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Pietro Ubaldi
III PARTE
I PARTE II PARTE
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A LEI DE DEUS
PREFCIO .................................................................................................................................................................. 1 I. Novos Caminhos ...................................................................................................................................................... 2 II. Separatismo Religioso ............................................................................................................................................ 3 III. O Problema do Destino ........................................................................................................................................ 5 IV. Em Harmonia com A Lei ..................................................................................................................................... 7 V. A Infalibilidade da Lei ........................................................................................................................................... 8 VI. A Justia da Lei................................................................................................................................................... 10 VII. Mudana de Planos ........................................................................................................................................... 12 VIII. A Transitoriedade do Mal e da Dor ............................................................................................................... 13 IX. Das Trevas Luz ............................................................................................................................................... 15 X. Aparncias e Realidades ...................................................................................................................................... 17 XI. O Extraordinrio Poder da Vontade ................................................................................................................ 18 XII. O Edifcio da Evoluo ..................................................................................................................................... 20 XIII. O Funcionamento da Lei ................................................................................................................................. 22 XIV. Escola da Vida .................................................................................................................................................. 23 XV. Em Busca da Felicidade .................................................................................................................................... 25 XVI. Do Separatismo Unio ................................................................................................................................. 27 XVII. A Realidade dos Instintos .............................................................................................................................. 29 XVIII. A Musicalidade da Lei .................................................................................................................................. 31 XIX. O Fracasso da Astcia ..................................................................................................................................... 33 XX. A Justia da Lei ................................................................................................................................................. 35 XXI. O Evangelho e O Mundo ................................................................................................................................. 36 XXII. A Impecvel Justia da Lei ............................................................................................................................ 38 XXIII. A Conquista do Poder e A Justia Social .................................................................................................... 40 XXIV. A Lei Aplicada Histria ............................................................................................................................ 41 XXV. Evoluo da Histria ..................................................................................................................................... 43
QUEDA E SALVAO
PREFCIO ................................................................................................................................................................ 51 INTRODUO ......................................................................................................................................................... 52 O PROBLEMA DO CONHECIMENTO ............................................................................................................... 52 I. Esquema Grfico: Involuo Evoluo............................................................................................................. 57 II. A Sabedoria da Lei ............................................................................................................................................... 62 III. A tica Universal ................................................................................................................................................ 67 IV. Negatividade e Positividade ............................................................................................................................... 71 V. Princpios de Uma Nova tica ............................................................................................................................. 78 VI. O Erro e Sua Correo ....................................................................................................................................... 84 VII. Mecanismo da Correo do Erro ..................................................................................................................... 88 VIII. Evoludo e Involudo ........................................................................................................................................ 94 IX. Determinismo da Lei .......................................................................................................................................... 97 X. Dinmica do Processo Evolutivo ....................................................................................................................... 102 XI. Impulsos da Evoluo ....................................................................................................................................... 108 XII. O Fenmeno Queda - Salvao ...................................................................................................................... 115 XIII. Uma Etica Progressiva .................................................................................................................................. 119 XIV. Nveis Evolutivos e Tipos Biolgicos ............................................................................................................ 126 XV. Tcnica do Fenmeno da Redenco ............................................................................................................... 132 XVI. Ajuda de Deus e Misso................................................................................................................................. 138 XVII. As Estratgias do Bem e do Mal .................................................................................................................. 142 XVIII. Conceito de Morte para O Evoluido e O Involudo ................................................................................ 146
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A TCNICA FUNCIONAL DA LEI DE DEUS
P R E F C I O .................................................................................................................................................................. 153 I. Verdades e Morais Relativas.......................................................................................................................................... 153 II. A Posio do Homem Espiritual Diante das Religies de Massa. A Religio Unitria e Cientfica do Futuro ..... 155 III. A Atual Fase Evolutiva da Sociedade Humana ........................................................................................................ 157 IV. Um Mais Avanado Conceito de Deus e da Vida ..................................................................................................... 161 V. Arremesso e Correo da Trajetria da Vida. A Terapia dos Destinos Errados..................................................... 163 VI. As Trs Fases do Ciclo da Redeno .......................................................................................................................... 165 VII. A Tcnica Funcional do Destino. A Futorologia e A Racional Planificao da Vida .......................................... 171 VIII. A Nova Moral e A Tcnica da Salvao .................................................................................................................. 176 IX. A Resistncia Lei e Suas Conseqncias ................................................................................................................ 186 X. O Problema do Karma e A Justia de Deus ................................................................................................................ 188 XI. A Funo da Bondade e do Amor de Cristo Diante da Rgida Justia da Lei do Pai ............................................ 190 XII. O Homem Diante da Lei ............................................................................................................................................ 194 XIII. A Inteligncia do Diabo ............................................................................................................................................ 198 XIV. O Conceito de Criao .............................................................................................................................................. 199 XV. As Conquistas Espirituais do Novo Homem do Futuro .......................................................................................... 202 CONCLUSO .................................................................................................................................................................... 206
PENSAMENTOS
PRIMEIRA PARTE COMO ORIENTAR A PRPRIA VIDA ................................................................................... 209 INTRODUO ORIENTAO ................................................................................................................................... 209 I. O Princpio de Retido ................................................................................................................................................... 211 II. A Lei do Retorno ........................................................................................................................................................... 212 III. Um Novo Estilo de Vida. O Mtodo do Respeito Recproco ................................................................................... 213 IV. Um Novo Tipo de Moral .............................................................................................................................................. 216 V. As Posies do Indivduo Perante A Lei ...................................................................................................................... 218 VI. Anlise das Foras da Personalidade e O Conhecimento do Futuro. O Fim das Guerras. ................................... 220 VII. O Futuro Estado Orgnico Unitrio da Humanidade ............................................................................................. 222 VIII. Por Que Se Vive. As Trajetrias Erradas e A Tcnica de Sua Correo ............................................................ 223 IX. O Problema da Delinquncia ...................................................................................................................................... 225 X. A Fabricao do Tcnico, do Produto e do Consumidor .......................................................................................... 227 CONCLUSO .................................................................................................................................................................... 230
SEGUNDA PARTE ANLISE DE CASOS VERDICOS .......................................................................................... 233 INTRODUO ORIENTAO ................................................................................................................................... 233 I. Dilogo Com As Leis da Vida ........................................................................................................................................ 235 II. A Nova tica .................................................................................................................................................................. 237 III. A Tcnica do Fenmeno .............................................................................................................................................. 239 IV. Primeiro Caso ............................................................................................................................................................... 241 V. Segundo Caso ................................................................................................................................................................. 247 VI. Terceiro Caso ............................................................................................................................................................... 248 VII. Quarto Caso ................................................................................................................................................................ 250 VIII. Quinto, Sexto e Stimo Caso .................................................................................................................................... 252 IX. O Novo Tipo de Exame de Conscincia ...................................................................................................................... 255 X. Como Fazer Um Novo Exame de Conscincia ........................................................................................................... 258 CONCLUSO .................................................................................................................................................................... 261
Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse)...............................................................................................pgina de fundo
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Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 1
A LEI DE DEUS
PREFCIO
Os captulos deste livro constituem uma srie de vinte e qua-
tro palestras, proferidas na Rdio Cultura So Vicente, todos os
domingos, no perodo de 17 de agosto de 1958 a 8 de fevereiro
de 1959, tendo por isso, algumas vezes, o carter de conversa.
Ao mesmo tempo, elas foram publicadas no jornal O Dirio, de
Santos. Apresentamos agora, aqui reunidas, essas palestras. Elas
continuam desenvolvendo sempre mais os conceitos expostos
em nossos dois livros: A Grande Batalha e Evoluo e Evange-
lho, da segunda trilogia de nossa segunda Obra, de 12 volumes
como a primeira. Trata-se sempre do estudo da lei de Deus, para
que saibamos, realmente, como orientar a nossa prpria vida.
No livro O Sistema (Gnese e Estrutura do Universo), fo-
ram apresentadas as teorias bsicas da formao e do funcio-
namento do universo. Nos dois referidos livros, A Grande Bata-
lha e Evoluo e Evangelho, entramos no terreno prtico das
consequncias e aplicaes dessas teorias, efetuando o controle
racional e experimental da sua verdade. Tivemos, por isso, de
enfrentar o problema da conduta humana no campo da tica, as-
sunto do presente volume (A Lei de Deus) e do que se lhe se-
guir (Queda e Salvao). Mas h uma diferena entre os dois.
O primeiro, este que temos em mos, trata o assunto de um
modo geral, com uma linguagem fcil, acessvel, adaptada a pa-
lestras pelo rdio. O segundo, Queda e Salvao, considera o
mesmo assunto da conduta humana e da tica, mas de maneira
diferente, penetrando em profundidade os problemas, atingindo
os pormenores, provando as teorias com demonstraes racio-
nais e colocando-as em contato com a realidade dos fatos. Por
isso esse segundo livro voltar a falar de temas que, no primei-
ro, foram esboados apenas superficialmente e tratados com
linguagem diferente, em funo de outros ngulos. Podemos
afirmar isto porque o plano desse segundo livro j est se apro-
ximando de nossa mente e, desde agora, vemos os liames que
unem os dois volumes no mesmo motivo fundamental de tica.
O aspecto em funo do qual encara-se este problema no pre-
sente livro o homem, como cidado do seu mundo terreno.
Por outro lado, a perspectiva sob a qual ser tratado o mesmo
problema no livro Queda e Salvao o pensamento de Deus,
que, atravs de Sua lei, dirige o ser para a sua salvao final.
No primeiro caso, a tica concebida olhando-se para a Terra;
no segundo, olhando-se para o Cu.
