto Leal (HMCML)(Figura 37)
contabilizam 41.196 pessoas atendidas de setembro a dezembro de 2014; na Unidade de
Pronto Atendimento (UPA), 33.941 pessoas receberam atendimento; e o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) fez 650 atendimentos no mesmo período (PMM,
2015). Estes são números, que representam um avanço na saúde do município, no entanto,
ainda há muito a ser feito.
Figura 40 - Hospital Municipal Conde Modesto Leal
Fonte: Google Images
Tendo em vista os dados supracitados, observa-se a necessidade do município, em
construir um novo hospital, que atenda todas as exigências e necessidades da população. Nos
últimos anos, é possível acompanhar o aumento populacional no município e no entanto, o
único hospital municipal existente, somente adequou sua estrutura, porém ainda não é
suficiente.
Vale ressaltar, que o município vem ampliando os investimentos na área de saúde,
construindo, recentemente, como exemplo, uma UPA 24h em Inõa (Figura 38) e anunciando a
construção de um novo hospital municipal.
155
Figura 41 - UPA de Inoã Fonte: MARICÁ, 2013
Maricá possui um novo projeto que contempla a construção de um hospital
denominado Hospital Municipal Doutor Ernesto Che Guevara (Figura 39), que passará a ser o
hospital principal da rede pública da cidade. A previsão é de que esteja localizado na Rodovia
Amaral Peixoto, no bairro do Flamengo, na altura do km 29. Estão previstos ao novo hospital,
76 leitos, incluindo de UTI (10 leitos) e 19 enfermarias, além disso, 6 salas de observação
para adultos e 3 salas de observação pediátrica. O custo total do projeto é de 16 milhões,
sendo 11 milhões obtidos junto ao Ministério da Saúde, repassados pela Caixa Econômica
Federal e 5 milhões de contrapartida pelo governo municipal (PMM, 2012).
Este novo hospital representa a ampliação necessária à capacidade de atendimento ao
serviço de saúde pública do município, podendo atender até mesmo, a população de
municípios vizinhos.
Conforme dito pela Prefeitura, apesar de ainda não ter sido construído, o projeto do
novo hospital municipal já está encaminhado, uma vez que a assinatura do contrato com o
Governo Federal para a destinação da verba ocorreu em 20 de dezembro de 2011 e foi
publicada no Diário Oficial da União de 2 de fevereiro de 2012 (PMM, 2012).
Acredita-se que o atraso do início das obras da construção do hospital municipal, se
deve a alguns fatores. Segundo a Prefeitura, é pela “tramitação diferenciada de projetos de
unidades hospitalares, cujas normas de elaboração, implementação e execução diferem das
demais iniciativas.”. Neste sentido, a Secretaria Municipal de Saúde, precisou reavaliar o
projeto apresentado inicialmente, realizando diversas alterações, que seriam estipuladas pela
Vigilância Sanitária estadual no futuro. Com isso, o projeto foi refeito e os custos aumentaram
muito em relação ao valor inicial. Sendo assim, a Prefeitura tenta viabilizar este novo
orçamento, junto ao Governo Federal (LEISECAMARICA, 2014).
156
Figura 42 - Hospital Municipal Doutor Ernesto Che Guevara - Previsão Fonte: Google Images.
- Assistência social de Maricá
São muitas as ações do município com relação à assistência social, através da
Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, promovendo programas, como: Vale
Social, que permite a gratuidade no transporte municipal e intermunicipal para pessoas com
deficiência e/ou para todos os que necessitam de tratamento de saúde contínuo; Plantão
Social, que tem o objetivo de atender a população nas diversas questões assistenciais; Bolsa-
Família, programa que já conta com um cadastro de 5.921 famílias beneficiadas em todo o
município, recendo uma ajuda mensal de 300 reais; Renda Melhor, programa do Governo do
Estado que atende 3.962 famílias do município, que apresentam renda de até 100 reais ou
condições precárias de moradia; Renda Melhor Jovem, extensão do programa Renda
Melhor, dirigido a estudantes do Ensino Médio da rede pública, são 303 estudantes
maricaenses que recebem esta bolsa-auxílio; Benefício de Prestação Continuada, programa
direcionado aos idosos e pessoas com deficiência, com transferência de renda para quem
ganha até um quarto do salario mínimo. Vale destacar, outra ação promovida pela Secretaria
de Assistência Social do município, o projeto Bilhete Único Universitário, que proporciona
o deslocamento de estudantes, gratuitamente, para instituições de ensino em outros
municípios. Em 2014, foram contemplados cerca de 2.000 alunos, entre técnicos e
universitários (PMM, 2015).
A Secretaria de Assistência Social de Maricá possui dois órgãos auxiliadores nas
questões relativas ao acolhimento e assistência da população. Sendo assim, a Secretaria,
promove por meio do CRAS – Centro de Referência de Assistência Social e do CREAS –
Centro de Referência Especializado de Assistência Social, diversas ações voltadas ao bem-
157
estar social, como atendimento por meio de psicólogos e assistentes sociais, sobretudo da
população de baixa renda (PMM, 2015).
A população atendida pelo CRAS, necessariamente pertence ao município e em geral,
são beneficiários do Programa Bolsa Família ou beneficiários de Prestação Continuada, no
entanto auxilia a todos que necessitam. O CRAS executa serviços de proteção social básica,
além de organizar e coordenar uma rede de serviços de inclusão social. Neste sentido, tem por
objetivo, trabalhar através de uma perspectiva de prevenção, buscando minimizar as
desigualdades sociais e fortalecer o vínculo familiar e comunitário, promovendo o acesso livre
aos direitos de cidadania para a população. Atualmente, o município de Maricá dispõe de 7
CRAS (PMM, 2015).
O CRAS realiza diversas ações, como o Programa de Atendimento Integral à Família,
promove grupos socioeducativos e informativos que inclui crianças, adolescentes, idosos e
famílias, encaminha o público à rede sócio-assistencial do município (saúde, educação,
judiciário, etc), realiza visitas domiciliares e institucionais e palestras, além de diversas
oficinas, sendo algumas: decoupagem, pintura e colagem, biscuit, jardinagem e horticultura,
padaria e confeitaria, além de aulas de dança, ballet, jazz, capoeira e etc (PMM, 2015).
Outro serviço relativo à questões de assistência social no município é o Serviço de
Atendimento e Reabilitação Especial de Maricá – SAREM (Figura 40), que foi criado em
2001 e trabalha em rede com as secretarias de Educação (Assessoria de Educação Inclusiva),
Saúde (Ambulatório Geral e Coordenação de Saúde Mental - CAPS), Assistência Social
(CRAS, CREAS) e o Conselho Tutelar. Este serviço, conta com 28 profissionais das mais
diversas áreas (psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, odontologia,
serviço social) e atendem 510 pacientes por semana. Em 2014, foi obtida a primeira van
adaptada à pessoas com deficiência, para ser utilizada para atender as crianças que fazem
parte deste serviço, sobretudo as que vivem em locais de difícil acesso. A van foi uma doação
do Programa Rio Solidário, em parceria com a Loterj, da Caixa Econômica Federal
(OFLUMINENSE, 2015). Além disso, a frota escolar do município já conta com 18 ônibus
que atendem as crianças do SAREM, estes serão futuramente adaptados para cadeirantes. A
Escola Especial Municipal Reynalda Rodrigues da Silva é a escola pública municipal
especializada no serviço de atendimento e reabilitação especial, vinculada ao SAREM.
158
Figura 43 - SAREM é referência para a região à pessoa com deficiência
Fonte: Google images
Para concluir, segundo dados da Fundação CIDE, em dezembro de 2012, o número de
beneficiários do programa de Prestação Continuada foram de 3.024 pessoas, sendo 1.902
idosos e 1.122 deficientes, em um valor total repassado de 2.188.509 reais (CEPERJ, 2015).
A quantidade de famílias inscritas no Cadastro Único, em dezembro de 2012, foram
de 15.697 famílias. Em 2013, o número de CRAS existentes no município era de 6 unidades e
de CREAS somente 1 unidade. Com relação às famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa-
Família, em janeiro de 2015 eram 5.583 famílias, em um valor repassado de 807.423 reais
(CEPERJ, 2015).