At agora, o problema da nossa conduta foi enfrentado empi-
ricamente pelas religies, que se encarregaram disto. Porm as
solues oferecidas por elas se baseiam em princpios tericos
axiomticos, no demonstrados, representando na realidade,
muitas vezes, apenas o resultado de iluses psicolgicas no
controladas, ainda no comprovadas, cegamente aceitas, produto
do desabafo de instintos e impulsos do subconsciente. No entan-
to a forma mental moderna tornou-se mais culta e astuta, que-
rendo, por isso, olhar atrs dos bastidores da f, para ver o que
h de positivo, tanto mais porque aquela f implica em uma vida
dura de virtude e sacrifcio. O temor genrico de uma penalidade
e a esperana de um ganho, sem saber onde e como, nos cus
que comeam a ser explorados e percorridos de verdade pela ci-
ncia, no convencem mais as conscincias insatisfeitas. Agora
que se aproxima o fim da civilizao europeia, encontramo-nos
nas mesmas condies do fim do Imprio Romano, quando nin-
gum acreditava mais nos deuses. Como, ento, ficar de p a
forma, esvaziada da substncia? No meio de tantas religies, an-
tes de tudo preocupadas em combater umas s outras, para con-
servar e aumentar o seu imprio espiritual, o mundo fica subs-
tancialmente materialista, apegado sobretudo aos seus negcios.
A velha linguagem continua sendo repetida. Mas todos esto
acostumados a ouvi-la e no reparam mais. O mundo progrediu
e se tornou diferente. Parece que, nos milnios da sua vida reli-
giosa, em vez de ser transformado pelas religies ao realizar os
princpios delas, ele as transformou para suas comodidades. Em
vez de aprender a viver nas regras da Lei, aprendeu a arte de
evadir-se delas, a astcia das escapatrias para enganar o prxi-
mo e at mesmo, se fosse possvel, Deus. Ento, se os velhos
sistemas no adiantam mais e se este o resultado deles, por que
no usar hoje outra linguagem, que seja mais bem compreendi-
da? Por que no se apoiar sobre outros impulsos e movimentar
outras alavancas, s quais o homem possa melhor obedecer? Por
que no ver a vida no seu sentido utilitrio, oferecendo tambm
vantagens, quando se pede virtudes e sacrifcios?
Foi por isso que nasceram estas palestras. Com os nossos
livros: A Grande Sntese, Deus e Universo e O Sistema, tnha-
mos atingido uma viso bastante completa da estrutura orgni-
ca do universo. Tratava-se, ento, apenas de deduzir destes
princpios gerais as suas consequncias prticas, colocando-os
em contato com a realidade da nossa vida e verificando se eles
permanecem verdadeiros tambm nos pormenores do caso par-
ticular. Deste modo, o problema da conduta humana foi en-
frentado de uma forma diversa, isto , em sentido racional e
positivo, tornando-se tal como os da cincia logicamente
demonstrvel e experimentalmente controlvel, apoiado nos
fatos que todos vemos, e encontrando assim a sua explicao.
Foi possvel deste modo chegar a uma tica universal, que,
sendo independente de qualquer religio particular, absolu-
tamente como so a matemtica e a cincia em geral im-
parcial e verdadeira para todos, porque faz parte da grande lei
que rege tudo, escrita no pensamento de Deus, podendo ser
vista realizada nos fatos. Chegamos assim, nestas palestras, a
uma orientao que sai do terreno emprico das religies para
entrar no terreno positivo da cincia, e isto justifica a nossa
concluso de que elas tm de ser ponderadas por toda mente
que queira e saiba raciocinar e, por isso, aceita sua demonstra-
o, como a de um teorema de matemtica.
A novidade e importncia deste ponto de vista, sustentado
nestas palestras, baseia-se nos seguintes fatos:
1) Trata-se de uma tica universal, que diz respeito vida e
permanece verdadeira em todas as suas formas, ao atingirem
um dado nvel de evoluo, em qualquer corpo celeste do uni-
verso. Por isso, ficando acima de todos os pontos de vista par-
ticulares e relativos, esta tica resulta absolutamente imparcial
a respeito das divises humanas, porque completamente in-
dependente delas.
2) Trata-se de uma tica positiva, baseada em fatos, como
a cincia, constituindo nada mais seno um captulo da Lei, que
rege tudo e que estudada pela cincia em seus outros aspectos.
tica de efeitos calculveis, determinstica, baseada em princ-
pios absolutos, sem escapatrias, a exemplo da lei da gravitao
e das leis do mundo fsico, qumico, biolgico, matemtico etc.
3) Trata-se de uma tica utilitria e praticvel, concorde
com o princpio fundamental da Lei: a justia, que tambm o
anseio do ser, e esta justia exige que o sacrifcio da obedin-
cia Lei e o esforo para evoluir encontrem a sua recompensa.
tica correspondente ao instinto fundamental do ser, que fu-
gir do sofrimento e chegar felicidade. Por isso vem a ser uma
tica capaz de ser entendida e aceita, pois satisfaz forma
mental do homem moderno.
4) Trata-se de uma tica racional, logicamente demonstrada,
que se sustenta no porque se baseia na f cega, no princpio de
autoridade ou no terror de castigos arbitrrios e obscuros, mas
porque convence quem saiba pensar. Uma tica que no admite
enganos, porque nela se pode ver tudo com clareza, na perfei-
o e na bondade das regras, s quais devemos obedecer at s
ltimas consequncias de cada ato nosso.
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2 A LEI DE DEUS Pietro Ubaldi
5) Esta tica resulta de um sistema filosfico-cientfico uni-
versal, que abrange e explica tudo do princpio ao fim, sistema
do qual ela representa um aspecto controlvel nas suas conse-
quncias prticas da vida comum. Estas concluses se baseiam
no valioso apoio de teorias positivas gerais, que as sustentam,
orientando-nos tambm a respeito de tantos outros fenmenos,
dos quais estas teorias oferecem uma interpretao lgica.
6) Esta tica pode ser submetida a um controle experimental
no laboratrio da vida, com o mesmo mtodo positivo da expe-
rimentao utilizado pela cincia para controlar a verdade das
outras leis que vai descobrindo. E, juntas, todas estas leis, ao
lado desta tica, constituem a grande lei que rege o todo.
7) De fato, estas concluses foram submetidas por ns, que
as estudamos em nossa prpria vida e na alheia por meio scu-
lo, a controle experimental, o qual as confirmou plenamente. E
muitas testemunhas viram os fatos que aconteceram.
8) Trata-se de uma tica que no diz coisa nova, mas apenas
repete com outras palavras o que j foi dito pelo Evangelho e
pelas religies mais adiantadas que o mundo possui. Apenas
quisemos dar de tudo isto a demonstrao lgica e a prova expe-
rimental, explicando com outras palavras a necessidade de tomar
a srio e viver o que, h milnios, est sendo repetido ao mundo.
9) Esta tica no somente nos orienta no imenso mundo
fenomnico em que vivemos, dirigindo com conhecimento a
nossa conduta, mas tambm explica o que est acontecendo,
dando a razo dos fatos que nos cercam e justificando-os logi-
camente, quando no desejamos aceit-los, como no caso do
sofrimento. Respondendo s nossas perguntas e oferecendo
uma soluo razovel aos problemas da nossa vida, esta tica
ilumina o caminho que temos a percorrer, para que possamos
v-lo e avanar por ele, mas no de olhos fechados, e sim com
as vantagens oferecidas pelo conhecimento da Lei e a certeza
da sua justia e bondade.
10) Esta tica responde a uma necessidade do momento his-
trico atual. O cu, contemplado, admirado e venerado na Terra,
sempre de longe, como sonho praticamente irrealizvel, no pode
ser apenas teoria vivida por poucas excees, mas deve descer e
realizar-se entre ns. Seria absurdo que os grandes ideais existis-
sem para nada, como o homem preguioso preferiria. Apesar da
sua indiferena, ele no pode paralisar as foras da evoluo na
realizao do seu objetivo fundamental, que o progresso.
Com o desenvolvimento da inteligncia e o aumento do
conhecimento, vai aparecer tambm no terreno da cincia po-
sitiva a verdadeira concepo de Deus e da Sua lei. Ento ela
sair das formas das religies particulares em luta entre si, da
clausura das igrejas, do exclusivismo dos seus representantes,
e o homem, mais consciente, perceber a grande realidade que
Deus, colocando-se finalmente, para o seu bem, na obedin-
cia ordem da Lei.
So Vicente, Pscoa de 1959.
I. NOVOS CAMINHOS
Plano e mtodo de trabalho.
Na vspera do meu septuagsimo segundo aniversrio, aqui
em Santos, onde desembarquei, vindo da Itlia, h quase seis
anos, em dezembro de 1952, comeo esta primeira srie de r-
dio-palestras, a fim de poder chegar a um contato mais prximo
com os meus amigos. At agora, este contato se realizou por in-
termdio da palavra escrita, atravs dos meus livros. Hoje ele se
realiza tambm de viva voz, o que torna mais real e mais atual
o contato com o ouvinte, resultando em uma aproximao mai-
or do que aquela obtida pelos escritos dirigidos ao leitor.
Entro assim numa fase nova do meu trabalho, na qual me
aproximarei do povo com uma linguagem mais simples, de
maneira a ser compreendida. Procurarei fazer com que estas
conversas se prolonguem o mais possvel, a fim de chegar, se
porventura j no tenha sido alcanada, a uma comunho de
pensamento mais completa, a uma unio de mente e corao,
que constitua uma ponte atravs da qual eu possa dar tudo de
mim mesmo, doando tudo aquilo que consegui compreender e
realizar na minha longa experincia, numa vida de tempesta-
des e introspeco profunda. A dor constrangeu-me a apren-
der a super-la, para fugir dela ou, pelo menos, domestic-la.
Neste nosso mundo, so muitos os que sofrem, e ensin-los
como amansar a dor obra de caridade. Procuraremos tam-
bm satisfazer a sede de conhecimento que se encontra ani-
nhada no fundo de cada alma. Tudo isto quero comunicar aos
amigos, que sero meus herdeiros.
Dizem que meus livros so difceis demais, mas eles no
constituem todo o meu trabalho. Eis que chegado o momento
da realizao desta outra parte do trabalho, na qual minha tarefa
traduzir as teorias difceis em palavras simples, repetindo e es-
clarecendo tudo numa forma diferente, acessvel a todos, sem as
complicaes da cincia, sem as dificuldades da alta cultura,
conservando-nos apegados substncia, mas simplificando o
que mais complexo, aproximando-nos da realidade do nosso
mundo, melhor compreendida por todos, porque a vivemos em
nossa vida de cada dia. As grandes teorias do universo sero
descritas de outra forma. Esta nova exposio daquelas mesmas
teorias ter a vantagem de confirm-las, em virtude de estar em
contato mais direto com os fatos. Desta maneira, elas se tornaro
acessveis sem a necessidade de esforo mental, que nem todos
podem fazer, e de cultura, que nem todos possuem. Assim, estas
verdades podero ser compreendidas e utilizadas por um nmero
cada vez maior de pessoas que desejem ser beneficiadas e preci-
sem de orientao, a fim de melhor se dirigirem na vida.
Para que no haja qualquer mal-entendido, desejamos
afirmar, logo de comeo, que a nossa finalidade s fazer o
bem. Queremos fazer isto, oferecendo o fruto do nosso pen-
samento e da nossa experincia, para que os amigos possam
deste conhecimento tirar para si prprios a maior utilidade,
que a utilidade espiritual, a base da material, porque no se
pode isolar uma da outra.
Nossa tentativa no se destina a impor ideia alguma ou a
fazer proslitos. apenas uma oferta livre, que no obriga nin-
gum a aceit-la. Quem estiver convencido de possuir outra
verdade melhor e estiver satisfeito com ela, que no a abando-
ne. Quem no gostar de pesquisas no terreno dos inmeros
mistrios que nos cercam de todos os lados, quem no quiser
incomodar-se com o trabalho de aprofundar o seu conhecimen-
to, enriquecendo-o com novos aspectos da verdade, fique tran-
quilo na sua posio. No desejamos perturbar ningum; no
andamos em busca de seguidores, a fim de conquistar domnio
na Terra; no somos rivais de ningum neste campo. O nosso
nico interesse a pesquisa para atingir o saber. Este, e s es-
te, o nosso objetivo, que no visa absolutamente conquistar
qualquer poder neste mundo.
Permanecemos, por isso, com o maior respeito por todas as
verdades que o homem possui e pelos grupos que as represen-
tam. Respeitamos os campos j conhecidos, embora sigamos
por nossa conta, explorando novos continentes. Respeitamos
as verdades j conquistadas, embora procuremos ver mais lon-
ge. Respeitamos todas as religies e doutrinas, sem pretender
de maneira nenhuma destru-las ou super-las, a fim de substi-
tu-las por outras. Ensinaremos sempre o maior respeito pela f
e pela filosofia dos outros.
O nosso lema que o homem civilizado jamais agride o
seu prximo, assim como um ser evoludo nunca entra em
polmicas. Isto significa que, para ns, quem agride o prxi-
mo no civilizado e aquele que entra em polmicas, para
impor fora as suas ideias aos outros, ainda no evoludo.
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Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 3
No quer dizer que ele seja mau, mas simplesmente que est
atrasado no caminho da evoluo, fato comprovado pelo uso
de mtodos que o aproximam mais da fera. O mtodo utiliza-
do revela a sua prpria natureza e o nvel de vida a que per-
tence. Mais adiante explicaremos isto melhor. Dize-me co-
mo lutas e dir-te-ei quem s.
Tranquilizem-se, assim, aqueles que supem esteja eu fa-
zendo campanhas contra algum. Isso significaria retroceder
milhares de anos no caminho da evoluo. Proceder assim se-
ria sintonizar com foras negativas de destruio. E veremos
que, entre tantas leis que dirigem o mundo, existe uma segun-
do a qual quem destri acaba destruindo a si mesmo, quem
agride o prximo agride a si mesmo, quem faz o mal o faz an-
tes de tudo a si mesmo. Veremos a maravilhosa justia de
Deus sempre presente em ao, inclusive neste mundo de in-
justia. Veremos que a cincia e a lgica no esto contra a f.
Os poderes do intelecto nos foram dados por Deus para com-
preender e demonstrar a verdade com provas reais, pois que a
f pode apenas vislumbr-la.
Veremos, provenientes de planos de vida mais elevados,
muitas coisas boas e maravilhosas, que, se quisermos, podemos
atrair Terra.
Maravilhosa descida de sabedoria e de bondade, atravs de
que se manifesta entre os homens a presena de Deus! Procu-
raremos aprender a arte de viver em paz e no respeito ao pr-
ximo, o que constitui a base de uma feliz convivncia social.
As longnquas teorias dos nossos livros descero do mundo
das abstraes, at a sua aplicao se tornar prtica, podendo
assim conferir frutos reais a quem o desejar. No prometemos
poderes mgicos nem felicidade fcil, mas seremos ns mes-
mos que nos colocaremos, juntamente com tudo o mais, den-
tro de uma viso da vida clara, singela e positiva, constituda
pela lei de Deus, a qual pode ser dura quando o merecemos,
mas sempre boa e justa. Devemos compreender, finalmente,
como est feita e como funciona esta grande mquina do uni-
verso, construda e movimentada por Deus, dentro da qual vi-
vemos e de que somos parte. Ela a nossa casa, onde mora-
mos, sem no entanto a conhecermos.
Movimentando-nos acertadamente, evitaremos o sofrimen-
to, que a campainha de alarme que nos avisa quando comete-
mos um erro, que deve ser corrigido para voltarmos harmonia
na ordem da Lei. Enquanto no regressarmos quela harmonia,
a dor no pode acabar. lgico que o bem-estar possa nascer
apenas de um estado harmnico e que a desordem no possa
gerar seno sofrimento. O ser livre, mas o universo um con-
certo musical, onde qualquer dissonncia produz sofrimento.
Na verdade, o que se deve colher, quando o homem continua-
mente se rebela contra a ordem da lei de Deus? Num sistema
dessa natureza, lgico que a felicidade no possa ser atingida
seno pelo caminho da obedincia e que a revolta no possa
trazer seno sofrimentos. O estado em que se encontra nosso
mundo comprova, na realidade dos fatos, a verdade desta afir-
mao. Dado que seria absurdo atribuir a causa de tanto mal a
Deus, que no pode ser seno bom e perfeito, no resta outra al-
ternativa seno atribu-la ao homem Quanto maior for a revolta,
tanto maior ser o sofrimento, at o homem rebelde aprender,
sua custa, a obedincia. Se quisermos fugir dor e conquistar a
felicidade, qualquer que seja a nossa filosofia ou religio, temos
de compreender que existem leis, existem leis, existem leis; se
continuarmos violando-as, como costumamos fazer, teremos
tanto sofrimento, que acabaremos por compreender que existem
leis e, se no quisermos sofrer, no h outro caminho a no ser
nos ajustarmos a elas. Se o mundo conseguisse aperceber-se
disso, esta seria a maior descoberta dos nossos tempos. Eis o
conhecimento que consegui atingir em meio sculo de trabalho
mental e de controle experimental. Este o presente que agora
quero oferecer aos meus amigos.
O mundo atual parece que est se tornando cada vez pior.
Mas Deus ps limites liberdade do homem. Desse modo, es-
te no tem o poder de parar o funcionamento da Lei, que tudo
rege. O mundo pode ser conduzido ao desmoronamento e ao
fracasso, mas o prejuzo somente para quem lev-lo a seguir
tal caminho. A lei de Deus permanece imutvel. Isto quer di-
zer que, no meio de tantos crimes e injustias, a justia de
Deus fica de p, e os que fracassarem sero os piores. Mas,
para os justos, para os honestos, que no mereceram a reao
da Lei, fica em sua defesa a justia de Deus. Perante Ele, cada
um fica sozinho com o seu destino, para colher o que semeou
e receber o que mereceu.
Veremos o que significa destino, procurando penetrar o se-
gredo da nossa vida atravs do conhecimento das leis que a re-
gem. Muita coisa teremos de ver juntos. Nesta primeira palestra
no possvel tocar seno em alguns assuntos gerais. Mas,
pouco a pouco, entraremos cada vez mais nos problemas da vi-
da, que temos de resolver, e nas perguntas que surgem em nos-
sa mente, s quais necessrio responder. Eis a concluso que
podemos antecipar: Deus vem ao nosso encontro de braos
abertos, com uma lei de bondade e de justia, e podemos rece-
ber felicidade, quando a tivermos merecido, por termos semea-
do bondade e justia. H um caminho para chegar felicidade,
mas se o homem no quer segui-lo, a culpa e as justas conse-
quncias no podem ser seno dele mesmo. Devido escassez
do tempo, no podemos prosseguir hoje, mas continuaremos
depois. Ir, assim, realizar-se um colquio entre as nossas al-
mas, at chegarmos a um abrao de compreenso e alegria para
mim, por tornar-me til ao prximo, para que os ouvintes pos-
sam desfrutar das vantagens de compreenderem melhor a vida
e, consequentemente, semearem para si menos sofrimentos.
Procurarei falar de alma para alma, a cada um, como em segre-
do ao ouvido, a fim de esclarecer os vossos problemas, focali-
zando-os diretamente, para confortar os que sofrem, orientar os
que duvidam, pacificar os revoltados, encaminhar para Deus os
desviados, dar uma f e uma esperana aos descrentes. Para nos
libertarmos da disciplina da Lei, de nada vale dizer que Deus
no existe: Ele permanece existindo; de nada vale negar a Sua
lei: ela continua funcionando; de nada vale escondermo-nos nas
trevas: a luz persiste resplandecendo no Alto. Estamos vivendo
dentro desta lei viva, da qual deriva nossa prpria vida. Esta lei
representa o pensamento e a vontade de Deus, que a causa
primeira da vida universal.