Outra ação importante no sentido da assistência social no município, que merece
destaque, foi a criação da Moeda Social Mumbuca. Este programa pioneiro, foi implementado
em dezembro de 2012 e tem como objetivo erradicar a pobreza extrema no município dentro
de 5 anos. Através de um cartão eletrônico, mensalmente, cerca de 4.000 famílias com renda
mensal de até 1 salário mínimo, recebem uma complementação de renda de 70 mumbucas, o
equivalente a 70 reais, onde somente poderá ser utilizada no comércio local, beneficiando
também os pequenos empreendedores e comerciantes locais, além de alavancar a economia no
município. A previsão é de que este Programa atenda 20.000 famílias até 2016 e a bolsa-
auxílio aumente gradativamente, chegando até 2016, a um valor de 300 reais (PMM, 2013).
159
- Segurança pública e suporte emergencial
A inclusão do tema de segurança pública entre as questões sociais, corrobora com as
questões levantadas na Agenda 21 de Maricá, que assim, coloca:
“Justiça e paz são aspirações humanas legítimas. Sua falta representa uma perda para a qualidade de vida”¹. Segurança é um tema que transcende as ações policiais e judiciais de repressão e contenção da violência armada e prevenção de mortes. Relaciona-se diretamente com a redução da evasão escolar, distribuição de renda, inclusão social, atenção básica à saúde, reforma urbana e rural, e solução das questões habitacionais. [...] Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), só a criminalidade violenta custa cerca de R$ 140 bilhões por ano ao País. Os custos totais da criminalidade são estimados em 10% do PIB brasileiro. Portanto, segurança pública também está relacionada a desenvolvimento econômico.65 (AGENDA 21, 2011).
A segurança pública em Maricá, estrutura-se nas ações da Polícia Militar, da Polícia
Civil, do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal.
A Polícia Militar do município, situada no Centro da cidade, está subordinada ao
Décimo Segundo Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) que é o responsável pelos municípios
de Niterói e Maricá, com seu efetivo distribuído em 6 Companhias, sendo 4 destas destacadas
da unidade. Neste ano, a segurança pública ganhará reforço através da implantação de uma
Companhia Independente da Polícia Militar no município de Maricá, onde mais de 200
policiais vão reforçar o efetivo atual, composto por 90 policiais. Em médio prazo esta
companhia se tornará o Batalhão da Polícia Militar devido à autonomia e ligação direta que
possui com o comando da instituição66 (PMM, 2015).
Com relação aos DPOs – Destacamento de Policiamento Ostensivo, Maricá apresenta
os seguintes: Centro/Maricá, Barra de Maricá, São José do Imbassaí, Inoã, Costa
Verde/Itaipuaçu e Ponta Negra.
Já a Polícia Civil atua no município, através da 82a DP, situada no Centro da Cidade
(Figura 41).
65 Fonte: http://agenda21marica.com.br/agenda-21-local/seguranca/ Acesso em: 20 abril 2015. 66 Ao contrário da 4ª Companhia, que já existe em Maricá, mas que é vinculada ao 12º BPM de Niterói e, portanto, não é independente.
160
Figura 44 - 82a Delegacia de Polícia Civil no Centro de Maricá
Fonte: MONTEIRO, 2006.
Também inclui-se, a Defesa Civil Municipal, que está subordinada ao gabinete do
Prefeito, tendo como atribuição principal o suporte às ações de emergência. Trata-se de um
órgão de ligação entre o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura, oferecendo apoio e subsídios
operacionais e logísticos às atividades desta Corporação. Trabalha também no planejamento
estratégico de ações preventivas em todo o município (PMM, 2015).
Além disso, tem-se a Guarda Municipal, que está vinculada a Secretaria Municipal de
Segurança Pública com Cidadania. Em 2006, apresentava um “efetivo de 137 guardas
municipais encontrando-se distribuído em quatro grupamentos: Proteção Patrimonial, Ronda
Escolar, Trânsito urbano e Defesa Ambiental” (MONTEIRO, 2006).