Continuaremos, assim, falando juntos, de amigo para amigo,
unidos por um liame de bondade, para o bem de ambos. Sem
bondade no se pode dizer a verdade. Considerarei cada ouvin-
te como um amigo meu pessoal, com o qual estou desabafando a
minha paixo de beneficiar o prximo. No sou rico para dar di-
nheiro, no sou poderoso para oferecer vantagens materiais. Dou
o que tenho: o pensamento que recebi por inspirao e o amor
do meu corao. Como recompensa, espero que este pensamento
seja compreendido e que este amor seja retribudo.
II. SEPARATISMO RELIGIOSO
Respeito por todas as crenas
Estou novamente convosco, continuando a nossa primeira
conversa. Destas conversas faremos muitos elos, e destes elos
uma corrente de inteligncia e de bondade, para construir um
dique contra a ignorncia e a maldade que inundam o mundo.
Estas palestras singelas, estas palavras que saem dos meus
lbios, sero teis para afastar tantos mal-entendidos e dvidas
que, por incompreenso do meu trabalho, nasceram desde a mi-
nha primeira vinda ao Brasil em 1951. Peo desculpas por ter
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4 A LEI DE DEUS Pietro Ubaldi
de falar de mim, o que me desagradvel. Mas no h outra
maneira de esclarecer o caso. Tenho aqui de repetir mais uma
vez aquela afirmao de universalidade e imparcialidade, que
foi e sempre ser meu lema. Devo tambm explicar que as mi-
nhas palavras tm de ser entendidas literalmente: elas no con-
tm outros significados ou subterfgios. Ora, imparcialidade
quer dizer inexistncia de partido, compreendendo-os todos;
significa no ficar fechado na forma mental de faco ou de
grupo particular algum, sobretudo quando este grupo, seja ele
qual for, impe que se combata outros grupos, perseguindo-os
com suas condenaes e julgando-os errados e maus, porque
so diferentes do prprio grupo.
Infelizmente, esse instinto de exclusividade, pelo qual no
se pode afirmar a verdade prpria a no ser condenando como
erradas as verdades dos outros, produto do nosso nvel de vi-
da humana, sendo isso apangio do homem em geral, qualquer
que seja a religio ou grupo doutrinrio ao qual pertena. No
a diferena ideolgica dos pontos de vista das religies que
deixamos de aceitar. Tudo isso natural e lgico. Em nosso
mundo relativo, no pode existir coisa alguma seno de forma
relativa. Assim, nele, tambm a verdade no pode aparecer se-
no dividida em seus aspectos diferentes. O que no podemos
aceitar a atitude de condenao, de exclusividade da posse da
verdade e de agressividade, que muitas vezes se encontra nas
religies e nos grupos doutrinrios. No nos interessa tomar
parte nestas rivalidades terrenas, que nada tm a ver com a pes-
quisa da verdade, que buscamos.
O nosso objetivo no defender um patrimnio j adquirido,
mas sim nos enriquecermos com novas conquistas, para do-las
a quem as quiser. No estamos amarrados a quaisquer interesses
terrenos, que imediatamente se constroem por cima de toda e
qualquer verdade. Quem est mergulhado no trabalho de pesqui-
sa no pode despender as suas energias nessa luta de rivalidades.
A nossa tarefa no conservar o passado, defendendo-o, mas
sim construir o futuro. Os nossos interesses no esto na Terra,
mas somente nessa construo. O respeito que temos pela ver-
dade de cada um e que todos devem ter para com as verdades
que o mundo possui, no pode interromper o caminho da vida e
a evoluo do pensamento. O passado no pode paralisar o flo-
rescimento do futuro. E no mundo h lugar para todos.
O primeiro mal-entendido nasceu quando julgaram que ns
representvamos este ou aquele grupo e, por conseguinte, que
ramos inimigo dos outros grupos, inimizade para ns sim-
plesmente inconcebvel. De maneira alguma saberamos tomar
parte nessa luta de rivalidades, que requer uma forma mental
adaptada para isso, a qual no possumos. Assim, fugimos de
qualquer grupo to logo aparea esse esprito de condenao. O
mal-entendido consistiu em se ter julgado encontrar um inimigo
onde no existia inimigo algum, pensando em guerra, quando
tratvamos apenas da maneira como resolver os problemas do
universo. Gostaramos de explicar aqui, de um modo bem claro:
no somos guerreiros, mas sim pensadores, que no tem inte-
resses humanos a defender. Nosso inimigo a ignorncia, causa
de tantos sofrimentos, e no o homem, a quem queremos aju-
dar. Neste mundo, podemos ser presas dos fortes e astutos, mas
no somos fortes nem astutos para fazer presas.
Concordamos assim com todos. Os nicos seres com os
quais no podemos concordar so os que no querem concordar
de forma alguma e buscam, pelo contrrio, impor-se ao prxi-
mo, vencendo-o. Ora, esta uma mentalidade atrasada, que o
homem verdadeiramente espiritualizado no pode aceitar sem
retroceder milnios no caminho da evoluo. Mesmo que seja
permitido fazer guerra, isso s ser possvel contra quem quiser
fazer guerra. Em vez dos pontos de contraste, para lutar, esma-
gando-se uns aos outros, o homem civilizado procura e sabe
encontrar os pontos de concrdia, para colaborar, ajudando-se
uns aos outros. Dizemos civilizado porque s esse tipo de ho-
mem pode fazer parte da nova humanidade que est surgindo, a
qual no ser constituda por bandos de lobos, mas sim por uma
coletividade social unida e colaborando organicamente. Esse
novo mundo, que amanh ser melhor, o que mais nos inte-
ressa; um mundo de compreenso e de colaborao recprocas;
o mundo do ama o teu prximo como a ti mesmo. Assim, po-
demos concordar com tudo, menos com essa vontade de no
concordar. Mas no condenamos ningum por isso, porque esse
mtodo corresponde a uma lei que pertence a um dado plano de
vida. No se deve considerar isso maldade, nem se deve chamar
de mau o ser que, no sendo bastante evoludo, comete erros
porque ainda no compreendeu e no sabe fazer melhor.
Uma vez expliquei a algum o meu ponto de vista de im-
parcialidade e universalidade. Sua face iluminou-se e, de sbi-
to, ele respondeu: compreendo, trata-se de um novo partido: os
imparcialistas e universalistas. Este fato mostrou-me como a
forma mental comum no consegue conceber coisa alguma, se
no a vir bem fechada dentro dos limites do relativo, isto , na
forma de um grupo particular bem separado dos outros e, logi-
camente, em luta com eles. Esta forma mental, colocada perante
a ideia de universalidade, no consegue conceb-la seno na
forma de um imperialismo dominador, cujo poder central con-
segue submeter a todos. E, de fato, assim que o mundo se en-
contra, isso o que vemos na Terra.
Quando cheguei ao Brasil, a convite de um desses grupos,
outro grupo levantou-se contra mim, dizendo ter chegado um
enviado de Satans. E, quando sustentei algumas teorias deste
outro grupo, fui censurado pelo que me havia convidado. Assim
acontece sempre, pois se trata do mesmo tipo de homem, que,
possuindo uma s forma mental, levado a proceder sempre da
mesma maneira, isto , com condenaes e antemas, seja qual
for o grupo a que ele pertena.
assim que nascem os mal-entendidos. O meu trabalho no
, como todos desejariam, oferecer-me para ser um seguidor a
mais e engrossar as fileiras desse ou daquele grupo, mas sim fa-
zer pesquisas, a fim de resolver problemas ainda no resolvidos,
esclarecer dvidas, compreender mistrios, responder perguntas
para as quais as religies, as doutrinas e as filosofias ainda no
deram respostas. Disso se conclui que a ideia comum de imperi-
alismo religioso, em busca de adeptos e seguidores, no me inte-
ressa e no faz parte do meu trabalho. Falo bem claro: no quero
de nenhum modo chefiar coisa alguma na Terra; no quero con-
quistar poder algum neste mundo. No h, portanto, qualquer
razo para rivalidades. O que almejo s utilizar esta minha
condenao de viver neste baixo nvel de vida para ajudar os ou-
tros a se elevarem a um nvel espiritual mais alto. Se me fosse
permitido, s uma vez, ser egosta, o meu nico desejo seria ir-
me embora, fugindo para bem longe deste mundo, e no voltar
mais. Por isso as lutas pelas conquistas humanas, que tanto inte-
ressam aos meus semelhantes, no tm sentido para mim. Con-
sidero-as muito cansativas e no cuido delas. As minhas lutas di-
rigem-se para objetivos totalmente diferentes.
necessrio explicar tudo isso, para que meu trabalho seja
compreendido. Infelizmente, em nosso mundo, estamos acostu-
mados a supor que cada palavra seja uma mentira, julgando que
somos astutos quando conseguimos descobrir essa mentira. Isso
o que, suponho, aconteceu tambm a meu respeito. Da nasceu
o mal-entendido, porque, neste caso, acontecia o inacreditvel,
isto , que as minhas palavras, na realidade, eram verdadeiras,
no havendo por trs delas outra ideia para encobrir. necess-
rio tomar as minhas palavras literalmente, pois elas querem di-
zer simplesmente o que dizem, no contendo segundas inten-
es. Para quem no quer conquistar poderes na Terra, lgico
que o mtodo seja diferente daquele empregado pelo mundo.
-
Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 5
Nosso mtodo, na verdade, oposto ao do homem comum.
Ns queremos trazer harmonia ao invs de luta, paz em vez de
guerra; queremos levar esclarecimento onde exista dvida, es-
perana onde haja desespero, f onde esteja a descrena, co-
nhecimento onde se encontre a ignorncia. Eis o que procura-
mos fazer. Conseguiremos realizar o que Deus quiser. Quando
sucede que o homem empregue toda a sua boa vontade, as qua-
lidades que possui e o seu esforo para colaborar com a vonta-
de de Deus, o restante fica nas mos d'Ele. O triunfo depende
de elementos que no conhecemos, escapando ao nosso dom-
nio e ao nosso controle. Mas se procurarmos compreender e
seguir a vontade de Deus, certamente esta vontade vir ao nos-
so encontro para nos ajudar.
Estudando juntos esse mtodo, aprenderemos a arte de al-
canar sucesso, inclusive na vida prtica. Os homens prticos
no observam que, para obter xito no campo material, ne-
cessrio, antes de tudo, uma boa orientao no campo espiritu-
al, do qual tudo depende, no apenas os resultados dos neg-
cios, mas tambm a conservao da sade e a sensao de
bem-estar em ns mesmos e em tudo o que nos rodeia. Em
nosso universo, tudo est coligado, e as coisas no podem iso-
lar-se umas das outras. Quem no est orientado nos grandes
conceitos da vida, no o pode estar tampouco nas coisas pe-
quenas de cada dia, que so consequncias das grandes. O nos-
so trabalho nestas palestras ser esmiuar as teorias gerais da
grande orientao at s suas consequncias concretas, que nos
tocam de perto, para aprender a viver conscientemente, conhe-
cendo o valor dos nossos atos, desde suas origens at seus l-
timos efeitos. Esta a cincia da vida, que nos explica a signi-
ficao dos movimentos da nossa alma, bem como dos aconte-
cimentos que nos rodeiam. Cada vida se desenvolve no ao
acaso ou guiada pelos nossos caprichos, mas sim conforme um
plano particular, que se chama destino e consequncia do
nosso passado, na forma em que o quisemos viver.
Temos falado que h uma lei. Aprenderemos, pouco a
pouco, a arte sutil de viver em harmonia com essa lei, que re-
presenta Deus, arte que constitui o segredo da felicidade. Ire-
mos verificando, cada vez mais, que a espiritualidade, verda-
deiramente entendida e vivida, produz incrveis efeitos teis
tambm no plano material. Falamos de utilidade, pois no
queremos roubar o tempo dos nossos leitores, mas sim fazer
um trabalho til a todos. preciso usar com mais intelign-
cia a nossa vida, tornando-nos cidados iluminados e consci-
entes deste nosso universo, colaborando com a vontade de
Deus, que o dirige. Aprenderemos a ver com outros olhos, en-
to tudo ser diferente. Ao invs de rebeldes construtores de
sofrimentos, como somos hoje, tornar-nos-emos, para o nosso
bem, obedientes construtores da felicidade. Seremos ento
amigos e colaboradores de Deus, seus obreiros na grande obra
da vida, que vai subindo at Ele, pois, to logo tivermos com-
preendido que a Sua vontade visa somente ao nosso bem, no
desejaremos outra coisa seno realiz-la.
Diz-se muitas vezes que Deus est presente. E no h d-
vida: Deus est presente. Mas no basta dizer isto. preciso
aprender a perceber esta presena, chegar a compreender o
Seu pensamento e seguir o caminho marcado pela Sua vonta-
de. verdade que Deus est entre ns, mas isto tem uma fina-
lidade. Deus est entre ns, dentro de ns, para que respire-
mos esta Sua presena e possamos fundir-nos em harmonia
com a Sua vontade, realizando em nossa vida os ditames da
Sua Lei. E isso tambm tem uma finalidade, que nos levar a
no errar mais, como se costuma. No errar quer dizer no so-
frer mais os dolorosos choques recebidos em consequncia do
erro, que por sua vez violao da Lei. Isso significa evitar
sofrimento, proporcionando-nos tranquila felicidade, que s
possvel num estado de ordem.
III. O PROBLEMA DO DESTINO
A semeadura livre, mas a colheita obrigatria.
Como orientar nossa vida no plano geral do universo,
conhecendo o funcionamento da Lei.
No captulo anterior, tocamos rapidamente no assunto de uma
cincia da vida como mtodo para ser menos infeliz e alcanar
xito, atravs da aprendizagem da arte de viver sabiamente, em
harmonia com a lei de Deus, seguindo com obedincia a Sua
Vontade. Vamos agora explicar melhor estes conceitos.
difcil a arte de saber viver. A vida um vaso que pode-
mos encher com o que quisermos. Mas a verdade que temos
desejado ench-lo de erros. O que podemos receber ento, se-
no sofrimentos? Quando era moo, li alguns livros sobre a arte
de alcanar sucesso na vida. E hoje ainda se encontram livros
sobre este assunto. Mas trata-se de uma cincia de superfcie,
que se baseia na sugesto, na arte exterior de se apresentar, de
falar e de convencer o prximo. Ora, isso s pode levar a um
xito parcial, momentneo, superficial. O verdadeiro xito na
vida consiste no problema da construo de um destino, um
problema complexo e de longo alcance, que s pode ser resol-
vido conhecendo-se no s o funcionamento das leis profundas
que regem a vida, mas tambm a posio de cada um dentro
dessas leis, enxergando assim o plano de uma vida enquadrada
no plano geral do universo, em funo de Deus. Mas o homem
no conhece nem um nem outro desses dois planos. Como se
pode chegar a uma orientao completa do caso particular,
quando no se conhece a lei geral? A maioria no dona dos
acontecimentos da sua vida, mas sim serva, sendo dirigida por
eles. A vida deveria ser um trabalho orgnico, consciente, exe-
cutado em profundidade, dirigido logicamente para finalidades
certas, que a valorizem, dando-lhe um sentido construtivo.
A vida um jogo vasto e complexo. Podemos deix-la de-
correr levianamente, mas, neste caso, ou perdemos o nosso
tempo, ou semeamos sofrimentos, cometendo erros. E, depois,
as consequncias tero de ser suportadas inevitavelmente por
ns. Fala-se de destino e da sua fatalidade. Mas ns mesmos
somos os construtores desse destino e, depois, ficamos sujei-
tos sua fatalidade. A nossa vida atual se apresenta como um
fenmeno sem causas e sem efeitos, se considerada isolada-
mente. Para ser compreendida, preciso conceb-la em fun-
o das vidas precedentes, que a prepararam, e das vidas futu-
ras, que a completam. O presente no pode ser explicado se-
no como fruto do passado, das aes livremente desencadea-
das, cujas consequncias so agora o que chamamos o nosso
destino. Da mesma forma que o passado representa a semea-
dura do presente, o presente representa a semeadura do futuro.
A semeadura livre, mas a colheita obrigatria. Verifica-se,
assim, este jogo complexo de semeadura e colheita, entrelaa-
das em cada momento da nossa vida.
Esta a lei de Deus, e ningum pode modific-la. Mas, den-
tro desta lei, somos livres para nos movimentar vontade. As-
sim, somos ao mesmo tempo livres e dependentes. Temos, de
acordo com nossa vontade, o poder de nos arruinar ou de nos
salvar, mas no podemos alterar a Lei, ficando a nossa runa ou
salvao fatalmente sujeitas s suas normas. A lei de Deus re-
gula os movimentos de tudo que existe e, portanto, do homem
tambm. Conhec-la quer dizer conhecer as regras do jogo da
vida, isto , a cincia da prpria conduta, a arte de evitar os
movimentos errados e fazer os certos, para fugir do dano pr-
prio e atingir o mximo bem-estar possvel. indiscutvel a su-
perioridade do homem que possui este conhecimento, em com-
parao com quem, na luta pela vida, no o possui. O primeiro
tem muito mais probabilidades de alcanar sucesso do que o
segundo. Para quem conhece a lei geral, possvel colocar-se
dentro dela, na devida posio, evitando as dolorosas conse-
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6 A LEI DE DEUS Pietro Ubaldi
quncias de uma posio errada. O homem comum acredita vi-
ver no caos, onde procura impor a prpria vontade a tudo e a
todos. Mas, de fato, no assim. Esta suposio fruto da sua
ignorncia. No h vontade humana que possa dominar o poder
da Lei. Esta constituda no s como norma, pela inteligncia
de Deus, mas tambm como poder, pela vontade d'Ele. Isto
quer dizer que as normas so ao mesmo tempo uma fora que
quer a realizao delas, uma fora irresistvel, viva e ativa,
sempre presente em todos os tempos e lugares, da qual no
possvel fugir. A Lei boa, sbia, paciente e misericordiosa,
mas tambm justa, de uma justia inflexvel, de modo que,
quando a criatura abusa, ela se desencadeia como furaco e der-
ruba tudo, coibindo o abuso.
A coisa mais importante na vida, a base de tudo, a orien-
tao. E a maioria vive correndo atrs das iluses do momen-
to, desorientada e descontrolada. S quem conhece tudo isto
pode orientar-se, inclusive a respeito do seu destino e das fi-
nalidades particulares que lhe cabe atingir na vida atual. Pode
assim evitar os atritos dolorosos contra a Lei, que atormentam
os rebeldes, e subir mais facilmente, levado pela corrente da
Lei. Esta ento o ajuda, uma vez que ele quis colocar-se em
obedincia a ela. Quem, por ter compreendido, sabe obedecer
com inteligncia, conhece o caminho mais rpido e menos do-
loroso para a salvao.
Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta
uma posio bem estranha para o mundo, que ainda obedece
lei animal do mais forte. Seguir a vontade de Deus no quer di-
zer perder a prpria e tornar-se autmato. Essa obedincia um
estado de abandono em Deus, em absoluta confiana, como o
filho nos braos da me. Mas esse abandono ativo e dinmico,
como o de quem vai atrs de um guia sbio e bom, que o de-
fende e lhe garante o xito, desde que o seguidor queira obede-
cer com boa vontade, sinceridade e fidelidade. o abandono do
operrio consciente da sabedoria do patro, que quem manda
e a quem, para sua prpria vantagem, convm o operrio obe-
decer, acompanhando e colaborando. Ningum pode negar as
vantagens de trabalhar juntamente com Deus, apegado ao To-
do-Poderoso. Esta uma posio de vantagem, pois fornece
criatura poderes que no pode atingir quem caminha sozinho,
dirigido apenas pela sua prpria vontade e inteligncia.