Quanto à responsabilidade da fiscalização das áreas de preservação ambiental no
município, vale ressaltar que, atualmente, é da Polícia Militar, que implementou a Unidade de
Policiamento Ambiental (UPAm) do Parque Estadual da Serra da Tiririca, abrangendo os
municípios de Maricá e Niterói. A UPAm da Serra da Tiririca tem por objetivo intensificar o
combate aos crimes ambientais, tanto local quanto nas áreas de preservação no seu entorno67,
realizar fiscalizações contra ocupações irregulares e monitorar a presença de caçadores. Nas
ações de fiscalização contam com o auxílio de Agentes do Instituto Estadual do Ambiente –
INEA (RJGOVBR, 2013)
Aspectos econômicos
Em relação ao levantamento de dados econômicos, que o município vêm apresentando
nos últimos anos, pode-se destacar:
67 A UPAm não atende somente o Parque Estadual da Serra da Tiririca, mas também importantes áreas ambientais de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Tanguá, Itaboraí e Rio Bonito.
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- PIB – Produto Interno Bruto
O PIB - Produto Interno Bruto é um indicador que mede a produção, levando em conta
três grupos principais: Agropecuária, formada por Agricultura, Extrativa Vegetal e Pecuária;
Indústria, que engloba Extrativa Mineral, Transformação, Serviços Industriais de Utilidade
Pública e Construção Civil; e Serviços, que incluem Comércio, Transporte, Comunicação,
Serviços da Administração Pública e outros serviços.
Sendo assim, o PIB identifica a capacidade de geração de riqueza do município, que
no caso de Maricá apresentou, segundo dados do IBGE em 201268, um valor total de
R$5.332.83369 e um valor do PIB per capita de R$39.467,09, isto significa valor por
habitante. Conforme dito, o PIB inclui as seguintes categorias, segundo tabela abaixo. (IBGE,
2012)
Tabela 15 - PIB - Produto Interno Bruto 2012
Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA.
Com base nos valores expostos (Tabela 15) e no gráfico abaixo (Gráfico 4), evidencia-
se que a Indústria foi a categoria que mais contribuiu com o município em 2012 e em
segundo lugar a categoria de Serviços. Sendo assim, a Indústria registrou o maior PIB, tendo
acumulado R$3.876.447,00. Em comparação com o Rio de Janeiro e o Brasil, estes
apresentaram a categoria de Serviços como a maior contribuinte.
Vale informar que, no ano 2000, os valores apresentados pelo município foram, nas
seguintes categorias: Agropecuária: R$4.999,00; Indústria: R$46.049,00; Serviços:
R$309.176,00. Ou seja, no ano 2000, a categoria que mais contribuiu ao município foi a de
Serviços. Neste caso, evidencia-se o grande salto do setor industrial no município nos últimos
anos, que atualmente contribui com mais do que o dobro do valor da categoria de Serviços.
68 Fonte: IBGE, em parceria com Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA. 69 Valor total da soma das categorias de Agropecuária, Indústria e Serviços e mais os impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes, que no ano de 2012, foi de R$86.620,00 (IBGE, 2012).
162
Representando um valor percentual de 72,70% do valor total do PIB do município.
Gráfico 4 - Representação do PIB
categoria de Indústria lidera no município de Maricá/RJ. Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da
Zona Franca de Manaus – SUFRAMA
Em relação ao número de estabelecimentos por porte e setor da economia, o município
apresentou os seguintes números, em 2010, com base na tabela abaixo (Tabela 16). Estes
dados permitem uma análise sobre a participação de cada setor da economia, pelo total dos
estabelecimentos presentes no município. Sendo assim, é possível observar que 93,7% dos
estabelecimentos formais existentes em Maricá eram microempresas, sendo a maior
quantidade de estabelecimentos referentes ao setor de Comércio e Serviços.
Tabela 16 - Número de estabelecimentos por porte e setor no município de Maricá/RJ
Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego – 2010.
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- Finanças públicas municipais
Segundo dados do IBGE, referentes às finanças públicas em 200970, as “despesas
orçamentárias empenhadas - correntes” no município, tiveram um valor de R$115.139.396,00.