Se soubermos aprender esta arte de viver em harmonia com
Deus, a nossa existncia se deslocar do plano da injustia e da
fora, no qual vive o homem, ao plano da justia e da bondade,
onde tudo funciona com princpios diferentes. Trata-se de subs-
tituir o instinto de domnio do nosso eu individual, que vai at
revolta contra Deus, pelo desejo de concordar com a Sua vonta-
de, num estado que, em vez de ser de separao, representada
pela nossa debilidade, ser, ao contrrio, de unio, que constitui
a nossa fortaleza. Ento, a vida se tornar outra coisa para ns.
Ela no ser mais dirigida pelo princpio da fora e do engano,
que levam ao esmagamento e desiluso, mas ser, antes, diri-
gida pelo princpio da justia e da sinceridade, que reconhecem
o nosso direito a tudo de que necessitamos para viver, de acordo
com o nosso merecimento. So dois princpios absolutamente
diferentes. Cabe a ns, conforme os nossos pensamentos e con-
duta, pertencer a um ou outro desses dois planos e, por conse-
guinte, sermos regidos por princpios bem diferentes, muito me-
nos duros e dolorosos no segundo caso. Este um problema ab-
solutamente individual, de escolha e resultados individuais, in-
dependente da maneira boa ou m como os outros queiram re-
solv-los. No importa se o mundo no quer transformar-se, pre-
ferindo o contrrio. Cada um pode transformar-se e salvar-se por
sua conta. Cada um constri o seu prprio destino. lgico que
Deus seja justo, e justo que as consequncias advindas do nos-
so comportamento sejam o efeito de causas engendradas por ns
mesmos. De acordo com o mundo atual, as qualidades mais
teis para vencer so a fora e a astcia. Isso cria um estado de
luta de todos contra todos, sem repouso. Esse contnuo estado de
guerra uma dura, mas merecida, condenao, devida psico-
logia de revolta que domina na Terra. Pelo contrrio, naquele
mais alto nvel de vida, a qualidade mais til a boa vontade de
obedecer a Deus e Sua lei, merecendo assim, conforme a justi-
a, a Sua ajuda. Acontece desse modo um fato incompreensvel
para a mentalidade do mundo: quando a merecemos, esta ajuda
chega por si mesma, no nos pedindo coisa alguma sequer em
troca. O resultado maravilhoso e inacreditvel para o nosso
mundo. A nossa vida passa a ser garantida, e tudo providenci-
ado de maneira a no nos faltar nada. Mas isso pode verificar-se
somente quando o tivermos merecido, cumprindo o nosso dever
perante a Lei, vivendo conforme a vontade de Deus.
Surge ento uma coisa que o mundo no acredita ser poss-
vel. Para chegar a possuir aquilo que precisamos e para alcan-
ar sucesso no necessrio fora ou astcia. Basta t-lo mere-
cido, como a justia o exige. Aqui no o prepotente ou o astu-
to quem vence, mas sim o homem justo, que cumpre o seu de-
ver. Em um nvel de vida mais evoludo, somos regidos por um
princpio mais alto. Trata-se do nvel a que pertencem os indi-
vduos mais amadurecidos.
O incrvel que, nesse novo mundo, vemos funcionar a Di-
vina Providncia. Ela funciona de verdade, mas, logicamente,
s para quem o merece. lgico que ela no funcione para
quem no o merece. Quando o tivermos merecido, podemos ter
a certeza de que se verificar para ns esse milagre da Divina
Providncia, que nada nos deixar faltar do que precisarmos,
seja para a alma, seja para o corpo. Em geral no se acredita
que isto possa acontecer de verdade, porque de fato muito ra-
ro tal acontecimento, porquanto tambm raro haver mereci-
mento. O mundo est cheio de necessidades porque est cheio
de cobia. A causa da necessidade a cobia. Quem semeia in-
saciabilidade tem de colher fome. Quem furta, tirando dos ou-
tros o que no ganhou honestamente, com o seu trabalho, ter
de viver na misria, at que aprenda, sua custa, a lio da ho-
nestidade. Para reconstituir o equilbrio da Lei, surge a privao
correspondente ao nosso abuso. Paga-se caro esse abuso, mas o
mundo parece ignorar uma lei to simples. Somos livres, mas
responsveis. E o seremos tanto mais responsveis, quanto mais
possuirmos em riqueza e poderes, pelo bom ou mau uso que de-
les fizermos. Teremos sempre de prestar contas Lei, que po-
der nos tirar tudo, deixando-nos na penria, se, pelo mau uso
do poder ou da fortuna, tivermos merecido.
O prprio Sermo da Montanha, de Cristo, baseia-se nesse
princpio. Mas quem o toma a srio? por isso que vemos tanta
pobreza no mundo. Quem criou a pobreza no foi Deus, mas
sim o homem com a sua desobedincia Lei. Deus no ficou
esperando at agora para que o socialismo descobrisse o pro-
blema da justia social. A justia da Lei, completa e perfeita,
sempre funcionou. Quem tem olhos para ver, fica horrorizado
ao considerar a leviandade do mundo, que est brincando com
foras terrveis, condenando-se a sofrer as consequncias. as-
sim que vemos tantas humilhaes para os que foram orgulho-
sos, tanta necessidade onde houve desperdcio no suprfluo,
tanto constrangimento obedincia onde houve poder demais e
mau uso das posies de domnio.
O mundo ainda to ingnuo, que acredita ser suficiente
apossar-se de uma coisa de qualquer maneira, para que se te-
nha o direito de possu-la. No sabe que tudo quanto possuir-
mos sem justia, por no hav-lo ganhado com merecimento e
por no ter querido fazer dele bom uso, ser gasto, consumido
e corrodo interiormente por esta falta de justia, que, mais ce-
do ou mais tarde, no pode deixar de conduzir ao fracasso. A
riqueza mal construda coisa podre e envenenada, que no
pode dar seno frutos da mesma natureza para quem a possui.
S pode acabar, assim, em uma traio, como justo que acon-
tea. No fundo das coisas no existe o que aparece na sua su-
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Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 7
perfcie. Ali reina de fato a justia de Deus, e no importa que
o homem no queira tomar conhecimento dela, pois ela conti-
nua funcionando da mesma forma. Possuir o mundo inteiro,
quando esta posse estiver fora da justia, no oferece seguran-
a alguma. Acima de todos os poderes humanos existe esse
poder maior, que a justia da Lei. Lembremo-nos de que a
vida uma fora inteligente e s defende os que so teis
conservao e ao desenvolvimento dela.
A concluso desta palestra que a Divina Providncia exis-
te de verdade e funciona. Mas, para isso, necessrio saber fa-
z-la funcionar, movimentando-a atravs do acionamento das
alavancas s quais ela obedece. Veremos depois quais so estas
alavancas. O fato que ela funcionar a nosso favor, se mere-
cermos. Observei isso, controlando e experimentando, durante
toda a minha vida e sei que verdade. O que tivermos merecido
com as nossas obras no so os bens que ficam espalhados pela
rua, aonde podem chegar os ladres, mas est regular e ordena-
damente guardado no banco do Cu, de onde nada se pode fur-
tar. Este o nico emprego verdadeiramente seguro dos nossos
capitais. Esta a maneira verdadeiramente inteligente de fazer
negcios. A Divina Providncia no um milagre, mas sim a
lei natural de um plano de vida mais alto, onde vigora uma jus-
tia que no atraioa. Ali no existe engano, e no se pode en-
ganar. Esta Providncia um princpio que pode funcionar para
todos aqueles que se encontram na posio devida, de maneira
a serem por Ela alcanados. Deus est presente para proteger a
todos, mas natural e justo que s receba o benefcio dessa pro-
teo quem compreendeu a necessidade de obedecer Sua Lei.
IV. EM HARMONIA COM A LEI
O nosso destino e a vontade de Deus.
Continuemos falando sobre a Divina Providncia. Se sou-
bermos olhar em profundidade, alm da superfcie das coisas,
veremos um mundo regido por leis diferentes daquelas que vi-
goram em nosso mundo. Trata-se de substituir o esprito de
egosmo e de separatismo vigente por um esprito de unio com
Deus e de colaborao com o prximo. Trata-se de nos colo-
carmos num estado de aceitao perante a lei de Deus, ao invs
de nos colocarmos num estado de imposio para com o pr-
ximo. na aplicao desta nova lei, enunciada pelo Evangelho,
que consiste o segredo da felicidade e o caminho para fugir dos
muitos sofrimentos que nos atormentam.
Falamos de unio com Deus, de obedincia Lei, de aceita-
o da vontade d'Ele. Surge agora a pergunta: como possvel
chegar a compreender esta vontade de Deus a que devemos obe-
decer? Deus no tem boca, mas fala; no tem mos, mas opera.
Deus est presente, no h dvida, mas no podemos perceb-
Lo em forma material, na superfcie das coisas, com os nossos
sentidos. Deus est presente, mas na profundeza de tudo o que
existe. H ento dois caminhos para perceb-Lo: ou com a in-
trospeco, olhando e penetrando dentro de ns, por intermdio
da meditao ou concentrao, ou olhando os efeitos que, da
profundidade onde est Deus, vm at superfcie, revelando
assim a natureza das coisas que os geram e movimentam. Pode-
se assim chegar a compreender o pensamento de Deus, pelo me-
nos no que diz respeito nossa vida, quer afinando os sentidos
no caminho da espiritualizao, quer, para os que no conse-
guem olhar para dentro, olhando para fora, ou seja, observando
o que vai acontecendo conosco e ao redor de ns. No podemos
negar que a primeira origem de tudo est na profundidade e que
Deus, embora no tenha mos, opera. A nossa vida e o nosso
destino no se desenrolam ao acaso, mas so dirigidos por Deus.
Ento, se os acontecimentos podem, at certo ponto, ser o efeito
da nossa vontade, exprimem em grande parte tambm a vontade
de Deus. As duas vontades se misturam, colaborando quando
concordam, ou lutando uma contra a outra quando so discre-
pantes. No primeiro caso, elas dizem a mesma coisa, e ento
fcil conhecer a vontade de Deus. No segundo caso, elas dizem
duas coisas diferentes. Mas, quando tivermos separado desse
conjunto o que efeito da nossa vontade, restar aquilo que nos
vai revelar qual a vontade de Deus a nosso respeito.
Se observarmos a nossa vida, veremos que h fatos sobre os
quais podemos exercer a nossa livre-escolha vontade. Mas ve-
remos tambm que existem outros fatos acima da nossa vontade,
acontecimentos em relao aos quais no h escapatrias. H
uma parte da nossa vida que regida como por um destino, com
caractersticas quase de fatalidade, onde prevalece uma outra
vontade, maior do que a nossa, qual, queiramos ou no, temos
de obedecer. Muitos acontecimentos parecem possuir uma von-
tade prpria, contra a qual no adianta nos rebelarmos, sendo
intil fugir deles, apesar de tentarmos por todos os meios.
Na vida h para todos uma parte livre, mas tambm existe
uma parte em relao qual vigora o princpio da aceitao, na
qual a vontade de Deus se manifesta e o esprito da nossa deso-
bedincia no tem poder algum. Esta parte pode ser triste ou
alegre, de satisfao ou de sofrimento, mas sempre justa,
obrigatria, imposta pela Lei. Em geral, esta a consequncia
fatal do que livremente semeamos em nosso passado. Isto, po-
rm, no por um princpio de fatalismo, que nos tornaria aut-
matos irresponsveis, mas sim como efeito exato do que nossa
livre-vontade quis realizar no terreno das causas, para que ela,
conforme a Lei, tivesse de atuar no terreno dos efeitos. Aqui
termina o domnio da nossa livre-escolha e vigora, em seu ple-
no poder, a Lei, que exige sempre obedincia.
Entramos assim no domnio do destino e vemos a maneira
pela qual o construmos para ns mesmos. O que domina tudo e
todos sempre a Lei, ou seja, a vontade de Deus. Disso no se
pode escapar. Mais cedo ou mais tarde, teremos de obedecer. Os
inteligentes procuram conhecer a Lei nos seus princpios gerais
e a vontade de Deus no caso particular das suas vidas. Aceitando
o que eles sabem que justo, evitam atritos, choques e revoltas,
que geram a dor. Este o caminho direto, mais proveitoso e me-
nos doloroso. Se cometeram erros, esto prontos a pagar de boa
vontade, conforme a lei de Deus. O mtodo da aceitao pacfi-
ca resolve o conflito entre a criatura e a Lei de maneira mais r-
pida e tranquila, seja qual for a pena que se deva pagar.
Os que no possuem esta inteligncia e boa vontade, estan-
do ainda mergulhados na ignorncia e na revolta, rebelam-se,
ao invs de aceitar, aumentando assim as suas faltas, piorando a
sua posio, amontoando novas dvidas por cima das antigas.
Esto acostumados a usar o sistema prprio do plano de vida
animal do homem na Terra, segundo o qual o mais forte o que
vale e vence. Mas no sabem que esse plano de vida inferior
encontra-se regido pelas leis dos planos superiores, que a vio-
lncia s pode dar fruto na Terra e que unicamente nesse baixo
nvel de vida possvel o domnio da injustia. O que esse tipo
de homem julga ser a lei de tudo, no seno a lei do seu am-
biente terrestre. Assim o homem, revoltando-se, usa o mtodo
errado, pensando que por intermdio da revolta possa vencer,
impondo-se, quando, na verdade, est agindo de um modo que
serve apenas para fabricar a dor.
Mas lgico e justo que assim seja, porque a dor a nica
voz compreendida por ele, e no h outro caminho para guiar
um indivduo que, por natureza, recusa submeter-se, at que
ele compreenda a existncia da Lei. Rebelar-se o maior erro
que se pode cometer. Se a Lei do universo quer que o caminho
para a felicidade seja de obedincia, lcito ao homem cons-
truir para si quantos sofrimentos queira, porque isto o faz abrir
os olhos e o obriga, para seu bem, a aprender. Mas no lhe
possvel destruir a Lei, pois nesse caso, se ele possusse esse
poder, lanaria tudo no caos. Se Deus permitisse ao homem
tanto poder, a runa e o sofrimento humanos j no seriam
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8 A LEI DE DEUS Pietro Ubaldi
apenas momentneos e suscetveis de reparao por intermdio
da dura limpeza feita pela dor, mas seriam um fracasso defini-
tivo, um mal irreparvel, uma derrota de toda a obra de Deus,
sem outra possibilidade de salvao.
De certo, a ignorncia e a rebeldia do homem almejariam
chegar at tal fim. Mas a sabedoria e a bondade de Deus o sal-
vam fora, para seu bem, de to grande desastre, constran-
gendo-o a no se perder, obrigando-o a limpar-se, a corrigir-se
e a aprender atravs da dor. Perante um quadro de lgica, bon-
dade e justia assim to perfeitas, ainda h no mundo gente
que, sem ter compreendido nada, quer julgar Deus como cul-
pado pelos sofrimentos existentes no mundo. Procuram-se as-
sim infelizes escapatrias, lanando-se a culpa em Deus ou nos
prprios semelhantes. Mas intil. Tudo fica na mesma. Os
erros tm de ser corrigidos, as dvidas tm de ser pagas, a lio
tem de ser aprendida. Quando chega a dor, nunca queremos
admitir que a culpa seja nossa, e no de outros. Perante a Lei,
cada um se encontra sozinho e trabalha por sua conta. Cada um
fica com o destino que quis construir para si mesmo. Rebelar-
se pior. O mximo que se pode fazer resignar-se e corrigir-
se, construindo para si, de agora em diante, um destino melhor,
de convicta obedincia a Deus, agradecendo-Lhe pela dura li-
o que vai conduzi-lo felicidade.
Esta a verdade mais importante que cada um precisa
compreender: Deus , em tudo e sempre, o dono absoluto, e
da Sua Lei no podemos nos evadir. Seja qual for a religio a
que o homem pertena, seja at o maior dos ateus, ele obede-
ceu, obedece e obedecer sempre a Deus, no sentido de que
no pode escapar da Sua lei. Por exemplo: o fato de perten-
cermos a uma ou outra crena no nos isenta da dependncia
da lei da gravitao. O erro est em acreditar que estas verda-
des, das quais estamos falando, sejam particulares a este ou
quele grupo, religio ou filosofia humana, quando elas, de
fato, so verdades que existem e continuam existindo e funci-
onando mesmo quando o homem no as conhea ou no as
queira admitir. Elas existem de maneira independente do co-
nhecimento, da negao e mesmo da existncia do homem. A
concluso que todos obedecem a Deus: os crentes, sabendo
o que fazem; os descrentes, sem o saberem; os bons, de boa
vontade, de olhos abertos, por amor, sustentados pela justia
de Deus; os maus, de m vontade, nas trevas, revoltados, com
raiva, esmagados pela mesma justia de Deus.
bem estranha e primitiva esta maneira de conceber tudo
em funo de si mesmo, pela qual o homem se faz centro, fi-
nalidade nica e tambm, como se pudesse, dono da criao.
Mas em quantos erros e iluses psicolgicas ele incorre nessa
primitiva maneira de conceber as coisas! E com quantas dores
ter o homem de pagar a sua ignorncia! Quantas vezes ter
de bater a sua dura cabea contra as paredes da Lei, at que
compreenda quo intil e dolorosa a loucura da sua rebeldia
e quo grande a vantagem de coordenar-se com a Lei, con-
forme a vontade de Deus!
Esta vontade, saibamos ou no, queiramos ou no, a at-
mosfera que todos respiramos, da qual no podemos sair, as-
sim como, inevitavelmente, respiramos o ar da atmosfera ter-
restre. Os materialistas julgam que a cincia poder impor-se
lei de Deus, quando na verdade poder apenas demonstr-la.
Ao mesmo tempo em que eles esto trabalhando para constru-
ir um mundo sem a espiritualidade, a Lei, que rege a evoluo
da vida, dirige-os, impulsionando-os a construir um mundo
baseado nessa espiritualidade. Todos, construtores e destrui-
dores, apesar de agirem de formas opostas, na verdade colabo-
ram dentro da mesma Lei, para realizar a mesma construo.
Assim como a morte necessria para gerar a vida, colabo-
rando com ela para sua constante renovao, sem o que no
seria possvel a sua evoluo, os destruidores tambm so ne-
cessrios para realizar os mais baixos trabalhos de limpeza do
terreno, sobre o qual, de outra maneira, no seria possvel
construir. Trata-se de um trabalho feio, desagradvel, desairo-
so, mas necessrio, que os construtores, de raa mais nobre,
nunca fariam, nem poderiam faz-lo, porque, depois de termi-
nado, quem o executou tem de ser afastado para no prejudi-
car a nova construo. E isto, de fato, o que vemos aconte-
cer nas revolues, nas quais raro constatar que quem as
realizou tenha recolhido para si o fruto das suas lutas.