Tendo sido gastos em investimentos o valor de R$6.847.016,00 (IBGE, 2009).
Com relação às “receitas orçamentárias realizadas - correntes”, o valor total foi de
R$143.090.312,00. Conforme tabela abaixo (Tabela 17).
Tabela 17 - Receitas e despesas orçamentárias – Maricá, Rio de Janeiro, Brasil.
Fonte: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Registros Administrativos 2009.
Gráfico 5 - Representação de receitas e despesas orçamentárias
– comparação Maricá, Rio de Janeiro e Brasil. Fonte: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Registros Administrativos 2009.
Segundo dados da Fundação CIDE, com base nas atividades financeiras, em 2013,
Maricá apresentou o total de 8 agências bancárias no município e as transações relativas à
poupança, realizadas em 2013, representaram R$241.146,00. Em relação às operações de
70 Fonte: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Registros Administrativos 2009.
164
crédito, o número de operações efetuadas pelo BNDES, no município em 2013, foi de 180
operações (CEPERJ, 2013).
Em relação à contabilidade nacional, o índice de valor adicionado da participação da
administração pública, ao PIB, em 2012, foi de 11%. Sendo o valor adicionado bruto da
administração pública de RS 607.740,00. E ainda com base nas finanças públicas, as despesas
correntes municipais, foram em 2012, de R$313.167,00 (CEPERJ, 2012).
- Renda
A partir do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, mais especificamente o
IDHM Renda, que tem por finalidade a busca de um padrão de vida que garanta as
necessidades básicas, representadas pela saúde, educação e renda dos municípios, segundo
dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, a renda per capita média de
Maricá cresceu 126,48% nas últimas duas décadas, passando de R$ 401,98, em 1991, para R$
641,83, em 2000, e para R$ 910,41, em 2010 (Tabela 18). Isso equivale a uma taxa média
anual de crescimento nesse período de 4,40%. Este índice foi medido com base na soma da
renda de todos os residentes no município e dividida pelo número de pessoas que moram no
município - inclusive crianças e pessoas sem registro de renda (IDHM Atlas Brasil - Renda,
2013).
Tabela 18 - IDHM Renda e Renda per capita - em reais
Fonte: PNUD, Ipea e FJP.
A proporção de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita inferior a R$
140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de 30,26%, em 1991, para 14,15%, em 2000, e
para 4,88%, em 2010 (Tabela 19). A evolução da desigualdade de renda nesses períodos pode
ser descrita através do Índice de Gini, que é um instrumento usado para medir o grau de
concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos
mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total
165
igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de
renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar (IDHM Atlas Brasil - Renda,
2013).
Sendo assim, Maricá apresentou os seguintes índices de Gini: 0,56, em 1991; 0,54,
em 2000, e 0,49, em 2010 (IDHM Atlas Brasil - Renda, 2013). Conclusão, um valor médio.
Tabela 19 - Renda, Pobreza e Desigualdade - Maricá/RJ
Fonte: PNUD, Ipea e FJP.
- Trabalho
Entre 2000 e 2010, o percentual de população de 18 anos ou mais, economicamente
ativa, passou de 63,19% em 2000 para 63,61% em 2010. Ao mesmo tempo, o percentual da
população economicamente ativa que estava desocupada, passou de 14,39% em 2000 para
7,78% em 2010 (Tabela 20)(IDHM Atlas Brasil - Trabalho, 2013).
Tabela 20 - Composição da população com 18 anos ou mais de idade – 2010 – Maricá/RJ
Fonte: PNUD, Ipea e FJP.
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Tabela 21 - Ocupação da população com 18 anos ou mais de idade – Maricá/RJ Fonte: PNUD, Ipea e FJP.
Em 2010, das pessoas ocupadas na faixa etária de 18 anos ou mais do município,
1,47% trabalhavam no setor agropecuário, 0,83% na indústria extrativa, 5,66% na indústria de
transformação, 14,23% no setor de construção, 0,72% nos setores de utilidade pública,
16,36% no comércio e 56,52% no setor de serviços (Tabela 21)(IDHM Atlas Brasil -
Trabalho, 2013).