Continuaremos, nestas nossas conversas, observando quo
profunda a sabedoria da Lei e quo grande a ignorncia do
homem a seu respeito. Conclumos a nossa conversa de hoje
observando que, queiramos ou no, nos fatos concernentes a
ns, a nossa vontade e a vontade de Deus, no final das contas,
trabalham juntas. No porque a boa vontade do homem tenha
de colaborar, mas porque Deus permite que a nossa vontade
tambm trabalhe, estabelecendo para ela limites, efeitos e dire-
o final. Podemos assim calcular quantas foras atuam entre-
laadas, a todo o momento, em cada ato da nossa vida. Antes de
tudo, est presente a nossa vontade passada, agora na forma dos
seus efeitos, que aparecem como fatais. Acima desses impulsos
sobrepe-se e opera a nossa vontade atual, que tem o poder de
corrigir, nos seus efeitos, aquela nossa vontade passada, inici-
ando novos caminhos ou endireitando os antigos. Todo esse
trabalho o homem no o cumpre sozinho, abandonado a si
mesmo, mas, pelo contrrio, executa-o ao longo dos trilhos de
uma estrada j marcada pela lei de Deus, que estabelece o ponto
at aonde o ser est livre para errar, o poder e a natureza das re-
aes da Lei ao erro, a tcnica da elaborao e assimilao das
experincias e a meta final de todo o grande caminho da evolu-
o. Estamos no comeo das nossas explicaes e j podemos
vislumbrar quantas coisas contm a nossa vida de cada dia,
mesmo nos seus impulsos e atos mais simples.
V. A INFALIBILIDADE DA LEI
A funo da dor e a sabedoria da Lei.
Em nossos dois ltimos captulos, falamos da Divina Provi-
dncia e da vontade de Deus. Dissemos tudo aquilo no para
fazer teorias, mas porque se tratam de foras que dirigem a nos-
sa vida e que devem ser levadas em considerao, se no qui-
sermos sofrer as consequncias. Quem quiser viver com sabe-
doria, sem se lanar aos mais variados perigos, evitando sofri-
mentos, tem de compreender que h uma lei sempre presente e
ativa, sendo muito arriscado no a respeitar. Se j tivssemos
aprendido todas as lies que a Lei contm, no cometeramos
mais erros, desaparecendo assim as reaes, necessrias para
nos reconduzir ao caminho certo da nossa libertao. Ento de-
veria desaparecer tambm a dor, dado que a sua presena no
mundo seria absurda, porque, uma vez aprendida a lio, ela
no teria mais funo alguma a preencher. Lembremos que a
Lei sempre boa e justa. Se s vezes usa o chicote, apenas
porque, devido nossa dura insensibilidade, no h outro meio
para nos corrigir e conduzir-nos assim para o nosso bem.
Todos sabem, atravs da sua prpria experincia, que a dor
ponto fundamental da nossa vida. No entanto, tambm ver-
dade que cada um, no fundo de sua alma, alimenta um sonho
de felicidade. Mas quando que, tanto para os poderosos como
para os humildes, chega a realizar-se de fato o que mais ambi-
cionam? Os desejos dos pobres e dos poderosos, na maioria
dos casos, ficam insatisfeitos e acabam fracassando em desilu-
ses. Todos correm atrs de miragens que nunca se realizam, e
tudo, no final, desaparece num engano. Encontra-se, porventu-
ra, no mundo algum que esteja satisfeito? O que h de real
para todos o sofrimento.
Por que tudo isso? Quem deu origem a essa condenao?
Estamos cheios de desejos de felicidade, mas apenas encontra-
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Pietro Ubaldi A LEI DE DEUS 9
mos sofrimentos! Que maldade! E quando procuramos uma
causa para tudo isso, pensamos logo em algum para sobre ele
lanar a culpa de tanta crueldade. Ento, ou culpa-se Deus, por
ter feito uma obra errada, ou o prximo, que deveria comportar-
se de outra maneira. Mas isso nada resolve, porque Deus per-
manece inatingvel e o prximo sabe defender-se. Alm disso, a
dor no desaparece, pelo contrrio, torna-se mais dura na revol-
ta contra Deus e na contnua luta de todos contra todos.
Continuamos, assim, todos mergulhados no mesmo pnta-
no: ricos e pobres, cultos e ignorantes, poderosos e fracos. Al-
guns que se julgam mais astutos procuram emergir do pntano,
amontoando riquezas, enganos e crimes, pisando os outros para
atingir a felicidade. Mas esta instvel, porque falsa, disputada
contra mil rivais invejosos, roda por dentro pela natural insaci-
abilidade da alma humana. E, mais cedo ou mais tarde, na luta
de todos contra todos, tambm os poucos que emergem acabam
afundando-se e desaparecem, tragados pelo pntano comum.
Que jogo torpe a vida! Esta seria a concluso.
Se tivermos nas mos uma maquina maravilhosa, mas, pela
nossa ignorncia da tcnica do seu funcionamento, somente
conseguirmos que ela produza pssimos resultados, dando-nos
apenas atribulaes em vez de satisfao, quais providncias
seriam aconselhveis para resolver o caso? As mquinas hu-
manas, se mal usadas por estarem em mos inbeis e, portanto,
destruidoras, estragam-se e deixam de funcionar. Mas existe
uma to perfeita, que o homem no conseguiu estragar ou im-
pedir seu funcionamento. Acontece por vezes que, pelo mau
uso da mquina, no ela que sofre, mas sim o mau operrio,
que no soube faz-la funcionar. Assim que surge a dor, e
ento s h um remdio: aprender a tcnica do funcionamento
da mquina, a fim de faz-la trabalhar bem, para nossa vanta-
gem, e no mal, para nosso dano.
Esta mquina representa a lei de Deus. Ela tambm boa
educadora. E qual o papel do educador? Seu nico objetivo o
bem dos alunos, e ns somos os alunos da lei de Deus. O edu-
cador no deseja vinganas, punies ou sofrimentos, porque
ama os seus alunos. Se estes tivessem boa vontade para ouvir e
fossem bastante inteligentes para compreender, bastaria a ex-
plicao das grandes vantagens da obedincia. Mas os alunos
so rebeldes, no querem aceitar outras regras de vida seno
aquelas provindas de suas prprias cabeas, alm do que, se
tm inteligncia, querem us-la s para se revoltar contra a
Lei. Ento o que pode fazer o educador? O fato que os alunos
no querem ser educados, mas sim destruir o educador. Eles
desejariam estabelecer uma repblica independente dentro de
um Estado, uma outra mquina funcionando s avessas, contra
a mquina maior que a hospeda. um caso parecido com o do
cncer, que representa uma tentativa de construo orgnica
em sentido parasitrio e destruidor da vida, atravs da multi-
plicao celular em forma antivital.
Ento, para o educador, no h outra escolha. Das duas
uma: para agradar, poderia no reagir, como desejaramos ns,
os alunos, e como acontece no caso do cncer com os organis-
mos fracos, que no sabem defender-se. Neste caso, porm, de-
pois de ter destrudo tudo, as prprias clulas destruidoras do
cncer, por sua vez, ho de morrer tambm. Ora, o educador
sbio no pode permitir isto. O que lhe resta reagir, impondo
disciplina. Isto duro, porm no h outro caminho. Esta tenta-
tiva de construir uma mquina s avessas dentro da mquina
regular, ou uma repblica inimiga dentro de um Estado organi-
zado, ou um cncer dentro de um organismo sadio, ameaa a
funo de bem que o educador, custe o que custar, tem de cum-
prir. E ele pode fazer tudo, menos renunciar a esta sua funo,
porque dela depende o que para ele mais importante: o bem
dos alunos. Ento, se ele quer verdadeiramente bem a estes, o
que pode fazer seno usar de disciplina e ensinar por esse m-
todo, j que os outros, mais benignos, no deram resultado?
Tambm as clulas do cncer quereriam viver, mas somos ns,
porventura, cruis quando as afastamos, cortando o tumor?
Tambm os criminosos quereriam gozar a vida sua maneira,
mas poderemos ns considerar-nos ruins quando, em defesa da
sociedade, os isolamos nas prises?
A rebeldia do homem uma espada que ele usa contra si
mesmo. A Lei, no entanto, impede a sua destruio. Ele quere-
ria perder-se, e a Lei quer lev-lo salvao. Mas Deus o per-
doa, pois sabe que o homem um menino carente de ajuda e,
na sua inconscincia, est procurando s o seu dano. Mas Deus
no pode permitir que esse dano se realize. Ele quer somente o
nosso bem. A lio tem de ser aprendida. Disto no h como
fugir, porque, de outra maneira, o plano de Deus desmoronaria
e ns involuiramos, ao invs de evoluirmos. Cientifiquemo-nos
destes pontos: o progresso tem de se realizar, por isso a lio
tem de ser aprendida; o homem o mesmo, no restando para o
educador outro mtodo seno a dor. A prova desta verdade
encontrada no mundo: para os educadores e suas leis vemos
acontecer o mesmo que acontece com Deus e a Sua lei. Assim,
Ele tem de salvar fora os rebeldes inconscientes.
O chicote duro. A dor no foi criada por nossa imagina-
o. Ela existe. fato positivo que todos conhecemos. Penetra
por todas as portas, sem sequer pedir licena. No adianta ser
rico, inteligente ou poderoso. Ela sabe tomar todas as formas,
adaptando-se a cada situao. H dores feitas sob medida para
os pobres, os ignorantes e os fracos, assim como para os ricos,
os homens cultos e os poderosos. Os deserdados esto cheios de
inveja dos que se encontram acima deles, mas no sabem que
acima das suas dores encontram-se, s vezes, dores maiores.
Ser que nas mais altas camadas sociais desaparecem os defei-
tos humanos? E se no desaparecem, como pode no funcionar
a salvadora reao da Lei? Ela no pode abandonar ningum,
tampouco os que, por terem subido mais alto na Terra, so os
mais invejados, e no pode porque, sendo o poder deles maior,
maior a sua responsabilidade e, por conseguinte, maior a rea-
o da Lei. Deus pode perdoar muito mais facilmente a um po-
brezinho ignorante e fraco do que queles que possuem recur-
sos, conhecimento e posio de domnio. Aos que mais conse-
guem materialmente subir na vida, esto muitas vezes destina-
das provas mais difceis e dores maiores. Mas a Lei justa e
no pode deixar ningum fora do caminho da redeno. justo
e lgico que a riqueza, o poder, a glria e coisas semelhantes
pelas quais o homem pri